Esquema Da Crueldade

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Esquema sobre o capítulo Da Crueldade do livro Ensaios de Montaigne.

Citation preview

Da Crueldade

* Dataltimos anos que precederam a publicao de 1580. Mas se trata de uma hiptese muito incerta. Tudo o que podemos dizer com certeza que o grande nmero de reminiscncias das Obras Morais de Plutarco dificilmente permite situ-lo entre os ensaios mais antigos.

* Tipo de discurso Domnio de sua prpria maneira. Uma conversa que se desenrola facilmente por digresses e onde as lembranas do autor, suas experincias pessoais, seus julgamentos e impresses ocupam grande espao. O tema da crueldade era tradicional entre os compiladores em voga. Deve-se comparar o ensaio de Montaigne com essas compilaes: em vez das acumulaes de exemplos, temos reflexes judiciosas e observaes psicolgicas.

* Concepo de virtudeI) estoica (1580)II) hbitoIII) bondade natural (1588)Das trs concepes de virtude, Montaigne j no se deixa ofuscar pela primeira. Suas preferncias vo para a segunda, que consiste num hbito. Ope Scrates a Cato. Mais tarde, em 1588, ele ainda privilegiar muito mais nitidamente Scrates e chegar a procurar a verdadeira virtude na terceira concepo aquela que por enquanto no lhe parece merecer o nome de virtude, porque apenas uma bondade natural e comodidade de costumes.

* Tema do ensaio: a crueldade.Horror de Montaigne pela crueldade, numa poca em que tal vcio era to comum devido s guerras civis. Essa sensibilidade o conduz aqui a uma crtica muito vigorosa prtica da tortura (importante a observao feita por Montaigne em Roma), a qual est na base de seus juzos mais pessoais e de ideias que o antecipou ao seu tempo, as quais so relativas tortura judicial e a dos processos por bruxaria. (cf. II, 5 e III, 11).

Introduo II, 5 (Da Conscincia):- Perodo de influncia das Obras Morais, de Plutarco. - 1539-1580: perodo de admisso e vulgarizao da tortura judicial na Frana.- Importncia da experincia de Montaigne quando era conselheiro no parlamento de Bordeaux, no que se refere constatao dos abusos da tortura. Introduo III, 11 (Dos coxos):- Este ensaio data de 1585, aproximadamente. - A convico ardorosa com que Montaigne nega a existncia de bruxas [...] permitem-nos medir todo o caminho percorrido desde o pirronismo de 1576.- Audcia e originalidade de Montaigne sobre o tema da bruxaria importncia do contexto do sculo XVI: sob a influncia das guerras civis e da misria pblica, uma terrvel recrudescncia de bruxaria marcou a segunda metade do sculo XVI. [...] Uma ampla literatura denuncia o mal e incita a magistratura a fazer justia.- Lembrar do caminho percorrido por Montaigne at o ensaio sobre a crueldade (influncia do pirronismo e seu impacto sobre a crtica a tortura em processos por bruxaria)Popkin, p. 90Muitos aspectos de Montaigne se encontram em seu mais longo e filosfico ensaio, a Apologie de Raymond Sebon, o extraordinrio resultado de sua crise pyrrhonienne pessoal. Embora, como indicou Frame, o pirronismo de Montaigne seja anterior a esse ensaio e permanea mesmo depois, ele serve como foco lgico de nossa ateno. Villey, em seu estudo sobre as fontes e o desenvolvimento dos Essais de Montaigne, mostrou que uma grande parte da Apologie foi escrita entre 1575 e 1576, quando Montaigne, atravs do estudo dos escritos de Sexto Emprico, estava passando pelo trauma extremo de ver todo seu mundo intelectual se dissolver na dvida completa.

* Ceticismo no sculo XVI (cf. Popkin)p. 17O ceticismo tem um papel especial e diferente no perodo que vai da Reforma at a formulao da filosofia cartesiana; um papel especial e diferente devido ao fato de que a crise intelectual provocada pela Reforma coincidiu historicamente com a redescoberta e a retomada do interesse pelos argumentos dos antigos cticos gregos. No sculo XVI, com a descoberta de manuscritos dos escritos de Sexto Emprico, h uma retomada do interesse pelo ceticismo antigo, e pela aplicao desta viso problemtica da poca. apenas nas obras de Sexto que encontramos uma apresentao completa da posio dos cticos pirrnicos, com todas as suas armas dialticas empregadas contra diversas teorias filosficas. Nem a apresentao do ceticismo acadmico em Ccero e em Santo Agostinho, nem o sumrio de ambas as formas de ceticismo, acadmico e pirrnico, em Digenes de Larcio, eram suficientemente ricos para satisfazer aqueles que se preocuparam com a crise ctica do Renascimento e da Reforma. p. 89No foi s ele (Montaigne) o melhor escritor e pensador dentre os que se interessaram pelas ideias dos acadmicos e dos pirrnicos, mas foi tambm o que mais fortemente sentiu o impacto da teoria pirrnica da dvida total, bem como sua relevncia para os debates religiosos desta poca. Estava atento ao significado vital da redescoberta e explorao da glria da Grcia e da grandeza de Roma, bem como a descoberta e a explorao do Novo Mundo. Em ambos estes mundos recm-descobertos Montaigne percebeu a relatividade das realizaes intelectuais, culturais e sociais do homem, uma relatividade que viria a solapar totalmente o conceito de natureza humana e do lugar do homem no cosmo moral.

