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8/14/2019 ENSINO DE BIOLOGIA E CIDADANIA: CONTRIBUINDO PARA A INCLUSO DE JOVENS ESTUDANTES NO ENSINO SUPERI
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UFPB-PRG XI Encontro de Iniciao Docncia
_______________________________________________________________________________________________________________________________
(1) Bolsista, (2) Voluntrio/colaborador, (3) Orientador/Coordenador, (4) Prof. colaborador, (5) Tcnico colaborador.
ENSINO DE BIOLOGIA E CIDADANIA: CONTRIBUINDO PARA A INCLUSO DE JOVENSESTUDANTES NO ENSINO SUPERIOR
Auricelio Oliveira de Almeida(1), Zoraida Maria de Medeiros Gouveia(3), Marslvio GonalvesPereira(4)
Centro de Cincias Exatas e da Natureza/Departamento de Sistemtica e Ecologia/PROLICEN
RESUMO
A prtica docente imprescindvel para a formao inicial de professores. Esta prtica prope
o desenvolvimento de diversas competncias como planejamento, realizao e avaliao de
aes pedaggicas, trabalho em grupo, domnio de conceitos do contedo a ser ensinado,
manejo de estratgias diferenciadas e utilizao de recursos de transmisso de contedos.
Alm disso, o docente deve levar em considerao a diversidade dos alunos, suas aspiraes
e os objetivos das atividades propostas. Este trabalho foi realizado com um grupo de alunos
carentes de Joo Pessoa-PB e de cidades circunvizinhas com o objetivo de integrar a prtica
docente com a incluso de jovens estudantes no ensino superior. O trabalho foi desenvolvido
nas dependncias da Parquia Santo Antnio de Lisboa no Bairro de Tamba em Joo Pessoa
- PB, onde os estudantes tiveram aulas de biologia em mdulos baseados nas anlises dos
temas mais freqentes nas provas do Processo Seletivo Seriado da UFPB. Os resultados se
demonstraram positivos em sala de aula, mas no satisfatrios no vestibular, o qual avalia os
alunos tambm em outras disciplinas. Conclumos que o confronto do docente em formao
com a realidade escolar mobiliza a criao de mtodos que suprem deficincias e incentivamos alunos a assumirem sua cidadania incluindo-os no ensino superior.
Palavras-chaves: Biologia e cidadania, Ensino de biologia, Formao docente.
1. Introduo
Educar para a cidadania. Este tem sido um slogan frequentemente ostentado por
muitas instituies de ensino em diversos paises e nos mais variados contextos. Mas qual o
real significado de cidadania?
Etimologicamente a palavra cidado deriva-se de civis, palavra latina comum de dois
gneros que designava apenas os habitantes das cidades que participavam das atividadespolticas e que gozavam de direitos (MACHADO, 1997). Isso pode, em determinadas situaes,
nos conduzir a uma noo errada e restrita do que realmente representa a idia de cidadania
nos tempos atuais.
No raro observar certa confuso entre essa idia e a de ter direitos. De fato, em
termos legais, ter direitos no mais privilgio de determinadas classes ou grupos sociais,
como explicita a Declarao Universal dos Direitos Humanos (DUDH) proclamada pela
Assemblia Geral das Naes Unidas em 10 de Dezembro de 1948. Desta forma educar para
4CCENDSEPLIC01
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a cidadania passa a ter um sentido muito mais amplo que o de simplesmente tornar o
individuo conhecedor e apto para exercer os seus direitos.
Educar para a cidadania significa formar cidado livres, responsveis, autnomos e
solidrios, provendo-os de instrumentos que os tornem capazes de manter, de forma motivada
e competente, um equilbrio entre os interesses pessoais e sociais (MACHADO,1997), no
excluindo a importncia do conhecimento e exerccio dos seus direitos e deveres.
Nesta perspectiva e de acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais, a escola tem
papel preponderante como uma instituio de educao formal, que deve ser entendida como
um ambiente de aprendizagem, onde se d a formao intelectual, tica, psico-motora, afetiva
e social do educando e a construo do exerccio pleno da cidadania (BRASIL, 2002). No
entanto, o acesso a um ensino de qualidade ainda privilgio de uma pequena parcela da
nossa sociedade. No que diz respeito ao ensino bsico, fundamental e mdio, a realidade
assustadora; crianas, jovens e adultos de classes menos favorecidas, por diversos motivosscio-econmicos, desvinculam-se de uma instituio de ensino e muitas vezes ficam fora da
faixa etria apropriada para o nvel de escolaridade em que se encontram. Aliada a isso, existe
uma estrutura poltica em que os incentivos prtica docente no so dos melhores,
principalmente nas instituies pblicas, que ainda mantm muitos dos seus docentes com
concepes, idias e atitudes tradicionais que, na maioria das vezes no despertam no
aprendiz o interesse em aprender, aumentando ainda mais o distanciamento escolar. Isso
contribui bastante para o acesso to restrito de jovens egressos de escolas pblicas ao ensino
superior no nosso pas.
