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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ENFERMAGEM HELINY CARNEIRO CUNHA NEVES EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL: O OLHAR DOS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO GOIÂNIA, 2009

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL: O OLHAR DOS ...livros01.livrosgratis.com.br › cp134819.pdf · leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ENFERMAGEM

HELINY CARNEIRO CUNHA NEVES

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL: O OLHAR DOS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO

GOIÂNIA, 2009

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Termo de Ciência e de Autorização para Publicação de Teses e Dissertações

Eletrônicas (TEDE) na Biblioteca Digital da UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo à Universidade Federal de Goiás – UFG a disponibilizar

gratuitamente através da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD/UFG, sem ressarcimento dos direitos

autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de

leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ X ] Dissertação [ ] Tese

2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor(a): Heliny Carneiro Cunha Neves

RG: CPF: E-mail: [email protected]

Afiliação:

Título: Equipamentos de proteção individual: o olhar dos trabalhadores de enfermagem em um hospital universitário

Palavras-chave: Equipamentos de proteção; Precauções universais; Enfermagem; Grupos focais

Título em outra língua: Personal protective equipment: the view of the nursing workers at a university hospital

Palavras-chave em outra língua: Protective Devices; Universal Precautions; Nursing; Focus Groups

Área de concentração: A Enfermagem no cuidado à saúde humana

Número de páginas: 110 Data defesa: 14/05/2009

Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

Orientador(a): Adenícia Custódia Silva e Souza

CPF: E-mail: [email protected]

Co-orientador(a):

CPF: E-mail:

Agência de fomento: Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino

Superior

Sigla: CAPES

País: UF: CNPJ:

3. Informações de acesso ao documento:

Liberação para publicação?1 [ X ] total [ ] parcial

Em caso de publicação parcial, assinale as permissões:

[ ] Capítulos. Especifique: _____________________________________________________

[ ] Outras restrições: _________________________________________________________

Havendo concordância com a publicação eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF

desbloqueado da tese ou dissertação, o qual será bloqueado antes de ser inserido na Biblioteca Digital.

O Sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos contento eletronicamente as

teses e ou dissertações, antes de sua publicação serão bloqueados através dos procedimentos de segurança (criptografia e

para não permitir cópia e extração de conteúdo) usando o padrão do Acrobat Writer.

__________________________________ Data: _____ / _____ / _____

Heliny Carneiro Cunha Neves

1 Em caso de restrição, esta poderá ser mantida por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo

suscita justificativa junto à coordenação do curso. Todo resumo e metadados ficarão sempre disponibilizados.

HELINY CARNEIRO CUNHA NEVES

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL: O OLHAR DOS

TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás como um dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Área de concentração: A Enfermagem no cuidado à Saúde

Humana

Linha de pesquisa: Prevenção, controle e epidemiologia das

infecções associadas à cuidados em saúde e das doenças

transmissíveis

Área temática: Adesão às medidas de precauções padrão

Orientador: Prof. Dra. Adenícia Custódia Silva e Souza

GOIÂNIA, 2009

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio

convencional ou eletrônico para fins de estudos e pesquisa, desde que citada a

fonte.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) GPT/BC/UFG

N518e

Neves, Heliny Carneiro Cunha.

Equipamentos de proteção individual [manuscrito]: o olhar dos trabalhadores de enfermagem em um hospital universitário / Heliny Carneiro Cunha Neves. -2009.

110 f. : il., figs. Orientadora: Profª. Drª. Adenícia Custódia Silva e Souza. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás,

Faculdade de Enfermagem, 2009. Bibliografia.

Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas. Apêndices.

1. Enfermagem - Equipamentos de Proteção 2. Precauções Universais - Enfermagem 3. Grupos Focais – Proteção. I. Título. CDU: 613.6:616-083

FOLHA DE APROVAÇÃO

HELINY CARNEIRO CUNHA NEVES

EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL: O OLHAR DOS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestre em Enfermagem.

Aprovada em 14 de maio de 2009

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dra. Adenícia Custódia Silva e Souza – Presidente e orientadora

Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás

Prof. Dra. Diana Lúcia Moura Pinho - Membro efetivo externo

Faculdade de Ciências da Saúde - Universidade de Brasília

Prof. Dr. Marcelo Medeiros – Membro efetivo

Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás

Prof. Dra. Anaclara Ferreira Veiga Tipple – Membro suplente

Faculdade de Enfermagem – Universidade Federal de Goiás

Prof. Dr. José Rodrigues do Carmo Filho – Membro suplente

Departamento de Enfermagem e Fisioterapia– Universidade Católica de Goiás

Este estudo foi desenvolvido junto ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás e contou com o apoio da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior – CAPES.

DEDICATÓRIA Aos meus pais Bolivar e Maria José, que com amor, dedicação e amizade me apoiaram ao longo da minha trajetória. Amo vocês!; Ao meu amado esposo Isac, pelo apoio incondicional, incentivo, compreensão e companheirismo. Te amo!; Ao meu irmão Hernany, à sua esposa Cristiane e minha sobrinha/afilhada Laura, que estiveram sempre presentes em minha trajetória de vida e que ajudaram direta ou indiretamente na construção deste trabalho.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

À Professora Doutora Adenícia Custódia Silva e Souza, por quem eu tenho muita

admiração, pela acolhida desde a graduação como bolsista de iniciação científica

até a construção deste trabalho. Pelo carinho, a amizade, a compreensão, o apoio, a

orientação, os conselhos, a confiança e o estímulo. Obrigada por estar sempre

presente, ajudando-me a trilhar o meu caminho, enfim, por tudo aquilo que

vivenciamos e que possibilitou o meu crescimento como pessoa e profissional;

À Professora Doutora Denize Bouttelet Munari, exemplo de simplicidade e

disposição para ensinar, pelo desprendimento em me ajudar a concretizar esse

trabalho, pela amizade e por sempre estar ao meu lado com carinho e dedicação.

Sou muito grata por sua confiança e seus ensinamentos. A você meu carinho,

respeito e admiração;

À Professora Doutora Anaclara Ferreira Veiga Tipple, pela amizade, o carinho, o

respeito, a confiança e pelas valiosas contribuições para o desenvolvimento desse

trabalho. Conviver com você tem sido um grande aprendizado;

Ao Professor Doutor Marcelo Medeiros, pela dedicação, pelo conhecimento

compartilhado e disponibilidade em me ajudar a montar este quebra-cabeça. A você

meu respeito e admiração;

À Luana Cássia Miranda Ribeiro, auxiliar desta pesquisa e bolsista do NEPIH, pela

amizade que construímos ao longo desta estrada. Sonhamos juntas esta conquista,

por isso, compartilho com você esse título.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, pela vida e por ter me concedido a oportunidade de chegar

até aqui;

Aos meus sogros João Alves e Maria Cardoso e ao Matheus, pelo apoio,

dedicação e força;

A todas as companheiras e amigas da turma do mestrado em Enfermagem UFG

2008, em especial a Katiane, pela amizade e companheirismo.

À Faculdade de Enfermagem por ter me acolhido desde a graduação e promover

um ensino de excelência;

Ao Programa de pós-graduação da Faculdade de Enfermagem, na pessoa da

Professora Doutora Maria Márcia Bachion, pela competência e pela oportunidade

de aprimorar meus conhecimentos;

A todos os professores do Programa de Pós-graduação pelo apoio;

Aos funcionários da Faculdade de Enfermagem pela dedicação e carinho,

especialmente ao Gabriel, secretário do Programa de pós-graduação, Luciano e

Renato;

Aos profissionais que se prontificaram a fazer parte desta pesquisa, pelo carinho e

receptividade. Sem vocês esse sonho não seria possível. Muito obrigada;

Ao NEPIH (Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar), amigos,

parentes e todos que direta ou indiretamente contribuíram para a construção deste

estudo;

A CAPES (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior), pelo

apoio financeiro, em bolsa de estudo, no período da pesquisa.

"O importante não é estar aqui ou ali, mas ser. E ser é uma ciência delicada, feita de pequenas e grandes observações do cotidiano, dentro e fora da gente. Se não executarmos essas observações, não chegamos a ser: apenas estamos, e desaparecemos."

Carlos Drummond de Andrade

SUMÁRIO

Lista de ilustrações .................................................................................................. 10

Lista de abreviaturas e siglas .................................................................................. 11

Resumo ................................................................................................................... 12

Abstract ................................................................................................................... 13

Resumen ................................................................................................................. 14

Introdução ............................................................................................................. 15

1. Objetivo .............................................................................................................. 20

2. Referencial teórico ............................................................................................ 21

2.1. Precauções padrão ....................................................................................... 21

2.2. A adesão ao EPI na prática da enfermagem ................................................. 29

2.3. Modelo de Crenças em Saúde ...................................................................... 35 2.4. Pressupostos do estudo ................................................................................ 38 3. Trajetória metodológica .................................................................................... 39

3.1. Caracterização do estudo ............................................................................. 39

3.2. Campo de estudo ......................................................................................... 40

3.3. Trabalho de campo ....................................................................................... 41

4. Resultados e discussão ............................................................................... 50

4.1. Atores do estudo e a dinâmica das sessões grupais .................................... 50

4.2. A proteção para os trabalhadores da enfermagem ....................................... 52

4.2.1. Segurança no trabalho ........................................................................ 53

4.2.2. Relacionamento interpessoal .............................................................. 80

5. Considerações finais ........................................................................................ 93

6. Referências bibliográficas ................................................................................ 96

Apêndice

Anexo

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Exemplo de colocação do EPI de forma segura ....................................... 28

Figura 2: Exemplo de remoção do EPI de forma segura ......................................... 28

Figura 3: Na corda bamba ........................................................................................ 74 Figura 4: Caixinha de surpresas ............................................................................... 74 Figura 5: Liberdade e tranquilidade .......................................................................... 77 Figura 6: Equilíbrio ................................................................................................... 77 Figura 7: EPI como embalagem ............................................................................... 78 Figura 8: A armadura ................................................................................................ 78

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

CAT Comunicação de Acidente de Trabalho

CCIH Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

CDC Centers for Disease Control and Prevention

CEC Centro de Educação Continuada

CME Centro de Material e Esterilização

EPI Equipamento de Proteção Individual

EUA Estados Unidos da América

HEPA High Efficiency Particulate Air

HVB Vírus da Hepatite B

HVC Vírus da Hepatite C

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

IACS Infecções Associadas aos Cuidados em Saúde

IH Infecção Hospitalar

MRSA Methicillin Resistant Staphylococcus aureus

NEPIH Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar

NR Norma Regulamentadora

PAS Profissionais da Área da Saúde

PI Precauções e Isolamento

PP Precauções Padrão

PS Pronto Socorro

PU Precauções Universais

SAS Serviços de Assistência à Saúde

SCIH Serviço de Controle de Infecção Hospitalar

UFG Universidade Federal de Goiás

UTI Unidade de Terapia Intensiva

UFTM Universidade Federal do Triângulo Mineiro

RESUMO NEVES HCC. Equipamentos de proteção individual: o olhar dos trabalhadores de enfermagem em um hospital universitário. [dissertação]. Goiânia: Faculdade de enfermagem, Universidade Federal de Goiás; 2009. 110 p.

As recomendações das precauções padrão desde que incluíram os conceitos das precauções universais, têm sido aplicadas há mais de 15 anos. Essa prevenção primária das exposições ocupacionais continua sendo eficaz e eficiente na proteção dos profissionais da área da saúde (PAS). No entanto, verificamos que a adesão a essas medidas é, por vezes, descontínua e contraditória e leva a uma potencialização dos riscos e aumento substancial de exposições ao material biológico. Isso nos leva a indagar sobre outros fatores que podem contribuir para esse tipo de comportamento por parte dos PAS. Nessa perspectiva, investigar os aspectos subjetivos que influenciam nas condutas e atitudes dos profissionais da enfermagem à adesão ao equipamento de proteção individual (EPI) torna-se importante. Assim, o objetivo deste estudo foi analisar as razões, atitudes e crenças dos trabalhadores de enfermagem referentes à adesão aos equipamentos de proteção. Estudo qualitativo realizado em dezembro de 2008 em um hospital universitário de grande porte do município de Goiânia. Foram observados os aspectos ético-legais. Os dados foram coletados por meio da técnica do grupo focal utilizando-se de questões norteadoras. Participaram desse estudo 15 profissionais da área da enfermagem, os quais constituíram três grupos focais com cinco participantes em cada grupo. Os dados foram analisados à luz do Modelo de crenças em saúde, de Rosenstock e pelo Método de Interpretação de Sentidos, segundo os temas Segurança no trabalho e Relacionamento Interpessoal. Foi possível identificar que as relações interpessoais interferem nas questões da segurança e proteção individual, em vários níveis no ambiente de trabalho, tanto nos aspectos organizacionais e gerencias, quanto na relação com as outras categorias profissionais e com os outros setores do hospital. Essa relação mostrou-se uma via de mão dupla e não podemos desconsiderar os fatores individuais e a percepção do risco, que também interligadas com o ambiente de trabalho, influenciam na proteção individual. As dificuldades como a sobrecarga de trabalho, estresse, falta de motivação, comunicação e estrutura física inadequadas, não disponibilidade e difícil acesso ao EPI, falta de rotinas e do fluxograma de atendimento pós-exposição a material biológico, entre outros, interferem na adesão a esses equipamentos de segurança, porém não os determinam. A adesão ao EPI é impregnada tanto pelo contexto vivenciado no ambiente de trabalho, como também pelos valores e crenças individuais, mas a decisão do uso do EPI é pessoal. As inúmeras barreiras percebidas no ambiente laboral são forças contrárias que anulam as forças impulsoras para a adesão aos equipamentos de proteção individual. Verificamos que a abordagem qualitativa e a técnica do grupo focal forneceram-nos subsídios para a análise e reflexão em relação à adesão ao EPI, além de direcionar possíveis estratégias e medidas eficazes na prevenção e controle de infecções e na melhora da adesão aos equipamentos de segurança. Descritores: Equipamentos de proteção; Precauções universais; Enfermagem; Grupos focais.

ABSTRACT NEVES HCC. Personal protective equipment: the view of the nursing workers at a university hospital. [dissertation]. Goiânia: Faculdade de enfermagem, Universidade Federal de Goiás; 2009. 110 p. The recommendations from the standard precautions that included the concepts of universal precautions have been applied for more than 15 years. This primary prevention of occupational exposure remains efficient and effective in protecting professional health care (PHC). However, we found that adherence to these measures is sometimes discontinuous and contradictory and leads to an enhancement of the risks and substantial increase in exposure to biological material. This leads us to inquire about other factors that may contribute to this kind of behavior on the part of PHC. From this perspective, investigating the subjective aspects that influence the behaviors and attitudes of nursing professionals to join the personal protective equipment (PPE) becomes important. The objective of this study was to analyze the reasons, attitudes and beliefs of nursing staff regarding adherence to PPE. Qualitative study conducted in December 2008 in a large university hospital in the city of Goiania. We observed the ethical-legal aspects. Data were collected through focus group technique using guiding questions. The study included 15 professionals of nursing, which formed three focus groups with five participants in each group. Data were analyzed by the model of health beliefs (MCS) of Rosenstock (1974b) and the method of interpretation of meaning, according to security issues at work and Interpersonal Relationship. We could identify that interpersonal relationships interfere with issues of safety and personal protection at various levels in the workplace, both in the organizational and manage, and in relation to other professions and other sectors of the hospital. This relationship proved is a two-way process and we cannot ignore the factors and individual risk perception, which is connected with the work environment, influence the individual protection. Difficulties such as work overload, stress, lack of motivation, communication, and inadequate physical infrastructure, lack of availability and limited access to PPE, lack of routines and the assistance process after exposure to biological material, among others, interfere with adherence to such safety equipment, but not determine them. Joining the PPE is impregnated by the context as experienced in the workplace, but also by individual values and beliefs, but the decision to use the PPE is personal. The numbers of perceived barriers in the work environment are opposing forces that cancel the driving forces for adherence to personal protective equipment. We note that the qualitative and focus group technique provided us with input for analysis and reflection on the accession to the PPE as well as direct possible strategies and effective measures to prevent and control infections and improve adherence to safety equipment. Key words: Protective Devices; Universal Precautions; Nursing; Focus Groups.

RESUMEN

NEVES HCC. Equipos de seguridad: La visión de los trabajadores de enfermería em uno hospitale universitario. [dissertación]. Goiânia: Faculdade de enfermagem, Universidade Federal de Goiás; 2009. 110 p. . Las recomendaciones de las precauciones estándar que incluía los conceptos de las precauciones universales, se han aplicado más de 15 años. Esta prevención primaria de la exposición en el trabajo sigue siendo eficiente y eficaz en la protección profesional de la salud (PS). Sin embargo, encontramos que la adhesión a estas medidas es a veces discontinua y contradictoria y conduce a un aumento de los riesgos y aumenta sustancialmente la exposición a material biológico. Esto nos lleva a preguntar acerca de otros factores que pueden contribuir a este tipo de comportamiento por parte de PS. Desde esta perspectiva, la investigación de los aspectos subjetivos que influyen en los comportamientos y actitudes de los profesionales de enfermería para adherir al equipo de protección individual (EPI) se vuelve importante. El objetivo de este estudio fue analizar las razones, actitudes y creencias del personal de enfermería en relación con la adhesión a los EPI. Estudio cualitativo realizado en diciembre de 2008 en un gran hospital universitario en la ciudad de Goiânia. Hemos observado los aspectos ético-legales. Los datos fueron recolectados a través de la técnica del grupo focal utilizando preguntas guía. El estudio incluyó a 15 profesionales de enfermería, que formaron tres grupos de discusión con cinco participantes en cada grupo. Los datos fueron analizados por el modelo de creencias de salud (MCS) de Rosenstock (1974b) y el método de interpretación del significado, de acuerdo a las cuestiones de seguridad en el trabajo y Relaciones Interpersonales. Se pudo identificar que las relaciones interpersonales relacionadas con las cuestiones de seguridad y protección personal a diversos niveles en el lugar de trabajo, tanto en la organización y gestión, y en relación a otras profesiones y otros sectores del hospital. Esta relación demostró ser un tramo de doble mano y no podemos ignorar los factores y la percepción del riesgo individual, que también está conectada con el medio ambiente de trabajo, y influyen en la protección individual. Dificultades tales como la sobrecarga de trabajo, el estrés, la falta de motivación, la comunicación y la infraestructura física inadecuada, falta de disponibilidad y acceso limitado a el EPI, la falta de rutinas y el proceso de asistencia después de la exposición a material biológico, entre otros, interfieren con la adhesión a equipo de seguridad tal, pero no determinan. La adherencia al EPI está impregnada por el contexto, como sucedió en el lugar de trabajo, sino también por los valores y creencias, pero la decisión de utilizar el EPI es personal. El número de barreras que se perciben en el ambiente de trabajo, son fuerzas que se oponen a las fuerzas impulsoras para la adhesión a los equipos de protección personal. Tomamos nota de que la calidad y técnica del grupo focal nos proporcionó información para el análisis y la reflexión sobre la adhesión al programa ampliado de prevención, así como dirigir las estrategias posibles y las medidas efectivas en la prevención y control de infecciones y en la mejorar de la adhesión a los equipos de seguridad.

Palabras clave: Equipos de Seguridad; Precauciones Universales; Enfermería; Grupos Focales.

15

INTRODUÇÃO

No decorrer da nossa trajetória acadêmica no curso de enfermagem,

despertamos para os riscos relativos à ocorrência de infecções hospitalares (IH) bem

como às medidas de controle como as precauções padrão (PP). Quando

ingressamos no Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar (NEPIH) da

Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), começamos a

aprofundar os conhecimentos, por meio de pesquisas quanto ao uso e manuseio dos

equipamentos de proteção individual (EPI), que compõem as medidas de

precauções padrão.

Chamavam-nos a atenção os discursos e as práticas realizadas pelos

profissionais da área da saúde (PAS), pois poucos valorizavam a prevenção de

infecções associadas aos cuidados em saúde (IACS), renegando assim a própria

proteção e a do paciente.

Na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de um hospital de

Goiânia, no Estado de Goiás, como voluntária, desenvolvemos atividades diárias e

sistematizadas de busca ativa e passiva de IACS, as quais proporcionaram-nos a

observação também das práticas dos PAS em relação ao equipamento de proteção

individual. As nossas percepções relacionadas à dificuldade de adesão aos EPI se

confirmaram, revelando a fragilidade do conhecimento dos profissionais da área da

enfermagem acerca desses equipamentos de segurança.

Essa inconsistência de conhecimentos somados aos fatores indicados como

desestimulantes para o seu uso como o desconforto físico, a não disponibilidade

destes nos serviços de assistência à saúde (SAS), a interferência no desempenho

técnico, entre outros, colocam esses profissionais em riscos de exposição a material

biológico, evidenciando a vulnerabilidade no exercício de suas profissões.

Ao participarmos do programa de bolsistas de Iniciação Científica, nos

dedicamos aos estudos referentes à adesão ao EPI buscando respostas a essas

indagações na pesquisa quantitativa. Em um dos estudos realizados (SOUZA et al.,

2008a), que objetivou verificar a compreensão dos alunos do último ano do curso de

enfermagem do Estado de Goiás acerca do uso EPI, bem como a contribuição das

instituições formadoras para a construção desse conhecimento, revelou múltiplas

condutas dos alunos referentes ao uso e manuseio de avental, luvas, máscara,

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óculos e gorro. Embora relatassem fazer uso de EPI, não conheciam suas

finalidades de uso, ainda que tenham sido abordadas em disciplinas curriculares. O

conhecimento mostrou-se inconsistente e sinalizou falha no processo de ensino, o

que propicia uma vulnerabilidade aos acadêmicos em relação à prevenção de

infecções adquiridas ocupacionalmente.

Dos graduandos de enfermagem direcionamos nosso foco para os PAS dos

serviços de endoscopia do município de Goiânia para vislumbrarmos melhor a

prática em relação ao uso de EPI, bem como os fatores que levavam a não adesão.

Os resultados evidenciaram que as luvas de procedimentos, avental de tecido e

sapatos fechados, obtiveram maior adesão pelos profissionais durante a realização

dos exames de endoscopia e da limpeza e desinfecção do endoscópio. Porém, os

óculos protetores, máscara química e avental impermeável obtiveram índices

extremamente baixos, demonstrando que os profissionais estão expostos tanto ao

risco biológico quanto ao químico devido ao mau uso dos EPI (NEVES et al., 2008).

As dificuldades de adesão ao EPI relatadas na literatura são atribuídas à má

qualidade do equipamento, não disponibilização deste pelos SAS, falta de tempo e

situações de emergência, sobrecarga de trabalho, incômodo, calor, falta de

conhecimento do uso e manuseio e principalmente, à falta de conscientização e

subestimação do risco (FLORÊNCIO et al., 2003; MELO et al., 2006; SOUZA, 2001;

SOUZA et al., 2008a).

A percepção do risco é um forte fator motivador para determinar se as PP

devem ou não ser seguidas (CUTTER; GAMMON, 2007). O que mais preocupa é

que apesar dos riscos visíveis a que os trabalhadores de enfermagem estão

expostos, eles desempenham suas atividades, muitas vezes, sem equipamentos de

proteção individual, até mesmo desprovidos de quaisquer questionamentos sobre

sua segurança pessoal. Ao que parece, tudo já é tão familiar que não representa

risco algum (SOUZA, 2001).

