24
Março a Maio de 2015 Escola de Servos Um Novo Capítulo em Nossa História

Escola de Servos

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Breve estudo sobre serviço à luz dos Evangelhos

Citation preview

  • Maro a Maio de 2015

    Escola de Servos Um Novo Captulo em Nossa

    Histria

  • 1

    Ol Voc!

    Temos insistentemente falado em nossa igreja sobre uma

    relao de amor a Deus. Relacionar-se com o Pai tendo

    como base o amor, a mais extraordinria maneira de

    viver. Este cultivar constante de amor a ele traz consigo

    uma enorme paz, indescritvel liberdade, descanso e

    refrigrio para a alma.

    Uma das mais significativas consequncias de amar a

    Deus, o desejo de servi-lo. Quem ama serve! Servir a

    Deus colocar-se a sua disposio para ser usado com os

    dons e talentos que ele mesmo nos deu.

    Precisamos todos na CPBT aperfeioar e desenvolver

    nosso servio a Deus. Como podemos servi-lo melhor? Foi

    para responder a esta pergunta que criamos a ESCOLA

    DE SERVOS

    Eu desejo servir a Deus no para retribuir aquilo que ele

    me tem dado, nem mesmo

    para provoca-lo a me

    abenoar mais. Quero dizer

    eis-me aqui, somente

    porque o amo!

  • 2

    NOSSO CRONOGRAMA

    MARO TEMAS

    8 Jesus nosso modelo de servio

    15 Jesus nosso modelo de servio

    22 Dons e ministrios I

    29 Dons e ministrios I

    ABRIL TEMAS

    12 Dons e ministrios II

    19 Histria e cultura da CPBT

    26 Onde Estamos!

    MAIO TEMAS

    3 Para onde vamos?

    10 Oficina prtica 1

    17 Oficina prtica 2

    24 Oficina prtica 3

    31 Oficina prtica 4

  • 3

    1. O Reino de ponta-cabea ou a grande inverso

    Ele estendeu o brao e mostrou que poderoso, dispersou todo arrogante e todo orgulhoso. Derrubou do trono os tiranos assoberbados, e exaltou os simples e humilhados. Aos pobres e famintos deu um banquete extravagante; ficaram a ver navios os ricos arrogantes. Lucas 1:49-53 A Mensagem

    Os cristos afirmam que Jesus o salvador do mundo e esta uma verdade crucial para

    a f. Jesus nosso Salvador em vrios sentidos. Mas h uma forma de encarar essa

    salvao que, apesar de ser verdadeira, restringe nossa relao com Ele a um momento

    de arrependimento e entrega de nossa vida aqui neste mundo e, depois, somente vida

    aps a morte.

    Essa viso concebe que a nica preocupao de Deus em Sua relao conosco nos dar

    um passaporte para a vida eterna. Esse passaporte conseguido por meio da f,

    entendida aqui como a aceitao intelectual de verdades doutrinrias a respeito de Deus

    e de ns mesmos.

    Se eu aceitar intelectualmente que Jesus o Filho de Deus, que veio ao mundo para

    morrer por mim e se eu entregar a Ele a minha vida (mesmo no entendendo muito bem

    o que isso significa e que implicaes isso tem para a maneira como devo viver no dia

    seguinte) serei salvo, isto , um dia irei para o cu, terei a vida eterna.

    Ainda que tudo isso seja verdade, a pergunta que muitos cristos passaram a fazer foi:

    E o que Jesus tem a dizer sobre como devo viver a minha vida neste mundo? Faz parte da obra salvadora de Cristo nos libertar das mentiras e das iluses do nosso mundo e

    nos propor um estilo de vida, um modelo de relacionamentos, uma forma de viver que

    traga a vida eterna para essa dimenso da vida, ainda que de forma incompleta em

    funo do nosso pecado.

    No foi apenas o que aconteceu na ltima semana da vida de Jesus, a saber, sua

    perseguio final, sua morte e ressurreio, que nos salvou. Ainda que esses

    acontecimentos tenham um valor incomensurvel f e sejam base da nossa salvao,

    no podemos nos esquecer que Jesus viveu 33 anos e exerceu um ministrio com seus

    discpulos por 3 anos. Nesse tempo Ele ensinou-lhes os seus valores, desconstruiu a

    hierarquia de valores que eles tinham em mente e construiu neles uma nova mente,

    uma nova narrativa, que desembocaria em um novo Reino, o Reino de Deus.

    Eles se relacionavam com as pessoas, consigo mesmos e com Deus de forma equivocada.

    Jesus viveu intensamente essas relaes de forma a se colocar como alternativa aos

    modelos equivocados de seus discpulos e assim tambm Ele os salvou. Salvou-os de si

    mesmos, salvou-os dos equvocos de seu mundo, salvou-os das mentiras de sua prpria

    cultura.

    Ns tambm nos relacionamos com os outros, conosco mesmos e com Deus de forma

    equivocada. Necessitamos da salvao que nos trazida pelo modelo de Jesus, por seu

    estilo de vida.

    Uma das caractersticas principais desse estilo de vida de Jesus, por meio do qual

    passamos a conhecer os valores do Reino de Deus, o fato de que ele se apresenta como

  • 4

    uma contracultura. Desde o incio da grande histria de Deus com a humanidade, todas

    as vezes que Deus chama algum para fazer parte dessa histria, esse chamado inclui a

    necessidade de ser diferente de tudo o que est em volta. Jesus conclamou seus

    discpulos vrias vezes a ser diferentes dos lderes espirituais de sua poca, que eram

    extremamente preocupados com o exterior, mas no cultivavam um corao limpo na

    presena de Deus. Chamavam a ateno de todos quando faziam atos caridosos porque

    sua nica inteno era serem vistos e aprovados pelo povo. Vocs no sero assim, disse Jesus a Seus discpulos. Pelo contrrio, quando fizerem um ato de ajuda a um

    necessitado, faam-no em secreto e seu Pai que v em secreto dar a maior de todas as

    recompensas, a alegria de serem usados para abenoar uma vida.

    Essa apresentao de valores alternativos por Jesus to enftica que alguns autores a

    chamam de a grande inverso. Os valores do Reino de Deus so invertidos em relao

    aos valores da cultura que nos circunda. Aquilo que considerado grande e alto na

    cultura desprezado no Reino; aquilo que desprezado pela cultura, normalmente tem

    grande valor no Reino. Alguns exemplos podem nos ajudar a entender essa inverso.

    A cultura da poca de Jesus e a nossa tambm sempre valorizou a riqueza. Os ricos so

    vistos normalmente como abenoados por Deus e felizes. Faz parte do desejo da maior

    parte das pessoas se tornarem ricas seja por meio do trabalho, seja ganhando algum

    dinheiro sem fazer esforo. Jesus vrias vezes advertiu seus discpulos acerca do perigo

    das riquezas. Elas podem criar uma atmosfera de falsa segurana que afasta as pessoas

    de Deus. Alis, mais fcil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus. Assim, a riqueza, do ponto de vista do Reino, vista no como objeto de desejo, mas como motivo de preocupao.

    Outro exemplo o modo como Jesus se relacionava com as pessoas em sua sociedade.

    Como toda sociedade permeada pelo pecado humano, a sociedade de Jesus produzia seus

    prias; pessoas que eram desprezadas pelos outros e que viviam margem da elite

    cultural, religiosa e poltica da poca. A sociedade judaica desprezava uma srie enorme

    de profisses, mas podemos exemplificar lembrando apenas de trs grupos e

    comparando o modo como Jesus e os lderes religiosos de sua poca se relacionavam com

    esses grupos.

