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Metodologia do ensino de instrumento Aluno: Dhiego Heráclito de Matos Costa [email protected] Universidade Federal da Paraíba Professor: Maurílio Nas últimas décadas, observa-se amplo desenvolvimento de metodologias de ensino coletivo de instrumentos musicais, motivadas particularmente pelos novos ideais pedagógicos da Educação Musical, área que tem se concentrado no ensino musical voltado à Educação Básica. Alguns ideais da Educação Musical no ensino coletivo de instrumentos musicais foram observados em sala de aula, como por exemplo: *O poder da música como agente transformador *A aprendizagem colaborativa *A importancia do trabalho coletivo e não o pensamento solista * maior aproveitamento da carga horária * bem mais econômico Sendo assim, fica claro que o ensino coletivo é capaz de multiplicar o acesso social à aprendizagem da Performance Musical de forma democrática, econômica, motivadora e humana. Historicamente, este é o ambiente de aprendizagem musical mais adequado para trabalhar com iniciantes, independentemente da faixa etária (FISHER, 2010, p.19-20). Nesse sentido, o ensino individual para iniciantes falha, pois geralmente parte do pressuposto que todos os alunos desejam seguir carreira musical, levando tanto aluno quanto professor à desmotivação. Por outro lado, é importante não se deixar “seduzir” pelos pontos positivos do ensino coletivo, sendo fundamental analisar que metodologias são de fato apropriadas a cada contexto de ensino e proposta de formação musical, pois o ensino individual – ou

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Metodologia do ensino de instrumentoAluno: Dhiego Herclito de Matos [email protected] Federal da ParabaProfessor: MaurlioNas ltimas dcadas, observa-se amplo desenvolvimento de metodologias de ensino coletivo de instrumentos musicais, motivadas particularmente pelos novos ideais pedaggicos da Educao Musical, rea que tem se concentrado no ensino musical voltado Educao Bsica.Alguns ideais da Educao Musical no ensino coletivo de instrumentos musicais foram observados em sala de aula, como por exemplo: *O poder da msica como agente transformador*A aprendizagem colaborativa*A importancia do trabalho coletivo e no o pensamento solista* maior aproveitamento da carga horria* bem mais econmicoSendo assim, fica claro que o ensino coletivo capaz de multiplicar o acesso social aprendizagem da Performance Musical de forma democrtica, econmica, motivadora e humana. Historicamente, este o ambiente de aprendizagem musical mais adequado para trabalhar com iniciantes, independentemente da faixa etria (FISHER, 2010, p.19-20). Nesse sentido, o ensino individual para iniciantes falha, pois geralmente parte do pressuposto que todos os alunos desejam seguir carreira musical, levando tanto aluno quanto professor desmotivao. Por outro lado, importante no se deixar seduzir pelos pontos positivos do ensino coletivo, sendo fundamental analisar que metodologias so de fato apropriadas a cada contexto de ensino e proposta de formao musical, pois o ensino individual ou tutorial mais adequado formao profissional de cantores e instrumentistas.

