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1AULA Pressupostos e origem da Sociologia Nelson Dacio Tomazi INICIANDO NOSSA CONVERSA Ao longo da história da humanidade encontramos mui-tas teorias e explicações sobre a vida em sociedade e sobre os mais variados e diversos acontecimentos sociais, políticos e econômicos. Mas é somente no século XIX que surge a Socio- logia como um ramo de conhecimento específico tendo essa preocupação científica como objeto de estudo. Deste modo, em um primeiro momento vamos abordar uma série de acontecimentos que têm por finalidade oferecer uma visão do processo histórico que fundamenta e contri-bui para o surgimento da Sociologia. Esperamos assim que todo(a)s estejam disposto(a)s a empreender esta viagem, esta “aventura histórico-sociológica”. PROPONDO OBJETIVOS Ao final desta aula o(a) cursista deverá: Entender os pressupostos históricos-políticos, sociais e econômicos e culturais que fundamentam o surgimento da Sociologia. Demonstrar como o pensamento social foi se estruturando e sendo estruturado historicamente até o início do século XIX, quando as circunstâncias históricas criaram as condições para que a Sociologia surgisse como uma nova forma de ver, pensar e agir, isto é, como uma nova configuração do saber sobre a sociedade humana. Conhecer os principais pensadores que fundamenta- ram a emergência da Sociologia. CONHECENDO SOBRE Os antecendentes e a origem da Sociologia As transformações no Ocidente e as novas formas de pensar a sociedade A Sociologia surge como um corpo de ideias que se preo- cupa com o processo de constituição, consolidação e desen- volvimento da sociedade moderna. Ela é fruto da Revolução Industrial e, nesse sentido, é denominada “ciência da crise”, porque procura dar respostas às questões sociais colocadas por esta Revolução que, num primeiro momento, altera toda a sociedade europeia e, depois, a maior parte do mundo. Ela não surge de repente, como num passe de mágica, ou da reflexão de algum autor iluminado; ela é fruto de todo um conhecimento sobre a natureza e a sociedade, que se desen-volve a partir do século XV, quando ocorrem grandes mudan-ças decorrentes da transformação da sociedade feudal e cons-tituição da sociedade capitalista. Essas transformações a expansão marítima, as reformas protestantes, a formação dos Estados nacionais, as grandes navegações e o comércio ultra-marino, bem como o desenvolvimento científico e tecnológico estão todas vinculadas entre si e não podem ser entendidas de forma isolada. Elas são o pano de fundo que pode iluminar o movimento intelectual que altera profundamente as formas de explicar a natureza e a sociedade. Expansão marítima (as grandes navegações) Trata-se de um grande acontecimento configurado pela circum-navegação da África e pelo descobrimento da rota para as Índias e para a América. A definição de um “novo mundo”, territorialmente muito mais amplo, com novos po-vos, novas culturas, novos formas de explicar as coisas, exigiu a reformulação do modo de ver e de pensar dos europeus. Ao mesmo tempo em que novos povos e novas culturas foram conhecidos, colônias eram instaladas na África Negra, na Ásia e na América, acarretando com isso a expansão do co-

Ensino de Sociologia

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    AU

    LA

    Pressupostos e origem da Sociologia

    Nelson Dacio Tomazi

    INICIANDO NOSSA CONVERSA

    Ao longo da histria da humanidade encontramos mui-tas

    teorias e explicaes sobre a vida em sociedade e sobre os

    mais variados e diversos acontecimentos sociais, polticos e

    econmicos. Mas somente no sculo XIX que surge a Socio-

    logia como um ramo de conhecimento especfico tendo essa

    preocupao cientfica como objeto de estudo. Deste modo, em um primeiro momento vamos abordar

    uma srie de acontecimentos que tm por finalidade

    oferecer uma viso do processo histrico que fundamenta

    e contri-bui para o surgimento da Sociologia. Esperamos

    assim que todo(a)s estejam disposto(a)s a empreender esta

    viagem, esta aventura histrico-sociolgica.

    PROPONDO OBJETIVOS

    Ao final desta aula o(a) cursista dever:

    Entender os pressupostos histricos-polticos, sociais e econmicos e culturais que fundamentam o surgimento da

    Sociologia. Demonstrar como o pensamento social foi se

    estruturando e sendo estruturado historicamente at o incio

    do sculo XIX, quando as circunstncias histricas criaram as

    condies para que a Sociologia surgisse como uma nova

    forma de ver, pensar e agir, isto , como uma nova

    configurao do saber sobre a sociedade humana.

    Conhecer os principais pensadores que fundamenta-ram a emergncia da Sociologia.

    CONHECENDO SOBRE

    Os antecendentes e a origem da Sociologia

    As transformaes no Ocidente e as novas formas de pensar a sociedade

    A Sociologia surge como um corpo de ideias que se preo-

    cupa com o processo de constituio, consolidao e desen-

    volvimento da sociedade moderna. Ela fruto da Revoluo

    Industrial e, nesse sentido, denominada cincia da crise,

    porque procura dar respostas s questes sociais colocadas por

    esta Revoluo que, num primeiro momento, altera toda a

    sociedade europeia e, depois, a maior parte do mundo. Ela no surge de repente, como num passe de mgica, ou da

    reflexo de algum autor iluminado; ela fruto de todo um

    conhecimento sobre a natureza e a sociedade, que se desen-volve

    a partir do sculo XV, quando ocorrem grandes mudan-as

    decorrentes da transformao da sociedade feudal e cons-tituio

    da sociedade capitalista. Essas transformaes a expanso

    martima, as reformas protestantes, a formao dos Estados

    nacionais, as grandes navegaes e o comrcio ultra-marino, bem

    como o desenvolvimento cientfico e tecnolgico

    esto todas vinculadas entre si e no podem ser entendidas

    de forma isolada. Elas so o pano de fundo que pode iluminar

    o movimento intelectual que altera profundamente as formas

    de explicar a natureza e a sociedade. Expanso martima (as grandes navegaes)

    Trata-se de um grande acontecimento configurado pela

    circum-navegao da frica e pelo descobrimento da rota para as

    ndias e para a Amrica. A definio de um novo mundo,

    territorialmente muito mais amplo, com novos po-vos, novas

    culturas, novos formas de explicar as coisas, exigiu a

    reformulao do modo de ver e de pensar dos europeus. Ao mesmo tempo em que novos povos e novas culturas foram

    conhecidos, colnias eram instaladas na frica Negra, na sia e

    na Amrica, acarretando com isso a expanso do co-

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    As grandes navegaes portuguesas...

    mrcio entre as metrpoles e os novos territrios, bem

    como entre os pases europeus. Com o surgimento de novas

    mer-cadorias (sedas, especiarias, produtos tropicais como

    acar, milho, tabaco e caf, entre outros) nasceu e cresceu

    a possibili-dade de um mercado muito mais amplo e com

    caractersticas mundiais. A explorao de metais preciosos, principalmente na

    Amrica, e o trfico de escravos para suprir a mo de obra

    nas colnias, deram grande impulso ao comrcio, que no

    ficou mais restrito aos mercadores das cidades-repblicas

    (Vene-za, Florena ou Flandres), passando tambm para as

    mos de grandes comerciantes e dos soberanos dos grandes

    Estados nacionais em formao na Europa. Toda essa expanso territorial e comercial acelerou o

    de-senvolvimento da economia monetria, com a

    acumulao de capitais pela burguesia comercial que,

    mais tarde, ter uma importncia capital na gestao do

    processo de industrializa-o da Europa.