    Em primeiro lugar, as pessoas doentes e especialmente as pessoas acometidas por

    doenas consideradas impuras, como a lepra. conhecida a maneira como a sociedade

    tratava os leprosos. Eles deveriam viver separados da comunidade, sem acesso s

    pessoas. Se, por um acaso um leproso encontrasse outra pessoa, ele deveria gritar:

    Leproso, leproso, para que o outro pudesse guardar a devida distncia. Nos evangelhos, vemos Jesus no apenas se dirigindo aos leprosos, mas tocando em suas

    feridas. A atitude de Jesus to espetacular para a sociedade da poca que mesmo os

    seus discpulos custam a crer no que esto vendo.

    Outro grupo de pessoas marginalizadas na poca de Jesus so os cobradores de

    impostos. Essas pessoas trabalhavam para o Imprio Romano cobrando impostos de

    seus compatriotas judeus e passando aos romanos. Nessa transao, era sabido que

    muitos dos cobradores de impostos ficavam com uma boa parte para si. Certamente no

    passariam por uma investigao da operao Lava Jato. Por isso, tais pessoas eram

    desprezadas e tidas como impuras pelos lderes religiosos da poca de Jesus; se um

    cobrador de impostos se sentasse em uma cadeira e depois um lder religioso se sentasse

  • 5

    na mesma cadeira, esse lder religioso teria que passar por um ritual de purificao para

    ser considerado novamente limpo.

    O desprezo dos lderes religiosos pelos cobradores de impostos fica claro na famosa

    parbola contada por Jesus sobre o fariseu e o publicano. O fariseu no se aproxima dos

    outros adoradores e ora em voz alta insinuando que o publicano era ladro, corrupto e

    adltero.

    Espantosamente, o heri dessa histria contada por Jesus o cobrador de impostos e

    no o fariseu. Ele entende seu distanciamento de Deus, se arrepende e volta justificado

    para casa.

    Jesus andou com cobradores de impostos, convidou um deles para ser um dos 12

    apstolos e, para ira dos lderes religiosos, aceitou convites para comer com essas

    pessoas. Ao fazer isso, Jesus inverte os valores da sociedade de seu tempo e inaugura

    um novo tempo de oportunidade para todos.

    Outro grupo desprezado na poca de Jesus, mas extremamente valorizado por Ele o

    grupo das mulheres. Um judeu da poca de Jesus no falava com uma mulher em

    pblico. Jesus, no somente fez isso, como contou vrias parbolas em que as mulheres

    eram as personagens principais (o juiz e a viva, a mulher que perde as dracmas). A

    conversa de Jesus com a mulher samaritana causou espanto at em seus prprios

    discpulos que tinham a mente contaminada pela cultura da poca.

    Dentro do grupo das mulheres, Jesus foi ainda mais longe e conviveu com prostitutas.

    O encontro com a mulher na casa de Simo demonstra claramente o desprezo dos

    fariseus pelas prostitutas e o valor que Jesus deu ao arrependimento da mulher que

    lavou seus ps com suas lgrimas e os enxugou com seus cabelos.

    Assim, de um lado a sociedade produzia seus prias que eram marginalizados e

    desprezados. Mas, de outro, Jesus os acolhia com amor e lhes pregava as boas notcias

    de que Ele havia vindo como um mdico para curar todas as suas enfermidades. Os que

    se julgavam sadios, no precisavam de mdico.

    Dentro desse contexto que precisamos entender a viso de Jesus sobre a questo do

    servio.

    Como em nossa sociedade, as pessoas na poca de Jesus tambm pensavam que servio

    era algo que as pessoas de uma classe inferior (os pobres) faziam para algum de uma

    classe superior (os ricos e os poderosos).

    Assim, as pessoas de classes sociais superiores se vangloriavam de serem sempre

    servidas e, algumas at, de nunca ter que trabalhar.

    Ao avaliar o modelo de Jesus sobre o servio, precisamos levar em conta a quem Jesus

    servia, qual a base ou a origem do servio (por que Jesus servia), a nfase de Jesus no

    servio contra a mar da sociedade que ansiava por subir na escala social e como Ele

    servia. A essncia do ensino do Reino a respeito do servio est nesses pontos.

    Em primeiro lugar, para entender a quem Jesus servia, precisamos compreender a

    interao entre os grupos sociais de sua poca e como Ele reagiu diante dos diferentes

    grupos. Para isso, vamos fazer um exerccio de leitura.

  • 6

    Exerccio 1

    Leia o texto abaixo e responda s questes seguintes.

    Pssaros da mesma espcie

    Disse um sbio, certa ocasio: Os pssaros da mesma espcie voam em bandos. Pessoas similares tambm costumam juntar-se. Gostamos das pessoas com quem temos coisas

    em comum. Mas nos sentimos desajeitados e deslocados em lugares desconhecidos, onde

    h pessoas vindas de passados formativos estranhos. Gostamos daqueles que pensam

    como ns. E comeamos a pensar como as pessoas que respeitamos. Quando se trata de

    crenas, os opostos se repelem, e pssaros da mesma espcie se atraem.

    Muitos fatores sociais juntam os seres humanos rendimentos, educao, ocupao, raa, religio, poltica, estilo de vida, famlia, procedncia tnica e herana nacional.

    Migramos na direo de pessoas similares e nos sentimos bem quando estamos entre

    pessoas cuja educao se assemelha nossa. fcil conversar com pessoas que tm a

    mesma ocupao; agradvel estar em companhia daqueles cujos pontos de vista sociais

    espelham os nossos. Buscamos pessoas parecidas conosco para que nos sintamos

    apoiados e nossas ideias sejam reforadas. Quando nos faltam padres objetivos que

    confirmem nossas ideias, achamos segurana na companhia de amigos com os quais

    concordamos. Ideias estranhas podem ameaar nossas crenas, forando-nos a repensar

    nossas convices. Talvez at tenhamos que fazer algumas modificaes.

    O princpio dos pssaros da mesma espcie tambm d forma interao grupal.

    Pessoas com passados formativos educacionais ou ocupaes profissionais semelhantes

    com frequncia vivem em uma s rea. Se soubermos onde uma pessoa mora, muitas

    vezes podemos predizer a sua raa, os seus rendimentos ou a sua ocupao. Podemos at

    aventurar-nos a calcular seu estilo de vida, as suas inclinaes polticas e a sua

    educao. Congregaes e parquias tambm atraem pessoas parecidas umas com as

    outras. Naturalmente esses padres tm suas excees. Mas isso no elimina o fato que,

    na maioria dos lugares, na maior parte do tempo, a maioria das pessoas se rene com

    pssaros da mesma espcie.

    O tabuleiro social

    Quaisquer comunidades humanas traam limites. Criam fronteiras que separam o bem

    do mal, o limpo do sujo, o estigma do respeito, os que pertencem a um grupo e os

    estranhos. Um tabuleiro de xadrez pode ajudar-nos a visualizar as linhas que organizam

    a interao social. Cada quadrado do tabuleiro pode representar um tipo particular de

    indivduo. Os quadrados e as linhas limitam e definem a interao social. Costumamos

    tomar caf, sair de frias, jogar bola, almoar, viajar e nadar com pessoas que pertencem

    ao nosso prprio quadrado ou a algum quadrado prximo. raro sentirmo-nos ntimos

    de algum que pertence a um quadrado do lado oposto do tabuleiro. Tratamos aqueles

    de nosso quadrado como amigos e vizinhos. Convidamos a nossa casa pessoas de

    quadrados parecidos ao nosso. Esses padres familiares eliminam preocupaes sobre

    como tratar com pessoas esquisitas, de quadrados distantes. Essa conjugao normal de

    pessoas em quadrados sociais ordena a vida e a torna previsvel.

