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ANO 31 - Nº 1.609 GOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018 Zé Eliton se prepara para assumir o governo com a renúncia de Marconi Perillo (PSDB). Desde o início do ano passado, os dois estão em campanha: um é candidato ao governo, e o outro, ao Senado. Na vitória ou na derrota, são indissociáveis. Indivisíveis, até que as urnas os consagrem - ou não. Páginas 8 e 9 Páginas 6 e 7 Páginas 10 e 11 Escola - Página 3 Divulgação # JUNTOS E MISTURADOS Nesta quinta, dia 1º, serão conhecidos os 15 vencedores da 18ª edição do concurso de redação Goiânia na Ponta do Lápis Hora e vez da final ESCOLA ESCOLA ENTREVISTA / LÚCIO FLÁVIO ELEIÇÕES 2018 “Não existe união de oposições. Existe OAB Forte e OAB Que Queremos nome dos Em PAULINHO E A MÃE Xariff, 87, tem Alzheimer A roda da vida gira e a relação de pais e filhos se inverte Daniela Martins Wildes Barbosa

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ANO 31 - Nº 1.609GOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018

Zé Eliton se prepara para assumir o governo com a

renúncia de Marconi Perillo (PSDB). Desde o início

do ano passado, os dois estão em campanha: um é candidato ao governo, e o outro, ao Senado. Na vitória ou na derrota, são indissociáveis. Indivisíveis,

até que as urnas os consagrem - ou não.

Páginas 8 e 9

Páginas 6 e 7

Páginas 10 e 11

Escola - Página 3

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#JUNTOSEMISTURADOS

Nesta quinta, dia 1º, serão conhecidos os 15 vencedores da18ª edição do concurso de redação Goiânia na Ponta do Lápis

Hora e vez da

finalE S C O L AE S C O L A

ENTREVISTA / LÚCIO FLÁVIO

ELEIÇÕES 2018

“Não existe união de oposições. Existe OAB Forte e OAB Que Queremos”

nome dosEm PAULINHO E A MÃE Xariff, 87, tem Alzheimer

A roda da vida gira e a relação de pais e fi lhos se inverte

Daniela Martins

Wildes Barbosa

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CARTA AO LEITOR

Na ação e reação do ex-presidente Lula está uma questão maior que ele, do tamanho dos tempos atuais: melhor não lutar em nome de um bem maior, ou o bem maior é justamente o que legitima a luta?

Adversários gostariam que o petista desistisse de ser candidato depois de confi rmada a sentença em segunda instância, porque ele candidato apesar disso e contra isso signifi ca um país indefi nido até as urnas, e talvez depois. Ele faria um favor a todos, portanto, desistindo de tudo, quem sabe indo cumprir sua pena em absoluto silêncio.

Mas, para quem vê em tudo que está acontecendo uma traição constitucional, uma subversão da ordem democrática, insistir, persistir, manter-se altivo na trincheira é questão de vida ou morte não para si, mas para a Nação. Não se faz um país com rendidos e conformados. Ou até se faz, mas não o País que queremos. Ou sim?

Lula luta por sua sobrevivência pessoal, mas, para os que o apoiam – e, a se acreditar no que diz, para ele também –, sua luta é pela sobrevivência coletiva. Os que lutam do outro lado, também acreditam nisso, por razão inversa. Quer dizer, a luta vai continuar e não há como saber quem será vencedor.

O País está acima de Lula. Mas não está abaixo. Rebaixar o debate é que é o pior: é colocar acima de tudo o placar, em vez da vitória nacional. Essa a diferença entre torcedores e brasileiros. Eu sou brasileiro, sim senhor.

Boa leitura!

Vassil Oliveira - Editor

Lutar ou desistir?

ESFERA PÚBLICA

Jorge Antônio Monteiro de Lima

Algumas percepções sobre o cenário politico Bra-sileiro da atualidade

Hoje assistimos os fatos narrados por invera-cidades, os confl itos entre discursos políticos, ju-diciário, na guerra entre oratórias. Brasil dividi-do entre militâncias em plena cisão arquetípica, na falta de diálogo, no acirrado jogo de interes-ses. De um lado, a pseudo militância da outrora esquerda; do outro, forças ocultas que tramam ardilosamente... Mas quem são estas forças ocul-tas tão anunciadas destituídas de nome próprio?

A cisão arquetípica vivenciada nos meandros da política não é nova, outrora foi anunciada no radicalismo das militâncias que transformaram opositores em inimigos de morte, o que é um ris-co para a democracia na proporção que selam, no ambiente político a difi culdade de diálogo e de organização da oposição ao poder vigente. E a serpente sucumbe ao próprio veneno...

O mito se anuncia desvelando a tragédia anunciada, e o drama arquetípico exige seu qui-nhão. A arte imita a vida. O estudo dos mitos ser-ve como um oráculo dos fatos vindouros. Nossa realidade evidencia o surgimento do arquétipo do bode expiatório, do ser sacrifi cado, do herói vítima, o traído que se traiu em conluios, con-chavos, a vã tola inocência inadmissível nos me-andros da corja política. A tolice de dar a cara a bater e reclamar depois do tapa posto.

Falo do drama atual que em um momento transforma seres humanos em divindades, caso do ex-presidente Lula, eleito como o salvador da pátria, e que agora passa de salvador ao papel de bandido... julgado, sentenciado e talvez executa-do. Mas como cantava Renato Russo: “quem é o inimigo? Quem é você?”.

Os mitos nos ensinam sobre a vida e a te-mática da traição vem da serpente e Eva no banimento do paraíso; enamora Caim e Abel no enlace da inveja; vitimiza Sócrates e o gole de cicuta; beija Jesus por 30 moedas; e relembra dentre vários mitos e lendas, em especial a que-rela de Otelo, o Mouro de Veneza, de Shakespea-re, em 1603. O tema arquetípico atual da polí-tica brasileira é o da traição, vingança, disputa de poder, ódio elevado pelo amigo inimigo com quem se deita, janta, se prostitui, se vende e ao virar as costas, é facada.

Quem é este ser que encena o papel de inocen-te, tolo, o último que sabe que será traído? Quem nega a própria aombra? Quem é que se deita com

o inimigo esperando vantagens? Quem foi que traiu a própria ideologia outrora de esquerda? Quem traiu os discursos, como o da proposta de distribuição de renda, reforma tributária, admi-nistrativa, politica, eleitoral, do judiciário?

Quem é que diariamente trai o povo e suas necessidades? Quem pode vestir a carapuça de Caim ou de Iago nesta atualidade?

No drama arquetípico de um bode expiató-rio, um elemento mítico se defl agra: uma vítima será sacrifi cada para conter a ansiedade coleti-va, que hoje é anunciada na recessão, na ânsia de ética, no ajuste de contas entre o prometido e não cumprido, no esfacelamento e distancia-mento dos movimentos sociais, no descumpri-mento de um processo ideológico vendido ao neo liberalismo de forma escancarada.

A conta esta posta à mesa. Recessão, infl ação, aumento do combustível e das tachas de energia e água, desemprego, destituição dos direitos tra-balhistas, explosão da violência urbana, elevação de toda carga tributária e endividamento da po-pulação com o exorbitante lucro de banqueiros, de grandes grupos fi nanceiros, montadoras, em-presas de telefonia. No Brasil pequenos grupos lucraram muito nos últimos 20 anos, efetivando uma distribuição de renda na qual ricos fi caram bilionários e classe média e baixa endividadas.

O drama mítico não se esvai por oratória ou discursos por que existe uma forte tensão no ar advinda do inconsciente coletivo. A tensão social existente entre crenças e a necessidade de um deus redentor, que venha para nos salvar – pro-jeto do estado brasileiro que denota nossa infan-tilidade – mingua por que o rei posto é o mesmo que se trai e nos remonta ao drama de édipo, ou é revisitado em Otelo... A vivencia da peste eco-nômica nos exige o sacrifício do rei, do arauto do poder, que será imolado pelo ímpeto de suas próprias ações. O preço a se pagar pela disputa de poder... uma tragédia anunciada um drama Ge-tuliano revisitado de fi m em roteiro previsível... A redenção social no alívio por um sacrifi cado que antes de se trair, trai sua própria ideologia...

Jorge Antônio Monteiro de Lima é analista, pesquisador em saúde mental, psicólogo clínico, músico e mestre em Antropologia Social pela UFG. Site: www.jorgedeli-ma.com.br

Entre o mito e o real

Opinião

Daniela Martins

Memória afetiva é uma coisa. Você ouve uma música, revê um objeto, sente um cheiro, experimenta um gosto e lá vai a alma viajar no tempo e trazer gente de volta. Gente que já vai longe. Gente que já foi aqui de perto. Gente que pode até estar por perto, mas que não é mais a mesma. Nem você é. E aí está o encanto das me-mórias afetivas. É impossível estar naquele lu-gar, naquele tempo, com aquelas companhias de novo. Impossível. Só que você se sente lá.

Dá saudade, bate nostalgia, um sentimento leve, suave, quase uma sensação de aconchego.

Cheiro de vó, bolo de cenoura com choco-late, pé de goiaba, pedalinho no domingo à tarde, jeans velho, camiseta puída, jogar bete descalço no meio da rua... aonde estão as suas memórias afetivas?

Aonde está você? A gente se perde a caminho do trabalho,

na volta pra casa, na tela do celular, em frente ao espelho sem se ver. Falta olhar para dentro. Falta reparar no seu tempo e saber respeitá-lo. Entender que o que hoje, por vezes, passa des-percebido será memória afetiva amanhã. E que você, lá na frente, irá querer estar no aqui de agora.

Pisa no freio um dia desses. Olha pra den-tro. Enxerga quem vai ao seu lado. Sente a vida. O tempo passa e tudo vira memória. Crie me-mórias extraordinárias, do seu jeito, você irá gostar de revisitá-las e poder dizer: ‘vivi ao máximo aquilo ali’.

Daniela Martins é jornalista

Memória afetivaEditado e impresso por Rede de Notícia Planalto Ltda-ME - WSC Barbosa Jornalismo - ME

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Fundado em 7 de julho de 1986

Sem areforma da previdência, o Brasil irá se transformar em uma Grécia”

Em participação no programa Silvio Santos, do SBT

Michel Temer, presidente da Repúbllica

sFrase daemana

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RejeiçãoO líder do PMDB na Assembleia, deputado José Nelto, herdou algumas bases dos deputados federais Daniel Vilela e Pedro Chaves, mas tem tido difi culdades em manter votos com algumas lideranças

PróximaA ex-deputada federal Dona Iris buscará concentrar sua campanha para voltar à Câmara Federal mais acerca da cidade de Goiânia. Tanto que já recebeu apoio da base do deputado Daniel Vilela em Aparecida.