Compreende-se, ento, a necessidade de conduzir os futuros professores, na sua
formao inicial, a partir das suas prprias concepes, a ampliar seus recursos e modificar
suas idias e atitudes de ensino (CARVALHO, 2003), tornando-os capazes de formar
indivduos que detenham o pleno exerccio da cidadania.
Este trabalho foi desenvolvido tendo-se essa realidade como pano de fundo, visando
diminuir a distncia entre esses jovens e a universidade de forma que se tornem cidados
ativos, crticos e transformadores do contexto social no qual esto inseridos.
Concomitantemente, este trabalho proporcionou um exerccio para a formao docente
inicial medida que abriu espao para a prtica de um estgio supervisionado tido comorequisito obteno do grau de licenciatura em cincias biolgicas da Universidade Federal da
Paraba, objetivando-se confrontar o docente em formao com uma realidade com a qual
possivelmente se deparar no exerccio da sua profisso, proporcionando oportunidades para
reflexes sobre a prtica de ensino de Biologia a qual, segundo BAPTISTA (2003), j no pode
mais se ater ao modelo da racionalidade tcnica. Este trabalho tambm teve como objetivo
capacitar o estagirio a prover meios para detectar possveis deficincias de aprendizagem
nesses jovens e, a partir disso, encontrar solues para corrigi-las tornando-os aptos a
ressignificarem determinados conceitos e incorporarem novos de forma a abrir-lhes caminhos
de acesso a um curso superior.
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2. Descrio
Este artigo apresenta o desenvolvimento de um projeto de extenso universitria que
integra a universidade com a sociedade articulando o ensino, pesquisa e extenso, no
processo de formao inicial do docente voltando-se para o planejamento, execuo e
avaliao do ensino de jovens carentes egressos de escolas pblicas em um cursinho
preparatrio pr-vestibular.
As atividades desenvolvidas no transcorrer desse projeto voltaram-se para os seguintes
aspectos em ordem cronolgica:
1. elaborao de questionrios sobre o perfil scio-econmico dos estudantes e sobre as
principais dificuldades que possuem no aprendizado de Biologia;
2. pesquisa e levantamento dos temas mais freqentes nas provas do Processo Seletivo
Seriado - PSS;3. elaborao de mdulos de material didtico (apostilas, lista de exerccios, esquemas, mapas
e quadros conceituais) relacionados aos temas propostos no item anterior;
4. elaborao de um plano de ao baseado nos itens 1 e 2 e voltado para o mximo
aproveitamento dos temas ministrados;
5. aplicao dos mdulos de material didtico em aulas de 80 minutos a cada quinze dias;
6. avaliao do desempenho dos estudantes com base em dados fornecidos pela Comisso
Permanente do Concurso Vestibular - COPERVE.
O cursinho pr-vestibular para o qual se voltou este trabalho funciona desde 2001 nas
dependncias da Parquia Santo Antnio de Lisboa (foto 1), situada no Bairro de Tamba,
zona praiana da cidade de Joo Pessoa-PB, coordenado desde ento pelo Professor
Raimundo Nonato e por sua esposa. O cursinho tem carter filantrpico sem fins lucrativos que
conta com o auxlio de doze professores voluntrios, alguns dos quais so aposentados por
instituies federais ou estaduais de ensino mdio ou superior, alunos voluntrios e um bolsista
do curso de cincias biolgicas da Universidade Federal da Paraba.
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Foto 1. Vista externa da
frente da Parquia Santo
Antnio de Lisboa.
3. Metodologia
3.1. Obteno de dados sobre o perfil scio econmico dos estudantes e sobre
suas principais dificuldades na compreenso de temas de biologia
Com o objetivo de se ter acesso ao perfil social, econmico e cultural dos estudantes,
foram aplicados questionrios em que se obtiveram dados sobre: sexo, faixa etria,renda
familiar, rea para a qual pretende prestar vestibular, que conceitos tinham sobre a biologia, os
temas da biologia considerados mais difceis, etc.
