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8 SALVADOR DOMINGO 10/4/2011 9 SALVADOR DOMINGO 10/4/2011 ABRE ASPAS NEY CAMPELLO SEC. ASSUNTOS DA COPA 2014 «Estamos no campo jogando o jogo» Texto VITOR PAMPLONA [email protected] Foto FERNANDO VIVAS [email protected] O alerta vermelho piscou há 10 dias nos corredores da Secopa, a Secretaria Extraor- dinária para Assuntos da Copa do Mundo de 2014, criada pelo governo da Bahia para coordenar a preparação da cidade para o Mundial. A partir de uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, a imprensa esportiva brasileira se ouriçou com a notícia de que a Fifa havia definido a cidade de São Paulo para realizar o jogo de abertura da competição. Obtida sem referência à fonte, a informação frustraria a campanha Abre a Copa Salvador, encampada pelo governo baiano em conjunto com empre- sários e organizações integrantes do Salvador Convention Bureau, entidade vol- tada à atração de congressos e turismo de negócios. Rapidamente, a Confederação Brasileira de Futebol divulgou uma nota desmentindo a decisão e estabelecendo o dia 29 de julho para o anúncio finalmente ser feito. Ao menos até lá, perdura a esperança de Salvador, Brasília e Belo Horizonte, demais cidades candidatas à aber- tura, de tirar da favorita São Paulo o jogo mais desejado depois da final. Na Bahia, o responsável por tentar conseguir o feito é o secretário Ney Campello, titular da Secopa, que garante: Salvador continua na disputa. Em entrevista à Muito, ele apre- senta os motivos para acreditar na cidade e afirma que o Estado mostrou força po- lítica com a candidatura. “Ao ter se posicionado, a Bahia sentou à mesa. Descemos da arquibancada e estamos no campo, jogando o jogo”. Campello também analisa o andamento das obras e toca em dois temas espinhosos: a venda do Barradão caso o Vitória decida mandar jogos na nova Fonte Nova e a pressão dos empresários de ônibus a favor do BRT (sistema de corredores de ônibus): “Claro que há lobby. Mas o governo não tem relação nenhuma com esses empresários”. O senhor acredita que Salvador, realmente, tem chances de abrir a Copa de 2014? Acho que temos toda legitimidade para o pleito. Digo que também tem chance, sabendo que é uma decisão da Fifa, que será tomada a partir da análise de diferentes critérios: estádio, mobilidade, segurança, porto, aeroporto, hotela- ria, serviços. Por que não nos vemos num segundo plano? Primeiro, Salvador e a Bahia possuem uma simbologia de ordem cultural e histórica incomparável, que é o fato de ser- mos terra-mãe deste País. A Bahia é a cara da diversidade brasileira. Em segundo lugar, tem ligação com a África, que fez a última Copa. Como diz nossa ialorixá mãe Stella de Oxóssi, um chute que sai da África para cair no Brasil só po- deria cair na Bahia. É a transição perfeita entre a Copa na África e a cidade mais negra fora do continente africano. Critérios objetivos, como mobilidade e segurança, não dificul- tariam esta pretensão? A decisão da Fifa não é estritamente na análise disso. Tenho conversado com o staff do comitê de organização, e eles me dizem que, por exemplo, a característica de patrimônio cul- tural e natural interfere na decisão. Não posso declinar a fonte do staff que me confidenciou, mas há no ambiente de quem vai decidir um apelo importante para esses elemen-

"Estamos jogando o jogo"

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Entrevista com o secretário da Copa 2014 na Bahia, Ney Campello, sobre a campanha de Salvador para sediar a abertura e os preparativos da cidade para o torneio

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Page 1: "Estamos jogando o jogo"

8 SALVADOR DOMINGO 10/4/2011 9SALVADOR DOMINGO 10/4/2011

ABRE ASPAS NEY CAMPELLOSEC. ASSUNTOS DA COPA 2014

«Estamos nocampo jogandoo jogo»

Texto VITOR [email protected] FERNANDO [email protected]

