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Este projeto foi realizado com o apoiodo Programa de Governo e Sociedade Civilda Fundação Ford, escritório do Brasil

Doação n0. 970-1968

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ESTRATÉGIAS LOCAIS PARA REDUÇÃO DA

Organização: Ilka Camarotti e Peter Spink

POBREZACONSTRUINDO A CIDADANIA

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Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Karl A. Boedecker da Escola de

Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/

EAESP)

ESTRATÉGIAS locais para redução da pobreza: construindo a cidadania

Ilka Camarotti e Peter Spink, org./ 2a edição / São Paulo:

EAESP, 2003.

234 p.

ISBN: 85-87426-08-7

1. Pobreza - Brasil. 2. Políticas públicas - Brasil. 3. Desenvolvimento regional

- Brasil. 4. Projetos comunitários - Brasil. 5. Projetos de desenvolvimento - Brasil.

I. Spink, Peter. II. Camarotti, Ilka. III. Programa Gestão Pública e Cidadania

Copyright © 2003, Ilka Camarotti e Peter Spink

Direitos desta edição reservados ao

Programa Gestão Pública e Cidadania

Av. Nove de Julho, 2029 • Prédio da Biblioteca • 2o andar

01313-902 • São Paulo • Brasil

Tel.: (5511) 3281.7904/7905

Fax.: (5511) 287.5095

[email protected]

http://inovando.fgvsp.br

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

É permitida a reprodução parcial ou total desta publicação,

desde que citada a fonte.

Produzido no Brasil

Segunda edição: setembro de 2003

ISBN: 85-87426-08-7

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Coordenaçãodo projeto

Equipe detrabalho

Equipede apoio

Edição

Revisão

Projeto Gráfico

CapaSarah Meconi

Liria Okoda

Ricardo Meirelles

Hélio Batista Barboza

MTb 13065

Fabiana Paschoal Sanches

Marlei de Oliveira

Fernanda de Oliveira

Hélio Batista Barboza

Lilia Asuca

Luis Fujiwara

Nathalie Perret

Paula Pedroti

Rafael Osório

Verena Pinto

Ilka Camarotti

Peter Spink

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Introdução09

Oficina 115

Provisão dos serviços urbanos - Rio de Janeiro/nov 9817 Abertura18 A noção da pobreza frente às desigualdades sociais23 Pobreza e formas de ação coletiva

27 Debate

Experiências discutidas33 Associação dos Catadores de Materiais Reaproveitáveis (Belo Horizonte, MG)34 Programa Unidade de Triagem (Porto Alegre, RS)

35 Debate

Experiências discutidas40 Meio Ambiente e cidadania (Olinda, PE)41 Projeto Mutirão Reflorestamento (Rio de Janeiro, RJ)

43 Debate

Experiências discutidas46 Ações Integradas e Bolsões de Pobreza (Ipatinga, MG)47 Programa de Reassentamento de Famílias (Teresina, PI)48 Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse

Social - PREZEIS (Recife, PE)49 Debate

Experiências discutidas56 Programa Médico da Família de Niterói (Niterói, RJ)57 Programa Saúde da Família de Curitiba (Curitiba, PR)58 Programa Saúde da Família de Mutirão do Serrotão (Campina Grande, PB)

59 Debate

63 Comentários finais

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Sum

árioOficina 2

67

Ações integradas de desenvolvimentosocioeconômico - Recife/dez 9869 Abertura70 Resultados da oficina do Rio de Janeiro: questões levantadas

e indicação de elementos de análise

72 Um olhar cruzando a teoria e a prática: breve descriçãodas experiências a serem discutidas

73 Debate

Experiências discutidas78 Associação dos Pequenos Agricultores (Valente, BA)79 Programa de Apoio ao Desenvolvimento Local (PE/RN/MA/CE/BA/PB)80 Projeto São José (Ceará)

81 Debate

92 Síntese das discussões93 Participação, alianças e contrução da cidadania95 Pobreza e desenvolvimento regional

Experiências discutidas98 Programa de Verticalização da Pequena Produção Rural (Distrito Federal)99 Pólo Agroflorestal (Rio Branco, AC)100 Projeto Couro Vegetal da Amazônia (Acre e Amazonas)

101 Debate

107 Comentários finais111 Identificação das idéias-força

Oficina 3113

Geração de emprego e renda - São Paulo/mar 99Abertura 115

Resultados da oficina de Recife: questões levantadas eindicação de elementos de análise 116

Um olhar cruzando a teoria e a prática: breve descrição dasexperiências a serem discutidas 117

Debate 119

Experiências discutidasCooperativa Mista de Produção Alternativa de Birigüi (Birigüi, SP) 122

Projeto Cidadania e Ação Comunitária (São Paulo, SP) 123Sistema CEAPE: Rede de Apoio aos Pequenos Produtores

(RN/MA/PE/SE/SP/GO/PB/PA/BA/PI/ES/DF) 124

Debate 125

Economia solidária e a nova centralidade do trabalho 130

Debate 133

Políticas sociais de combate à pobreza 139

Debate 141

Experiências discutidasBolsa-Escola: Programa Bolsa Familiar para Educação (D. Federal) 144

Câmara do Grande ABC (Santo André, SP) 145Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar - PRONAF (Pernambuco) 146

Debate 147

Identificação das idéias-força 153

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Sum

ário

Oficina 4155

Em busca de um consenso - Porto de Galinhas/abr 99157 Abertura158 Pobreza, desigualdade e inclusão social: questões

levantadas durante os diálogos regionais162 Escolhendo os eixos de análise a serem discutidos nos

grupos de trabalho

165 Debate

Resultados dos grupos de trabalho168 Grupo 1 - Provisão de Serviços Urbanos169 Grupo 2 - Ações Integradas de Desenvolvimento Socioeconômico171 Grupo 3 - Geração de Emprego e Renda

173 Debate

177 Caminhos de ação diante da pobreza e da desigualdade179 Pobreza e cidadania: desafios

185 Debate

Conclusão189

Introduction

Workshops206 The selected experiences discussed208 Participants

Consensus presentation213 Poverty: defining the field214 Conclusions from the sector workshops217 Lessons learned from the experiences discussed220 New questions

Apresentação do consensoPobreza: delimitando o seu campo 191

Conclusões iniciais a partir das oficinas setoriais 192Lições específicas a partir das experiências discutidas 195

Em direção às conclusões possíveis 198

Building citizenship:local strategies for povertyreduction 201

Anexos 223

Lista de participantesLista de experiências

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Introdução

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11É um projeto do Programa Gestão Pública e Cidadania que visa identificar,

analisar e disseminar práticas e conhecimentos voltados especificamente àmelhoria da qualidade de vida e à inclusão social das populações pobres.

Apoiado inicialmente pela Fundação Ford, conta hoje também com o apoio doBNDES e da Fundação Hewlett.

As principais atividades do projeto são:• Promoção de encontros temáticos nacionais e internacionais, envolvendo

atores oriundos de diferentes segmentos de ação e reflexão: das comunidades,da academia, de organizações da sociedade e da área pública.

• Realização de estudos e pesquisas focalizando, nas suas diversas formas,as práticas sociais e públicas emergentes, que vêm demonstrando ter um im-pacto real e direto na qualidade de vida e na inclusão social das populaçõesempobrecidas.

• Desenvolver cursos de capacitação em ação social responsável para pro-fissionais de prefeituras municipais, governos estaduais, instituições de desen-volvimento, organizações não-governamentais e comunidades em geral.

• Produzir material escrito e audiovisual para fins de disseminação de sabe-res e práticas, como também para uso didático.

Sobre o ProgramaGestão Pública e Cidadania

Sobre o Projeto PráticasPúblicas e Pobreza

É uma iniciativa da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) e da FundaçãoFord, com o apoio do BNDES e tem por objetivo identificar, analisar, divulgar epremiar experiências inovadoras de governos estaduais, municipais e de orga-nizações indígenas. O Programa Gestão Pública e Cidadania se propõe tambéma estimular o debate e a reflexão crítica sobre processos de transformação nagestão pública subnacional no Brasil, com ênfase na articulação entre governose sociedade civil.

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Introdução

Em outubro de 1998, o Programa Gestão Públicae Cidadania da Fundação Getulio Vargas de São Pau-lo, com o apoio da Fundação Ford, realizou no Riode Janeiro o primeiro de um ciclo de quatro semi-nários voltados à análise e reflexão de estratégiaslocais para redução da pobreza. Em cada encontrode dois dias, por volta de 30 pessoas de diferentesuniversos de ação (pesquisa acadêmica, organiza-ções comunitárias, ONGs, secretarias de governosmunicipal e estadual, banco de desenvolvimento einstituições multilaterais) estiveram presentes paradebater o espaço possível de ação local noenfrentamento da pobreza.

A questão inicial que desencadeou a série dereuniões foi simples e direta: haveria um espaçode ação de combate à pobreza entre as macropolí-ticas nacionais e as ações desenvolvidas a partirda sociedade civil? Se há, quais as conclusões pos-síveis que sinalizam caminhos a seguir no terrenode médio alcance?

As regras dos encontros foram igualitárias. To-dos os participantes tiveram a oportunidade de dis-

cutir e argumentar, havendo um equilíbrio satisfa-tório entre as apresentações acadêmicas, os rela-tos das experiências e as análises técnicas.

Quanto aos recortes temáticos dos encontros, oprimeiro focalizou a pobreza a partir da discussãoda provisão de serviços urbanos. O segundo, reali-zado em Recife durante o mês de dezembro de 1998,debateu as ações integradas de desenvolvimentosocioeconômico, e o terceiro, aconteceu em São Pauloem março de 1999 e privilegiou a temática de gera-ção de emprego e renda. No final de abril do mesmoano, organizou-se um quarto encontro em Porto deGalinhas, Pernambuco, com o objetivo de comparti-lhar todo o conhecimento construído ao longo dasoficinas, como também apontar possíveis conclusõesem termos de pistas para uma ação efetiva de redu-ção da pobreza. Ao todo, 146 pessoas se envolveramno trabalho de escuta, debate e confrontação.

É importante ainda assinalar que diferentes lingua-gens, apreciações teóricas, visões de mundo e expe-riências foram contempladas, favorecendo uma análi-se sincera e fundamentada sobre possibilidades reais

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de ação. O ambiente de cordialidade e respeito mútuopermitiu também o confronto de posições e a escutade argumentos diversos.

As experiências discutidas e analisadas foramescolhidas a partir do banco de dados das inscri-ções anuais do Programa Gestão Pública e Cidada-nia, e complementadas por outros casos identifica-dos a partir de um estudo sobre o papel de aliançasentre organizações públicas, não-governamentais eprivadas na redução da pobreza, desenvolvido como apoio do Banco Mundial. As experiências diversi-ficaram-se quanto à jurisdição subnacional, área deatuação e impacto gerado. Durante os encontros,os participantes tiveram também a oportunidade detrazer para o debate, iniciativas outras que vêmigualmente demonstrando respostas concretas deredução da pobreza.

Nesse relatório final, apresentamos uma brevedescrição das experiências analisadas ao longo dasoficinas, os debates realizados e as principais con-clusões que emergiram naturalmente da reflexão edo diálogo coletivos. Preservamos no texto certascaracterísticas próprias da linguagem oral.

Agradecemos a todas as pessoas que participa-

ram dos encontros, aceitando o desafio não somen-te de confrontar saberes e práticas, como tambémde tentar identificar os elementos de uma configu-ração melhor delineada em relação à pobreza e aoseu enfrentamento. Se há valor no resultado, e acre-ditamos que sim, reside em grande parte no com-promisso e disposição assumidos por todas e todosde encarar com honestidade a análise, a reflexão eo diálogo como processo coletivo.

Esta publicação está na sua segunda edição, gra-ças ao apoio da Fundação William and Flora Hewlette representa uma importante e atemporal contri-buição nas reflexões, formulações, avaliações emonitoramentos de políticas, programas, projetose intervenções sociais. Este documento torna-seigualmente valioso por sinalizar possibilidades epráticas de ação coletiva, valorizando e conjugandorealidades, cotidianos, tempos, saberes e conheci-mentos bastante diversos, mas infinitamente com-plementares e transformadores.

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Provisão dos serviços urbanosRIO DE JANEIRO • NOVEMBRO, 1998

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Adauto Cardoso (IPPUR/UFRJ - Observatório Rio) • Ademir MargentiCastro (Programa Unidades de Triagem/RS) • Adler do Couto (Escolado Futuro/USP) • Ana Britto (PROURB/UFRJ - Observatório Rio ) •Ana Christina Barbosa (BNDES/RJ) • Ana Clara Torres Ribeiro (FASE-Nacional/IPPUR/UFRJ) • Berenice Ramos (Programa Mutirão doSerrotão/PB) • Caio de Azevedo (BNDES/RJ) • Carlos Pontes (Centrode Pesquisa Ageu Magalhães/Observatório Recife) • Celso JuniusFerreira Santos (Projeto Mutirão Reflorestamento/RJ) • ElizabethLeeds (Fundação Ford) • Fábio Atanásio (Projeto Meio Ambiente eCidadania - UNICEF/Recife) • Grazia de Grazia (FASE-Nacional) • IraciReis (PUC/SP) • Isabelle Wolff (Médicos Sem Fronteiras - missãoBélgica) • Jacqueline Rosas Silva (Programa Bolsões de Pobreza/MG)• Jan Bitoun (Observatório Recife - UFPE) • Kleber Montezuma(Programa de Reassentamento de Famílias/PI) • Leda MariaAlbuquerque (Programa Saúde da Família de Curitiba) • Luiz CésarRibeiro (IPPUR/UFRJ - Observatório Rio) • Maria Magdalena Alves(Ação da Cidadania/SP) • Marcos Formiga (UNB/FINEP) • Maria doCarmo Brant de Carvalho (PUC/SP) • Marilena Jamur (PUC/RJ) •Marta Pordeus (Assessora do Fórum do PREZEIS/PE) • MartaProchnik (BNDES/RJ) • Neide Silva (ETAPAS/PE) • Nelson Duplat(BNDES/RJ) • Nilson Costa (UFF/FIOCRUZ) • Orlando Júnior (FASE-Nacional/IPPUR/UFRJ - Observatório Rio) • Pedro Jacobi (USP) •Pedro Lima (Programa Médicos de Família de Niterói/ RJ) • RicardoBeltrão (FGV/SP) • Sônia Dias (Introdução do Catador no Mercado deReciclagem/BH) • Sônia Café (Secretaria Municipal de Trabalho/Prefeitura do Rio de Janeiro).

Participantes

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Provisão de serviços urbanos

A idéia deste trabalho, cujo conteúdo já havia sidocompartilhado entre a equipe do Programa GestãoPública e Cidadania, nasceu em uma reunião no es-critório da Fundação Ford no Rio de Janeiro, quandose questionava sobre o espaço que existe para a açãoem âmbito local de redução da pobreza.

É possível pensar ou delinear um espaço viávelde atuação, aberto para a implementação de políti-cas contra a pobreza, mesmo levando em conside-ração fatores macroeconômicos desfavoráveis ouaté antagônicos? Quais são os caminhos para au-mentar os impactos na redução da pobreza?

Não é preciso discutir números para justificar otema, esses dados já circulam. Igualmente, dis-cutíamos na reunião inicial com a Fundação Ford quenão se trata aqui de fazer apenas mais uma pesquisadescritiva ou um levantamento de dados estatísticos,tampouco não se trata de realizar grandes eventosabertos. A forma de avançar em relação a essaproblemática é reunir algumas das pessoas ativasno campo para debater nossas idéias, questionandouns e outros e, assim, dar um contorno mais definido

para um cenário potencial de ação.A temática da pobreza é muito “escorregadia”,

alguns usam a palavra, outros não, preferindo optarpor exclusão, inclusão ou desigualdade social.

Até mesmo a dificuldade em mobilizar massa crí-tica para discutir a temática e as ações de reduçãoda pobreza faz parte do nosso desafio. Por tudo quejá foi apontado e discutido, o cenário continua ne-buloso e sem definição. Mas o que fazer para avan-çar? Partimos da idéia de que é necessária a con-tribuição de diferentes pontos de vista e de diver-sas inserções no terreno, num diálogo crítico e deconfronto, entretanto, sempre sincero e bem-humo-rado. Algumas pessoas aqui trabalham na coleta dedados, outras pessoas tratam da questão acadêmi-ca, alguns trabalham no terreno, algumas pessoasmilitam nessa área, e outras, ainda, ocupam car-gos executivos em governos. É no estabelecimentodo diálogo entre a pesquisa e os dados, por um lado,e as práticas correntes nesse campo, pelo outro,que acreditamos poder avançar no sentido de con-ferir maior nitidez ao debate.

Abertura

Peter Spink

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Situarei minha fala tendo como eixo a noçãode pobreza frente ao debate sobre marginalidadee desigualdade.

Com relação ao documento introdutório destasérie de encontros que iniciamos hoje no Rio deJaneiro e que foi veiculado como eixo norteador doprojeto de pesquisa da Fundação Getulio Vargasdestaco cinco pontos como fundamentais: 1) dife-rentes conjuntos de abordagens do fenômeno dapobreza (as abordagens centradas no indivíduo, asabordagens de cunho macroeconômico e as abor-dagens interativas); 2) os diferentes conceitos e suasmatrizes referidos no documento como, por exem-plo, pobreza, desigualdade e exclusão social; 3) osobjetivos visados com o projeto de pesquisa; 4) asresponsabilidades e papéis dos agentes e diferen-tes atores envolvidos; 5) e a clara intenção de nãoestabelecer um modelo de “melhores práticas”.

Um primeiro problema a ser considerado é o deque a pobreza é objeto de múltiplas representaçõessociais. Todos têm sua própria teoria sobre pobre-za. É fundamental observar, no plano teórico, o pesoespecífico que cada abordagem tem, sob pena dese esvaziar a própria ação, que deve se pautar pelorigor e pelo método científico. Qual das abordagens

da pobreza está norteando a ação? Na medida emque nós nos concentramos na análise de práticas, éinteressante tentar buscar um discernimento sobrequal abordagem é mais pertinente.

A abordagem com foco no indivíduo, de cunholiberal, parte da premissa de que a superação dapobreza depende, em maior medida, do próprio in-divíduo. Assim, as tentativas de reduzir a pobreza apartir da aplicação de recursos públicos são como“esvaziar o mar com um dedal”.

Uma abordagem interativa é pertinente, poisdesenvolve programas que não deixam de dar aten-ção ao indivíduo e consideram o peso específico decada ação, atentando para as possibilidades espe-cíficas de enfrentamento da pobreza, porém comenfoque em outras práticas.

A respeito dos diferentes conceitos presentesno documento de apresentação quanto à pobreza,três concepções já foram desenvolvidas neste sé-culo: sobrevivência, necessidades básicas e priva-ção relativa.

O enfoque de sobrevivência, o mais restritivo,predominou no século passado e até a década de50. Teve origem no trabalho de nutricionistas ingle-sas, ou seja, a renda não era suficiente para a ma-

A noção da pobreza frenteàs desigualdades sociais

Expositoras: Marilena Jamur e Ana Clara Ribeiro

Marilena Jamur

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nutenção do rendimento físico do indivíduo. Esta con-cepção foi adotada na Inglaterra e exerceu grandeinfluência em toda a Europa, sendo usada mais tar-de pelo Banco Internacional para a Reconstrução eo Desenvolvimento (BIRD). Utilizando medidas es-tatísticas formulou-se o primeiro modelo de prote-ção social para o Estado de bem-estar, fundamen-tando políticas nacionais de assistência e algunsplanos cujos objetivos eram limitar as exigênciasde reformas sociais e a ênfase no individualismocompatível com o ideário liberal. A maior crítica quesofreu foi que, com ela, justificavam-se baixos índi-ces de assistência: bastava manter os indivíduos nonível da sobrevivência.

Num segundo momento, a partir de 1970, po-breza tinha a conotação de necessidades básicas,colocando novas exigências, como serviços de águapotável, saneamento básico, saúde, educação e cul-tura. Configurou-se o enfoque das necessidades bá-sicas, apontando certas exigências de consumo bá-sico de uma família. Essa concepção passou a seradotada pelos órgãos internacionais, sobretudo poraqueles que integram a Organização das NaçõesUnidas (ONU), representando uma ampliação da con-cepção de sobrevivência física pura e simples. Umacrítica que se faz a esta concepção é a dificuldadede critérios para a escolha daqueles que devem re-ceber assistência.

A partir de 1980, a pobreza passou a ser enten-dida como privação relativa, dando a esse conceitoum enfoque mais abrangente e rigoroso, buscandouma formulação científica e comparações entre es-tudos internacionais, enfatizando o aspecto social.Dessa forma, sair da linha de pobreza significavaobter: um regime alimentar adequado, um certo ní-vel de conforto, o desenvolvimento de papéis e decomportamentos socialmente adequados. O enfo-que da privação relativa teve como um de seus prin-cipais formuladores Amartya Sen, um indiano, re-centemente laureado pela Academia Sueca. Esseconceito é bem mais amplo e introduz variáveis maisamplas, de modo que as pessoas podem sofrer pri-vações em diversas esferas da vida. Ser pobre não

acarreta somente privação material. As privaçõessofridas no trabalho determinarão o posicionamentodos cidadãos nas outras esferas.

De acordo com essa conotação, ser pobre acar-reta marginalização. A crítica à existência de limi-tes depende de prova científica, isto é, do uso demúltiplos indicadores para demonstrar a não-parti-cipação de pessoas de baixa renda. Esse conceitoé mais sofisticado e abrangente, o que gera dificul-dades de adoção. Tal abordagem traz diversosproblemas, dada a necessidade de se definir a ex-tensão e a severidade da não-participação das pes-soas que sofrem privação de recursos. É uma con-cepção mais sofisticada, mas ao mesmo tempoapresenta mais dificuldades de utilização.

De modo geral, no Brasil, tem-se utilizado doismétodos de mensuração da pobreza. O método di-reto inclui entre os pobres aqueles cujo nível deconsumo ou acesso a bens e serviços está abaixodo mínimo desejável. Os determinantes da linha depobreza seriam basicamente o mercado de traba-lho, o patrimônio, o acesso à assistência pública, aobtenção de assistência em instituições privadas eas relações interfamiliares. Ou seja, existem nãosomente as rendas monetárias mas também ren-das oriundas de órgãos públicos e instituições pri-vadas que prestam assistência social. Considera-se, de modo geral, que o grau de pobreza de umindivíduo depende da forma como ele se insere nomercado de trabalho, de seu patrimônio, de sua ins-trução, de seu acesso à assistência pública ou pri-vada. Quanto mais precária for a inserção de umindivíduo no mercado de trabalho, maior será suadependência dos outros elementos.

O método indireto ou da renda utiliza a linha depobreza associando-a a uma renda monetária abai-xo da qual se encontram os pobres. A renda seriasuficiente apenas para o acesso ou satisfação dasnecessidades básicas.

No Brasil, os estudos sobre pobreza têm enfa-tizado a família como núcleo de atenção e não oindivíduo, já que a condição deste último dependeda situação de seu grupo familiar. Assim, metodo-

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logicamente, a família deve constituir a unidadebásica de análise.

Qualquer que seja o enfoque adotado, a aborda-gem da pobreza é apenas descritiva. Para uma abor-dagem explicativa é preciso que se adotem outros en-foques, como o que leva em conta a questão social.

A noção da desigualdade teria maior poder ex-plicativo do que a de pobreza. A desigualdade, queé pressuposto do capitalismo, está na base do pro-blema da pobreza. O conceito de desigualdade temmaior poder explicativo porque desigualdade é umfator determinante da pobreza. O pauperismo é fru-to de um conjunto de fenômenos que se desenvol-vem no bojo do sistema capitalista, mais precisa-mente no sistema de produção, na relação capital-trabalho e na atuação estatal.

Para os liberais, liberdade e igualdade são valo-res incompatíveis, pois a igualdade é um valor quenunca será atingido e vai contra as premissas demercado, de competição e liberdade.

Para os convencionalistas, a igualdade é um va-lor complexo da sociedade moderna que incorporadiversas esferas de produção que alocam bens con-forme seus próprios critérios. A pressão numa esfe-ra de trabalho, por exemplo, pode ser compensadapelo prestígio obtido em outra, por exemplo: reco-nhecimento social. A questão é: como conter a so-breposição do poder econômico que se expande deuma esfera para outra? A forma possível ocorre pelaatuação do Estado. A questão é: como ficamos pe-rante a crise fiscal e de legitimação que o Estadosofre atualmente?

Já a exclusão denota uma mudança de enfoque,tornando-se um conceito dominante na Europa, prin-cipalmente na França. Utilizado também no Brasil,pode-se considerar que esse conceito, quando em-pregado com rigor, é pertinente para descrever pro-cessos de desqualificação pessoal e social, de formadinâmica e multidimensional. Trata-se de sublinhar aexistência de um processo que pode levar a uma rup-tura progressiva dos laços e da coesão sociais dian-te da reestruturação produtiva, fundado na fragilida-

de ou na ausência de reivindicações organizadas porparte das populações mais pobres. A exclusão tor-nou-se um paradigma societal. O conceito chama aatenção para uma crise do laço social.

Para finalizar, cabe destacar que a respon-sabilidade e os papéis desempenhados pelos agen-tes e atores sociais devem ser estimulados.

A intenção dos responsáveis pela oficina não éestabelecer um modelo de best practices e sim es-timular a pesquisa-ação coletiva. Não existem ins-trumentos quantitativos de mensuração de impac-tos sociais. Dentro da perspectiva de pesquisa-açãocoletiva devem ser estabelecidas duas frentes:desenvolvimento de indicadores qualitativos de im-pactos sociais e desenvolvimento de padrões deavaliação de políticas públicas que envolvam indi-cadores quantitativos e qualitativos.

Ana Clara RibeiroNo seminário Urban Poverty Workshop (encontro

promovido pelo Banco Mundial nos dias 14, 15 e 16de maio de 1998 no Rio de Janeiro), evidenciou-seque não é possível desconsiderar a magnitude doproblema. Existe um processo de desenraizamentoda questão da pobreza, pela padronização mundialdo fenômeno, que é assim des-historicizado. Nãodá para isolar o social do econômico. Não se podeaceitar a formalização descontextualizadora do fe-nômeno da pobreza. O debate no Urban Povertyapresentou a consolidação de alguns posicionamen-tos. O que ocorre é o ocultamento da questão cultu-ral num olhar basicamente econômico.

Especificamente no que concerne à pobreza ur-bana, a maneira como se realiza a intervenção podedestruir mecanismos de sobrevivência e sobretudoenfraquecer lideranças comunitárias. A responsa-bilidade dos financiadores e dos governantes é im-portante para a forma como a sociedade se mobili-za para participar. O campo de oportunidades aber-to pelas intervenções urbanas também é construí-do pela participação. É preciso observar o tipo deliderança popular que está sendo favorecido pelos

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financiamentos das intervenções urbanas, posto quea concessão de tais financiamentos pode compro-meter a autonomia dessas lideranças populares.

Isso significa que temos um leque que nos obri-ga a um investimento melhor na questão do dese-nho da intervenção no urbano. São novas as racio-nalidades que precisam ser reconhecidas quandoatravessam o tecido da sociedade. A responsabili-dade dos financiadores e dos governantes e a for-ma como a sociedade se mobiliza para participartambém são pontos importantes.

Deve-se considerar o campo de oportunidadesabertas para a participação, nem sempre cons-truídos a partir de acordos da administração pú-blica. Conforme os documentos, a forma comoacontece a participação abre ou fecha oportunida-des. É fundamental ver que tipo de liderança popu-lar está sendo favorecida, as qualificações são an-tagônicas. A qualidade das lideranças tradicional-mente constituídas agrada mais às classes médiasdo que às populares.

Os limites da família no contexto urbano metro-politano também mudaram. O elemento da manu-tenção do ideário da reforma urbana e de sua quali-ficação deve continuar existindo. Elementos direta-mente responsáveis pelo aumento da pobreza, comoa dinâmica da terra e do mercado imobiliário con-forme estão sendo trabalhados pelo poder públicosó pioram a situação.

Existem determinantes da estruturação urbanaque estão diretamente ligados à pobreza. Elemen-tos de ampliação da pobreza são determinados poropções políticas. As determinações da pobreza nãosão definidas somente pela globalização, mas tam-bém por escolhas políticas do modelo de desenvol-vimento adotado. Temos possibilidades de alcançardinâmicas sociais relativamente dependentes domodelo dominante.

Marginalidade é desigualdade. A marginalidadetem um cunho estrutural, sendo decorrente de ques-tões não resolvidas na América Latina. A marginali-dade de cunho estrutural permite ganhos analíticos

e demonstra os limites das análises psicologizantese assistencialistas do social.

Outro gancho na questão da igualdade sendo vis-ta como um valor disputado, que desaparece e vol-ta, admite diversas explicações, desde igualdadepara competir até igualdade nas condições de vida.Como valor disputado, é um valor que admite diver-sas interpretações. Muitas vezes, o viés da igualda-de é uma diretriz “modernizadora”, pouco esclare-cedora sobre os interesses envolvidos.

Parece que temos que fazer o caminho budistade andar pelas margens, com habilidades estraté-gicas mais amplas, compreendendo que a encena-ção da pobreza foi muito ampliada. Nós temos umaconsciência cada vez maior de que existe um novomovimento, que se coloca numa idealização exis-tente no sentido da igualdade de oportunidades, sema homogeneização forçada e destruidora de cami-nhos de plenitude.

É preciso ser capaz de desenvolver habilidadesestratégicas para perceber que a representação dapobreza foi muito ampliada. Existem olhares lança-dos sobre a pobreza que são permanentemente re-construídos. Creio que sem olhares diversos lança-dos sobre a pobreza, estaremos tentando ter um olhartotalizador que se confunde com um olhar globaliza-dor, trabalhando com indicadores cada vez mais sin-téticos, pegando um número cada vez maior de va-riáveis de significado tecnocrático. A ânsia de sinte-tizar e de falar do complexo de uma maneira simplesé alguma coisa que desarticula a nossa percepçãode pobreza como algo sobre o qual nós temos queampliar nosso conhecimento. É preciso voltar a tercontato direto com o fenômeno, para que se possaentender do que se trata.

Ocorreram melhorias na infra-estrutura de algu-mas cidades brasileiras, sem que tenha havido me-lhoria nos indicadores sociais. Não há surpresa nis-to, porque existem muitos outros processos queacontecem simultaneamente aos investimentos eminfra-estrutura, como, por exemplo: irregularidadede abastecimento de água e de redes de esgoto;

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crise do setor de saúde; desintegração familiar. Efe-tivamente, vemos que existem outros processoscorrelatos aos de investimentos de infra-estrutura,como aumento da mortalidade, desintegração fami-liar, modernização de valores que não se inscrevemem práticas adotadas, feminização da pobreza, “mo-dernização” de valores, etc. O urbano não podeser pensado apenas a partir da infra-estrutura.

Estamos num mundo onde a noção de estratégiaparece ganhar uma importância muito grande, maiordo que outras formas de ação. Se todos resolveremagir estrategicamente, haverá uma exacerbação dacompetição. Estratégia está associada ao individua-lismo. O termo estratégia pode ser associado tam-bém a fatores positivos de autogestão, mas existe ooutro lado: se todos resolvermos ser estratégicos vaiser difícil manter o cenário estabilizado. Estratégiatem de ser relacionada ao protagonismo: a cidadetem de ser protagonista. A ampliação da noção deestratégia está associada à figura do protagonista,justamente quando existe uma desarticulação do ce-nário institucionalizado. Isso leva à idéia de ter detrabalhar em contextos cada vez mais limitados, paraque haja espaço para o protagonista.

Não é possível procurar a modernização o tem-po todo. É preciso articular o novo com o novíssimo,ou seja, o sujeito coletivo deve ser colocado lado aolado com o protagonista de algumas cenas. Temosde trabalhar em contextos cada vez mais limitados,o pobre não pode ser visto de uma maneira genéri-ca, existe uma redução da visão do sujeito em rela-ção ao ator, o que significa uma redução de movi-mentos sociais em relação à ação. Não podemosficar nos modernizando o tempo todo enquanto pe-riferia do mundo. Isso significa que parece ser inte-ressante traçarmos uma nova forma de ver o novoem relação ao novíssimo, que trata de alguns valo-res e algumas práticas que enxergam o sujeito co-letivo como ator em determinadas cenas.

O debate gira em torno da questão da verdadeirasolidariedade, que não é doação, é identificação: a iden-tidade seria o caminho para a igualdade. Solidarieda-

de deve ser pensada em relação à cidadania a sercriada e aos limites dos direitos individuais latino ame-ricanos, as conquistas de direitos individuais são cole-tivas. Em relação à participação, devemos recriar otermo, que é muito desgastado, estimulando a parti-cipação solidária culturalmente significativa e politi-camente estimulada. Devem ser desenvolvidos crité-rios para examinar e analisar as experiências. A arti-culação deve ocorrer entre as velhas e as novas soli-dariedades para entender a relação entre ambas. Ofortalecimento dos atores coletivos deve ser esti-mulado. A extensividade e as positividades que que-remos passam necessariamente pela questão insti-tucional. A solidariedade tem que ser discutida pormeio de alguns pontos. As conquistas de direitos in-dividuais são coletivas. Não podemos admitir o apri-sionamento a pequenas áreas e a pequenos grupos.Na questão da participação é preciso recriar o ter-mo. É preciso retomar o conteúdo mais pleno da par-ticipação, especialmente a participação solidária, po-liticamente motivada.

