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EQUAÇÕES DIFERENCIAIS: MÉTODOS DE SÉRIES I MAURICIO A. VILCHES Departamento de Análise - IME UERJ

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EQUAÇÕES DIFERENCIAIS:MÉTODOS DE SÉRIES I

MAURICIO A. VILCHES

Departamento de Análise - IMEUERJ

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PREFÁCIO

Nestas notas abordaremos todos os tópicos da ementa das disciplinas CálculoDiferencial e Integral IV e Complementos de Equações Diferenciais oferecidaspelo Departamento de Análise do IME-UERJ.

O Volume I, é dedicado ao estudo das soluções por séries de potências das equa-ções diferenciais ordinárias.

Historicamente, o primeiro que utilizou sistematicamente as séries de potênciasfoi Isaac Newton, em 1665, em seu famoso Teorema Binomial, ele publicou seusresultados no livro "A Treatise of the Methods of Series and Fluxions".

Isaac Newton descobriu que qualquer equação pode ser resolvida, utilizandoséries de potências com coeficientes indeterminados, os quais podem ser sempreobtidos.

A rigorosa teoria da convergência das séries é devida a Augustin-Louis Cau-chy e Niels Henrik Abel, entre outros. Posteriormente, a teoria das séries depotências converte-se na teoria das Funções Analíticas.

As chamadas séries de Taylor, foram inicialmente utilizadas pelo matemáticoescocês James Gregory; posteriormente, foram formalmente introduzidas pelomatemático inglês Brook Taylor, em 1715. Porém quem divulgou e popularizouas séries de Taylor foi Joseph-Louis Lagrange am 1772.

Se a série de Taylor é centrada em zero, é chamada de Maclaurin. Colin Ma-claurin foi um matemático escosês que as utilizou no século XVIII.

Na atualidade, muitas funções importantes em Matemática podem ser expressascomo séries de potências ou Taylor, as quais são a generalização dos polinômios,no seguinte sentido: Uma função pode ser aproximada usando um número finitode termos de sua série de Taylor.

O teorema de Taylor indica estimativas quantitativas sobre o erro cometido aoutilizar tal aproximação. O polinômio formado pelos n primeiros termos da sériede Taylor é dito polinômio de Taylor de grau n e se aproxima da função de formabastante razoável, para certos tipos de problemas.

Em geral, notamos que uma função pode não ser igual a sua série de Taylor,mesmo que convirga em todos os pontos. Por outro lado, as funções que são

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iguais a sua série de Taylor, num determinado domínio aberto, são chamadasanalíticas nesse domínio.

O capítulo dois, sobre o estudo da convergências das séries de funções pode serpodem ser revistos posteriormente, quando o leitor esteja interessado nos funda-mentos matemáticos das soluções da equações direnciais ordinárias e parciais.

Os pré-requisitos básicos deste livro podem ser visto em [VC1], [VC2] e [NP].

Desejo agradecer de forma muito especial a minha colega professora Maria LuizaCorrêa pela leitura rigorosa dos manuscritos, além dos inúmeros comentários eobservações, os quais permitiram dar clareza aos tópicos estudados.

Mauricio A. VilchesRio de Janeiro

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Conteúdo

1 SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS 71.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71.2 Sequências Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71.3 Séries Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131.4 Testes de Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

1.4.1 Teste 1 (de divergência) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161.4.2 Teste 2 (de Comparação) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171.4.3 Teste 3 (da Integral) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201.4.4 Teste 4 (do Quociente I) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.5 Séries Alternadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231.5.1 Teste 5 (Séries alternadas) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

1.6 Convergência Absoluta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251.6.1 Teste 6 ( do Quociente I I) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261.6.2 Teste 7 (da Raiz) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

1.7 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

2 SEQUÊNCIAS E SÉRIES DE FUNÇÕES 312.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312.2 Sequências de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312.3 Convergência Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 342.4 Séries de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

3 SÉRIES DE POTÊNCIAS 413.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 413.2 Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 413.3 Funções Analíticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 473.4 Séries de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 533.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4 SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES 634.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 634.2 Equações Diferenciais Ordinárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 634.3 Soluções em Torno de Pontos Regulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

5

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6 CONTEÚDO

4.4 Equações Diferenciais Ordinárias de Segunda Ordem . . . . . . . . . . . 654.5 Determinação da Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 664.6 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 694.7 A Equação de Legendre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 824.8 Exemplos e Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 874.9 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

5 MÉTODO DE FROBENIUS 975.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 975.2 Soluções em Torno de Pontos Singulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 985.3 A Equação Indicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1005.4 Exemplos e Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1035.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

6 A EQUAÇÃO DE BESSEL 1196.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1196.2 A Edo de Bessel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1206.3 Edo de Bessel de Ordem Zero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

6.3.1 Primeira Solução: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1206.3.2 Segunda Solução: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122

6.4 Função Gama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1266.5 Edo de Bessel de Ordem ν > 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

6.5.1 Primeira solução: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1296.5.2 Segunda Solução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

6.6 A Edo de Bessel de Ordem ν = 1/2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1366.7 Exemplos e Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1386.8 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145

Bibliografia 147

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Capítulo 1

SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

1.1 Introdução

Neste capítulo apresentaremos apenas o essencial sobre sequências e séries, o mínimo,para estudar as soluções analíticas de Equações Diferenciais Ordinárias (EDO), as con-vergências das séries de Fourier e a validade das soluções das Equações DiferenciaisParciais (EDP) que estudaremos.

Às pessoas interessadas nas demostrações ou que desejem aprofundar-se nos assuntosdeste capítulo, indicamos [LE] e [RW] na bibliografia.

1.2 Sequências Numéricas

Denotemos por N o conjunto dos números naturais e por R o conjunto dos númerosreais.

Definição 1.1. Uma sequência de números reais é uma função:

f : N −→ R.

Observação 1.1.

1. As notações clássicas para sequências são: f(n) = an, o termo geral da sequência.

2. A sequência é denotada por:

(an)n∈N =

(a1, a2, . . . . . . , an, . . .

).

7

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8 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

3. Não confundir a sequência(an)n∈N com a1, a2, . . . . . . , an, . . . que é o conjunto-

imagem da função que define a sequência .

Exemplo 1.1.

[1] Seja(

1

n

)n∈N

=(1,

1

2,

1

3, . . . ,

1

n, . . .

); o conjunto-imagem é: 1

n/ n ∈ N

.

[2] Seja(√

n)n∈N =

(1,√

2, . . . ,√n, . . .

); o conjunto-imagem é:

√n /n ∈ N.

[3] Seja((−1)n

)n∈N =

(− 1, 1, −1, . . . , (−1)n, . . .

); o conjunto-imagem é:

−1, 1.

1 2 3 4 5 6 7

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1 2 3 4 5 6 7

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

Figura 1.1: Gráficos das sequências( 1

n

)e(√

n)

Definição 1.2. Uma sequência(an)n∈N converge para o número real L quando para

todo ε > 0 existe n0 ∈ N tal que |an − L| < ε para todo n > n0.

Observação 1.2.

1. Se a sequência(an)n∈N converge para L, denotamos:

limn→+∞

an = L;

o número L é dito o limite da sequência.

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1.2. SEQUÊNCIAS NUMÉRICAS 9

2. Uma sequência é dita divergente se não converge.

3. Logo, a sequência(an)n∈N diverge quando, para nehum número real L, se tem

limn→+∞

an = L, ou seja, se existe ε > 0 tal que para cada n0 ∈ N existe n > n0 tal

que |an − L| ≥ ε.

Exemplo 1.2.

[1] A sequência (n)n∈N = (1, 2, 3, . . . , n, . . .), claramente, diverge. Pois:

limn→+∞

n

não existe.

[2] A sequência(

1

n

)n∈N

converge a zero.

De fato, dado ε > 0 devemos determinar um número n0 ∈ N tal que para todo n > n0:∣∣∣∣ 1n − 0

∣∣∣∣ < ε =⇒ 1

n< ε desde que n >

1

ε.

Como ε−1 pode não ser um número natural, escolhemos n0 >1

ε.

Logo, para todo n > n0, temos:1

n< ε. Logo:

limn→+∞

1

n= 0.

[3] A sequência constante (k)n∈N, k ∈ R converge para k. Logo:

limn→+∞

k = k.

Proposição 1.1. Se uma sequência converge para L e para M , então,

L = M.

Isto é, se o limite de uma sequência existe, êle é único.

Observação 1.1. Se (an)n∈N converge, então, (|an|)n∈N converge. A recíproca é falsa.Veja o exemplo seguinte.

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10 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Exemplo 1.3.

[1] A sequência ((−1)n)n∈N diverge, pois, seus termos oscilam entre +1 e −1; logo, asequência não tem limite.

[2] Por outro lado, a sequência (|(−1)n|)n∈N é convergente.

Definição 1.3. Uma sequência(an)n∈N é limitada se existe k ∈ R+ tal que |an| ≤ k para

todo n ∈ N. Caso contrário, é dita ilimitada.

Proposição 1.2. Se a sequência(an)n∈N é convergente, então, é limitada.

Exemplo 1.4.

[1] A sequência(n)n∈N diverge, pois é ilimitada.

[2] A sequência(n2)n∈N diverge, pois é ilimitada.

[3] A sequência ((−1)n)n∈N é limitada e diverge. Logo, a recíproca da propriedadeanterior não vale.

Proposição 1.3. Se an ≤ bn ≤ cn para todo n > n0 e:

limn→+∞

an = limn→+∞

cn = L, então, limn→+∞

bn = L.

Exemplo 1.5.

[1] Estudemos a convergência da sequência :(cos(n)

n

)n∈N

.

2 4 6 8 10 12 14

-0.2

0.2

0.4

Figura 1.2: Gráfico dos 15 primeiros termos da sequência

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1.2. SEQUÊNCIAS NUMÉRICAS 11

Como:

− 1

n≤ cos(n)

n≤ 1

n,

pela propiedade anterior:

limn→+∞

cos(n)

n= 0.

Proposição 1.4. Se as sequências(an)n∈N e

(bn)n∈N convergem a L e M , respectiva-

mente, então:

1. Se α e β ∈ R, então limn→+∞

[α an + β bn

]= αL+ βM .

2. limn→+∞

[an · bn

]= L ·M .

3. limn→+∞

anbn

=L

M, se M 6= 0.

Exemplo 1.6.

[1] Considere as sequências(

1

n2

)n∈N

e(

2 +1

n

)n∈N

. Então:

limn→+∞

1

n2= lim

n→+∞

[1

n· 1

n

]=

[lim

n→+∞

1

n

]·[

limn→+∞

1

n

]= 0,

limn→+∞

[2 +

1

n

]= lim

n→+∞2 + lim

n→+∞

1

n= 2.

[2] Pela propiedade anterior:

limn→+∞

[5

n2+(2 +

1

n

)]= 5 · 0 + 2 = 2,

limn→+∞

[5

n2

]·[2 +

1

n

]= 5 · 0 · 2 = 0,

limn→+∞

1

2n+ 1= 0. Por que?

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12 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Proposição 1.5. Seja a sequência(an)n∈N tal que an > 0 para todo n ∈ N. Se

limn→+∞

an+1

an= L < 1,

então, a sequência(an)n∈N converge para zero.

Exemplo 1.7.

Estude a convergência das seguintes sequências :

[1](kn

n!

)n∈N

tal que k 6= 0. Como:

limn→+∞

an+1

an= lim

n→+∞

k

n+ 1= 0 < 1,

a sequência converge para zero.

[2](nk

kn

)n∈N

tal que k > 1. Como:

limn→+∞

an+1

an= lim

n→+∞

1

k

[1 +

1

n

]k=

1

k< 1,

a sequência converge para zero.

Proposição 1.6. Sejam f : A ⊂ R −→ R tal que N ⊂ A e limx→+∞

f(x) = L. Se f(n) = an,

n ∈ N, então:

limn→+∞

an = L.

5 10 15 20 25

-0.1

0.1

0.2

0.3

Figura 1.3: Gráfico de f(x) e f(n) = an

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1.3. SÉRIES NUMÉRICAS 13

Exemplo 1.8.

[1] Estude a convergência da sequência :

(ln(

n√n))n∈N.

Note que ln(

n√n)

=ln(n)

n; então consideremos:

f(x) =ln(x)

x

definida em A = (0,+∞); então:

limx→+∞

ln(x)

x= lim

x→+∞

1

x= 0,

onde na última igualdade aplicamos o teorema de l’Hôpital; logo, a sequência con-verge para zero.

[2] Em particular:

limn→+∞

n√n = 1.

1.3 Séries Numéricas

Considere a sequência(an)n∈N e construamos a partir desta sequência, a seguinte nova

sequência :

S1 = a1

S2 = a1 + a2 = S1 + a2

S3 = a1 + a2 + a3 = S2 + a3

S4 = a1 + a2 + a3 + a4 = S3 + a4...

Sn = a1 + a2 + a3 + . . .+ an = Sn−1 + an......

Se a sequência(Sn)n∈N converge para o número S, escrevemos:

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14 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

∞∑n=1

an = a1 + a2 + a3 + . . .+ an + . . . = S. (1.1)

Definição 1.4.

1. A expressão (1.1) é dita a série infinita com termo geral an.

2. Em tal caso, dizemos que a série (1.1), converge para S.

3. Caso contrário, ou seja, se a sequência(Sn)n∈N é divergente, a série é dita diver-

gente.

4. O número S é dito a soma da série (1.1) e a sequência(Sn)n∈N é dita sequência

das somas parciais ou reduzidas da série.

Exemplo 1.9.

Estude a convergência das seguintes séries:

[1] A série geométrica. Seja r ∈ R:

∞∑n=0

rn = 1 + r + r2 + r3 + · · ·+ rn + . . . . . . .

Temos:

Sn = 1 + r + r2 + r3 + . . . . . .+ rn−1 (1)

r Sn = r + r2 + r3 + r4 + . . . . . .+ rn (2).

Fazendo (1)-(2), temos:

(1− r)Sn = 1− rn;

logo:

limn→+∞

Sn = limn→+∞

[1− rn

1− r

]=

1

1− r, se |r| < 1.

Se |r| ≥ 1 a série diverge.

Como aplicação direta da série geométrica:

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1.3. SÉRIES NUMÉRICAS 15

1. A série:

∞∑n=0

2n

3n=∞∑n=0

[2

3

]nconverge e a série:

∞∑n=0

5n

2n=∞∑n=0

[5

2

]ndiverge.

2. Escrever 4, 4444444, como fração.

0, 4444444 = 4 +4

10+

4

100+

4

1000+ . . .+

4

10n+ . . .

=∞∑n=0

4

10n= 4

∞∑n=1

1

10n=

40

9.

[2]∞∑n=1

1

n (n+ 1).

Note que podemos reescrever:

an =1

n (n+ 1)=

1

n− 1

n+ 1;

logo, a nésima soma parcial é Sn = 1− 1

n+ 1e:

limn→+∞

Sn = limn→+∞

[1− 1

n+ 1

]= 1;

então:

∞∑n=1

1

n (n+ 1)= 1.

[3]∞∑n=1

1√n+ 1 +

√n

.

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16 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Note que podemos reescrever:

an =1√

n+ 1 +√n

=√n+ 1−

√n;

logo, a nésima soma parcial é Sn =√n+ 1− 1, e:

limn→+∞

Sn = limn→+∞

[√n+ 1− 1

],

o qual não existe; logo, a série diverge.

[4] Determine o termo geral da série∞∑n=1

an e estude sua convergência, se:

Sn =2n+ 3

n+ 4, n ∈ N.

Note que a1 = S1 = 1, e:

an = Sn − Sn−1 =2n+ 3

n+ 4− 2n+ 1

n+ 3=

5

(n+ 3) (n+ 4).

Logo,

∞∑n=1

an = 1 +∞∑n=2

5

(n+ 3) (n+ 4)= lim

n→+∞Sn = lim

n→+∞

2n+ 3

n+ 4= 2.

Observação 1.2. A seguir apresentaremos alguns testes para decidir se uma série con-verge.

1.4 Testes de Convergência

1.4.1 Teste 1 (de divergência)

Se a série:

∞∑n=0

an

converge, então:

limn→+∞

an = 0.

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1.4. TESTES DE CONVERGÊNCIA 17

O teste 1 é utilizado para provar que uma série é divergente, ou seja:

Se limn→+∞

an 6= 0, então,∞∑n=0

an diverge.

Exemplo 1.10.

Estude a convergência das seguintes séries:

[1]∞∑n=1

1

n= 1 +

1

2+

1

3+

1

4+

1

5+ . . . . . .+

1

n. . . . . . . . .

Como limn→+∞

1

n= 0, o teste é inconclusivo !

[2]∞∑n=1

n

2n+ 1.

Como limn→+∞

n

2n+ 1=

1

2, a série diverge.

[3]∞∑n=0

arctg(n+ 5

2

).

Como limn→+∞

arctg(n+ 5

2

)=π

2, a série diverge.

1.4.2 Teste 2 (de Comparação)

Seja a série∞∑n=0

an, tal que 0 ≤ an para todo n ∈ N.

1. Se∞∑n=0

bn é uma série convergente tal que

0 ≤ an ≤ bn, ∀ n ∈ N,

então, a série:

∞∑n=0

an converge.

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18 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

2. Se∞∑n=0

cn é uma série divergente tal que

0 ≤ cn ≤ an, ∀ n ∈ N,

então, a série:

∞∑n=0

an diverge.

Exemplo 1.11.

[1] Estude a convergência da série:

∞∑n=0

1

n 3n+1.

Note que:

an =1

n 3n+1<

1

3n,

para todo n ∈ N.

Por outro lado, a série∞∑n=0

1

3né uma série geométrica de razão

1

3. Logo, a série converge.

Proposição 1.7. Se∞∑n=0

an e∞∑n=0

bn são séries convergentes, então:

∞∑n=0

[α an + β bn

]= α

∞∑n=0

an + β∞∑n=0

bn,

para todo α, β ∈ R.

Exemplo 1.12.

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1.4. TESTES DE CONVERGÊNCIA 19

Discuta a convergência da série:

∞∑n=0

3n − 2n

6n.

Observamos que não podemos separar esta série em duas, pois não sabemos se cadauma delas converge. Por outro lado:

3n − 2n

6n=

1

2n− 1

3n.

As séries geométricas:∞∑n=0

1

2ne∞∑n=0

1

3nsão convergentes e:

∞∑n=0

1

2n= 2,

∞∑n=0

1

3n=

3

2.

Pela propiedade anterior:

∞∑n=0

3n − 2n

6n=∞∑n=0

1

2n−∞∑n=0

1

3n=

1

2.

Observação 1.3. Nem sempre é possível achar a soma de uma série; nós estamosapenas interessados em decidir se uma série converge ou diverge.

Considere a seguinte série:

∞∑n=1

1

n2= 1 +

1

22+

1

32+

1

42+ . . . . . .+

1

n2+ . . . . . .

Seja f : N −→ R tal que f(n) =1

n2e g : (0,+∞) −→ R tal que g(x) =

1

x2; logo,

f(n) = g(n) para todo n ∈ N.

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20 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

1 2 3

R1

R2

R3R4 R5

Figura 1.4: Gráfico de g

Note que as áreas dos retângulos Ri são A(R1) = 1, A(R2) =1

22, em geral :

A(Rn) =1

n2.

Se tiramos o retângulo R1 a soma das áreas dos retângulos restantes será menor que aárea sob a o gráfico de g; logo:

Sn ≤ 1 +

∫ n

1

dx

x2, para todo n ∈ N.

Isto motiva o seguinte Teste:

1.4.3 Teste 3 (da Integral)

Seja f : [1,+∞) −→ R contínua, decrescente e positiva tal que f(n) = an. Temos:

1. Se a integral imprópria:

∫ +∞

1

f(x) dx

converge, então∞∑n=1

an converge.

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1.4. TESTES DE CONVERGÊNCIA 21

2. . Se a integral imprópria: ∫ +∞

1

f(x) dx

diverge, então∞∑n=1

an diverge.

Figura 1.5: Gráficos de f(x) e f(n) = an

Exemplo 1.13.

Estude a convergência das seguintes séries:

[1] Seja α > 0, e:

∞∑n=1

1

nα= 1 +

1

2α+

1

3α+

1

4α+ . . . . . .+

1

nα+ . . . .

Consideremos f : [1,+∞) −→ R tal que f(x) =1

xα; f é contínua, decrescente e positiva

e f(n) =1

nα.

Se α 6= 0: ∫ +∞

1

dx

xα= lim

b→+∞

∫ b

1

dx

xα= lim

b→+∞

x1−α

1− α

∣∣∣∣b1

= limb→+∞

b1−α − 1

1− α;

logo, se α > 1 a integral converge; se α < 1 a integral diverge. Segue de imediato, quea integral também diverge se α = 1, pois:∫ +∞

1

dx

x= lim

b→+∞

∫ b

1

dx

x= lim

b→+∞ln(b) =∞;

Logo:

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22 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

∞∑n=1

1

nα=

converge se α > 1

diverge se 0 < α ≤ 1.

Então, por exemplo:

1. A série∞∑n=1

1

ndiverge.

2. A série∞∑n=1

1

n2converge

3. Em geral, fazendo k = n+ l, onde l ∈ R, temos:

∞∑n=0

1

(n+ l)α=∞∑k=l

1

kα=

converge se α > 1

diverge se 0 < α ≤ 1.

4. Então, por exemplo:

∞∑n=0

1

(n+ 2)diverge,

∞∑n=0

1

(n+ 5)2converge,

∞∑n=0

1√n+ 8

diverge.

[2]∞∑n=1

ln(n)

n.

Consideremos f : [1,+∞) −→ R tal que f(x) =ln(x)

x; f é contínua, decrescente e

positiva e f(n) =ln(n)

n.∫ +∞

1

ln(x)

xdx = lim

b→+∞

∫ b

1

ln(x)

xdx = lim

b→+∞

(ln(b)

)22

;

logo, a integral diverge. Portanto, a série diverge.