3.2. Pesquisa e levantamento dos temas mais freqentes nas provas do ProcessoSeletivo Seriado - PSS
Procedeu-se uma anlise detalhada dos contedos presentes nas provas de biologia do
Processo Seletivo Seriado - PSS/UFPB que foram aplicadas entre os anos 2000 e 2007. No
decorrer dessa anlise foi feito um levantamento quantitativo dos temas mais freqentes
abordados nas provas relativas 1, 2 e 3 sries do ensino mdio. Para as provas de biologia
de cada srie foi calculada a freqncia percentual de cada tema de acordo com o contedo
programtico contido no manual do candidato como descrito a seguir:
A. Contedo da 1 srie (PSS 1)
- Introduo biologia
- Citologia
- Embriologia
- Histologia Animal
B. Contedo da 2 srie (PSS 2)
- Introduo taxonomia
- Vrus
- Reno Monera
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- Reino Protista
- Reino Fungi
- Reino Plantae
- Reino Animalia
A. Contedo da 3 srie (PSS 3)
- Anatomia e fisiologia humana
- Gentica
- Ecologia
- Evoluo
3.3. Elaborando os mdulos de material didtico
O material didtico utilizado em sala de aula foi elaborado levando-se em considerao:
- o grau de conhecimento que os estudantes detinham sobre temas diversos da biologia- as principais dificuldades na aprendizagem da disciplina
- os temas mais freqentes nas provas de biologia do PSS
- os recursos udio-visuais disponveis em sala de aula.
3.4. Elaborando um plano de ao
As aulas foram planejadas de acordo com o nvel de instruo dos alunos,
considerando-se os contedos abordados com maior freqncia nas provas do PSS e as
dificuldades que os estudantes enfrentam na assimilao desses contedos.
3.5. Ministrando as aulas
Por um perodo de 80 minutos, as aulas foram ministradas nas manhs dos Sbados, a
cada quinze dias. Durante as aulas os estudantes foram confrontados com os temas de
biologia de forma dinmica, interativa (com o uso e produo de mapas e quadros conceituais),
atrativa (com o uso de recursos diversos como retroprojetor e vdeo) e proveitosa.
Ao trmino da exposio dos temas, foram feitos diversos exerccios de fixao atravs
os quais os estudantes tiveram oportunidades de aplicar o conhecimento adquirido e se
familiarizar com os tipos de questes apresentadas nas provas do PSS.
3.6. Avaliando o desempenho dos estudantes
Os estudantes foram avaliados continuamente durante as aulas. O desempenho de
cada aluno no PSS foi analisado posteriormente, aps os resultados divulgados na internet
pela COPERVE.
4. Resultados
Com base nos dados levantados nos questionrios, constatou-se uma freqncia maior
de estudantes do sexo feminino (83%) com faixa etria que variou entre vinte e quarenta anos.
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Grande parte destes esto entre 3 e 15 anos sem estudar. Muitos dos que iniciam o cursinho
no chegam at o fim e desistem de fazer as provas do PSS.
As aulas no cursinho pr-vestibular so freqentadas por estudantes, na grande maioria,
de famlias com renda mdia de um salrio mnimo. Estes se deslocam, muitas das vezes, de
locais distantes ou de cidades circunvizinhas em nibus coletivo, de bicicleta e mesmo a p.
A maioria desses jovens tem despertado maior interesse em cursos superiores nas
reas das Cincias Humanas e Exatas. Uns poucos aspiram a um curso na rea das Cincias
da Sade. A concorrncia e a oferta de vagas influenciaram bastante esse resultado.
Grande parte dos alunos admitiram a biologia como uma rea interessante de estudo.
Muitos destes, no entanto, elencaram como temas mais difceis de serem compreendidos a
gentica, seguida pelo ciclo celular e zoologia. As razes foram as mais diversas, dentre as
quais os termos e as notaes utilizadas e o grau de abstrao envolvido na compreenso do
assunto.De fato, a falta de estrutura e de instrumentos dificultam bastante a possibilidade de
complementar a teoria com aulas prticas em diversas escolas. Temas como a diviso celular,
por exemplo, requerem uma complementao prtica para ser melhor assimilado. No tocante
terminologia utilizada na gentica e na zoologia, cabe ao docente explicar a etiologia da
palavra o que, em muitos casos, ajuda a entender o conceito a que a palavra se refere.