Propostas para analisar as experiências: articu-lação entre as novas e as velhas formas de solidarie-dade; fortalecimento dos atores coletivos; extensi-vidade das positividades (passando pela questão ins-titucional), coerência técnica. Este último ponto éimportante: se estamos debatendo o urbano não po-demos deixar de lado a questão técnica.

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Trago mais questões do que repostas. Com baseem um trabalho de análise de alguns programas so-ciais do governo, pretende-se fazer um estudo poramostra: a pesquisa Avaliação dos Processos deImplementação das Políticas Sociais (Brasil Crian-ça Cidadã, Programa de Erradicação do TrabalhoInfantil, Programas de Agentes Comunitários de Saú-de e Programa Nacional de Fortalecimento da Agri-cultura Familiar).

Quais são as condições que favorecem ou en-travam o processo de implementação de um dese-nho de programa social? Quais são as organizaçõesou entidades que levam adiante esses processos?Quais são as características altamente positivas?Quais são as inovações dos modelos de interven-ção? Como se dá a definição de clientelas específi-cas? Quais são os programas nacionais, quais sãoos de responsabilidade da esfera local?

Características positivas: programas inova-dores; definição de clientelas específicas; progra-mas nacionais; implementação e responsabilizaçãomunicipal ou local abrangentes em relação às ques-tões de saúde; alta mediação de comunidades téc-nicas e conselhos setoriais na implementação; altograu de regulação do processo de seleção de pro-jetos e escolha de clientelas; mobilização em es-cala elevada de recursos locais e comunitários;

implementação por organizações governamentaise não-governamentais.

Emergem como perguntas importantes: taisprogramas são substitutivos dos programas uni-versalistas? A focalização ou seletividade amea-ça os programas sociais orientados para a inte-gralidade? A iniciativa local ou municipal prescin-de do Estado nacional? O que é “nacional” naspolíticas nacionais?

Programas bem desenhados com clientelas po-liticamente difusas: risco de alta vulnerabilidade àsdecisões de contingenciamento orçamentário. Bra-sil Criança Cidadã, Programa de Erradicação do Tra-balho Infantil, Programa Nacional de Fortalecimen-to da Agricultura Familiar – Pronaf: orçamentaçãoerrática. A incerteza orçamentária gera crise de cre-dibilidade e legitimação.

Apenas o Programa de Agentes Comunitários deSaúde, mais consolidado, parece escapar a essa re-gra. Observa-se importante aprendizado social naorganização de interesses: médicos / secretáriosde saúde / estrutura de incentivos à reforma dosetor de saúde, alta sustentabilidade.

Novos papéis ao gestor municipal: superagendaadministrativa. Lições importantes de solidarieda-de e respeito à condição humana. Processos de apro-fundamento de vínculos entre grupos.

Pobreza e formas de ação coletivaExpositores: Nilson Costa e Pedro Jacobi

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quadro, mas pró-ativa em relação às novas alterna-tivas emergentes.

A engenharia institucional deve ser, portanto, olocal para pensarmos o público em relação com asociedade. A questão da pobreza e da exclusão so-cial são componentes estruturais, mas cada vez maisexiste a convicção de que pensar e agir em torno dapobreza inclui aspectos éticos de democratizaçãodas relações sociais. O Movimento dos Sem-Terra(MST) demonstra que é possível fazer perguntas,mas os movimentos sociais não avançam, tanto porproblemas internos como também pela lógica de sefazer políticas públicas. Uma engenharia institucio-nal, para tornar-se legítima aos olhos da popula-ção, deve ter uma perspectiva de eqüidade, devebuscar a interlocução através de parcerias, que,no entanto, não podem ser substitutivas da açãodo poder público, em especial em áreas estratégi-cas. O tripé fundamental é: participação, solidarie-dade e cooperação.

Essas novas relações devem ser negociadas. Háespaço para pensar em estratégias que não sejammeramente tecnocráticas. O componente essencialé pensar o déficit de cidadania e o superávit de pa-trimonialismo, sendo este último perverso e desa-gregador. Vale a pena pensar que estes condicio-nantes podem ser superados. Porto Alegre tem trêsgestões que apostam no mesmo projeto de demo-cratização e horizontalização da gestão social. Or-çamento participativo é típico exemplo de rupturada lógica tradicional.

Que tipo de aspectos facilita a interação en-tre sociedade civil e órgãos locais? Cada vez maisfica explícito que, ao se romper a lógica de tute-la e de dependência, devem surgir algumas mu-danças em relação à autonomia e a legitimidadedos atores sociais.

As experiências não acontecem no atacado, masno varejo, com a noção de fortalecimento do espaçosocial. Essas experiências nos permitem avançar nosentido de verificar que tipo de estratégias e dinâ-micas estão sendo estruturadas quando se leva em

Pobreza - e formas de ação coletiva - exigiriauma manhã inteira para ser abordada, portanto se-rão colocados alguns aspectos importantes em tor-no de experiências concretas. O enorme desafio éque temos de refletir sobre tipos de ação e projetose também sobre formas de agir e de mudar. Então,uma primeira questão é a do enorme desafio que setem em um grupo como este, no sentido da dicoto-mia entre o pensar/refletir e o fazer/agir/mudar.

Portanto, é preciso refletir sobre alguns condi-cionantes. Como herança da repercussão que têmas teorias administrativas, alguns fazem e não temtempo para pensar, outros pensam e não podemfazer. Toda política se confrontará com limites, ecada vez mais vivemos a dicotomia entre integrar efragmentar, o que nos leva ao grande desafio depensar igualdade, liberdade e democracia.

Toda política será confrontada por limites. Assim,ao pensar a ação coletiva, o componente-chave écomo pensar o tecido social, em que as políticas pú-blicas estimulam a “desresponsabilização”. O avan-ço seria tornar a desresponsabilização a exceção e aco-responsabilização a regra. É disso que, essen-cialmente, se trata na democracia brasileira. Deve-mos reforçar a formação de gestores que não vejamna tutela e na dependência sua oportunidade de re-troalimentação política.

Que tipo de espaço existe na sociedade civil paraa interação solidária e participativa com agênciasdo Estado? Cada vez mais fica explícito que, à medi-da em que haja possibilidade de romper a lógica detutela, cabe ao Estado tomar posição pró-ativa. Opoder público deve gerar os fatores indutivos dessainteração. Trata-se de romper lógicas de tutela edependência e reforçar o associativismo, o coopera-tivismo, as relações na horizontalidade do tecidosocial. Novas relações devem ser construídas, ne-gociadas, acordadas, pactuadas, mas horizontalmen-te, e não verticalmente, com reprodução de subal-ternidade. Se no nível nacional existem criticas, nonível local as coisas têm melhorado gradativamen-te. Assim, minha visão é reativa em relação ao atual

Pedro Jacobi

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conta o papel dos interlocutores, sendo a maior difi-culdade em relação ao papel social do empresariado,que deve ser estimulado. Significa pensar relações queimplicam em um arranjo institucional que promova umnovo significado. Há, efetivamente, uma reflexão parapensar as estratégias a partir de quem vai a campoconhecer a realidade.

A constituição do cidadão, pensando no déficitde cidadania, saindo da retórica e indo para a ação,só pode se consubstanciar a partir das relaçõesentre o poder público e a população, na medida emque os canais de comunicação existam e a aberturaseja colocada pelo poder público dependendo do in-sumo da sociedade para a participação.

A constituição de cidadãos como sujeitos sociaisativos só pode se dar a partir de mudanças das prá-ticas sociais, no que diz respeito à relação entre oEstado e a sociedade civil. Sempre é muito impor-tante lembrar a história política brasileira, na quala participação não tem a mesma dimensão da lógi-ca comunitária de outros países. A criação de espa-ços participativos está vinculada ao espaço público,cuja existência no Brasil ainda é recente, dada apredominância histórica do espaço estatal. A vivên-cia comunitária e a prática comunitária são muitoincipientes, a lógica comunitária nos EUA e na In-glaterra tem uma outra dimensão. Essa construçãopassou por tantos anos de autoritarismo, em quenão foi rompida essa tutela, e está vinculada à no-ção de espaço público, o qual é restrito na socieda-de brasileira. A construção do público é muito re-cente no Brasil, necessitando de espaços onde osconflitos venham à tona e as diferenças que seconfrontam sejam aceitas. É fundamental a aceita-ção das diferenças.

Neste sentido, busca-se construir um arranjo le-gítimo aos olhos da população, que tem uma enor-me dificuldade de se aproximar do poder público. Odesafio é achar novas formas de participação.

O papel das instituições da sociedade civil temse assentado no tripé cooperação, solidariedadee participação.

Concluindo, as palavras-chave, para lidar compessoas que têm condição social subalterna, são:lógica solidária; laços de identidade e pertencimen-to; superação da visão minimalista de participação;escolha de prioridades pela própria população. Aresponsabilização dos cidadãos sem culpar a víti-ma. Qualificação, auto-estima, educação, expecta-tiva, ainda que a própria idéia dos processos demobilidade social esteja bloqueada.

Que desafios estão colocados nesse aspecto? Acriação de consciência é importante, assim como acriação de condições para que as próprias pessoasestabeleçam a articulação entre o macro e o micro.A idéia de mobilidade social está fragilizada e issoimplica construir outras referências de integraçãoe estimulação, sendo preciso construir e reforçaras lógicas solidárias que necessitam do suporte desustentáculos adequados. Precisamos, acima detudo, superar a visão minimalista de participação.

O último tema é a responsabilização do cidadão.O normal é observar que cada vez mais os adminis-tradores culpam a pessoas, pelo lixo, pelo desliza-mento etc. Quais são os desafios colocados paracriar espaços de coesão social? O grande desafiopara pensar a forma de ação coletiva frente à po-breza é permitir que as próprias pessoas andem porconta própria.

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Jan Bitoun ] Só queria colocar alguns pontosque relacionam questões concretas com discussõese apresentações mais gerais feitas pela Marilena epela Ana Clara. Em primeiro lugar, é importante con-siderar a magnitude e permanência da pobreza. Nãose pode perder de vista o quadro maior pela via dasintervenções parciais. Outra questão séria é a dades-historização pela adoção de padrões globais epalavras padronizadas (por exemplo, favelas). Emterceiro lugar, as novas racionalidades que emer-gem, por exemplo, programas de saúde que deixamde ser somente setoriais para adquirir característi-cas especializantes.

Em segundo lugar, deve-se levar em conta a per-manência da pobreza nas cidades. O levantamentodas experiências está desconsiderando a questãoestratégica: volta-se a pensar na intervenção sobreo urbano como o embelezamento da cidade. Querodizer que no debate sobre o urbanismo a questãoda pobreza não é central. A desterritorialização e odesenraizamento existem a partir da questão mun-dial. Muitas vezes falamos de favela como se emtodas as cidades fosse a mesma coisa, mas, na ver-dade, para restabelecer o contato com os morado-res, utilizam-se os termos do vocabulário pelo qual

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podemos atentar para ter mais cuidado.O terceiro ponto é a questão das novas racio-

nalidades que emergem. Eu queria chamar a aten-ção para os programas de saúde. É importante pen-sar a partir do caráter “territorializante” das políti-cas de saúde e educação, emergindo atores que pas-sam a ter um papel fundamental. Os agentes comuni-tários de saúde passam a ser atores que têm umadimensão cultural de um trabalho dignificante, pas-sando a redesenhar as lideranças comunitárias.

Berenice Ramos ] Eu achei muito interessan-te estarmos tentando ter tempo de pensar o concei-to que temos intuitivamente da pobreza, da cidada-nia e dos direitos. São questões que vemos na prá-tica e não temos tempo de pensar. O conceito intui-tivo em torno da questão da pobreza, que inclui apobreza de cidadania, de horizontes, de afeto, ficouconfirmada pelas colocações teóricas. Saúde é maisdo que ter ações curativas. A ação local precisa daação do poder público nos três níveis: municipal,estadual e federal. A articulação com outras áreastambém é importante: geração de emprego e ren-da, educação etc.

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Como atuamos na área de saúde, temos um con-ceito amplo. Vemos que não são só as ações medi-camentosas ambulatoriais que vão resolver estesproblemas, é na participação da comunidade quedevemos mexer em todos estes fatores que leva-rão a uma melhor qualidade de vida. Em relaçãoàs ações mais locais e as que devem ser trabalha-das de forma diferente existindo aquelas peculia-ridades locais, precisamos do apoio de entidadesmunicipais, estaduais e nacionais. Trabalhandomais as questões de prevenção e educação, fazervisitas domiciliares leva mais tempo do que umaconsulta. As políticas estaduais e federais devemacompanhar o nível local.

Sônia Dias ] Uma das coisas que remetempara o lado da prática são os grandes desafios emver como a questão da solidificação das atividadesocorre. Na medida em que a sociedade está cres-cendo, alguns indivíduos catadores vão ficando paratrás, porque não conseguem acompanhar as exigên-cias da sofisticação do processo (disciplina, produ-tividade etc.), são indivíduos que não conseguemalcançar as exigências mínimas. Como compatibili-zar a necessidade de crescimento com a necessi-dade de manter redes de solidariedade em relaçãoa este indivíduo? Como manter uma rede de solida-riedade em relação a estes indivíduos? Como fazera coleta seletiva se tornar um empreendimento semabandonar os catadores que ficaram para trás?

Marcos Formiga ] Julgo importante fazer-mos esta revisão com documentos prévios tendo ocuidado de falarmos uma linguagem que não ex-clua aqueles que a gente quer defender, lembran-do a dicotomia mencionada pelo Pedro Jacobi: odualismo entre o pensar e o agir, o qual estamosexercitando com muita competência. Há a neces-sidade de se falar uma linguagem que possa serentendida. A terminologia especializada é um en-

trave, quem melhor descreve a pobreza são jorna-listas. Gostaria que tentássemos mesclar, semsermos superficiais como jornalistas e sem ser-mos complicados como cientistas. Essa busca éessencial, remetendo ao antropólogo que suja asmãos e se aproxima da realidade. É importante ocuidado com a linguagem para não excluir aquelesque se pretende incluir. Há necessidade de se fa-lar uma linguagem compreensível.

Magdalena Alves ] Estamos pensando emigualdade como ponto de partida ou como ponto dechegada? Se estamos falando de pobreza falamosde populações que têm uma descompensação, tra-balhando eqüidade e igualdade.

Existem diferenças entre as ações locais e asações nacionais. Em municípios onde existe pro-ximidade com as redes sociais obtém-se maiorrespaldo. O problema da continuidade de progra-ma também se coloca como forma de evitar queprogramas sejam implantados a partir da empa-tia de determinados governantes e depois se per-cam essas iniciativas. O desafio é como transfor-mar a exceção em regra. Como operar a trans-formação das políticas alternativas em uma novaproposta de país?

Jacqueline Rosas Silva ] O grande desafioque temos em Ipatinga de implantar qualquer pro-jeto é o de convencer nossos governantes de queisto é possível fazer e pode dar certo. A conta que ésempre feita é a de custo-benefício: ou fazemos istoou urbanizamos uma grande favela. A avaliação émuito difícil, alguns problemas saem de dentro dosmuros e vão de encontro às famílias, porque é mui-to melhor investir em prevenção do que em atendi-mento ambulatorial porque os custos são menores.O grande desafio é convencer a equipe de governode que investir nessas áreas carentes vai ser me-lhor do que atender a classe média, que gera divi-

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dendos políticos. O grande desafio é convencer osgovernantes do retorno que novos projetos pode-rão lhes trazer.

Faz 12 anos que se começou a investir em fave-las, mas a votação do PT não é grande nas favelas,e sim na classe média. Para os favelados, a institui-ção pública é o terceiro elemento em que eles maisconfiam – na visão deles, as igrejas são as institui-ções que mais prestam serviços.

Adauto Cardoso ] Um passo importante é o desuperar a noção best practices e de experiênciasexitosas para refletir sobre políticas. Acumular co-nhecimentos reflexões sobre o que acontece no paístambém é necessário. As práticas bem-sucedidas sãomuito localizadas e nelas se valoriza muito o que lhesé particular. É preciso avançar na contextualizaçãodessas práticas, avaliando melhor como elas se arti-culam com a política global. Mesmo analisando as pró-prias experiências, cabe refletir sobre questões maisgerais, como, por exemplo, de que maneira são defini-das as prioridades, ou que relação existe entre umapolítica setorial e as necessidades globais de determi-nada comunidade. O debate sobre as experiências bem-sucedidas tem a ver com os municípios, com a demo-cratização e com a descentralização. Mas para avan-

çarmos nessa reflexão é preciso sair da idéia de ex-periências ou práticas para pensar políticas. Preci-samos contextualizar essas alternativas. Seria inte-ressante se conseguíssemos avaliar melhor comocada ação se constitui no âmbito global das políticasdo município.

Orlando Júnior ] Queria assumir a importân-cia, neste primeiro momento, da dicotomia entrepensar e agir, entre o teórico e o prático. O jornalis-mo também cria e reproduz estigmas, é importantetrabalhar melhor a linguagem.

Em relação ao tema, fico pensando que, se o mu-nicípio no Brasil é um campo de experimentação ge-ral, com que quadro de referências podemos olhartais experimentos? Entendo que o marco para pen-sar a realidade brasileira é a desigualdade. Qual arelação entre a provisão de serviços vista nas expe-riências trazidas para análise e as estratégias de re-dução da pobreza? Qual a diferença entre política deprovisão de serviços em geral e políticas de reduçãoda pobreza? Por que as experiências analisadas sãoestratégicas? Qual a diferença entre a provisão, emgeral universalista, e políticas específicas para a re-dução da pobreza? Qual a diferença entre as açõesestratégicas e as não-estratégicas?

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Experiênciasdiscutidas

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Buscando a inclusão social de populações que so-brevivem da catação de lixo para venda de materiaisrecicláveis, o município de Belo Horizonte, terceiromaior centro urbano do país, com quase 2,1 milhõesde habitantes, desenvolveu um programa cuja carac-terística fundamental é o enfrentamento da pobrezaextrema por meio de ações no campo das políticaspúblicas que cuidam do lixo urbano.

A Introdução do Catador no Mercado da Reci-clagem é parte de um conjunto de ações inovadorasdesenvolvidas pela Superintendência de Limpeza Ur-bana – SLU, órgão municipal responsável pela lim-peza pública e pela coleta do lixo urbano. Trata-sede um convênio de cooperação técnica e financeiraestabelecido entre essa autarquia e a Associaçãodos Catadores de Papel e Materiais Reaproveitáveis– ASMARE, fundada em 1990 a partir de trabalhodesenvolvido pela Pastoral da População de Rua.

O convênio garante a cobertura dos custos deadministração e a assessoria necessária à viabili-dade da iniciativa. Além disso, articula uma série deoutras instituições governamentais, não-governa-mentais – com clara atuação no campo do associati-vismo e do cooperativismo – e uma entidade empre-sarial. A maioria das instituições não-governamen-tais tem caráter religioso, sendo ligadas à IgrejaCatólica. Essas parcerias buscam não apenas viabi-lizar a atividade propriamente dita, mas tambémgarantir a melhoria da qualidade de vida dos envol-vidos e de seus familiares, com ações que incluem

desde alfabetização até capacitação profissionalpara a gestão da iniciativa, passando pelo acom-panhamento escolar das crianças, aquisição coo-perativada de bens de primeira necessidade etc.

A ASMARE funciona como cooperativa responsávelpela recepção, processamento e venda do materialreciclável, que depois de recolhido é transportado paratrês galpões localizados na região central da cidade.O transporte é realizado pelos catadores que traba-lham nas ruas ou por caminhões da SLU.

Nos galpões, a Asmare realiza a triagem da ma-téria-prima e o pré-processamento, para venda, demais de 400 toneladas de material reciclável pormês. Segundo levantamento socioeconômico reali-zado em maio de 1998, dos mais de 500 catadoresde papel que trabalhavam por conta própria na re-gião central da cidade, 210 já estão inseridos nacooperativa, dos quais 55% são mulheres. Do totalde associados, 54% recebem até dois salários mí-nimos, 40%, de dois a quatro salários mínimos e6%, acima de cinco salários mínimos.

A participação nos rendimentos é proporcionalà produção de cada associado. Uma complexa es-trutura de gestão viabiliza o trabalho realizado pe-los cooperativistas: o núcleo central, composto porum colegiado eleito por dois anos, é auxiliado porsete comissões consultivas, responsáveis pela dis-cussão de temas e pelo desenvolvimento de açõesem várias frentes, como religiosidade, saúde, edu-cação e meio ambiente.

Associação dos Catadoresde Materiais Reaproveitáveis

Expositora: Sônia Dias

BELO HORIZONTE, MG

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O Programa Unidade de Triagem nasceu comoiniciativa do Departamento Municipal de LimpezaUrbana – DMLU, autarquia da Prefeitura de PortoAlegre, importante capital do país, com quase 1,3milhão de habitantes. O Programa é uma das im-portantes frentes de ação da política municipal degestão dos resíduos sólidos, que tem sido referên-cia no debate nacional sobre coleta seletiva e ges-tão ambiental.

O primeiro aspecto a chamar a atenção diz res-peito à coleta seletiva, que é realizada porta-a-porta e praticamente garante cobertura univer-sal (97% da população em 100% dos bairros dacidade). O segundo elemento a destacar é o forteinvestimento na estrutura dos dois aterros sani-tários da cidade, que operam com tecnologiaambiental de ponta e são controlados de forma aencorajar famílias em situação de pobreza a tra-balharem com o lixo, mas de forma digna e sau-dável, retirando adultos e crianças do contato di-reto com os resíduos nos aterros.

As 53 toneladas de lixo seco recolhidas diaria-mente são distribuídas entre as oito unidades detriagem localizadas em diferentes bairros da cida-de. Essas unidades são galpões nos quais ex-cata-dores, ex-papeleiros e moradores de comunidadespobres trabalham de forma associativa na separa-ção, enfardamento e pré-beneficiamento de papel,vidro, metais e plásticos para posterior comerciali-zação no mercado de reciclados. Ao evitar a figurado atravessador, abre-se a perspectiva de que es-ses trabalhadores melhorem seus rendimentos e,

principalmente, evita-se que vivam em condiçõesde trabalho e saúde degradantes.

Os primeiros galpões foram quase inteiramentefinanciados por entidades religiosas. As unidadesmais recentes foram construídas pela Prefeituraem áreas públicas. Em cada galpão, uma associa-ção legalmente constituída é responsável pela ges-tão e execução das atividades. Para isso, cada umadelas conta com apoio técnico do DMLU e de ou-tros órgãos públicos municipais. Tais órgãos aju-dam a capacitar os associados para a gestão dainiciativa e articulam outras importantes parce-rias – na maior parte dos casos, ligadas à IgrejaCatólica –, que atuam também na mobilização po-lítica, compra de equipamentos e em outras fren-tes de ação.

O programa já beneficia diretamente mais de260 pessoas, das quais nada menos que 2/3 sãomulheres, obtendo rendimentos conforme o núme-ro de dias trabalhados em cada mês.

A iniciativa enfrenta dois grandes desafios. Oprimeiro é a autonomização do processo de gestãoda cooperativa ou das associações, em que pese obaixo grau de escolaridade da população envolvidae os enormes limites de acesso à informação. Osegundo desafio é representado pela necessidadede aumentar a produtividade de forma a possibilitarum incremento mais significativo da renda dos coo-peradores ou associados, sem que isso resulte emcompetitividade no interior dos grupos e, conseqüen-temente, no enfraquecimento da necessária solida-riedade entre os mesmos.

Programa Unidade de Triagem

Expositor: Ademir Castro

PORTO ALEGRE, RS

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Magdalena Alves ] Como trabalhar a ques-tão da rotatividade dos catadores? Como resolver oproblema da sazonalidade do preço do papel? O pa-gamento é feito diariamente ou mensalmente? O ma-terial é revendido para depósitos ou existe uma pers-pectiva de manipulação deste material? Pretendemagregar valor ao reciclado?

Sônia Dias ] A rotatividade não é problema,pois o índice de permanência é bom. O que ocorre éum grande número de catadores com doenças, des-de problemas de coluna até doentes terminais comAIDS. A meta é aumentar o número de triadores, oque levará a uma diminuição da rotatividade.

A sazonalidade do mercado de papel é com-pensada pelo comportamento do mercado de ou-tros materiais (plásticos e metais). Paralelamenteestá sendo feito o estudo de viabilidade deste seg-mento para se obter subsídios para a resoluçãodo problema.

O pagamento é feito semanalmente, menos obônus de produtividade de 20%, que é pago men-salmente.

Debate

Os resultados da pesquisa indicam que 41% doscatadores têm mais de cinco anos de associação.

Ademir Castro ] Cada unidade possui umasérie de suplentes. Além disso, os índices de rotati-vidade estão diminuindo. Em Porto Alegre os cata-dores têm um fundo de reserva, que é utilizado tam-bém para enfrentar as épocas de “vacas magras”.A rotatividade é resolvida pela lista de suplentes decada associado (são 10 suplentes por associado).

Adler do Couto ] Há alguma articulação doprograma de BH com a área de saúde, para enfren-tar os problemas de doença dos catadores ?

Sônia Dias ] Os catadores doentes são atendi-dos de forma especial. A própria comissão de saú-de busca desenvolver uma sistemática que possibi-lite o acompanhamento e o auxílio a estas pessoas.

Pedro Jacobi ] No caso de BH, o poder públi-co tem um papel importante no apoio financeiro. Issodemonstra que esse tipo de experiência exige apor-

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te financeiro do poder público para que possa serrepetido em outras localidades. Não é possível com-bater a pobreza sem subsídios.

Sônia Dias ] O reconhecimento do papel a serdesempenhado pelo poder público e pelos demaisparceiros não se dá de forma suave, os conflitossão inevitáveis, até porque os tempos políticos decada um são diferentes. O que se fez foi buscar aimplantação de um comando colegiado em que es-ses diversos atores tivessem espaço.

Marcos Formiga ] A questão educacional pre-ocupa em ambos programas apresentados, não nosentido de educação básica, mas no sentido de pro-ver estes trabalhadores de condições para exerceroutras atividades. Existe algum estudo que demons-tre o valor agregado pela educação do grupo?

Sônia Dias ] BH não tem estudos sistemáticossobre o impacto do processo de educação na vidados catadores, mas de qualquer forma tem-se ob-servado o reflexo positivo do processo. Existe umaênfase no processo de educação, passando pela in-serção destes catadores na sociedade e pelo auto-gerenciamento das atividades da ASMARE. A apos-ta tem sido feita na geração mais jovem, por meioda oficina de marcenaria, em que se prepara os fi-lhos dos catadores para uma nova profissão.

Ademir Castro ] Há iniciativas de qualificaçãode mão-de-obra como, por exemplo, o treinamentode catadores para a indústria de plásticos. Porém, aabordagem educacional ainda é muito incipiente.

Celso Santos ] Todos os projetos buscam aauto-sustentabilidade econômica, porém o foco pri-vilegiado nesta questão não é pertinente. Deve-se con-tabilizar socialmente outros ganhos auferidos como,por exemplo, o fato de as prefeituras deixarem derecolher o lixo e deixarem de fazer aterros. Os pro-jetos retiram da prefeitura um ônus, mas isso não écreditado aos catadores. Como contabilizar?

Ademir Castro ] Este é um grande debate.Em Porto Alegre, há reivindicação dos catadores porsalários. A posição oficial é contrária. A prefeiturareconhece o papel fundamental dos catadores, po-rém acha que não deve pagar salários, pois isto pro-vocaria um estímulo ao não trabalho.

Pedro Jacobi ] O argumento do Ademir épertinente, pois discute o componente ecológico queparece deixado meio de lado. O argumento do Cel-so é complicado porque é preciso discutir o compo-nente ambiental da sustentabilidade, que não é ape-nas econômica.

Celso Santos ] O fato de a prefeitura nãoestar catando o lixo promove um ganho financeiroque poderia ser repassado aos catadores.

Ademir Castro ] Sob essa ótica, o empreen-dimento não seria viável, pois o aterro é mais bara-to do que a reciclagem.

Sônia Dias ] BH reconhece que a economiamensal é de R$ 9.000,00 em aterros. A reciclagemde 50 quilos de papel salva uma árvore, informaçãoesta amplamente divulgada junto aos catadores.

Grazia de Grazia ] A estratégia não ficoumuito clara. A preocupação é gerar emprego erenda ou promover uma nova política pública. Quemecanismos existem para garantir a continuida-de do trabalho?

Carlos Pontes ] A sustentabilidade deve serolhada como um todo, pois a existência de recicla-gem não significa que não se necessitem de aterros.

Jan Bitoun ] Existe um mercado da reciclagem.Na verdade, a prefeitura não deixa de recolher o lixo,ela intervém junto aos catadores privados para regularesse mercado. A força das experiências está no aspec-to cultural, atraindo os catadores para que escapemdos atravessadores.

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Fábio Atanásio ] O trabalho dos recicladorespromove um impacto junto ao gasto da municipali-dade em relação à coleta de lixo. Esses recursoseconomizados poderiam ser utilizados para esti-mular esse tipo de iniciativa.

Ademir Castro ] A estratégia política já estásendo delineada no fórum com os catadores, no qualse discute, por exemplo, a criação de pequenas in-dústrias de beneficiamento de plásticos. O geren-ciamento integrado dos resíduos sólidos foi exem-plificado pelo trabalho com os hospitais da cidade:lixo orgânico é pasteurizado e direcionado a suino-cultores; lixo seco é encaminhado às unidades dereciclagem etc. Outras formas de redução do lixodestinado a aterros estão sendo utilizadas ou pen-sadas, inclusive cobrando a assunção da responsa-bilidade das indústrias pelo que lhes cabe. Os gal-pões fazem concorrência direta com os atravessa-

dores, esvaziando suas atividades. O que se buscaé o máximo aproveitamento do lixo, de forma inova-dora e criativa.

Sônia Dias ] As ações desenvolvidas se articu-lam em torno do gerenciamento integrado de recur-sos sólidos, tentando maximizar o potencial de utili-zação e reciclagem, mas além disso existe um cará-ter social de atendimento à população de rua. Aíestá sua articulação. Na lei orgânica do municípiofoi incluída a norma segundo a qual a reciclagemdeve ser feita por cooperativa de trabalhadores au-tônomos. Também se busca a auto-sustentabilida-de do projeto, com a consciência de que os catado-res estão prestando serviços públicos.

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A experiência Meio Ambiente e Cidadania de Olin-da, cidade localizada na Região Metropolitana de Re-cife, com aproximadamente 350 mil habitantes, é umainiciativa conjunta do Unicef e da Prefeitura Municipalde Olinda, que tem como objetivo mais amplo promo-ver a inclusão social das famílias que sobrevivem dacatação no Lixão de Aguazinha. A iniciativa existe tam-bém em outras localidades, como Manaus, no Amazo-nas, e Rio Branco, no Acre. Em Olinda, reúne parce-rias com o setor público estadual, organizações não-governamentais e instituições comunitárias locais naarticulação de um conjunto de intervenções.

O Projeto trabalha com a noção de gestão doambiente urbano, como um processo que envolvediversas variáveis – educação, meio ambiente, saú-de pública, emprego e renda, habitação, garantiade direitos etc., situando essa noção em um contex-to mais amplo. Assim, a gestão ambiental passa ater um tratamento qualitativamente diferenciado emrelação ao padrão ainda predominante, que enten-de a limpeza pública e a gestão de resíduos sólidoscomo questões “técnicas”, praticamente desvin-culadas do plano socioeconômico.

A estratégia desenvolvida em Olinda tem comobase duas palavras-chaves: integração e reinserção.O trabalho integrado dos diversos parceiros e seto-res da Prefeitura está voltado para reinserir os reci-cladores do lixão no sistema produtivo formal, asse-gurar a retirada de 350 crianças e jovens do lixão,procurando garantir condições de acesso e de per-

manência na escola. Há um acompanhamento sema-nal, que permite mudanças graduais de hábitos e valo-rização das pessoas, do trabalho e da escola, dandosustentabilidade e continuidade ao Projeto.

Entre seus resultados mais significativos, a ini-ciativa conseguiu retirar do Lixão aproximadamente150 das 350 crianças que ali trabalhavam, reinse-rindo-as na escola e em atividades de lazer e depré-profissionalização em horário complementar.

