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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS CAMILA GONÇALVES RODRIGUES ENGENHARIA DE PARTÍCULAS: EMULSÕES MÚLTIPLAS PARA COENCAPSULAÇÃO CAMPINAS 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS

CAMILA GONÇALVES RODRIGUES

ENGENHARIA DE PARTÍCULAS: EMULSÕES

MÚLTIPLAS PARA COENCAPSULAÇÃO

CAMPINAS

2017

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CAMILA GONÇALVES RODRIGUES

ENGENHARIA DE PARTÍCULAS: EMULSÕES

MÚLTIPLAS PARA COENCAPSULAÇÃO

Dissertação apresentada à Faculdade de

Engenharia de Alimentos da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos requisitos

exigidos para a obtenção do título de Mestra em

ENGENHARIA DE ALIMENTOS.

Orientador: Profa. Dra. Ana Carla Kawazoe Sato

Coorientadora: Profa. Dra Fabiana Perrechil Bonsanto

Este exemplar corresponde à versão final da dissertação

defendida pela aluna Camila Gonçalves Rodrigues e

orientada pela Profa. Dra. Ana Carla Kawazoe Sato

CAMPINAS

2017

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Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca da Faculdade de Engenharia de Alimentos

Claudia Aparecida Romano - CRB 8/5816

Rodrigues, Camila Gonçalves, 1988-

R618e Engenharia de partículas : emulsões múltiplas para coencapsulação

/ Camila Gonçalves Rodrigues. – Campinas, SP : [s.n.], 2017.

Orientador: Ana Carla Kawazoe Sato.

Coorientador: Fabiana Perrechil Bonsanto

Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade

de Engenharia de Alimentos.

1. Liberação controlada. 2. Microencapsulação. 3. Emulsões múltiplas.

I. Sato, Ana Carla Kawazoe. II. Bonsanto, Fabiana Perrechil. III.

Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia de

Alimentos. IV. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Particle engineering : multiple emulsions for co-encapsulation

Palavras-chave em inglês:

Controlled release

Microencapsulation

Multiple emulsions

Área de concentração: Engenharia de Alimentos

Titulação: Mestra em Engenharia de Alimentos

Banca examinadora:

Ana Carla Kawazoe Sato [Orientador]

Ana Silvia Prata Soares

Ângelo Luiz Fazini Cavallieri

Data de defesa: 11-04-2017

Programa de Pós-Graduação: Engenharia de Alimentos

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BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Carla Kawazoe Sato

Departamento de Engenharia de Alimentos FEA/UNICAMP - Orientadora

_________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Silvia Prata

Departamento de Engenharia de Alimentos FEA/UNICAMP – Membro Titular

_________________________________________________________

Prof. Dr. Ângelo Luiz Fazani Cavallieri

Centro de Ciências da Natureza / UFSCAR – Membro Titular

_______________________________________________________

Profa. Dra. Carmen Silvia Fávaro Trindade

FZEA/USP – Membro Suplente

_____________________________________________________

Prof. Dr. Clássius Ferreira da Silva

Universidade federal de São Paulo – Membro Suplente

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida

acadêmica do aluno.

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Agradecimentos

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pelo dom da vida, pela oportunidade de chegar até aqui e

pelas infinitas bênçãos em minha vida, por estar sempre comigo mesmo quando achava que

estava sozinha, quando pensava que o caminho estava difícil demais pra seguir ele sempre

esteve ao meu lado e me mostrou o caminho.

À Profª Dra Ana Carla Kawazoe Sato pela orientação deste trabalho, pelo apoio e confiança.

Obrigada também por ter enriquecido meu conhecimento, contribuindo para a minha

formação profissional, pessoal e principalmente pela compreensão nos momentos de dúvida

que não foram poucos, sendo além de professora psicóloga nas horas vagas.

À Profa. Dra. Fabiana Perrechil Bonsanto pelas sugestões e correções como coorientadora e

disponibilidade em ajudar sempre, mostrando-se sempre solicita.

Aos membros da banca examinadora, composta pelos professores Dra Ana Silvia Prata, Dr.

Ângelo Luiz, Dra. Carmen Silvia e Dr. Clássius Ferreira, pela atenção com que corrigiram

este trabalho e pelas valiosas sugestões.

À Unicamp por abrir suas portas para realização do mestrado e ao Departamento de

Engenharia de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos por disponibilizar todo o

necessário para a realização desta pesquisa.

Às funcionárias do laboratório de Engenharia de Processos (LEP) da FEAUNICAMP em

especial a Zildene e Vanessa, por todo o apoio.

Aos funcionários da Secretaria do DEA, Frederico e Reinaldo por sua disposição e atenção.

Aos meus pais, Carlos e Selma, por todo o apoio e incentivo e principalmente pelo enorme

carinho e amor incondicionais sempre presentes mesmo tão distantes fisicamente.

Ao meu irmão, minha cunhada e família, pela amizade, atenção e apoio.

Ao meu companheiro e parceiro de todas as horas, Thiago, pela paciência, conselhos,

incentivo e por todo o carinho.

Aos amigos feitos durante o mestrado, que tornaram os dias longe de casa menos dolorosos,

obrigada pelos dias de estudo, risadas, conversas atoa... Em especial Tati, Antônio, Jorge,

Aline, Paulinha, Gabi... e tantos outros que não disse aqui, sem vocês teria sido muito mais

difícil.

Às minhas meninas da casa, do primeiro e segundo ano na casa. Em especial agradeço meu

bem e as comadres, vocês foram muito importantes pra mim nessa etapa, levarei vocês

sempre comigo.

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Agradecimentos

Aos amigos de Sete Lagoas, que sempre estivam presentes me dando forças em cada visita ou

mesmo por mensagens de apoio.

Ao voluntariado Boldrini 6T. Nesse tempo que participei do voluntariado me tornei uma

pessoa melhor e ver a vida com outros olhos, foi a melhor experiência da minha vida ate hoje.

Agradeço em especial as crianças que sempre tinham um sorriso lindo, independente do

momento que estavam passando, eram a minha dose de animo de todas as sextas.

Ao grupo de Reologia, por me receberem, pelas experiências trocadas, pela convivência diária

e pelas quartas de delícias kkkkk. Em especial a Tati pela parceria nas analises de

digestibilidade entre outras.

À todos do Laboratório de Engenharia de Processos, pelos conhecimentos transmitidos e pela

disponibilidade.

Aos alunos Eliza e Heitor, pela disposição, pelos momentos de tentativas, erros e aprendizado,

obrigada pela parceria, foi muito importante contar com o apoio de vocês.

À FAEPEX pelo apoio financeiro durante o mestrado e as empresas CISBRA e Danisco por

doarem o material para estudo.

A todos vocês só tenho que deixar o meu muito obrigado!!!

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Resumo

RESUMO

Estudos sobre encapsulação vêm se tornando mais frequentes nos últimos anos. Mais

recentemente o foco tem sido na proteção e liberação controlada de compostos que promovem

benefícios à saúde e/ou que podem se degradar frente a condições adversas de processamento,

armazenamento ou até mesmo durante a digestão. Dentre as estruturas para encapsulação,

destacam-se as emulsões, que consistem na mistura de dois líquidos imiscíveis, com um dos

líquidos disperso no outro na forma de gotas. Emulsões múltiplas formam uma estrutura

composta do tipo água/óleo/água, que permite que cada uma dessas fases veicule um

composto diferente. Entretanto essa estrutura formada é termodinamicamente instável, o que

pode ser melhorado pelo uso de surfactantes, espessantes bem como uso de técnicas

complementares como a gelificação iônica. Assim, o objetivo deste trabalho foi produzir

microgéis para incorporação de compostos com funcionalidades distintas, a partir de emulsões

múltiplas do tipo água/óleo/água. Tanto as emulsões quanto o microgel formado foram

avaliados quanto a estabilidade, morfologia, reologia, tamanho de partícula e eficiência de

encapsulação. Foi avaliada a concentração de surfactante para a emulsão primária, sendo que

em todas as concentrações do surfactante poliglicerol polirricinoleato (PGPR) avaliadas foi

possível formar emulsão do tipo Água/Óleo. Quanto ao processo, a velocidade de

homogeneização foi o parâmetro mais relevante na produção de emulsões simples, sendo a

melhor de 14500 rpm. Também foi avaliada a concentração de surfactante da fase externa,

para produção de emulsões múltiplas do tipo Água1/Óleo/Água2. Foi avaliada também a

influência do surfactante na fase interna fixando o surfactante da fase externa em 2%. A

proporção de emulsão simples para múltipla foi avaliada em relação às propriedades

mecânicas dos macrogéis e propriedades reológicas de microgéis nas dispersões em água. A

melhor proporção foi a 3:7 mostrando-se eficiente para incorporar compostos, pois permite

adicionar mais compostos na fase interna além de produzir emulsões mais estáveis. O

microgel de emulsão múltipla mostrou-se eficiente para proteção dos compostos durante a

digestão in vitro e estabilidade frente a diferentes pH.

Palavras chave: Liberação controlada, microencapsulação, emulsões múltiplas

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Abstract

ABSTRACT

Studies on encapsulation have become more frequent in recent years. More recently the focus

has been on the protection and controlled release of compounds that promote health benefits

and / or which may degrade under adverse conditions of processing, storage or even during

digestion. Emulsions are one of the structures that may be used for encapsulation, and consist

of mixing two immiscible liquids. Multiple emulsions are a composite structure of the

water/oil/water, in which different compounds may be vehiculated in each of these phases.

However, this structure is thermodynamically unstable, which can be improved by using

surfactants, thickeners and other complementary techniques such as ionic gelation. Thus the

objective of this work was to produce microgels from a multiple emulsion for the

incorporation of compounds with different functionalities. Both the emulsions and the

microgel were evaluated for stability, morphology, rheology, particle size and encapsulation

efficiency. The surfactant concentration for the primary emulsion (W1/O) was evaluated, and

at all poliglicerol polirricinoleato (PGPR) concentrations surfactants evaluated an W/O type

emulsion were produced. Considering the process, the shearing speed was the most relevant

parameter for the production of simple emulsions. The most adequate processing speed was

14500 rpm. The surfactant concentration of the external phase was also evaluated for the

production of W1/O/W2 multiple emulsions, as well as the influence of the surfactant in the

internal phase, by fixing the surfactant of the external phase to 2%. The ratio of single to

multiple emulsion was evaluated on the mechanical properties of macrogels and rheological

properties of microgels dispersed in water. The best ratio was 3:7, condition in which it was

possible to vehiculate more compounds in the internal phase, and produced more stable

emulsions. The multiple emulsion microgel proved to be effective for protection of the

compounds during in vitro digestion and stability against different pH.

Keywords: Controlled release, microencapsulation, multiple emulsions

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Sumário

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO GERAL 11

1. INTRODUÇÃO 12

1.1 OBJETIVO GERAL: 13

1.2 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO EM CAPÍTULOS 14

1.4 REFERÊNCIAS 15

CAPÍTULO 2 : REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17

2.1 SISTEMAS PARA VEICULAÇÃO DE COMPOSTOS 18

2.1.1. TÉCNICAS 19

2.1.2 MICROENCAPSULAÇÃO 20

2.2 EMULSÕES 21

2.2.1 EMULSÕES MÚLTIPLAS 23

2.3 MICROGÉIS 26

2.4 MICROENCAPSULAÇÃO DE BIOATIVOS ALIMENTÍCIOS 26

2.4.1. MICROENCAPSULAÇÃO DE PROBIÓTICOS 27

2.4.2. MICROENCAPSULAÇÃO DE ÓLEOS 27

2.4.3 MICROENCAPSULAÇÃO DE ÁCIDO ASCÓRBICO (VITAMINA C) 28

2.5 LIBERAÇÃO CONTROLADA 29

2.6. REFERÊNCIAS 30

CAPÍTULO 3: PRODUÇÃO DE EMULSÕES A1/O E A1/O/A2: EFEITO DE

PROCESSO E CONCENTRAÇÃO DE SURFACTANTE 39

1. INTRODUÇÃO 41

2. MATERIAL E MÉTODOS 42

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 45

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Sumário

4 CONCLUSÃO 55

5- REFERÊNCIAS 56

CAPÍTULO 4: SISTEMAS GELIFICADOS PARA VEICULAÇÃO DE COMPOSTOS

HIDROFÍLICOS E LIPOFÍLICOS 58

1.INTRODUÇÃO 60

2. MATERIAL E MÉTODOS 61

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 68

4 CONCLUSÃO 78

5- REFERÊNCIAS 79

CAPÍTULO 5: DIGESTIBILIDADE IN VITRO DE GÉIS DE EMULSÃO MÚLTIPLA

PARA COENCAPSULAÇÃO DE VITAMINA, ÁCIDO GRAXO E PROBIÓTICO 83

1.INTRODUÇÃO 85

2. MATERIAL E MÉTODOS 87

3.RESULTADOS E DISCUSSÃO 94

4 CONCLUSÃO 109

5- REFERÊNCIAS 109

CAPÍTULO 6: DISCUSSÕES GERAIS 113

CAPÍTULO 7: CONCLUSÕES GERAIS 116

CAPÍTULO 8: REFERÊNCIAS 118

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Capítulo 1

11

Capítulo 1

Introdução Geral

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Capítulo 1

12

1. INTRODUÇÃO

Uma tendência em ascensão é a busca por alimentos naturais e saudáveis que,

além de atenderem aos requisitos nutricionais, possam oferecer benefícios ao consumidor. Em

contrapartida, a falta de tempo para preparo de alimentos e a saída da mulher para o mercado

de trabalho vêm alavancado a busca por alimentos industrializados. Assim o desafio da

indústria e da área acadêmica está na busca de pesquisas e tecnologias a fim de preservar

aromas, compostos bioativos, ou mesmo enriquecer produtos durante a industrialização, visto

que a maioria dos processos industriais causa degradação de compostos através da exposição

ao oxigênio ou uso de temperaturas acima de 70 °C.

Assim, a fim de elucidar problemas quanto à dificuldade de incorporação de

alguns ingredientes e aditivos em alimentos, a microencapsulação tem se mostrado uma boa

alternativa (SHAHIDI & HAN, 1993; GOUIN, 2004; FÁVARO-TRINDADE et al., 2008),

em especial em relação à incorporação de compostos que promovam benefícios à saúde do

consumidor. Processos que envolvam encapsulação de compostos hidrofóbicos têm

despertado grande interesse em diversas indústrias, tais como a alimentícia, farmacêutica e

médica, uma vez que compreendem substâncias como lipídeos bioativos, flavors,

antimicrobianos, algumas vitaminas e antioxidantes (MCCLEMENTS et al., 2007). Além dos

hidrofóbicos, os compostos hidrofílicos também são de bastante interesse na

microencapsulação. Assim, uma técnica promissora de incorporação de compostos

hidrofóbicos e hidrofílicos em uma mesma estrutura é através da produção de emulsões.

As emulsões consistem em produtos que abrangem parte de uma ampla gama de

alimentos industrializados, como base ou produto final. São formadas por líquidos imiscíveis,

estabilizados por uso de espécies químicas denominadas emulsificantes (MCCLEMENTS,

2005). As emulsões podem ser do tipo água em óleo ou óleo em água. Além disso, podem-se

formar sistemas mais complexos denominados de emulsão múltipla que pode ser do tipo

A/O/A ou O/A/O. Emulsões do tipo múltiplas apresentam aplicação em vários setores

industriais como cosméticos e fármacos, o que se deve à sua capacidade de retenção e

liberação controlada de componentes distintos. Entretanto seu uso é relativamente baixo

devido a sua instabilidade e estrutura complexa (MORAIS et al., 2009).

Apesar de alguns estudos abordarem o uso de emulsões múltiplas para veiculação

de compostos, não foram encontrados trabalhos que explorem simultaneamente as

propriedades das diferentes fases de uma emulsão deste tipo, o que permite a incorporação de

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Capítulo 1

13

compostos hidrofílicos e hidrofóbicos bem como controle dos mecanismos de liberação.

Estudos referentes à influência das condições químicas das diferentes porções do trato

gastrointestinal na integridade das cápsulas e liberação de compostos têm grande importância

para o desenvolvimento de produtos encapsulados de grau alimentício, para que possam ser

utilizados no enriquecimento nutricional de alimentos, objetivando uma melhor absorção pelo

organismo. Além disso, também é importante o conhecimento em relação à liberação quanto a

variações de pH, temperatura, parâmetros de processo, armazenamento e estabilidade. As

estruturas podem liberar compostos não só na digestão mas também na matriz alimentícia,

podendo favorecer tanto estruturalmente como sensorialmente. É importante ressaltar que o

desenvolvimento de matrizes de encapsulação deve balancear a proteção frente às condições

drásticas de processamento, armazenamento e da etapa de digestão gástrica, com a liberação

em sítio adequado para garantir a biodisponibilidade dos compostos encapsulados

(ONWULATA, 2012).

Desta forma, este trabalho se faz importante, pois estudou o desenvolvimento de

emulsões múltiplas para incorporação de diferentes compostos, além dos mecanismos para

sua liberação em condições adequadas. Devido a complexidade e baixa estabilidade das

emulsões múltiplas, é uma técnica até então pouco utilizada na indústria de alimentos, que

deve ser aprimorada para aplicação em produtos com potencial funcional.

1.1 OBJETIVO GERAL:

Produzir microgéis para incorporação de compostos com diferentes

funcionalidades (propriedades hidrofílicas e lipofílicas), a partir de emulsões múltiplas do tipo

água/óleo/água.

Os objetivos específicos deste trabalho foram:

- Determinar o processo de produção das emulsões A/O e a influência da concentração de

surfactante na estabilidade de emulsões A/O/A, bem como influência da concentração de

surfactante na interface A/O. Para isso, diâmetro médio de gotas, microestrutura, índice de

cremeação e propriedades reológicas foram avaliados;

- Definir o processo de produção das emulsões A1/O/A2 e a influência da concentração de

surfactante e proporção de emulsão simples (A1/O) para fase externa (A2) na estabilidade de

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Capítulo 1

14

emulsões A1/O/A2. Para isso, diâmetro médio de gotas, índice de cremeação, microscopia e

propriedades reológicas foram avaliados;

- Determinar a capacidade de formação de géis a partir das emulsões estudadas a fim de

produzir microgéis. Foram avaliadas propriedades mecânicas, morfologia e a estabilidade dos

microgéis produzidos, além da reologia da suspensão dos mesmos.

- Estudar a estabilidade e viabilidade de encapsular microrganismos probióticos, óleo de

linhaça e vitamina C a partir de emulsões múltiplas, avaliando a eficiência de encapsulação e

a liberação dos compostos encapsulados.

- Estudar a estabilidade e viabilidade dos microrganismos probióticos e demais ativos em

condições de digestão in vitro e variações de pH.

1.2. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO EM CAPÍTULOS

A apresentação deste trabalho foi organizada em 6 capítulos como descrito a

seguir:

Capítulo 1: Introdução geral

Neste capítulo foi abordado de forma breve, a justificativa para o

desenvolvimento deste trabalho, bem como os objetivos do estudo.

Capítulo 2: Revisão Bibliográfica

Neste capítulo são abordados aspectos teóricos quanto os sistemas em estudo, bem

como revisão de literatura recente e relevante sobre o tema deste trabalho.