    Surgimento do Estado Moderno

    As mudanas que se operavam nas formas de se produzir a

    riqueza s poderiam funcionar se ocorressem modificaes na

    estruturao poltica. Assim, pouco a pouco vai se desen-

    volvendo uma estruturao estatal com base na centralizao

    da justia e com um novo sistema jurdico baseado no Direi-

    to Romano. Houve tambm a centralizao da fora armada

    com a formao de um exrcito permanente, e a centralizao

    administrativa com um aparato burocrtico ordenado hierar-

    quicamente e um sistema de cobrana de impostos com uma

    arrecadao constante para manter todo esse aparato jurdico,

    burocrtico e militar sob um nico comando. Nascia, dessa

    forma, o Estado moderno, que veio favorecer tanto a expanso

    das atividades vinculadas ao desenvolvimento da produo

    txtil quanto minerao, a siderurgia, bem como o comrcio

    interno e externo.

    Reforma protestante

    O sculo XVI conheceu outro movimento chamado Refor-ma

    Protestante. Ao entrar em conflito com a autoridade papal e a

    estrutura da Igreja, este movimento criou uma tendncia que

    valorizava o indivduo ao permitir a livre leitura das Es-crituras

    Sagradas que se confrontava com o monoplio do cle-ro na

    interpretao baseada na f e nos dogmas. Vrias partes do mundo

    ocidental passaram no apenas a interpretar as Escrituras

    Sagradas como tambm a estabelecer uma relao particular com

    Deus, sem a intermediao dos ministros da Igreja. A Reforma

    pde assim se vincular a uma tradio de resistncia autoridade

    e tradio que preparou a Ilustrao (o Iluminismo). As figuras

    centrais dessa reao foram Marti-nho Lutero (1483-1546) e Joo

    Calvino (1509-1564).

    Assim, havendo uma nova maneira de se relacionar

    com as coisas sagradas, houve tambm um movimento

    no sentido de se analisar o universo de outra forma. A

    razo passou a ser soberana e passou a ser o elemento

    essencial para se co-nhecer o mundo; isto , os homens

    deveriam ser livres para julgar, avaliar, pensar e emitir

    opinies sem se submeterem a nenhuma autoridade

    transcendental ou divina, que tinha na Igreja Romana a

    sua maior defensora e guardi (ao menos no Ocidente). Do sculo XV ao sculo XVII, o conhecimento racional do

    universo e da vida em sociedade comeou a ser uma re-gra

    seguida por alguns pensadores. Foi uma mudana lenta,

    sempre provocando embates contra o dogmatismo e a auto-

    ridade da Igreja, a exemplo do Conclio de Trento (1545-1563) e

    dos processos da Inquisio. Estes procuraram impedir toda e

    qualquer manifestao que pudesse pr em dvida a autori-

    dade eclesistica, tanto no campo da f quanto no campo do

    conhecimento secular que propunha novas explicaes para a

    sociedade e a natureza. Essa nova forma de conhecer e explicar a natureza e a so-ciedade,

    em que a experimentao e a observao se torna-ram fundamentais,

    apareceu nesse momento representada pelo pensamento e pelas obras

    de diversos autores, entre os quais podemos citar Nicolau Maquiavel

    (1469-1527); Erasmo de Rotterdam (1466-1536); Nicolau Coprnico (1473-

    1543); Galileu Galilei (1564-1642); Thomas Hobbes (1588-1679); Francis Bacon (1561-1626); Ren Descartes (1596-1650) e Baruch Spinoza (1632-1677).

    Alm desses pensadores existiram outros que fizeram a

    ponte entre esses novos conhecimentos e os que se desenvol-

    veram no sculo seguinte: John Locke (1632-1704); Leibniz (1646-

    1716) e Isaac Newton (1642-1727), que propuseram novos

    princpios para a compreenso da sociedade e da natureza. Nesses dois sculos, XVI e XVII, encontramos na arte e na

    literatura as obras de alguns dos maiores artistas ocidentais que

    ainda hoje so importantes para entendermos alguns ele-mentos

    da sociedade de ento. Entre outros, podemos citar:

  • Leonardo di ser Piero da Vinci (1452-1519) pintor/escultor/cientista;

    Michelangelo di Ludovico Buonarroti Simoni (1475-1564) escultor/pintor;

    Rafael Sanzio (1483-1520) pintor; Pieter Brueghel (1525/1530-1569) pintor; El Greco Domnikos Theotokpoulos

    (1541-1614) pintor; Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669) pintor; Lus Vaz de Cames (1524-1580) escritor/poeta; Michel Eyquem de Montaigne

    (1533-1592) filsofo/escritor; Miguel de Cervantes Saavedra (1547-

    1616) poeta/escritor; William Shakespeare (1564-1616)

    dramaturgo/poeta;

    Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molire (1622-1673) dramaturgo.

    As transformaes no sculo XVIII

    No final do sculo XVII, na maioria dos pases europeus, a

    burguesia comercial, formada basicamente por comerciantes e

    banqueiros, tornou-se uma classe com muito poder, devido, na

    maior parte das vezes, aos vnculos econmicos mantidos com as

    monarquias. Essa classe, alm de sustentar ativo o co-mrcio

    entre os pases europeus, estendia os seus tentculos a todos os

    pontos do mundo, at no mais poder, comprando e vendendo

    mercadorias, tornando o mundo cada dia mais europeizado,

    impondo seu modo de vida, sua religio, seus costumes e crenas.

    Em bem pouco tempo o mundo no seria mais o mesmo que tinha

    sido at ento.

    O capital mercantil se estendeu tambm a outro ramo de

    atividade que gradativamente se organizava: a produo

    ma-nufatureira. A compra de matrias-primas e a

    organizao da produo, fossem atravs do trabalho

    domiciliar ou do tra-balho em oficinas, levavam ao

    desenvolvimento de um novo processo produtivo em

    contraposio ao das corporaes de ofcio. Ao se desenvolver a manufatura, os organizadores da pro-

    duo passaram a se interessar cada vez mais pelo aperfei-

    oamento das tcnicas de produo, visando produzir mais

    com menos gente, aumentando significativamente os seus

    lucros. Para tanto, procuravam investir nos inventos, isto ,

    buscavam financiar a criao de mquinas que pudessem ter

    aplicao no processo produtivo. Assim, o conhecimento cien-

    tfico, gradativamente, passou a ter reconhecimento e tornou

    possvel desenvolver novas tecnologias para potencializar a

    produo. Desse modo, criou-se a mquina de tecer, a mquina de

    descaroar algodo, bem como teve inicio a aplicao indus-

    trial da mquina a vapor e de outros tantos inventos

    destina-dos a aumentar a produtividade do trabalho.

    Desenvolveu-se ento o fenmeno que veio a ser

    chamado de maquinofatura. O trabalho que os homens

    realizavam com as mos ou com ferramentas passava, a

    partir de ento, a ser feito por meio de mquinas,

    elevando muito o volume da produo de merca-dorias. A presena da mquina a vapor, que podia mover outras tantas

    mquinas, incentivava o surgimento da indstria cons-trutora de

    mquinas e, consequentemente, incentivava toda a indstria

    voltada para a produo de ferro e, posteriormente, de ao.

    importante lembrar que, j no final do sculo XVIII, produziu-se

    o ferro e o ao, com a utilizao do carvo mineral.

    Nesse mesmo contexto de profundas alteraes no pro-

    cesso produtivo encontrava-se tambm a utilizao cada

    vez mais crescente do trabalho mecnico convivendo com

    o tra-balho artesanal. A maquinofatura se completava com

    o tra-balho assalariado, a se incluindo a utilizao, numa

    escala crescente, da mo de obra feminina e da infantil. Ao mesmo tempo, longe da Europa, mas ainda vinculada a ela,

    havia a explorao do ouro no Brasil, da prata no Mxico e do

    algodo nos Estados Unidos da Amrica e na ndia, onde, na

    maioria dos casos, essas atividades se desenvolveram com a

    utilizao do trabalho escravo ou servil. Esses elementos,

    conjugados, asseguravam as bases do processo de acumulao

    necessria para a expanso da indstria na Europa.

