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HOMO NALEDI Uma nova espécie humana descoberta na África do Sul GASPAR, CORAÇÃO DO VALE Porta de entrada do Vale do Itajaí NOSSA IDEIA DE TRABALHO ESTÁ FALIDA Trabalhadores não são engrenagens de uma máquina #237 EDIÇÃO OÁSIS NA ERA DA ANSIEDADE ESPERANÇA

ESPERANÇA Na era da ansiedade

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HOMO NALEDI Uma nova espécie

humana descoberta na África do Sul

GASPAR, CORAÇÃO

DO VALE Porta de entrada do Vale do Itajaí

NOSSA IDEIA DE TRABALHO

ESTÁ FALIDA Trabalhadores não

são engrenagens de uma máquina

#237

EDIÇÃO OÁSIS

NA ERA DA ANSIEDADE

ESPERANÇA

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OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

M uitos ainda a esperança numa categoria metafísica, como algo ligado à religião ou à espiritualidade. Isso é fácil de entender, já que ela está constantemente presente e

recomendada por todos os sistemas religiosos do mundo. Mas a verdade é que a esperança é uma emoção e um sentimento e, como tal, pode ser perfeitamente estudada com as ferramentas e a metodologia da moderna ciência da psicologia.

Desde os anos 1950, psiquiatras, médicos e estudiosos de outras áreas têm demonstrado interesse na esperança pelo potencial de cura contido nela. Foi só na década de 1990, porém, que o assun-to ganhou o primeiro plano, graças às investigações do psicólogo norte-americano C. S. Snyder, autor do livro The Psychology of Hope: You Can Get There from Here (Free Press). Falecido em 2006, Snyder entendia a esperança como uma “ideia motivacio-

AS PESSOAS ESPERANÇOSAS TRAÇARAM ROTAS PARA O SUCESSO E CAMINHOS ALTERNATIVOS NA EVENTUALIDADE

DE ENCONTRAREM OBSTÁCULOS – UMA PROVIDÊNCIA QUE OS INDIVÍDUOS COM BAIXA ESPERANÇA NÃO TOMARAM

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OÁSIS . EDITORIAL

POR

EDITOR

PELLEGRINILUIS

nal” que possibilita a uma pessoa acreditar em resultados positivos, elaborar metas, desenvolver estratégias e reunir a motivação para colocá-las em prática.

Snyder criou uma “Escala da Esperança” e, numa apresentação na American Psychological Association (APA), em 2005, mostrou os resultados de mais de uma década de aplicação desse recur-so. Segundo suas conclusões, pessoas com “baixa esperança” têm objetivos ambíguos e trabalham para atingi-los um de cada vez. Já os indivíduos com “alta esperança” frequentemente investem em cinco ou seis metas distintas ao mesmo tempo. As pessoas espe-rançosas traçaram rotas para o sucesso e caminhos alternativos na eventualidade de encontrarem obstáculos – uma providência que os indivíduos com baixa esperança não tomaram.

Outras pesquisas acrescentaram mais características positivas à es-perança. Segundo alguns estudiosos, ela é fundamental para a pes-soa desempenhar bem suas atividades e envelhecer em forma. Os indivíduos esperançosos, afirmam esses pesquisadores, têm mais autoestima, cuidam melhor de seu corpo e têm maior tolerância à dor. Sua forma “eu/nós” de pensar e ajudar os outros na busca do sucesso estimula a fraternidade e o sentimento de grupo.

Por todos esses fatores, o tema da esperança é mais do que digno de figurar como nossa matéria de capa. Mais ainda que digno, é necessário falar-se dela, para que as pessoas novamente se con-vençam, nestes dias difíceis que atravessamos, que “esperança é a última que morre”.

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ESPERANÇANa era da ansiedade

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esperança é a última que morre, diz o ditado. Essa associação com o último suspiro a torna um elemen-

to precioso em termos de saúde, de realização interior e de qualidade de vida. Alguns psicó-logos veem nela a sensação ou emoção mais importante que o ser humano pode experi-

mentar. Mas enquanto determinadas pessoas esbanjam esperança, como se as colhessem numa fonte inesgotável, outras se arrastam pela existência, totalmente estranhas a essa sensação. Ser esperançoso seria, então, uma característica inata e inacessível a muitas pes-soas? A moderna pesquisa psicológica afirma que não.

Desde os anos 1950, psiquiatras, médicos e estudiosos de outras áreas têm demonstrado interesse na esperança pelo potencial de cura contido nela. Foi só na década de 1990, po-rém, que o assunto ganhou o primeiro plano, graças às investigações do psicólogo norte--americano C. S. Snyder, autor do livro The Psychology of Hope: You Can Get There from Here (Free Press). Falecido em 2006, Snyder entendia a esperança como uma “ideia moti-vacional” que possibilita a uma pessoa acre-ditar em resultados positivos, elaborar metas, desenvolver estratégias e reunir a motivação para colocá-las em prática.

Snyder criou uma “Escala da Esperança” e, numa apresentação na American Psychologi-cal Association (APA), em 2005, mostrou os resultados de mais de uma década de aplica-ção desse recurso. Segundo suas conclusões, pessoas com “baixa esperança” têm objetivos ambíguos e trabalham para atingi-los um de cada vez. Já os indivíduos com “alta esperan-ça” frequentemente investem em cinco ou seis

A

Emoção fundamental para a cura e o bem-estar, a esperança ainda é pouco pesquisada pela ciência. Mas já se descobriu que até os que não a trazem do berço podem adquiri-la e aprimorá-la