Capítulo 3: PRODUÇÃO DE EMULSÕES A/O E A/O/A: EFEITO DE PROCESSO E

CONCENTRAÇÃO DE SURFACTANTE.

Primeiramente foi realizado a produção de emulsões simples A1/O, influência da

concentração de surfactante e processo para obtenção das mesmas. A partir desde estudo foi

escolhida uma formulação e determinada a condição de processo. Foi realizado estudo sobre a

obtenção de emulsões múltiplas bem como influência de surfactante na fase interna e externa.

Com os resultados obtidos escrevemos o artigo 2.

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Capítulo 1

15

Capítulo 4: SISTEMAS GELIFICADOS PARA VEICULAÇÃO DE COMPOSTOS

HIDROFÍLICOS E LIPOFÍLICOS

A fim de tornar a emulsão mais estável, obtida no capítulo 3, foram produzidos

macro e micro géis. Foram utilizadas técnicas de microscopia, propriedades mecânicas e

análises reológicas a fim de obter sistemas capazes de coencapsular compostos de forma

viável.

Capítulo 5: DIGESTIBILIDADE IN VITRO DE GÉIS DE EMULSÃO MÚLTIPLA

PARA COENCAPSULAÇÃO DE VITAMINA, ÁCIDO GRAXO E PROBIÓTICO

Com base nos resultados obtidos nos capítulos 3 e 4 resolvemos testas a

incorporação de diferentes compostos em partículas gelificadas obtidas por gelificação das

emulsões múltiplas, foi então desenvolvido o capítulo 5. Foram avaliadas a viabilidade da

encapsulação de microrganismo probiótico, óleo de linhaça e vitamina C, cinética de

liberação dos mesmos frente à digestão in vitro e estabilidade a diferentes pH 3 e 5.

Capítulo 6: Discussões Gerais

Neste capítulo foram apresentadas as principais discussões dos trabalhos e

sugestões futuras.

Capítulo 7: Conclusões Gerais

São relatadas neste capítulo as principais conclusões sobre os resultados obtidos

durante o mestrado.

Capítulo 8: Referências Gerais

São apresentadas as referências bibliográficas utilizadas no desenvolvimento deste

trabalho.

1.3 REFERÊNCIAS

- FÁVARO-TRINDADE, C.S.; PINHO, S.C; ROCHA, G.A. Microencapsulação de

ingredientes alimentícios. Brazilian Journal of Food Technology, 11(2), 103-112, 2008.

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Capítulo 1

16

- GOUIN, S. Microencapsulation: industrial appraisal of existing technologies and trends.

Food Science and Technology,15, 330-347, 2004.

- MCCLEMENTS, D. J. Food emulsions: principles, practice and techniques. CRC Press:

New York, 2005.

- MCCLEMENTS, D. J.; DECKER, E. A.; WEISS, J. Emulsion-based delivery systems for

lipophilic bioactive components. Journal of Food Science, v. 72, n. 8, p. R109- R124, 2007.

- MORAIS, J. M.; ROCHA-FILHO, P. A. e BURGESS, D.J. (2009). Influence of phase

inversion on the formation and stability of one-step multiple emulsion. Langmuir, 25, 7954-

61

- ONWULATA, C.I. Encapsulation of new active ingredients. Annual Review of Food

Science and Technology, 3, 183-202, 2012.

- SHAHIDI, F.; HAN, X.Q. Encapsulation of food ingredients. Critical Reviews in Food

Science and Nutrition, 33(6), 501-547, 1993.

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Capítulo 2

17

Capítulo 2

Revisão Bibliográfica

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Capítulo 2

18

2.1 SISTEMAS PARA VEICULAÇÃO DE COMPOSTOS

Existe uma tendência mundial quanto ao uso de alimentos como fonte de bem-

estar e saúde. Assim, o desenvolvimento de tecnologias para elaboração de produtos se faz

necessário, de modo a se observar a necessidade do controle da biodisponibilidade de

determinados componentes dos alimentos, além de manter sabor e aroma ao longo da vida de

prateleira. É cada vez mais relevante estabelecer relações entre alimentação e saúde

(SANGUANSRI e AUGUSTIN, 2006), e a manipulação na produção de partículas é um meio

efetivo de se alcançar tais objetivos.

O uso de micropartículas é uma excelente alternativa para introduzir compostos

com funcionalidades distintas a matrizes alimentícias, tornando-as funcionais, aumentado a

estabilidade dos compostos, além de poderem melhorar a textura e facilitar processos.

Materiais de parede são definidos na literatura como sendo revestimento, parede, invólucro e

agente encapsulante ou encapsulado (RÉ, 2000, AZEREDO, 2005). O material encapsulado

pode se apresentar incrustado ou distribuído tipo disperso, ou ainda fazer parte de um

complexo molecular dentro da partícula. Segundo Desai e Parck (2005), é possível produzir

microcápsulas contendo várias substâncias contidas em uma mesma matriz, o que é

favorecido pelo tipo de material utilizado e da técnica estabelecida bem como uma junção

entre elas.

De acordo com as propriedades físico-químicas do núcleo, a composição do

material de parede e a técnica utilizada, podem ser formados diferentes tipos de partículas

(Figura 1): partícula de núcleo irregular, esfera simples envolvida por um revestimento de

espessura uniforme (Figura 1 a), matriz contínua do material de parede constituída por várias

partículas (Figura 1 b), cápsula mononuclear de parede dupla (Figura 1 c), cápsula contendo

vários núcleos no seu interior e microesferas em multicamadas (Figura 1 d)

(GHARSALLAOUI et al., 2007).

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Capítulo 2

19

Figura 1. Morfologia de micropartículas obtidas por microencapsulação: (a)

microcápsula, (b) microesfera, (c) microcápsula multicamada, (d) microesfera multicamada e

multinuclear. Adaptado de Nesterenko et al., 2013

A forma e o tamanho das partículas dependem do tipo de alimento e/ou

ingrediente que se deseja encapsular. Segundo Vyas e Khar (2006), micropartículas são

partículas cujo tamanho varia de 1 a 1000 µm, podendo ou não ser de origem biodegradável,

que podem ser classificados em três tipos, de acordo com seu tamanho: macrocápsulas ou

microesferas (>5000 μm), microcápsulas (0,2-5000 μm) e nanocápsulas (<0,2 μm) (SILVA et

al., 2003). Outros dois sistemas incluídos na classificação das micropartículas são os

lipossomas e as emulsões lipídicas, também conhecidos por microesferas lipídicas.

2.1.1 Técnicas

Há várias técnicas que podem ser utilizadas para produção de partículas aplicadas

em ingredientes alimentícios. A seleção do método varia conforme a aplicação que será dada

à microcápsula, tamanho desejado, mecanismo de liberação e propriedades físico-químicas

tanto do material ativo, quanto dos agentes encapsulantes (JACKSON e LEE, 1991; RÉ,

2000, AZEREDO, 2005).

Conforme a técnica de produção, os métodos são divididos em três grupos

principais (TIWARI et al., 2010):

Físicos: Spray drying (secagem por atomização); Spray chiling (nebulização em corrente ar

frio); Spray cooling, pulverização em banho térmico, leito fluidizado, extrusão centrífuga com

múltiplos orifícios, cocristalização, emulsificação e liofilização.

Químicos: Inclusão molecular, gelificação iônica e polimerização interfacial;

Físico-químicos: coacervação simples e complexa, separação de fases, emulsificação seguida

de evaporação do solvente, pulverização em agente formador de reticulação e envolvimento

lipossômico.

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Capítulo 2

20

A fim de obter microcápsulas mais estáveis e com diferentes funcionalidades, o

estudo da associação de técnicas e características dos materiais utilizados são bastante

interessantes, além da otimização do processo.

2.1.2 Microencapsulação

Microencapsulação consiste em um processo que envolve pequenas partículas

contendo ingredientes ativos, que podem ser gás, líquido ou sólidos, empacotados dentro de

um material, geralmente polissacarídeos ou oligossacarídeos (BARROS e STRINGENTA,

2011). Tem por objetivo proteger o material das condições adversas do meio como luz,

umidade, oxigênio e interações com outros compostos, mantendo um produto estável, com

maior vida de prateleira além de possibilitar a liberação controlada do composto protegido em

condições específicas. Na última década, as definições e empregos da microencapsulação têm

se tornado mais amplo e esta técnica vem se mostrando promissora para elucidar problemas

durante a incorporação de alguns ingredientes e aditivos em alimentos além de compostos

funcionais (SHAHIDI e HAN, 1993; GOUIN, 2004; FÁVARO-TRINDADE et al., 2008).

Esta técnica vem sendo estudada desde a década de 30, entretanto sua primeira

aplicação comercial ocorreu por volta de 1950, por Green e Scheicher, a fim de produzir papel

cópia sem carbono. As microcápsulas localizadas no verso da folha, ao serem pressionadas,

liberavam a tinta presente no seu interior, atingindo a folha abaixo (ARSHADY, 1990;

DUBEY et al., 2009). Na década seguinte produtos contendo óleo de laranja foram

microencapsulados para utilização em indústria de aromas para produção de pílulas e

comprimidos na indústria farmacêutica (DZIEZAK, 1988). Em alimentos, os primeiros

estudos ocorreram nos anos 60, a fim de prevenir a oxidação e perda de compostos voláteis de

óleos essenciais bem como o controle da liberação do aroma (RÉ, 2000).

De acordo com Shahidi e Han (1993), as microcápsulas apresentam a capacidade

de modificar e melhorar a aparência e as propriedades de uma substância. Além disso, o uso

da microencapsulação na indústria alimentícia permite diminuir a reatividade do material de

núcleo com o ambiente; reduzir a velocidade de evaporação ou de transferência do material de

núcleo para o meio; melhorar a manipulação do material encapsulado; promover liberação

controlada; mascarar odor e sabor desagradáveis; e possibilitar a diluição homogênea do

material encapsulado em uma formulação alimentícia.

A fim de atender necessidades especificas, algumas características das

microcápsulas podem ser alteradas, tais como: mecanismos de liberação, composição,

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Capítulo 2

21

morfologia, tamanho de partículas e custo. Conforme o processo industrial varia, existe uma

série de questões que devem ser levadas em consideração na escolha do processo de

microencapsulação: a funcionalidade final do ingrediente a ser microencapsulado; o tipo de

material de parede a ser utilizado; as condições de processamento às quais o material

microencapsulado deve resistir sem liberar seu conteúdo; a concentração ótima de material

ativo na microcápsula; o mecanismo de liberação do recheio; necessidades de tamanho de

partícula, estabilidade e o limite de custo do material microencapsulado (DESAI e PARK,

2005).

Na indústria de alimentos em especial, tem-se o interesse na incorporação de

temperos, acidulantes, vitaminas e minerais (RÉ, 2000). Além disso, a encapsulação de óleos

essenciais é interessante para prevenir a oxidação e a perda de substâncias voláteis e controle

da liberação de aroma. Microrganismos probióticos também têm sido encapsulados com o

intuito de protegê-lo durante a passagem pelo trato gastrointestinal bem como durante o

processo de industrialização (YOO et al., 1996), outro destaque se da aos aditivos alimentares

como os antioxidantes, em especial o ácido ascórbico, que se degrada facilmente quando

expostos ao ambiente sendo assim é de extrema importância a sua proteção (FONTES et al.,

2009).

A fim de encapsular esses compostos a técnica mais utilizada na indústria de

alimentos é a atomização seguida de secagem por ser relativamente barata, e simples. É um

dos métodos mais antigos de encapsulação, tendo sido usado desde a década de 1930 para

preparar os primeiros compostos de flavor encapsulados (DZIEZAK, 1988). Entretanto,

técnicas de emulsificação, têm sido empregadas no preparo de micro e nanoencapsulados

hidrofílicos e lipofílicos, tais como corantes, minerais, probióticos, antioxidantes, vitaminas,

entre outros (MCCLEMENTS et al., 2007; PERRECHIL, 2008; WALSTRA e VAN VLIET,

2010; BOUYER et al., 2012; BENICHOU et al., 2004).

2.2 EMULSÕES

Emulsões são geralmente compostas por dois líquidos imiscíveis (usualmente

água e óleo), onde um deles é disperso no outro na forma de gotas. A fase dispersa é a solução

ou substância que formarão as gotas, já a fase contínua comporá o meio. Conforme a

distribuição das fases, as emulsões podem ser classificadas como emulsão óleo em água

(O/A), quando o sistema consiste de gotas de óleo em uma fase continua aquosa como por

exemplo, sopas, leite e maionese, ou emulsão água em óleo (A/O) para um sistema de água

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Capítulo 2

22

dispersa em óleo, podendo citar como exemplos manteiga e margarina. Pode existir um

sistema ainda mais complexo que são as emulsões do tipo múltiplas, onde coexistem

simultaneamente os dois tipos de emulsões citados anteriormente (DICKINSON, 1992;

MCCLEMENTS, 2005; MCCLEMENTS et al., 2007).

Esse tipo de sistema ainda pode ser classificado conforme o diâmetro das gotas

em nanoemulsões (10-100 nm), miniemulsões (100-1000 nm) e macroemulsões (0,5-100 μm)

(WINDHAB et al., 2005). Quanto menor for o tamanho das gotas dispersas, menor a

diferença de densidade entre as fases e maior a viscosidade da fase contínua, melhor e maior

será a estabilidade cinética da emulsão (MCCLEMENTS, 2011; SAMAVATI et al., 2011).

Pela segunda lei da termodinâmica, todos os sistemas tendem a retornar ao seu

estado inicial de energia mínima. No caso de emulsões, há tendência natural de diminuição da

área de contato interfacial, o que resulta na tendência das emulsões à separação de fase, bem

como outras instabilidades como floculação, coalescência, cremeação, sedimentação e

maturação de Ostwald. Os processos de instabilidade mais observados em emulsões múltiplas

são a maturação de Ostwald e a coalescência (WALSTRA e VAN VLIET, 2010; BOUYER.

et al.,2012; HERZI et al., 2014).

Para aumentar a estabilidade cinética das emulsões, torna-se necessário o uso de

emulsificantes e/ou estabilizantes. Os emulsificantes são uma espécie química que se adsorve

na superfície das gotas produzidas durante a homogeneização, formando camadas protetoras

que impedem a agregação da fase dispersa e reduzem a tensão interfacial (MCCLEMENTS et

al., 2007). Os surfactantes são classificados em duas grandes classes: de baixa massa molar

(monoglicerídeos, polissorbatos, lecitina, dentre outros) e emulsificantes macromoleculares

(usualmente proteínas, principalmente do leite, da soja e do ovo) (DICKINSON, 2003). Os

espessantes por outro lado, apresentam a propriedade de aumentar a viscosidade ou gelificar a

fase contínua das emulsões, diminuindo ou impedindo o movimento das gotas

(MCCLEMENTS et al., 2007). Podem-se citar como principais espessantes utilizados os

polissacarídeos como as gomas carragena, xantana, gelana e alginato.

As emulsões são empregadas no preparo de micro e nanoencapsulados

hidrofílicos e lipofílicos devido a sua capacidade de formar sistemas contendo fases aquosas e

oleosas. Além disso, pode ser na forma sólida, semi-sólida, ou liquida, o que permite sua

incorporação em diferentes produtos (HILL, 1996; MCCLEMENTS et al., 2007;

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PERRECHIL, 2008; WALSTRA e VAN VLIET, 2010; BOUYER et al., 2012; JIMÉNEZ-

COLMENERO, 2013).

2.2.1 Emulsões Múltiplas

Emulsões múltiplas são sistemas complexos, formados por processos de

emulsificação seguidos, onde os dois tipos de emulsões (A/O e O/A) existem

simultaneamente, constituindo emulsões do tipo A/O/A ou O/A/O (FLORENCE;

WHITEHILL, 1982; OMOTOSHO, 1990). Emulsões A/O/A são compostas de gotas de água

dispersas em gotas de óleo, dispersas ainda em outra fase aquosa, chamada de fase aquosa

externa (BOUYER et al., 2012).

A emulsão múltipla na primeira etapa é formada uma emulsão primária, do tipo

A/O ou O/A, por homogeneização intensa (alta pressão ou alta velocidade de

agitação/mistura) (Figura 2). Para que isso ocorra faz-se necessário a utilização de um

emulsificante lipofílico ou hidrofílico, capaz estabilizar e produzir a interface água-óleo ou

óleo-água. Na etapa seguinte, procede-se a mistura da emulsão primária com outra fase

aquosa ou oleosa, a partir de homogeneização com menor velocidade de agitação. Assim, faz-

se necessária a utilização de um emulsificante lipofílico ou hidrofílico, com o objetivo de

produzir e estabilizar a nova interface. Dessa maneira, uma emulsão múltipla do tipo A1/O/A2

ou O1/A/O2 é formada. Aplicam-se processos de homogeneização mais suaves na segunda

etapa, a fim de evitar a ruptura das gotas da emulsão primária e diminuir a eficiência de

encapsulação. Enquanto que se o processo de homogeneização for muito suave, podem-se

obter sistemas altamente polidispersos, se muito intenso pode provocar a quebra das gotas

(GARTI, 1997; JIMÉNEZ-COLMENERO, 2013).

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Figura 2. Esquema para obtenção de emulsão múltipla

Fonte: Adaptado de Pereira e Garcia-Rojas, 2015

Em virtude das características estruturais, emulsões múltiplas apresentam alto

potencial para aplicação em alimentos, com propriedades de liberação de flavor, controle de

aromas e sabores indesejáveis, possibilidade de produção de alimentos com baixo conteúdo

calórico-lipídico (diet e light), disponibilização e transporte controlado de componentes

bioativos encapsulados, além da proteção dessas substâncias frente à oxidação e ação de

certas enzimas (BENICHOU et al., 2004; MUSCHIOLIK,2007; MCCLEMENTS et al., 2007;

DICKINSON, 2011; JIMÉNEZ -COLMENERO, 2013). Na Tabela 1, pode-se observar

características gerais de formação de emulsões múltiplas empregadas na encapsulação de

componentes bioativos em alimentos.

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Tabela 1 – Características gerais de emulsões múltiplas empregadas na encapsulação de

componentes bioativos.

Tipo Encapsulado Emulsificantes Fase

Óleo

Referências

A/O/A Mg2+

PGPR (lipofílico)

Caseinato de

sódio

(hidrofílico)

Miglyol

HERZI et

al.,2014.

O/A/O Ômega-3 Caseinato de

sódio

(hidrofílico

PGPR

(lipofílico)

Mistura de

óleos ricos

em ômega-

3

Óleo de

palma/

Óleo de

girassol

O’ DWYER

et al., 2013

A/O/A Flavonóides

(Quercetina e

Antocianina)

Arlacel P135

Citrol PG3PR

(lipofílicos)

Sinperonic

PE/F127

Brij 78

(hidrofílicos)

Óleo de

girassol

AKHTAR et

al., 2013.

A/O/A Azocaseína Caseínato de

sódio

PGPR

Óleo de

linhaça e

óleo

mineral

(GIROUX;

ROBITAILLE

; BRITTEN,

2016)

A/O/A Caroteno e

Antocianina

Span 80

Tween 20

Tween 80

Óleo de

milho

(SHI et al.,

2017)

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Capítulo 2

26

Apesar dos trabalhos encontrados reportarem bons resultados para produção de

emulsões múltiplas a fim de proteger compostos bioativos, nenhum deles explorou a

veiculação de compostos diferentes nas três fases.