A maioria dos professores de piano prefere adotar tanto ensino individual quanto coletivo, aproveitando as vantagens de cada modo de instruo. Diante desta discusso, surgiu a necessidade de adotar um mtodo de Piano que adotasse os aspectos positivos da instruo individual e coletiva. Gordon (In: USZLER et al., 2000, p.269) afirma que a literatura de Pedagogia do Piano muito rica, mas que os mtodos de instrumentos de teclado refletem ideologias de sua poca. O ensino de instrumento nos conservatrios faz-se, por tradio, individualmente, ou seja em regime tutorial de um para um. Frequentemente, o professor de instrumento age em conformidade com o que o aluno traz preparado para a aula, planejando a sequncia de instruo de acordo com as capacidades que este vai evidenciando. Nesta perspectiva a ausncia de uma planificao a curto, mdio e longo prazo pode implicar o estabelecimento de uma lgica no processo de ensino aprendizagem que depende em grande medida do aluno.Este sistema de ensino, apesar de apresentar reconhecidas vantagens para o ensino de instrumento que se traduzem no acompanhamento individualizado com ritmo de aula direcionado para um aluno, no privilegia um ambiente musical e social no qual este possa ser motivado, apoiado e at mesmo desafiado pelos seus pares. Na realidade, o ambiente de grupo tem o potencial para produzir oportunidades de aprendizagem que so muito superiores ao que pode ser alcanado num formato individual de um-para-um (Fisher, 2010, p. 8). A gesto de grupos exige do professor de instrumento o domnio de um conjunto de competncias que, no ensino individual no so consideradas como sendo essenciais no seu repertrio de estratgias. Neste contexto, deixou de ser possvel ao professor sentar-se e deixar o que o seu ensino se molde medida que a aula progride de acordo com as necessidades imediatas da criana (Enoch,1978, p. 7). Em sntese, coloca-se a questo: como gerir o desenvolvimento tcnico e musical individual com aulas exclusivamente em grupo sem atrasar os mais dotados ou abandonar os menos dotados? A essa preocupao acresce a crena de que a arte no se ensina, sendo necessrio nascer com um dom especial o talento. Este associado a outros mitos e valores instalados na sociedade em geral e nas escolas em particular, foca frequentemente o ensino do instrumento e o desenvolvimento musical do aluno como um resultado da transferncia de conhecimentos tcnicos e artsticos do mestre, numa lgica de perpetuao de uma tradio tcnica e artstica centrada no legado e prestgio do professor, em vez de se centrar na msica e no aluno (Vasconcelos, 2002, p. 64). importante referir que quando se menciona o ensino de piano em grupo podemos estar a referir diferentes tipologias de aula. Jacobson (2006, p. 274) identifica quatro formatos diferentes: (1) a masterclass onde o professor partilha recomendaes, ideias interpretativas e tcnicas referentes execuo de um aluno com um grupo que constitui uma assistncia; (2) aulas em grupo como complemento das aulas individuais onde o professor inclui atividades que so frequentemente negligenciadas nestas como teoria, desenvolvimento auditivo e leitura 1 vista; (3) combinao de aulas individuais e em grupo que por sua vez podem assumir diferentes tipologias2; (4) aulas exclusivamente em grupo. As aulas em grupo podem ser lecionadas em pequenos grupos, de dois a quatro alunos, numa sala com um piano ou em grupos maiores, de cinco a dezasseis alunos 3 , num laboratrio onde se disponibiliza um piano para cada aluno e professor (Lee, 1981, p. 5). Data de 1956 a instalao e implementao, na Ball State University, do primeiro laboratrio de piano equipado com instrumentos eletrnicos, propiciando o ambiente ideal para a lecionao de piano em grupo. No entanto no podemos centrar a evoluo do ensino em grupo no desenvolvimento do equipamento, mas antes no desenvolvimento da metodologia.introduo de aulas de instrumento em grupo no currculo do Curso Bsico de Msica2.2. Desafios do ensino em grupoDiferena entre ensino em grupo e ensino coletivoPara conseguir desenvolver verdadeiramente aulas de instrumento em grupo, imperioso que o professor esteja consciente do perigo de transformar o ensino de instrumento em grupo numa srie de aulas individuais empacotadas no tempo de aula destinado ao grupo (Harris & Davies, 2009, p. 127). A maior dificuldade do ensino em grupo manter a aula dirigida para o grupo como um todo e no permitir que degenere numa aula