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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS I PEDAGOGIA EDUCAÇÃO INFANTIL RENATA DA SILVA MASSENA ENTRELAÇAMENTOS ENTRE AS CONCEPÇÕES DO EDUCAR E DO CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL SALVADOR 2011

ENTRELAÇAMENTOS ENTRE AS CONCEPÇÕES DO … · 2011-05-06 · Tabela 4-Para as professoras é possível educar na perspectiva do cuidado ... B) Os estigmas ainda existem no sentido

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I

PEDAGOGIA EDUCAÇÃO INFANTIL

RENATA DA SILVA MASSENA

ENTRELAÇAMENTOS ENTRE AS CONCEPÇÕES DO EDUCAR E

DO CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

SALVADOR

2011

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RENATA DA SILVA MASSENA

ENTRELAÇAMENTOS ENTRE AS CONCEPÇÕES DO EDUCAR E DO

CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada a Universidade do Estado da

Bahia – UNEB Departamento de Educação, Campus I,

como pré-requisito para a conclusão do curso de

Pedagogia, Habilitação em Educação Infantil.

Orientador (a): Prof.ª. Drª. Mª de Fátima Noleto.

SALVADOR

2011

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RENATA DA SILVA MASSENA

ENTRELAÇAMENTOS ENTRE AS CONCEPÇÕES DO EDUCAR E DO

CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia submetida à aprovação do corpo docente da

Universidade do Estado da Bahia – UNEB

Departamento de Educação, Campus I, como pré-

requisito para a conclusão do curso de Pedagogia,

Habilitação em Educação Infantil.

Aprovada em:___________________________

Banca Examinadora

_______________________________________

Prof.ª.Drª. Mª de Fátima Noleto – Orientadora

Universidade do Estado da Bahia

_________________________________________

Prof.ª. Ms. Adelaide Badaró

Universidade do Estado da Bahia

_________________________________________

Prof.ª.Ms. Rilza Cerqueira

Universidade do Estado da Bahia

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Dedico este trabalho a Deus, pois é Dele toda sabedoria em

mim depositada. A Renata da Silva Massena que com

determinação realizou esta pesquisa. Aos meus amados pais

José e Dádiva que de tudo fizeram para realização deste nosso

sonho.

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AGRADECIMENTOS

Todo agradecimento a Deus pois, Dele é toda sabedoria

depositada em mim.

Agradeço aos meus pais José e Dádiva pelo amor e dedicação.

Agradeço meus irmãos em especial ao meu irmão Romilson que

sempre me ajudou e acreditou em mim.

Agradeço a meus sobrinhos que nos meus momentos difíceis

trouxeram o riso para aliviar minhas agonias.

Agradeço as professoras e auxiliares do CMEI que se dipuseram

a colaborar com a construção desta pesquisa.

Agradeço a minha orientadora Fátima Noleto pelo compromisso

e dedicação sempre presente e acreditando no meu potencial.

Agradeço as minhas amigas Unebianas Aldeir sempre presente e

dispostos a me acolher. Karen pelos momentos de alegria! A

minha co-orientadora Gabriela, sua dedicação além de suporte

na pesquisa foi um apoio afetivo. Obrigada amiga! A Lorena

(mauca amo você); Laís (obrigada pelos telefonemas de apoio,

amo-te!). A Dani Caldas que com sua doçura, ajudou-me. Valeu

Dani!

Agradeço a Adelaide, Isaura e Patricia minhas queridas

professoras e hoje posso considerá-las amigas. Valeu por tudo!

As minhas amigas de longas datas Nádma, Ceci, Vel, Lene,

Claúdia, Lene 2, Tathy e Vanessa. Amo vocês.

Agradeço a Dr.Márcia pela escuta sempre colaborando, dando

coragem a seguir em frente.

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Todas as vossas coisas sejam feitas com amor. 1 Cor.16:14.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1-Concepção de cuidar para professoras e auxiliares

Tabela 2-Concepção de educar para professores e auxiliares

Tabela 3-Distinção entre cuidar e educar para professoras e auxiliares

Tabela 4-Para as professoras é possível educar na perspectiva do cuidado

Tabela 5- Ações desenvolvidas pelas professoras para educar cuidando

Tabela 6-Como a professora percebe o cuidado na proposta pedagógica

Tabela 7-Como as professoras percebem o trabalho das auxiliares

Tabela 8-Como as professoras explicam a rotina da creche

Tabela 9- Quais atividades são de cuidar e educar

Tabela 10-Como as auxiliares compreendem o cuidado na sua prática

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LISTA DE SIGLAS

CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil)

RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil)

LDB (Lei de Diretrizes e Bases para a Educação)

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RESUMO

O objetivo deste trabalho consiste em apresentar as concepções de educar e cuidar

pontuando seus entrelaçamentos na educação infantil, assim como, uma discussão sobre

práticas educativas envolvendo a rotina onde ações do educar e do cuidar se

estabelecem. A pesquisa teve como base um estudo de caso realizado no Centro

Municipal de Educação Infantil (CMEI) Vovô Zezinho. A proposta foi de analisar como

as ações do educar e do cuidar são constituídas e executadas por professoras e

auxiliares.Discutindo sobre as práticas educativas, e se elas estão entrelaçadas entre o

educar e o cuidar tendo como foco dessa prática a criança contemplando seu

desenvolvimento enquanto sujeito; possibilitando a criança ver a vida sobre outro

prisma.

Palavras chave: Educar- Cuidar- Práticas Educativas.

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ABSTRACT

This purpose of this work is to present the conceptions of educating and taking care of to discuss their interlacements with childhood education, as well as to discuss the educational practices and the routine that are related to the actions of educating and taking care of. The present research uses as basis a case study that took place at Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Vovô Zezinho. The purpose of this work is to analyze how the educating and the taking care of are perceive by the teachers and the assistants that are responsible for developing these actions. Bringing educational practices that intersperse the educating and the taking care of, for the benefit of the children and their development as individuals. Offering children the possibility to see life through a different lens.

Key Words: Educating-Taking Care Of- Educational Practices.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................12

1 EDUCAR E CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL.............................................15

1.1 EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................................................15

1.2 CONCEPÇÕES DE EDUCAR................................................................................19

1.3 CONCEPÇÕES DE CUIDAR.................................................................................22

2 PRÁTICAS EDUCATIVAS......................................................................................27

2.1 A ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL...............................................................32

3 ELOS ENTRE O EDUCAR E CUIDAR..................................................................36

3.1 ANÁLISE DE DADOS.............................................................................................36

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................61

REFERÊNCIAS.............................................................................................................63

APÊNDICE A

APÊNDICE B

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INTRODUÇÃO

A criança durante seu processo de desenvolvimento necessita de cuidados e educação.

Educar possibilitando o desenvolvimento da criança em vários aspectos, tais como,

cognitivo, físico, emocional, entre outros. Oferecendo a criança ações entrelaçadas entre

o cuidar e o educar. Pontuando práticas educativas significativas que colaborem para

isto. Sobretudo, alicerçando os objetivos que queremos alcançar com as crianças dentro

deste processo.

O cuidar abrange questões de dedicação e observação da criança em desenvolvimento,

tendo em vista, que a educação é um processo social e que deve perceber o sujeito como

um todo. Concebendo o cuidar para além do cuidado com o corpo. Portanto, a visão

outrora assistencialista de cuidar passa a ter o corpo também como “espaço” para

educar. Desse modo, o educar e o cuidar, pode-se dizer que são ações entrelaçadas na

educação infantil e para toda a vida.

Este trabalho tem como objetivo compreender os entrelaçamentos entre as concepções

de educar e de cuidar na educação infantil. Na sociedade há/é ainda um estigma falar

sobre questões que envolvam o corpo. Por muito tempo separou-se mente e corpo

gerando assim uma dicotomia, portanto falar de cuidar na educação infantil nos remete

somente e meramente a cuidados higiênicos. Assim como o educar é compreendido

como processo de esfera cognitiva. Nas instituições as funções são distintas a professora

educa e as auxiliares cuidam.

Promovendo uma distancia entre as ações e as pessoas. O interesse pelo tema surgiu em

momentos distintos da trajetória acadêmica. Porém, o desejo cristalizou-se durante a

participação em um projeto que ocorreu no ano de 2010, denominado “A creche e a

educação cidadã”. A participação no projeto possibilitou entender e compreender as

ações do educar e do cuidar ocorridas no cotidiano do CMEI.

Durante a participação no projeto foi possível perceber a prática do cuidado envolvida

em estigmas ora com uma visão maternal, ora com conduta assistencialista. Assim, as

inquietações surgiram no sentido de discutir os entrelaçamentos do educar e do cuidar e

como as práticas educativas subsidiam para que estes objetivos sejam alcançados no

CMEI.

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A participação nas oficinas e na execução do projeto trouxe a tona indagações que

giram em torno das ações do educar e do cuidar na instituição de educação infantil e

como são executadas no Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Vovô Zezinho

através das práticas educativas.

Em 2010, ao cursar a disciplina estágio supervisionado tendo como espaço de atuação o

Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Olga Benário, algumas reflexões,

indagações e fatos ocorridos no período de participação do estágio possibilitou um

contato, um maior envolvimento com a rotina do CMEI. Além de um desejo pessoal em

estar imersa no espaço de educação infantil, pois este é o lugar da/para criança, e o

adulto têm o compromisso de cuidar e educar no sentido de proporcionar a essa criança

aquilo que lhe é de direito.

Sendo assim, no processo de organização deste trabalho, surgiram questionamentos

questionando o cuidar e o educar no CMEI. A) Quais concepções e os entrelaçamentos

das ações de educar e cuidar? B) Os estigmas ainda existem no sentido de separação das

ações? C) Cuidar é um direito da criança e confere ao adulto contribuir para isto? D)

Como as práticas educativas podem contribuir para entrelaçar as ações de educar e

cuidar? E) Qual o papel da rotina para que as práticas educativas tornem essas ações

unidas?. Assim a pesquisa pretende alcançar pontos importantes de discussão com foco

nos conceitos: educar, cuidar, práticas educativas e sobre o percurso da educação

infantil.

Esses questionamentos despertaram então um desejo em estudar sobre as concepções do

educar e do cuidar e como essas concepções refletem nas práticas na instituição de

educação infantil. Assim a pesquisa pretende alcançar pontos importantes de discussão

com foco nos conceitos: educar, cuidar, práticas educativas e o percurso da educação

infantil.

O trabalho de pesquisa surgiu como um compromisso social, pois o tema é relevante e

necessário para discutir as divergências e emergências que estão vistas e invisíveis no

cotidiano do CMEI onde a proposta seja entrelaçar as ações do educar e do cuidar.

Fundamenta-se este trabalho nos estudos de Kramer (2005; 2009) para tratar sobre o

percurso da educação infantil assim como o Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil RCNEI (1998); para tratar sobre as concepções de educar e cuidar

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utilizei Kramer (2005; 2006; 2009); Boff(1999) no item sobre as práticas educativas e

rotina na educação infantil pesquisa se apoia em Freire (2007) e Barbosa (2009).

A metodologia aplicada foi um estudo de caso que de acordo com Lüdke e André (1986,

p.17) o estudo de caso “é o estudo de um caso, seja simples e específico ou complexo e

abstrato”. Tal pesquisa envolveu professores e auxiliares do Centro Municipal de

Educação Infantil (CMEI) Vovô Zezinho. Os instrumentos da pesquisa foram dois

questionários, um específico para as professoras e outro para as auxiliares,

possibilitando conhecer as interações adulto/criança nas ações de educar e cuidar.

Organiza-se este trabalho em três itens. O primeiro item trata do educar e cuidar na

educação infantil, dentro deste item um breve recorte sobre o percurso da educação

infantil, apresentando as concepções de educar e cuidar. O segundo item aborda as

práticas educativas: rotinas na educação infantil. O terceiro item trata sobre os elos do

educar e do cuidar na educação infantil apresentando a pesquisa e os entrelaçamentos

das ações de educar e cuidar.

Diante disso, a realização do estudo sobre o tema é pertinente, pois através da análise

dos dados adquiridos compreendo a educação infantil como estágio de vivência que

educa e também cuida do outro. Visto que, o Centro Municipal de Educação Infantil

(CMEI) Vovô Zezinho é o espaço reservado para o entrelaçamento das ações do educar

e do cuidar contemplando a criança.

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1. CONCEPÇÕES DE EDUCAR E CUIDAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Este item tem o propósito de apresentar e discutir sobre as concepções dos termos

educar e cuidar, pois ora são distintos, ora estão juntos e ora se conflitam na educação

infantil. Começamos com um breve recorte sobre o percurso da educação infantil, em

seguida apresentamos as concepções dos termos educar e cuidar abrindo espaço para

nas entrelinhas percebendo os entrelaçamentos.

1.1 EDUCAÇÃO INFANTIL

A Educação Infantil tem em seu histórico uma política de atendimento voltada para a

assistência e de grandes lutas para a valorização da infância enquanto etapa importante

do desenvolvimento infantil. Este tópico trata de reunir importantes passagens da

história da educação infantil até chegar ao que hoje a constitui. A fundação da educação

infantil ocorre com o novo conceito dado a infância, um novo olhar sobre a criança e o

seu desenvolvimento e, também pela inserção da mulher no mercado de trabalho.

Durante o século XIX houve alguns movimentos esparsos, tanto nos Estados Unidos

quanto na Europa, pela institucionalização da educação pré-escolar. O objetivo

primordial não era atender a criança pré-escolar, mas guardá-la enquanto suas mães

trabalhavam. (Mendes, 1999 p. 42, Kramer 2006, p.25).

Segundo Mendes (1999)

Com os avanços dos conhecimentos sobre a natureza no ritmo da

aprendizagem infantil, foi possível visualizar uma nova função da pré-escola

de preparar convenientemente as crianças de 0 a 6 anos para melhor

desempenho no ensino de primeiro grau. (MENDES, 1999, p. 46)

De acordo com Kramer (2006) “surgem os jardins da infância por Froebel, nas favelas

alemãs; por Montessori nas favelas italianas A pré-escola era encarada, por esses

educadores, como uma forma de superar a miséria, a pobreza e a negligência familiar”.