2.3 Microgéis

A produção de micropartículas por gelificação iônica é um processo simples e de

baixo custo que ocorre quando uma solução polimérica contendo o material de interesse a se

encapsular é gotejada sobre uma solução iônica em concentrações adequadas. O processo se

dá pela formação de microgéis com estruturas de redes tridimensionais, devido a ligações

iônicas provocadas por interações de íons de baixa massa molecular com uma solução

polimérica aquosa (SILVA et al., 2003), podendo-se obter elevada eficiência de encapsulação

e partículas de diferentes formas e tamanhos (WILLAERT e BARON, 1996).

Os microgéis podem ser utilizados como alternativa para aumentar a estabilidade

de emulsões, que é possível devido à capacidade gelificante e de retenção de água das

proteínas e de alguns polissacarídeos (WALSTRA, 2003). Além disso, o uso de microgéis são

muito atrativos, pois pode auxiliar na incorporação de materiais com baixa solubilidade em

água e ainda permite a incorporação dos microgéis em produtos com elevado teor de umidade,

o que não ocorre com partículas secas, como aquelas produzidas em spray dryer (BUREY et

al., 2008).

2.4 Microencapsulação de Bioativos Alimentícios

A indústria de alimentos apresenta um grande interesse na incorporação de

compostos bioativos, visto que a população está cada vez mais consciente dos benefícios que

trazem para a saúde como, por exemplo, auxiliar no tratamento de doenças degenerativas

(CELLI et al., 2015). No entanto, a maioria dos bioativos apresenta alta instabilidade e/ou

sabor indesejável o que impedem a sua aplicação direta nos produtos alimentícios. Assim a

microencapsulação é uma tecnologia que fornece proteção para compostos que sofrem stress

ambiental e degradação química, além de aumentar estabilidade, manipulação, eficácia e

biodisponibilidade destes compostos.

É possível encapsular diversos compostos, podendo citar pigmentos, micro-

organismos, compostos responsáveis por sabor e aroma, nutrientes, enzimas, conservantes,

acidulantes, entre outras, em cápsulas comestíveis (KAREL e LANGER, 1998).

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Capítulo 2

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Para a escolha da técnica de microencapsulação do bioativo de interesse, deve-se

levar em consideração diversos fatores como temperatura de degradação do composto, sitio de

atuação, polaridade, afinidade química com agente encapsulante, matriz alimentícia a ser

incorporada, vida de prateleira do produto bem como sua biodisponibilidade quando o intuito

é nutricional (CELLI et al., 2015; PAI et al., 2015).

2.4.1. Microencapsulação de probióticos

Probióticos são definidos como microrganismos vivos que, administrados em

quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. A ingestão de culturas

bacterianas probióticas é benéfica à saúde, por ajudar na proliferação de bactérias benéficas

ao organismo e, por meio de competição, o detrimento daquelas potencialmente prejudiciais,

contribuindo assim para o controle da microbiota intestinal e estabilização desta microbiota

após o uso de antibióticos (SAAD, 2006). Consumir regularmente probióticos pode aliviar

sintomas de intolerância a lactose, tratar problemas de diarréia associados ao uso de

antibióticos, bem como diminuir o risco de alergias na infância (TUOHY et al., 2003).

É importante ressaltar que, para atingir o efeito desejado, os microrganismos

probióticos devem chegar ao trato gastrointestinal em número suficiente, ou seja, cerca de 107

unidades formadoras de colônia (CFU/mL de produto) (SONG et al., 2013). Na passagem

pelo sistema digestivo, as condições físico-químicas variam significativamente, o que diminui

a viabilidade das bactérias probióticas (MARTEAU et al., 1997; CHÁVARRI et al., 2010).

Assim, técnicas de encapsulação ou microencapsulação vêm sendo estudadas para contornar

esse problema (SONG, 2014). Existem diversas técnicas para a microencapsulação de

probióticos, como spray-drying, spray-coating, coacervação, extrusão e emulsificação, sendo

que as duas últimas são bastante interessantes para aplicação em produtos de alta umidade

(BUREY, 2009).

2.4.2. Microencapsulação de óleos

Os óleos essenciais exercem grande influência na manutenção do corpo humano

em especial os poli-insaturados com destaque para os ômegas (ω). O ácido linolênico (ω-3)

após ingestão auxilia no desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso em crianças, reduz

risco de hipertensão e alguns tipos de câncer incluindo de cólon, mama e próstata, melhora a

inteligência e memória, inibe o envelhecimento, reduz problemas de constipação intestinal,

reduz risco de doenças coronárias e controla a diabetes (GOYAL et al., 2014., RODRIGUEZ-

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Capítulo 2

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LEYVA et al., 2010; CARRARO et al., 2012; SINGH et al., 2011). Entretanto são altamente

susceptíveis a ação de oxigênio e luz, o que leva à sua oxidação, com consequente produção

de substancias tóxicas.

Assim, os lipídios, especialmente aqueles que contêm alto teor de ácidos graxos

insaturados, têm sido microencapsulados visando reduzir a susceptibilidade à oxidação. O

agente encapsulante maltodextrina mostrou-se eficiente para evitar oxidação de óleo de

linhaça por spray drying (GRATTARD et al., 2002). Na encapsulação de óleo de peixe,

verificou-se o aumento da estabilidade do mesmo quando encapsulado com a mistura de

hidroxipropilmetilcelulose, maltodextrina e goma acácia, com matrizes amorfas contendo

trealose e a mistura de celulose e maltodextrina (WU et al., 2005; DRUSCH et al., 2006;

KOLANOWSKI et al., 2004).

Devido as emulsões apresentarem regiões polares e apolares são sistemas de

proteção com potencial para a encapsulação de compostos bioativos hidrofílicos e

hidrofóbicos. Asnaashari, Farhoosh e Sharif (2014) verificaram que o processo de

emulsificação teve uma maior contribuição na melhoria da estabilidade oxidativa do óleo de

peixe quando comparado com a adição de compostos antioxidantes.

2.4.3 Microencapsulação de ácido ascórbico (vitamina C)

Dentre os antioxidantes que existem, o ácido ascórbico é muito atrativo devido a

sua capacidade de doar átomos de hidrogênio, neutralizando radicais livres e de ser de origem

natural. Além disso, é um antioxidante seguro para a utilização em alimentos e não possui

limite de uso. Este ácido e seus sais neutros são utilizados como antioxidantes em frutas,

hortaliças e sucos, visando à prevenção do escurecimento e outras reações oxidativas

(FONTES et al., 2009).

Em contra partida, o ácido ascórbico é altamente solúvel em água (0,33 g/mL),

oxidativo e de natureza reativa, o que pode causar problemas de degradação e instabilidade

em ingredientes ou sistemas alimentares que os contêm, além de provocar alterações

indesejáveis na cor e sabor do alimento (CHANG et al., 2010). Assim, devido a sua natureza

instável se faz necessário a sua proteção das condições ambientes.

Segundo Lee et al. (2004), é possível estabilizar vitamina C em emulsão múltipla

tipo A/O/A. Nesse trabalho foi possível obter emulsões estáveis em um período de até oito

semanas e a vitamina estabilizada foi aplicado em produtos farmacêuticos e cosméticos.

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Capítulo 2

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Emulsão do tipo A/O também foram eficientes para proteção da vitamina e facilmente

liberada em excesso de água (NAKAI; NAKAI; MICHIDA, 2016).

2.5 Liberação Controlada

Um dos objetivos de se projetar microcápsulas é promover uma liberação gradual

de ingredientes ativos, onde o material de revestimento da cápsula/partícula pode ser

selecionado de modo a liberar o material microencapsulado em condições específicas.

Segundo Karel e Langer (1988), algumas situações requerem o controle da

difusão de componentes do alimento, em especial aditivos. Compostos responsáveis pelo

sabor e nutrientes devem ser liberados assim que consumidos, entretanto sua difusão deve ser

prevenida no processamento e na estocagem. O material de revestimento deve ser capaz de

resistir a condições ácidas no estômago, possibilitando que os ingredientes ativos possam

passar pelo estômago de maneira intacta (CHAMPAGNE et al., 2011). Há casos em que os

conservantes são necessários na superfície do produto, enquanto sua difusão para outras partes

deve ser controlada, evitando assim a diluição (GIBBS et al., 1999).

A liberação dos compostos pode se dar devido a uma série de mecanismos, que é

determinada principalmente pela morfologia das partículas e do material encapsulante. A

grande maioria dos materiais encapsulantes em alimentos são carboidratos, tipicamente

hidrofílicos e amorfos, capazes de formar estrutura vítrea por meio da remoção de água

(KAREL e LANGER, 1988). Processos que utilizam materiais encapsulantes hidrofílicos

geram uma liberação mais rápida do núcleo, enquanto o uso de compostos hidrofóbicos como

gorduras ou ceras tendem a retardar a liberação (WHORTON, 1995). A liberação pode ser

pelos mecanismos de erosão, difusão ou degradação, enquanto que se pode utilizar como

gatilhos o uso de diferentes solventes, pH, temperatura e pressão. Na prática observa-se uma

combinação de mecanismos e gatilhos de liberação (POTHAKAMURY e BARBOSA

CÁNOVAS, 1995):

Liberação controlada por difusão: a difusão é um dos mecanismos mais importantes no

processo de liberação. Neste caso a parede de uma partícula atua como uma membrana

semipermeável. Se essa parede estiver íntegra, a liberação do núcleo ocorre principalmente

por difusão (SHAHIDI e HAN;1993), onde a taxa é função das propriedades químicas do

núcleo e do material encapsulante (SHAHIDI e HAN;1993).

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Liberação ativada por degradação: ocorre pela degradação de componentes como proteínas e

lipídios pela ação de enzimas como proteases e lipases, respectivamente (DEPYPERE .et al.,

2003).

Liberação ativada por solvente: o material de parede em contato com um solvente pode se

dissolver totalmente, liberando o núcleo rapidamente, ou se expandir, favorecendo a

liberação. Um gatilho mais comum na indústria alimentícia é a ativação pela água, já que a

maioria dos encapsulantes são hidrossolúveis (REINECCIUS, 1995).

Liberação controlada por pH: consiste nas alterações na solubilidade em água do material de

parede, consequentes de alterações no pH (REINECCIUS, 1995).

Liberação ativada por temperatura: com variações de temperatura o núcleo é liberado,

afetando o estado físico e a taxa de liberação. Há dois conceitos distintos: a liberação sensível

à temperatura, característica para materiais que se colapsam ou expandem assim que a

temperatura crítica é atingida, e a liberação ativada por fusão, envolve a fusão do material de

parede por aumento de temperatura (DEPYPERE et al., 2003).

Liberação ativada por pressão: acontece quando uma há uma pressão aplicada às paredes das

cápsulas, durante a mastigação por exemplo (DEPYPERE et al., 2003).

Mudanças nas características das partículas através da manipulação do processo, como

controle do tamanho das partículas, volume ou diâmetro dos poros ou área de superfície da

cápsula permite o controle de mecanismos de liberação controlada. Variações na composição,

modificações químicas (como ligações cruzadas) ou adição de grupos funcionais também

podem ser usadas para controlar a liberação (WHORTON, 1995).

2.6. REFERÊNCIAS

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Capítulo 3

39

Capítulo 3

PRODUÇÃO DE EMULSÕES A1/O E A1/O/A2: EFEITO DE PROCESSO E

CONCENTRAÇÃO DE SURFACTANTE

Artigo a ser submetido na revista: Journal of Food Engineering

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Capítulo 3

40

PRODUÇÃO DE EMULSÕES A1/O E A1/O/A2: EFEITO DE PROCESSO E

CONCENTRAÇÃO DE SURFACTANTE

Autores: Rodrigues, C. G; Cozero, H. A.; Perrechil, F. A.; Sato, A. C. K.

RESUMO

A fim de produzir uma emulsão água em óleo (A/O) estável, foram testadas diferentes

concentrações de surfactante, tempo e velocidade de processo, e foram analisadas distribuição

de tamanho de gotas, tensão interfacial, microscopia e estabilidade das emulsões formadas.

Foi observado que o aumento na concentração de surfactante levou à redução na tensão

interfacial e ao aumento na estabilidade, mas, nas condições avaliadas, não influenciou no

tamanho de gotas. Quanto ao processo, a velocidade exerceu maior influência, apresentando

menor estabilidade na menor velocidade. Após esse estudo, foram produzidas emulsões

múltiplas, nas quais foi avaliado o efeito da concentração de surfactante da fase externa. Após

definição das condições para o preparo da emulsão secundária, foi avaliada a melhor

concentração de surfactante da fase interna na estabilidade das emulsões múltiplas Maiores

concentrações de surfactante na fase externa ocasionaram maior estabilidade e menor

tamanho de gota. Enquanto que a medida que aumentou a concentração de surfactante da fase

interna pode observar mais gotas no interior da emulsão múltipla.

Palavras chave: óleo de linhaça, tensão interfacial, emulsões múltiplas

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Capítulo 3

41

1. INTRODUÇÃO

Emulsões consistem em sistemas formados por dois líquidos imiscíveis

(usualmente água e óleo), onde um é disperso no outro na forma de gotas, e podem ser

encontradas em uma vasta variedade de alimentos. A fase dispersa é a solução ou substância

que forma as gotas, enquanto que a fase contínua consiste no meio dispersante. Conforme a

distribuição das fases, as emulsões podem ser classificadas como emulsão óleo em água

(O/A), quando o sistema em questão consiste de gotas de óleo em uma fase continua aquosa

como, por exemplo, sopas, leite e maionese, ou emulsão água em óleo (A/O) para um sistema

de água dispersa em óleo, podendo citar como exemplos manteiga e margarina

(MCCLEMENTS, 2005; MCCLEMENTS et al., 2007). É possível formar também sistemas

mais complexos que são as emulsões do tipo múltipla, formadas por processos de

emulsificação seguidos, onde os dois tipos de emulsões (A/O e O/A) coexistem, constituindo

emulsões do tipo A/O/A ou O/A/O (FLORENCE; WHITEHILL, 1982; OMOTOSHO, 1990).

Produtos obtidos por sistemas deste tipo podem apresentar uma diversidade de

características sensoriais e físico-químicas em consequência dos diferentes tipos de

ingredientes e condições de processamento utilizadas. Porém, deve-se ressaltar que são

sistemas altamente instáveis. Conforme a segunda lei da termodinâmica, todos os sistemas

tendem a retornar ao estado de menor energia. Em se tratando de emulsões, há uma tendência

natural de diminuição da área de contato interfacial, o que resulta na tendência das emulsões a

separarem de fase. Dentre os mecanismos de instabilidade, pode-se citar a floculação,

coalescência, cremeação, sedimentação e maturação de Ostwald (WALSTRA e VAN VLIET,

2010). Porém, é possível aumentar a estabilidade cinética das mesmas, podendo torna-las

estáveis por longos períodos de tempo.

Tamanho de gotas dispersas menores, menor a diferença de densidade entre as

fases e maior a viscosidade da fase contínua podem melhorar a estabilidade cinética da

emulsão. A concentração do surfactante utilizado, bem como processo de obtenção, também

são fatores que influenciam a estabilidade de emulsões (MCCLEMENTS, 2011; SAMAVATI

et al., 2011). Propriedades reológicas de emulsões podem fornecer informações quanto a

estabilidade física das emulsões, essas medidas também permitem expressar os mecanismos

de instabilidade mencionados acima, além de estar diretamente relacionadas à consistência do

produto, bem como fluidez durante a retirada da embalagem e operações industriais

(CASTRO, 2003).

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Capítulo 3

42

Assim, o objetivo do presente trabalho foi desenvolver emulsões primárias com

diferentes concentrações de surfactante, avaliar a influência do processo de obtenção das

emulsões simples, além disso produzir emulsões múltiplas visando a influência da

concentração de surfactante tanto na fase externa quanto na fase interna.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Materiais

Os ingredientes utilizados para preparo das emulsões foram água destilada, óleo

de linhaça doado pela Cisbra LTDA (Brasil), Polisorbato 80 (Tween 80) (Sigma) e

poliglicerol polirricinoleato (GRINDSTED PGPR) e alginato de sódio, doados pela Danisco

Brasil LTDA (Brasil) e demais ingredientes de grau analítico.

2.2 Preparo das Emulsões A1/O

Água destilada foi misturada às soluções oleosas contendo surfactante, utilizando-

se um homogeneizador tipo rotor estator “Ultra Turrax” modelo T10 (IKA, Alemanha), a

14500 rpm por 4 minutos. A água foi adicionada lentamente para melhor homogeneização das

emulsões. Foram avaliadas diferentes concentrações de PGPR (0,5 a 2% m/m) (Tabela 1),

mantendo relação em massa de água para óleo de 1:2 (m/m).

Tabela 1 – Relação de reagentes para produzir emulsão A1/O

Surfactante

PGPR (%

m/m)

Óleo de linhaça

(% m/m) Água (%

m/m)

0,5 66,34 33,16

1 66 33

1,5 65,7 32,8

2 65,4 32,6

Após esta etapa foi avaliada a influencia do processo na obtenção da emulsão

simples. Foram avaliados efeito de tempo e velocidade de homogeneização.

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Capítulo 3

43

2.3 Preparo das Emulsões A1/O/A2

A emulsão primária, preparada conforme descrito no item 2.2, foi adicionada (i:

concentração de PGPR fixa em 1%, variando surfactante da múltipla, ii: variando

concentração de PGPR e concentração de Tween 80 fixa em 2%) com auxílio de bomba

digital (Masterflex L/S Cole-Parmer Instrument Company, EUA) a vazão de 4,5 mL/min em

soluções de 1% de alginato de sódio contendo surfactante Tween 80 em diferentes

concentrações (Tabela 2), sob agitação magnética a 500 rpm, durante 1 hora. A solução de

alginato foi preparada em agitador magnético a 500 rpm por 12 horas. A proporção de

emulsão simples para a solução de alginato foi mantida em 1:10 (m/m).

Tabela 2 – Relação de reagentes para produzir emulsão A1/O/A2

Surfactante

Tween 80 (%

m/m)

Solução de

alginato 1 % (%

m/m)

A1/O (%

m/m)

0,5 90,45 9,05

1 90 9

1,5 89,55 8,95

2 89,09 8,91

2.4 Distribuição de tamanho de gotas

A distribuição de tamanho de gotas das emulsões simples (A1/O) foi avaliada por

Espalhamento de Luz Dinâmico a 173° em um equipamento Zetasizer Nano ZS (Malvern

Instruments, Reino Unido). Para as emulsões múltiplas (A1/O/A2) a distribuição de tamanho

de gotas foi determinada com o auxílio de um Dispersor de Laser Mastersizer 2000 – versão

5.60 (Malvern Instruments, Reino Unido). O tamanho de gota das emulsões múltiplas foi

expresso como diâmetro médio volumétrico (D [4,3]) e polidispersidade.

2.5 Índice de Estabilidade

As amostras de emulsões foram colocadas em provetas de 25 mL e o índice de

estabilidade foi determinado pela relação entre o volume da fase emulsionada em relação ao

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Capítulo 3

44

total da amostra, dada pela Equação 1 ao longo do tempo. De acordo com a equação, quanto

maior o valor de C, maior a estabilidade do sistema (KRISHNA et al., 1998).