    Tanto indivduos como grupos ocupam quadrados no tabuleiro. E a maioria das pessoas

    ajusta-se a diversos quadrados. Algum pode ser pai, marido, professor, vizinho e

  • 7

    escritor. Alguns desses quadrados ns herdamos sem poder fazer escolha raa, sexo e nacionalidade. Quanto a outros, ns mesmos os escolhemos profisso, religio, ideias polticas e educao. Cada quadrado inclui certos direitos, privilgios e obrigaes. A

    definio social de um quadrado determina, em grande parte, como avaliamos a ns

    mesmos e como pensamos que os outros reagem diante de ns. E o rtulo de cada

    quadrado diz queles que no vivem ali como devem relacionar-se com os ocupantes

    deste ou daquele quadrado. Consideremos um uniforme de polcia. Basta o uniforme

    para lembrar os que o vestem para que se conduzam em consonncia com a sua

    profisso. Mas os oficiais da polcia tambm esperam que os cidados se relacionem com

    eles com respeito, quando esto uniformizados.

    Em nossa mente carregamos um tabuleiro de xadrez social. Quando nos encontramos

    com as pessoas, separamo-las em quadrados ou compartimentos sociais. impossvel

    organizarmos rapidamente dados sobre cada nova pessoa que conhecemos. Faltando-

    nos detalhes personalizados, simplesmente selecionamos as pessoas em

    compartimentos, de acordo com a sua aparncia externa. Elas so brancas, orientais,

    enfermeiras ou motoristas de nibus. Ou ento as rotulamos como fundamentalista,

    judeu, boa praa, liberal, poltico ou viciado em drogas.

    Alm de selecionar assim as pessoas, generalizamos acerca do comportamento que

    esperamos da parte daqueles que estejam em algum compartimento em particular.

    Estereotipamos. Supomos que uma pessoa em particular comporta-se como pensamos

    que devem se comportar pessoas dentro daquele mesmo compartimento. Pensamos que

    os carismticos vivem tentando fazer as outras pessoas falarem em lnguas. Os telogos

    liberais no acreditam no nascimento virginal de Jesus. Os fundamentalistas no se

    importam com a justia social. Os judeus so pouco generosos. Os ricos so indiferentes

    e insensveis. Os vendedores so falastres cheios de truques. As mulheres so

    emocionais. Os adolescentes so irresponsveis. E os nossos pais foram muito rgidos.

    Mas podemos cometer erros srios quando jogamos o xadrez social. Com facilidade

    metemos as pessoas em compartimentos errados. Nossas generalizaes acerca do

    comportamento alheio por muitas vezes derivam-se de mitos, no de fatos. Mesmo que

    um esteretipo seja veraz, uma pessoa em particular pode destacar-se dentre os padres

    sociais associados ao seu compartimento. Essa diviso em compartimentos algumas

    vezes tem trgicos efeitos. Relacionamo-nos com outras pessoas de acordo com os nossos

    rtulos, ao invs de avali-las como pessoas reais. Talvez evitemos pessoas porque os

    rtulos que lhes damos dizem: surdo, ex-detento, incapacitado, prostituta, homossexual.

    Jesus traou para ns maneiras criativas de penetrarmos nesses compartimentos. Ele

    cruzou as linhas divisrias, transps as fronteiras e tratou com a pessoa real. Ele

    zombou das regras que governavam o tabuleiro de xadrez na Palestina. Ele atravessou

    barricadas erigidas entre adversrios. Percorrendo o tabuleiro social de Seus dias, Ele

    deu muito pouca ateno a tabuletas como No ultrapassar, ou No entre, sinais esses que vivem pendurados no pescoo de muita gente.

    Jesus ignorou as normas sociais que especificavam o quem, o quando e o onde da

    interao social. Ele retirou as pessoas de seus compartimentos estigmatizados e elevou-

    os a uma posio de pessoas verdadeiras e dignas, em Seu reino incomum. Quando os

    herodianos e os fariseus tentaram pegar Jesus no ardil da pergunta sobre os impostos

    pagos, eles prefaciaram as suas perguntas manhosas com certa lisonja: ... no olhas a

  • 8

    aparncia dos homens, antes segundo a verdade ensinas o caminho de Deus (Mc 12:14). Em outras palavras, Jesus ignorava os nossos compartimentos sociais.

    Adaptado do livro O Reino de Ponta-Cabea, de Donald B. Kraybill, pgs. 203-206

    Questes

    1) De que maneiras o princpio dos pssaros da mesma espcie funciona em sua prpria vida?

    2) Considerando as pessoas com as quais voc de fato convive, quantas vieram de

    compartimentos sociais diferentes do seu prprio?

    3) Identifique os quadrados do tabuleiro social que esto mais distantes do seu

    quadrado, escolha um desses quadrados distantes e estabelea um plano para

    comear a interagir com as pessoas desse quadrado.

    4) Pelo conhecimento que voc tem dos evangelhos, quais so os principais

    compartimentos sociais da poca de Jesus e como Ele interagiu com cada um

    deles. Como o modelo de Jesus nos inspira a tratar as pessoas em nosso tabuleiro

    do sculo XXI?

    5) Que tipos de compartimentos existem dentro de sua comunidade local? Como

    esses compartimentos precisam ser desmantelados?

    O baixo alto - A escada social

  • 9

    A vida social, entretanto, no plana. De fato, o tabuleiro social mantm-se em uma

    posio vertical e seus compartimentos mais se parecem com as caixas de correio em

    nossos blocos de apartamento. Alguns compartimentos so consideravelmente mais

    elevados do que outros. Capturamos essa dimenso vertical da vida quando falamos

    sobre as ordens de hierarquia e as escadas ou escalas sociais. A sociedade no pode ser

    comparada a um lugar plano. As pessoas no so iguais. Algumas so mais importantes

    e mais distinguidas do que outras. Estratificao o termo tcnico usado para indicar

    essa hierarquia social.

    Naes, igrejas, grupos tnicos, profisses e indivduos so classificados e estratificados

    em nossa mente. Ordens hierrquicas surgem em todas as sociedades.

    A classificao social minimiza o valor de algumas pessoas e expande o valor de outras.

    Valorizamos as pessoas de acordo com a sua habilidade de realizar alguma tarefa em

    particular. Presidentes, mdicos e administradores so valorizados. Engraxates,

    lavadores de pratos e balconistas, nem tanto.

    Nossos salrios destacam esse fato brutal. Somos pagos de acordo com valores

    socialmente determinados. O quanto ganhamos faz-nos lembrar quanto valemos.

    A altura de nosso degrau na escada social tem um imenso impacto sobre nossas

    oportunidades na vida. Isso influencia se experimentaremos desnutrio, mortalidade

    infantil, estudos superiores ou priso prematura.

    O poder social eleva-se ou decai juntamente com o nvel relativo dos degraus da escada

    social. Poder a capacidade de afetar a vida social, a capacidade de fazer coisas

    acontecerem. Aqueles que controlam recursos (conhecimento, dinheiro e posio) podem

    fazer coisas acontecerem com mais facilidade do que aqueles que no os possuem.

    A estratificao no um fenmeno exclusivo do mundo moderno.

    A diferena fundamental do mundo moderno em relao s sociedades antigas a forma

    e a facilidade com que as pessoas conseguem mover-se na escala social.

    Sob um determinado ponto de vista, isso maravilhoso. Nas sociedades muito antigas,

    a mobilidade social era mnima. Isso significa que, uma vez nascido em um determinado

    compartimento, seu destino social estava traado. Voc ficaria ali pelo resto da vida.

    Que notcia maravilhosa descobrir que existem meios de subir os degraus da escada

    social. O mundo moderno nos afirma que pelo trabalho e pelo esforo ns podemos chegar

    aos degraus mais altos da escada social. E isso uma boa notcia.