A ocorrência de situações de risco leva à percepção da susceptibilidade a

esses riscos, desencadeando estímulos para a ação, sendo que a possibilidade de

tomar uma decisão em direção ao comportamento preventivo é maior do que

quando ele subestima o risco ou não se percebe exposto (ROSENSTOCK, 1974a).

O primeiro passo para prevenir riscos no local de trabalho é conhecer esses

riscos, de que forma eles ocorrem, quem está exposto a eles e que medidas podem

ser adotadas a fim de preveni-los ou minimizá-los. A percepção do risco de acidente

17

é que levará o trabalhador a aderir às medidas sabidamente eficazes para a sua

proteção (SOUZA, 2001).

Contudo, a não adesão ou a baixa adesão às recomendações quanto a

utilização de barreiras de proteção é a realidade atual. Sadoh et al. (2006)

constataram que menos de dois terços dos profissionais da enfermagem usavam o

EPI. O estudo de Ganczak e Szych’s (2007) demonstrou que somente 5% das

enfermeiras do centro cirúrgico utilizavam todos os EPI quando em contato com

material potencialmente infectante. Esses dados nos levam a indagar sobre outros

fatores que podem contribuir para esse tipo de comportamento por parte dos PAS,

muitos ainda desconhecidos.

Apropriadas estratégias podem beneficiar a adesão ao EPI e reduzir os riscos

de infecção, porém é imprescindível entendermos porque a adesão é tão baixa. As

recomendações das precauções padrão desde que incluíram os conceitos das

precauções universais, têm sido aplicadas há mais de 15 anos. Essa prevenção

primária das exposições ocupacionais continua a ser eficaz e eficiente na proteção

dos trabalhadores da saúde, no entanto, verificamos que a adesão a essas medidas

é, por vezes, descontínua e contraditória e leva a potencialização dos riscos e

aumento substancial de exposições ao material biológico.

As atividades educativas têm se revelado como boa estratégia diante da

adesão às PP, especialmente ao EPI, porém os efeitos da educação permanente

frente às medidas de controle de infecção hospitalar são de curta duração

(CUTTER; GAMMON, 2007; HINKIN; GAMMON; CUTTER, 2008; NEVES et al.,

2006; RASKIND et al., 2007).

O estudo de Brevidelli e Cianciarulo (2006) constatou que apesar da

educação ter tido forte influência sobre o comportamento dos profissionais da saúde,

apontam a necessidade de re-elaborar seu foco de atenção para a criação de uma

consciência sobre o risco envolvido na prática clínica. Sugerem também, uma

abordagem educativa associada aos riscos ocupacionais e aos procedimentos de

trabalho, de tal forma que os profissionais sejam capazes de perceber o uso de

todos os equipamentos de proteção individual.

Diante disso, consideramos que as intervenções educativas necessitam ser

abordadas sob o enfoque problematizador que, a partir das vivências dos próprios

profissionais, possam discutir fragilidades, potencialidades e construir, de forma

consciente, estratégias capazes de mudar a prática de segurança na assistência.

18

Melhorar a adesão envolve mudança de comportamento e incluem múltiplas

variáveis como razões, crenças, atitudes e percepção do risco dos PAS. A

identificação desses fatores, assim como a incorporação destes às intervenções no

âmbito do controle de infecção, proporcionará mudanças individuais de

comportamento frente à proteção e segurança no trabalho.

Apesar de fácil compreensão, a implementação das PP para a enfermagem

ainda representa um desafio. Dentre os motivos que interferem na adesão a estas

medidas para os profissionais estão os aspectos da subjetividade como crenças,

valores, percepções e atitudes (GIR et al., 2004; MELO et al., 2006). Teoricamente

as normas de biossegurança são aceitas por todos, no entanto elas ainda não

permeiam a prática diária com a mesma intensidade. Valores diferenciados são

atribuídos ao risco de infecção conforme a categoria profissional, a atividade

executada e o tempo de experiência na assistência a pacientes considerados de

risco.

As propostas dos programas de incentivo às práticas de biossegurança,

dentre elas as relacionadas ao uso do EPI, focalizam predominantemente os

aspectos epidemiológicos, biológicos e econômicos, deixando de lado os fatores

históricos, sócio-culturais e psicológicos dos PAS. No nosso ponto de vista, falar em

políticas de controle de infecção e adesão a essas medidas implica em considerar

os determinantes das práticas cotidianas, dos profissionais da área da enfermagem,

atreladas às crenças, atitudes, valores e normas.

A adesão ao equipamento de proteção individual, portanto, como fenômeno

complexo, não pode ser reduzido a apenas aspectos da lógica racional, devendo ser

consideradas também as influências sócio-culturais, psicológicas, emocionais e

principalmente, as relações interpessoais.

Nessa perspectiva, investigar os aspectos do universo simbólico desses

trabalhadores expressados pela forma como produzem o trabalho a partir de regras,

códigos e convenções inseridos em um processo sócio-histórico, o qual interfere no

modo de produção do trabalho e sua segurança, torna-se importante, no sentido de

contribuir para a melhora da adesão aos equipamentos de proteção individual.

E quais são os determinantes desse universo simbólico que influenciam na

adesão ao EPI? Com essa inquietação, ingressamos no Mestrado em Enfermagem

com o intuito de entender a problemática verificada na adesão aos EPI. Alicerçadas

pela pesquisa qualitativa, visamos à compreensão desses fatores que impulsionam

19

ou não a adesão ao equipamento de proteção individual, pelos trabalhadores da

área da enfermagem.

20

1. OBJETIVO - Analisar as razões, atitudes e crenças dos trabalhadores de enfermagem

referentes à adesão aos equipamentos de proteção individual.

21

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Precauções padrão

Na década de 80 com a emergência de novos patógenos e de

microrganismos multidrogaresistentes e a situação de epidemia e endemia

relacionadas a infecção nosocomial, levaram a indagações que culminaram com a

criação do “Guideline for Isolation Precautions in Hospital”, publicado em 1983

(GARNER; SIMMONS, 1983).

Essas precauções incluíram a proteção contra os vírus HIV, hepatite B (VHB)

e outros patógenos veiculados pelo sangue durante a exposição ocupacional e

continha muitas mudanças importantes. Uma das mais relevantes foi em relação a

maior ênfase dada às tomadas de decisões por parte dos profissionais da área da

saúde. As CCIH poderiam escolher entre as categorias específicas de doença ou

específicas de isolamento e até mesmo desenvolver um sistema exclusivo de

isolamento adequado às suas necessidades e circunstâncias de acordo com as

orientações dos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (GARNER;

SIMMONS, 1983).

Outro ponto importante foi em relação à proteção individual. Essa estratégia

encorajava a tomada de decisão por parte do profissional, definindo a necessidade

do uso de EPI, mediante exposição a materiais contaminados (GARNER;

SIMMONS, 1983).

Um fato que inegavelmente revolucionou as medidas de precauções e

isolamento foi o advento da aids. A transmissão da aids ocupacional tomou maior

dimensão para os trabalhadores da saúde a partir do primeiro caso comprovado

ocorrido com uma enfermeira em um hospital da Inglaterra em 1984 (NEEDLESTICKS

TRANSMISSION OF HTLV-III, 1984).

A expansão dessa doença na década de 80 e as intervenções pouco

eficazes para seu controle provocaram questionamentos dos modelos

epidemiológicos vigentes e dos modelos de prevenção, sendo determinantes para

que se pudesse repensar o conceito de risco e avançar nas questões da

vulnerabilidade (NICHIATA et al., 2008).

22

Assim em 1987, na tentativa de diminuir o risco de transmissão ocupacional

de patógenos veiculados pelo sangue, os CDC publicaram as Precauções

Universais (PU). Essas precauções se destacavam por reconhecer a universalidade

do risco e a necessidade de adoção de medidas preventivas no atendimento a todo

e qualquer paciente, independente do diagnóstico (CDC, 1987, 1988).

As PU incluíam o uso de barreiras para a proteção do profissional como o

avental, luvas, óculos, com grande ênfase para a lavagem de mãos e cuidado com

material perfurocortante (CDC, 1987, 1988).

Porém, as PU não se aplicavam a fezes, urina, secreções nasais, escarro,

suor, lágrimas ou vômitos, uma vez que esses fluidos não foram associados de

forma epidemiológica à transmissão de patógenos (CDC, 1987, 1988).

Concomitantemente ao surgimento das PU, foi proposto o sistema de

Isolamento de substâncias orgânicas que estendia a aplicação de precauções ao

manuseio de todos os fluidos orgânicos, incluindo aqueles que não estavam

contidos nas precauções universais. Um ponto polêmico dessas medidas era a

utilização indiscriminada de luvas como barreiras de proteção ao manusear fluidos

orgânicos, em detrimento da lavagem de mãos (GARNER, 1996).

Em 1996, após revisão, as precauções universais foram re-editadas com o

nome de Precauções Padrão (PP) sintetizando a maioria das PU e das precauções

com fluidos orgânicos. Tal norma amplia os cuidados não apenas para o sangue,

mas também para todas as secreções orgânicas com exceção de lágrimas e suor.

Inclui também apropriada higienização das mãos e precauções do tipo barreira, com

o uso de luvas para o manuseio de todos os fluidos orgânicos, dentre outros

(GARNER, 1996).

Porém, somente as PP não são suficientes para assegurar a proteção do

PAS. Associadas a essas condutas, neste manual de 1996, foram estabelecidas

práticas adicionais específicas, baseadas no mecanismo de transmissão das

doenças, que incluíram as precauções respiratórias para gotículas, precauções

respiratórias para aerossóis e precauções de contato (GARNER, 1996).

Essas medidas devem ser adicionais às PP e adotadas no atendimento a

pacientes sob suspeita ou diagnóstico confirmado de doenças transmitidas por

patógenos epidemiologicamente importantes como, por exemplo, M. tuberculosis,

vírus do sarampo, MRSA, dentre outros (GARNER, 1996).

23

As precauções respiratórias para gotículas são indicadas para pacientes

portadores de microrganismos transmitidos pela via respiratória (partículas maiores

que 5 micra), nas quais podem ser geradas por meio de tosse, espirro, fala ou na

realização de alguns procedimentos que envolvem o manuseio do trato respiratório

(GARNER, 1996; SIEGEL et al., 2007).

Os agentes infecciosos para os quais são indicadas essas precauções

incluem patógenos como o vírus da influenza, adenovírus e N. meningitides. Para

esta situação é indicado o uso de máscara cirúrgica para o PAS e quarto privativo

para o paciente. Quando estritamente necessário, para o transporte dos pacientes

com precauções para gotículas, deve-se utilizar uma máscara cirúrgica, visando à

proteção coletiva (GARNER, 1996; SIEGEL et al., 2007).

As precauções respiratórias para aerossóis são medidas utilizadas para evitar

a transmissão de agentes infecciosos que podem ser dispersados para outros

ambientes do meio intra-hospitalar e permanecerem alocados no ambiente por

várias horas como, por exemplo, M. tuberculosis e vírus da varicela (CDC, 2005).

Essas medidas devem ser adotadas em pacientes sob suspeita ou

portadores de microrganismos transmitidos por aerossóis (partículas menores que 5

micra). Para essa situação são indicados quarto privativo para o paciente com

controle do ar, pressão negativa, sistema com trocas de ar/hora, saída apropriada do

ar ou filtro High Efficiency Particulate Air (HEPA), bem como manutenção de portas

fechadas. Para o PAS é recomendada a proteção respiratória por meio da máscara

N95 no momento da assistência ao paciente e durante o tempo de permanência no

quarto. Quando estritamente necessário, para o transporte do paciente, deve-se

utilizar uma máscara cirúrgica (CDC, 2005).

As precauções de contato visam evitar a transmissão de agentes infecciosos

epidemiologicamente importantes, como o vírus do herpes e escabiose, por meio do

contato direto e indireto. São indicadas em todas as situações que houver contato

com o paciente colonizado ou infectado por esses patógenos (GARNER, 1996;

SIEGEL et al., 2007).

Para essa precaução é indicado quarto privativo para o paciente e para o

PAS, o uso de avental e luvas em todas as interações que houver contato direto ou

indireto com o paciente. Os equipamentos de proteção devem ser colocados antes

de entrarem no quarto e retirados imediatamente após saírem, ao término da

assistência (GARNER, 1996; SIEGEL et al., 2007).

24

Com a transição do sistema de saúde do ambiente hospitalar para o extra-

hospitalar, como o atendimento domiciliar, ambulatorial e em relação aos cuidados

de longa duração, vislumbrou-se a necessidade de aplicar os princípios de controle

de infecção em todas as situações independente do local. Nesse contexto, em 2007

com a revisão das PP, foram publicadas as Precauções de Isolamento (PI) e o termo

infecção hospitalar (IH) foi ampliado para infecção associada a cuidados em saúde

(IACS) (SIEGEL et al., 2007).

Devido a experiência bem sucedida das PP, as diretrizes do novo manual

vêm reafirmá-las e adicionar as práticas seguras de injeção. Essas práticas incluem

a utilização de dispositivos de segurança, devido ao risco representado para os

pacientes, especialmente em relação aos frascos de multi-dose e ao crescente

número de surtos de pacientes e de PAS infectados com os vírus HIV, HBV e HCV

(SIEGEL et al., 2007).

As PP têm se mostrado eficazes na redução de IACS tanto na saúde dos

pacientes quanto dos PAS (BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006; CULLEN et al.,

2006; HINKIN; GAMMON; CUTTER, 2008; MELO et al., 2006; SIEGEL et al., 2007;

SOUZA et al., 2008a).

Para Melo et al. (2006) as PP são um conjunto de ações planejadas, que

objetivam a proteção dos pacientes e profissionais. Dessa forma, o uso das PP

constitui-se uma prevenção primária da exposição a material biológico, sendo

considerada uma maneira segura e necessária para reduzir a exposição ocupacional

a sangue e outros fluidos corpóreos.

As PP incluem o uso de EPI visando a proteção coletiva e em especial, a do

profissional da saúde. Os equipamentos de proteção referem-se a barreiras

utilizadas isoladamente ou em combinação para promover a proteção das

membranas mucosas, vias aéreas, pele e vestuário dos PAS, sempre que houver

possibilidade de exposição a material biológico ou contato com agentes infecciosos.

A seleção desses equipamentos deve ser de acordo com a natureza da interação

com o paciente e/ou provável modo de transmissão (MELO, 2005; SIEGEL et al.,

2007).

Os equipamentos de segurança são elementos fundamentais necessários

para a prevenção da transmissão de agentes infecciosos nos cuidados em saúde e

de acordo com o guia dos CDC de 2007 (SIEGEL et al., 2007), incluem:

25

Luvas: usadas para prevenção de contaminação das mãos dos PAS quando:

contato direto antecipado a sangue ou fluidos corpóreos, membranas mucosas, pele

não intacta e outros materiais potencialmente contaminados; contato direto com

pacientes que são colonizados ou infectados com patógenos transmitidos pelo

contato direto, como por exemplo, Methicillin Resistant Staphylococcus aureus

(MRSA); o manuseio ou toque de superfícies ou artigos potencialmente

contaminados utilizados no cuidado ao paciente.

As luvas quando usadas em combinação com outros EPI devem ser as

últimas a serem colocadas e as primeiras a serem retiradas. Reduzem a transmissão

de microrganismos veiculados pelo profissional tanto para a equipe de trabalho,

quanto para os pacientes, além de promover proteção ao paciente, sobretudo em

procedimentos que exigem os princípios da assepsia.

As luvas devem ser substituídas, no mesmo paciente sempre que houver

mudança de sítio para prevenir contaminação cruzada; a cada paciente; e quando a

interação envolver cuidados ao paciente e ao manuseio de equipamentos. São de

uso único e não devem ser reutilizadas, pois sua integridade não é garantida (REIS

et al., 2008; SIEGEL et al., 2007).

A proteção evidenciada pelas luvas diante de um acidente com material

perfurocortante ainda não é determinada, mas sabe-se que ela reduz o volume de

sangue que entra em contato com o PAS (LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007; SIEGEL

et al., 2007).

Avental: tem a finalidade de proteger os braços, o corpo e o vestuário do

PAS da contaminação com sangue, fluidos corporais e outros materiais

potencialmente infecciosos. Deve ser usado sempre em combinação com as luvas e

os outros EPI em todas as situações que houver a possibilidade de contato com

sangue, líquidos corporais, secreções, excreções ou artigos contaminados, ou nas

situações de assistência a pacientes em precauções de contato e isolamento.

Nos SAS vários tamanhos de avental devem estar disponíveis para garantir

adequada proteção. O avental é a primeira peça a ser colocada e deve ser removido

de forma a evitar a contaminação da pele e roupas do profissional.

Esse equipamento de proteção reduz a possibilidade de transmissão de

microrganismos para o profissional, equipe e pacientes, sendo assim, imprescindível

a utilização deste ao atender os pacientes (MELO, 2005). Eles devem ser trocados

26

por período de atendimento ou, no máximo, diariamente, e sempre que estiverem

visivelmente sujos (TIPPLE et al., 2003). A literatura evidencia que uma pequena

redução na transmissão de MRSA é atribuída ao aumento do uso do avental

(GRANT et al., 2006).

Máscara: as mucosas da boca, nariz e olhos são portas de entrada

suscetíveis à infecção pela exposição durante a realização de procedimentos.

Portanto, a utilização de EPI para proteger estes sítios do corpo é um componente

importante das precauções padrão.

As máscaras são utilizadas para proteger o PAS quando há a possibilidade de

respingos e aerossóis de sangue, fluidos corporais, secreções e excreções na face

ou na mucosa durante o atendimento ao paciente. Podem ser usadas em

combinação com os óculos protetores, propiciando uma proteção mais ampla.

Conforme o procedimento realizado, considerando o tamanho da partícula

aérea infectada ou passível de contaminação, há indicação de diferentes tipos de

máscaras de acordo com a sua capacidade e devem ser selecionadas de acordo

com o nível de exposição. As máscaras possuem diferentes formas, modelos,

tamanhos, eficiência de filtração, e método de fixação (por exemplo, laços,

elásticos).

Nos SAS diversos tipos de máscaras são necessários para satisfazer

necessidades individuais dos PAS. As máscaras devem ser utilizadas de forma a

cobrir boca e nariz, trocadas entre clientes sempre que possível e descartada

imediatamente após o uso.

Protetores oculares e faciais: eles devem ser utilizados sempre que houver

possibilidade de respingo e/ou aerossóis de sangue ou fluidos corpóreos. É

necessária a disponibilização de diferentes tipos, estilos e tamanhos dos óculos de

proteção, bem como serem confortáveis, suficientes para permitirem uma visão

periférica, além de ajustáveis para garantir uma segurança adequada.

Lentes de contato e óculos corretivos não substituem os óculos protetores e,

há modelos que são perfeitamente adaptáveis aos óculos de correção (BRASIL,

2005; SIEGEL et al., 2007; SOUZA et al., 2008a).

Embora os óculos ofereçam uma proteção eficaz às mucosas oculares, os

protetores faciais proporcionam uma ampla proteção além dos olhos, quando há

27

possibilidade de grande quantidade de aerossóis e respingos. Vale salientar que os

protetores faciais não substituem o uso de máscara. Mesmo que não haja aerossóis

recomenda-se a utilização desses equipamentos para patógenos específicos do

trato respiratório.

A remoção dos protetores faciais e oculares pode ser realizada com

segurança após a retirada das luvas, sendo imprescindível a higienização das mãos

em seguida. Os laços, peças nas orelhas e/ou cabeça utilizados para fixar o

equipamento são considerados "limpas” e, portanto, seguros para tocar com as

mãos. No entanto, a frente de uma máscara, óculos e protetor facial são

considerados contaminados.

Os óculos protetores são artigos reutilizáveis e requerem limpeza com água e

sabão entre os atendimentos (SOUZA et al., 2008a) e quando há exposição a

secreções, como ocorre com os aerossóis, a desinfecção é aconselhada (GARNER,

1996).

Os sapatos fechados também são considerados EPI obrigatórios para os

PAS, de acordo com a NR 32/2005 do Ministério do Trabalho, pois têm a finalidade

de eliminar os riscos de exposição a material biológico e evidenciar maior proteção a

esses trabalhadores (BRASIL, 2005).

Equipamento de proteção individual é fundamental para uma prática segura

em serviços de assistência à saúde. Entretanto, essa segurança se efetivará não

apenas pela adoção destes equipamentos, mas pela forma como são utilizados e

manuseados (TIPPLE et al., 2003). Diante disso, Siegel et al. (2007) recomendam a

forma de colocação e remoção desses equipamentos.

Ao colocar os equipamentos de proteção primeiramente devemos colocar o

avental, seguido das máscaras, posteriormente os protetores oculares e faciais e por

último as luvas (Figura 1).

28

Figura 1: Exemplo de colocação do EPI de forma segura. Fonte: Siegel JD, Rhinehart E, Jackson M, Chiarello L. Health Care Infection Control Practices Advisory Committee. Guideline for Isolation Precautions: Preventing Transmission of Infectious Agents in Health Care Settings. Am J Infect Control. 2007;35(10 Suppl 2):S65-164.

Da mesma forma, a sequência para retirar os equipamentos deve ser

observada. As luvas são as primeiras a serem retiradas, em seguida os protetores

faciais e oculares, posteriormente o avental e por último a máscara (Figura 2).

Figura 2: Exemplo de remoção do EPI de forma segura. Fonte: Siegel JD, Rhinehart E, Jackson M, Chiarello L. Health Care Infection Control Practices Advisory Committee. Guideline for Isolation Precautions: Preventing Transmission of Infectious Agents in Health Care Settings. Am J Infect Control. 2007;35(10 Suppl 2):S65-164.

29

Desenvolver e validar um protocolo para a remoção do EPI que evita a

contaminação da pele e das roupas do PAS é uma importante chave que tem como

intuito interromper a transmissão nosocomial de agentes infecciosos.

Casanova et al. (2008), ao avaliarem a remoção do EPI para verificar a

contaminação do PAS com patógenos, demonstraram que o protocolo estabelecido

pelo CDC ainda é insuficiente para proteger PAS de contaminação durante a

remoção do equipamento de proteção.

Assim sugerem alternativas para prevenir essa contaminação, tais como o

uso de duas luvas, para não manusear o EPI sem luvas; a utilização de protocolos

cirúrgicos para remoção e EPI impregnado com um agente antimicrobiano,

reduzindo ou eliminando a contaminação da pele e roupas dos PAS (CASANOVA et

al., 2008). Entretanto, vale salientar o grande progresso e avanço nas questões

referentes à segurança e à proteção dos PAS com a criação de um protocolo de

colocação e remoção desses equipamentos para o estabelecimento de

padronização de rotinas.

É importante ressaltar que a higienização das mãos deve ser sempre

realizada antes da colocação do EPI e após a remoção e eliminação destes

(CASANOVA et al., 2008; SIEGEL et al., 2007).

