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COMO kßiocmm ESTÁ A TRANSFORMAR A ECONOMIA

ESTÁ A ECONOMIA - ulisboa.pt · está a escrever um livro sobre o tema. São também estes computadores (nós) ... perceber que um hacker tem mais faci-lidade em forjar registos

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COMO

kßiocmmESTÁ A

TRANSFORMAR

A ECONOMIA

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TECNOLOGIABlockchain Ficou conhecida com as criptomoedas, mas tem potencial para transformar inúmerossectores. Em dez anos, estima-se que 10% do PIB mundial esteja armazenado na "cadeia de blocos"

Havidaalém da bitcoinTextos MARIA JOÃO BOURBON

Ilustração HELDER OLIVEIRA

magine um país onde 99%dos serviços públicos estão

disponíveis online. Com umcartão e chave de identida-de digitais, pode aceder aos

registos (médicos, judiciais,civis, de segurança) a qual-quer hora do dia, todos os_l_^ dias da semana e em qual-

quer lugar. Nesse país não precisa de an-dar com o cartão de cidadão ou outrosdocumentos, porque todos estão digitali-zados e guardados de forma segura numsistema descentralizado — e pode, talcomo as autoridades, aceder-lhes quandoe onde quiser. Em dia de eleições, conse-

gue votar a partir de qualquer parte domundo. E não precisa de ir para as longasfilas da loja do cidadão para obter ou atua-lizar o cartão de cidadão, pois as assinatu-ras digitais são vinculativas. Se a políciao vê a conduzir na estrada e quer saberse tem tudo em ordem não precisa de o

mandar parar, já que pode consultar facil-mente os seus documentos através de umportátil. No sistema de saúde nacional, os

doentes — tal como os médicos — podemaceder aos registos médicos, ver quem os

consultou ou atualizou e reportar casosde abuso. Este país existe e é uma antigarepública soviética onde vivem apenas 1,3milhões de pessoas.

A Estónia é pioneira na utilização dablockchain ao serviço dos cidadãos e daadministração pública. Em 2008 — antes

do alegado criador da bitcoin, SatoshiNakamoto, ter divulgado umpaper onde

explicava o seu funcionamento —, o país

já desenvolvia e testava tecnologia de

encriptação avançada como a blockchain.Desde 2012 que esta tecnologia, desenvol-vida pela empresa estoniana Guardtime

(e exportada para a NATO, Departamen-to de Defesa norte-americano e sistemasde informação da União Europeia, entreoutros), é a espinha-dorsal da estratégiapara tornar a Estónia uma nação digital.

Uma rede de computadores

A cadeia de blocos é uma tecnologia ondea informação é armazenada de formadistribuída e descentralizada. Enquantonos sistemas tradicionais, como na basede dados de um banco, os saldos de contae movimentos são armazenados central-

mente, na blockchain os dados não são

guardados num servidor nem validados

por uma autoridade central. São des-centralizados, "replicando uma cópia do

registo por uma rede de computadores",explica Pedro Martins, diretor de tecno-

logias de informação do Novo Banco, queestá a escrever um livro sobre o tema.São também estes computadores (nós)que validam a informação através da re-solução de problemas matemáticos com-plexos e de um mecanismo de consenso.

"Todos os participantes trabalham parao mesmo registo partilhado, imutável e

incorruptível de transações", diz ao Ex-

presso Alex Tapscott, cofundador do Blo-ckchain Research Institute. Não é difícil

perceber que um hacker tem mais faci-lidade em forjar registos armazenadosnuma entidade central do que guardadosnuma rede distribuída de computadores— para isso, precisaria de mais de metadeda capacidade de processamento dessa

rede, que já inclui mais de 12 mil nós.A primeira aplicação mediática da blo-

ckchain foi a bitcoin, mas as suas poten-cialidades vão além do universo das crip-tomoedas. O "protocolo da confiança",como lhe chamam Don e Alex Tapscott,"pode ajudar-nos a repensar sectorescomo os serviços financeiros a construircadeias de distribuição mais eficientes e

a potenciar um comércio mundial mui-to mais rápido", diz Alex ao Expresso."O princípio básico da blockchain estáno facto de permitir que duas ou mais

partes possam realizar transações ounegócios sem a necessidade de grandesintermediários como bancos ou gover-nos." E as transações podem ser automa-tizadas através de smart contracts, queincluem informação sobre os termos deum contrato e executam as ações previs-tas automaticamente. "A blockchain temconsequências enormes para qualquersector." Já Miguel Correia, professor doInstituto Superior Técnico (IST) e coor-denador do grupo de sistemas distribuí-dos do INESC, acrescenta os registos de

saúde, de identidade e a governação. "Sónão irá revolucionar sectores que nãotenham necessidade de registo, nem deforte segurança e onde os intermediários

sejam essenciais."

