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Apresentadores: Sebastião Mesquita Marília Costa Francione Brito Elvis Alves Josefa Jesus Disciplina: Metodologia da Pesquisa Professora: Lúcia Pessoa Sampaio

ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

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Texto apresentando durante aula ministrada na disciplina Metodologia da Pesquisa do PPGL - CAMEAM - UERN (semestre 2012.2).

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Page 1: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

Apresentadores: Sebastião MesquitaMarília CostaFrancione BritoElvis AlvesJosefa Jesus

Disciplina: Metodologia da PesquisaProfessora: Lúcia Pessoa Sampaio

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CARTA AO LEITOR

Apresenta o texto contando motivações iniciais:

Primeira aprendizagem – reconhecimento da

presença do leitor;

Segunda aprendizagem – maior desafio da escrita

é começá-la;

Terceira aprendizagem – não confundir o escrever

com a escrita ( ação com obra finalizada).

“O escrever é o princípio da pesquisa, tanto no sentido de por onde deve

ela iniciar sem perda de tempos, quanto no sentido de que é o escrever que

a desenvolve, conduz, disciplina e faz fecunda. “(p. 12)

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I – A QUESTÃO É COMEÇAR

Coçar e comer é só começar.

Conversar e escrever também.

Quebrar o gelo

Alfabetização da escrita: Introdução,

desenvolvimento e conclusão.

Escrever é iniciar uma conversa com

interlocutores, invisíveis, imprevisíveis,

mas sempre presentes.

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Para começo de conversa

Definição de um tema/título (problema, assunto,

hipótese)

Título: é o começo da obra como um todo, é o que vai

dar nome ao que vamos procurar.

Escrever é uma obsessão, paixão.

É uma atividade diária.

O título é sempre instável, pois pode sempre mudar

para atender princípios comerciais.

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De como se chega ao tema

“Se esse é agora meu ponto de partida, como chegarei a ele?” (p. 18)

Tudo começou com uma dificuldade de aprendizagem da escrita (redação).

Leitura em voz alta.

Treinamento com base nos cânones da gramática.

Crônicas escritas durante o Ensino Médio.

No Ensino Superior a escrita se tornou quase um vício.

O sofrimento da escrita acadêmica a nível de mestrado e doutorado.

Membro de equipe encarregada de pensar a instalação de um curso de

Mestrado em Educação.

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As interlocuções do escrever

O ato de escrever é uma interlocução.

Quem são os possíveis interlocutores?

Os possíveis leitores;

Os amigos;

Os muitos autores, com o apoio bibliográfico.

O próprio escritor quando ler sua escrita.

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A aventura do escrever

“Escrever é o começo dos começos. Depois é a aventura”. (p. 30)

Bússola = título;

Uma lâmpada. (Informações externas);

Dicionário;

Bibliografia;

O suporte físico (Folha ou tela do computador).

Suporte: Parede rochosa, argila, pergaminho, papiro, minha lousade criança, as paredes da casa paterna. E agora passa a ser a telado computador. (p. 32)

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II – NAVEGAR É PRECISO – A MÁGICA

AVENTURA DO ESCREVER

Mário Osório neste

capítulo constrói a

metáfora do ato de

escrever com o

poema Navegar é

preciso de

Fernando

Pessoa, como

podemos ler a

seguir:

Navegar é Preciso

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,

transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.

Só quero torná-la grande,

ainda que para isso tenha de ser o meu corpo

e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;

ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue

o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir

para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa

A metáfora se

sustenta na seguinte

passagem do capítulo:

Computador ligado àcorrente que lhe dávida, a tela vazia: umconvite a navegar porela. Navegar épreciso, na folha embranco ou na tela docomputador, e daí pormares e terras, pelosares. (pag. 35 e 36)

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Na Canoa da Psicanálise

Osório destaca as pesquisas de Freud quando ligava o escrever ao fluir de um

líquido de dentro de nós, assumindo a significação simbólica do coito.

Também acrescenta as contribuições de Humboldt, Husserl e Austin.