2.2. A adesão ao EPI na prática da enfermagem O trabalho, por ser uma atividade eminentemente social, exerce um papel

fundamental nas condições de vida do homem. Produz efeito positivo quando é

capaz de satisfazer às necessidades básicas de subsistência, de criação e de

colaboração dos trabalhadores. Por outro lado, ao realizá-lo, o homem expõe-se

constantemente aos riscos presentes no ambiente laboral, os quais podem interferir

diretamente em sua condição de saúde (MELO, 2005).

Entre os trabalhadores da área da saúde, os profissionais da enfermagem são

indivíduos expostos aos variados riscos, tais como os causados por agentes

químicos, físicos, biológicos, psicossociais e ergonômicos. O grupo de maior

percentual de acidentes com material biológico são os profissionais da enfermagem,

pois permanecem mais tempo e em contato direto com os pacientes durante a

30

assistência, em virtude da rotina profissional (ALMEIDA; BENATTI, 2007;

BALSAMO; FELLI, 2006; GIR et al., 2008; LEIGH et al., 2008; MOURA; GIR;

CANINI, 2006; PAULINO; LOPES; ROLIM, 2008).

Jovic-Vranes et al. (2006) constataram que de acordo com as frequentes

exposições percutâneas e o contato da pele com sangue ou outros materiais

contendo líquidos corpóreos, a enfermagem foi a categoria profissional mais exposta

ao risco biológico. Entretanto, revelou os menores índices de auto-proteção.

Diante do risco biológico, as infecções mais preocupantes são aquelas

causadas pelos vírus da aids (HIV), da hepatite B (HBV) e da hepatite C (HCV)

(BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006). A principal via de transmissão ocupacional

aos vírus HIV, HBV e HCV é por meio da exposição a sangue via acidente

percutâneo. A literatura também evidencia que mais de 60 patógenos podem ser

veiculados por essa via de transmissão incluindo vírus, bactéria/rickettsia, parasitas

e leveduras (TARANTOLA; ABITEBOU; RACHILINE, 2006).

Os riscos de exposição ao HIV, HBV e HCV são proporcionais ao manuseio

de materiais perfurocortantes e fluidos orgânicos, sendo que o risco médio de

infecção pelo HCV após acidente ocupacional percutâneo é de 1,8%, podendo variar

de 0 a 7%. Em relação ao HBV, quando o paciente fonte é HbeAg positivo o risco

está estimado entre 6 a 30%, podendo atingir até 60%, quando nenhuma medida

profilática for adotada. Quando o paciente-fonte é positivo para o vírus HIV, o risco é

de aproximadamente 0,3 em exposição percutânea e de 0,09% após exposição de

membrana mucosa. E nas exposições com pele íntegra esse risco, embora exista, é

muito baixo e ainda não foi quantificado (BRASIL, 2006; CDC, 2001).

Existem fatores de risco que favorecem a contaminação pelos vírus HIV, HBV

e HCV, como a presença de lesão profunda, sangue visível no dispositivo, alta carga

viral (acima de 30.000 cópias), agulha previamente aplicada em veia ou artéria,

presença de lesões da pele ou mucosa exposta (como dermatites, corte e

queimaduras), maior tempo de exposição a secreções e área extensa exposta

(BRASIL, 2004; BRASIL, 2006; CDC, 2001).

O risco biológico representa 81% do total dos riscos a que os PAS estão

expostos no ambiente de trabalho (GIMENO et al., 2005). Em um estudo realizado

por Iwamoto et al. (2008), no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) no período de 2005 e 2006,

identificou que, de acordo com a classificação dos trabalhadores segundo os riscos,

31

a maior parte desses trabalhadores 1.851 (60,14%) foram incluídos no grupo de

risco biológico.

Em 392 notificações de acidentes sofridos pelos trabalhadores de

enfermagem do estado do Paraná, entre os anos de 1997 a 2002, o risco biológico

representou 54,7% dos 717 acidentes notificados, evidenciando que o risco da

enfermagem é o dobro do risco de todos os outros trabalhadores, confirmando a

relevância do problema (SÊCCO; ROBAZZI, 2007).

Os acidentes acontecem em situações em que as medidas preventivas nem

sempre foram adotadas (ALMEIDA; BENATTI, 2007), sendo que as circunstâncias

mais frequentes que envolvem esses acidentes para os profissionais da

enfermagem são descarte de perfurocortante, administração de medicamentos,

reencape de agulha, coleta de sangue, punção venosa, aspiração orotraqueal e

limpeza, desinfecção ou esterilização de material (GALON; ROBAZZI; MARZIALE,

2008; OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2008; PAULINO;

LOPES; ROLIM, 2008).

Balsamo e Felli (2006), em estudo que objetivou caracterizar os trabalhadores

do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, que sofreram acidentes de

trabalho com exposição aos líquidos corporais, identificaram que em 73% dos

acidentes houve presença de sangue e 20,83% dos trabalhadores informaram que

não estavam usando o equipamento de proteção individual.

No estudo de Galon, Robazzi e Marziale (2008) em 81 (86,17%) acidentes,

houve presença de sangue, os olhos ocuparam o segundo lugar como a região do

corpo mais atingida durante o acidente com 15 exposições e quando analisados os

formulários de notificação de acidentes, 89% não apresentavam informações quanto

ao uso do equipamento de proteção individual.

Essa situação é relevante, uma vez que esses acidentes são considerados

evitáveis graças ao uso dos óculos de proteção. Diante disso, o não uso dos óculos

protetores é vislumbrado na literatura, revelando uma baixa adesão dos profissionais

a esse equipamento, variando de 2% a 78% (BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006;

MANIAN; PONZILLO, 2007).

É recomendado que os PAS devam usar o EPI para qualquer contato com

sangue ou fluidos corpóreos, independente do diagnóstico. No entanto, a pesquisa

de Ganczack e Szych (2007) identificou que apesar do risco associado com o

contato com sangue, a adesão das enfermeiras ao EPI foi mínima, sendo que o uso

32

de luvas foi 83%, óculos de proteção 9% e em relação ao avental apenas um terço

informaram usarem regularmente.

As luvas funcionam como barreiras mecânicas e auxiliam na diminuição do

risco de contato com patógenos veiculados pelo sangue, reduzem o volume de

sangue injetado por agulhas, dado que, os fatores de risco para aquisição de vírus

depois da exposição ocupacional dependem da quantidade e do grau de contato do

trabalhador com o sangue inoculado. Entretanto, muitas vezes os PAS

desconhecem essa informação e acreditam que o uso deste EPI não diminui a

inoculação de sangue, o que tem sido uma barreira para a adequada utilização da

luva (ZAPPAROLI; MARZIALE; ROBAZZI, 2006).

Nishide, Benatti e Alexandre (2004) ao identificarem os acidentes de trabalho

ocorridos com os trabalhadores de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva de

um hospital universitário, verificaram que os acidentes de maior incidência (50%)

foram o contato de pele e mucosas com sangue e excretas. Em relação à utilização

dos EPI no momento do acidente, 60% dos trabalhadores não faziam uso.

Segundo Pinheiro e Zeitoune (2008) a utilização de EPI pela equipe de

enfermagem foi de 68,2%. Evidencia-se também a não utilização do EPI (FARIAS;

ZEITOUNE, 2005), dados que vêm ao encontro dos resultados da pesquisa de Gir et

al. (2008) sobre a análise das exposições com material biológico potencialmente

contaminado, dos quais em 114 (67,1%) dos casos, não havia informação sobre o

uso do equipamento de proteção e seis (3,5%) relataram que não usavam nenhum

tipo de equipamento no momento do acidente.

O EPI é o maior facilitador para a prevenção de acidentes, no entanto, a

resistência do profissional em utilizá-lo em decorrência da falta de adesão e ao uso

incorreto são as principais barreiras para prevenir esses acidentes (MALAGUTI et

al., 2008).

Os EPI, como as luvas, óculos de proteção, máscara, sapatos fechados e

aventais são essenciais medidas que evitam ou reduzem os riscos de exposição.

Entretanto, mesmo com a disponibilidade desses equipamentos nos locais de

trabalho, os PAS não os utilizam devido a fatores como, o desconforto, incômodo,

descuido, esquecimento, falta de hábito, inadequação dos equipamentos,

quantidade insuficiente do mesmo e a não utilização por achar desnecessário

(NISHIDE; BENATTI; ALEXANDRE, 2004; SOUZA et al., 2008a, 2008b; TIPPLE et

al., 2007).

33

Somados a esses fatores individuais do não uso do EPI observamos na

literatura também que essa baixa adesão é agravada pela precária infraestrutura,

aspectos organizacionais do trabalho, falta de EPI, falta de conhecimento devido a

não existência de educação permanente, assim como sobrecarga de trabalho,

estresse, cansaço físico e falta de tempo (CASTRO; FARIAS, 2008; DAMASCENO

et al., 2006; GIMENO et al., 2005; JOVIC-VRANES; JANKOVIC; VRANES, 2006;

LEIGH et al., 2008; RIBEIRO; SHIMIZU, 2007)

Em face do conhecimento do risco, a exposição ocupacional a material

biológico é uma das questões mais proeminentes na área de Segurança

Ocupacional (BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006). A gravidade do problema levou o

Brasil a instituir em 2005 a Norma Regulamentadora (NR 32), que estabelece as

diretrizes básicas para a aplicação de medidas de proteção à segurança e à saúde

dos trabalhadores dos serviços de saúde, com a finalidade de melhorar as

condições laborais nesses setores e minimizar os vários problemas ocupacionais

existentes (BRASIL, 2005).

Essa norma preconiza ainda que os serviços de assistência à saúde (SAS)

devem disponibilizar os EPI necessários em quantidade e qualidade suficientes à

execução das atividades, instruir os PAS em relação ao uso, bem como a

fiscalização do uso desses equipamentos de proteção, sendo dever dos

profissionais usá-los (BRASIL, 2005).

Farias e Zeitoune (2005) referem à percepção dos riscos pela equipe de

enfermagem e a ideia de que são inevitáveis devem ser modificadas, pois esses são

passíveis de prevenção. É de extrema relevância conhecê-los para que a

enfermagem desenvolva mecanismos de controle e proteção adequados,

objetivando a promoção da própria saúde e a dos demais profissionais da área da

saúde.

A prevenção de transmissão ocupacional de patógenos requer medidas

diversificadas para reduzir o risco. Sendo assim, as precauções padrão são

consideradas como uma das principais medidas preventivas para se evitar a

exposição e o apropriado uso do EPI pode minimizar consideravelmente esses

riscos.

Portanto, realizar a prevenção e o controle das infecções ocupacionais

relacionadas aos processos assistenciais à saúde é promover ações que têm como

fim a promoção e proteção à vida de seres humanos.

34

Porém, a aplicação das precauções não é suficiente para garantir as medidas

de prevenção, devendo fazer parte das estratégias as reflexões a respeito das

mudanças de comportamento e as causas dos acidentes (BALSAMO; FELLI, 2006).

Observamos que a adesão ao uso de EPI está intimamente relacionada à

percepção que os profissionais têm acerca dos riscos a que estão expostos e da

susceptibilidade a estes riscos. Os profissionais da área da enfermagem que

autoavaliam o risco de sofrerem acidentes percutâneos como “baixo” ou “médio”, em

seu setor de trabalho, têm maior chance de se acidentar, quando comparados com

aqueles que avaliam o risco como “alto” (CANINI et al., 2008).

Keller et al. (2005) identificaram que o equipamento de proteção era utilizado

pelas enfermeiras de maneira diferenciada, sendo seu uso baseado no nível de risco

durante o trabalho e de acordo com a interação com o paciente.

A relação entre o conhecimento e a adesão ao uso de barreiras de proteção

muitas vezes não é convergente. Os PAS conhecem os riscos de forma genérica,

porém esse conhecimento não se transforma numa ação segura de prevenção de

acidentes e doenças ocupacionais, apontando para a necessidade de uma ação que

venha modificar essa situação.

A falta de conhecimento e a fraca percepção do risco levam os profissionais

a utilizarem os equipamentos de segurança apenas mediante a confirmação do

diagnóstico. Essa falsa segurança aumenta significativamente a probabilidade de

aquisição de infecções transmitidas ocupacionalmente (CAIXETA; BARBOSA-

BRANCO, 2005; TIPPE et al., 2007).

Assim, diante dos riscos a que os PAS estão expostos e das práticas

observadas em relação à adoção das medidas de segurança recomendadas,

compreender os fatores que influenciam na tomada de decisão para a (des)

proteção torna-se imprescindível para que possamos refletir a prática dessas

medidas no cotidiano da equipe de enfermagem e direcionar estratégias que

propiciem a incorporação destas nos SAS.

35

2.3. Modelo de Crenças em Saúde

Alguns modelos teóricos tentam explicar a adoção de comportamentos

preventivos ao estabelecer relações entre o comportamento e as crenças

individuais. Dentre esses modelos elegemos para esse estudo o Modelo de Crenças

em Saúde (MCS) proposto por Rosenstock (1974a).

O MCS foi desenvolvido na década de 50, por um grupo de psicólogos

sociais, com o intuito de elucidar o comportamento em saúde das pessoas em

relação à reorientação do serviço de saúde pública dos EUA, que priorizou

programas de prevenção e detecção em detrimento do tratamento de doenças

(ROSENSTOCK, 1974a).

Essa reorientação, segundo Rosenstock (1974b), evidenciou a baixa

participação e a resistência das pessoas em aderir à prevenção das doenças, assim

como aos testes para a detecção precoce de doenças como tuberculose, câncer

cervical, febre reumática, poliomielite e influenza. Mesmo quando essas medidas

preventivas eram oferecidas a população gratuitamente ou a baixo custo, a baixa

adesão era observada.

O MCS foi publicado por Rosenstock (1966), e revelou a influência das

crenças e outras variáveis como idade, sexo, raça e classe social, no

comportamento preventivo em saúde.

Segundo esse modelo, a adoção de um comportamento preventivo depende:

do indivíduo se considerar suscetível a um problema de saúde, ou seja, acreditar

que esse problema pode afetá-lo (percepção da suscetibilidade); de o indivíduo

associar o problema de saúde à gravidade de suas consequências (percepção da

severidade); e acreditar que o problema de saúde pode ser prevenido com ações

(percepção de benefícios), cujos benefícios superam os aspectos negativos, tais

como impedimentos financeiros, desconforto, vergonha (percepção de barreiras)

(ROSENSTOCK, 1974b).

Os benefícios da ação são avaliados em função das barreiras para realizá-la.

Além disso, a presença de estímulos para a ação é importante para desencadear as

percepções de susceptibilidade e severidade, e motivar o indivíduo a agir

(ROSENSTOCK, 1974b).

36

A tomada de decisão em saúde, segundo Rosenstock (1974b) é um processo

mediado por quatro dimensões: suscetibilidade percebida, severidade percebida,

benefícios percebidos e barreiras percebidas.

Susceptibilidade percebida

Refere-se ao risco percebido de contrair uma doença. A aceitação da

susceptibilidade à doença sofre influência de fatores sócio-demográficos, varia entre

os indivíduos em três aspectos. Há aqueles que têm medo de toda e qualquer

possibilidade de contrair uma doença; outros que admitem a possibilidade estatística

de ocorrência de uma doença, mas a considera como uma possibilidade que

provavelmente não venha acontecer; e finalmente aqueles que expressam um

sentimento de que está realmente em perigo de contrair a doença.

Severidade percebida

A percepção da severidade está relacionada à percepção do perigo, ao medo

de adquirir a doença e às consequências que o indivíduo acredita que esta poderia

provocar em sua vida. A intensidade da severidade da doença é avaliada tanto pelo

grau de estimulação emocional criado em torno dela, como pelas consequências

biológicas, sociais, emocionais e financeiras que ela poderá acarretar.

A severidade de um determinado problema de saúde pode variar de pessoa

para pessoa e inclui implicações mais amplas e mais complexas como os efeitos da

doença sobre o seu trabalho, sobre a sua vida familiar, social e suas relações.

A percepção da susceptibilidade e da severidade da doença possui forte

componente cognitivo sendo, portanto, dependente do conhecimento.

Benefícios percebidos

Relacionam-se aos aspectos da ação em saúde percebidos como benéficos

para a tomada de decisão.

A percepção da susceptibilidade e da severidade da doença pode motivar o

indivíduo a tomar uma determinada conduta, porém não define o curso da ação a

ser realizada. O que direciona a ação são as crenças pessoais relativas à eficácia

37

das alternativas conhecidas e disponíveis para diminuir a ameaça da doença ou a

percepção dos benefícios de se tomar a ação.

Seu comportamento depende de quanto benefício ele acredita ter nas várias

alternativas em relação ao seu caso. Uma alternativa é vista como benefício quando

se refere à redução da susceptibilidade da pessoa ou da severidade da doença e

pode ser determinada pelas normas e pressões do grupo social.

Barreiras percebidas

Um indivíduo pode acreditar que uma dada ação será efetiva na redução da

ameaça da doença e, ao mesmo tempo, ver que aquela escolha remete aos

aspectos negativos, que impediriam ou impulsionariam a tomada de decisão. Pode

ser que traga desconforto, cause transtorno, seja desagradável e demande tempo.

Esses aspectos negativos das ações de saúde ou percepção de barreiras

podem agir como impedimentos para a adoção dos comportamentos recomendados

e podem gerar conflitos na tomada de decisão. Assim, se a prontidão do indivíduo para realizar a ação for alta e os aspectos

negativos forem fracos, a ação preventiva provavelmente será realizada. Se, por

outro lado, houver fraca prontidão para a ação e os aspectos negativos forem vistos

como fortes, os aspectos negativos funcionaram como barreira para a ação

preventiva.

Quando há alta prontidão para a ação e as barreiras para esta são também

grandes, o conflito será mais difícil de resolver.

Quanto maior for a susceptibilidade, a severidade e a percepção dos

benefícios na ausência de barreiras, maiores serão as probabilidades do indivíduo

empreender um comportamento preventivo, o qual poderá traduzir-se em uma

modificação do comportamento.

Assim, a adesão ao EPI é um processo mediado pelas crenças (percepção da

suscetibilidade, severidade, benefícios e barreiras) e por outras variáveis de origem

extrínsecas e intrínsecas que direcionarão o comportamento em saúde.

38

2.4. Pressupostos do Estudo

Partimos do pressuposto de que o universo simbólico dos profissionais de

enfermagem construído de forma sócio-histórica determina o processo de trabalho, é

expresso de forma intencional, convencional, estrutural, referencial e contextual e

influencia na tomada de decisão em relação a (des) proteção desses profissionais

no ambiente laboral.

Acreditamos que as entrevistas realizadas por meio dos grupos focais e o

referencial teórico abordado nos permitirão compreender este complexo contexto no

qual se desenvolve o processo de trabalho e trarão indícios e subsídios que nos

possibilitarão aprofundar nas questões relacionadas à segurança no trabalho.

39

3. TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

3.1. CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO

Estudo exploratório, de abordagem qualitativa. A razão pela qual optamos por

estudar o objeto de estudo proposto nessa perspectiva, se ampara na necessidade

de compreender o universo simbólico que permeia a adesão dos profissionais da

saúde aos EPI. A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2007, p.21).

Acreditamos que ao percorrermos esse caminho, será possível buscarmos

subsídios que possibilitem a apreensão da subjetividade, não somente das ações

humanas, mas também das relações que envolvem essa problemática.

Consideramos também que esta abordagem permite a imersão nos dados por

meio de uma perspectiva interpretativa, o que possibilita a elucidação das práticas

relacionadas à adesão dos profissionais de saúde ao equipamento de proteção

individual.

A investigação realizada nessa perspectiva se justifica ainda, pela tendência

observada nas pesquisas da área de controle de infecção que estudam o uso dos

equipamentos de proteção individual, que em sua maioria, são de caráter

quantitativo. Estas revelam índices preocupantes em relação à segurança e

proteção dos profissionais da área da saúde, porém não focalizam o ponto de vista

do sujeito, seus significados e comportamentos em relação às infecções (SOUZA et

al. 2008a, 2008b). Temos observado que os estudos epidemiológicos a colocam como um

problema simples, de relação causa-efeito, entretanto, há uma série de fatores ainda

não conhecidos sobre o porque da baixa adesão aos equipamentos de proteção.

40

Diante disso, faz-se necessário analisarmos essa problemática por meio de uma

ótica diferenciada, não podendo ser reduzida apenas a quantificação.

Assim, apreender as percepções que envolvem essa questão é fundamental

para tornar compreensível a experiência humana em sua fonte mais complexa, rica

e profunda que se expressa em pensamentos, condutas, emoções e ações (DAVEL;

VERGARA, 2000), que possam estar relacionadas a adesão ou não dos

equipamentos de proteção individual.

3.2. CAMPO DE ESTUDO

O estudo foi desenvolvido em um hospital geral de grande porte, público e de

ensino da região Centro-Oeste, que tem como missão promover assistência

humanizada e de excelência à saúde do cidadão, integrando-se às políticas públicas

de saúde, servindo de campo moderno e dinâmico para ensino, pesquisa e

extensão. Toda a atividade assistencial desenvolvida neste hospital está voltada

para o ensino, dando suporte à produção de conhecimento por meio de atividades

de pesquisas.

A referida instituição desenvolve um trabalho de assistência à saúde de ampla

repercussão social e realiza tanto procedimentos de alta complexidade, como

cirurgias cardíacas, ortopédicas quanto patologias incluídas no grupo de atenção

primária e secundária.

Além do atendimento à comunidade local, o hospital se constitui como pólo de

deslocamento de assistência das regiões norte e nordeste do país. Conta com nove

unidades de internação, além da assistência em várias especialidades médicas bem

como o atendimento ambulatorial. Possui ainda Comissão de Controle de Infecção

Hospitalar (CCIH), Serviço de Infecção Hospitalar (SCIH) e Comissão de Educação

Continuada (CEC) em atividade.

A decisão de proceder a pesquisa neste serviço de assistência à saúde (SAS)

se deu por possuir uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, ter

implementado programas e rotinas preestabelecidas para o controle de infecção.

41

3.3. TRABALHO DE CAMPO

Para a realização do estudo foram cumpridas as diretrizes para pesquisas

envolvendo seres humanos, constantes na Resolução 196/96 do Conselho Nacional

de Saúde (BRASIL. MS, 1996). Este estudo foi submetido a apreciação e aprovação

no Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas

da Universidade Federal de Goiás, com número do protocolo 015/08 (Anexo A).

Após leitura e esclarecimentos dos objetivos, finalidades, desenvolvimento do

estudo, bem como a liberdade de se desligar da pesquisa caso seja vontade do

sujeito, foi solicitado aos participantes a assinatura do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (Apêndice A) no momento das sessões grupais. Esse documento

foi impresso em duas vias, permanecendo uma com a pesquisadora e outra com o

sujeito da pesquisa.

Participaram do estudo trabalhadores da enfermagem que atuavam em

qualquer setor do hospital em estudo, que mostraram interesse pela temática e

voluntariedade. Optamos por estudar somente esse grupo, pelo fato de constituírem

uma das principais profissões sujeitas à exposição por material biológico. Esse

número elevado de exposições relaciona-se ao fato desses trabalhadores terem

contato direto na assistência aos pacientes e também ao tipo e a frequência de

procedimentos realizados (SÊCCO; ROBAZZI, 2007).