C = 100 x (Vs/Vt) (1)

Onde Vt corresponde ao volume total da amostra (mL); Vs volume da fase

emulsionada (mL)

2.6 Análise de Microscopia ótica

As emulsões foram visualizadas através de microscopia ótica, com auxílio de um

microscópio óptico Carl Zeiss Modelo Axio Visio (Zeiss, Alemanha), com objetiva de 100x.

2.7 Tipo de emulsão

Para verificar o tipo de emulsão formada (A/O ou O/A), foi realizado teste de

diluição e microscopia confocal de fluorescência. O teste de diluição é um método rápido para

determinar tipo de emulsão formada, onde é adicionada água à emulsão em partes iguais, e se

observa se ocorre separação de fase ou não (PRISTA et al., 1996). A separação de fase indica

que a fase continua é óleo sendo então uma emulsão do tipo A/O, enquanto se a separação de

fases não é observada, é um indício que a fase continua é água, ou seja, a emulsão formada é

do tipo O/A. Para análise de microscopia de fluorescência, o corante vermelho do nilo foi

adicionado às amostras de maneira a marcar as moléculas de óleo presentes. As amostras

foram examinadas utilizando um confocal Zeiss LSM 780-NLO em um microscópio Axio

Observer Z.1 (Carl Zeiss AG, Alemanha) com uma objetiva de 100x. As imagens foram

obtidas utilizando laser de 552 e 636 nm para excitação e emissão respectivamente do

vermelho do nilo.

2.8 Tensão Interfacial

A tensão interfacial entre o óleo de linhaça contendo diferentes concentrações de

PGPR e água foi medida a 25 ºC usando um tensiômetro Tracker-S (Teclis, França),

utilizando a metodologia de gota pendente. O volume inicial da gota foi de 6 µL.

2.9 Medidas reológicas

As propriedades reológicas da emulsão primária foram avaliadas utilizando

reômetro modelo AR 1500 ex (TA INSTRUMENTS) com geometria de cone placa (40 mm)

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Capítulo 3

45

2° e 2 mm de GAP. Curvas de escoamento foram obtidas por um programa de passos com

taxa de deformação variando entre 0 e 300 s-1

. Todas as medições foram realizadas a 25 °C.

2.10 Análise dos Dados

Todos os resultados foram analisados por meio da análise de variância (ANOVA)

e as diferenças entre as médias, pelo teste de Tukey, utilizando-se o programa estatístico

SISVAR versão 5.6, a 5% de significância (FERREIRA, 2011). Foram feitas duplicatas de

processo e triplicatas de cada análise.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Tipo de emulsão e influência da concentração de surfactante

A fim de confirmar o tipo de emulsão formada, a emulsão produzida com 1% de

PGPR foi analisada por microscopia confocal (Figura 1A), onde o óleo de linhaça aparece

com a cor vermelha, enquanto as regiões pretas indicam a presença do composto hidrofílico,

no caso água. As imagens revelaram que a emulsão formada se trata de uma emulsão do tipo

A/O, o que pode também ser confirmado pelo teste de diluição (Figura 1B), onde ao adicionar

água à emulsão observou-se separação de fases indicando assim que a fase contínua se trata

de óleo.

Figura 1 – A) Microscopia confocal. B) Teste de diluição.

Foi avaliado o efeito da concentração de surfactante na tensão interfacial entre as

fases óleo e água e, depois das emulsões prontas, avaliou-se a distribuição de tamanho de

gotas, estabilidade e comportamento reológico do sistema formado logo após o preparo das

emulsões simples A/O.

Todas as emulsões, independente da concentração de surfactante avaliada,

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Capítulo 3

46

apresentaram distribuição monomodal e tamanho de gotas similar (Figura 2) com leve

redução das gotas a medida que aumenta a concentração de surfactante, como pode observar

pela microscopia. Entretanto foi observada influência quanto à estabilidade e tensão

interfacial, que tenderam a aumentar e diminuir, respectivamente, com o aumento na

concentração de PGPR (Figura 3 A e B). A estabilidade de emulsões pode ser associada à

vida de prateleira, aparência e até textura do produto, e está diretamente relacionada ao

tamanho das gotas e à polidispersidade, que representa a fração de partículas em diferentes

classes de tamanho (MCCLEMENTS, 2005). Essa distribuição pode ser alterada variando a

quantidade de surfactante e condições de processamento. Quanto menor a gota, mais estável a

emulsão, por aumentar a área superficial o que facilita o recobrimento e estabilização pelo

surfactante (PERRIER-CORNET et al., 2005).

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Capítulo 3

47

Figura 2 – Distribuição de tamanho de gotas e microscopia das emulsões com diferentes

concentrações de PGPR. Escala 20 µm

0

5

10

15

20

25

100 1000 10000

Inte

nsi

dad

e (

%)

Tamanho (nm)

0,5%

0

5

10

15

20

25

100 1000 10000

Inte

nsi

dad

e (

%)

Tamanho (nm)

1%

0

5

10

15

20

25

100 1000 10000

Inte

nsi

dad

e (

%)

Tamanho (nm)

1,50%

0

5

10

15

20

25

100 1000 10000

Inte

nsi

dad

e (

%)

Tamanho (nm)

2%

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Capítulo 3

48

Figura 3 - A) Tensão interfacial água/óleo com a concentração de surfactante PGPR; B)

Estabilidade frente a variação na concentração de PGPR

A estabilidade foi avaliada por 24 horas. Nas três primeiras horas após o processo

de emulsificação, todas as amostras mantiveram-se estáveis cineticamente, ou seja, não

apresentaram separação de fases (Figura 3 B). Após 4 horas, as emulsões com 0,5, 1 e 1,5%

de PGPR começaram a apresentar separação de fases, porém, com estabilidade maior que

90%. No entanto, a emulsão produzida com a menor quantidade de surfactante (0,5%)

apresentou queda brusca na estabilidade após 10 horas, passando de 96 para 79 %, o que pode

ser explicado pela baixa quantidade de surfactante usada para recobrir as gotas de água

formadas, o que com o tempo leva à coalescência das gotas que tendem ao estado de menor

energia. Quanto à tensão interfacial, foi observada sua redução, com o aumento da

concentração de PGPR (Figura 3 A). Mesmo sem adição de surfactante, também houve

redução da tensão interfacial no decorrer do tempo, o que pode ser explicado pela presença de

impurezas com poder de tensoativo (HALL et al., 2006). Com a presença do surfactante, foi

observado uma queda brusca no valor da tensão interfacial inicial de aproximadamente 13

para 8 mN/m, o que corrobora com o observado na estabilidade. Este fato se deve à interação

do surfactante na interface, onde concentrações maiores possibilitam um melhor recobrimento

das gotas de água. O surfactante deve adsorver-se rapidamente na interface durante o processo

de emulsificação a fim de reduzir a tensão interfacial, tornando mais fácil a ruptura das gotas

e formando uma camada protetora em torno delas, evitando a sua floculação e, por

consequência, retarda a desestabilização de emulsões (JAFARI; BEHESHTI; ASSADPOUR,

2013).

0

2

4

6

8

10

12

14

0 500 1000 1500

Ten

são

mN

/m

Tempo (s)

0%

0,50%

1%

1,50%

2%

0

20

40

60

80

100

120

0 10 20 30

Esta

bili

dad

e(

%)

Tempo (h)

0,50%

1%

1,50%

2%

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Capítulo 3

49

O efeito da adição de PGPR na estabilidade das emulsões pode ser entendido

melhor através do estudo da reologia das emulsões (Figura 4). O entendimento das

propriedades reológicas em emulsões é muito importante por diversos motivos. A eficiência

de ruptura das gotas em um homogeneizador e a vida de prateleira de emulsões alimentícias,

por exemplo, dependem da viscosidade dos componentes individuais (CASTRO, 2003).

Muitos dos atributos sensoriais também estão diretamente relacionados com as propriedades

reológicas como, por exemplo, cremosidade, espalhabilidade e dureza. Finalmente, as

medidas reológicas são frequentemente utilizadas como uma ferramenta analítica para

fornecer informações fundamentais sobre a organização estrutural e interações entre os

componentes em emulsões (MCCLEMENTS, 2005).

Figura 4 – Efeito da concentração de PGPR nas propriedades reológicas de emulsões A/O.

Todas as emulsões A/O mostraram baixa pseudoplasticidade, uma vez que o

índice de comportamento de escoamento (n) das amostras variou entre 0,967 a 0,977 (Figura

4). De maneira geral o índice de consistência (k) aumentou com a concentração de PGPR.

Assim, tem-se que a elevação na concentração de PGPR promoveu aumento da viscosidade e

de sua pseudoplasticidade. O aumento da área superficial da fase dispersa das emulsões afeta

fortemente sua reologia já que o aumento de número de gotas e a diminuição uniforme no

tamanho das mesmas aumentam a viscosidade da emulsão formada e consequentemente

aumenta a sua estabilidade (MCCLEMENTS, 2005) como visto para emulsões como

concentrações maiores de PGPR. Esse comportamento também foi observado por Kuhn;

Cunha, (2012) com valores de n entre 0,78 a 0,95 para emulsões A/O de óleo de linhaça

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0 50 100 150 200 250 300

Ten

são

(P

a)

Taxa de deformação (s-1)

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Capítulo 3

50

estabilizadas por proteína de soro de leite que nesse caso foi associado à agregação das

proteínas aumentando assim o tamanho.

A concentração de 1% de surfactante PGPR, atende aos parâmetros desejados,

com valores de estabilidade e tensão interfacial próximos a maior concentração estudada

(2%), bem como parâmetros reológicos, o que se torna interessante devido a tendência de

redução de aditivos alimentares

3.2 Influência do processo

Para esta etapa foi utilizada a concentração de 1% de PGPR para avaliação do

processo. Foi avaliado o efeito da velocidade (Figura 5 A) bem como o tempo de processo no

tamanho de gotas (Figura 5 B). A velocidade de homogeneização teve maior influência no

tamanho de gotas quando comparada ao tempo de processo, como pode ser observado na

Figura 5.

Figura 5 – A) Distribuição de tamanho de gotas com a variação da velocidade. 4 min 9500

rpm 4 min 14500 rpm 4 min 30000 rpm B) Distribuição de tamanho de gotas com a

variação do tempo de homogeneização . 2 min 14500 rpm 4 min 14500 rpm 8 min

14500 rpm

Quando o tempo foi fixado em 4 minutos, observou-se tamanhos de gotas

menores nas velocidades 9500 e 30000 rpm (Figura 5A). Entretanto, a menor velocidade de

homogeneização (9500 rpm) levou ao maior decréscimo na estabilidade, que apresentou

queda brusca nas primeiras 5 horas após o processo (Figura 6). A variação no tempo de

homogeneização apresentou pouca influência na distribuição de tamanho de gotas (Figura 5B)

e na estabilidade das emulsões (Figura 6). Nos momentos iniciais da agitação para formar

emulsões começa a formação de gotículas e a medida que esse processo avança, tanto em

0

5

10

15

20

25

100 1000 10000

Inte

nsi

dad

e (

%)

Tamanho (nm)

0

5

10

15

20

25

100 1000 10000

Inte

nsi

dad

e (

%)

Tamanho (nm)

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Capítulo 3

51

tempo quanto em velocidade, aumenta a probabilidade de colisão das gotas já formadas, que

dependendo da velocidade podem colidir fortemente, dando origem a gotas menores.

Figura 6 – Estabilidade da emulsão em diferentes tempos e velocidades de processo.

A melhor estabilidade foi observada a velocidade de 14500 rpm. A maior

velocidade estudada pode ter provocado quebra brusca das gotas causando coalescência e

consequentemente menor estabilidade (MCCLEMENTS, 2005). Assim, a homogeneização

por 4 min a 14500 rpm foi definida como condição de processo mais adequada para a

formação da emulsão simples água em óleo, nas condições avaliadas pelo presente estudo.

3.3 Produção de emulsão múltipla

A fim de determinar a melhor concentração de surfactante Tween 80 para

estabilizar a emulsão múltipla (A1/O/A2), foi utilizado 1% de PGRP como surfactante da fase

interna (A1/O) e avaliada distribuição de tamanho das gotas (Figura 7 A e C) e estabilidade

(Figura 7 B) da emulsão múltipla produzida com diferentes concentrações de Tween 80.

0

20

40

60

80

100

120

0 5 10 15 20 25

Esta

bili

dad

e (

%)

Tempo (h)

2min 14500 rpm

4min 9500 rpm

4min 14500 rpm

4min 30000 rpm

8min 14500 rpm

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Capítulo 3

52

Figura 7 – Emulsões múltiplas (A1/O/A2) com diferentes concentrações de Tween 80, A)

Distribuição de tamanho de gota B) Estabilidade C) D[4,3] e polidispersidade. Letras iguais

não diferem estatisticamente entre si a 5% de significância letras maiúsculas para

polidispersidade e minúsculas para D[4,3].

As distribuições de tamanho de gotas das emulsões com diferentes concentrações

de Tween 80 foram similares, porém pode-se observar um leve deslocamento do pico da

curva para tamanhos menores (Figura 7A) nas emulsões contendo 2% de surfactante, o que

pode ser associado à estabilidade por um período maior (Figura 7B). Não diferiram

estatisticamente os valores de D[4,3] e polidispersidade (Figura 7 C), porém pode se observar

uma leve tendência de redução de tamanho de gota a medida que a concentração de

surfactante aumentou (Figura 8). Enquanto para menores concentrações de Tween a separação

de fases foi observada após a primeira hora de preparo. Nas condições de maior concentração

de surfactante a emulsão ainda encontrava-se estável em duas horas de observação. Pelas

microscopias, foi possível observar que todas as concentrações de Tween estudadas levaram à

formação de emulsões múltiplas e que, com 2% de Tween 80, as gotas foram menores e em

quantidades maiores quando comparado com as outras concentrações estudadas (Figura 8).

0

2

4

6

8

10

12

1 100 10000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (μm)

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

0

20

40

60

80

100

120

0 2 4 6

Esta

bili

dad

e %

Tempo (horas)

0,50%1%1,50%2%

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

1,80

0 0,5 1 1,5 2 2,5

D[4

,3]

(µm

)

Po

lidis

pe

rsid

ade

(-)

Concentração de Tween 80 (%)

Polidispersidade

D[4,3]

Aa Aa Aa

Aa

A) B)

C)

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Capítulo 3

53

Este fato pode ter ocorrido devido a quantidade de surfactante ter sido a ideal para estabilizar

as gotas formadas.

Figura 8 – Microscopia das emulsões múltiplas com diferentes concentrações de Tween 80.

Escala 20 µm

3.4 Influência da concentração de surfactante da fase interna (A1/O) na produção

de emulsão múltipla a 2% de Tween 80.

Após a definição da concentração de surfactante da emulsão secundária (2%), foi

realizado um novo estudo para avaliar como, e se a concentração de surfactante da emulsão

primária influenciaria as características da emulsão múltipla. Assim, variou-se a concentração

de PGPR na fase interna (A1/O) e analisou-se a distribuição de tamanho de gota e estabilidade

das emulsões múltiplas (A1/O/A2). As emulsões múltiplas produzidas com todas as

concentrações avaliadas apresentaram distribuição bimodal, o que pode ser resultado das

gotas de emulsões múltiplas formadas e gotas de óleo livre ou emulsão simples que não

formaram emulsão múltipla, como pode ser observado pelas microscopias (Figura 9). Onde os

picos maiores seriam as emulsões múltiplas. A distribuição de tamanho de gota das emulsões

com diferentes concentrações de PGPR na fase interna apresentaram tendência similar com

exceção para a de 1,5% de PGPR, que apresentou gotas maiores (Figura 9). Devido ao maior

tamanho de gota, a mesma concentração teve uma queda mais brusca na estabilidade entre a

primeira e segunda hora de observação passando de 100 para 77,5% de índice de estabilidade

(Figura 10). O aumento da concentração de surfactante da fase interna, promoveu uma

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Capítulo 3

54

tendência de aumento no valor de D[4,3] e redução da polidispersidade (Figura 9 B). Porém,

não houve diferença estatística.

Figura 9 – Emulsões múltiplas produzidas variando a concentração de surfactante PGRP da

fase interna A) Distribuição de tamanho, B) Polidispersidade e D[4,3] Letras iguais não

diferem entre si a 5 % de significância (letras maiúsculas para polidispersidade e minúsculas

para D[4,3]). Escala 20 µm

0

2

4

6

8

10

0,01 1 100 10000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

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10

0,01 1 100 10000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

8

10

0,01 1 100 10000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

8

10

0,01 1 100 10000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

2 %

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

45,00

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

0 0,5 1 1,5 2 2,5

D[4

,3]

(µm

)

Po

lidis

pe

rsid

ade

(-)

Concentração de PGPR (%)

0,5% 1%

1,5%

Aa Aa

Aa

Aa

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Capítulo 3

55

Figura 10 – Estabilidade das emulsões A1/O/A2

A emulsão múltipla contendo 2% de PGPR na fase interna, apresentou maior

número de gotas no interior da emulsão. A quantidade de gotas no interior das emulsões

múltiplas aumentou a medida que aumentava a concentração de PGPR na fase interna (Figura

9 A). A concentração de surfactante da fase interna influenciou a estabilidade das emulsões

múltiplas, devido a maior ou menor quantidade de gotas dentro da múltipla.

4 CONCLUSÃO

Pode-se concluir que todas as concentrações estudadas de surfactante da fase

interna (PGPR), e condições de processos avaliadas foi possível produzir emulsões simples do

tipo água em óleo. Considerando uma tendência na redução na quantidade de aditivos em

alimentos mantendo estabilidade do produto final, o uso de 1% de PGPR pode se tornar uma

boa alternativa para produção da emulsão primária para produção de emulsões múltiplas.

Quanto ao processo, a velocidade de homogeneização dentro da faixa estudada exerce maior

influência no tamanho das gotas e estabilidade da emulsão simples quando comparado ao

tempo de processo. Para a produção de A1/O/A2 todas as concentrações de surfactante

formaram emulsões múltiplas com destaque para 2% de Tween que apresentou tamanho de

gotas menores e maior estabilidade. Quando foi fixada a concentração de surfactante da fase

0

20

40

60

80

100

120

0 1 2 3 4 5 6

Esta

bili

dad

e %

Tempo (horas)

0,50%

1%

1,50%

2%

Concentração PGPR da emulsão

primária

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Capítulo 3

56

externa e variou-se a da fase interna, foi possível observar que a concentração de surfactante

da fase interna exerce influência na estabilidade e tamanho de gotas da emulsão múltipla final,

além de quantidade de gotas dentro da emulsão múltipla, sendo mais recomendado então

utilizar as concentrações intermediárias (1 e 1,5%).

5 REFERÊNCIAS

CASTRO, A. G. Coord. A química e a reologia no processamento de alimentos. Instituto

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Capítulo 3

57

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Capítulo 4

58

Capítulo 4

SISTEMAS GELIFICADOS PARA VEICULAÇÃO DE COMPOSTOS

HIDROFÍLICOS E LIPOFÍLICOS

Artigo a ser submetido na revista: Journal of Dispersion Science and Technology

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Capítulo 4

59

SISTEMAS GELIFICADOS PARA VEICULAÇÃO DE COMPOSTOS

HIDROFÍLICOS E LIPOFÍLICOS

Autores: Rodrigues, C. G.; Perrechil, F. A.; Sato, A. C. K.