O alerta vermelho piscou há 10 dias nos corredores da Secopa, a Secretaria Extraor-

dinária para Assuntos da Copa do Mundo de 2014, criada pelo governo da Bahia

paracoordenarapreparaçãodacidadeparaoMundial.Apartirdeumareportagem

do jornal Folha de S.Paulo, a imprensa esportiva brasileira se ouriçou com a notícia

de que a Fifa havia definido a cidade de São Paulo para realizar o jogo de abertura

da competição. Obtida sem referência à fonte, a informação frustraria a campanha

Abre a Copa Salvador, encampada pelo governo baiano em conjunto com empre-

sários e organizações integrantes do Salvador Convention Bureau, entidade vol-

tada à atração de congressos e turismo de negócios. Rapidamente, a Confederação

Brasileira de Futebol divulgou uma nota desmentindo a decisão e estabelecendo o

dia 29 de julho para o anúncio finalmente ser feito. Ao menos até lá, perdura a

esperança de Salvador, Brasília e Belo Horizonte, demais cidades candidatas à aber-

tura, de tirar da favorita São Paulo o jogo mais desejado depois da final. Na Bahia,

o responsável por tentar conseguir o feito é o secretário Ney Campello, titular da

Secopa,quegarante:Salvadorcontinuanadisputa.EmentrevistaàMuito,eleapre-

senta os motivos para acreditar na cidade e afirma que o Estado mostrou força po-

lítica com a candidatura. “Ao ter se posicionado, a Bahia sentou à mesa. Descemos

da arquibancada e estamos no campo, jogando o jogo”. Campello também analisa

o andamento das obras e toca em dois temas espinhosos: a venda do Barradão caso

o Vitória decida mandar jogos na nova Fonte Nova e a pressão dos empresários de

ônibus a favor do BRT (sistema de corredores de ônibus): “Claro que há lobby. Mas

o governo não tem relação nenhuma com esses empresários”.

O senhor acredita que Salvador, realmente, tem chances de

abrir a Copa de 2014?

Acho que temos toda legitimidade para o pleito. Digo que

também tem chance, sabendo que é uma decisão da Fifa,

que será tomada a partir da análise de diferentes critérios:

estádio, mobilidade, segurança, porto, aeroporto, hotela-

ria, serviços. Por que não nos vemos num segundo plano?

Primeiro, Salvador e a Bahia possuem uma simbologia de

ordem cultural e histórica incomparável, que é o fato de ser-

mos terra-mãe deste País. A Bahia é a cara da diversidade

brasileira. Em segundo lugar, tem ligação com a África, que

fez a última Copa. Como diz nossa ialorixá mãe Stella de

Oxóssi, um chute que sai da África para cair no Brasil só po-

deria cair na Bahia. É a transição perfeita entre a Copa na

África e a cidade mais negra fora do continente africano.

Critérios objetivos, como mobilidade e segurança, não dificul-

tariam esta pretensão?

A decisão da Fifa não é estritamente na análise disso. Tenho

conversado com o staff do comitê de organização, e eles me

dizem que, por exemplo, a característica de patrimônio cul-

tural e natural interfere na decisão. Não posso declinar a

fonte do staff que me confidenciou, mas há no ambiente de

quem vai decidir um apelo importante para esses elemen-

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«O lobby paulista é forte, e Salvadorincomoda. Enquanto a Fifa não decidir,estaremos lutando»

tos. Do ponto de vista das ações, nós

temosumasituaçãodeavanço:oes-

tádio. Onde eu enxergo a posição

mais crítica? Na mobilidade urbana.

Aeroporto e porto são outros desa-

fios. No caso do aeroporto, que tem

recursos de R$ 45 milhões, acho que

precisamos brigar por mais. E isso

nós temos feito. Já o porto tem uma

grande vantagem, que é estar a um

quilômetrodoestádioemlinhareta.

Significaria 23 mil leitos adicionais

dealtopadrãoflutuantes.Seumain-

tervenção que está nos projetos da

Secretaria da Cultura for viabilizada,

que é uma passarela entre o Terreiro

de Jesus e o bairro da Saúde, a pes-

soa sai no porto, pega o Elevador La-

cerda, vai ao Terreiro de Jesus, pega

a passarela e sai na rua do estádio.

Mas o Estado tem o pensamento de

que, em vez de transformar os dois

armazéns em terminal de passagei-

ros e terminal turístico – a proposta

daCodeba–,devemostirardoisdes-

ses armazéns, abrir a relação do con-

tinente com o mar, formar uma es-

planada em toda aquela região.