    Todas essas mudanas, somadas herana cultural e in-

    telectual do sculo XVII, definiram o sculo XVIII como um

    sculo explosivo. Se no sculo anterior a Revoluo Inglesa

    determinou novas formas de organizao poltica, foi no s-

    culo XVIII que tanto a Revoluo Americana quanto a Fran-

    cesa alteraram todo o quadro poltico ocidental, servindo de

    exemplo e parmetro para revolues polticas posteriores. As transformaes na esfera da produo, a emergncia de

    novas formas de organizao poltica e a exigncia da repre-

    sentao popular iro dar caractersticas muito especficas a esse

    sculo, em que pensadores como Charles de Montesquieu (1689-1755); Voltaire (1694-1778); Denis Diderot (1713-1784) Jean le Rond dAlembert (1717-1783); David Hume (1711-1776); Jean-Jaques Rous- seau (1712-1778); Adam Smith (1723-1790) e Immanuel Kant (1724-1804), entre outros, buscaram, por caminhos s vezes

    divergentes, refletir e explicar a realidade de ento. Nas diferentes expresses artsticas (msica, pintura,

    poe-sia, literatura), vrios nomes expressaram elementos

    daquela realidade que nos servem de base para entender

    aquele pero-do. Entre outros, podemos lembrar:

    Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741) compositor; Johann Sebastian Bach (1685-1750) compositor; Johann Chrysostom Wolfgang Amadeus Mozart

    (1756-1791) compositor; Francisco Jos de Goya y Lucientes (1746-1828) pintor;

    2 Mdulo Disciplina 1: Histria da Sociologia 1 Aula: Pressupostos e origem da Sociologia 17

  • Livro_Soc_Mod_2.indb 17 15/08/13 15:17

  • Friedrich von Schiller (1759-1805) filsofo/escritor; Johann Wolfgang von Goethe

    (1749-1832) poeta/escritor; Franz Joseph Haydn (1732-1809) compositor; Ludwig van Beethoven (1770-1827) compositor; George Gordon Byron, mais conhecido

    como Lord Byron (1788-1824) poeta; Henri-Marie Beyle, mais conhecido

    como Stendhal (1783-1842) poeta.

    A consolidao da sociedade capitalista e o surgimento

    de uma cincia da sociedade no sculo XIX

    O sculo XIX um sculo de profundas transformaes,

    que passam desde a emergncia de novas fontes energticas

    (eletricidade e petrleo) como por novas atividades indus-

    triais e uma profunda alterao nos processos produtivos, com

    a introduo de novas mquinas e equipamentos. No incio desse sculo, depois de trezentos anos de

    ex-plorao colonialista, teve incio, principalmente nas

    naes latino-americanas, um processo intenso de lutas

    pela inde-pendncia. No continente europeu, resqucios

    da atividade monrquica, no republicana, perpetuavam

    a existncia de Estados no unificados (com uma nica

    autoridade e a sepa-rao das questes pblicas das

    privadas), como na Alemanha e na Itlia. no sculo XIX, quando est ocorrendo o processo de

    consolidao do sistema capitalista na Europa, que encontra-

    mos as heranas intelectuais que iro colaborar para o surgi-

    mento da Sociologia como cincia. No incio desse sculo, o

    pensamento de Saint-Simon (1760-1825); de G. W. E. Hegel (1770-

    1830); de David Ricardo (1772-1823) e de Charles Darwin (1809-

    1882), entre outros, ser o elo para que Alxis de Tocqueville

    (1805-1859); Au-guste Comte (1798-1857), Karl Marx (1818-1883) e

    Herbert Spencer (1820-1903) desenvolvam suas reflexes sobre a

    sociedade e o tempo em que esto vivendo. Tambm nas artes, na literatura, expresses significativas,

    necessrias e fundamentais nos auxiliam no entendimento da

    sociedade desse sculo de revolues (cientficas, sociais, po-

    lticas e econmicas). Entre outros nomes, podemos lembrar:

    O pintor Ferdinand Victor Eugne Delacroix (1798-1863) e o poeta Christian Johann Heinrich Heine (1797-1856);

    Os escritores Honor de Balzac (1799-1850), Victor-Marie Hugo (1802-1885) e Charles John Huffam Dickens (1812-1870);

    O compositor e pianista Frdric Chopin (1810-1849), os compositores Georges Alexandre Csar Lopold Bizet

    (1838-1875), Robert Alexander Schumann (1810-1856) e Jakob

    Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847); Os escritores Alexandre Dumas (Dumas Davy de la

    Pailleterie) (1802-1870); Nikolai Vasilievich Gogol (1809-1852);

    Gustave Flaubert (1821-1880); Charles Lutwidge Dodgson; ou Lewis Carrol (1832-1898) e Emile Zola (1840-1902).

    So mltiplas as alternativas para se analisar as obras e os

    autores que influenciaram o surgimento da Sociologia, e

    conforme Raymond Aron, em seu livro As etapas do pensa-

    mento sociolgico, deveramos comear por Montesquieu,

    passando por Comte, Marx e Tocqueville para, depois, ana-

    lisar Durkheim, Weber e Pareto. Outros autores, como Michel

    Llalement e Nicholas Timasheff, incluem Herbert Spencer en-

    tre os precursores da Sociologia. Mas, para o cumprimento dos objetivos aqui propostos,

    escolhemos analisar apenas duas grandes tradies de pen-

    samento: a positivista e a socialista. A justificativa

    entender-mos serem essas as duas grandes correntes de

    pensamento que mais influenciaram o desenvolvimento da

    Sociologia no Brasil. Assim, para comear esta viagem, entendemos ser

    im-portante visitar o autor que influenciou as duas

    vertentes escolhidas: seu nome, Saint Simon.

    Saint-Simon (1760-1825) e a nova cincia da sociedade

    Claude-Henri de Rouvroy Conde de Saint-Simon era

    descendente de uma famlia aristocrtica muito antiga na

    Frana, e por isso teve uma excelente educao para sua poca,

    inclusive tendo como professor o ento clebre dAlembert,

    um dos autores da Enciclopdia (obra de capital importncia

    do Iluminismo). Por ser aristocrata, teve que ir para o exrcito,

    chegando a se tornar coronel. Esta situao, alm de lev-lo a

    participar da luta pela libertao dos Estados Unidos da Am-

    rica, permitiu que viajasse para a Espanha, para a Holanda,

    sempre como um profundo observador do que estava aconte-

    cendo na Europa. A Revoluo Francesa modificou a sua condio.

    Mesmo como aristocrata, estava convencido que o

    antigo regime es-tava corrompido e corrompia, e no

    podia durar muito mais, mas no aceitava a violncia e a

    destruio do movimento re-volucionrio de ento.

    Entretanto, os novos ventos da Revolu-o o atingiram,

    e Saint-Simon renunciou ao ttulo de Conde, passando a

    se chamar Claude Henri Bonhomme, um nome plebeu. A partir de ento se envolveu em negcios compromete-

    dores, sendo inclusive preso por isso. Mais tarde foi solto e

    iniciou uma nova fase da vida ao viajar novamente para ou-

    tros lugares da Europa-Sua, Inglaterra e Alemanha mas j

    com a ideia ampla de formular uma filosofia da cincia capaz

    de unificar todos os fenmenos naturais e sociais. Alm dis-

    so, Saint-Simon tinha um objetivo que nunca deixou de lado:

    reorganizar as sociedades europeias tendo, por fundamento, a

    cincia e a indstria.