HelloDepois de alguns dias de pregação em células da igreja de sua família nos EUA, em meio ao recesso parlamentar, o deputado Fábio Sousa (foto) voltou ao Brasil e tem como primeira ação defi nir qual será seu novo partido.

Tucano no PP O deputado federal Célio Silveira (PSDB) não esconde de ninguém que deve deixar o PSDB na janela partidária deste ano. Apesar de ter recebido diversos convites de outras legendas, o então tucano deverá pousar no PP, do senador Wilder Morais.

RecordeO deputado Paulo Cézar Martins (PMDB) tem um projeto pessoal na eleição deste ano: ser o mais votado na disputa pela reeleição. Em 2014 ele foi o segundo colocado, fi cando atrás apenas do deputado Manoel de Oliveira (PSDB).

EncontroO vereador Vinicius Cirqueira (Pros) levou alguns dirigentes do Vila Nova a um encontro com o de Trânsito de Goiânia, Fernando Santana.

IncômodoOs colorados querem saída dos ônibus que fi cam estacionados ao lado da sede do Clube, no Setor Universitário, aguardando viagens com saída do Terminal Praça da Bíblia.

ZicouCatalão não receberá mais os jogos da Seleção Brasileira de Basquete contra Colômbia e Chile, válidos pelas eliminatórias da Copa do Mundo da categoria.

ArenaApós receber a consulta da Federação Goiana de Basquete, a Confederação Brasileira de Basquete escolheu jogar no Goiânia Arena, na Capital.

Alô CelgA avenida do Cerrado, no trecho compreendido entre o Paço Municipal e a Avenida Olinda está completamente sem iluminação, gerando insegurança.

ViceO presidente nacional do PHS, Eduardo Machado, quer ser vice de Ronaldo Caiado nas eleições deste ano. Tanto que recusou secretaria no governo.

Polícia IO deputado estadual Major

Araújo (PRP) afi rma que dentre os convocados em meio aos aprovados no último concurso da Polícia Militar, mais de uma centena de policiais já pediu baixa devido ao baixo valor do salário.

Polícia II Já na Polícia Civil, o Sindicato

dos Policiais Civis de Goiás afi rma que houve mais de uma dezena de desistentes devido ao baixo salário inicial do concurso, pois muitos não tem tido condições de se manter no interior.

BônusO governador Marconi Perillo

afi rma que os aprovados sabiam que o salário seria este nos três primeiros meses. Além disso, o o tucano relembra que os convocados ainda terão auxílio de R$ 500 para alimentação mensalmente.

PODER

Governo adianta intensifi cação da pré-campanha

sO chefe do gabinete de Gestão da Governadoria Jardel Sebba (PSDB) deverá assumir a Secretaria de Governo em substituição à Tayrone di Martino (PSDB). O ex-petista irá concorrer a uma cadeira na Câmara Federal neste ano.

O que ainda não se sabe é se a região terá candidato a deputado federal. Desde que Carlos Alberto Lereia (PSDB) deixou a deixou a Câmara Federal, o norte goiano não tem representantes em Brasília. Nem base nem oposição acenaram com nomes.

O presidente da Goiás Fomento, Henrique Tibúrcio, foi convidado por José Eliton para assumir o comando da Secretaria da Fazenda. Polidamente, o ex-titular da Segov recusou. Agora, é cotado para assumir o Detran.

A ex-vice-prefeita de Minaçu, Drª Líria (Pros) será candidata a deputada estadual pela chapa que está sendo formada pelo senador Ronaldo Caiado, que busca reforçar sua base na região. Ela deve se fi liar ao DEM ainda neste ano.

Recusou

Reforço

Outro viceJá em Porangatu, o senador irá apoiar a candidatura de Rodrigo Azevedo (DEM), que foi vice-prefeito na gestão de Eronildo Valadares (PMDB). Ele será o responsável por enfrentar o deputado estadual Júlio da Retífi ca (PSDB).

Substituição

Sem nomes

1 2 3

mídiasociais

Em entrevista na última semana na Rádio Sucesso, o advogado Danilo de Freitas foi indagado sobre a vaga de desembargador no TJGO pelo Quinto Constitucional. Ele preferiu não se adiantar no debate em consideração aos demais possíveis candidatos, mas lembrou que “os escolhidos pela OAB devem ter a experiência da advocacia para bem representá-la, lembrando ainda que o Tribunal reduzirá a lista sêxtupla em tríplice, portanto, devida a sua importância, a Corte não pode ser considerada um corredor de passagem”.

Passagem

dLinha

Conversar com tanta gente de fé me deu mais forças para continuar essa caminhada

em evento realizado pela igreja Assembleia de Deus - Ministério Vila Nova em seu apoio

RONALDO CAIADO, SENADOR

Fagner Pinho - [email protected]

Prevista para ocorrer na reta fi nal das inaugurações, vistorias e lançamentos de obras, a intensifi cação da pré-campanha em relação a inaugurações, vistorias e lançamento de obras do governador Marconi Perillo (PSDB) e de seu vice, José Eliton (PSDB), já teve início, com a inauguração de um colégio estadual da PM em Goianira, no último domingo, 28. O governador havia afi rmado, em entrevista concedida em suas redes sociais, que, apesar de considerar que os trabalhos de vistoria já estarem em nível acelerado, as inaugurações somente ocorreriam aos domingos nos últimos meses

antes do período eleitoral, que se iniciam em agosto. A pressa

de Marconi, que deverá assumir o comando do PSDB nacional tem sentido: pela legislação, após o fi nal de junho, o governo estadual fi ca proibido de inaugurar

obras, pois terá início o período

eleitoral.

3 GOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br

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Dentre as divisões inter-nas, a do PR talvez seja a mais fl agrante de todas as siglas que compõem a base. Rom-pido com o governo estadual desde 2016 quando não con-seguiu viabilizar sua candida-tura à prefeitura de Goiânia e saiu do PSDB atirando contra o governador Marconi Perillo, Waldir hoje é um dos maiores críticos da gestão marconista.

O posicionamento do par-lamentar – que já declarou apoio a Ronaldo Caiado – tem gerado um imenso descon-forto para a deputada federal Magda Mofatto, que comanda o PR em Goiás. E a insatisfação é tanta, que que Wladir está de saída para comandar o PSL.

A diferença do PR em re-lação aos demais partidos da base é que o discurso de per-manência dentro do grupo aliado não é tão forte quan-to a de outras siglas. Além de Waldir, o deputado estadual Dr. Antônio também declarou apoio a Caiado. Já o deputado Cláudio Meirelles não esconde

que vive às turras com o gover-nador, por ter sido preterido na escolha como conselheiro do Tribunal de Contas dos Mu-nicípios em 2015.

Outro deputado do PR, Ál-varo Guimarães, já reclamou por não ter recebido apoio da base aliada quando chegou a ser ameaçado após a tragédia que culminou com a morte do ex-prefeito de Itumbiara, José Gomes (PTB), seu adversário nas eleições de 2016.

A própria deputada chegou a ser indicada por Jovair Aran-tes para substituir Eliton no cargo de vice em 2014, quando os partidos da base obrigaram o PP, então partido de Eliton, a participar do chapão para a disputa pela Assembleia.

Apesar do panorama ne-gativo, o PR ainda conta com cargo no primeiro escalão – Leandro Garcia comanda a Agetur por indicação de Mag-da. Como ele deve permanecer na pasta, o PR pode continuar na base, mas certamente me-nor do que quando chegou.

Fagner Pinho

Passado o anúncio da re-forma administrativa que o governador Marconi Pe-

rillo (PSDB) e o vice José Eliton (PSDB) irão promover nesta se-mana, com vistas ao segundo ter seus nomes de confi ança no primeiro escalão quando assumir de vez o governo, no começo de abril, o foco de am-bos passará a ser outro: aparar as arestas que dividem interna-mente alguns dos maiores par-tidos da base aliada.

Este cenário permeia nada mais nada menos que três dos quatro principais partidos da base de apoio do PSDB na As-sembleia e, ao menos, nos úl-timos cinco anos em eleições estaduais. Tanto PSD, do ainda secretário Vilmar Rocha; PP, do senador Wilder Morais; PR, da deputada federal Magda Mofat-to; demonstram divisões inter-nas por diversas razões.

A exceção é o PTB, do depu-tado federal Jovair Arantes, que parece manter o partido unido em nível regional. Além destes, ainda há uma pequena divi-são no PSB, hoje comandado regionalmente pela senadora Lúcia Vânia, que é nome prati-camente defi nido para ocupar a segunda candidatura da base aliada na disputa pelo Senado, ao lado do governador Marconi Perillo. Ela remete apenas ao vereador e pré-candidato a de-putado estadual da sigla Elias Vaz, que vem trabalhando para buscar apoio a candidatura de Daniel Vilela (PMDB).

As razões das divisões dos principais partidos da base são muitas. As principais e já co-nhecidas são por conta da insa-tisfação dos presidentes do PSD, Vilmar Rocha, e do PP, Wilder Morais, que esperavam estar no posto que hoje se encontra Lú-cia Vânia, ou seja, favoritos a es-colha na disputa pelo Senado.

Isso fez com que ambos se afastassem da base aliada e buscassem conversas com par-tidos da oposição, notadamen-te o PMDB, do pré-candidato ao governo estadual e deputado federal Daniel Vilela, uma vez que a chapa majoritária em tor-no de sua candidatura ainda continua em aberto. Apenas o deputado federal Pedro Chaves (PMDB) confi rmou o desejo de se candidatar ao Senado.

Vilmar, que nunca negou ter reticencias quanto à escolha de

BASE ALIADA

Dúvidas internasDIVISÕES DENTRO DE ALGUNS DOS PRINCIPAIS PARTIDOS DA BASE ALIADA SERÃO O NOVO DESAFIO O QUAL JOSÉ ELITON DEVERÁ LIDAR, APÓS CONCLUIR REFORMA ADMINISTRATIVA NESTA SEMANA

Distante da base,PR tem divisão clara

DIVERGÊNCIASEliton como candidato da base, chegou a conceder duas entre-vistas no fi nal do ano passado, conclamando a base a escolher um novo nome para o lugar do vice. Chegou a conversar com alguns empresários sobre a possibilidade, mas não seguiu com o projeto. A iniciativa, po-rém, gerou grande desgaste na base.

Porém, se por um lado Vil-mar e Wilder – que, inclusive, também manteve contato com o outro candidato da oposi-ção, o senador Ronaldo Caiado (DEM) – buscam aproximação com a oposição, o mesmo não acontece com o restante dos partidos, que já começam a se movimentar buscando manter suas legendas na base aliada.