Aumentaria muito o custo?

Foi apresentada uma proposição

que faz com o dinheiro assegurado,

R$ 36 milhões. Só que foi apresen-

tada como projeto conceitual. Tem

de virar projeto básico para confir-

mar investimento e cronograma.

Observadores apontam que a candidatu-

ra de Brasília, Belo Horizonte e Salvador

tem sido usada por CBF e Fifa para pres-

sionar São Paulo a definir sua situação.

Não vejo absolutamente nenhuma

correspondência. Quem faz esse ra-

ciocínio, essa análise política, é espí-

rito comum. O lobby paulista é forte,

e Salvador incomoda. Enquanto a Fi-

fa não decidir, estaremos lutando. O

governador já pediu também a

abertura ou o encerramento da Co-

pa das Confederações, por uma ra-

zão absolutamente plausível: não

vai ter estádio em São Paulo em ju-

nho de 2013. Não temos nenhum

compromisso que nos transforme

em massa de manobra, vamos é

buscar a ampliação da campanha

em nível nacional. Pretendemos

mobilizardepoimentosdebaianose

brasileiros que consideram justa a

nossa causa, ex-atletas, como Bebe-

to, Aldair, Júnior, Vampeta, Dida.

Vamos procurar João Ubaldo, Gil-

berto Gil, Caetano Veloso. O próxi-

mo alvo é associar com o São João,

que a Bahia vende hoje como produ-

to nacional.

Caso a abertura fosse em Salvador, qual

seria o custo extra? Há uma previsão do

valor das arquibancadas provisórias que

seriam montadas na Fonte Nova?

Se a abertura for confirmada, tere-

mos muito mais financiamento do

que teríamos. Por que o Rio (de Ja-

neiro) está sendo contemplado? Por

causa das Olimpíadas de 2016. O

que tem hoje como condicionante fí-

sico são os assentos. Seriam mais 15

mil,poisnossoestádioépara50mil.

Nós convidamos a empresa que fez

os assentos modulares de Durban e

Cape Town (África do Sul), eles vie-

ram a Salvador duas vezes, fizeram a

análisepreliminareumaproposição

de estudo para chegar aos números,

porquetemqueverseafundaçãona

área da ferradura suporta.

Mas não há uma estimativa de valor?

A informação que eu tive da Fifa é

que, para comprar, o custo é em tor-

no de 30% de um assento fixo. Se for

alugar, é menos de um terço. Agora,

qual a orientação do governador?

Só damos o passo seguinte quando

tiver a deliberação. Não estamos

com uma visão de campanha pela

abertura até a morte. Não aceita-

mos é tratamento diferenciado, di-

zer que pode em São Paulo e não po-

de na Bahia. Se a gente for conven-

cido, estaremos abertos para discu-

tir alternativas: semifinais, disputa

de 3º e 4º lugares, a própria abertu-

ra da Copa das Confederações, que

trazaSeleçãoBrasileira.Aotersepo-

sicionado, a Bahia sentou à mesa.

Descemos da arquibancada e esta-

mos no campo, jogando o jogo.

Após a Copa, há uma indefinição sobre a

sustentabilidade da Fonte Nova, que é o

Vitória jogar lá. Há alguma novidade?

Não. Sou conselheiro do clube e o

conselho não tomou conhecimento

de nenhuma oficialização do proces-

so. Fiz uma mediação, mas quem es-

tá conduzindo isso é a FNP (Fonte

Nova Participações). Há uma proposta de o Vitória assinar

ummemorandodeentendimento,comooBahia.Écomose

você dissesse “finalizamos o interesse em conversar sobre

uma fórmula econômico-financeira que, se for para nós in-

teressante, submeteremos à instância deliberativa”.

Como mediador, o senhor não percebe pressão da FNP?

A FNP quer que isso aconteça e tem razão. Quanto mais ce-

do, mais você tem a equação da sustentabilidade econô-

mico-financeira resolvida. Mas não é nenhuma pressão

que... Qual instrumento que ela teria para pressionar? O

Vitória tem seu estádio privado. Se ele não quiser...

Exatamente por ter seu estádio, não seria mau negócio?