POR: EDUARDO ARAIA

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metas distintas ao mesmo tempo. As pessoas esperançosas traçaram rotas para o sucesso e caminhos alternativos na eventualidade de encontrarem obstáculos – uma providên-cia que os indivíduos com baixa esperança não tomaram.Outras pesquisas acrescentaram mais características po-sitivas à esperança. Segundo alguns estudiosos, ela é fun-damental para a pessoa desempenhar bem suas atividades e envelhecer em forma. Os indivíduos esperançosos, afir-mam esses pesquisadores, têm mais autoestima, cuidam melhor de seu corpo e têm maior tolerância à dor. Sua for-ma “eu/nós” de pensar e ajudar os outros na busca do su-cesso estimula a fraternidade e o sentimento de grupo.Ao sintetizar os resultados de uma pesquisa relativa a ido-sos pacientes de depressão que foram ensinados a pensar com esperança, Snyder observou: “Conforme ficavam mais

esperançosos, eles se mostravam mais agradáveis (...) e mais propensos a expe-rimentar a alegria.” Com o treinamento, eles passaram a dar muito mais impor-tância ao lado positivo das coisas e a rir de si próprios e dos outros. “Se você não aprendeu a rir de si mesmo, perdeu a melhor de todas as piadas”, afirmou Snyder.

O grande passo seguinte no estudo do tema veio na virada do século com An-thony Scioli, professor de psicologia do Keene State College, em New Hamp-shire (EUA). Estudioso do assunto há

mais de duas décadas, ele afirma que a esperança é uma emoção extremamente importante, mas ainda “subpesqui-sada”. Suas pesquisas o levaram a concluir que confirmou que a esperança é uma habilidade que pode ser adquirida e tem múltiplas facetas (há 14 aspectos distintos, segundo o psicólogo, apresentados no quadro a seguir) a serem cul-tivadas. Além disso, ela se autoperpetua: os esperançosos revelam-se propensos a ser mais resilientes, confiantes, abertos e motivados do que as outras pessoas, e assim ten-dem a receber mais do mundo – o qual, por seu lado, lhes dá motivos para ficarem mais otimistas.

Scioli se interessa pela esperança ligada não a pequenos desejos, mas a grandes sonhos. Em sua opinião, os êxitos “mundanos”, do dia a dia, são importantes, mas equivalem a, no máximo, 1/3 do que ele chama de “essência da espe-rança”.

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A esperança no alto da montanha

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O psicólogo norte-americano reuniu um grande volume de informações sobre o tema, reforçadas por sua própria Escala de Esperança, que desenvolveu durante seis anos. Sua teoria – definida por ele como uma “tapeçaria inter-disciplinar que combina os melhores lampejos de cientis-tas, filósofos, poetas e escritores” – estabelece as raízes da esperança no “eu mais profundo”, reconhece a essência espiritual existente por trás dela e a força que ela extrai dos relacionamentos. Para o psicólogo, a esperança dá suporte às relações humanas, proporciona um objetivo e um signi-ficado à existência e delineia nossas possibilidades de saú-de e de duração da vida.

De acordo com Scioli, a conjunção de três causas – cone-xão, maestria e sobrevivência – dá origem ao que ele deno-

mina “as raízes e asas da alma, a emoção que chamamos de esperança”. Alimentar adequadamente os motivos da esperança, ele afirma, pode resultar no desenvolvimento de uma “essência esperançosa”, que consiste do “self co-nectado, do self com poder de decidir e do self resiliente”.Scioli enxerga na esperança uma forte dimensão espiritu-al. Ela está associada a virtudes como paciência, gratidão, caridade e fé. “A fé é o bloco de construção da esperança”, afirma. O vínculo cooperativo que se estabelece não é ape-nas com o próximo, mas também com uma entidade su-perior – diferentemente do otimismo, relacionado à auto-confiança.

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A união faz a força

Esperança

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Há alguns anos, Scioli investigou a importância relativa da esperança, da idade e da gratidão como indicadores de bem-estar. Seu estudo, que envolveu 75 pessoas entre 18 e 65 anos, revelou que o indicador mais poderoso de bem--estar era um alto nível de esperança. Ela também ajuda a reduzir a ansiedade sobre a morte e o morrer.

Em outro estudo, Scioli exibiu para um grupo de adultos na faixa entre 20 e 30 anos um clipe de dez minutos do fil-me Filadélfia, no qual Tom Hanks interpreta um homosse-xual que está morrendo de Aids. Após a apresentação, ele aplicou aos voluntários um questionário relativo ao medo da morte e do morrer. Os dados extraídos dali o levaram a concluir que a ansiedade a respeito da morte mantém-se

igual em pessoas que obtiveram altas notas em esperança, mas aumenta em indivíduos com notas baixas.

Para Scioli, a esperança reflete, em última instância, a profundidade da conexão mente/corpo. Em dois estudos realizados em 2006, com pacientes de câncer na tiroide e aidéticos, ele observou que os esperançosos relataram me-lhores condições de saúde e menos sofrimento e preocupa-ção com seu estado físico do que os demais pacientes. Os aidéticos esperançosos, curiosamente, manifestaram me-nos negação a respeito de suas condições físicas. As obser-vações realizadas indicaram ao psicólogo que a esperança é capaz de afetar o sistema imunológico e a saúde em geral.“A esperança representa um ‘meio-termo’ adaptativo entre a ‘reação ao estresse’ superativada e o desmotivador ‘com

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No túnel O estudo é esperança

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plexo de desistir’”, afirmam Scioli e seu parceiro, o também professor de psicologia Henry Biller, no livro Hope in the Age of Anxiety (Oxford University Press). “No nível fisio-lógico, a esperança pode ajudar a transmitir um equilíbrio da atividade simpática e parassimpática enquanto assegu-ra níveis apropriados de neurotransmissores, hormônios, linfócitos e outras substâncias críticas relacionadas à saú-de. Igualmente importante, uma atitude esperançosa pode permitir a uma pessoa manter seu ‘ambiente interno’ sau-dável na presença de uma enorme adversidade.”