    18 2 Mdulo Disciplina 1: Histria da Sociologia 1 Aula: Pressupostos e origem da Sociologia Livro_Soc_Mod_2.indb 18 15/08/13 15:17

  • As suas ideias influenciaram as ideias tanto de

    Auguste Comte, e depois de E. Durkheim, quanto de

    Karl Marx. Mas que ideias eram essas que puderam

    influenciar dois autores to antagnicos em suas formas

    de ver e analisar o mundo em que viviam? Concepo de histria: Saint-Simon entendia que a

    hist-ria marcha atravs de uma srie de afirmaes e

    negaes que daro lugar a momentos mais altos. Defendia

    uma regra geral: o apogeu de um sistema coincide com o incio

    de sua deca-dncia. Para ele, existiam trs grandes momentos

    na histria ocidental. A primeira poca orgnica seria a da

    Antiguidade greco-romana, e a primeira poca crtica seria a

    das invases brbaras. A segunda orgnica seria a da Idade

    Mdia, e a sua crtica se estende do Renascimento at a

    Revoluo Francesa. A terceira poca orgnica seria a que ele

    vislumbrava: a do industrialismo. As classes sociais: para Saint-Simon, em todas as

    pocas sempre houve uma estrutura de classes dividida entre

    domi-nantes e dominados, e a histria da humanidade se

    explicaria pelas contradies entre elas. Mas Saint-Simon no

    pensava na superao dessas classes por uma outra sociedade,

    pois imaginava a possibilidade de uma harmonizao entre as

    mesmas, com uma justia policlassista. No tempo em que vi-

    veu, e na sociedade francesa em particular, ele afirmava exis-

    tirem duas grandes classes: a dos ociosos (a realeza, a aristo-

    cracia e o clero, os militares e a burocracia que administrava a

    estrutura destes, que nada produziam) e a dos produtores ou

    industriais (cientistas, engenheiros, mdicos, banqueiros,

    comerciantes, industriais, artesos, lavradores trabalhadores

    braais, enfim, todos os cidados teis para o desenvolvimen-

    to da Frana). Novos dirigentes: para que a sociedade ps-

    revolucion-ria na Frana se firmasse, Saint-Simon acreditava

    ser neces-srio que a cincia tomasse o lugar da autoridade

    religiosa da Igreja, formando assim uma nova elite, agora

    cientfica. A cincia deveria substituir a religio como fora

    de coeso. Os cientistas substituiriam os clrigos e os

    industriais os senho-res feudais, e a aliana dos cientistas com

    os industriais con-formaria a nova classe dirigente. Os que

    estariam na direo deveriam ser os mais capazes em cada

    campo, por conhece-rem e saberem mais sobre a sociedade:

    seriam os cientistas que a estudam e os industriais que, pela

    prtica, sabem o que funciona melhor. Desde 1803 Saint-Simon escreveu uma srie de livros que

    demonstram uma confiana no futuro da cincia e que buscam

    uma lei nica que permitisse guiar a investigao dos fenmenos

    sociais, como a lei da gravitao universal de Newton. A

    principal tarefa desta nova cincia seria a de des-cobrir as leis do

    desenvolvimento social, pois elas indicariam o caminho que se

    deveria tomar para que a sociedade pudesse seguir no progresso

    continuado. Para ele, a filosofia do sculo

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    Condies de trabalho fabril.

    XVIII tinha sido revolucionria, e a do sculo XIX teria

    que ser organizacional. No final da vida procurou desenvolver uma espcie de

    religio, um novo cristianismo mais dinmico, que teria por

    objetivo fundamental a elevao fsica e moral da classe mais

    numerosa e pobre da sociedade. As obras mais importantes de

    Saint-Simon do ponto de vista sociolgico so as seguintes:

    Reorganizao da sociedade europeia com Agustn Thierry (1814);

    A indstria ou discusses polticas, morais e filosficas no interesse de todos os homens livres e

    trabalhadores teis e independentes (1816-1817); O organizador (1819); O sistema industrial (1821-1823); O catecismo dos industriais (1822-1824); O novo cristianismo (1824).

    Saint-Simon influenciou fortemente Auguste Comte (que

    foi seu secretrio entre 1819 e 1824) e depois mile

    Durkheim, se tomarmos algumas das suas obras que tratam de

    uma nova sociedade organizada e da formulao de uma

    cincia de uma sociedade especfica. Mas ele influenciou

    igualmente Karl Marx, se pensarmos que Saint-Simon foi

    considerado um re-formador social e um socialista utpico. Auguste Comte (1798-1857) e a tradio positivista

    Auguste Comte nasceu em Montpellier, na Frana, no dia 19

    de janeiro de 1798, filho de um fiscal de impostos. Suas rela-es

    com a famlia foram sempre tempestuosas, e lhe deixaram marcas

    profundas que contm elementos explicativos do de-

    senvolvimento de sua vida e talvez at mesmo de certas orien-

    taes dadas s suas obras, sobretudo em seus ltimos anos.

    2 Mdulo Disciplina 1: Histria da Sociologia 1 Aula: Pressupostos e origem da Sociologia 19

  • Livro_Soc_Mod_2.indb 19 15/08/13 15:17

  • Com a idade de dezesseis anos, em 1814, Comte ingres-sou

    na Escola Politcnica de Paris, fato que teria significativa

    influncia na orientao posterior de seu pensamento. Para ele, a

    Politcnica foi a primeira comunidade verdadeiramente cientfica

    que deveria servir como modelo de toda educao superior.

    Embora permanecesse por apenas dois anos nessa escola, Comte

    ali recebeu a influncia do trabalho intelectual de cientistas como

    o fsico Carnot (1796-1832); o matemtico La-grange (1736-1813) e o

    astrnomo Laplace (1749-1827). Em 1816, a onda reacionria que se

    apoderou de toda a Europa, depois da der-rota de Napoleo e da

    Santa Aliana, repercutiu na Escola Po-litcnica, que foi fechada

    temporariamente, acusada de jaco-binismo. Comte deixou a

    Politcnica e resolveu continuar em Paris. Nesse perodo sofreu

    influncia dos chamados idelo-gos, como Destutt de Tracy

    (1754-1836) e Cabanis (1757-1808) e Volney (1757-1820). Foi quando

    desenvolveu seus estudos sobre economia poltica lendo Adam

    Smith (1723-1790) e Jean-Baptiste Say (1767-1832), e filsofos e

    historiadores como David Hume (1711-1776) e William Robertson

    (1721-1793). O fator mais decisivo para sua formao foi, porm, o

    estudo do Esboo de um Quadro Histrico dos Progressos do

    Esprito Humano, de Condorcet (1743-1794). A im-portncia reside

    no fato de Condorcet traar um quadro do desenvolvimento da

    humanidade, no qual os descobrimentos e invenes da cincia e

    da tecnologia desempenhavam papel preponderante, pois faziam

    o homem caminhar para uma era em que a organizao social e

    poltica seria produto das luzes da razo. Essa ideia tornar-se-ia

    um dos pontos fundamentais da filosofia de Comte. Ao deixar a Politcnica ele se tornou secretrio de Saint-