Ainda na construção da metáfora como viagem, navegação, Osório destaca

estas palavras de Machado (1989,157):

O ato de escrever precisa ser exercido graciosamente, isto é, sem pretendertal ou qual objetivo, para que possa surpreender-nos como algo da ordem doinusitado, do saber inconsciente... produz uma significação circulante... umasignificância que não tem ponto de partida nem ponto de chegada: ela circuladisseminando sentidos (Machado, 1989, p. 157).

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No ônibus da história

Neste ponto do capítulo, Osório compara o escritor como o viageiro que compõe e

recompõe seus itinerários à mercê das intencionalidades mudadas, dos encontros

e desencontros, das emergências circunstanciais, dos loucos rompantes de um

momento singular. A história que o conduz é também por ele conduzida. Quem fala

ou quem escreve termina por ser conduzido pelo que expressa. Cada passo

descortina os próximos, como um convite à liberdade de escolha.

Dessa forma, a escrita não tem simplesmente uma história; ela possui

historicidade, isto é, a capacidade de produzir-se e produzir seu próprio campo

simbólico, social e cultural, de constituir-se na constituição da história, a sua e a

geral, e na ruptura com as formas que criou. É o escrever que constitui a escrita

em sua função primeira de significante, depois de produtora de sentidos. E, por

outra parte, a escrita precede o escrever. Os traços deixados pela passagem ou

ação do homem sobre os elementos naturais podem ser lidos, interpretados: são,

portanto, escrita sem o escrever, sem a intenção de serem lidos, sem a

pressuposição de um eventual leitor.

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No ônibus da história

O autor enumera ainda as peculiaridades da escrita de autores

como: Clarice Lispector, Kafka, Montaigne, Louis

Aragon, Foucault, Truman Capote, T. Eliot e Sartre quando diz:

Estou a tentar explicar em que consiste escrever, ter um

determinado estilo. É preciso que isso nos divirta. E para nos

divertir torna-se necessário que a nossa narração ao

leitor, através das significações puras e simples que lhe

apresentamos, nos desvende os sentidos ocultos, que nos

chegam através da nossa história, permitindo-nos jogar com

eles, ou seja, servir-nos deles não para os

apropriarmos, mas, pelo contrário, para que o leitor os

aproprie. O leitor é, assim, como que um analista, a quem o todo

é destinado. (pag.:48)

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Ao sabor dos ventos da imaginação

O último tópico do capítulo destaca o papel do imaginário do escreventevisto como um reservatório onde se agregam as experiências do viver edonde a cada momento podem emergir, convocadas pelo ato de escrever.Dessa maneira, no escrever enquanto ato de revelar o que surge à luz daconsciência imbricam-se a razão do imaginário e a razão discursiva dosconceitos, na unidade dialética em que se autoexigem na história das ideiase na tessitura da ação humana na fala e na escrita.

A partir desta visão, Osório ilustra melhor este papel com os conceitos demímesis e mythos segundo Platão e Aristóteles, conceitos que seestenderam durante a Idade Média e nos tempos modernos foramreforçados e alargados como papel mediador da imaginação transcendentalou produtiva, segundo Kant.

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Ao sabor dos ventos da imaginação

Osório conclui o capítulo com as seguintes palavras:

O texto escrito se faz assim ponto de mediaçãoentre o autor e o leitor, ambos figurasindispensáveis. Se cabe ao autor dar conteúdo eforma legível a seu texto pela inscrição dele naanterioridade da língua em uso, cabe ao leitor nãoapenas assimilar a mensagem escrita, mastranscendê-la, integrando sua leitura naprogramação de seus interesses. A pesquisa, porexemplo, exige não que se façam leituras paradepois inseri-las no texto, mas que tenha opesquisador bem-definidos seus propósitos, e entãobusque leituras a eles adequadas. (pág.: 61)

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III – A OBRA DO ESCREVER NO PÉRIPLO

DE SEU ENCONTRO COM O LEITOR

Texto

LeitorAutor

O texto quando chega nas mãos do leitor está a

mercê dele em sua presença ativa de

reconstrução interpretativa na busca de sentidos,

de modo que escapa do domínio do autor , mas

não se desprende totalmente do mesmo, pois

sendo este conhecido ou não, sempre é suposto.