(KRAMER, 2006, p.25).

É possível compreender que a educação das crianças não tinha um cunho educativo. Era

uma preocupação em cuidar e promover a saúde. Ocorre então uma espécie de

laboratório, incubadora do que seria a creche e a pré-escola instituída atualmente salvo

as determinações que dão a creche uma função também de educar.

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Kramer (2006) dividiu os períodos históricos de atendimento a criança da seguinte

maneira:

Do período 1500 até 1874 praticamente não houve preocupação com as

crianças. Já no período de 1874 a 1899 aponta que foi à época conhecida

como dos médicos-higienistas iniciativas voltadas às crianças e se dirigiam

contra a alarmante mortalidade infantil. A partir da década de 30 a mesma

autora salienta sobre mudanças ocorridas na sociedade que atinge

diretamente a educação e o cuidado de crianças brasileiras. (KRAMER,

2006).

Pode-se dizer que esse percurso se segue entre momentos de desconhecimento sobre

atendimento, preocupação com a saúde e em seguida se inicia um período de concepção

educativa.

De acordo com Angotti (1995)

As instituições pré-escolares nasceram no século XVIII em resposta à

situação de pobreza, abandono e maus-tratos de crianças pequenas cujos pais

trabalhavam em fabricas, fundições e minas criadas pela Revolução Industrial

que se implantava na Europa Ocidental. Todavia, os objetivos e formas de

tratar as crianças dos extratos sociais mais pobres das sociedades não eram

consensuais. (ANGOTTI, 1995, p.15)

Desta forma inicia-se a concepção de pré-escola baseada no binômio cuidado e

educação, já que as crianças pertencentes à classe média e dominante possuíam naquele

período um atendimento que privilegiava desenvolvimento afetivo e cognitivo,

enquanto os filhos da classe mais pobres tinha o cuidado como principal forma de

atendimento.

Barbosa (2006) aponta que a educação infantil tem uma proporção de maior atenção a

partir de 1970 como afirma a autora que:

[...] a educação de crianças de 0 a 6 anos adquiriu um novo estatuto no campo

das políticas e das teorias educacionais. Finalmente, a histórica luta por

creches e pré-escola, engrendadas por diferentes movimentos sociais, tomou

grandes proporções, e os governos- principalmente aqueles que se instalaram

pós-abertura política- realizaram investimentos para a ampliação do direito à

educação das crianças dessa faixa etária. (BARBOSA, 2006, p.15).

Este é um período onde se tem consciência de que educar crianças deve ocorrer também

fora do espaço familiar. Sendo assim, a luta por espaços que tivesse objetivo também

educativo é solicitado por pessoas envolvidas na luta por uma educação infantil de

qualidade. Nesse processo de institucionalização Barbosa aponta que:

Na construção da modernidade, as práticas de educação e cuidado das

crianças foram deslocadas de ações moldadas por grupos familiares,

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privados, singulares, heterogêneos e locais para sistemas modernos,

homogêneos, públicos e globais. (BARBOSA, 2009, p.71).

O mais significativo dessa nova instituição é quando prevalece uma educação pautada

em formar pessoas livres, cientes de sua participação na sociedade enquanto sujeito a

ela pertencente que cria e recria a todo momento. A assistência torna a criança um ser

dependente e a única possibilidade de reverter essa dinâmica é uma estrutura onde

educar seja significativo.

No Brasil o atendimento as crianças da educação infantil começa a ser expressa na

Constituição Federal de 1988 em seu artigo 208 inciso 4º, no qual assegura o

atendimento de crianças até cinco anos na educação infantil em creches e pré-escolas. O

documento define que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar a criança e ao

adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à educação,

ao lazer à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e

à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda

forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e

opressão (CONSTITUIÇÃO, 1988)

O atendimento a criança ampliou-se com a presente Constituição Federal de 1988

permitindo assim que novos documentos surgissem para compor e nortear o trabalho

para com crianças. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 5692/1971. A Lei

de Diretrizes e Bases da Educação LDB 9394/1996; o Referencial Curricular Nacional

para a Educação Infantil, (RCNEI/1998).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 5692/1971 Art. 17- paragrafo

segundo institui que “os sistemas de ensino velarão para que as crianças de idade

inferior recebam convenientemente educação em escolas maternais, jardins de infância

e instituições equivalentes”.

No ano de 1996 A Lei de Diretrizes e Bases para Educação (LDB 9.394/ 96) modifica o

panorama da educação infantil no seu artigo 29 quando considera:

A educação infantil é a primeira etapa da Educação Básica, tem como

finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em

seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social, complementando a

ação da família e da comunidade. (LDB/9394/96).

Em 1998 surge o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI)

que esclarece:

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Conjunto de referências e orientações pedagógicas que visam contribuir com

a implantação ou implementação de práticas educativas de qualidade que

possam promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da

cidadania das crianças brasileiras. (RCNEI, 1998 p.13).

A maior mudança voltada para educação infantil solicita pautar-se na mudança de

paradigma em torno da promoção de uma educação integrada e integradora entre

criança-adulto-mundo-escola. Prevalecendo a manutenção de relações dialógicas e

voltadas para uma sociedade que siga princípios de direitos do cidadão para que então

possa enquanto cidadão exercer também seus deveres.

O RCNEI/1998 esclarece:

Nessa perspectiva, o uso deste Referencial só tem sentido se traduzir a

vontade dos sujeitos envolvidos com a educação das crianças, sejam pais,

professores, técnicos e funcionários de incorporá-lo no projeto educativo da

instituição ao qual estão ligados”. (BRASIL, 1998, p. 14)

O Referencial Curricular para a Educação Infantil tem em seu texto uma proposta que

possibilita aos envolvidos com a educação de crianças compreende-las como sujeito de

direito e com vozes onde possam assim, juntos constituir um fazer educativo eficiente e

prazeroso, e acima de tudo transformador.

A Educação Infantil pode ser considerada uma etapa conquistada onde passou de ser

uma utopia, um desejo e assenta-se na ideia de Angontti (2008) quando afirma que:

Educação Infantil significa a convicção de que novos tempos podem ser

pensados para a sociedade; desenvolvendo e realizando pessoas mais

completas, seres mais íntegros que saibam exercer seus papéis enquanto ser

pessoa, ser social, ser histórico, ser cultural, novos tempos em que o ser

humano possa viver a plenitude de todas as etapas de sua vida, realizando-se

e tendo a plenitude de todas as etapas de sua vida, realizando-se e tendo uma

atividade intensa, uma vivência clara do que seja ser criança e viver a

infância (ANGOTTI 2008 p. 26).

A tomada de consciência desses novos tempos configura uma educação infantil pautada

em um profissional apto e disponível a este compromisso. A educação de crianças

demanda um contexto estabelecido para elas e com mediadores integrados a informar,

formar, estimular e interagir junto e cuidá-las. Angotti (2008) esclarece que:

A definição de uma profissionalidade para os educadores infantis deverá

considerar o fundamental da natureza da criança que é a ludicidade,

entendida na sua perspectiva de liberdade, prazer e do brincar enquanto

condição básica para promover o desenvolvimento infantil, promovendo uma

articulação possível entre educar e cuidar. (ANGOTTI, 2008 p.19).

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A articulação pertinente a essa fase é um fazer docente pensando na criança como um

ser em desenvolvimento e que necessita sim de cuidados específicos e que as

especificidades desse cuidado não tomem como base o assistencialismo e sim, uma

concepção de cuidar e educar integrados para um objetivo comum.

Dessa forma o saber divulgado deve ser consciente e que fomente a criticidade das

crianças e que desse modo, através da interação, conheça o mundo em que vivem e

possam interferir sobre ele de forma a manter e acrescentar algo novo aos

conhecimentos históricos.

As crianças ganharam espaços, artifícios feitos para elas, a família deixa de ser a única

referência de vida em sociedade. A institucionalização e a rotinização da infância- tão

necessária- caracterizaram toda essa construção instrumental, feita ao longo do século

XX, de um dever ser na educação das crianças pequenas, ou seja, da sua normalização.

(BARBOSA, 2009, p.77).

A educação infantil é neste momento um laboratório de promoção do diálogo, da

interferência, da manutenção de expedientes para a manutenção desse espaço alcançado

pela sociedade.

A caracterização da Educação Infantil está na possibilidade de integração entre educar e

cuidar, e essas são ações entrelaçadas por si só. Pois, ao mesmo tempo em que se educa

para desenvolver, aprender e adquirir novos conhecimentos. Entender que educar é um

movimento interno e de revelação externa que busca fomentar um indivíduo

complacente consegue e com o mundo em que vive. Essa etapa da educação é um

processo que deve priorizar o sujeito criança como ser em desenvolvimento e como

cidadão de direitos com a perspectiva de cumprir deveres socialmente estabelecidos.

1.2 CONCEPÇÕES DE EDUCAR

Kramer e Guimarães (2009), evidência que ”apesar de na história de atendimento à

infância ter se formado uma polarização nas ações assistência ou educação”. Os

documentos e leis que norteiam hoje a educação de crianças fomentam uma nova

concepção de educar que pode ser traduzido por Kuhlmann Jr. (1999) apud Kramer

(2009) onde ele destaca que:

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No movimento de integração entre educar e cuidar as instituições de

educação infantil têm como função acolher a criança. Destacando a

importância de que o ponto de partida desse movimento seja a criança e não

um ensino fundamental preexistente. Não se trata de educá-la no sentido de

prepará-la para a escola”. (KRAMER, 2009, p.84).

Seguindo o pensamento de Kuhlmann Jr. (1999) é possível contextualizar com a

perspectiva proposta pelo Referencial Nacional Curricular para a Educação Infantil. O

RCNEI define que:

Educar significa, portanto propiciar situações de cuidados, brincadeiras e

aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o

desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e

estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança,

e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade

social e cultural”. (BRASIL, 1998, p.23)

Educar visando o desenvolvimento completo da criança em todos os aspectos que a essa

fase é pertinente, tais como, aspectos físicos, cognitivo, social, afetivo, biológico

pensando em uma criança como ser atuante, inventivo, singular, plural com potencial

próprio para atuação em um mundo multirreferencial. Desta forma a proposta do

RCNEI, (1998, p. 17) consiste em “modificar essa concepção de educação

assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos

legais”.

A compreensão sobre o termo educar solicita uma visão global e responsável propondo

um educar que priorize desenvolvimento íntegro e integral, integrando vida e educação.

Educar é possibilitar mediante reflexões e diálogo para possibilitar à criança interagir na

construção pessoal e construção do seu conhecimento. Ampliando questões que possam

sustentar sua forma crítica de ser.

Freire (2008, p.22), aponta que somos “seres históricos e inacabados” desse modo

educar é proporcionar ao outro a oportunidade de se reconstruir dentro da sociedade, é o

processo de redescoberta interior para interferir sobre o mundo. Produzindo

conhecimentos ainda não existentes e se preenchendo de forma crítica dos que já

existem. Educar inexiste quando tentamos fazer dessa ação um elemento técnico e

transmissivo, desse modo o entrelaçamento de saberes entre adulto e criança possibilita

uma condição ética de estar no mundo.

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21

De acordo com Viana (2009, p.35) “aprendizagem não seria apenas inteligência e

construção de conhecimento, mas, basicamente, identificação pessoal e a relação se dão

através da interação entre pessoas”. Educar consiste em um desafio diário onde as

relações humanas contribuem para que esse processo seja retroalimentador e,

significativo para ambos envolvidos no processo.

Preservando o processo interativo sujeito e ambiente, homem e mundo coexistindo e

convivendo no mesmo espaço. Educar crianças é complexo, pois é necessário entender

o contexto considerando principalemente os aspectos sociais, corporais, afetivo-

emocional, espiritual, cognitivo. Eles se entrelaçam e determinam a condição humana,

mas o processo escolar prioriza torná-las somente aluno.

Para Viana (2009, p. 90), educar é, em síntese, humanizar, favorecer a cooperação, a

solidariedade e a originalidade presentes em um de nós. A autora defende a ideia de

pensar em uma forma que as crianças aprendam através de uma aprendizagem do amor

como meta para viver o coletivo. Reciprocidade e continuidade são critérios pertinentes

para educar em sentido completo favorecendo pensamento, sentimento,

desenvolvimento integral e preservando o ser criança.

As ideias de Viana (2009) se aproximam dos estudos de Moraes quando propõe que: “É

educar sem reprimir ou negar a experiência da comunhão, a experiência do coração, a

experiência do espírito e a experiência do sagrado”.

De acordo com Azevedo (1980), “Na civilização ocidental, a justiça foi não raro

apresentada como o equilíbrio na tensão entre direitos e deveres estabelecidos em

termos de lei”. O mesmo autor defende que:

A verdadeira justiça que é função do homem só se realiza quando o ser

humano que existe pode desfrutar de todos os direitos fundamentais que lhe

assistem como pessoa e de todos os direitos sociais, enquanto indivíduo

situado num contexto comunitário e social. ( AZEVEDO, 1980, p.16)

Esse contexto comunitário e social pode-se também ser traduzido em “escola” um

espaço de constituição para educar e promover ações de consciência crítica, desta forma

se a educação deriva desse processo de organização social é humanamente natural

educar na perspectiva da convivência com o outro no sentido de promover uma

educação como salienta Azevedo (1980, p. 18) “[...] educação para construir uma

sociedade justa”.

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Desta forma, temos que implementas práticas educativas que faça compreender que o

educar é o único processo que constitui o ser como um todo e participante de uma

sociedade, tendo ele a missão de contribuir para o processo histórico da sociedade em

que vive, transformando, modificando e atribuindo concepções criando novos

paradigmas que possibilitem a participação crítica dos sujeitos sociais.