As movimentações mais claras neste início são dos de-putados federais Thiago Pei-xoto (PSD) e Heuler Cruvinel (PSD), que tem mantido agen-da direta com José Eliton para manter a Secima, comandada desde 2015 por Vilmar Rocha, nas mãos do partido. Thiago, que não deverá concorrer à re-eleição na Câmara, busca ser in-dicado como vice de Eliton, em

2018, enquanto Heuler busca boa relação com o governo para buscar sua reeleição.

No PP a situação é parecida. Como o senador Wilder Morais esfriou suas tratativas com o governo estadual, e aqueceu sua relação com os nomes da oposição, o restante do partido começou a movimentar-se para manter o PP na base.

Há uma movimentação dos deputados federais Roberto Ba-lestra (que já criticou Wilder) e Sandes Júnior no sentido de manter o PP ao lado de Eliton.

Além disso, há outra movi-mentação mais silenciosa e ar-ticulada, que propõe a fi liação do ministro das Cidades, Ale-xandre Baldy, ao partido, que faria como que ele chegasse à legenda para presidi-la, no lu-gar de Wilder.

Tal possibilidade, muito co-mentada entre aliados do go-verno, tem ganhado força nos bastidores da base aliada, uma vez que Baldy vem postergando sua fi liação ao PP. Wilder, com a pulga atrás da orelha, já teria procurado o presidente nacio-nal do PP, sendor Ciro Miranda, para sondar o rumor.

PRDelegado Waldir x Magda Mofatto

PPRoberto Balestra x Wilder Morais

PSDThiago Peixoto x Vilmar Rocha

4 GOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018/ www.tribunadoplanalto.com.br

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O sistema de escrituração digital, também conhe-cido como eSocial, será

implantando pelo governo es-tadual no próximo ano nas re-des do Estado, seguindo crono-grama defi nido pelo governo federal. A partir da data, todas as informações referentes a obrigações fi scais, previden-ciárias e trabalhistas estarão numa única base de sistema de maneira simplifi cada.

Na última quinta-feira, 25/1, o governo do Estado, através da Secretaria de Ges-tão e Planejamento (Segplan) e da GoiasPrev, deu início a es-truturação do sistema no âm-bito da administração direta.

A coordenadora geral de Estruturação de Informações Previdenciárias da Previdên-cia Social, Laura Schwerz, se reuniu, em Goiânia, com téc-nicos da Segplan, com a di-retoria da GoiasPrev e de de-mais órgãos governamentais. O objetivo foi a elucidação

de dúvidas para a implemen-tação do Sistema Digital das Obrigações Fiscais, Previden-ciárias e Trabalhistas (eSocial) no Poder Executivo do Estado de Goiás.

Laura Schwerz e a superin-tendente da Central de Admi-nistração de Pessoal, Lilian Mi-lhomens, explicam que, com o eSocial todos os trabalhadores brasileiros, sejam da iniciativa privada ou dos governos (fe-deral, estaduais e municipais), terão de estar cadastrado na base do sistema para poderem usufruir de benefícios como aposentadoria, auxílio doen-ça e outros. O eSocial vai ter o controle, também, do tempo de contribuição de cada traba-lhador/servidor, onde presta serviço e o que faz.

Em Goiás será estruturado um comitê que vai gerir a im-plantação do eSocial, abran-gendo todos os órgãos gover-namentais, a exemplo do que ocorre no Governo Federal,

onde o sistema é gerenciado pelos ministérios da Fazenda, da Previdência, do Trabalho e Emprego, pela Receita Federal, pelo INSS e pela Caixa Econô-mica Federal.

O eSocial foi instituído por força do Decreto Federal nº 8.373, de 11 de dezembro de 2014, constituindo ambien-te nacional de unifi cação da prestação das informações referentes à escrituração das obrigações fi scais, previdenci-árias e trabalhistas, marcando uma nova era nas relações en-tre empregadores, emprega-dos e governo.

Pelo cronograma do Gover-no Federal, a partir deste mês o eSocial começa a ser usado pelas grandes empresas. Em julho será a vez das pequenas e microempresas e a partir de 2019 todos os governos passa-rão a adotar o sistema do eSo-cial para prestar informações fi scais, trabalhistas e previ-denciárias.

GESTÃO

ESocial em GoiásSISTEMA PRETENDE UNIR INFORMAÇÕES DE OBRIGAÇÕES FISCAIS, PREVIDENCIÁRIAS E TRABALHISTAS EM 2019

Divulgação

A Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz) se reunirá com o Fórum Empresarial nesta quarta-feira, 31, para defi nir a adoção ou rejeição da contra-proposta realizada pela pasta aos representantes do fórum na última semana, ao decreto em vigor que cobra o diferen-cial de alíquota das micro e pe-quenas empresas.

A pasta sugeriu equiparar a carga tributária do contribuin-te de fora do Estado ao contri-buinte goiano, dando o bene-fício que os atacadistas têm, considerando alíquota de 11%. Além disso, fi cou acertado o alongamento do prazo para a

cobrança do diferencial para 1º de março.

Com esse novo calendário, o recolhimento passará a ser feito em maio, já que pode ser feito até o dia 10 do mês sub-

sequente. A princípio, o seg-mento empresarial se mostrou contente com a proposta apre-sentada e com a continuidade do diálogo com a pasta.

Será a última reunião do secretário da Fazenda, João Furtado, à frente da pasta. Ele reforçou o papel da Sefaz de formular políticas tributárias. “O diálogo está aberto com todos os segmentos e somos sensíveis a essas demandas. Por isso, estaremos durante esta semana recebendo os seg-mentos para equalizar essas questões. Queremos deixar um cenário confortável para todas as cadeias”, ressaltou.

Reunião defi ne adoçãode propostas da Sefaz

O prefeito de Goiânia, Iris Rezende, recebeu na manhã desta segunda-feira, 29, a visita do ministro das Cidades, depu-tado estadual licenciado Ale-xandre Baldy, do presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Gilberto Occhi, e do deputado federal Daniel Vilela para defi -nir os próximos passos para a retomada as obras do BRT.

Desde a paralisação, em ju-nho de 2017, a Prefeitura de Goiânia não tem medido esfor-ços para resolver os obstáculos entre o Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU), além de entraves no Ministério das Ci-dades e Caixa.

“Sinto uma boa vontade ex-traordinária dos órgãos fede-rais, sobretudo do Ministério das Cidades, para solucionar o impasse”, disse Iris Rezende ao agradecer a atenção que Goiâ-nia tem recebido do Ministro Baldy e do deputado Daniel Vilela, que tem sido um dos interlocutores do processo em Brasília.

O prefeito relatou ainda as questões que envolvem a obra. “Vale lembrar que os trabalhos do BRT estavam paralisados an-tes da minha posse como pre-feito e os repasses da Prefeitura de Goiânia foram realizados. Nos esforçamos e pagamos a contrapartida logo no início da gestão, mesmo enfrentando difi culdades fi nanceira, mas as obras foram, novamente, para-lisadas por outros motivos”.

A modalidade de julgamen-to da licitação do BRT foi o de menor preço global e o Consór-

cio vencedor apresentou preço 30% menor do que a segunda colocada.

Alexandre Baldy revelou que a visita ao prefeito Iris Re-zende teve como objetivo en-contrar uma solução defi nitiva para reinicio das obras do BRT que, segundo ele, serão retoma-das nos próximos dias e que os transtornos gerados por uma obra como a do BRT são imen-sos. “O seu esforço, prefeito Iris Rezende, está sendo funda-mental para retomada da obra”, afi rmou.

Conforme Baldy, todas as obras do Governo Federal em Goiânia serão retomadas. “Com relação ao BRT, a liberação dos recursos será de acordo com as medições. Para a conclusão dos trabalhos não faltará recursos do Governo Federal e os contra-tos serão respeitados”, concluiu Baldy.

Com a retomada da obra, a previsão é que dentro de dois anos o corredor preferencial seja entregue à população. Pelo sistema, os usuários do trans-porte coletivo terão acesso rá-pido às regiões Norte e Sul de Goiânia. Ao todo, o BRT oferece-rá veículos articulados, paradas em 39 plataformas e seis termi-nais de integração.

Na totalidade, o corredor ex-clusivo BRT Norte/Sul terá 21,7 km de extensão e contará com seis terminais de integração - três novos (Correios, Rodovi-ária e Perimetral), dois recons-truídos (Isidória e Recanto do Bosque), um adaptado (Cruzei-ro) e 40 estações de embarque de desembarque.

MOBILIDADE

Reunião destrava obras do BRTEM ENCONTRO QUE CONTOU COM A PRESENÇA DE IRIS REZENDE E GILBERTO OCCHI, MINISTRO ALEXANDRE BALDY CONFIRMOU RETORNO DAS OBRAS

Laura Schwerz se reune com representantes do governo para elucidar dúvidas

Furtado comandará a última reunião na pasta

Iris elogiou o empenho de Baldy na solução do problema

ESTADO

Secom/Goiânia

5 GOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br

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Tribuna do Planalto – Qual o mo-tivo da polarização do debate entre oposição e situação na OAB-GO?

Lúcio Flávio – Acho que o motivo da polarização na OAB é o momento impar que vivemos na história da Ordem. Houve um grupo que se estabeleceu no poder durante praticamente 30 anos, cuja hegemonia quase nunca foi ameaçada. Esse grupo de poder se estabeleceu e nunca houve realmente uma oposição propositiva e à altura. Sempre foi aquela oposição da velha política, da desconstrução, do ataque pessoal. Então, de repente esse grupo, em 2015, tem uma oposição à altura, em termos de proposição, de diálogo com a advocacia, de proposta para o futuro. Não uma oposição que veio atacar pessoas, mas que veio discutir ideias. Esse ciclo de poder se encerrou e abriu-se um novo ciclo de poder, um novo momento na OAB. E todos aqueles que foram demitidos pelo voto dos cargos que durante tantos anos exerceram, e outros tantos que pretendem ascender ao poder na Ordem, agora voltam a fazer aquela mesma política de oposição que nunca deu certo: a do ataque, da desconstrução, do jogar pedras; não do embate, mas do combate a qualquer custo, mesmo que aquilo que a gestão esteja fazendo seja de alto nível, seja bom para a advocacia, seja bom para a sociedade. É criticar por criticar, é atacar por atacar, e obviamente isso conduz a essa polarização. Então, é um momento especial que a gente vive e, lógico, a OAB não é uma ilha, ela está embebida no caldo cultural do país e do mundo. Isso gera esse tipo de situação.

Manoel Messias e Vassil Oliveira

Na segunda-feira, 15, durante inauguração de obras, o presidente da OAB de Goiás, Lúcio Flávio, que procura evitar o debate

eleitoral antecipado, subiu o tom contra os adversários. Dois dias depois, em entrevista à Tribuna, ele falou sobre este e vários outros assuntos. Sobre a unidade dos grupos opositores em torno de um nome para enfrentá-lo, ele foi direto: “Não existe união de oposições. Segundo ele, há OAB Forte e OAB Que Queremos. A seguir, a entrevista.