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1.5. SÉRIES ALTERNADAS 23

1.4.4 Teste 4 (do Quociente I)

Seja a série∞∑n=1

an tal que an ≥ 0 e:

L = limn→+∞

an+1

an.

1. Se L < 1, a série converge.

2. Se L > 1, a série diverge.

3. Se L = 1, o teste é inconclusivo.

Exemplo 1.14.

[1] Estude a convergência da série:

∞∑n=1

kn n!

nn, k > 0.

Note quean+1

an= k

[n

n+ 1

]n; então:

limn→+∞

an+1

an= lim

n→+∞k

[n

n+ 1

]n= lim

n→+∞k

[1− 1

n+ 1

]n=k

e.

1. Sek

e< 1, isto é, k < e, a série converge.

2. Sek

e> 1, isto é, k > e, a série diverge.

3. se k = e, o teste é inconclusivo.

1.5 Séries Alternadas

Definição 1.5. A série∞∑n=0

an é dita alternada se an · an+1 < 0 para todo n ≥ 1, ou seja,

se é do tipo:

∞∑n=0

(−1)n an.

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24 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

1.5.1 Teste 5 (Séries alternadas)

Seja a série alternada:

∞∑n=0

(−1)n an

tal que:

1. an ≥ an+1 para todo n ≥ 1 e

2. limn→+∞

an = 0.

Então, a série alternada converge.

Exemplo 1.15.

[1] A série:∞∑n=1

(−1)n

nconverge.

De fato, an =1

n; como n < n+ 1, então,

1

n+ 1<

1

npara todo n ∈ N e lim

n→+∞an = 0.

[2] A série:∞∑n=1

n

(−2)n−1converge?

Observamos que:

∞∑n=1

n

(−2)n−1=∞∑n=1

(−1)n−1 n

2n−1.

De fato, an =n

2n−1; como n < n+1, então,

n+ 1

2n≤ n

2n−1para todo n ∈ N e lim

n→+∞an = 0,

pois por L’Hopital:

limx→+∞

x

2x−1= 0.

Logo, a série converge.

Observação 1.4. Se∞∑n=0

an converge para S; denotemos por:

ε(n) = |S − Sn|,

o erro de aproximação da série pela n-ésima soma parcial.

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1.6. CONVERGÊNCIA ABSOLUTA 25

Proposição 1.8. Se a série alternada:∞∑n=0

(−1)n an converge para S, então:

ε(n) ≤ an+1, ∀n ∈ N.

Observação 1.5. Isto é, o erro máximo de aproximar a série alternada por sua n-ésimasoma parcial não exede an+1.

Exemplo 1.16.

[1] Aproxime a série∞∑n=1

(−1)

(2n+ 1)!, pela soma parcial S5.

A série alternada claramente converge; por outro lado:

S5 = 1− 1

3!+

1

5!− 1

7!+

1

9!= 0.8414709846;

logo:

∞∑n=1

(−1)

(2n+ 1)!' 0.8414709846

com erro máximo de a6 =1

11!' 2.505210839× 10−8.

1.6 Convergência Absoluta

Definição 1.6.

1. A série∞∑n=0

an converge absolutamente se∞∑n=0

|an| converge.

2. Se a série converge∞∑n=0

an e∞∑n=0

|an| diverge, então, é dita condicionalmente con-

vergente.

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26 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

Teorema 1.1. Se a série∞∑n=0

an converge absolutamente então∞∑n=0

an converge.

Prova: Segue do teste de comparação; de fato, primeiro temos a seguinte desiguladadegeral:

−|an| ≤ an ≤ |an| =⇒ 0 ≤ an + |an| ≤ 2 |an|.

Como∞∑n=0

|an| converge, temos que∞∑n=0

2 |an| converge; por comparação, a série∞∑n=0

(an+

|an|) converge e:

∞∑n=0

an =∞∑n=0

(an + |an|)−∞∑n=0

|an|;

como é diferença de séries convergentes, temos que∞∑n=0

an converge.

A recíproca do Teorema anterior é falsa.

Exemplo 1.17.

[1]. A série:∞∑n=0

(−1)n

nconverge condicionalmente.

[2] A série:∞∑n=0

(−1)n

n2converge absolutamente.

1.6.1 Teste 6 ( do Quociente I I)

Seja a série∞∑n=0

an e:

L = limn→+∞

∣∣∣∣an+1

an

∣∣∣∣;então, se:

1. L < 1, a série∞∑n=0

an converge absolutamente.

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1.6. CONVERGÊNCIA ABSOLUTA 27

2. L > 1, a série∞∑n=0

an diverge.

3. Se L = 1, o teste é inconclusivo.

Exemplo 1.18.

[1] Estude a convergência da série:

∞∑n=0

1

n!.

limn→+∞

∣∣∣∣an+1

an

∣∣∣∣ = limn→+∞

1

n+ 1= 0 < 1;

logo, a série converge absolutamente.

[2] Estude a convergência da série:

∞∑n=0

(−1)n n!

nn.

limn→+∞

∣∣∣∣an+1

an

∣∣∣∣ = limn→+∞

[n

n+ 1

]n= lim

n→+∞

[1− 1

n+ 1

]n=

1

e< 1;

logo, a série converge absolutamente.

1.6.2 Teste 7 (da Raiz)

Seja a série∞∑n=0

an e:

L = limn→+∞

n√|an|;

então, se:

1. L < 1, a série∞∑n=0

an converge absolutamente.

2. L > 1, a série∞∑n=0

an diverge.

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28 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

3. Se L = 1, o teste é inconclusivo.

Exemplo 1.19.

Estude a convergência das séries:

[1]∞∑n=0

(−1)n 4n

nn.

limn→+∞

n√|an| = lim

n→+∞n

√4n

nn= 0 < 1;

logo, a série converge absolutamente.

[2]∞∑n=1

(n+ 1

n

)n.

limn→+∞

n√|an| = lim

n→+∞

n+ 1

n= 1;

logo, o teste é inconclusivo. Por outro lado:

limn→+∞

an = limn→+∞

(n+ 1

n

)n= lim

n→+∞

(1 +

1

n

)n= e 6= 0,

e a série diverge.

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1.7. EXERCÍCIOS 29

1.7 Exercícios

1. Determine se as seguintes séries convergem:

(a)∞∑n=0

3n

(n2 + 4)

(b)∞∑n=1

5n

n3 + n2 + 1

(c)∞∑n=0

2n

5n+1 (n+ 2)

(d)∞∑n=0

n!

n+ 1

(e)∞∑n=1

n10

10n

(f)∞∑n=0

nn

10n+1

(g)∞∑n=1

(2n)!

2n

(h)∞∑n=1

[n

n+ 2

]n

Determine se as seguintes séries convergem absolutamente:

(a)∞∑n=0

(−1)n ln(n)

n

(b)∞∑n=0

(−1)n e−n

(c)∞∑n=0

(−1)n n!

n+ 1

(d)∞∑n=1

n!

(−5)n

(e)∞∑n=0

(−1)n 4n

3n + 1

(f)∞∑n=1

(−1)n n10

10n

(g)∞∑n=1

(−6n)3n

(5n3 + 3)n

(h)∞∑n=1

(−1)n−1

ln(en + e−n)

2. Aproxime as séries, pela soma parcial indicada e determine o erro máximo:

(a)∞∑n=0

(−1)n

n!; S10

(b)∞∑n=0

(−1)n

2n n; S7

(c)∞∑n=1

(−1)n (n+ 2)

5n+1; S8

(d)∞∑n=1

(−1)n

2n + n; S8

(e)∞∑n=1

cos(nπ)

5n; S7

(f)∞∑n=0

(−1)n 4n

3n + 1; S6

(g)∞∑n=0

(−1)n

n4 + 1; S10

(h)∞∑n=1

(−5)n−1

nn!; S6

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30 CAPÍTULO 1. SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS

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Capítulo 2

SEQUÊNCIAS E SÉRIES DE FUNÇÕES

2.1 Introdução

Este capítulo não é, inicialmente impresindível para o entendimento dos próximos ca-pítulos e pode ser deixado para quando o leitor necessite ter um conhecimento maisprofundo sobre convergências.

2.2 Sequências de Funções

Seja A ⊂ R e:

F(A,R

)= f / f : A −→ R

o conjunto das funções reais definidas sobre A.

Definição 2.1. Uma sequência de funções é uma correspondência que associa a cadanúmero natural uma única função:

f : N −→ F(A,R

),

que denotamos por f(n) = fn : A −→ R.

Observação 2.1. A sequência de funções é denotada por:(fn)n∈N. Para todo x ∈ A, a

sequência(fn(x)

)n∈N é uma sequência numérica.

Exemplo 2.1.

[1] Seja A = [0, 1] e(xn)n∈N =

(x, x2, x3, . . .

).

[2] Seja A = [0,+∞) e(√

nx)n∈N =

(√x,√

2x, . . . ,√nx, . . .

).

31

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32 CAPÍTULO 2. SEQUÊNCIAS E SÉRIES DE FUNÇÕES

Definição 2.2. Uma sequência de funções(fn)n∈N tais que fn : A −→ R, converge

pontualmente ou, simplesmente para a função f : A −→ R se para todo x ∈ A e paratodo ε > 0 existe n0 ∈ N tal que |fn(x)− f(x)| < ε para todo n ≥ n0.

Observação 2.1.

1. O número n0 = n(ε, x), depende tanto de ε como do ponto x.

2. Uma sequência de funções é dita divergente se não converge.

3. Se a sequência de funções(fn)n∈N converge pontualmente para f , para todo x ∈

A fixado, tem-se:

limn→+∞

fn(x) = f(x);

f(x) é dito o limite pontual da sequência .

Exemplo 2.2.

[1] Seja A = [0, 1]. A sequência(xn)n∈N = (1, x, x2, x3, . . .) converge pontualmente

para a função f : [0, 1] −→ R definida por:

f(x) = limn→+∞

xn =

0 se x ∈ [0, 1)

1 se x = 1.

[2] Seja A = R. A sequência(fn)n∈N tal que fn(x) =

nx

1 + n2 x2converge pontualmente

para a função f : R −→ R definida por:

f(x) = limn→+∞

nx

1 + n2 x2= lim

n→+∞

x1

n+ nx2

= 0.

[3] Seja A = R. A sequência(fn)n∈N tal que fn(x) =

(1 +

x

n

)nconverge pontualmente

para a função f : R −→ R definida por:

f(x) = limn→+∞

[1 +

x

n

]n= ex.

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2.2. SEQUÊNCIAS DE FUNÇÕES 33

-1 1 2 3

2

4

6

8

10

Figura 2.1: Gráficos de f1(x), f10(x) e f200(x)

Observação 2.2.

1. Dada uma sequência de funções(fn)n∈N em que cada fn seja contínua em A e(

fn)n∈N convirja pontualmente a uma função f , nada nos garante que f seja con-

tínua.

2. De fato, no primeiro exemplo, as fn(x) = xn são contínuas em [0, 1] mas conver-gem pontualmente para uma função descontínua. Vejamos outro exemplo:

Exemplo 2.3.

Seja A = [0, 1] e:

fn(x) =

n− n2 x se 0 < x <1

n0 nos outros casos.

limn→+∞

fn(x) = 0 em [0, 1], mas:∫ 1

0

fn(x) dx =

∫ 1/n

0

(n− n2 x) dx =1

2.

Como∫ 1

0

0 dx = 0, temos:

limn→+∞

∫ 1

0

fn(x) dx 6=∫ 1

0

[lim

n→+∞fn(x)

]dx.

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34 CAPÍTULO 2. SEQUÊNCIAS E SÉRIES DE FUNÇÕES

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

1

2

3

4

5

Figura 2.2: Gráficos de fi(x), para i = 1, 2, 3, 4, 5

2.3 Convergência Uniforme

Os exemplos apresentados indicam que a convergência pontual de uma sequência defunções não é suficiente para preservar as propriedades das funções que formam asequência; daí a necessidade da seguinte definição:

Definição 2.3. Uma sequência de funções(fn)n∈N converge uniformente para a função

f se para todo ε > 0 existe n0 ∈ N tal que |fn(x)− f(x)| < ε para todo n ≥ n0 seja qualfor x ∈ A.

O número n0 = n(ε), depende somente de ε.

Observação 2.3.

1. Em geral, provar que uma sequência de funções converge uniformemente é bas-tante complicado.

2. Uma possível interpretação da continuidade uniforme é a seguinte: Fixada umafaixa de largura 2 ε em torno do gráfico de f , a partir de um certo n0, os gráficosdas funções fn ficam dentro desta faixa.

3. Claramente, se uma sequência de funções converge uniformemente para f , con-verge pontualmente para f . A recíproca é falsa. Veja o primeiro exemplo.

4. A seguinte proposição é útil para verificar se uma sequência converge uniforme-mente.

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2.3. CONVERGÊNCIA UNIFORME 35

Proposição 2.1. Seja a sequência de funções (fn)n∈N definidas sobre A ⊂ R. Se existeuma sequência numérica

(an)n∈N que converge para zero e:

|fn(x)− f(x)| ≤ an, para todo x ∈ A,

então, a sequência de funções (fn)n∈N converge uniformente para f .

Exemplo 2.4.

[1] A sequência(cos(nx)

n

)n∈N

converge uniformemente para zero.

De fato, observe que: ∣∣∣∣cos(nx)

n− 0

∣∣∣∣ ≤ 1

n;

como a sequência (1

n

)n∈N

converge para zero, a sequência de funções converge uniformente para zero.

Figura 2.3: Gráficos de f5(x), f10(x) e f15(x)

Teorema 2.1. Seja a sequência de funções (fn)n∈N tal que converge uniformente para f .

1. Se as fn são contínuas em A, então f é contínua em A e:

limn→+∞

[limx→x0

fn(x)

]= lim

x→x0

[lim

n→+∞fn(x)

]= lim

x→x0f(x).

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36 CAPÍTULO 2. SEQUÊNCIAS E SÉRIES DE FUNÇÕES

2. Se as fn são integráveis em A, então f é integrável em A e:

limn→+∞

∫ b

a

fn(x) dx =

∫ b

a

[lim

n→+∞fn(x)

]dx =

∫ b

a

f(x) dx,

se [a, b] ⊂ A.

Exemplo 2.5.

[1] Considere a sequência de funções (fn)n∈N tal que

fn(x) =sen(nx)

n.

Claramente a sequência converge uniformente para a função f(x) = 0.

Suponhamos que podemos derivar em x a sequência ; isto é:

f ′n(x) = cos(nx),

logo; f ′n(0) = 1 e a sequência (1)n∈N converge para 1 e não para f ′(0) = 0.

Teorema 2.2. Seja a sequência de funções (fn)n∈N tais que as fn são diferenciáveis emA.Se a sequência (fn)n∈N converge pontualmente para f e a sequência (f ′n)n∈N convergeuniformente para g, então f é derivável em A e f ′ = g.

O seguinte teorema nos diz que toda função contínua pode ser aproximada uniforme-mente por polinômios.

Teorema 2.3. (Aproximação de Weierstrass) Seja f : [a, b] −→ R contínua; então existeuma sequência de funções (Pn)n∈N, onde Pn(x) são polinômios, que converge unifor-memente para f em [a, b].

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2.4. SÉRIES DE FUNÇÕES 37

2.4 Séries de Funções

Com as considerações feitas no parágrafo sobre as séries númericas, seja a sequênciade funções (fn)n∈N, x ∈ A e construamos a sequência de funções

(Sn)n∈N tal que:

Sn(x) = f1(x) + f2(x) + f3(x) + . . .+ fn(x).

Se a sequência(Sn(x))n∈N converge pontualmente para S(x), dizemos que a série de

funções converge pontualmente e escrevemos:

∞∑n=1

fn(x) = S(x).

Se a sequência(Sn(x))n∈N converge uniformemente para S(x), dizemos que a série de

funções converge uniformemente e escrevemos:

∞∑n=1

fn = S.

Exemplo 2.6.

[1] Seja A = [0, 1] e∞∑n=1

fn tal que:

fn(x) =

x n = 1

xn − xn−1 n > 1.

A n-ésima soma parcial da série é:

Sn(x) = xn;

logo, a sequência das somas parciais converge pontualmente em A para a função f ,onde

f(x) =

0 se x ∈ [0, 1)

1 se x = 1.

Mas, a série não converge uniformemente em A.

De fato, dado 0 < ε <1

2e n0 ∈ N, seja x = (2 ε)1/n0−1 em:

m∑n=n0

fn(x) = xm − xn0−1;

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38 CAPÍTULO 2. SEQUÊNCIAS E SÉRIES DE FUNÇÕES

então, |xm − xn0−1| = |(2 ε)m/n0−1 − 2 ε| e se m for suficientemente grande:

(2 ε)m/n0−1 < ε

e: ∣∣∣∣ m∑n=n0

fn(x)

∣∣∣∣ = |xm − xn0−1| > ε,

para x = (2 ε)1/n0−1.

Observação 2.2. Da mesma forma que para as sequências de funções determinar aconvergência uniforme de uma série é bastante complicado.

O seguinte teorema clássico é o mais útil para decidir se uma série de funções convergeuniformente.

Teorema 2.4. (Teste M de Weierstrass:) Seja∞∑n=0

fn tal que fn : A −→ R. Se:

1. |fn(x)| ≤Mn para todo x ∈ A e para todo n ∈ N.

2. A série numérica∞∑n=0

Mn converge.

Então,∞∑n=0

fn converge uniformemente e absolutamente para alguma função :

f : A −→ R.

Exemplo 2.7.

[1] Seja∞∑n=0

cos(nx)

n√n

, x ∈ R.

Como: ∣∣∣∣cos(nx)

n√n

∣∣∣∣ ≤ 1

n3/2

para todo x ∈ R e a série:

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2.4. SÉRIES DE FUNÇÕES 39

∞∑n=0

1

n3/2

converge, a série dada converge uniformemente em R.

-10 -5 5 10

-1

1

2

3

Figura 2.4: Gráficos dos 1000 primeiros somandos de [1]

[2] Seja∞∑n=1

cosn(x)

n2 + x, x ∈ (0,+∞).

Como: ∣∣∣∣cosn(x)

n2 + x

∣∣∣∣ ≤ 1

n2

para todo x ∈ R e a série∞∑n=0

1

n2converge, a série dada converge uniformemente em

(0,+∞).

5 10 15 20

-1.0

-0.5

0.5

1.0

1.5

2.0

Figura 2.5: Gráficos dos 1000 primeiros somandos de [2]

Os teoremas do parágrafo anterior, no caso de séries de funções, assumem a seguinteforma:

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40 CAPÍTULO 2. SEQUÊNCIAS E SÉRIES DE FUNÇÕES

Teorema 2.5. Seja∞∑n=1

fn uniformemente converge para f em A.

1. Se cada fn é contínua em x0 ∈ A, então f é contínua em x0 ∈ A.

2. Se cada fn é integrável em [a, b] ⊂ A, então f é integrável em [a, b] e:

∫ b

a

∞∑n=1

fn(x) dx =∞∑n=1

∫ b

a

fn(x) dx.

Finalmente:

Teorema 2.6. Seja∞∑n=1

fn onde as fn são diferenciáveis em [a, b]:

1. Se para algum c ∈ [a, b] a série numérica∞∑n=1

fn(c) converge.

2. A série∞∑n=1

f ′n converge uniformemente em [a, b], então:

∞∑n=1

fn converge uniformemente para uma função diferenciável em [a, b].

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Capítulo 3

SÉRIES DE POTÊNCIAS

3.1 Introdução

3.2 Séries de Potências

Definição 3.1. Uma série de potências em torno de x0, ou de potências de x−x0, é umasérie de funções, do tipo:

∞∑n=0

an (x− x0)n = a0 + a1 (x− x0) + a2 (x− x0)2 + +a3 (x− x0)3 + . . . (3.1)

onde ai, x0 ∈ R.

Se x0 = 0 em (3.1), então:

∞∑n=0

an xn = a0 + a1 x+ a2 x

2 + a3 x3 + . . . . . .+ an x

n + . . . . . . (3.2)

Observação 3.1.

1. Todas as séries do tipo (3.1) podem ser escritas como em (3.2), fazendo a mudançat = x− x0.

∞∑n=0

an (x− x0)n =∞∑n=0

an tn.

2. Logo, por comodidade, estudaremos as séries do tipo (3.2).

41

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42 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

3. Note que dada a série de potências (3.2) fazendo x = x0, a série de potências setransforma numa série numérica.

4. Toda série de potências do tipo (3.2) converge se x = 0.

Teorema 3.1. Seja uma série de potências do tipo (3.2):

1. Se existe x0 6= 0 tal que a série numérica:

∞∑n=0

an xn0

converge, então (3.2) converge absolutamente em (−|x0|, |x0|)

2. Se existe x1 6= 0 tal que a série numérica∞∑n=0

an xn1 diverge, então (3.2) diverge em

(−∞,−|x1|) ∪ (|x1|,+∞).

Definição 3.2. O conjunto:

D = x ∈ R /∞∑n=0

an xn converge

é chamado domínio de convergência de (3.2).

Observação 3.2.

1. Note que D 6= ∅, pois 0 ∈ D.

2. É possível provar que D é um intervalo centrado em x0 = 0, que pode ser aberto,fechado, semi-aberto ou reduzir-se a um ponto. Veja [LE].

3. Se D é um conjunto limitado e ρ é a menor cota superior de D, então ρ é chamadoraio de convergência da série de potências.

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3.2. SÉRIES DE POTÊNCIAS 43

Definição 3.3. Se D é um conjunto ilimitado, então dizemos que (3.2) tem raio de con-vergência ρ = +∞. Se D é um conjunto limitado, então dizemos que (3.2) tem raio deconvergência ρ < +∞.

Teorema 3.2. Considere a série de potências:

∞∑n=0

an xn

com raio de convergência ρ:

1. Se ρ = 0 a série converge somente para x = 0.

2. Se ρ = +∞ a série (3.2) converge absolutamente para todo x ∈ R.

3. Se 0 < ρ < +∞ a série (3.2) converge absolutamente no intervalo (−ρ, ρ) e divergeem (−ρ,−∞) ∪ (ρ,+∞).

Definição 3.4. O intervalo (−ρ, ρ) é dito de convergência da série de potências (3.2).