Para Scioli, quem não abriga esperança precisa aprender urgentemente a cultivá-la – e não apenas em momentos difíceis, mas em todos os instantes. “Viver com esperança é a base para conquistar o verdadeiro sucesso, construir re-

lacionamentos amorosos e obter uma genuína sensação de paz”, resume o psicólogo.

14 facetas da esperançaConheça a seguir os 14 aspectos da esperança identifica-dos por Anthony Scioli.

Maestria com apoio – A crença de que a pessoa vai atin-gir seus objetivos e se sente apoiada em seus esforços. Ela compreende que o aumento de seu “poder pessoal” se ba-seia em uma duradoura abordagem colaborativa para as tarefas da vida e reconhece que o controle está tanto den-tro como fora de si.

Fins últimos – Comprometer-se com um conjunto de nor-mas éticas, uma missão, um chamado da vida. Esse tipo de esperança orienta e dirige a vida do indivíduo.Confiança básica – Esse aspecto se desenvolve normal-mente em pessoas bem cuidadas no início da vida, o que é “generalizado” (positiva ou negativamente) para o mundo. Isso é fundamental e influencia a resposta em qualquer situação. Os demais indivíduos podem sempre adquiri-lo por meio de experiências emocionais corretivas com pes-soas confiáveis.

Abertura – Quanto mais confiante e esperançosa a pessoa for, mais aberta será para os outros, a natureza, as organi-zações e diferentes partes de si própria.Gerenciamento do terror pessoal – Dotada de resiliência e astúcia, a pessoa raramente se sente presa porque tem re-cursos internos e muita criatividade para sair de situações difíceis.

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Produzir o vento que leva o barco à frente

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Gerenciamento do terror social – A pessoa confia na boa vontade dos outros, algo ligado a sentir segurança no início da vida. Ela tende mais a confiar que sobreviverá aos desa-fios do que a pensar que será abandonada.

Futuro positivo – O futuro da pessoa está repleto de possi-bilidades e dons, e ela desempenha um papel ativo na de-terminação de seu futuro.

Fortalecimento espiritual – O indivíduo encara suas ações como parte de um propósito mais amplo e não se sente sozinho em seu esforço ou sofrimento.

Abertura espiritual – A pessoa está aberta a um estímulo espiritual vindo de um poder ou força além de si. Exem-plos desse estímulo são mensagens, orientações, bênçãos ou sugestões do mundo espiritual.

Experiência mística – As experiências místicas geralmente originam confiança e fé na bondade do mundo. Podem en-volver uma visão de Deus, uma ligação profunda com um ser amado ou um sentimento de unidade.Universo agradável – O indivíduo acredita que há bondade no mundo e forças de luz que podem repelir qualquer for-ma de escuridão.

Gerenciamento do terror espiritual – Crenças e valores transcendentes que integram o sistema pessoal de fé impe-dem o indivíduo de enfrentar a dúvida e o medo em termos existenciais, inclusive em épocas difíceis da vida.Imortalidade simbólica – Crenças de que a vida continua, de alguma forma, além da morte – exemplificadas pela re-

encarnação, pela passagem para outros planos ou pela fu-são com uma essência maior – ampliam a visão da pessoa em termos existenciais.

Integridade simbólica – O modo de vida da pessoa serve como um “roteiro de esperança” ou mapa espiritual para outros. Essas esperança e maneira de ser arduamente con-quistadas emergem em geral apenas no fim da vida.

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Vida nova brota do tronco seco

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HOMO NALEDI Uma nova espécie humana descoberta na África do Sul

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Cabeça e parte do corpo reconstruídos do Homo naledi, provavelmente o mais antigo ancestral do homem descoberto até agora

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a gruta sul-africana deno-minada Rising Star que se encontra a cerca 50 quilô-metros de Johannesbur-

go, foram trazidos à luz cerca de 1500 objetos fósseis que pertencem, muito provavelmente, a pelo menos 15 indivíduos de uma nova espécie

de hominídeo, chamada Homo naledi. É pro-vável que outros objetos sejam encontradas com o prosseguimento das escavações. Mas afinal, o que encerra de tão excepcional essa descoberta? Os pesquisadores destacam dois elementos. O primeiro diz respeito às características dessa nova espécie, o segundo o grande número de peças fósseis que permi-tirão conhecer mais coisas sobre o Homo na-ledi do que quase todas as outras espécies de hominídeos encontradas até agora. O Homo naledi tinha um cérebro menor do que as outras espécies de Homo já encontra-das, a tal ponto de ser mais semelhante ao cérebro de um gorila do que o de um humano, Também a bacia e as costas eram pequenos. Mas os dentes, relativamente menores, as pernas mais compridas e a estrutura dos pés o aproxima muito ao homem moderno.

“Nunca esperei ver algo parecido e toda a mi-nha vida”, afirma Lee Berger, autor da pesqui-sa que acaba de ser publicada em Elife. Até o momento, ainda não foi definido com precisão o período em que viveu essa espécie de Homo, mas é bem provável que esses indi-víduos fossem os primeiros do gênero Homo, e portanto deveriam ter uma idade de cerca 3 milhões de anos. “A descoberta é de grande interesse porque ela reforça a nossa convicção

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Com características ainda simiescas e outras muito semelhantes ao Homo sapiens, uma nova espécie de hominídeo foi encontrada em uma caverna da África do Sul. Ela pode ter 3 milhões de anos. A descoberta é muito importante, excepcional e provocará longas discussões

POR: EQUIPE OÁSIS

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de que a natureza experimentou diversos caminhos evo-lutivos,, um dos quais conduziu ao Homo sapiens”, disse Berger.

O segundo elemento de importância dessa descoberta é a grande quantidade de fósseis encontrados. Esse fato possi-bilitará aos paleontólogos estudar a evolução dos indivídu-os separadamente, desde crianças até anciões, bem como compreender as diferenças entre machos e fêmeas e prova-velmente muitos dos seus hábitos alimentares.