    Simon. Sobre esta convivncia ele afirmou que tinha apren-

    dido uma multido de coisas que em vo se procuraria nos

    livros. Afirma ainda que no pouco tempo que esteve junto

    de Saint-Simon fez maiores progressos do que faria em

    muitos anos se estivesse sozinho. Ao voltar da Politcnica, Comte publicou o Discurso sobre

    o esprito positivo. Depois, ele foi excludo definitivamente da

    Escola Politcnica em razo de suas crticas aos matemticos,

    feitas no prefcio do ltimo volume do Curso de filosofia po-

    sitiva, editado em 1842, onde afirmava ter chegado o tempo

    de os bilogos e os socilogos ocuparem o primeiro posto no

    mundo intelectual. Desde cedo Auguste Comte procurou fazer uma refle-xo

    sobre a sociedade de sua poca. Toda a sua obra est permeada

    pelos acontecimentos que ocorreram na Frana ps-

    revolucionria; ele defendeu parte do esprito de 1789 e criticou

    a restaurao da monarquia, preocupando-se funda-mentalmente

    em como organizar a nova sociedade que, no seu entender, estava

    em ebulio e em total caos. Para Comte, a desordem e a anarquia

    imperavam devido confuso de princpios (metafsicos e

    teolgicos) que no mais podiam se adequar sociedade

    industrial em expanso. Era, portanto,

    necessrio superar esse estado de coisas, usando a razo

    como fundamento da nova sociedade. Assim, Auguste Comte prope uma completa reforma da

    sociedade em que vivia mediante a reforma intelectual plena do

    homem. Ao se modificar a forma de pensamento dos ho-mens,

    atravs dos mtodos das cincias de seu tempo, que ele chamou

    de filosofia positiva, consequentemente haveria uma reforma

    das instituies. Nesse ponto que Auguste Comte promove o

    surgimento da Sociologia, ou fsica social, que, ao estudar a

    sociedade por meio da anlise de seus processos e estruturas,

    proporia uma reforma prtica das instituies.

    O neologismo (socius+logia) de Comte teve um imenso

    xito, pois logo depois comearam a aparecer expresses

    como a fitosociologa (sociologia das rvores) e vrios es-

    tudos sobre as sociedades das formigas e das abelhas, etc.

    Mas a sociologia de Comte pretendia entender alguns dos

    fenmenos que as cincias mais individualistas como a

    economia clssica ou a nascente psicologia no

    analisavam muito bem. Comte atribua Sociologia no

    somente uma funo cientfica, centrada em entender como

    atuam os seres humanos, mas tambm poltica, de como

    corrigir os abusos do liberalismo. A Sociologia, para Comte, era o coroamento da evoluo

    do conhecimento, usando os mesmos mtodos de outras cin-

    cias, pois todas elas buscam conhecer os fenmenos constan-

    tes e repetitivos da natureza. A Sociologia, como as cincias

    naturais, deveria sempre procurar a reconciliao entre os

    aspectos estticos e os dinmicos do mundo natural ou, em

    termos da sociedade humana, entre a ordem e o progresso. Ele

    acreditava que isso superaria tanto a teologia quanto a re-

    voluo, ou seja, propunha que o progresso deveria ser o alvo

    a se atingir, mas sempre sob o manto da ordem, para que no

    ocorressem distrbios e abalos no processo de mudana. A cincia deveria ser um instrumento para a anlise da

    sociedade no sentido de torn-la melhor atravs do lema: Co-

    nhecer para prever, prever para prover; isso queria dizer que

    o conhecimento deveria existir para fazer previses e tam-bm

    para dar a soluo dos possveis problemas que viessem a

    existir. O mtodo racional para poder dominar a natureza

    podia e devia ser utilizado pela Sociologia. A influncia de Comte no desenvolvimento da Sociologia

    foi marcante, sobretudo na escola francesa, atravs de mile

    Durkheim e de todos os seus contemporneos e seguidores.

    Seu pensamento esteve presente em muitas das tentativas de

    se criar determinadas tipologias para explicar a sociedade.

    Suas principais obras:

    Sistema de poltica positiva (1824); Curso de filosofia positiva (1830-1842); Discurso sobre o esprito positivo (1844); Catecismo positivista (1852).

  • Karl Heinrich Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), a tradio socialista

    Karl Marx nasceu em Trves, na antiga Prssia, em 1818,

    filho de uma famlia judaica e de uma linhagem de rabinos.

    Seu pai, que era advogado, havia rompido esta tradio e, por

    questes polticas, abraou a religio protestante. Aps seus estudos em Trves, Marx foi para Bonn e de-pois

    para Berlim, onde estudou Direito. Pouco a pouco foi se

    inclinando para a Filosofia, defendendo em 1841 sua tese de

    doutorado: A diferena da filosofia da natureza em Demcri-to e

    Epicuro. Nesse perodo universitrio teve uma vida em que se

    misturaram a boemia e a poesia, mas tambm o debate poltico e

    o intelectual tendo por base o pensamento de Lu-dwig Feuerbach

    (1804-1872 e, principalmente, o de Friedrich Hegel, que

    conheceu neste perodo e do qual no mais ir se separar, mesmo

    quando faz a crtica do filsofo alemo. A partir de ento sua vida foi cheia de tribulaes. Tor-nou-se

    jornalista e escreveu para um jornal (do qual depois se tornou o

    editor-chefe), A Gazeta Renana, crtico do poder prussiano. O

    jornal logo foi fechado e ele se viu desempregado. Em 1842 conheceu, em Colnia, na Alemanha, um jovem,

    Friedrich Engels, filho de um industrial alemo, que se tor-nar

    seu parceiro intelectual e amigo nas horas de infortnio durante

    toda sua vida. Foi atravs de seu livro: A situao da classe

    trabalhadora na Inglaterra que Marx passou a conhecer a situao

    econmica e social da Inglaterra. Este livro nasceu da impresso

    causada pela misria em que viviam os traba-lhadores das

    fbricas na Inglaterra, inclusive as da sua famlia. Marx, ao sair da Alemanha, passou a viajar pela Europa. Na

    Frana ficou de 1843 a 1845, quando escreveu os famo-sos

    Manuscritos econmicos e filosficos (s publicados em 1932). Entre

    1845 e 1847 exilou-se em Bruxelas-Blgica, onde escreveu em

    conjunto com Engels o livro A ideologia alem e, mais tarde, o

    livro Misria da Filosofia, criticando o filsofo P.J. Proudhon. No bojo dos movimentos revolucionrios de 1847 e 1848, em

    toda a Europa, Marx foi expulso da Blgica, voltou Fran-a, mas

    no podendo por l ficar retornou Alemanha, sem-pre pensando

    nas possibilidades de uma mudana estrutural em sua terra natal.

    Entretanto, isso no aconteceu, e ele emi-grou para a Inglaterra,

    fixando-se em Londres, onde ir ficar at o final de sua vida. Na

    Inglaterra, como exilado, desenvol-veu suas pesquisas e seu

    maior trabalho: O Capital Crtica da Economia Poltica. H

    quem diga que sem Londres no have-ria esta obra que

    revolucionou a maneira de pensar o sistema capitalista. No Museu

    Britnico, ficava das 9 s 19 horas, e con-sumia a maior parte de

    seus dias pesquisando para escrever uma obra da qual s o

    primeiro volume conseguiu publicar em vida. Os outros dois

    volumes foram publicados, por Engels, aps a sua morte, tendo

    por base todo o material (apontamen-tos, rascunhos e partes

    concludas mas sem reviso).