    Mas h um corolrio perverso nessa afirmao moderna que provoca a neurose em que

    muitos de ns vivemos hoje em dia. A vida passa a se resumir a uma corrida para subir

    os degraus da escada social. O trabalho se torna no um meio de exercer os dons que o

    indivduo recebeu para servir a seu prximo, mas um instrumento de ascenso social. O

    que importa na vida moderna subir na escada social. Estudamos mais, trabalhamos

    mais, investimos mais, tudo com essa inteno, de forma transparente ou implcita, mas

    sempre com esse objetivo. No importa o degrau em que nasci; importa que usei os

    talentos e os recursos que me foram doados para subir a degraus mais elevados. No

    importa se o degrau onde estou j muito elevado. Tenho que continuar lutando para

    subir.

  • 10

    As pessoas so estimuladas a procurar os trabalhos que pagam os melhores salrios, a

    ter mais de um emprego, a fazer mais de um MBA, a falar vrias lnguas. Tudo isso tem

    um preo. Normalmente, o preo a pobreza das relaes fundamentais da vida. O preo

    a ausncia de uma relao de qualidade com a famlia, a falta de ateno e cuidado

    com os filhos, a ausncia do cultivo de uma relao de amizade com o cnjuge, o

    desaparecimento da famlia ampliada (avs, tios, primos, sobrinhos eles existem, mas no fazem parte da nossa vida como antes) e das amizades verdadeiras.

    E toda essa corrida social tem uma linguagem; tudo isso precisa ser comunicado

    socialmente. Com essa finalidade, somos estimulados a exibir as imagens prprias dos

    compartimentos sociais que alcanamos. Algum que est em determinado degrau deve

    morar em determinadas casas ou apartamentos que devem ter a metragem adequada,

    seu clube privado (quadras esportivas, piscinas, academias de ginstica, reas

    gourmet, espao para cinema, etc.) e segurana. Nesse degrau, as pessoas tambm usam determinados tipos de carro, frequentam determinados tipos de restaurante,

    viajam para certos lugares em busca de lazer e entretenimento, frequentam teatros e

    eventos esportivos e tem amigos que fazem as mesmas coisas.

    Uma linguagem estratificada salpica os Evangelhos. Jesus estava cnscio das realidades

    da hierarquia social.

    O ttulo Altssimo usado nas Escrituras como outro nome de Deus, sugerindo que Ele ocupa o ponto mais alto da escada.

    A palavra autoridade aparece com frequncia nos lbios de Jesus, embora Ele no se

    apresentasse diante do povo munido dos sinais tradicionais de autoridade. Ele no tinha

    qualquer passado poltico nem o treinamento necessrio para ser um escriba. Vrias

    vezes, seus inimigos lhe perguntaram de quem Ele tinha aprendido e de onde vinha Sua

    autoridade. No Evangelho de Joo, Jesus esclareceu a origem de Sua autoridade: Ele

    agia em lugar de Deus. Seu Pai lhe havia dado o direito de falar acerca do Reino de

    Deus. Isso fundamental. Quem fala em favor de outro orienta os ouvintes na direo

    desse outro. Lderes autonomeados apontam para si mesmos. (Jo 5:26-27; 5:30; 7:16;

    12:49).

    Jesus via a Si mesmo como direto mordomo do poder de Deus. Deus quem Lhe dava o

    direito de falar. Mas Ele tinha o cuidado de usar sua liderana de forma tal que isso no

    redundava em Seu prestgio pessoal. Suas palavras e Seus atos refletiam os desejos de

    Deus.

    Por outro lado, Jesus usava sua autoridade para servir e ajudar a outras pessoas. Elas

    eram as beneficirias de Seu poder. Embora Sua ordenao no fosse documentada pelos

    canais apropriados, as multides sentiam a autenticidade de Sua mensagem, e isso Lhe

    fornecia base de sustentao.

    Pare de subir

  • 11

    Por todos os Evangelhos, Jesus repreendeu os lderes que se esforavam por subir por

    seus prprios esforos. Havia trs modos pelos quais os lderes religiosos ostentavam os

    lugares mais eminentes da escadaria judaica: vestes ostentosas (Mt 23:5; Mc 12:38; Lc

    20:46), lugares especiais na sinagoga e nos banquetes (Mt 23:6; Mc 12:39; Lc 20:46) e

    ttulos e saudaes especiais (Mt 23:8-10).

    Em Sua crtica contra aqueles que tinham sede de prestgio, Jesus minimizou a fome de

    posio social que serve de mola impulsionadora em tantas facetas da vida social.

    Buscar desesperadamente subir de posio no era problema somente dos fariseus. Isso

    tambm servia de ardil para os discpulos de Cristo. Certo dia, eles comearam a discutir

    quem deles seria o maior (Mc 9:33,34). Em outra ocasio, Tiago e Joo arrastaram Jesus

    para um lado e Lhe rogaram: Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir (Mc 10:35). Eles queriam sentar-se nos dois primeiros lugares, cada um a um lado de

    Jesus, quando Seu Reino fosse inaugurado. Os primeiros ministros do novo governo, os

    vice-presidentes na nova organizao. Mateus informa que a me dos dois participou do

    pedido feito ao Mestre.

    A reao de Jesus sede de poder de seus discpulos est registrada em diferentes partes

    dos Evangelhos. Vamos selecionar algumas que podem nos dar o fundamento da

    resposta de Jesus a eles.

    1) Sejam como as crianas Mc 9:33-37

    Jesus repreendeu o clamor de Seus discpulos por posio e poder, tomando uma criana

    nos braos. Quem recebe uma dessas crianas, como eu estou fazendo, recebe-me tambm. Mais do que isso, recebe o prprio Deus, que me enviou.

    Logo depois, quando os discpulos estavam fazendo o selecionamento de visitantes, eles

    impediram crianas que queriam tocar Jesus. Ele ficou furioso com o jogo de poder deles

    (Mc 10:13,14).

    Para os discpulos, aquelas crianas eram nulidades sociais. No tinham qualquer

    posio proeminente. No poderiam ajudar em nada a causa de Cristo. Jesus deveria

    passar Seu tempo com indivduos importantes. Mas para Jesus, elas eram to

    importantes quanto os adultos. Ele no somente passava tempo com os pequeninos, mas

    tinha-os como modelos dos cidados do Reino (Mc10:14,15). Por que Jesus usou uma

    criana para simbolizar a vida no Reino de Deus? Em que as crianas poderiam ensinar

    algo aos discpulos do Reino? Por que Jesus desceu at ao fundo da escada social, para

    ali obter um exemplo ilustrativo?

    A posio das crianas, quanto a status social e ao poder, bem baixa. Totalmente

    dependente de outras pessoas, elas s do despesas. As crianas fazem bem poucas

    distines sociais. Elas no prendem pessoas em compartimentos at serem ensinadas

    a agir assim. Ainda no aprenderam a jogar de acordo com as regras sociais dos adultos.

    Ainda no aprenderam a demonstrar preconceitos tnicos e racistas. Cor da pele,

    nacionalidade, ttulos e sexo so compartimentos que pouco significam para os

    pequenos. Eles no tm qualquer senso de hierarquias e estruturas burocrticas. S

    aprendem as tticas do poder quando crescem. Exibem a maior confiana nas pessoas.

  • 12

    Jesus, pois, convidou os cidados do Reino a regredir ao estado da primeira infncia, em

    todas essas reas. Ao invs de procurarem ocupar a posio mais privilegiada, eles

    deveriam tentar ignorar a hierarquia, conforme fazem as crianas, que negligenciam as

    diferenas de posio social, vendo todas as outras pessoas como igualmente

    importantes, a despeito de sua posio e funo sociais.

    2) Jesus reformulou o significado da grandeza Mc 10:41-45

    Os discpulos continuavam perplexos, discutindo entre si quem era o maior entre eles.