Existe, enfim, um terceiro elemento que surpreendeu os pesquisadores. Aqueles corpos parecem ter sido levados de propósito ao fundo da gruta onde foram descobertos, como

se a intenção fosse a de dar a eles uma sepultura. “Isto se-ria realmente surpreendente – frisa o pesquisador- porque significaria que aqueles seres eram capazes de comporta-mentos rituais e de pensamento simbólico, um elemento que, acreditava-se, estavam associados apenas ao Homo sapiens e ao Homo de Neanderthal”. É bom frisar que essa investigação precisou do auxílio de espeleólogos de grande experiência, já que o antro da caverna era tão estreito que exigia acuradas técnicas de exploração e também corpos muito pequenos. Foram, com efeito, mulheres espeleólogas que trabalharam na primeira fase da pesquisa. “A primeira vez que penetrei na câmera onde estavam os ossos fossilizados experimentei uma sensação similar àquela que deve ter experimentado Howard Carter quando abriu a tumba do faraó Tutanka-mon”, declarou Marina Elliott, uma das espeleólogas.

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Algumas das 1500 peças fósseis descobertas. Elas possibilitarão a compreensão de comportamentos e hábitos do Homo naledi

A árvore genealógica do homem (Ilustração do Smithsonian National Museum of Natural History)

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Galeria: 1 A reconstrução de como deveria parecer o Homo naledi realizada pelo paleoartista John Gurch. Na gruta sul-afri-cana chamada Rising Sun, que se encontra a cerca de 50 quilômetros de Johannesburg, foram encontrados cerca de 1500 restos fósseis que pertencem, provavelmente, a pelo menos 15 indivíduos de uma nova espécie de Homo, chama-da Homo naledi. Provavelmente outras peças fósseis serão encontradas no local com o prosseguimento das investiga-ções.

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2 As mãos do Homo naledi.

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3 O confronto entre a mão de um Homo naledi e a de um Homo sapiens.

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4 As arcadas dentárias e a forma do pulso e da mão são semelhantes às de espécies modernas, bem como os pés e os dedos inferiores.

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5 A reconstrução do crânio do Homo naledi. Homo naledi tinha um cérebro muito menor em relação a outras espécies de Homo. Esse órgão se assemelhava mais ao cérebro de um gorila do que ao de um ser humano, bem como a bacia e as costas e ombros, que eram pequenos.

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6 Alguns dos 1550 fósseis trazidos à luz. Eles nos possibilitarão compreender os comportamentos e muitos dos hábitos do Homo naledi. No momento ainda não se deficiu com precisão o período em que viveu essa espécie de Homo, mas é bem provável que esses indivíduos fossem os primeiros do gênero Homo e, portanto, tivessem uma idade de cerca 3 milhões de anos.

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7 Confronto entre o crânio de um naledi (esquerda) e o de um homem moderno. A caixa craniana do primeiro é mais alongada, mas as arcadas dentárias são muito parecidas.

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8 Restos fósseis de Homo naledi.

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9 O confronto entre um pé de naledi e de sapiens. Os dentes, relativamente pequenos, as pernas longas a estrutura dos pés o aproximam bastante do homem moderno.

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10 A grande quantidade de fósseis encontrados permitirá aos paleontólogos estudar a evolução de cada indivíduo isola-damente, bem como compreender quais eram as diferenças entre machos e fêmeas e muitos dos seus hábitos alimenta-res.

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11 Os corpos parecem ter sido levados de propósito para o fundo da gruta onde foram descobertos, como se a intenção fosse dar a eles uma sepultura.

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12 O grupo de espeleólogas que exploraram a gruta sul-africana. A pesquisa requereu a participação de especialistas de grande experiência e de corpo pequeno, pois o recinto da caverna era muito estreito. Por isso, apenas mulheres partici-param da primeira fase da pesquisa.

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13 Lee Berger, que chefiou a equipe de descobridores, mostra em entrevista coletiva uma réplica do crânio de Homo naledi.

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Homo naledi: questões que permanecem em aberto

A descoberta dessa nova espécie do gênero Homo coloca aos especialistas muito mais perguntas do que as respos-tas até agora obtidas. Ter encontrado uma nova espécie e Homo não é, em si mesmo, uma descoberta que cria problemas para os pale-ontólogos. Pelo contrário, geralmente enriquece o acervo de dados que ainda estão em aberto na longa evolução que, a partir dos primeiros mamíferos, levou ao Homo sapiens. Mas o Homo naledi é realmente um ser excepcional. Os os-

sos fósseis encontrados pertencem a 15 indivíduos de uma espécie primitiva de homens. Os adultos machos deviam medir cerca de 1,5 metro de altura e pesar cerca de 45 qui-los. Não existem diferenças evidentes e importantes entre os mais de 1500 restos e isso leva a crer que eles pertence-ram a indivíduos da mesma espécie. Os restos são de indivíduos de sexo e idades diversas. Isso é um aspecto muito importante da descoberta: é a primei-ra vez que tantos indivíduos da mesma espécie são en-contrados juntos. Além disso, a presença de praticamente todos os ossos de cada corpo encontrado permite recons-truir a sua morfologia de modo acurado.

Trata-se com efeito de uma espécie muito particular porque possui características modernas, similares às do Homo sapiens, bem como outras características muito an

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Os Australopitecos também caminhavam sobre duas pernas. Lucy (na reconstrução que aparece na foto) é o exemplo mais famoso desse gênero de humanoides.

A reconstrução com impressora 3D do crânio do Homo naledi

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tigas. Entre as primeiras estão os dentes, que são pequenos e similares aos nossos. Os pés, por seu lado, são os de um ser que devia caminhar ereto sobre duas pernas, como nós o fazemos, mas que ao mesmo tempo, por causa da forma dos dedos das mãos, podia ser capaz de viver também so-bre as árvores, lançando-se de um galho a outro. Entre as segundas – as características mais antigas – está o cére-bro do naledi: seu tamanho é de 1/3 do cérebro humano, o equivalente a 500 mililitros (quanto uma laranja grande).

