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Enquadramento jurdico-fiscal da atividade de alojamento local
A Autoridade Tributria e Aduaneira divulgou no passado dia 19, o ofcio-
circulado n. 20.180, contendo instrues sobre o enquadramento jurdico-
tributrio da atividade de alojamento local.
Esta atividade tem tido um forte incremento no nosso pas e por isso
conveniente que todos os agentes envolvidos - proprietrios, concessionrios e
titulares de explorao - estejam bem cientes do enquadramento fiscal
aplicvel aos rendimentos em causa.
Tendo em conta a atualidade do tema, propomo-nos neste trabalho analisar as
diversas vertentes deste setor de atividade.
Regulamentao da atividade de alojamento local
A figura do alojamento local foi criada pelo Decreto-Lei n. 39/2008, de 7 de
maro, o qual veio a ser posteriormente alterado pelos Decretos-Leis n.
228/2009, de 14 de setembro, e 15/2014, de 23 de janeiro, para permitir a
prestao de servios de alojamento temporrio em estabelecimentos que no
reunissem os requisitos legalmente exigidos para os empreendimentos
tursticos.
A dinmica do mercado da procura e oferta do alojamento fez surgir e
proliferar um conjunto de novas realidades de alojamento as quais obrigaram
a uma nova regulamentao. nesta sequncia que ocorre a publicao do
Decreto-Lei n. 128/2014, 29 de agosto (e no 28, como aparece no supra
citado ofcio-circulado) que aprovou o regime jurdico da explorao dos
estabelecimentos de alojamento local, entretanto alterado pelo Decreto-Lei n.
63/2015, de 23 de abril.
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Conceito de alojamento local
Nos termos do citado diploma legal, consideram-se estabelecimentos de
alojamento local aqueles que prestem servios de alojamento temporrio a
turistas, mediante remunerao, e que renam os requisitos previstos no
referido decreto-lei.
Os estabelecimentos de alojamento local devem integrar-se numa das
seguintes modalidades:
a) Moradia - estabelecimento de alojamento local cuja unidade de alojamento
constituda por um edifcio autnomo, de carter unifamiliar;
b) Apartamento - estabelecimento de alojamento local cuja unidade de
alojamento constituda por uma frao autnoma de edifcio ou parte de
prdio urbano suscetvel de utilizao independente;
c) Estabelecimentos de hospedagem - estabelecimento de alojamento local
cujas unidades de alojamento so constitudas por quartos.
Os estabelecimentos de hospedagem podem utilizar a denominao hostel se
obedecerem aos requisitos previstos no artigo 14. do Decreto-Lei n.
128/2014, 29 de agosto com a redao que lhe foi conferida pelo Decreto-Lei
n. 63/2015, de 23 de abril.
Enquadramento jurdico da atividade de alojamento local
O diploma que rege o enquadramento jurdico da atividade de alojamento local
importante tambm para efeitos fiscais, sobretudo pela definio do conceito
de prestao de servios de alojamento constante do seu artigo 4..
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Determina esta disposio legal, que para todos os efeitos, a explorao de
estabelecimento de alojamento local corresponde ao exerccio, por pessoa
singular ou coletiva, da atividade de prestao de servios de alojamento.
Esclarece ainda o diploma que se presume existir explorao e intermediao
de estabelecimento de alojamento local quando um imvel ou frao deste:
a) Seja publicitado, disponibilizado ou objeto de intermediao, por qualquer
forma, entidade ou meio, nomeadamente em agncias de viagens e turismo
ou sites da Internet, como alojamento para turistas ou como alojamento
temporrio; ou
b) Estando mobilado e equipado, neste sejam oferecidos ao pblico em geral,
alm de dormida, servios complementares ao alojamento, nomeadamente
limpeza ou receo, por perodos inferiores a 30 dias.
O exerccio da atividade de alojamento local obedece a um registo do
estabelecimento. Este registo de estabelecimentos de alojamento local
efetuado mediante mera comunicao prvia dirigida ao Presidente da Cmara
Municipal territorialmente competente.
Esta comunicao prvia acompanhada de uma srie de documentos, entre
os quais exigida a cpia simples da declarao de incio ou alterao de
atividade do titular da explorao do estabelecimento para o exerccio da
atividade de prestao de servios de alojamento correspondente seco I,
subclasses 55201 ou 55204 da Classificao Portuguesa de Atividades
Econmicas, Reviso 3, aprovada pelo Decreto-Lei n. 381/2007, de 14 de
novembro, apresentada junto da Autoridade Tributria.