    Uma vez mais Jesus fez nosso mundo social virar de cabea para baixo, revertendo

    nossos pressupostos e nossas expectativas. Nos versos 43 a 45 Ele redefine a noo de

    grandeza. Nossos pressupostos acerca da grandeza podem ser sumariados na seguinte

    equao:

    Grandeza = Extremo superior, poderoso, senhor, primeiro, governante, adulto.

    Jesus criou outra equao:

    Grandeza = Extremo inferior, servo, escravo, ltimo, criana.

    Entre os pagos, os reis dominadores se assenhoreiam de seus sditos e desenvolvem

    hierarquias de poder. Jesus, porm, afirmou: No assim entre vocs. No Reino de ponta cabea de Deus a grandeza no medida pela autoridade que exercemos sobre

    outras pessoas. O prestgio, de acordo com esses valores invertidos, no aquilatado de

    acordo com o degrau que ocupamos na escada social. No Reino invertido de Deus, a

    grandeza determinada pela nossa disposio em servir. O servio prestado ao prximo

    a medida de nossa importncia dentro do novo Reino.

    Quem maior, o CEO de uma organizao multinacional ou a pessoa que serve o

    cafezinho nas reunies da Diretoria dessa mesma organizao? Qualquer um sabe que

    o CEO mais importante que algum cujas qualificaes o levam a servir o cafezinho.

    Mas no no Reino de Jesus. Pois, entre vocs, disse Ele, Eu sou como quem serve o

    cafezinho. Ajo como um servo, como um escravo, no como o patro. O mtodo de Jesus

    olha de baixo para cima e pergunta como se pode servir. Tal postura reduz a zero o

    individualismo moderno, que d precedncia aos direitos, aos privilgios e auto

    realizao do indivduo, acima de quaisquer outros fatores. Jesus incentivava uma

    humilde disposio para servir, no um individualismo assertivo. Ao invs de perguntar

    como podemos prosseguir avante, atender nossas necessidades e desenvolver-nos, um

    verdadeiro discpulo cristo pergunta como podemos servir melhor ao prximo.

    A atitude de Jesus em busca de servir culminou no Calvrio. Ele se disps a servir s

    necessidades dos enfermos mesmo em dias de Sbado, embora isso pusesse em risco a

    sua prpria vida.

    O estilo do servio prestado por Jesus no produzia nem ganho financeiro e nem

    prestgio social. Para Jesus, servir no significava lisonjear os que eram capazes de

    pagar altos preos. Ele servia aos menores que no podem recompensar.

    Jesus redefiniu a ideia de grandeza. Mas o que isso significa? Como o menor entre ns

    o maior em Seu Reino?

  • 13

    Estaria Jesus propondo uma inverso na hierarquia social de nosso mundo, de modo

    que os que ocupam as menores posies nos reinos desse mundo passassem a ocupar as

    maiores em Seu Reino?

    No. Jesus estava dizendo que em Seu Reino no existem pessoas pequenas. Ele, na

    verdade, achatou todas as hierarquias. Ele entendia que as hierarquias com grande

    facilidade comeam a funcionar como se fossem divindades. Os seres humanos

    prostram-se, adoram e obedecem a essas hierarquias. Mas, Jesus, de uma vez por todas,

    desarmou a autoridade das hierarquias, para que no mais ajam como divindades.

    Antes, conclamou-nos para que participemos de um Reino de um nico degrau, onde

    todos tem o mesmo nvel social. Nesse Reino, os valores do servio e da compaixo

    substituem domnio e comando. Nessa famlia, na qual todos so iguais, os maiores so

    aqueles que ensinam e cumprem os mandamentos de Deus. Eles amam a Deus e ao

    prximo como a si mesmos.

    A influncia relativa e a mistura de vrios fatores determinam a posio que ocupamos

    na escada social. Um pouco de reflexo deixa bvio que no escolhemos nossos pais, as

    circunstncias de nosso nascimento, a nossa comunidade e a nossa cultura. Muitos

    fatores formativos de nosso lugar da vida simplesmente esto fora de nosso controle.

    Isso no quer dizer que somos meros autmatos dirigidos por foras misteriosas.

    Escolhas e decises amoldam nossos destinos. Motivos pessoais fazem diferena. O

    trabalho rduo tem grande importncia.

    Mas de forma contrria ao individualismo moderno, porm, a ambio no o nico

    fator que conta. O individualismo gera um orgulho infundado nas realizaes pessoais de um indivduo, alm de lev-lo a desprezar outros que estejam em camadas inferiores

    dele. Pois isso pode ser devido a fatores que esto fora de seu controle. uma

    arrogncia quando as pessoas pensam que elas mesmas se fizeram, simplesmente por terem trabalhado duramente. O culto do individualismo altivo lana a crdito do

    indivduo todas as suas realizaes, negligenciando as vantagens e desvantagens fixas,

    que tambm desempenham um papel decisivo.

    Olhar pela escada abaixo algo que impele os seguidores de Jesus compaixo. Esses

    compreendem que se acham onde esto somente pela graa de Deus. Isso pe em

    perspectiva o valor da iniciativa pessoal, como uma entre muitas influncias sobre o

    nosso destino. Eles tambm percebem que no a preguia, mas fatores sociais e

    econmicos por muitas vezes servem de obstculo queles que esto abaixo deles.

    Uma apreenso realista de como chegamos a diferentes degraus da escada social varre

    para longe a arrogncia e propele o povo de Deus a uma compreenso simptica acerca

    de outras pessoas.

    3) A poltica da bacia Joo 13

    Os reinos exibem bandeiras. Meros pedaos de tecido, ainda despertam lealdades

    emocionais e nos impulsionam ao. As bandeiras representam a identidade coletiva

    do reino. As bandeiras do reino invertido so bandeiras invertidas. Elas no so os

    smbolos que tipicamente representam os reinos de cabea para cima. As bandeiras de

  • 14

    nosso reino celeste so uma manjedoura, um estbulo, um jumento, uma bacia, os

    espinhos, a cruz e o tmulo vazio.

    Esses no so emblemas de reis bem sucedidos. Os sinais distintivos desses ltimos so

    limousines blindadas, coroas de ouro e o aplauso internacional. No nos enganemos.

    Jesus o Rei. Um Rei gentil e pacfico, o mais incomum dos monarcas.

    A cruz tornou-se o emblema proeminente da igreja crist. Ela representa o sacrifcio

    expiatrio do amado Filho de Deus pelos pecados do mundo. Tambm simboliza os

    mtodos de no resistncia de Jesus, diante da face cruel do mal. Mas trs smbolos

    invertidos fluem juntos no relato do Evangelho: a bacia, a cruz e o tmulo vazio. A bacia,

    realmente, o smbolo mximo do cristo. O prprio Jesus usou deliberadamente uma

    bacia para representar Seu ministrio. A cruz era um smbolo romano, um sinal do poder

    do estado para executar criminosos. Os poderosos governantes usaram a cruz, um

    instrumento de morte, para responder s iniciativas prprias de um servo,

    representadas pela bacia. E o tmulo vazio foi a palavra final de Deus. Atravs dos

    sculos, o tmulo vazio tem servido de sinal de que Deus derrotar as foras do mal.

    No contexto da ltima ceia, quando Seu ministrio terreno estava prestes a encerrar-se,

    Jesus ergueu a bandeira de Seu Reino de ponta cabea. Joo inicia mostrando que Jesus

    sabia muito bem o que estava fazendo e porque estava fazendo isso. A bandeira do

    servio tinha uma base, um fundamento que a definia e lhe dava sustentao. A base

    para o servio de Jesus era Sua relao com o Pai.