Mas essas características deixam em dúvida alguns pesqui-sadores que ainda hesitam em classificar esses indivíduos dentro do gênero Homo. Entre esses está Jerry Coyne, biólogo da Chicago University, para quem o naledi pode-ria entrar dentro do gênero Australopiteco, já que algumas dessas últimas espécies também caminhavam sobre as duas pernas.

A grande pergunta, no entanto, é por que as características “humanas” dos naledi não foram encontradas nas espé-cies sucessivas, mas reapareceram apenas dois milhões de anos depois? As respostas podem ser muitas, mas pode ser que na re-alidade ainda não encontramos aquelas espécies que as mantiveram, e que até o momento tenham sido descober-tas apenas espécies que seguiram uma outra linha evoluti-va. Ou então que as características humanas se perderam porque não eram as mais adequadas para a sobrevivência naquele período geológico. Quando surgiu o Homo naledi?

A idade do Homo naledi é um dos principais nós a serem desatados. No momento acredita-se que essa idade possa ser de 3 milhões de anos, porque essa é a idade da gruta onde os restos foram encontrados. Mas poderia ser mais jovem. Dois milhões de anos? 500 mil anos? Mas, se for assim, a descoberta seria menos surpreendente. De qual-quer modo, essa questão terá uma resposta mais precisa dentro em breve, embora a tarefa não seja fácil, já que, no local da descoberta, faltam vários dos instrumentos habitualmente usados para essas datações, tais como os estratos geológicos ou restos animais e vegetais da mesma época.

Então, o Homo naledi é realmente um nosso ancestral? No estado atual da pesquisa não é possível dizer isso com cer-teza. É demasiado cedo para se afirmar que o naledi está diretamente na linha evolutiva do Homo sapiens. Assim sendo, como evoluiu o gênero humano? Há muitos anos

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Crânio e mão fósseis do Homo naledi

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sabemos que a evolução do homem não seguiu uma linha contínua, como ensinavam os textos escolares dos anos 1950 e 1960, mas aconteceu como os ramos de uma árvo-re: enquanto alguns galhos caíam ou paravam de crescer, outros surgiam e se desenvolviam. Até que surgiu o domí-nio da nossa espécie, o Homo sapiens. Como os restos de tantos indivíduos (15 é um número ele-vado para uma tribo ou grupo familiar daquele período) foram parar todos dentro de uma mesma gruta? Os pes-quisadores no momento descartam a possibilidade de que tenham sido transportados ali por animais predadores. Mais provavelmente, foram para lá levados voluntaria-mente por companheiros do grupo no momento da sua morte. A não ser que outras causas os tenham obrigado a se re-fugiar na gruta na qual encontraram a morte (uma guerra entre clãs, um evento calamitoso, ou algo do gênero), ou que tenham sido simplesmente atirados ao interior da gruta por causa do mau cheiro que exalavam quando mor-tos, o fato de terem sido levados para dentro dela pelos companheiros significaria que os “pensamentos” daqueles seres teriam progredido enormemente em relação aos dos seus contemporâneos e os dos seus sucessores. Depositar um convivente em um cemitério, significa pelo menos ter respeito pelo cadáver, um “valor humano” que surgiu de forma definitiva apenas alguns milhões de anos depois.

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Cientista no interior da caverna onde foram descobertos os fósseis do Homo naledi

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GASPAR, CORAÇÃO DO VALEPorta de entrada do Vale do Itajaí

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Gaspar Natal Concerto

OÁSIS . VIAGEM OÁSIS

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ntre planícies próximas ao Rio Itajaí-Açu e imponentes ser-ras, “vive” a bucólica Gaspar, cidade com ares de interior

que preserva as tradições de seu passado e é considerada uma das mais bonitas do Vale Eu-ropeu. Fato que lhe conferiu o título de “Coração do Vale”.

Porta de entrada do Vale do Itajaí, Gaspar co-meçou a ser colonizada no século 17, com a chegada de paulistas vicentistas à procura de ouro e madeira. Antes deles, os índios botocu-dos, mais tarde dizimados, já viviam na região. Nos séculos 18 e 19, a vinda de europeus, so-bretudo de açorianos (no começo dos anos 1700), alemães (1835) e italianos (1875), im-pulsionou o desenvolvimento socioeconômico da cidade, imprimindo-lhe as cores, os sabores e as influências de seus costumes e tradições.Gaspar, ainda hoje, é a soma das culturas des-sas três etnias. Nem é preciso fazer muito es-forço para constatar isso. Basta caminhar por suas ruas para testemunhar a arquitetura de suas construções coloniais e os multicoloridos canteiros de flores que se multiplicam em suas esquinas.

Ou ainda, sentir o aroma exalado por suas con-feitarias e cafeterias, onde imperam os bolos, as tortas e os pães dos cafés coloniais, uma das mais genuínas tradições europeias.

Espaços únicos – Além de seus costumes, esses imigrantes “desenharam” espaços específicos para se instalar: os açorianos no centro e no Barracão, os italianos na Vila D’Itália (em Gas-parinho) e os alemães na Rota das Águas.Localizada em Belchior, esta última é integra-da por oito parques aquáticos, com piscinas e

ESituada no Estado de Santa Catarina, Gaspar concentra atrativos turísticos imperdíveis, excelente gastronomia e tesouros herdados dos imigrantes que a colonizaram

POR: FABÍOLA MUSARRA

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tobogãs para todos os gostos. Concentra ainda vários pes-que-pagues, onde a diversidade de peixes faz a festa dos amantes de pescaria.