RESUMO

Visando a veiculação de diferentes compostos em uma mesma estrutura, micropartículas

gelificadas foram produzidas a partir de emulsões múltiplas. Assim, propriedades mecânicas e

capacidade de retenção de água destes géis foram avaliadas. Emulsões múltiplas do tipo água

em óleo em água foram produzidas utilizando água destilada, óleo de linhaça e alginato de

sódio, com PGPR e Tween 80 como agentes emulsificantes. Foram avaliadas duas proporções

de emulsão simples em relação à quantidade da solução de alginato 1% (m/v), a saber: 1:10 e

3:7. Também foi produzida uma emulsão controle do tipo O/A2 nas mesmas proporções. Com

as emulsões formadas foram produzidos macrogéis (diálise) e microgéis (atomização). Não

houve diferença significativa nos parâmetros de capacidade de retenção de água, tensão e

deformação de ruptura de todas as amostras, emulsões controle, múltiplas e solução de

alginato puro. Já o módulo de elasticidade apresentou diferença entre a emulsão múltipla 3:7 e

a solução de alginato puro, mostrando que a emulsão é menos firme, as outras emulsões não

diferiram do alginato puro. Os géis obtidos a partir das emulsões múltiplas em ambas as

proporções, e a partir da emulsão simples na proporção de 1:10 apresentaram um anel central,

evidenciando a separação de fases. Os microgéis obtidos por atomização apresentaram

tamanho na ordem de 10 a 1000 µm e sua suspensão apresentou comportamento

pseudoplastico para todas as concentrações estudadas.

.

Palavras chave: Propriedades mecânicas, reologia, emulsões múltiplas

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Capítulo 4

60

1.INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, os sistemas de administração de compostos bioativos em

alimentos funcionais tem chamado muita atenção (WAN, GUO, & YANG, 2015). Isto se

deve a busca dos consumidores por alimentos que possam além de nutrir proporcionar

benefícios a saúde. Entretanto, tem sido provado que, em alguns casos, um único composto

bioativo não funciona sozinho, uma vez que as vias metabólicas humanas complexas

requerem combinações de outros ingredientes. Assim, uma estratégia de distribuição de

compostos, uma coencapsulação, com ação sinérgica é mais efetiva na promoção da saúde

(VO & KIM, 2013). Neste sentido, o uso de sistemas emulsionados podem ser uma

alternativa, pois permitem veicular compostos distintos nas diferentes fases.

Emulsões consistem em sistemas heterogêneos, termodinamicamente instáveis,

definidos por mistura de dois líquidos imiscíveis, onde um deles está disperso no outro na

forma de gotas (GAD, 2008). De acordo com natureza da fase dispersa, as emulsões simples

são classificadas em óleo em água (O/A), se o óleo é a fase dispersa, e se a água é a fase

dispersa a emulsão é dita água em óleo (A/O). Existem ainda sistemas mais complexos,

denominados de emulsões múltiplas (ASERIN, 2008; BENICHOU; ASERIN; GARTI,2007;

MEZZENGA; FOLMER; HUGHES, 2004; SEIFRIZ, 1923; SU et al., 2006) do tipo água-

óleo-água (A/O/A) e óleo-água-óleo (O/A/O) (MUSCHIOLIK, 2007). Devido à

complexidade e instabilidade das emulsões múltiplas são pouco utilizadas na área de

alimentos, o que requer mais estudos para torná-las mais viáveis, como por exemplo a

produção de géis.

A produção de géis a partir de diferentes compostos tem despertado o interesse de

indústrias de alimentos para produção de sistemas de encapsulação ou sistemas modificadores

de textura, pois as interações formadas podem promover diferenças significativas na

microestrutura (WALKENSTRÖM et al., 2003). O conhecimento das características físico-

químicas e interações moleculares entre os componentes dos géis possibilitam modificar

características reológicas e consequentemente, as características sensoriais dos produtos

(WALKENSTRÖM et al., 2003; KUHN, PICONE e CUNHA, 2012). Para um bom

entendimento de atributos de textura, determinação de características sensoriais e de

qualidade de produtos, a caracterização reológica das soluções é de extrema importância,

assegurando sua estabilidade em processos que envolvem altas taxas de cisalhamento, assim

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Capítulo 4

61

como para compreensão das alterações da estrutura durante o processo de formação de géis,

em condições de baixa deformação (KUHN, PICONE e CUNHA, 2012; MA et al., 2014).

Muitos polímeros vêm sendo utilizados para produção de sistemas de

encapsulação pela indústria alimentícia, entre eles pode-se citar carragena, quitosana, pectina,

celulose, gelana, gelatina, alginato, entre outros (KUHN, PICONE e CUNHA, 2012). O

alginato é um polissacarídeo natural, com grupos carboxílicos em sua estrutura capazes de

formar hidrogéis por interações eletrostáticas em presença de íons de cálcio, originando

estruturas conhecidas como caixas de ovos. Esta propriedade, juntamente com sua excelente

biocompatibilidade, baixo custo e por não apresentar toxicidade, fazem do alginato um dos

biopolímeros mais atraentes para produção de microcápsulas para entrega controlada e

proteção de ativos (COOK et al., 2011).

Visto isso, o presente trabalho teve como objetivo formar sistemas gelificados a

partir de emulsões múltiplas visando a sua utilização como matriz de coencapsulação para

aplicação em produtos líquidos.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Materiais

Os ingredientes utilizados para preparo das emulsões foram água destilada, óleo

de linhaça doado pela Cisbra LTDA (Brasil), Polisorbato 80 (Tween 80) (Sigma) e

poliglicerol polirricinoleato (GRINDSTED PGPR) (BLH = 15) e alginato de sódio, doados

pela Danisco Brasil LTDA (Brasil). Foram utilizadas membranas de diálise (SnakeSkin

Dialysis Tubing, 3500, Pierce, Rockford, IL, USA) para a formação dos macrogéis por

imersão em solução de cloreto de cálcio (CaCl2) dihidratado (Dinâmica - Química

contemporânea LTDA. CAS 10035-04-8). Os demais materiais utilizados foram de grau

analítico.

2.2 Preparo das Emulsões Controle O/A2

Emulsões O/A2 foram produzidas para se determinar proporções de fase

intermediária para fase externa (Tabela 1). O óleo de linhaça foi adicionado às soluções

aquosas de alginato (A2) em diferentes proporções (Tabela 1), contendo surfactante Tween 80

e misturadas, utilizando-se um homogeneizador tipo rotor estator “Ultra Turrax” modelo T10

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Capítulo 4

62

(IKA, Alemanha), a 14500 rpm por 4 minutos. O óleo foi adicionado lentamente para melhor

homogeneização das emulsões (Figura 1 B).

2.3 Preparo das Emulsões A1/O/A2

Primeiramente foi produzida a emulsão primária simples A1/O, onde água

destilada foi misturada à solução oleosa contendo surfactante PGPR a 1% (m/m), utilizando-

se um homogeneizador tipo rotor estator “Ultra Turrax” modelo T10 (IKA, Alemanha), a

14500 rpm por 4 minutos. A água foi adicionada lentamente para melhor homogeneização das

emulsões, mantendo relação em massa de água para óleo de 1:2. Para produção da emulsão

múltipla A1/O/A2 (Tabela 1) a emulsão primária foi adicionada com auxilio de bomba digital

(Masterflex L/S Cole-Parmer Instrument Company, EUA) a vazão de 4,5 mL/min em solução

de alginato 1% (m/m) com surfactante Tween 80, utilizando agitação magnética com

velocidade de 500 rpm durante 1 hora (Figura 1 A).

Nesta etapa, avaliou-se a influência da proporção de emulsão primária em relação

à fase externa (1:10 ou 3:7 m/m), nas propriedades das emulsões múltiplas, sendo que a

concentração de surfactante (Tween) foi fixada em 2% (m/m). Foram avaliadas as

propriedades reológicas das emulsões, distribuição de tamanho de gota e estabilidade tanto

das emulsões controle (O/A2) quanto das múltiplas (A1/O/A2).

Tabela 1 – Composição das emulsões O/A2 e múltipla A1/O/A2

Surfactante

Tween 80 (%

m/m)

Óleo (%

m/m)/ Simples

(A1/O)

Solução de

alginato

1% (%

m/m)

Proporção óleo

e A1/O /solução

de alginato

m/m (-)

2 8,91 89,09 1:10

2 29,4 68,6 3:7

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Capítulo 4

63

Figura 1 – Esquema de produção das emulsões, A) Emulsão múltipla A1/O/A2, B) Emulsão

controle O/A2

2.4 Preparo dos macrogéis

As emulsões controle O/A2 e múltiplas A1/O/A2 nas duas proporções, foram

transferidas para membranas de diálise (SnakeSkin Dialysis Tubing, 3500, Pierce, Rockford,

IL, USA) onde permaneceram em contato com solução de CaCl2 0,15 mol/L a temperatura

ambiente por 48 horas, para formação do gel através da difusão de íons Ca+2

(Figura 2).

Foram avaliadas as propriedades mecânicas e capacidade de retenção de água dos géis

obtidos.

O

A2

A1/O

O/A2

A1/O/A2

A1

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Capítulo 4

64

Figura 2 – Gelificação por membrana de diálise

2.5 Preparo dos microgéis

As micropartículas foram obtidas de acordo com a metodologia proposta por Li et

al. (2009) com algumas modificações. As emulsões foram bombeadas em bico atomizador

(Labmaq do Brasil LTDA, Brasil) de diâmetro de 0,7 mm com o auxílio de bomba peristáltica

(Masterflex, modelo 7518-00), sendo atomizadas em solução de CaCl2 0,15 M a temperatura

ambiente. A altura entre o bico atomizador e a solução de CaCl2 foi fixada em 30 cm, a vazão

de alimentação da bomba peristáltica ajustada em 0,7 mL/min e a pressão do compressor a 1

bar, enquanto a taxa de fluxo de ar comprimido no bico foi fixada ao máximo possível (0,12

m3/h), afim de evitar respingos da solução salina (PERRECHIL; SATO; CUNHA, 2011). As

partículas gelificadas foram mantidas sob agitação em solução salina por cerca de 30 minutos

e posteriormente filtradas em peneira com abertura de 0,053 mm (PERRECHIL; SATO;

CUNHA, 2011). As micropartículas produzidas foram armazenadas em recipientes

hermeticamente fechados em incubadora BOD (Marconi - MA 415 UR) a 4 °C, para

avaliação da distribuição do tamanho de partículas, reologia da sua dispersão em meio aquoso

e microscopia ótica.

2.6 Distribuição de tamanho de gotas

A distribuição de tamanho de gotas das emulsões O/A2 e A1/O/A2 em todas as

proporções e dos microgéis foi determinada, com o auxílio de um analisador de tamanho de

partículas por difração a laser Mastersizer 2000 – versão 5.60 (Malvern Instruments LTDA.,

Worcestershire, RU). Três leituras foram obtidas por amostra. Foram analisados o tamanho de

partícula, expresso como diâmetro médio volumétrico (D [4,3]) e a polidispersidade.

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Capítulo 4

65

2.7 Índice de Estabilidade

As amostras de emulsões foram colocadas em provetas de 25 mL e o índice de

estabilidade foi determinado pela relação entre o volume da fase emulsionada em relação ao

total da amostra, dada pela Equação 1 ao longo do tempo. De acordo com a equação, quanto

maior o valor de C, maior a estabilidade do sistema (KRISHNA et al., 1998).

C = 100 x (Vs/Vt) (1)

Onde Vt corresponde ao volume total da amostra (mL); Vs volume da fase emulsionada (mL)

2.8 Microscopias

2.8.1 Microscopia ótica

Para garantir que as emulsões foram formadas, foi feita microscopia ótica tanto

para as emulsões simples quanto para as múltiplas. As análises foram realizadas com auxílio

de um microscópio óptico Carl Zeiss Modelo: Axio Visio (Zeiss, Alemanha), com objetiva de

100x.

2.8.2 Microscopia confocal

A microscopia confocal foi utilizada para analisar a estrutura das emulsões

A1/O/A2 antes e após passar pelo bico atomizador. Para essa análise, o corante vermelho do

nilo foi adicionado às amostras de maneira a marcar as moléculas de óleo presente. As

amostras foram examinadas utilizando um confocal Zeiss LSM 780-NLO acoplado a um

microscópio Axio Observer Z.1 (Carl Zeiss AG, Alemanha), com uma objetiva de 100x. As

imagens foram recolhidas utilizando laser de 552 nm para excitação e 636 nm para emissão

do vermelho do nilo.

2.9 Medidas reológicas

As propriedades reológicas das suspensões de microgel (10, 20 e 40% m/v) das

partículas dispersas em água foram medidas. Para isso foi utilizado reômetro modelo AR

1500 ex (TA INSTRUMENTS) com uma geometria de placas paralelas rugosas (40 mm) e 2

mm de gap. As curvas de escoamento foram obtidas com a taxa de deformação variando entre

0 e 300 s-1

. Todas as medições foram realizadas em triplicata a 25 °C. Curvas de escoamento

também foram obtidas das emulsões O/A2 e A1/O/A2 em todas as proporções,com geometria

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Capítulo 4

66

de cone placa (40 mm) 2° e taxa de deformação variando entre 0 e 1000 s-1

. Todos os dados

foram ajustadas ao modelo Herschel-Bulkley (Equação 2).

(2)

Onde: σ = tensão (Pa), σ0 = tensão inicial (Pa) , k = índice de consistência (Pa.sn), n= (-)

índice de comportamento e γ= taxa de deformação (s-1

)

2.10 Propriedades Mecânicas

As propriedades mecânicas dos macrogéis obtidos pelas emulsões simples e

múltiplas (tensão de ruptura, deformação de ruptura e módulo de elasticidade) foram

avaliadas após 48 horas de contato com solução de CaCl2. Os macrogéis foram retirados da

membrana e cortados perpendicularmente, com altura igual ao diâmetro medido (2 cm), sendo

submetidos a medidas de compressão uniaxial em Texturômetro universal TA-XT Plus

Texture Analyzer (Stable Micro Systems, UK) utilizando geometria acrílica de 80 mm de

diâmetro lubrificada com silicone para evitar forças de cisalhamento. As propriedades

mecânicas foram obtidas por compressão dos géis a 80% da altura original, a 25 °C, com

velocidade de compressão de 1 mm/s. A tensão de Hencky (σt), deformação de Hencky (ɛt) e

módulo de elasticidade (E), foram calculados de acordo com as Equações de (3) a (5), sendo

que os dados de ruptura (σrup) e (εrup) equivalem ao ponto do primeiro pico observado e o

módulo de elasticidade foi obtido dentro da região de deformações reversíveis, até o máximo

de 5% de deformação.

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Capítulo 4

67

(3)

(4)

(5)

Onde:

Ft = força (N), H(t) = altura com o tempo (mm), H0 = altura inicial (mm), A0 = altura inicial

(m2);

2.11 Capacidade de Retenção de Água (WHC)

Após estocagem por 48 horas a 25 ºC, amostras cilíndricas de aproximadamente

1g de gel foram envolvidas em papel de seda e papel de filtro antes de serem colocadas em

tubos de centrífuga de capacidade de 50 mL. Os géis foram, então, centrifugados a 25 ºC em

uma centrífuga modelo Allegra 25 – R (Beckman Coulter, Alemanha), utilizando o rotor A-10

a 124g por 10 minutos. A quantidade de água liberada do gel foi quantificada

gravimetricamente, de acordo com a equação 6, sendo que a WHC foi expressa em

porcentagem de água retida:

(6)

Onde:

águaliberada é a quantidade de água retida no papel de seda e de filtro e a águagel é a quantidade

inicial de água na amostra.

2.12 Análise dos Dados

Todos os resultados foram analisados por meio da análise de variância (ANOVA)

e as diferenças entre as médias, pelo teste de Tukey, utilizando-se o programa estatístico

SISVAR, versão 5.6, a 5% de significância (FERREIRA, 2011). Foram feitas duplicatas de

processo e triplicatas de cada leitura.

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Capítulo 4

68

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Emulsões

Nas duas razões estudadas foi possível a formação de emulsões O/A2 e A1/O/A2,

com tamanhos de gotas menores que 1000 µm (Figura 3 A). As emulsões controle O/A2

apresentaram distribuição de tamanho de gotas bem similares entre si, com distribuição

bimodal. Comparando as emulsões controle com as múltiplas, as primeiras apresentaram

tamanhos de gotas menores, com valores de D[4,3] em torno de 10 µm, enquanto as múltiplas

apresentaram valores duas vezes maiores. Esse fato se deve por processos diferentes na

obtenção das gotas, a emulsão O/A2 passou por processo de homogeneização em ultra turrax,

que por sua vez é mais intenso e como consequência obtém-se gotas de diâmetros menores.

Além disso, deve-se levar em consideração que emulsões múltiplas têm outra emulsão na fase

interna. A emulsão múltipla produzida na proporção de 1:10 apresentou tamanho maior que a

3:7 como pode ser observado pela microscopia e corrobora com o valor de D[4,3] de 35 µm

para a proporção 1:10, em comparação ao valor de D[4,3] de 22 µm para a proporção 3:7

(Figura 3B). Este fato corrobora com os dados obtidos pela reologia, onde as emulsões

múltiplas na proporção 3:7 apresentaram maior viscosidade, consequentemente maior

dificuldade de aproximação das gotas (Figura 6). Devido à relação entre emulsão simples e

fase externa ser maior na emulsão múltipla de 3:7, foram observadas mais gotas. Quanto a

polidispersidade, não houve diferença significativa das emulsões, onde todos os sistemas

estudados apresentaram baixa polidispersidade entre 1,75 e 1,60.

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Capítulo 4

69

1:10 3:7

Figura 3 – A) Distribuição de tamanho de gotas das emulsões simples e múltiplas. Escala 20

µm, B) Polidispersidade e D[4,3] de emulsões simples e múltiplas, letras iguais não diferem

de si estatisticamente a 5% de significância. Letras maiúsculas para polidispersidade e letras

minúsculas para D[4,3]

As emulsões na proporção de 3:7, tanto para as emulsões simples quanto múltipla,

0

2

4

6

8

10

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

8

10

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

8

10

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

8

10

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

35,00

40,00

1,50

1,55

1,60

1,65

1,70

1,75

1,80

1:10O/A2

3:7O/A2

1:10A/O/A

3:7A/O/A

D{4

,3]

(µm

)

Po

lidid

pe

rsid

ade

(-)

Emulsões

a

b

Ac

A

A

A

a

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Capítulo 4

70

foram as que apresentaram maior estabilidade cinética sem separação de fases, ao longo das

cinco horas avaliadas (Figura 5). Quanto maior a estabilidade cinética de uma emulsão maior

a sua viabilidade para incorporação de compostos, sem que os mesmos sejam cremeados ou

floculados perdendo assim sua proteção. Acredita-se que a estabilidade observada teve maior

influência da quantidade de gotas presentes do que do tamanho das gotas, uma vez que as

emulsões mais estáveis foram as produzidas na proporção 3:7, e não as emulsões simples, que

apresentaram gotas de menor tamanho. Considerando que as emulsões na proporção 3:7

apresentaram maior quantidade de fase dispersa e, consequentemente, maior quantidade de

gotas, estas podem ter atuado como barreira às demais, impedindo a cremeação das gotas no

tempo estudado. Segundo Lizarraga et al., (2008) quanto maior a concentração de gotas,

menor e a velocidade terminal, ou seja, menor velocidade de cremeação. Além disso, a menor

separação de fases pode ter sido favorecida pelo mecanismo de repulsão estérica, uma vez que

a quantidade de gotas era maior (Figura 3 A). Tornando o potencial estérico mais relevante,

pois a viscosidade da fase continua é a mesma e as gotas não estavam carregadas, pode-se

dizer pela teoria DLVO (Derjaguin-Landau-Verwey-Overbeek) que quanto menor for a

distância entre as gotas, que é provocado pelas gotas em quantidades maiores, a força de

repulsão tende a infinito (Figura 4 c), tornando a emulsão mais estável cineticamente.