* Apologia de Raymond Sebondrazo X hbito (modo como cada cultura interpreta o que o bem, sendo este relativo e no por natureza) em que sentido possvel fazer juzos morais?

* Trs questes que permeiam o ensaio Da Crueldade: i) poder da natureza, ii) papel do costume, iii) papel da razo.Diviso do ensaio em dois grandes tpicos: i) discusso terica sobre a virtude (problematizao do que a virtude e apresentao da concepo do que seja a virtude), ii) discusso sobre a crueldade. No entanto, entre esses dois tpicos parece haver outro que diz respeito a uma parte subjetiva da reflexo, a qual consiste nas experincias pessoais de Montaigne.

* 1 e 2: trs tipos de virtudei) Bondade por inclinao (inocncia): no significa inrcia com relao aos vcios, pois h uma determinada forma de lidar com eles na prtica.ii) Virtude (como esforo) contra inclinaes contrriasiii) Virtude habitual convertida em uma segunda natureza.- Reflexo da moral na considerao da vida de modo mais amplo, tal como os antigos, em contrapartida a reflexo dos modernos.

1. A virtude rejeita a comodidade como companhia: agir bem X agir virtuosamente.p. 135-138, at o exemplo de Scrates Parece-me v-la avanar com passo vitorioso e triunfante...1.1 A VIRTUDE (pressupe dificuldades internas ou externas e oposio) algo distinto da inclinao natural para a BONDADE (conduo passiva pela esteira da razo).- Ocasies nas quais possvel colocar as disposies para a virtude prova.- Discusso dos estoicos e epicuristas sobre colocar a alma disposta virtude prova.- Exemplos de Epaminondas, Scrates e Metelo.1.2 Palavras de Metelo que representam o que se pretende provar em (1):- agir mal: fcil e covarde- agir bem quando no h risco: vulgar- agir bem quando h risco: virtude.

* agir por dever (estoicos)* agir pelo cumprimento do dever que gera prazer transparecendo uma situao trgica, o qual est ligado ao fato de agir moralmente (ex. de Cato). Esse tipo de agir pode ser considerado como agir segundo uma inclinao (pela glria, por exemplo), mas no o caso da interpretao de Montaigne. Esse agir pelo cumprimento do dever diz respeito a transformao de uma pessoa enquanto virtuosa pelo exerccio da virtude X vcios. * agir virtuosamente X agir por bondade // Kant (Fundamentao da metafsica dos costumes). agir por dever (independente das inclinaes, portanto princpios autnomos. Aes moralmente boas) X agir em conformidade com o dever (levado por uma inclinao imediata. No entendido como agir conforme a bondade, como em Montaigne)

2. Relao da virtude com o vcio. (Problematizao do 1 tipo de virtude e reviso desse tipo de virtude)p. 138 Se a virtude s pode resplandecer pelo combate aos apetites contrrios...-141 Vemos nas almas desses dois personagens...2.1 A assistncia do vcio no pode ser dispensada, j que a virtude lhe deve o fato de ser reconhecida e honrada. (questo do contraste entre vcio e virtude qualificada como esforo).2.2 Hbito de virtude (2 tipo de virtude)- Exemplos de Cato e Scrates: a virtude a essncia mesma de suas almas, e no algo penoso ou disposio da razo.

* 3 e 4: parte subjetiva

3. Diferena entre virtude e bondade (inocncia).p. 141 Ora, que no seja mais belo...-143 Eis porque, quando se julga...3.1 Impedir e deter o avano das tentaes forosamente (virtude/aptido para agir bem)Xi) impedir o nascimento das tentaesii) ser simplesmente dotado de uma natureza por si mesma bondosa e avessa aos vcios(inocncia/iseno de se agir mal).3.2 A condio de inocncia e iseno de se agir mal muito se aproxima da imperfeio e da fraqueza e, por isso, essa condio (bondade) denominada sob uma perspectiva de menosprezo. 3.3 Aes consideradas como virtuosas quando, ao contrrio, devem ser censuradas: preciso considerar vrias circunstncias e o agente antes de denominar uma ao como virtuosa.