Propriedades rurais também estão espalhadas ao longo de seu trajeto. Nelas, é possível comprar produtos e guloseimas caseiros da melhor qualidade.

Gaspar, porém, é muito mais do que seus atrativos naturais e suas tentações gastronômicas. Também abriga atrações históricas. A Igreja Matriz São Pedro Apóstolo é só uma de-las. O cenário que compartilha com a natureza já é por si só, cinematográfico – situa-se em meio à estonteante paisagem que emoldura o Rio Itajaí-Açu, que banha a região.Cartão-postal da cidade, a igreja em estilo gótico possui 115

degraus, belíssimos vitrais e uma máquina que impulsiona os seus oito relógios. Em seu exterior, uma gruta expõe as passagens percorridas por Cristo na via-crúcis. Charme a mais – A Vila D’Itália é outro ponto alto de Gas-par. Localizada na parte mais elevada do município, a re-gião foi colonizada por italianos, cujos descendentes ainda por ali vivem em graciosas casas coloridas. A extensa área verde permeada por idílicas cachoeiras é o charme a mais da animada vila.

O “bairro italiano” é ainda o lar de uma cachaçaria artesa-nal, o Alambique do Nono. Além do irretocável cenário na-tural em que está inserida, a casa possui uma roda de água. Construída pelos netos do proprietário, é usada para moer a cana, o ingrediente básico das cachaças que produz.

Grande Concerto de Natal, em Gaspar

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Parque Aquático Cascanéia, em Gaspar

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Palco da história e marco do desenvolvimento econômico, a antiga Estação Ferroviária é outro dos atrativos locais. Foi inaugurada em 1954 e, desde 2005, faz parte do clube dos funcionários da Linhas Corrente.

Desativada em 1970, a estação teve os trilhos arrancados e atualmente pouco preserva do esplendor do passado, quan-do era cortada pelos trilhos da Estrada de Ferro de Santa Catarina, por onde passavam trens de elegantes passageiros e de pesadas cargas. Apesar do atual estado em que se en-contra, merece ser conhecida.

Cativante e hospitaleira, Gaspar conta com uma simples, mas aconchegante infraestrutura hoteleira. Abriga ainda

diversos restaurantes, barzinhos e uma animada cervejaria artesanal, a Das Bier, em Belchior.

Circundada por paisagens naturais de hipnotizante beleza, a cervejaria é o endereço certo para saborear os diferentes tipos de chope, produzidos conforme manda o figurino das originais receitas alemãs. Prost!

Vídeo: Clube do Parapente, em Gaspar

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Balonismo em Gaspar. Foto Sandro Marcos da Silva

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Das Bier, chope artesanal produzido em Gaspar

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Para os fãs da magrelinhaGosta de pedalar? Então, essa é para você: a SPTur acaba de colocar no ar o site “SP de Bike”. Criada para incentivar o uso de bici-cletas na cidade, a página traz roteiros das ciclovias e ciclofaixas paulistanas, incluindo informações sobre as atrações turísticas, cul-turais e históricas existentes nos percursos.O mapa contendo detalhes sobre as ciclovias e as distâncias a serem percorridas nos tra-jetos também podem ser conferidos no site, que reúne ainda dicas de segurança, endere-ços para a locação de bicicletas e de associa-ções de bikers e notícias sobre o mundo das magrelinhas. Anote: www.cidadedesaopau-lo.com/spdebike/index-desktop

Ciclistas paulistanos pedalam diante da Estação da Luz

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Espaço Kids Desde o dia 10, o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim do Rio de Janeiro (Galeão) conta com um espaço de diversão destinado a crianças de dois a sete anos.O Espaço Kids, como foi batizado, é gratuito e está instalado em uma área do embarque domésticos no Terminal 1.Com 55 metros quadrados, o “cantinho” criado para os pim-polhos abriga playground com brinquedos e livros para lei-tura e para colorir, além de tevê, com a exibição de filmes e desenhos. Funciona diariamente, das 6 h a 0 h.

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O Espaço Kids, nova área infantil do Aeroporto do Galeão, no Rio

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Reabertura da Chapada Depois de ter sido fechado devido a devastadoras queima-das, o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, distante cerca de 70 km de Cuiabá (MT), volta a ser parcialmente reaberto à visitação – o Morro de São Jerônimo e a Trilha do Carretão ainda continuam fechados. Segundo a direção do ICMBio, órgão responsável pela administração, o parque poderá ser novamente fechado, caso ocorram novos incên-dios.

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Paisagens incríveis na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso

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Recife mal-assombradoQue tal conhecer a noite da capital do Estado de Pernambu-co de um jeito diferente? Pois, saiba que a agência Via Dou-rada Turismo e Eventos oferece o “Recife Mal-Assombra-do”, um roteiro idealizado especialmente para quem gosta de sustos e histórias de terror.

Inspirado nos livros “Assombrações do Recife Velho”, de Gilberto Freyre, e “Emparedada da Rua Nova”, de Carneiro Vilela, o tour de ônibus percorre quatro bairros da cidade e tem duração aproximada de quatro horas. Durante o trajeto, atores “contam causos” e lendas locais. Informações: www.vdturismo.com.br#recife-assombrado/c1tbz

Uma das várias paradas, com preleção do guia, no itinerário 'Recife Mal-assombrado'

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Hotel Geneve, atração mexicanaSe você está planejando viajar para a Ci-dade do México, procure se hospedar ou, pelo menos, fazer uma refeição no res-taurante do Hotel Geneve, da rede Ostar.O motivo? Além da elegante arquitetura, este hotel que começou a ser erguido na última década do século 19 e abriu suas portas em 1907 guarda muita história.Primeiro hotel-museu da capital mexica-na, o empreendimento acompanhou de perto importantes fatos que marcaram a trajetória do país e do mundo.