Para a seleção dos sujeitos, a pesquisa foi divulgada no hospital por meio de

visitas da pesquisadora às diversas unidades: clínica médica, clínica cirúrgica, UTI

médica, UTI cirúrgica, pronto socorro adulto e infantil, maternidade, clínica

pediátrica, clínica tropical, Centro de Material e Esterilização e Centro cirúrgico, nos

turnos matutino e vespertino.

Optamos que a estratégia para a coleta de dados seria por meio do grupo

focal. Os profissionais de enfermagem foram convidados a participarem do grupo, e

informados de que iríamos discutir sobre biossegurança. O tema não foi

completamente exposto para que o sujeito da pesquisa não chegasse à sessão

grupal na coleta de dados com ideias pré-concebidas sobre o assunto proposto na

investigação. Os profissionais que se dispuseram constituíram uma lista, na qual

constava a disponibilidade de horário de cada um para a participação no grupo, bem

como telefone para contato, clínica de origem e categoria profissional.

42

Essa lista foi composta por 57 profissionais que se mostraram interessados

em participar da pesquisa, sendo predominantemente técnicos de enfermagem. A

partir da disponibilidade sugerida pelos profissionais foi definido o início da manhã e

da tarde como os horários mais propícios para a realização do grupo. Após essa

definição, entramos em contato com os interessados, por telefone, a fim de informá-

los o dia e o horário da sessão grupal, momento este em que 35 profissionais

confirmaram sua participação.

Nos dias aprazados para o grupo focal em virtude de razões pessoais e

organizacionais pela impossibilidade de se ausentarem da sua unidade naquele

momento puderam comparecer 15 profissionais que foram os sujeitos desta

pesquisa.

Como método de coleta de dados utilizamos o grupo focal, por este

possibilitar reflexão crítica do tema abordado e por se mostrar eficaz e pertinente na

abordagem de aspectos subjetivos que envolvem o conhecimento das

representações, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e

simbologias (GATTI, 2005).

Segundo Westphal, Bógus e Faria (1996, p.147),

Grupo focal é uma técnica de pesquisa que utiliza sessões grupais como um dos foros facilitadores da expressão de características psicossociológicas e culturais, diz respeito a uma sessão grupal em que os sujeitos do estudo discutem vários aspectos de um tópico específico.

Nesse sentido, os grupos focais podem ser definidos como uma modalidade

de entrevista em grupo e permitem que as falas de um possam ser confrontadas

com as dos outros (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2007).

A utilização de grupos focais foi proposta e aplicada pela primeira vez no

campo das ciências sociais por Merton, Fiske e Kendall em uma investigação sobre

o potencial de persuasão da propaganda durante a Segunda Guerra Mundial

(WESTPHAL; BÓGUS; FARIA, 1996).

A partir dos anos 80 essa técnica passou a despertar o interesse de

pesquisadores em outras áreas do conhecimento, como a área da saúde, que a tem

utilizado com maior frequência em trabalhos de pesquisa e de avaliação (GATTI,

2005).

43

O grupo focal permite compreender processos de construção da realidade por

determinados grupos sociais, práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos,

comportamentos e atitudes (GATTI, 2005). Tem ainda a qualidade de permitir a

formação de consensos sobre determinado assunto ou de cristalizar opiniões

díspares, a partir de argumentações, ao contrário das entrevistas que costumam

ocorrer de forma solitária (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2007). Por meio do

grupo, o indivíduo adquire a sua identidade, conseguindo da realidade, reconhecer

sua própria forma, como um espelho que reflete a sua imagem (CASTILHO, 1998).

O grupo focal é utilizado quando se busca uma interação grupal, que fomenta

respostas mais ricas permitindo a construção de idéias e a observação desse

processo, propiciando a apreensão de conhecimentos diretamente relacionados ao

comportamento, atitudes, linguagens e percepções do grupo (DEBUS, 1997).

A aprendizagem no grupo se dá por meio do processo interativo e da

comunicação que se estabelece entre os participantes, em razão da troca e

interação de saberes e experiências fundamentadas na estrutura cultural de cada

membro do grupo (DALL’AGNOL et al., 2008).

Abordagens grupais permitem a oportunidade de salientar assuntos de

interesse da coletividade em grupo, propiciando discussões e reflexões que podem

repercutir positivamente nas condições de vida dos participantes, possibilitando

assim um crescimento e desenvolvimento grupal (MOTTA; MUNARI, 2006).

A dinâmica da reunião no grupo focal não se restringe à simples alternância

entre perguntas de um pesquisador e respostas dos participantes. É uma sessão

grupal em que os sujeitos discutem vários aspectos de um tópico específico

(WESTPHAL; BÓGUS; FARIA, 1996). Para que a pesquisa em grupo atinja os

resultados previstos, uma série de medidas deve ser tomada para a garantia da

qualidade dos dados, entre elas a adequação do espaço/ambiente em que será

realizada a coleta.

Munari et al. (2008) sugerem que o ambiente propicie conforto aos

participantes, evitando contratempos que possam colocar em risco o manejo grupal,

bem como a pesquisa. A equipe de coordenação também é de fundamental

importância e deve ser composta de um moderador e de um observador.

O número de participantes deve garantir, pelo menos, o mínimo do conforto

visual, propiciando um melhor controle da discussão e do fluxo de informações,

44

sendo que o ideal é de 12 a 15 participantes (MUNARI et al., 2008; WESTPHAL;

BÓGUS; FARIA, 1996).

A condução do grupo foi realizada tendo como base um guia de discussão,

contendo as questões norteadoras que incorporaram o objetivo da pesquisa

(Apêndice B). Estas questões foram exaustivamente discutidas pelos pesquisadores

e após, realizado um ensaio com onze (11) sujeitos, alunos do último ano do curso

de graduação em enfermagem da turma de 2008 da Universidade Federal de Goiás,

o qual demonstrou a coerência das questões na geração das informações

desejadas.

Além das questões norteadoras, os sujeitos foram estimulados a buscar suas

respostas relacionando-as com algumas figuras, escolhidas aleatoriamente pelos

pesquisados, e que remetiam a cenas do cotidiano, ilustrando situações do trabalho

e da vida em comum que sensibilizassem os sujeitos a relacionar os aspectos

subjetivos contidos nas mesmas, articulando-as às questões da investigação.

Esse recurso iconográfico ajuda o sujeito a não ficar no lugar comum ou na

racionalização do tema colocado, evitando as respostas prontas e os clichês. Assim,

cada participante tem maior tempo para introjetar a pergunta feita, refletir, pensar

nas possibilidades e relacionar com a figura que está disponível para o grupo como

objeto intermediário (MOTTA; MUNARI, 2006; MOTTA et al., 2007; MUNARI et al.,

2008).

As discussões geradas nas sessões grupais foram registradas por meio de

escrita manual e gravação e compuseram o banco de dados utilizados para análise.

A validação das falas foi realizada durante o desenrolar dos encontros por meio de

questionamentos com a finalidade de confirmar o seu conteúdo, adequação,

coerência e pertinência aos objetivos do estudo.

Os Grupos Focais Foram constituídos três grupos focais com cinco participantes em cada, sendo

que um realizou-se no período matutino e os outros dois no período vespertino.

A previsão era de três sessões grupais com cada grupo focal, estando essas

sujeitas a mudanças, pois para Dall’Agnol e Ciampone (1999) o número de sessões

45

deve permitir a ampliação e o detalhamento do tema, sendo que a sistemática

repetição das idéias ou informações é um indício de que a coleta foi eficiente.

Neste estudo, cada grupo se reuniu uma única vez. Consideramos que o

número de participantes (cinco) em cada grupo, contribuiu para a discussão

exaustiva, o que permitiu o alcance dos objetivos propostos, devido ao

aprofundamento da temática. Há situações em que um único momento grupal é

suficiente para se levantar e discutir questões que explorem o tema de forma tal que

o pesquisador sinta-se contemplado em seus objetivos (MUNARI et al., 2008).

A coleta de dados ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2008, no

auditório do hospital, com uma média de duração das sessões de uma hora e

quarenta minutos cada. Nesse período foi considerado o aquecimento do grupo para

a tarefa, uma vez que este é fundamental para atingirmos bons níveis de interação,

refletindo, portanto, na qualidade do debate. Por outro lado, quando excedemos o

tempo limite preconizado de duas horas, pode haver fadiga entre os participantes ou

intelectualizações excessivas acerca do tema e, em decorrência, desgaste (DEBUS,

1997).

Considerando a importância do manejo grupal para potencializar o

desenvolvimento do grupo, a pesquisa contou ainda com a supervisão de uma

especialista em Gestão e Coordenação de Grupo, cuja tarefa foi supervisionar o

planejamento, execução e avaliação dos resultados.

A dinâmica dos encontros nessa pesquisa teve por base os passos citados

por Dall’Agnol e Ciampone (1999), adaptada para a pesquisa em questão,

constituindo em:

1. Abertura da sessão e apresentação da equipe de coordenação

Os sujeitos da pesquisa foram recebidos pela moderadora com uma

mensagem de boas-vindas, seguida da apresentação da equipe de coordenação

para o grupo.

Neste estudo a pesquisadora assumiu o papel de moderadora do grupo, uma

auxiliar de pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infecção Hospitalar

(NEPIH) da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás, foi a

observadora não participante e contamos ainda com uma observadora participante,

no intuito de auxiliar a moderadora a objetivar a coleta de dados.

46

O moderador é um facilitador do debate e deve estar atento aos indivíduos

permitindo que se expressem de modo espontâneo, lembrando que este tem o papel

de ajudar o grupo a expor suas ideias, opiniões, sem interferir ou julgar o conteúdo

das falas (MUNARI et al., 2008).

Já os observadores foram responsáveis pelo registro do movimento do grupo,

gestual e expressões dos participantes, bem como comunicações verbais e não

verbais em um diário de campo. Eles auxiliaram a moderadora no controle do tempo,

equipamento de gravação e identificação das falas dos sujeitos, facilitando a

transcrição. Também reuniram-se com a moderadora após as sessões grupais para

realizar um feedback sobre como transcorreu o encontro.

2. Apresentação dos participantes entre si

Solicitamos aos participantes que se apresentassem pelo nome, a clínica

onde trabalham, bem como quanto tempo de atuação na área da enfermagem. Após

as apresentações distribuímos um crachá com o nome de cada participante, para

melhor visualização e facilitação da comunicação entre os sujeitos.

3. Entrega, leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE), bem como esclarecimento dos aspectos éticos

referentes a investigação

Após a entrega do TCLE realizamos a leitura do termo e solicitamos a

assinatura deste. Os objetivos e finalidades da pesquisa e a técnica para a coleta de

dados foram explicitados aos participantes. Após permissão dos sujeitos, a

apreensão das informações se deu por meio da gravação em áudio de todas as

sessões com os grupos focais utilizando como recurso dois gravadores, um Mp4 e

as anotações dos observadores.

4. Estabelecimento do contrato grupal

A delimitação do contrato do desenvolvimento do trabalho no grupo foi

realizada entre a pesquisadora e os participantes. Nesse contrato estabelecemos

que a sessão teria uma duração, de no máximo, duas horas e que não haveria

47

intervalos. Também foi acordado o respeito e a ética em relação ao que foi discutido

no grupo e aspectos referentes ao uso de celulares durante a sessão grupal.

5. Leitura, apresentação e fixação em local visível das questões norteadoras

A moderadora leu as questões norteadoras e as afixou em local visível, para

que os sujeitos pudessem visualizá- las e engatilhar reflexões acerca do tema.

As questões norteadoras foram:

a) O que é EPI na sua prática cotidiana?

b) Quais são os fatores pessoais que os motivam e desencorajam a utilizar o

EPI?

c) Para você quais são os fatores facilitadores e dificultadores do uso do EPI?

6. Discussão do grupo

A discussão do grupo iniciou com a distribuição de 40 figuras, dispostas no

chão e cada sujeito escolheu as figuras que representassem o que era EPI e o que

os motivavam a usar o equipamento de proteção.

Esse recurso iconográfico foi utilizado para propiciar o aquecimento do grupo

e proporcionar a geração de ideias para a discussão do tema proposto, sendo que,

algumas falas foram estimuladas a partir das figuras. Para ilustrar, utilizamos

algumas dessas figuras com as falas emergentes, para melhor compreensão do

tema em análise.

7. Encerramento da sessão e avaliação do encontro pelos sujeitos da

pesquisa

Ao término das sessões, os sujeitos foram convidados a avaliar por meio de

uma palavra a discussão ocorrida no grupo.

Esta atividade proporcionou-nos compreender que as discussões suscitaram

nos participantes reflexões sobre suas práticas em relação ao equipamento de

proteção individual.

48

A equipe de coordenação para finalizar agradecia a presença de todos os

presentes e dialogava com os participantes, franqueando a possibilidade de novas

participações, caso fossem necessárias.

Cada encontro foi seguido de uma reunião entre a equipe de coordenação e a

orientadora da pesquisa, para analisarmos o que havia acontecido e quais as

discussões foram suscitadas nas sessões. Para garantirmos a fidedignidade dos

dados, estes foram transcritos logo após cada grupo focal, com vistas a preservação

de sua qualidade e veracidade.

Organização e Tratamento dos dados Os dados foram analisados utilizando-se o método de interpretação de

sentidos proposto por Minayo (2006), considerando o referencial de Modelo de

Crenças em Saúde de Rosenstock (1974b).

[...] o método de interpretação de sentidos é uma tentativa de avançar mais na interpretação, caminhando além dos conteúdos de textos na direção de seus contextos e revelando as lógicas e as explicações mais abrangentes presentes numa determinada cultura acerca de um determinado tema. Nesse método é de fundamental importância que se estabeleça confrontos entre a dimensão subjetiva e posicionamentos de grupo; textos e subtextos; texto e contexto; falas e ações mais amplas; cognição e sentimento dentre outros aspectos. Nele, ancorados numa base teórica conceitual que procura articular concepções da filosofia e das ciências sociais, tenta-se caminhar tanto na compreensão (atitude hermenêutica) quanto na crítica (atitude dialética) dos dados gerados de uma pesquisa (MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2007, p.105).

A preparação do material para análise foi iniciada com a transcrição áudio-

gravadas dos momentos grupais, realizada pela própria pesquisadora com a ajuda

da auxiliar de pesquisa. A transcrição foi realizada com o auxílio dos dados

registrados manualmente e de outras informações captadas pelos observadores.

A estrutura da análise foi desenhada em três etapas. Inicialmente foi realizada

uma leitura flutuante e exaustiva dos dados transcritos e organizados, com o intuito

de nos impregnar do conteúdo e apreender-nos às ideias centrais das falas dos

participantes dos três grupos focais.

49

Posteriormente, realizamos uma lista das ideias centrais retiradas das falas

agrupando-as, formando assim os quatro temas: proteção individual, ambiente de

trabalho, sentimentos e relacionamento interpessoal, uma vez que expressam

particularidades comuns dos sujeitos do estudo.

Esses temas foram agrupados em duas categorias temáticas que apresentam

sentidos mais amplos, porém articuladas em torno das temáticas identificadas

anteriormente. Dos três primeiros temas surgiu a categoria “Segurança no trabalho”

e do último tema a categoria “Relacionamento Interpessoal”.

Assim, os relatos apresentados nos resultados e discussão foram

selecionados, tendo-se por critério, aqueles que melhor caracterizavam as

categorias.

Os relatos foram identificados por G1(grupo 1), G2 (grupo 2) e G3 (grupo 3),

sendo consideradas as falas do grupo e não dos sujeitos. Nas falas, ajustamos

somente a concordância verbal, quando necessário, para melhor compreensão das

mesmas.

50

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Atores do estudo e dinâmica das sessões grupais

Neste estudo contamos com a participação de 15 profissionais da área de

enfermagem das unidades de clínica cirúrgica, unidade de terapia intensiva (UTI),

maternidade, pronto socorro (PS), centro de material e esterilização (CME) e Serviço

de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), sendo dez técnicos (três homens e sete

mulheres) e cinco enfermeiras. Em relação ao turno de trabalho, seis participantes

eram do turno da tarde, seis da manhã e três realizavam plantões de doze horas.

Em geral, os sujeitos desse estudo trabalham na área da enfermagem há

aproximadamente dez anos e trazem em sua história de vida, tanto pessoal quanto

profissional, traços marcantes da vulnerabilidade aos riscos e da exposição a

material biológico que o ambiente hospitalar proporciona ao desenvolver suas

atividades relacionadas ao cuidado.

Os grupos foram heterogêneos, formados por enfermeiros e técnicos, ou seja,

por níveis hierárquicos diferentes, considerando que no cotidiano profissional as

relações se dão entre diferentes níveis hierárquicos, e que as situações grupais são

reproduções do universo simbólico destes profissionais (WESTPHAL; BÓGUS;

FARIA, 1996).

Percebemos que o fato de reunir enfermeiros e técnicos/auxiliar de

enfermagem não interferiu na expressão livre de ideias e contribuiu para explicitar

atitudes que ocorrem de forma oculta na relação profissional e também para

esclarecer razões que levam a determinados comportamentos.

Durante a realização das sessões grupais, pudemos observar o grande

interesse dos atores em relação à temática, ao desejo de participar e ao sentimento

de valorização ao ser sujeito da pesquisa.

Apesar de reunirmos uma única vez com cada grupo, percebemos que houve

no decorrer das sessões, a construção de uma relação de confiança, união,

cobrança acerca da mudança de comportamento em relação à proteção individual e

respeito entre os participantes do grupo.

51

Realizado o vínculo inicial e estabelecida a confiança com os atores nas

entrevistas grupais, observamos facilidade e disponibilidade na expressão das

percepções e experiências vivenciadas. A seguir, apresentamos um panorama geral

da dinâmica dos encontros.

O primeiro grupo focal ocorreu no início da manhã e de doze sujeitos

confirmados para a sessão compareceram ao encontro cinco participantes, (três

enfermeiras e dois técnicos de enfermagem) além da equipe de pesquisadores.

Houve um atraso muito grande por parte dos participantes, além disso, tivemos

intercorrências em relação à sala em que realizaríamos a coleta de dados, sendo

esta ocupada por outras pessoas, mesmo tendo sido previamente reservada para

nosso estudo. Por manifestação do interesse em discutir o assunto e colaborar com

a pesquisa o próprio grupo sugeriu realizarmos a sessão grupal em uma sala

disponível no pronto socorro.

Mesmo com essa intercorrência destacamos que a mudança de local não

interferiu na coleta de dados, considerando a contribuição dos sujeitos para a

discussão do tema proposto. Os sujeitos participaram expondo suas ideias,

destacando suas percepções em relação ao EPI, especialmente, nos aspectos

referentes à influência do ambiente do trabalho, assim como, nos aspectos

gerenciais e organizacionais que interferem para a adesão aos equipamentos de

segurança.

O segundo grupo focal foi realizado no período vespertino, no auditório. Dos

quatorze confirmados compareceram cinco participantes, todos técnicos em

enfermagem, do sexo feminino. Havia profissionais que não trabalhavam no período

vespertino, mas vieram ao hospital, exclusivamente, para participar do encontro,

revelando assim, interesse e compromisso tanto com o grupo quanto com a

pesquisadora. Nesse grupo ficaram evidentes as discussões referentes às relações

no trabalho. Após as discussões, no final da sessão, o próprio grupo estava

cobrando um do outro uma mudança de comportamento em relação ao uso do

equipamento de proteção individual.

O terceiro grupo focal foi realizado no período vespertino, e dos nove

confirmados, compareceram cinco sujeitos, sendo três técnicos de enfermagem (um

homem e duas mulheres) e duas enfermeiras. Nesse grupo também tiveram

profissionais que estavam de folga e se deslocaram de grandes distâncias para

estarem presentes no grupo. Em meio à discussão surgiram dúvidas relacionadas a

52

algumas rotinas do hospital, sendo estas esclarecidas por componentes do próprio

grupo. No decorrer do encontro percebemos o aprofundamento das questões

referentes à proteção individual e aos aspectos que interferem no uso do

equipamento de proteção.

Assim, os relatos expressos nesse estudo ilustram as percepções, sentidos e

significados que esses profissionais de enfermagem atribuem às crenças, atitudes e

razões que impulsionam ou não o uso do EPI. Esses relatos distribuídos nas duas

categorias abordam toda a complexidade desse tema.

4.2. A proteção para os trabalhadores da enfermagem

Dos temas evidenciados a partir das falas dos grupos, emergiram duas

categorias temáticas, que foram denominados de “segurança no trabalho” e

“relacionamento interpessoal”.

Essas categorias temáticas permitiram identificar que as relações

interpessoais interferem nas questões da segurança e proteção individual, em vários

níveis no ambiente de trabalho, tanto nos aspectos organizacionais e gerencias,

quanto na relação com as outras categorias profissionais e com os outros setores do

hospital.

A relação entre estas categorias mostrou-se uma via de mão dupla, ou seja, a

segurança no trabalho interfere no relacionamento interpessoal e vice-versa,

refletindo, portanto na adesão aos equipamentos de proteção. Contudo, não

podemos desconsiderar os fatores individuais, como as crenças, atitudes,

conscientização do risco, que no contexto do ambiente de trabalho, influenciam na

proteção individual.

Para caracterizar melhor essa relação passamos a discutir separadamente,

as duas categorias temáticas que apresentam interligações entre si.

53

4.2.1. Segurança no trabalho

Apesar do conhecimento sobre a exposição aos riscos, o uso do equipamento

de proteção individual é evidenciado, para alguns destes profissionais, somente nas

situações inesperadas, de risco iminente, medo, pânico, confirmação de diagnóstico

de doença infecto-contagiosa. Na maioria das vezes, os profissionais priorizam o

cuidado do paciente em detrimento da própria proteção.

Evidenciamos também nas falas dos grupos que o EPI proporciona bem-

estar, tranquilidade e equilíbrio. Contudo, o seu uso não exclui a chance de

contaminação. Os participantes do estudo destacam os aspectos organizacionais,

gerenciais, precária estrutura física e o ambiente de trabalho, como fatores

importantes que interferem na segurança do trabalho, influenciando para a (des)

proteção.

Outros aspectos discutidos pelos grupos foram a realidade da segurança, o

papel da gerência em relação à disponibilidade e acessibilidade ao EPI e a

sobrecarga de trabalho, os quais intervêm na questão da adesão aos equipamentos

de segurança e acarretam em maior susceptibilidade aos riscos ocupacionais.

[...] o ambiente que a gente trabalha tem todos os dificultadores possíveis, porque a gente trabalha com uma sobrecarga de trabalho muito pesada, com pacientes crônicos... com falta de material demais, a distância de buscar os materiais, a farmácia que atrasa, que demora ... tudo dificulta (G2). [...] a gente tem uma descrença de que vai melhorar, de que vai dar certo, que a gente vai ter um ambiente de trabalho melhor para a gente trabalhar. Tudo isso a gente desacredita (G2). [...] são inúmeras as problemáticas da clínica Z que estressam quem está trabalhando. Isso gera um risco de maior de se acidentar. Mas ainda não tiro a culpa de que nós como profissionais temos que ter consciência de que o EPI é uma proteção pra gente (G3).