de cinco minutos, na qual uma criana de cada vez tem toda a ateno do professor ao piano enquanto as restantes do grupo fazem outra coisa qualquer (Enoch, 1978, p. 2). Este procedimento transparece numa gesto do tempo e numa qualidade de ensino altamente ineficaz, independentemente do mtodo usado. O ensino em grupo de qualidade, pela sua natureza, envolve todos os alunos durante todo o tempo (Ley, 2004a, p. 14). Expressamente partilhada pelos pedagogos do ensino de instrumento em grupo, esta preocupao, ou seja o entendimento do que um grupo e como funciona, constitui-se num ponto fulcral que define um ensino de qualidade na sua acepo mais geral - garantir que, no tempo disponvel para a instruo, todos os alunos aprendam, desenvolvendo ao mximo as suas capacidades e inteligncias. No sentido de garantir o sucesso na aprendizagem em grupo, impe-se uma abordagem holstica centrada no desenvolvimento da interao entre os elementos do grupo, na qual o desenvolvimento da tcnica apenas uma parte do processo (Ibid., p. 20).No podemos ignorar que, nos ltimos tempos, com o avano da tecnologia, o piano perdeu um pouco o nmero de adeptos; surgiram os teclados eletrnicos que, alm de serem encontrados a preos mais acessveis (dependendo dos recursos de que dispem), ainda favorecem a mobilizao e a acomodao em residncias menores.Metodologias do ensino do piano Historicamente, adota-se a nomenclatura Piano para as disciplinas de ensino individual voltadas formao de pianistas, tendo assim este instrumento como objetivo principal do curso. Paralelamente, a metodologia denominada Oficina de Performance caracterizada como ensino coletivo em grupo oferece subsdios complementares a esta formao, permitindo abordar questes aprofundadas de interpretao musical, tcnica instrumental e interao em grupo, onde colegas oferecem ideias ao executante.Com relao a denominaes comuns que definem a prtica pianstica como objetivo paralelo da formao musical, temos os termos Piano Complementar, Piano Suplementar ou at mesmo Teclado Eletrnico, consistindo na maioria das vezes em aulas coletivas. Montandon afirma que uma problemtica recorrente nestas disciplinas a no distino entre o ensino de piano enquanto instrumento principal ou como instrumento auxiliar na formao do msico (MONTANDON, 2001, p.105), adotando-se metodologia semelhante prtica do estudo tradicional, baseada na execuo memorizada de peas do repertrio pianstico. Assim, Montandon sugere adotar uma metodologia capaz de desenvolver habilidades funcionais diversas como transposio, improvisao e leitura primeira vista, por exemplo.MtodosA clarificao de objetivos e sistematizao de procedimentos para os alcanar , na sua essncia, o que define o mtodo. Os mtodos de ensino tm a funo de providenciar uma progresso lgica para a aprendizagem de conceitos e competncias, bem como msica para a prtica destes elementos (Jacobson &Lancaster, 2006, p. 41).A integrao da aprendizagem de piano numa forma de aprendizagem musical mais abrangente, cada vez mais uma preocupao que se verifica nos atuais mtodos de ensino de piano. Os mtodos de ensino utilizados atualmente refletem a evoluo geral ocorrida em todas as fases da educao. Ensinar deve ser relevante e deve centrar-se nas necessidades e objetivos dos estudantes de hoje (Bastien, 1988, p. 40). Neste sentido, ao procurar a clarificao do mtodo, o professor deve colocar no s a questo como ensinar, mas igualmente o que ensinar, porque ensinar e, talvez mais importante, quando ensinar (E. Gordon,2000, p. 45).Os mtodos de piano so frequentemente classificados pelo tipo de abordagem que fazem leitura musical. Das abordagens mais comuns destacamse trs: D central, Mltiplas tonalidades e Intervalar (Uszler, et al., 2000, p. 4).Abaixo, apresentamos os trs modelos de aprendizagem que guiam os mtodos de Piano D central: consiste no estudo de peas a partir da regio mdia do piano, tendo como referncia o D central. Permite visualizar mais fcil o teclado do piano e consolidar a leitura absoluta e transmitir quantidades menores de informaes, porm, pode produzir falsas associaes como associar a tecla D ao polegar, alm de limitar o uso de toda a extenso do piano, fato que leva o aluno a se posicionar com as mos muito prximas ao corpo e inibir uma sensao corporal de liberdade. Multiteclas: baseia-se o estudo com base na execuo de estruturas fixas com mais teclas como acordes, por exemplo (estudo em blocos). Este modelo bem utilizado para