Este requisito estabelecido pelo diploma regulamentador muito importante
para efeitos fiscais, pois enquadra claramente a atividade. A diviso 55 da CAE
respeita a atividades de alojamento (atividade industrial). A subclasse 55201
definida como - alojamento mobilado para turistas e a subclasse 55204 -
outros locais de alojamento de curta durao.
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Enquadramento da atividade de alojamento local em sede de IRS
A atividade de explorao de alojamento local tem enquadramento na
categoria B do IRS, como rendimento de natureza empresarial, conforme
alnea h) do n. 1 do artigo 4. do Cdigo do IRS.
Contudo, tal como o ofcio-circulado identifica, podem observar-se trs tipos
de situaes no mbito desta atividade:
a) O proprietrio do estabelecimento tambm o titular da
explorao de alojamento local
Nestas circunstncias os rendimentos derivados da explorao do
alojamento local so tributados de acordo com as regras da categoria B do
IRS, podendo o sujeito passivo optar entre o regime simplificado e o
regime da contabilidade.
No regime simplificado, o rendimento tributvel obtm-se atravs da
aplicao do coeficiente 0,15, previsto na alnea a) do n. 1 do artigo 31.
do Cdigo do IRS, aos rendimentos brutos das prestaes de servios.
No regime da contabilidade aplicam-se as regras estabelecidas no Cdigo
do IRC com as necessrias adaptaes, conforme expresso no artigo 32.
do Cdigo do IRS.
Convm relembrar que o exerccio da atividade desta forma implica a
consequente passagem dos imveis da esfera individual para a esfera
empresarial verificando-se por isso a incidncia de mais-valias em sede de
IRS, prevista na parte final da alnea a) do n. 1 do artigo 10. do Cdigo
do IRS.
Esta mais-valia beneficia, no entanto, de um regime de suspenso de
tributao, conforme alnea b) do n. 3 do mesmo artigo 10..
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Esta disposio legal determina que nos casos de afetao de quaisquer
bens do patrimnio particular a atividade empresarial e profissional
exercida pelo seu proprietrio, o ganho s se considera obtido no momento
da ulterior alienao onerosa dos bens em causa ou da ocorrncia de outro
facto que determine o apuramento de resultados em condies anlogas.
b) O proprietrio do imvel arrenda as instalaes a outra pessoa
sendo esta o titular da explorao de alojamento local
Nesta situao, o proprietrio do imvel obtm rendimentos de natureza
predial. Face ao disposto no n. 1 do artigo 8. do Cdigo do IRS,
consideram-se rendimentos prediais as rendas dos prdios rsticos,
urbanos e mistos pagas ou colocadas disposio dos respetivos titulares,
quando estes no optarem pela sua tributao no mbito da categoria B.
Tal como j referimos anteriormente noutro artigo sobre esta matria, em
nossa opinio, esta opo deve ser bem ponderada uma vez que a mesma
tem as consequncias acima abordadas.
Os rendimentos obtidos pelo titular da explorao de alojamento local tm
enquadramento na categoria B como rendimentos empresariais.
c) O proprietrio do estabelecimento inicialmente tambm o
titular da explorao de alojamento local mas efetua
posteriormente uma cedncia de explorao
Nesta situao os rendimentos obtidos pelo titular da explorao de
alojamento local tm enquadramento na categoria B como rendimentos
empresariais tal como acima referido.
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Por seu lado, o proprietrio do estabelecimento obtm rendimentos
derivados da cesso temporria de explorao de estabelecimento, os
quais tm igualmente enquadramento na categoria B do IRS, conforme
previsto na alnea e) do n. 2 do artigo 3. do Cdigo do IRS.
Atividade de alojamento local exercida por um sujeito passivo no
residente
Os sujeitos passivos no residentes (singulares ou coletivos) que obtenham
em Portugal rendimentos derivados do arrendamento de imveis esto
obrigados a apresentar declarao de rendimentos (modelo 3 de IRS ou
modelo 22 de IRC) atravs de representante fiscal a designar para o efeito.
Caso o proprietrio do estabelecimento seja tambm o titular da explorao de
alojamento local estaremos perante uma situao que configura um
estabelecimento estvel.