‘3 anos é pouco para vencer todos os problemas’

Entrevista

Foi o que gerou a sua reação, com um discurso de muitos recados?

Não foi bem uma reação, mas nós acha-mos que era oportuno naquele momento começar a expor a verdade. Até então, eu tinha me preocupado com a manutenção de uma posição puramente institucional, que prossigo tendo. Mas é aquela velha história: uma mentira repetida mil vezes pode se tornar verdade. É importante que a gestão comece a expor as verdades. Na verdade, o discurso da inauguração das salas do Fórum e do TRT foi nada mais nada menos que uma breve exposição de alguns pontos de verdade, e até terminei o discurso citando uma passagem famosa de Santo Agostinho, que diz que você não precisa defender a verdade, a verdade é como um leão, deixe-a solta que ela vai se defender por si mesma.

Referência a Leon Deniz?Não. O Leon (ex-aliado) não é o leão da

verdade. A verdade, o nosso leão, são as re-alizações da gestão, o quanto fi zemos nes-tes dois anos.

O sr. diz que seus adversários se juntaram em seu “ressentimento”. É uma resposta aos dissidentes?

Não. Não tenho como objetivo dar reca-do a ninguém, nem responder a ninguém. O objetivo é expor as verdades do que tem sido feito e também expor à advocacia a realidade da cola que pretende grudar esse novo grupo que se uniu. Um grupo que se digladiou durante anos a fi o e que agora se junta, e a única coisa que os assemelha (seus integrantes) em qualquer nível é de fato o ressentimento em relação à atual gestão. O ressentimento dos que perde-ram e foram desalojados do poder, por um

lado; o ressentimento daqueles que cami-nharam conosco em algum momento e que pretendiam impor suas agendas pes-soais, que são agendas confl itantes com os interesses da OAB e da advocacia, e que por isso foram desligados do grupo de gestão, porque passaram a remar contra a gestão.

Houve unidade das oposições na sua eleição. A OAB Que Queremos agora está dividida e a oposição, unida. E aí?

Acho que há realidades bastante dis-tintas. O nosso grupo de oposição que se uniu em 2015, se uniu não em torno de interesses pessoais nem de ressenti-mentos. Uniu-se em torno de um projeto muito sério para a advocacia, inclusive da OAB para a sociedade. E a união que houve das oposições em 2015 provocou a união e a participação da própria so-ciedade na eleição da OAB. Naquele ano, como não havia nenhum pleito eleitoral se realizando em conjunto com a Ordem, a sociedade goiana participou e até se empolgou com a campanha da OAB Que Queremos, que tenho a tranquilidade de dizer que é um case de sucesso em ter-mos de política eleitoral, não só classista, por tudo que foi feito. Agora, é obvio que um grupo tão grande como era o nosso, tão heterogêneo, no momento da gestão – e gestão é ter posição, é falar ‘não’, é ter pulso – vai ter dissidências, e não foi dife-rente, houve dissidência. Mas é uma dissi-dência pequena, a meu sentir, em termos de gestão e não só pequena em termos numéricos, como também em momento algum atinge o núcleo essencial do pen-samento que é a OAB Que Queremos, esse novo tempo da Ordem. Nesse sentido, essa dissidência pequena provocou, no grupo

que continua comungando dos valores e dos pensamentos que temos, o contrário: uma maior união. E, logicamente, abriu espaço para novas pessoas que eventual-mente não concordavam justamente com a postura desse grupo que saiu há algum tempo da gestão, para outras pessoas che-garem. É a dinâmica da política. O que é importante é que a coerência com aquele projeto permanece íntegra e, não tenho dúvida de afi rmar, muito mais coesa. Por-que agora todos estamos remando exata-mente no mesmo sentido.

O sr. é candidato à reeleição?Apesar de toda essa organização da

oposição antecipando o debate eleitoral, eu entendo que ainda não é hora de se fazer essa defi nição: se Lúcio Flávio é ou não candidato. E explico o porquê. Nós fomos eleitos para cumprir um mandato de 36 meses. Acabamos de completar o 24º mês. Signifi ca que temos ainda um terço do mandato pela frente, e a advocacia que confi ou o voto ao Lúcio Flávio e à OAB Que Queremos em 2015, não confi ou o voto para que esse grupo começasse a discutir sucessão em janeiro de 2018. A candida-tura será defi nida mais à frente, em um momento mais oportuno. Agora, não há dúvidas de que Lúcio Flávio estará no gru-po que vai concorrer, seja como cabeça de chapa, seja em qualquer outro cargo que venha a ser importante para o fortaleci-mento do projeto da OAB Que Queremos.

OAB Que Queremos ainda é um projeto que tem vida?

Muita vida, muito a realizar pela ad-vocacia, muito a realizar pela sociedade. Vale dizer que é um projeto que agora precisa de continuidade e consolidação.

presidente da OAB-GOfLúcio

lávio

6 GOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br

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Hoje a OAB tem absoluta

independência e autonomia em relação a qualquer força político-partidária

Advogados de Goiás, vocês

querem voltar ao modelo velho ou querem continuar no modelo novo?

O sr. destacou o distanciamento da política partidária por parte da OAB. O que isso representa?

Vamos contextualizar, por ser uma pergunta e uma resposta muito impor-tantes para o momento que vivemos na OAB. A eleição de 2015, que levou a OAB Que Queremos ao poder, discutia, entre outras coisas, duas muito importantes. Uma, que galvanizou bastante as atenções, foi o endividamento da Ordem. Outra, bem debatida, e que tomou conta dos jornais, foi que a Ordem, essa era a percepção e a realidade, estava totalmente vinculada a um projeto de poder político-partidário. A maior prova disso foi que chegamos a um fato inédito no sistema da OAB de Goi-ás: um presidente eleito renunciar para se tornar secretário de Estado, portanto ocu-par um cargo de confi ança no governo do Estado. Não tenho dúvida de que, naque-le momento, para se fazer uma imagem, existia nos mastros da OAB uma bandeira partidária hasteada. Eu me comprometi durante a campanha, e tenho atuado des-ta forma, em voltar a OAB para os trilhos da sua história, que é o trilho da autono-mia, da independência, da coragem de dizer as coisas, mesmo que isso desagra-de algum governante ou autoridade que esteja de passagem pelo poder. De novo apelando para a imagem: no dia da pos-se fomos ao mastro que fi ca na porta da OAB, arriamos a bandeira partidária e a tiramos. A diferença é que não hasteamos outra bandeira político-partidária. Haste-amos a bandeira da OAB, e isso foi fator de enorme insatisfação de parcela do grupo dissidente, que queria, mais do que a in-dependência ou a desvinculação da Or-dem em relação ao governo do Estado, o alinhamento da OAB com outras forças político-partidárias. Isso eu não permiti.

A OAB de Goiás é independente?Hoje a OAB tem absoluta independên-

cia e autonomia em relação a qualquer força político-partidária em Goiás, seja a que está no poder, seja a de oposição, que almeja estar no poder. Isso dá uma tranquilidade muito grande para o pre-sidente da Ordem ter a independência de aplaudir quando tem que aplaudir, criticar quando tem que criticar, cobrar quando tem que cobrar. E aí a realidade se transforma em percepção: se em 2015 os jornais veiculavam com constância essa indevida vinculação da Ordem ao gover-no do Estado, hoje isso não se cogita mais.

Já pensou em ser candidato a governador? Tem vontade de concorrer?

Não. Meu compromisso é com a advo-cacia, minha profi ssão é ser advogado e também professor. Um voo dessa nature-za eu nunca cogitei.

O prometido na sua campanha, foi cumprido?

Não tenho a menor dúvida disso, e passo de novo a citar algumas realizações, que são tão expressivas que fazem a pró-pria defesa. Vamos começar: os dois eixos principais da campanha de 2015 foram o endividamento da Ordem e a politização excessiva, a vinculação a uma política par-tidária X. Esses foram dois grandes temas discutidos. Se você pegar dois anos depois, ou seja, passados 24 meses de mandato da OAB Que Queremos, reduzimos a dívida da OAB, que era de R$ 23 milhões quan-do assumimos, para algo em torno de R$ 7 milhões. E hoje você não vê a OAB fre-quentar as páginas dos jornais com ale-

gação de endividamento. Ninguém fala mais em rombo, em capacidade de paga-mento da Ordem. Se você for à Seccional da OAB, não verá, como eu tive o desprazer de ver, protestos, negativações, fornecedo-res na porta querendo receber o que lhes era devido. Resumindo essa primeira par-te: a OAB está fi nanceiramente saneada.

O ex-presidente Enil Henrique o chamou de “mentiroso”.

Essa é a primeira vez que vou me ma-nifestar sobre essa fala do ex-presiden-te Enil. Primeiro, é uma fala que se deve lamentar porque o que se espera de um ex-presidente de Ordem é maior comedi-mento vernacular. Esse tipo de postura não se coaduna com a postura de um ex-presidente. Talvez ele tenha se portado assim porque não foi eleito pelo voto di-reto da advocacia, então não pode aqui-latar a importância da postura de um ex-presidente. Em segundo lugar, essa fala briga com a realidade. Existem docu-mentos, e documentos desde auditorias até recibos e notas fi scais, que provam essa realidade. Vou ser muito claro. Em 1º de janeiro de 2016 havia R$ 23 milhões em dívidas vencidas e não pagas, obriga-ções vencidas e não pagas. A partir de 1º de janeiro de 2016 até hoje, esse passado foi sendo pago. É muito simples. Temos as dívidas vencidas com datas anteriores a 1º de janeiro de 2016 e os respectivos pagamentos feitos em 2016 e 2017. Basta analisar o documento. Não é só contábil, é matemático, inclusive em termos de datas. O arroubo verbal do ex-presiden-te briga com os fatos. Em terceiro lugar, não posso deixar de revelar uma certa perplexidade, porque o ex-presidente é o único devedor que acha ruim quando um terceiro vem e paga a dívida dele. É

uma coisa difícil de entender, mas a re-alidade está aí provada contabilmente, fi scalmente, com auditorias. Isso está tudo no portal da transparência.

Ainda sobre promessas da campanha. O que avançou nas prerrogativas?