    Para entender a importncia da obra de Marx e Engels

    necessrio conhecer um pouco do que estava acontecendo em

    meados do sculo XIX, principalmente as transformaes que

    estavam ocorrendo nas esferas da produo industrial. Alm

    de um crescimento expressivo da produo de mercadorias,

    houve um crescimento expressivo do nmero de trabalhado-

    res industriais urbanos, com as consequncias inevitveis que

    ainda hoje se fazem conhecer em muitas partes do mundo: a

    precariedade das condies de vida dos trabalhadores nas

    cidades de ento. Estas condies eram pssimas em todos os sentidos: o

    trabalho no interior das fbricas, que empregavam homens,

    mulheres e crianas superexplorados, alimentao deficiente,

    insalubridade nos ambientes internos e externos e pssimas

    condies de vida nas casas em que moravam. Esta situao

    gerou a organizao desses trabalhadores em associaes e

    sindicatos e em movimentos que visavam transformao das

    condies de vida que os mesmos enfrentavam. Essas

    mudanas exigiram o desenvolvimento de um pensamento que

    procurasse entender as condies sociais, polticas e eco-

    nmicas que as geravam e indicassem possibilidades de inter-

    veno nessa realidade. Muitos pensadores discutiram, desde o incio do sculo XIX,

    a sociedade que emergia, demonstrando, do ponto de vista de uma

    perspectiva socialista, as questes sociais de ento. Na Inglaterra

    podemos citar, entre outros, William Go- dwin (1756-1836), Thomas Spence (1750-1814), Thomas Paine (1737-1809), Robert Owen (1771-1858), Thomas Hodgkin (1787-1869), na Frana,

    Etienne Cabet (1788-1856), Flora Tristan (1803-1844), Charles Fourier

    (1772-1837) e Pierre Joseph Proudhon (1809-1865). Levando em conta esses pensadores, debatendo com al-

    guns desses seus contemporneos e mesmo criticando-os,

    Marx incorporou a tradio da economia clssica inglesa

    presente principalmente em Adam Smith e David Ricardo.

    Resumindo, pode-se dizer que Marx e Engels desenvolveram

    seu trabalho a partir da anlise crtica da economia poltica

    inglesa, do socialismo utpico francs e da filosofia alem. Assim, a tradio socialista, nascida da luta dos trabalha-

    dores, muitos anos antes e em situaes diferentes, tem como

    expresso intelectual o pensamento de Karl Marx e F. Engels.

    Eles, entre outros, procuraram estudar criticamente a socieda-de

    capitalista a partir de seus princpios constitutivos e de seu

    desenvolvimento, tendo como objetivo possibilitar classe

    trabalhadora uma anlise poltica da sociedade de seu tempo. Quanto proposio de uma cincia da sociedade, no h

    em Marx e Engels nenhuma preocupao em definir uma cincia

    especfica para o estudo da sociedade, como para Auguste Comte,

    e nem em situar seus trabalhos em algum campo cientfico

    particular. Em alguns de seus escritos, Marx afirmou que a

    Histria seria a cincia mais ampla, que mais se aproximava de

    suas preocupaes, no no sentido da Hist-

    2 Mdulo Disciplina 1: Histria da Sociologia 1 Aula: Pressupostos e origem da Sociologia 21

    Livro_Soc_Mod_2.indb 21 15/08/13 15:17

  • ria como uma cincia separada das outras cincias

    humanas, mas no sentido que entende a Histria como a

    nica cincia social capaz de abarcar o conhecimento da

    sociedade em suas mltiplas dimenses. Esta, para eles,

    deveria ser analisada na sua totalidade, no havendo uma

    separao rgida entre os aspectos sociais, econmicos,

    polticos, ideolgicos, religiosos, culturais, etc. Neste sentido, e para esclarecer porque no assumimos

    Marx como sendo um socilogo, utilizamos a argumentao

    de Henri Lefebvre, em seu livro Sociologia de Marx.

    Marx, um socilogo?

    Veremos em Marx um socilogo? Tambm no. Essa in-

    terpretao foi bastante difundida na Alemanha e na ustria. Comeava por eliminar a filosofia atribuda a Marx, sem to-

    davia distinguir o sentido da filosofia e formular a tese de sua

    superao (de sua realizao) em toda sua amplitude. Mutilava

    arbitrariamente, portanto, o pensamento de Marx, suscitando

    discusses interminveis destinadas a cair no bizantinismo e

    na escoltica. Nessa perspectiva, o marxismo se alinha com o

    posi-tivismo de Comte. Mutilado, o pensamento marxista

    embota-se e perde o gume. O mtodo dialtico desaparece em proveito do fato e a con-

    testao crtica debilita-se em proveito da constatao. No Capi-tal,

    o uso de uma noo chave a de totalidade no relegava na

    obscuridade a contradio dialtica. Ao contrrio. A contradio

    assumia uma acuidade que perdera na sistematizao hegelia-na;

    entre os homens e as obras, entre a alteridade e a alienao, entre

    grupos e classes, entre bases e estruturas e superestruturas

    multiplicam-se e acentuam-se as contradies. No sociologismo, ao

    contrrio, a considerao da sociedade como um todo depre-cia a

    contradio. A noo de classes e de luta de classes se esfu-ma.

    Identifica-se a sociedade com a nao e o Estado nacional.

    O sociologismo ligado ao pensamento marxista penetrava assim

    facilmente nos quadros ideolgicos e polticos to criticados por

    Marx em suas glosas ao programa de Gotha (1875). A sociologia

    positivista com pretenses a marxista sempre tendeu para o

    reformismo. Da sua m reputao entre uns, sua atrao para

    outros. Hoje em dia essa sociologia na linha do positivismo tor-

    na-se abertamente conservadora, enquanto originalmente essa

    cincia ligada ala esquerda do romantismo no separava

    conhecimento e crtica, com Saint-Simon e Fourier. Por mlti-

    plas razes no faremos de Marx um socilogo. [...] Se aludi-mos

    a uma tal possibilidade, que temos visto coisas piores em meio

    s controvrsias. Marx no um socilogo, mas existe uma

    sociologia no marxismo. Como compreender essas proposies

    que parecem pouco compatveis? Para tanto, devem-se levar em

    conta dois grupos de noes e de argumentos:

    a) O pensamento marxista mantm a unidade do real e do

    conhecimento, da natureza e do homem, das cincias da matria

    e das cincias sociais. Explora uma totalidade no vir a ser e no

    presente, totalidade essa que compreende nveis e aspectos ora

    complementares, ora distintos, ora contraditrios. No em si

    mesmo nem histria, nem sociologia, nem psicologia etc., mas

    compreende esses pontos de vista, esses aspectos, esses nveis.

    Da sua originalidade, sua novidade e seu interesse duradouro. A

    partir de fins do sculo XIX surgiu uma tendncia a pensar a obra

    de Marx, e particularmente o Capital, em funo das cincias

    parciais que desde ento se especializaram e s quais Marx

    recusara a compartimentao. Reduz-se o conjunto teri-co do

    Capital a um tratado de Histria ou de economia poltica ou de

    sociologia ou mesmo de filosofia. O pensamento marxista no

    pode entrar nestas categorias estreitas: filosofia, economia

    poltica, histria, sociologia. Tampouco depende da concepo

    interdisciplinar que tenta corrigir, arriscando confundir, os in-

    convenientes do parcelamento do trabalho nas cincias sociais. A

    investigao marxista visa a uma totalidade diferenciada, con-

    centrando a pesquisa e os conceitos tericos em torno de um tema:

    a relao dialtica entre o homem social ativo e suas obras

    (mltiplas, diversas, contraditrias).

    b) A especializao em parcelas das cincias da realidade

    humana, desde a poca em que Marx expunha o capitalismo de

    concorrncia, tem sua razo de ser. A totalidade no pode mais ser

    atingida. como no tempo de Marx, de maneira unitria, ao mesmo

    tempo de dentro e de fora (em relao ao possvel), na constatao e

    na contestao. E contudo no podemos aceitar a separao das

    cincias parciais. Ela esquece a totalidade: a socie-dade como um

    todo e o homem total. Mas a realidade humana se torna complexa.

    Essa crescente complexidade faz parte da histria em sentido amplo.