Houve ainda a instalação de 120 moradias na VilaUnião; a instalação do aterro de Aguazinha; o iníciodo processo de educação ambiental em quatro bair-ros – buscando-se parcerias com comerciantes emoradores – e a redução da morbi-mortalidade apartir de ações de atenção primária realizadas pelospostos de saúde e por serviços de combate àsendemias. Outro resultado importante foi a criaçãoe legalização da “Associação Reciclar para Mudar aVida”, que envolveu um longo processo de debatescom a comunidade, de modo a transformar a entida-de em uma alternativa de geração de renda.

Um dos maiores desafios da experiência estárelacionado à construção coletiva das ações paraenfrentar a miséria da população local. Esse pro-cesso deve ter como eixos fundamentais a garantiade apoio financeiro por parte do poder público, anecessidade de mobilização social permanente paraque as mudanças adquiram enraizamento na comu-nidade e a (re)educação como prioridade em todasas atividades.

Meio Ambiente e Cidadania

Expositor: Fábio Atanásio

OLINDA, PE

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No município do Rio de Janeiro, segunda maiorárea metropolitana do país, residem 5,5 milhõesde habitantes, dos quais aproximadamente 420 milem áreas de risco de enchentes, deslizamentos eacidentes geotécnicos. A preocupação com a redu-ção dos riscos, a recuperação ambiental das áreasdegradadas e a geração de trabalho para a popula-ção residente nestas áreas levou a Secretaria Mu-nicipal do Meio Ambiente a desenvolver o ProjetoMutirão Reflorestamento.

A ação envolve parcerias entre o poder público eas associações de moradores, cabendo ao órgão pú-blico o planejamento e elaboração dos projetos, oacompanhamento técnico, a concessão dos equipa-mentos, o treinamento da mão-de-obra, a remune-ração das equipes e as atividades de educaçãoambiental. As associações de moradores recrutamas equipes, escolhem os encarregados, fiscalizam oandamento do trabalho, mobilizam a comunidade epromovem campanhas educativas e de esclarecimen-to dos moradores.

O Projeto apresenta importantes vantagens secomparado às iniciativas tradicionalmente desenvol-vidas nessa área, nas quais quase sempre grandesempreiteiras ganham as licitações públicas, comelevadíssimos custos para os contribuintes. Em pri-meiro lugar, cria frentes de trabalho organizadas naforma de mutirões, empregando mão-de-obra local,propiciando qualificação e renda aos mais pobres.Além disso, incentiva o associativismo, ao construir

parcerias com as Associações de Moradores, tantopara a alocação da mão-de-obra, quanto para a dis-cussão e definição de prioridades, organização dasfrentes de trabalho etc. O terceiro aspecto a desta-car é que, ao envolver os próprios moradores, ainiciativa estimula o aprendizado sobre as princi-pais causas da degradação do meio ambiente.

Funcionando desde 1986, o Projeto reflorestou1000 hectares, plantou cerca de 2,1 milhões de mu-das e beneficiou 67 comunidades. Em junho de 1998,a iniciativa ocupava, em 42 frentes de ação, 550trabalhadores, dos quais 82% eram desemprega-dos. Para 40% das famílias envolvidas, o Projetorepresentava a única fonte de renda, pagando re-muneração equivalente a 1,5 salário mínimo paraos serventes e a 3,4 salários mínimos para os encar-regados das frentes de trabalho.

Finalmente, cabe ressaltar a considerável di-minuição dos custos públicos, tanto do ponto devista do gasto monetário, quanto do ponto de vistasocial, considerando-se os seguintes elementos:geração de renda, qualificação de mão-de-obra,melhoria do meio ambiente, incorporação de valo-res relativos à educação e à preservação ambiental(aí incluída a vigilância executada pelos própriosmoradores de áreas reflorestadas contra a ocu-pação irregular das mesmas), e a prevenção deacidentes geotécnicos, muitos dos quais resultamem catástrofes irreparáveis, sobretudo nos gran-des centros urbanos.

Projeto Mutirão Reflorestamento

Expositor: Celso Junius

RIO DE JANEIRO, RJ

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Peter Spink: Quais concepções de pobrezaestão permeando a discussão? Que temas estãoemergindo tendo como foco essa questão?

Marcos Formiga ] A importância de experi-ências efetivas é destacada. Neste último caso, odestaque dado à educação merece ser enfatizado.Fico satisfeito com a visão sistêmica do projeto deOlinda, tendo a educação sido contemplada ade-quadamente.

Magdalena Alves ] Políticas públicas estãoassentadas em iniciativas populares, como estraté-gia de sobrevivência. Essa incorporação de deman-das populares é fundamental para o sucesso destaspolíticas. No relato das quatro experiências, des-taca-se que se trata de políticas públicas que dizemrespeito a aspectos reais da vida das pessoas.

Pedro Jacobi ] Considero ser preciso dosar oentusiasmo da Magdalena, porque todas essasexperiências contam com o apoio de entidades dasociedade civil. Reintroduzo o tema da reengenhariainstitucional.

Marta Pordeus ] A dificuldade de determina-ção dos limites da pobreza é patente, sendo um pro-blema não só de recursos mas também social. So-

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mado ao conhecimento técnico é importante a atua-ção das comunidades. Considero muito válidas asiniciativas expostas. Defendo que o conhecimentotécnico seja colocado à disposição dos cidadãos nonível micro.

Jan Bitoun ] A visão intersetorial é necessá-ria para a integração do ambiente urbano. O impor-tante é a atuação integrada do poder público comsuas diversas agências. Ressalto a integração in-tersetorial como absolutamente necessária para agestão do ambiente urbano.

Ademir Castro ] A questão da educação épertinente, é o ideal, porém nem sempre é o possí-vel. A indústria também deve fazer sua parte,racionalizando o uso de materiais que geram lixo esão finitos.

Sônia Dias ] A associação entre educação eeducação formal deve ser evitada. Há outros espa-ços e oportunidades educacionais. A questão do lixonão deve ser vista sob um enfoque puramente téc-nico, é possível construir uma visão diferente a par-tir dos órgãos de limpeza pública. É possível cons-truir uma concepção diferente sobre limpeza públi-ca no interior dos próprios órgãos públicos envolvi-dos com a matéria.

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Ipatinga, no Estado de Minas Gerais, é uma ci-dade de porte médio, com quase 200 mil habitantes.Com uma economia fortemente dinamizada pelo fatode ser a sede da Usiminas, uma das maiores side-rúrgicas do país, a cidade vem enfrentando na últi-ma década as conseqüências de um crescimentodesequilibrado entre as dimensões econômica esocial, gerando impactos consideráveis no que serefere à problemática urbana. O programa de AçãoIntegrada nos Bolsões de Pobreza Urbanos procuramodificar essa realidade buscando transformaçõescom base na concepção do patrimônio familiar comoacervo de bens do qual a família pode se valer paraenfrentar momentos de crise e garantir sua segu-rança, incluindo trabalho, moradia, saúde, educação,universo relacional, capital social etc.

Partindo da constatação de que a construçãode moradias não constitui, por si só, estratégia decombate à pobreza, a equipe profissional envolvi-da na gestão do Programa procura intervir de for-ma a promover a mobilidade social das populaçõesde baixa renda por meio de uma abordagem inter-disciplinar. Coordenada por um grupo que envolverepresentantes de vários órgãos públicos munici-pais, além de parcerias com o Movimento Orga-nizado dos Sem Casa e outras instituições públi-cas e privadas, objetiva, a partir da construção demoradias em regime de mutirão, consolidar asdemais ações de suporte indispensáveis para umaefetiva construção da cidadania.

É importante frisar que a participação popular nãoé vista pelo Programa como mecanismo de reduçãodos custos para a construção das casas. Atualmente,o índice de utilização da mão-de-obra dos mutirantescorresponde, aproximadamente, a apenas 1/4 do tra-balho empregado. O restante é feito por profissio-nais remunerados. O incentivo à participação popu-lar visa principalmente à construção de elos comuni-tários para discussão e mobilização. Pretende-se tam-bém criar mecanismos para que os movimentos so-ciais organizados protagonizem o processo de deci-são em questões como a gestão dos recursos e aseleção dos beneficiários.

O programa tem no pós-assentamento uma desuas características básicas. Realiza também inter-venções em educação e saúde, ações complemen-tares relativas ao meio ambiente e, principalmente,geração de trabalho e renda, garantindo excelentesresultados. Outro aspecto a destacar é o trabalhode titulação dos imóveis, estimulando a conservaçãoe melhoria das residências, ao tornar a família pro-prietária de sua casa.

Do ponto de vista das diversas políticas públicassetoriais, o foco é deslocado da “atenção aos po-bres” para a “garantia dos direitos”, introduzindonovas formas de atenção. O acesso a serviços pú-blicos (como a educação) não ocorre sob a justifica-tiva de que a população-alvo encontra-se em situa-ção de pobreza, mas simplesmente por ser um di-reito de todo e qualquer cidadão.

Ação Integrada nos Bolsões de Pobreza

Expositora: Jacqueline Rosas Silva

IPATINGA, MG

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Localizada no Estado do Piauí, um dos mais po-bres do país, Teresina foi a capital brasileira quemais cresceu em termos populacionais nos anos 80.Com status de centro urbano regional, acaba atrain-do importante fluxo migratório das cidades próxi-mas, de menor porte, tanto do próprio Piauí quantodos estados vizinhos. A seca na zona rural intensifi-cou essa migração.

Nesse cenário de escassez generalizada de re-cursos, a questão habitacional é apenas um dos de-safios postos pela realidade socioeconômica para aredução da pobreza, e também aqui os números nãodeixam margem para dúvidas quanto à dimensão doproblema: aproximadamente 100 mil pessoas resi-dem em condições precárias nas áreas de risco, aschamadas vilas, muitas das quais em regiões alaga-diças. É nessa realidade que o Programa de Reas-sentamento de Famílias atua.

Desenvolvido desde 1993 pela Secretaria Mu-nicipal de Habitação e Urbanismo, o Programa operabasicamente em duas frentes: 1) mutirão para a cons-trução de moradias, e 2) melhoria das condições dehabitação. Em ambas tem como premissa a manuten-ção e o reforço dos laços comunitários envolvidos nasrelações de vizinhança. Nas intervenções anterioresisso não era considerado, resultando na desmontagemdas redes de solidariedade construídas como formamais imediata de relação com o mundo social e atémesmo como estratégia de sobrevivência.

Para a construção de moradias, as áreas são prio-

rizadas de acordo com sua situação de risco e com asituação socioeconômica das famílias. A partir da se-leção das famílias, realizam-se reuniões com as lide-ranças comunitárias e as famílias beneficiárias, paradiscussão da implementação das ações. A edificaçãodas moradias ocorre em regime de mutirão. Final-mente, ocorre o reassentamento das famílias e a titu-lação dos imóveis e terrenos.

Até 1999, o Programa já havia beneficiado 4.977famílias (aproximadamente 25 mil pessoas) com aconstrução de moradias e a realização de 14 assen-tamentos. Já foram beneficiadas 10.597 famílias coma regularização de lotes e 12.330 famílias com aimplantação de unidades sanitárias. O desenvol-vimento de ações intersetoriais traz importantes re-sultados para a melhoria da qualidade de vida emáreas como educação e saúde, conforme demonstraa queda significativa da mortalidade infantil.

Outro fator importante é a vitalidade dos movi-mentos sociais organizados em torno da questãoda moradia. Essa vitalidade pode ser observada namobilização popular gerada em cada ação de reas-sentamento, na interlocução com os conselhos co-munitários e associações de moradores e na atua-ção das federações que representam o movimentohabitacional. Um dos importantes avanços foi a cria-ção, em 1997, do Fundo Municipal de Habitação, cu-jos recursos são geridos pelo Conselho Municipal deHabitação, composto por representação paritária dopoder público e da sociedade civil.

Programa de Reassentamento de Famílias

Expositor: Kleber Montezuma

TERESINA, PI

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Recife, capital de Pernambuco, com quase 1,35milhão de pessoas, é o centro de uma das maioresregiões metropolitanas do país e, como tal, vemenfrentando em escala crescente os problemas so-ciais relacionados ao quadro de rápida expansão.Tanto nos anos 30 quanto nos 70, dois períodos deacelerado inchamento da cidade, grande parte des-ses problemas foi “resolvida” com a expulsão dapopulação pobre das áreas urbanas, resultando naperiferização da cidade.

Evidência dessa herança histórica é a ausênciade reconhecimento pelo órgão público de planejamen-to, até o início dos anos 80, das áreas de ocupaçãoirregular, que apareciam como simples “manchas”nos mapas da cidade. O reconhecimento oficial detais áreas pelo aparato público é marcado pela legis-lação que possibilitou a criação, nos anos 80, daschamadas ZEIS, ou Zonas Especiais de InteresseSocial. Elas totalizam 65 áreas, nas quais estão apro-ximadamente 200 favelas e 280 mil pessoas.

O Plano de Regularização das Zonas Especiais deInteresse Social – PREZEIS, tem por objetivo centrala inclusão, no planejamento urbano, de áreas pobres,as chamadas “cidades informais”, que crescem ese desenvolvem às margens do planejamento oficial.Funciona por meio de parceria entre o poder públicomunicipal, organizações não-governamentais e as as-sociações de moradores, realizando atividades de pla-nejamento, elaboração de projetos e execução deobras de urbanização nessas áreas. Os recursos para

urbanização e regularização fundiária são alocadosem um fundo específico, cuja aplicação é definida deforma participativa. Cada uma das áreas deve consti-tuir uma Comissão de Urbanização e Legalização –COMUL, que discute e delibera sobre os processosespecíficos de urbanização e legalização e indicamrepresentação para o Fórum do PREZEIS, instânciasuperior com poder deliberativo sobre a utilizaçãodos recursos. Das 65 áreas, 34 já possuem as CO-MULS instaladas e 31 ZEIS já vêm recebendo algumtipo de intervenção, beneficiando 95 mil pessoas. Emcinco áreas, o processo de regularização fundiáriade todas as moradias já está em andamento, atingin-do 4,5 mil pessoas.

A regularização fundiária e as melhorias urba-nas e habitacionais ainda apresentam resultadosbastante acanhados frente às dimensões do proble-ma. O destaque da iniciativa fica por conta, princi-palmente, do processo de mobilização social e polí-tica que vem sendo desencadeado.

Um dos desafios está na necessidade de ampli-ar a iniciativa, tarefa difícil no quadro de escassezde recursos locais frente à magnitude da realidadede exclusão social. Há também dificuldade de arti-cular ações que permitam uma visão mais integra-da da problemática social existente nestas áreasda cidade, de forma a coordenar as diversas políti-cas públicas para que o tratamento das questõeshabitacional e urbanística não seja realizado de for-ma isolada.

Plano de Regularização das ZonasEspeciais de Interesse Social - PREZEIS

Expositoras: Neide Silva e Marta Pordeus

RECIFE, PE

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Maria do Carmo Brant ] Muitas vezes,limpeza urbana, meio ambiente e pobreza são iso-ladas. No entanto, isso não deve ocorrer na ges-tão da cidade. As questões da limpeza urbana, domeio ambiente e da pobreza não podem ser des-coladas na gestão das cidades. Trabalhar a ques-tão da limpeza sob um outro enfoque é a questão,buscando a incorporação dos pobres na gestão eoperação dos programas.

Ricardo Beltrão ] A grande dificuldade des-sas políticas públicas é justamente a gestão autô-noma, o que tem muito a ver com educação, no sen-tido de aprendizado coletivo.

Os quatro casos analisados se inserem num con-texto de políticas públicas setoriais mais amplas, oque indica uma sensibilização sobre a questão dapobreza. Há modelos sistêmicos que apontam paraa pobreza em áreas que, tradicionalmente, nãoenfocavam a questão da pobreza.

Marilena Jamur ] Há resultados de nature-zas diferentes. Proponho, assim, o desenvolvimentode duas frentes de trabalho: uma seria o desenvol-vimento de novos indicadores qualitativos; a ou-

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tra, um trabalho de avaliação de políticas públicas,que articulasse indicadores quantitativos e qualitati-vos. É preciso resgatar a dimensão da solidariedadecomo princípio estruturador do sistema de prote-ção social.

Fábio Atanásio ] No Lixão da Aguazinha amortalidade caiu de 175 por mil para 35 por mil.

Celso Junius ] O projeto Mutirão Refloresta-mento, como outros do gênero, cria oportunidadesde ocupação para segmentos da população que seencontram em situação absolutamente crítica. Dos600 incorporados ao Projeto, 82% estavam desem-pregados. Há necessidade de flexibilizar as formasde contratação dessas pessoas.

Fábio Atanásio ] Qual a razão para a baixarotatividade dos moradores dos conjuntos deIpatinga?

Jacqueline Rosas Silva ] A baixa rotativida-de está restrita aos conjuntos implantados por mu-tirão. Portanto, trata-se de população que tem ori-gem em movimentos sociais organizados. Estes

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movimentos reivindicam a autogestão e os proble-mas decorrentes da rotatividade ainda não estãobem explicitados.

Pedro Jacobi ] Diante das três apresenta-ções, proponho maior reflexão sobre a noção de po-breza, que está por trás das políticas desenvolvi-das. Há dois outros componentes importantes: exclu-são e desigualdade. Qual é o tipo de noção maisadequada para pensar políticas de combate a po-breza e a exclusão em relação às desigualdades?

Ana Christina Barbosa ] Entendo que assituações de pobreza são diferentes em função darealidade local. Deve se reconhecer as diferençase buscar uma solução específica para problemasespecíficos.

Pedro Jacobi ] A palavra pobreza pode serreducionista. As diferentes iniciativas apresentadasconfiguram um esforço governamental de integrarações. Isso reforça a importância da engenhariainstitucional. As diferentes ações aqui apresenta-das configuram a possibilidade de existir um posi-cionamento governamental que integre diversasações. A existência de aspectos educativos colo-ca-se como essencial para a problemática de en-frentamento da pobreza.

Magdalena Alves ] Na construção das casasem Ipatinga são incorporados trabalhadores semanaise sazonais, oriundos da comunidade. Como se dá essainteração? O que é autoconstrução assistida?

Jacqueline Rosas Silva ] Mutirão não épropriamente uma novidade. A visão anterior eraum tanto quanto romântica (trabalhando juntos numperíodo, todos ficarão unidos e felizes no final).Não é bem assim: quando termina, o cara quer maisé fechar a porta e não ver a cara de ninguém porum tempo. Na autoconstrução assistida é um pou-co diferente. Não é somente o trabalho que vai pos-sibilitar a integração das pessoas. O grosso do tra-

balho é feito por profissionais. Dos 40% de mão-de-obra, somente 10% são realizados pelos mu-tirantes, os outros 30% por profissionais, o intui-to é que, no trabalho de fim de semana, essesmoradores sejam incorporados em programas so-ciais. A participação dos moradores acaba funcio-nando como estratégia para inserir outras discus-sões. Se só eles trabalham no final de semana, nãoquerem parar para discutir nada, querem fazer aobra andar, é claro. A novidade é o gerenciamentopela Associação.

Kleber Montezuma ] A construção da mora-dia por intermédio da população não por questõestécnicas. Em Teresina, a prefeitura entra com o ter-reno, com o financiamento dos materiais de cons-trução e com a infra-estrutura. Cada família éresponsável pela construção da sua moradia.

Iraci Reis ] Pensar programas de combate àpobreza no Brasil significa pensar experiências eações com o intuito de alcançar melhor efetivida-de dessas políticas. Deve-se adotar programas di-ferentes para atender a populações diferentes.As especificidades de cada local têm que ser le-vadas em consideração. Quais são os indicado-res utilizados para avaliação de políticas de com-bate à pobreza? Como incorporar traços culturais,relações sociais e indicadores subjetivos? São es-ses indicadores que estimulam a participação, deforma concreta.

Maria do Carmo Brant ] Relatórios feitospor instituições multilaterais abordam mais resul-tados, enquanto ONGs preocupam-se mais com pro-cessos. Essas duas dimensões precisam dialogarmais. Todos os programas tem de ser multisseto-riais se realmente existe a preocupação do comba-te à pobreza. A descontinuidade de políticas tam-bém é um problema sério a ser considerado.

Marcos Formiga ] Entendo que desenvolvi-mento social tem na educação um multiplicador, mas

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a educação não acontece isoladamente. Deve-seconsiderá-la como um dos componentes em proces-sos de desenvolvimento social. Há necessidade decruzar processos e resultados. Levar experiênciasde uma localidade para outra faz sentido. Existe umapreocupação com a visão segmentada da atuaçãopública. Há necessidade de cruzamentos e comple-mentaridades entre processos e resultados.

Jan Bitoun ] É significativo que se fale emfavela de forma indiscriminada, sem considerar aforma como a população designa o local onde vive.A forma como a pessoa chama o lugar onde moratem significado. Não pode ser desprezada.

Grazia de Grazia ] O enfrentamento da po-breza não se dá apenas com implantação de infra-estrutura. O que está sendo gerado com os proces-sos de participação e como se está valorizando aorganização da população? Gostaria de saber se es-tão sendo valorizados apenas os protagonistas.

Marilena Jamur ] Volto ao ponto de que oconceito de pobreza tem um valor descritivo. Nãotem qualquer poder explicativo. Algumas concep-ções de pobreza podem ser importantes para a le-gitimação de ações políticas e de políticas públi-cas. Por outro lado, o conceito de desigualdade éfundamental, porque a origem da pobreza está aí.O conceito de exclusão é muito mais útil, na medi-da em que ele não nega o conceito de desigualda-

de e ainda integra os processos que levam à po-breza. Alguns não tem propriedade alguma, patri-mônio algum, apenas sua força de trabalho, cujovalor está sendo dilapidado rapidamente nos nos-sos dias. Cabe um trabalho de aprimoramento parademonstrar que efeitos têm as experiências apre-sentadas. Ressalto a importância dos indicadoresquantitativos e qualitativos, com um aprimoramentopara conferir maior visibilidade à importância dediferentes experiências.

Kleber Montezuma ] Considero que as expe-riências apresentadas têm relação próxima com aspreocupações quanto a resultados. No caso de Tere-sina, o dado qualitativo mais importante é a reduçãoda mortalidade infantil. Outros resultados interes-santes estão na área da educação. Tem sido percebi-do o nível de melhoria de vida das populações bene-ficiadas. Após seis ou sete anos de trabalho, a quali-dade de vida mudou por meio do acesso a progra-mas de saúde, a equipamentos de educação, às for-malidades de registro civil, a oportunidades de orga-nização comunitária etc. Já foram atendidas 20.000pessoas por mutirão habitacional; 34.640 pessoasforam beneficiadas pelas regularização de lotes;48.000 pessoas foram beneficiadas pela construçãode fossas sépticas. Duas coisas são fundamentais:continuidade administrativa e abertura para a orga-nização comunitária. O Censo de Vilas e Favelas estána sua terceira edição, em 99. Foram feitos outrosem 93 e 96, permitindo acompanhar a evolução.

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Jacqueline Rosas Silva ] Não tenho dadossobre o déficit habitacional em Ipatinga. Tenho ape-nas uma estimativa baseada no movimento social or-ganizado: 3.000 moradias. O projeto de Ipatinga estámais preocupado com o processo. Demora-se 1,5 anopara a construção de 200 casas, quando se poderiaconstruí-las em seis meses. Prefere-se demorar mais,para que se possa realizar o trabalho social, que pre-para a população para valorizar o novo patrimônio. Osindicadores devem servir para avaliar o desenho dosprojetos e para avaliar os resultados. Para avaliar osprojetos, uma das formas é o modelo de gestão (quedeve ser integrado pela participação multissetorial edeve prever canais para a participação popular). Umdos pontos positivos na experiência de Ipatinga foi ofato de o BIRD ter exigido gerenciamento integradoquando financiou um dos conjuntos habitacionais. Issoevita o duplo, triplo gasto do fundo público.

Marta Pordeus ] Os recursos orçamentáriosde Recife para atender as necessidades presentessão insignificantes. O fundamental é ter o mecanis-mo do PREZEIS já montado. Há o exemplo da ZEISModelo “João de Barros”, onde foram diversas asconquistas da população. Os resultados materiaisconcretos são pequenos em Recife. Mas do pontode vista de capacitação de lideranças, de cidadaniaetc., o processo está criado.

Neide Silva ] De fato, somente uma área foiregularizada em Recife. Mas, por outro lado, é im-

portante destacar a qualificação da população paraa discussão de certos temas, como urbanização, usodo solo urbano, fiscalização etc. Como indicadoresimportantes, destaco o processo de gestão compar-tilhada, a qualidade dos serviços, os recursos dis-poníveis, a escolarização de jovens e adolescentes(mas ainda com muita repetência).

Ana Christina Barboza ] Para o BNDES,qualquer projeto começa com a identificação do pro-blema. Assim, na análise é fundamental que o pro-blema esteja bem definido. O banco exige participa-ção comunitária e valoriza a articulação de ações. Éimportantíssimo que o projeto tenha uma unidadegestora, que faça a integração com todos os envol-vidos. O monitoramento, para o banco, é tanto umaferramenta de avaliação do projeto, como de ava-liação das metas. Para o BNDES, é fundamental quese pense na forma como o projeto terá continuida-de. O projeto deve ter potencialidade para induzirtransformações.

Carlos Pontes ] Na estrutura de gestão doPREZEIS, os canais institucionalizados na prefeitu-ra têm problemas que são próprios da instituição,cuja cultura não é a de integração das ações.

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Experiênciasdiscutidas

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Situada na Região Metropolitana do Rio de Ja-neiro, a cidade de Niterói é considerada um dos mu-nicípios brasileiros melhor posicionados quanto àqualidade de vida. Apesar disso, estima-se que apopulação em situação de risco social totalize apro-ximadamente 120 mil dos seus pouco mais de 450mil habitantes.

Em 1992, a Fundação Municipal de Saúde, órgãomunicipal gestor das políticas públicas de saúde, im-plementou o primeiro módulo do Programa Médicode Família, com o objetivo de melhorar a qualidadedos serviços nessa área. O Programa focalizavaprincipalmente as regiões da cidade com maioresíndices de pobreza. Baseado no sistema cubano deatendimento em saúde, a implementação da inicia-tiva foi pioneira no Brasil e acabou, em alguma me-dida, influenciando a proposta federal na área desaúde da família, formulada apenas em 1993.

Em novembro de 1998, o Programa já tinhaimplementado 13 módulos, em 12 comunidades,sendo que cada módulo é composto por quatro oucinco equipes. Cada comunidade escolhida é divi-dida em setores de 200 a 250 famílias, que devemser atendidas por uma dessas equipes, cada umadelas composta por um médico e um auxiliar deenfermagem. Ambos devem morar na própria co-munidade, atuando nos mesmos moldes de um agen-te comunitário de saúde. Cada módulo possui aindauma equipe multiprofissional, que presta apoio esupervisiona o trabalho de campo. O Programa contatambém com seis Policlínicas Comunitárias, que

prestam atendimento de maior complexidade.A partir do cadastramento das famílias, cada

equipe faz um levantamento de informações bá-sicas sobre as condições socioeconômicas e higiê-nico-sanitárias, elaborando um diagnóstico de saú-de do setor sob sua responsabilidade e identifican-do grupos prioritários.

Com relação ao modelo de gestão, a grande ino-vação fica por conta do papel desempenhado pelasassociações de moradores, com as quais a Fundaçãoestabelece convênio. A Fundação Municipal de Saú-de é responsável pela coordenação geral do Progra-ma, pela seleção de pessoal, compra de material etc.Cada associação conveniada, por sua vez, adminis-tra a contratação e demissão dos profissionais dasequipes e faz a gestão dos recursos financeiros des-tinados ao pagamento desses profissionais. Com aexperiência já consolidada, o Programa tende a setornar o elemento mobilizador em torno do qual acomunidade pode se organizar, não apenas paraviabilizar sua implementação, mas também para aconquista de outras melhorias na oferta de serviçospúblicos e de infra-estrutura urbana.

Em relação à melhoria na qualidade do aten-dimento surgem, entre outros, os seguintes resul-tados: maior cobertura a gestantes e crianças re-cém-nascidas, diminuição do número de cesarianase de cirurgias para esterilização feminina, quedaacentuada da subnutrição infantil, queda do núme-ro de atendimentos de urgência e maior controle dedoenças crônico-degenerativas.

Programa Médico de Família de Niterói

Expositor: Pedro Lima

NITERÓI, RJ

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Com quase 1,5 milhão de habitantes, a cidade deCuritiba é a sexta mais populosa do Brasil. Capital doEstado do Paraná, desde a segunda metade dos anos70 vem se destacando no cenário nacional pelas solu-ções inovadoras nos campos urbanístico e admi-nistrativo. Apesar do seu rápido crescimento popula-cional no período recente, Curitiba permanece combons indicadores de qualidade de vida, comparativa-mente ao restante do país. O município se organizaadministrativamente em regionais, que buscam inten-sificar ações em rede entre as diversas políticas pú-blicas em cada área geográfica da cidade.

Inserido na estratégia do Sistema Único de Saú-de (SUS) para os grandes centros urbanos, o Pro-grama Saúde da Família de Curitiba está sendo gra-dativamente implementado desde 1995, adotando-se os seguintes critérios para escolha das áreas:risco social, indicadores epidemiológicos desfavo-ráveis, dificulda-de de acesso da população a servi-ços de saúde, dificuldade de lotação/fixação dosprofissionais nas unidades e participação e interes-se da comunidade na implantação do programa.

As unidades de saúde do programa são res-ponsáveis por um território definido, onde realizamum mapeamento que possibilita a identificação dasfamílias e das situações-problema, bem como o pla-nejamento de ações. Atualmente, garante-se a co-bertura de aproximadamente 350 mil pessoas resi-dentes nestas áreas. Cada equipe trabalha, em mé-dia, com mil famílias. As equipes multiprofissionaissão compostas por médico, enfermeiros, auxiliares

de enfermagem, dentistas, técnicos de higiene den-tal, auxiliares de consultório dentário, além de pes-soal de apoio e chefia local. As equipes buscam oreconhecimento da família como espaço de vivên-cia e como co-responsável na defesa da saúde.Embora a figura do agente comunitário de saúdeesteja se incorporando apenas recentemente aoPrograma, já estava presente em outras ações mu-nicipais vinculadas.

Alguns resultados já se fazem sentir, tais comouniversalização da cobertura vacinal e aumento demais de 100% nas visitas domiciliares a recém-nas-cidos. O Programa, que vem atuando nas regiõesmais pobres do município, apresenta, em compara-ção ao modelo tradicional, índices mais significati-vos de cobertura em áreas como pré-natal, hiper-tensão, prevenção de câncer do colo uterino etc.

O grande desafio enfrentado é a resistência dasestruturas em se adaptar às demandas e neces-sidades dessa nova proposta, o que acaba sendoreforçado por uma cultura institucional que aindareluta em aceitar um trabalho em moldes maisinterativos com a comunidade. O Programa estáatento à necessidade de investir na mudança dementalidade do corpo profissional, procurando es-tabelecer um sentimento de coesão comunitária. Aapropriação de novas habilidades para os profissio-nais de saúde, como o estabelecimento de maiorcomunicação com os cidadãos, permanece como aurgência mais evidente para viabilizar um avançomais expressivo do Programa.

Programa Saúde da Família de Curitiba

Expositora: Leda Albuquerque

CURITIBA, PR

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Campina Grande, com quase 350 mil habitantes,é a segunda maior cidade do Estado da Paraíba. Di-ferindo pouco do quadro geral de pobreza encon-trado na maior parte das grandes cidades da regiãoNordeste, Campina Grande é um dos 1870 municí-pios brasileiros que vem desenvolvendo o Progra-ma Saúde da Família, a partir de recursos do Minis-tério da Saúde. O Programa atua em três dos bair-ros mais pobres de Campina Grande, que apresen-tam graves indicadores epidemiológicos.

No bairro Mutirão do Serrotão – escolhido por-que apresentava, além dos piores indicadores sa-nitários da cidade, um quadro de forte apatia e de-sorganização social – o Programa Saúde da Famíliafoi implementado pela Secretaria Municipal da Saú-de em 1994. O Programa busca trabalhar um novomodelo de saúde, que desloca o foco de atenção doplano da cura para o da prevenção, mobilizando acomunidade local para o enfrentamento dos proble-mas socioeconômicos.

O trabalho iniciou-se com o cadastramento dasfamílias residentes no bairro para a construção deum diagnóstico médico-sanitário, identificando as ne-cessidades não apenas no campo específico da saú-de. A partir desse levantamento, procurou-se articu-lar as várias instituições públicas responsáveis, pormeio da mobilização comunitária, para a conquistade algumas melhorias e serviços urbanos, tais comoinstalação de um posto policial, aumento do númerode telefones públicos, coleta de lixo, serviços de cor-

reio etc. Esse processo de mobilização, implusiona-do pelo trabalho dos agentes comunitários de saúde,continua se intensificando, ao desencadear açõescomo a busca de alternativas de geração de empre-go e renda, um dos maiores desafios, pois 70% dapopulação local sobrevive sem salário fixo.