Outro eixo importante da OAB Que Queremos foi um sonho que, isso eu pos-so dizer em primeira pessoa, inicialmen-te eu tive, de profi ssionalizar a defesa das prerrogativas. O que era e é feito no sistema de comissões, mediante trabalho voluntário, a minha ideia era profi ssiona-lizar. E eu lancei, então, a proposta de criar uma Procuradoria de Prerrogativas, pro-vendo os cargos de procuradores median-te concurso público de provas e títulos e remunerando esses procuradores de ma-neira digna. Inclusive, à época, mencionei que seriam salários compatíveis ao que ganha hoje um procurador federal. Você me perguntou o que avançou: quando assumimos a gestão, em 2016, imagináva-mos que receberíamos uma dívida de R$ 7 milhões, que era o que o então presidente Sebastião Macalé disse publicamente que a Ordem devia. Mas a consolidação da dívida foi de R$ 23 milhões. Então, no pri-meiro ano não tivemos condição fi nan-ceira de avançar na proposta da criação da Procuradoria de Prerrogativas. Porém foi o primeiro ato do ano de 2017. Só que aí tem um detalhe: se tem concurso pú-blico, é preciso abrir uma licitação para contratar a empresa que vai organizar e efetivamente realizar esse concurso.

E como está a questão agora?Aqui tenho a oportunidade de dizer

algo que poucos advogados sabem: esse concurso se realizou durante pratica-mente todo o ano de 2017. Foram mais ou menos oito meses para realizá-lo, entre publicação de edital, inscrição, realiza-ção da prova objetiva, realização da prova subjetiva, prova oral, análise de títulos e fi nalmente homologação. Um concurso muito sério. Abrimos inicialmente para três vagas e tivemos 700 inscritos. Mas o fato é que o concurso está encerrado, ho-mologado, com três candidatos classifi ca-dos, aprovados e mais 12 no cadastro de reserva, e darei posse aos procuradores de prerrogativas no dia 1º de fevereiro de 2018, para que no dia 2 eles já estejam tra-balhando com aquele modelo anterior-mente sonhado, que são procuradores exclusivamente voltados para defender prerrogativas.

O que mudou do Lúcio Flávio coadjuvante ao protagonista, como presidente da OAB?

Maturidade. No Lúcio Flávio de 2015, coadjuvante, e no Lúcio Flávio da Ordem de 2018 você terá identidade de idealismo, identidade de disposição para lutar pela advocacia e pela cidadania, a mesma pai-xão da campanha. Mas você terá agregado a tudo isso, que acho serem qualidades, a

maturidade, a vivência do cargo, a expe-riência, a respeitabilidade que foi sendo adquirida. Porque um novo player como presidente de Ordem, com um novo gru-po rompendo uma tradição, não é aceito de imediato. É testado, é experimentado, e esses dois anos serviram para que tam-bém o Lúcio Flávio como presidente de Ordem amealhasse o respeito dessas ins-tituições importantes que se relacionam com a advocacia e a cidadania.

Qual tema dominará o debate na sucessão da OAB?

Será uma eleição interessante, porque acho que o grande tema da eleição, o que será colocado para a advocacia de manei-ra simples é: ‘Advogados de Goiás, vocês querem voltar ao modelo velho ou que-rem continuar no modelo novo?’ Aí, o que o advogado vai colocar na balança é: ‘Dou um voto de confi ança para o grupo novo e dou a eles a oportunidade de continuar fazendo o que estão fazendo, ou não, pre-fi ro o que era feito antes?’.

Não é tema utilizado na eleição passada?

A diferença é que naquela eleição nós tínhamos um grupo de poder que chega-va nos seus estertores. Um grupo sem vi-gor, um grupo que não tinha mais nada a oferecer à advocacia de Goiás. Era o esgo-tamento. Nesta eleição, temos um grupo que está no poder iniciando sua trajetó-ria. Como eu disse, faz apenas 24 meses que a OAB Que Queremos está no poder. São 30 anos contra 24 meses. E se anali-sarmos tudo que já fi zemos... Não falo só de saneamento, avanço das prerrogativas, desvinculação político-partidária e retor-no da Ordem ao seus trilhos de indepen-dência. Agora temos um projeto vigoroso, com muita coisa a oferecer para a advo-cacia, mas três anos é pouco para vencer todos os problemas que a OAB tinha.

A oposição (OAB Forte, OAB Renovação e OAB Independente) defi niu um candidato, Pedro Paulo de Medeiros. Isso o incomoda?

Não gosto de comentar sobre a opo-sição. Temos que nos preocupar com o nosso trabalho e eles, com o deles. Mas o que vejo é que não existe uma união de oposições. Existe um grupo político chamado OAB Forte e, a esse grupo polí-tico, aderiram os grupos antes chamados Renovação e Independente, que se dilu-íram. Não existe mais a OAB Renovação, isso acabou. Porque um grupo que pas-sou 15 anos combatendo ferozmente o grupo chamado OAB Forte, hoje se ali-nhar a ele (Forte), signifi ca diluição de todo e qualquer princípio que poderia haver. A OAB Independente foi, eu acho, muito mais um arroubo, e já vimos que o ex-presidente (Enil Henrique) é dado a esse tipo de coisa. Foi um grito de inde-pendência que serviu apenas para que ele ascendesse à presidência da Ordem por alguns meses. Hoje o grupo dito In-dependente volta ao grupo do qual ele se declarou independente, se dilui no-vamente no grupo OAB Forte. Então, não existe união de oposições. Existe OAB Forte, que é o que a advocacia conheceu durante 30 anos, e existe a OAB Que Que-remos, que a advocacia tem conhecido nos últimos 24 meses. São esses os dois projetos políticos colocados à mesa.

No site: mais entrevista e o discurso de Lúcio Flávio.

Entrevista7 GOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br

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Vassil Oliveira

Marconi é Zé Eliton, Zé Eliton é Marconi. Duas eleições for-

mando chapa, oito anos go-vernando juntos no discurso e na prática, o governador que está pra renunciar e o vice que está pra assumir traduzem um projeto de poder e uma visão de Estado há 20 anos em anda-mento. Marconi Perillo e José Eliton (ambos PSDB) são indis-sociáveis. Um é o outro até as urnas. Depois, quem sabe.

Quando, no início do ano passado, Marconi colocou na rua a pré-campanha de Eliton, antecipando em mais de ano o processo de escolha do nome na base aliada para 2018, estava apenas dando mais um passo na estratégia iniciada um pou-co antes, na troca que o vice fez do PP pelo PSDB.

Movimento que pode ser considerado simples, natural, porém que se revela bem dife-rente na forma e no conteúdo em relação ao que ele mesmo, Marconi, fez em 2005, quando tirou Leonardo Vilela, deputa-do federal, igualmente do PP e o colocou no seu partido para ser o seu candidato a governador.

O plano, lá atrás, não deu certo, porque o vice de então, Alcides Rodrigues, que era do PP, bateu o pé e exigiu ser can-didato à reeleição, já que assu-miria o governo, como Eliton vai assumir, em abril. Marconi, que não queria Alcides, fi cou de mãos atadas lá atrás por idên-tica razão que viverá daqui a

ELEIÇÕES 2018

Um é o outroNA CAMPANHA E NO GOVERNO, OS TUCANOS MARCONI PERILLO E ZÉ ELITON ESTARÃO JUNTOS PARAO QUE DER E VIER. NÃO HÁ COMO SEPARAR AGORA O QUE A ALIANÇA UNIU E O TEMPO CONSOLIDOU

Quando, no ano passado, colocou na rua a pré-campanha de Eliton, Marconi estava apenas dando mais um passo na estratégia iniciada um pouco antes

VIAÇÃO MONTES BELOSXINGURA -PA / PALMAS-TO / SÃO FÉLIX DO XINGU-PA / IMPERATRIZ-MA / TERESINA-PI

DISK PASSAGENS(62) 3224-2040 OU 3224-1585CARGAS (62) 3295-5015

poucas semanas: fora do gover-no, será candidato ao Senado; neste caso, como romper com o sucessor? Fala mais alto o prag-matismo eleitoral.

Marconi Perillo não fez cam-panha antecipada para Alcides como tem feito para Eliton. (Entrou na reta fi nal e fez a di-ferença: a disputa por pouco não foi decidida no primeiro turno.) Mas tanto lá atrás quan-to este ano, a ligação era, como é, inevitável (por ser inegável) e fundamental (para ajudar a ele-ger). A ponto de Alcides ter usa-do em seu jingle uma frase de comando que pode muito bem ser repetida por Eliton: “Alcides é Marconi, Marconi é Alcides.”

A forte sintonia entre o go-vernador e o seu novo vice con-trasta bastante com a animosi-dade entre o tucano e o vice de antes, que resultou, pouco tem-po depois, em rompimento po-lítico - o tucano para um lado, o petista para outro em 2010. Uma questão substantiva: ex-prefeito de Santa Helena, Alcides tinha vida política própria, antes de chegar ao poder; advogado de partido, sem jamais ter vivido o chamado teste das urnas, Eliton chegou quase por acaso, e desde então constrói projeto político colado em Marconi.

A favor de Alcides Rodrigues, em 2006, estava a avaliação do governo, com aprovação em alta. O chamado ‘tempo novo’, motor da virada política de 1998 sobre o PMDB, ainda rodava com combustível sufi ciente para pu-xar mesmo uma candidatura

longe de ser favorita. Naquele ano, todas as apostas eram de vitória do peemedebista Ma-guito Vilela (como hoje todas as apostas são de vitória para o se-nador Ronaldo Caiado).

Em 2018, Marconi Perillo tem sobre seus ombros o des-gaste (ou ‘fadiga de poder’) de quem está há 20 anos no go-verno. A este fato histórico de-vem ser somadas duas crises: a do País, com um governo sem rumo, e a de um partido, o seu, também sem direção certa, de-pois de ter sido decisivo para a chegada deste governo ao co-mando do País.

Signifi ca que Zé Eliton vai herdar, de Marconi Perillo, os pontos positivos, mas também os negativos. Em geral, os dois têm mostrado afi nação irres-trita, embora aliados deem no-tícias, nas últimas semanas, de choques pontuais entre eles. Nada de novo: o que se tem por choque nada mais é do que a refrega das costuras para a for-mação do novo governo.

Para Eliton, montar um go-verno de nove meses, e para tentar a reeleição, com a sua cara é um desejo, mas não é uma realidade. Antes de tudo, o seu governo precisa manter a base de Marconi, porque é ela que vai carregar a sua campa-

nha. Neste jogo de forças nos bastidores, com distribuição das fatias de poder, nem todos fi cam contentes, embora rom-per, de fato, ninguém queira.

A maior parte dos partidos da base defende e busca espaço na chapa majoritária (governa-dor, vice e Senado), mas almeja outra coisa: mais espaço no go-verno atual e depois, em caso de reeleição. Esses espaços são decisivas nas campanhas de de-putado estadual e federal, que por sua vez vão garantir que os acordos sejam cumpridos. É a roda viva da prática política.