Observação 3.1. Nos extremos do intervalo, ou seja, em x = ±ρ, nada se pode afirmare a série pode convergir ou divergir.

Proposição 3.1. Seja ρ o raio de convergência da série de potências (3.2); então paratodo r > 0 tal que r < ρ, a série de potências (3.2) converge uniformente em [−r, r].Prova: Segue diretamente do teorema de Weierstrass.

Exemplo 3.1.

Estude a convergência das seguintes séries de potências:

[1]∞∑n=0

xn = 1 + x+ x2 + x3 + x4 + . . .+ xn + . . . . . . .

De forma análoga ao que fizemos para determinar a convergência da série geométrica,podemos verificar que para todo x 6= 0, temos que:

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44 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

∞∑n=0

xn =1

1− xse |x| < 1

e diverge se |x| > 1.

[2]∞∑n=0

n!xn = 1 + x+ 2x2 + 6x3 + 24x4 + . . .+ n!xn + . . . . . . .

Para todo x0 6= 0 a série numérica diverge, pois

limn→+∞

n!xn0 6= 0.

Teorema 3.3. Seja∞∑n=0

an xn. Então, o raio de convergência da série é:

ρ = limn→+∞

∣∣∣∣ anan+1

∣∣∣∣Observação 3.2. Equivalentemente, se

∞∑n=0

an xn, o raio de convergência da série é:

ρ = limn→+∞

1n√|an|

.

Exemplo 3.2.

Estude a convergência das seguintes séries de potências:

[1]∞∑n=0

xn

n!.

ρ = limn→+∞

∣∣∣∣ anan+1

∣∣∣∣ = limn→+∞

(n+ 1) = +∞.

Logo, a série converge absolutamente para todo x ∈ R.

[2]∞∑n=1

(x+ 1)n

2n n.

ρ = limn→+∞

1n√|an|

= limn→+∞

2 n√n = 2.

Logo, a série converge absolutamente para todo x tal que |x+1| < 2, isto é, no intervalo(−3, 1).

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3.2. SÉRIES DE POTÊNCIAS 45

Observação 3.3. Nenhum teorema dá informação sobre a convergência nos extremosdo intervalo de convergência. Estes devem ser estudados separadamente.

Assim, se x = −3;

∞∑n=1

(x+ 1)n

2n n=∞∑n=1

(−3 + 1)n

2n n=∞∑n=1

(−2)n

2n n=∞∑n=1

(−1)n

n;

a série converge.

Se x = 1;

∞∑n=1

(x+ 1)n

2n n=∞∑n=1

(1 + 1)n

2n n

=∞∑n=1

1

n;

a série diverge. Logo a série de potências converge absolutamente em [−3, 1).

-3 -2 -1 1

-1.0

-0.5

0.5

1.0

1.5

2.0

Figura 3.1: Gráfico dos 1000 primeiros somandos de [2]

[3]∞∑n=0

(−1)n x2n

22n (n!)2.

ρ = limn→+∞

∣∣∣∣ anan+1

∣∣∣∣ = limn→+∞

4 (n+ 1)2 = +∞,

a série converge absolutamente para todo x ∈ R.

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46 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

-5.0 -2.5 2.5 5.0

0.5

1

Figura 3.2: Gráfico dos 1000 primeiros somandos de [3]

[4]∞∑n=1

(4x− 3)n

n.

ρ = limn→+∞

1n√n

= 1,

onde para calcular o limites utilizamos logaritmo. Logo, a série converge absoluta-

mente para todo x tal que |4x− 3| < 1, isto é, no intervalo (1

2, 1).

Se x =1

2;

∞∑n=1

(2− 3)n

n=∞∑n=1

(−1)n

n,

a série converge.

Se x = 1;

∞∑n=1

(4− 3)n

n=∞∑n=1

1

n,

a série diverge. Logo a série de potências converge absolutamente em [1

2, 1).

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3.3. FUNÇÕES ANALÍTICAS 47

0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

2

1

Figura 3.3: Gráfico dos 1000 primeiros somandos de [4]

Observação 3.4. A seguir, responderemos à seguinte questão:

"Dada uma função f , existe uma série de potências com raio de convergência ρ > 0

que seja igual a f?” .

A resposta é não. As funções que podem ser representadas por séries de potênciasformam uma classe especial de funções.

3.3 Funções Analíticas

Definição 3.5. Uma função é analítica no ponto x0 se pode ser escrita como uma sériede potências em x− x0, com raio de convergência ρ > 0.

Seja f uma função analítica em x0; então:

f : (x0 − ρ, x0 + ρ) −→ R

é tal que:

f(x) =∞∑n=0

an (x− x0)n; |x− x0| < ρ.

Proposição 3.2. Se f é analítica em x0; então:

1. f é contínua em (x0 − ρ, x0 + ρ).

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48 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

2. f é integrável para todo [a, b] ⊂ (x0 − ρ, x0 + ρ) e:

∫ b

a

f(x) dx =

∫ b

a

[ ∞∑n=0

an (x− x0)n]dx

=∞∑n=0

an

∫ b

a

(x− x0)n dx

=∞∑n=0

an (x− x0)n+1

n+ 1

∣∣∣∣ba

.

Teorema 3.4. Se f é analítica em x0 então, f ′ é analítica em x0 e:

f ′(x) =∞∑n=1

n an (x− x0)n−1; |x− x0| < ρ.

Do teorema, segue o seguinte corolário imediato:

Corolário 3.1. Se f é analítica em x0, então a n-ésima derivada f (n) é analítica em x0.

Exemplo 3.3.

[1] Sabemos que:∞∑n=0

xn =1

1− x, se |x| < 1. Logo, a função:

f(x) =1

1− x

é analítica somente para |x| < 1. Note que o domínio de f é R− 1.

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3.3. FUNÇÕES ANALÍTICAS 49

-3 -2 -1 1 2 3 4

-1.0

-0.5

0.5

1.0

1.5

2.0

-1 1

1

2

Figura 3.4: Gráficos de f e de f como função analítica, respectivamente

[2] A função1

1 + x2é analítica?

Note que:

f(−x2) =1

1 + x2,

onde f é dada no exercício anterior. Logo:

1

1 + x2= f(−x2) =

∞∑n=0

(−x2)n =∞∑n=0

(−1)n x2n,

se |x2| < 1, isto é se |x| < 1:

∞∑n=0

(−1)n x2n =1

1 + x2.

[3] A função g(x) =1

(1− x)2é analítica?

Note que:

f ′(x) =1

(1− x)2,

onde f(x) =1

1− x. Logo:

g(x) =1

(1− x)2= f ′(x) =

∞∑n=1

d

dxxn =

∞∑n=1

nxn−1,

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50 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

se |x| < 1:

∞∑n=1

nxn−1 =1

(1− x)2.

Em particular, podemos calcular a série de potências de:

x

(1− x)2= x

∞∑n=1

nxn−1 =∞∑n=1

nxn, |x| < 1.

Logo, para x =1

2< 1, temos que:

∞∑n=1

n

2n= 2.

Calculemos para x =2

3< 1, então:

∞∑n=1

n 2n

3n= 6.

[4] A função g(x) = arctg(x) é analítica?

Note que: ∫1

1 + x2dx = arctg(x) + c.

Logo:

arctg(x) =

∫dx

1 + x2+ c =

∫ ∞∑n=0

(−1)n x2n dx+ c

=∞∑n=0

(−1)n∫x2n dx+ c

=∞∑n=0

(−1)n x2n+1

2n+ 1+ c

se |x| < 1. Por outro lado, 0 = arctg(0) = c, logo:

arctg(x) =∞∑n=0

(−1)n x2n+1

2n+ 1.

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3.3. FUNÇÕES ANALÍTICAS 51

[5] Consideremos a função:

J0(x) =∞∑n=0

(−1)n x2n

22n (n!)2.

J0 é claramente analítica para todo x ∈ R. J0 é chamada função de Bessel de ordemzero.

[6] Que função representa a série:

∞∑n=0

xn

n!?

Seja:

f(x) =∞∑n=0

xn

n!;

então f é analítica para todo x ∈ R. Logo:

f ′(x) =∞∑n=0

d

dx

xn

n!=∞∑n=1

xn−1

(n− 1)!=∞∑k=0

xk

k!= f(x),

e f ′(x) = f(x); então, f(x) = c ex. Por outro lado, 1 = f(0) = c, e:

ex =∞∑n=0

xn

n!.

Em particular, temos:

e =∞∑n=0

1

n!= 1 + 1 +

1

2+

1

6+

1

24+

1

120+

1

720+ . . .+

1

n!+ . . .

e−1 =∞∑n=0

(−1)n

n!= 1− 1 +

1

2− 1

6+

1

24− 1

120+

1

720+ . . .+

(−1)n

n!+ . . .

Logo, para n = 20, temos:

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52 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

e ' 6613313319248080001

2432902008176640000' 2.718281828

e−1 ' 4282366656425369

11640679464960000' 0.3678794412.

Seja a > 0:

ax = ex ln(a) =∞∑n=0

(x ln(a))n

n!,

logo:

ax =∞∑n=0

[(ln(a))n

n!

]xn ∀ x ∈ R.

[7] Sabemos que não é possível calcular:∫ 1

0

e−t2

dt.

Porém, podemos calcula-lá por um valor aproximado e avaliar o erro cometido.

21

1

Figura 3.5: Gráfico de f(t) = e−t2

Como:

ex =∞∑n=0

xn

n!,

então para todo t ∈ R (por que?):

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3.4. SÉRIES DE TAYLOR 53

e−t2

=∞∑n=0

(−t2)n

n!=∞∑n=0

(−1)n t2n

n!.

Integrando, termo a termo:

∫ 1

0

e−t2

dt =∞∑n=0

∫ 1

0

(−1)n t2n

n!dt

=∞∑n=0

(−1)n t2n+1

(2n+ 1)n!

∣∣∣∣10

=∞∑n=0

(−1)n

(2n+ 1)n!.

A última série é alternada com:

an =1

(2n+ 1)n!.

Não é difícil provar que a série converge. Então, o erro:

e(n) =

∣∣∣∣ ∫ 1

0

e−t2

dt− Sn∣∣∣∣ ≤ an+1

onde Sn é a n-ésima soma parcial da série alternada.

Por exemplo, se n = 10:

∫ 1

0

e−t2

dt ' 0.7468241207

e o erro:

e(10) ≤ a11 =1

918086400' 0.1089222104× 10−8.

3.4 Séries de Taylor

Se f é uma função analítica em x0 = 0, então:

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54 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

f(x) =∞∑n=0

an xn.

Que relação existe entre an e f?

Observação 3.5. Notemos que:

f(x) = a0 + a1 x+ a2 x2 + a3 x

3 + a4 x4 + . . . . . .+ an x

n + . . . . . .

f ′(x) = a1 + 2 a2 x+ 3 a3 x2 + 4 a4 x

3 + . . . . . .+ n an xn−1 + . . . . . .

f ′′(x) = 2 a2 + 6 a3 x+ 12 a4 x2 + . . . . . .+ n (n− 1) an x

n−2 + . . . . . .

f (3)(x) = 6 a3 + 24 a4 x+ 60 a5 x4 + . . .+ n (n− 1) (n− 2) an x

n−3 + . . . . . .

f (4)(x) = 24 a4 + 120 a5 x+ 360 a6 x2 . . .+ n (n− 1) (n− 2) (n− 3) an x

n−4 + ..

...

Logo:

f(0) = a0 = 0! a0,

f ′(0) = a1 = 1! a1,

f ′′(0) = 2 a2 = 2! a2,

f (3)(0) = 6 a3 = 3! a3,

f (4)(x) = 24 a4 = 4! a4,

...

f (n)(0) = n (n− 1) (n− 2) (n− 3) . . . 2 · 1 an = n! an,

...

Logo, temos que:

an =f (n)(0)

n!.

Em geral, se :

f(x) =∞∑n=0

an (x− x0)n =⇒ an =f (n)(x0)

n!.

Então, provamos o seguinte teorema:

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3.4. SÉRIES DE TAYLOR 55

Teorema 3.5. Se f é analítica em x0; então:

f(x) =∞∑n=0

f (n)(x0)

n!(x− x0)n, |x− x0| < ρ.

Definição 3.6. Esta série é chamada série de Taylor de f centrada em x0.

Observação 3.3.

1. A série de Taylor no caso de x0 = 0 é também dita de MacLaurin.

2. Do teorema segue que se f for analítica em x0, então f é de classe C∞ em x0. Arecíproca é falsa.

Exemplo 3.4.

[1] Seja a função:

f(x) =

e−1/x

2 se x 6= 0

0 se x = 0.

f é de classe C∞ em 0, mas tem série de Taylor nula em 0.

Figura 3.6: Gráfico de f(t) = e−1/x2

[2] Ache a série de Taylor de f(x) = sen(x) em torno de x0 = 0.

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56 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

f(x) = sen(x),

f ′(x) = cos(x) = sen(x+

π

2

),

f ′′(x) = −sen(x) = sen(x+

2

),

f (3)(x) = −cos(x) = sen(x+

2

)...

f (n)(x) = sen(x+

2

)...

Logo, f (2n)(0) = 0 para todo n ∈ N e f (2n+1)(0) = (−1)n; então:

sen(x) =∞∑n=0

(−1)n x2n+1

(2n+ 1)!,

para todo x ∈ R. (Verifique!).

[3] Ache a série de Taylor de f(x) = cos(x) em torno de x0 = 0.

Sabemos que:

cos(x) = (sen(x))′ =

[ ∞∑n=0

(−1)n x2n+1

(2n+ 1)!

]′.

Então:

cos(x) =

[ ∞∑n=0

(−1)n x2n+1

(2n+ 1)!

]′=∞∑n=0

(2n+ 1) (−1)n x2n

(2n+ 1)!=∞∑n=0

(−1)n x2n

(2n)!.

Logo:

cos(x) =∞∑n=0

(−1)n x2n

(2n)!

para todo x ∈ R. (Verifique!).

[4] Ache a série de Taylor de f(x) = ln(1 + x

1− x)

em torno de 0. Utilize esta série para

calcular:

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3.4. SÉRIES DE TAYLOR 57

∞∑n=1

1

(2n+ 1) 32n+1.

Seja f(x) = ln(1 + x

1− x), então f ′(x) =

2

1− x2. Pelos exemplos anteriores, sabemos que:

f ′(x) =2

1− x2=∞∑n=0

2x2n,

se |x| < 1. Por outro lado, pelo Teorema Fundamental do Cálculo:

f(x) =

∫ x

0

f ′(t) dt =∞∑n=0

2

∫ x

0

t2ndt = 2∞∑n=0

x2n+1

2n+ 1,

se |x| < 1, temos:

ln(1 + x

1− x)

= 2∞∑n=0

x2n+1

2n+ 1.

Note que:

f(1/3) = ln

(1 + 1

3

1− 13

)= ln(2)

ln(2) = ln(1 + 1

3

1− 13

)= 2

[1

3+∞∑n=1

1

(2n+ 1) 32n+1

].

Logo:

∞∑n=1

1

(2n+ 1) 32n+1=

ln(2)

2− 1

3.

Proposição 3.3. Se f e g são funções analíticas em x0, então:

1. α f + β g é analítica em x0.

2. f g é analítica em x0.

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58 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

Exemplo 3.5.

[1] Ache a série de Taylor de f(x) = cosh(x) em torno de 0.

Sabemos que cosh(x) =ex + e−x

2e que: ex =

∞∑n=0

xn

n!é analítica. Logo:

cosh(x) =1

2

[ ∞∑n=0

xn

n!+∞∑n=0

(−x)n

n!

]=

1

2

[ ∞∑n=0

xn

n!+∞∑n=0

(−1)n xn

n!

]=

1

2

∞∑n=0

(1 + (−1)n)xn

n!

=∞∑n=0

x2n

(2n)!

[2] Analogamente:

senh(x) =∞∑n=0

x2n+1

(2n+ 1)!.

Proposição 3.4. A representação em série de potências de uma função analítica é única.

Prova: De fato, se f, g : (−ρ, ρ) −→ R são tais que:

f(x) =∞∑n=0

an xn e g(x) =

∞∑n=0

bn xn.

Se f (n)(0) = g(n)(0) para todo n ∈ N; então:

an =f (n)(0)

n!=g(n)(0)

n!= bn,

para todo n ∈ N. Então, f(x) = g(x), para todo x ∈ (−ρ, ρ).

Observação 3.6. Em particular, se:

∞∑n=0

an xn = 0⇐⇒ an = 0, ∀n.

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3.5. EXERCÍCIOS 59

3.5 Exercícios

1. Calcule o raio e o intervalo de convergência das seguintes séries de potências:

(a)∞∑n=0

(−1)n xn

(b)∞∑n=0

n2 (x+ 1)n

(c)∞∑n=0

xn+1

(n+ 1)!

(d)∞∑n=0

xn

2n+√n

(e)∞∑n=0

2 nxn

1 + 2n

(f)∞∑n=1

(3x+ 2)n

2n n2

(g)∞∑n=0

(x− 1)n

1 + n2

(h)∞∑n=1

(x− 2)n

2n n2

(i)∞∑n=1

(8x− 3)2√n

(j)∞∑n=0

(−2)n xn

(k)∞∑n=1

(−1)n xn

3n+1 (2n+ 1)2

2. Determine a série de Taylor das seguintes funções, em torno do ponto dado:

(a) f(x) = ex, x0 = 1

(b) f(x) = cos2(x

2), x0 = 0

(c) f(x) = x2 ex, x0 = 0

(d) f(x) =√x, x0 = 1

(e) f(x) = ln(x+ 1), x0 = 0

(f) f(x) = x cosh(x), x0 = 0

(g) f(x) = x2 senh(x), x0 = 0

(h) f(x) = (x− 1) ex, x0 = 1

(i) f(x) = x sen(x), x0 = 0

(j) f(x) =x

3√

1− x, x0 = 0

3. Esboce o gráfico de cada função do ítem 2 e da sua respectiva série de Taylor paran = 1, 2, 3.

4. Utilizando a série de Taylor de f(x) = sen(x) ao redor de x0 = 0, calcule limx→0

sen(x)

x.

5. Polinômios de Taylor Sejam I ⊂ R um intervalo aberto, x0 ∈ I e f : I −→ R talque f é de classe Cn+1 em |x− x0| < ρ, então:

Pn(x) =n∑i=0

f (i)(x0)

i!(x− x0)i.

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60 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

O polinômio Pn(x) é dito n-ésimo polinômio de Taylor de f ao redor de x0 Deno-tamos e definimos o resto por:

Rn(x) = f(x)− Pn(x).

Assim podemos escrever:

f(x) = Pn(x) +Rn(x).

Se limx→x0

Rn(x)

(x− x0)n= 0 e |fn+1(x)| < M , |x− x0| < ρ, é possível verificar que o erro

e(n), da aproximação da função pelo polinômio de Taylor é:

e(n) = |f(x)− Pn(x)| = |Rn(x)| ≤ M

(n+ 1)!|x− x0|n+1,

para |x− x0| < ρ.

(a) Calcule sen(1) com um erro menor que 10−4.

(b) Calcule ln(5

4

)com um erro menor que 10−3.

(c) e−1.002 com um erro menor que 10−6.

6. Utilizando P7(x), calcule o valor aproximado de:

(a)∫ 1

0

e−x3

dx

(b)∫ 1

0

sen(x2) dx

(c)∫ 0.5

0.2

ln(x+ 1)

xdx

(d)∫ 0.5

0.1

ex − 1

x+ 1dx

7. Qual é o erro, se consideramos:

(a) cos(x2) ' 1− x4

2

(b) ln(x+ 1) ' x− x2

2+x3

3

(c) cosh(x) ' 1 +x2

2

(d) x2 ex ' x2 + x3 +x4

2

(e) x arctg(x) ' x2 +x4

3

(f) esen(x) ' 1 + x+x2

2

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3.5. EXERCÍCIOS 61

8. Defina J0(x) =∞∑n=0

(−1)n x2n

22n (n!)2:

(a) Determine o domínio da função J0.

(b) Verifique que J0 satisfaz a edo de Bessel de ordem zero:

x2 J ′′0 (x) + x J ′0(x) + x2 J0(x) = 0.

9. Seja α ∈ R. A seguinte série é chamada binomial:

1 +∞∑n=1

α (α− 1) . . . (α− n+ 1)xn

n!.

(a) Verifique que:

(1 + x)α = 1 +∞∑n=1

α (α− 1) . . . (α− n+ 1)xn

n!.

(b) Ache o raio de convergência da série.

(c) Se α = m ∈ N, verifique que:

(1 + x)m = 1 +m∑n=1

(m

n

)xn.

(d) Se f(x) =1√

x2 + 1, calcule f (10)(0).

(e) Na teoria da relatividade especial a massa de um objeto se movendo a umavelocidade v é dada por: m =

m0

Ω(v), onde

Ω(v) =√

1− v2/c2, m0 é a massa do objeto em repouso e c é a velocidade daluz. A energia cinética do objeto é dada por:

K(v) = mc2 −m0 c2 = m0 c

2

[1

Ω(v)− 1

].

Determine a série de Taylor de K = K(v) em torno de 0.

10. Utilize a série binomial indicada para calcular as seguintes integrais:

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62 CAPÍTULO 3. SÉRIES DE POTÊNCIAS

(a) Se f(x) =1

3√

1 + x, calcule

∫ 0.2

0

dx3√

1 + x2

(b) Se f(x) = (1− x)2/3, calcule∫ 0.4

0

3√

(1− x3)2 dx

(c) Se f(x) = (1− x)−4, calcule∫ 0.1

0

dx

(1 + 5 x2)4

11. Se f é g são funçõs analíticas em x0; verifique que:

(a) f + g é analítica em x0. Calcule o raio de convergência.

(b) f · g é analítica em x0. Calcule o raio de convergência.

(c) Se f(x) =∞∑n=0

anxn e g(x) =

∞∑n=0

bnxn; então:

f(x) · g(x) =∞∑n=0

[ n∑j=0

aj bn−j

]xn.