Sendo assim Azevedo (1980) sugere:

Uma educação centrada sobre a análise atenta e crítica dos conteúdos de

conhecimento e dos sistemas de organização social, mas capaz de traduzir-se

ao mesmo tempo, por seu arcabouço metodológico, em processo construtor

de solidariedade, participação e justiça. (AZEVEDO 1980 p.18)

Nesse contexto educar colabora para uma sociedade além de justa, congruente e ao

mesmo tempo comunicativa onde os sujeitos possam constituir diálogos para estruturar

uma sociedade mais equilibrada. Estabelecendo elos entre quem educa e quem é

educado e quem cuida e é cuidado. Pois, o modo de promover um desenvolvimento e

aprendizagem de cada uma das crianças, e ao mesmo tempo, dos diferentes grupos aos

quais elas pertence: escola, família, comunidade, bairro, cidade entre outros.

1.3 CONCEPÇÕES DE CUIDAR

Cuidar é parte integrante de todo o processo educativo tendo em foco o

desenvolvimento da criança como ser “lacunado” em busca de formação pessoal, social

e cultural e também produtor de cultura. Partindo do pressuposto de que cuidar está

pautado na necessidade do outro. Uma relação preexistente nas relações humanas e na

educação tem papel fundante na perspectiva de que o cuidar não está restrito a

necessidades higiênicas.

Cuidar de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

RCNEI (1998),

[...] é, sobretudo dar atenção a ela como pessoa que está num continuo

crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua singularidade,

identificando e respondendo às suas necessidade. Isto inclui interessar-se

sobre o que a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo,

visando à ampliação deste conhecimento e de suas habilidades, que aos

poucos a tornarão independente e mais autônoma. (BRASIL, 1998, p.25).

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23

Cuidar é uma ação que compete aos educadores, não só como processo educativo, mas

também é constituinte das relações humanas. Na educação infantil o cuidado é uma

forma de imprimirmos ações de respeito, afeto e de estar com o outro enfrentando o

mesmo processo. O papel do cuidar na educação infantil é de natureza dessa fase a

possibilidade de sensibilização para as necessidades do outro.

Ainda de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

(RCNEI/ 1998),

O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que

envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do

corpo, com a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto

da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a

conhecimentos variados. (RCNEI, 1998, p.24)

Desse modo, cuidar é emergencial na educação infantil, no sentido de estar

comprometida em uma relação sujeito-sujeito1 respeitando singularidades, e percebendo

a necessidade de formação de vínculos para que a educação infantil não seja um preparo

para a vida sim uma etapa da vida onde a criança tem o direito de desfrutar com prazer e

nela encontrar-se autônoma.

O Referencial possui como base uma preocupação com o cuidar na esfera educativa

que vai além do cuidado com o corpo, nesse sentido salienta que:

Contemplar o cuidado na esfera da instituição de educação infantil significa

compreendê-lo como parte integrante a educação, embora possa exigir

conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão

pedagógica. (BRASIL, 1998, p. 24).

Ampliando esse conceito e contextualizando com a perspectiva de cuidar é interessante

entender essa criança como sujeito histórico que necessita que o ajudem a desenvolver-

se como ser humano, sendo assim cuidar valoriza, desenvolve capacidades em uma

relação interacionista, afetiva e humana.

O cuidar é apresentado no RCNEI (1998, p.25), “Para cuidar é preciso antes de tudo

estar comprometido com o outro, com sua singularidade, ser solidário com suas

1 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia, 2008

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24

necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a construção de um

vínculo”. Concomitantemente de acordo Boff (1999)

Construímos o mundo a partir de laços afetivos. Esses laços tornam as

pessoas e as situações preciosas, portadora de valor. Preocupamo-nos com

elas. Tomamos tempo para dedicar-nos a elas. Sentimos responsabilidade

pelo laço que cresceu entre nós e os outros (BOFF, 1999, p 99).

Dentro dessa perspectiva a criança sendo um ser social implica dizer que o seu

desenvolvimento se estabelece com outros seres também humanos prevalecendo a

mediação como suporte de interação. Essa dimensão fomenta a discussão que vincula o

cuidar potencializando todas as dimensões de desenvolvimento, aprendizagem, emoção.

Nesse sentido concordamos com o RCNEI/1998

O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que

envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do

corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quando

da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a

conhecimentos variados (BRASIL, 1998, p.24).

Os profissionais envolvidos na questão do cuidar necessitam compreender as questões

de apropriação do conhecimento, a questão nutricional como momento importante e

significativo onde é possível desenvolver a socialização e o respeito, a categoria higiene

deve ser abordado para além da rotina contribuindo para fortalecimento da autoestima e

qualidade de vida. A preponderância com relação ao descanso como promoção da saúde

e necessidade para que a criança compreenda o sono como fundamental.

Cuidar dessa forma significa, sobretudo, uma maneira de sentir e viver. Para tanto, Boff

(1999, p.33) esclarece “cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais

que um momento de atenção, de zelo, e de desvelo. Representa uma atitude de

ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com outro”.

Dessa forma o papel fundamental dos educadores e auxiliares se estabelece em uma

proposta de corresponsabilidade no processo de desenvolvimento infantil entrelaçando

vida e educação, educar e cuidar contribuindo para que além do pedagógico se

estabeleça laços afetivos colocando o cuidado em tudo que projetar.

De acordo com Boff (1999),

O cuidado é, na verdade, o suporte real da criatividade, da liberdade e da

inteligência. No cuidado se encontra o ethos fundamental do humano. Quer

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25

dizer, no cuidado identificamos os princípios, os valores e as atitudes que

fazem da vida um bem-viver e das ações um reto agir. ( BOFF, 1999, p.12).

O cuidar é um terreno fértil para criar um tipo de educação que garanta a manutenção da

sociedade no sentido de promoção da convivência coletiva em prol da estabilidade

social. Cumprindo um papel social e cooperativo. O modo de o educador agir não pode

estar dissociado do modo de estar satisfeito com suas ações, pois é nessa proposta que

se fundamenta o desenvolvimento pleno e integral da criança.

Voltando a tratar do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil que

aponta:

Na instituição de educação infantil o professor constitui-se, portanto, no

parceiro mais experiente, por excelência, cuja função é propiciar e garantir

um ambiente rico, prazeroso, saudável e não discriminatório de experiências

educativas e sócias variadas. (BRASIL, 1998, p. 30).

A educação das crianças é o processo inicial de apresentação dela ao mundo e o adulto

tem a corresponsabilidade de atingir este objetivo, sendo assim cuidar é de amplo

aspecto dentro da educação infantil. Concebendo o que Boff (1999, p.17) esclarece

“precisamos de um novo paradigma de convivência que funde uma relação mais

benfazeja para com a terra e inaugure um novo pacto social entre os povos no sentido de

respeito e de preservação de tudo o que existe e vive”.

É um processo de autoconhecimento desenvolvido com práticas que conduzam a

autonomia, possibilitando ser e estar no mundo e preservando o que nele há para uso

próprio e do outro. Na sociedade vigente é preciso recuperar traços humanos para que a

educação infantil seja um aporte significativo para toda a vida.

Nessa perspectiva, Boff (1999, p. 27) propõe “construir um novo ethos que permita uma

nova convivência biótica, planetária e cósmica; que propicie um novo encantamento

face à majestade do universo e à complexidade das relações que sustentam todos e cada

um dos seres”.

Pode-se observar na afirmação de Boff (1999), que a proposta de uma nova convivência

é fazer com que as pessoas responsáveis pela educação de crianças compreendam o

mundo como um espaço de uso coletivo e que as práticas pedagógicas seja um

momento de execução de ações com atitudes éticas e voltadas para a relação de cuidar.

Fazendo com que a criança sinta que pertence ao mundo que vive e tenha o desejo de

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26

estar nele cuidando modificando, apreendendo novo saberes, construindo e

resguardando para outros.

Sendo assim, cuidar demanda se conhecer e reconhecerem que os outros são diferentes,

singulares e que cada um possui uma história de vida com objetivos, gostos, desejos,

emoção, reações próprias de cada um. Na escola, espaço de mediação para construção

do sujeito enquanto pessoa não há possibilidades de rompimento do entrelaçamento

entre educar e cuidar, pois é a fragmentação do indivíduo, ou melhor, dos indivíduos. É

um comprometimento pessoal, profissional e ético do professor com as crianças. Para o

mesmo autor

Cuidar é mais que um ato singular ou uma virtude ao lado de outras. É um

modo de ser, isto é, a forma como a pessoa humana se estrutura e se realiza

no mundo com os outros. Melhor ainda: é um modo de ser-no-mundo que

funda as relações que se estabelecem com todas as coisas. (BOFF 1999, p.92)

O resgate necessário à educação é compreender que o amor é o elo que uni as pessoas

no processo de desenvolvimento da criança, disseminando para todas as fases da vida. O

cuidar nessa perspectiva ganha força e deixa de ser atividade de mera assistência, visto

que é na educação infantil que conhecemos o mundo, o novo. No processo educativo é

importante estabelecer essa relação de estar sempre conhecendo o novo e priorizando e

resgatando construtos também velhos. Para Boff (1999)

Cuidar inclui, pois duas significações básicas, intimamente ligadas entre si. A

primeira, a atitude de desvelo, de solicitude e de atenção para com o outro. A

segunda, de preocupação e de inquietação, porque a pessoa que tem cuidado

se sente envolvida e afetivamente ligada ao outro.(BOFF, 1999, p. 92)

Nesse sentido compreendendo que cada ser humano tem vivências e experiências

próprias. Assim as crianças podem adquirir o conhecimento historicamente existente e

contribuindo para a manutenção do mesmo em uma relação de cuidar do que é seu e do

outro. É uma forma de cuidar de forma sensível, sensibilidade esta, inerente aos

humanos e que de certa forma o processo educativo oblitera.

Boff (1999) define um modo de ser mundo onde ele esclarece que:

Na forma de cuidado, permite ao ser humano viver a experiência fundamental

do valor, daquilo que tem importância e definitivamente conta. Não do valor

utilitarista, só para o seu uso, mas do valor intrínseco às coisas. A partir desse

valor substantivo emerge a dimensão de alteridade, de respeito, de

sacralidade, de reciprocidade e de complementariedade. (BOFF 1999, p.96)

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27

Nessa perspectiva temos a única forma saudável de estar no mundo, pois sugere uma

relação cordial entre os pares e essa possibilidade só se estabelece através da educação

infantil onde a criança é inserida no mundo e cabe aos educadores imbuir suas práticas

educativas de elementos que fomente a indagação, a criticidade e o respeito com seu

pares.

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2. A PRÁTICA EDUCATIVA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

As práticas educativas para a educação infantil devem ser constituídas de uma releitura,

uma reflexão e uma dedicação para que as ações nelas implícitas ocorram de forma a

suscitar a constituição da autonomia da criança. É um processo de construção integrada

com as necessidades da criança enquanto pessoa que necessita da sensibilidade, da

compreensão da escuta, da observação do professor.

Sabendo que a posição do Educador é informar ao outro não no sentido genérico da

palavra, mas sim de suscitar a possibilidade no outro de se descobrir. Neste item serão

tratadas as práticas educativas como alicerce para um fazer educativo não centrado

somente em conteúdo, mas em um fazer educativo voltado para o entrelaçamento do

cuidar e do educar com uma proposta dialógica.

De acordo com Libâneo (1994, p.16), “[...] prática educativa é um fenômeno social e

universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de

todas as sociedades”.

A prática educativa é um aspecto da ação do professor enquanto responsável por mediar

o aprendizado do educando, levando em conta que esse processo se da de forma

integrada onde todos são responsáveis socialmente com o outro. O mesmo autor salienta

que:

Cada sociedade precisa cuidar da formação dos seus indivíduos, auxiliar no

desenvolvimento de suas capacidades físicas e espirituais, prepará-los para a

participação ativa e transformadora nas varias instâncias da vida social.

(LIBÂNEO, 1994, p.17).

Esse deve ser de fato o eixo central das propostas educativas nas escolas trazer o

estudante para a condição de sujeito do seu aprendizado colocando ele a perceber que

depende dele também a sua inserção social, validando o que aprendeu e contribuindo

para com o conhecimento histórico já construído. Quanto a isso, Libâneo (1994)

esclarece:

A prática educativa não é apenas uma exigência da vida em sociedade, mas

também o processo de prover os indivíduos dos conhecimentos e

experiências culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a

transformá-lo em função de necessidades econômicas, sociais e políticas da

coletividade. (LIBÂNEO, 1994, p 17)

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29

Se a prática educativa é um meio de diversas possibilidades para que o indivíduo possa

se estabelecer socialmente é o educador consciente dessa ação que tem em mãos a

responsabilidade para com os educandos. O importante dentro da prática educativa é o

educando se perceber como sujeito do seu conhecimento. O autor continua a

argumentação ponderando que:

Através da ação educativa o meio social exerce influências sobre os

indivíduos e estes, ao assimilarem e recriarem essas influências, tornam-se

capazes de estabelecer uma relação ativa e transformadora em relação ao

meio social. Tais influências se manifestam através de conhecimentos,

experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas e costumes

acumulados por muitas gerações de indivíduos e grupos, transmitidos,

assimilados e recriados pelas novas gerações. (LIBÂNEO, 1994, p.17).

Deste modo o que importa é que os sujeitos das relações estabelecidas no processo

educativo tenham a priori um compromisso social, pois é na coletividade que o

indivíduo se concerne como pessoa e traz em si uma marca intrinsecamente humana a

necessidade de estar em grupo. Possibilitando a geração de conhecimentos

significativos e que possam ser usufruídos socialmente em prol de todos.

A educação vista como um “fenômeno social” (Libâneo, 1994, p.18), esclarece que

ocorre em uma sociedade e nela contem pessoas que precisam articular em um sentido

mais amplo buscando condições onde a integração seja o foco para uma prática

educativa significativa.