Percebemos nas falas acima que o ambiente de trabalho, influenciado pelas

práticas gerenciais e organizacionais, constitui-se em uma barreira que impede e

dificulta a aplicação das PP, dentre elas a adesão dos profissionais aos EPI. As

barreiras são aspectos negativos relacionados à modalidade de ação, e o valor

54

atribuído a eles varia de indivíduo para indivíduo, assim como nas demais

dimensões do modelo de crenças em saúde (ROSENSTOCK, 1974a).

Os grupos evidenciam o descompromisso e o desrespeito para com a

proteção, indicando que, por essa razão, se tornam descrentes, insatisfeitos e

desmotivados diante das condições de trabalho oferecidas.

A existência dos riscos ocupacionais e, principalmente, a ocorrência de

acidentes com material biológico, não são problemas relacionados única e

exclusivamente a fatores individuais de risco ou proteção, mas fortemente

influenciados pelo ambiente no qual os trabalhadores estão inseridos, bem como

pela estrutura organizacional da instituição, que deve oferecer condições para a

implementação e adoção de medidas seguras pelos seus trabalhadores (CANINI et

al., 2008).

O estudo de Ribeiro e Shimizu (2007) relaciona a baixa adesão ao EPI à falta

de treinamento e de capacitação de funcionários, aos ambientes físicos inadequados

e à falta de material apropriado em quantidade e qualidade para a realização dos

procedimentos.

Stone et al. (2004) em uma avaliação da contribuição das condições de

trabalho da enfermagem para os riscos de acidentes ocupacionais com

perfurocortantes, concluíram que uma estrutura organizacional inadequada e altas

cargas de trabalho estão associadas com 50% a 200% de aumento na incidência de

injúrias percutâneas.

Há evidências de que as características organizacionais como, por exemplo, a

criação de uma cultura de segurança, intervêm na saúde dos PAS e na adesão às

práticas de controle de infecção recomendadas. Estas são, portanto, fatores

importantes na prevenção da transmissão de agentes infecciosos, os quais devem

ser conduzidos com maior ênfase por meio de ações administrativas, visando a

participação de todos no desenvolvimento e apoio dos programas de controle de

infecção (SIEGEL et al., 2007).

A cultura de segurança refere-se a um ambiente de trabalho onde há uma

partilha do compromisso, na qual o empregador disponibiliza os recursos

necessários e os tornam de fácil acesso, e os empregados os utilizam e manuseiam

de forma correta. Essa cultura pode ser criada por meio de ações e programas

gerenciais para melhorar a segurança no trabalho com a participação dos PAS no

planejamento dessas ações. Uma boa comunicação entre os membros da equipe e

55

educação permanente, respaldada na disponibilidade de equipamentos de proteção

adequados, contribuem para a organização do processo de socialização dessas

medidas necessárias à cultura de segurança (SIEGEL et al., 2007).

Estudos revelam uma diminuição das exposições a sangue e a fluidos

corpóreos devido a implantação dessa cultura de segurança no ambiente de

trabalho (CLARKE et al., 2002; NIEVA; SORRA, 2003).

O próprio modelo organizacional vigente na área da saúde adota medidas e

normas disciplinares que tornam o processo de trabalho segmentado, marginaliza o

trabalhador e o subordina a forte hierarquia. Isso leva à baixa conscientização do

risco e da importância das medidas de proteção, que interferem na qualidade de

vida e na segurança ocupacional desses trabalhadores.

A implementação de medidas de PP implica em uma estrutura organizacional

e de trabalho que permita a sua efetivação (MELO, 2005; MELO et al., 2006). A

estrutura organizacional e gerencial deve colaborar e estimular a tomada de decisão

para o uso dos equipamentos de proteção individual de forma a anular as barreiras

inerentes ao seu uso e as crenças dos profissionais. Assim, torna-se imprescindível

a conscientização para a melhoria das condições de trabalho, bem como dos

trabalhadores que devem ser envolvidos nos processos de decisão, elaboração e

divulgação dos programas de prevenção e controle de infecção.

A precarização do trabalho nos serviços de assistência à saúde tem sido uma

realidade, gerando estresse, insatisfação no trabalho (FERNANDES; MEDEIROS;

RIBEIRO, 2008) e, em consequência, maior risco de exposição ocupacional durante

a assistência (OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2008).

A identificação das condições de trabalho e das fontes estressoras que levam

a (des) proteção do trabalhador é primordial para promover mudanças que tornem o

cotidiano do enfermeiro mais produtivo, menos desgastante e com maior valorização

enquanto ser humano (CALDERERO; MIASSO; CORRADI-WEBSTER, 2008).

O estresse ocupacional implica em impacto negativo para o bem-estar dos

trabalhadores e, consequentemente, para a segurança no trabalho. Uma das

maiores causas de estresse identificada no estudo de Batista e Bianchi (2006) foram

as condições de trabalho e as atividades relacionadas à administração de pessoal,

assim como a escassez de materiais.

Outro fator que se mostra como uma barreira e que impede os profissionais a

aderirem ao EPI é a questão da acessibilidade, ou seja, os equipamentos quando

56

próximos dos profissionais, dispostos em vários locais estratégicos das unidades

facilitam e favorecem o uso.

Eu acho que ter equipamentos próximos já é um facilitador (G2). A gente procura usar o máximo (EPI) que a gente pode, até porque lá é mais fácil da gente usar do que lá na clínica Z, porque assim, o material fica em todo canto, como é pequenininho, então assim, “a gente não usa”, se não quiser (G3).

A gente não tem e cada vez que a gente precisa deles tem que ir atrás... se a gerência fizesse controle, não sei se semanais, mensais ou diários desses equipamentos, seria um facilitador... não deixar faltar ou então até mesmo ver equipamentos que coubessem melhor na gente (G2). De certa maneira falta, com frequência não, por exemplo, luvas eu lembro que um tempo atrás nós ficamos duas semanas sem luvas de procedimento (G1).

Os grupos relacionam alguns fatores que facilitam o uso do EPI: provisão e

controle dos equipamentos, proximidade do local de uso, estrutura física e

gerenciamento adequado. Contudo, não se eximem da responsabilidade pessoal

para o uso.

Entretanto, quando não há uma contrapartida da instituição, um fácil acesso a

esses equipamentos de segurança, o profissional se sente desmotivado. Soma-se a

isso, a sobrecarga de trabalho e a não disponibilidade desses equipamentos. O

ambiente e a assistência se tornam inseguros, predispondo aos erros com os

consequentes agravos.

No estudo de Malaguti et al. (2008) a disponibilidade dos EPI para a

prevenção de acidentes foi referida por 149 (44%) dos trabalhadores da área da

enfermagem, sendo considerada a maior facilidade encontrada por estes

enfermeiros.

Para Tipple et al. (2007) e Spagnuolo, Baldo e Guerrini (2008) a

disponibilidade de EPI foi maior que o uso, contrapondo com o estudo de Ganczack

e Szych (2007), no qual a indisponibilidade do EPI foi a principal razão para a não

adesão.

Esses estudos evidenciam a complexidade da adesão ao EPI, pois mesmo

quando esses equipamentos são disponíveis, os PAS não os utilizam. A adesão vai

além da disponibilidade, o que confirma a interferência dos fatores individuais, das

57

crenças e das relações no ambiente de trabalho na tomada de decisão para a (des)

proteção.

As estratégias já propostas pela NR 32/2005, para a saúde dos trabalhadores

servem como fonte de saber para repensar a saúde do trabalhador de enfermagem

e propor alternativas de mudanças. A referida norma, que foi um grande avanço na

área da Segurança ocupacional no Brasil, regulamenta os direitos dos trabalhadores

e estabelece que os empregadores forneçam todos os equipamentos de proteção

necessários em quantidade e qualidade suficientes, além de instruir os

trabalhadores em relação ao uso (BRASIL, 2005).

Porém, diante da falta do equipamento e da estrutura física inadequada, a

improvisação fica arraigada na rotina, tanto dos profissionais, quanto do SAS. Esta

estratégia se deve à consciência do risco e aos aspectos éticos e morais dos

integrantes dos grupos. Contudo, a improvisação não garante segurança nem para o

outro nem para si, promove apenas a sensação do dever cumprido, ainda que em

detrimento de sua proteção.

Diante da sobrecarga de trabalho e da falta de materiais, os profissionais

passam a exercer diversas funções concomitantemente, em breve espaço de tempo,

tendo que algumas vezes improvisar seu trabalho por falta de recursos

(CALDERERO; MIASSO; CORRADI-WEBSTER, 2008).

A frequência com a qual ocorre a improvisação no SAS torna-a rotineira e

cristaliza essa cultura, tanto em nível de gestão quanto da assistência. Esses

aspectos diminuem a motivação, o interesse e a disposição para o enfrentamento

dessa situação que, acima de tudo, representa um aspecto bioético da assistência.

Aí a gente improvisa com o que você tem, não tem o avental, o capote, então você pega um vestido, ele não vai ter as mangas, mas eu posso lavar os meus braços. Se eu tiver de jaleco, depois que eu usei no paciente, tira aquele vestidinho e posso lavar os braços depois. Luvas, quando não tem luvas de procedimentos, vou usar luvas estéreis (G1). Já aconteceu de não ter máscara N95, e eu colocar máscara comum e uma compressa por debaixo da máscara e colocar uma máscara comum no paciente também (G1). [...] aí você tem que improvisar, pega o lençol do paciente, não tem o capote você tem que improvisar (G3).

58

Ocorrem adaptações tão amplas, que embora sejam fundamentadas nos

mesmos princípios do controle de infecção, como o lençol no lugar do capote,

configuram-se como modalidades distintas das recomendadas e não confortáveis e

seguras para a finalidade proposta.

Os aventais têm como função a proteção diante da possibilidade de

transmissão de microrganismos para o profissional, equipe e pacientes, sendo

imprescindível a utilização deste ao atender os pacientes (GARNER, 1996; SIEGEL

et al., 2007).

A qualidade desse equipamento deve ser mensurada pelo tipo de tecido, e o

modelo deve promover a proteção dos braços e da roupa utilizada pelo profissional.

As mangas longas são necessárias para a proteção dos braços, entretanto,

dificultam a higienização das mãos. Talvez a solução seja o uso de punhos elásticos

que se ajustem às mangas e permitam seu afastamento para a higienização das

mãos (SOUZA et al., 2008a).

Da mesma forma, a compressa por baixo da máscara descartável não confere

a devida proteção que o profissional teria, se estivesse usando a N95, sem levar em

consideração o grande incômodo que isso representa.

As precauções adicionais baseadas na transmissão incluem a proteção

respiratória para se evitar agentes infecciosos transmitidos pela via aérea (aerossóis

ou gotículas) como, por exemplo, o Mycobacterium tuberculosis.

Para proteção respiratória eficiente contra esses patógenos, as

recomendações são para se utilizar a máscara N95 (SIEGEL et al., 2007),

classificação em que a letra N caracteriza máscaras projetadas para uso em

ambientes e o número 95 é a eficácia, em percentual, na filtração de partículas em

suspensão com até 0,3 mm de diâmetro (GONÇALVES, 2001). Essas máscaras

devem ser distribuídas individualmente, cabendo ao profissional a responsabilidade

de zelar pela sua integridade.

A máscara descartável também tem seu papel, reduzindo a dispersão de

partículas no momento em que são geradas. No entanto, não conferem a segurança

necessária para o profissional diante de patógenos que medem até 0,3 mm de

diâmetro e são veiculados pelo ar.

Chama a atenção um relato que expressa a substituição das luvas de

procedimento, quando estão em falta, pelas luvas estéreis. É importante alertar

sobre a relação custo/benefício ao utilizar luvas estéreis. O custo adicional para o

59

SAS é alto e essa relação tem sido decisiva na aquisição dos insumos utilizados no

cuidado em saúde.

No entanto, na improvisação diante da falta deste EPI, a única opção para a

proteção dos profissionais é a utilização das luvas estéreis, mesmo que isso gere

custos adicionais. Estas situações evidenciam falhas nos aspectos organizacionais e

gerenciais, em todos os níveis hierárquicos e representam prejuízos para a

segurança do trabalhador, por gerar estresse, ações inseguras, insatisfações,

sobrecargas e desgaste das relações de trabalho.

Desconsiderar a relação custo/benefício na provisão de recursos materiais

para a assistência priva o usuário dos serviços de assistência à saúde, da

disponibilidade de todos os insumos necessários, aos quais tem direito para o seu

cuidado.

Vale lembrar que a responsabilidade legal e ética pelo cumprimento rigoroso

dos aspectos técnicos, científicos, éticos, legais, econômicos e pela qualidade dos

produtos usados nos SAS é das instituições e dos PAS (REIS et al., 2008).

Uma das possibilidades levantadas para a não improvisação e,

principalmente, maior segurança nas atividades do cuidado é a não realização dos

procedimentos quando não há os equipamentos adequados para a execução

destas.

[...] o que falta, o problema nosso é que a gente vai improvisando com o que tem, porque a gente faz assim mesmo, a gente vai fazendo. Se a gente deixar de fazer e relatar que não foi feito por falta disso ou daquilo as coisas mudam. É porque nós temos a mania de querer resolver o problema sem ter condições de resolver... (G3).

Os profissionais têm a consciência de que a recusa em realizar os

procedimentos, devido a ausência dos EPI, poderia ser um instrumento utilizado

para iniciar um processo de discussão e de mudança da prática. Porém, o medo de

perder o emprego, o distanciamento entre quem gerencia e quem atua na linha de

frente da assistência e a responsabilidade ética da profissão, estimula o

comportamento submisso de não reclamar e continuar a executar os cuidados de

forma insegura. Esse distanciamento leva a não percepção do outro como um

parceiro que tem potencial ético e que deve ser respeitado na sua integridade física,

moral e psicológica.

60

Assim, a atitude da gerência, nos serviços de enfermagem e de assistência à

saúde, poderia ser comparada ao movimento das “elites” que, segundo Freire (2001)

dá por estabelecido que os trabalhadores converteram-se ao seu modo de viver, e

apostando nesse consenso imaginário, agem com a desenvoltura dos que

caminham no fio da navalha, sem consciência dos riscos que correm.

O texto de Freire (2001) citado acima apresenta dois importantes conceitos da

filósofa Hannah Arendt: o alheamento em relação ao outro e a irresponsabilidade em

relação a si. Embora esses conceitos se remetam à sociedade de um modo geral,

podemos fazer uma analogia, transpondo esses conceitos para o contexto hospitalar

vivenciado pelos trabalhadores da enfermagem em relação a problemática da

adesão aos equipamentos de proteção.

Observamos nesta pesquisa também a improvisação diante da acessibilidade:

[...] agora eu aprendi, pego aqueles saquinhos de apanhar diurese e encho de luva e de máscara e ponho na minha mesinha da enfermaria. Então você vai vendo que no passar do tempo é necessário (G2).

Para facilitar o uso e o acesso ao EPI, os profissionais utilizam os coletores de

diurese para armazenar as luvas de procedimentos em locais de difícil acesso.

Também nessa situação destacamos a relação custo/benefício, pelo não

planejamento e organização do serviço.

As luvas têm por finalidade proteger as mãos dos profissionais do contato

com sangue e fluidos corpóreos e reduzir a transmissão de microrganismos

veiculados pelo profissional tanto para a equipe de trabalho, quanto para os

pacientes. Devem ser substituídas a cada procedimento/paciente, no mesmo

paciente sempre que mudar de sítio e serem descartadas logo após o uso, sendo

procedida a higienização das mãos em seguida (GARNER, 1996; SIEGEL et al.,

2007).

Se esse EPI não estiver em locais de fácil acesso, os PAS ficam

impossibilitados de seguir essa recomendação. Muitos já não utilizam as luvas para

realizar os procedimentos e sequer fazem a higienização das mãos a cada paciente.

A estrutura física do SAS também é fundamental para o sucesso das medidas

de controle e prevenção das IACS, tanto para o paciente quanto para o profissional

(MELO, 2005). As discussões dos grupos também evidenciaram esse aspecto.

61

Lá na clínica K é muito abafado, não tem janela lá, geralmente o pessoal não usa jaleco, então é muito difícil da gente estar cobrando (G1). [...] o ambiente muito fechado incomoda, transpira as mãos, lugar quente abafado. É comum ver o uso do EPI, seja de forma adequada ou inadequada, o mais comumente visto é o uso em ambiente aberto. A cliníca Z já é muito abafada por si só, e quando se usa o EPI, no caso a máscara, abafava mais ainda (G1). [...] no nosso setor, em relação ao equipamento de proteção, até mesmo pelo próprio ambiente, por exemplo, é impossível fazer um isolamento lá. Não tem a mínima condição. Então a gente trabalha com pacientes que precisam de isolamento e eles ficam dentro do consultório, seis pacientes sentados em cadeira porque não tem maca. Então as vezes a gente tem essa dificuldade de não ter onde colocar o paciente mais confortável, você imagina em relação a proteção da gente (G2).

O calor e o incômodo gerados pelo uso do EPI são relatados pelos grupos,

pois devido a falta de ventilação e iluminação, tornam a estrutura física

inadequada. Soma-se a isso o fato de estarmos em um país tropical, onde as

temperaturas em condições ambientais já são altas. Esses aspectos são barreiras

percebidas pelos PAS que interferem diretamente na adesão ao uso do EPI.

Estudos apontam como fatores intervenientes ao uso do EPI, o calor e o

incômodo, principalmente, da máscara e dos aventais (FLORÊNCIO et al., 2003;

SOUZA et al., 2008a, 2008b; TIPPLE et al., 2007)

Para Tipple et al. (2007) o fator mais impeditivo à adesão do EPI foi a

estrutura física. Gir et al. (2004) também identificaram práticas inadequadas das

precauções devido a falta de condições mínimas para uma prática efetiva, sendo a

arquitetura hospitalar um fator dificultador.

Em relação às dificuldades referentes aos isolamentos, os grupos apontam

que os transtornos são diversos: superlotação das unidades; longo tempo de

permanência dos pacientes, já que a clientela atendida é de pacientes crônicos; e

leitos insuficientes, que acabam por aumentar a vulnerabilidade e susceptibilidade

aos riscos ocupacionais.

O grupo 1 discutiu que em ambientes abertos, como o pré-hospitalar, o uso

do EPI gera menos incômodo do que em ambiente intra-hospitalar. O fato também

de não saber o diagnóstico e o medo de contaminação induz a uma maior proteção

nesse tipo de ambiente.

62

Eu também trabalho na rua com o serviço de socorro de urgência e emergência. O EPI é um detalhe quase que assim vital, a gente não faz atendimento sem EPI. Talvez a adrenalina do momento, o ambiente, tudo isso propicia a estar sempre lembrando o uso, a não estar se sentindo incomodado, porque é um ambiente aberto, diferente do intra-hospitalar (G1). [...] no hospital você trabalha já com a queixa do paciente, na rua você não sabe o que vai atender, às vezes ele pode estar desacordado e sem ninguém por perto, você não sabe o que ele tem (G1).

O atendimento pré-hospitalar é definido como toda e qualquer assistência

realizada, direta ou indiretamente, fora do âmbito hospitalar e constitui-se em

importante componente da assistência à saúde (MAFRA et al., 2008). Os

profissionais do atendimento pré-hospitalar, independente da categoria profissional,

estão expostos a riscos ocupacionais relacionados à exposição a sangue e fluidos,

devendo, portanto, possuir conhecimento sobre esses riscos e como proteger a si e

ao paciente.

No estudo de Lopes et al. (2008) nenhuma das categorias do atendimento

pré-hospitalar atingiu o percentual de adequação desejável para o uso de máscara

facial, óculos de proteção e utilização adequada de EPI durante os atendimentos.

As falas dos grupos acima indicam que o comportamento dos sujeitos desse

estudo em relação ao uso do EPI, varia de acordo com o conhecimento do

diagnóstico dos pacientes. As PP, dentre elas o EPI, devem ser adotadas para o

atendimento a todos os clientes, independente do conhecimento do seu estado

infeccioso em todos os serviços de assistência à sáude (SIEGEL et al., 2007).

Tanto o ambiente intra quanto o extra-hospitalar expõe os PAS ao risco,

embora esses profissionais subestimam mais os riscos do ambiente hospitalar,

talvez pela maior possibilidade de confirmação do diagnóstico.

A valorização do profissional está implícita na declaração do profissional que

também atua na área extra-hospitalar. Culturalmente são reconhecidos como heróis

que no momento certo, chegam para salvar vidas. Na representação social de herói

usam sempre uma vestimenta específica, no caso os equipamentos de proteção

individual.

Diferentemente, no ambiente de estabelecimentos de saúde, os profissionais

da assistência fazem parte de um resíduo social invisível, marcados para trabalhar

63

com a dor e o sofrimento crônicos, para quem são transferidos toda a ansiedade e

expectativas sobre a vida do outro. Em caso de insucesso, carregam toda a

responsabilidade, mas quando se atinge os objetivos de cura ou recuperação, o

mérito é sempre do outro que está em uma relação hegemônica.

Essa invisibilidade determinada pelas representações sociais sobre a

enfermagem gera uma opressão e uma violência subliminar, que interferem nas

ações do próprio sujeito e nas relações hierárquicas.

Outro fator discutido pelos grupos foi o papel da gerência na provisão dos

equipamentos de proteção individual.

Eu acho dificultador a parte da gerência, mas eu também não coloco a culpa toda só no sistema, só na unidade. A gente tem a nossa parcela de culpa em relação a EPI, ou porque eles são difíceis de serem usados, ou porque a pessoa não tem medo de se acidentar (G2). [...] não sei de quem é a responsabilidade, se é a gerência imediata a nós ou a superior, mas assim o interessante e o correto é que tivesse todos os EPI necessários para o risco que você corre (G2). [...] ir no gerente para providenciar imediatamente o equipamento, porque o hospital tem que disponibilizar para o trabalhador pra ele poder ser cuidador. Se não como ele pode ser cuidador, se não tem o equipamento mínimo necessário para trabalhar com o paciente (G1). É inclusive dessa última vez nós conversamos isso (provisão de EPI) com ela (gerente), falamos olha está impossível. Ela falou, então vamos pedir toda semana um quantitativo, ela ficou de ver isso... (G3).

As falas apontam que a ingerência dos gestores é um fator dificultador para a

adesão ao uso do EPI, principalmente, quando não são realizados o controle e a

provisão desses equipamentos. Quando não são oferecidos os EPI, os sujeitos se

sentem desrespeitados, colocando em risco também a coletividade. Contudo, não

são excluídos os fatores individuais para a baixa adesão às medidas de proteção.

A disponibilidade dos equipamentos de proteção foi significantemente

associada à adesão no estudo de Nichol et al. (2008). Diante disso, a gerência deve

planejar e conduzir intervenções que melhorem as respostas da baixa adesão aos

equipamentos de proteção, principalmente, em relação ao provimento de material e

64

elaboração de rotinas, para que possamos observar transformações na prática

assistencial, por parte dos PAS, em direção a uma ação e atitude preventivas.

A falta de gerenciamento organizacional não direcionada para a diminuição

dos fatores que influem na saúde física e mental dos profissionais no contexto

hospitalar gera sobrecarga de trabalho e não aderência às medidas de segurança,

suscitando o desgaste no profissional (CAVALCANTE et al., 2006).