No campo específico da saúde, a primeira con-quista foi a implantação da unidade de saúde, queinicialmente funcionou na sede da Associação de Mo-radores. Até então não existia qualquer serviço desaúde nessa região, distante 10 km do centro deCampina Grande. Para o atendimento das famílias, aequipe profissional é composta por médico, enfer-meira e auxiliar de enfermagem, agentes comuni-tários de saúde e assistente social, além de estagiá-rios de medicina e de serviço social.

O Programa possibilita o contato direto das fa-mílias com médicos em seu próprio bairro, criandoum relacionamento mais próximo. O levantamentofeito com a comunidade permite o estabelecimentode prioridades, que no caso de Mutirão do Serrotãoeram a atenção pré-natal e a atenção aos menoresde um ano. A queda da taxa de mortalidade infantilestá entre os resultados mais impressionantes doPrograma: a taxa caiu de 136 para 30 mortes pormil nascidos vivos entre 1993 e 1998.

O Programa vem se tornando referência e a equi-pe por ele responsável tem sido constantemente con-vidada para assessorar outros municípios que procu-ram implementar iniciativas semelhantes.

Programa Saúde da Famíliade Mutirão do Serrotão

Expositora: Berenice Ramos

CAMPINA GRANDE, PB

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Jan Bitoun ] Nenhuma das apresentações fezreferência aos agentes comunitários de saúde, quesão anteriores aos programas de saúde da família.Os municípios, na realidade, enfatizam pontos já ofe-recidos pela macro política nacional. Existe uma po-lítica nacional, que oferece um cardápio, e os muni-cípios vão ou não dar ênfase a alguns dos elemen-tos deste cardápio. O fato é que a política federalimpulsiona a ação local. Do ponto de vista histórico,passou-se de um modelo de universalidade para ummodelo no qual a saúde pública especializou-se noatendimento à população mais pobre. Houve umauniversalização seletiva (acesso dos mais pobres).Ao se municipalizar o programa, ele se diferenciade acordo com a situação pré-existente. A classemédia fugiu do sistema público de saúde procuran-do abrigo em planos de saúde. Nessa emergênciade políticas destinadas à população pobre há umconflito, inclusive dentro da máquina pública, levan-do à reformulação desta última. No seminário nãoapareceram esses conflitos. A dependência de or-ganizações comunitárias nem sempre é positiva. Háum conflito dentro da máquina pública por meio do

Debate

qual os agentes de saúde geram uma demanda quepressiona os serviços de saúde tradicionais.

Ricardo Beltrão ] Como está a convivência damáquina pública com os dois modelos de saúde? Qualé o papel dos conselhos de saúde em programas deponta? Qual é o papel efetivo dos conselhos sob oponto de vista decisório? Em Niterói, como se dá oconflito entre o corpo médico e os líderes comunitá-rios? Quanto custa? Qual é o gasto do programa?

Maria do Carmo Brant ] Deve se destacara questão de custos, mas não nos moldes tradicio-nais e sim incorporando aspectos mais amplos,como a redução de custos de internação e da rea-lização de curativos. Esses programas são mode-los novos que eliminam o custo dos equipamentos.Na realidade, Curitiba tem a missão de ver o reba-timento do programa na redução de internações ede outras ações curativas. Convivem muito bemuma política pública e programas diferenciados.Acredito que se caminha para uma diversidademuito rica de programas.

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Nilson Costa ] O local tem um peso muitogrande na configuração do nacional. Quem é o mé-dico de família? É jovem? Oferece resistências aesse modelo? Qual é o grau de adesão do médicode família ao programa? Qual o grau de satisfaçãodo usuário? Qual a principal razão para o êxitodos programas (se é que são exitosos)? A conti-nuidade administrativa facilita a aplicação des-ses programas?

Magdalena Alves ] Questiono a garantia deretaguarda, considerando que mais de 900 municí-pios têm o programa implantado . Como se coloca aquestão de um mesmo programa com especi-ficidades diferentes? A continuidade desses progra-mas, como fica em função de descontinuidades ad-ministrativas e em função dos outros modelos exis-tentes? Quanto à continuidade, levanto os fatorespolíticos e o lobby dos médicos.

Pedro Jacobi ] Os relatos indicam ser pos-sível consolidar novas propostas de gestão insti-tucional, o que reduzirá a descontinuidade políti-ca. Se os programas estiverem sedimentados, adescontinuidade pode significar um posicionamen-to político errado. Reforço a questão relativa aomodelo conceitual na área da saúde, que se con-solida mais rapidamente que outros modelos emoutras áreas. Os exemplos da saúde podem terimportância pedagógica para outras áreas temá-ticas. A questão pedagógica desse tipo de inicia-tiva deve ser ressaltada, incorporando a buscada coesão e da cidadania.

Pedro Lima ] Os agentes comunitários comcerteza têm um papel relevante nesses progra-mas. Niterói não trabalha com agentes de saúde,mas com auxiliares de enfermagem, que moramna própria comunidade. À medida que os municí-pios ganhavam autonomia, a implantação do PSF“engessava” a ação local. Niterói assumiu posi-ção de resistência à orientação federal, o quegerou enorme disputa. Não é possível dizer se

essa disputa já foi resolvida sob o ponto de vistada legislação federal, com a aprovação de pro-gramas similares ao PSF. Tenta-se fugir dessaconfiguração de um programa de pobres parapobres, deve-se respeitar as características lo-cais. Porém, a partir do momento em que os re-passes de verba são feitos com base na popula-ção, ocorre um movimento desenfreado de implan-tação do programa como forma de aumentar osrecursos. Para resolver isso, o Ministério da Saú-de implantou programas de capacitação perma-nentes. Preocupo-me com o aparecimento de pro-gramas em certos municípios apenas como for-ma de garantir novas fontes de financiamento dosetor da saúde. Há necessidade de redefinir ospapéis das secretarias estaduais de saúde e doMinistério da Saúde. O conflito entre o modelovigente e o emergente, em Niterói, tem sido re-solvido pela criação das policlínicas, resultantesda reorientação das unidades já existentes, queatendam à demanda não atendida pelo ProgramaMédico de Família.

Leda Albuquerque ] Curitiba também nãotem agentes comunitários de saúde, mas está pres-tes a ter. Houve conflitos entre unidades básicas eunidades do programa. A assessoria da Universida-de de Toronto ajudou a superar esse conflito, aomesmo tempo em que as pessoas passaram a termaior compreensão sobre as diferenças de proces-so entre os dois sistemas.

Um ponto central é o da formação do médico,que não é adequada ao mercado, pois não é umaformação terminal, mas está sempre voltada à es-pecialização. A habilidade clínica do médico e suacapacidade de comunicação são essenciais. Narealidade, as diretrizes de programas de saúde dafamília e as do SUS são as mesmas, o que mudasão os processos, principalmente em relação aosmédicos, que saíram do consultório, entraram nascasas e tiveram de dividir, compartilhar seu sabercom outros profissionais da equipe.

Essa modificação está sendo trabalhada junto

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à Universidade, que atualmente forma médicos paradesenvolver, além das habilidades clínicas, tambémhabilidades de comunicação.

Este é o momento de crescimento e conso-lidação das equipes implantadas. O programa re-presenta um incremento de custos dos serviços desaúde, se a análise for apenas nominal. Há, no en-tanto, vantagens associadas, que advêm da con-cepção do programa (redução da rotatividade demédicos, acompanhamento do caso, redução dasinternações, mudanças de comportamento). Emrelação aos custos nominais, o crescimento é ime-diato, porém, numa análise mais ampla, os ganhossão pertinentes em relação aos benefícios auferi-dos. Além disso, existe a expectativa de diminui-ção de AVCs, de internações etc., o que causariauma diminuição dos custos.

Berenice Ramos ] A equipe é formada pormédico, enfermeiro, três agentes comunitários desaúde e assistente social. Pretendem incluir o odon-tólogo. Em Campina Grande, questiona-se a formade seleção dos agentes comunitários. Os conflitos

realmente existem. Deve-se destacar as críticasacerca do processo de treinamento e de coopta-ção dos agentes comunitários de saúde. Os confli-tos realmente existem, são poucos profissionaisque já pertenciam à rede de saúde. Além disso,existem problemas salariais. A seleção dos profis-sionais do programa foi feita especialmente paraele e as contratações foram feitas por associaçõesde moradores.

Pedro Lima ] Confirmo que entre a associa-ção de moradores e os médicos existem conflitos,resolvidos, de certo modo, pelas equipes de super-visão. Existem conflitos com as comunidades queassumem papéis de liderança, mas que, apesardisso, mantém uma relação respeitosa com o pro-fissional médico.

No princípio, havia grande rotatividade de pro-fissionais. Hoje, essa rotatividade está reduzida. Amaioria dos profissionais são antigos (30-40 anos),embora também haja recém-formados. A maior par-te dos profissionais passou por práticas alternati-vas, como a homeopatia.

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Orlando Júnior ] Devemos retomar a ques-tão central: que impacto as políticas estão tendo noenfrentamento da pobreza? Essa pergunta foi res-pondida ou não?

Outras questões: o que constitui uma estraté-gia? O que diferencia uma estratégia de outra ação?Qual a relação entre pobreza e cidadania?

Em que medida se produziu a articulação entreos referenciais teóricos e as experiências? (Anteci-po a resposta de que não foi bem-sucedida tal articu-lação.) Que elementos das experiências poderiamconstituir-se em linhas de uma estratégia local deredução da pobreza? As “estratégias locais” pararedução da pobreza são objeto de disputa entre osatores envolvidos?

Julgo ter havido um erro metodológico na prepa-ração do relato da experiência, por privilegiar-se oaspecto setorial em detrimento das estratégias maisgerais de redução da pobreza. Há experiências mui-to diferenciadas, que não podem ser colocadas nomesmo nível.

As experiências relatadas têm impacto setorial,mas em relação à redução da pobreza. Que elemen-

ComentáriosFinais

tos dessas “estratégias” podem ser replicados? Aavaliação de qualquer experiência pode ser feita dediversos pontos de vista, um deles é de seus impac-tos sobre a pobreza. As estratégias locais parecemincorporar diversos agentes, existindo disputas en-tre esses atores.

Que temas devem ser privilegiados na oficinade Recife? Os relatos poderiam estar orientadospara a questão central da oficina. Há a incorpora-ção de estratégias locais de redução da pobreza?Qual é a base social de legitimidade dessas estra-tégias? Alguns critérios devem ser levados em con-sideração: a importância do aspecto histórico, o for-talecimento dos atores coletivos, a abrangência eos aspectos técnicos.

Por último, chamo a atenção sobre alguns crité-rios, apontados por Ana Clara Ribeiro, ao se traba-lhar a temática de pobreza: velhas e novas solidarie-dades, fortalecimento de agentes coletivos, coerên-cia técnica, abrangência, entre outros.

Luiz César Ribeiro ] O que qualifica umadeterminada prática como estratégia? Não houve

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uma referência conceitual ao longo do seminário.Julgo importante que se faça uma referência aomodo de se entender a relação entre cidadania eredução da pobreza. Como a pobreza reduz aspossibilidades de construção da cidadania e comoa cidadania se torna um meio de enfrentar o pro-blema da pobreza?

Para pensar estratégias, dois aspectos são fun-damentais: só existe estratégia a serviço de umprojeto (proposta de intencionalidade); só existeestratégia se a sustentabilidade é pensada, tantono campo institucional e administrativo, como noaspecto financeiro e na dimensão social. Como,em cada um dos casos, postula-se a questão dosconceitos de pobreza? Ao pensar estratégia, de-vemos pensar em termos de projeto, o que signi-fica intencionalidades.

Chamou-me a atenção, por exemplo, a dimen-são territorial de iniciativas como PREZEIS e Saúdeda Família, em que uma iniciativa localizada podeservir para a ampliação da proposta. Por outro lado,o zoneamento pode constituir uma forma de criarparcerias. Os relatos demonstram reduzida ampli-tude das intervenções. Assim, considero importan-te discutir as dificuldades para a ampliação das ex-periências promissoras. O conceito de susten-tabilidade é fundamental, por prover às estratégiasa possibilidade de continuidade, no campoinstitucional e administrativo, no campo financeiroe também no campo social. Pensar intervenções emfunção da territorialidade, como uma perspectivade criação de clientelas futuras. O zoneamento deinteresse social, com possibilidade de intervenção,favorece a mobilização da comunidade.

Por que essas políticas não podem ser amplia-das incorporando clientelas maiores? As experiên-cias, embora qualitativamente adequadas, não sãoainda quantitativamente adequadas, devendo bus-car maior universalidade.

Adauto Cardoso ] Considero importante pre-cisar melhor o que se fala, distinguindo impactos e

resultados. Ao falar de impactos, é necessário pen-sar qual é a magnitude da pobreza que se enfrenta.Durante a exposição das experiências, faltou verifi-car o que foi mal-sucedido e a razão para o fracas-so, principalmente para as experiências que sequerse constituíram como exemplos de alguma coisa.Comparo as áreas de saúde e de habitação, desta-cando suas características específicas: a saúde temuma dimensão nacional, a discussão do médico defamília tem de ser completada pelos programas jáexistentes, ao passo que a habitação não possi-bilita o surgimento de impactos sociais mais am-plos. Estratégias locais para a redução da pobrezapossuem limites, devendo estar contextualizadassob o conceito distributivo. É preciso não esque-cer os aspectos redistributivos.

Nilson Costa ] As experiências apresentadassurgem como uma luz no fim do túnel, o que deveser procurado é a socialização dessas experiências.Sugiro um diálogo sobre os projetos, considerandosuas novas visões da realidade, sua reinterpreta-ção dos papéis institucionais e tecnologias associa-das. Proponho uma maior discussão sobre que graude impacto torna o resultado legítimo. Uma boa ino-vação em pequena escala pode ser um bom exem-plo. Para algumas políticas, pequena amplitude é onível ótimo (por exemplo, 10% para o Programa deSaúde da Família - PSF). Uma boa política pode serum bom exemplo independentemente de tamanho,de percentual da clientela atendida.

Fábio Atanásio ] Não concordando com Or-lando Júnior e Luiz César, julgo que todos os ele-mentos foram trazidos para a discussão, faltou tem-po para aprofundá-los. Os elementos de discussãosobre a pobreza foram colocados, o que poderiaser evitado é o desfile de experiências. A discus-são acerca da saúde aborda diversos elementos,como a municipalização da saúde, a redefinição dopapel dos governos estaduais etc. A discussão dasaúde foi exemplar.

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Pedro Jacobi ] Devemos pensar sobre osalcances e limites da ação pública. É pertinente aquestão acerca do que significa estratégias. Traba-lhar a questão metodológica pode gerar confusõesem um grupo tão heterogêneo. É importante ressal-tar a idéia desta oficina, de discutir aspectos subje-tivos, em busca de maior legitimidade, de maiorcoesão social. Devemos pensar políticas públicas deuma forma diferente da tradicional. A chave é o res-peito ao usuário.

Ouvir 13 apresentações significou buscar certoseixos de aprofundamento e fortalecer certas premis-sas, nas quais se apóia a escolha das experiênciasselecionadas. Tende-se a pensar mais sobre quaistemas devem ser privilegiados no futuro. Vejo a im-portância de destacar as idéias-força, que aglutinaminiciativas de construção da cidadania, sem a preocu-pação de se compararem dados quantitativos. Os pro-gramas sociais precisam de uma legitimidade que sedá dos dois lados do processo (de quem está à frentedo processo e de quem é destinatário). Nada do quefoi apresentado é novo, mas traduz novas atitudesem termos de relações sociais.

Jacqueline Rosas Silva ] Ficou claro quenão há um elo entre a prática e os referenciaisteóricos. O oficina pode servir para a construçãodesse elo. Porém, isso ainda não foi possível nes-tes dois dias. Daí, identifica-se uma falha metodo-lógica. Um dos poucos consensos foi o da multisse-torialidade das iniciativas, como condição para o su-cesso. Foram apresentadas diversas experiênciasque incluem participação popular, multidisciplinarie-dade, gestão integrada etc.

Maria do Carmo Brant ] Pareceu-me que oguarda-chuva teórico não estava nos cobrindo. Valo-rizo a amplitude das zonas de influência dos proje-tos, que podem correr o risco de não serem efetivosna vocalização de demandas e de sua introdução naagenda de políticas públicas. Até que ponto o proces-so de mobilização comunitária é efetivo para um pro-

cesso de vocalização de demandas e incorporaçãodestas demandas na agenda social dos governos?

Não se constrói cidadania sem fortalecimentoemancipatório (esse ponto não foi suficientementeaprofundado). Pareceu-me excessivo o número deexperiências apresentadas. Faltou focalizar as es-tratégias das políticas de redução da pobreza.

Ao se trabalhar a pobreza de forma progressi-va, é importante não reproduzirmos a dependênciadas populações carentes. Quais são os focos es-tratégicos das políticas no combate à pobreza?

Jan Bitoun ] Todas as experiências demonstrama variedade de abordagens na operação de políticaspara a população pobre. Ana Clara Ribeiro colocou al-guns pontos que devem ser considerados. O primeiroé o da coerência técnica, que é fundamental para agarantia da efetividade. No seminário, despontarama intersetorialidade (e interdisciplinariedade), assimcomo a necessidade de indicadores como elementosimportantes para a coerência técnica, para garantiruma efetividade adequada. Como trabalhar este pontoem relação à intersetorialidade e como desenvolverindicadores adequados?

O problema da extensividade e da institu-cionalização também estava presente nas questõessobre os limites e alcance da dimensão local. Emrelação ao fortalecimento dos atores coletivos, atéque ponto os segmentos sociais alcançados pelosprojetos expostos se fortaleceram como agentes co-letivos? Não é porque uma política não alcança muitagente que ela não é adequada. As políticas são defi-nidas a partir dos municípios. Pareceu-me que mui-tos dos projetos apresentados são mais de reduçãodos riscos do que de redução de pobreza. A articu-lação entre novas e velhas solidariedades implica acontextualização histórica dos projetos, nos níveislocal e nacional. A solidariedade atual é muito maisfragmentada do que no passado, mas tem, comoaspecto positivo, a possibilidade de diferentes ar-ranjos institucionais. A articulação entre a solida-riedade pretérita e a atual deve ser implantada. Os

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projetos nascem a partir de uma conjuntura local.Hoje, a solidariedade é muito mais fragmentada doque no passado, permitindo mais autonomia, masao mesmo tempo perdemos o referencial. Os proje-tos possuem relações de conflito devido à existên-cia de políticas públicas mais amplas.

Luiz César Ribeiro ] No mundo de hoje édifícil encontrar pessoas dispostas a trabalhar coma temática da pobreza. A cobrança é em relação àdinâmica da oficina: quais são os limites dessas ex-periências? Estes programas com certeza reduzi-ram a pobreza, mas será que construíram uma cida-dania? De maneira nenhuma desconsidero a impor-tância ou a relevância dos projetos apresentados. Acobrança é quanto à dinâmica da oficina, que nãodeixou espaço para que os participantes trouxessemos limites das experiências (Reduziram a pobre-za? Construíram cidadania?). Que intencionalidadeestá por trás de cada um dos projetos?

A discussão conceitual-teórica é importante, prin-cipalmente do ponto de vista ideológico. É diferentefalar de redução de pobreza e falar de redução dasdesigualdades. Ao mesmo tempo em que pensamossoluções micro, devemos pensar em soluções ma-cro. Considero que a discussão conceitual-teóricafeita no início tem enorme importância, em especialsob o ponto de vista ideológico. Na sociedade brasi-leira, há duas questões em disputa: a) macro (econo-mia) e micro (problemas sociais) – essa dicotomiatem que ser recusada para que se possa pensarefetivamente em estratégias; b) troca da desigual-dade pela pobreza, o que traz conseqüências. Con-deno a substituição da temática da desigualdade pelatemática da pobreza na agenda política. As inter-venções locais têm limites, pois implicam proble-mas distributivos. Desigualdade é diferente de po-breza. Discutir pobreza não fornece subsídios paraque se resolva essa questão.

Sônia Dias ] Julgo importante destacar quaiselementos das experiências apresentadas têm

importância estratégica. A questão de amplitude nãopode ser vista apenas sob o ponto de vista do núme-ro de beneficiários diretos. Devemos tentar destrin-char mais os elementos dessas experiências que po-dem ser importantes para o enfrentamento dessaquestão. Deve-se ressaltar a importância de desen-volver indicadores objetivos sobre amplitude e im-pactos. Como os que estão realizando vão enriquecersuas experiências a partir da discussão teórica?

Marilena Jamur ] Não se pode esperar queas teorias possam dar conta dos problemas reaisda pobreza. O enfrentamento tem de ser feito na“macropolítica”, para que as soluções encontra-das não acabem naufragando. Entendo que nestaprimeira oficina se desencadeou um processo deconstrução coletiva do saber. O que se fez foi bus-car um saber coletivo com base numa metodologiade pesquissa-ação.

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Ações integradasde desenvolvimento

socioeconômicoRECIFE • DEZEMBRO, 1998

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Ademar de Oliveira Marques (Frente das ONGs de Pernambuco) • AndréMonteiro Costa (NESC/CPqAM) • Armando Mendes (UFPA) • BeatrizSaldanha (Projeto Couro Vegetal da Amazônia) • Carlos Osório (Progra-ma de Apoio ao Desenvolvimento Local BN/PNUD) • Carlos Pontes(Observatório Recife) • Eduardo Homem (Centro Luiz Freire - TV VIVA/Olinda) • Fernanda Costa (Observatório Recife) • Franklin Coelho (UFF/Secretaria Estadual de Planejamento/RJ) • Ismael Ferreira de Oliveira(APAEB- Valente/BA) • Jan Bitoun (Observatório Recife/UFPE) • João LuizHomem de Carvalho (PROVE/DF) • Josias Farias Neto (Projeto São José/CE) • Lívia Miranda (Observatório Recife) • Luiz de La Mora (UFPE) •Maria da Luz Magalhães (Promoção Social do Governo de Angola) •Maria do Carmo Brant de Carvalho (PUC/SP) • Marilena Jamur (PUC/RJ)• Marília Andrade (Instituto de Serviço Social de Lisboa) • MirnaPimentel (UFPE) • Neide Silva (ETAPAS/PE) • Nilson Costa (UFF/FIOCRUZ) • Pablo Sidersky (AS-PTA Regional Nordeste) • PauloHenrique Martins (UFPE) • Pedro Jacobi (USP) • Ricardo Beltrão (FGV/SP) • Serafim Ferraz (Banco do Nordeste) • Sueli Guimarães (FundaçãoJoaquim Nabuco/PE) •Suely Maria Ribeiro Leal (UFPE) • Teresa Lima(Banco do Nordeste) • Vando Nogueira (Consultor Independente/PE) •Vânia Ribeiro (Projeto Pólo Agroflorestal/AC)

Participantes

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Ações Integradas deDesenvolvimento Socioeconômico

Ao realizarmos esses seminários técnicos, es-tamos caminhando em direção à elaboração de umadeclaração conjunta, fruto de observações e de li-ções tiradas ao longo desses nossos encontros pordiversos atores sociais envolvidos e convidados a par-ticipar. Nesse sentido, lembro que na primeira ofici-na aprendemos muito juntos, não só sobre como pôrem debate nossas idéias, mas também sobre comodirecionar os trabalhos, balanceando teoria/exposi-ção de experiências/diálogo. Dessa forma, se nãochegarmos a uma posição definida sobre o deli-neamento futuro da temática de pobreza e sobre que

caminhos apontar na busca de ações mais eficazespara o seu enfrentamento, pelo menos teremos tidoa oportunidade de criar espaços de discussão, comotambém de produzir um documento que faça avan-çar ações já em movimento, identificando mecanis-mos e instrumentos de inserção social.

Agradeço a colaboração de todos os envolvidosno processo e, em especial, ao Observatório de Po-líticas Públicas e Práticas Socioambientais dePernambuco (FASE-NE/CMG-UFPE/NESCCPqAM),cujo empenho em colaborar tem sido extremamen-te positivo.

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Abertura

Peter Spink

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Sobre a discussão em relação à estratégia e àsexperiências exitosas discutidas na última oficina,entendo que um fato inegável hoje é que a gestãosocial se deslocou para o nível local, e o que estáemergindo é um padrão de relações cooperativas,de confiança e de responsabilidade, que explica porque os casos são bem-sucedidos. E isso tudo revelauma nova institucionalização da questão social nonível local, em que novas variáveis aparecem comocenário. Nesse raciocínio, os relatos se inserem na-turalmente numa cadeia de inovações. Trata-se deexperiências que respondem de forma bastantesatisfatória à busca de soluções para a redução dapobreza, porque mostram uma capacidade de inter-

venção igualmente satisfatória em termos de alavan-camento de recursos decisórios, permitindo que es-sas iniciativas sejam pensadas como estratégias.

O que vêm a ser, afinal, experiências exitosas?Uma crítica interessante ocorreu em relação àsustentabilidade e ao êxito dessas experiências: oque move o poder local? Reconhecimento, dividen-dos políticos etc. São questões institucionais quedevem estar no centro da discussão, devido à gran-de complexidade dos governos locais. Na verdade,os relatos se inserem em cadeias de inovações quevêm de décadas. Essas micro soluções podem sersoluções interessantes que devem ser disseminadaspara um público maior.

Resultados da oficina doRio de Janeiro: questões levantadas eindicação de elementos de análise

Relatores: Nilson Costa e Marilena Jamur

Nilson Costa

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Marilena JamurO caráter multidisciplinar é fundamental no pro-

cesso de construção coletiva de conhecimento emtorno da questão da pobreza. É extremamente im-portante o envolvimento de diversos atores sociais,com a devida interação entre os que pensam e osque atuam na linha de frente. Dessa forma, pode-mos tentar a superação do modelo segundo o qualos que agem não têm tempo de pensar, e os quepensam não têm oportunidade de agir.

São diferenciadas as noções de redução, enfren-tamento e erradicação da pobreza. Precisamos apro-fundar o debate em torno das diferenças contidasnessas idéias. Necessariamente, precisamos avali-ar o impacto dessas experiências para ver se efeti-vamente estamos caminhando em direção à erradi-cação da pobreza. É importante saber avaliar qual oimpacto dessas experiências para que possamos ve-rificar se efetivamente buscam a erradicação da po-breza, ou se estamos trabalhando mais em termosde enfrentamento ou de redução.

Existem diversas críticas em relação à fragmenta-ção, à falta de coordenação, que nos remetem a desa-fios imensos para tentar a superação desse proble-ma. Isso envolve a integração dos meios utilizados.

Quanto às responsabilidades e papéis dos di-

versos atores envolvidos, é preciso umaredefinição da noção de público e privado, exami-nando o papel que o Estado tem no enfrentamentoda questão social, ainda mais neste momento emque se está buscando redefinir o que é público eo que é privado, além do papel principal desem-penhado pelo Estado.

A questão do uso do termo solidariedade: existemá utilização da palavra, uma utilização ideológicaque afasta a noção da realidade. Quando falamosem Estado de bem-estar social, devemos lembrarque esse sistema está baseado na noção de solida-riedade – todos contribuem na sociedade, então to-dos têm direito de desfrutar de uma estrutura soci-al. Essa noção não é adequada para enfrentar aquestão da pobreza da forma em que se apresentano Brasil. Ao se fazer um mau uso, um uso ideológi-co, estamos nos afastando da noção de solidarieda-de consolidada pelo Estado de bem-estar social comoum sistema complexo que distribui a riqueza produ-zida. Todo o sistema se estruturou com base no prin-cípio de solidariedade e está sendo desmontado, anoção de solidariedade atual é pré-moderna, sem-pre existiu e não é adequada para o enfrentamentoda pobreza.

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As seis experiências que serão objeto de análi-se e de reflexão ao longo deste seminário trazemuma série de indagações. Em primeiro lugar cabedestacar que, ao contrário do que predominou noseminário do Rio, essas experiências não estão maisagindo apenas na esfera municipal, mas começan-do a olhar a ação regional, pensando a microrre-gião em sua vocação econômica (por exemplo: si-sal, borracha etc.). O que se pensa é no desenvolvi-mento local centrado em um âmbito regional, volta-do à vocação econômica da região. Estamos partin-do da idéia de um desenvolvimento socioeconômicointegrado e sustentável.

Em segundo lugar, estamos transitando do seto-rial/focal, isolado, para o integrado. E esse trânsitoé fundamental, pois estamos caminhando na dire-ção de uma multissetorialidade. Ou seja, ao tratar-mos da questão da pobreza, é importante observarse as experiências contempladas envolvem um “kit”de ações para alterar as bases sociais onde o qua-dro de pobreza é muito presente. Para isso é funda-mental pensar em termos de multissetorialidade oude transetorialidade. Assim, parece claro que no se-minário de Recife teremos que aprofundar essaquestão, já que muitos programas não criam políti-cas públicas nem ações efetivas para a inclusãosocial. Além do que a tônica precisa estar na plura-lidade: projetos que criam parcerias, contando commúltiplos recursos, visando a efetiva auto-susten-tação da população.

Em terceiro lugar, as experiências que serão dis-cutidas durante a oficina tiveram o seu início entreos anos de 1980 e 1995, perfazendo um tempo míni-

mo de três anos de implantação, o que nos permitelevantar algumas questões. São elas: que saberes apopulação pobre e excluída conquistou nesse perío-do? Quem é o público-alvo? Quem é o público efeti-vamente beneficiado? Como é o seu cotodiano? Quesaberes/habilidades possuem? Que canais de inter-locução/mobilização já foram construídos para ins-trumentalizar suas demandas e necessidades?

Em geral, fala-se muito em nome da população(ONGs, governos etc.), reproduzindo, assim, umadependência, uma tutela. É importante perguntar atéque ponto é a ONG quem está falando pela popula-ção ou se é realmente a população que está tendoespaço para falar por si mesma? Não devemos per-der de vista que a construção da cidadania passapela existência de canais de expressão nos quaisas demandas dessas populações ganharão visibili-dade. Igualmente, pode-se falar no risco de se re-produzir a tutela por meio de novos discursos, poismuitas vezes o novo reproduz o velho, sem romper,no entanto, o ranço da dependência.

Dito isto, pensemos em uma série de questiona-mentos: até que ponto estamos fazendo projetos ouprogramas emancipatórios? Será que estamos dei-xando que esta população marginalizada se emanci-pe, construa espaços de expressão, fortaleça-se nabusca e construção de espaços para defesa de seuspróprios interesses? Até que ponto temos meramen-te reproduzido a tutela? Qual é a intencionalidadeescondida nessas experiências? Como conceber umdesenvolvimento socioeconômico: com o retorno e amanuntenção da tutela e da dependência, ou com acriação de um processo de emancipação?

Um olhar cruzando a teoria e aprática: breve descrição dasexperiências a serem discutidas

Comentadora: Maria do Carmo Brant

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Debate

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Franklin Coelho ] Por que não pensar emtermos de territorialidade para essas experiênciasque serão apresentadas e discutidas aqui em Reci-fe? Essa abordagem nos permitirá notar a dimen-são do envolvimento dos atores nas ações desen-volvidas. Na oficina do Rio de Janeiro, o local foi ourbano e aqui no Recife, é o rural.

Carlos Osório ] Há todo um processo demobilidade conceitual em torno da questão da po-breza como estratégia de erradicação, de enfren-tamento. São relevantes os aspectos da macroeco-nomia e da reforma do Estado. Todos querem dis-cutir a reforma fiscal, tributária etc., sem nenhumenfoque na problemática de pobreza, que continuacrescendo (pode até ter diminuído a velocidade doseu crescimento nos últimos anos, mas continuacrescendo a olhos vistos). Esse aspecto continuaignorado nos debates. Além disso, estamos falan-do de soluções ou apenas fazendo um “enfren-tamento” da pobreza?

Vando Nogueira ] Qual é o papel do Esta-do? A desresponsabilização do Estado passa pelaquestão da responsabilidade compartilhada comoutros setores. Não dá para desvincular o local, o

Debate

territorial. Na globalização, as fronteiras nacionaise regionais devem ser quebradas. Por que a SU-DENE começa a falar em desenvolvimento local? Éimportante contextualizar e repensar o local histo-ricamente. O processo de desenvolvimento incluiiniciativas exitosas ou simplesmente as exclui?Dessa forma, não podemos entender essas expe-riências desvinculadas de um processo mais am-plo de desenvolvimento. A experiência é um fatosignificativo em si, mas não pode ser analisada forade uma esfera mais ampla.

Maria do Carmo Brant ] Só o aspecto eco-nômico não vai resolver o problema da exclusão so-cial. Por isso, é importante pensar nas outras di-mensões. No resumo das experiências que serãodebatidas aqui nessa oficina, o aspecto social nãofoi suficientemente evidenciado. Faltam-nos infor-mações a respeito.