O intuito é uma prática educativa que favoreça a criança a possibilidade de cingimento

entre ela e o meio que vive entrelaçando cuidado e educação em uma só ação. Na nossa

sociedade o trabalho do educador vem imbuído de ideologias, exigências políticas e

sociais, é uma espécie de manual para que todos pensem da mesma maneira em uso de

um conteúdo programado e com finalidades digamos que ocultas. Libâneo aponta que:

O campo especifico de atuação profissional e política do professor é a escola,

à qual cabem as tarefas de assegurar aos alunos um sólido domínio de

conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de suas capacidades

intelectuais, de pensamento independente, crítico e criativo.(LIBÂNEO,

1994, p.22)

As atividades pedagógicas estabelecida na escola para contemplar o currículo

previamente estabelecido fomenta a imobilidade, onde os saberes ficam além de

fragmentados, estáticos. Na educação infantil as práticas educativas conscientes têm um

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papel fundamental de aproximar a criança da realidade por ela vivida e tornando-a cada

vez mais independente intelectualmente.

Nesse caminhar, é fundamental:

[...] vê-se que a responsabilidade social da escola e dos professores é muito

grande, pois cabe-lhes escolher qual a concepção de vida e de sociedade deve

ser trazida à consideração dos alunos e quais conteúdos e métodos lhes

propiciam o domínio dos conhecimentos e a capacidade de raciocínio

necessários à compreensão da realidade social e à atividade prática na

profissão, na política, nos movimentos sociais.(LIBÂNEO, 1994, p.22).

A educação de crianças é uma ação que deve ser pautada a priori nas necessidades,

interesses delas isso implica uma escuta sensível um olhar de pesquisador que tem como

objetivo promover ações que configure e respeite o ser como sujeito pertencente à

sociedade. Procedendo como o educador esteja disponível ao tempo da criança.

Isso, segundo Libâneo (1994, p.16) é “o trabalho docente é parte integrante do processo

educativo mais global pelo qual os membros da sociedade são preparados para a

participação na vida social [...] não há sociedade sem prática educativa nem prática

educativa sem sociedade”

É na prática educativa desenvolvida para a educação infantil que se configuram

possibilidades de comunicação educador-criança seja ela verbal ou não. Criando no

ambiente educativo, situações onde possam juntos agir de forma ativa para o objetivo

comum com foco no desenvolvimento da autonomia; autenticando a relação de amor

que pertinente ao convívio entre as pessoas cristalizando o entrelaçamento entre educar

e cuidar.

Cabe nesse momento sair do modelo de aula insossa e previsível onde as crianças já

sabem o que vai acontecer. As práticas educativas baseadas nas necessidades da criança

têm em si um caráter de trazer equilíbrio entre professores e estudantes, pois para as

crianças elas terão significação. De acordo com Freire (2007, p.47) “é fundamental,

contudo, partirmos de que o homem ser de relações e não só de contatos, não apenas

está no mundo, mas com o mundo”.

Estar com mundo implica compreende-lo, interferir quando preciso, modificá-lo,

acrescentando e preservando para que o outro herde. Mas, este acesso ao mundo só é

possível mediante a educação que as escolas promovem para estas crianças. Sendo

assim concordo com Freire (2007) quando esclarece:

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Herdando a experiência adquirida, criando e recriando, integrando-se às

condições de seu contexto, respondendo a seus desafios, objetivando-se a si

próprio, discernindo, transcrevendo, lança-se o homem num domínio que lhe

é exclusivo- o da História e o da Cultura. (FREIRE, 2007, p.49).

Dessa maneira é preciso compreender que estamos no mundo como um elo que quando

desconfigurado gera então uma sociedade fragmentada e estratificada onde um grupo

prevalece sobre o outro, o papel central da educação é sustentar a tríade homem-mundo-

sociedade em prol de uma dinâmica social que possam prover as necessidades de forma

igualitária e integrada.

Freire (2007, p. 98) aponta como fundamental “educação que colocasse em diálogo

constante com o outro”. Essa é a real possibilidade de uma educação que priorize o

indivíduo que tem voz e vez. Essa é uma maneira de construir uma educação voltada

para preservação do mundo e das relações existente na escola que atualmente se percebe

vazia e doente. O autor aponta que “[...] uma educação que fosse capaz de colaborar

com ele na indispensável organização reflexiva de seu pensamento (Freire, 2007,

p.114)”.

Essa educação só se configura com práticas educativas condizentes com essa proposta

de trazer o ser criança a reflexão dando-lhe desafios e organizando junto com elas

estrutura de resoluções para que quando postas no mundo possa interagir articulando

sua ideias e ideais.Fazendo com que corpo e mente sejam unos.

Freire (2007, p.115) propõe uma educação baseada no “método crítico, dialogal e

criticizador”. Para o autor só “o diálogo comunica”. Dessa forma na relação professor

para com a criança dentro do processo educativo é importante conceber práticas

educativas pautadas na busca por critérios que fomentem o diálogo. Nesta relação dual e

em seguida plural.

Segundo Freire (2007, p. 115) “dois pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com

esperança, com fé no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se, então, uma

relação de simpatia usualmente utilizadas nas escolas não possibilita esta prática, pois

parte de um pressuposto preconceituoso onde o currículo escolar é feito com o olhar do

adulto em cumprir, diretrizes, calendários, projetos, entre outros critérios que organizam

a rotina na educação infantil. Rotina esta que separa a educação do cuidado.

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32

De acordo com Forest & Weiss2

Cuidar e educar é impregnar ação pedagógica (prática educativa) de

consciência estabelecendo uma visão integrada do desenvolvimento da

criança com base em concepções que respeitem a diversidade, o momento e a

realidade peculiares a infância(FOREST & WEISS, p.1).

Por isso importa que às práticas educativas sejam elaboradas para uma criança que

necessita mais do que assistência. Ocorre que na educação infantil a dicotomia do

educar e do cuidar confunde a forma de agir do educador. Ele preocupa-se somente com

o educar e o cuidar é separado dessa prática ficam destinadas as auxiliares que padecem

da falta de preparo para lidar com práticas conscientes que contemplem a ação de

cuidar.

Os mesmos autores salientam:

A criança é um ser completo, tendo sua interação social e construção como

ser humano permanentemente estabelecido em tempo integral. Cuidar e

educar significa compreender que o espaço/tempo em que a criança vive

exige seu esforço particular e a mediação dos adultos como forma de

proporcionar ambientes que estimulem a curiosidade com consciência e

responsabilidade. (FOREST&WEISS, p.2)

A junção dessas ações, cuidar e educar, na educação infantil solicita uma prática

educativa que deve dar conta de promover a criança ser complexo e singular uma

educação que demanda compreender as diferenças e as complexidades de cada um.

Cabe ao educador com seu olhar observador articular junto às crianças metas que

configurem uma educação justa.

A prática educativa que comtemple cuidar e educar como ações entrelaçadas pedem um

profissional disponível ao constante diálogo com as crianças e as auxiliares uma posição

reflexiva diante do que se propôs enquanto educador.

O trabalho direto com as crianças pequenas exige que o educador tenha uma

competência polivalente. [...] este caráter polivalente demanda, por sua vez,

uma formação bastante ampla e profissional que deve tornar-se, ele também,

um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática. (RCNEI, 1998,

p.41).

A premissa básica para uma prática educativa considerável é o compromisso que o

educador estabelece com as crianças, buscando promover o que realmente é

significativo priorizando atividades que possam fortalecer o diálogo, a afetividade, as

2 FOREST. Nilda Aparecida;WEISS, Silvio Luiz. Cuidar e Educar: perspectivas para a prática

pedagógica na educação infantil.

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33

brincadeiras, entre outros que faça da educação infantil um momento de sonhos e

vivências consideráveis.

Educar e cuidar o outro se configura nessa relação de diálogo para fortalecimento das

relações humanas, base para uma conduta coletiva saudável e justa. O cuidado com os

pares possibilita uma aproximação que resulta em fortalecimento das relações humanas.

Quando nos referimos ao cuidado temos nessa expressão um compendio de

significados, mas o que importa é saber que o outro é fundamental para nos

proporcionar momentos de interação dentro do espaço educativo e que a prática

educativa desenvolvida pelo educador é que nos impossibilita de sermos alienados a

conteúdos prévios e um agir previsível enquadrado a uma rotina.

2.1 A ROTINA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Alimentar, dar segurança, brincar, promover interação, mediar o convívio coletivo,

estabelecer vínculos afetivos, escuta, compaixão, entre outros, são critérios integrantes

da educação infantil, visto que são aspectos humanos. Por isso, esses critérios devem

articular-se entre o educar e o cuidar, pois tais ações são a mola mestra da educação

infantil. Não há como na educação infantil separar ações que por natureza são

entrelaçadas.

A rotina na educação infantil surge no sentido de organizar vida, espaço, objetivos e

conteúdos desta etapa. De acordo com Barbosa (2009)

Ao longo dos séculos XIX e XX, constituiu-se um processo de

institucionalização das crianças pequenas e uma rotinização de sua educação,

com base no projeto moderno de racionalização, higienização,

psicologização, divisão do trabalho, controle e normatização. (BARBOSA,

2009, p.69).

Para Faria utilizando-se dos estudos de Barbosa (2009)

A rotina se trata então [...] de instrumento de controle do tempo, do espaço,

das atividades e dos materiais, regulamentando e padronizando os adultos e

as crianças. Ocultando a diversidade, massifica e homogeiniza o coletivo

infantil, impedindo a construção das diferenças, tornando-o repetitivo, isto é,

rotina rotineira, disciplinadora, fragmentando o projetar do exercitar,

portanto, educando para a submissão. (FARIA, 2009)

De acordo com Barbosa (2009, p.35) “a rotina é uma categoria pedagógica que os

responsáveis pela educação infantil estruturam para, a partir dela, desenvolver o

trabalho cotidiano nas instituições de educação infantil”.

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34

A rotina é o eixo central onde as ações de educar e cuidar de desenvolvem na educação

infantil. Desse modo, uma rotina que contemple o entrelaçamento das ações

fundamentais que configuram a educação infantil necessita de uma consciência crítica

do educador em compreender a criança como ser único e a rotina pode-se dizer que se

configura um ser humano que se fragmenta em razão do tempo da rotina.

A organização da vida diária nas instituições é padronizada, quase uniforme,

seguindo normalmente as grandes etapas da psicologia evolutiva, as

macropolíticas curriculares e as reformas de ensino, as posições hegemônicas

sobre a formação de professores e a elaboração de produtos tecnológicos de

comunicação de massas que têm permeado as políticas educacionais atuais.

(BARBOSA, 2009, p. 27).

A mesma autora aponta que:

Na prática educativa de creches e pré-escolas, está sempre presente uma

rotina de trabalho, que pode ter autorias diversas: em alguns casos, são

normas ditadas pelo próprio sistema de ensino; outras vezes pelos técnicos ou

burocratas dessas repartições; outras ainda, pelos diretores, supervisores ou

professores e demais profissionais da instituição e, em certas escolas.

(BARBOSA, 2009, p. 35).

As rotinas dentro das instituições é uma espécie de representação da vida adulta e

reproduzido pelas instituições de educação infantil para organizar o cotidiano e assim

cumprir metas pré-estabelecidas. As crianças quando chegam à escola já encontram uma

rotina posta e cristalizada e os adultos seguem os critérios a risca; as determinações a

serem seguidas muitas vezes são ocultas.

As rotinas podem tornar-se uma tecnologia de alienação quando não

consideram o ritmo, a participação, a relação com o mundo, a realização, a

fruição, a liberdade, a consciência, a imaginação e as diversas formas de

sociabilidade dos sujeitos nela envolvidos; quando se tornam apenas uma

sucessão de eventos, de pesquisas ações, prescritas de maneira precisa,

levando as pessoas a agir e a repetir gestos e atos em uma sequência de

procedimentos que não lhes pertence nem está sob seu domínio. É o vivido

sem sentido, alienado, pois está cristalizado em absolutos. (BARBOSA,

2009, p.39).

Essa ideia supõe uma aquietação e entende-se a rotina ausente de cores, sabores, alegria,

e a adrenalina da imprevisibilidade, sobretudo, pelo fato de não articular espaços para

reflexões é tudo muito organizado e programado como trem sobre trilhos com caminhos

a seguir e possíveis paradas, visto que do ponto de vista do humano pode ocorrer o

extraordinário. Baseado na mesma autora

“Outra ideia relacionada à rotina é a sequência temporal. Rotineiras são as

ações ou os pensamentos- mecânicos ou irrefletidos – realizados todos os

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35

dias da mesma maneira, um uso geral, um costume antigo ou uma maneira

habitual ou repetitiva de trabalhar. (BARBOSA, 2009, p.41).

É fato que as instituições de educação infantil onde é premente as ações de cuidado e de

educação mereça parâmetros, organização e um fazer reflexivo a rotina com esse

conceito estabelece uma forma de compreender e saber viver de forma coletiva

respeitando as necessidades individuais. Mas, a rotina tão impregnada de previsão

impossibilita os sujeitos envolvidos na educação de crianças reproduzir o mundo adulto,

a vida mercantil para as instituições.

Sendo assim Barbosa (2009) quando esclarece e suscita reflexões através da concepção

sobre rotina configura como:

A tentativa de compreender os elementos constituintes das rotinas com maior

profundidade tem como foco possibilitar aos educadores pensar quais são os

conteúdos transmitidos por intermédio delas, quais as práticas decorrentes de

sua execução que são assimilados por seus praticantes, quais os hábitos de

estruturação mental e moral que estão sendo constituídos e que tipo de

subjetividades estão sendo definidas( BARBOSA, 2009, p.116).

É uma tentativa de universalizar os sujeitos em detrimento de suas particularidades para

o cumprimento de horários e de dar conta dos conteúdos supõe certa proibição ao novo,

ao incerto, aos momentos de novas experiências em grupo, as rotinas de certa forma não

prioriza momentos de encontro de culturas. Nessa perspectiva Barbosa (2009)

Todos na instituição conhecem as rotinas e, com isso, controlam a vida de

todos. Um educador não apenas sabe sobre qual o seu horário de ir ao pátio,

como também o dos colegas e, muitas vezes, age no sentido de fiscalizá-los

denunciados quando tudo não está funcionando de acordo com o combinado.

(BARBOSA, 2009, p.183).