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O escrever na história da escrita

História da escrita – antes mesmo da história e da escrita. Ler precede o escrever – necessidade de significação → criação de código

(ex.: pegadas elementos fundantes do mundo humano da significação para então

constituir-se símbolos)

A escrita tem suas raízes no desenho significante, expressivo (representação

feita pela criança nos rabiscos com pluralidade de significados).

A existência anterior da língua falada como sistema de interação parece ser

condição para essas formas reflexas do ato de significar.

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O escrever na história da escrita

Escrita pictográfica ( imagem física de um objeto representando outros da

mesma espécie por convenção); escrita ideográfica ( imagem-ideia, ex: jarro

significativo de conteúdo em certa quantidade no interior); sistema

logográfico consociando imagem-palavra (ex: não deve fumar onde há uma

tabuleta com cigarro cortado ao meio por traço vermelho); escrita fonética

(ajustar signos escritos à língua falada representando elenco de valores

silábicos); escrita hieroglífica (própria dos monumentos – sagrada); a

escrita hierática (cursiva e esquematizada dos documentos); a escrita

demótica (fonética de uso comum).

Escrita alfabética marcando uma autonomia ideal e fonética constituída por

elementos distintos: consoantes e vogais (origem entre fenícios e gregos)

“O alfabeto grego forneceu uma completa tabela de elementos atômicos dos

sons acústicos que, por meio de diversas combinações, podiam representar,

por assim dizer, as moléculas do discurso linguístico...” (Havelock, 1995)

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Progresso na história do pensamento: palavra e pensamento tidos como

objeto de conhecimento abrindo caminho para as ciências (gramática e

lógica). Agora cada indivíduo podia opinar e formular questões filosóficas.

A escrita dá uma existência objetiva e autônoma às unidades da língua,

permitindo fazer-se uma ciência do escrito voltada ao aprendizado das

letras e dos conjuntos de letras no texto, de que resulta a sistematização

das categoriais gramaticais. (p. 69)

A cultura escrita não mais como somente codificação de sons da fala via

alfabeto, mas como capacidade de participação no processo de comunicação

ampliada e armazenamentos/ manipulação dos conhecimentos.

Relações complexas entre o texto e sua forma: suporte de escrita e suas

influências editoriais, estratégias do escrever e intenções do autor, suposto

apoderar-se do leitor.

O escrever na história da escrita

Page 18: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

As resistências ao escrever

Terão essas resistências suas razões?

As vantagens da escrita não são tão obvias e indiscutíveis se retrocedermos a

Antropologia e suas tradições orais. Vários pensadores ocidentais faziam recusa

à escrita, como é o caso de Rousseau, e preferiam a oralidade em detrimento da

escritura.

Para ele, a propagação da escritura, o ensino de suas regras, a produção dos

seus instrumentos e objetos configuravam-se como empresa política de

escravização, onde a pontuação era outro mal.

Muitos foram os linguistas clássicos que relacionava a escritura como simples

imagem da palavra falada, limitando a língua e relegando a escrita a uma posição

secundária. (Saussure, Condillac, Sapir, Bloomfield, Chomski)

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As resistências ao escrever

Contribuíram positivamente: Wittgenstein, com a vinculação

entre linguagem e práxis – significado nas situações de uso;

Lacan, na significância em que se relacionam sujeitos em

interlocução; Habermas, na esteira de Austin e Searle com a

performatividade dos atos linguísticos dos falantes no desenvolver

de sua competência comunicativa.

Os próprios linguistas só podem fazer ciência com o apelo ao uso

da escrita. (p. 80)

Lacan suscita a marca do sujeito até mesmo na fala, de maneira

que o registro do seu estilo só é possível mediante gravação em

algo. Assim o que solidifica a “existência do rastro” é o signo

escrito.

O ato de escrever remete a uma multiplicidade de ciências em que

se inscreve numa caminhada de camaradagem com o leitor.