    Joo deixa isso claro na introduo do captulo 13, antes de narrar o lava-ps. No

    primeiro verso, Joo informa que Jesus sabia que era chegado o tempo de deixar este

    mundo e ir para o Pai. No verso 3, de forma ainda mais explcita, Joo afirma que Jesus

    sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do Seu poder (em outras palavras,

    Ele sabia que estava no comando porque o Pai havia determinado assim). O servio

    prestado se baseava na relao que Ele tinha com o Pai. Jesus tambm sabia de onde

    havia vindo e para onde estava indo. Ele viera do Pai e estava no caminho de volta ao

    Pai. Somente aps informar que Jesus sabia de tudo isso que Joo inicia a narrativa

    da instituio da poltica da bacia.

    E assim tambm ser conosco. Antes de nos aventurarmos a servir algum, preciso

    que tenhamos uma relao de amor com o Pai. essa relao que nos capacita ao servio,

    assim como aconteceu com o Mestre.

    O texto de Joo continua afirmando que Ele tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou gua na bacia e passou a lavar os ps dos

    discpulos e a enxug-los com a toalha com que estava cingido. (Jo 13:4-5).

    A bacia e a toalha so instrumentos usados por um escravo. O Rei cujos valores so

    invertidos usava os instrumentos de um escravo. Ao invs dos smbolos reais da espada,

    do carro de guerra e do cavalo branco, Jesus recolheu do cho os Seus instrumentos de

    servio. Era costume na cultura da Palestina que um escravo domstico lavasse os ps

    dos convidados, estando estes reclinados em divs baixos, enquanto comiam. Como

    senhor de Seus discpulos, Jesus tinha o direito tradicional de esperar que eles Lhe

    lavassem os ps. No entanto, desistiu de tal privilgio. Ao invs de demandar servio,

    Ele serviu. Isso fica claro quando Jesus se aproxima de Pedro e este pergunta ao Mestre:

    Tu, lavars os meus ps?. Pedro no acredita no que est acontecendo.

  • 15

    Isso era trabalho prprio de um escravo. Jesus, voluntariamente, inclinou-se e fez aquele

    trabalho sujo. Ningum O forou a isso. Ele mesmo resolveu servir. Disps-se a receber

    ordens.

    A bacia e a toalha tm sido chamadas de instrumentos e agentes da paz. Esses no so

    smbolos vazios. So os meios atravs dos quais alguma coisa realmente feita. Os

    instrumentos que usamos definem a nossa atividade. A bacia e a toalha so

    instrumentos usados por escravos. Esses instrumentos nos situam em uma posio

    inferior. Nesse ato simples, Jesus virou de ponta cabea nossas antigas hierarquias

    sociais, substituindo-as por outros valores. Quando nos tornamos servos e lavamos os

    ps uns dos outros, desaparece a distino entre senhor e servo. E quando todos nos

    tornamos servos uns dos outros, todos nos tornamos, simultaneamente, os maiores no

    Reino.

    O Rei Jesus vinha lavando ps a Sua vida inteira. Um comportamento de bacia e toalha

    tinha caracterizado toda a Sua misso. Foi o Seu trabalho com a bacia que armou o palco

    para a cena da cruz.

    A cruz no caiu miraculosamente do cu. Jesus poderia t-la evitado. A cruz foi a reao

    social natural das foras do mal, em presena da bacia. A cruz foi um instrumento

    violento dos poderosos que tentavam esmagar o ministrio que usava a bacia. Sem bacia

    no teria havido cruz.

    Aps ter lavado os ps dos discpulos, no cenculo, Jesus convidou-os a seguirem o Seu

    exemplo: Vocs entendem o que eu fiz? Vocs me chamam de Mestre e Senhor, e esto certos. o que eu sou. Ento, se eu, O Mestre e o Senhor, lavei os ps de vocs, lavem

    tambm os ps uns dos outros. Estabeleci um padro aqui. O que eu fiz, faam tambm.

    Estou apenas destacando o bvio. O empregado no est acima do patro; o empregado

    no d ordens a seu empregador. Se vocs entendem o que estou dizendo, faam o que

    digo e vivam uma vida abenoada. (Jo 13:112-17 A Mensagem).

    Jesus amplia o seu convite a ns. Ele nos acolhe de braos abertos para que nos unamos

    a Ele na atividade com a bacia. Contudo, Ele nos convida a mais do que um rito

    cerimonial peridico.

    Jesus est nos convidando a seguirmos o Seu exemplo mediante vidas de servio, de

    perdo e de purificao de outros conforme Ele nos for purificando. Os Evangelhos

    deixam claro que o Mestre nos chama para realizar o trabalho do Seu Reino. Ele nos

    chama para participarmos de um Reino de pessoas que usam uma bacia como seu

    instrumento, no de santos que se assentam sobre uma cadeira de balano a ponderar

    o mistrio da salvao de Deus.

    Em Jesus Cristo, palavra e acontecimento so uma coisa s. A Palavra tornou-se carne

    e passou a viver entre ns. Encarnamos a Palavra ao agir em nome de Cristo. Palavras

    desacompanhadas de ao so inteis. Nossos atos autenticam nossas palavras.

    O poder do Reino de ponta cabea jaz na vida coletiva de seus cidados. A vida no Reino

    envolve o cumprimento dos interesses de Deus como um todo. Jesus no teria parecido

    to ameaador, se no tivesse reunido uma comunidade de seguidores. As palavras de

    Jesus sobre as riquezas, o poder, o amor e a compaixo pressupem que o Seu povo

    compartilha de uma vida coletiva. Ele nos ordena que nos arrependamos e que nos

  • 16

    unamos ao grupo de discpulos, grupo esse que se caracteriza pela interdependncia

    espiritual, emocional e econmica.

    Deixando para trs nossas ambies, ns, os cidados do Reino, usamos nossos dons a

    fim de adornar e enriquecer o corpo de Cristo. Sendo ns uma comunidade

    encarnacional, incorporamos o Reino de Deus, que transmite vida em meio a culturas

    que pendem para a morte, para a destruio e para a violncia. O carter distintivo

    dessa nova comunidade irrompeu com alegria, no seio da Igreja Primitiva, no dia de

    Pentecoste.

    Criar uma vida coletiva com base nos valores do Reino a tarefa crtica para cada

    gerao de discpulos. Essa a revoluo original; criar uma comunidade distinta, com

    seu prprio conjunto de valores diferentes.

    Quando a igreja se mostra fiel sua misso estar no mundo, mas no pertencer ao mundo ela uma poderosa minoria proftica, uma subcultura alternativa. Os membros do novo Reino tem uma viso diferente, um distinto conjunto de valores. Eles

    prometem lealdade a um Rei diferente. E, ocasionalmente, essa lealdade significa que

    eles velejam contra os ventos sociais predominantes.

    Exerccio 2

    Reflita na cena em que Jesus usa a bacia e a toalha para lavar os ps de Seus discpulos.

    Pense em atitudes modernas que sejam similares atitude servial de Jesus de lavar os

    ps dos discpulos.

    Voc poderia escolher uma dessas atitudes modernas e realiz-la nessa semana. Tenha

    o cuidado de escolher a atitude, quando ir realiz-la e com quem ir faz-lo.

  • 17

    APRESENTAO

    Quero agora falar sobre as vrias maneiras pelas quais o Esprito de Deus se

    manifesta em nossa vida.

    I Corntios 12:1 A Mensagem

    Este material se prope a ser uma continuao do estudo anterior acerca do Modelo de

    Servo em Jesus Cristo. Firmados nos princpios ali postos, falaremos sobre os Dons

    com os quais Deus nos capacita para seguirmos tal modelo de servio.