Determine a série de de potências de f(x) = ex · sen(x).

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Capítulo 4

SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’SLINEARES

4.1 Introdução

Neste capítulo indicamos a leitura em [NP] do capítulo que estuda das edo’s linearesde segunda ordem e [KO]. Nós utilizaremos as notações de [NP].

Algumas provas dos teoremas podem ser vistas no Apêndice.

4.2 Equações Diferenciais Ordinárias

Consideremos a edo linear de ordem n:

Pn(x) y(n) + Pn−1(x) y(n−1) + Pn−2(x) y(n−2) + . . . . . .+ P0(x) y = h(x), (4.1)

onde Pi = Pi(x) e h = h(x) são funções definidas num intervalo aberto I .

Definição 4.1. O ponto x0 é dito regular de (4.1) se Pn(x0) 6= 0. Caso contrário é ditosingular.

Note que se Pn = Pn(x) é contínua e x0 é um ponto regular de (4.1), então, existe ε > 0tal que Pn(x) 6= 0 para todo x ∈ (x0 − ε, x0 + ε).

Exemplo 4.1.

[1] Equação de Airy:y′′ + x y = 0.

Nesta equação todos os pontos são regulares. A edo de Airy é utilizada na teoria dadifração.

63

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64 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

[2] Equação de Bessel de ordem ν ≥ 0:

x2 y′′ + x y′ + (x2 − ν2) y = 0.

P2(x) = x2 = 0, se e somente se x = 0; logo, x = 0 é o único ponto singular da edo deBessel. Esta edo é utilizada no estudo da vibração de membranas.

[3] Equação de Hermite de ordem p ∈ R:

y′′ − 2x y′ + p y = 0.

Nesta equação todos os pontos são regulares. Um tipo especial de solução da edo deHermite (os polinômios) são utilizados na Mecânica Quântica para estudar as soluçõesda equação de Schrödinger para osciladores harmônicos.

[4] Equação de Laguerre de ordem p ∈ R:

x y′′ + (1− x) y′ + p y = 0.

P2(x) = x = 0, se e somente se x = 0; logo, x = 0 é o único ponto singular da edo. Umtipo especial de solução da edo de Laguerre (os polinômios) são utilizados na MecânicaQuântica no estudo do átomo de hidrogênio.

[5] Equação de Legendre:

(1− x2) y′′ − 2x y′ + α (α + 1) y = 0, α ∈ R.

P2(x) = 1− x2 = 0, se e somente se x = ±1; logo, x = 1 e x = −1 são os únicos pontossingulares da edo de Legendre. Esta edo aparece no estudo das soluções da equaçãode potencial em esferas.

4.3 Soluções em Torno de Pontos Regulares

Seja x0 ponto regular de (4.1); então podemos reescrever a edo (4.1):

y(n) + An−1(x) y(n−1) + An−2(x) y(n−2) + . . . . . .+ A0(x) y = H(x). (4.2)

Teorema 4.1. Se x0 é um ponto regular de (4.1) tal que A0, A1, . . . An−1, H são funçõesanalíticas em |x− x0| < ρ, ρ > 0, então toda solução de (4.2) definida em x0 é analíticaem x0.

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4.4. EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS DE SEGUNDA ORDEM 65

Observação 4.1.

1. Os métodos que estudaremos a seguir podem ser utilizados em edo’s lineares dequalquer ordem.

2. Nestas notas estudaremos apenas o caso de ordem n = 2, pois é onde se encon-tram as edo’s mais importantes da Física-Matemática.

3. Dentre as edo’s de segunda ordem, estudaremos as homogêneas, pois os métodospara achar soluções particulares de edo continuam válidos. Veja [NP].

4. Uma observação imediata, que será fundamental, é se uma série de potências:

∞∑n=0

an (x− x0)n = 0, então an = 0, ∀ n.

Segue diretamente do fato que an =f (n)(x0)

n!.

4.4 Equações Diferenciais Ordinárias de Segunda Ordem

Consideremos a edo de segunda ordem homogênea:

P2(x) y′′ + P1(x) y′ + P0(x) y = 0. (4.3)

Seja x0 um ponto regular de (4.3); então:

y′′ + p(x) y′ + q(x) y = 0. (4.4)

Observação 4.2.

1. Se x0 é ponto regular de (4.3); como P0(x), P1(x) e P2(x) são analíticas, então p(x)e q(x) em (4.4) são analíticas.

2. Por outro lado, se x0 ponto singular de (4.3), P0(x), P1(x) e P2(x) são polinômiossem fatores comuns então p(x) e q(x) em (4.4) não são analíticas.

3. A observação anterior somente é válida para polonômios. Veja o exemplo a se-guir.

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66 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

Exemplo 4.2.

[1] Considere a edo:

x y′′ + cos(x) y′ + x3 y = 0.

Então, x0 = 0 é ponto singular da edo e:

p(x) =P1(x)

x=cos(x)

x=∞∑n=0

(−1)n x2n−1

(2n)!

q(x) =P0(x)

x= x2

ambas analíticas em x0 = 0.

4.5 Determinação da Solução

Seja:

P2(x) y′′ + P1(x) y′ + P0(x) y = 0.

Suponha que x0 = 0 é um ponto regular da edo. Como p = p(x) e q = q(x) sãoanalíticas, então as séries de potências que as representam tem raio de convergênciaρ1 > 0 e ρ2 > 0, respectivamente.

Seja ρ o menor entre ρ1 e ρ2 e:

p(x) =∞∑n=0

pn xn, q(x) =

∞∑n=0

qn xn |x| < ρ.

Procuramos soluções do tipo:

y(x) =∞∑n=0

an xn, |x| < ρ.

Derivando formalmente esta série, temos:

y′(x) =∞∑n=1

n an xn−1 =

∞∑n=0

(n+ 1) an+1 xn,

y′′(x) =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2 =

∞∑n=0

(n+ 1) (n+ 2) an+2 xn;

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4.5. DETERMINAÇÃO DA SOLUÇÃO 67

onde na primeira série trocamos n − 1 por n e na segunda série trocamos n − 2 por n.Então:

p(x) y′(x) =

[ ∞∑n=0

pn xn

][ ∞∑n=0

(n+ 1) an+1 xn

]=∞∑n=0

[ n∑k=0

(k + 1) pn−k ak+1

]xn

q(x) y(x) =

[ ∞∑n=0

qn xn

][ ∞∑n=0

an xn

]=∞∑n=0

[ n∑k=0

qn−k ak

]xn.

Então a edo (4.3) pode ser reescrita como:

∞∑n=0

[(n+ 1) (n+ 2) an+2 +

n∑k=0

[(k + 1) pn−k ak+1 + qn−k ak

]]xn = 0.

Pela unicidade das série de potências, temos:

(n+ 1) (n+ 2) an+2 +n∑k=0

[(k + 1) pn−k ak+1 + qn−k ak

]= 0, n = 0, 1, 2, . . . . (4.5)

A expressão (4.5) é dita a recorrência da série e determina an em função das constantesarbitrárias a0 e a1. Por exemplo:

n = 0→ a2 = −q0 a0 + p0 a12

n = 1→ a3 = −p1 a1 + q1 a0 + 2 p0 a2 + q0 a16

=(p0 q0 − q1) a0 + (−p1 + p20 − q0) a1

6

Agora devemos mostrar que a solução y = y(x) converge se |x| < ρ.

Seja 0 < r < ρ, então as séries númericas p(r) e q(r) convergem; em particular, ostermos gerais destas séries tendem a zero; logo são limitados; isto é, existe M > 0 talque:

|pn| rn ≤M e |qn| rn ≤M,

para todo n ∈ N. Utilizando (4.5), obtemos:

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68 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

(n+ 1) (n+ 2) |an+2| ≤M

rn

n∑k=0

[(k + 1) |ak+1|+ |ak|

]rk

≤n∑k=0

[(k + 1) |ak+1|+ |ak|

]rk +M |an+1| r.

Denotemos por: b0 = |a0|, b1 = |a1| e:

(n+ 1) (n+ 2) bn =M

rn

n∑k=0

[(k + 1) bk+1 + bk

]rk +M bn+1 r. (4.6)

Note que 0 ≤ |an| ≤ bn, para todo n ∈ N. Se trocamos n por n− 1 e n por n− 2 em (4.6),obtemos:

n (n+ 1) bn−1 =M

rn−1

n−1∑k=0

[(k + 1) bk+1 + bk

]rk +M bn r

n (n− 1) bn−2 =M

rn−2

n−2∑k=0

[(k + 1) bk+1 + bk

]rk +M bn−1 r.

Multiplicando a primeira igualdade por n e utilizando a segunda igualdade, obtemos:

r n (n− 1) bn+1 =M

rn−2

n∑k=0

[(k + 1) bk+1 + bk

]rk + rM (n bn − bn−1) +M bn r

n

= n (n− 1) bn −M bn−1 r + rM (n bn − bn−1) +M bn rn

= [n (n− 1) + rM n+M rn] bn.

Logo:

bnbn+1

=r n (n+ 1)

(n− 1)n+M nr +M rn=⇒ lim

n→+∞

bnbn+1

= r.

Então, a série+∞∑n=0

bn xn converge para |x| < r, como |an| ≤ bn, temos que a solução

y = y(x) tambem converge. Não é difícil verificar que a solução obtida satisfaz a edo(4.3). Logo, provamos:

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4.6. EXEMPLOS 69

Corolário 4.1. Se p = p(x) e q = q(x) são analíticas em x0, então (4.4) possui duassoluções linearmente independentes, analíticas, cada uma da forma:

y(x) =∞∑n=0

an (x− x0)n;

o raio de convergência de qualquer destas soluções é no mínimo a distância (no plano)de x0 ao ponto singular (real ou complexo) mais próximo.

[1] A edo de Legendre:

(1− x2) y′′ − 2x y′ + α (α + 1) y = 0, α ∈ R.

P2(x) = 1 − x2; os únicos pontos singulares são 1 e −1. Por exemplo, o ponto x0 = 0é um ponto regular da edo; então, as soluções analíticas no ponto 0 devem ter raio deconvergência ρ < 1.

[2] A edo:

(x2 + 9) y′′ + x y′ + x2 y = 0.

P2(x) = x2 + 9; logo, os únicos pontos singulares (complexos) são 3i e −3i.

Por exemplo, o ponto x0 = 4 é um ponto regular da edo; então, as soluções analíticasno ponto 4 devem ter raio de convergência ρ < 5.

Corolário 4.2. Nas condições do corolário anterior, dados a0, a1 ∈ R, então, existe umaúnica solução y analítica em x0 tal que:

y(x0) = a0

y′(x0) = a1.

A seguir, apresentamos o primeiro exemplo de como achar as soluções de uma edo.Tentaremos fazer todos os detalhes importantes do desenvolvimento.

4.6 Exemplos

[1] Ache a solução geral da edo:

(x2 − 1) y′′ + 4x y′ + 2 y = 0.

As funções:

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70 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

p(x) =4x

x2 − 1e q(x) =

2

x2 − 1

são analíticas se |x| < 1; logo, acharemos as soluções da edo em torno de x0 = 0, asquais tem raio de convergência ρ < 1. Temos:

y(x) =∞∑n=0

an xn,

y′(x) =∞∑n=1

n an xn−1 e

y′′(x) =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2.

Note que:

2 y =∞∑n=0

2 an xn,

4x y′ = 4x∞∑n=1

n an xn−1 =

∞∑n=0

4n an xn

(x2 − 1) y′′ = x2∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2 −

∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2

=∞∑n=2

n (n− 1) an xn −

∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2.

Por outro lado, trocando n− 2 = m ou n = m+ 2 na segunda série:

(x2 − 1) y′′ =∞∑n=2

n (n− 1) an xn −

∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2

=∞∑n=0

n (n− 1) an xn −

∞∑m=0

(m+ 2) (m+ 1) am+2 xm

=∞∑n=0

n (n− 1) an xn −

∞∑n=0

(n+ 2) (n+ 1) an+2 xn

=∞∑n=0

[n (n− 1) an − (n+ 1) (n+ 2) an+2

]xn.

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4.6. EXEMPLOS 71

onde na segunda série trocamos a variável muda m por n. Logo, a equação pode serreescrita:

(x2 − 1) y′′ + 4x y′ + 2 y =∞∑n=0

(n2 + 3n+ 2) an xn −

∞∑n=0

(n+ 2) (n+ 1) an+2 xn

=∞∑n=0

[(n+ 1) (n+ 2) an − (n+ 2) (n+ 1) an+2

]xn

=∞∑n=0

(n+ 2) (n+ 1) (an − an+2)xn = 0.

Pela unicidade da representação em séries de potências, temos que:

(n+ 2) (n+ 1) (an − an+2) = 0,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Logo:

an+2 = an,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .; esta expressão é chamada recorrência da série. Então, se:

n = 0→ a2 = a0

n = 1→ a3 = a1

n = 2→ a4 = a2 = a0

n = 3→ a5 = a3 = a1

n = 4→ a6 = a4 = a0.

Em geral

a2n = a0 e a2n+1 = a1, n = 0, 1, 2 . . . .

Logo, a solução geral da edo é:

y(x) = a0

∞∑n=0

x2n + a1

∞∑n=0

x2n+1 = (a0 + a1 x)∞∑n=0

x2n.

Denotando por:

y1(x) =∞∑n=0

x2n =1

1− x2.

y = y1(x) é uma série geométrica que converge se |x| < 1. Por outro lado:

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72 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

y2(x) =x

1− x2;

logo, y1 e y2 são l.i. (linearmente independentes) e:

y(x) =a0

1− x2+

a1 x

1− x2

é a solução geral da edo.

-1 1

1

Figura 4.1: Gráfico da solução para a0 = a1 = 1

[2] Ache a solução geral da edo:

y′′ − x y′ − y = 0.

p(x) = −x e q(x) = −1 são analíticas para todo x ∈ R; logo, acharemos as soluções emtorno de x0 = 0, a qual tem raio de convergência ρ = +∞. Temos:

y(x) =∞∑n=0

an xn,

y′(x) =∞∑n=1

n an xn−1 e

y′′(x) =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2.

Note que:

x y′ = x

∞∑n=1

n an xn−1 =

∞∑n=0

n an xn.

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4.6. EXEMPLOS 73

A equação pode ser reescrita:

y′′ − x y′ − y =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2 −

∞∑n=0

n an xn −

∞∑n=0

an xn

=∞∑n=0

(n+ 2) (n+ 1) an+2 xn −

∞∑n=0

n an xn −

∞∑n=0

an xn,

onde na primeira série trocamos n− 2 por n, como no exemplo [1]. Logo:

y′′ − x y′ − y =∞∑n=0

[(n+ 2) (n+ 1) an+2 − n an − an

]xn

=∞∑n=0

[(n+ 2) (n+ 1) an+2 − (n+ 1) an

]xn = 0;

pela unicidade da representação em séries de potências, temos que:

(n+ 2) (n+ 1) an+2 − (n+ 1) an = (n+ 1)[(n+ 2) an+2 − an

]= 0,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Logo:

an+2 =an

n+ 2,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .; esta expressão é chamada recorrência da série. Então, se:

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74 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

n = 0→ a2 =a02

=a0

21 1!

n = 1→ a3 =a13

=21 × 1!× a1

3!

n = 2→ a4 =a24

=a0

2× 4=

a022 2!

n = 3→ a5 =a35

=a1

3× 5=

22 × 2!× a15!

n = 4→ a6 =a46

= − a02× 4× 6

=a0

23 3!

n = 5→ a7 =a57

= − a13× 5× 7

=23 × 3!× a1

7!

n = 6→ a8 =a68

=a0

2× 4× 6× 8=

a024 4!

n = 7→ a9 =a59

=a1

3× 5× 7× 9=

24 × 4!× a19!

.

Em geral:

a2n =a0

2n n!e a2n+1 =

2n n! a1(2n+ 1)!

.

Logo, a solução geral da edo é:

y(x) = a0

[ ∞∑n=0

x2n

2n n!

]+ a1

[ ∞∑n=0

2n n! x2n+1

(2n+ 1)!

].

Denotando por:

y1(x) =∞∑n=0

x2n

2n n!e y2(x) =

∞∑n=0

2n n! x2n+1

(2n+ 1)!,

temos que a solução da edo é:

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4.6. EXEMPLOS 75

y(x) = a0 y1(x) + a1 y2(x), ∀x ∈ R.

Observe que:

W (y1(0), y2(0)) = det

(1 00 1

)6= 0,

logo, como era de esperar y1 e y2 são l.i. (linearmente independentes).

-1 1

1

Figura 4.2: Gráfico da solução para a0 = 1 e a1 = −1

Observação 4.1. Muitos livros utilizam as seguintes notações:

2× 4× 6× 8× . . . (2n− 2) (2n) = (2n)!!

1× 3× 5× 7× . . . (2n− 1) (2n+ 1) = (2n+ 1)!!

No exemplo anterior, temos:

a2n =a0

(2n)!!e a2n+1 =

a1(2n+ 1)!!

.

[3] Ache a solução geral da edo:

y′′ − x y′ − y = 0.

em torno de x0 = 1. Façamos t = x− 1 e procuremos soluções ao redor de t0 = 0; logotemos:

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76 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

y(t) =∞∑n=0

an tn,

y′(x) =∞∑n=1

n an−1 tn−1 e

y′′(x) =∞∑n=2

n (n− 1) an tn−2.

Note que:

x y′ = (t+ 1)∞∑n=1

n an tn−1 =

∞∑n=0

n an tn +

∞∑n=1

n an tn−1

=∞∑n=0

[n an + (n+ 1) an+1

]tn = 0.

A equação pode ser reescrita:

y′′ − x y′ − y =∞∑n=0

[(n+ 2) (n+ 1) an+2 − (n+ 1) an − (n+ 1) an+1

]tn

=∞∑n=0

[(n+ 1)

[(n+ 2) an+2 − an − an+1

]]tn = 0;

pela unicidade da representação em séries de potências, temos que:

(n+ 2) an+2 − an − an+1 = 0, n = 0, 1, 2 . . .

A recorrência da série é:

an+2 =an + an+1

n+ 2, n = 0, 1, 2 . . .

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4.6. EXEMPLOS 77

n = 0→ a2 =a02

+a12

n = 1→ a3 =a06

+a12

n = 2→ a4 =a06

+a14

n = 3→ a5 =a015

+3 a120

n = 4→ a6 =7 a0180

+a115

n = 5→ a7 =19 a01260

+13 a1420

n = 6→ a8 =17 a02520

+41 a13360

.

Mudando t por (x− 1), consideramos:

y1(x) = 1 +1

2(x− 1)2 +

1

6(x− 1)3 +

1

6(x− 1)4 +

1

15(x− 1)5 +

7

180(x− 1)6 + . . . .

y2(x) = (x− 1) +1

2(x− 1)2 +

1

2(x− 1)3 +

1

4(x− 1)4 +

3

20(x− 1)5 +

1

15(x− 1)6 + . . . .

A solução geral é:

y(x) = a0 y1(x) + a1y2(x).

Observe que não temos uma expressão compacta da solução, como no exercício ante-rior.

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78 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

-1 1

Figura 4.3: Gráfico da solução para a0 = 3 e a1 = −1

[4] Ache a solução geral da seguinte edo, em torno de x0 = 0:

(1 + x2) y′′ − 4x y′ + 6 y = 0.

p(x) = − 4x

1 + x2e q(x) =

6

1 + x2são analíticas em torno de x0 = 0. Temos:

y(x) =∞∑n=0

an xn,

y′(x) =∞∑n=1

n an xn−1 e

y′′(x) =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2.

Note que:

6 y =∞∑n=0

6 an xn

4x y′ =∞∑n=1

4n an xn =

∞∑n=0

4n an xn

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4.6. EXEMPLOS 79

(1 + x2) y′′ =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2 +

∞∑n=2

n (n− 1) an xn

=∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2 +

∞∑n=0

n (n− 1) an xn

=∞∑n=0

(n+ 2) (n+ 1) an+2 xn +

∞∑n=0

n (n− 1) an xn

=∞∑n=0

[(n+ 1) (n+ 2) an+2 + n (n− 1) an

]xn.

onde na primeira série trocamos n− 2 por n. Logo, a equação pode ser reescrita:

(1 + x2) y′′ − 4x y′ + 6 y =∞∑n=0

(n+ 2) (n+ 1) an+2 xn +

∞∑n=0

(n2 − 5n+ 6) an xn

=∞∑n=0

[(n+ 2) (n+ 1) an+2 + (n− 3) (n− 2) an

]xn = 0;

pela unicidade da representação em séries de potências, temos que:

(n+ 2) (n+ 1) an+2 + (n− 3) (n− 2) an = 0,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Logo:

an+2 = −(n− 3) (n− 2)an(n+ 2) (n+ 1)

,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Então, se:

n = 0→ a2 = −3 a0

n = 1→ a3 = −a13

n = 2→ a4 = 0

n = 3→ a5 = 0;

como a4 = 0, então a6 = a8 = . . . = a2n = 0 se n = 2, 3, . . ., analogamente, como a5 = 0,então a7 = a9 = . . . = a2n+1 = 0 se n = 2, 3, . . ..Logo, a solução geral da edo é:

y(x) = a0[1− 3x2

]+ a1

[x− x3

3

].

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80 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

Denotando: y1(x) = 1− 3x2 e y2(x) = x− x3

3, temos que o wronskiano:

W (y1(0), y2(0)) = det

(1 00 1

)6= 0,

logo, y1 e y2 são l.i. (linearmente independentes). Qual é o raio de convergência?

[5] Ache a solução do PVI (problema de valor inicial):(t2 − 2 t− 3)

d2y

dt2+ 3 (t− 1)

dy

dt+ y(t) = 0

y(1) = 4

y′(1) = 1.

Note que os únicos pontos singulares da edo são t = −1 e t = 3; logo t0 = 1 é pontoregular; então, acharemos solução em t0 = 1, a qual deve ter raio de convergênciaρ < 2. Logo, consideramos inicialmente soluções do tipo:

y(t) =∞∑n=0

an (t− t0)n.