Por ele passaram, por exemplo, os escri-tores Gabriel Garcia Lorca e Júlio Cor-tázar, os atores Marlon Brandon e Paul Newman e o casal Frida Kahlo e Diego Rivera, além de diversos políticos, entre eles o falecido pri-meiro-ministro britânico, Winston Churchill, e o ex-presi-dente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso.

Muitas dessas celebridades deixaram fotos e objetos pesso-ais ao hotel, num gesto de gratidão à hospitalidade. Essas preciosas “doações” estão expostas nas paredes do lobby do Geneve, que guarda ainda o livro de registro de todos os funcionários que nele trabalharam e comprovantes de des-pesas de seus hóspedes.

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Fachada do Hotel Geneve, na Cidade do México

Caso da conta no valor de 30,25 pesos mexicanos paga por Porfírio Dias, o presidente que comandou o país por 50 anos. No dia 20 de novembro de 1910, data em que a revo-lução mexicana foi deflagrada, o chefe de Estado e a família almoçaram no restaurante do hotel.

Situado na Zona Rosa e a poucos metros do centro histórico da cidade, o Geneve abriga outras joias, como as coleções de sapatos e de bonecas. A primeira retrata passo a passo como eram e como mudaram o design dos modelos mas

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culinos no decorrer dos séculos 19 e 20. Já a segunda expõe bonecas com vestidos brocados de seda, trajes usados pelas mexicanas nestes mesmos períodos e que revelam a forte influência francesa na moda da época.

Por falar em mulheres, o empreendimento foi o primeiro a hospedá-las em tempos em que isso era mal visto pela socie-dade e que os demais hotéis somente as aceitavam se esti-vessem acompanhadas por homens.

Também foi o primeiro a servir um sanduíche no México em 1910, assim como o primeiro a ter elevador, a oferecer serviço de táxi na porta e a dispor de telefone e banheiro nos quartos.

Misto de história e vanguarda, o hotel-museu merece mesmo a visita. Não deixe de ir. Infor-mações: www.hotelgeneve.com.mx

Ângulo do lobby do Hotel Geneve, Cidade do México

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Novidades do SeaWorld Orlando O concorrido parque temático norte-americano está sediando um novo restaurante, o Mama’s Pretzel Kitchen. Recém-inaugurada, a casa ofe-rece diferentes combinações de pretzels doces e salgados, como o Mama’s Meatball Pretzel Twist, com almôndegas servidas na massa de pretzel e cobertas com queijo, e o Bacon Pretzel Twist, com tiras de bacon defumado embaladas pela massa de pretzel. O cardápio inclui ainda uma variedade de molhos especiais, entre eles o de queijo com cerveja e mostarda picante e o de cream cheese doce. Confira no site em portu-guês www.seaworldparks.com.br

Fachada do restaurante Mama's Pretzel Kitchen, no Seaworld

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Arremesso de pedras na EscóciaNo dia 27 de setembro, Argyll, na Escócia, transforma-se em palco do Mundial de Arremesso de Pedras no Rio, um pito-resco campeonato em que os competidores têm direito de jogar três pedras. Para ser qualificado como um arremesso, a pedra deve saltar pelo menos três vezes. Depois, o resulta-do depende da distância alcançada antes de afundar. Deta-lhes em www.stoneskimming.com

Em Argyll, na Escócia, competidor arremessa a sua pedra

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Arte em FlorençaParece redundante? Mas não é. De 17 a 25 de outubro, a lin-da “Cidade do Renascimento” italiana sedia a Décima Bie-nal de Arte Contemporânea, reunindo pinturas, esculturas, obras em papel, instalações, vídeos, digital art, mixed media de centenas de artistas de mais diferentes. Para obter ais de-talhes sobre a programação, acesse www.florencebiennale.org

(*) Correspondência para esta seção: https://fabiolamusarra.wordpress.com/

Mesa de abertura da Décima Bienal de Arte Contemporânea de Florença, Itália

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TEN

DÊN

CIA

NOSSA IDEIA DE TRABALHO ESTÁ FALIDATrabalhadores não são engrenagens de uma máquina

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arry Schwartz é na atualida-de um dos mais importantes estudiosos das relações en-tre economia e psicologia. Em seus textos escritos e palestras ele oferece uma visão renovada do trabalho e

do trabalhador na vida moderna.

B

A maneira como pensamos o trabalho está exaurida e superada. O que torna o trabalho satisfatório? Além do pagamento, existem valores intangíveis que nosso modo de pensar sobre o trabalho simplesmente ignora. O psicólogo Barry Schwartz sugere que chegou a hora e mudar isso

VÍDEO: TED – IDEAS WORTH SPREADINGTRADUÇÃO: GABRIELA MOREIRAREVISÃO: MARICENE CRUS

Barry Schwartz

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Vídeo da palestra de Barry Schwartz no TED

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Tradução integral da palestra de Barry Schwartz no TED

Hoje vou falar sobre trabalho. E a pergunta que quero fazer e res-ponder é esta: “Por que trabalhamos?” Por que nos arrastamos da cama todos os dias de manhã ao invés de vivermos nossas vidas apenas pulando de uma aventura TED a outra?

Vocês podem estar se perguntando essa mesma questão. Sei que, certamente, temos que ganhar a vida, mas ninguém nesse auditório acha que essa é a resposta para a pergunta: “Por que trabalhamos?” Para as pessoas nessa sala o trabalho que fazemos é desafiador, atraente, estimulante, significativo. E se temos sorte, ele pode até ser importante.

Não trabalharíamos se não nos pagassem, mas não é por isso que

fazemos o que fazemos. E, no geral, acho que cremos que re-compensas materiais são razões ruins para fazermos o traba-lho que fazemos. Quando dizemos que alguém está “fazendo por dinheiro”, não estamos apenas sendo descritivos.