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O leitor presente no ato de escrever

“Na leitura estão implicados o sujeito que escreve deixando no

escrito suas marcas e os sujeitos que ao ler atualizam, dão vida

outra ao que foi escrito. [...] A folha de papel não é apenas

suporte passivo, é campo aberto à concriativiade do escrever e

do ler, convite e incitamento à intercomplementaridade de atos

separados por um hiato de tempo [...]” (p. 84)

Cada leitor introduz no texto que lê seu próprio ritmo e ritos de

leitura, suas reflexões, suas memórias literárias e referencias

culturais.

Autor & leitor se reclamam em reciprocidade ao imprimirem ao

texto escrito suas capacidades de significância (cf, Machado,

1989, p. 25-30, 64-73). Ao lado do escrevente está de

prontidão o leitor, não se sabendo qual deles escreve:

certamente ambos em parceria. (p. 85)

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IV – ESCREVER, O PRINCÍPIO DA PESQUISA

Escrever é iniciar uma aventura que não se sabe onde nos vai levar; ou melhor,

que, depois de algum tempo, se saiba não ser mais possível abandonar. [...]Mas no

pesquisar o escrever está polarizado,persegue um tema preciso. Escreve-se à

procura de um assunto. E quando se chega ao assunto, o escrever se faz pesquisar,

sem que o assunto seja o mais importante.

Na pesquisa o escrever se torna regrado, conduzido por intencionalidades

precisas: a) a tematização, ou constituição do tema que se pretenda abordar, [...]b)

a convocação de uma comunidade argumentativa; c) o desenvolvimento da

interlocução de saberes no trabalho da citação sob a ótica da hipótese guia e na

forma de argumentação discursiva; d) nos passos andados e na versatilidade do

método, a afirmação de um estilo; e) um processo permanente de sistematização,

validação discursiva e certificação social, que perpasse todos os momentos da

pesquisa em causa; f) a apresentação clara e objetiva da pesquisa com vistas ao

entender-se o pesquisador com seus possíveis leitores interessados.

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A constituição do Tema/Hipótese

Estabelecer um tema de pesquisa é, assim, demarcar um campo

específico de desejos e esforços por conhecer, por entender nosso

mundo e nele e sobre ele agir de maneira lúcida e consequente. Mas

o tema não será verdadeiro, não será encarnação determinada e

prática do desejo, se não estiver ancorado na estrutura subjetiva,

corporal, do desejante. Não pode o tema ser imposição alheia. Deve

ele tornar-se paixão, desejo trabalhado, construído pelo próprio

pesquisador. Da experiência antecedente, dos anteriores saberes

vistos como insuficientes e limitantes nasce o desejo de conhecer

mais e melhor a partir de um foco concentrado de atenções.

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A constituição do Tema/Hipótese

O assunto pode justificadamente mudar, o que não pode é deixar-se de ter umassunto em vista. Um assunto que, por outra parte,se já estivesse claramenteestabelecido e explorado, não seria objeto de pesquisa. O que não se pode édeixar de cutucar as moitas. Não se busca o que já se tem, nem se descobre oque já se sabia. O tema da pesquisa é o objeto dela, justamente o que seprocura. Nele não se afirma ou nega algo, apenas se enuncia uma hipótese àbusca de verificar-se, ou não.

Por isso, a forma do tema na pesquisa não é forma de proposição acabada, dejuízo definitivo. É, sim, a forma da hipótese, isto é, de nova pergunta feita àexperiência antecedente do conhecimento que se tem a partir de práticasdesenvolvidas ou de leituras feitas.

Enunciar uma hipótese é, portanto, ter uma proposta de encaminhamento dotema,uma perspectiva dos procedimentos heurísticos adequados; e é assumiro compromisso de aduzir e considerar argumentos que confirmem ouinfirmem a proposição enunciada.

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A convocação de uma Comunidade Argumentativa

Cumprida a primeira tarefa de desenhar seu tema, ou o

eixo central, a espinha dorsal, de sua pesquisa, cabe agora

ao pesquisador convocar uma específica comunidade de

argumentação em que se efetive o unitário processo de

interlocução e certificação social de saberes postos à

discussão em cada tópico a ser desenvolvido.

Há três tipos de interlocutores: os do campo empírico, os

do campo teórico, os interessados à escuta.