É uma categoria pedagógica com padrão e destino certo quando os educadores não

articulam uma forma flexível de estabelecer objetivos comuns entre crianças e adultos.

Cabe aqui um parênteses e indagar para uma rotina que possa recriar, costurar,

descosturar, construir junto com crianças. Essa concepção de rotina pede um educador

pronto para o novo, tendo domínio sobre si e contribuindo para que a rotina uma vez

instituída possa ser modificada.

A (re) invenção do cotidiano na escola infantil depende das possibilidades de

os adultos responsabilizarem-se pelo seu próprio tempo, romperem com o

tédio da repetição, diminuírem o estresse de fazer tudo igual, criando um

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36

tempo diverso e diversificado, um tempo, que dê espaço às crianças e aos

próprios educadores, dando ouvidos a tudo o que eles têm de inovador, de

criativo, permitindo usar o tempo com a clareza possível a respeito dos

fatores que nos fazem realizar as coisas de um modo ou de outro.

(BARBOSA, 2009, 204).

As crianças precisam estar imersas opinando, construindo os fazeres do cotidiano vivido

na escola como algo que favoreça novas experiências dentro de um espaço já conhecido

por elas, o educador pode problematizar situações onde a criança tenha consciência de

que também é dono do seu tempo e com ele pode autorizar a inserção novas ações,

novos e velhos saberes e principalmente dividir com os outros o uso do seu tempo. Pois

a rotina que entrelaça o educar e o cuidar têm em si essa perspectiva de compreensão do

uso do tempo e das rotinas (ações) vividas com propósito.

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37

3. ELOS ENTRE O EDUCAR E CUIDAR

Este trabalho é um estudo de caso realizado Centro Municipal de Educação Infantil

(CMEI) Vovô Zezinho a instituição está situada a Rua Direta do Comércio, s/n

Arenoso. No período de outubro a dezembro de 2010. De acordo com Lüdke e André

(1986, p.17) o estudo de caso “é o estudo de um caso, seja simples e específico [...] ou

complexo e abstrato”.

Os sujeitos que participaram desta pesquisa foram 8 Pedagogas com especializações na

área de educação infantil e 7 auxiliares. O instrumento utilizado para coleta de dados

foram dois questionários com questões abertas para as professoras e as auxiliares. O

publico atendido na instituição são crianças grupo 1 ao grupo 5 em turno integral com

total de 150 alunos.

3.1 ANÁLISES DE DADOS

Análise dos dados tem como base as respostas dos questionários aplicados procurando

trazer as expressões dos sujeitos que participaram desse trabalho. Para obtenção dos

resultados utilizou-se como metodologia o estudo de caso baseado na pesquisa

qualitativa, pois de acordo Lüdke e André (1986) estudo caso consiste em “o caso é

sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar

do estudo”. Foi utilizada também a análise de conteúdo baseada na concepção de

Bardin onde ele define que:

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de analise das

comunicações, visando obter, por procedimentos objetivos e sistemáticos de

descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que

permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de

produção/recepção destas mensagens. (BARDIN, 2000, p. 44)

O procedimento de análise desses dados consistiu em primeiro categorizar as respostas

por semelhança semântica para definir as subcategorias sistematizadas em tabelas para

facilitar a análise de conteúdo das respostas extraídas dos questionários e o

entrelaçamento entre as expressões das professoras e das auxiliares.

Para a análise do conteúdo foram definidas 10 categorias:

(1) concepção de cuidar para professoras e auxiliares; 2) concepção de educar para

professores e auxiliares; 3) distinção entre cuidar e educar para professoras e auxiliares;

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4) para as professoras é possível educar na perspectiva do cuidado; 5) Ações

desenvolvidas pelas professoras para educar cuidando; 6) como a professora percebe o

cuidado na proposta pedagógica; 7) como as professoras percebem o trabalho das

auxiliares; 8) como as professoras explicam a rotina da creche 9) quais atividades são de

cuidar e educar; 10) como as auxiliares compreendem o cuidado na sua prática

Cada categoria foi desmembrada em subcategorias com o propósito de explicitar com

objetividade as percepções dos conteúdos apresentados pelos sujeitos que participaram

da pesquisa. A organização de subcategoria foi realizada tomando como base a

quantidades de vezes em que a resposta apareceu nas falas das professoras e auxiliares.

Concepção de cuidar para as professora e as auxiliares

Tabela nº 1: Concepção de cuidar para as professora e as auxiliares

Observa-se na tabela nº1 que a concepção de cuidar significa para 62% das professoras

atenção e afeto, configurando assim estas subcategorias como prioridade enquanto que

para 35% das auxiliares a concepção de cuidar representa atenção e educar. Desta

forma, elas expressam que:

“Cuidar para mim é está atenta às necessidades das crianças em todos os

sentidos”. (professora A).

“Cuidar consiste em “amar, dar atenção e carinho, é ser responsável”

(professora D).

“Cuidar é dar atenção”. (auxiliar A).

“É ter bastante atenção”. (auxiliar B)

“Cuidar é ter bastante atenção com as crianças”.(auxiliar C)

“Cuidar é o educar”. (auxiliar G)

Professoras % Auxiliares %

Subcategorias Subcategorias

Atenção/afeto 62 Higiene/afeto/alimentação 45

Bem–estar/ educar/

proteção/autonomia

25 Atenção/educar 35

Alimentação/rotina/prover

necessidades/escuta sensível

12 Mostrar o que é correto 19

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“Cuidar é dar carinho e educação”. (auxiliar F)

As professoras priorizam no cuidar como uma atenção voltada para o atendimento das

necessidades básicas das crianças, revelando um sentido mais funcional do que

educativo, porém com um sentimento de zelo. Já as auxiliares conceituam o cuidar

como uma função pré-definida, sobretudo, porque conceituam de acordo com o que ela

já tem internalizado sobre a sua função, pois dentro da sua função não há uma reflexão

criteriosa.

O cuidar no sentido de atenção se configura uma atenção para cumprir as funções de

realização da rotina. Estar atenta está para além de cumprir rotina. Pautada em Angotti

(2008) pode ser visto no primeiro item desta pesquisa onde ela esclarece que atenção é

“aceitar e entender a criança em seu estado de ser e vir a ser”.

De acordo com o primeiro item da pesquisa sobre as concepções de cuidar da criança o

RCNEI/1998 salientar que é, sobretudo, dar atenção a ela como pessoa que está em

contínuo crescimento. Em se tratando de atenção na educação infantil é fundamental,

pois é a possibilidade de estarem disponíveis as necessidades das crianças. A atenção se

configura como um estado de alerta pronto a perceber o que a criança precisa e onde

interferir para que o seu desenvolvimento seja saudável e significativo.

Dentro do mesmo levantamento dos dados surge o educar como conceito de cuidar para

as auxiliares, desse modo é possível perceber o entrelaçamento das concepções, porém

deixa vaga na sua expressão como esse educar ocorre de fato. Necessitando assim de

uma justificativa que cristalize esse entrelaçamento.

As concepções de cuidar para 25% das professoras entrevistadas significam bem estar,

educar, proteger, autonomia, assim as mesmas afirmam que o cuidar:

“Possibilitar que as crianças criem autonomia para cuidar de si, dos outros,

do ambiente a partir de suas necessidades”. (professora B).

“Não podemos separar o cuidar do educar, pois os dois estão ligados e não

são estanques. E os dois estão juntos proporcionando a construção da

identidade e autonomia da criança”. (professora E)

“É proporcionar o melhor, garantir o bem-estar e chamar atenção quando é

necessário. E proteger na situação de risco e perigo”. (professora D).

“Está relacionado a procedimentos que visam o bem estar, zelo e pode ser

também uma maneira de educar”. (professora H).

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Entendemos que a autonomia é um princípio básico para ser e estar no mundo se

posicionando quando necessário para que os sujeitos possam articular sua conduta em

busca de uma ação cooperativa. Dessa forma a professora que prioriza a autonomia está

em consonância com o que sugere o RCNEI/1998 “[...] interessar-se sobre o que a

criança pensa [...] aos poucos as tornarão mais independentes e mais autônomas”.

Na educação infantil cuidar solicita uma prática educativa que possibilite a esta ação um

embasamento teórico com métodos que proporcione a criança cuidados pautados em

excelência, sobretudo, quando prioriza os princípios éticos de responsabilidade, respeito

e valorização do sujeito para ser autônomo.

Princípios políticos, onde todos tenham participação, e abertura ao diálogo e por fim

princípios estéticos no que diz respeito à organização do espaço utilizado pelas crianças

de acordo com interesse delas orientadas pelas professoras. Ainda conforme o

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil orienta: “é preciso que o

professor possa ajudar a criança a identificar suas necessidades e priorizá-las, assim

como atendê-las de forma adequadas”.

Ao analisar a subcategorias de rotina, promoção de necessidades e escuta sensível entre

professores e auxiliares percebe-se que para 12% das professoras cuidar está baseado

nestes itens enquanto para 45% das auxiliares na ação de cuidar é mais importante

alimentação, higiene e afeto. Desta forma confronta-se que enquanto para as professoras

cuidar:

“Significa preocupar-se desde os horários de funcionamento da instituição,

estrutura e organização dos espaços físicos, com os materiais, bem como com

o outro, perpassando pela alimentação e cuidados com a saúde e bem estar

das crianças”. (professora C)

“Cuidar é “Prover necessidades”. (professora F)

As auxiliares expressam que o cuidar se constitui em:

“Cuidar é dar banho e dar alimentação. (auxiliar A)

“Noções de higiene, saúde. (auxiliar B)

Cuidar é banho e comida (auxiliar G)

Acolher bem, com amor e carinho. (auxiliar D)

Cuidar é dar carinho e educação. (auxiliar F)

Acolher bem, com amor e carinho. (auxiliar D)

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Cuidar é dar carinho e educação. (auxiliar F).

A professora C estabelece uma relação de cuidado com o cumprimento da rotina da

instituição. Neste sentido a criança não esta sendo priorizada enquanto sujeito central da

educação infantil onde o cuidar está relacionado de acordo com Boff (1999) com os

princípios, os valores e as atitudes que fazem da vida um bem-viver e das ações um reto

agir.

As expressões das auxiliares referente a higiene, alimentação e o afeto aproxima-se da

ideia de rotina que a professora C apresenta na sua expressão. Sendo assim, percebe-se

que as auxiliares têm um ritual de trabalho que engloba essas ações. O afeto se

estabelece pela razão das auxiliares estarem em contato direto com as crianças em uma

relação de cuidado ora maternal, ora assistencialista para cumprir a rotina.

A professora F é objetiva e vaga quando afirma que cuidar é prover necessidade. Desse

modo, pode-se dizer que quando educadores acrescentam, adicionam novas

necessidades dentro do contexto educacional para que a criança se constitua como

sujeito e saiba que cuidar é de fato uma ação inerente aos seres humanos. Fazer dessas

necessidades significativas. A professora não esclarece que tipo de necessidade ela

promove para o cuidado com as crianças.

Ao analisarmos a rotina de um Centro Municipal de Educação Infantil que atende

crianças em tempo integral podemos constatar as diversas situações cotidianas que

influenciam, por meio das relações sociais e interpessoais, a formação do cidadão.

Dentre elas, está o momento da alimentação, da higiene e do descanso. Nesse caso, no

CMEI, essa rotina de alimentação, higiene e descanso é de responsabilidade das

auxiliares. Talvez por isso elas entendam que cuidar é dar alimento e afeto. O afeto se

configura pela proximidade que elas têm com as crianças em momentos onde a

dependência é mais evidente.

Fica evidente que são necessárias as práticas de higiene, alimentação fixe-se em uma

proposta pedagógica e não educativa no sentido de entrelaçar as ações para atender a

estes aspectos do cotidiano. Fazendo referência ao primeiro item foi utilizado o

RCNEI/1998 onde aponta que a melhoria para a educação infantil consiste na promoção

de discussões para subsidiar projetos singulares, ou seja, nessa perspectiva articular os

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cuidados básicos de higiene, alimentação e descanso com uma proposta entrelaçados a

educação.

Já para 19% das auxiliares cuidar significa mostrar as coisas certas, é tanto que se

expressa:

“Cuidar é mostrar as coisas certas”. (auxiliar E)

O conceito dado pela auxiliar sobre cuidar como “mostrar o que é certo” entra em uma

instância do que é a verdade, o certo ou o errado. A concepção dada por ela infere que a

criança não tem o direito de valorar, de intervir, de decidir conforme afirma Freire

(2008).

Cuidar é estar em consonância com atitudes de respeito, atenção, responsabilidade e a

disponibilidade de escutar o outro mesmo que não haja palavras nessa comunicação. O

cuidar se dá na instituição através da rotina, porém não se configura como um ato

primitivo é uma possibilidade de estar envolvido nas necessidades do outro. Cuidar

como meta de tirar da creche o estigmas de assistencialismo.

E possível perceber após o levantamento de dados que as confusões conceituais que

giram em torno do termo cuidar na percepção das professoras e auxiliares condiciona as

ações de educar e cuidar como separados dentro da instituição. A professora educa e

tentar cuidar e as auxiliares cuidam porque têm um envolvimento maior com as crianças

e esse envolvimento é possível pelas ações primitivas dos termos, tais como, alimentar,

dar banho e colocar para dormir.

Nessa perspectiva é possível indagar que o cuidado esta para além da etapa da educação

infantil é em sim um processo que perpassa todas as etapas da vida possibilitando o

envolvimento com o outro. De acordo com Boff( 2008, p. 97) “o grande desafio para o

ser humano é combinar trabalho com cuidado”.

Concepções de educar para as professoras e as auxiliares

Tabela nº2: Concepções de educar para as professoras e as auxiliares

Professoras % Auxiliares %

Subcategorias Subcategorias

Ampliar conceitos 50 Ensinar 86,5

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Mediar 37,5 Corrigir erros 12,5

Integrar / escuta/ dar

limites.

12,5

A tabela nº2, apresenta as subcategorias definidas pelos sujeitos com relação à

concepção de educar. Em seguida temos as falas, expressões e respostas dadas por estes

sujeitos onde será possível uma articulação para compreensão do termo a partir da

percepção dos sujeitos citados.