ensino do piano como instrumento funcional de harmonizao e transposio, permitindo explorar melhor a extenso do piano. Todavia, o aluno fica limitado ao dedilhado fixo utilizado para tocar os acordes. Ainda, cabe ressaltar que a prtica de acordes no adequada a iniciantes, pois esta exige movimento de pulso e antebrao mais conscientes, podendo limitar o uso do polegar em teclas pretas. Invervalar: concentra-se na leitura relativa, oferecendo contato com toda a extenso do teclado logo nos primeiros momentos da aprendizagem, permitindo ainda direcionar a ateno ao uso do dedilhado. Como o piano possui a caracterstica idiomtica de utilizar somente teclas brancas em peas sem acidentes, oferece uma excelente oportunidade para aprendizagem da leitura relativa. Todavia, esta liberdade excessiva pode trazer desconforto ao aluno, uma vez que fica sem referncias para a leitura e o estudo.Mtodo base AlfredO mtodo de base escolhido para a organizao da sequncia de instruo foi Alfreds Basic Piano Library de Willard A. Palmer, Morton Manus e Amanda Vick Lethco. Este mtodo prope a integrao de diferentes abordagens promovendo a leitura por posies num quadro progressivo, flexvel e ecltico, adequando-se particularmente bem s exigncias da lecionao de piano em grupo, constituindo-se simultaneamente numa verdadeira biblioteca do ensino de piano. A apresentao sequencial e bem organizada das competncias e uma grande quantidade de materiais para reforo das aprendizagens coloca-o entre os melhores mtodos para o ensino de piano (Uszler, et al., 2000, p. 95). Este mtodo compreende diversas opes de progresso organizadas em cinco sries15 divididas em diversos nveis de aprendizagem (um volume para cada nvel), que privilegiam o nvel etrio dos alunos no momento em que iniciam a sua aprendizagem de piano - Young Beginner Prep Course (a partir dos 5 anos), Beginner Alfreds Basic (7-9 anos), Later beginner Alfreds Basic (8-10 anos), Later Beginner Chord aproach (a partir dos 10 anos) e Later Beginner Adult Piano Course (a partir dos 15 anos). Estas sries prevem uma progresso mais ou menos condensada, dependendo, no s do nvel etrio mas tambm das aptides e interesses dos alunos, possibilitando uma progresso na aprendizagem flexvel. Assim, est prevista a possibilidade de ajuste sempre que se verifique um desenvolvimento acima ou abaixo da mdia, atravs do encadeamento entre os diversos volumes de cada srie, sendo possvel saltar de uma para outra sem prejuzo da organizao geral do mtodo. Os trs primeiros volumes da srie Alfreds Basic Later Beginner, so os que melhor se adequam ao nvel etrio dos alunos dos 1 e 2 graus do ensino vocacional. Constituda por seis volumes, conta com um extenso e profuso material de apoio disponibilizado para reforo dos assuntos introduzidos no livro base - Lesson Book. Assim, o professor pode contar com enorme manancial de recursos extra que acompanham a par e passo os assuntos introduzidos no livro base, dos quais destaco volumes dedicados tcnica, treino de ouvido, teoria, leitura primeira vista, repertrio para recital, msica de conjunto (duos, trios equartetos) entre outros.Dentre os mtodos elaborados no Brasil, destacam-se Educao Musical atravs do Teclado (GONALVES; BARBOSA, 1985), baseado na iniciao musical a partir de audiopartituras e uso do Teclado Eletrnico, Piano Brincando (FONSECA; SANTIAGO, 1993), que consiste no ensino do piano a partir da msica contempornea; Iniciao ao Piano e Teclado (ADOLFO, 1994), que apresenta conceitos atravs do contato prtico com estes instrumentos e suas caractersticas idiomticas, e Educao Musical ao Teclado (NAIR et al., 2002), cuja abordagem se assemelha ao trabalho de Gonalves e Barbosa. importante reforar aqui o empenho destes autores em superar problemas histricos do ensino de piano, entre eles a aprendizagem exclusivamente apoiada na leitura de partituras, abordagem didtica voltada somente formao de pianistas profissionais, estudo de teoria e tcnica pianstica de forma alheia a um contexto musical, utilizao de repertrio fechado e desenvolvimento de habilidades teis somente ao perfil do pianista solista da Msica de Concerto. Todavia, caso observemos os programas de ensino e os projetos pedaggicos da maioria dos cursos de Piano do pas em nvel tcnico e superior, ser destacada a adoo de mtodos baseados em estratgias didticas do Sculo XIX, fato que demonstra o restrito interesse dos professores de piano pela adoo de novas estratgias de ensino.