Nilson Costa ] A desresponsabilização doEstado ocorre de forma contraditória, pois ao mes-mo tempo em que se redefine o próprio papel doEstado, há um processo de formação de novos ato-res. O gestor local, por exemplo, é inovador e radi-cal, por força da modernização dos partidos e da

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busca do reconhecimento político, configurando umespaço de manobra política interessante. É precisopensar o singular, o restrito, como parte de um pro-blema maior. Deve-se tirar o usuário de serviços desua condição de tutela. Por conseguinte, vamos ten-tar “copiar casos de sucesso”. Os resultados já al-cançados em termos da luta antimanicomial seriamum bom exemplo de sucesso em termos de açõesimplementadas a partir de uma luta que começouum tanto quanto tímida, sem espaço, e que alcan-çou grande vocalização.

Luis de La Mora ] Vou procurar vislumbrarum eixo central para esta discussão. Se o conceitode pobreza supera o de carência, deixa de ser eco-nômico, vira político: questão do acesso. Não dá paracomeçar de cima, tem que ser de baixo para cima:começar com saúde, luta por direitos em um setor,depois outro, espalhar até virar uma luta política.Não podemos abandonar ou esquecer a dimensãopolítica ao falarmos da pobreza. O micro preparapara o macro, de baixo para cima. É fundamentalmudar as relações a partir do micro. Se começar-mos do micro para depois abordar o todo, consegui-remos mudar e sustentar a mudança. Nossa novarevolução deve começar pelo micro, expandindo-se

para o macro, pois quando ela começou do macro,nada mudou no micro, mantendo as condições dereprodução e sustentação do antigo status quo.

O economista e ex-deputado federal RobertoCampos fala-nos de pobreza, não de exclusão, por-que interessa apenas descrever, não compreen-der o quadro. O conceito de pobreza supera o decarência e entramos numa dimensão mais ampla:a pobreza surge no econômico, ou mais, viabiliza-se no econômico, no produtivo. Assim, devemospartir dos conceitos e ir avançando até a dimen-são política que é, na verdade, a relação de poderque se estabelece entre os pobres, o Estado e asONGs. A sustentabilidade depende do conceito quetemos de pobreza.

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Experiênciasdiscutidas

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Criadas em 1980, as Associações de PequenosAgricultores (APAEBs) estão presentes em 14 mu-nicípios do sertão da Bahia, nos quais residemaproximadamente 420 mil pessoas, 75% na zonarural. As APAEBs vêm procurando, por meio doestímulo ao associativismo entre os pequenos pro-dutores rurais, criar alternativas de geração derenda, reduzir a pobreza e contribuir para a am-pliação da cidadania.

A Associação dos Pequenos Agricultores do Mu-nicípio de Valente está localizada em uma região comalta concentração de propriedade fundiária, condi-ções climáticas bastante desfavoráveis – chuvas ir-regulares e longos períodos de seca – e com maisde 65% dos moradores em situação de indigência.

O sisal é o principal produto da região. Até acriação da APAEB de Valente, toda a fibra produzi-da era vendida para os intermediários. A APAEB-Valente tem beneficiado a produção de seus deri-vados, atuando na cadeia produtiva e combatendoa ação dos intermediários. A associação tem bus-cado, também, a construção de alternativas para adiversificação produtiva dos seus associados, tor-nando a economia da região progressivamentemenos dependente do sisal.

A associação é constituída por três projetos in-terligados: a Batedeira Comunitária do Sisal (usinade beneficiamento do sisal), a Cooperativa de Cré-dito (funciona como um banco) e a Industrializaçãodo Sisal (fábrica de tapetes e carpetes). Ao longodos seus 20 anos, a APAEB-Valente desenvolveu

várias outras iniciativas, entre as quais podem serdestacadas: 1) criação de um supermercado, ga-rantindo a comercializa-ção dos produtos de peque-nos agricultores; 2) criação de programas voltadosà capacitação do pequeno produtor; 3) implantaçãodo terminal da cidadania, que informa a populaçãosobre ações dos poderes executivo e legislativo; 4)estímulo e busca de alternativas para a adoção daenergia solar como fonte energética na região; e 5)criação de uma Escola Agrícola Familiar, que adotaa pedagogia de alternância, ou seja, as crianças al-ternam períodos na escola – regime de internato –e períodos em casa.

Em sua origem, as APAEBs se estruturavam deforma centralizada. Com o tempo, verificou-se quese deveria buscar maior autonomia. Sustentada comrecursos próprios, e com a cooperação de algumasONGs e fundações internacionais, na ordem de 5% a10% do total das receitas, a APAEB-Valente funcionacom quatro departamentos – agropecuário, comer-cial, educativo e industrial – e com 350 associados.Atualmente, são 790 empregados diretos, o que re-presenta 2,5 mil famílias diretamente beneficiadaspelas atividades desenvolvidas. São 550 toneladasde fibra de sisal beneficiadas e comercializadas men-salmente. Em 1997, essa iniciativa viabilizou a comer-cialização de 6,5% de toda a produção baiana de fi-bras, o que representa 85% da produção nacional. OBrasil é o maior produtor mundial de fibras de sisal ea APAEB-Valente ocupa o quarto lugar entre os 11exportadores brasileiros do produto.

Associação dos Pequenos Agricultores

Expositor: Ismael Ferreira de Oliveira

VALENTE, BA

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Desenvolvendo ações em nove municípios daRegião Nordeste, o Programa de Apoio ao Desen-volvimento Local é uma iniciativa do Banco do Nor-deste do Brasil – BNB –, em parceria com o Progra-ma das Nações Unidas para o Desenvolvimento –PNUD. O Programa objetiva, através da conciliaçãoentre a oferta de crédito e as ações de capacitaçãode massa, estruturar as cadeias produtivas, esti-mular a cidadania e o protagonismo social dos indi-víduos. Dois eixos principais norteiam sua ação: otrabalho de capacitação da população e a atuaçãodos agentes de desenvolvimento.

Os agentes locais de desenvolvimento são for-mados com base no interesse em promover o desen-volvimento auto-sustentável, a partir da interaçãoentre lideranças, associações, sindicatos, organiza-ções comunitárias, o nível local de governo e repre-sentantes de órgãos estaduais e agências.

A parceria BNB/PNUD abriu possibilidades deexpandir o trabalho do Banco. Juntas, as duas insti-tuições traçaram uma estratégia de ação. Partiramde uma concepção multidimensional, na qual os pla-nos econômico, político, cultural, institucional eambiental são vistos de forma integral. Para isso,adotaram a metodologia GESPAR – Gestão Partici-pativa para o Desenvolvimento Local. Essa metodo-logia é utilizada para o desenvolvimento de organi-zações de pequenos produtores rurais.

O programa busca promover mudanças sociais,por meio de ações de sensibilização e de mobiliza-ção. Iniciou-se com algumas experiências-piloto no

Ceará (Tejuçuoca) e em Pernambuco (Catende eTimbaúba), ampliando-se recentemente para ou-tras localidades.

Em cada localidade, a implementação do Progra-ma começa com uma oficina, na qual se realiza umdiagnóstico social, identificando-se as potencialida-des econômicas e a presença dos atores e deman-das sociais locais. A partir daí, inicia-se um processode capacitação institucional, começando pelas pre-feituras. Há todo um trabalho de articulação dos ato-res e de consolidação de parcerias junto às organi-zações governamentais e não-governamentais,abrangendo desde os órgãos públicos municipais atéassociações de moradores, instituições religiosas,sindicatos etc. É a partir do processo interativo en-tre as lideranças que a comunidade começa a sefortalecer, pois o processo permite a identificaçãode interesses comuns e a emergência das alterna-tivas a serem adotadas, definindo-se papéis e es-paços de atuação.

Ainda não há uma avaliação efetiva em rela-ção aos microempreendimentos gerados e aocombate à pobreza no plano local, sendo este ogrande desafio do Programa. Contudo, alguns re-sultados são visíveis: já se percebe uma inser-ção na dinâmica econômica local; os atores lo-cais, microempreendimentos e associações en-contram mais facilidade de acesso a instituiçõesantes fechadas; os processos de elaboração deprojetos e solicitação de crédito têm se mostra-do mais sólidos e qualificados.

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Programa de Apoioao Desenvolvimento Local

Expositores: Teresa Lima e Carlos Osório

PE/RN/MA/CE/BA/PB

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No Estado do Ceará, 49,4% da população vivecom renda familiar per capita inferior à da linha depobreza, correspondente a 1/2 salário mínimo pormês. No meio rural esse percentual chega a 75%.Excetuando apenas os municípios que compõem aRegião Metropolitana de Fortaleza, o Projeto SãoJosé abrange os demais 176 municípios do Ceará,financiando projetos nas áreas produtiva, social ede infra-estrutura a partir de propostas formula-das por organizações comunitárias.

Coordenado pela Secretaria de Desenvolvi-mento Rural, o Projeto tem 75% dos seus recur-sos financiados pelo Banco Mundial, 15% prove-nientes da receita estadual, e os demais 10% doscustos cobertos pelas próprias comunidades be-neficiadas, geralmente na forma de fornecimentode mão-de-obra.

O Projeto atua por meio de duas linhas de finan-ciamento. A primeira é o Fundo Municipal de ApoioComunitário – FUMAC. Para obter recursos dessefundo, as associações comunitárias encaminhampropostas aos Conselhos Municipais de Desenvol-vimento Sustentável por intermédio da Comissão Co-munitária São José – CCSJ (majoritariamente com-posta pela sociedade civil, com membros da comu-nidade beneficiada). Após aprovação, as propostassão encaminhadas aos órgãos do governo estadualco-participantes ou às ONGs, para elaboração desubprojetos nas suas respectivas áreas de compe-tência, com aprovação técnica e encaminhamento

à SEPLAN-CE para análise de viabilidade financeirae liberação dos recursos. A segunda linha de finan-ciamento é o Programa de Apoio Comunitário – PAC,que segue fluxograma similar, substituindo a figuradas CCSJ pelos escritórios regionais da SEPLAN-CEonde as comissões não estão formadas.

A comunidade participa das fases de seleção dedemandas, elaboração da proposta, implementaçãodas ações, operação e manutenção das iniciativas,bem como do processo de avaliação dos resultadosalcançados. A capacitação continuada é um ele-mento importante, assim como a assistência técni-ca extensiva.

Implementado em 1995, o Projeto liberou re-cursos, até novembro de 1998, para 4.897 proje-tos, com valores médios em torno de R$33 mil,totalizando financiamentos da ordem de R$141 mi-lhões. A maior parte dos recursos liberados foi paraprojetos de eletrificação rural e de saneamento bá-sico. Estima-se que, como conseqüência desse pro-cesso, mais de 50% dos domicílios rurais já te-nham acesso à energia elétrica. Antes do início doProjeto o índice era inferior a 10%. Foram tam-bém viabilizadas iniciativas diretamente ligadas àgeração de emprego e renda, na forma de coope-rativas ou de empreendimentos comunitários nosmais diversos ramos de produção. Por meio da“Reforma Agrária Solidária”, o Projeto tambémtem possibilitado a compra de terras para o as-sentamento de famílias no campo.

Projeto São José

Expositor: Josias Farias Neto

CEARÁ

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Franklin Coelho ] E as relações com as pre-feituras? Qual a relação com as prefeituras?

Pablo Sidersky ] Como é o tecido social deValente? Qual a relação da APAEB com o tecidosocial? O que diferencia Valente dos outros muni-cípios onde há atuação da APAEB? O que diferen-cia a APAEB de Valente das outras? Como está aquestão da descentralização?

Serafim Ferraz ] Qual a dispersão geográficaem termos de participação dos associados?

Maria do Carmo Brant ] Como é a relaçãocom outros programas, por exemplo, com o Comu-nidade Solidária?

Nilson Costa ] De onde veio a confiança ne-cessária para este Projeto? Como ela foi conquista-da ou construída?

Ismael Ferreira de Oliveira ] Quanto àrelação com as prefeituras: elas não dizem que nãoapóiam, mas na prática, não há muito apoio mes-

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mo. Gostariam, claro, de utilizar a APAEB como for-ma de obter dividendos políticos. Obviamente, asrelações variam muito em cada caso, mas é pontopacífico que não subimos em palanque, pois isso di-ficultaria muito nossas ações.

Sobre nossa ligação com outros programas: temalguma ação conjunta, sim. Tem também uma rela-ção bastante amigável com as associações dasmunicipalidades, como as de moradores, de igre-jas. Especificamente sobre o programa Comunida-de Solidária, a APAEB não tem nenhum tipo de liga-ção, pois esse programa não possui uma atuaçãoemblemática na região. O que parece que vai come-çar agora são cursos de capacitação para trabalharcom curtumes.

A APAEB começou com uma matriz e várias filiais– era complicado, pois cada uma tem uma realidadediferente e pensa de forma diferente, então foi deci-dido centralizar cada uma em seu município. Quantoà dispersão geográfica de recursos, a idéia é montarvárias experiências iniciais e trabalhar a partir daí –seria muito difícil “cuidar” dos problemas de umaregião tão grande. Além do mais, a APAEB dependeda ação de sindicatos, associações etc.

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As outras entidades possuem maior interação,existem divergências principalmente em relação àinteração entre o econômico e o social. As APAEBsantigamente eram hierarquizadas, com a matriz ediversas filiais, depois criaram-se as APAEBs muni-cipais descentralizadas.

No que concerne aos recursos e à amplitude geo-gráfica, a idéia é criar, em cada município, pequenasexperiências-piloto para depois serem ampliadas. AAPAEB foi financiada pelo Banco do Nordeste e porduas ONGs internacionais que financiaram as nos-sas atividades até que pudesse ser gerada a rendanecessária para a sustentação econômica. Até ago-ra, foram investidos cerca de R$ 7 milhões.

Na APAEB, são realizadas reuniões mensais emque os agricultores tomam as decisões principais. AAPAEB tem 350 associados e a cooperativa de crédi-to, 1.200 famílias. No geral, aproximadamente 1.800famílias estão envolvidas. A confiança vem de um tra-balho desenvolvido ao longo de 18 anos com estímu-lo à participação e ao desenvolvimento pessoal.

Maria do Carmo Brant ] Qual é o compor-tamento do agricultor? Como ele se relaciona coma organização, que tipo de melhorias ocorreram emrelação à sua qualidade de vida? Houve alguma ava-liação desse tipo?

Ilka Camarotti ] E as dificuldades na relaçãocom a universidade?

Beatriz Saldanha ] Quantas pessoas, com operfil de “empreendedor” como o de Ismael, es-tão participando do Projeto? Quantas são qualifica-das? São diversas as atividades inseridas e a im-portância da capacitação é grande. Como funcionaisso na prática? Como se formam essas lideranças?

Franklin Coelho ] Qual a relação entre oeconômico e o social? Como resolver esse dilema?

Ismael Ferreira de Oliveira ] É muito difícilmedir em números o impacto dos programas; é visí-

vel, mas difícil de medir. Não conseguimos até hojedesenvolver, na prática, um mecanismo de aferirimpactos. No ano passado, foi feito um ensaio juntoaos participantes do programa de crédito: 35%colocaram filhos na escola, 71% disseram que a vidamelhorou, a capacitação trouxe benefícios, não exis-tem mais dívidas, não trabalham mais para patrões.Outras famílias disseram que não melhorou muito asituação. Porém, 77% adquiriram algum tipo de bem:cisterna, fogão, bicicleta, moto, sofá etc.

Sobre a relação com as universidades, as dificul-dades são grandes, pois há uma resistência da par-te delas em se envolver na área de pesquisa que aAPAEB tanto necessita. Por exemplo: energia solar,eletrificação da cerca e o reaproveitamento do sisal(usar o “lixo” do sisal para alimentação de animais,entre outras finalidades). Já buscamos uma aproxi-mação com as universidades, porém nunca tivemosuma resposta concreta em termos de colaboração.

Quanto à formação de lideranças: são poucosos remanescentes do período de criação da APAEB,muitos entraram depois. Nas suas origens, haviamuita gente de fora, agrônomos, administradoresetc., mas, como estavam lá somente pelo salário,foi preferível capacitar as pessoas dos municípios,que já têm todo um envolvimento com o local.

O econômico e o social convivem porque o au-mento dos empregos diretos e de ganho são distri-buídos, além de existir uma margem de investimen-to para a área social, que banca pequenas iniciati-vas comunitárias.

Peter Spink ] São muito presentes as ONGsinternacionais. Isso tem alguma relação com a difi-culdade de encontrar apoio junto às instituições na-cionais?

Ismael Ferreira de Oliveira ] O apoio vemprincipalmente de organismos internacionais não-governamentais. Do total de gastos, 15% vem deONGs internacionais e o restante é conseqüênciadas nossas atividades produtivas, demonstrando aauto-sustentabilidade da APAEB de Valente.

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A formação de lideranças é um trabalho de lon-go prazo: desde 1980 até hoje existem muitas pes-soas com o mesmo nível que eu, o maior número deações foi implementado de 8, 10 anos para cá. Pes-soas de fora não tinham o compromisso necessá-rio, por isso buscou-se a capacitação de pessoas daregião para não depender de pessoas de fora.

Mirna Pimentel ] O sisal é o principal produtoda região. Até então, a fibra era produzida e vendidapara o intermediário, e a população local nem sabiapara onde ia. A idéia da APAEB era tentar eliminar ointermediário, foi um difícil trabalho para a APAEB setornar conhecida e aceita pelo mercado. Depois ha-via o problema do tamanho da produção, foi precisoampliar para concorrer com o mercado externo. Comovocês conseguem prescindir da infra-estrutura do go-verno local para viabilizar o Projeto? Como se conse-gue prescindir das prefeituras?

Ismael Ferreira de Oliveira ] É como umaescada, você dá um passo e aparece outro degrau.Surgem sempre novas idéias e oportunidades. Acooperação internacional entra no financiamentode um ou outro projeto pequeno, que então servede exemplo para conseguir financiamento paraoutro pequeno projeto, e assim por diante. Foram18 anos de trabalho para se chegar à condiçãoatual, procuramos mostrar que é possível fazercom a força da comunidade, para não ficar depen-dendo somente do poder público. Quanto à rota-tividade, não acontece muito, acontecia somenteno início. A rotatividade não é grande, foi somenteno início, depois se corrigiu o rumo, passou-se aexigir um compromisso maior dos associados, oque diminuiu a rotatividade.

Peter Spink ] Gostaria de conhecer maisdetalhes sobre o tipo de apoio oriundo da coopera-ção internacional não-governamental.

Ismael Ferreira de Oliveira ] A cooperaçãointernacional financia pequenos empreendimentos,

provando que é possível realizar. Após essas inicia-tivas pioneiras, o crédito tradicional começou a apa-recer. As primeiras iniciativas foram totalmentefinanciadas por ONGs internacionais.

Pablo Sidersky ] A experiência da APAEB deValente é única, poucos chegaram onde vocês che-garam. Qual a razão? Porque somente a APAEB deValente, porque não se reproduzem APAEBs “mo-delo APAEB de Valente” pelo Nordeste afora?

Ismael Ferreira de Oliveira ] Há um des-crédito em relação ao cooperativismo no Nordeste.Também tem a questão de trabalhar os recursos domunicípio: o que temos – temos sisal? Então, va-mos trabalhar o sisal. Trabalhar as atividades viá-veis para a localidade, e não tentar sofisticar de-mais, senão acaba desvirtuando. Existiria uma mis-tura de associação e cooperativismo com a políticapartidária. Além disso, a questão gerencial é negli-genciada, o que gera descrédito em relação ao coo-perativismo. O trabalho enfatizado no município tam-bém foi importante: não adianta ficar esperando pelachuva, tem de se buscar soluções viáveis para aregião, para funcionar como carro-chefe, mas temde se diversificar, identificar a realidade e todo oseu potencial.

Ademar Marques ] No que se refere à pro-dução, a APAEB enfrentou alguma dificuldade jun-to ao poder público? Como aproveitar para contri-buir no resgate e no fortalecimento da cultura lo-cal, aproveitando o enorme potencial de mobili-zação que vocês desenvolveram? A questão da ci-dadania parece mais ampla do que a mera sobre-vivência, certo? Não é apenas a produção que im-porta. Como resgatar isso?

Vânia Ribeiro ] Sei que há dificuldade deavaliar a melhoria de vida da população local. Mascomo está a questão do êxodo rural? Os filhos des-ses produtores rurais estão indo para as cidades?O êxodo rural se estabilizou?

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Ismael Ferreira de Oliveira ] Com a capa-citação e a geração de renda, a melhoria geral davida diminui o êxodo. Também ocorre um resgatede valores culturais (música, festivais etc.) que “se-guram” a comunidade, fortalecendo os laços como campo. Temos, por exemplo, a iniciativa de umarádio comunitária, com resultados bastante inte-ressantes. A questão cultural tem sido fruto de umesforço pelo qual se resgata a cultura tradicionalda região, até mesmo um CD foi gravado com can-tigas locais.

Todo nosso trabalho está voltado para a melhoriada qualidade de vida, principalmente nos municípiospróximos de Valente. A APAEB oferece treinamentopara a instalação de programas similares.

O êxodo não pode ser exatamente medido, mascom certeza 520 pessoas estão trabalhando no cam-po, numa população de 20.000 pessoas, o que con-tribui para a diminuição do êxodo rural.

Nilson Costa ] Com relação a outros muni-cípios, o que Valente tem de diferente? Qual osegredo? Valente é uma região diferente em re-lação ao resto da Bahia? Qual é o segredo destaassociação?

Ismael Ferreira de Oliveira ] Não deveriater diferença, a produção é a mesma, a região tam-bém. Só que os outros municípios não são Valente.Não há grandes diferenças, a distribuição da terraé a mesma, não tem nada diferente, só o pessoal delá “é valente”.

Mirna Pimentel ] Como a APAEB vê estesdois poderes: o governamental e o da associação?É possível viver negando o governamental? Qual éo retorno no âmbito da institucionalidade demo-crática? Como enxergar a convivência entre a pre-feitura e uma associação deste porte? É possívelessa convivência?

Maria do Carmo Brant ] A APAEB foicriando uma identidade própria, muito mais de em-

presa. Até que ponto não corre o risco de perdereficácia por ter também uma série de outras ati-vidades, um leque amplo de atuação? Tenho a im-pressão de que muitas ONGs tentam trabalhar emmuitas áreas de uma vez e são menos efetivas doque poderiam vir a ser. De certa forma, a carac-terística de uma cooperativa com cara de ONG éa militância política, que deve gerar conflitos como poder público instalado. Na realidade, nestes18 anos de existência, vocês foram criando umavocação própria, tendo a cara de uma empresa“charmosa”. Até que ponto a multiplicidade deatividades sociais não se coloca como risco paraessa empresa?

Beatriz Saldanha ] A demanda do mercado émaior que a capacidade de produção ou não?

Ismael Ferreira de Oliveira ] Sobre a pre-feitura: há um certo respeito em relação à APAEB,mas pouco interesse de ajuda real. Da nossa parte,existe um respeito em relação às prefeituras, masnão há maior expectativa, o que a APAEB busca fa-zer é despertar na comunidade uma conscientiza-ção maior. Gostaríamos que o poder público esti-vesse mais à disposição para construir uma verda-deira cidadania e capacitar o cidadão.

A administração de conflitos ocorre naturalmente.Hoje nos faltam recursos para produzir. Mercado nóstemos: 78% da produção vai para o exterior (Alema-nha e Itália, por exemplo), mas trabalha-se a amplia-ção do mercado interno para pequenos clientes. Existecapacidade ociosa. A APAEB é uma empresa mesmoe é administrada como tal, até como forma de sus-tentar as outras atividades.

Vânia Ribeiro ] Como funciona o planeja-mento orçamentário? A verba vai sendo liberadaassim que necessário? Isso não é complicado?Sabemos que o processo orçamentário é definidono ano anterior: como fica? Os subprojetos sãoanalisados ao longo do ano ou são aprovados parao ano subseqüente?

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Fernanda Costa ] No Projeto São José, comose dá a escolha dos representantes dos conselhos?Qual a origem dos recursos? Cada município temseu conselho? O conselho pode liberar recursos parafins não previstos no orçamento? Cada conselho temliberdade para alocar esses recursos? São 176 mu-nicípios, todos têm seu conselho? Qual é a ordemde prioridade? Como se distribuem os recursos en-tre os 176 municípios? Os recursos são a fundo per-dido? Os projetos de infra-estrutura são repassa-dos para entidades, e a manutenção posterior comofica? Quais são as políticas para manter as popula-ções nas terras adquiridas?

Pablo Sidersky ] O circuito de montagem deprojetos parece o fundo municipal do Banco Mun-dial? Destes R$120 milhões, quantos foram paraeletrificação e água? No município de Tauá existealgum projeto?

Neide Silva ] Sobre o programa do BN/PNUD,quais são as dificuldades e os resultados alcança-dos em relação às diversas fases do Programa?Como funciona a questão do crédito e da capacita-ção? Quais são as expectativas da população? Exis-te inadimplência? Existe alguma avaliação?

Beatriz Saldanha ] No programa do Bancodo Nordeste, qual o custo para a comunidade destetrabalho de capacitação? Quem paga a capacitação?Ela está atrelada ao crédito?

Carlos Osório ] As maiores dificuldades estãona parte institucional: como construir os sistemas,as parcerias etc. As maiores dificuldades são pro-ver o arranjo institucional, tanto em relação às di-retorias como também em relação ao trabalho emparcerias. Também existem muitas dificuldades notrabalho com as prefeituras, há muita rejeição. Asprefeituras nem sempre estão dispostas a trabalhar,o que dificulta a ampliação de parcerias. Já as comu-nidades possuem uma resposta fantástica em rela-

ção à proposta de capacitação. Como todo proces-so social, no começo existe resistência. Quanto aocusto da capacitação, a comunidade não precisagastar recursos.

Josias Farias Neto ] As dificuldades ocorrempor causa da estiagem, que levou a terceirizar a ela-boração de projetos e a assistência técnica. Mesmoassim, existe uma certa ressalva em relação ao tra-balho de ONGs e de empresas privadas. Houve adecisão de terceirizar assistência técnica, abrindoespaço para a participação das ONGs.

Há uma dificuldade no acompanhamento técni-co dos trabalhos, devido ao número de projetos;acaba sendo por amostragem, o que não é ideal.

Outra dificuldade é trabalhar/conviver com pro-gramas assistencialistas. Eles acabam atrapalhan-do a evolução dos projetos.

Sobre a participação do Banco Mundial. Metas:tem horizonte até o ano 2000; são fixadas metasanuais para cada Estado. O Banco entra com umaparte da verba, o Estado com outra e o resto é coma comunidade. Os projetos vão sendo liberados deacordo com as prioridades (de acordo com a épocado ano etc.). Cada município tem direito a uma cotade verba, mas também não se pode penalizar ummunicípio que está engajado, com projetos bem-su-cedidos, para atender outras localidades que estãomais lentas. A escolha dos representantes dos con-selhos é feita inicialmente por uma ONG (InstitutoParticipação), que tem grande experiência nessaárea metodológica.

Depois, os candidatos passam um tempo no muni-cípio e a escolha final dos representantes é feita pelospróprios municípios. A distribuição da verba mudou: oBanco Mundial entrava com 59%, o Estado do Cearácom 26% e o resto era coberto pela comunidade. De-vido à quantidade de projetos, o Banco Mundial au-mentou a participação para 75%, ficando 15% para oEstado e 10% para a comunidade. Os projetos sãoestudados de forma a criar uma priorização.

Quanto à manutenção de projetos de infra-es-

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trutura: o papel dos técnicos das secretarias estáem assessorar as lideranças comunitárias a fim degarantir à população a possibilidade de influenciaras escolhas relativas ao fornecimento de serviçospúblicos importantes (projetos de habitação, eletri-cidade, água etc.).

Os critérios são o populacional e o de pobreza,por meio deum indicador desenvolvido pela Secre-taria de Planejamento. Assim, são estabelecidascotas para cada município.

Em 1996, os municípios mais pobres tinham me-nos projetos devido à falta de organização comunitá-ria, decorrente da ação de oligarquias. Nestes muni-cípios foi estimulada a organização comunitária.

Os representantes do conselho são escolhidospelos próprios atores representados. Uma ONG“Instituto Participação”, que possui uma estraté-gia metodológica, identifica os segmentos mais im-portantes no município.

Em todo pleito, os conselhos são ouvidos de formaa determinar as prioridades municipais. Para o futuro,busca-se a institucionalização dos conselhos, que pos-teriormente serão responsáveis pelos recursos.

A manutenção dos projetos de infra-estrutura é feitapor carta-convite (licitação), que conta com o trabalhoda assessoria técnica. Todo projeto é discutido com acomunidade, com a presença do promotor.

A aquisição de terras possui diversos projetosde infra-estrutura, para que os novos assentadostenham melhores condições. Porém, ainda faltampolíticas de saúde e de educação. Esses imóveis sãobeneficiados pelo PROCER. A maioria dos financia-mentos é do PAC - Programa de Apoio Comunitário(160), o FUMAC - Fundo Municipal de Apoio Comuni-tário é minoria (16). Do total liberado, 60% é paraeletrificação, a água está em torno de 10%.

O plano de desenvolvimento municipal é impor-tante para integrar as ações do Projeto São José eas dos demais programas de governo. Mas o Proje-to tem potencial apenas para amenizar. Se não hou-ver ações contra a pobreza no plano nacional, nadafeito. O quadro só vai se agravar.

Luis de La Mora ] Existe uma preocupaçãoquanto à sustentabilidade e à inserção da comu-nidade no Projeto. Também a questão do nível daparticipação: tende a haver um afunilamento –embaixo, todos podem participar, mas em cimasão poucos que mandam. O que me interessa e mepreocupa é a sustentabilidade em relação à inser-ção plena da comunidade. O Projeto São José vemcom uma certa verticalidade fundamental, mesmoque crie no município um conselho, a decisão é ver-ticalizada. No caso da experiência da APAEB, pare-ce que a decisão é mais horizontal. Até que ponto oprimeiro é um projeto do Estado ou responde ape-nas aos critérios do Banco Mundial? A sustentabili-dade será mais presente quando estiver diretamen-te ligada ao processo decisório. Até porque a mu-dança de governo pode fazer com que seja meroinstrumento de controle.

Serafim Ferraz ] A continuidade é importan-te. Tivemos três experiências distintas, na qual de-vemos discutir o papel do Estado e até mesmo anecessidade de seu envolvimento nessas ações.

Peter Spink ] Sobre a experiência da APAEB,o Estado está ou não presente? Ou está presentepor estar ausente?

Vando Nogueira ] Parece que todos traba-lham com a pobreza. No Brasil, são cerca de 4 mi-lhões de crianças que trabalham. Como generali-zar projetos governamentais que são bem-sucedi-dos? A experiência da Bahia também é bem-suce-dida, como generalizar? Se pensamos projetos pi-lotos e experiências bem-sucedidas, é importantesaber como generalizar. Cada um dos atores têmlimites, quanto mais alto o nível de generalizaçãomais o compromisso se relaciona às vantagenscomparativas nas quais os governos centrais colo-cam sua ênfase. Como articular politicamente es-sas iniciativas para que o processo de desenvolvi-mento absorva isso?

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Pedro Jacobi ] Quando ouvimos as apresen-tações, ficamos com o gosto amargo na boca, com-parando iniciativas macro e micro, que possuemarticulações e práticas distintas. O que deve se le-var em conta é a necessidade de, a partir dessasexperiências, renegar as regras do mainstreameconômico. Existem outras formas de se pensar agestão social.

Se a capacitação não estiver diretamente ligadaaos recursos de crédito, não irá muito longe, comotambém não terá nenhuma confiabilidade. O volu-me de recursos disponíveis para investimentos emações de governo para gerar emprego e renda éirrisório frente ao montante total. Dessa forma, va-mos sempre ficar no paliativo. Como romper o pira-midal e pensar o empowerment? O Orçamento Par-ticipativo mostra que é possível democratizar a ges-tão de recursos, o que é uma questão fundamental,fazendo avançar propostas que realmente rompamo ciclo vicioso.

Se, por um lado, a questão da capacitação é fun-damental numa sociedade tão desigual, por outro,pode-se gerar uma quebra de legitimidade. Ou seja,capacitar para quê? É importante capacitar, mas paraque fim? É preciso que se assuma uma certa posturanão tecnocrática, para introduzir questões que real-mente rompam o ciclo. Ou seja, sustentabilidade:capacitar, mas depois a pessoa deve realmente con-seguir inserir-se na sociedade, senão fica a capaci-tação pela capacitação.

Franklin Coelho ] Alguns dilemas estãopresentes. Política pública e mercado. A experiên-cia da APAEB é interessante, é uma ONG que viraempresa. Estamos trabalhando no campo do mer-cado ou das políticas públicas? E como misturar am-bos? Precisamos romper a visão neoclássica de quemercados são relações de oferta e demanda, exis-tem relações de poder nesse meio.

O campo de pactuação de atores em ação estra-tégica deve ser distinto para uma economia solidá-ria. Como combinar os elementos? É um novo ator,

um novo tipo de empresa. Será que é a ausência doEstado que faz a APAEB assumir o papel de gestorpúblico? A ausência de Estado faz com que a APAEBassuma funções sociais. Parece que é importantetrabalhar essa alteração das relações de poder ecomo isso se dá nas diversas experiências.