Os dados relativos anlise dos temas mais freqentes nas provas do PSS/UFPB
revelaram os seguintes resultados:
A. Na prova do PSS 1 (correspondente 1 srie) prevaleceram os assuntos de CITOLOGIA
com 56% (grfico 1).
B. Na prova do PSS 2 (correspondente 2 srie) os assuntos mais freqentes foram a
ZOOLOGIA (34%) seguida da BOTNICA (32%).
C. Na prova do PSS 3 (correspondente 3 srie) as questes de GENTICA estiveram mais
freqentes perfazendo um total de 30% em relao s demais. A ECOLOGIA, com 26% das
questes, tambm foi bastante explorada.
17%
56%
14%
13%
Introduo Biologia
Citologia
Embriologia
Histologia Animal
Grfico 1. Percentual
dos contedos
presentes nas provas
do PSS 1 analisadas
entre os anos 2000 e
2007.
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3% 8%
9%6%
8%
32%
34%
Introduo
taxonomia
Vrus
Reino Monera
Reino Protista
Reino Fungi
Botnica
Zoologia
Grfico 2. Percentual
dos contedos
presentes nas provas
do PSS 2 analisadas
entre os anos 2000 e
2007.
20%
26%
24%
30%
Anatomia eFisiologia Humana
Gentica
Ecologia
Evoluo
Grfico 3.
Percentual dos
contedos presentes
nas provas do PSS 3
analisadas entre os
anos 2000 e 2007.
Atravs da resoluo de exerccios e dos debates ocorridos em sala de aula, os
estudantes demonstraram ter incorporado grande parte do contedo de biologia ministrado.
Isso tambm ficou claro medida em que se constatou uma melhora no nvel das perguntas
feitas ao professor.
Entretanto, o mesmo desempenho no foi detectado na avaliao da COPERVE atravs
do PSS 2008, pois dos 25 estudantes que realizaram as provas nenhum conseguiu aprovao.
Este resultado tambm foi observado nos anos de 2002 e 2006.
5. Concluso
Os resultados apresentados levaram-nos a concluir que:
1. O acesso ao ensino superior aspirao de muitos jovens carentes que, na falta de
recursos para pagar um cursinho pr-vestibular particular, recorrem a aulas em cursinhos grtis
mantidos por voluntrios. Isso constatado pelo imenso esforo que os estudantes despendem
para assistirem s aulas.
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2. Muitos jovens optam por cursos das Cincias Humanas e das Cincias Exatas, pois
muitos apresentam baixa concorrncia o que facilita o acesso desses jovens universidade.
3. O planejamento do material didtico e os planos de aula baseados na anlise dos
temas mais freqentes nas provas do PSS ajudaram os estudantes a ter um bom desempenho
na prova de biologia do vestibular. Provavelmente este mtodo tambm ajudaria nas outras
disciplinas.
4. O cursinho proporciona um espao formativo para o exerccio da prtica de ensino de
Biologia de formandos do curso de Licenciatura em Cincias Biolgicas da UFPB. Neste
espao o docente em fase de formao confrontado com a realidade de muitos jovens e
desafiado a buscar solues que os auxiliem no processo de aprendizagem e que os ajudem a
ter acesso ao ensino superior.
O educar para a cidadania um desafio para o docente, principalmente para aquele em
formao. Ao se deparar com a realidade de muitos jovens que sonham em cursar um nvelsuperior de ensino e que no tm ou no tiveram acesso a uma educao bsica de qualidade,
o docente mobilizado a encontrar meios que recuperem essa deficincia, ainda que estes
meios constituam meras pontes que conduzam esses jovens a um ensino superior e que os
tornem, na prtica, verdadeiros cidados.
REFERNCIAS
BRASIL, MEC/Secretaria de Ensino Mdio. Parmetros Curriculares Nacionais (PCN)
Braslia, 2002.
BAPTISTA, Geilsa C. S. A importncia da reflexo sobre a prtica de ensino para a formao
docente inicial em cincias biolgicas. Revista Ensaio, vol. 5, n 2, 2003.
CARVALHO, A M. P. de. A Inter-relao entre a Didtica das Cincias e a Prtica de Ensino.
In: SALES, S. E. & FERREIRA, M. S. Formao Docente em Cincias: Memrias e Prticas.
Niteri: Eduff, 2003, 117-135 p.
MACHADO, N. J.Ensaios Transversais: cidadania e educao. So Paulo: Escrituras Editora,
1997.