Figura 4 – Esquema de distribuição de gotas nas diferentes proporções a) 3:7, b) 1:10 e

c) Diagrama representando as possíveis forças atrativas adaptado de Base; Raras, 2015

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Capítulo 4

71

Figura 5 – Estabilidade das emulsões controles e múltiplas

A Figura 6 apresenta as curvas de escoamento das emulsões controle e múltiplas

preparadas nas proporções 1:10 e 3:7, além da solução pura de alginato. Todas as amostras

apresentaram comportamento de fluido pseudoplástico com valores de n menores que 1

(Figura 6). Emulsões constituídas por elevadas concentrações de fase dispersa são conhecidas

por exibirem um comportamento de fluídos Não-Newtoniano e pseudoplástico (SCHUCH;

LEAL; SCHUCHMANN, 2014), devido ao rearranjo de gotículas no fluido, minimizando o

atrito (MASON, 1999). A emulsão A1/O/A2 3:7, teve menor valor de n, 0,554 mostrando

assim que a emulsão múltipla nesta proporção é mais pseudoplástica que as outras amostras.

As emulsões na proporção 3:7 apresentaram maior viscosidade que a solução de alginato e as

1:10 menores valores (Figura 6), o que pode ser relacionado aos resultados obtidos pela

estabilidade (Figura 5). Emulsões mais viscosas tendem a ser mais estáveis cineticamente,

pois retardam a aproximação das gotas que possibilitam processos de desestabilização, como

cremeação e floculação por exemplo. A maior quantidade de fase dispersa leva a um maior

incremento da viscosidade, o que aumenta a estabilidade cinética, uma vez que dificulta a

movimentação das gotas.

0

20

40

60

80

100

120

0 1 2 3 4 5 6

Esta

bili

dad

e (

%)

Tempo (horas)

Múltipla 3:7

Múltipla 1:10

Controle 3:7

Controle 1:10

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Capítulo 4

72

Figura 6 - Propriedades reológicas das soluções.

3.2 Macrogéis

A produção de géis a partir das emulsões simples e múltiplas pode influenciar

fortemente esta estrutura além de conferir propriedade funcional, sensorial e torná-las

estáveis. Assim, com o objetivo de verificar as propriedades dos géis formados após 48 horas

de contato com solução de CaCl2, as propriedades mecânicas e a capacidade de retenção de

água foram avaliadas (Figura 8). Todas as amostras estudadas formaram géis, como pode ser

observado pela Figura 7. Para caracterizar os géis de emulsão, foram produzidos os macrogéis

e analisadas propriedades mecânicas e capacidade de retenção de água (WHC). Estas análises

foram realizadas em géis de tamanho maior uma vez que o tamanho pequeno das partículas

produzidas por atomização dificulta a avaliação das propriedades mecânicas e a fratura para

observação da estrutura interna. A estrutura de géis formados por biopolímeros sofre

influência das características físico-químicas das macromoléculas, além da natureza e

intensidade das interações entre os biopolímeros. O conhecimento de como sistemas

biopoliméricos ocorrem é importante para o desenvolvimento de produtos alimentícios com

características desejáveis (KUHN, PICONE e CUNHA, 2012).

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0 200 400 600 800 1000 1200

η(P

a.s)

γ (s-1)

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Capítulo 4

73

Amostra 1:10 3:7

Controle (O/A2)

Múltipla (A1/O/A2)

Figura 7 – Géis de emulsões controle e múltiplas

Nas amostras de géis preparados a partir das emulsões múltiplas e da emulsão

controle na proporção de 1:10, foi observada separação de fases (Figuras 7), o que poderia

levar a uma falsa interpretação dos resultados obtidos, ou seja afetar as propriedades

mecânicas, pois cada fase responderia de uma forma quando aplicada a mesma força. Não

houve diferença significativa nos valores de WHC e εrup (5% de significância). Foi possível

observar uma tendência na redução de σrup nos sistemas contendo as emulsões, ou seja,

sistemas sem presença de gotas como o alginato tendem ser mais duros, pois as gotas

presentes na emulsão tornam o sistema menos compacto (Figura 8). As propriedades de

tensão de ruptura de géis relacionam-se com a dureza do gel, enquanto que a deformação de

ruptura reflete as propriedades coesivas ou a deformação de géis submetidos a uma força. A

região linear obtida para o módulo de elasticidade implica na capacidade dos materiais em

retornar à forma original quando submetidos a uma carga que é posteriormente removida. O

que pode ser um indicativo das interações moleculares na rede polimérica formada, indicando

a dinâmica da estrutura formada (FOEGEDING, BOWLAND e HARDIN, 1995; PIRES

VILELA, CAVALLIERI e LOPES DA CUNHA, 2011).

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Capítulo 4

74

Figura 8 – Módulo de elasticidade (E), capacidade de retenção de água (WHC), tensão (σ) e

deformação de ruptura (ε) Múltipla 1:10 Múltipla 3:7

Controle 1:10 Controle 3:7 Alginato

Segundo Guo et al., (2014), o modulo de elasticidade tende a reduzir a medida

que aumenta o tamanho de gotas de sistemas gelificados com proteína de soro. Entretanto,

esse comportamento não foi observado para as emulsões estudadas, visto que além da

influência do tamanho de gotas, também podem ter exercido influência a proporção de fase

dispersa e tipo de emulsão formada simples ou múltipla.

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

σ r

up

(P

a)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

ε r

up

(-)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

WH

C (

%)

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

E (P

a)

ab

ab ab

b

a

a a

a

a a

ab b

a

ab

c a

a

a

a a

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Capítulo 4

75

3.3 Microgéis

As emulsões simples e múltiplas foram submetidas a atomização seguida por

gelificação iônica, para posterior análise de distribuição tamanho de partícula e reologia da

dispersão em solução aquosa, visto que está estrutura que terá potencial para aplicação em

alimentos.

3.3.1 Influência da atomização

A emulsão múltipla foi sujeita ao processo de atomização, e sua estrutura foi

avaliada por microscopia confocal, de modo a verificar o efeito do processo na estabilidade da

emulsão. Foi possível comprovar que a emulsão era realmente do tipo A/O/A (Figura 9 A),

ficando a fase oleosa corada em vermelho. Após o processo de atomização, utilizado para o

preparo dos microgéis, as gotas de óleo ficaram menores, onde pode se observar algumas

gotas de óleo e outras gotas que ainda permaneceram com a estrutura múltipla (Figura 9B).

As gotas de emulsão múltipla ao passarem pelo bico atomizador, são forçadas a passar de uma

área maior (mangueira) para uma menor, o que leva a um estrangulamento das gotas

resultando em gotas menores e até mesmo a perda da estrutura múltipla como pode ser

observado pela microscopia confocal.

Figura 9 – Microscopia confocal, A) Emulsão múltipla, B) Emulsão múltipla

atomizada

3.3.2 Tamanho dos Microgéis

A distribuição de tamanho de todos os microgéis produzidos apresentou

comportamento bimodal. Os géis obtidos por emulsões controle apresentaram distribuição de

tamanho similar ao gel obtido por alginato, com D[4,3] em torno de 100 µm, independente da

relação entre a fase interna e externa. Os géis de emulsão múltipla na proporção de 1:10

apresentaram maiores valores de D[4,3] e polidispersidade, (Figura 10).

A1

A2

O

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Capítulo 4

76

Micropartículas de tamanhos menores (<1000 µm) são mais desejáveis para

incorporação em alimentos, visto que leva a menor alteração nas características sensoriais e

propriedades de textura (PINTO, 2006). O que indica que, levando em consideração esse

parâmetro, todos os géis obtidos tem potencial para aplicação em incorporação de compostos

para fins alimentícios.

Figura 10 – Distribuição de tamanho de géis, A) Emulsões controle, B) Emulsões múltiplas

C) D[4,3] e Polispersidade dos géis. Letras iguais não diferem estatisticamente entre si a 5%

de significância. Letras maiúsculas correspondem a polidispersidade e letras minúsculas a

D[4,3]

0

2

4

6

8

10

0,1 1 10 100 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

Gel O/A 1:10

Gel O/A 3:7

Alginato

0

2

4

6

8

10

0,1 1 10 100 1000V

olu

me

(%

)

Tamanho (µm)

Gel A/O/A 1:10

Gel A/O/A 3:7

Alginato

0

100

200

300

400

500

600

0

2

4

6

8

10

12

14

1:10 O/A2 3:7 O/A2 1:10 A/O/A 3:7 A/O/A Alginato

D{4

,3]

(µm

)

Po

lidis

pe

rsid

ade

(-)

Géis

Aa Aa Aa Aa

Bb

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Capítulo 4

77

3.3.3 Avaliação da reologia das suspensões de microgel

A fim de determinar qual concentração de microgel, pode ser incorporada em

alimentos, os microgéis de emulsões simples, múltiplas, e alginato puro foram dispersos em

água a 10, 20 e 40 %. Foram realizadas três varreduras da taxa de cisalhamento para verificar

a dependência do tempo, e os resultados indicaram que nenhuma das amostras apresentou

tixotropia, com um comportamento pseudoplástico. Quando ajustados pelo modelo Herschel-

Bulkley (Tabela 2) onde os géis de alginato puro apresentaram n igual a 1, característicos de

fluidos newtonianos. Esse dado pode ser relacionado com as propriedades mecânicas (Figura

8), onde o gel de alginato foi o mais firme, consequentemente suas partículas tem mais

dificuldade em deformarem. As emulsões apresentaram comportamento pseudoplástico com n

menor que 1 em todas as concentrações estudadas e não diferiram entre si (5% de

significância). Uma explicação para esse fato pode ser que o óleo livre presente nos géis de

emulsão (Figura 3 A) tenha atuado como um lubrificante das partículas, facilitando o

escoamento dos géis de emulsão. Quanto ao índice de consistência (k) pode-se dizer que tem

tendência a reduzir com a presença de gotas. Não foi observada grandes diferenças nas

concentrações estudadas (5% de significância ).

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Capítulo 4

78

Tabela 2 - Ajustes dos parâmetros pelo modelo lei da potência das dispersões

Amostra Concentração

(%)

Parâmetros

k (Pa.sn) n (-)

Alginato

10 0,0053 ab 1 a

20 0,0055 a 1 a

40 0,0058 a 1 a

O/A2 1:10

10 0,0048 ab 0,721 b

20 0,0048 ab 0,723 b

40 0,0047 ab 0,731 b

O/A2 3:7

10 0,0045 ab 0,734 b

20 0,0045 ab 0,734 b

40 0,0049 ab 0,726 b

A1/O/A2

1:10

10 0,0041 a 0,699 b

20 0,0046 ab 0,729 b

40 0,0040 b 0,762 b

A1/O/A2 3:7

10 0,0057 a 0,693 b

20 0,0045 ab 0,737 b

40 0,0044 ab 0,747 b

4 CONCLUSÃO

As formulações estudadas foram caracterizadas pelas curvas de escoamento,

apresentando comportamento pseudoplástico com valores de n menores que 1. As emulsões

na proporção de 3:7 mantiveram-se mais estáveis, sendo assim mais indicadas para utilização.

Além disso, também promoveram o aumento na viscosidade com maior índice de consistência

(k).

Com todas as amostras foi possível formar macrogéis, onde o gel obtido pela

emulsão múltipla na proporção de 3:7 obteve menor valor de modulo de elasticidade. Todas

as amostras apresentaram capacidade de retenção de água superior a 50% indicando

capacidade de incorporação de compostos hidrofílicos.

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Capítulo 4

79

Não houve diferença nas dispersões dos microgeis de emulsão quanto aos

parâmetros reológicos, o que indica que a maior concentração pode ser incorporada em

alimentos sem alterar a sua reologia.

Estes resultados indicaram o potencial de utilização de microgéis de emulsão múltipla

na proporção de 3:7, para coencapsulação de compostos hidrofílicos e lipofílicos

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Capítulo 5

83

Capítulo 5

DIGESTIBILIDADE IN VITRO DE GÉIS DE EMULSÃO MÚLTIPLA PARA

COENCAPSULAÇÃO DE VITAMINA, ÁCIDO GRAXO E PROBIÓTICO

Artigo a ser submetido a revista: Carbohydrate Polymers

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Capítulo 5

84

DIGESTIBILIDADE IN VITRO DE GÉIS DE EMULSÃO MÚLTIPLA PARA CO-

ENCAPSULAÇÃO DE VITAMINA, ÁCIDO GRAXO E PROBIÓTICO

Autores: Rodrigues, C. G.; Perrechil, F. A.; Sato, A. C. K.

RESUMO

Compostos bioativos tem sido foco nas pesquisas atuais por conferirem benefícios a saúde do

consumidor, entretanto são sensíveis a diversos fatores externos como altas temperaturas e

oxigênio. Para os efeitos benéficos serem atingidos, os compostos devem resistir ainda ao

sistema gastrointestinal chegando em quantidades adequadas ao intestino onde são

absorvidos, no caso de compostos como os ácidos graxos e vitaminas, ou se aderem à

superfície intestinal, como os microrganismo probióticos. O presente trabalho teve como

objetivo a produção de microgéis de emulsões múltiplas para coencapsulação de probiótico,

vitamina C e ácidos graxos insaturados, e avaliação da sua estabilidade durante a digestão in

vitro, condições de armazenamento e estabilidade frente a diferentes valores de pH. Os

microgéis obtidos após processo de atomização de emulsões múltiplas foram submetidos a

digestão in vitro e testes de estabilidade em diferentes pH (3 e 5). A estabilidade das

partículas em diferentes valores de pH mostrou um aumento expressivo na contagem de

probióticos livres após 24 horas, o que foi atribuído pela rede porosa formada pelo alginato,

favorecendo o inchaço da partícula e consequente liberação por difusão. Durante a digestão

foram retiradas alíquotas a cada 20 minutos para quantificação dos compostos liberados,

tamanho de partícula e microscopia. Foi observado um deslocamento na distribuição de

tamanho das partículas para tamanhos menores com o tempo de digestão, resultado

evidenciado pela microscopia. A quantificação dos compostos mostrou aumento na fase

entérica, indicando que a técnica utilizada foi eficiente para proteção dos ativos às condições

gástricas. Os resultados deste trabalho mostraram que é possível encapsular compostos com

diferentes polaridades em uma mesma estrutura, melhorando a sua viabilidade após processo

de digestão em relação aos compostos não encapsulados.

Palavras chave: Liberação, Digestão, Probióticos, Microgéis

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Capítulo 5

85

1.INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, tem aumentado o interesse no estudo de bioativos para a

formulação de alimentos funcionais, devido às atividades fisiológicas e benefícios para a

saúde. Para exercer efeitos fisiológicos in vivo, os compostos bioativos devem resistir à

digestão gastrointestinal e atingir os seus locais-alvo, além de resistirem a processos na

indústria de alimentos (CHEN & LI, 2012). Dentre a vasta classe de compostos que exercem

beneficio a saúde, podem ser citados os probióticos, ácido ascorbico e ácidos graxos

insaturados do tipo ômega, como ω-3 e ω-6.

Os probióticos são microrganismos vivos que, quando ingeridos, conferem

benefícios à saúde do hospedeiro (FAO/WHO, 2002). Tem a propriedade de recompor a

microbiota intestinal por se aderirem a parede do intestino e colonizá-la, conferindo

benefícios como aumento da resistência às bactérias patógenas, podendo auxiliar na

prevenção contra infecções, estimular a multiplicação de bactérias benéficas, reduzir efeitos

de intolerância à lactose e reforçar os mecanismos de defesa naturais do hospedeiro

(HOLZAPFEL e SCHILLINGER, 2002; SAAD, 2006). Entretanto, para que esses benefícios

ocorram, os probióticos devem ser ingeridos em uma quantidade recomendada em produtos

alimentares de no mínimo 106

UFC/g, ou que sejam consumidos em quantidades suficientes a

fim de se obter uma dose diária de 108 UFC (CHÁVARRI et al., 2010). Para isso devem

resistir ao processamento dos alimentos, como agitação, mudança de temperatura e passar

pelo trato gastrointestinal.

O ácido ascórbico é utilizado como antioxidante, o qual protege as qualidades

sensoriais e nutritivas dos alimentos evitando escurecimento. Os antioxidantes podem atuar

como antioxidantes primários e secundários. Os primários são aceptores de radicais livres que

atrasam ou inibem a etapa da iniciação ou interrompem a etapa de propagação da oxidação.

Os secundários agem através de numerosos mecanismos possíveis, os quais diminuem a taxa

de oxidação, mas não convertem radicais livres em compostos mais estáveis (REISCHE,

LILLARD e EITENMILLER, 2002). A inibição de radicais livres pode auxiliar na prevenção

de doenças causadas pelos mesmos, como problemas no sistema imunológico,

envelhecimento precoce, dentre outras doenças degenerativas. Porém, os antioxidantes

apresentam alta instabilidade e reatividade, degradando-se rapidamente por diferentes

mecanismos (BASTOS, ARAÚJO e LEÃO, 2009).

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Capítulo 5

86

Os ácidos graxos do tipo ω-3 após ingeridos podem auxiliar no desenvolvimento

do cérebro e do sistema nervoso em crianças, reduz risco de hipertensão, e alguns tipos de

câncer incluindo de cólon, mama e próstata, melhora memória, inibe o envelhecimento, reduz

problemas de constipação intestinal, reduz risco de doenças coronárias e controla a diabetes

(GOYAL et al., 2014., RODRIGUEZ-LEYVA et al., 2010; CARRARO et al., 2012; SINGH

et al., 2011). No entanto, esses compostos são altamente susceptíveis a ação de oxigênio e luz,

o que leva a sua oxidação com consequente produção de substancias tóxicas, reduzindo o seu

efeito benéfico à saúde (GOYAL et al., 2014).

Devido à instabilidade desses compostos e do probiótico faz-se necessária a sua

proteção, que pode ser realizada por várias técnicas, como a microencapsulação. A escolha do

método de microencapsulação do bioativo de interesse deve levar em consideração diversos

fatores como, temperatura de degradação do composto, sítio de atuação, polaridade, afinidade

química bem como sua biodisponibilidade quando o intuito é nutricional (CELLI et al., 2015;

PAI et al., 2015).