Fazendo x = t− 1, temos que x2− 4 = t2− 2 t− 3 e se t = 1, então x = 0; por outro lado

se denotamos y′ =dy

dx, utilizando a regra da cadeia, obtemos o PVI:

(x2 − 4) y′′ + 3x y′ + y = 0

y(0) = 4

y′(0) = 1.

Notamos que x0 = 0 é ponto regular e que o raio de convergência da solução deve serρ < 2. (Por que?).

y(x) =∞∑n=0

an xn, y′(x) =

∞∑n=1

n an xn−1 e y′′(x) =

∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2.

Logo:

3x y′ =∞∑n=1

3n an xn,

(x2 − 4) y′′ =∞∑n=2

n (n− 1) an xn −

∞∑n=2

4n (n− 1) an xn−2.

A equação pode ser reescrita:

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4.6. EXEMPLOS 81

∞∑n=2

n (n− 1) an xn −

∞∑n=2

4n (n− 1) an xn−2 +

∞∑n=1

3n an xn +

∞∑n=0

an xn = 0,

isto é:

∞∑n=0

n (n− 1) an xn −

∞∑n=0

4 (n+ 2) (n+ 1) an+2 xn +

∞∑n=0

3n an xn +

∞∑n=0

an xn = 0,

onde na segunda série trocamos n− 2 por n. Logo:

∞∑n=0

[(n+ 1)2 an − 4 (n+ 2) (n+ 1) an+2

]xn = 0;

pela unicidade da representação em série de potências, temos que:

(n+ 1)2 an − 4 (n+ 2) (n+ 1) an+2 = 0

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Logo:

an+2 =(n+ 1) an4 (n+ 2)

,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Então, se:

n = 0→ a2 =a0

2× 4

n = 1→ a3 =2 a1

3× 4

n = 2→ a4 =3 a2

4× 4=

3 a042 (2× 4)

n = 3→ a5 =4 a3

5× 4=

(2× 4) a14 (3× 5)

n = 4→ a6 =5 a4

6× 4=

(3× 5) a04 (2× 4× 6)

n = 5→ a7 =6 a5

7× 4=

(2× 4× 6) a14 (3× 5× 7)

n = 6→ a8 =7 a6

8× 4=

(3× 5× 7) a04 (2× 4× 6× 8)

n = 7→ a9 =8 a7

9× 4=

(2× 4× 6× 8) a14 (3× 5× 7× 9)

.

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82 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

Em geral

a2n =(2n+ 1)!! a0

4 (2n)!!e a2n+1 =

(2n)!! a14 (2n+ 1)!!

.

Logo, a solução geral da edo é:

y(x) = a0

[1 +

∞∑n=1

(2n+ 1)!!x2n

4 (2n)!!

]+ a1

[ ∞∑n=0

(2n)!!x2n+1

4 (2n+ 1)!!

].

Com as mesmas notações do exercício anterior temos que: y1 e y2 são l.i. Observe que:

y(x) = a0[1 + a2 x

2 + a4 x4 + . . .

]+ a1

[x+ a3 x

3 + a5 x5 + . . .

],

y′(x) = a0[2 a2 x+ 4 a4 x

3 + . . .]

+ a1[1 + 3 a2 x

2 + 5 a5 x4 + . . .

].

Logo:

4 = y(0) = a0

1 = y′(0) = a1.

Voltando às variáveis originais:

y(t) = 4

[1 +

∞∑n=1

(2n+ 1)!! (t− 1)2n

4 (2n)!!

]+∞∑n=0

(2n)!! (t− 1)2n+1

4 (2n+ 1)!!.

4.7 A Equação de Legendre

A edo de Legendre é uma edo clássica em Matemática, que está vinculada a diversassituações físicas. Por exemplo, aparece no estudo das soluções da equação do potencialem esferas, em problemas de gravitação, mecânica quântica, entre outros.

Acharemos a solução geral da edo de Legendre, em torno de x0 = 0:

(1− x2) y′′ − 2x y′ + α (α + 1) y = 0, α ∈ R.

Como x = 1 e x = −1 são os únicos pontos singulares, a solução deve ter raio deconvergência ρ < 1. Logo:

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4.7. A EQUAÇÃO DE LEGENDRE 83

y(x) =∞∑n=0

an xn,

y′(x) =∞∑n=1

n an xn−1 e

y′′(x) =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2.

Logo:

α (α + 1) y =∞∑n=0

α (α + 1) an xn,

2x y′ =∞∑n=1

2n an xn =

∞∑n=0

2n an xn,

(1− x2) y′′ =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2 −

∞∑n=2

n (n− 1) an xn

=∞∑n=0

(n+ 2) (n+ 1) an+2 xn −

∞∑n=0

n (n− 1) an xn

=∞∑n=0

[(n+ 1) (n+ 2) an+2 − n (n− 1) an

]xn;

onde na primeira série trocamos n− 2 por n. Logo. A equação pode ser reescrita:

∞∑n=0

(n+ 2) (n+ 1) an+2 xn −

∞∑n=0

[n (n− 1) + 2n− α (α + 1)

]an x

n = 0,

logo:

∞∑n=0

[(n+ 2) (n+ 1) an+2 − (n− α)(n+ α + 1) an

]xn = 0,

pela unicidade da representação em série de potências, temos que:

(n+ 2) (n+ 1) an+2 − (n− α)(n+ α + 1) an = 0,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Logo:

an+2 = −(α− n)(n+ α + 1) an(n+ 1) (n+ 2)

,

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84 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Então, se:

n = 0→ a2 = −α (α + 1) a02

n = 1→ a3 = −(α− 1) (α + 2) a11× 2× 3

n = 2→ a4 = −(α− 2) (α + 3) a23× 4

=α (α− 2) (α + 1) (α + 3) a0

1× 2× 3× 4

n = 3→ a5 = −(α− 3) (α + 4) a34× 5

=(α− 1) (α− 3) (α + 2) (α + 4) a1

1× 2× 3× 4× 5

n = 4→ a6 = −(α− 4) (α + 5) a45× 6

= −α (α− 2) (α− 4) (α + 1) (α + 3) (α + 5) a01× 2× 3× 4× 5× 6

n = 5→ a7 = −(α− 5) (α + 6) a56× 7

= −(α− 1) (α− 3) (α− 5) (α + 2) (α + 4) (α + 6) a11× 2× 3× 4× 5× 6× 7

.

Em geral

a2n =(−1)nα (α− 2) . . . (α− 2n+ 2) (α + 1) (α + 3) . . . (α + 2n− 1) a0

(2n)!

a2n+1 =(−1)n(α− 1) (α− 3) . . . (α− 2n+ 1) (α + 2) (α + 4) . . . (α + 2n) a1

(2n+ 1)!.

Logo, a solução geral da edo é: y(x) = a0 y1(x) + a1 y2(x), onde:

y1(x) = 1 +∞∑n=1

(−1)nα (α− 2) . . . (α− 2n+ 2) (α + 1) (α + 3) . . . (α + 2n− 1)x2n

(2n)!

y2(x) = x+∞∑n=1

(−1)n(α− 1) (α− 3) . . . (α− 2n+ 1) (α + 2) (α + 4) . . . (α + 2n)x2n+1

(2n+ 1)!.

É imediato que y1 e y2 são l.i. Lembremos que a recorrência da edo de Legendre é:

an+2 = −(α− n)(n+ α + 1) an(n+ 1) (n+ 2)

,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . ..

1. Se α ∈ N ∪ 0, então para α = n temos an+2 = 0 para todo n ∈ N.

2. Se α é par y1(x) é um polinômio e se α é ímpar y2(x) é um polinômio.

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4.7. A EQUAÇÃO DE LEGENDRE 85

3. Por exemplo, escolhendo a0 = 1 e a1 = 0, temos y = y1 e escolhendo a0 = 0 ea1 = 1, temos y = y2.

α = 0→ a2 = a4 = a6 = . . . = 0→ y1(x) = 1

α = 1→ a3 = a5 = a7 = . . . = 0→ y2(x) = x

α = 2→ a4 = a6 = a8 = . . . = 0→ y1(x) = 1− 3x2

α = 3→ a5 = a7 = a9 = . . . = 0→ y2(x) = x− 5x3

3.

4. É usual nas aplicações, multiplicar cada termo dos polinômios por uma constanteadequada tal que estes sejam iguais a 1 quando calculados para x = 1, isto é:

Pn(x) =

y1(x)

y1(1)se n é par

y2(x)

y2(1)se n é ímpar.

5. Estes polinômios são chamados de Legendre e denotados por Pn(x).

6. Os polinômios Pn(x) estão definidos para todo x, mas são solução da edo deLegendre somente se x ∈ (−1, 1).

7. Os seis primeiros polinômios de Legendre (normalizados) são:

P0(x) = 1, P1(x) = x, P2(x) =1

2

(3x2 − 1)

P3(x) =1

2

(5x3 − 3x

), P4(x) =

1

8

(35x4 − 30x2 + 3)

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86 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

-1.0 -0.5 0.5 1.0

-1.0

-0.5

0.5

1.0

Figura 4.4: Gráficos de P1, P2, P3, P4 e P5

Em geral, os polinômios de Legendre são dados por:

Pn(x) =N∑k=0

[(−1)k (2n− 2 k)!

2n k! (n− k)! (n− 2 k)!

]xn−2k,

onde N é o maior inteiro ≤ n/2. Note que, Pn(1) = 1 e Pn(−1) = (−1)n para todo n.

Proposição 4.1. Fórmula de Rodrigues:

Pn(x) =1

2n n!

dn

dxn(x2 − 1)n.

Prova: De fato, utilizando que:

dn

dxnx2(n−α) =

(2n− 2α)!xn−2α

(n− 2α)!.

Como:

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4.8. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 87

Pn(x) =N∑k=0

[(−1)k (2n− 2 k)!

2n k! (n− k)! (n− 2 k)!

]xn−2k

=1

2n

N∑k=0

[(−1)k

k! (n− k)!

]dn

dxnx2n−k

=1

2n n!

dn

dxn

N∑k=0

(−1)k n!

k! (n− k)!x2(n−k)

=1

2n n!

dn

dxn(x2 − 1)n.

Os polinômios de Legendre aparecem no problema geométrico de determinar a distân-cia inversa. Devido a isto, são utilizados com frequência em problemas de eletrostáticae gravitação.

4.8 Exemplos e Aplicações

1. Os polinômios de Legendre satisfazem à seguinte propriedade:

∫ 1

−1Pn(x)Pm(x) dx =

0 se n 6= m2

2n+ 1se n = m.

Esta propriedade é chamada ortogonalidade dos polinômios de Legendre. Para maisdetalhes, veja o próximo capítulo. Primeiramente mostraremos que:∫ 1

−1Pn(x)Rm(x) dx = 0,

onde Rm(x) é um polinômio de grau 0 ≤ m < n. Logo, basta mostrar que:∫ 1

−1xm Pn(x) dx = 0.

Denotemos por Q(x) = (x2−1)n e Q(n)(x) =dnQ(x)

dxn; então pela fórmula de Rodrigues:

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88 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

2n n!

∫ 1

−1xm Pn(x) dx =

∫ 1

−1xmQ(n)(x) dx.

Integramos por partes a última integral utilizando que Q(n)(±1) = 0; logo, integrare-mos por partes, m vezes, a integral resultante:

2n n!

∫ 1

−1xm Pn(x) dx = xmQ(n−1)(x)

∣∣∣∣1−1−m

∫ 1

−1xm−1Q(n−1)(x) dx

= −m∫ 1

−1xm−1Q(n−1)(x) dx

= (−1)mm!

∫ 1

−1Q(n−m)(x) dx

= (−1)mm! Q(n−m−1)(x)

∣∣∣∣1−1

= 0.

Em particular∫ 1

−1Pn(x)Pm(x) dx = 0 se n 6= m. Se n = m, denotemos por:

I =

∫ 1

−1P 2n(x) dx.

Logo:

(2n n!)2 I =

∫ 1

−1Q(n)(x)Q(n)(x) dx.

Integramos por partes a última integral; logo, integraremos por partes n vezes a inte-gral resultante:

(2n n!)2 I = Q(n)(x)Q(n−1)∣∣∣∣1−1−∫ 1

−1Q(n+1)(x)Q(n−1)(x) dx = −

∫ 1

−1Q(n+1)Q(n−1)(x) dx

= (−1)n∫ 1

−1Q(2n)Q(x) dx

= (−1)n∫ 1

−1

d2n

dx2n[(x2 − 1)n

](x2 − 1)n dx

= (−1)n (2n)!

∫ 1

−1(−1)n (1− x2)n dx = (2n)!

∫ 1

−1(1 + x)n (1− x)n dx,

onde utilizamos o fato de que:

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4.8. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 89

d2n

dx2n[(x2 − 1)n

]= (2n)!

(verifique!).

Integramos por partes a última integral e novamente integraremos por partes n vezesa integral resultante:

(2n n!)2 I = (2n)!

[(1− x)n (1 + x)n+1

n+ 1

∣∣∣∣1−1

+

+n

n+ 1

∫ 1

−1(1 + x)n+1 (1− x)n−1 dx

]

=(2n)!n

n+ 1

∫ 1

−1(1 + x)n+1 (1− x)n−1 dx

=(2n)!n (n− 1) (n− 1) . . . 2 · 1(n+ 1) (n+ 2) (n+ 3) . . . 2n

∫ 1

−1(1 + x)2n dx

=(2n)!n!n!

(2n)! (2n+ 1)(1 + x)2n+1

∣∣∣∣1−1

=(n!)2 22n+1

2n+ 1.

Finalmente:

I =2

n+ 2, n = m.

2. A equação de Laplace para o potencial V = V (x, y, z) é dada por:

∂2V

∂x2+∂2V

∂y2+∂2V

∂z2= 0.

Em coordenadas esféricas (r, θ, φ), a equação de Laplace fica:

∂2V

∂r2+

2

r

∂V

∂r+

1

r2∂2V

∂θ2+cotg(θ)

r2∂V

∂θ+

1

r2 sen2(θ)

∂2V

∂φ2= 0.

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90 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

Se o potencial V não depende do ângulo φ, isto é, se V (r, θ) = rα Θ(θ), a equação deLaplace fica:

d2Θ

dθ2+ cotg(θ)

dθ+ α(α + 1)Θ = 0.

Fazendo x = cotg(θ) e substituindo Θ por y na edo anterior, temos a edo de Legendre.

3. Os polinômios de Legendre são uma solução da edo de Laplace.

Por outro lado, a edo de Legendre é de segunda ordem; logo deve existir a segundasolução da edo, l.i. com os polinômios.

É possível mostrar que a segunda solução da edo de Legendre é dada por:

Qn(x) =1

2

∫ 1

−1

Pn(t)

x− tdt, se |x| < 1.

Utilizando integração por partes, temos que as funções Qn = Qn(x) também são solu-ções da edo de Legendre para |x| > 1. Note que:

Q0(x) =1

2ln

[x+ 1

x− 1

]

Q1(x) = −1 +x

2ln

[x+ 1

x− 1

]

Q2(x) = −3x

2+

3x2 − 1

4ln

[x+ 1

x− 1

]

Q3(x) =2

3− 5x2

2+x(5x2 − 3)

4ln

[x+ 1

x− 1

]

Q4(x) =55x

24− 35x3

8+

3− 30x2 + 35x4

16ln

[x+ 1

x− 1

].

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4.8. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 91

-1.0 -0.5 0.5 1.0

-1.0

-0.5

0.5

1.0

Figura 4.5: Gráficos de Q1, Q2, Q3, Q4 e Q5

Nos seguintes desenhos, gráficos de P4(x), Q4(x) e P8(x), Q8(x), respectivamente:

-1.0 -0.5 0.5 1.0

-1.0

-0.5

0.5

1.0

-1.0 -0.5 0.5 1.0

-1.0

-0.5

0.5

1.0

Figura 4.6:

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92 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

4.9 Exercícios

1. Achar as soluções em torno do ponto regular x0 = 0 das seguintes edo’s, veri-ficando que são linearmente independentes e determinando seu raio de conver-gência:

(a) (x2 − 1) y′′ + 4x y′ + 2 y = 0 (b) (x2 + 2) y′′ + 4x y′ + 2 y = 0

(c) y′′ + x y′ + y = 0 (d) (x2 + 1) y′′ + 6x y′ + 4 y = 0

(e) (x2 − 3) y′′ + 2x y′ = 0 (f) (x2 − 1) y′′ − 6x y′ + 12 y = 0

(g) y′′ + 2x y = 0 (h) y′′ + x2 y = 0

(i) y′′ − x y = 0, edo de Airy (j) y′′ + x y′ + y = 0

2. Analogamente ao ítem anterior, achar as soluçõs dos seguintes PVI:

(a)

(1 + x2) y′′ + 2x y′ − 2 y = 0

y(0) = y′(0) = 0

(b)

y′′ + x y′ − 2 y = 0

y(0) = 1

y′(0) = 0

(c)

y′′ − ex y = 0

y(0) = y′(0) = 1

3. Fazendo a mudança x = t−x0, achar os 10 primeiros termos de cada solução dosseguintes PVI:

(a)

(4 t2 + 16 t+ 17) y′′ − 8 y = 0

y(−2) = 1

y′(−2) = 0

(b)

(2 t− t2) y′′ − 6 (t− 1) y′ − 4 y = 0

y(1) = 0

y′(1) = 1

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4.9. EXERCÍCIOS 93

4. Sejam Pn = Pn(x) os polinômios de Legendre. Verifique que:

(a) P ′n(1) =n (n+ 1)

2

(b) P ′n(−1) = (−1)n−1n (n+ 1)

2

(c) P ′n+1 − 2xP ′n + P ′n−1 − Pn = 0

(d) xP ′n − P ′n−1 − nPn = 0

5. Edo de Hermite: Seja α > 0; a edo de Hermite de ordem α é:

y′′ − 2x y′ + α y = 0.

Verifique que as soluções da edo de Hermite são:

y1(x) = 1 +∞∑n=1

(−1)n 2n α(α− 2) . . . (α− 2n+ 2)x2n

(2n)!

y2(x) = x+∞∑n=1

(−1)n 2n (α− 1)(α− 3) . . . (α− 2n+ 1)x2n+1

(2n+ 1)!

Verifique que se α é um inteiro par, y1(x) é um polinômio; analogamente, se αé um inteiro ímpar, y2(x) é um polinômio. Estes polinômios são chamados deHermite e são denotados por Hn(x).

6. Verifique que os polinômios de Hermite satisfazem:

Hn(x) = ex2 dn

dxn(e−x

2), n = 0, 1, 2 . . .

7. Esboce o gráfico de H1(x), H2(x), H3(x) e H4(x).

8. Verifique que:

Hn(x) = (−1)nHn(−x) eHn+1(x) + 2 xHn(x) + 2nHn−1(x) = 0

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94 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

9. Considere as edo’s do tipo:

y′′ + (1− x2 + 2α) y = 0.

Verifique que fazendo y = e−x2v, obtemos a edo de Hermite.

10. Utilizando o ítem anterior, determine a solução da edo de Weber:

y′′ +(n+

1

2− x2

4

)y = 0, n ∈ N.

11. Seja x = (x, y, z, t) ∈ R3 × (0,+∞). A equação de Schrödinger é :

iΨt = − 2m

∆Ψ + V Ψ,

onde i =√−1, ∆Ψ é a equação de Laplace, Ψ = Ψ(x) e V = V (x, y, z) é uma

função diferenciável, m > 0 e é a constante de Plank. Esta equação descreve aiteração de uma partícula quântica de massa m com um potencial V . Em particu-lar, a equação de Schrödinger para um oscilador harmônico unidimensional comfunção potencial:

V (x) =k x2

2

e energia total E constante, é dada por:

− 2

2m

d2Ψ

dx2+k x2

2Ψ(x) = EΨ(x).

Fazendo:

ξ = αx α4 =mk

2

λ =2E

ω0

ω0 =

√k

m,

verifique que a edo unidimensional de Schrödinger pode ser escrita como:

d2Ψ

dξ2+ (λ− ξ2) Ψ(ξ) = 0.

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4.9. EXERCÍCIOS 95

Utilize a mudança Ψ = y(ξ) e−ξ2/2 para reescrever a útima edo como a edo de

Hermite:

y′′ − 2 ξ y′ + (λ− 1) y = 0.

Ache a solução para λ = 2n+ 1.

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96 CAPÍTULO 4. SOLUÇÕES ANALÍTICAS DE EDO’S LINEARES

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Capítulo 5

MÉTODO DE FROBENIUS

Os procedimentos que utilizaremos para achar soluções de edo’s, neste capítulo, sãobastante similares aos estudados no capítulo anterior, os quais são conhecidos comoMétodo de Frobenius. O método será apresentado através de diversos exemplos.

5.1 Introdução

Primeiramente estudaremos o seguinte exemplo:

Exemplo 5.1.

Edo de Euler-Lagrange:

x2 y′′ + a x y′ + b y = 0,

onde a, b ∈ R.

Note que x0 = 0 é ponto singular da edo. Por outro lado, procuramos soluções do tipoy(x) = xα com x 6= 0, onde α ∈ R; isto é, α não é necessariamente um número natural.

y = xα, y′ = αxα−1,

y′′ = α (α− 1)xα−2.

Logo a edo pode ser reescrita:

x2 y′′ + a x y′ + b y =[α (α− 1) + aα + b

]xα = 0;

logo, α (α− 1) + aα+ b = 0. Sejam α1 e α2 as soluções desta equação de segundo grau.Logo:

97

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98 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

1. Se αi ∈ R é tal que α1 6= α2, então:

y(x) = c1 |x|α1 + c2 |x|α2 , x ∈ (−∞, 0) ∪ (0,+∞).

2. Se αi ∈ R é tal que α = α1 = α2, então:

y(x) = c1 |x|α + c2 ln(|x|) |x|α, x ∈ (−∞, 0) ∪ (0,+∞).

3. Se αi ∈ C, então α1 = a+ i b e α2 = a− i b; então:

y(x) = |x|a[c1 cos

(ln(b |x|)

)+ c2 sen

(ln(b |x|)

)],

x ∈ (−∞, 0) ∪ (0,+∞).