    [...]. Com um vocabulrio em vias de elaborao, a unidade do saber

    e o carter total do real permane-cem pressupostos indispensveis nas

    cincias sociais. possvel, pois, examinar as obras de Marx e nela

    reconhecermos uma so-ciologia da famlia, da cidade e do campo, dos

    grupos parciais, das classes, das sociedades em seu conjunto, do

    conhecimento, do Estado, etc. E isto a um certo nvel da anlise e da

    exposi-

    o, logo sem restringir os direitos das demais cincias: econo-

    mia poltica, histria, demografia, psicologia. Por outro lado,

    possvel continuar a obra de Marx, buscando, a partir do Capital

    e com o seu mtodo, a gnese da sociedade moderna, de

    suas fragmentaes e contradies.

    LEFEBVRE, Henri. Sociologia de Marx. Rio de Janeiro: Forense, 1968.p. 14-16.

    Para entender o fundamental do pensamento de Marx e de

    Engels necessrio fazer a conexo entre os interesses da clas-se

    trabalhadora, suas aspiraes e as ideias revolucionrias que

    estavam presentes na Europa no sculo XIX. Para os dois

    pensadores, o conhecimento cientfico da realidade s teria

    sentido se fosse para transform-la, pois a verdade histrica

    22 2 Mdulo Disciplina 1: Histria da Sociologia 1 Aula: Pressupostos e origem da Sociologia

    Livro_Soc_Mod_2.indb 22 15/08/13 15:17

  • no constitui uma coisa abstrata definida teoricamente:

    sua verificao est na prtica. Marx escreveu muito, e em vrias ocasies teve como

    com-panheiro F. Engels. Apesar de algumas diferenas

    em seus es-critos, os elementos essenciais do

    pensamento desenvolvido por eles podem ser situados,

    de modo resumido, nas seguintes questes:

    Historicidade das aes humanas crtica ao idealismo alemo;

    Diviso social do trabalho e o surgimento das classes sociais. A luta de classes;

    O fetichismo da mercadoria e o processo de alienao;

    Crtica economia poltica e ao capitalismo;

    Transformao social e revoluo;

    Utopia sociedade comunista.

    A obra desses dois autores muito vasta, mas

    podem ser destacados alguns livros e escritos:

    F. Engels. A situao da classe trabalhadora na Inglaterra (1845);

    K. Marx. Manuscritos econmico-filosficos (1844); Karl Marx e F. Engels. A sagrada famlia (1844); K. Marx e F. Engels. A ideologia alem (1845); K. Marx. A misria da filosofia (1847); K. Marx e F. Engels. O manifesto comunista (1848); K. Marx. O 18 Brumrio de

    Napoleo Bonaparte (1852);

    K. Marx. Contribuio crtica da economia poltica (1857);

    K. Marx. O capital (1867).

    Vale considerar que a obra desses pensadores no ficou

    vinculada estritamente aos movimentos sociais dos traba-

    lhadores. Ela foi sendo introduzida nas universidades em

    diferentes reas do conhecimento. A Filosofia, a Sociologia, a

    Cincia Poltica, a Economia, a Histria, a Geografia, entre ou-

    tras, contam com trabalhos acadmicos de autores influencia-dos

    pelos dois autores alemes. Na Sociologia, afirma Irving M.

    Zeitlin em seu livro Ideologia y teoria sociolgica, tanto Max

    Weber quanto Emile Durkheim fizeram em suas obras um debate

    com o fantasma de Karl Marx. Pelas anlises da sociedade capitalista de seu tempo, e pela

    repercusso que a obra dos dois alemes teve em todo o mun-do,

    principalmente no sculo XX, seja nos movimentos sociais

    como nas universidades, Marx e Engels so considerados

    au-tores clssicos da Sociologia. Mas isso tornou o

    pensamento deles um pouco restrito, pois perdeu aquela

    ligao entre te-oria e prtica (prxis), ou seja, entre o

    pensamento crtico e a prtica revolucionria. Em alguns casos a relao entre teoria e prtica revolucio-

    nrias esteve muito presente. o caso da Rssia, com Vladimir

    Ilyitch Ulianov, mais conhecido como Lnin (1870-1924) e Leon D.

    Bronstein, conhecido como Trotski (1879-1940); da Alemanha, com

    Rosa Luxemburgo (1871-1919); e da Itlia, com Antonio Gra-msci

    (1891-1937), que participaram como intelectuais e atores com

    significativa influncia no movimento operrio no sculo XX. A partir do conjunto da obra de Marx e Engels muitos autores

    desenvolveram seus trabalhos em vrios campos do conhecimento.

    Em termos acadmicos, no interior das uni-versidades, podem ser

    destacados trabalhos como os de Georg Lukacs (1885-1971); Theodor

    Adorno (1903-1969); Walter Benjamin (1892-1940) Henri Lefebvre (1901-

    1991) Lucien Goldman (1913-1969); Luis Al-thusser (1918-1990); Nicos

    Poulantzas (1936-1979); Edward P. Thomp- son (1924-1993) e Eric Hobsbawn (1917-).

    At hoje o pensamento de Marx e Engels continua

    presente com mltiplas tendncias e variaes, sempre

    gerando gran-des controvrsias, mesmo no interior do

    chamado marxismo, e uma reao e at incorporao de

    partes deste pensamento em outras tradies sociolgicas. A Sociologia, como cincia acadmica, num momento

    posterior, floresceu da reflexo de alguns pensadores que pro-

    curaram analisar e discutir a sociedade de seu tempo, levando

    em conta influncias ou se contrapondo aos pensadores de

    antes. A partir dos ltimos anos do sculo XIX, como saber

    universitrio, a Sociologia se desenvolveu especialmente em

    trs pases: Frana, Alemanha e Estados Unidos da Amrica.

    Em outros pases tambm aparece o saber sociolgico, mas

    aqueles pases esto sendo privilegiados porque deles que a

    Sociologia no Brasil, a partir de 1930, vai receber sua maior

    influncia.

    00 Curiosidade: a sociologia na Amrica latina Em 1877 foi criado, na cidade de Caracas, Venezuela, um

    Instituto de Cincias Sociais e, anos mais tarde, em 1882, a

    Universidade de Bogot, na Colmbia, abriu o primeiro curso de

    Sociologia no mundo, antecipando-se assim em dez anos ao

    inaugurado em Chicago em 1892. Da em diante, esse pro-cesso

    se expandiu: 1898, em Buenos Aires; 1900, em Assun-o; 1906,

    em Caracas, La Plata e Quito; 1907, em Crdoba, Guadalajara e

    Cidade do Mxico. At os anos de 1920, o ensino de Sociologia

    j estava estabelecido em quase todos os pases da Amrica

    Latina, em vrias universidades. No Brasil, como veremos na 6

    Aula, o primeiro curso superior de Cincias So-ciais somente

    surgiu na dcada de 1930.

    2 Mdulo Disciplina 1: Histria da Sociologia 1 Aula: Pressupostos e origem da Sociologia 23

    Livro_Soc_Mod_2.indb 23 15/08/13 15:17

  • CONHECENDO MAIS SOBRE

    A histria da Sociologia

    00 Observao inicial: O que vimos foi um grande pa-norama das condies que possibilitaram o surgimento da

    Sociologia. importante lembrar que na bibliografia geral

    existem ttulos que tratam da histria do pensamento socio-

    lgico e devem ser consultados, pois neles esto

    informaes importantes que iro permitir que voc

    conhea melhor o que at aqui foi apresentado.

    Para uma anlise do capitalismo, duas obras com

    pressu-postos tericos diferentes so fundamentais

    DOBB, Maurice H. A evoluo do capitalismo. So Paulo: Abril Cultural, 1983.