    Inicialmente abordaremos, em uma viso geral, as Cartas de Paulo, sua pedagogia e,

    mais especificamente, o contexto imediato da Igreja em Corinto. A seguir, conforme a

    diviso proposta por Paulo nos captulos 12, 13 e 14, trataremos sobre o DOM e os

    DONS, entendendo o dom maior como AMOR. Assim, veremos tal dom em ao, nos

    ensinos de Jesus, atravs da Parbola do Bom Samaritano (Lc. 10:25-37): o modelo de

    servio em Jesus. Isso ser a primeira parte do tema. Na segunda e derradeira parte,

    falaremos sobre os DONS, o que so e como se aplica a cada discpulo. Veremos

    tambm a lista de dons presente no Novo Testamento. Por fim, de volta s palavras do

    Cristo, uma reflexo sobre dons e talentos no contexto das parbolas do Mestre (Mt.

    25:14-30).

    INTRODUO

    1 APROUCH S CARTAS DE PAULO

    As epstolas que Paulo nos deixou so escritos ocasionais, jamais devemos esquec-lo.

    No so tratados de teologia, mas respostas a situaes concretas. Verdadeiras cartas

    que se inspiram no formulrio ento em uso, no so nem cartas meramente

    particulares, nem epstolas puramente literrias, mas explanaes que Paulo destina

    a leitores concretos e, para alm deles, a todos os fieis em Cristo.

    2 A IGREJA EM CORINTO

    Localizada no estreito istmo entre os mares Egeu e Adritico, Corinto era uma cidade

    porturia e um rico centro comercial. A cidade ostentava um teatro ao ar livre com

    capacidade para 20.000 pessoas; os jogos atlticos (Jogos stmicos) s perdiam em

    importncia para os Jogos Olmpicos; Corinto possua uma populao que inclua

    gregos, romanos e orientais e exibia, com orgulho, o templo de Afrodite com suas 1000

    prostitutas cultuais. A condio imoral de Corinto vividamente percebida no fato de

    que o termo grego korintianizomai (lit., agir como um corntio) adquiriu o sentido de

    cometer imoralidades sexuais. O povo de Corinto tinha, no mundo antigo, a

    reputao de rebelde, beberro e sexualmente promscuo. Quando Paulo chegou com o

  • 18

    Evangelho, muitos deles se converteram, mas levaram aquela reputao para a

    igreja.

    PARTE 1 : O DOM

    Mas agora quero apresentar a vocs um caminho muito melhor. I Corntios 12:31 A

    Mensagem

    Paulo apresenta o amor como um dom e como um caminho muito melhor. Um caminho

    sobremodo excelente.

    Antes de discorrer sobre qualquer outro dom, ele apresenta o dom: O AMOR. A base de

    tudo. Este deveria ser motivao de servir e de fazer uso de qualquer outra capacitao

    do Esprito. Isso porque...

    No importa o que eu diga, no que eu creia ou o que eu faa: sem amor estou falido.I

    Corntios 13:7 A Mensagem

    Vimos nas aulas anteriores que Jesus nosso modelo de servio. Portanto, Ele nosso

    modelo de amor.

    Assim, tomemos a parbola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37) para aprofundarmos

    tal princpio. Nessa passagem, vemos Jesus responder a uma questo intelectual,

    teolgica ou mesmo filosfica, deslocando o discurso do interlocutor desde o campo das

    ideias para as estradas da vida. Literalmente, a estrada de Jeric. Ali ele responde

    pergunta quem meu prximo? no com divagaes e elucubraes sobre a lei, a

    tradio, os ensinos rabnicos, mas atravs de um caminho real, de pessoas reais, em

    uma situao real. O exerccio do amor requer vivncia.

    Da porque no se poder amar em teoria. Ou se ama de verdade, no dia a dia, com atos,

    atitudes e palavras, ou nunca se amou.

    Da tambm porque ensinar a amar atravs de uma aula terica como ensinar a

    pilotar um avio apenas com instrues no solo. Voar se aprende voando tanto quanto

    amar se aprende amando.

    De volta ao texto. A estrada de Jeric para Jerusalm era um caminho ngreme,

    sinuoso, muito propenso a ladres e salteadores. De fato, era uma estrada muito

    perigosa a seu tempo, sendo comum ataques como este sofrido pelo viajante da

    Parbola.

    O sacerdote tinha todas as escusas da lei para no ajudar ao pobre infeliz. Havia uma

    grande possibilidade de ele j estar morto, sendo portanto um cadver. E, ao tocar em

    um cadver, o sacerdote estaria contaminado, impedido de cumprir com seus ritos

    sacerdotais. Por isso ele passa de largo, longe.

  • 19

    O levita no tinha tal impedimento legal ou ritualstico. Mas, a semelhana do

    sacerdote, quando o viu, passou pelo outro lado. Talvez porque soubesse qual havia

    sido o comportamento do sacerdote que o precedera. Apenas seguiu seu exemplo. Se

    um sacerdote, homem da lei e superior a mim, nada fez, por que eu, um simples levita,

    deveria fazer algo? (BAILEY, 1995)

    Os samaritanos eram um povo marginalizado pelos ouvintes de Jesus, considerado

    pelos judeus como piores que os estrangeiros. Sobretudo pelas autoridades religiosas

    de seu tempo. Lembre-se que seu interlocutor era um mestre da lei. Apresentar um

    samaritano nessa histria era um susto e tanto para essa gente. Apresentar um

    samaritano que faz o que um sacerdote e um levita no ousaram fazer, um escndalo.

    Apresentar um samaritano como padro de conduta, impensvel!

    O fato que o samaritano se disps a correr os riscos que o resgate do ferido implicava.

    Risco de ser assaltado, risco de gastar muito dinheiro, risco de ser incompreendido. Ele

    se exps ao dano. Sua atitude de amor o fez vulnervel.

    Ele se aproxima, toca o ferido, pensa-lhes as feridas. Os elementos de que se utiliza

    so deveras sugestivos: leo e vinho. So elementos ritualsticos e sacrificiais. A

    mensagem de Jesus direta: o verdadeiro sacrifcio, o rito que agrada a Deus, foi

    executado pelo Samaritano, no pelo sacerdote ou levita (BAILEY, 1995). A verdadeira

    adorao ocorre nas quebradas da vida, nas curvas e esquinas deste mundo, nas

    estradas da existncia.

    E ele leva at as ltimas consequncias sua compaixo e seu cuidado pelo pobre

    homem. Ele entra na cidade com o ferido, hospeda-o numa estalagem, dispe-se a

    pagar por toda a despesa e se compromete a voltar para saber do prximo.

    Com efeito, amar transgredir o senso comum. O amor nos torna vulnerveis, nos

    expe ao erro, nos fragiliza. O amor no faz clculos de risco. Costumo dizer: o amor

    que aprendeu matemtica, o amor que desaprendeu a amar.

    Amar dar de si mesmo sem a espera de recompensa outra seno o bem da pessoa

    amada.

    EXERCCIOS 1

    1) Faa uma parfrase da Parbola do Bom Samaritano para os dias atuais. Quem

    seriam o sacerdote, o levita e o samaritano de hoje?

    2) Qual a mensagem que a msica Velas Iadas de Ivan Lins quer nos passar?

    Qual a relao disso com a Parbola em estudo?

    3) Faa uma relao de pessoas prximas a voc que podem ser alvo de aes de

    amor suas nesta semana.

  • 20

    PARTE 2: OS DONS

    Os dons variados de Deus so distribudos por toda parte, mas todos tm origem no

    Esprito de Deus.

    (I Cor. 12: 4 - A Mensagem)

    A cada cristo dado algo a fazer, que mostre como Deus : todos ganham, todos so

    beneficiados.