Nos termos do n. 1 do artigo 5. do Cdigo do IRC, considera-se
estabelecimento estvel qualquer instalao fixa atravs da qual seja exercida
uma atividade de natureza comercial, industrial ou agrcola. A atividade de
alojamento local est intrinsecamente ligada ao imvel e dele no se pode
dissociar. atravs do imvel (instalao fixa) que a atividade se desenvolve,
configurando assim a existncia de um estabelecimento estvel.
A existncia de estabelecimento estvel determina, para efeitos de IRC, que a
entidade no residente tem obrigaes fiscais e contabilsticas idnticas s de
um sujeito passivo residente, sendo o seu lucro tributvel determinado nos
termos do artigo 55. do Cdigo do IRC.
O conceito de estabelecimento estvel constante do Cdigo do IRC aplicvel
ao IRS com as necessrias adaptaes, conforme determina o n. 3 do artigo
18. do Cdigo do IRS.
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Enquadramento da atividade de alojamento local em sede de IVA
No mbito do IVA, as diversas vertentes acima descritas obrigam anlise do
enquadramento de dois tipos de rendimentos:
a) Incidncia de IVA quanto s rendas recebidas;
b) Incidncia de IVA nas prestaes de servios de alojamento local.
Sobre esta temtica, aconselhamos a leitura da informao vinculativa da AT,
constante do processo n. 2570, cujas concluses foram sancionadas por
despacho do Subdiretor-Geral dos Impostos, na qualidade de substituto legal
do Diretor-Geral, em 2011-10-20 e as quais procuraremos aqui resumir.
A locao de imveis no Cdigo do IVA
A locao de bens imveis considerada uma prestao de servios sujeita a
IVA. No entanto, o princpio geral de tributao, segundo o qual o imposto
cobrado sobre qualquer prestao de servios efetuada a ttulo oneroso por
um sujeito passivo de imposto, prev determinadas derrogaes, entre as
quais, o n. 29 do artigo 9. do Cdigo do IVA, que determina que a locao
de bens imveis se encontra isenta, salvo nas situaes descritas nas
respetivas alneas a) a e).
A administrao fiscal tem utilizado um critrio preciso que permite distinguir
as situaes de locao do imvel pura e simples - mero arrendamento - das
outras situaes em que esse arrendamento, nas condies em que
realizado, proporciona ao locatrio um determinado valor acrescentado.
Assim, s se encontra isenta de IVA a locao de bens imveis para fins
habitacionais ou para fins no habitacionais - comerciais, industriais ou
agrcolas - quando for efetuada "paredes nuas", no caso de prdios urbanos ou
de parte urbana em prdios mistos, ou "apenas o solo" no caso de prdios
rsticos.
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O conceito "paredes nuas", no se limita ao facto de a locao ser
acompanhada ou no de determinados bens de equipamento, mobilirio ou
utenslios, est intrinsecamente relacionado com a aptido produtiva do
imvel, ou melhor, a preparao para o exerccio de um atividade empresarial.
No caso do alojamento local, o arrendamento dos imveis tem como objeto
nico a explorao de uma atividade econmica que extravasa, na opinio da
AT, a mera locao de bens imveis prevista no n. 29 do artigo 9. do Cdigo
do IVA.
Em resumo, a AT entende que o arrendamento de um imvel para o
desenvolvimento da atividade de alojamento local, pode no configurar um
mero arrendamento simples mas sim o arrendamento de um imvel com
aptido para o desenvolvimento da referida atividade, bastando observar-se
esta condio para afastar a iseno prevista no n. 29 do artigo 9. do
Cdigo do IVA.
IVA na prestao de servios de alojamento local
Os estabelecimentos de alojamento local efetuam servios em tudo similares
aos prestados em estabelecimentos do tipo hoteleiro se, para tal, vierem a ser
licenciados de acordo com a legislao j referida.
Assim, tais servios beneficiam do enquadramento na Verba 2.17 da Lista I,
anexa ao Cdigo do IVA e como tal esto sujeitos a IVA taxa reduzida.
A taxa reduzida aplica-se exclusivamente ao preo do alojamento, incluindo o
pequeno-almoo, se no for objeto de faturao separada, sendo equivalente
a metade do preo da penso completa e a trs quartos do preo da meia
penso.
Preparado em 2015-08-24 por Ablio Sousa para APECA