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Entre gingas e berimbaus Culturas juvenis e escola Carla Linhares Maia Cultura, Mídia e Escola

Entre gingas e berimbaus – Culturas juvenis e escola

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Entre gingas e berimbausCulturas juvenis e escola

Carla Linhares Maia

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Uma leitura atenta acerca das ex-periências juvenis no mundo contem-porâneo é quase que obrigatória paraquem pretende conhecer as profun-das mudanças por que passam nos-sas sociedades hipermodernas. Mashá de se convir que tal leitura é difícilde ser feita. Na maioria das vezes,prefere-se rotular as experiências denossos jovens com imagens negativa-mente estereotipadas e simplistas,por meio das quais são descritos oracomo alienados, ora como puros con-sumistas, ou até mesmo como desin-teressados do mundo do conhecimen-to. A obra de Carla Linhares Maia vaiem sentido contrário. Detalhista, mi-nuciosa e cuidadosa, a autora pes-quisa uma prática cultural de longatradição no Brasil, na qual um grupode jovens, por ela estudado, se entre-ga de corpo e alma ao som do berim-bau. Magnífico compasso dois porquatro, contrastado a melodias entoa-das, desde outrora, por antigos mes-tres capoeiristas, que se alastram detempos passados até nossos dias esão ressignificados em nosso cyber-

contexto. Os jovens que participamdo estudo são estudantes do ensinopúblico que agregam à sua formaçãoaulas de capoeira. Carla explora esseuniverso com maestria. Suas análisessobre o envolvimento e o engajamen-to desses jovens nos ensinamentos dasecular capoeira mostram o quão fal-sa é a idéia de que a juventude atual éavessa às regras. Será? A pesquisaempreendida por Carla Linhares Maianos convence de que só quem nãoconhece a prática da capoeira poderiaafirmar algo assim. O jogo que ali seestabelece implica respeito e reco-nhecimento do outro, ou seja, há

uma clara dimensão ética, na qual asregras são claramente definidas pelogrupo. As cenas que ali se desenro-lam se pautam em um extraordináriofairplay, que amplia a crença no ou-tro. A presente obra nos faz pensarinúmeras questões da convivênciahumana, sobretudo aquelas que sereferem à educação e ao cotidianoescolar. O que essas práticas alter-nativas poderiam nos ensinar, a nós,pais, professores e gestores educa-cionais, quanto à formação de nos-sos jovens? Por que será que estesse aplicam tão dedicadamente a es-sas práticas, mas não o fazem damesma forma em relação às prati-cadas em sala de aula? O trabalhode Carla nos dá uma série de pistaspara responder essas questões.(Des)constrói velhos chavões e nosmostra a fragilidade das teorias psi-cológicas da motivação que, no fun-do, só reforçam preconceitos indi-vidualistas. Suas análises se concen-tram no campo da cultura. Ao reve-lar os meandros de uma prática cul-tural, a autora nos faz entrar na gin-ga que o mundo tem. Gingar é nãoperder o eixo, de forma alguma. É,ao contrário, uma forma de mantê-lo, só que totalmente flexível. Gin-guemos, então.

Luiz Alberto de Oliveira

Carla Linhares Maia é graduada em

História (UFMG), mestre em Edu-

cação (PUC Minas), doutoranda em

Educação (FaE-UFMG) e pesquisa-

dora do Educação e Cultura – EDUC

(PUC Minas) e do Observatório da

Juventude (FaE-UFMG).

Neste livro, a autora Carla Linhares Maia trata de jovense suas expressões culturais ao lançar seu olhar para umgrupo de capoeira que se reúne no espaço de uma escolapública municipal. A intenção da autora é analisar a partici-pação cultural voluntária de jovens para descrever e inter-pretar as vivências juvenis e buscar o conhecimento e acompreensão das diversas expressões das culturas cons-truídas e introduzidas no cotidiano escolar pelos alunos e osmodos como a escola se relaciona com eles, por seus edu-cadores e seus projetos político-pedagógicos.