Observação 5.1.

1. Isto nos mostra que ainda em torno de pontos singulares é possível achar solução.

2. Estas soluções não são analíticas; como por exemplo, na equação de Euler-La-grange quando as raízes da equação de segundo grau forem α1 =

√2 e α2 = −

√2.

Portanto, em torno de um ponto singular não procuraremos soluções em formade séries de potências (expoentes naturais).

3. Procuraremos soluções que tenham como caso particular as soluções da edo deEuler-Lagrange.

5.2 Soluções em Torno de Pontos Singulares

A seguir determinaremos quais singularidades admitem soluções "tipo"edo de Euler-Lagrange.

Definição 5.1. Seja x0 um ponto singular da edo (4.3). O ponto x0 é dito singular regu-lar, se se verificam simultaneamente as condições:

1. (x− x0)P1(x)

P2(x)é analítica em x0 e,

2. (x− x0)2P0(x)

P2(x)é analítica em x0.

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5.2. SOLUÇÕES EM TORNO DE PONTOS SINGULARES 99

Observação 5.2.

1. Uma singularidade que não é regular é dita irregular.

2. Isto é, se x0 é singular regular as singularidades da edo podem ser "removidas".

Exemplo 5.2.

[1] Considere a edo de Euler-Lagrange:

x2 y′′ + a x y′ + b y = 0,

onde a, b ∈ R. A única singularidade é x0 = 0; por outro lado:

1. x[a x

x2

]= a é analítica em 0 e,

2. x2[b

x2

]= b é analítica em 0. Logo x0 = 0 é singular regular.

[2] Considere a edo de Bessel de ordem ν ≥ 0:

x2 y′′ + x y′ + (x2 − ν2) y = 0.

A única singularidade é x0 = 0; por outro lado:

1. x[x

x2

]= 1 é analítica em 0 e,

2. x2[x2 − ν2

x2

]= x2 − ν2 é analítica em 0. Logo x0 = 0 é singular regular.

[3] Considere a edo de Legendre

(1− x2) y′′ − 2x y′ + α (α + 1) y = 0.

Os únicos pontos singulares são x0 = ±1; então para x0 = 1:

1. −(x− 1)

[2x

1− x2

]=

2x

x+ 1é analítica em 1 e,

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100 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

2. (x− 1)2[α (α + 1)

1− x2

]= −α (α + 1) (x− 1)

x+ 1é analítica em 1.

3. Logo x0 = 1 é singular regular.

Análogamente para x0 = −1. Logo x0 = ±1, necessariamente, devem ser singularesregulares.

[4] Considere a edo:

(x− 1)2 y′′ + 2 y′ + x y = 0.

A única singularidade é x0 = 1; por outro lado:

1. (x− 1)

[2

(x− 1)2

]=

1

x− 1que não é analítica em 1 e,

2. (x− 1)2[

1

(x− 1)2

]=

1

(x− 1)2também não é analítica em 1. Logo x0 = 1 é ponto

irregular.

5.3 A Equação Indicial

Se x0 é ponto singular regular da edo (4.3), então as funções:

(x− x0)P1(x)

P2(x)e (x− x0)2

P0(x)

P2(x)

são analíticas em torno de x0. Neste caso:

limx−→x0

(x− x0)P1(x)

P2(x)e lim

x−→x0(x− x0)2

P0(x)

P2(x)

existem.

Logo, se x0 é ponto singular regular da edo (4.3) consideramos a equação de segundograu:

r (r − 1) + p0 r + q0 = 0, (5.1)

onde :

p0 = limx−→x0

(x− x0)P1(x)

P2(x)e q0 = lim

x−→x0(x− x0)2

P0(x)

P2(x).

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5.3. A EQUAÇÃO INDICIAL 101

Definição 5.2. A equação (5.1) é dita equação indicial (e.i.) associada a edo (4.3).

Exemplo 5.3.

[1] Considere a edo de Legendre

(1− x2) y′′ − 2x y′ + α (α + 1) y = 0.

No ponto singular regular x0 = 1, temos:

1. limx−→1

−(x− 1)

[2x

1− x2

]= lim

x−→1

2x

x+ 1= 1 e,

2. limx−→1

(x− 1)2[α (α + 1)

1− x2

]= lim

x−→1−α (α + 1) (x− 1)

x+ 1= 0.

3. Logo, a e.i. é:

r (r − 1) + r = r2 = 0;

e suas raízes são r = 0.

[2] Considere a edo:

2x2 y′′ + 3x y′ + (2x2 − 1) y = 0.

No ponto singular regular x0 = 0, temos:

1. limx−→0

x

[3x

2x2

]=

3

2e,

2. limx−→0

x2[

2x2 − 1

2x2

]= lim

x−→0

2x2 − 1

2= −1

2.

3. Logo, a e.i. é:

r (r − 1) +3 r

2− 1

2=

1

2(r + 1)(2 r − 1) = 0;

e suas raízes são r1 = −1 e r2 =1

2.

[3] Considere a edo:

x2 y′′ − x y′ − (x2 + 5/4) y = 0.

No ponto singular regular x0 = 0, temos:

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102 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

1. limx−→0

x

[− 1

x

]= −1 e,

2. limx−→0

x2[− x2 + 5/4

x2

]= −5

4.

3. Logo, a e.i. é:

r (r − 1)− r − 5

4= 0;

e suas raízes são r1 =5

2e r2 = −1

2.

Seja x0 um ponto singular regular da edo (4.3) e denotemos os raios de convergênciadas séries que representam as funções analíticas

(x− x0)P1(x)

P2(x)e (x− x0)2

P0(x)

P2(x)

por ρ1 > 0 e ρ2 > 0 , respectivamente. Seja ρ o menor entre ρ1 e ρ2.

Teorema 5.1. Sejam x0 um ponto singular regular da edo (4.3), r1 e r2 raízes da (5.1). Seri ∈ R é tal que r1 ≥ r2, então uma solução da edo (4.3) é da forma:

y1(x) = |x− x0|r1[1 +

∞∑n=1

an (x− x0)n],

para 0 < |x− x0| < ρ.

1. Se r1 − r2 /∈ Z, então existe uma segunda solução l.i., do tipo:

y2(x) = |x− x0|r2[1 +

∞∑n=1

bn (x− x0)n].

2. Se r1 = r2, então existe uma segunda solução l.i., do tipo:

y2(x) = y1(x) ln |x− x0|+ |x− x0|r2[1 +

∞∑n=1

bn (x− x0)n].

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5.4. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 103

3. Se r1 − r2 ∈ N, então existe uma segunda solução l.i., do tipo:

y2(x) = C y1(x) ln |x− x0|+ |x− x0|r2[1 +

∞∑n=1

bn (x− x0)n],

onde a constante C pode ser zero

Observação 5.1. Se a (5.1) possui raízes complexas, isto é: r1 = a + i b e r2 = a − i b,utilizando a fórmula de Euler, temos:

y1(x) = |x− x0|a[w1 cos

(b ln|x− x0|

)+ w2 sen

(b ln|x− x0|

)],

y2(x) = |x− x0|a[w1 cos

(b ln|x− x0|

)− w2 sen

(b ln|x− x0|

)],

onde w1 =∞∑n=0

bn (x− x0)n e w2 =∞∑n=0

cn (x− x0)n.

5.4 Exemplos e Aplicações

[1] Considere a edo:

2x2 y′′ − x y′ + (1 + x) y = 0.

O único ponto singular da edo é x0 = 0, o qual é singular regular; por outro lado:

1. p0 = limx−→0

−x[x

2x2

]= −1

2e,

2. q0 = limx−→0

x2[

1 + x

2x2

]=

1

2.

3. Logo, a e.i. é:

r (r − 1)− r

2+

1

2= 2 r2 − 3 r + 1 = 0,

cujas raízes são r1 = 1 e r2 =1

2.

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104 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

Como r1 − r2 =1

2, do teorema de Frobenius, segue que a edo possui duas soluções,

linearmente independentes, da forma:

y1(x) =∞∑n=0

an xn+r1 e y2(x) =

∞∑n=0

bn xn+r2 .

Então, procuramos soluções do tipo:

y =∞∑n=0

an xn+r,

y′ =∞∑n=0

(n+ r) an xn+r−1 e

y′′ =∞∑n=0

(n+ r) (n+ r − 1) an xn+r−2.

Logo:

(1 + x) y =∞∑n=0

an xn+r +

∞∑n=0

an xn+r+1,

x y′ =∞∑n=0

(n+ r) an xn+r,

2x2 y′′ =∞∑n=0

2 (n+ r) (n+ r − 1) an xn+r.

A edo pode ser reescrita:

∞∑n=0

[(2 (n+ r) (n+ r − 1)− (n+ r) + 1

]an x

n+r +∞∑n=0

an xn+r+1 = 0

∞∑n=0

[(2 (n+ r) (n+ r − 1)− (n+ r) + 1

]an x

n+r +∞∑n=1

an−1 xn+r = 0

onde na última série trocamos n+ 1 por n. Temos:

P (r) a0 xr +

∞∑n=1

[(2n+ 2 r − 1) (n+ r − 1) an + an−1

]xn+r = 0,

onde P (r) =(2 r (r − 1)− r + 1

). Logo, obtemos:

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5.4. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 105

1. P (r) a0 = 0; como a constante arbitrária a0 6= 0, então 2 r (r − 1)− r + 1 = 0 que éa equação indicial

2.[(2n+ 2 r − 1) (n+ r − 1)

]an + an−1 = 0, para todo n = 1, 2, 3, . . ..

Caso r = 1. Do ítem 2:

an = − an−1n (2n+ 1)

, n = 1, 2, 3, . . . .

n = 1→ a1 = −a03

= − a01× 3

n = 2→ a2 = − a12× 5

=a0

(1× 2) (1× 3× 5)

n = 3→ a3 = − a23× 7

= − a0(1× 2× 3) (1× 3× 5× 7)

n = 4→ a4 = − a34× 9

=a0

(1× 2× 3× 4) (1× 3× 5× 7× 9).

Em geral:

an =(−1)n a0

n! (2n+ 1)!!,

escolhendo a0 = 1:

y1(x) = x

[1 +

∞∑n=1

(−1)n xn

n! (2n+ 1)!!

].

Caso r =1

2. Do item 2:

bn = − bn−1n (2n− 1)

, n = 1, 2, 3, . . . .

n = 1→ b1 = −b01

n = 2→ b2 = − b12× 3

=b0

1× 2× 3

n = 3→ b3 = − b23× 5

= − b0(1× 2× 3) (1× 3× 5)

n = 4→ b4 = − b34× 7

=b0

(1× 2× 3× 4) (1× 3× 5× 7).

Em geral:

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106 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

bn =(−1)n b0

n! (2n− 1)!!,

escolhendo b0 = 1:

y2(x) =√x

[1 +

∞∑n=1

(−1)n xn

n! (2n− 1)!!

].

Claramente y1 e y2 são l.i.

[2] Considere a edo:

4x y′′ + 2 y′ + y = 0.

O único ponto singular da edo é x0 = 0; por outro lado:

1. p0 = limx−→0

x

[2

4x

]=

1

2e,

2. q0 = limx−→0

x2[

1

4x

]= 0.

3. Logo, a e.i. é:

r (r − 1) +r

2= r

(r − 1

2

)= 0,

cujas raízes são r1 = 0 e r2 =1

2.

Como r1 − r2 = −1

2, do teorema de Frobenius, segue que a edo possui duas soluções,

linearmente independentes, da forma:

y1(x) =∞∑n=0

an xn+r1 e y2(x) =

∞∑n=0

bn xn+r2 .

Então, procuramos soluções do tipo:

y =∞∑n=0

an xn+r, y′ =

∞∑n=0

(n+ r) an xn+r−1 e

y′′ =∞∑n=0

(n+ r) (n+ r − 1) an xn+r−2.

Logo:

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5.4. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 107

y =∞∑n=0

an xn+r,

2 y′ =∞∑n=0

2 (n+ r) an xn+r−1,

4x y′′ =∞∑n=0

4 (n+ r) (n+ r − 1) an xn+r−1.

A edo pode ser reescrita:

∞∑n=0

[(n+ r) (4n+ 4 r − 2)

]an x

n+r−1 +∞∑n=0

an xn+r = 0,

r (4 r − 2) a0 xr−1 +

∞∑n=1

[(n+ r) (4n+ 4 r − 2) an + an−1

]xn+r−1 = 0

onde na última série trocamos n por n− 1. Logo, obtemos:

1. r (4 r − 2) a0 = 0; como a constante arbitrária a0 6= 0, então:

r (4 r − 2) = 0

que é a equação indicial.

2. (n+ r) (4n+ 4 r − 2) an + an−1 = 0, para todo n = 1, 2, 3, . . ..

Caso r = 0. Do ítem 2:

an = − an−12n (2n− 1)

, n = 1, 2, 3, . . . .

n = 1→ a1 = −a02

= −a02!

n = 2→ a2 = − a13× 4

=a04!

n = 3→ a3 = − a25× 6

= −a06!

n = 4→ a4 = − a37× 8

=a08!.

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108 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

Em geral: an =(−1)n a0

(2n)!. Logo, fazendo a0 = 1:

y1(x) =∞∑n=0

(−1)n xn

(2n)!= cos

(√x).

Caso r =1

2. Do ítem 2:

bn = − bn−12n (2n+ 1)

, n = 1, 2, 3, . . . .

n = 1→ b1 = − b02× 3

= −b03!

n = 2→ b2 = − b14× 5

=b05!

n = 3→ b3 = − b26× 7

= −b07!

n = 4→ b4 = − b38× 9

=b09!.

Em geral: bn =(−1)n b0(2n+ 1)!

. Logo, fazendo b0 = 1:

y2(x) =√x

[ ∞∑n=0

(−1)n xn

(2n+ 1)!

]=∞∑n=0

(−1)n x(2n+1)/2

(2n+ 1)!

= sen(√

x)

Claramente y1 e y2 são l.i. e a solução é:

y(x) = c0 cos(√

x)

+ c1 sen(√

x).

[3] Considere a edo:

x2 y′′ − x y′ −(x2 +

5

4

)y = 0, x > 0.

O único ponto singular da edo é x0 = 0; por outro lado:

1. limx−→0

x

[− 1

x

]= −1 e,

2. limx−→0

−x2[x2 − 5/4

x2

]=

5

4.

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5.4. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 109

3. Logo, a e.i. é:

r (r − 1)− r +5

4= 0;

e suas raízes são r1 =5

2e r2 = −1

2.

Como r1 − r2 = 3, do teorema de Frobenius, segue que a edo possui duas soluções,linearmente independentes, da forma:

y1(x) =∞∑n=0

an xn+r1 , (a0 6= 0) e

y2(x) =∞∑n=0

bn xn+r2 + C y1(x) ln(x), (b0 6= 0);

onde a constante C pode ser nula. Então, procuramos soluções do tipo:

y =∞∑n=0

an xn+r, y′ =

∞∑n=0

(n+ r) an xn+r−1 e

y′′ =∞∑n=0

(n+ r) (n+ r − 1) an xn+r−2.

Logo:

(x2 +

5

4

)y =

(x2 +

5

4

) ∞∑n=0

an xn+r =

∞∑n=0

an xn+r+2 +

∞∑n=0

5 an4

xn+r,

x y′ = x

∞∑n=0

(n+ r) an xn+r−1 =

∞∑n=0

(n+ r) an xn+r,

x2 y′′ = x2∞∑n=0

(n+ r) (n+ r − 1) an xn+r−2 =

∞∑n=0

(n+ r) (n+ r − 1) an xn+r.

A edo pode ser reescrita:

∞∑n=0

an xn+r+2 +

∞∑n=0

[(n+ r) (n+ r − 1)− (n+ r) +

5

4

]an x

n+r = 0,

∞∑n=2

an−2 xn+r +

∞∑n=0

[(n+ r) (n+ r − 1)− (n+ r) +

5

4

]an x

n+r = 0

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110 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

onde na última série trocamos n por n− 2. Então:

P (r) a0 xr + h(r) a1 x

r+1 +∞∑n=2

[an−2 + g(r) an

]xn+r = 0

onde P (r) = r2 − 2 r+5

4, h(r) = r2 +

1

4e g(r) = (n+ r) (n+ r− 1)− (n+ r) +

5

4. Logo,

obtemos:

1. P (r)) a0 = 0; como a constante arbitrária a0 6= 0, então r2 − 2 r +5

4= 0, que é a a

equação indicial.

2. h(r) 6= 0, então a1 = 0.

3. Por outro lado, temos:

[(n+ r) (n+ r − 2) +

5

4

]an − an−2 = 0,

para todo n = 2, 3, . . ..

Caso r =5

2. Do ítem 3:

an =an−2

n (n+ 3), n = 2, 3, . . . .

Como a1 = 0, temos que a3 = a5 = a7 = . . . = 0. Em geral a2n+1 = 0, para todon = 1, 2, 3, . . ..

n = 2→ a2 =a0

2× 5

n = 4→ a4 =a2

4× 7=

a0(2× 4)× (5× 7)

n = 6→ a6 =a4

6× 9=

a0(2× 4× 6)× (5× 7× 9)

n = 8→ a8 =a6

8× 11=

a0(2× 4× 6× 8)× (5× 7× 9× 11)

.

Em geral:

an =a0

(2n)!! (2n+ 3)!!e a2n+1 = 0,

todo n = 1, 2, 3, . . .; logo:

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5.4. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 111

y1(x) = a0 x5/2

[1 +

∞∑n=1

x2n

(2n)!! (2n+ 3)!!

].

Para achar y2, podemos supor que C = 0 e determinamos a série para a segunda raizda equação indicial.

Caso r = −1

2. Do ítem 3:

n (n− 3) bn = bn−2, n = 2, 3, . . . .

Sabemos que b0 6= 0 e b1 = 0. Por outro lado, se n = 3, temos

0 b3 = b1 = 0;

logo, b3 arbitrário. Por outro lado:

n = 2→ b2 = −b02

n = 4→ b4 =b24

= − b02× 4

n = 5→ b5 =b3

2× 5

n = 6→ b6 =b4

6× 3= − b0

(2× 4× 6)× 3

n = 7→ b7 =b5

4× 7=

b3(2× 4)× (5× 7)

n = 8→ b8 =b6

5× 8= − b0

(2× 4× 6× 8)× (3× 5)

Em geral:

b2n = − b0(2n)!! (2n− 3)!!

n = 3, 4, . . .

b2n+1 =b3

(2n− 2)!! (2n+ 1)!!n = 2, 3, 4, . . . ;

logo, temos que:

y2(x) =b0√xh1(x) +

b3√xh2(x),

onde:

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112 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

h1(x) = 1− x2

2− x4

8−∞∑n=3

x2n

(2n)!! (2n− 3)!!

h2(x) = x3 +∞∑n=2

x2n+1

(2n− 2)!! (2n+ 1)!!= x3

[1 +

∞∑n=2

x2n−1

(2n− 2)!! (2n+ 1)!!

]= x3

[1 +

∞∑n=1

x2n

(2n)!! (2n+ 3)!!

].

Então, escrevemos:

y2(x) =b0√xh1(x) + b3 x

5/2 h2(x).

Fazendo b0 = 0 e b3 = a0, temos que y2(x) = y1(x); logo y2 é a solução geral da edo.

[4] Se y1(x) = 1 é uma solução da edo:

x y′′ + (1− x) y′ = 0, x > 0.

Determine a segunda solução l.i. ao redor do ponto x0 = 0.

O único ponto singular da edo é x0 = 0; por outro lado:

1. limx−→0

x

[1− xx

]= 1 e,

2. limx−→0

x2 [0] = 0.

3. Logo, a e.i. é:

r2 = 0;

e suas raízes são r = r1 = r2 = 0

Como r1 − r2 = 0, do teorema de Frobenius, segue que a segunda solução da edo,linearmente independentes, é da forma:

y2(x) = ln(x) y1(x) +∞∑n=1

bn xn = ln(x) +

∞∑n=1

bn xn.

Determinemos y2 = y2(x).

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5.4. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 113

y2 = ln(x) +∞∑n=1

bn xn, y′2 =

1

x+∞∑n=1

n bn xn−1 e

y′′2 = − 1

x2−∞∑n=2

n (n− 1) bn xn−2.

Logo, a edo pode ser reescrita:

− 1

x+∞∑n=2

n (n− 1) bn xn−1 +

1

x+∞∑n=1

n bn xn−1 − 1−

∞∑n=1

n bn xn = 0,

∞∑n=1

n2 bn xn−1 − 1−

∞∑n=1

n bn xn = 0,

b1 − 1 +∞∑n=1

[(n+ 1)2 bn+1 − n bn

]xn = 0

onde na primeira série trocamos n por n− 1. Então:b1 = 1,

(n+ 1)2 bn+1 − n bn = 0,

para todo n = 1, 2, 3, . . .. Logo,

bn+1 =n bn

(n+ 1)2, n = 1, 2, 3, . . . .

n = 1→ b2 =b122

= − 1

2 (1× 2)=

1

2× 2!

n = 2→ b3 =2 b232

=1

3 (1× 2× 3)=

1

3× 3!

n = 3→ b4 =3 b342

=1

4 (1× 2× 3× 4)=

1

4× 4!

n = 5→ b5 =4 b452

=1

5 (1× 2× 3× 4× 5)=

1

5× 5!.

Em geral an =1

nn!, para todo n = 1, 2, 3, . . .; logo:

y2(x) = ln(x) +∞∑n=1

xn

nn!.

[5] Considere a edo:

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114 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

x y′′ + (x+ 2) y′ + 2 y = 0, x > 0.

O único ponto singular da edo é x0 = 0; por outro lado:

1. limx−→0

x

[2

x+ 1

]= 2 e,

2. limx−→0

x2[− 2

x

]= 0.

3. Logo, a e.i. é:

r (r + 1) = 0;

e suas raízes são r1 = 0 e r2 = −1.