Os discursos analisados neste estudo mostram que as atividades

administrativas são fundamentais no processo produtivo da enfermagem e em

relação à adesão ao EPI. Diante disso, as funções do enfermeiro gerencial são a

organização e planejamento das ações de cuidado como elaboração de rotinas,

educação em serviço, coordenação, execução e avaliação dos serviços assistências

de enfermagem, provimento de pessoal, material e equipamentos, bem como a

responsabilidade pelos processos assistenciais e administrativos dessas unidades

(SILVA; ERDMANN; CARDOSO, 2008).

Assim, diante das funções que o enfermeiro gerencial deve executar é

extremamente relevante que as gerências adquiram instrumentos que possibilitem

melhor gerenciamento, buscando conhecimento, atitude e habilidades que lhes

permitam realizar um planejamento condizente com a realidade e as necessidades

do SAS, assumindo o seu papel de orientador, direcionador e facilitador diante dos

programas de controle de infecção e da segurança ocupacional (CAMPOS; MELO,

2007; LIBERALI; DALL’AGNOL, 2008).

Os relatos indicam que se houvesse uma atuação mais enfática, uma

motivação maior por parte da gerência na questão da segurança ocupacional e

diminuição das barreiras, os sujeitos da pesquisa poderiam aderir melhor ao EPI.

Tipple et al. (2007) apreenderam situações de reconhecimento das precauções que

poderiam ser cumpridas, mas que foram negligenciadas por falta de supervisão.

Contudo, para que haja a melhora da adesão ao EPI, os trabalhadores

precisam sentir que estão participando das tomadas de decisões, recebendo

incentivos e sendo valorizados por suas chefias. Entretanto, não é isso que

evidenciamos nesse estudo.

Nos relatos a seguir identificamos que há uma falta de rotina para o uso e

manuseio do EPI, tão pouco participação na elaboração desta, que quando realizada

é feita por estagiários:

65

O uso acaba não sendo uniforme para todos usarem o EPI de forma adequada. Um dos motivos é que você não tem uma sistematização (G1). Eu mesma tive muita dificuldade quando entrei aqui porque não tinha uma rotina, uma fiscalização (G1). [...] às vezes quando tem interno, lá tem muito interno, muito estagiário, aí eles colocam, fazem cartazes com tudo explicadinho, tudo arrumadinho e a gente coloca na porta dos isolamentos (G3).

[...] Como é que eu vou cobrar do meu funcionário se eu não passei para ele isso. Não tem normas e rotinas eu não vou cumprir (G2).

A padronização e socialização das rotinas quanto ao uso e manuseio do EPI

são imprescindíveis para que os PAS tenham os subsídios necessários para

promover a segurança no ambiente de trabalho, bem como orientar as práticas em

relação ao controle e prevenção das IACS e adotar comportamentos adequados

frente ao risco.

As falas dos grupos também mostram que diante dos gerentes, que não são

pró-ativos em relação às rotinas, os estagiários as elaboram, expressam a

preocupação com a segurança e proteção tanto dos profissionais quanto dos

pacientes. Isso sinaliza que o ensino tem proporcionado aos futuros profissionais da

área da saúde uma consciência acerca dos riscos, assim como da importância do

seu papel como gestor.

Essas situações mostram as dificuldades enfrentadas pelos profissionais para

aderir às medidas de segurança, devido as barreiras existentes entre o provimento

de materiais e a falta de rotinas padronizadas no SAS.

Na declaração abaixo percebemos melhor o quanto a rotina influencia para a

adesão ao EPI. Facilita, porque às vezes eles (profissionais) estão ali e nem olham às vezes a papeleta, mas ver a rotina na porta, eles já sabem que não pode, sem os paramentos não podem ir (G3).

Os grupos expressam que as rotinas quando estabelecidas tornam-se um

facilitador e impulsor para o uso dos equipamentos de segurança, principalmente,

quando são fixadas em locais estratégicos e visíveis, como no caso de isolamento.

Entretanto, os fatores individuais são mais preponderantes do que a existência de

uma padronização do uso de EPI.

66

Não, vai a circunstância da individualidade. Eu posso garantir que eu sigo o protocolo (G1).

Apropriando da ideia de Freire (2001) para o micro-espaço da assistência,

esse comportamento repercute na omissão de enfrentar os conflitos sociais,

relacionais e organizacionais. Essa subjetivação da realidade reduz o mal-estar a

questões de competência ou incompetência individual, e remete os sujeitos para a

solução que tem a sua disposição, ou seja, a improvisação salvacionista.

Vale salientar que a elaboração de rotinas juntamente com os PAS e a sua

socialização são formas de explicitar a realidade e enfrentar os conflitos existentes,

construindo caminhos que convirjam para a competência coletiva.

No entanto, na prática assistencial, observamos que estas são construídas

apenas para cumprir requisitos administrativos, são engavetadas e não estão ao

alcance de quem é de direito. Assim, cada profissional imprime o seu estilo de

trabalho, de acordo com o seu conhecimento, crença e consciência profissional.

Essa prática leva a ações inseguras, por parte dos profissionais, e ainda reforça a

cultura de acusação do profissional, como único responsável pelo ato inseguro que o

expôs ao risco.

O grupo G3 revelou também que quando há a possibilidade de planejar a

assistência do cuidado, a adesão e o uso do EPI são facilitados. Porém, em

situações urgência/emergência, nem sempre o planejamento é viável, favorecendo a

desproteção. Diferente das enfermarias, que primeiro você planeja. Eu vou pegar para meu paciente, vou levar isso, vou levar isso, eu vou levar aquilo outro. Já sai com tudo planejadinho. E emergência não, você chega lá e dá de cara com aquilo, o que você vai fazer? (G3). Se tivéssemos essa condição de planejar, teríamos condições de executá-lo. Nós não temos isso. Você pode até planejar muito bonitinho, mas na hora você não tem condições. É uma coisa assim tão... que não temos espaço físico adequado na clínica Z. A maioria das coisas são todas improvisadas. As clínicas são muito pesadas, aqui todo mundo trabalha muito... (G3).

A inobservância das normas de segurança e a não disponibilização de EPI

em quantidade suficiente agregada à dinâmica de atendimento, a escala de serviço

desgastante e ao estresse no ambiente de trabalho são fatores que reforçam a ação

67

e atitude de desproteção dos PAS. Nas falas abaixo, podemos evidenciar melhor a

influência da sobrecarga de trabalho na segurança dos profissionais. É, você corre muito e é mais risco na questão do acidente (G2). É você tomar conta de uma unidade de observação e tomar conta da traumato. É você estar dentro de uma reanimação e você ter que cuidar do material para levar e para buscar. São duas escalas mesmo. E isso é diferente e você tem que dar conta porque senão a sua colega chega a tarde e ela não tem material. Então você tem que ver tudo isso, e conseguir conciliar essas coisas todas (G3).

Com certeza, acaba assumindo atribuições que não são nossas, isso gera estresse (G2).

As falas dos grupos destacam que a escassez de recursos humanos pode

ocasionar a dobra de plantões em que aos trabalhadores executam mais de uma

escala de trabalho. Ao sobrecarregar o profissional, essa situação também torna

mais vulnerável o próprio trabalho e a segurança do trabalhador.

A rotina de serviço de enfermagem, a sobrecarga e o estresse gerados pelo

ambiente de trabalho, têm se mostrado como fatores relacionados aos altos índices

de acidentes e são as primeiras razões para a não adesão ao EPI (DAMASCENO et

al., 2006; HINKIN; GAMMON; CUTTER, 2008; PINHEIRO; ZEITOUNE, 2008;

TIPPLE et al., 2007).

Tipple et al. (2007) também identificaram instituições onde um mesmo

trabalhador estava escalado em mais de um setor, dificultando assim, a adoção de

medidas de prevenção.

Vieira e Padilha (2008) identificaram dois fatores predisponentes à ocorrência

de acidentes com material perfurocortante. Os fatores associados às condições de

trabalho (institucionais) e os relacionados ao comportamento individual dos

trabalhadores, dentre eles a adesão ao EPI. Em relação às condições de trabalho

destacaram a falta de programa de capacitação profissional, sobrecarga de trabalho

e falta de materiais e equipamentos de segurança.

Diante disso, é possível pensarmos que a sobrecarga, a pressa e as precárias

condições de trabalho, além das questões organizacionais e sócio-relacionais

discutidas anteriormente, contribuem para o descuidado desses profissionais para

com a própria segurança, culminando, muitas vezes, no desenvolvimento de uma

doença ocupacional.

68

[...] quando desocupa o aparelhinho na clínica ... são cinco horas, é hora de fazer o último hgt, antes do paciente jantar. Já estava no meio do caminho, falei moço, não come agora não, deixa eu fazer o hgt. Corri fui lá e peguei o aparelhinho. Saí correndo, cadê o aparelhinho, aí que eu achei, o homem já estava lá esperando para comer, aí cheguei e fiz. Peguei o dedinho dele e fiz, pus a agulha em cima da cama, ela correu e caiu em cima do meu pé, e falei, ah meu Deus, agora eu vou morrer, o homem tinha Hepatite C (G2).

A desproteção para a realização de procedimentos como HGT tem se

mostrado revelador nesse estudo. Talvez pela minimização do risco, associada a

sobrecarga de trabalho, falta do aparelho de HGT em quantidade suficiente para a

demanda do SAS e o descarte inadequado de perfurocortantes.

Os resultados e as discussões baseadas nas falas dos grupos, evidenciam o

quanto a proteção do profissional fica vulnerável diante da falta de planejamento e

provisão de infraestrutura e insumos.

O contexto das atividades assistenciais conduz o profissional de enfermagem

a trabalhar em um ritmo acelerado, a fim de que todas as ações previstas possam

ser executadas durante as suas horas de trabalho. Por essa razão, muitos

profissionais executam o cuidado sem uma reflexão sobre o seu fazer, o que pode

comprometer a qualidade e impedir um planejamento para o desempenho das suas

inúmeras atribuições, podendo desta forma, gerar desgaste do trabalhador,

expondo-o a acidentes de trabalho (OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY;

KLUTHCOVSKY, 2008).

Nesse estudo constatamos que o alto risco ocupacional dos trabalhadores de

enfermagem, além de outros fatores, pode ser decorrente da falta de rotinas e

orientações que deveriam ser dadas à equipe antes de iniciar suas atividades

profissionais e de uma política de educação permanente.

As discussões levaram a reflexões interessantes que apontam para algumas

soluções como: planejar melhor as atividades, distribuindo-as melhor nas 24 horas,

estabelecer prioridades, pois na correria os profissionais acabam se descuidando do

uso do EPI, manuseiam objetos perfurocortantes de forma inadequada e acabam

vulneráveis a acidentes.

69

A gente não precisa fazer tudo de uma vez. Se não deu para fazer aquele hgt naquele horário, o paciente ta com fome vai almoçar.... não precisar fazer tudo de manhã. Vamos priorizar o que é mais urgente. Se não for mais urgente, se der para fazer tudo bem. Se não der, vamos dividir com o período da tarde e noite. Porque nessa correria querendo fazer tudo de uma vez, você acaba manejando o material de forma inadequada, com pressa e se acidenta. Foi o que aconteceu comigo (G1).

Devemos ressaltar que o estabelecimento das prioridades que envolvem o

trabalho no ambiente hospitalar deve levar em consideração a coletividade, o bem-

estar e o cuidado dos pacientes. Independente do valor técnico científico da prática

do HGT, ou de outro cuidado, pode haver o mito da salvação individual, sem

considerar o universo coletivo responsável pela sinergia de forças para o cuidado

em si.

Os grupos desse estudo se revelaram duplamente expostos: primeiro por não

terem como se protegerem dos riscos devido aos fatores intrínsecos (crenças,

valores, razões, conhecimento) e extrínsecos (organizacional, gerencial, relacional)

ao ambiente de trabalho e em segundo, porque quando se acidentam não conhecem

o fluxo de atendimento ao profissional acidentado, ou não encontram facilidades

nesse atendimento.

Porque aí eu fui lá na triagem e a menina falou que não era lá mais. Ela falou que eu tinha que falar com a enfermeira do Pronto Socorro para pedir o residente para me atender. Aí na hora que eu vi do jeito que tava (superlotação) desisti (G2). Eu acho que tinha que ficar claro para todos, essa rotina de acidente (G2). E a gente observa também que tanto em uma instituição privada quanto em uma instituição pública, há falta de conhecimento do protocolo para acidente com perfurocortante e acidente com material biológico. Você fica perdido, a hora vai passando, o tempo vai passando... então a gente nota isso daí, o não fornecimento do protocolo (G1).

Podemos identificar na primeira fala que o fluxograma de atendimento ao

profissional deste serviço não está bem estruturado e leva os profissionais a

dependerem de favores, que aliado à grande demanda de atendimento no setor,

leva à desistência do profissional. Esses fatores contribuem para aumentar o

70

número de subnotificação de acidentes com material biológico, a desproteção e

insegurança do profissional acidentado.

É função gerencial promover o cumprimento da NR32 (2005) em relação ao

fluxograma de atendimento, o qual deve ser acessível em todos os locais de

trabalho.

Pinheiro e Zeitoune (2008) evidenciaram que 41% dos profissionais da

enfermagem não souberam responder como deveriam proceder em caso de

acidentes. A falta de conhecimento, a complexidade do fluxograma de atendimento,

o medo dos resultados das sorologias, a culpabilidade que se sente em relação a

esse evento, a organização inadequada das ações no serviço de atendimento ao

trabalhador e a não importância do acidente são motivos relatados para a não

notificação dos acidentes (DAMASCENO et al., 2006; MARZIALE; NISHIMURA;

FERREIRA, 2004; RIBEIRO; SHIMIZU, 2007).

A notificação desses acidentes é de fundamental importância para se

conhecer a epidemiologia e elaborar o planejamento das estratégias de educação

permanente nos serviços de assistência à saúde. Além disso, esse procedimento

protege legalmente o trabalhador. A portaria 777/ 2004 estabelece o acidente com

material biológico como evento de notificação compulsória (BRASIL, 2004).

A subnotificação também se torna preocupante, pois nos casos de acidentes

envolvendo pacientes HIV positivos ou de sorologia não conhecida, a profilaxia deve

ser iniciada imediatamente, dentro de, no máximo, duas horas após a exposição e

com duração de, pelo menos, quatro semanas para se obter um resultado favorável

(BRASIL, 2006).

Segundo o Ministério da Saúde, o profissional acidentado com material

biológico deve comunicar à chefia da unidade onde trabalha, sobre o acidente, em

seguida deve ser preenchida a comunicação de acidente de trabalho (CAT), ser

investigada a gravidade do acidente, o fluido corpóreo envolvido na exposição, e

rapidamente realizados os exames necessários (BRASIL, 2006).

O acidentado deve ser encaminhado o mais rápido possível para avaliação e

conduta, seguido de acompanhamento clínico, sorológico e psicológico, quando

necessário, bem como o apoio e respaldo da gerência diante dessa situação

(BRASIL, 2006).

Nesse sentido, destacamos que a administração e a gestão não devem medir

esforços para propiciar a segurança e a saúde do trabalhador nos SAS, do mesmo

71

modo que deve manter um programa de educação permanente, visando aumentar

os conhecimentos e a consciência desses profissionais quanto à tomada de decisão

em direção a um comportamento preventivo.

Os grupos discutiram a relevância da educação em serviço para a formação

da consciência dos profissionais sobre os riscos do ambiente de trabalho, assim

como o uso e importância dos equipamentos de proteção individual.

[...] a orientação, mostrar a importância de cada equipamento, saber que tem que ser usado...Então eles têm que fazer um trabalho de educação maior... conscientizar mesmo as pessoas, por meio de palestra falando a importância do equipamento de proteção individual e coletiva. Sabe, eu acho que assim, se tiver uma maior ênfase em cima disso, por exemplo, das gerências...(G2). [...] a instituição tem que te dar o conhecimento para usar o EPI...(G1).

Essas falas remetem à importância da gestão incluir a educação do

profissional no serviço de assistência à saúde. Embora a sugestão do grupo seja

para a utilização da palestra como forma de transmitir informações, discutimos que

essa não necessariamente, influencia na mudança de comportamento. Assim, um

grande desafio na área da segurança ocupacional é eleger modelos educativos que

estimulem os profissionais a perceberem a real situação de risco a que estão

sujeitos, para que os mesmos, adotem comportamentos preventivos conscientes em

suas práticas diárias.

O estudo de Gir et al. (2004) sobre a adesão de enfermagem às PP apontou

que a falta de credibilidade à eficácia das medidas de proteção, inclusive com

relação ao EPI, associada às dificuldades de capacitação de pessoal, ao desrespeito

às normas pré-estabelecidas e ao desinteresse do trabalho, por parte dos

trabalhadores da enfermagem, são as situações mais enfrentadas no cotidiano.

O estudo de Calderero, Miasso e Corradi-Webster (2008) identificou que

67,56% dos profissionais da enfermagem não receberam qualquer tipo de

qualificação quanto ao uso e manuseio do equipamento de proteção individual.

Dentre os que receberam, metade foi submetida apenas ã qualificação prática e sem

supervisão.

72

Estudos mostram que a educação permanente somada à experiência prática

no trabalho influencia de maneira positiva na adesão e uso do equipamento de

proteção (GANCZACK; SZYCH, 2007; SIEGEL et al., 2007).

A educação é a intervenção primária para melhorar a adesão ao EPI. Embora

transformações significativas não sejam observadas na prática, os PAS detêm o

conhecimento, no entanto, as mudanças do comportamento são limitadas.

As estratégias da educação permanente devem ser voltadas à

problematização das situações vivenciadas no cotidiano de trabalho para que esses

PAS possam consolidar melhor esses conhecimentos.

Os dados desse estudo discutidos até aqui, revelam inúmeros fatores

conjunturais e estruturais que contribuem para a não adesão ao equipamento de

proteção. Nesse sentido, não podemos apontar apenas a educação como

responsável para impulsionar os profissionais em direção a esse comportamento

preventivo.

A participação da gerência compartilhada com os trabalhadores na educação

permanente é de suma importância, pois ao conhecerem a complexidade e dinâmica

do serviço, poderão desenvolver estratégias de prevenção à exposição ocupacional

mais eficazes, elaboradas a partir das dificuldades (MALAGUTI et al., 2008) e

pactuadas no coletivo.

A valorização do profissional e o “empoderamento” da equipe de enfermagem

na discussão, resolução dos problemas e tomadas de decisões relativas ao uso do

EPI influenciam positivamente para atitudes de proteção tanto individual, quanto

coletiva.

O “empoderamento” implica no reconhecimento da necessidade de se criar

mecanismos que possibilitem a indivíduos e comunidades tornarem-se protagonistas

de suas próprias histórias, oferecendo as ferramentas necessárias para a condução

do processo de negociação com aqueles que tomam as decisões, seja no nível

micro ou macroestrutural (GOHN, 2004).

Acreditamos que essas mudanças necessárias só ocorrerão a partir do

momento em que houver uma gestão pactuada entre os diferentes níveis

hierárquicos, e com a compreensão da magnitude dos aspectos relacionados à

saúde, buscando condições dignas e seguras de trabalho.

A desconstrução da percepção de invulnerabilidade aos riscos no exercício

profissional deve ser trabalhada, no contexto das ações desenvolvidas para o

73

cuidado, a fim de que haja uma transformação da realidade e as práticas de risco

sejam substituídas por comportamentos que resultem em uma assistência de

qualidade ao usuário e na maior proteção do trabalhador da saúde.

A avaliação feita pelos participantes, ao final de cada encontro revelou, que o

grupo foi um espaço privilegiado de diálogo entre enfermeiros e técnicos de

enfermagem, permitindo a troca de experiências vivenciadas em diferentes unidades

e reflexões sobre a prática do uso do equipamento de proteção individual. Houve a

construção do conhecimento e apontamento de soluções para os problemas.

[...] Surgem soluções para resolver cada problema. Isso aqui é uma semente que está sendo plantada (G1) [...] foi muito bom as indagações esclarecidas durante as discussões. Isso estimulou outros assuntos. Se todos os encontros fossem de tal forma... (G1) [...] é importante a troca de experiência, ajuda a refletir as ações também, não só as nossas, mas dos colegas (G3).

Os grupos também expressaram, no fim das sessões, os sentimentos

vivenciados durante as discussões e revelaram uma tomada de decisão e uma ação

em direção a um comportamento preventivo, sugerindo possível mudança de

comportamento em relação ao uso do equipamento de proteção.

Com certeza amanhã o meu dia vai ser diferente, porque eu vou chegar e vou lembrar do que foi dito aqui. É impossível não lembrar (G2). [...] eu vou começar a colocar em prática na minha vida. Vou chegar no meu trabalho e vou tentar fazer um pouco do que eu discuti, do que eu aprendi (G2). [...] contribui para você refletir mais na prática, na hora de fazer o procedimento (G3). [...] surgem soluções para resolver cada problema (G1).

Esses relatos nos fazem pensar no grupo focal para além de uma técnica de

coleta de dados, mas como um espaço privilegiado para se construir uma práxis

sobre comportamentos preventivos seguros.

Quando analisamos os discursos dos grupos, percebemos que sentimentos

como o medo da morte e da contaminação, o pânico, a preocupação com a família e

a dúvida, são alguns dos determinantes que impulsionam esses profissionais à

74

adesão ao equipamento de proteção individual. As falas e as figuras abaixo revelam

essa percepção dos entrevistados. Para melhor compreensão do tema em análise,

ilustramos a seguir as figuras, as quais foram utilizadas como recurso iconográfico,

com as respectivas falas emergentes.

FIGURA 03- Na corda bamba É o medo, medo. Eu trabalho toda cheia de equipamento. É o capote, máscara, luvas. Gorro não temos. Então a gente tenta se proteger com o que tem. (G2) [...] é através do uso do EPI que estamos evitando a nossa cova, porque é aquela coisa, ou você usa ou tem o risco de 50% de se contaminar. (G3)

Agora a situação que a gente observa é que assim, o pessoal se lembra quando está em pânico. (G3) [...] eu tenho um bebê pequeno e eu me preocupo demais, depois da minha filha, de fazer um procedimento sem um equipamento e eu me contaminar por falta de cuidado...(G2).

FIGURA 04- Caixinha de surpresas O que me motiva é porque o trabalho é sempre uma caixinha de surpresas (G1).

75

Observamos que o foco das preocupações para esses profissionais é a

exposição ocupacional, o risco de adquirir uma doença e isso gerar consequências

nos âmbitos pessoais, psicológicos, sociais e familiares.

As vivências do trabalhador em seu ambiente de trabalho repercutem em seu

contexto social e na vida familiar (CASTANHA; MACHADO; FIGUEIREDO, 2007).

Nesse sentido, a preocupação em adquirir alguma doença transmitida

ocupacionalmente e isso gerar uma possível reação negativa aos familiares, exerce

influência pró-ativa para a proteção e uso dos equipamentos.

As infecções causadas pelos vírus da hepatite B e C e HIV, vieram

revolucionar conceitos, valores, crenças em várias instâncias sociais, acerca do

processo saúde/doença, e representa uma preocupação no exercício profissional

(MELO et al., 2006).