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A convocação de uma Comunidade Argumentativa

A) Testemunham do campo empírico os que o habitam, seja ele uma dadaexperiência de vida ou de trabalho, seja o âmbito de uma dada instituição ouorganização: alunos, professores e direção, quando se trate de uma escola;operários, engenheiros, administradores, em se tratando de uma fábrica;

B) O campo teórico não baixa das nuvens. Brota ele do chão das práticas;não espontaneamente mas sob o acicate da interrogação,da reflexão, dapesquisa em nosso caso."A teoria se constrói através dapesquisa", [...]Surge ela como explicação, que se quer provisoriamenteválida, para determinado sistema de relações.

C) Referimo-nos aqui aos que sem serem convidados se metem em nossapesquisa, silenciosos e pacientes, em atitudes que desafiam e incomodam.São os leitores que não esperam pela escrita realizada para lê-la.

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Andamento da Pesquisa: o trabalho da citação

Percebendo-se a pesquisa como trabalho de uma comunidade convocada detestemunhos sobre tema proposto se faz ela uma combinatória de citações oude reescritas sob o ponto de vista de outro autor, um outro responsáveljurídica, institucional e pessoalmente por obra outra. Nela os enunciados setransferem a outro campo de discurso onde assumem significados outros.

Quando sublinhamos um fragmento ou o transcrevemos, a leitura pratica umato de citação ao desagregá-lo do texto e destacá-lo do contexto. Há nisso,nesse sublinhar, um ato de posse, de acomodação do leitor ao texto e do textoa ele assim como ao olho se acomoda o objeto e o objeto a ele.

São, por isso, diversos os níveis da citação, desde a citação literal sinalizadapor aspas e destacada de nosso texto, passando pela citação livre, ou traduçãoem linguagem nossa, de passagens mais amplas, de um capítulo, ou mesmo detodo um livro, até as citações que emergem do cadinho de nossa memória, jáde origens incertas. No primeiro e segundo casos, se faz indispensável areferência ao autor, à obra dentre as dele e à(s) página(s) lida(s). Já noterceiro caso tais referências são dispensáveis, até porque já esquecidas.

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Andamento da Pesquisa: o trabalho da citação

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Os passos andados, o estilo e a versatilidade

Se é no andar da carroça que se ajustam as abóboras, também é no andarda pesquisa que se reorganiza ela e se reconstrói de contínuoharmonizando seus distintos momentos. A criatividade e persistência dopesquisador se deve a unidade de seu estilo, não a regras pré-definidas. Napesquisa, como em toda obra de arte, a segurança se produz na incertezados caminhos. [...]Se os caminhos se fazem andando, também o método nãoé senão o discurso dos passos andados, certamente muito pertinente paraa certificação social do trabalho concluído, mas de pouca serventia para aorientação do que se há de fazer.

Necessita, sim, o pesquisador de sua própria bússola e de saber o queprocura. Não do saber as respostas, mas do saber perguntar ao que lhevier pela frente, na perspectiva do tema-centro de seu desejo de mais emelhor saber e sob o contínuo acicate e a inspiração da hipótese-guia deseus passos.

Page 29: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

A sistematização e validação dos saberes e

arrumação final da Pesquisa

O pesquisador é como o arquiteto que pensa a casa ao estilo de seusfuturos moradores, e a pensa na correlação de seus aposentos eneles dos móveis, ao mesmo passo que cercada de jardins e ruasenquadradas no plano da cidade. Sabe o arquiteto que os moradoresse hão de afeiçoar/modelar aos móveis e aos aposentos, à vizinhançae ao plano da cidade numa série de sistemas inclusivos.

Dessa forma se trabalhe cada tópico até uma densidade desejável ese retrabalhem eles no interior de cada capítulo, para depoisharmonizarem-se os capítulos entre si e na composição do inteirosistema das citações transpostas ao contexto da pesquisa em suaglobalidade.

Page 30: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

A apresentação do texto na perigrafia dele

Não é a lógica da inteireza do texto direta e imediata mente

acessível ao leitor. Necessária por outros aspectos, pois as

partes não se percebem como tais sem entender-se o lugar de

cada uma na composição do todo.

O próprio autor, para que sua obra tenha unidade e coerência

deve realizar o reequilibramento dela nas partes que a compõem.