    (I Cor. 12:7 - A Mensagem)

    De incio, importante que se estabelea a diferena entre dons espirituais, paixo,

    estilo pessoal e funo ministerial. Como ilustrao, eu poderia dizer que pessoalmente

    tenho uma paixo por msica. Mas minha paixo no necessariamente significa boa

    voz para cantar. J o estilo pessoal est muito ligado ao temperamento individual, ao

    modo como cada um usa sua energia (agitado, calmo, equilibrado, dinmico, passivo,

    etc). Por fim, a funo ministerial diz respeito ao trabalho desenvolvido dentro do

    corpo (pastor, mestre, administrador, conselheiro, etc). a resposta a o que fao?,

    enquanto os dons so a resposta ao como fao?. Portanto, chegamos seguinte

    definio:

    Dons espirituais so capacitaes divinas distribudas pelo Esprito Santo a todo

    cristo, segundo os desgnios e a graa de Deus para o bem comum do Corpo de Cristo.

    1 PRESENTES DE UM DEUS GENEROSO E CRIATIVO

    1.1 O que so os dons espirituais?

    Escrevendo aos discpulos de Jesus que se encontravam na cidade de Corinto, o

    apstolo Paulo demonstra sua preocupao em que a questo dos dons espirituais fosse

    compreendida corretamente. Numa carta com dezesseis captulos, trs deles so

    dedicados ao tema (captulos 12 a 14).

    Dons espirituais so presentes de Deus para aqueles que se tornam discpulos de

    Jesus. Estes presentes so, ao mesmo tempo, um privilgio e uma responsabilidade.

    Privilgio porque os mesmos so fruto de uma grande ddiva. No so distribudos por

    mrito. Deus, atravs de seu Esprito, simplesmente os d graciosamente.

    No entanto, na medida em que estes presentes de Deus so recebidos, aqueles que os

    recebem tornam-se responsveis pelo uso, ou no uso dos mesmos. Uma vez que os

    dons espirituais no so concedidos para o prprio benefcio daqueles que os recebem,

    o uso dos mesmos para o servio e edificao de outros passa a ser uma

    responsabilidade.

  • 21

    Por isso mesmo, o apstolo Pedro nos adverte em I Pedro 4:10:

    Cada um exera o dom que recebeu para servir os outros, administrando fielmente a

    graa de Deus em suas mltiplas formas.

    Sendo assim, podemos dizer que dons espirituais so potencialidades concedidas

    graciosamente por Deus aos discpulos de Jesus para o desempenho de atividades

    relacionadas ao servio e edificao de outros. Por isso, quando um discpulo de Jesus

    se dedica ao servio e edificao de outros, ele o faz, consciente ou inconscientemente,

    atravs desta capacitao proporcionada pelos dons espirituais.

    No contexto de uma comunidade local, isso gera, gradativamente, uma rede de

    interdependncia. Pois cada um de ns possui certos dons que, quando colocados a

    servio de outras pessoas, tornam-se canais do amor e da bno de Deus para com

    elas. Por sua vez, estas pessoas possuem dons em reas que ns carecemos de ajuda.

    Assim, quando elas nos servem somos tambm edificados pela graa de Deus que se

    move atravs de suas vidas. E assim uma rede de servio e edificao vai sendo

    desenvolvida numa comunidade crist.

    1.2 Mas, ser que eu tenho algum dom?

    Todo aquele que um genuno discpulo de Jesus, sem qualquer exceo, possui dons

    espirituais. Uma pessoa pode no ter conscincia do dom ou dons que possui, mas isso

    no quer dizer que ela no os tenha.

    A conscincia para com os dons que possumos pode se desenvolver na medida em que

    atentamos para:

    a. O servio a outros

    No existe melhor forma de descobrirmos o nosso dom espiritual do que atravs

    da disposio em servirmos outras pessoas. Dificilmente ganharemos conscincia de

    nosso(s) dom(ns) se nos restringimos a orar e esperar. Na medida em que procurarmos

    servir, nosso dom fluir e ganhar visibilidade para ns e para outros que nos cercam.

    b. A edificao do outro

    Na medida em que me disponho ao servio de outros, poderei notar o que fao

    que gera edificao para a vida do outro e o que no gera. Nem tudo que fao

    necessariamente edifica os outros. Por exemplo, eu posso at resolver servir minha

    comunidade local cantando uma msica solo, mas tenho minhas dvidas se edificarei

    os que me escutam. No entanto, quando ensino a palavra de Deus, tenho conscincia

    de que pessoas so abenoadas.

    c. A alegria de corao

  • 22

    Quando servimos pessoas atravs de atividades relacionadas aos dons

    espirituais que possumos somos tomados pela alegria e satisfao. Isso no significa

    que sempre seremos movidos por esta alegria e que no existiro dias que teremos que

    fazer algo por responsabilidade, apesar de nossos sentimentos. Mas nossa atuao em

    reas que possumos dons gera, com muita frequncia, alegria, prazer e desejo de

    dedicao cada vez mais intensa.

    Sendo assim, podemos ganhar maior conscincia dos dons que possumos quando nos

    dispomos ao servio de outros, ficamos atentos para verificar o quanto os abenoamos

    atravs do que fazemos e somos tomados pela satisfao e alegria de corao ao

    servirmos daquela forma.

    2 O MODELO DO CORPO

    Uma bela e, ao meu sentir, eficaz ilustrao deste modelo apresentada pelo Apstolo

    Paulo na Carta aos Corntios (I Cor. 12: 14-27). Ele compara o Corpo de Cristo, a

    Igreja, a um organismo vivo, ao corpo humano, no qual cada integrante uma parte

    constituinte e harmnica desse todo. Cada um desempenha um papel distinto e

    importante que, conjunta e harmonicamente, contribui a um s tempo para o bem

    individual e coletivo. Assim que no h falar se uma mo mais importante que um

    olho, ou se a orelha est em competio com a boca. Todos so importantes, cada parte

    tem seu valor. Imaginem o que ocorreria se todos tentassem ser p, ou cabea, ou

    brao, ou perna? Cada um tem seu papel, seu lugar, sua funo e sua capacidade.

    3 LISTA DE DONS NO NT

    Isso posto, vlido observar a lista de dons apresentada no Novo Testamento. Para

    tal, consulte o anexo A.

    4 E AGORA COMIGO

    Por fim, voltemos s palavras de Jesus, tratando de mais uma de suas parbolas: a

    Parbola dos Talentos (Mt. 25:14-30).

    Nessa Parbola, um senhor distribui recursos entre trs de seus empregados, conforme

    a capacidade de cada um. Instrui-os para aplicarem tais recursos de modo a

    aumentarem os investimentos.

    Tempos depois, o senhor retorna e chama os empregados para prestarem contas de sua

    administrao. Dois deles devolvem os recursos com lucro. O terceiro, escusando-se em

  • 23

    medo e no perfil do senhor, devolve a mesma quantia inicial, a qual foi guardada num

    cofre e ali ficou sempre.

    O ensino aqui posto deixa claro que a questo menos sobre quantos dons tenho e

    mais sobre como eu uso tais dons. No adianta possuir muitos talentos caso no os

    utilize bem. hora, portanto, de desenterrar, de tirar do cofre os dons.

    Outro importante ponto a motivao para utiliz-los. O terceiro servo trancafiou seus

    talentos movido pelo MEDO a seu senhor. Repito o apstolo Paulo:

    No importa o que eu diga, no que eu creia ou o que eu faa: sem AMOR estou falido.

    I Corntios 13:7 A Mensagem

    EXERCCIOS 2

    1) Divididos em pequenos grupos, vamos discutir, meditar e escrever sobre:

    1 - O mundo hoje;

    2 - A Igreja hoje;

    3 - O servio hoje;

    4 - Uma lista de DONS HOJE.

    2) Compartilhe com o grupo sobre algum que, a seu ver, bem utilizou seus dons

    espirituais a servio do prximo e da comunidade.

    3) Durante a semana, medite, ore e escreva: COMO EU ME ENCAIXO NISSO?

    QUAIS SO OS MEUS DONS ESPIRITUAIS?