Ganczack e Szych (2007) identificaram, em sua pesquisa, que houve

significante associação entre o medo de adquirir HIV no trabalho e a adesão ao EPI,

sendo o medo, o principal motivador para que os profissionais mudassem seus

comportamentos.

No que se refere a essa proteção individual relatada pelos grupos,

evidenciamos uma susceptibilidade aos riscos (percepção subjetiva dos riscos), bem

como a severidade (percepção das consequências, gravidade e repercussões da

doença/risco na própria vida), expressas nos sentimentos e nas condutas adotadas.

A aceitação da susceptibilidade pessoal ao risco, a percepção da vulnerabilidade e a

crença de que ele é perigoso, produzem uma força que induz ao comportamento

preventivo (ROSENSTOCK, 1974b).

Uma das implicações envolvidas na prática diária de profissionais da saúde é

a possibilidade de infecções com patógenos através de um acidente com material

biológico. Outro fator importante é a percepção da vulnerabilidade pessoal, que

parece colocar o profissional em intenso conflito, configurando um momento de

angústia e temor frente ao futuro (RISSI; MACHADO; FIGUEIREDO, 2005).

A percepção do risco é um tema complexo e abarca não somente os

comportamentos, mas também os sentimentos, significados e sua interação com os

fatores da vida cotidiana e os determinantes do ambiente do trabalho.

76

Entendemos que a maioria dos sujeitos desse estudo, possui conhecimento

sobre os riscos e percepção da susceptibilidade e severidade, porém, isso não se

transforma em uma ação segura para o uso do equipamento de proteção.

Para alguns profissionais a falta do medo de se contaminar e a crença de que

nada irá acontecer com ele, reforça o sentimento da autoconfiança e propicia a (des)

proteção. Essa questão é abordada nos relatos a seguir:

O problema maior não é nem a gente não ter o equipamento, mas na grande maioria é o medo, é a falta de medo por exemplo. Ah, eu não vou me acidentar entendeu! Eu sou boa no que eu faço, então eu não preciso usar isso (EPI) entendeu? (G2)

[...] sem contar que nós também temos uma culpa em relação a equipamentos, porque a gente não usa sempre, por exemplo, em punção difícil eu não uso luva, porque eu tenho na minha concepção de que eu não vou me acidentar porque eu tenho uma facilidade muito grande em puncionar veia (G2) A pessoa confia demais (G1) É a autoconfiança, é um fator que dificulta o uso do EPI, principalmente, na hora que vai fazer punção. Eu falo, coloca a luva, e a colega responde, não! sou craque nisso daqui! (G1). [...] a tendência da gente é achar que somos bons demais. Vou fazer a punção aqui e não vou tocar no sangue, mesmo que ele fluir, sair, extravasar. Acontece que vai ter um momento que se contamina (G3).

Os relatos acima evidenciam uma percepção mediana da susceptibilidade e

da severidade dos riscos, que somada com a autoconfiança, adquirida no cotidiano

do trabalho, induz a uma frágil ação em direção ao comportamento preventivo.

A autoconfiança desenvolvida pela experiência é evidenciada na prática

assistencial pelo descaso no uso do EPI, mesmo quando em contato com sangue

e/ou fluidos corpóreo (VIEIRA; PADILHA, 2008). Seguir as precauções interfere nas

habilidades do profissional e influencia no cuidado ao paciente (BEEKMANN;

HENDERSON, 2005).

Correa e Donato (2007), que estudaram as atitudes dos profissionais da

equipe de enfermagem em uma UTI, mostram que na prática assistencial, a adoção

às medidas de biossegurança são ações de pouca importância.

Contudo, todo ser humano é vulnerável, em todas as suas dimensões, tanto

física, quanto psicológica e socialmente. A vida, o trabalho, as ações, os

77

pensamentos e os sentimentos são vulneráveis. Apesar dessa vulnerabilidade, o ser

humano tem a capacidade de se proteger (WALDOW; BORGES, 2008).

Apesar dessa capacidade inerente ao ser humano, fatores já discutidos nesse

trabalho, como estrutura organizacional e de gestão, a autoconfiança e a baixa

percepção nas dimensões das crenças em saúde, atuam como forças adversárias

que anulam essa capacidade.

Contudo, essa capacidade de se proteger quando potencializada pela

percepção dos benefícios conferidos pelos EPI, exprimem no profissional

sentimentos como o bem-estar, tranquilidade, equilíbrio e proteção

FIGURA 05 – Liberdade e tranquilidade EPI é alegria. A gente vivi isso, eu, por exemplo, na enfermagem sou feliz (G2). [...] o que me motiva é sair daqui e não ter nenhuma doença, não adquirir nada, poder viver minha vida, ficar livre e tranquila (G1).

FIGURA 06 - Equilíbrio O que leva a gente a usar é o equilíbrio, porque se a vida é um jogo, eu tenho que tomar a decisão certa pra que isso não cause dano nem para mim nem para os outros (G3).

78

FIGURA 07- EPI como embalagem [...] é como se a gente fosse o produto e o EPI a embalagem (G3). [...] eu estou me protegendo e protegendo o paciente também (G2).

Quando utilizados adequadamente, o EPI serve de aliado dos profissionais,

livrando-os dos riscos possíveis relacionados ao tipo de atividade que estão

executando, bem como a proteção para os pacientes (CORREA; DONATO, 2007).

FIGURA 08 – A armadura Pra mim EPI realmente é proteção completa, totalmente completa, para eu poder fazer um trabalho bem feito, ficar tranquila e protegida, sem preocupar, que eu não vou ser contaminada (G1).

79

A armadura expressa na figura representa essa segurança completa que o

EPI representa para os grupos. Entretanto, apesar da percepção dos benefícios, os

sujeitos apontam que o EPI não os protegem totalmente durante a execução das

atividades.

Mas o EPI não isenta 100%. A gente usa a luva, mas, mesmo assim o perfurocortante vai perfurar a luva e pode contaminar. Usamos os óculos, mas a secreção pode ir aos olhos (G1). [...] mesmo utilizando o EPI a gente tem risco de estar exposto. Agora não utilizando a gente está pior (G3). [...] já aconteceu lá na outra unidade um acidente com a pessoa toda paramentada, tudo certinho, e a gotícula ir lá, passar e cair no olho (G2).

Os sujeitos dos grupos percebem a importância do EPI, no entanto,

reconhecem que o seu uso não elimina completamente o risco de transmissão. O

EPI não deve ser negligenciado em nenhuma das situações que exigem o seu uso,

pois a não adesão pode acarretar em graves consequências na vida do trabalhador.

Contudo, além do uso do EPI, os PAS devem executar suas tarefas com

concentração, atenção e cuidado para que não ocorram acidentes na realização da

assistência que possam prejudicar a saúde do trabalhador e do paciente.

Salientamos que as luvas têm como finalidade primordial a proteção dos PAS

à exposição ao sangue ou a outros fluidos corporais, como secreções e excretas. O

seu uso reduz o contato direto das mãos do profissional com tecidos do paciente,

lesões, membranas, mucosas e na realização de procedimentos invasivos. Apesar

de não evitar os acidentes com perfurocortantes, minimizam o volume de sangue

inoculado (SIEGEL et al., 2007).

Cada um dos sentimentos expressos pelos grupos imprime uma disposição e

uma direção para a ação tanto para a proteção quanto para a (des) proteção. Essa

disposição segundo Rosenstock (1974b) pode ser concretizada ou não, dependendo

da percepção dos benefícios representados pelos EPI, mas também pelas barreiras

representadas pela sua falta ou inadequacidade ao trabalhador.

Os sentimentos e emoções são poderosos, e determinam muito mais do que

se imagina nas decisões e ações humanas. Eles guiam o ser humano no

enfrentamento dos riscos e nos desafios da profissão. A decisão para a ação quanto

80

ao uso do EPI deve considerar os sentimento e as emoções, ao invés de deixá-las

apenas a cargo da razão.

4.2.2. Relacionamento interpessoal

Nesta categoria temática os membros dos grupos enfatizam a influência do

relacionamento interpessoal e da comunicação, entre as categorias profissionais e

entre a gerência, na adesão ao equipamento de proteção individual. As falas dos

grupos expressam uma falta de motivação para o uso do EPI em ambientes de

trabalho onde as relações não são saudáveis.

[...] acho que as pessoas que trabalham ali, são treinadas para dificultar, não para ajudar (G3). Tem o estímulo para o uso e o estímulo para o desuso. Assim, para a não aderência do serviço, é um vir e falar, “saiu da faculdade ontem e está querendo te dar uma ordem esdrúxula! Acorda! Para que isso, nunca aconteceu com você?” (G1). Essa questão de você ser um formador, um formador de opinião é muito válido nesse sentido. Por exemplo, vira e mexe tem alguém lá me cutucando, usa a luva, olha gente usa a luva! (G2).

De acordo com as falas, a questão das relações no ambiente laboral é

determinante e muitas vezes, decisiva para a tomada de decisão diante da (des)

proteção e atua diretamente no ambiente de trabalho, pois cada indivíduo é

responsável pelo estabelecimento da harmonia no seu trabalho, devendo, para tal,

estabelecer uma relação profissional que propicie um ambiente satisfatório e seguro.

Nos relacionamentos, cada um coloca um pouco de si, mostra seu modo de

agir e exerce sobre o outro, uma influência positiva ou negativa (CUNHA;

ZAGONEL, 2008). [...] nós temos sabe, aquela panelinha de pessoas com mais idade, então a gente se preocupa, muito, uns com aos outros e com quem ta entrando a gente orienta muito sabe, faz assim é melhor para você. Muitas vezes você orienta e não faz, mas você orienta o certo, porque isso não fazem questão de passar, mas a gente sim, faz questão de passar umas as outras, a se ajudarem. Então eu acho

81

que o que facilita para nós, no meu horário é isso, o relacionamento entre o colega de profissão (G2). Eu acho que a consciência é fundamental no uso de EPI, biossegurança para o profissional. Ele tem consciência, será que ele sabe realmente para que ele serve? Qual a importância do uso do EPI? Então a gente tem que ser educador a cada dia né! É orientar o colega que está do nosso lado, senão ele pode mesmo se acidentar ou acidentar você, então a responsabilidade é sua (G1).

Ao orientar o certo, mas fazer o errado, como declarado na fala acima, o

profissional estava exercendo sua capacidade moral, de proteger o ser mais frágil e

necessitado. Isso tem relação com o outro que, por sua vez, também se relaciona

com o cuidado no sentido de se colocar no lugar do outro, de apoiá-lo (WALDOW;

BORGES, 2008). Contudo, o ser humano aprende mais o que vivencia e

experiencia, do que propriamente o que ouve.

De forma subliminar aparece a falta de orientação por parte dos gestores, aos

recém-ingressos, quanto aos riscos inerentes ao local de trabalho e as medidas

preventivas que devem ser adotadas. Assim, o próprio grupo assume a

responsabilidade do (des) amparo e, ao mesmo tempo em que “orienta o certo”,

oferece o exemplo agindo de forma (in)segura.

O relacionamento entre os profissionais envolvidos no ambiente de trabalho,

para ser positivo, deve promover o crescimento e o bem estar do outro, pautados no

respeito, bem como na aceitação das diferenças e particularidades de cada um.

Dessa forma podem ajudarem-se mutuamente (BAGGIO, 2007).

Zapparoli, Marziale e Robazzi (2006) também identificaram em um estudo

sobre uso de luvas para punção periférica, que colegas de trabalho influenciam de

maneira positiva ou negativa na conduta de promoção da saúde.

Da mesma forma que profissionais influenciam e motivam os outros colegas à

proteção, os entrevistados relataram que há também aqueles que impulsionam para

um comportamento de risco. Muitas vezes por falta de supervisão, motivação, por

medo de perder o amigo, ou para fazer parte do grupo, ele deixa de se proteger

propagando assim, a ação de (des) cuidado consigo e com os outros colegas de

profissão. [...] na prática ele vê no senso comum, todo mundo fazendo de forma incorreta, então ele pensa, bem não chamou atenção, nunca aconteceu nada comigo de diferente, eu não vou querer ser o patinho feio, e não vou querer ser o peixe que voa. Então ele vai se apegar,

82

aquele pessoal, aqueles que já fazem de forma incorreta e vai se desvirtuar (G1). [...] porque teve gente, colegas que eu não vou citar, que falou, não! Isso é coisa a toa (o EPI), você põe uma máscara e vai, você trata disso, é o nosso dia-a-dia (G2).

Quando um novo membro é integrado ao grupo de enfermagem, como no

primeiro relato, automaticamente os sujeitos envolvidos iniciam a fase de

identificação e (re) conhecimento entre si. Durante a etapa da familiarização entre os

sujeitos são vários os sentimentos experimentados e atitudes apontadas (BAGGIO,

2007).

No entanto, essa experiência pode ser positiva para uns e negativa para

outros. Nesse processo, o recém-ingresso identifica-se com um colega por

afinidades, receptividade, e este por sua vez, passa a ser a sua referência quanto ao

desenvolvimento de suas atividades práticas, inclusive no uso ou não dos

equipamentos de proteção.

O profissional ao ser admitido, em uma instituição, deve ser provido de todas

as orientações necessárias para o desenvolvimento de suas atividades,

principalmente, em relação às rotinas e às medidas de biossegurança. Ressaltamos

aqui também a importância dos exames admissionais e anuais, para que esse

trabalhador tenha um acompanhamento, assim como a educação permanente.

Essas atividades são funções do enfermeiro gerencial, mas também cabe aos

colegas de profissão auxiliá-lo nesse processo

É por meio das relações humanas no trabalho, que é construído um ambiente

saudável, que induz o profissional a se proteger e se preocupar com a proteção do

outro. Isso proporcionará satisfação e prazer aos trabalhadores e contribuirá para

um comportamento preventivo.

Atividades de trabalho que não se revelam interessantes, ou que sejam

estressantes e conflituosas, geram desmotivação e apresentam-se como fatores

determinantes para a não adesão aos equipamentos de proteção, o que expõe mais

ainda os profissionais aos riscos ocupacionais e acidentes no trabalho.

Eu acho que todo o estresse que a gente vive, todos os problemas, por exemplo, laboratório, o RX, que são as interligações do ambiente de trabalho que a gente tem, nutrição, farmácia, tudo isso propicia estresse para gente, se não tiver uma ligação, uma mesma comunicação para que flua tranquilamente. Gera estresse,

83

descontrola emocionalmente a um ponto que você se propicia a mais acidente (G2).

O estresse referenciado pelos grupos tem uma relação direta com os

aspectos da comunicação e da resolutividade dos serviços de apoio do SAS,

conferindo estreita relação com a sobrecarga da equipe de enfermagem na

resolução desses problemas.

O ambiente de trabalho contribui significantemente para o (des) cuidado, dada

a grande demanda de atividades, exigências, sobrecarga de trabalho e tarefas a

cumprir (BAGGIO; FORMAGGIO, 2008).

A comunicação e as relações interpessoais envolvem a equipe de saúde tanto

na assistência, quanto na gestão, as quais têm repercussão nas ações e atitudes

dos profissionais diante da adesão ao equipamento de proteção.

Essa comunicação tem como papel ser facilitadora para o conhecimento

pessoal e interpessoal, tendo o poder de relacionar os membros da equipe (CUNHA;

ZAGONEL, 2008), contudo a falta dessa ferramenta, ou a sua inadequacidade, pelo

não entendimento do que está sendo comunicado, estabelece conflitos, estresse e

(des) proteção.

Calderero, Miasso e Corradi-Webster (2008) identificaram que uma das

principais fontes de estresse para os profissionais da área da enfermagem é o

relacionamento interpessoal no trabalho. O trabalho se desenvolve pela interação

entre pessoas, seja entre colegas de mesmo nível hierárquico, seja entre

empregados e clientes.

Na prática, existe uma equipe multiprofissional responsável pelo atendimento

ao usuário, contudo, formam um agrupamento de diferentes profissionais que não

desempenham suas ações de forma coordenada e a maioria das ações é

desenvolvida de forma individual, interferindo na qualidade da assistência e na

segurança. [...] isso é uma questão de sintonia porque no meu outro trabalho, falando de gerenciamento, às vezes as pessoas que compram nem sabem o que se usam naquele local e às vezes não é requisitado, porque não tem uma sintonia de quem está administrando. Às vezes vai material que você nunca precisa dele e fica faltando outro que você usa, mas é inadequado para o local de trabalho ... quem está comprando ou encaminhando ou quem está requisitando não tem sintonia com o serviço (G3).

84

[...] no meu caso eu trabalho lá (no outro hospital) à noite, eu não tenho contato com a chefe e nem com quem requisita para poder reclamar. Quem trabalha lá durante o dia, durante a semana, parece que não se incomoda ou não tem coragem de expor o problema (G3).

Estas falas remetem a idéia de que a comunicação restrita é um aspecto

negativo para a construção de um ambiente laboral harmonioso e seguro para o

desempenho das atividades relacionadas aos cuidados em saúde. Por outro lado, as

falas soam como um apelo, no sentido de pertencer à equipe, ser ouvido e contribuir

para a melhoria da qualidade do serviço.

As mesmas sinalizam ainda a desarticulação da gestão com os profissionais

que efetivamente, na prática, utilizam os artigos e equipamentos adquiridos para o

cotidiano da assistência. Isso leva a prejuízos para a instituição e, ao mesmo tempo

para os trabalhadores que, na maioria das vezes, por não serem ouvidos, não

dispõem de equipamentos de qualidade para a sua proteção e nem para uma

assistência de qualidade.

[...] então falta motivação de várias espécies, não necessariamente financeira (G1).

A racionalização, a mecanização e a burocratização excessiva do trabalho,

impedem que o trabalhador desenvolva sua capacidade crítico-criativa e atuam

como “desumanizantes”. Como cuidar adequadamente do outro, se quem se

reconhece como cuidador é desrespeitado no seu saber, e sequer é ouvido quanto

às necessidades materiais do seu ambiente de trabalho?

Uma forma de cuidado de quem administra, seria prover material e pessoal

suficientes com adequado preparo profissional para promover um atendimento de

qualidade. Esse cuidado inclui o apoio no planejamento, respeito e motivação para o

desenvolvimento das ações cuidativas de enfermagem.

Estratégias como a advertência e a fiscalização acarretam em

constrangimento para o profissional que não está utilizando o EPI e também para

quem o adverte. No entanto, são os únicos e, muitas vezes, os últimos recursos

utilizados pela gerência para obter alguma adesão do profissional quanto ao uso do

equipamento de proteção individual.

85

[...] então o que eu fiz, advertência verbal. Liguei na secretaria e perguntei se poderia fazer, proceder dessa maneira, se eu estava respaldada legalmente. Aí falaram que o estatuto do servidor te respalda dessa maneira. Então foi uma maneira que a pessoa começou a usar o EPI quando precisava (G1). [...] Usa pouco a advertência porque será? Eu acho que deve ser o medo de constranger a pessoa de se sentir constrangido, porque eu tive que conversar com essa funcionária eu também me senti constrangida, tanto que liguei antes para outra pessoa que era minha chefe, para saber se eu podia fazer isso, como eu podia fazer isso. Então eu também me senti constrangida e ela também (G1).

A capacidade de saber se expressar exerce influência no processo de

comunicação interpessoal (BAGGIO, 2007). A abordagem realizada ao trabalhador

que não está usando o EPI deve ter caráter construtivo e não destrutivo. Apesar de

ser uma advertência, deve ressaltar os aspectos positivos da ação, não acusando o

trabalhador, mas valorizando-o enquanto ser capaz de se proteger.

O ambiente conflituoso e de relações individualistas deixam os profissionais

abalados física, emocional e psicologicamente, com maior propensão a acidentes

com exposição a material biológico. E ao se acidentarem não encontram apoio e

amparo para que essa situação seja resolvida da melhor forma possível. [...] quando me acidentei procurei a enfermeira ... ela virou para mim e falou assim, agora é só Deus! Aí eu falei, só ele mesmo! Eu queria uma conivência dela, eu fui atrás disso...(G2). [...] porque você espera um apoio e você não tem! Então, nós que nos acidentamos é que temos que sair correndo, procurando. Na época que eu acidentei não, correram comigo na hora (G3).

Os relatos explicitam que o cuidador em situação de risco, necessita e espera

ser cuidado. E quem cuida do cuidador? Ao invés do amparo e atenção, muitas

vezes, há o desprezo e até mesmo a acusação do profissional acidentado. Essa

imperícia gerencial, além de não contribuir para melhorar a adesão, leva a

desgastes nas relações de trabalho.

Para que as relações sejam humanas nesse local, é imprescindível aliar a

capacitação e aperfeiçoamento técnico-científico à conscientização e ao

aprimoramento da perspectiva humana e espiritual ao cuidar (CUNHA; ZAGONEL,

2008), principalmente, ao cuidar do cuidador. Quem cuida de modo adequado de si

encontra-se em condições de relacionar-se, de conduzir-se adequadamente na

relação com os demais.

86

O profissional que detêm o conhecimento de como agir diante dos acidentes é

capaz de tomar as providências necessárias, até mesmo, diante das situações

estressantes, uma vez que este tem conhecimento dos riscos. Ao mesmo tempo em

que se propõe a cuidar da saúde dos outros, ele deve cuidar e se preocupar também

com a própria saúde (PINHEIRO; ZEITOUNE, 2008).

Observamos tanto na produção científica sobre acidentes de trabalho com

material biológico (DAMASCENO et al., 2006; LIMA; PINHEIRO; VIEIRA, 2007;

OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2008) quanto no

planejamento das medidas assistenciais e de intervenção, uma dificuldade em

perceber o sujeito acidentado, o profissional que cuida. Os acidentes de trabalho são

as mais visíveis mostras do desgaste do trabalhador (RIBEIRO; SHIMIZU, 2007).

As consequências biopsicossociais deixam evidentes que a exposição

ocupacional a material biológico potencialmente contaminado tem repercussão na

vida social e familiar, prejudicando o desempenho e as relações no ambiente de

trabalho. O espaço social e pessoal é invadido de forma desorganizadora pelo

impacto do acidente (CASTANHA; MACHADO; FIGUEIREDO, 2007).

O mundo do tecnicismo, da burocratização, da imposição de normas está

sendo criado em detrimento do relacional (MERHY; FRANCO, 2003; OLIVEIRA;

COLLET; VIEIRA, 2006). Essa nova concepção tem determinado outro estilo de

convivência, que gera violência nas relações do trabalho solidário, substituindo-o

pelo alheamento em relação ao outro e levando a irresponsabilidade em relação a si

(FREIRE, 2001).

A maioria das relações é estabelecida com base nos papéis que

desempenhamos na sociedade e uma couraça é criada pelo indivíduo como forma

de embutir seus sentimentos, de não querer se relacionar com o outro.

Facilitar a expressão de sentimento, potencializar a pessoa, promover a

comunicação, a flexibilidade, a compreensão e a valorização do ser humano são

aspectos fundamentais para promover um bom relacionamento interpessoal.

Cavalheiro, Moura Júnior e Lopes (2008) relacionam como causas de

estresse para os profissionais da enfermagem, as relações com a chefia, a solidão

nas tomadas de decisões, falta de poder e influência e desvalorização.