Um processo interessante é a emulsificação, em especial as emulsões do tipo

múltiplas. Emulsões múltiplas são sistemas complexos, formados por processos de

emulsificações seguidas, onde os dois tipos de emulsões (A/O e O/A) existem

simultaneamente, constituindo emulsões do tipo A/O/A ou O/A/O, permitindo a encapsulação

de compostos lipofílicos e hidrofílicos simultaneamente (FLORENCE; WHITEHILL, 1982;

OMOTOSHO, 1990). É possível ainda associar mais de uma técnica com a finalidade de

proteger melhor os compostos, bem como aumentar a estabilidade da estrutura formada. Uma

alternativa é atomização seguida de gelificação iônica, que exclui o uso de altas temperaturas,

o que pode reduzir a viabilidade dos microrganismos bem como causar degradação de outros

compostos como acelerar processo oxidativo em óleos. Esta técnica ainda pode ser produzida

em grande escala e apresenta baixo custo de produção. Além disto, a produção de partículas

por esta técnica possibilita a aplicação dos microgéis em produtos que apresentam alta

atividade de água (CHAN, LEE e HENG, 2002; LI et al., 2009).

Assim, o presente trabalho teve como objetivo produzir microgéis a partir de

emulsões múltiplas para coencapsular diferentes ativos (probiótico, vitamina C e ácidos

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Capítulo 5

87

graxos insaturados) e avaliara a sua estabilidade frente ao processo de digestão in vitro e

estabilidade frente a diferentes valores de pH.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Materiais

Para o preparo dos sistemas de encapsulação foram utilizados água destilada,

polisorbato 80 (Tween 80) (Sigma), poliglicerol polirricinoleato (GRINDSTED PGPR) (BLH

= 15) e alginato de sódio doados pela Danisco Brasil LTDA (Brasil). Como materiais ativos,

empregou-se a cultura de Lactobacilus acidophilus (Chr. Hansen, Dinamarca), ácido

ascórbico comercial da marca Synth (Brasil) e óleo de linhaça doado pela Cisbra LTDA

(Brasil). Cloreto de cálcio (CaCl2) dihidratado (Dinâmica - Química contemporânea Ltda.

CAS 10035-04-8) foi utilizado para solução salina.

Para o preparo dos fluidos gastro-intestinais simulados, utilizou-se pepsina

porcina 3200-4500 U/mg (P6887), pancreatina 8 x USP (P7545) e extrato de bile 160mM

(B8631) extraídos de suínos, da Sigma-Aldrich (EUA). Os demais ingredientes utilizados

foram de grau analítico.

2.2 Ativação da cultura microbiana

A cultura de L. acidophilus foi ativada em 10 mL de caldo MRS (de Man, Rogosa

e Sharpe) e incubada por 37 °C/18 horas. O material foi transferido para outro recipiente,

contendo 90 mL de caldo MRS, e incubado sob as mesmas condições. O material obtido desta

etapa foi submetido ao processo de centrifugação a 2400 g por 9 minutos em temperatura de

20 °C, lavado duas vezes em 30 mL de citrato de sódio 2%, seguido de lavagem em 30 mL de

água destilada, antes da adição nos sistemas de encapsulação (LI et al., 2009; SANDOVAL-

CASTILLA et al., 2010).

2.3 Preparo das emulsões múltiplas

Emulsões simples água em óleo (A/O) foram produzidas pela adição de água

destilada contendo 7,5 % (m/m) de vitamina C (de modo que ficasse 1% no sistema final) ao

óleo de linhaça contendo 1% de PGPR na proporção de 1:2 (m/m), utilizando-se um

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Capítulo 5

88

homogeneizador tipo rotor estator “Ultra Turrax” modelo T10 (IKA, Alemanha), a 14500 rpm

por 4 min.

Emulsões múltiplas do tipo A/O/A foram produzidas pela adição da emulsão

primária A/O com auxilio de bomba digital (Masterflex L/S Cole-Parmer Instrument

Company, EUA) a vazão de 4,5 mL/min em soluções de 1% de alginato, contendo o

probiótico (um tubo da ativação) e surfactante Tween 80. Utilizou-se agitação magnética com

velocidade de 500 rpm durante 1 hora mantendo a concentração de 2% de Tween 80 e a

proporção de emulsão primária para fase externa de 3:7 (m/m).

2.4 Preparo dos microgéis

As micropartículas foram produzidas de acordo com a metodologia proposta por

Li et al. (2009), com algumas modificações. As emulsões múltiplas contendo os compostos

ativos foram transportadas por bomba peristáltica (Masterflex, modelo 7518-00) com

alimentação de 90 rpm e atomizadas a uma altura de 30 cm em solução de cloreto de cálcio

0,15 M, onde foram mantidas sob agitação magnética por 30 minutos (Figura 1). Utilizou-se

bico atomizador (Labmaq do Brasil LTDA) de diâmetro de 0,7 mm com ar comprimido.

Posteriormente os microgéis foram filtrados em peneira com abertura de 0,053

mm, lavados em água destilada e armazenados em recipientes hermeticamente fechados a 4

°C para avaliação da eficiência de encapsulação, estabilidade em diferentes pH e simulação

gastrointestinal in vitro.

Figura 1 – Esquema de gelificação iônica por atomização

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Capítulo 5

89

2.5 Digestão in vitro

Para avaliar o comportamento dos microgéis e a viabilidade dos ativos

encapsulados ao longo do processo digestivo, os microgéis foram incubados em agitador

orbital do tipo shaker (modelo T-420, Tecnal, Brasil) a 100 rpm e 37 °C, juntamente com os

fluidos salivares simulados (FSS), fluidos gástricos simulados (FGS) e fluidos intestinais

simulados (FIS), de modo a simular a digestão gástrica e entérica segundo metodologia

proposta por Minekus et al. (2014). FSS, FGS e FIS foram produzidos como proposto por

Minekus et al. (2014), juntamente com a adição de enzimas, CaCl2 e água, sendo as

concentrações eletrolíticas apresentadas, concentradas em 1,25 vezes. Antes de serem

transferidos para etapa de simulação gástrica, os microgéis foram diluídos em água, na

proporção de 1g de microgel para 4 mL de água, ou 1g de solução contendo o ativo livre em 4

mL de água de modo a reproduzir a diluição nos alimentos após isso foi adicionado então na

proporção de 50:50 (v/v) no FSS.

O FGS foi adicionado de pepsina, para obtenção de 2000 U/mL ao final da

mistura, calculados com base na ficha técnica do produto. Para ajustar o pH em 3, utilizou-se

HCl 6 M ao final da mistura, que foi incubada à 37 ºC por um período de 2 horas em agitador

orbital tipo shaker.

Na etapa de digestão entérica, a mistura resultante da etapa anterior (digestão

gástrica) foi adicionada de extrato de bile 160 mM, para obtenção de uma concentração de 10

mM no final da mistura. A pancreatina é composta por diferentes enzimas, incluindo amilase,

tripsina, lipase, ribonoclease e protease, portanto sua utilização compreende parte das enzimas

presentes no trato digestivo (MINEKUS et al., 2014). De acordo com a metodologia descrita

pelos autores, pancreatina 800 U/mL foi preparada para adição na etapa de digestão entérica.

Adicionou-se CaCl2 0,3 M ao final da mistura que teve o pH ajustado em 7 com o

auxílio de solução de NaOH 1 M antes da incubação das amostras por mais 2 horas à 37 ºC.

Os ensaios foram realizados em duplicata. Em intervalos de 20 minutos, alíquotas foram

removidas para a avaliação da distribuição de tamanho de partículas, morfologia por

microscopia ótica, determinação do perfil de liberação dos microrganismos por contagem de

UFC/g, quantificação de vitamina C e ácidos graxos livres ao longo do processo digestivo.

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Capítulo 5

90

2.6 Liberação com o pH

A fim de simular aplicação em diferentes produtos, foi verificado como os

compostos e o probiótico são liberados em soluções aquosas com diferentes valores de pH. Os

microgéis obtidos foram colocados em recipientes com pH 3 e 5 e alíquotas foram retiradas

nos tempos 0, 1, 2, 24, 72 e 120 horas para análises de distribuição de tamanho de partícula,

microscopia e quantificação dos ativos liberados na água.

2.7 Quantificação dos ativos

2.7.1 Quantificação de L. acidophilus

A contagem das células viáveis de L. acidophilus foi realizada pela técnica de

plaqueamento por gota (20 µL), em superfície de ágar MRS (de Man, Rogosa e Sharpe)

(Merck). As placas foram transferidas para jarras de anaerobiose (Permution) e

posteriormente armazenadas em estufa a 37 °C/48 horas. As análises foram realizadas em

triplicata e os resultados expressos em UFC/g.

2.7.2 Quantificação de ácidos graxos livres

A quantificação de ácidos graxos livres (FFA) após o processo de digestão e

liberação em soluções aquosas com diferentes pH foram determinadas utilizando o método de

titulação (Pinsirodom, 2005). Este método consiste em titular 5 mL de amostra com gotas de

fenolftaleína a 1% (p/v), por titulação direta com NaOH 0,1 mol/L. A percentagem de FFA

foi calculada a partir do número de moles de NaOH necessário para neutralizar o FFA

dividido pelo número de moles de FFA que poderiam ser produzidos a partir da total digestão

dos triglicerídeos (Equação 1) (assumindo que 2 FFA são produzidas por 1 molécula de

triacilglicerol) (Li, Hu, Du, Xiao, & McClements, 2011):

% FFA = 100 x (vNaOH x mNaOH x Mlipid) / (Wlipid x 2) (1)

Onde vNaOH é o volume de hidróxido de sódio gasto para neutralizar o FFA gerado (em

mL), mNaOH é a molaridade do hidróxido de sódio utilizado (em mol/L), wlipid é o peso total de

óleo de linhaça inicialmente presente em solução e Mlipid é a massa molar do óleo de linhaça

(872 g/mol).

2.7.3 Quantificação de Vitamina C

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Capítulo 5

91

O teor de ácido ascórbico foi determinado utilizando o método 967.21 da AOAC

(1997), que se refere ao método de titulação com 2, 6 – diclorofenol-indofenol (DCFI), com

as modificações descritas por Benassi e Antunes (1988) que substituíram a solução de

extração padrão (solução de ácido metafosfórico) por solução de ácido oxálico. Uma solução

de ácido L-ascórbico foi utilizada como padrão. A concentração de ácido ascórbico foi

calculada por comparação com o padrão conforme Equação 2.

mg Vit C/100 mL = V titulação da amostra – V titulação branco x F/V amostra x 100 (2)

Onde:

F = mg de ácido ascórbico / V gasto no padrão – V gasto no branco

V = volume (mL)

2.8 Eficiência de encapsulação

A eficiência de encapsulação foi determinada pela relação entre a quantidade do

composto (probiótico, óleo e vitamina C) adicionado inicialmente (N0) e a quantidade retida

nos microgéis após o processo de encapsulação (N) (Equação 3), determinada após a quebra

do gel.

𝑬𝑬=(𝑵/𝑵𝟎).𝟏𝟎𝟎 (3)

Para quebrar o gel, 1 g de microgéis foram transferidos para 10 mL de citrato de

sódio (0,06 mol/L) em pH 8,18±0,02 e submetidos à agitação magnética por 45 minutos a 37

°C. O probiótico e vitamina C foram quantificados, conforme itens 2.7.1 e 2.7.3

respectivamente.

2.9 Método Bligh-Dyer

A eficiência de encapsulação do óleo, foi determinada pelo método de Bligh-Dyer

(BLIGH E DYER, 1959). Por se tratar de amostras com alto teor de umidade usou-se entre 2 a

3 g das emulsões e microgéis para extração a frio dos lipídios totais (LT), que foram

transferidos para um erlenmayer e adicionados 10 mL de clorofórmio (CHCl3), 20 mL de

metanol e 8 mL de água destilada. O extrato foi agitado por 30 min e em seguida adicionados

mais 10 mL de CHCl3 e 10 mL da solução de sulfato de sódio 1,5%. O erlenmayer foi

tampado e agitado por mais 2 minutos. Deixou-se a amostra decantar em funil de separação, e

na parte inferior foi adicionado cerca de 1g de sulfato de sódio anidro, para remover traços de

água. A amostra foi então filtrada rapidamente em funil e 5 mL do filtrado foram transferidos

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Capítulo 5

92

para béquer de 50 mL para evaporação do solvente em estufa a 80°C (15-20 minutos). Após,

foi resfriado e pesado em balança analítica e procedido os cálculos (Equação 4).

% lipídeos totais = p x 4 x 100/ g (4)

Onde: p= massa dos lipídeos (g) contido em 5 mL

g= massa da amostra (g)

2.10 Distribuição de tamanho de gotas

A distribuição de tamanho de gotas de emulsões e partículas dos microgéis foi

determinada com o auxílio de um analisador de tamanho de partículas por difração a laser

Mastersizer 2000 – versão 5.60 (Malvern Instruments LTDA., Worcestershire, RU). Três

leituras foram obtidas de cada amostra. Foi analisado o tamanho de partículas, expresso como

diâmetro médio volumétrico (D [4,3]), e a polidispersidade.

2.11 Análises Microscópicas

2.11.1 Microscopia ótica

As emulsões e as partículas de microgéis foram visualizadas através de

microscopia ótica, com auxílio de um microscópio óptico Carl Zeiss Modelo Axio Visio

(Zeiss, Alemanha), com objetiva de 100x.

2.11.2 Microscopia confocal

A microscopia confocal de fluorescência foi utilizada para analisar a estrutura das

emulsões A1/O/A2. Para essa análise, o corante vermelho do nilo foi adicionado às amostras

de maneira a marcar as moléculas de óleo presente e a calceína foi utilizada para fase aquosa

interna. As amostras foram examinadas utilizando um confocal Zeiss LSM 780-NLO em um

microscópio Axio Observer Z.1 (Carl Zeiss AG, Alemanha) com uma objetiva de 100x. As

imagens foram obtidas utilizando comprimento de onda de 552 e 495 nm para excitação e 639

e 515 nm para emissão do vermelho do nilo e da calceína, respectivamente.

2.11.3 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

As partículas produzidas foram preparadas para microscopia eletrônica de

varredura de acordo com a metodologia descrita por Aline et al., (2011) com algumas

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Capítulo 5

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modificações. Amostras de macrogéis foram preparadas por gotejamento da emulsão múltipla

utilizando uma mangueira de 13 mm de diâmetro com auxílio de bomba peristáltica

(Masterflex, modelo7518-00) (Figura 2), de modo a se verificar a estrutura interna das

partículas formadas. Microgéis, produzidos conforme descrito na seção 2.4 foram analisados

para avaliação da sua estrutura externa. Após a produção, as partículas foram fixadas por 24

horas em tampão glutaraldeído (2,5%) e cacodilato de sódio 0,1 M (pH 7,2) com a finalidade

de minimizar modificações estruturais durante os tratamentos de secagem posteriores. As

amostras de macrogéis fixadas foram fraturadas em nitrogênio líquido, para exposição da

estrutura interna, e lavadas por duas vezes em tampão cacodilato. Após, a fixação, as

partículas foram desidratadas em soluções de etanol (30%, 50%, 70%, 90%). A desidratação

foi finalizada com três lavagens em etanol 100% seguida pela secagem em ponto crítico

(Balzers Critical Point Dryer CPD03).

As amostras foram fixadas em porta-espécimens metálicos (stubs) e metalizadas

com uma liga de ouro/paládio por 200 segundos em Sputter Coater (Balzers Sputter Coater

SCD 050), para serem então observadas em microscópio eletrônico de varredura (VEJA 3

SBU, Tescan Republica Tcheca). As imagens foram captadas com aceleração de voltagem de

5 kV e amplificação de 1000x.

Figura 2 – Obtenção da macro esfera para analise de MEV

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Capítulo 5

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2.12 Análise dos Dados

Todos os resultados foram analisados por meio da análise de variância (ANOVA)

e as diferenças entre as médias, pelo teste de Tukey, utilizando-se o programa estatístico

SISVAR versão 5.6 a 5% de significância (FERREIRA, 2011).

3.RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Avaliação da emulsão múltipla

Após o preparo dos sistemas com a adição dos ativos, foram realizadas

microscopia ótica e confocal (Figuras 3A e B), que permitiram comprovar a formação da

emulsão múltipla.

Figura 3 – Emulsão múltipla A) Microscopia óptica e B) Microscopia confocal.

Foi possível observar que o probiótico ficou na fase externa, como pode ser

observado pela Figura 3 A apresentando formato de bastonete com aproximadamente 10 µm

comprimento, tamanho característico de lactobacilos segunda literatura (NG, 2009) e que,

pela microscopia confocal (Figura 3 B), a fase intermediaria era óleo, ficando corada em

vermelho pelo corante lipofílico vermelho do nilo. A fase interna (A1) hidrofílica, corada com

calceína, apresentou a coloração verde, enquanto a fase externa (A2) não foi corada,

permanecendo a coloração preta pela microscopia confocal de fluorescência.

Probiótico

A1

Óleo

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Capítulo 5

95

3.2. Macro e microgéis

A formação de microgéis ocorre por difusão dos cátions bivalentes presentes na

solução salina através da superfície da gota, promovendo a formação de ligações cruzadas nas

partículas formando estrutura do tipo de caixas de ovos com o alginato (Figura 4) (BUREY et

al., 2008; ELLIS e JACQUIER, 2009).

Figura 4 – Processo de gelificação da emulsão múltipla por íons cálcio

Com a finalidade de investigar a interação dos compostos da matriz de

encapsulação, a estrutura dos macrogéis formados por gelificação iônica da emulsão múltipla

contendo solução de vitamina C, óleo de linhaça, alginato e probiótico, os géis foram

avaliados por microscopia eletrônica de varredura (MEV) (Figura 5 A e B).

Figura 5 – Gel de emulsão A) MEV da superfície da partícula, B) MEV do possível interior

da partícula. Aumento 1000x Escala 50 µm

Foi possível observar que o gel formado apresentou estrutura externa homogênea

e complexa porém, compacta e com pouca porosidade (Figura 5 A), como observado por

Ca2+

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Capítulo 5

96

Hermansson et al., (2016). Quando fraturado, observou-se presença de gotas presas à rede

(Figura 5 B), o que pode ser associado à presença das gotas de óleo da emulsão simples A1/O,

como observado na Figura 3 B e esquematizado na Figura 4. Ao gotejar a emulsão múltipla

contendo alginato na fase externa, forma-se gotas com gotas da emulsão simples dentro

(A1/O), que podem ser observadas após a fratura das partículas pela MEV (Figura 5B). Essas

gotas internas são da mesma magnitude das gotas de óleo mostradas na microscopia otica

(Figura 3A) evidenciando assim que realmente se trata de gotas de óleo.

Após a avaliação da estrutura interna, a estrutura externa das micropartículas foi

avaliada (Figura 6 A e B).

Figura 6 – Microgel atomizado. A) Microscopia óptica, B) MEV aumento 1000x

As imagens de microscopia mostraram que o microgel apresentou estrutura

externa com rugosidades e com formato não esférico (Figura 6). Pode-se observar também

redução significativa no tamanho das partículas obtidas após o processo de atomização, em

comparação com as macroesferas (Figura 5A e 6B). As partículas obtidas apresentaram

formato não esférico e gotas de óleo dispersas, o que pode ser relacionado à distância entre o

bico atomizador e a solução gelificante, que não foi suficiente para a formação de gotas

esféricas (Figura 5A). Segundo Puguan, Yu e Kim (2014), microgéis de alginato produzidos

por gelificação externa apresentam um gradiente de concentração provocado pelo processo de

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Capítulo 5

97

difusão, onde inicia-se na superfície da cápsula e causa resistência aos íons de Ca+2

subsequentes, resultando na formação de uma estrutura heterogênea, com a superfície mais

concentrada.