Marconi é o fi ador das nego-ciações. O garantidor. Sabe disso e faz sua parte, cobrando o seu quinhão: que a máquina garan-ta a sua vitória para o Senado e se mantenha sob seu comando indireto, já que deixará o co-mando direto em abril. Eliton se equilibra nessa balança: agra-dar ao máximo, desagradar o mínimo ao montar um governo que possa chamar de seu para ter uma campanha que não te-nha dúvida de que seja sua.

Por maior que seja a tensão nestes dias, a tendência é de apaziguamento na base quan-do os interesses forem atendi-dos. Porque, se não forem, os ecos serão estridentes e públi-cos; as consequências, notórias e barulhentas. Quanto a Marco-ni e Eliton, a união faz a força; a desunião, a possibilidade de derrota mútua.

Daqui até as urnas, um pre-cisa do outro. Para Zé Eliton, manter Marconi como cabo

Bônus e Ônus

8 GOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br

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Vassil Oliveira

Marconi é Zé Eliton, Zé Eliton é Marconi. Duas eleições for-

mando chapa, oito anos go-vernando juntos no discurso e na prática, o governador que está pra renunciar e o vice que está pra assumir traduzem um projeto de poder e uma visão de Estado há 20 anos em anda-mento. Marconi Perillo e José Eliton (ambos PSDB) são indis-sociáveis. Um é o outro até as urnas. Depois, quem sabe.

Quando, no início do ano passado, Marconi colocou na rua a pré-campanha de Eliton, antecipando em mais de ano o processo de escolha do nome na base aliada para 2018, estava apenas dando mais um passo na estratégia iniciada um pou-co antes, na troca que o vice fez do PP pelo PSDB.

Movimento que pode ser considerado simples, natural, porém que se revela bem dife-rente na forma e no conteúdo em relação ao que ele mesmo, Marconi, fez em 2005, quando tirou Leonardo Vilela, deputa-do federal, igualmente do PP e o colocou no seu partido para ser o seu candidato a governador.

O plano, lá atrás, não deu certo, porque o vice de então, Alcides Rodrigues, que era do PP, bateu o pé e exigiu ser can-didato à reeleição, já que assu-miria o governo, como Eliton vai assumir, em abril. Marconi, que não queria Alcides, fi cou de mãos atadas lá atrás por idên-tica razão que viverá daqui a

ELEIÇÕES 2018

Um é o outroNA CAMPANHA E NO GOVERNO, OS TUCANOS MARCONI PERILLO E ZÉ ELITON ESTARÃO JUNTOS PARAO QUE DER E VIER. NÃO HÁ COMO SEPARAR AGORA O QUE A ALIANÇA UNIU E O TEMPO CONSOLIDOU

Quando, no ano passado, colocou na rua a pré-campanha de Eliton, Marconi estava apenas dando mais um passo na estratégia iniciada um pouco antes

VIAÇÃO MONTES BELOSXINGURA -PA / PALMAS-TO / SÃO FÉLIX DO XINGU-PA / IMPERATRIZ-MA / TERESINA-PI

DISK PASSAGENS(62) 3224-2040 OU 3224-1585CARGAS (62) 3295-5015

poucas semanas: fora do gover-no, será candidato ao Senado; neste caso, como romper com o sucessor? Fala mais alto o prag-matismo eleitoral.

Marconi Perillo não fez cam-panha antecipada para Alcides como tem feito para Eliton. (Entrou na reta fi nal e fez a di-ferença: a disputa por pouco não foi decidida no primeiro turno.) Mas tanto lá atrás quan-to este ano, a ligação era, como é, inevitável (por ser inegável) e fundamental (para ajudar a ele-ger). A ponto de Alcides ter usa-do em seu jingle uma frase de comando que pode muito bem ser repetida por Eliton: “Alcides é Marconi, Marconi é Alcides.”

A forte sintonia entre o go-vernador e o seu novo vice con-trasta bastante com a animosi-dade entre o tucano e o vice de antes, que resultou, pouco tem-po depois, em rompimento po-lítico - o tucano para um lado, o petista para outro em 2010. Uma questão substantiva: ex-prefeito de Santa Helena, Alcides tinha vida política própria, antes de chegar ao poder; advogado de partido, sem jamais ter vivido o chamado teste das urnas, Eliton chegou quase por acaso, e desde então constrói projeto político colado em Marconi.

A favor de Alcides Rodrigues, em 2006, estava a avaliação do governo, com aprovação em alta. O chamado ‘tempo novo’, motor da virada política de 1998 sobre o PMDB, ainda rodava com combustível sufi ciente para pu-xar mesmo uma candidatura

longe de ser favorita. Naquele ano, todas as apostas eram de vitória do peemedebista Ma-guito Vilela (como hoje todas as apostas são de vitória para o se-nador Ronaldo Caiado).

Em 2018, Marconi Perillo tem sobre seus ombros o des-gaste (ou ‘fadiga de poder’) de quem está há 20 anos no go-verno. A este fato histórico de-vem ser somadas duas crises: a do País, com um governo sem rumo, e a de um partido, o seu, também sem direção certa, de-pois de ter sido decisivo para a chegada deste governo ao co-mando do País.

Signifi ca que Zé Eliton vai herdar, de Marconi Perillo, os pontos positivos, mas também os negativos. Em geral, os dois têm mostrado afi nação irres-trita, embora aliados deem no-tícias, nas últimas semanas, de choques pontuais entre eles. Nada de novo: o que se tem por choque nada mais é do que a refrega das costuras para a for-mação do novo governo.

Para Eliton, montar um go-verno de nove meses, e para tentar a reeleição, com a sua cara é um desejo, mas não é uma realidade. Antes de tudo, o seu governo precisa manter a base de Marconi, porque é ela que vai carregar a sua campa-

nha. Neste jogo de forças nos bastidores, com distribuição das fatias de poder, nem todos fi cam contentes, embora rom-per, de fato, ninguém queira.

A maior parte dos partidos da base defende e busca espaço na chapa majoritária (governa-dor, vice e Senado), mas almeja outra coisa: mais espaço no go-verno atual e depois, em caso de reeleição. Esses espaços são decisivas nas campanhas de de-putado estadual e federal, que por sua vez vão garantir que os acordos sejam cumpridos. É a roda viva da prática política.

Marconi é o fi ador das nego-ciações. O garantidor. Sabe disso e faz sua parte, cobrando o seu quinhão: que a máquina garan-ta a sua vitória para o Senado e se mantenha sob seu comando indireto, já que deixará o co-mando direto em abril. Eliton se equilibra nessa balança: agra-dar ao máximo, desagradar o mínimo ao montar um governo que possa chamar de seu para ter uma campanha que não te-nha dúvida de que seja sua.

Por maior que seja a tensão nestes dias, a tendência é de apaziguamento na base quan-do os interesses forem atendi-dos. Porque, se não forem, os ecos serão estridentes e públi-cos; as consequências, notórias e barulhentas. Quanto a Marco-ni e Eliton, a união faz a força; a desunião, a possibilidade de derrota mútua.

Daqui até as urnas, um pre-cisa do outro. Para Zé Eliton, manter Marconi como cabo

Bônus e Ônus

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Marconi e Eliton: se um precisa do outro para pedir voto, o outro precisa do um, com um governo nas mãos, para defendê-lo numa guerra em que estará em jogo os quase vinte anos de poder e seu legado implantado em Goiás

Zé Eliton era advogado do Democratas quando o partido esteve com um pé na chapa do PMDB de Maguito Vilela para o governo, em 2010. Seria o fi m da base aliada do governo, que só não aconteceu porque o então senador Demóstenes Torres, no auge de sua popula-ridade, forçou um acordo com

o candidato Marconi Perillo (PSDB), levando junto o depu-tado federal Ronaldo Caiado. Para fi car, Caiado indicou o vice, Zé Eliton, e foi fazer cam-panha à parte.

Já então Caiado sonhava ser governador. Ironia - ou fa-talidade: antes dele, chegará ao governo quem ele indicou.

Mais que isso: pode este mes-mo indicado ser aquele que o impedirá de realizar o seu so-nho. Caiado e Eliton se distan-ciaram quando o senador, em litígio político com Marconi, quis que o vice rompesse, em seu favor, com o titular.

Eliton considerou que fora eleito por ação do próprio

Caiado para ajudar a gover-nar, e não para fazer oposição. Ficou. Foi para o PP e, depois, para o PSDB. Demóstenes, cas-sado, está de volta à base go-vernista e também longe de Caiado. Este ano, mais que a disputa DEM/MDB X PSDB, po-deremos ver nas urnas o en-contro entre criatura e criador.

Ironia ou fatalidade?

eleitoral motivado em favor de sua candidatura é essencial. Para Marconi, segurar a leal-dade de Eliton é manter vivo o discurso que o sustenta, de go-vernador que implantou um tempo novo em Goiás, e coeso a seu favor o grupo que o car-rega de eleição em eleição. Em tempos difíceis, isso é funda-mental.

Como no fi nal do ano, com as rebeliões nos presídios do Estado, uma viagem à praia fora de hora e a troca de farpas com o ministro da Justiça por conta de verbas federais desti-nadas a Goias e não aproveita-das pelo governo. E como nas denúncias que apontam uso de dinheiro público da Saneago em campanha do PSDB.

Nesses dois episódios, o es-forço para defender o gover-nador e o governo foi grande, e conjunto. O que deixaram claro: se Eliton é herdeiro polí-tico de Marconi para o bem, é na mesma medida quando os fatos vão mal; se um precisa do outro para pedir voto, o outro precisa do um, com o governo em mãos, para defendê-lo e sustentá-lo numa guerra em que estará em jogo não os nove meses que virão, mas os quase 20 anos que se foram.

Na campanha, a expectati-va é esta: a disputa não será Zé Eliton contra Caiado, Daniel Vi-lela (MDB) e/ou outros nomes, e sim todos contra Marconi e o seu legado. Zé Eliton terá de defender este legado, mas pode ser que tenha, ao mesmo tem-po, de se defender dele. Os dois estão juntos e misturados. Pra ganhar... ou não.

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Comunidades

PAULINHO E A MÃE Xariff, 87, que tem

Alzheimer: “Sinto que a perco um

pouco a cada dia”

FAMÍLIA

Em nome dos

A RODA DA VIDA GIRA E A RELAÇÃO DE PAIS E FILHOS SE INVERTE

Daniela MartinsEspecial de Anápolis

– Se eu amava meu pai? Não, não... Mesmo assim cuidei dele.