Constata-se na tabela nº2 para 50% das professoras educar significa ampliar conceitos.

Já para 86,5% das auxiliares significa ensinar. Pode perceber através das expressões

abaixo que educar:

“É possibilitar que as crianças entrem em contato com conhecimentos

historicamente construídos, oportunizando que elas ampliem os que já

possuem. (professora A)

“Proporcionar à criança desenvolvimento pleno”. (professora C)

“Educar é estimular o raciocínio, é aprimorar o senso crítico, as faculdades

intelectuais, físicas e morais”. (professora E).

“Educar é ensinar a jogar o lixo no lugar certo, ensinar a pedir licença e

pedir desculpas para as pessoas”. (auxiliar A)

“Ensinar os direitos, deveres e obrigações”.(auxiliar B)

“Ensinar as coisas boas e certas”. (auxiliar D)

“Ensinar a verdade”. (auxiliar E)

“Ensinar as coisas certas e quais são as erradas” (auxiliar F)

“Ensinar as coisas certas da vida”. (auxiliar G)

Percebe-se nas expressões das professoras e auxiliares que a concepções para educar

apresentam distinções, visto que, as professoras tem uma visão mais pedagógica devido

a sua formação acadêmica e também pela oportunidade em estar em constante processo

de formação e reflexão sobre a sua prática. As distinções expressadas por elas

influenciam diretamente nas ações realizadas com as crianças.

Desse modo, essa influência sobre a criança ocorre uma divisão dentro das ações

estabelecidas na instituição de educação infantil, sobretudo, porque a criança necessita

estar imerso em um universo que contemple a sua educação de forma integrada.

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Utilizando Freire (2008, p.54) onde ele aponta “afinal, minha presença (as crianças) no

mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de que nele se insere. É a posição de

quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História”.

Ampliar conceitos é ter a certeza e o respeito pelo conhecimento previamente adquirido

por estas crianças atendidas na instituição. Desse modo, educar tem um caráter de

identificação e conhecimento do professor para com as crianças. Ampliar é uma forma

das professoras contribuírem para um educar baseado na perspectiva da criança

respeitando seus interesses. Revisito o primeiro item apoiada no RCNEI/1998 onde

deixa claro que o conhecimento é fruto de um intenso trabalho de criação, significação e

ressignificação.

A interação entre os sujeitos e o conhecimento de ambos possibilita um diálogo que

proporciona a criança a segurança e a importância de aprender, pois se sente coautor. É

interessante pensar em educar com uma proposta dialógica. As expressões das

professoras estão de acordo com (RCNEI/1998) quando indica que a elaboração de

propostas educacionais, veícula necessariamente concepções sobre criança, educar,

cuidar e aprendizagem, cujos fundamentos devem ser considerados de maneira

explícita.

Observa-se na tabela nº2 que 37,5% das professoras entende que educar é mediar. Já

para 12,5% das auxiliares entende que educar significa corrigir erros. Os dados permiti

um confronto entre as expressões para compreender o que é educar dentro das

instituição dessa forma percebe-se uma diferença de concepções imbuídas de outras

concepções. Pois, do mesmo modo que há diferença nas expressões ocorre uma

hierarquização nas ações e condiciona a uma relação fragmentada para com a criança.

“É orientar, mediar o conhecimento”. (professora F)

“É um processo entre indivíduos onde há aprendizagens,

transformações”.(professora G)

“É corrigir os erros e colocar em prática as coisas boas coisas que deve ter

uma criança”. (auxiliar C)

Ao mesmo tempo em que afirma que educar é mediar temos a expressão da auxiliar que

afirma que educar “é corrigir erros”, deste modo mesmo trabalhando no mesmo espaço

tendo crianças como foco do processo educativo os sujeitos responsáveis pela educação

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45

e cuidado delas tem concepções que ao mesmo tempo que beneficia, desautorizando a

criança enquanto sujeito central dessa articulação.

Em se tratando das expressões sobre mediação Guimaraes (2009, p.53) propõe a

seguinte reflexão: “o desafio do educador e da educação é ampliar esses espaços de

visão: do profissional em relação a si mesmo para, ao mesmo tempo, ver a criança em

sua singularidade”.

Ainda pautada em Guimarães percebe-se sobre a proposta que desafia o educador a

autora afirma que:

Trata-se de poder experimentar a transformação do que não está posto, mas

ainda é desconhecido, ou seja, um encontro que não está definido a priore,

mas começando pela possibilidade de uma realidade mútua, compartilhada. O

encontro com o sujeito da experiência transcende o que se pensa conhecer

dele. (GUIMARÃES 2009, p.53)

Essa concepção de educar tem uma abrangência em escutar, entender e estar com as

crianças fazendo com que elas sejam sendo, vivam a infância na instituição de educação

infantil como momentos únicos, importantes e válidos para se posicionar no mundo

enquanto sujeito completo. Estabelecendo laços.

Já 12,5% das professoras expressam que educar é integra o cuidado, escuta sensível.

“Educar também é criar situações de cuidado integrando educar e cuidar”

(professora A)

“É proporcionar atividades desafiadoras para que promova o

desenvolvimento da cognição, linguagem, corpo, afetividade, ou seja, o ser

global”. (professora B).

Educar é “acolher, respeitar os sentimentos das crianças, saber ouvir”.

(professora G).

A expressão desta professora será analisada de forma isolada, pois ela servirá como

objeto de discussão entre o que é certo ou errado, poder e não poder.

“Mostrar o que é certo e errado, o que pode e não pode. É dar limites com

motivo e explicação”. (professora D)

De acordo com Guimaraes (2009, p. 103) “a instrução concretiza-se nas hierarquias e na

disciplina- um sabe e o outro não sabe; há algo correto a ser transmitido”. A professora

dessa forma tem uma concepção de ponto de vista exclusivamente do adulto e não

entende a criança como coadjuvante no processo educativo. De acordo com a expressão

“dar limites”.

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Educar pode se traduzir em mudar algo que emerge por mudança e a criança nessa

perspectiva é o sujeito social que necessita de mudanças para se estabelecer enquanto

sujeito também histórico, criador, articulador do seu conhecimento mediante a ação de

um adulto capacitado e envolvido com o compromisso de educar para além da sala de

aula. A resposta dada pelas auxiliares remete a uma forma de educar com concepção

disciplinadora ao afirmar: “ensinar as coisas certas e quais são as erradas”.

De acordo com essas expressões pode-se dizer que para as auxiliares educar prevalece à

concepção de criança como “objeto”. Desse modo, assim Freire (2008, p. 22) ao se

referir sobre o processo de ensinar afirma que: “ensinar não é transferir conhecimento,

mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”.

Desse modo as auxiliares necessitam ampliar o conceito de criança que precisa

organizar a vida, mudar sua perspectiva interna mediante as relações sociais, educar

para ela indica uma forma de recepção de modos de comportamento. O saber

constituído e instituído.

Para Freire (2008) aponta que é importante “saber que ensinar não é transferir

conhecimento, mas criar as potencialidades para a sua própria produção ou a sua

construção”. A concepção de educar que as auxiliares expressaram surge devido a

limitações que ocorre até mesmo dentro dessa função, devido às distinções hierárquicas

existentes no ambiente escolar.

Tem razão Guimarães (2009, p.104) quando destaca que: “Os adultos transmitem

técnicas: esperar, observar, aquietar o corpo e reproduzir modelos”. Concomitante a

essa citação temos Corsino (2009, p. 146) quando diz que “O discurso autoritário,

engessado e sem possibilidade de réplica, é interiorizado como dogma, destituindo o

sujeito de autoria, o que leva a um agir tutelado por prescrições, sem efetivas

transformações do sujeito.”.

Dessa forma, educar na perspectiva das auxiliares ainda prevalece à educação bancária,

talvez por falta de estudo aprofundada sobre as teorias que subsidiam o trabalho com

crianças, desta forma não é possível realizar uma conclusão sobre as expressões delas de

modo que traga ao discurso da queixa. As expressões colaboram para entender como a

concepção em torno do educar engessa as ações que elas exercem.

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47

Educar consiste em estar articulando saberes e vida onde o educador colabora para

tornar o sujeito autônomo, articulador da sua própria história. Nessa perspectiva educar

além de respeitar os conhecimentos prévios possibilita a criança ampliação dos mesmos.

Distinção entre educar e cuidar para as professoras e auxiliares

Tabela nº 3: Distinção entre educar e cuidar para professoras e auxiliares

Professoras Quantidade % Auxiliares Quantidade %

Não 8 100 4 57,15

Sim 3 42,85

TOTAL 100 7 99,99

Um dos grandes desafios da educação infantil é entender a criança de forma global.

Educar e cuidar não distintos. Percebe-se a necessidade de entrelaçar os termos e

executá-los no sentido de promover práticas educativas que contribuam para um

trabalho articulado entre professores e auxiliares. Não cabe aqui considerar o educar

como significativo e tratar o cuidar como ação menor.

Constata-se na tabela nº3 para 100% das professoras e 57,15% das auxiliares não há

distinção entre educar e cuidar. Sendo assim as professoras expressam que:

“Não são distintos na educação infantil eles estão integrados desde que

ofereçamos situações em que os cuidados, as brincadeiras e os

conhecimentos pedagógicos sejam significativos”.(professora A)

“Se convive o dia inteiro com as mesmas crianças em um CMEI, é

impossível ver uma criança se sujar e você não limpar, não comer e você não

ajudar a comer”.(professora B)

“Não. Não podemos considerar assim. Educar e cuidar estão interligados,

pois, quem cuida também educa e vice-versa”. (professora C)

“Não, são fatores que andam juntos, não devem ser separados”. “não, um

depende do outro”.(professora D)

“Não. Um depende do outro. (professora F)

“Não, ambas estão sempre associadas”.(professora G )

“Sim, porém, são inter-relacionados. (professora H)

Logo educar e cuidar tem a mesma importância na educação infantil. Entrelaçados para

comtemplar a criança o que lhe e de direito. A importância dessa complementariedade é

traduzida no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) quando

define que “Comtemplar o cuidado na esfera da instituição da educação infantil

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significa compreendê-lo como parte integrante da educação”. E ainda aponta “educar

significa, portanto, propiciar situações de cuidados”.

Já para 57,14% das auxiliares afirma que educar e cuidar não são distintos, pois

expressaram:

Revisitando o primeiro item desta pesquisa é possível abstrair elementos que entre em

acordo com as expressões das entrevistadas, pois, estão em consonância com o

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil quando aponta a

“indissociabilidade” das ações de educar e cuidar. Pode-se dizer a partir desta análise

que as auxiliares necessitam de um estudo mais aprofundado sobre essas questões e

volto para a introdução deste capítulo quando cito Barbosa (2006) que discutiu sobre

rotinas na educação infantil sendo assim a perspectiva dessas auxiliares com relação ao

cuidar é que ele é separado da ação de educar.

Desse modo podemos dizer que cuidar faz parte da rotina da instituição e deve ser

cumprida até o final do dia e que alimentar-se, banhar-se, dormir são ações impossíveis

de educar e, elas assim estão dividindo as crianças e depositando nelas a ideia de que

educar é responsabilidade do professor para desenvolver a intelectualidade.

Somente para as auxiliares educar e cuidar são distintos. Configurando 42,85% das

auxiliares.

A distinção definida pelas auxiliares deve-se a ausência de um estudo apropriado para

compreensão de educar. Dessa forma revisito o RCNEI/1996 quando esclarece que

educar é propiciar situações de cuidado.

Para Professoras é possível educar na perspectiva do cuidado

Tabela nº 04: Educar na perspectiva de cuidado para as professoras

Subcategorias Quantidade %

Sim 8 100

Não

TOTAL 8 100

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A educação infantil necessita de uma perspectiva diferente do que se configurava

anteriormente, um atendimento as demandas sociais. Educar no sentido do cuidado pede

especificidades da relação professores-criança que extrapola o fazer pedagógico. Essa

dinâmica tem uma possibilidade de propostas pedagógicas que forme entrelaçamento

entre educar e cuidar.

A educação infantil é uma etapa onde a criança tem oportunidade, novas alternativas,

novas relações interpessoais para que possa desenvolver suas potencialidades. Desse

modo, o entrelaçamento das ações tem papel de unir sujeito e não fragmentá-lo em

razão de demandas somente pedagógicas. Cabe aos professores, auxiliares e o corpo

técnico da escola entender que o desenvolvimento dessas crianças depende inicialmente

delas.

Para 100% das professoras é possível educar na perspectiva do cuidado e expressaram

que:

Com certeza. A partir do momento que integramos o cuidar com educar

observando as necessidades das crianças e são estas necessidades que vão nos

mostrar como devemos cuidar delas e integrando aspectos afetivos,

emocionais, cognitivos, corporais etc..(professora A)

“Sim, pois para mim uma está vinculada a outra, principalmente na educação

infantil e cuidar vai além de levar uma criança ao banheiro, devemos abrir

nosso campo de visão”. (professora B)

“Sim, pois, devemos propor atividades às crianças que permitem o seu

desenvolver integral, observando aspectos físicos, mentais e sociais”.

(professora C).

“Sim, com certeza. Isso é uma questão de consciência e responsabilidade.

Na medida em que educamos uma criança, temos o cuidado em oferecê-la

aquilo que ela precisa. Respeito por um ser, um SER, em

formação”.(professora D)

Na educação infantil o “cuidar” é parte integrante da educação, embora

possa exigir conhecimentos, habilidades e instrumentos que exploram a

dimensão pedagógica. Cuidar de uma criança em um contexto educativo

demanda a integração de vários campos de conhecimento e a cooperação de

profissionais de diferentes áreas. (professora E)

“Claro, porque um não acontece sem o outro”.(professora F)

“Sim, educar e cuidar caminham juntos”.(professora G)

“Sim, acredito que em todas as ações o professor poderá educar cuidando,

desde que haja compromisso, afetividade, diálogo, interação, escuta

sensível”. (professora H).