Não. Falando como conselheiro, torcedor e cidadão, acho

que não. Quando estiver construída, e os investimentos fo-

rem feitos em torno dela, a Arena Fonte Nova terá enorme

atratividade de público. Se mandar seus jogos lá, o Vitória

pode acompanhar uma modelagem semelhante à do Ba-

hia. Pode fazer um entendimento com as construtoras que

conformam a parceria público-privada, Odebrecht e OAS, e,

por exemplo, acertar a construção de um centro de treina-

mento e vender aquele ativo por um valor elevado.

O ativo é o estádio do Barradão?

O estádio e todo aquele equipamento, a área que pertence

ao Vitória. Pode ser uma ingestão de recursos importan-

tíssima para pôr o clube na Primeira Divisão em prazo curto,

investirnumtimemaiscompetitivoefazerumcentrodetrei-

namento moderno. Para o Vitória, a condicionante que eu

faria, opinando como torcedor e conselheiro, é não se des-

fazer do estádio sem um belo centro de treinamento. O Vi-

tóriapodefazerascontaseverseévantajoso.Claroqueterá

resistência de conselheiros, torcida, é natural. Aquele pa-

trimônio foi construído com sacrifício e trouxe muitas vitó-

rias, fazem essa associação. Mas tenha paciência. Os resul-

tados dos clubes não têm associação com a qualidade dos

estádios. Têm, sim, com centros de treinamento, estruturas

de apoio de fisiologia, nutrição, investimento na base.

AescolhadassedesdaCopafoiem31/5/2009,hádoisanos.Em

Salvador, não há obra fora o estádio. Não é preocupante?

Não acho que seja. Os prazos apresentados pelas secreta-

rias são dentro de 2013, 2014. Todas já estão em fase de

projeto básico, não está começando do zero. Não tem ainda

obra física, e é natural que a população se preocupe. E nós

não devemos agir de maneira a achar que está tudo fácil. O

prazo é sempre curto. Não vamos ter um calendário folgado

de Copa. Mas, neste momento, não há nenhum prazo que,

digamos, tenha acendido o sinal vermelho.

Nem na questão da mobilidade?

Euconsideroquenão,pelosprazosdaprópriaSedur,quediz

que entrega em maio de 2013. Eu acho que, se for entregue

no final de 2013, não vamos ter problema com a Copa.

Um grande debate tem havido entre adotar o VLT ou o BRT, que

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seria mais viável. O senhor acha que o VLT tem chance?

O governo tomou uma decisão, anunciada pelo secretário

Carlos Martins (Fazenda), que considero a mais inteligente:

um procedimento de manifestação de interesse, para que

essas alternativas de modais sejam apresentadas com pra-

zo, custo e modelagem de financiamento. Se for viável, com

prazo de execução até 2014, uma modelagem para metrô

de superfície ou VLT, não tenho dúvida de que é a melhor

solução. Temos que pensar a cidade na escala de um sis-

tema metroviário. Se a gente articula os 19 km da Paralela

com os 6 km já construídos e mais 6 km que até Pirajá, você

tem 31 km e começa a dar ao metrô viabilidade. Temos que

acabarcomessadiscussãoentreBRTeVLTcomosefosseum

BA-VI. Tem que ser o melhor modal para o melhor local.

O senhor considera o lobby dos empresários de ônibus a favor

do BRT o maior obstáculo para uma definição?

Quem vai tomar o dinheiro emprestado é o governo do Es-

tado, que não tem relação nenhuma com esses empresá-

rios. Eles são empresários de uma permissão, a título pre-

cário, da Prefeitura de Salvador. O governo não tem com

eles relação contratual e está absolutamente à vontade pa-

ra tomar a decisão. Claro, ouvindo a prefeitura, pois não

pode tomar uma decisão no âmbito de Salvador sem ouvir

a prefeitura. Claro que há um lobby, os empresários têm

interesses e propõem o BRT. É preciso reconhecer que é um

sistema moderno, que traz ônibus articulados, com grande

capacidade e deslocamento rápido, é mais barato e de pra-

zo mais curto para execução. Então não podemos destronar

o BRT como uma péssima alternativa. Agora, na lógica de

quem tem 6 km de metrô ainda por funcionar, é preciso que

a decisão enxergue isso: o que é melhor para a cidade? «

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