A declaração é forte. Mais forte ainda é a história que se segue na conversa com Paulo Roberto Carvalho Reis, o Paulinho, 48 anos. Sujeito tranquilo, doce até, sabe ser bem pragmático quando a situação pede. “A gente se suportava, digamos as-sim, não tinha uma amizade. Não tinha confl itos, mas era uma relação morna”. Sintetiza a conexão com o pai, seu Dilton, ao longo de mais de quatro décadas.

Filha de libanês nascida no Acre, Xeri-ff Carvalho já era uma balzaquiana qua-se chegando aos 40 quando casou-se com Dilton de Araújo Goes Reis, um militar recém-aposentado escolhido por ela por ser brasileiro. Xeriff , a mais velha de três irmãs, não queria saber de se alinhar com libaneses por conta da religião [é comum os libaneses, de maioria muçulmana e drusos, se casarem entre si]. Católica que só ela, Xeriff esperava um pretendente tupiniquim e cristão. Apareceu um baia-no. Casamento feito no cartório, na igreja, um ano depois nasceu Paulinho.

“Meu marido queria fi lha mulher. A parteira disse que só ia vim homem,

quatro homens, aí ele não quis mais sa-ber de fi lho”, garante Xeriff , hoje com 87 anos, em uma de suas muitas histórias. É a deixa para reclamar, dizer da falta que faz ter mais gente em casa. Ela mora com Paulo, o vira-lata Dorly e o gato Balin. O fi -lho se mudou para Anápolis há dois anos, quando a mãe começou a ter episódios de esquecimento, pouco antes do diagnósti-co de Alzheimer, que veio em agosto de 2016. Todo dia, ele vai-e-vem, por que tra-balha em Goiânia. Rotineiramente apro-veita fi nais de semanas e feriados para ir a Brasília, ver a namorada, a advogada e servidora pública Patrícia Nogueira.

Sobre a ausência de irmãos, Paulo é sucinto. “Meu pai queria minha mãe só pra ele, fi lho gerava concorrência”. Pelo sim, pelo não, fato é que Dilton deu um jeito de mandar o adolescente, de 14 anos, para longe. Escreveu para a cunha-da, bem de vida fi nanceiramente, dizen-do que Paulinho estava “se envolvendo com más companhias”. A tia apareceu em Anápolis, sem mais nem menos, e convidou o sobrinho para morar em Brasília. Paulinho foi. Retornou no ano seguinte. “Depois descobrimos essa car-ta, que me marcou muito. Não se espe-ra isso de um pai, articular dessa forma para você se afastar.”

No fi m da vida, o recomeço da relaçãoEm 2012, o câncer de próstata em es-

tágio avançado alcançou a medula es-pinhal e deixou Dilton paralítico aos 94 anos. Policial na Capital Federal, Dilton morava com Xeriff em Anápolis desde 1980, já aposentado. Naquela manhã ha-via ido ao banco caminhando. Teve de voltar para casa de táxi, carregado pelo motorista, um velho amigo, até a sua cama. Dali não saiu mais sozinho.

Recomeçava a história de Paulo e Dil-ton. Foram meses de cuidados intensos e dedicação quase que exclusiva. “A gente fi cou muito próximo, teve muito contato físico mesmo. Eu dava banho, virava na cama, pegava no colo...”, relembra o fi lho.

Por conta da paralisia, Paulinho trou-xe o pai para Goiânia, primeiro para o Hospital das Clínicas, onde fi cou por 25 dias diante de um diagnóstico errado de Síndrome de Guillain-Barré – doença autoimune que afeta os nervos e causa enfraquecimento muscular. “No hospital foi difícil. Não tinha onde dormir, eu dei-tava no chão forrado por um cobertor e o travesseiro era a Bíblia”. E mais: a cada duas horas ele se levantava e virava o pai para evitar o aparecimento de escaras –

feridas comuns em pacientes acamados. Os dias no hospital ensinaram Paulo

a cuidar de uma pessoa nessas condi-ções. “Fiz curso intensivo ajudando as enfermeiras”, assegura. Quando os mé-dicos descobriram que era câncer em estágio avançado mandaram Dilton, de-senganado, para casa. Nessa fase, Paulo já sabia dar banho, trocar a roupa de cama, ministrar os medicamentos.

“Quando recebi a notícia de que era um câncer agressivo, terminal, pensei ‘ah, pelo menos ele vai descansar, e até lá vou cuidar dele direitinho’”, recorda.

À época, Paulo era casado e levou Dil-ton para a casa em que morava com a esposa Renata e a fi lha Isabella. “Quando temos um doente em casa, nesse estado, toda família adoece. Eu tinha muitos problemas para administrar, não tinha apoio da Renata, ela nem entrava no quarto do meu pai. E minha mãe já era idosa. Então era eu sozinho”.

Foram mais dois meses de cuidados em casa. De dia, enquanto trabalhava, uma cuidadora fi cava com Dilton. À noi-te, o fi lho era o cuidador. “Emagreci mui-to, foi um tempo difícil”.

Dez dias antes de falecer, em um dos momentos de lucidez que fi cavam cada vez mais raros, Dilton, percebendo as di-fi culdades do fi lho, pediu a Paulinho que se aproximasse e falou: “Você me perdoa por tudo que eu te fi z?!” O pai não sabia da doença, acreditava que iria melhorar e garantia: “Quando eu fi car bom, vou te ajudar”.

“Ele via que eu era a única pessoa que podia cuidar dele., e deve ter pensado: ‘eu tô na mão desse cara’”, diz um Paulinho sorridente, em tom de brincadeira.

E como chegou esse pedido de per-dão? “Aceitei. Senti que ele fi cou mais ali-viado, menos constrangido. Hoje não me lembro das coisas ruins que meu pai me fez. Lembro para contar, mas isso não fi ca martelando na minha cabeça. Passou!”

A morte de Dilton foi anunciada e os dois tiveram tempo para reavaliar sua história. “Engraçado, a vida toda com esses problemas, e na doença a gente se aproximou. Deus foi muito bom comigo, me deu esse tempo e deu esse tempo a ele também”, diz, grato.

No sábado, 22 de novembro de 2012, Paulo acordou, cuidou do pai – ele estava

inconsciente, já não respondia – e saiu para a igreja. Na volta, entrou direto no quarto de Dilton, o virou na cama e foi trocar de roupa para dar banho nele.

A doença avançada provocava delí-rios e a medicação para amenizar esse sintoma levava a problemas respirató-rios. Então, Paulo tinha o hábito de obser-var se o pai estava respirando. “Eu olhava, e quando ele respirava, sentia um alívio”.

Naquele dia, enquanto preparava para dar o banho no pai, Paulo fi tou Dil-ton, mas ele não respirava. Aproximou-se e nada. “Subi na cama e comecei a fazer a massagem cardíaca”. Só conseguiu que o pouco de ar que estava nos pulmões fosse expirado. “Ele não inspirava, havia acaba-do de morrer. Sei disso porque ainda esta-va quente. Eu tentei, tentei trazer meu pai de volta”. Foram dez minutos ali.

Paulo caminhou até a cozinha, en-controu a mãe e contou. Xeriff correu até o quarto e chorou a perda do com-panheiro com quem dividiu 40 anos da vida. Veio o Instuto Médico Legal (IML) constatou a morte e começou todo o pro-cesso até o sepultamento de Dilton. Para Paulo, missão cumprida.

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ComunidadesGOIÂNIA, 28 DE JANEIRO A 3 DE FEVEREIRO DE 2018 / www.tribunadoplanalto.com.br11

“Não estamos preparados para cuidar dos nossos pais”

Durante a doença de Dilton, Paulo teve de diminuir o ritmo da sua própria vida – família, trabalho, estudos (ele se prepara para concursos públicos) – para se dedicar prioritariamente ao pai. Quando Dilton faleceu, o fi lho se separou. O casamento há tempos não ia bem, “mas a de-cisão do divórcio saiu ali” pela falta de apoio em um mo-mento de fragilidade. “Tomei decisões importantes nesse tempo”.

Três anos depois, novo desafi o. A mãe Xeriff começou a ter esquecimentos rotineiros. Era o início do Alzheimer. A decisão de se mudar para Anápolis foi difícil, só que Pau-lo é, como ele diz, a ponta da espada. Tinha de ser ele. Sem carro, que fi cara com a ex-mulher, o fi lho passou a acordar às 4h30 da manhã para sair do interior, e percorrer os 60 quilômetros de ônibus até a Capital, onde trabalha o dia todo. Hoje faz o percurso de moto, de segunda a sexta-feira.

“Embora esteja sendo muito mais difícil cuidar dela do que foi cuidar do meu pai, do ponto de vista prático, do dia a dia, da mão na massa, pelo fato de amá-la fi ca muito mais fácil. É mais leve!“, refl ete. “É uma entrega diferente”.

O Alzheimer é uma doença que avança rapidamente, e Paulo sente como se estivesse perdendo a mãe aos poucos. Diz que é como se ela morresse um pouco a cada dia. Por isso, todo o tempo que passam juntos é altamente valori-zado. “Quando estou em casa é um momento muito bom, porque estou cuidando da minha mãe, estou perto, vendo como ela está”, explica o fi lho.

Ao longo dos últimos dois anos, os sintomas do Al-zheimer foram se intensifi cando. Hoje Xeriff precisa de alguém com ela 24 horas. Passou a trocar o dia pela noi-te. Dorme bastante pela manhã, à tarde e, quando a noite chega, fi ca alerta e não deixa o fi lho dormir. Chama Paulo diversas vezes ao longo da noite, para saber se ele trocou o gás da cozinha, se o cachorro comeu, se ela já tomou seu costumeiro leite antes de dormir.

Quem passa as tardes com Xeriff é a jovem Maria VitóriaGomes de Sousa, 18, que conta que a relação de mãe e fi lho é “bem tranquila”. “Dona Xariff admira demais o Paulinho e ele respeita muito a opinião dela. Acho isso muito bo-nito! Ele respeita muito se ela está feliz ou não com qual-quer situação”, destaca.

MomentosSer cuidador da mãe pode ser cansativo, muitas vezes.

Mas igualmente tem a parte leve, divertida. As histórias de Xeriff , as conversas durante o jantar, as risadas, as brincadeiras e as horas em que é preciso lhe dar comida na boca, como a uma criança, para driblar a falta de ape-tite, são um alento.

Preciosos são também os muitos vídeos que o fi lho faz da mãe pelo celular. “É a essa parte divertida com minha mãe que eu dou mais valor”, garante Paulinho. É o que fi -cará na memória dessa história linda de amor e entrega.

Já ouviu falar em tsunami gri-salho? A geriatra Ana Maria Porto explica. “Os avanços da medicina contribuíram para que a expec-tativa de vida, que em 1940 era de 40 anos, pulasse para quase 76”, aponta, referindo-se a dados di-vulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE) e relativos a 2016. Mesmo no enve-lhecimento saudável, a idade é fa-tor de risco para inúmeros males e, à medida que avança, os idosos se tornam mais vulneráveis a com-plicações de doenças crônicas. Eles fi cam mais frágeis e dependentes.