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Implica, portanto ao professor uma dinâmica de conhecimento e responsabilidade tendo

em vista que a professora não é um mártir da educação infantil, assim como ela declarou

necessita de profissionais de varias áreas, porém a professora como mediadora singular

e especial nesse contexto educativo deve ter em mente que cuidar não esta

acrescentando a ela mais uma tarefa e sim possibilitando uma educar suave, prazeroso e

acima de tudo coerente com as necessidades das crianças.

Estas respostas sugerem que as professoras compreendem que educar e cuidar tem em si

uma natureza idêntica, pois a possibilidade na educação é transformar pessoas é

modificar a vida delas para que possam extrair da vida o que ela tem de melhor.

É oferecer e saber que estar no mundo não é separado da vida dentro da escola, os seres

que lá estão carregam em si seus sentimentos e desejos. Assim a educação é uma

possibilidade de disseminar o cuidado ao outro coerente.

As professoras que assumem que é possível educar na perspectiva do cuidado têm si

uma consciência de que as ações são entrelaçadas não no sentido menor de assistência,

mas incorporando em sua prática ações pedagógicas que possam perceber a criança

como um todo em desenvolvimento e articulando junto com as auxiliares uma

possibilidade de educar cuidando.

A professora da educação infantil deve compreender que as ações pertinentes a esta fase

na vida das crianças é o momento de criar raízes no sentido de proporcionar às crianças

a segurança, o conforto emocional, e o cuidado consigo vai refletir no cuidado com o

outro e com o mundo.

Apoiada em Tiriba (2005) quando ela aponta que “o cuidado exige particularismo

porque as pessoas são singulares”. Esse é o ponto de reflexão para impulsionar a

educação infantil como espaço de pessoas singulares e que ela precisa conhecer o

mundo que é plural, somente na ação de cuidar é que percebemos as reais necessidades

das crianças.

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Logo, educar na perspectiva do cuidado é dar às pessoas a oportunidade de se conhecer

e entrar em conexão com os outros criando assim uma rede de possibilidades.

Quais ações do professor para educar cuidando

Tabela nº 05: Ações das professoras para educar cuidando

Subcategorias %

Acolher 50

Integração educar e cuidar/ autonomia /

rotina

25

Escuta sensível / educar 25

TOTAL 100

Verifica-se na tabela nº 5 que educar cuidando para 50% das professoras é acolher,

sendo assim as mesmas afirmam que:

As ações das professoras a priori solicitam o acolher a criança e através da observação,

da escuta possibilitar que as ações sejam pautadas em integrar educar e cuidar em

colaboração ao desenvolvimento da criança e a sua capacidade de se tornar autônoma.

“Acolher, amar, ouvi-las com respeito e autonomia”. (professora G)

“Mostrar a criança que ela tem a liberdade para se expressar de várias

maneiras (professora D).

“A construção de regras de convivência, atividades recreativas, orientação e

participação das atividades de higiene e alimentação, rodas de conversa,

atividades em grupo e individuais do aspecto cognitivo, etc.”. (professora

H)

A prática educativa implementada de forma que as crianças percebam que também são

“donas” da sua formação é o que de fato deve ser percebido nas ações de educar

cuidando. É um trabalho que Freire (2008) aponta que necessita se estabelecer no

diálogo com o outro.

Para 25% das professoras a possibilidade de executar ações para educar cuidando se

entrelaçam e ocorre quando integram educar e o cuidar.

“O professor deve ter uma escuta sensível das necessidades, desejos das

crianças e a partir daí observar de que forma irá caminhar o seu trabalho e

este deve integrar o cuidar com o educar”. (professora A)

“Ser uma educadora que visa à formação do ser integral”. (professora F)

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Já 25% acreditam que a escuta sensível, seguir a rotina e educar é um viés que

possibilita educar e cuidar. A rotina mais uma vez é citada como um elemento de

estruturação das ações é nessa perspectiva que os “combinados” seja concebido em prol

de uma coletividade e entrelaçamento.

“A rotina seus exemplos, a organização dos espaços, criação de

combinados”. (professora C)

“O professor deve ter uma escuta sensível das necessidades, desejos das

crianças” (professora A)

“Nossa missão é educar, nosso foco é esse, isso deve ficar bem claro, mas,

devemos estar atentas as necessidades das crianças, em todos os aspectos”.

(professora B)

Através da análise das expressões é possível perceber o entrelaçamento do educar e do

cuidar tão importante para a educação infantil. Mesmo quando analisamos as

subcategorias por porcentagem é possível perceber que as subcategorias se entrelaçam,

pois não há acolhimento sem integração e escuta sensível e essas subcategorias percorre

a rotina da instituição através das ações executadas pelos sujeitos responsáveis pela

execução das mesmas no sentido de promover o que também foi salientado nas falas e

imprimidos na tabela a busca pela autonomia.

Como o professor entende o cuidado na proposta pedagógica da instituição

Tabela nº 06: O cuidado na proposta pedagógica

Subcategorias %

Integrado cuidar e educar 50

Busca da Autonomia/ funções

definidas/rotina/doação

50

TOTAL 100

A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como

ser humano3. Integrar o cuidar e o educar na proposta educativa da creche, é trazer para

3 FOREST, Nilda Aparecida;WEISS, Silvio Luiz Indrusiak. Cuidar e educar: perspectivas para a prática

pedagógica na educação infantil.

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a rotina um compromisso entre professor e aluno em um processo de retroalimentação

do conhecimento.

Para 50,0% das professoras, cuidar está integrado com educar na proposta pedagógica

da creche. Pode-se traduzir esta proposta pedagógica em educativa, pois no sentido mais

amplo engloba o educar e o cuidar.

“O cuidado na proposta é fazer com que as crianças sejam autônomas. A

partir das suas necessidades irão desenvolver-se integralmente”. (professora

A)

“O cuidar perpassa pela organização dos horários de funcionamento da

creche compatível com a jornada de trabalho dos responsáveis pelas crianças,

pela organização dos espaços, atenção aos materiais que são oferecidos pelo

respeito às manifestações da criança.” (professora C)

“Ter a criança como o foco principal do trabalho. Respeitá-la e amá-la como

merece e precisa”. (professora D)

“Cuidar e educar as crianças de maneira integral”.(professora G)

“Deve ser propiciado pelo professor em diversas situações permeado todas

as áreas do conhecimento” (professora H)

Já para 50% das professoras o cuidar na proposta pedagógica significa: busca de

autonomia, funções definidas, rotina e doação, conforme as expressões

“A creche tem sua rotina e o pedagógico tem o seu lugar, há uma equipe:

professores, auxiliares, ajudantes, o professor estão todo momento dessa

rotina presentes, mas temos as nossas funções bem definidas, mas todos se

ajudam” (professora B)

“Doar-se”. (professora F)

O cuidar na proposta pedagógica da instituição deve ser pautada nas necessidades das

crianças. De acordo com o primeiro item desta pesquisa pautada no RCNEI(1998) onde

inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa o que ela sabe sobre si e sobre o

mundo, em busca da autonomia.

Como a professora compreende o trabalho das auxiliares

Tabela nº07: O trabalho da auxiliar para as professora

Subcategorias %

Importante 75

Educam e cuidam/prestação de

serviços

25

TOTAL 100

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A importância do trabalho das auxiliares na educação infantil é importante do ponto de

vista das professoras. Apesar de na instituição o trabalho das auxiliares se ater somente

a cuidados com a higiene, a alimentação e a hora do descanso. Elas cuidam e a

professora educa desse modo à importância dada é justamente porque sem o trabalho

delas a professora não consegue dar conta da rotina sozinha.

O trabalho das auxiliares para 75% dos professores é importante.

“É um trabalho muito importante, pois elas trabalham junto com a

professora ela ali apenas para cuidar da higiene, da alimentação da criança,

mas também auxilia nas atividades pedagógicas, tendo uma escuta sensível”.

(professora A)

“Importantíssimo!!! Sem o trabalho das auxiliares fica muito difícil colocar

em prática as atividades propostas pelo professor e o andamento dos

trabalhos da creche de maneira em geral”. (professora C)

“De extrema importância. É inviável trabalhar sozinha com crianças

pequenas, principalmente, com os bebês. Precisamos do auxílio dessas

profissionais que nos garantem um grande apoio” (professora D)

“É um trabalho imprescindível de apoio, pois os alunos ainda são

dependentes precisando de auxilio em suas necessidades e no cuidado, junto

às professoras”. (professora E)

“Imprescindível” (professora F)

“É importante, pois crianças sempre precisam de cuidado, orientação”.

(professores G)

Já para 25% afirmam que o trabalho das auxiliares está relacionado com o educar e o

cuidar é uma prestação de serviço.

“Trabalhei quase 15 anos em escolas particulares e em educação infantil as

auxiliares ajudam a manter a sala limpa, acompanha a pró ao fazer

atividades, dão banho, arrumam materiais sempre com a supervisão do

professor. (professora B)

“Assim como as professoras, elas educam e cuidam em suas atividades

mesmo que não tenham consciência disso”.(professora H)

Na educação infantil é necessário um trabalho consciente e o que é visto nas instituições

é que as auxiliares não têm qualificação para trabalhar com crianças. Elas se utilizam do

conhecimento baseado na rotina do trabalho, visto que, muitas já estão na função a

muito tempo.

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O apoio dado por elas realmente se destaca como importante, pois o professor mesmo

tendo um compromisso polivalente não há como articular seu fazer docente em uma

sala de aula com um número significativo. Portanto, pode-se dizer que além de

importante para a professora o trabalho delas deve ser importante para as crianças que é

o sujeito também dessa relação.

Este é além de tudo um problema de cunho hierárquico as auxiliares são bem

posicionadas em fazer somente o trabalho que o professor se recusa a fazer, nesse caso o

apoio que o professor da às auxiliares se estabelece somente no discurso. São funções

distintas em busca de um só objetivo que é promover o desenvolvimento das crianças.

Como as professoras explicam a rotina da creche

Tabela nº8: Rotina da creche para as professoras

Subcategorias %

Integrados educar/cuidar 50

Necessária 25

Vivência 25

TOTAL 100

De acordo com Barbosa (2006) ”rotina é uma categoria pedagógica que os responsáveis

pela educação infantil estruturam, a partir dela, desenvolver o trabalho cotidiano nas

instituições de educação infantil”.

Na tabela nº 8 mostra que para 50% das professoras a rotina da creche é integrada no

educar e cuidar.

“A rotina é muito importante isto deve envolver os cuidados, as

brincadeiras e as situações pedagógicas. A rotina faz com que as crianças

sintam-se seguras, pois elas sabem o que vai acontecer durante a sua

permanência na creche”. (professora A)

“Diante do ambiente (estrutura física inadequada) que temos, a rotina que é

trabalhada na creche foi a que melhor se adaptaram as nossas

necessidades.”. (professora E)

“A chegada das crianças deve acontecer num clima alegre e acolhedor,

principalmente, para os bebês que “sofrem” mais com a “separação” das

mães ou responsável. Os momentos de refeição, lazer e descanso devem ser

respeitados, assim como se devem acompanhar as atividades tendo atenção

na higiene das crianças (banho troca de fralda, lavar as mãos e a boca, troca

de roupa, pentear os cabelos). A saída é tranquila, a criança percebe que

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passou um dia sendo bem cuidada, voltará para casa, estará com a família e

no dia seguinte, ficara bem novamente”. (professora D).

“A rotina é organizada com atividades comuns aos grupos do 1 ao 5 do

acolhimento a hora da saída. Buscamos a dimensão pedagógica para que a

criança tenha autonomia e se desenvolva plenamente, ou seja, os aspectos

físicos, emocionais e cognitivos”.(professora H)

Já para 25% a rotina é necessária afirmando que:

“A rotina é muito importante, pois, facilita ajuda na organização, estrutura e

no bom andamento das tarefas, atividades do trabalho”. (professora C)

“Necessária” (professora G)

E para os outros 25% a rotina é caracterizada como vivência e uma rotina padronizada.

“Já está instalada, temos uma forma de se trabalhar e as crianças

internalizam essa rotina muito bem”. (professora B)

“Rotina é vivência” (professora F)

Ao mesmo tempo em que considera a importância de uma rotina que contemple

cuidados, brincadeiras e o pedagógico há uma concepção de rotina cristalizada,

mecânica e previsível. Quando aponta que as crianças “sabem o que vai acontecer”

voltando a Barbosa (2006) “a rotina cotidiana [...] está invadida pela conformação

subjetiva, de acordo com discursos hegemônicos, e nela procuram-se banir a

transgressão, o desejo e a alegria”.

A professora respondeu com muita propriedade e muita segurança dando a rotina um

papel fundamental dentro da instituição quando afirma que “as crianças internalizam

muito bem”. Desse modo a criança aqui é vista como “objeto” da rotina e internalizar é

o objetivo da instituição para que nada seja modificado. Desse modo, revisito Barbosa

(2006, p.39) aponta que ”as rotinas podem tornar-se uma tecnologia de alienação”.

O professor alienado na sua prática faz do seu cotidiano ações rotineiras. “É o vivido

sem sentido” Barbosa (2006, p.39).

No final da fala da professora D ela deixa claro que “no dia seguinte, (a criança) ficara

bem novamente”. É um “dever ser” Barbosa (2006). A fala da professora configura

uma rotina que o que importa é concluir o dia e ter dado conta do “recado”, ou seja,

cumpriram-se mais um dia de ritual, de controle e ordem. Qualquer evento

extraordinário configura um descompasso na rotina da instituição.

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Talvez por isso tenhamos professores alienados, doentes e estressados porque na

medida que a situação sai do controle da rotina ele não sabe como mediar esta situação.

E configura-se um caos. A fala da professora mostra que o espaço também condiciona a

rotina o espaço também educa e possibilita a criança penetrar no mundo físico das

coisas. Revisito Barbosa (2006, p.122) e concordo quando afirma que a organização do

ambiente possibilita compreender a infância.