Há que se louvar o papel do Banco do Nordeste,a lógica interna do banco coloca barreiras para quea missão do Projeto tenha limites. Existe uma dis-tinção entre governo, mercado e o campo das rela-ções de poder.

Ismael Ferreira de Oliveira ] Escutando orelato sobre a experiência do Ceará, vemos o des-colamento entre as normas técnicas e a viabilidadeeconômica, a justificação de comissões mal forma-das acaba sendo pura e simplesmente o cumprimen-to de exigências do Banco Mundial. Projetos de ele-trificação são mais implantados porque geram vo-tos. A quem concretamente interessa a mudança darealidade? De que forma se pode canalizar a sériede programas existentes? A existência de comis-sões não garante a qualidade do projeto. As infor-mações devem ser democratizadas. Dinheiro nãofalta, falta alterar decisões. “Quero dinheiro paracriar cabras”. “Não tem, mas tem para implantaruma casa de farinha”. “Não, mas não planto nadaaqui, mas posso criar cabras”. “Mas não tem di-nheiro, você precisa é de uma casa de farinha, odinheiro está aqui, é só você querer”. E assim vai,assim as coisas são financiadas e o dinheiro jogadofora. Vamos discutir: como o recurso chega ondedeve chegar?

Pablo Sidersky ] A discussão que deve sercolocada é sobre o papel do Estado em um quadro dedesenvolvimento rural diferenciado. Há uma série defunções do Estado que estão em xeque, por exemplo:o papel da extensão rural. É difícil comparar os exem-plos da APAEB e do Projeto São José. São atores di-ferentes, âmbitos de governo igualmente distintos eem ambos vejo um potencial de complementaridade.

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O índice de 77% de indigentes no Ceará não surgepor acaso. Qual é o papel da extensão rural? Per-nambuco está caindo aos pedaços, Alagoas não exis-te. Transpareceu que as soluções técnicas estão dis-poníveis, mas isso não é verídico.

Nesse sentido, o Projeto São José se coloca comouma coisa rígida, centrada na máquina do Estado.Flexibilização é, portanto, uma palavra importantena busca de novas formas de agir, o que ocorre tam-bém no Banco do Nordeste.

Enfim, existe um problema de rigidez. Voltando àcomplementaridade teórica, o Projeto São José vemdesenvolvendo, sobretudo, obras de infra-estruturabásica e é difícil que esse tipo de projeto facilite inicia-tivas como a da APAEB. São basicamente projetos deinfra-estrutura, no futuro podem ser programas maisconsistentes de potencialização de iniciativas.

Peter Spink ] Uma série de questões emergem.Por exemplo: o dinheiro do Banco Mundial é empres-tado, não é dado para o Projeto São José, e isso impli-ca a decisão de alguém de se endividar em relação aum determinado modelo de desenvolvimento.

Serafim Ferraz ] O Estado deixa um espaço aser ocupado. No caso da APAEB e do Projeto SãoJosé, estamos falando de protótipos de experiênciasque deram certo e merecem ser expandidas. É com-plicado ficar numa reflexão que nos leve ao imobilis-mo, privilegiando o lado negativo dessas iniciativas,sem aproveitar o que elas podem estar apontandode melhoria da qualidade de vida da população po-bre. Em suma, devemos considerá-las como experiên-cias que estão inseridas dentro de um processo evo-lutivo da sociedade e que, portanto, devem ser en-tendidas como exemplos.

Peter Spink ] É importante aprofundar a linhada complementaridade. O governo do Ceará nunca seráa APAEB, o Banco do Nordeste nunca será governoestadual e tampouco será a APAEB. Assim, qual seriao espaço para aumentar a complementaridade?

Beatriz Saldanha ] Questão da complementa-ridade: é preciso que os elementos se encaixem. Háa necessidade de que as experiências sejam ouvidase divididas e que se complementem. Que haja umencaixe entre as associações, as instituições de go-verno, enfim, entre os diversos atores envolvidos. Nahora em que você buscar financiamento, por exem-plo, para o sisal, é importante não haver a rigidez. Asredes elétricas são básicas, mas o que vai surgir apartir desta infra-estrutura?

Tereza Lima ] A complementaridade é um pro-cesso dinâmico, os atores estão se movendo e issoapresenta uma certo grau de dificuldade de encaixe.

Pedro Jacobi ] É importante estar refletindosobre onde estão ocorrendo as mudanças de para-digmas. Por um lado, não se pode esperar tanto dogoverno, pois ele está sendo enxugado. Temos queapostar cada vez mais em convencer as elites dopaís a participar do processo social, ou seja, traba-lhar a redistribuição de renda.

Gostaria de tocar no assunto relativo à mudan-ça do paradigma para se pensar a questão dacomplementaridade. Sem dúvida alguma, o grandedesafio é enfrentar o viés tecnocrático, que é a mar-ca da rigidez. Essa discussão hoje é fundamental.As demandas da sociedade vêm da comunidade lo-cal e nesse sentido é importante refletir sobre oque significa a mudança de paradigma em relaçãoao modelo de desenvolvimento. Estamos vivendoum momento em que não se pode esperar tanto doEstado, que está mudando sua dinâmica de ges-tão. Ele está sendo enxugado e isso é um dado con-creto. Por outro lado, as elites deste país devemter um comportamento mais orientado para a dis-tribuição de renda, o setor privado deve fazer suaparte. A escala de atuação das ONGs é limitada.Para uma mudança qualitativa deve se pensar oparadigma de desenvolvimento: como se alocamrecursos e como a sociedade deve pressionar parase mudar essa lógica?

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Carlos Osório ] Não vejo complementaridadeentre essas experiências. Um aspecto importante éo técnico-econômico, o fator político também é im-portante, o aspecto ambiental é importante e o cul-tural também, pois incorpora os anteriores.

Como fazer para visualizar todas essas expe-riências? Como construir a sustentabilidade em ummundo no qual o setor financeiro gerou uma mega-organização, que influi de forma relevante na atua-ção social? A sociedade deve pensar em si agora.Este é um fator importante. A sociedade deve espe-rar por uma mudança política ou deve ela mesmofazer esta mudança?

Josias Farias Neto ] Não temos ainda conse-lhos municipais que trabalham efetivamente sobreas demandas da comunidade. A participação efeti-va das comunidades no processo é a linha que deveser perseguida e fortalecida. Apesar de persistir adúvida, o rumo parece que está correto. Avança-mos ao permitir que as comunidades decidam, osconselhos ainda não estão suficientemente organi-zados. Este é um processo que vai avançando con-forme a sociedade vai evoluindo; mesmo dentro doespaço governamental há condições de se avançar.O que pode ser feito para fortalecer os aspectospositivos? Dentro do espaço governamental, ape-sar das restrições e contradições, nós temos avan-çado. No caso do Ceará, de cada dez residências,apenas uma tinha luz. Com o Projeto São José, me-tade dessas residências hoje têm energia. As pró-prias comunidades exigem a luz, o Ceará não aceitaimposições do Banco Mundial, porque é a socieda-de do Ceará que vai pagar os empréstimos. Quemconhece a realidade do campo sabe que a demandaé por água e por eletrificação. Além da complemen-taridade, deve se discutir as práticas internas dopoder público: as secretarias trabalham como sefossem ilhas. Será que nesse ambiente poderemosimplantar a complementaridade?

Mas é preciso existir o otimismo de que, mesmosendo governamental, a iniciativa pode funcionar.Está havendo avanço, sim!

É preciso buscar desenvolver projetos como oSão José, que estejam dentro da realidade local.Também é preciso evitar a imposição de projetosque não podem ser sustentados pela população lo-cal, seja quanto à capacitação, manutenção etc.(exemplo dos postes de luz que surgem “milagro-samente” na época das eleições).

Peter Spink ] O desafio do Ceará é procurarcriar um mecanismo de coordenação setorial de bai-xo custo administrativo. A complementaridade deveser construída, mas, confrontando as experiências,vemos que, colocando os mecanismos de filtragempróximos à população, a atuação multidisciplinar foirealmente implantada. Agora, uma pergunta se im-põe: como se lida com a construção social que aspessoas fazem?

Luis de La Mora ] O Estado e a sociedadecivil são abstrações, na realidade o que temos sãopessoas que se organizam. Assim, nós devemos noscapacitar para repensar a busca de saídas. Todosaqui são otimistas, tentando juntar experiências paraanalisar e debater. A dialética é complexa: assisti-mos aqui três casos imperfeitos e, aliás, vimos comotambém é imperfeita a nossa realidade.

Os três projetos são, claro, imperfeitos, comotudo é. Mas podemos aprender muito com essasexperiências. Atualmente, de um lado, existe umaarticulação sem crítica, por outro, uma crítica semarticulação. Precisamos de uma articulação críti-ca, sem ser promíscua e sem também ser, poroutro lado, aquela crítica ferrenha que acaba pornão fazer nada com medo de se sujar. É precisocriar mecanismos para isso, para aproximar oslados e encorajar uma colaboração crítica. Há pos-sibilidade de uma colaboração crítica assim, commaior dignidade e continuidade. Mas é precisouma vigilância permanente, um mecanismo soci-al de controle.

Cabe a cada um se aproximar, se integrar, con-centrar idéias e esforços, pois existem recursos quese perdem, a sociedade deve ter acesso ao Estado

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e o mesmo não deve ser corrupto. O que tem debom deve ser retido, sintetizado e generalizado,porém eliminando o que é ruim.

Pablo Sidersky ] A sensação que a exposi-ção do Ismael (APAEB) passou diz respeito ao po-tencial de complementaridade, há uma grande di-ficuldade para que as iniciativas da sociedade civilencontrem eco na atuação do Estado. Haveria, por-tanto, uma necessidade real de que as iniciativasemanadas da sociedade civil pudessem ser gene-ralizadas em programas de governo e, também, emoutros programas da sociedade civil, numa lógicade soma de esforços.

Maria do Carmo Brant ] Nós já estamosvivendo a mudança de paradigma, talvez não quei-ramos reconhecer isto. É possível analisar expe-riências inovadoras como as que estamos discutin-do aqui, porém é importante que essas mesmas ini-ciativas possuam indicadores de impacto. Deve sefazer marketing de resultados. Existe pouco enfo-que em programas mais “discretos”, que estão cui-dando, por exemplo, de escolaridade, emprego erenda etc. A questão do marketing é extremamentenecessária na “venda” de projetos.

Neide Silva ] Concordo com a necessidadeda mudança de paradigmas, mas a pobreza nuncaesteve tão presente. E, diante desse quadro, qualé a nossa capacidade de resolver os problemas? Equanto ao aprofundamento da crise, quais as pers-pectivas para um trabalho efetivo de combate àpobreza? Este evento configura uma mudança deparadigma, mas por outro lado ainda não aban-dona o realismo de que estamos vendendo a idéiado caos. A magnitude da pobreza frente à nossaincapacidade de encontrar soluções continua mui-to presente.

Peter Spink ] A situação é caótica, mas temoscoisas acontecendo, embora sejam ainda imperfeitas.É preciso fazer o balanço entre otimismo e pessimis-

mo, mas há movimento na capacidade de debater, ehonestidade na capacidade de aceitar que, às vezes,não temos as respostas. Entretanto, não podemosnos esquecer da educação. É importante a gente selembrar da escola agrícola da APAEB – precisamosde mais escolas assim, inseridas na realidade socialde seu público-alvo.

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Esta síntese é um desafio. O espírito final deve serressaltado: não estamos avaliando experiências. É umprocesso de aprendizado coletivo, ninguém é perfei-to, nenhuma experiência é perfeita. Não há nenhumavisão pessimista em olhar fracassos e aprender comestes fracassos.

A questão da pobreza já foi suficientemente dis-cutida, inclusive historicamente, se compararmoscom o momento presente, o debate e o olhar sobrea pobreza é outro, mais ligado à questão daglobalização e da mudança de paradigmas. Temtambém a questão da relação entre o macro e omicro. A questão da pobreza ainda não ficou bemclara, há uma territorialização da pobreza.

Quanto à dimensão da replicabilidade, muitasexperiências são muito específicas em relação à sualocalidade - como replicá-las?

Qual é o marco legal destas experiências?Existe um certo contraste entre as ações locais

e o modelo de desenvolvimento. Em alguns momen-tos se procura formatar pela especificidade do ter-ritório. Será que a separação entre urbano e ruraldeve ser feita com base nas metrópoles e cidadespequenas e médias?

A relação entre local, municipal e regional deveser repensada. Muito do local é igual ao municipal.

Há também as questões do setorial, da concep-ção de desenvolvimento, dos atores ou clientes, darelação entre política pública e mercado, da lógicade promoção versus lógica econômica, dos impac-tos, dos dados (que tipo de dados, porque não seconstrói?), do campo de governabilidade e de com-plementaridade.

Resumindo alguns pontos aqui discutidos:1-1-1-1-1- conceitual – historicidade;2-2-2-2-2- mudança do paradigma de desenvolvimento;3-3-3-3-3- marco legal;4-4-4-4-4- se não há modelos, dada a especificidade de cadacaso, então, o que podemos extrair dessas experi-ências?;5-5-5-5-5- metropolitano X cidade pequena e média;6-6-6-6-6- concepção de desenvolvimento;7-7-7-7-7- atores, sujeitos, clientela, tutela, fortalecimento,base econômica... quem está ausente?;8-8-8-8-8- política pública X mercado, promoção social Xlógica econômica;9-9-9-9-9- impactos, dados, cultura dos projetos;10-10-10-10-10- dimensão do campo de governabilidade;11-11-11-11-11- avaliação: por que não temos uma base paraoperar a avaliação?;12-12-12-12-12- política/paradigma/transição/oportunidades eameaças.

Síntese das discussõesComentador: Franklin Coelho

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Nosso foco deve estar centrado na questão deampliar a cidadania de forma abrangente. Gran-de parte do que se faz mostra que efetivamenteexiste um compromisso com a transformação dasociedade brasileira. E aí temos como central aquestão educativa.

Do que estamos falando? Porque nos reunimosaqui? O que significa pensar essa dinâmica? Cadavez mais, verificamos que muitas experiências sãobem-sucedidas ou que existem todas as condiçõespara que isso ocorra. Devemos ampliar práticas coma perspectiva de que elas pertencem à sociedade,pois visam ampliar a cidadania e fortalecer a rela-ção entre direitos e deveres, além, é claro, de te-rem condições de se multiplicar. O importante ébuscar ampliar as práticas sem dar relevância aquem pertencem estas iniciativas, não importa“quem é dono do quê”.

Na Europa, parte do neoliberalismo está sendosubstituída pela terceira via. Dessa forma, temos aía referência de que a sociedade está se posicionandoneste sentido. O que está sendo colocado é a ques-tão de qual vai ser o desenho desse Estado. É preci-so que ele se relacione com a sociedade civil e essanova concepção será híbrida, condicionada por umquadro complexo de incertezas decorrentes da

globalização, do desemprego tecnológico etc. Hoje,a palavra neoliberal está em discussão. Existe umcaldo de cultura na sociedade que está questionan-do as práticas neoliberais. E esse modelo neoliberaljá está “balançando” na Europa. Então: qual o novodesenho de Estado que deverá emergir? Oparadigma do Estado mínimo já está sendo forte-mente questionado. Quais as novas configuraçõesdo Estado?

Do ponto de vista da nossa realidade, temos umEstado que nunca foi provedor, e que está se fragili-zando cada vez mais. Então, quem vai ser o prove-dor? O Estado está diminuindo sua intencionalidadede provedor. A APAEB, por exemplo, busca uma re-distribuição de renda no plano local, a questão é queo Estado se fragiliza nesse papel e daí, quem será oprovedor? Mas, mesmo os setores mais progressis-tas não estão conseguindo formular respostas às re-formas que estão ocorrendo no Estado.

Surge, então, a necessidade de multiplicar prá-ticas solidárias e participativas. O que significareinventar? Na verdade, não é nem reinventar, masinventar mesmo. Está sendo colocada uma buscade respostas para a falta de compromisso, uma bus-ca de compromisso. Para nós é inventar, e aí é inte-ressante verificar que, em ambas as apresentações

Participação, aliançase construção da cidadania

Expositor: Pedro Jacobi

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dos gestores públicos aqui presentes, ficou claroque há um interesse de se buscar respostas para adiminuição da crise social.

Estão em curso reformas, algumas sendo em-purradas “goela abaixo” e que, em alguns casos,aglutinam resistências. De fato, o que nós verifi-camos é que não têm havido condições de contra-por reformas que sempre são permeadas pela de-fesa de interesses corporativos. A inadimplênciado próprio Estado mostra que é necessário outrotipo de financiamento.

Quando falamos de parcerias, precisamos le-var em conta as dimensões. Como, a partir dessastransformações, podemos contrapor uma propos-ta de provisão? O desafio parece ser construir umdiálogo mais franco e aberto com aqueles que es-tão à frente das mudanças, aqueles que estão àfrente das grandes organizações estatais, multila-terais, de cooperação etc., unindo gestores e ou-tros atores na busca de novas alternativas. Comoflexibilizar as formas de pensar a gestão pública?É possível que os órgãos de gestão tenham jogo decintura? Além disso, a maior parte das parceriasnão são compromissos de transformação, mas ape-nas jogos de cena. A dimensão que está reunidanesta mesa é de multiplicar práticas solidárias eparticipativas. A palavra reinvenção é pertinente,mas neste sentido.

De que forma se pode reforçar a autonomia e alegitimidade de atores sociais que funcionam den-tro de outra lógica? De que forma se sensibilizamatores sociais que muito pouca cidadania possuem?De que maneira se reverte o pensamento da renta-bilidade do financiamento e se complementa comimpacto social esse tipo de locação de recursos?Esta é a grande questão.

O que significa parceria e o que significa coo-peração? É algo novo frente à filantropia tradicionaldo empresariado, existe o compromisso de não tersomente um caráter substitutivo. Afinal, como re-solver o problema da desigualdade? Neste senti-do, é cada vez mais importante repensar as enge-nharias institucionais que entendem o terceiro se-

tor como um ator representativo, como reguladorsocial. O papel da comunidade precisa crescer cadavez mais e devem ser superados os elementosconstrangedores e inibidores dessa atuação.

É preciso abrir espaço para muita experimen-tação, visando a transformação das relações so-ciais, que devem ser desenhadas de forma a nãoinibir, a não restringir. É também necessário en-frentar as resistências e os constrangimentos deordem burocrática. É preciso se indignar em re-lação ao status quo vigente.

Assim, estamos diante do desafio de que a ad-ministração pública consiga avançar e romper alógica mercantil no nível do desenvolvimento lo-cal, principalmente no pequeno município, onde aspessoas estão engajadas no universo agrário. Euvejo que alguns desenhos são fundamentais: a edu-cação, a formação, a capacitação, a criação de la-ços de identidade, o resgate da auto-estima, a aber-tura de possibilidades para que as pessoas se tor-nem cada vez mais confiantes na definição e ges-tão de projetos. Daí a importância de uma atitudemuito mais democrática. Além do voluntarismo dasONGs, é preciso mudar a relação que o Estado temcom a cidadania.

O outro lado desafiador é a necessidade de tra-balhar com experiências que reforçam práticas soli-dárias. A parceria reforça as diferenças e a busca deobjetivos comuns. Que condições podem ser criadaspara a administração pública no sentido de mudar asrelações com a sociedade? Ninguém vai substituir oEstado, porque temos uma relação cada vez mais com-plexa que se amplia, órgãos que se multiplicam. De-vemos sair da lógica de tutela e gerar mudanças cul-turais que reforcem a cidadania.

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Trabalharei alguns pontos para situar a proble-mática da Amazônia dentro de uma visão macro.

1) Conceito de desenvolvimento: discussão desoluções concretas de desenvolvimento local. É umprocesso de respeito ao futuro. Que fim propomospara este processo? É preciso um eixo de desen-volvimento que permita atualizar as potencialida-des. O conceito de desenvolvimento é um proces-so social de crescimento econômico sem fim, ouum processo humano que tem o intuito de atingirdeterminados fins? Que fins propomos para esteprocesso? O homem é um ser natural, isso podeparecer supérfluo, mas vai nos orientar para umasérie de distinções. O desenvolvimento é o que nospermite tornar atuais as potencialidades do serhumano, não apenas físicas, mas morais, espiri-tuais, culturais etc. O conceito de desenvolvimentodeve ser visto com relação aos seus fins, como umprocesso humano, que visa ao homem, ao desen-volvimento do homem.

2) A sustentabilidade, por sua vez, tem relaçãocom a preservação do ambiente natural, de tal ma-neira que as gerações futuras possam utilizar a na-tureza. Estamos tratando da responsabilidade dageração atual com gerações que não existem, tra-ta-se de um compromisso que devemos assumir. Oque quero sublinhar é o fato de que discutir susten-tabilidade é discutir a sustentabilidade em váriasdimensões e aspectos: sustentabilidade ética, esté-tica e profética, destacando o fato em três dimen-sões de natureza prática: o desenvolvimento sus-

tentado sob o ponto de vista ecológico, a susten-tabilidade econômica e a sustentabilidade ecumênicadas populações humanas situadas em um territó-rio, enfim, da humanidade em sua dimensão maior.Sustentabilidade ECO-ECO-ECU: ecológico, econômi-co e ecumênico.

3) A preservação do meio ambiente não é umvalor em si, é um processo com determinados finsque significam a busca de respostas visando à sa-tisfação das necessidades humanas, não apenas asnecessidades biológicas, mas também as outras, deaprimoramento cultural do ser humano. Não se tra-ta somente de mantê-lo vivo e sim de aprimorá-lodo ponto de vista intelectual, espiritual, cultural,emocional. O que diferencia o homem das formigasé o fato de que no formigueiro não vamos encontrarviolinista, orquestra e estátuas de formigas céle-bres. Há algumas décadas atrás, difundiu-se a idéiade investimento de antecipação e se imaginava que,realizados estes investimentos, o resto viria poracréscimo. Não é assim. O meio ambiente passa aser visto como algo que é fútil, porque não respon-de a uma preocupação econômica, a beleza da na-tureza é gratuita. Ainda podemos desfrutar do luarsem pagar impostos, o meio ambiente tem um valorintrínseco superior ao valor de troca.

4) Ao se falar em sustentabilidade econômica,é importante pensar em termos de sociedade sus-tentável, o que significa dar condições para que oprogresso científico e técnico continue. O impor-tante é que isso seja enquadrado dentro de uma

Pobreza e desenvolvimento regionalExpositor: Armando Mendes

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perspectiva que extrapole essa condição. Trata-se,no caso da Amazônia, de criar as condições e asbases para um sistema produtivo com marca pró-pria, que considere a vocação específica da região.Não se trata de resgatar o extrativismo, porque oextrativismo não tem condições de acompanhar asescalas de demandas, não é racional nem economi-camente viável. Tampouco algo como a Zona Fran-ca de Manaus. Trata-se de conferir uma marca re-gistrada da Amazônia: enfim, consolidar empreen-dimentos que se imbriquem com outros empreen-dimentos, que precisem de matérias-primas e in-sumos encontrados ali mesmo, e só ali, de forma agerar produtos com base em mercados sustentá-veis. A proposta de uma organização produtiva in-serida no mercado é sustentável, não se pode de-pender de iniciativas aleatórias.

5) O aspecto econômico nem sempre está mui-to presente. Alguns tentam reduzir o meio ambien-te sustentável à manutenção da floresta. O econô-mico é base para qualquer proposta de desenvol-vimento sustentável, não é o fim em si, mas é algoque não pode ser ignorado. Uma economia susten-tável é o ponto de partida fundamental. A maioriados projetos se esgotavam no âmbito do município.Claro, podemos pensar que há uma produção exces-siva, mas não vi nenhuma referência a projetos as-sociando município e produtores e nem uma refe-rência clara sobre para qual mercado se direcioneaquela produção. A organização produtiva deveestar inserida em mercados sustentáveis e há mer-cado para esse produto. É uma reabilitação da Leide Say: a oferta cria sua própria demanda. É o quevale no caso da Amazônia. Quem conhecia, até pou-co tempo atrás, o açaí e o cupuaçú? Imaginem aquantidade de frutas saborosas e cheirosas exis-tentes na Amazônia. A Amazônia possui saborespróprios, originais.

6) Como combinar a ação do Estado com a so-ciedade? Como juntar o micro ao macro? É im-portamte reconhecer a necessidade de se aplicarações integradas, ações coordenadas, articuladasentre si, com os mesmos fins, os mesmos objeti-

vos, tendo como conseqüência políticas consis-tentes, definições de rumo no sentido de conduzira sociedade ou parte dela para determinados re-sultados, determinadas propostas. É preciso cons-tituir uma agenda. Com ações coordenadas, racio-nalmente organizadas e encadeadas.

7) Decisões políticas estão em falta. Falo de deci-são política como decisão da pólis, não dos políticos,mas da sociedade em seu conjunto. Enquanto a pró-pria sociedade não assumir essa postura, não será ogovernante quem irá resolver os problemas. É preci-so definir os fins comuns que estimulam o cresci-mento e o desenvolvimento. O Estado é um meio deregulação. O Estado tem, sim, um papel a desempe-nhar: o papel de regulação, não necessariamente deconcorrência ao setor produtivo e privado, mas sema regulação do Estado, muitas coisas não se reali-zam, não se produzem. O papel do Estado é o de re-gular e viabilizar a agenda.

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Experiênciasdiscutidas

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Implementado em 1995 como iniciativa da Secre-taria de Agricultura do Distrito Federal, o PROVE –Programa de Verticalização da Pequena Produção Ru-ral* objetiva manter a produção do campo e diminuiro êxodo rural, viabilizando a inserção dos pequenosprodutores no processo econômico. Dos aproximada-mente 12 mil produtores rurais existentes no DistritoFederal, estima-se que 40% estejam situados em umafaixa de renda bastante baixa, constituindo-se no pú-blico-alvo do PROVE. O Distrito Federal, com poucomais de 1,8 milhão de habitantes, enfrenta problemassociais resultantes da extrema desigualdade.

A concepção e forma de operação do PROVE estásustentada nas premissas de que a agroindústriafamiliar é tida como uma saída econômica, social epoliticamente viável, de que a geração de renda épossibilitada pela agregação de valor ao produto e,finalmente, de que cabe ao Estado protagonizar asações de suporte a essa população.

O Programa intervém em várias frentes, de forma agarantir todo o suporte necessário para que seus pro-dutos agreguem valor na cadeia produtiva e possamcompetir no mercado. A atuação do PROVE divide-seentre as seguintes atividades: 1) estímulo aos peque-nos produtores, com palestras e visitas a locais em quea experiência já está em execução; 2) facilitação doacesso ao financiamento junto ao Banco de Brasília –BRB (até R$ 5 mil para equipamento individual e R$ 16mil para equipamento coletivo, com juros de 6% ao ano,um ano e meio de carência e prazos de quatro a seisanos para pagamento); 3) adaptação da legislação de

forma a contemplar os requisitos de vigilância sanitá-ria, permitindo a construção de agroindústrias em tor-no de 32 m2; 4) orientação para a instalação dasagroindústrias pré-moldadas; 5) treinamento ecapacitação dos agricultores; 6) viabilização do acessoàs embalagens, que são compradas e repassadas paraos produtores ao preço de custo; 7) preparação domarketing, com etiquetas personalizadas preparadas portécnicos do programa e adquiridas pelos produtores; 8)convênio com empresa para obtenção de código inter-nacional de barras; 9) comercialização propriamentedita, articulando esforço de inserção dos produtos nasgrandes redes distribuidoras; 10) rígida fiscalização, deforma a garantir a manutenção das condições de pro-dução e dos padrões de qualidade.

O Programa já apresentava, no final de 1998, osseguintes resultados: criação de 118 agroindústri-as, com outras 14 em processo de construção, be-neficiando diretamente 178 famílias, abertura de 712postos de trabalho.

Além de proporcionar um aumento do nível de ren-da das famílias selecionadas, o PROVE tem obtidosucesso na inserção social dos excluídos e no resga-te da cidadania. Iniciativas da mesma natureza jáforam implementadas em mais de 28 municípios bra-sileiros e em alguns países da África, como Angola eCabo Verde.

Programa de Verticalização daPequena Produção Rural

Expositor: João Luiz Homem de Carvalho

DISTRITO FEDERAL

* Até 1998, o PROVE era um projeto da Secretaria de Agricultura doDistrito Federal. Com a mudança de governo, o programa foi extintopela nova administração, formando-se uma Organização Não-Governamental, denominada APROVE.

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Capital do Acre, a cidade de Rio Branco concen-tra mais da metade da população do Estado. Cercade 77% de seus quase 230 mil habitantes são deorigem rural. A cidade viveu nas duas últimas déca-das um acentuado crescimento populacional, resul-tado do declínio do extrativismo de borracha e dacastanha-do-brasil. Também contribuiu para o au-mento da população a política de ocupação da Ama-zônia nos anos 70, quando os migrantes eram ins-talados sem nenhum apoio, chegando a morrer dedoenças como a malária e a febre amarela. O re-sultado foi o inchamento de algumas cidades, ocu-padas por uma população cuja experiência de vidaestá intimamente ligada à agricultura ou ao traba-lho nos seringais.

A Secretaria Municipal de Agricultura e Abas-tecimento, em ação conjunta com as Secretariasde Planejamento e do Bem-Estar Social, elaborou oPrograma Pólo Municipal de Produção Agroflores-tal, que consiste no assentamento de famílias deex-seringueiros e ex-agricultores, na periferia dacidade, para a plantação de hortaliças, árvores fru-tíferas e a criação de animais. A implantação de umsistema agroflorestal possibilita a recuperação deáreas degradadas e a utilização racional de recur-sos naturais.

A Prefeitura comprou uma fazenda, fez levanta-mento topográfico, implantou sistema viário, de ele-trificação e de telefonia rural e distribuiu lotes (3,5a 5 hectares) para as famílias, mediante a assina-tura do Termo de Concessão de Uso do Solo. A cons-

trução das moradias, da sede administrativa do pro-jeto e dos galpões para o beneficiamento e armaze-nagem foi feita em regime de mutirão, sendo que aprefeitura forneceu material de construção e pres-tou assistência técnica.

A prefeitura, além de ter se responsabilizado pelopreparo do solo, distribuiu, para cada família, fer-ramentas, sementes, mudas e animais, tendo osagricultores se comprometido a devolver o valordesses investimentos em equivalente de produçãono futuro.

As famílias criaram a Associação dos Produ-tores do Pólo Agroflorestal e algumas tarefas es-tão sendo transferidas para a entidade. A prefei-tura se encarregou de construção de escolas, for-necimento de água, saneamento, fortalecimento dosolo, atendimento médico e odontológico, constru-ção de açudes, implantação de um programa deagricultura orgânica e fornecimento de cursos pro-fissionalizantes. Estes últimos foram oferecidos pormeio de parcerias com a Empresa de AssistênciaTécnica e Extensão Rural – EMATER, o Serviço Bra-sileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –SEBRAE e o Serviço Nacional de Aprendizagem In-dustrial – SENAI.

No final de 1998, com três Pólos instalados, 133famílias já haviam sido beneficiadas, prevendo-se oassentamento de mais 55 no próximo Pólo. Os cus-tos estavam situados, no mesmo período, em tornode R$ 7,8 mil por família assentada, mais R$ 96 milde custeio ao ano.

Pólo Agroflorestal

Expositora: Vânia Ribeiro

RIO BRANCO, AC

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Diversas áreas do Norte do Brasil se caracte-rizam pelo desmatamento crescente, concentraçãode propriedade e conflitos pela posse da terra. Aatividade mais comum na zona rural é a extraçãoda borracha. Porém, os seringueiros são obrigadosa vender toda a produção para intermediários, apreços baixos.

O Projeto Couro Vegetal da Amazônia, criado em1991, tem como propostas desenvolver, produzir ecomercializar o couro vegetal – tecido emborracha-do com látex natural extraído da seringueira –, nosestados do Acre e do Amazonas, criando alternati-vas econômicas para os seringueiros. Envolveaproximadamente 100 famílias de forma direta emais 150 de forma indireta, com impacto significa-tivo em três áreas produtivas: Reserva Extrativistado Alto Juruá, Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jor-dão e a Floresta Nacional Mapiá-Inauini. Nelas es-tão localizadas 33 unidades produtivas, nas quaisresidem 8 mil famílias.

As pessoas envolvidas recebem treinamento emtécnicas de produção, capacitação gerencial e ad-ministrativa, controle de qualidade e manejo flores-tal de produção. A Couro Vegetal da Amazônia S/Aleva os insumos (tecido e mistura química) para asáreas de produção. A população local é responsá-vel pela produção das lâminas, pelo gerenciamentodo processo produtivo, por parte do controle dequalidade e pelo envio do material até Rio Branco,capital do Acre.