A autora revela uma cultura juvenil marcada pela dife-rença e pela diversidade e mostra como a linguagem do cor-po, a oralidade e os simbolismos mostram a face de umjovem que circula em diferentes espaços e sofre estímulosde uma sociedade globalizada fortemente acometida pelahibridez cultural e pelo excesso de informações. A partirdessa realidade, o que nos resta é perguntar: Como nossojovem se manifesta culturalmente, articulando-se em grupono ambiente escolar?

ISBN 978-85-7526-325-9

9 788575 263259

www.autenticaeditora.com.br

0800 2831322

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Copyright © 2008 by Carla Linhares Maia

COORDENADORA DA COLEÇÃO

Sandra Pereira Tosta

CONSELHO EDITORIAL

Marco Antônio Dias – Universidade Livre das Nações Unidas; Tatiana Merlo Flores– Instituto de Investigación de Medias e Universidade de Buenos Ayres; PaulaMonteiro – USP; Graciela Batallán – Universidade de Buenos Ayres; MírianGoldemberg – UFRJ; Neusa Maria Mendes de Gusmão – Unicamp; Márcio Serelle– PUC Minas; Angela Xavier de Brito – Université René Descartes-Paris V; JoséMarques de Melo – USP e Cátedra UNESCO/Metodista de Comunicação; JoanFerrés i Prates – Universidad Pompeu Fabra-Barcelona

CAPA

Patrícia De Michelis

REVISÃO TÉCNICA

Bruno Flávio Lontra Fagundes

EDITORAÇÃO ELETRÔNICA

Eduardo Queiroz; Tales Leon de Marco

REVISÃO

Tucha

AUTÊNTICA EDITORARua Aimorés, 981, 8º andar . Funcionários30140-071 . Belo Horizonte . MGTel: (55 31) 3222 68 19TELEVENDAS: 0800 283 13 22www.autenticaeditora.com.bre-mail: [email protected]

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte destapublicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos,seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da editora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Maia, Carla LinharesEntre gingas e berimbaus : culturas juvenis e escola / Carla

Linhares Maia. – Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2008.(Coleção Cultura, Mídia e Escola / coordenadora Sandra Pereira Tosta)

Bibliografia.ISBN 978-85-7526-325-9

1. Capoeira (Luta) 2. Cultura 3. Juventude – Educação I. Tosta,Sandra Pereira. II. Título. III. Série.

08-03687 CDD-469.503

Índices para catálogo sistemático:1. Capoeira, jovens e escola : culturasjuvenis : Sociologia educacional 306.432. Jovens, capoeira e escola : culturasjuvenis : Sociologia educacional 306.43

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Ao Júlio,ao Bruno e à Júlia,

amores transcendentes.

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Singeleza

Abre-se a cancela do jardimCom a docilidade da páginaQue uma freqüente devoção interrogaE dentro os olharesNão precisam deter-se nos objetosQue já estão cabalmente na memória.Conheço os costumes e as almase esse dialeto de alusõesque todo agrupamento humano vai urdindo.Não necessito falarNem mentir privilégios;Bem me conhecem aqueles que aqui me rodeiam,Bem sabem minhas penas e minha fraqueza.Isso é alcançar o mais alto,O que talvez nos dará o Céu:não admirações nem vitóriasmas simplesmente ser admitidoscomo parte de uma Realidade inegável,como as pedras e as árvores.

Jorge Luis Borges

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Aos professores da Escola Sédna, que se dispuserama dar seu tempo, atenção e depoimentos durante toda apesquisa.

Aos professores Francisco Liberato Póvoa e José Hen-rique Diniz, já distanciados da docência na escola, mas nãoda Educação, pelo recuo no tempo e pelos fios da memória.

À equipe pedagógica e aos funcionários, pela contri-buição para que a pesquisa de campo fosse realizada.