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A dar os primeiros passos

Enquanto as criptomoedas são olhadascom cautela pela sua volatilidade e in-certeza, a blockchain é vista por legisla-dores e empresários com otimismo. Emmenos de dez anos, 10% do PIB mundialestará armazenado na blockchain, se-

gundo o World Economic Fórum. Foicom consciência disso, e para estudaros seus desafios e oportunidades, que aUE criou o Observatório e Fórum paraa Tecnologia de Cadeia de Blocos. EmPortugal, é lançada no dia 28 a AliançaPortuguesa de Blockchain, que reúneempresas, academia e entidades governa-

mentais para dotar o sistema empresarialportuguês "de conhecimentos sólidos emblockchain". Rui Serapicos, diretor-geralda CIONET Portugal, adianta que vãoser lançadas várias iniciativas em 2018,como um roadshow pelas universidadese associações empresariais e desafiosde negócio baseados na blockchain parasectores como banca, seguros e retalho.

As "vantagens económicas", com maiorrapidez e redução dos custos, são motivos

para o crescente interesse na tecnologia,diz Carlos Faria, criador do site Bitcoin

Portugal, que está a desenvolver um si-

mulador para determinar o potencial da

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blockchain transformar distintos secto-res. Cada vez mais indústrias procuramtirar partido dela, embora a sua adoçãoainda seja embrionária. Walmart e IBMestão a trabalhar em projetos-piloto parausá-la ao serviço da segurança alimentare cadeia de distribuição, permitindo ras-trear os produtos até à origem. Mais de100 instituições financeiras, reguladorese empresas integram o consórcio R 3paradesenvolver a plataforma específica paraserviços financeiros Corda. E a Associa-

ção Portuguesa de Fundos de Investi-mento, Pensões e Património (APFIPP)anunciou a "Funds Harbour", plataformaassente na Ethereum para testar a sua

capacidade de "revolucionar e tornarmais eficiente o modelo de distribuição defundos de investimento e fundos de pen-sões abertos", aponta o presidente José

Veiga Sarmento. O projeto, desenvolvido

com a Deloitte, IST e acompanhamen-to da Comissão do Mercado de ValoresMobiliários (CMVM), consiste num pro-tótipo que assegura de forma automáticae segura a subscrição de fundos, resgate,cancelamento de ordens e reporte aosupervisor. E provou "que é possível oacesso a qualquer fundo de investimentonacional pelos clientes bancários".

Apesar do entusiasmo, a "cadeia deblocos" está a dar os primeiros passos e

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há desafios a ultrapassar — maturidade,escalabilidade, literacia e escassez de re-cursos técnicos —

, indica Pedro Martins,que está a escrever um livro sobre a tecno-

logia. "Ausência de quadros regulatóriosclaros e estáveis", "reação dos poderes po-líticos", "resistência à mudança" e "riscode não ser possível suplantar dificuldades

tecnológicas" também são referidos comoentraves à adoção massif içada da tecnolo-

gia. Mas as suas mais-valias continuam amobilizar sectores e indústrias, atraídospela segurança, transparência, rapidez,custos reduzidos ou pela eliminação dos

intermediários, acredita o advogado daPLMJ Jorge Silva Martins. "Essa elimi-

nação poderá representar uma profundaredistribuição de poderes no tabuleiro daeconomia 4-0, pondo em causa a posiçãode liderança àeplayers globais como aGoogle, a Apple ou o Facebook e desen-cadeando uma profunda reinvenção daforma de relacionamento entre prestado-res de serviços e clientes, entre consumi-

dores, o Estado e os cidadãos, de impactoequivalente ou até superior à própriacriação da internet."[email protected]

DICIONÁRIODE BOLSO

Blockchain (ou cadeia de blocos)Não existe uma mas várias blockchainscom características diferentes. Estaé

u ma tecnologia que permite armazenar e

validar a informação em cadeia, de formadistribuída e autonomizada: em vez de os

dados serem guardados num servidor e

validados por uma entidade, são

partilhados portodos.

Blockchain públicaHá quem considere que a blockchain

original é a que está na base de

criptomoedas como a bitcoin e aethereum. Nesta, o acessoà informação é público paraqualquer entidade.

Blockchain privadaAs blockchains privadas são redes

fechadas nas quais o acessoà informação é restrito a um conjunto deentidades pré-selecionadase convidadas.

Blockchain permissionedNa blockchain permissioned,as entidades necessitam de permissãopara poderem participar ou inserir nova

informação. É o caso da plataformaHyperledger Fabric e do consórcio R

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Corda, usados no sector bancário, ondeas entidades precisam de autorizaçãopara poderem ler ou alterar registos.

Blockchain permissionlessNa blockchain permissionless (semnecessidade de permissão), as entidadesnão precisam de autorização paraparticipar ou inserir nova informação,interagindo livremente com outrosou verificando registos e transações.

Smart contractÉ um protocolo informático quefacilita, verifica e garante a negociaçãoou o cumprimento de um contrato,sem recurso a intermediários: podeser usado na troca de fu ndos, registode propriedades, ações ou outrosativos. O contrato inteligente incluitodos os termos definidos previamentee executa automaticamente as açõesprevistas. Muitos comparam-noa u ma máquina de venda automática:basta inserir uma moeda (digital) e o

contrato fica registado e é executado.