A idéia nasceu pouco antes da ECO 92* , com acriação da Ecomercado, empresa voltada acomercialização de produtos cujos processos demanufatura e distribuição não fossem agressivos

ao meio ambiente. O ano de 1994 marca a criaçãoda Couro Vegetal da Amazônia S/A, a partir de umcrédito cedido pelo Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social – BNDES e daformalização da parceria com as associações deseringueiros. Em 1998, um contrato entre a CouroVegetal da Amazônia S/A e a Hermès de Paris –viabilizou mais um ano de investimento em pesqui-sa e a compra de couro vegetal para a produção depastas masculinas e estojos femininos.

Além das instituições já mencionadas, a produ-ção, pesquisa e comercialização do couro vegetalenvolve parcerias diversas, como as que existemcom organizações próprias dos povos indígenas(ASKARJ - Associação dos Seringueiros Kaxinawádo Rio Jordão), associações de seringueiros(ASAREAJ - Associação dos Seringueiros e Agricul-tores da Reserva Extrativista do Alto Juruá e APAS- Associação dos Produtores de Artefatos da Serin-ga) e o Instituto Nawa para o Desenvolvimento doExtrativismo Sustentável na Amazônia (ONG).

A Couro Vegetal da Amazônia S/A garante acompra e paga aos produtores, pelo par de lâminasde couro vegetal produzido, entre R$ 6,00 e R$ 10,00(valores do ano 2000).

* Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992.

Projeto Couro Vegetal da Amazônia

Expositora: Beatriz Saldanha

ACRE E AMAZONAS

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Debate

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Franklin Coelho ] Foi feita alguma pesquisade mercado?

João Luiz Carvalho ] Sim, foi realizada pes-quisa de mercado em todos os aspectos do produ-to. Por meio dessa pesquisa de mercado, consta-tou-se a alta aceitação dos produtos do PROVE.Muitas pessoas já estão pegando, inclusive, caronacom os produtos do PROVE.

Maria do Carmo Brant ] Quais os númerosde mercado, produção e de empregos gerados?

João Luiz Carvalho ] R$ 100 mil por mêspara 1000 empregos. São 118 agroindústrias exis-tentes, 14 em construção, R$ 873 mil financiados,178 famílias beneficiadas, 712 postos de trabalho emais de 100 novos produtos. Cada empresa geraseis empregos e custa R$ 700.

A comercialização é feita pelo Estado. Quando oprodutor começa a receber, ele compra um carro ecomeça a fazer a entrega e vender por conta pró-pria. Dentre os produtores, 50% não têm problemaem vender por conta própria, 30% estão mais oumenos e 20% ainda dependem do Estado.

Josias Farias Neto ] Como vocês fazem pararealmente chegar aos mais necessitados? E quantoao trabalho coletivo, tem incentivo?

Debate

João Luiz Carvalho ] Quanto aos necessita-dos, é difícil medir. E preciso ir atrás mesmo, visitaras famílias.

A cooperação e as iniciativas produtivas coleti-vizadas surgem a partir do interesse dos participan-tes. Não se força nada, inclusive porque a única ini-ciativa em que forçamos a barra para o coletivo nãodeu certo.

Suely Guimarães ] Qual é o grau de continuida-de desse programa quando terminar o governo?

João Luiz Carvalho ] 50% das agroindústriasestão funcionando plenamente.

Beatriz Saldanha ] Há algum incentivofiscal?

João Luiz Carvalho ] O Estado nem istofacilita para o indivíduo. As agroindústrias estão noSistema Simples: 1% de ICMS e 3% de impostosfederais. O CNPq disponibiliza bolsistas para o PRO-VE. O PROVE é mantido por sindicatos da EMBRAPAe por bolsas do CNPq. De forma alguma poderá subs-tituir o Estado.

Jan Bitoun ] Quem foi atrás para buscar opúblico? Os engenheiros agrônomos da Secretariaou os funcionários do serviço social?

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Fernanda Costa ] O PROVE vai também atrásde pessoas que já têm alguma atividade econômi-ca, ou há também o treinamento a partir do zero?Existem ações de qualificação? Quais são os dadosde sobrevivência das agroindústrias?

João Luiz Carvalho ] Os próprios engenhei-ros e eu pessoalmente vamos atrás das pessoas.Mas, é claro que, atualmente, já temos muitos fun-cionários ligados ao serviço social, gente da ONGFASE, por exemplo.

Treinamentos nunca realizamos, mas aprovei-tamos as atividades existentes: se a pessoa já tra-balha com frangos, partimos disto.

A continuidade será difícil, pois os que vão che-gar são ligados à grande propriedade da terra. A re-gra é saber se é posseiro, se tem direito de uso.

Maria do Carmo Brant ] A questão da sele-ção do público-alvo: em geral, escolhemos o maispobre entre os pobres. Até que ponto este critério éo mais adequado? Devemos considerar que, nestecaso, o investimento e o tempo gastos para resul-tar em inclusão social é muito maior. Por que nãomisturar os pobres mais pobres com pobres quetenham um mínimo de condição? Isso não teria umefeito multiplicador mais interessante?

Fernanda Costa ] A respeito do Projeto PóloAgroflorestal, no Acre, que produtos são produzi-dos? Que tipo de orientação existe? E a questão fun-diária? Existe participação do público na definiçãodas ações? Quais são as perspectivas de viabili-dade? Os produtores assumem algum custo?

Em Brasília, parece que se quer ensinar o cami-nho das pedras. No Acre, parece que o tom é maisassistencialista.

Luis de La Mora ] O paradigma da relaçãoentre o Estado e a sociedade é central. Essas expe-riências são transetoriais e a relação Estado-socie-dade parece híbrida. Devemos caminhar paraprogramas interinstitucionais. Se a experiência da

APAEB tivesse insumos institucionais, teria menosproblemas. Quem tem dinheiro são as agências, ogoverno deve criar uma forma de gestão que inclui,além do econômico, do social e do ambiental, tam-bém o político. Se o projeto do PROVE fosse geridopor uma cooperativa, teria mais condições de ma-nutenção na mudança de governo.

Ismael Ferreira de Oliveira ] Estes 3,5hectares do Pólo Agroflorestal são realmente sufi-cientes para sustentar a família inteira?

Jan Bitoun ] As duas experiências desenhamuma relação cidade-campo. No caso de Brasília, éuma questão de como os produtores rurais têm aces-so ao escoamento de produção nas cidades. No Acre,é como encorajar o retorno ao campo e evitar a mi-gração para a cidade. Os discursos são distintos. EmBrasília, é como fazer para que os produtores ruraispossam invadir as gôndolas, no Acre, como fazer comque eles saiam da cidade. A motivação do Projeto ébarrar a migração para as cidades.

Outra observação: é perigoso dizermos que ocrescimento desordenado gera os problemas so-ciais. É uma inversão, porque na realidade são osproblemas sociais que geram o crescimento de-sordenado.

Vânia Ribeiro ] Quanto ao trabalho com o“pobre mais pobre”, foi necessário fazer um tra-balho de educação: davam-se animais para criar eas famílias comiam. Para isso, ajuda mesclar o “po-bre lascado” com o menos pobre.

A gente sempre escolhe o pobre mais pobre. Aquestão da continuidade é preocupante: este Proje-to foi pego em funcionamento e foi redirecionado.Na questão da participação, foram realizadas reu-niões de assentados com a prefeitura para que pu-desse acontecer um trabalho conjunto, dirigido pe-las necessidades reais da população dos Pólos.

A produção dos Pólos é variada: frutas da região,hortaliças, grãos (arroz, feijão etc.), criação de ani-mais. A área de 3,5 hectares é pequena, mas é o

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suficiente para viver e para se ter um pequeno exce-dente. Existe o problema do solo da Amazônia, muitopobre. Então, está sendo feito também um trabalhode recuperação do solo (nutrientes etc.).

Foi preciso injetar muitos recursos no início,devido ao grau de miséria existente. Só mais tardeé que as famílias conseguem atingir reais condiçõesde se manter.

Por enquanto, o programa realmente é assisten-cialista, devido à miséria extrema.

O programa procura incentivar a atitude empre-sarial, ou seja, o assentado entende sua proprieda-de como uma empresa. Há, quanto a isso, um tra-balho com a comunidade para que eles possam, aospoucos, assumir sua independência, sem ter quedepender do governo para interferir em disputas etomar decisões.

A continuidade é importante, busca-se reforçaro cooperativismo e o associativismo. O SEBRAE, in-clusive, dá apoio, fazendo com que as famílias ve-jam as propriedades como empresa.

João Luiz Carvalho ] Há mesmo uma opçãopelos mais pobres e o PROVE não abre mão dessaposição. Claro que é mais fácil trabalhar com os me-nos pobres, é difícil o trabalho de treinamento e edu-cação dos mais pobres (e menos educados). A op-ção foi pelo mais pobre, porque nossa sociedadenão é cidadã. A prioridade é o pobre. A questão prá-tica é terrível. A mescla acontece naturalmente, por-que quando atendo o mais pobre, tem um efeito de-monstração, indutivo, pois se revela a viabilidade.O sujeito pensa assim: bom, se aquele cara conse-guiu, é possível fazer, eu posso conseguir também. Secomeçarmos a operar para cima, formos atendendoos que estão mais para cima na escala social, aí re-produzimos a exclusão daqueles que estão no pontomais baixo da pirâmide.

Maria do Carmo Brant ] É fundamentalque se coloque a questão para a totalidade des-sas experiências: houve interlocução política paragerar inclusão social? Não se trata de público-

alvo, mas de constituição de interlocutores, se-não não há cidadania.

Mirna Pimentel ] Sinto um certo estranha-mento com o modelo de Estado que sobrou para agente. Da redemocratização para cá, perdemos umpouco as pernas. Estamos um pouco atordoados.No Estado brasileiro, tudo ainda está no plano doprovisório. Não existem programas com o nomede Política. Questão de estranhamento institucio-nal: ainda não temos intimidade com as institui-ções que criamos. Está em discussão um novo for-mato de Estado em que as ações não são provisó-rias, continuam vivas mesmo que mudem seus ato-res. De repente, da redemocratização para cá, nãosabemos onde somos Estado, onde somos militan-tes etc. Além disso, após qualquer ação, os resul-tados sempre aparecem na avaliação como satisfa-tórios para aqueles que foram objeto da ação, jáque anteriormente o que havia era uma não-ação.Todos aqui construímos de um certo modo essainstitucionalidade e agora está em discussão umnovo formato de Estado que elimine o caráter pro-visório de programas e projetos, em busca de umapolítica permanente.

Peter Spink ] É importante examinarmosquando é que um programa vira política, em quepatamar isso ocorre. Como institucionalizar es-sas práticas?

Eduardo Homem ] Atualmente, só se tratado econômico. A pessoa no supermercado olha só opreço, não pára pra pensar “este produto é doPROVE, ou do Pólo, seria bom comprá-lo”. Em quemedida os dois programas têm uma preocupaçãocom a informação, de forma que seus aspectos so-ciais e políticos possam ser mostrados para a co-munidade? Tudo o que é ressaltado é o econômico.Como desvendar o social dentro do núcleo duro daeconomia? Falta o político, que talvez solidificassemais a institucionalização desses programas. Comoa comunidade se integra?

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Ademar Marques ] Não aparece, nas inicia-tivas, uma articulação com outros programas ou comONGs, por exemplo. A impressão que fica é que ogoverno vai lá, manda, e não procura colaborações.Sente-se uma fragilidade no aspecto associativo,especialmente no PROVE. Existe uma desarticula-ção entre as diversas ações dos programas em re-lação a outras iniciativas.

João Luiz Carvalho ] Respondendo à ques-tão do Eduardo Homem sobre a questão social: oPROVE é um programa muito bem visto no DF eexiste muito envolvimento social (sai no jornal, temgrande visibilidade etc.). O consumidor sabe quan-do está comprando um produto do PROVE. Tam-bém muita gente “pega carona” no programa, ven-dendo produtos artesanais ou de pequenas agro-indústrias independentes do PROVE nos “Quios-ques do Produtor”, que o programa montou emsupermercados. Existe a necessidade de se implan-tar ONG, também se necessita que haja o engaja-mento político e a transformação de programas empolíticas. A questão social foi pensada e o PROVEé, de certa forma, charmoso, por isso existe o en-volvimento da sociedade. O ganho social tem queser pensado a partir da necessidade de implanta-ção de políticas no curto prazo.

Ismael Ferreira de Oliveira ] O apoio foia fundo perdido ou foi empréstimo? Qual a por-centagem de participação das associações? Tudoo que essas 100 famílias envolvidas produzem évendido? Poderia ser aumentado o número de fa-mílias? Todo produto que sai para o exterior vaicom anti-derrapante?

Eduardo Homem ] A tecnologia é registradano Instituto Nacional de Propriedade Industrial(INPI)? Tem planos de outras formas de aplicaçãoda tecnologia?

Maria do Carmo Brant ] Como vai a saúdeda empresa?

Vando Nogueira ] E o mercado potencial?Existe algum estudo técnico sobre o mercado, a via-bilidade? Existem redes internacionais ambientalis-tas: vocês têm contatos?

Beatriz Saldanha ] O empréstimo do BN-DES tinha carência de dois anos, para pagamentoem cinco anos. Caso contrário, a firma seria con-vertida em ações e vendida no mercado. Mas logoo BNDES percebeu que não ia dar certo, o Projetotinha um perfil muito diferente dos projetos nor-malmente negociados. O Projeto conseguiu, então,renegociar o prazo de pagamento para 10 anos,com três anos de carência e juros de 1o ao ano.Alongamos a dívida em condições bem melhores eainda dá para melhorar mais. Depois de um ano emeio assinamos contrato.

Hoje temos mais capacidade de produção do quemercado. O mercado ainda se encontra latente. Exis-tem redes ecológicas e devemos retomar as ativi-dades de comercialização da empresa de forma maisampla. A participação das associações ocorreu a par-tir de nosso convite a uma sociedade. As associa-ções não quiseram porque assumiriam os riscos.No final deste mês de dezembro, ocorrerá o primei-ro encontro de produtores, quando serão revistosos contratos.

As patentes existem: são as do aprimoramentode simplificação da vulcanização. As associaçõestambém são proprietárias da patente.

Está surgindo uma nova parceria com uma coo-perativa de Franca (São Paulo) e há a possibilidadede, no futuro, a manufatura do couro vegetal serfeita lá. Por enquanto, a parte de costura etc., éfeita no Rio. Eu mesmo faço o design da peça e de-pois contrato uma firma de costura para a fabrica-ção das peças, que são comercializadas sob o nomede “TreeTap”). A saúde da empresa ficou melhorapós a renegociação junto ao BNDES. As safras es-tão sendo financiadas pelo Programa de Apoio aoDesenvolvimento do Extrativismo (PRODEX), poréma FUNAI não assina a carta de anuência necessáriapara a produção.

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Existem pesquisas de mercado, que é promis-sor. Outra parceria foi com a Conservation Interna-tional, que mostrou como é promissor o mercadopara esses produtos.

Vânia Ribeiro ] E a possibilidade de instalaruma fábrica de manufatura no Acre? Assim o traba-lho social do Projeto ficaria mais completo, pois osrecursos do produto reverteriam para a economiada região.

Beatriz Saldanha ] Seria muito difícil, a não serque já existisse uma associação de costureiras ou umaindústria no Acre para quem pudéssemos passar o tra-balho. O Projeto já está “enforcado” no aspecto social!Além disso, é mais prático para a gente que as peçassejam feitas perto do consumidor, facilita cumprir da-tas de entrega de pedidos. Afinal, é um trabalho comum aspecto social, mas que precisa ser comercialmenteviável para se manter. O posicionamento no Rio é es-tratégico, devido à proximidade do mercado. Mas sechegar uma empresa de costureiras, estou aberta aconversar. Já estamos começando a ter problemascom a receita estadual no Acre. O produto não vai maissair como artesanal, portanto serão cobrados impos-tos. Problema do incentivo fiscal: deveriam existir maisincentivos para produções desse tipo e não ameaçade taxação. Por que seringueiros não podem ter isen-ção de impostos, se petróleo tem, alumínio tem, in-dústria automobilística tem etc.?

Mirna Pimentel ] É claro que não concordo queuma empresa dessa natureza seja taxada como asdemais empresas, mas ela deve ser taxada. A institu-cionalidade da legislação ambiental é bastante discu-tível, mas deixa de dar uma contribuição maior que éir lá e pagar o preço da institucionalidade. É duro nãoter incentivo fiscal para um projeto como este mas,por outro lado, tem que se pagar o preço da institucio-nalidade. O Estado não tem mais esse dinheiro, nemesse dever de bancar os incentivos.

Beatriz Saldanha ] É jogar as regras do jogo.

Foi o que nos aconteceu quando buscamos financia-mento do BNDES. Mas num projeto de cunho socialassim, acho que o governo precisava bancar algumacoisa, dar algum incentivo fiscal. Concordo com asregras do jogo, provando que fazer negócio ambien-tal e social é legal, só que no final não dá certo. Oque nós procuramos fazer é passar para o Estado assuas responsabilidades.

Maria do Carmo Brant ] A questão aqui éque nós estamos discutindo micro empreendimen-tos, devemos pensar a taxação possível para essetipo de empreendimento.

Pedro Jacobi ] Quanto aos objetivos do Pro-jeto, acredito ser completamente normal haver umdiferencial, e qual é o problema disto ser feito comdinheiro público?

Mirna Pimentel ] Queremos um Estado eficiente.Por trás da isenção tem alguém que banca.

Marilena Jamur ] Endosso a posição do PedroJacobi: estamos pagando um adicional sobre o preçodo álcool (combustível) para sustentar o setor, por quenão pagar um adicional sobre o preço da borracha, porexemplo, para ajudar um projeto como este? A questãode fundo é: como distribuir melhor as provisões? A ques-tão é o modelo de financiamento do Estado.

Beatriz Saldanha ] Tem que regar, mimar umpouco a muda se não ela não vinga. Depois, tudo bem.Mas no início tem que regar! Temos que criar um am-biente favorável para que essas iniciativas floresçam.

Peter Spink ] Parte do papel do Estado éintervir economicamente. Não estamos questionan-do a noção de tutela ou linha de ação para sempre,mas sim da lógica da incubadora. De um lado, ve-mos programas bem trabalhados com dificuldadede dar partida no associativismo e estamos ven-do, no associativismo, a dificuldade de se chegarao Estado.

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Paulo Henrique Martins ] Queria rapida-mente fazer um comentário sobre as exposições daBeatriz Saldanha e do Armando Mendes. O merca-do é o lugar do ganho, mas também da inventivida-de. Isso permite repensar o mercado como exercí-cio prático de emancipar novas situações de cida-dania. Na verdade, as fronteiras são muito maisfluidas. Portanto, deixando de lado uma visão mani-queísta sobre o mercado, começamos a avançar muitomais sobre novas políticas e novas estratégias. Emprincípio, eu achei que a temática aqui trabalhada foiextremamente interessante e também muito ampla.Esta amplitude foi observada, as experiências são in-teressantes, mas enfatizam muito a produção. Acre-dito que um dos elementos fundamentais é a ques-tão da capacitação.

Assim, pergunto: qual a inserção dos univer-sitários em relação ao trabalho de capacitação eassessoria? Pode a universidade ter alguma impor-tância direta na capacitação, por intermédio de pro-fessores-assessores? A academia é imutável, estábloqueada no passado! No meu caso, por exemplo,presto um serviço de assessoria fora da academia.

ComentáriosFinais

A universidade está condenada. Assim, até que pontoa universidade pode estar mais diretamente envol-vida com o processo de capacitação?

Armando Mendes ] Quanto ao profético deque falei, é profético em um sentido muito específi-co. Profeta é quem anuncia o futuro em nome dealgo. Que conduz, que educa. Que leva e que sinali-za. O profético são as pessoas, os grupos sociaisque representam um grupo maior, que são capazesde conduzir este grupo, falar por ele.

O ético está fora de discussão, sobretudo quan-do se trata de choque de interesses econômicos.O estético, que é o belo, o bem, o justo, que defineo universo do homem, se o desprezarmos sere-mos formiguinhas e os píncaros da cultura, da ci-vilização seriam atingidos. O ser humano é o únicoque tem consciência e que tem consciência de quetem consciência.

Existem três diretrizes a considerar: reorien-tação do crescimento econômico, integração inter-na e externa, e valorização do elemento humano.

Em termos de agenda, Amazônia 21 não é ainda

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uma agenda, mas estabelece as bases para que de-pois se elabore uma verdadeira agenda 21 para aAmazônia. O que acontece com a Amazônia é que éa única região que possui um Ministério, que res-ponde a uma preocupação do governo em estabele-cer rumos, políticas para a região. A Amazônia édefinida por lei para efeitos de planejamento e pro-moção de ações de desenvolvimento da região.

Marilena Jamur ] Gostaria de colocar quatropontos em discussão:

1) Relação de compatibilidade ou de oposiçãoentre experiências macro e micro. Em que medidaexiste esta compatibilidade ou esta oposição? Tam-bém tem que ser assinalada a falta de políticas na-cionais que possam respaldar as políticas micro.

2) Questão da igualdade e da desigualdade queexiste na pobreza, mas transborda para outras es-feras e existe hoje em todos os setores. Em quemedida a discriminação positiva e seletiva é válidae deve ser estimulada?

3) Como dimensionar o resultado desses proje-tos para ter uma visão mais completa dos impac-tos? Em que medida esses resultados econômicostêm gerado renda para a população, podendo serum estímulo para o desenvolvimento da cidadania?

4) Qual a potencialidade e a perspectiva de con-tinuidade dos projetos? Que medidas existem parageneralizar e multiplicar as experiências? Dar visi-bilidade basta, ou estamos condenados a esbarrarsempre na burocracia política?

Carlos Osório ] Seria interessante mudar oconceito do ator, apresentando o conceito do atorhíbrido. Questiono essa idéia do híbrido, como estásendo colocada aqui.

Jan Bitoun>>> Quando pensamos em asso-ciações ou em certas ONGs, temos a ação de diver-sos atores que estão circulando entre as diversasesferas. Por que não partirmos dos híbridos, ao in-vés de partirmos de modelos puros? Queremos sem-

pre enquadrar as coisas dentro de conceitos puros, ena verdade existe uma circulação. Tradicionalmente,vamos colocar os atores civis e os públicos, há tam-bém uma circulação quando pensamos em associa-ção, em ONG, em confecção de projetos.

Maria do Carmo Brant ] As tarefas estãomeio deslocadas, meio confusas. Projetos do gover-no ou da iniciativa privada estão atuando comoONGs. As ações estão híbridas e o que vimos aquifoi o Estado e a iniciativa privada se apresentandocomo híbridos.

Jan Bitoun ] Os atores precisam de um movi-mento, de uma circulação, para que as ações nãofiquem estagnadas, estáveis, num sentido negativo.Os projetos se movem, são movimentos de recuo ede avanço, a circulação tem que ser resgatada, aoinvés de uma posição estagnada.

Carlos Osório ] Uma coisa é circular: o con-ceito de híbrido parece muito forte!

Peter Spink ] Até que ponto, nessas situa-ções, se começa a ver mais claramente esse deslo-camento, esse ator híbrido?

Beatriz Saldanha ] Estamos vendo um iníciode coisas novas e como todo início, é caótico devidoa essa multiplicidade de funções e papéis. Daí a vi-são do híbrido, essa circulação e essas fusões, fa-zem parte de uma situação um pouco caótica, demúltiplas funções e atividades.

Pedro Jacobi ] Não podemos querer explicartudo, ao invés de procurar definir um fator unifica-dor. É importante que encontremos algum denomi-nador comum, alguns vetores estratégicos, para quepossamos sair daqui pensando no que podemos fa-zer com aquilo que ouvimos. Estou um pouco preocu-pado com a lista que o Franklin Coelho apresentou,porque aí novamente caímos em um território em que

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queremos explicar tudo, não fazemos escolhas. Achoque um grande desafio é fazer estas escolhas comoum momento pedagógico: o que de fato importa? Queresultados mensuráveis de cada trabalho, de cadacaso analisado, podemos extrair? É importante en-contrar algum denominador comum e reduzir nossaansiedade de querer explicar tudo. Cada vez mais meconvenço sobre o que significa o alcance de práticasque geram renda, têm um processo pedagógico e me-lhoram a qualidade de vida das pessoas. Neste senti-do, vou retomar a questão de multiplicadores e ge-neralizadores, de forma que nossas convicções pos-sam ser multiplicadas e generalizadas.

A experiência de renda mínima, por exemplo, veiode uma iniciativa isolada e está procurando se tornarmais generalizada. Mas tem que mexer no cofre. Seessa mexida é irrisória, como vem sendo, é impossí-vel. Será que as iniciativas são generalizáveis, ou ape-nas possíveis de multiplicação? O que pode re-presentar quando um governo assume um programade desenvolvimento sustentável no Amapá, em que50% da merenda é feita em fornos simples e primiti-vos em lugares que ficam a 200, 300 km? Nem tudodeve ser pensado pela lógica do FMI e do Banco Mun-dial: a sustentabilidade deve ser pensada em termossociais, econômicos e ambientais.

Maria do Carmo Brant ] Parece que nestasduas primeiras oficinas privilegiamos muito as es-tratégias inovadoras. E quanto às estratégias quetrabalham com educação etc., que podem ter pro-cessos inovadores embora não sejam projetos ino-vadores em si?

Quanto à questão da gestão centralizada e da ges-tão participativa, o que envolvem? Estamos deixandode ser defensivos e reativos e estamos começando anos tornar pró-ativos. Isso é muito bom!

Ismael Ferreira de Oliveira ] A gestãopartilhada entre as três esferas de governo está ba-seada em princípios de complementaridade de quetanto falamos, mas que não priorizamos. O que en-

volve a gestão democrática é a transparência deinformações. Quanto a ser projeto de inclusão oude combate à pobreza etc., acredito que o impor-tante é ser projeto de melhoria de vida para a popu-lação e ponto final! O resto não interessa. É precisoacordar a população para o exercício da cidadania,para que deixem de ver aquele local onde vivemapenas como município, moradia, e assumam intei-ramente o papel de cidadãos, vendo o local comoarena para demandas e reivindicações.

Luis de La Mora ] O que faz diferenciar asestratégias é a atitude quanto ao trabalho a ser feito.Pode-se simplesmente dizer: está ruim, não vai fun-cionar, não tem jeito. Mas, mesmo na pobreza abso-luta, se acreditamos que se pode começar a cami-nhar, então devemos ajudar, seja empresa, ONG ougoverno. Se não acreditamos que esta população podeandar com suas próprias pernas, é melhor pararmosde brincar aqui. Não é mais possível ouvir essas coi-sas, de que os pobres estão condenados a permane-cer na pobreza porque não têm condições de cami-nhar com suas próprias pernas. O mais importante éa vontade coletiva de ver como se vai fazer. Somosnós que temos que nos educar!

Josias Farias Neto ] A impressão é de queestes dois dias nos deram a oportunidade de refle-tir sobre a nossa prática. As discussões buscaramvários pontos em comum. O caso da APAEB mos-trou a viabilidade de se empreender uma ação eco-nômica associativista e comunitária. O PROVE, emBrasília, foi mais individual, mas com o ponto forteno aspecto econômico. Quanto ao BNB/PNUD, a vi-são do âmbito municipal é positiva, bem como aquestão da capacitação. É preciso expandir estasexperiências. No Acre, o trabalho que vem sendodesenvolvido por meio do Projeto Pólo Agroflores-tal, é necessário, apesar do perfil assistencialista.O PROVE mostrou como é possível, mesmo dentroda pequena produção, se inserir no mercado da glo-balização, porém existe a preocupação com o per-

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sonalismo. Em relação ao Ceará, ao Projeto SãoJosé, saio com a convicção de que mesmo com oslimites da abrangência, com o esforço da participa-ção, existe a necessidade de integrar essas ações.Para o próximo encontro, a oficina de São Paulo,deveriam ser aprofundados determinados temas,como a capacitação, questões do tipo “como de-senvolver”? A participação é consensual, mas emque termos? Como chegar a abranger o processodecisório? A multiplicação, difundir como? Como darmaior visibilidade? Como promover na prática acomplementaridade, se as administrações são tãoestanques e departamentalizadas? Agora, há a ne-cessidade de integrar essas ações sobre as quaisouvimos. O dimensionamento de resultados é difí-cil, na realidade não existe. Temos que ter indica-dores e avaliações sucessivas. Para corrigir os ru-mos, isso deve ser aprofundado. Quais os indicado-res a usar na prática, no dia-a-dia, para ajudar asexperiências a irem para frente? A criatividade paraentrar no mercado é fundamental para inserir a pe-quena produção, com eficiência e participação dopequeno proprietário. Como flexibilizar o modelo deEstado? Como podemos fazer para promover na prá-tica a complementaridade?

Vânia Ribeiro ] Quanto a este dimensionamen-to, podemos ver resultados palpáveis, reais. E a vidadessas pessoas está melhor do que antes. Então, essa

questão da renda é mesmo fundamental. A questãoeconômica é mesmo a principal, outros tipos de evolu-ção e melhoria partem da melhoria econômica. Temosmesmo que ter um foco econômico!

Beatriz Saldanha ] Em relação aos cami-nhos para a redução da pobreza e a construção dacidadania, acho que tem que partir de uma mistura.Falamos do híbrido e eu falei do caos. Aqui estamosmisturando o poder público com o privado e com aacademia. Esta mistura é muito rica, mesmo se éum pouco caótica!

Carlos Osório ] Eu vivenciei, durante estesdois dias de seminário, vários momentos interessan-tes. Todas as experiências podem agregar muitas coi-sas para a atuação do Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (PNUD). Um momento inte-ressante foi quando o professor Armando Mendesexplicou que não devemos perder a perspectiva dahistória e isso me obrigou a pensar a esfera social,ambiental e econômica, enfim, uma sustentabilidadeecumênica. O interessante é examinar todo o aspec-to positivo das experiências. Também é importantemergulhar mais no papel do Estado. Dá a impressãode que ninguém quer tocar no assunto. Foi colocadoaqui uma visão de um Estado fraco, e o surgimentodo ator híbrido, mas discordo deste conceito do hí-brido, acho que o Estado tem o seu papel.

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Duas perguntas interessantes foram feitas aquinessa oficina: 1) como multiplicar estes projetos?2) como generalizar os projetos? A primeira é comofazer nascer em outros lugares. A segunda é comoo projeto pode se tornar uma política mais univer-sal. Acho importante estabelecermos esta diferen-ciação, são coisas bem diferentes. Há uma diferen-ça de escala, bastante significativa.

Uma outra questão fundamental é a capacita-ção: como multiplicar um processo de capacitação?O que está em jogo nesta capacitação é a parce-ria, como capacitar uma parceria? Não é fácil ne-gociar contratos.

Como multiplicar: tem que ter uma intenção bemfirme, pois não basta só reduzir a pobreza, mas tam-bém reduzir a desigualdade. Alguns dos projetos aquiapresentados visam a inclusão, isto é, fazer comque algumas pessoas que não conseguem nem ba-ter na porta passem a abrir, mas daí eu pergunto:como vão abrir esta porta, parados?

Categoria do lugar: questão do territorial, masligado à identidade local. Sem essa atitude, fica di-fícil se capacitar para uma parceria.

Tornar essas atividades concorrenciais é tam-bém um ponto importante a ser considerado e, paraisso, foi muito boa a colocação de João Luiz Carva-lho, do PROVE, de dar vantagem senão eles vão seperder e bater na porta para ser incluídos, para teracesso à decisão, no campo político, acesso à esfe-

Identificação das idéias-forçaComentador: Jan Bitoun

ra da decisão para ela ser desconcentrada. Outroponto é a questão da intersetorialidade, que estáligada à capacitação. Há uma questão fundamentalque é a famosa capacitação, não a capacitação pro-fissional técnica, que é importante, mas a capacita-ção como processo cultural do público-alvo e dosatores que estão nisso. O que está em jogo é comocapacitar a parceria e isto implica em ser parte deum contrato, negociar dos dois lados, o lado que seacostumou a comandar e o lado que não se consi-dera. Para poder firmar um contrato, devem existirduas personalidades bem claras. A questão da ca-pacidade de expressão de cultura: isto remete à ca-tegoria de lugar. O territorial implica ser um lugarinteressante: “sou da Amazônia com muita honra!”Sem essa atitude, não se capacita para uma parce-ria e aí é importante para multiplicar tudo isso! Eufico extremamente chateado pela forma como noNordeste nós nos apresentamos... Sempre há umatendência a se diminuir, a se desvalorizar... Outroponto da capacitação é a questão da intersetoriali-dade, que remete à formação e eu acho que quemforma tem muita culpa (a universidade etc.). Nossaincapacidade de lidar com a intersetorialidade é umaquestão que se coloca nas universidades.