Vivemos hoje uma inversão de papéis, uma mudança na dinâmi-ca familiar imposta pelo envelhe-cimento da população. É cada vez mais comuns fi lhos que cuidam de forma parcial ou total de seus pais. Coordenadora do Núcleo de Apoio ao Paciente Paliativo (NAPP), do Hospital Estadual Alberto Rassi – HGG, Ana Maria Porto fala nesta entrevista sobre o tema.

Os fi lhos estão preparados para cuidar dos pais?

A primeira grande difi culdade é a aceitação do processo de adoe-cimento, das limitações e perdas que podem vir. Somam-se a isso as informações inadequadas sobre a doença e as reais necessidades do idoso, e a falta de uma rede de apoio ao cuidador. A maioria des-tes fi lhos tem família constituída, trabalha fora e, quase sempre, tem uma renda insufi ciente que, mes-mo somada à aposentadoria, não é capaz de garantir todas as neces-sidades impostas pela doença.

Quais as consequências desse despreparo?

Um sofrimento familiar inten-so. O cuidador, diante de sua inca-pacidade física e das difi culdades enfrentadas pelo adoecimento, entra em depressão. É o que cha-mamos de “estresse do cuidador”. É comum até em famílias nume-rosas quando poucos se envol-vem no cuidar. O adoecimento do cuidador refl ete diretamente no emocional do paciente, que se sente ‘um fardo’ para a família. Ele também se entristece. Muitos pacientes deixam isso muito claro nas consultas. ‘Doutora, gostaria de morrer. Estou dando muito tra-balho para meu fi lho’ são frases que escutamos com frequência.

Como preparar as pessoas para esse cuidado?

A educação sempre terá papel transformador. É preciso enxer-gar o envelhecimento como parte do ciclo vital e ensinar às pessoas, desde cedo, sobre as mudanças que irão ocorrer. Assim entende-remos as limitações que ocorrem. Muitas vezes nos deparamos com fi lhos que, por superproteção ou imposição, superestimam a auto-nomia dos pais e acabam geran-do confl itos. É comum receber no consultório fi lhos reclamando da teimosia dos pais e o que vemos é justamente uma divergência de ponto de vista e a tentativa de im-posição de verdades, que são dos fi lhos e não dos pais. Confl itos en-tre gerações. Todos nós temos ma-nias, que podem piorar com a ida-de, o que não quer dizer que sejam ruins. A escola pode ser mediadora nesses confl itos entre gerações.

O despreparo pode se tornar problema de saúde pública?

Sim, se não capacitarmos de forma adequada as famílias para os cuidados, quem será o respon-sável? Não temos instituições su-fi cientes para atender todos ido-sos. Eles serão cuidados em casa. É nosso dever garantir a mínima assistência e treinamento aos fa-miliares. Como a rede de apoio é insufi ciente e as famílias não têm suporte adequado, é comum que idosos frágeis, com mais risco e vulnerabilidade para doenças agudas ou crônicas, acabem lotan-do os serviços de urgência e emer-gência e os leitos dos hospitais.

Esse tempo de cuidado é também tempo de reconciliações, de perdão?

Sim, é a nossa chance de agra-decer tudo que recebemos, a opor-tunidade de exercer a gratidão àqueles que nos deram a vida. Às vezes as pessoas estão tão envol-vidas por mágoas que se esque-cem que a vida é o nosso maior presente. Temos um caso em que a mãe, por ter uma doença psiqui-átrica, nunca pode cuidar de sua fi lha única. Hoje é justamente essa fi lha que cuida da mãe aca-mada e com alta dependência. Para a fi lha esses cuidados são de extrema importância. Ela diz que ‘é a oportunidade de estar com a minha mãe’.

Quais seus conselhos ao fi lho cuidador do pai?

Busque ajuda nas equipes as-sistenciais que atendem seu fami-liar. É importante ter todo apoio técnico e emocional. No caso de pacientes portadores de síndro-mes demenciais, por exemplo, há grupos de cuidadores que se re-únem para discutir experiências e os cuidados. Ouvir o outro nos conforta muito. É preciso enten-der que nem sempre vamos con-seguir fazer tudo o tempo todo ou da melhor forma e que toda ajuda sempre é bem-vinda. Devemos en-tender os limites do nosso corpo, ter horário para descansar, pedir ajuda. Há várias formas de ajudar, nem todas as pessoas conseguem participar da rotina de curativos, mas elas podem contribuir de ou-tra forma. Podem se fazer presen-tes de outras maneiras.

Precisamos falar mais sobre a morte e a preparação para ela?

Sim, até no meio médico a morte ainda é um tabu. Quando perdemos um paciente nos sen-timos fracassados. Nosso treina-mento é baseado em protocolos e diretrizes que garantem desfe-chos estatisticamente favoráveis. Mas e quando isso não ocorre? É necessário entender a morte como parte do ciclo vital, que mes-mo recebendo todo o tratamento modifi cador de doença, chega um momento em que o organismo não responde mais e que deter-minados procedimentos podem não mais trazer benefícios. Quan-do isso ocorre, o foco muda. O foco passa a ser a pessoa e sua famí-lia, não mais a doença. Por isso, é preciso reforçar que no momento em que fazemos o diagnóstico de uma doença crônica também de-vemos falar de sua evolução, não esquecendo nunca de dar a opor-tunidade de escuta para a pessoa nesse momento tão difícil. Muitas das vezes o paciente não gostaria de ser submetido a determinados tratamentos invasivos ou mesmo gostaria de ter a chance de realizar projetos. Se não falarmos desse assunto, podemos provocar ain-da mais sofrimento pela falta de informação ou impedir momen-tos de extrema importância para a vida da pessoa ou de toda uma família.

AMOR E ENTREGAMeu fi lho é maravilhoso,

faz de tudo, cozinha, toma conta da casa. Filho é bom demais, né?!”Xeriff, 87, portadora de Alzheimer

Cuidar da minha

mãe é diferente do que foi com meu pai. Além da obrigação, eu tenho amor.”Paulinho, 48, cuidou do pai e agora, da mãe

EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Ana Maria (terceira da dir. à esq.) coordena ‘Cuidados Paliativos’

Fotos: Daniela Martins

Comunicação Idtech

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Dia 1º tem lançamento da 11ª Mostra ‘O Amor, A Morte e As Paixões’, no Cine Lumière, em um café da manhã com a imprensa, às 10h30, no Shopping Bouganville. É quando os fi lmes que compõem a edição deste ano serão divulgados pelo professor de cinema Lisandro Nogueira, curador da Mostra. Agende-se. De 7 a 21, os Cinemas Lumière recebem uma das maiores mostras de cinema mundial do Centro-Oeste brasileiro, com a apresentação de 116 fi lmes, de 36 países. São títulos de Hollywood a produções independentes realizadas em Goiás. Tem também novas cópias de dois clássicos mundiais, vencedores e integrantes de seleções ofi ciais de festivais internacionais como os de Cannes, Veneza, Berlim, Sundance, São Paulo e Rio de Janeiro. Como diz o texto de apresentação da mostra são ‘fi lmes para emocionar e fazer pensar’. Vale a pena conferir!

Paralelo 16º espalha dança pela CapitalDepois da folia de Carnaval, Goiânia recebe a 9ª edição do Paralelo 16º, mostra de dança contemporânea

com 14 espetáculos, dos mais diversos estilos e nos mais diversos espaços. De 16 a 25 de fevereiro, teatros, parques, shoppings, praças e bares se transformam em palcos para os artistas em apresentações divididas

em três eixos: cena aberta (nas ruas), cena livre (nos teatros) e cena proibida (para maiores de 18 anos), uma novidade desta edição. Haverá duas aulas públicas. Tudo é gratuito, mas a ideia é ajudar. Quem quiser acompanhar a Paralelo 16º pode doar 1 quilo de alimento não perecível, mantimentos que serão entregues à

Vila São José Cottolengo, em Trindade.

Tecnologia e produtividadePerto de completar dois anos de adoção do Business Intelligence (BI), sistema de inteligência de negócios, a EBM lança agora um portal de gestão e aplicativo que permitirá aos colaboradores acessarem conteúdos como relatórios de metas, vendas, faturamento, lucro e fl uxo de caixa de qualquer lugar, inclusive pelo celular, com a única exigência de estar conectados à internet. As informações são exibidas de acordo com o perfi l de cada um da equipe. O portal já está em atividade e o aplicativo estará disponível a partir de 15 de março. O investimento em tecnologia tem viabilizado a mudança de atuação dos colaboradores da empresa, que começam a ser mais analistas que operacionais.

Perfumaria masculinaPromoção para os homens. Mais de 350 produtos das linhas masculinas do Boticário estão com descontos de até 40% até dia 14. São itens de cuidados pessoais e toda perfumaria masculina da marca, entre eles Malbec Gold, Quasar Surf e Zaad Mondo. As mulheres também podem continuar aproveitando a temporada de liquidação. Tem promoção para elas por lá!

Prêmio Sesc de Literatura

Um mundo de cores que dão formas a cenas cotidianas: uma praça, jovens nas ruas, casais apaixonados sob o luar, corpos, gestos e olhares. Três artistas com técnicas distintas e, em comum, a expressão de sentimentos, de alegria, em vários tons e movimentos nas telas. O roteiro é da primeira mostra de 2018 do Hospital Estadual Alberto Rassi, dentro do Projeto Arte no HGG. A coletiva ‘Poética Contemporânea’, com obras dos artistas Brenda Lee, Carlos Catini e Pedro Galvão, será aberta ao público nesta quarta, 31.

bazar

Cinema pra pensar

Daniela [email protected]

Se você gosta de escrever, se tem algum projeto esquecido na gaveta, a hora é essa! Estão abertas as inscrições para o Prêmio Sesc de Literatura, que completa 15 anos em 2018. O concurso nacional premia autores inéditos nas categorias conto e romance, com a publicação e distribuição de suas obras pela Editora Record. Informações: www.sesc.com.br/premiosesco

Poética Contemporânea

Moda do IFG em exposiçãoEstudantes do curso de Modelagem do Instituto Federal de Goiás (IFG) estreiam seus trabalhos nesta semana, durante a primeira exposição de peças de vestuário no Shopping Aparecida. Na abertura, dia 2, às 20h30, a professora e mestra em Arte e Cultura Visual, Karol Testoni, ministra a palestra ‘Você é o que você veste’, no Espaço CoWorking, com entrada gratuita. Nos dias seguintes, os 15 modelos produzidos pelas alunas fi cam em exibição no hall de entrada do Shopping.

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