Como r1 − r2 = 1, do teorema de Frobenius, segue que a edo possui duas soluções,linearmente independentes, da forma:

y1(x) =∞∑n=0

an xn+r1 , (a0 6= 0) e

y2(x) =∞∑n=0

bn xn+r2 + C y1(x) ln(x), (b0 6= 0);

onde a constanteC pode ser nula. Neste exemplo utilizaremos uma estratégia diferenteda utilizada nos outros exemplos. Primeiramente procuraremos soluções para r = 0:

y =∞∑n=0

an xn+r, y′ =

∞∑n=0

(n+ r) an xn+r−1 e

y′′ =∞∑n=0

(n+ r) (n+ r − 1) an xn+r−2.

Logo:

2 y =∞∑n=0

2 an xn,

(x+ 2) y′ =∞∑n=0

n an xn +

∞∑n=0

2n an xn−1,

x y′′ =∞∑n=0

n (n− 1) an xn−1.

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5.4. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 115

A edo pode ser reescrita:

∞∑n=0

[n (n+ 1) + 2n

]an x

n−1 +∞∑n=0

(n+ 2) an xn = 0,

∞∑n=0

[(n (n+ 2) + 2 (n+ 1)

)an+1 + (n+ 2) an

]xn = 0

onde na primeira série trocamos n por n− 1. Então:

(n+ 2) (n+ 1) an+1 + (n+ 2) an = 0,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . .. Logo,

(n+ 1) an+1 + an = 0,

para todo n = 0, 1, 2, 3, . . . e:

an+1 = − an(n+ 1)

, n = 0, 1, 2, 3, . . . .

n = 0→ a1 = −a01

n = 1→ a2 = −a12

=a0

1× 2

n = 2→ a3 = −a23

= − a01× 2× 3

n = 3→ a4 = −a34

=a0

1× 2× 3× 4

n = 4→ a5 = −a45

= − a01× 2× 3× 4× 5

.

Em geral an =(−1)n a0

n!, para todo n = 1, 2, 3, . . .; logo:

y1(x) = a0

∞∑n=0

(−1)n xn

n!= a0 e

−x.

Para determinar y2, utilizaremos redução da ordem. Para isto, consideremos a edo:

y′′ + p(x) y′ + q(x) y = 0,

e determinamos uma função v = v(x) tal que a segunda solução l.i. da edo é da formay2(x) = v(x) y1(x), onde:

v(x) =

∫e−

∫p(x) dx

y21(x)dx.

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116 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

Na edo temos que p(x) =2

x+ 1 e q(x) =

2

x. Logo:

v(x) =

∫ex

x2dx.

Esta integral não pode ser calculada diretamente. Por outro lado, ex =∞∑n=0

xn

n!; logo,

podemos reescrever:

ex = 1 + x+∞∑n=0

xn+2

(n+ 2)!,

ex

x2=

1

x2+

1

x+∞∑n=0

xn

(n+ 2)!,

v(x) =

∫ex

x2dx = −1

x+ ln(x) +

∞∑n=0

xn+1

(n+ 1) (n+ 2)!.

Então,

y2(x) = v(x) y1(x) = e−x ln(x) +e−x

x

[− 1 +

∞∑n=0

xn+2

(n+ 1) (n+ 2)!

].

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5.5. EXERCÍCIOS 117

5.5 Exercícios

1. Utilizando o método de Frobenius, achar as soluções ao redor do ponto singularregular x0 = 0 das seguintes edo’s:

(a) 4x y′′ + 2 y′ + y = 0

(b) 2x y′′ + 3 y′ − y = 0

(c) 2x y′′ − y′ − y = 0

(d) 3x y′′ + 2 y′ + 2 y = 0

(e) 2x2 y′′ + x y′ − (1 + 2 x2) y = 0

(f) 2x2 y′′ + x y′ − (3− 2x2) y = 0

(g) 6x2 y′′ + 7x y′ − (x2 + 2) y = 0

(h) 3x2 y′′ + 2x y′ + x2 y = 0

(i) 2x y′′ + (1 + x) y′ + y = 0

(j) 2x y′′ + (1− 2x2) y′ − 4x y = 0

2. Edo de Laguerre: Seja α > 0; a edo de Laguerre de ordem α é:

x y′′ + (1− x) y′ + α y = 0.

Verifique que uma das soluções da edo de Laguerre é:

y1(x) = a0

[1 +

∞∑n=1

(−1)nΓ(α + 1)xn

(n!)2 Γ(α− n+ 1)

].

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118 CAPÍTULO 5. MÉTODO DE FROBENIUS

3. Se α = m ∈ N na edo de Laguerre, verifique que:

y1(x) = a0

[1 +

m∑n=1

(−1)n

n!

(m

n

)xn].

Ache o raio de convergência da solução.

4. Considerando a0 = m! na edo de Laguerre, temos:

Lm(x) =m∑n=0

(−1)nm!

n!

(m

n

)xn.

Lm(x) são ditos polinômios de Laguerre de ordem m.

5. Esboce o gráfico de L1(x), L2(x), L3(x) e L1(x).

6. Verifique que:

Lm(x) =ex

n!

dn

dxn

(xn e−x

), n = 0, 1, 2 . . .

7. Fazendo:

y2(x) = Lm(x) ln(x) +∞∑n=1

bn xn,

obtenha a segunda solução da edo de Laguerre:

y2(x) = Lm(x) ln(x) + LAG1(x,m, n) + LAG2(x,m, n),

onde:

Hn =n∑k=1

1

k

LAG1(x,m, n) =m∑n=1

(−1)nm!

n!

(m

n

)[Hm−n −Hm − 2Hn

]xn

LAG2(x,m, n) = (−1)m∞∑n=1

(n− 1)!xn+m

(m+ 1)2 (m+ 2)2 . . . (m+ n)2.

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Capítulo 6

A EQUAÇÃO DE BESSEL

6.1 Introdução

A edo de Bessel aparece ligada a inúmeras aplicação na Matemática, Engenharia, Físicae Química. Por exemplo na resolução de problemas de vibração de membranas, fluxodo calor em cilindros e na propagação da corrente elétrica em cilindros. Isto é, emequações diferenciais parciais associadas ao operador de Laplace.

Algumas soluções da equação diferencial de Bessel são chamadas funções de Bessel esão importantes na Teoria Analítica dos Números.

Históricamente a equação diferencial ordinária de Bessel de ordem zero, foi a primeiraequação deste tipo a ser estudada. A equação de Bessel de ordem zero foi resolvidapor D. Bernoulli no ano de 1732, quando estudava o problema hanging chain.

Equações diferenciais ordinárias similares, voltam aparecer ao redor dos anos de 1764e de 1770, nos trabalhos de Euler e Lagrange, relativos ao movimento de membranastensas e de astronomía, respectivamente.

No ano de 1824 o astronomo F. W. Bessel, estudando um problema de movimentoplanetário, chamado dos três corpos, achou a equação diferencial ordinária que levaseu nome. Assim, as equaçãoes diferenciais estudadas por Bernoulli, Lagrange e Eulerse tornam caso zero, da equação de Bessel.

F. W. Bessel aproveita o impulso dado pelos trabalhos de Fourier, publicados por 1822,para estudar profundamente esta equação diferencial ordinária.

119

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120 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

6.2 A Edo de Bessel

Acharemos a solução geral da edo de Bessel de ordem ν ≥ 0:

x2 y′′ + x y′ + (x2 − ν2) y = 0.

O ponto x = 0 é o único ponto singular da edo de Bessel. Este ponto é singular regular.

1. p0 = limx−→0

x

[x

x2

]= 1,

2. q0 = limx−→0

x2[x2 − ν2

x2

]= −ν2.

3. Logo, a e.i. é:

r (r − 1) + r − ν2 = 0,

cujas raízes são r1 = ν e r2 = −ν.

Como r1 − r2 = 2 ν, devemos estudar os casos::ν = 0

ν = 2 ν ∈ Nν = 2 ν /∈ N.

6.3 Edo de Bessel de Ordem Zero

A edo de Bessel de ordem zero é:

x2 y′′ + x y′ + x2 y = 0,

cujas raízes da e.i. são r1 = r2 = 0.

6.3.1 Primeira Solução:

Para (x > 0), procuramos soluções do tipo.

y =∞∑n=0

an xn, y′ =

∞∑n=1

n an xn−1 e

y′′ =∞∑n=2

n (n− 1) an xn−2.

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6.3. EDO DE BESSEL DE ORDEM ZERO 121

Então:

x2 y =∞∑n=0

an xn+2,

x y′ =∞∑n=1

n an xn,

x2 y′′ =∞∑n=2

n (n− 1) an xn.

Logo, a edo pode ser reescrita:

∞∑n=2

n (n− 1) an xn +

∞∑n=1

n an xn +

∞∑n=0

an xn+2 = 0

∞∑n=2

n (n− 1) an xn +

∞∑n=1

n an xn +

∞∑n=2

an−2 xn = 0

onde, na última série trocamos n+ 2 por n. Então:

a1 x+∞∑n=2

[n2 an + an−2

]xn = 0.

Logo:

1. a1 = 0.

2. n2 an + an−2 = 0 para todo n = 2, 3, . . ., então an = −an−2n2

para todo n = 2, 3, . . .

Os ítens 1 e 2 implicam que a2n+1 = 0 para todo n = 0, 1, 2, 3, . . . e:

n = 2→ a2 = −a022

n = 4→ a4 = −a242

=a0

24 (1× 2)2

n = 6→ a6 = −a462

= − a026 (1× 2× 3)2

n = 8→ a8 = −a682

=a0

28 (1× 2× 3× 4)2

n = 10→ a10 = − a8102

= − a0210 (1× 2× 3× 4× 5)2

.

Em geral:

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122 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

a2n =(−1)n a022n (n!)2

, n = 1, 2, 3, . . .

escolhendo a0 = 1, a primeira solução é:

y1(x) =∞∑n=1

(−1)n x2n

22n (n!)2=∞∑n=0

(−1)n

(n!)2

[x

2

]2n.

A notação clássica desta solução é:

J0(x) =∞∑n=0

(−1)n

(n!)2

[x

2

]2n.

Observação 6.1.

1. A série converge para todo x ∈ R.

2. A função J0 é dita de Bessel de ordem zero de segunda espécie.

3. J0(0) = 1.

4. J0 é analítica em (0,+∞). (Analogamente em (−∞, 0)).

6.3.2 Segunda Solução:

Procuramos soluções do tipo:

y2(x) = ln(x) J0(x) +∞∑n=1

bn xn,

onde b0 = 1 e x > 0. Derivando esta última expressão:

y′2 = J ′0 ln(x) +J0x

+∞∑n=1

n bn xn−1,

y′′2 = J ′′0 ln(x) +2 J ′0x− J0x2

+∞∑n=2

n (n− 1) bn xn−2.

Então:

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6.3. EDO DE BESSEL DE ORDEM ZERO 123

x2 y2 = x2 J0 ln(x) +∞∑n=1

bn xn+2 = x2 J0 ln(x) +

∞∑n=3

bn−2 xn,

x y′2 = x J ′0 ln(x) + J0 +∞∑n=1

n bn xn,

x2 y′′2 = x2 J ′′0 ln(x) + 2 x J ′0 − J0 +∞∑n=2

n (n− 1) bn xn.

Utilizando que J0 é solução da edo de Bessel, temos que:

ln(x)[x2 J ′′0 (x) + x J ′0x) + x2 J0

]= 0;

logo, a edo de Bessel pode ser reescrita:

2x J ′0 +∞∑n=1

n bn xn +

∞∑n=3

bn−2 xn +

∞∑n=2

n (n− 1) bn xn = 0,

2x J ′0 +∞∑n=1

n2 bn xn +

∞∑n=3

bn−2 xn = 0,

2x J ′0 + b1 x+ 4 b2 x2 +

∞∑n=3

[n2 bn + bn−2

]xn = 0.

Por outro lado:

1. Utilizamos a série de J0 para achar a de J ′0:

J ′0 =∞∑n=1

2n (−1)n x2n−1

22n (n!)2, e

2x J ′0 =∞∑n=1

(−1)n x2n

22n−2 (n− 1)!n!=∞∑n=1

qn x2n,

onde qn =(−1)n

22n−2 (n− 1)! (n!).

2. Separando em termos de ordem par e ímpares da série:

∞∑n=3

[n2 bn + bn−2

]xn = Sp + Si,

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124 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

onde:

Sp =∞∑n=2

[(2n)2 b2n + b2n−2

]x2n e Si =

∞∑n=1

[(2n+ 1)2 b2n+1 + b2n−1

]x2n+1.

Voltando à equação:

b1 x+ 4 b2 x2 +

∞∑n=1

qn x2n + Sp + Si = 0.

Então:

b1 x+∞∑n=1

[(2n+ 1)2 b2n+1+b2n−1

]x2n+1 + [q1 + 4 b2]x

2+

+∞∑n=2

[qn + (2n)2 b2n + b2n−2

]x2n = 0,

donde obtemos:

1. b1 = 0 e (2n+ 1)2 b2n+1 + b2n−1 = 0, n = 1, 2, 3, . . ., então, b2n+1 = 0,

n = 1, 2, 3, . . ..

2. q1 + 4 b2 = 0. Como q1 = −1, obtemos b2 =1

4.

3. qn + (2n)2 b2n + b2n−2 = 0, n = 2, 3, . . .. Isto é:

b2n = − 1

(2n)2[qn + b2n−2

], n = 2, 3, . . .

Então:

n = 2→ b4 = − 1

(2× 2)2[q2 + b2

]= − 1

24 (2!)2

[1 +

1

2

]n = 3→ b6 = − 1

(2× 3)2[q3 + b4

]=

1

26 (3!)2

[1 +

1

2+

1

3

]n = 4→ b8 = − 1

(2× 4)2[q4 + b6

]= − 1

28 (4!)2

[1 +

1

2+

1

3+

1

4

]n = 5→ b10 = − 1

(2× 5)2[q5 + b8

]= − 1

210 (5!)2

[1 +

1

2+

1

3+

1

4+

1

5

].

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6.3. EDO DE BESSEL DE ORDEM ZERO 125

Em geral, denotando por Hn =n∑k=1

1

k; então:

b2n =(−1)n+1Hn

22n (n!)2

e a segunda solução l.i., é:

y2(x) = J0(x) ln(x) +∞∑n=1

(−1)n+1Hn x2n

22n (n!)2.

A notação clássica desta solução é Y0. Para x < 0 fazemos ψ = −x. Logo, a soluçãogeral da edo de Bessel de ordem zero é:

y(x) = c1 J0(x) + c2 Y0(x), 0 < |x| < +∞.

Observação 6.2.

1. J0(0) = 1 e limx−→0+

Y0(x) = −∞.

2. As únicas soluções limitadas em intervalos do tipo (0, a) são

y(x) = c J0(x).

3. Em muitas aplicações, como segunda solução é utilizada a seguinte combinação:

N0(x) =2

π

[Y0(x) +

(γ − ln(x)

)J0(x)

],

onde γ = limn−→+∞

(Hn − ln(n)

) ∼= 0.57721 . . . é a constante de Euler.

4. A função N0 é chamada de Neumann-Bessel de ordem zero.

5. Os gráficos de J0 e Y0:

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126 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

5 10 15 20

-1

1

Figura 6.1: Gráficos de J0 (azul) e Y0 (vermelho)

6.4 Função Gama

Neste parágrafo apresentamos a função Gamma, definida por L. Euler. Utilizaremosesta função para escrever de forma mais compacta, as soluções da equação de Bessel.

Definição 6.1. Se x > 0, a função Gama é definida e denotada por:

Γ(x) =

∫ +∞

0

tx−1 e−t dt.

Observação 6.3. Utilizando integração por partes, temos:

Γ(x+ 1) = xΓ(x).

1. Se n ∈ N, temos que:

Γ(n+ 1) = nΓ(n) = n (n− 1) Γ(n− 1) = . . . . . . = n (n− 1) . . . 2× 1× Γ(1).

Como:

Γ(1) =

∫ +∞

0

e−t dt = 1.

Logo, se n ∈ N, temos que:

Γ(n+ 1) = n!

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6.4. FUNÇÃO GAMA 127

2. Γ(1

2

)=√π.

De fato, fazendo t = u2 temos:

Γ(1

2

)= 2

∫ +∞

0

e−u2

du,

então:

[Γ(1

2

)]2= 4

∫ +∞

0

∫ +∞

0

e−u2

e−v2

du dv = 4

∫ +∞

0

∫ +∞

0

e−(u2+v2) du dv.

Utilizando coordenadas polares, obtemos o resultado. Veja [VC2].

3. Se ν ∈ R, temos que:

Γ(n+ ν + 1) = (n+ ν) Γ(n+ ν)

= (n+ ν) (n+ ν − 1) Γ(n+ ν − 1)

...= (n+ ν) (n+ ν − 1) (n+ ν − 2) . . . . . . (ν + 1) Γ(ν + 1).

Por outro lado, para x > 0 temos:

Γ(x) =1

xΓ(x+ 1).

Definamos primeiramente a função Γ, para −1 < x < 0 por:

Γ(x) =1

xΓ(x+ 1).

Por exemplo:

Γ(−0.2) = − 1

0.2Γ(−0.2 + 1) = − 1

0.2Γ(0.8).

Logo, podemos definir a função Γ, para −2 < x < −1 por:

Γ(x) =1

xΓ(x+ 1).

Por exemplo:

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128 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

Γ(−1.2) = − 1

1.2Γ(−1.2 + 1) = − 1

1.2Γ(−0.2) =

1

0.2

1

1.2Γ(0.8).

Continuando este processo, podemos definir a função Γ, para x < 0 por:

Γ(x) =1

xΓ(x+ 1).

-3 -2 -1 1 2 3 4

-6

-4

-2

2

4

6

Figura 6.2: A função Γ = Γ(x)

6.5 Edo de Bessel de Ordem ν > 0

A edo de Bessel de ordem ν > 0 é:

x2 y′′ + x y′ + (x2 − ν2) y = 0.

As raízes da e.i. são r = ±ν. Então, procuramos soluções do tipo:

y =∞∑n=0

an xn+r, y′ =

∞∑n=0

(n+ r) an xn+r−1 e

y′′ =∞∑n=0

(n+ r) (n+ r − 1) an xn+r−2.

Então:

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6.5. EDO DE BESSEL DE ORDEM ν > 0 129

(x2 − ν2) y =∞∑n=0

an xn+r+2 −

∞∑n=0

ν2 an xn+r,

x y′ =∞∑n=0

(n+ r) an xn+r,

x2 y′′ =∞∑n=0

(n+ r) (n+ r − 1) an xn+r.

A edo pode ser reescrita:

∞∑n=0

[n2 + 2n r + r2 − ν2

]an x

n+r +∞∑n=0

an xn+r+2 = 0,

∞∑n=0

[(n+ r)2 − ν2

]an x

n+r +∞∑n=2

an−2 xn+r = 0,

onde na última série trocamos n+ 2 por n. Logo,

(r2 − ν2) a0 xr +[(r + 1)2 − ν2

]a1 x

r+1 +∞∑n=2

[[(n+ r)2 − ν2

]an + an−2

]xn+r = 0.

Temos:

1. (r2 − ν2) a0 xr = 0; como a0 6= 0 é arbitrário, r2 − ν2 = 0 é a e.i.

2.[(r + 1)2 − ν2

]a1 x

r+1 = 0.

3.[(n+ r)2 − ν2

]an + an−2 = 0 para n = 2, 3, . . .

6.5.1 Primeira solução:

Para r1 = ν:

1. Como[(ν + 1)2 − ν2

]a1 x

r+1 = 0, então a1 = 0.

2. A recorrência da série é:

an = − an−2n (n+ 2 ν)

, n = 2, 3, . . .

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130 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

Como a1 = 0, utilizando a recorrência, obtemos: a2n+1 = 0 para todo n ∈ N. Do ítem 2,temos:

n = 2→ a2 = − a02 (2 + 2 ν)

= − a022 (1 + ν)

n = 4→ a4 = − a24 (4 + 2 ν)

=a0

24 (1× 2) (1 + ν) (2 + ν)

n = 6→ a6 = − a46 (6 + 2 ν)

= − a026 (1× 2× 3) (1 + ν) (2 + ν) (3 + ν)

n = 8→ a8 = − a68 (8 + 2 ν)

=a0

28 (1× 2× 3× 4) (1 + ν) (2 + ν) (3 + ν) (4 + ν)

n = 10→ a10 = − a810 (10 + 2 ν)

a10 = − a0210 (1× 2× 3× 4× 5) (1 + ν) (2 + ν) (3 + ν) (4 + ν) (5 + ν)

.

Em geral:

a2n =(−1)n a0

22n n! (1 + ν) (2 + ν) . . . (n+ ν), n ∈ N.

Logo, a primeira solução é:

y1(x) =∞∑n=0

(−1)n a0 x2n+ν

22n n! (1 + ν) (2 + ν) . . . (n+ ν).

Se ν ∈ N, escolhemos a0 =1

2ν ν!; então:

y1(x) =∞∑n=0

(−1)n x2n+ν

22n+ν n! (n+ ν)!.

Em geral, escolhendo a0 =1

2ν Γ(ν + 1)na solução da equação de Bessel, a primeira

solução pode ser escrita:

y1(x) =∞∑n=0

(−1)n x2n+ν

22n+ν n! (n+ ν) (n+ ν − 1) (n+ ν − 2) . . . (ν + 1) Γ(ν + 1).

A série converge para todo x > 0. A notação clássica da primeira solução da edo deBessel é Jν(x) e é chamada função de Bessel de ordem ν. Logo, utilizando a função Γ,a primeira solução, pode ser escrita desta única forma:

Jν(x) =∞∑n=0

(−1)n

Γ(n+ 1) Γ(n+ ν + 1)

[x

2

]2n+ν.

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6.5. EDO DE BESSEL DE ORDEM ν > 0 131

Note que Jν(0) = 0. Alguns gráficos da função Jν :

5 10 15 20

Figura 6.3: Gráficos de J1 (azul), J2 (verde) e J3 (vermelho)

5 10 15 20

Figura 6.4: Gráficos de J3/2 (azul), J5/2 (verde) e J7/2 (vermelho)

6.5.2 Segunda Solução

Se r = −ν, a segunda solução linearmente independente da edo de Bessel depende de:

r1 − r2 =

2 ν ∈ N ou2 ν /∈ N.