Por isso, a primeira leitura exigida é o do todo permitindo a

leitura capaz de destacar a significância de cada elemento.

Page 31: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

A apresentação do texto na perigrafia dele

Deve assim o corpo do texto ser preanunciado por uma casca que oproteja e antecipe enquanto correlação de partes tencionadas.Nãobasta à capa a função de invólucro protetor do miolo do relatório,oudo livro, deve também poder ser lida para que anuncie o que está pordentro e indique suas vias de acesso e suas ligações com suasreferências externas. A esta periferia sinalizada ou a esta capaprotetora e indicadora do que está por dentro, denominaCompagnon(1979, p. 328-356) de perigrafia, uma zona intermediária,sala de visitas onde o autor seguro do controle de seu texto recebeseus leitores para dizer-lhes de suas intenções, dos caminhos quepercorreu e das parcerias com que trabalhou.

Page 32: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

V – ESCRITA E PESQUISA NA UNIVERSIDADE

Qual o lugar do escrever e do pesquisar na

universidade?

E qual é o compromisso da universidade numa

sociedade cada vez mais penetrada pela escrita

em suas infindas novas formas e mais

dependente de conhecimentos que se

renovem e reconstruam pela pesquisa?

Universidade: Biblioteca e Scriptorium

Universidade, Instituição de Pesquisa

Os Níveis da Pesquisa na Universidade

Page 33: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

Universidade: Biblioteca e Scriptorium

Diferença oralidade-escrita

Peculiaridades da escrita

Origem da escola e imposição

da escrita

Processos "artificiais" de

aprendizagem, intencionados,

regrados e sistemáticos:

escolarizados;

A palavra e o pensamento -

objeto de conhecimento

explícito.

Page 34: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

Paradigmas de produção e transmissão de

conhecimentos

Universidade: Biblioteca e Scriptorium

Com Humboldt, surge para a

universidade a função de elaborar a

cultura nacional que vai ser ensinada...

Assim como a universidade da Idade

Média elaborou a cultura universal da

Idade Média, a universidade da Idade

Moderna teve de elaborar a cultura

moderna e nacional para ensiná-la.

Anísio Teixeira – (Humboldt)

Page 35: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

Universidade, Instituição de Pesquisa

Universidade contemporânea, em especial a brasileira;

A universidade que confere diplomas, distribui títulos de

nobreza intelectual e transmite saberes acabados se tornou

obsoleta;

A universidade como comunidade da argumentação das

ciências;

Órgãos de fomento da pesquisa e o desempenho da

universidade

Page 36: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

Os níveis da pesquisa na Universidade

Iniciação científica

Nos próprios programas de pós-graduação se vê

frequentemente a pesquisa posta ao final de um plano de

estudos que pouco tem a ver com ela.

uma clara e abrangente política de pesquisa para todos -

professores, alunos e corpo funcional

e abrangente política de pesquisa que se acompanhe o

tempo todo das práticas do escrever

Page 37: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

PARA CONCLUIR NUNCA

O próprio termo que passa a designar o processo do escrever em

que se efetua a pesquisa - monografia - significa a redução da

abordagem a um só e unitário tema ou assunto. Mas o tratamento

dessa unidade temática é apenas incoativo, uma espécie de sobrevoo

para mapeamento do terreno, contatos mais assíduos com o campo

A substância da pesquisa está em ter-se um tema, colocar-se uma

questão que centralize nossas incessantes buscas de esclarecê-lo

sempre melhor, de entendê-lo em suas sempre novas dimensões e

desdobramentos. Não se esgota nunca, por isso, a pesquisa; não se

conclui de todo, exigindo, isto sim, um suceder de etapas

encadeadas, sinais de que não se está parado.

Page 38: ESCREVER É PRECISO livro Osório Marques

REFERENCIAS

MARQUES, M. O. Escrever é preciso:

o princípio da pesquisa. 5 ed. Ijuí:

Editora da Unijuí, 2006, 154 p.

(Coleção: Mário Osório Marques).

Vídeo: “Um conto sobre plágio” disponível em:

http://youtu.be/d0iGFwqif5c