[...] já que as supervisoras não dão muita importância, a gente procura se ajudar uma as outras (G2).

87

Não é bem assim que eles (médicos) pensam de nós, porque tinha um enfermeiro que trabalhou no hospital Y. Ele me contava sempre que o diretor de lá deixou de contratar auxiliar de enfermagem... falava que auxiliar de enfermagem é bactéria ambulante, quer dizer que é a gente que não tem precaução (G3). Proteção de médico, não tem não! Você está fazendo o seu curativo bonitinho e ele chega e regassa, tira sem luva, sem nada (G2).

As falas mostram os sentimentos de desprezo, no caso, decorrentes da

hegemonia médica e do enfermeiro sobre a equipe que tem se perpetuado ao longo

da história da saúde.

A opressão gerada pela hegemonia profissional na saúde leva a conflitos e

estresse que são potencializados, segundo a expressão do grupo, por atitudes

profissionais como: recusa em atender quando se encontram no repouso, falta de

coleguismo, falta de percepção sobre o risco para o outro e a quebra de princípios

assépticos na realização de curativos.

Essas situações de conflitos, descasos e incoerências funcionam como

barreiras que impedem a tomada de decisões quanto ao uso de medidas protetoras,

apesar desses profissionais apresentarem alta percepção dos riscos. Segundo

Rosenstock (1974b) para que o profissional tome uma atitude positiva em relação à

proteção é necessário que tenha percepção da susceptibilidade aos riscos, encontre

poucas barreiras que o impeça de concretizar a ação e acredite nos benefícios

representados pelas medidas de proteção.

Consideramos que a gerência do serviço tem grande responsabilidade no

sentido de manter um ambiente laboral que contribua para elevar a percepção

individual e coletiva dos riscos. Também deve imprimir uma dinâmica de trabalho

respeitosa e ética que resulte na diminuição das barreiras, encontradas na prática,

para a adoção de medidas protetoras.

Esse apoio gerencial, além de dar respaldo moral e legal, incentivará o

profissional em direção a uma tomada de decisão para a proteção. Gerenciar

significa desenvolver talentos, incentivar a criatividade, apoiar a participação,

estimular inovações com ética e respeito ao outro (BRAGA; DYNIEWIEZ; CAMPOS,

2008).

Alguns gerentes conseguem estabelecer um vínculo positivo com o

profissional e, ainda, são autênticos no sentido de imprimir uma prática coerente

88

com o seu discurso e nível de exigência. Esses profissionais acabam por exercer um

papel de modelo que é reforçador positivo para a tomada de ação em direção a

comportamentos preventivos.

[...] Nós temos uma supervisora, uma profissional assim exemplar e acessível. Mas também ela não senta não. Ela chega lá e trabalha. Já aconteceu dela adoecer, eu acho que é em questão desse estresse que ela fica (G3). [...] eu acho muito importante o papel que a XX (supervisora) faz. Eu troquei de horário por causa dela, eu achava que ela estava pegando demais no meu pé, porque ela estava atrás de mim o tempo todo, mandando eu sair, desencostar, me dando luva. Então eu pensei poxa, eu não sou mais criança. Aquilo me irritou tanto que eu troquei de horário e hoje eu sinto falta disso. No horário que eu trabalho não existe isso, você se quiser deita, não só encosta como deita. Você usa luva se quiser, sai quantas vezes quiser e isso não é bom! Hoje eu sei que não é bom, o que era bom eu deixei (G2).

A comunicação e as relações são tão difusas que muitas vezes o profissional

não compreende a preocupação do outro em relação a sua segurança, sendo

frequente os sentimentos de inadequação, raiva e cobrança, visualizando essa

atitude mais como uma fiscalização do que uma ajuda, ou até mesmo, um apoio.

Podemos vislumbrar que os esforços individuais no ambiente de trabalho,

embora importantes, não são suficientes para se obter êxito em relação à adesão ao

equipamento de proteção individual. É preciso ir além, trabalhar no coletivo,

compreender e aplicar os princípios da ética e das relações humanas.

Um dos aspectos que surgiu nos relatos, relacionado ao não uso das

barreiras protetoras, é a percepção de que a adoção do EPI não se aplica a

determinadas situações, e a segurança pessoal fica em segundo plano, sendo

prioridade o cuidado ao paciente.

[...] e na hora de uma parada eu vou correr para resolver a situação do paciente. Mas a gente acaba esquecendo de usar as luvas, máscara... Depois... oh, usa luva! Usa luva! Porque eu quero resolver o problema do paciente e acabo esquecendo de mim, naquela emoção danada (G1). Na hora a gente não pensa muito não. Eu por exemplo, fico muito preocupada com o paciente, mas depois vem aquele medo. Nossa! Me sujei toda de sangue, mas aí já foi. E não tem como a gente deixar o paciente e acontece muito isso (G2).

89

Notamos a crença dos sujeitos de que em situações de emergência o cuidado

ao paciente deve ser realizado em detrimento da própria proteção. Essa situação de

emergência é evidenciada na literatura como uma barreira para o uso do EPI, sendo

expressa como uma dificuldade existente na prevenção e proteção, devido a

dinâmica dos atendimentos e o ritmo imposto nestas situações (FLORÊNCIO et al.,

2003; OLIVEIRA; CAVALLI KLUTHCOVSKY; KLUTHCOVSKY, 2008; SOUZA et al.,

2008a, 2008b).

O profissional de enfermagem consciente do seu compromisso com o

trabalho e com o cuidado, sente-se culpado em faltar com seu dever e diante dessa

situação é impulsionado a proteger o paciente, ainda que se desproteja. Esse

cuidado está intrínseco nos valores expressos pelos grupos. A negação da ameaça

expressa dos riscos, diante dos riscos da vida do outro, leva à desproteção

profissional não percebida na realidade cotidiana.

Não considerar a universalidade do risco e a necessidade do uso do EPI é

expor-se além do que o próprio exercício profissional proporciona (MELO, 2005).

A adesão ao uso do EPI tem relação com a percepção da susceptibilidade

dos riscos. Muitas vezes, os profissionais consideram rotineira a exposição

ocupacional a material biológico, não sabendo, em sua maioria, identificar as

consequências que resultam do não uso das medidas de prevenção (ZAPPAROLI;

MARZIALE; ROBAZZI, 2006).

No entanto, há profissionais diante da mesma situação que são conscientes

do risco, percebem a vulnerabilidade e os benefícios do uso do EPI, sendo o maior

deles a proteção. Não, mas numa situação por exemplo, de urgência e emergência, eu nunca que vou pegar o paciente. Digamos que ele está com hemorragia digestiva, vomitando sangue para tudo quanto é lado, eu não vou tocar naquilo, você entendeu? Eu vou colocar uma luva para eu poder fazer algum procedimento, para prestar algum cuidado. Então assim, a gente precisa sempre ter esse raciocínio, esse pensamento crítico, se eu não cuidar de mim como que eu vou cuidar do outro? (G3).

Esses profissionais entendem o princípio da universalidade dos riscos e das

PP (precauções padrão), que devem ser usadas diante de todas as situações. Essa

é uma compreensão que os facilitadores da prevenção e controle de infecção

associada aos SAS, e grupos preocupados com a seguridade ocupacional vêm

90

trabalhando, junto aos profissionais da área da saúde, com a finalidade de despertar

para a situação de exposição existente, bem como estabelecer a cultura da

segurança (MELO et al., 2006; SIEGEL et al., 2007).

A natureza do trabalho da enfermagem exige muita atenção, o que pode fazer

com que o profissional esqueça-se de si mesmo e principalmente, não tenha

consciência do risco do outro. Existe uma distância entre o cuidado de si e o cuidado

com os demais profissionais. Isso pode ser evidenciado nas falas abaixo:

[...] você jogou uma agulha contaminada no lixo comum, então você não tem noção e não tem consciência do outro. Olha os problemas que acarretaram aquele pequeno detalhe. Então a gente chama isso de consciência. Será que eu conheço, tenho consciência do outro? (G1). O funcionário não atenta para o risco do outro também. Pensa assim, ah, terminei meu procedimento tudo bem comigo e com o outro? (G3). [...] os “doutores”, nossos colegas de trabalho, ou até, sei lá mais quem, fazem os procedimentos e tal e embrulham lá muitas vezes as suas bandejinhas. Quando uma outra pessoa vai manusear... eu já tive um acidente dessa forma no setor onde eu trabalho (G3).

Os profissionais precisam ser estimulados a pensar nas ações cuidativas para

com o outro colega, e indispensavelmente, para si, podendo assim, se beneficiar

futuramente ao realizar o exercício do cuidado e ao implementar o cuidado não só

da clientela, mas também entre si, com os colegas de equipe e por si (BAGGIO,

2007).

A não adoção das medidas de segurança torna vulnerável a segurança dos

sujeitos envolvidos no processo assistencial, sendo, primeiramente o próprio

profissional, e na sequência, os demais colegas de trabalho e os pacientes.

O cuidado envolve uma atitude relacionada ao sentimento humano de um ser

humano para com outro, fundamentado num processo interativo. Deve ser realizado

respeitando a dimensão existencial do ser e valorizando a expressão da experiência

da vida de ambos, no momento do cuidar (CUNHA; ZAGONEL, 2008).

Ressaltamos, diante dos relatos dos grupos, o agravante de acidentes

provocados por agulhas deixadas inadvertidamente em meio a campos cirúrgicos,

misturados ao material nos pacotes de curativos, e que terminam por ferir o

trabalhador, o qual, mesmo utilizando os equipamentos de proteção acaba se

91

acidentando. Vale lembrar que com essas atitudes, além de desrespeitar o direito de

proteção do outro, está infringindo a legislação Brasileira que determina na NR-32

(BRASIL, 2005), a responsabilidade do descarte ao profissional que utilizou o artigo

perfurocortante.

Outro ponto destacado pelos participantes é o fato de que o profissional ao

utilizar os equipamentos de proteção em todas as situações, não negligenciando o

seu uso, bem como o manuseio desses equipamentos, torna-se um exemplo e um

modelo a ser seguido, influenciando na atitude e ação dos colegas de trabalho.

Eu procuro dar o exemplo sempre. Com o jaleco, transpirando, mas sempre estou usando dando o exemplo. Posso cobrar porque eu também uso muito. Eu tento muito para usarem sapato fechado. Eu estou conseguindo muito lá, vejo o pessoal de tênis, sapato mais confortável, o jaleco é mais difícil... (G1). Isso é tão engraçado, tem uma colega lá que ela sempre tinha problema de unha, a unha dela não aguentava nem ver um sapato fechado que doía. Como ela agora é enfermeira e precisa ser exemplo, ela mudou totalmente o comportamento. Eu até estava observando. Depois que ela passou a supervisionar, ela não vai mais de sapato aberto. Para você ver, ela passou para o outro lado e viu que realmente é importante a gente ser o exemplo e usar sapato fechado (G3).

Ser um profissional modelo, talvez seja uma das estratégias que podemos

utilizar para conseguir a melhora da adesão ao EPI. Como evidenciado nas

declarações, o enfermeiro, principalmente o supervisor de enfermagem, deve ser

esse exemplo, porém não podemos desconsiderar que esse profissional tenha

aliada à sua prática profissional as competências técnicas, gerenciais e,

principalmente, a competência interpessoal para que essa estratégia possa ser

estabelecida com eficiência e eficácia.

O caminho que leva o indivíduo a se infectar é determinado por um conjunto

de condições, como a comunicação, o relacionamento interpessoal, a falta de

consciência do risco do outro e de si mesmo no ambiente de trabalho, e

principalmente, o comportamento. Não há como pensar em intervenções voltadas

somente para o indivíduo, sem considerar o universo simbólico do processo de

trabalho que interfere nesses comportamentos, que impreterivelmente, podem

apoiar e direcionar as pessoas numa perspectiva de maior autoproteção.

92

Para que haja o sucesso na implementação das PP, em especial do EPI, é

necessário compreender o significado das forças existentes entre as crenças do

profissional e os fatores intrínsecos e extrínsecos ao ambiente de trabalho. Essa

compreensão poderá resgatar a valorização profissional necessária, capaz de

motivar os indivíduos a estabelecerem práticas éticas para a prevenção e controle

das infecções, bem como uma mudança de comportamento.

93

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem qualitativa utilizada nesse estudo possibilitou-nos aprofundar na

subjetividade dos sujeitos e na dinâmica do trabalho, além de nossas expectativas.

Forneceu-nos subsídios para a análise e reflexão da problemática verificada na

adesão aos equipamentos de proteção individual pelos trabalhadores de

enfermagem.

O referencial de crenças em saúde de Rosenstock (1974b) permitiu explorar

as percepções dos grupos sobre EPI nas seguintes dimensões: susceptibilidade,

severidade, benefícios e barreiras, as quais foram analisadas considerando o campo

de forças impulsoras e contrárias à adesão.

Considerando este referencial teórico e sustentado pela abordagem

qualitativa, buscamos analisar as razões, atitudes e crenças dos trabalhadores de

enfermagem para a adesão aos equipamentos de proteção individual, e acreditamos

termos alcançado o objetivo proposto pelo estudo. De uma forma geral, assim como

acreditávamos e explicitamos em nossos pressupostos foi possível identificarmos

que o universo simbólico dos profissionais de enfermagem influencia na tomada de

decisão em relação a (des) proteção desses profissionais no ambiente laboral.

Nesse estudo, percebemos que os grupos conhecem os riscos a que estão

expostos no ambiente de trabalho, mas nem sempre esse conhecimento é suficiente

para evitar a exposição, revelando uma média susceptibilidade ao risco.

Apresentam alta percepção da severidade ao compreenderem que o não uso

dos equipamentos de proteção individual representa uma possibilidade de aquisição

de doença ocupacional, podendo lhes trazer graves consequências nos âmbitos

sociais, familiares, psicológicos, relacionais e no ambiente de trabalho. Significa até

mesmo um risco de morte e invalidez.

O medo de adquirir uma doença ocupacional, a preocupação com a família e

a maternidade são sentimentos expressos pelos sujeitos que imprimem uma tomada

de decisão em direção à proteção.

Apesar das inúmeras barreiras referidas para a adesão aos equipamentos de

proteção, os profissionais reconhecem os seus benefícios, mas têm a consciência

de que o seu uso não exclui o risco de exposição e aquisição de infecção por

patógenos veiculados pelo sangue e pelo ar.

94

Os grupos percebem como benefícios a proteção conferida pelo uso do EPI, o

apoio dos colegas de trabalho e a autenticidade de alguns gerentes, que agem de

acordo com seu discurso. Esses fatores promovem tranquilidade, equilíbrio e bem-

estar.

As barreiras apontadas para a não adesão ao EPI estão relacionadas aos

aspectos organizacionais, gerenciais e relacionais que foram explicitados por:

estrutura física inadequada; disponibilidade e acessibilidade aos EPI; sobrecarga de

trabalho; estresse; improvisação; ausência de educação permanente; situações de

urgência/emergência; desgaste nas relações de trabalho; desvalorização

profissional; falta de rotinas e de um fluxo para o atendimento ao profissional em

situação de pós-exposição a material biológico.

Apesar da clareza das barreiras existentes para a adesão, os profissionais

não se eximem da responsabilidade pessoal para o uso dos equipamentos de

proteção individual. A adesão a estes equipamentos é um comportamento individual

e pessoal, mas fortemente determinado pelas crenças em saúde, especialmente, da

dimensão das barreiras percebidas, na tomada de decisão a esta medida preventiva

A percepção da susceptibilidade e da severidade aos riscos de exposição no

ambiente laboral destes profissionais, somadas à percepção do benefício dos

equipamentos de proteção, são forças positivas que contribuiriam para a tomada de

decisão quanto ao uso dos equipamentos de proteção.

Entretanto, as inúmeras barreiras percebidas por estes trabalhadores no

ambiente laboral para o uso dos equipamentos de proteção individual, anulam as

forças positivas, e influenciam negativamente a tomada de decisão para essa

medida preventiva. Isso contribui para a baixa adesão ao uso dos equipamentos de

proteção individual.

Assim, acusar o trabalhador pelo não uso do EPI torna-se mais uma violência

moral e ética, se considerarmos os aspectos desestruturantes que agem como

forças contrárias no ambiente laboral.

Consideramos que a organização do trabalho, a implantação de uma cultura

de segurança e um serviço de educação permanente estruturado, podem

desenvolver atitudes e ações nos PAS, que refletirão uma mudança de

comportamento de risco para um preventivo.

Reavaliar a organização espacial é outro aspecto imprescindível, pois

possibilitará melhores condições de trabalho, diminuição do estresse dos

95

profissionais, assim como um planejamento das ações e cuidados, priorizando as

medidas de controle e prevenção das IACS.

É necessário também que os gerentes sejam pró-ativos tanto em relação à

provisão, disponibilização do EPI, elaboração de protocolos e rotinas, quanto na

discussão dos problemas e na socialização das tomadas de decisão com os

profissionais, no sentido de buscar um bom relacionamento e o resgate da

valorização dos profissionais.

O estudo mostrou que o grupo focal utilizado para a coleta de dados permitiu

a reflexão das ações e atitudes tomadas em relação ao uso dos EPI. Os

participantes expressaram que a participação e discussão em grupo, contribui para

uma maior consciência sobre os riscos de exposição e os benefícios dos EPI,

sinalizando mudanças de comportamento.

O grupo focal, portanto, revelou-se como uma estratégia alternativa que

poderá ser utilizada na política de educação permanente, para a discussão do

processo de trabalho e dos problemas relacionados às medidas de segurança.

Estudos poderão ser desenvolvidos para validar essa técnica enquanto estratégia a

ser utilizada na educação permanente.

Consideramos limitações do nosso estudo o número de participantes, o

número de encontros e o fato da pesquisa ter sido realizada apenas em um hospital

de ensino, o qual possui características diferenciadas das demais instituições.

Acreditamos que a realização de pesquisas na modalidade pesquisa-ação, que

inclua outras categorias profissionais poderá trazer subsídios importantes para

compreendermos melhor essa problemática da adesão ao EPI.

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106

APÊNDICE A

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado (a) para participar, como voluntário, em uma

pesquisa.

Após ler este documento, ser esclarecido (a) sobre as informações a seguir,

no caso de aceitar fazer parte do estudo, assine ao final do documento, que está em

duas vias. Uma delas é sua e a outra do pesquisador responsável. Em caso de

dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com as pesquisadoras

responsáveis, nos respectivos telefones: Mestranda Heliny Carneiro Cunha Neves

(8405-5800), Drª. Adenícia Custódia Silva e Souza (9977-4003), e a auxiliar de

pesquisa Luana Cássia Miranda (8443-6820). Em caso de dúvidas sobre os seus

direitos como participante nessa pesquisa, você poderá entrar em contato com o

Comitê de Ética em Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital das Clínicas da

Universidade Federal de Goiás, no telefone: (62) 3269-8338/ 3269-8426

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA

Título do Projeto: O olhar dos trabalhadores de enfermagem acerca do equipamento

de proteção individual em um hospital universitário.

Pesquisador responsável: Drª. Adenícia Custódia Silva e Souza

Telefone para contato: (62) 3209-6181/ 8405-5800

Objetivos:

• Caracterizar as razões, atitudes e crenças que impulsionam os trabalhadores

de enfermagem a usar ou não os equipamentos de proteção individual;

• Analisar a exposição a material biológico como fator de adesão ao uso de

equipamento de proteção individual.

Serão sujeitos da pesquisa os profissionais da área da enfermagem que

trabalham no Hospital. Para a coleta de dados elegeu-se a técnica de grupo focal.

As sessões serão gravadas em fitas de áudio. As fitas serão transcritas e mantidas

107

por cinco anos conforme preconizado pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa

(CONEP). Caso concorde em participar do estudo solicitamos a sua assinatura neste

termo.

Será garantido o sigilo e o anonimato (seu nome não aparecerá), tanto seu,

quanto da instituição. Esclarecemos que a realização da pesquisa não envolverá

possíveis riscos ou prejuízos aos participantes. Informamos que sua participação é

livre, sem nenhum ônus (custo) financeiro, podendo desistir no momento que julgar

conveniente sem nenhum dano ou constrangimento.

As pesquisadoras não se vinculam hierarquicamente na instituição, havendo

garantia de que a inserção no campo de estudo, para coleta de dados, não exercerá

nenhum tipo de influência quanto às relações empregatícias dos participantes.

Os sujeitos da pesquisa terão suas dúvidas e questionamentos esclarecidos,

sendo posteriormente informados do resultado da pesquisa.

A sua participação como sujeito dessa pesquisa contribuirá para a análise e

reflexão da problemática verificada na adesão aos equipamentos de proteção

individual pelos trabalhadores de enfermagem no intuito de desenvolver possíveis

estratégias e medidas eficazes na prevenção e controle de infecções.

Os dados serão destinados à elaboração de uma pesquisa vinculada ao Núcleo

de Pesquisa em Infecção Hospitalar (NEPIH) e a dissertação de mestrado, vinculada

ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da

Universidade Federal de Goiás e, posteriormente, publicada em periódicos de

Enfermagem e congressos afins. Garantimos aos sujeitos do estudo que esses

dados coletados serão utilizados apenas para estas pesquisas e não serão

armazenadas para estudos futuros.

CONSENTIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DA PESSOA COMO SUJEITO DA PESQUISA

Eu, __________________________, RG/CPF_____________, abaixo assinado,

concordo em participar do estudo como sujeito voluntário. Fui devidamente

informado e esclarecido pela pesquisadora Heliny Carneiro Cunha Neves sobre a

pesquisa, os procedimentos envolvidos, assim como riscos e benefícios decorrentes

da minha participação. Foi me garantido que posso retirar meu consentimento a

qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade.

108

Local e data:_____________________________________________

Nome ou Assinatura do sujeito responsável:____________________

Nome ou Assinatura do Pesquisador responsável:________________

Presenciamos a solicitação do consentimento, esclarecimentos sobre a pesquisa e

aceite do sujeito em participar.

Testemunhas (não ligadas à equipe de pesquisadores):

Nome:____________________________ Assinatura:____________

Nome:____________________________ Assinatura:____________

109

APÊNDICE B

QUESTÕES NORTEADORAS

1. O que é o EPI na sua prática cotidiana?

2. Para você, quais são os fatores facilitadores e dificultadores do uso do EPI?

3. Quais são os fatores pessoais que os motivam e desencorajam a usar o EPI?

GUIA DE DISCUSSÃO PARA O GRUPO FOCAL

1. Conceito de EPI

2. Uso do EPI na prática cotidiana

3. Situações em que o EPI deve ser utilizado

O EPI deve ser usado em todas as situações?

4. Fatores que motivam o uso do EPI

5. Fatores que desencorajam o uso do EPI

6. Fatores facilitadores para o uso do EPI

7. Fatores dificultadores para o uso do EPI

8. Já aconteceu com você algum acidente por não estar usando o EPI?

9. Você já se sentiu protegido durante um procedimento porque estava usando o

EPI?

10. Já sentiu algum benefício do uso do EPI?

11. Quando não usa o EPI, você se vê em risco?

12. Quando você entrou em contato com material biológico, o que pensou?

13. A influência de colegas interfere no uso do EPI?

110

ANEXO A

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