Primeiro Caso

Se 2 ν /∈ N, então para −ν, obtemos:

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132 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

1.[(−ν − 1)2 − ν2

]a1 x

r+1 = 0; logo, a1 = 0.

2. A recorrência da série é:

an = − an−2n (n− 2 ν)

, n = 2, 3, . . .

Como a1 = 0, utilizando a recorrência, obtemos: a2n+1 = 0 para todo n ∈ N. Do ítem 2,temos:

n = 2→ a2 = − a02 (2− 2 ν)

= − a022 (1− ν)

n = 4→ a4 = − a24 (4− 2 ν)

=a0

24 (1× 2) (1− ν) (2− ν)

n = 6→ a6 = − a46 (6− 2 ν)

= − a026 (1× 2× 3) (1− ν) (2− ν) (3− ν)

n = 8→ a8 = − a68 (8− 2 ν)

=a0

28 (1× 2× 3× 4) (1− ν) (2− ν) (3− ν) (4− ν)

n = 10→ a10 = − a810 (10− 2 ν)

a10 = − a0210 (1× 2× 3× 4× 5) (1− ν) (2− ν) (3− ν) (4− ν) (5− ν)

.

Em geral:

a2n =(−1)n a0

22n n! (1− ν) (2− ν) . . . (n− ν), n ∈ N.

Logo, a segunda solução é:

y2(x) =∞∑n=0

(−1)n a0 x2n−ν

22n n! (1− ν) (2− ν) . . . (n− ν).

Com as notações utilizadas anteriormente, podemos reescrever a segunda solução l.i.,como:

J−ν(x) =∞∑n=0

(−1)n

Γ(n+ 1) Γ(n− ν + 1)

[x

2

]2n−ν.

Note que ambas as soluções são dadas por:

Jν(x) =∞∑n=0

(−1)n

Γ(n+ 1) Γ(n+ ν + 1)

[x

2

]2n−ν.

Logo, a solução geral é:

y(x) = c1 Jν(x) + c2 J−ν(x), 0 < |x| < +∞.

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6.5. EDO DE BESSEL DE ORDEM ν > 0 133

Segundo Caso

Se 2 ν ∈ N, a segunda solução é do tipo:

y2(x) = C Jn(x) ln(x) + x−n[1 +

∞∑m=1

bm xm

],

onde a constante C pode ser nula.

Se 2 ν ∈ N e ν /∈ Z a constante é zero. Isto é, Jν(x) e J−ν(x) são linearmente indepen-dentes. Logo, a solução geral é:

y(x) = c1 Jν(x) + c2 J−ν(x), onde ν = n+1

2e n = 0, 1, 2 . . . .

Para verificar que Jν(x) e J−ν(x) são linearmente independentes, primeiramente obser-vamos que:

d

dx

[xW [Jν(x), J−ν(x)]

]= 0,

logo W [Jν(x), J−ν(x)] =c

x. Se ν /∈ Z, utilizando a definição de Jν(x) e J−ν(x) não é

difícil ver que c 6= 0.

Se 2 ν ∈ N, então para ν = n mostraremos que J−n(x) = (−1)n Jn, isto é, são linear-mente dependentes. De fato:

J−n =∞∑k=0

(−1)k

k! (k − n)!

[x

2

]2k−n=∞∑k=n

(−1)k

k! (k − n)!

[x

2

]2k−n,

pois, o termo1

(k − n)!= 0 se k = 0, 1, . . . n− 1; logo, trocando k por k + n:

J−n =∞∑k=0

(−1)k+n

k! (k + n)!

[x

2

]2k+n= (−1)n

∞∑k=0

(−1)k

k! (k + n)!

[x

2

]2k+n= (−1)n Jn.

Logo, Jn(x), J−n(x) não é um conjunto fundamental de soluções da edo de Bessel. Asegunda solução deve ser obtida a partir de:

y2(x) = C Jn(x) ln(x) + x−n[1 +

∞∑m=1

bm xm

].

O procedimento para achar esta segunda solução é análogo ao caso em que ν = 0,apenas envolvendo muito mais cálculos, os quais ficam fora do contexto destas notas.Utilizando as notações anteriores, a segunda solução é denotada e dada por:

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134 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

Yn(x) =2

π

[Jn(x)

(ln(x

2

)+ γ)−

n−1∑k=0

(n− k − 1)!

22k−n+1 n!x2k−n+

+∞∑k=0

(−1)k+1(Hk +Hn+k

)22k+n+1 k! (n+ k)!

x2k+n].

As funções Jn e Yn são linearmente independentes para x > 0. A solução geral da edode Bessel de ordem n é:

y(x) = c1 Jn(x) + c2 Yn(x), 0 < |x| < +∞.

Observação 6.4.

1. Quando ν /∈ N definimos a função Yν da seguinte forma:

Yν(x) =1

sen(ν π)

[Jν(x) cos(ν π)− J−ν(x)

].

2. Se ν /∈ N, a solução geral pode ser escrita:

y(x) = c1 Jν(x) + c2 Yν(x) =

[c1 + c2

cos(ν π)

sen(ν π)

]Jν −

c2sen(ν π)

J−ν(x)

= C1 Jν(x) + C2 Yν(x),

onde C1 = c1 + c2cos(ν π)

sen(ν π)e C2 = − c2

sen(ν π).

3. Claramente, Yν não é definida para ν ∈ N e que Jν(x) e Yν(x) são linearmenteindependentes.

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6.5. EDO DE BESSEL DE ORDEM ν > 0 135

5 10 15 20

Figura 6.5: Gráficos de Y1 (azul), Y2 (verde) e Y3 (vermelho)

4. É possível provar que:

Yn(x) = limν→n

Yν .

5. A função Yν é chamada função de Neumann-Bessel de ordem ν.

6. Alguns gráficos da função Yν :

5 10 15 20

Figura 6.6: Gráficos de Y1/2 (azul), Y5/2 (verde) e Y7/2 (vermelho)

Em resumo, temos:

Teorema 6.1. Seja a equação de Bessel de ordem ν ≥ 0:

x2 y′′ + x y′ + (x2 − ν2) y = 0.

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136 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

1. Se ν 6∈ Z, a solução geral é:

y(x) = c1 Jν(x) + c2 J−ν(x).

2. Se ν = n ∈ N, a solução geral é:

y(x) = c1 Jn(x) + c2 Yn(x).

3. Se ν é arbitrário, a solução geral é:

y(x) = c1 Jν(x) + c2 Yν(x).

6.6 A Edo de Bessel de Ordem ν = 1/2

Considere a edo de Bessel de ordem ν =1

2, x > 0:

x2 y′′ + x y′ +(x2 − 1

4

)y = 0.

Dos parágrafos anteriores, temos que a solução geral da edo é:

y(x) = c1 J1/2(x) + c2 J−1/2(x),

onde

J1/2(x) =∞∑n=0

(−1)n

Γ(n+ 1) Γ(n+

1

2+ 1) [x2

]2n+1/2

.

Utilizando a definição da função Gama, temos que:

Γ(n+

1

2

)= (n− 1

2) Γ(n− 1

2

)= (n− 1

2) (n− 3

2) Γ(n− 3

2

)= (n− 1

2) (n− 3

2) (n− 5

2) Γ(n− 5

2

)...

=1× 3× 5× . . .× (2n− 3) (2n− 1)

2nΓ(1

2

)=

(2n)!√π

4n n!;

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6.6. A EDO DE BESSEL DE ORDEM ν = 1/2 137

logo:

Γ(n+

1

2+ 1)

=(n+

1

2

)Γ(n+

1

2

)=

(2n+ 1)!√π

22n+1 n!.

Então:

Γ(n+ 1) Γ(n+

1

2+ 1)

=(2n+ 1)!

√π

22n+1.

Dos ítens anteriores, temos:

J1/2(x) =

√2

π x

∞∑n=0

(−1)n

(2n+ 1)!x2n+1 =

√2

π xsen(x).

De forma análoga:

J−1/2(x) =

√2

π xcos(x).

E a solução geral da edo de Bessel de ordem ν =1

2é:

y(x) =

√2

π x

[c1 sen(x) + c2 cos(x)

].

5 10 15 20

Figura 6.7: Gráficos de J1/2 (azul), J−1/2 (vermelho) e y = ±√

2π x

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138 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

6.7 Exemplos e Aplicações

[1] Verifique que:

1. Jν−1(x) + Jν+1(x) =2ν

xJν(x).

2. Jν−1(x)− Jν+1(x) = 2 J ′ν(x).

Solução: Como:

Jν(x) =∞∑n=0

(−1)n

n! Γ(n+ ν + 1)

[x

2

]2n+ν,

temos que:

Jν−1(x)± Jν+1(x) =∞∑n=0

(−1)n

n! Γ(n+ ν)

[x

2

]2n+ν−1±∞∑n=0

(−1)n

n! Γ(n+ ν + 2)

[x

2

]2n+ν+1

=∞∑n=0

(−1)n (n+ ν)

n! Γ(n+ ν + 1)

[x

2

]2n+ν−1±∞∑n=1

(−1)n−1

(n− 1)! Γ(n+ ν + 1)

[x

2

]2n+ν−1

Γ(ν + 1)

[x

2

]ν−1+∞∑n=1

(−1)n

n! Γ(n+ ν + 1)

[x

2

]2n+ν−1 [n+ ν ± (−1)−1 n

].

Logo:

Jν−1(x) + Jν+1(x) = ν

[x

2

]−1[1

Γ(ν + 1)

[x

2

]ν+∞∑n=1

(−1)n

n! Γ(n+ ν + 1)

[x

2

]2n+ν]=

2 ν

xJν(x).

Analogamente:

Jν−1(x)− Jν+1(x) =

Γ(ν + 1)

[x

2

]ν−1[1

Γ(ν + 1)

[x

2

]ν+∞∑n=1

(−1)n(2n+ ν)

n! Γ(n+ ν + 1)

[x

2

]2n+ν−1]= 2 J ′ν(x).

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6.7. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 139

Aplicação: Utilizando a identidade :

Jν−1(x) + Jν+1(x) =2ν

xJν(x),

temos que:

J3/2(x) =

√2

π x3

[sen(x)− x cos(x)

]

J−3/2(x) = −√

2

π x3

[sen(x) + x cos(x)

],

J5/2(x) = −√

2

π x5

[(x2 − 3) sen(x) + 3 x cos(x)

]

J−5/2(x) =

√2

π x5

[(3− x2) cos(x) + 3 x sen(x)

].

5 10 15 20 5 10 15 20

Figura 6.8: Gráficos de J3/2, J−3/2 e J5/2, J−5/2, respectivamente

[2] As edo’s do tipo:

x y′′ + (1− 2n) y′ + x y = 0, n ∈ N.

tem como solução particular y(x) = xn Jn(x).

De fato, derivando:

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140 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

x y = xn+1 Jn(x)

(1− 2n) y′ = (1− 2n)xn−1(nJn(x) + x J ′n(x)

x y′′ = xn−1((n2 − n) Jn(x) + 2nxJ ′n(x) + x2 J ′′n(x)

).

Substituindo na edo:

x y′′ + (1− 2n) y′ + x y = xn−1[x2 J ′′n(x) + x J ′n(x) + (x2 − n2) Jn(x)

]= 0,

onde utilizamos que Jn é solução da edo de Bessel de ordem n.

Por exemplo, a edo:

x y′′ − y′ + x y = 0,

tem como solução particular y = x J1(x).

5 10 15 20

-4

-2

2

4

Figura 6.9: Gráfico de y(x) = x J1(x)

Diversas edo’s que não são de Bessel podem ser reduzidas a edo’s de Bessel através deuma mudança de variáveis. A seguir, apresentaremos alguns exemplos.

[3] Ache a solução geral de:

x y′′ + y′ + k2 x y = 0; x > 0, k ∈ R.

Multiplicando a edo por x:

x2 y′′ + x y′ + k2 x2 y = 0.

Fazendo u = k x, temos u′ = k, e a edo fica:

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6.7. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 141

u2 y′′ + u y′ + u2 y = 0.

Que é uma edo de Bessel zero para y = y(u); logo a solução geral é:

y(u) = c1 J0(u) + c2 Y0(u).

Voltando as variáveis originais:

y(x) = c1 J0(k x) + c2 Y0(k x).

[4] A edo:

4x2 y′′ + 4x y′ +

[x− 1

36

]y = 0, x > 0,

não é de Bessel.

Fazendo z =√x ou z2 = x e utilizando a regra da cadeia, temos:

y′ =dy

dx=dy

dz

dz

dx=

1

2 z

dy

dz

y′′ =d

dx

[dy

dx

]=

1

4 z2d2y

dz2− 1

4 z3dy

dz;

logo, a edo pode ser reescrita:

z2d2y

dz2+ z

dy

dz+

[z2 − 1

36

]y(z) = 0.

Então, ν = ±1

6e a solução é y(z) = c1 J1/6(z) + c2 J−1/6(z), isto é:

y(x) = c1 J1/6(√x) + c2 J−1/6(

√x).

[5] Em geral, toda edo da forma:

t2 u′′(t) + (1− 2 a) t u′(t) + (b2 c2 t2c + a2 − ν2 c2)u(t) = 0, a, b, c, ν ∈ R, (6.1)

pode ser transformada numa edo de Bessel de ordem ν.

De fato, fazendo:

u(t) = ta y(x) e x = b tc,

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142 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

obtemos:

x2 y′′ + x y′ + (x2 − ν2) y = 0.

[6] Seja edo de Airy:

u′′ + t u = 0.

Para t > 0, consideramos:

t2 u′′ + t3 u = 0

Logo, é uma edo do tipo 6.1 para a =1

2, b =

2

3, c =

3

2e ν =

1

3. Então, com as mudanças:

u(t) =√t y(x) e x =

2 t3/2

3,

temos uma edo de Bessel de ordem ν =1

3, logo:

y(x) = c1 J1/3(x) + c2 J−1/3(x).

Voltando as variáveis originais:

u(t) =√t[c1 J1/3

(2 t3/2

3

)+ c2 J−1/3

(2 t3/2

3

)].

2 4 6 8 10

-1.0

-0.5

0.5

Figura 6.10: Gráfico para c1 = 1 e c2 = −1

[7] Um modelo matemático para o movimento livre não amortecido de uma massa m,presa a uma mola que sofre a degradação de sua rigidez no passar do tempo, é dadopela edo:

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6.7. EXEMPLOS E APLICAÇÕES 143

mx′′ + k e−α t x = 0, α, k > 0,

onde x = x(t) de classe C2.

Esta edo pode ser transformada numa edo de Bessel de ordem ν = 0.

De fato, fazendo:

u(t) = 2 e−α t/2√

k

α2m,

e utilizando a regra da cadeia, obtemos a edo de Bessel:

u2d2x

du2+ u

dx

du+ s2 x = 0,

cuja solução geral é:

x(s) = c0 J0(s) + c1 Y0(s),

voltando as variáveis originais:

x(t) = c0 J0(2 e−α t/2

√k

α2m

)+ c1 Y0

(2 e−α t/2

√k

α2m

).

[8] Consideremos a edo:

(r0 + v t)d2θ

dt2+ 2 v

dt+ g θ = 0.

Esta edo representa a evolução do movimento, para pequenas oscilações (sen(θ) ' θ),de um pêndulo, onde a corda do pêndulo tem comprimento variável r = r(t), comtaxa de variação constante v e tal que r(0) = r0.

Simplificamos a edo fazendo:

x =r0 + t v

v,

e utilizando a regra da cadeia, obtemos a edo :

x vd2θ

dx+ 2 v

dx+ g θ = 0;

multiplicando a edo por x v−1, temos:

x2d2θ

dx+ 2x

dx+g x

vθ = 0,

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144 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

substituindo x por t:

t2d2θ

dt+ 2 t

dx+g t

vθ = 0,

que é uma edo do tipo (6.1): para a = −1

2, b = 2

√g

v, c =

1

2e ν = 1. Fazendo:

θ(t) =y(x)√t

e x = b√t,

obtemos:

x2 y′′ + x y′ + (x2 − 1) y = 0.

Logo, a solução é:

y(x) = c1 J1(x) + c2 Y1(x).

Por outro lado θ(t) = t−1/2 y(x) e x = 2√t, logo:

θ(t) =1√t

[c1 J1(2

√t) + c2 Y1(2

√t)].

5 10 15 20

-0.2

0.2

0.4

Figura 6.11: de θ(t) para c1 = 0 e para c2 = 0

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6.8. EXERCÍCIOS 145

6.8 Exercícios

1. Determine a solução da edo de Bessel para:

(a) ν =1

3

(b) ν =1

4

(c) ν =1

6.

(d) ν =1

9.

(e) ν =5

4.

(f) ν =6

5.

2. Considere a edo:

x2 y′′ + x y′ + (α2 x2 − ν2) y = 0, α > 0.

Utilize a mudança u = αx:

(a) Ache a edo de Bessel, na variável u.

(b) Verifique que a solução geral da edo original é:

y(x) = c0 Jν(αx) + c2 Yµ(αx).

3. Utilize o ítem anterior, para achar a solução geral das seguintes edo’a:

(a) x2 y′′ + x y′ + (4x2 − 9) y = 0

(b) x2 y′′ + x y′ + (36x2 − 25) y = 0

(c) x2 y′′ + x y′ + (9x2 − 36) y = 0

(d) x2 y′′ + x y′ +(x2

9− 1

36

)y = 0

4. Considere a edo:

x2 y′′ + (1− 2 ν) y′ + x y = 0, x > 0.

(a) Verifique que y1(x) = xν Jν(x) é uma solução da edo.

(b) Verifique que y2(x) = xν Yν(x) é uma solução da edo.

(c) Determine a solução geral da edo.

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146 CAPÍTULO 6. A EQUAÇÃO DE BESSEL

5. Utilize o ítem anterior, para achar a solução geral das seguintes edo’a:

(a) x2 y′′ − y + x y = 0

(b) x2 y′′ + 4 y′ + x y = 0

(c) x2 y′′ − 3 y′ + x y = 0

6. Utilizando 6.1, determine a solução de:

(a) t2 u′′ + (t2 − 15/4)u = 0

(b) t2 u′′ + t u′ + (r2 t2s/n − s2)u = 0

(c) u′′ + r2 t(1−2n)/n u = 0

7. Verifique:

(a)d

dx

(xν Jν

)= xν Jν−1

(b)d

dx

(x−ν J−ν

)− = x−ν Jν+1

(c) x Jν+1 − 2 νJ′ν + x Jν−1 = 0

(d) Jν+1 + 2 J′ν − Jν−1 = 0

(e) Y ′ν +ν

xYν = Yν−1

(f) Yν−1 − Yν+1 = 2Y ′ν

8. Verifique que:

(a) J3/2(x) =

√2

π x

[sen(x)

x− cos(x)

]

(b) J5/2(x) =

√2

π x

[3 sen(x)

x2− 3 cos(x)

x− sen(x)

]

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Bibliografia

[FD] D. G. Figueiredo: Análise de Fourier e Equações Diferenciais Parciais, Pro-jeto Euclides, Impa, Brasil.

[IV] V. M. Iorio: Edp: Um curso de graduação, Col. Mat. Universitária, Impa,Brasil.

[KO] D. Kreider, D. R. Ostberg, R. C. Kuller, F. W. Perkins: Introdução ao AnáliseLinear - Equações Diferenciais Lineares, vol. 1, Ao Livro Técnico.

[LE] E. L. Lima: Análise Real, Impa.

[RW] W. Rudin: Principles of Mathematical Analysis, Mc Graw-Hill Higher Edu-cation.

[VC1] M. Vilches, M. Corrêa: Cálculo I: Volume I e Volume II, Edição online:www.ime.uerj.br/∼calculo.

[VC2] M. Vilches, M. Corrêa: Cálculo II: Volume I e Volume II, Edição online:www.ime.uerj.b/∼calculo.

[NP] P. N. da Silva: Equações Diferenciais Ordinárias , Edição online:www.ime.uerj.b/∼calculo.

147

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Índice

Convergênciaabsoluta, 25condicional, 25pontual, 37uniforme, 37

Convergência Pontual, 31Convergência Uniforme, 34

Domínio de convergência, 42

Edo de Airy, 63Edo de Bessel, 119

aplicações, 138ordem ν > 0, 128ordem ν, 64, 120ordem ν = 1/2, 136ordem zero, 120primeira solução ν > 0, 129primeira solução ν = 0, 120segunda solução ν > 0, 131segunda solução ν = 0, 122solução geral, 135solução geral ν = 0, 125solução geral ν = 1/2, 137solução geral ν = n, 134solução geral ν 6= n, 134

Edo de Euler-Lagrange, 97, 99Edo de Hermite

ordem p, 64Edo de Laguerre

ordem p, 64Edo de Legendre, 64, 69, 82

aplicações, 87polinômios, 85

Edo Laplace, 89Equação Indicial, 100

Equações Diferenciais Ordinárias, 63

Função Γ, 126Funções Analíticas, 47

Método de Frobenius, 97, 102

Neumann-Bessel, 125

Pontos Regulares, 64Pontos Singulares, 98

Raio de convergência, 43

Série Geométrica, 14Séries Alternadas, 23

convergência, 24erro, 25

Séries de Funções, 37convergência, 37

Séries de Potências, 41Séries de Taylor, 54Séries Numéricas, 13

convergentes, 14divergentes, 14soma parcial, 14termo geral, 14

Sequências de Funções, 31convergência, 31convergência pontual, 31convergência uniforme, 34

Sequências Numéricas, 7convergênte, 8divergêntes, 9limitadas, 10termo geral, 7

Soluções

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ÍNDICE 149

pontos regulares, 64

Testes, 16da integral, 20da raiz, 27de comparação, 17de divergência, 16de séries alternadas, 24do quociente I, 23do quociente II, 26

Weierstrassteorema de aproximação, 36