Pode-se dizer que a vivência que a professora se refere é a mesma ideia de Barbosa

(2006, p 203) quando diz que é preciso “ressignificar as ritualizações presentes na

rotina”. A professora G foi sucinta quando diz que a rotina “é necessária”. A resposta da

professora deixa espaço para reflexões em torno na real necessidade da rotina na

educação infantil. Caso a professora entenda a rotina como necessário para que nada

saia do controle é importante salientar que ser educador esta além de saber o que deve

fazer.

Como vimos no primeiro capitulo ocorreram muitas mudanças para o que constitui hoje

a educação infantil. A declaração da professora H quando diz “a rotina é organizada

com atividades comuns [...]” implica em uma concepção de rotina homogeneizada. É o

que Barbosa (2006) entende como “eixo”, ou seja, a rotina segue como trem sobre

trilhos seguindo um eixo estruturado e pensado pelo adulto para cumprir horários e

metas pré-estabelecidas. São as invisibilidades que a rotina propõe, é preciso um saber

reflexivo sobre as ações constitutivas do fazer pedagógico salientando que a educação é

um processo dinâmico.

Dentre as atividades que o professor desenvolve quais as que consideram que:

cuida e que educar.

Tabela nº 9: Atividades de cuidar e de educar

Cuidar/subcategorias % Educar/subcategoria %

Rotina: (higiene/alimentação)

escuta/organização do espaço

75 Compromisso com o

pedagógico

50

Proteção/cuidar e educar

integrado

25 Rotina/ensino/orientação/d

ar limites

50

TOTAL 100 100

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Constatam-se na tabela nº9 as atividades que as professoras desenvolvem na categoria

cuidar 75% faz referência a rotina (higiene, alimentação) escuta e organização espacial.

“A hora do café, almoço, ceia, sono, banho, soninho, troca de farda,

escovação. Obs.: apesar de termos um olhar pedagógico em todos esses

momentos”. (professora B)

“Organização dos espaços, rotina bem organizada, criação de combinados,

momentos de cuidados de hábitos saudáveis de higiene e alimentação”

(professora C)

“Na educação infantil o cuidar está ligado ao educar, pois são crianças de 1 a

5 anos que passam o dia inteiro na creche, aprendendo a formação de

cidadãos autônomos que além de terem acesso a conteúdos e ao letramento,

aprendem também sobre: saúde, alimentação, valores, cuidados com seu

corpo, relacionamento interpessoal e outros temas necessários a formação de

sua identidade”. (professora E)

“Tudo” (professora F)

“Quando arrumo e perfumo a criança antes de ir a um passeio. Quando

começo a dar comida na boca da criança que esta se adaptando a rotina

escolar. (professora H)

As atividades desenvolvidas pelas professoras priorizam muito o pedagógico de forma a

dar conta de conteúdos e objetivos dos projetos da instituição, é possível perceber nas

expressões que elas estão ali para educar e o cuidado mais uma vez surge impregnado

de ações relacionadas à higiene e a alimentação. Essa conduta configura a educação

infantil limitações e barreiras quanto ao fazer pedagógico que também priorize o cuidar

de forma entrelaçadas aos conteúdos por elas estruturados.

De acordo com o RCNEI (1998) sugere que as ações que fundamentam a educação

infantil sejam feita de forma integrada visando à criança como um ser em potencial e de

direitos.

O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças,

que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes

sobre qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado

também precisam seguir os princípios de promoção da saúde. Para se atingir

os objetivos dos cuidados com a preservação da vida é com o

desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário atitudes e

procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre

desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em

conta diferentes realidades socioculturais. (BRASIL, 1998, p.25)

Os papéis sociais dentro da instituição com clareza supõem distinção e alienação ao

trabalho quando impossibilita a interação para o crescimento intelectual de todas as

pessoas envolvidas com as crianças. O cuidar e o educar devem caminhar juntos e esta

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59

possibilidade só se estabelece a partir da tomada de consciência e da quebra de

conceitos e preconceitos que giram em torno da ação de cuidar.

Já para 25% das professoras, as atividades que correspondem o cuidar estão

relacionadas com proteção é possível compreender através das expressões:

“Coloco no colo, ouço o que ela tem a me dizer, consolo e intervenho em

situações críticas”. (professora A)

“Quando protejo numa situação de perigo. Quando pego no colo e faço

carinho” (professora D)

Ao analisar como as professoras percebem o educar em suas atividades desenvolvidas

na creche 50% das mesmas afirmam que o compromisso com o pedagógico é

fundamental, assim apontam que:

“Educo quando proponho situações em que as crianças pensem, reflitam,

resolvam, errem, critiquem”(professora A)

“Roda de estudo, roda de conversa, etapas do projeto, visitas fora do

ambiente escolar, apresentações, ensaios, pesquisas entre outros”. (professora

B)

“Rotina bem organizada, criação de combinados, atividades, etapas dos

projetos colocados em pratica na sala de aula, atividades que permitam as

crianças demonstrarem compromisso com ambiente, com o outro,

responsabilidade e respeito para com todos da instituição”. (professora C)

“Na educação infantil o cuidar está ligado ao educar, pois são crianças de 1 a

5 anos que passam o dia inteiro na creche, aprendendo a formação de

cidadãos autônomos que além de terem acesso a conteúdos e ao letramento,

aprendem também sobre: saúde, alimentação, valores, cuidados com seu

corpo, relacionamento interpessoal e outros temas necessários a formação de

sua identidade”. (professora E)

Já para os outros 50% o educar corresponde à rotina, ensino, orientação e limites. Assim

elas expressaram:

“Quando dou limites mostrando o certo o errado, o que pode e o que não

pode. Quando demonstro amor por eles, quando ensino que eles precisam

ajudar os coleguinhas e não machucar os outros”. (professora D)

“Tudo” (professoras F)

“Quando construo com as crianças os combinados através da contação de

histórias. Vale ressaltar que em todas as atividades eu posso e devo orientá-

las quanto a procedimentos, atitudes e conceitos relativos aquela ação,

educando e cuidando simultaneamente”. (professora H)

A educação infantil cabe também proteger no sentido de entender o outro como alguém

em processo de conhecimento de si, do mundo e do outro. Nessa perspectiva a proteção

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60

surge como um elo que ocorre através da interação conjunta das pessoas envolvias com

as crianças dentro da instituição possibilitem que educar e cuidar sejam entrelaçados em

todas as ações sejam as de higiene e alimentação ou as de objetivos pedagógicos.

A educação infantil necessita de um professor de acordo com o primeiro capitulo com

competência polivalente, comprometidos com a prática educacional respondendo a

demandas relativas aos cuidados e aprendizagens infantis.

Perguntado como as auxiliares compreendem o cuidado em sua prática.

A auxiliar expressa na sua fala que: “É gostoso cuidar de crianças, é trabalhoso mais nunca se

cansa porque é muito importante você gostar do que faz principalmente de criança” (Auxiliar C).

O depoimento das auxiliares é fundamental para conhecer o que ela entende do seu

trabalho e de certa forma essa expressão que não é ouvida dentro da instituição, pois as

pessoas precisam dar conta da rotina. Esse relato é uma fonte de reflexão no sentido de

como essas mulheres compreendem e ao mesmo tempo não pode interferir com

propriedade na educação e no cuidado das crianças.

Todas foram unânimes quando solicitadas a refletir sobre o seu trabalho em projetar o

vivido com as crianças colocando-as sempre em primeiro lugar na sua declaração. É

possível ver emoção nas falas e sentimento para com as crianças.

“Estas crianças precisam de muito carinho e afeto das cuidadoras”.

(auxiliar B)

“Gosta de crianças, tem paciência, saber lidar com imprevistos e se

relacionar bem com outras pessoas”. (auxiliar C)

“Cuido pensando que a minha ação possa ajudar no crescimento dessa

criança, que o futuro dela seja de sucesso”. (auxiliar D)

As crianças para as auxiliares continuam sendo crianças dentro da instituição o que por

muitas vezes nas falas das professoras notamos que a concepção delas para com as

crianças é de alunos, pode uma vez ou outra ocorrer um momento de carinho, colo.

Mas, o pedagógico precisa ser realimentado para compreender que cuidar e educar tem

objetivos claros promover a criança uma experiência de viver cada momento de sua

infância como fase importante que é.

“Vários sentimentos”. (auxiliar E)

“As crianças precisam muito de atenção e cuidado”. (auxiliar F)

“Eles precisam de carinho e afeto”. (auxiliar G)

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61

As auxiliares compreendem que afeto é importante para formar vínculos e que dessa

forma de estarem com as crianças elas podem proporcionar significados a vida delas.

Em meio a um ritual estabelecido na rotina da instituição elas conseguem estabelecer e

compreender que as crianças precisam muito mais do que o pedagógico consegue dar

conta. Pode-se dizer que as instituições de educação infantil precisam estabelecer

objetivo e atitudes que visem o pedagógico como algo intrínseco a vida da criança

compreendendo que a educação deve promover ações que busquem na essência o ser

humano afetuoso, único e com possibilidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Os resultados aqui apresentados não têm o proposito de trazer conclusões, prescrições

ou determinações, para além das turmas do Centro Municipal de Educação Infantil

(CMEI) Vovô Zezinho, espaço o objeto deste estudo. É a possibilidade de nos levar a

reflexões e indagações.

O cuidar e o educar estão imbuídos de conceitos que dão lugar às relações estabelecidas

ao logo da história da Educação Infantil. É importante educar e cuidar, para possibilitar

a Educação Infantil novos saberes. A construção de conhecimento é um compromisso

de cuidar e educar as crianças que possam desenvolver e crescer com autonomia e

respeito a si mesmo, ao outro e ao mundo que vive e usufruem.

Estar com as professoras e auxiliares fomentou nessa pesquisa um olhar aguçado sobre

como é o cotidiano da instituição e através das perguntas do questionário estabelecer um

parâmetro sobre como se educa e cuida dessas crianças. Dessa forma encontramos

categorias que se entrelaçam nas ações de educar e cuidar, tais como, atenção, escuta

sensível, bem-estar, proteção, afeto, autonomia, ampliar conceitos, mediar, unir,

acolher.

Além das necessidades orgânicas que as crianças precisam é necessário que as pessoas

envolvidas nesse contexto estabeleçam um envolvimento emotivo para que assim as

coisas aconteçam de forma leve e gratificante. Muitas vezes a educação de crianças é

visto como um fardo, um lamento, uma substituição familiar. Nesse caso, é possível que

uma mudança de concepção as ações de educar e cuidar ocorra de forma altruísta.

Cuidar e educar crianças ocorre em um processo de entrega e valorização do ser

humano. Cuidar exige uma mudança interna de cada ser perante a vida e perante as

crianças que dependem em determinado período da vida do suporte dos adultos. É um

processo de união amorosa entre professor-mundo-criança.

Educar e cuidar estão entrelaçados o que necessita a priori entre professores e crianças é

a construção de vínculos, priorizarem nas práticas educativas atividades que integrem as

ações priorizando a inserção das auxiliares na construção dessas atividades ouvindo-as

para que a sua opinião também seja respeitada e que juntas elas possam dividir

resultados positivos. O entrelaçamento das ações permite conduzir o outro na busca da

sua autonomia de forma responsável e comprometida.

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A pesquisa aqui desenvolvida deixa espaço para complementos, ajustes, contribuições,

pois na medida em que a pesquisa tenta explicitar algo determinante para o pesquisador

não é a pesquisa por si mesma é uma tentativa de reflexão em conjunto com as pessoas

que contribuíram para chegar até aqui deixando espaço para novas indagações. Sendo

assim, a educação de maneira geral seja elas direcionadas as crianças ou não aconteça

na escola ou em outros espaço educativos solicita respeito a historia de vida das

pessoas, a natureza e ao contexto histórico.

Desse modo, assim como o professor não deve priorizar somente o intelectual as

auxiliares precisam saber que os trabalhos por elas desenvolvidos extrapolam as

dimensões do corpo físico. Uma proposta educativa condizente só se estabelece quando

estamos disponíveis a escutar o outro e junto com ele traçar elementos entrelaçados para

que o trabalho na educação ocorra de forma coerente, respeitando os direitos individuais

de todos envolvidos.

Portanto, as práticas educativas devem entrelaçar ações que contemplem o educar e o

cuidar visando tanto para o desenvolvimento da criança como para o exercício da

docência de forma reflexiva e coerente com a proposta do que é ser Educador.

Considero que os entrelaçamentos de cuidar e educar só ocorrera com práticas

educativas que priorizem as ações de forma integrada. Desse modo, cabe à instituição

promover grupos de estudos onde as auxiliares tenham um envolvimento maior com as

proposta pedagógica da creche no sentido entender quais objetivos que queremos

alcançar com as crianças, quais condicionantes utilizam para contemplar esses

objetivos.

Práticas educativas que visem a criança como sujeito central da proposta e não a rotina

da creche. Nessa perspectiva só é possível mudança a partir do educador se colocando

em uma posição democrática do seu fazer. Cabe ter bom senso, articulação e aberto ao

outro, as diferenças concernentes a cada ser humano.

REFERÊNCIAS

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KRAMER, Sônia. Retratos de um desafio: crianças e adultos na educação infantil.

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VIANA, Eloíza Marlene de Carvalho. Investir é importante: por que não na

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APÊNDICE A

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QUESTIONÁRIO - PROFESSORAS

1-Para você o que é educar?

2-Para você o que significa cuidar?

3-Para você educar e cuidar são distintos ou não? Explique

4-Para você é possível educar na perspectiva do cuidado? Explique.

5-Quais as ações do professor para educar cuidando?

6-Como você entende o cuidado na proposta pedagógica da creche?

7-Como as professoras percebem o trabalho das auxiliares?

8-Como você explica a rotina da creche?

9-Dentre as atividades que você desenvolve quase você considera de educar e cuidar.

APÊNDICE B

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QUESTIONÁRIO - AUXILIARES

1-Para você o que é cuidar?

2-Para você o que é educar?

3-Para você educar e cuidar são distintos?

4-Na sua ação de cuidar o que é possível refletir durante o trabalho?

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