Aos capoeiristas, especialmente, em nome do mestreCavalieri, que me recebeu em sua casa para contar sobre acapoeira em Minas Gerais.

Ao professor Costela e aos jovens e às jovens estudantesda escola e parte do Grupo de Capoeira M.B, personagenscentrais desta história e co-autores desse livro, pela acolhida epela confiança em mim depositadas. Espero ter correspondi-do a tanto afeto e afirmo que, sem os depoimentos e pedaçosde histórias deles, este livro não teria sido possível.

À Sandra, pela parceria e orientação afetuosa e exi-gente com que sempre se faz presente em minha vida.

Agradecimentos

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PREFÁCIO..................................................................

ABRINDO AS CORTINAS – JUVENTUDES

E ESTUDOS DE JOVENS NO BRASIL................................

CULTURA JUVENIL E COTIDIANO – A ESCOLA SÉDNA

E O COTIDIANO ESCOLAR............................................

Escola Sédna: localização, história em Belo Horizontee itens para o cotidiano escolar................................................

Cenas juvenis na Escola Sédna e os sentidos da escolapara os jovens..............................................................................

CULTURA SIMBÓLICA, JUVENTUDE E SABERES –A INSTITUIÇÃO ESCOLAR E O GRUPO DE

CAPOEIRA M.B.........................................................

O Grupo de Capoeira M.B na Escola Sédna..........................

Os rituais juvenis na escola e na capoeira como encenações.....

Aspectos de trajetórias de vida.................................................

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Sumário

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COLEÇÃO CULTURA, MÍDIA E ESCOLA12

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LINGUAGENS DO CORPO, ORALIDADE E SIMBOLISMOS

– O GRUPO DE CAPOEIRA M.B, SABERES E

INSTITUIÇÃO ESCOLAR...............................................

O primeiro encontro com o Grupo, cenas juvenis

simbólicas e decisões para a pesquisa......................................

Saberes e identidades: o que a “Galerinha” diz da

escola e do Grupo de Capoeira...............................................

A Roda de Capoeira e a Roda de Conversa:

espaços de saberes e aprendizados..........................................

FECHANDO AS CORTINAS – JUVENTUDE E ESCOLA

BRASILEIRAS: DESAFIOS E DILEMAS.............................

REFERÊNCIAS............................................................

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ABRINDO AS CORTINAS – JUVENTUDES E O ESTADO DA ARTE

SOBRE OS ESTUDOS DE JOVENS NO BRASIL

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O livro, Entre gingas e berimbaus: um estudo de casosobre culturas juvenis, grupos e escolas, que integra a cole-ção Cultura, Mídia e Escola, resulta de uma pesquisarealizada pela autora, Carla Valéria Linhares Maia, histo-riadora e professora da rede municipal de educação, à épo-ca, com um grupo de cultura juvenil formado por alunosde uma escola pública de Belo Horizonte, em 2003.

Enfrentando o desafio da interdisciplinaridade, aautora apropriou-se de uma abordagem histórico-antro-pológica e, nela, realizou uma etnografia corretamentecompreendida como dimensão que institui o conhecimen-to antropológico. Sem dúvida, o cuidado e o rigor comque a pesquisa foi realizada, sua consistência teórica emetodológica e o olhar sensível com que Carla Valériaacompanhou por quase um ano, entre indas e vindas no“sítio”, o cotidiano do grupo, na escola e fora dela, sinali-zam para uma produção de qualidade que deve ser a mar-ca da atividade presente na academia.

Desde a escolha da escola e do grupo de cultura –no caso um grupo de capoeira – a serem pesquisados e o

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COLEÇÃO CULTURA, MÍDIA E ESCOLA14

diálogo permanente que a autora mantém com seus refe-renciais teóricos, todos eles articulados de modo irrepreen-sível, imprimem a esse livro a marca de um texto que mui-to pode contribuir para a formação e a prática de profissionaisda educação e da mídia em geral, especialmente professo-res de qualquer modalidade de ensino.