Acho que isso é bem óbvio, mas a obviedade disso levanta o que, para mim, é uma questão incrivelmente profunda. Por que, se é tão óbvio, por que é que para a esmagadora maioria das pessoas no planeta, o trabalho que fazem não tem ne-nhuma das características que nos faz levantar, sair da cama e ir para o escritório de manhã? Como é que permitimos que a maioria das pessoas no planeta faça trabalhos monótonos, sem sentido e sufocantes? Por que é que ao longo do desen-volvimento do capitalismo ele criou um modo de produção de bens e serviços, nos quais as satisfações não materiais que vêm do trabalho foram eliminadas? Trabalhadores que fazem esse tipo de trabalho, seja em fábricas, em centrais de atendimento, ou em armazéns, o fazem pelo pagamento. Com certeza, não há outra razão para que façam o que fazem, exceto pelo pagamento.

Então a pergunta é: “Por quê?” E aqui está a resposta: a res-posta é tecnologia. Agora, eu sei... sim, tecnologia, automa-ção, estraga as pessoas, blá blá... Não é o que quero dizer. Não estou falando do tipo de tecnologia que envolveu nossas vidas, e pessoas vêm ao TED escutar a respeito. Não estou falando sobre a tecnologia das coisas, embora isso seja pro-fundo. Estou falando de outra tecnologia. Estou falando da tecnologia das ideias. Chamo de “tecnologia da ideia”. Que engenhoso!

Além de criar coisas, a ciência cria ideias. A ciência cria meios de entendimento. E nas ciências sociais, os meios de entendi

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Em Nova York, 1932, operários descansam sentados em barra de ferro

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Tradução integral da palestra de Barry Schwartz no TED

mento que são criados, são meios de nos entendermos. E eles têm uma influência enorme em como pensamos, o que almejamos ser, e como agimos.

Se você acha que sua pobreza é a vontade de Deus, você reza. Se você acha que sua pobreza é resultado da sua inadequação, você se desespera. E se você pensa que sua pobreza é o resultado de opres-são e dominação, então você se ergue em revolta. Se sua resposta à pobreza é resignação ou revolução, depende de como você enten-de as origens da sua pobreza. Esse é o papel que as ideias têm em nos moldar como seres humanos, e é por isso que a “tecnologia da ideia” pode ser a tecnologia mais importante que a ciência nos dá.Existe algo de especial sobre a “tecnologia da ideia”, que a faz dife-rente da tecnologia das coisas. Com as coisas, se a tecnologia é um saco, ela simplesmente some, certo? Tecnologia ruim desaparece. Com ideias, falsas ideias sobre seres humanos não vão embora, se as pessoas acreditarem que elas são verdade. Porque se as pessoas acreditam que são verdade, elas criam maneiras de viver e institui-ções que são consistentes com essas ideias falsas.

Foi assim que a Revolução Industrial criou um sistema de fábricas no qual não havia nada que você pudesse obter do seu dia de tra-balho, exceto o pagamento no final do dia. Porque um dos pais da Revolução Industrial, Adam Smith, estava convencido de que os seres humanos eram preguiçosos por natureza e não fariam nada, a não ser que valesse a pena. E a maneira que se fazia com que va-lesse a pena era incentivando, dando recompensas. Essa era a única razão que alguém faria alguma coisa. Então, criamos um sistema de fábricas consistente com uma falsa visão da natureza humana. Mas assim que aquele sistema de produção foi instaurado, não havia realmente outro jeito das pessoas funcionarem, exceto da maneira que era consistente com a visão do Adam Smith. O trabalho é só

um exemplo de como falsas ideias podem criar uma circuns-tância que acaba tornando-as verdadeiras.

Não é verdade que “não se consegue mais boa ajuda”. É ver-dade que “não se consegue mais boa ajuda” quando se dá para as pessoas trabalhos que são humilhantes e desalmados. E mais interessante, Adam Smith, o mesmo cara que nos deu essa incrível invenção da produção em massa e divisão de trabalho, entendeu isso. Ele disse, sobre homens que traba-lhavam nas linhas de montagem: “Ele geralmente se torna tão estúpido quanto um ser humano pode se tornar”. Agora, observem a palavra “tornar-se”. “Ele geralmente se torna tão estúpido quanto um ser humano pode se tornar”. Tenha ele planejado ou não, o que Adam Smith estava nos dizendo é

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Nova geração de operários chineses

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Tradução integral da palestra de Barry Schwartz no TED

que, a estrutura da instituição na qual as pessoas trabalham, cria pessoas que são aptas às demandas daquela instituição, e priva as pessoas da oportunidade de sentir satisfação pelo seu trabalho, algo que nós consideramos normal.

O que acontece com as ciências naturais, é que podemos arquitetar fantásticas teorias sobre o cosmos e ter total confiança de que o cos-mos é completamente indiferente às nossas teorias. Vai funcionar do mesmo jeito, não importa quais teorias temos sobre o cosmos. Mas temos que nos preocupar com as teorias sobre a natureza hu-mana, porque a natureza humana será alterada pelas teorias que temos que são elaboradas para explicar e nos ajudar a entender os seres humanos.

O ilustre antropologista Clifford Geertz disse, anos atrás, que seres humanos são “animais inacabados”. E o que ele quis dizer foi que é da natureza humana ter uma natureza huma-na, a qual é praticamente o produto da sociedade em que as pessoas vivem. Essa natureza humana, ou seja, nossa natu-reza humana, é muito mais criada do que é descoberta. Nós moldamos a natureza humana moldando as instituições nas quais pessoas vivem e trabalham.

Então vocês, certamente o mais perto que chegarei de estar com mestres do universo, vocês deveriam estar se pergun-tando uma coisa, quando forem embora para casa, para ad-ministrarem suas empresas. Que tipo de natureza humana vocês querem ajudar a moldar?Obrigado.

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Operárias de linha de montagem