3.2.1 Eficiência de encapsulação

A Tabela 1 apresenta os resultados de eficiência de encapsulação obtidas a partir

da dissolução dos microgéis contendo ativos coencapsulados.

Tabela 1 – Eficiência de encapsulação

Probiótico (%) Vitamina C (%) Óleo (%)

72,76 1,89 79,8

O probiótico e o óleos tiveram boa retenção, mesmo estando na camada mais

externa da emulsão. A baixa eficiência de encapsulação da vitamina C, pode ser explicada

pela perda ocorrida durante o processo de atomização, ter migrado pela rede do gel devido sua

baixa massa molar, ou até mesmo ter degradado. A partir dos resultados obtidos foi possível

observar que a técnica proposta permite coencapsular mais de um ativo, porém são

necessários novos estudos para aumentar a eficiência de encapsulação.

3.3 Estabilidade dos microgéis em soluções aquosas a diferentes pH

Com o objetivo de estudar a estabilidade dos microgéis, foram colocados em

diferentes pH a saber 3 e 5, e foi analisado tamanho, microscopia e compostos liberados. Ao

avaliar a estabilidade frente os pH, foi possível observar que em solução com pH mais ácido o

valor de D[4,3] aumentou, abaixando em seguida (Figura 7), já para a solução com pH 5 o

mesmo parâmetro não teve nenhum aumento.

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Capítulo 5

98

Tempo

(Horas) pH 3 pH 5

0

1

24

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

1

2

3

4

5

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

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Capítulo 5

99

72

120

Figura 7 – Distribuição de tamanho, D[4,3] e polidispersidade

Os compostos liberados nas soluções ácidas contendo o microgel foram

quantificados nos tempos de 0 a 120 horas, a fim de determinar se ficariam estáveis nos

valores de pH estudados ou não. Não houve diferença na quantificação de todos os compostos

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

2

4

6

0,1 10 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 1 24 72 120

D[4

,3]

(µm

)

Po

lidis

pe

rsid

ade

(-)

Tempo (horas)

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0 1 24 72 120

D[4

,3]

(µm

)

Po

lidis

pe

rsid

ade

(-)

Tempo (horas)

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Capítulo 5

100

em relação aos pH estudados. Entretanto, mesmo a partícula estando intacta em todos os

tempos estudados (Figura 7), foi possível a quantificação dos mesmos em relação ao tempo,

com destaque para o probiótico que aumentou a contagem no decorrer do tempo com

tendência crescente (Figura 8). Pode associar esse dado, com a microscopia (Figura 3 A),

onde foi possível observar que o probiótico ficou na camada mais externa da emulsão,

consequentemente na mais externa do gel formado.

Figura 8 – Unidades formadoras de colônia de probiótico ao longo do tempo em diferentes pH

. Tempo 0

Quanto aos ácidos graxos livres, que podem ser relacionados com o óleo presente,

houve um pico nas primeiras horas e permaneceu estável nas horas seguintes (Figura 9). O

pico inicial pode ter sido provocado pela presença de óleo na superfície da partícula,

consequente do processo de atomização, ficando constante após 72 horas.

1

2

4

8

0,1 1 10 100 1000

Log

UFC

/g

Tempo (h)

Probiótico

pH 3

pH 5

a a a

b

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Capítulo 5

101

Figura 9 – Ácidos graxos livres ao longo do tempo em diferentes pH Tempo 0

A vitamina C foi o ativo que teve menor eficiência porém, a sua quantificação

durante o tempo nas soluções ácidas, se manteve mais estável (Figura 10). Essa quantificação

pode ser explicada pela migração da vitamina C pela rede do gel.

Figura 10 – Vitamina C ao longo do tempo em diferentes pH. Tempo 0

Os pH estudados não interferiram na liberação dos compostos, porém no pH 3

pode ser observado leve intumescimento como pode ser observado pelo valor de D[4,3] na

Figura 7.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0,1 1 10 100 1000

% F

FA

Tempo (h)

Ácido Graxo

pH3

pH 5

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0,1 1 10 100 1000

mg

vi.

C/1

00

mL

Tempo (hora)

Vitamina C

pH 3

pH 5

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Capítulo 5

102

3.4 Digestibilidade

As gotículas produzidas por emulsão múltipla e microgel contendo os ativos

encapsulados foram submetidos à digestão in vitro, sendo avaliados quanto à distribuição de

tamanho de gotas/partículas (Figura 11), microscopia ótica (Figura 12) e quantificação dos

compostos ativos liberados (Figura 13). Os resultados foram comparados à estabilidade dos

ativos não encapsulados ao longo da digestão.

3.3.1 Tamanho de partículas e morfologia

Ao fim do processo digestivo (após 4 horas) tanto o gel quanto as gotículas de

emulsão apresentaram tamanhos menores do que no início do processo. O gel aumentou de

tamanho após 60 minutos, ainda na fase gástrica, indicando assim que a partícula formada

passa por um intumescimento provocado provavelmente pela entrada de água nos poros,

como pode ser observado pelos valores de D[4,3] que passa de 100 para 500 µm (Figura 11).

O tamanho dos microgéis começa a reduzir a medida que inicia a fase entérica, indicando que

a estrutura inicial pode estar se degradando (Figura 11). A estabilidade de microgéis de

alginato foi relatada por Li et al. (2009), onde observaram que os microgéis apresentaram um

inchamento nos primeiros 30 minutos, mantendo-se estáveis quando expostos às condições

gástricas. A erosão das cápsulas foi observada nas condições intestinais simuladas, o que está

de acordo com os resultados apresentados. Com o decorrer do tempo, o pico menor

encontrado na distribuição de tamanho das partículas do microgel tende a aumentar, o que

pode ser associado à liberação do óleo pela degradação da estrutura gelificada. Para a emulsão

múltipla durante a fase gástrica a distribuição é parecida com a do tempo 0. Na fase entérica o

sistema fica mais polidisperso e aumenta a faixa de tamanhos maiores, que pode ser explicado

por possível aglomeração das gotas (Figura 11).

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Capítulo 5

103

Gel Emulsão

Figura 11 – Curvas de distribuição de tamanho de partículas, polidispersidade e diâmetro

médio volumétrico (D[4,3]) dos microgéis e da emulsão múltipla durante a digestão

A Figura 12 apresenta as imagens obtidas por microscopia ótica das amostras

submetidas à simulação gastrointestinal ao longo do tempo. É possível observar que os

microgéis foram capazes de manter sua estrutura ao longo da passagem pelo trato gástrico, ou

seja, quando submetidos às condições ácidas e à presença de pepsina, o que corrobora com os

resultados de distribuição de tamanho (Figura 11). Além disso, as imagens evidenciam a

presença de óleo junto com as partículas de microgel, que correspondem aos picos nas faixas

0

1

2

3

4

5

6

0,1 1 10 100 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

60

120

180

240

Tempo (min)

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

0,1 1 10 100 1000

Vo

lum

e (

%)

Tamanho (µm)

0

60

120

180

240

Tempo (min)

0,00

100,00

200,00

300,00

400,00

500,00

600,00

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

20,00

0 60 120 180 240

D[4

,3]

(µm

)

Po

lidis

pe

rsid

ade

(-)

Tempo de digestão (min)

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

16,00

18,00

0 60 120 180 240

D[4

,3]

(µm

)

Po

lidis

pe

rsid

ade

(-)

Tempo de digestão (min)

Gástrica Entérica Entérica Gástrica

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Capítulo 5

104

de 100 e 20 µm observados na Figura 11. A emulsão múltipla, por outro lado, se desestabiliza

rapidamente logo na etapa de digestão gástrica, onde após a primeira hora já não é possível

observar mais a estrutura de emulsão múltipla (Figura 12). Isso pode ser explicado devido a

sua baixa estabilidade como já discutido em sessões anteriores.

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Capítulo 5

105

Tempo (min) Gel Emulsão A1/O/A2

0

60

120

180

240

Figura 12 – Microscopia óptica durante a digestão. Escala 20µm.

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Capítulo 5

106

Outra observação relevante de Li et al. (2009) é que a instabilidade das cápsulas

está associada à mudança de pH do meio ao passar de ácido para neutro, além da exposição

aos sais biliares, pois os íons Ca+2

ligados aos grupos carboxílicos do alginato iniciam um

processo de troca iônica com os sais presentes na etapa de simulação entérica. Como

resultado, ocorre relaxação das cadeias, com consequente repulsão dos grupos negativos

COO- do alginato, ocorrendo inchamento e ruptura do gel.

3.3.2 Quantificação dos compostos ativos

Ao longo do processo digestivo observou-se que a contagem de probióticos sem

nenhuma proteção (livre) decresceu de 4,26 para 2,52 log UFC/g na primeira hora da fase

gástrica, com contagem igual a zero na final desta fase (Figura 13 A). Os resultados mostram

que a incorporação destes em sua forma livre não confere efeito benéfico à saúde, pois não

houve contagem na fase entérica, segundo Saad (2006) para que os probióticos exerçam

benefício ao hospedeiro, devem chegar ao intestino. No entanto, avaliando a contagem dos

microrganismos probióticos protegidos pelo microgel, observou-se contagem de 3,52 log

UFC/g com aumento para 6,30 log UFC/g após 80 minutos de simulação da digestão, ainda

na fase gástrica. Este aumento na contagem pode ser associado ao aumento da difusão devido

ao intumescimento da partícula (Figura 11), favorecendo a sua liberação para o meio (Figura

13 A). Em relação à emulsão múltipla, observou-se que esta também exerceu efeito protetor

sobre o probiótico, quando foi observado um aumento na contagem no início da fase entérica.

É importante ressaltar que mesmo que a estrutura não tenha apresentando estabilidade (Figura

12), a contagem de microrganismos incorporados nas emulsões múltiplas apresentou um

aumento significativo no começo da fase entérica, onde espera-se que os microrganismos

possam exercer sua atividade biológica. Esse efeito protetor da emulsão pode ser pela

presença de óleo no meio, onde o probiótico pode ter permanecido na interface. Assim, a

queda que se observa no início da digestão é devido à presença de probiótico livre na fase

externa, que perderia rapidamente sua viabilidade nas condições gástricas. Ortakci e Sert

(2012) observaram que os L. acidophilus livres não sobreviveram a etapa de simulação

gástrica. O aumento que houve, ainda na fase gástrica, pode ser explicado pela sua liberação

gradual da interface água/óleo.

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Capítulo 5

107

A quantificação do óleo de linhaça, que pode ser relacionada com os ácidos

graxos livres, manteve-se estável ao longo de toda a fase gástrica, independente da estrutura

(emulsão ou microgel de emulsão) (Figura 13 B). Observa-se que a quantidade de ácidos

graxos livres das emulsões múltiplas foi superior aos sistemas gelificados ao longo da etapa

gástrica, o que pode ser associado à rápida desestabilização das emulsões não gelificadas

(Figura 12). Logo no início da fase entérica, observa-se uma redução significativa na

quantidade de FFA, o que pode ser associada à degradação do óleo. Em relação aos

microgéis, observa-se que foi possível quantificar o óleo de linhaça, mesmo este estando na

fase intermediária. A sua quantificação na fase gástrica, pode ser associada às gotas de óleo

livre ao redor das partículas (Figura 12), que podem ter passado para a parte mais externa do

gel, durante o processo de atomização. O aumento na quantidade de FFA ao longo da fase

entérica pode ser diretamente associado à liberação do óleo devido a degradação da partícula

nesta etapa. Tal resultado torna o uso desta estrutura bastante interessante para a veiculação

do óleo, uma vez que a maior parte dos lipídeos são absorvidas no intestino delgado (MUN et

al., 2007).

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Capítulo 5

108

Figura 13 – Liberação na digestão in vitro, A)Unidades formadoras de colônia de probiótico,

B) ácidos graxos livres, C) Vitamina C

Como a vitamina tem baixo peso molar, pode ter ocorrido perda no processo de

gelificação, saindo pela rede do gel. Devido a essa possível perda sua quantificação foi baixa

(Figura 13 C), onde o que foi quantificado foi o que estava na superfície e permaneceu

constante o que pode indicar que nem toda a vitamina C do interior foi liberada. A alta

quantificação da vitamina C na emulsão, pode ser explicada que diferentemente do microgel

não passou por nenhum processo após a sua produção e já foi iniciada a digestão assim que

foi produzida. Devido a lenta liberação da vitamina C incorporada no microgel, é interessante

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

0 40 80 120 160 200 240 280

log

UFC

/g

Tempo (min)

Gel

Emulsão

Livre

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

0 40 80 120 160 200 240 280

% F

FA

Tempo (min)

Emulsão

Gel

5

205

405

605

805

1005

1205

1405

1605

1805

0 40 80 120 160 200 240

mg

Vit

C/1

00

mL

Tempo (min)

Gel

Emulsão

Gástrica Entérica

Gástrica Entérica

Gástrica Entérica

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Capítulo 5

109

utilizar esta fase interna para proteção de compostos que se desejava esse tipo de liberação,

como por exemplo, compostos que devem chegar nos últimos estágios da fase entérica.

4 CONCLUSÃO

Os microgéis produzidos por gelificação iônica a partir de emulsão múltipla e

alginato, foram eficientes para manutenção da viabilidade dos L. acidophilus, óleo de linhaça

e vitamina C, durante digestibilidade in vitro e estabilidade frente às variações de pH. Os

resultados obtidos mostraram que o microgel promoveu melhor proteção dos compostos tanto

livres quanto na emulsão.

As soluções mais ácidas promoveram a liberação dos compostos para o meio.

Assim microgéis desse tipo devem ser incorporados em alimentos mais básicos.

Os resultados foram importantes e promissores para aplicação de compostos que

necessitem de liberação lenta e gradual, além de permitir coencapsulação de compostos

lipofílicos e hidrofílicos, possibilitando investigações futuras para veiculação de ativos que

necessitem de microcápsulas com maior resistência.

É recorrente que atributos funcionais vêm ganhando cada vez mais espaço no

mercado. Sendo assim, faz-se necessário mais estudos referentes a liberação controlado de

ativos coencapsulados por microgéis bem como de emulsões múltiplas.

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Capítulo 6

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Capítulo 6

Discussões Gerais

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Capítulo 6

114

A fim de produzir emulsões simples água em óleo (A/O) estáveis, foram testadas diferentes

concentrações de PGPR como surfactante, tempo e velocidade de processo. A velocidade

exerce maior influência no tamanho de gotas que o tempo de homogeneização. O aumento da

concentração levou a redução da tensão interfacial e aumento da estabilidade das emulsões. A

concentração de 1% atingiu os parâmetros de estabilidade no tempo desejado, sendo definida

para as próximas etapas deste trabalho. Definida a concentração de surfactante da fase interna,

o mesmo estudo foi realizado para definir a concentração de surfactante da fase externa de

emulsões múltiplas do tipo A/O/A, além disso, foi avaliado também a influência da

concentração de surfactante da fase interna na estabilidade da emulsão múltipla. Tanto a

concentração da fase interna quanto a da fase externa exercem influência na estabilidade de

emulsões múltiplas, onde maiores concentrações de surfactante na fase interna tendem a

formar emulsões múltiplas com mais gotas e mais estáveis, enquanto maiores concentrações

de surfactante na fase externa ocasionaram maior estabilidade e menor tamanho de gota. Após

esse primeiro estudo, visando a veiculação de diferentes compostos em uma mesma estrutura,

micropartículas gelificadas foram produzidas a partir de emulsões múltiplas com

concentração de surfactante PGPR na fase interna de 1 % e Tween 80 na fase externa de 2%.

Assim, propriedades mecânicas e capacidade de retenção de água destes géis foram avaliadas,

a partir de emulsões múltiplas (A1/O/A2) e controle (O/A2) em duas razões 1:10 e 3:7 (m/m).

Não foi observada diferença significativa nos parâmetros de capacidade de retenção de água,

tensão e deformação de ruptura entre as amostras produzidas a partir das emulsões simples,

múltiplas e solução de alginato puro (p<0,005), com uma tendência na redução da tensão na

ruptura nos sistemas produzidos a partir das emulsões. Os microgéis obtidos por atomização

apresentaram tamanho na ordem de 10 a 1000 µm e sua suspensão apresentou comportamento

pseudoplástico, com exceção das suspensões obtidas por alginato puro, que apresentou

dispersão em meio aquoso com comportamento newtoniano, o que foi associado à maior

dureza deste gel. Após determinadas as propriedades das emulsões e dos géis de emulsão foi

feito estudo visando incorporação de compostos bem como sua liberação frente a atividade

digestiva e estabilidade frente a diferentes pH. A estabilidade das partículas em diferentes

valores de pH mostrou um aumento expressivo na contagem de probióticos após 24 horas, o

que pode ser atribuído pela rede porosa formada pelo alginato, favorecendo o inchaço da

partícula e consequente liberação por difusão. Em relação aos ensaios de simulação de

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Capítulo 6

115

digestão, houve um deslocamento na distribuição de tamanho das partículas para tamanhos

menores com o tempo de digestão, resultado que pôde ser comprovado pela microscopia. A

quantificação dos compostos mostrou um aumento na fase entérica, indicando que a técnica

utilizada foi eficiente para proteção dos ativos às condições gástricas. Os resultados deste

trabalho mostraram que é possível encapsular compostos com diferentes polaridades em uma

mesma estrutura, melhorando a sua viabilidade após processo de digestão em relação aos

compostos não encapsulados.

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Capítulo 7

116

Capítulo 7

Conclusões Gerais

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Capítulo 7

117

Todas as concentrações estudadas de surfactante da fase interna (PGPR), e

condições de processos avaliadas podem produzir emulsões simples do tipo água em óleo,

sendo que não foi observada influência do tempo de processo nas características das

emulsões. O uso de 1% de PGPR pode se tornar uma boa alternativa para produção da

emulsão primária, destinadas à produção de emulsões múltiplas. Para a produção das

emulsões do tipo A1/O/A2, todas as concentrações de surfactante formaram emulsões

múltiplas com destaque para 2% de Tween que apresentou tamanho de gotas menores e maior

estabilidade.

As emulsões múltiplas e controle nas razões entre fazer interna (emulsão

simples/primária ou óleo) e externa (solução de alginato) 1:10 e 3:7 foram caracterizadas

pelas curvas de escoamento, apresentando comportamento pseudoplástico com valores de n

menores que 1. As emulsões na proporção de 3:7 mantiveram-se mais estáveis, o que foi

associado à maior quantidade de gotas, sendo assim mais indicadas para utilização. Com todas

as amostras foi possível a formação de macrogéis com capacidade de retenção de água

superior a 50 %, indicando capacidade de incorporação de compostos hidrofílicos.

A estrutura formada foi eficiente na proteção dos compostos frente a

digestibilidade, onde aumentou a quantificação na fase entérica, local onde são absorvidos. Os

resultados foram importantes e promissores para aplicação de compostos que necessitem de

liberação lenta e gradual, além de permitir coencapsulação de compostos lipofílicos e

hidrofílicos, possibilitando investigações futuras para veiculação de ativos que necessitem de

microcápsulas com maior resistência.

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Capítulo 8

118

Capítulo 8

REFERÊNCIAS

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