Revelando a cultura como mecanismo simbólico queestrutura relações sociais e ousando realizar uma pesquisaem campos fronteiriços do conhecimento, como História,Antropologia, Sociologia e Pedagogia, o livro aborda demodo original a temática de grupos culturais juvenis comoespaços de aprendizagem e de socialização na relação coma escola, que, em geral, está “ausente” desse mundo dosjovens alunos.

Fato importante considerado neste livro é que as in-formações sobre os jovens, nestes pouco mais de quinhen-tos anos de história brasileira, ainda se encontram frag-mentadas e dispersas nas pesquisas sobre a história dafamília, da mulher, da criança, da educação ou nos estu-dos demográficos. E nos poucos estudos existentes o foconão é exatamente o aluno, mas a instituição escolar.

Fato que evidencia a necessidade da realização depesquisas na área da Educação em que os alunos sejam ofoco privilegiado de análises que extrapolem os muros daescola, para conhecer os jovens em outros espaços, alémdos tradicionalmente reconhecidos, como a família e acomunidade. Da mesma forma, torna-se evidente a ne-cessidade da inserção das variáveis culturais como gênero eetnia, entre outras, na construção de discursos sobre osalunos.

Diante desse cenário, a autora privilegiou uma ques-tão que está na ordem do dia e sugeriu algumas respostas,ou formulou novos questionamentos: Quem são nossos

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jovens alunos procedentes de camadas pobres da popula-ção, vivendo e vivenciando cenários de violência e de ris-co social? Como eles significam seus processos de escolari-zação e que estratégias inventam para dar conta devivenciar numa sociedade cujo traço tem sido, historica-mente, o da exclusão e da adversidade para com eles?Como se compreendem, interagem e pensam seus proje-tos – exercem o protagonismo juvenil – em uma socieda-de onde a mídia exerce uma influência indiscutível, nãoapenas construindo discursos ou representações acerca de-les, que nem sempre correspondem à sua realidade, comooferecendo-lhes modelos de convivência e de socialização,o que quer dizer diretamente da constituição identitáriadesse sujeitos?

E como Carla Valéria bem revela, esses jovens comos quais dialogou não estão isolados do restante do mun-do; vivem em uma sociedade globalizada e complexa emque informações, imagens, crenças e tradições muito dife-rentes circulam pelos espaços e pelas instituições das gran-des metrópoles, de maneira rápida e fragmentada. Jovens,que, indiferentes à sua condição econômica, entram emcontato e interagem com essas diferentes situações.

Essas e tantas outras inquietações e conflitos que ron-dam a escola na interação com o entorno e com seus alu-nos encontram neste livro uma reflexão séria que sinalizade modo contundente para o quanto a instituição escolarnecessita encurtar ou, preferencialmente, eliminar a dis-tância entre seus projetos e os de seus alunos. O abismoentre o mundo da escola e o mundo do jovem, mostra, naverdade, a ausência de diálogo provocado pelo desconhe-cimento mútuo entre os participantes de um mesmo mun-do e contexto, cindidos pelo não-exercício das alteridadese da comunicação efetiva.

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Finalmente, quero destacar a importância e a atuali-dade deste texto, cuja narrativa flui com sensibilidade, ele-gância e clareza para qualquer leitor, e sua real contribui-ção para pensarmos juventude, escola e culturas noprotagonismo dos primeiros como sujeitos de direitos e dedeveres; sujeitos que sonham, pensam no futuro, agem emfavor deste e desejam uma sociedade mais igual e maisjusta e na afirmação da escola como lugar de aprendiza-gens e da pluralidade cultural.

Parabéns à Carla, e a nós, por tê-la na coleção Cul-tura, Mídia e Escola. Parabéns aos leitores que encon-trarão nesse livro desafios com os quais aprendemos e apre-endemos a complexa trama social vivenciada no tempopresente!

Prof. Sandra de F. Pereira Tosta

Coordenadora da coleção Cultura, Mídia e Escola

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