    POLANYI, Karl. A grande transformao. As origens

    de nossa poca. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

    Para uma compreenso mais precisa sobre Auguste Comte

    e Karl Marx importante ler as coletneas abaixo, que apre-

    sentam uma introduo e textos dos autores citados

    MORAES FILHO, Evaristo de. (Org.). Auguste Comte. So Paulo: tica,1989.

    COMTE, Auguste. Comte. Seleo de textos e com

    introduo de Jos Arthur Giannotti. So Paulo:

    Abril Cultural, 1978. (Coleo Os pensadores)

    IANNI, Octavio (Org.). Marx. So Paulo: tica, 1989.

    NETTO, Jos Paulo (Org.). Engels. So Paulo: tica, 1981.

    Um livro oferece uma anlise contempornea de Karl

    Marx e importante ser lido para a compreenso de seu

    pen-samento

    BENSAID, Daniel. Marx, o intempestivo. Grandezas e misrias de uma aventura crtica.

    Rio de Janeiro: Civilizao brasileira, 1999.

    COMO VIMOS NESTA AULA...

    O surgimento da Sociologia tem pressupostos bem amplos

    e seus primrdios contemplam uma srie de pensadores cujo

    conhecimento (leitura) permite entender as razes da emer-

    gncia dessa cincia social. Esses pensadores compem os

    fundamentos do que viria a ser a Sociologia.

    ATIVIDADES DE AVALIAO

    Quais so os fatores indiretos e diretos que

    contribuem para o surgimento da Sociologia no

    sculo XIX? No seu entendimento, quais foram os

    que tiveram maior impor-tncia? Justifique.

    Auguste Comte e Karl Marx foram pensadores que tinham

    projetos de reformulao da sociedade em que viviam. H

    pontos de contato e de diferenciao entre ambos? Leia os

    dois textos abaixo e responda a esta questo.

    SOUZA, Ricardo Luiz de. A ordem e a sntese: aspectos da sociologia de Auguste Comte.

    . Este artigo trata de alguns aspectos bsicos do pen-

    samento de Auguste Comte, a partir dos quais possvel

    compreender a contribuio desse autor para o processo

    de construo do conhecimento sociolgico do qual ele

    foi precursor (e criador do termo).

    NICOLAUS, Martin. O Marx desconhecido. .

    Este um texto pouco conhecido do pblico

    brasileiro, escrito por um socilogo norte-americano

    que traz uma viso importante da obra de Marx.

    Se voc for utilizar esta aula para desenvolver alguma

    ati-vidade junto a seus alunos no Ensino Mdio,

    fazemos estas sugestes

    Elabore uma reviso histrica com os alunos, procurando saber o que eles conhecem desse

    grande perodo, ou seja, do sculo XV at o

    sculo XIX. Destaque os elementos essenciais

    que so os pressupostos para o surgimento da

    Sociologia no final do sculo XIX.

    24 2 Mdulo Disciplina 1: Histria da Sociologia 1 Aula: Pressupostos e origem da Sociologia Livro_Soc_Mod_2.indb 24 15/08/13 15:17

  • Trabalhe com biografias, pois algo muito interessante para os alunos do Ensino Mdio, j que possibilita a eles pesquisarem sobre a vida dos pensadores e

    tambm dos artistas referenciados. Procure estabelecer

    uma ligao entre a vida de cada um deles, bem como

    entre eles e os acontecimentos mais gerais em cada

    pas de origem ou em toda a Europa, por exemplo.

    Uma atividade que pode motivar os alunos a lerem mais e conhecerem o pensamento de

    Karl Marx o clipe O samba da mais valia, composto pelo professor Srgio Silva.

    . Aproveite para analisar com os alunos os vrios

    concei-tos abordados pela cano.

    Se voc for utilizar uma discusso sobre Auguste Comte, aproveite o texto abaixo para fundamentar as

    suas aulas: AMORIM, Adriana Monferrari. Saber para prover: a Sociologia Comteana no ensino mdio.

    .

    2 Mdulo Disciplina 1: Histria da Sociologia 1 Aula: Pressupostos e origem da Sociologia 25

    Livro_Soc_Mod_2.indb 25 15/08/13 15:17

  • REFER NCIAS

    Nos livros abaixo relacionados, que integram a Bibliogra-fia

    geral, constam anlises dos pressupostos histricos e

    intelectuais que fundamentam o surgimento da Sociologia,

    bem como uma anlise de importantes aspectos do pensa-

    mento dos autores aqui abordados.

    ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociolgico. 2. ed. So

    Paulo: Martins Fon-tes, 1987.

    BIRBAUM, P.; CHAZEL, F. (Orgs.) Teoria sociolgica. So Paulo: Hucitec/EDUSP, 1977.

    BOTTOMORE, T.; NISBET, R. (Orgs.). Histria da anlise sociolgica.

    Rio de Janeiro: Zahar, 1980.

    CASTRO, Ana Maria de; DIAS, Edmundo F. Introduo ao pensamento sociolgico:

    Durkheim/Weber/Marx/Parsons. 15. ed. Rio de Janeiro: Centauro, 2001.

    COHN, Gabriel (Org.). Sociologia. Para ler os clssicos. Rio de Janeiro: Azougue, 2005.

    COLLINS, Randall. Quatro tradies sociolgicas. Petrpolis, RJ: Vozes, 2009.

    COMISSO GULBENKIAN. Para abrir as cincias sociais. So Paulo: Cortez, 1996.

    CUIN, Charles-Henry; GRESLE, Franois. Histria da sociologia.

    Lisboa: Dom Quixote, 1995.

    DOMINGUES, Jos Maurcio. Teorias sociolgicas no sculo XX. Rio

    de Janeiro: Civiliza-o Brasileira, 2001.

    FERNANDES, Florestan. Fundamentos empricos da explicao

    sociolgica. 3. ed. Rio de Janeiro: Livros Tcnicos e Cientficos, 1978.

    GERTZ, Ren E. (Org.). Max Weber & Karl Marx. 2. ed. So Paulo: Hucitec, 1997.

    GIDDENS, Anthony. Poltica, sociologia e teoria social. Encontros com o

    pensamento social clssico e contemporneo. So Paulo: Ed. Unesp, 1998.

    _____. Capitalismo e moderna teoria social. Uma anlise das obras

    de Marx, Durkheim, Max Weber. Lisboa: Presena, 1976.

    GIDDENS, A.; TURNER J. (Orgs.). Teoria social hoje. So Paulo: Unesp, 2000.

    HAWTHORN, Geoffrey. Iluminismo e desespero. Uma histria da

    sociologia. Rio de Ja-neiro: Paz e Terra, 1982.

    LALLEMENT, Michel. Histria das ideias sociolgicas V.I. Das

    Origens a Max Weber. Petrpolis, RJ: Vozes, 2003.

    _____. Histria das ideias sociolgicas V.II. De Parsons aos

    contemporneos. Petr-polis, RJ: Vozes, 2004.

    LEVINE, Donald N. Vises da tradio sociolgica. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

    MOYA, Carlos. Teoria sociolgica. Una introduccin crtica. Madrid: Taurus, 1971.

    QUINTANEIRO, Tnia; BARBOSA, Maria Lgia de O.; OLIVEIRA, Maria Gardncia de. Um

    toque de clssicos. Durkheim, Marx e Weber. Belo Horizonte: EdUFMG, 1995.

    REX, John. Problemas fundamentais da teoria sociolgica. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

    SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clssica. 4. ed. Itaja-SC: Ed.Univali/Edifurb, 2006

    SKIDMORE, William. Pensamento terico em sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

    TIMASHEFF, Nicholas S. Teoria sociolgica. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

    ZEITLIN, Irving M. Ideologia y teoria sociolgica. Buenos Aires: Amorrortu, 1973.