4. Virtude por acidente e virtude pela razo.p. 143 Para dizer uma palavra sobre mim mesmo...-146 A inocncia que existe em mim uma inocncia nativa: pouco vigor e nenhuma arte.4.1 Exemplo pessoal de virtude por acidente (bondade), a qual devida ao destino e no razo. De qualquer forma (mesmo que essa virtude no seja devida a um esforo racional), essa condio virtuosa oposta aos vcios e encontra mais disciplina nos costumes do que na razo. 4.2 Parece que a virtude deve ser por hbito e no uma propriedade natural.4.3 Questo da conexo indissolvel entre as virtudes e paralelamente entre os vcios.Experincia pessoalPeripatticos X opinio dos estoicos (sutileza filosfica)Aristteles

* Isolamento dos vcios: diferena entre Montaigne e Scrates. Os vcios no nascem porque no so postos em prtica. razo em exerccio X supresso total dos vciosA propenso natural, o reconhecimento dos vcios e a conteno deles, do ponto de vista prtico, diz respeito a um exame da moral do ponto de vista da virtude do tipo 1 (bondade) e como determinados vcios so analisados. 4.4 Retomada de (4.1)- disciplina- reflexo } bondade- acaso (inocncia nativa).

5. Crtica do vcio da CRUELDADE.* Essa crtica a partir do paradigma da moral mais baixo de todos, que aquele da virtude do tipo 1 (bondade). A averso pessoal de Montaigne ao vcio da crueldade no pura e simples, pois envolve reflexo. p. 146 Entre outros vcios...-155 que amavam e adoravam acima de qualquer faculdade divina; e assim outros5.1 Juzo de Montaigne sobre o vcio da crueldade. 5.2 Digresso sobre o vcio da voluptuosidade e do exemplo da caa. (como a razo e as emoes se articulam em diferentes situaes). 5.3 Retomada de (5.1): crtica da crueldade.* A partir de 5.3.1: argumentao sobre os extremos da crueldade5.3.1 selvagens X execues da justia no perodo de Montaigne. // com Apologia: questo do relativismo dos costumes. - Variaes nos campos do comportamento moral, legal e religioso (cf. Popkin p. 100)Munido das evidncias sobre os selvagens da Amrica, dos exemplos da literatura antiga e dos costumes da Europa contempornea, Montaigne lana a mensagem do relativismo tico. 5.3.2 Juzo pessoal: Tudo o que vai alm da morte simples me parece crueldade.5.3.3 Esses excessos desumanos deveriam ser exercidos contra a casca e no contra o cerne vivo- os exemplos de rigor deveriam ser aplicados aos cadveres dos criminosos- exemplo da execuo de um ladro em Roma ( menos pior a tortura de um cadver do que de uma pessoa viva. A utilidade disso o exemplo)5.3.4 Exemplos de outros povos que agem de modo diverso quando o assunto a punio: persas e egpcios. Chamada de ateno para o momento histrico no qual vive Montaigne e modo como a crueldade exercida.* Diferena da aceitao da tortura pela razo e pelos costumes5.3.5 Experincia pessoal de desprazer frente crueldade para com os animais e relao dessa com a crueldade para com os outros homens, sendo esse vcio uma propenso natural. 5.3.6 Recurso ao preceito da teologia (de vrias religies, no caso das mais antigas, como a dos gauleses e a dos egpcios, por ex.) segundo o qual se deve ser benevolente para com os animais.5.3.7 Parentesco entre os homens e os animais.

- Comparao entre homens e animais (cf. Popkin, p. 93)O homem pensa que sem a ajuda da Luz Divina pode ser capaz de compreender o cosmo. Mas ele apenas uma criatura vaidosa e insignificante, cujo ego faz cm que creia que ele, e apenas ele, compreende o mundo e que o mundo foi criado e existe em seu benefcio. Entretanto, quando comparamos o homem com os animais, vemos que ele no tem nenhuma qualidade maravilhosa que falte a eles, e que sua assim chamada racionalidade apenas uma forma de comportamento animal. A longa e desmoralizante comparao entre os homens e os animais tinha a inteno de gerar uma atitude ctica em relao s pretenses intelectuais humanas. p. 94Montaigne diz que nossas supostas realizaes da razo nos ajudaram no a encontrar um mundo melhor que o dos animais, mas um pior. Nossos conhecimentos no nos impedem de sermos governados por nossas funes fsicas e paixes. Nossa assim chamada sabedoria um escrnio e uma presuno que no nos traz nada. At este ponto, o ataque ctico de Montaigne diferiu muito pouco do antiintelectualismo do Elogio loucura, de Erasmo. Este argumento desenvolvido agora em termos da um tanto desastrosa (para o leitor) comparao entre os homens e os animais. Mais adiante, a elaborao mais filosfica de seu ceticismo se desenvolver com um breve panegrico ignorncia e uma defesa do fidesmo completo. (cf. Apologia de Raymond Sebon).

6. Concluso. p. 155 Mas quando encontro...-156.Crtica superioridade dos homens aos animais e radicalizao do argumento: no apenas aos animais se deve bondade, mas tambm aos vegetais.

i) relatividade da razo ii) sentimentoiii) costume (pode transformar a virtude em hbito)* Naturalizao do homem (no sentido de crtica do homem como superior aos outros seres da natureza) ligada concepo ctica de Montaigne, sendo entendida como a finalidade da prpria filosofia.

8