Como generalizar? Eu diria que se a gente clas-sificar a situação das políticas, hoje em dia, exis-tem políticas que não estão formuladas. Políticasde habitação, por exemplo, acabam perdendo le-

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gitimidade e o PREZEIS (Plano de Regularizaçãodas Zonas Especiais de Interesse Social) acabasendo apresentado como uma política habitacionalque perde a legitimidade porque não é, na verda-de, uma política habitacional. Todos esses proje-tos que foram apresentados nesta oficina de Reci-fe não tem nenhum respaldo, nenhuma referêncianuma política. Servem às vezes de substitutos oude falsos substitutos de uma política. Precisamosclassificar, pois tem projetos que não têm respal-do em nenhuma política, então substituem estaspolíticas. Também há projetos que se encaixam empolíticas existentes, então cabe aos atores locaisdecidir quais as ações que serão realizadas. Háprojetos apoiados em uma política existente. Háuma agregação de projetos a políticas locais?

Outra situação ocorre quando você tem uma po-lítica formulada e programas locais se enquadramdentro de uma política nacional que oferece um car-dápio, cabendo aos atores locais definirem contra-tualmente quais são as ações que vão realizar. Atéque ponto o local poderá realizar essas escolhas?Aqui no NE se tem a sensação de que não há maispolíticas setoriais. Elas estão mal formuladas e po-demos ter uma política territorial se estas mesmaspolíticas estiverem em via de formulação com agre-gação de diversas políticas locais.

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Geração de emprego e rendaSÃO PAULO • MARÇO, 1999

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Antônio Ibañez Ruiz (Bolsa-Escola/DF) • Betânia Ávila (SOS-CORPO/PE) • Brian Wampler (Universidade do Texas) • Caio Silveira(NAPP/RJ) • Celso Mendes (Web-Brazil Internet Design/SP) • CuncaBocayuva (FASE-Nacional/RJ) • Elizabeth Leeds (Fundação Ford) •Franklin Coelho (UFF - Secretaria Estadual de Planejamento/RJ) •Grazia de Grazia (FASE-Nacional/RJ) • Iracema Barbosa (Cooperativade Costureiras do Jardim Horizonte Azul/SP) • Iraci Reis (PUC/SP) •Jan Bitoun (Observatório Recife - UFPE) • Joana Coutinho (ProjetoCidadania e Ação Comunitária - CENPEC/SP) • José Carlos Vaz(POLIS/SP) • Ladislau Dowbor (PUC/SP) • Lílian Martins (Universida-de Metodista de Piracicaba/SP) • Marcos Formiga (UNB/FINEP) •Marcus Melo (UFPE) • Maria do Carmo Brant de Carvalho (PUC/SP)• Maria do Carmo Meirelles (CEPAM - Fundação Prefeito Faria Lima/SP) • Maria Magdalena Alves (Ação da Cidadania/SP) • MariangelaBelfiore Wanderley (IEE-PUC/SP) • Marilena Jamur (PUC/RJ) • MartaFerreira Santos Farah (FGV/SP) • Mauro Martins da Silva (Cooperati-va Mista de Birigüi/SP) • Mirna Pimentel (UFPE) • Nádia Somekh(Prefeitura de Santo André/FAU - Mackenzie/SP) • Nilson Costa(UFF/FIOCRUZ) • Osmil Galindo (Fundação Joaquim Nabuco/PE) •Paul Singer (USP) • Pedro Jacobi (USP) • Ricardo Beltrão (FGV/SP)• Roseni Reigota (CENPEC/SP) • Silvio Caccia Bava (POLIS/SP) •Sônia Café (Secret. Mun. do Trabalho/Prefeitura do Rio de Janeiro) •Tânia Zapata (BN/PNUD) • Valdi Dantas (Sistema Ceape)

Participantes

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Geração de emprego e renda

No aumento da pobreza e da desigualdade háuma tendência ao surgimento de visões polariza-das entre os planos micro e macro. Mas é recente-mente que começa a se configurar de forma maisclara a noção de que há ações locais, ou de médioalcance, com amplas possibilidades de resultadose impactos.

De uma forma geral, praticamente desde os anos50 as ciências sociais vêm discutindo os grandestemas nesse campo, operando mais ou menos comas mesmas categorias e ferramentas analíticas.Relendo outro dia um estudioso e militante de en-tão, o Saul Alinsky, recordei que ele já dizia mais oumenos o seguinte: “(…) se perguntarmos a qual-quer um se um cidadão negro, morador doMississipi, que tenha casa própria com razoáveiscondições de habitabilidade, um emprego relativa-mente estável, e seja possuidor de um carro, é po-bre, certamente a grande maioria das pessoas res-ponderá que não. Mas, considerando a forma comoestão dadas as relações sociais e o brutal isolamentoe desigualdade no acesso aos bens públicos a queas populações negras são submetidas naquela so-ciedade, nossa resposta a esta questão deveria sersim.” (Alinsky, 1965).

A pobreza não se resume à renda monetária eao que pode ser adquirido com ela no mercado,mas envolve necessariamente as dimensões polí-ticas e de acesso aos benefícios sociais coletiva-

mente gerados e disponíveis. Nossa visão é a deque há necessidade de juntar pessoas com inser-ções diferentes, que enxergam o fenômeno sobângulos diferentes, cada uma usando sua lingua-gem, para que se reflita sobre estas questões. To-dos têm direito de falar em sua própria linguagem(acadêmicos, militantes, técnicos e gestores). Pro-cura-se abordar a pobreza a partir de eixos dife-rentes, buscando delinear melhores contornos aotema e às ações possíveis.

Neste processo de pesquisa-ação, a abordagemreúne pessoas diferentes, com experiências dife-rentes, que olham o tema sob ângulos também di-ferentes. Depois das oficinas do Rio de Janeiro ede Recife, chegou a vez de discutir geração de em-prego e renda aqui em São Paulo. Esta ordem foiproposital. Queríamos deixar claro que, embora tãoimportante, a questão do enfrentamento da pobre-za não pode ser resumida na ótica do emprego erenda. Sabe-se que a pobreza é muito mais ampla,muito mais complexa do que isso.

É de fundamental importância buscar abrir os sig-nificados, “desempacotando” a palavra pobreza paraolhá-la sob a temática da cidadania. É importante con-ceber pobreza em termos de cidadania, incluindo asproblemáticas de desigualdade e de exclusão socialnão apenas em termos de renda monetária, mas deacesso a serviços e políticas públicas e aos centrosdecisórios do processo político.

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Abertura

Peter Spink

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A questão do relacionamento entre o ambientemacroeconômico e as situações concretas em aná-lise remete-nos a uma questão mais geral. Ao dizerisso, tomo por base um livro lançado em 1998, inti-tulado “L’Insoutenable Misère du Monde”, que re-úne textos de sociólogos e economistas e que foiorganizado por Richard Poulin e Pierre Salama, noqual se apontam as causas globais para o aumentoda pobreza. Há mais ou menos 50 anos, desde o fimda II Grande Guerra, os fatores que mais pesam noaumento ou na diminuição da pobreza permanecempraticamente os mesmos, em termos gerais, a sa-ber: 1) a inflação, elevada ou reduzida; 2) o cresci-mento econômico, presente ou ausente; 3) a inexis-tência ou a eficácia de políticas redistributivas derenda na direção dos mais desprovidos; 4) a redu-ção ou o aumento das despesas em saúde e educa-ção, especialmente no ensino básico; 5) a desa-gregação dos laços comunitários ou, ao contrário,ações que consolidem esses laços.

Embora os números indiquem redução no núme-ro de pobres nos últimos 20 anos, após o final do queos franceses costumam chamar de período de 30 anosde ouro, as desigualdades vêm aumentando, e nãoapenas no Brasil, mas como tendência geral, em qua-se todos os países, e de forma contínua a partir dofinal dos anos 70. Não parece que os projetos anali-sados durante a oficina de Recife estejam combaten-do a pobreza, mas sim apenas regulando a pobreza egerindo as desigualdades.

Os programas e projetos apresentados no Recifesão localizados basicamente no Norte e Nordeste,regiões historicamente ditas periféricas. Eram os

impérios da Superintendência para o Desenvolvimen-to da Amazônia (SUDAM), da Superintendência parao Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e da Su-perintendência para o Desenvolvimento da Pesca (SU-DEPE). A proposta dessas entidades era reduzir asdesigualdades de desenvolvimento por meio de polí-ticas macroeconômicas. A maioria era de projetosem zonas rurais de pequenos municípios.

A zona rural do Nordeste e do Norte são os maio-res bolsões da pobreza. Partindo da noção de pobre-za estrutural, nessas regiões a falta de infra-estru-tura é marcante. São regiões onde as carênciasfísicas (água etc.) são muito fortes. A pobreza dapopulação é ligada à da região. Mas os pobres emmuitas dessas regiões não são estigmatizados econsiderados indignos, fazem parte de um conjun-to e não são excluídos do âmbito das relações so-ciais, ao contrário do que acontece nas grandescidades. Neste sentido, chama a atenção o fato deque, olhando-se de uma perspectiva socioespacialou regional, o problema da pobreza assume carac-terísticas diferenciadas, bastante específicas mes-mo, conforme o caso.

Nas áreas rurais dessas regiões, onde a maiorparte dos municípios são pequenos, o processode esgarçamento das relações sociais e comu-nitárias não se verifica. Os pobres ali não estãoisolados, excluídos de relações societárias. No seuambiente, onde todos ou quase todos são muitopobres, eles não estão isolados. Do ponto de vis-ta sociopolítico, e falando de forma muito rápida,o Norte é sinônimo de risco e isolamento, e o Nor-deste, de clientelismo.

Resultados da oficina do Recife:questões levantadas e indicação deelementos de análise

Relator: Jan Bitoun

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Apresento algumas questões de ordem geralrelacionadas à temática do encontro, questões so-bre a exclusão, pobreza e desigualdade. Há dois te-mas na ordem do dia: emprego e exclusão. Já háalgum tempo, na Europa, o tema do desemprego estána agenda pública. No Brasil, o tema é tardio. Odebate aqui é mais recente, porque as políticasmacroeconômicas de estabilização monetária, dotipo Plano Real, apenas em anos mais recentes apre-sentaram resultados entre nós. No contexto brasi-leiro existem grandes diferenças: o emprego noBrasil não garante bem-estar e inclusão, como naEuropa, por exemplo. Por outro lado, grande partedos desempregados não são necessariamente po-bres, ainda que não tenham proteção dos direitostrabalhistas. A pobreza no Brasil parece estar maisligada à insuficiência de renda e de acesso a servi-ços, e menos a ter ou não um emprego. Trata-se demelhorar a renda, monetária ou não. No caso euro-peu, estar desempregado é estar pobre. No Brasil,o emprego não garante inclusão. Há um grande con-

tingente de empregados em situação de pobreza.Assim, a questão central é a geração de renda e deacesso a bens públicos.

O desemprego no Brasil e nos países europeusé enfrentado de formas diferentes. Nos países avan-çados, foram basicamente três as formas tradicio-nais de combate ao desemprego. A primeira, inseridano campo das políticas macroeconômicas da erakeynesiana, foi a de “pleno emprego”. É coisa dopassado, da era dourada do capitalismo. Uma se-gunda forma de enfrentamento do desemprego sãoas políticas setoriais (educação, saúde etc.). Em ter-ceiro lugar, as políticas ativas de mercado de tra-balho, voltadas a ajustar oferta e demanda de tra-balho (por exemplo, requalificação de empregadosque perdem seus empregos em indústrias que setornam obsoletas). Políticas ativas de mercado detrabalho: qualificação e requalificação, muito pre-sentes na Alemanha, por exemplo. No caso brasilei-ro, a primeira forma jamais chegou a ser posta emprática. No quadro brasileiro, há um desemprego

Um olhar cruzando a teoria e aprática: breve descrição dasexperiências a serem discutidas

Comentador: Marcus Melo

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estrutural massivo. As duas outras formas (políti-cas setoriais e políticas ativas de mercado de tra-balho) são ainda muito incipientes.

A quarta forma de combate ao desemprego as-sume a característica de apoio a pequenas empre-sas, articuladas em rede e voltadas a nichos demercado. No caso brasileiro, há uma clara relaçãode continuidade entre a última forma de combateao desemprego e as experiências da FENAPE (Fe-deração Nacional de Apoio aos Pequenos Empreen-dimentos), da COMPAB (Cooperativa Mista de Pro-dução Alternativa de Birigüi), da COOPEC (Coopera-tiva de Costureiras do Jardim Ângela) e do PRONAF(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricul-tura Familiar), este último em larga escala, nacio-nal, e que vem sendo apontado como a mais exitosaexperiência por parte dos avaliadores, dentro doconjunto de políticas do “Brasil em Ação”. A mi-crorregião do ABC paulista é a única que apresentaproblemas semelhantes aos dos países de capita-lismo avançado. O tema central é: como coordenaros atores de forma virtuosa, de modo a produzir

cooperação? Ou seja, a questão da governança, nes-ses projetos, merece reflexão. Uma quinta forma éa chamada “renda mínima”, que anula a relaçãoentre renda e trabalho, em muitos casos sob a con-dição da requalificação profissional. Uma das res-postas construídas pelos países europeus é a derenda mínima. O indivíduo tem o direito a uma ren-da mínima com sua condição de cidadão. Na Fran-ça, por exemplo, esta renda mínima está condicio-nada à participação em programas de capacitação.No Brasil, a renda mínima foi associada à educaçãofundamental, tornando-se um programa exitoso, jáadotado por mais de cem municípios, e o ProgramaBolsa-Escola é o exemplo que analisaremos aqui.Cabe ressaltar novamente que, de qualquer forma,nossa problemática tem contornos muito específi-cos, pois o emprego não garante inclusão social,não é garantia de bem-estar.

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Marcos Formiga: Chamo a atenção sobre anecessidade de atribuir maior relevância ao temada educação.

Cunca Bocayuva: Embora concordandocom as afirmações de Marcus Melo no tocante àrenda vis-à-vis ao emprego, senti a ausência dotema relacionado à garantia dos direitos. Qual asignificação do tema dos direitos? Qual a cen-tralidade dos direitos no mundo do trabalho? Aabordagem do direito. Mais do que a forma degestão, ou da própria natureza das políticas, tra-

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ta-se da garantia dos direitos. Emprego formal,com carteira assinada foi, sem dúvida, ao me-nos a porta de entrada para uma cidadania rela-tiva, ainda que não tenha resolvido o problemada pobreza. Direito ao trabalho, direito à renda.Será que já podemos questionar a centralidadedo trabalho?

Ladislau Dowbor: A questão do desempre-go no Brasil é um problema de ordem estruturalda economia, de difícil solução dentro da lógicacapitalista.

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Experiênciasdiscutidas

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O setor calçadista é um dos mais importantes naeconomia de Birigüi, município do interior paulista,com aproximadamente 85 mil habitantes. A liberali-zação do comércio internacional iniciada nos anos90 e a sobrevalorização da moeda nacional a partirdo Plano Real resultou em quebra de empresas, au-mento do desemprego e precarização das condiçõesde trabalho na cidade. A Cooperativa Mista de Pro-dução Alternativa de Birigüi (COMPABI) foi criadaem 1997, reunindo pequenas empresas que funcio-nam como associações comunitárias ou cooperativasde produção, formadas por trabalhadores com ex-periência no ramo.

A primeira destas cooperativas nasceu em 1992,reunindo oito pessoas. Este primeiro grupo ampliou-se para 12 componentes e logo surgiram outros gru-pos. A fim de garantir uma administração socia-lizada, sem hierarquia, a incorporação de novoscomponentes tem resultado na criação de novosgrupos, uma vez atingido o limite máximo de 15pessoas em cada grupo. A composição de cada novogrupo tem sido marcada também pelo remaneja-mento de pessoal, de forma a garantir em cada novainiciativa a participação de pessoas com experiência.O apoio dos grupos já consolidados à criação de ou-tros tem sido realizado também por intermédio doempréstimo de recursos financeiros, máquinas, equi-pamentos e espaços. Atualmente, há cinco gruposconsolidados e dois em estruturação.

A cooperativa surgiu da necessidade de formali-zar o compartilhamento de experiências e o apoio

mútuo. Além disso, tornou-se um modo alternativopara a divisão de tarefas. Cada grupo funciona comoempresa independente, atribuindo-se à COMPABIpapéis mais complexos, como o desenvolvimentode novos produtos, a compra de matéria-prima apreços vantajosos e a organização de cursos de for-mação e aperfeiçoamento profissional.

Nos primeiros anos de existência da COMPABI,todos os participantes tinham a mesma remu-neração. Com o tempo, foram introduzidas diferen-ciações salariais, para estimular a ascensão pro-fissional. A remuneração não é elevada, mas supe-ra a do setor calçadista na região. A experiênciaenvolve diretamente 160 pessoas e, indiretamente,40 pessoas.

A COMPABI é filiada ao sindicato patronal (pro-dutores de calçados) e, ao mesmo tempo, ao sindi-cato dos trabalhadores do setor. Esta dupla inser-ção tem sido um elemento determinante do seu pró-prio papel. Nem mesmo o apoio dado pela Coopera-tiva a uma greve de trabalhadores causou proble-mas significativos junto a qualquer dos lados envol-vidos no movimento.

As dificuldades para a colocação dos produtosno mercado externo e a instabilidade gerada peladependência das exportações apontam para a ne-cessidade de ampliar as vendas no mercado inter-no. Os maiores obstáculos para se atingir tal objeti-vo são a falta de políticas públicas que sirvam desuporte a esse tipo de iniciativa e as dificuldadesna obtenção de crédito.

Cooperativa Mista de ProduçãoAlternativa de Birigüi

Expositor: Mauro Martins da Silva

BIRIGÜI, SP

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Iniciado em 1997, o Projeto Cidadania e AçãoComunitária é a experiência da formação de umacooperativa de costureiras, a COOPEC, que temcomo seu principal articulador o Centro de Estudose Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comuni-tária (CENPEC), uma organização não-governamen-tal voltada à melhoria da escola pública no Brasil. Apartir desta experiência, o Centro incluiu em seuuniverso de atuação a busca de alternativas de in-clusão social de comunidades em condição devulnerabilidade social.

O novo campo de ação encontrou possibilida-de de se efetivar após o contato com um grupode mulheres residentes no Jardim Horizonte Azul,bairro localizado no distrito do Jardim Ângela,zona sul de São Paulo. A região apresenta alar-mantes índices de violência e indicadores sociaissituados entre os de pior desempenho na cidade.Parte deste grupo já vinha discutindo, junto àCáritas Diocesana, a idéia de montar uma coope-rativa, mas se deparava com falta de recursosfinanceiros para a iniciativa.

Diferentemente da experiência de Birigüi, quenasce com a auto-organização de trabalhadorescom experiência profissional em determinadoramo de produção, apenas algumas das 22 mu-lheres que fazem parte da COOPEC tinham umapequena experiência como costureiras. A maio-ria nunca havia trabalhado fora do espaço domés-tico. Neste sentido, o suporte humano e técnicooferecido pelo CENPEC tem sido o principal ele-

mento indutor da experiência, que objetiva, alémda geração de renda, propiciar às participantes avivência grupal e a criação de um espaço para adiscussão de suas dificuldades no âmbito familiar,possibilitando a construção coletiva de um novosaber em torno do papel da mulher na sociedade ena família. Aí reside um dos aspectos emancipató-rios que os primeiros resultados obtidos com estaexperiência têm revelado.

Outra importante parceria, que viabilizou eco-nomicamente a estruturação da COOPEC, foi reali-zada com a Natura Cosméticos, que financiou a com-pra de equipamentos, os primeiros meses de alu-guel do espaço para funcionamento, e a assessoriajurídica para a formalização legal da Cooperativa.O apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Co-mercial (SENAC) tornou possível a participação dasmulheres em cursos profissionalizantes que tal ins-tituição oferece.

A COOPEC permite conciliar as atividades pro-fissionais com os afazeres domésticos e os cuida-dos com os filhos – já que não existem, na região,equipamentos públicos de educação infantil quepermitam liberar a mulher para o trabalho fora decasa. Isso é possibilitado pela jornada de meio pe-ríodo de trabalho ou pela localização da unidadeprodutiva no próprio bairro.

Uma das dificuldades testemunhadas pelasmulheres diz respeito à resistência que os mari-dos oferecem ao engajamento de suas esposasna iniciativa.

Projeto Cidadania e Ação Comunitária

Expositoras: Iracema Barboza e Joana Coutinho

SÃO PAULO, SP

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O Sistema de Centros de Apoio a Pequenos Em-preendedores (CEAPE) nasceu a partir de uma expe-riência pioneira, realizada em três bairros da cida-de de Porto Alegre, em 1987. Duas organizações in-ternacionais – o Fundo das Nações Unidas para In-fância (UNICEF) – e Acction Internacional protago-nizaram esta iniciativa, que deu bons resultados eexpandiu-se, criando outros Centros em vários Es-tados brasileiros, a saber: Rio Grande do Norte (Na-tal), Maranhão (São Luis), Pernambuco (Recife), Ser-gipe (Aracaju), São Paulo (São Paulo), Goiás (Aná-polis), Paraíba (Campina Grande), Pará (Belém),Bahia (Feira de Santana), Piauí (Teresina), EspíritoSanto (Vitória) e Distrito Federal, com empreendi-mentos financiados em 145 cidades brasileiras.

O objetivo da iniciativa é a melhoria da qualida-de de vida dos pequenos empreendedores, por meiodo acesso ao crédito orientado. A rápida expansãoda experiência apontou para a necessidade de umacoordenação de âmbito nacional, criando-se então aFederação Nacional de Apoio aos PequenosEmpreendimentos (FENAPE), em 1990, que congre-ga todos os CEAPE existentes no país, ambas orga-nizadas como associações civis sem fins lucrativos.A partir de março de 2000, a FENAPE passou a sechamar CEAPE Nacional, constituindo-se posterior-mente no Sistema CEAPE.

Além de ser uma das primeiras experiências naárea de microcrédito no Brasil, tendo sido a pionei-ra na utilização da metodologia do Grupo Solidário,

esta experiência é de grande importância pois ofe-rece crédito a uma parcela da população que en-contra enormes dificuldades de obtê-lo nos moldestradicionais, junto ao sistema bancário convencio-nal. Alguns números relativos ao ano de 1998 sãodemonstrativos da envergadura e do potencial dainiciativa. Naquele ano, a Rede CEAPE foi responsá-vel pela concessão de mais de 44 mil créditos, devalores médios de aproximadamente R$ 900,00, si-tuados entre R$ 100,00 e R$ 8 mil. A taxa de juros –6% em 1998 – bastante inferior a do mercado, per-mite a sustentabilidade da iniciativa. A taxa deinadimplência média de 3,5% permite caracterizara concessão do crédito a esta parcela da populaçãocomo um negócio de baixo risco.

Para a FENAPE, a concessão do microcréditocaracteriza-se pelos seguintes aspectos: 1) deveser uma linha de crédito de longo prazo, consti-tuída de várias pequenas concessões; 2) deve for-necer orientação gerencial ao cliente; 3) deve mar-car claramente sua presença na comunidade, bus-cando a clientela nos locais de trabalho e de mo-radia, utilizando agentes de crédito e abrindo pos-tos de atendimento em locais de fácil acesso; 4)deve disseminar e estimular a prática do aval soli-dário, melhorando a qualidade de utilização do cré-dito e baixando os índices de inadimplência; 5) devefomentar a abertura de linha de crédito específicapara clientes em processo de crescimento do em-preendimento.

Sistema CEAPE: Rede de Apoioaos Pequenos Produtores

Expositor: Valdir Dantas

RN/MA/PE/SE/SP/GO/PB/PA/BA/PI/ES/DF

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Sílvio Caccia Brava ] Há lucro? Qual a suadestinação? E os preços dos produtos?

Mauro Martins da Silva ] Existe lucro, queé investido nas próprias empresas, na sua amplia-ção, equipamentos etc. O preço dos produtos acom-panha os da concorrência.

Sônia Café ] A prefeitura do Rio de Janeiroenfrenta um grande desafio com cooperativas detrabalho, que é o desenvolvimento de políticas demercado. Como é o acesso ao mercado? Como mon-taram a cadeia produtiva?

Mauro Martins da Silva ] Nós buscamoso mercado por intermédio de representantes comer-ciais, como em qualquer indústria. São represen-tantes comerciais autônomos, que saem vendendoas amostras. São vendedores autônomos, que re-cebem comissão pela venda. Os fornecedores sãode todo o país. Tentamos acompanhar a qualidadedos concorrentes, com preços melhores, como for-ma de ampliar as vendas.

Franklin Coelho ] Gostaria de entendermelhor a relação entre sócio e empregado. Como

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se deu esse processo de construção coletiva, de umanova cultura? Quais os conflitos gerados?

Mauro Martins da Silva ] Para que sechegasse aos sete grupos, houve a necessidade deenvolver muitas pessoas, das quais apenas algumasse mantêm. Alguns quiseram entrar, pois viam esseempreendimento como um bom retorno financeiro,um bom negócio, outros entraram por necessidademesmo, outros ainda por convicção, inspiração, poracreditar ideologicamente. Quanto à relação entresócio e funcionário, não existe uma coisa de cimapara baixo, todos estão envolvidos na produção, àsvezes o funcionário e o sócio estão lado a lado namesma máquina, ou seja, os sócios também estãoenvolvidos na produção ao lado dos empregados.

Marta Farah ] Como surgiu a COMPABI?Birigüi é região de produção de calçados? E a ques-tão do desemprego em Birigüi? Como a crise afetouo setor? Como a crise atinge a cooperativa? Comoela vem sendo enfrentada?

Mauro Martins da Silva ] O surgimento daidéia deveu-se em parte à falta de emprego, porém,por outro lado, havia o desejo de crescimento pes-

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soal, de autonomia em relação ao patrão. A crise éamenizada pela filosofia da economia solidária.Quando necessário, alguns membros do grupo rea-lizaram outras atividades e os recursos assim obti-dos foram destinados ao caixa comum. Quanto àcrise, a produção em Birigüi como um todo decaiu,muitas firmas não agüentaram a entrada dos pro-dutos importados. A cooperativa em si cresceu, masteve apoio de sócios que foram trabalhar fora e quecontribuem para o caixa comum.

Pedro Jacobi ] Como é o processo da coope-rativa no cotidiano? Qual a visão que você tem decooperativa? Um processo de construção coletiva?Gostaria que você explorasse isso um pouco mais.

Mauro Martins da Silva ] Tivemos muitasdificuldades, muitos conflitos. Um dos fatores queajudou a manter o grupo coeso foi a convivênciacom a igreja. Mas aprendemos também a brigar nasreuniões, discutir o que precisa e depois deixar delado as discussões e tocar a vida para frente. Temque saber respeitar a parte espiritual, física e pes-soal de cada um. Nas reuniões, as colocações pes-soais são feitas com muita sinceridade, mas não setransferem para o dia seguinte. Houve tambémmuitos cursos e palestras.

Em termos de funcionamento, cada grupo é umaempresa independente. A COMPABI surgiu para fa-cilitar a compra de matéria-prima, troca de mate-riais, de máquinas etc. Enfim, a COMPABI veio for-malizar uma situação de colaboração pré-existen-te. Cada grupo é registrado com razão social comomicroempresa, embora a COMPABI seja registra-da como cooperativa.

Pedro Jacobi ] Existe alguma liderança naigreja que ajudou vocês? Ou você fala do apoio daigreja de uma forma genérica?

Mauro Martins da Silva ] A igreja entra nanossa história mais como uma fonte de inspiração.Quando a idéia nasceu, nós já nos conhecíamos da

igreja. É bom ouvir alguém de fora, traz idéias no-vas. Porém, não há qualquer tipo de interferênciada igreja no nosso cotidiano.

Ladislau Dowbor ] Gostaria de conhecermais detalhes sobre a dinâmica financeira dos gru-pos. Quero saber também sobre os projetos de di-versificação e sobre o potencial exportador.

Mauro Martins da Silva ] O mercadoexterno não é prioritário. Há muita complicação, ain-da não temos condições. Temos priorizado a buscado crescimento com base no potencial do mercadointerno. Além disso, o mercado externo sofre fortesoscilações, o que nos colocaria em situação perigo-sa. Muitas empresas nesse ramo quebraram porconta disso. Alguns grupos podem comprar insumosindependentemente da cooperativa, outros usam acooperativa. Para financiarem suas operações, ain-da usam o desconto de duplicatas ou cheques comempresas de factoring. A injetora recém-compradafoi financiada pelo próprio vendedor em 24 meses,com 1% de juros ao mês. As dificuldades para aces-so ao crédito são bastante grandes, devido princi-palmente às exigências do de garantias por partedo mercado financeiro.

Caio Silveira ] Com relação à capacitação(conhecimento sobre o aspecto produtivo), ao crédito(acesso ao capital) e ao mercado (comercialização):qual a base de conhecimento inicial do grupo e comoela se ampliou? Pelo que entendi, alguns dos sóciosoriginais tinham alguns conhecimentos no ramo de cal-çados. Mas como este conhecimento foi ampliado?Buscaram-se cursos? E com relação aos conhecimen-tos necessários na área de gerenciamento?

Mauro Martins da Silva ] Os doze mem-bros do grupo inicial já trabalhavam em fábricas decalçados, o que facilitou bastante. Quando neces-sário, iam buscar informações junto a amigos deoutras empresas. Tivemos também apoio de outraspequenas fábricas e fomos fazendo cursos por meio

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de parcerias com o SEBRAE, com sindicatos etc. Jun-tando o conhecimento que tínhamos e correndo atrásdo que não sabíamos. Esses conhecimentos vão sen-do repassados a cada novo grupo que aparece.

Nilson Costa ] Como chegaram à modela-gem (ou seja, ao design) dos calçados?

Mauro Martins da Silva ] Foi evoluindo.Hoje o sindicato fornece revistas internacionais, as-sinamos outras, participamos de feiras de calçadose, claro, saímos pelas ruas olhando para baixo, paraos pés das pessoas, pois as tendências da modatambém estão nas ruas. Os representantes trazemidéias, o que os lojistas gostam, o que eles não que-rem. Temos que tentar acompanhar a moda, rapi-damente. Quanto ao desenho, os primeiros mode-los foram desenhados a mão, hoje projetamos nocomputador, que sai mais barato do que o concebidono papel.

José Carlos Vaz ] Como são tomadas asdecisões? O que é decidido pelo grupo? O que fica acargo de cada cooperativa?

Mauro Martins da Silva ] Cada grupo temuma maneira própria de decidir os assuntos de in-teresse próprio, de organização interna do trabalhoetc. As decisões que têm repercussões mais am-plas, que afetam os demais grupos, são tomadasem reuniões gerais com todos os sócios.

Maria do Carmo Meirelles ] Há participa-ção na Comissão Municipal de Emprego? Como temsido esta participação?

Mauro Martins da Silva ] Estiveram reu-nidos com a Comissão Municipal de Emprego e comrepresentantes do Banco do Brasil. Chegaram a plei-tear a implantação de um minidistrito industrial. Nãoobtiveram nenhum apoio concreto.

Cunca Bocayuva ] Como tem sido a relação

com os sindicatos e qual a forma de contrato detrabalho? Poderia explicar melhor a organizaçãodessas empresas? O modelo é de uma federaçãode pequenas indútrias familiares?

Mauro Martins da Silva ] Quanto maisgrupos forem os que tiverem destaque, tanto melhor.A idéia é ter uma cooperativa que possa estar a ser-viço dos grupos. A cooperativa também presta servi-ços a outras empresas, que não as dos grupos. Esta-mos ligados aos dois sindicatos. Com o sindicato dostrabalhadores, a relação é bem aberta. Com o sindi-cato patronal, a relação é boa, mas já chegamos aapoiar uma greve de empregados. Mas não houvemaior conflito com o sindicato patronal. Com relaçãoao modelo de gestão, não queremos que a federaçãotenha um caráter assistencialista, paternalista, atéporque não temos condições financeiras. É uma op-ção de trabalho, de enfrentar o mercado. Por isso,esse formato de criação de novos grupos e da coo-perativa. A cooperativa está a serviço do grupo, enão o grupo à mercê da cooperativa. Como já falei,somos ligados a dois sindicatos: o dos trabalhado-res, em cuja presença desenvolvemos todas as ações,e o patronal, com quem nossa relação também é boa,e por intermédio de quem mantemos boas relaçõestambém com as outras empresas do ramo.

Pedro Jacobi ] A parceria com a Natura Cos-méticos viabilizou a conquista de um espaço físico e acompra dos equipamentos, o que foi essencial para aatividade da COOPEC. A constituição formal (estatutolegalizado etc.) da cooperativa demorou sete meses,em razão dos entraves burocráticos. Existe a possibili-dade de se obterem apoios, inclusive internacionais,desde que haja divulgação da experiência.

Cunca Bocayuva ] As cooperadas dedicam-se a outras atividades ou o trabalho absorve todo oseu tempo? As costureiras dependem exclusiva-mente do trabalho na cooperativa ou têm outras fon-tes de renda? São pessoas que não podem sair dobairro por terem crianças?

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Iracema Barbosa ] Apenas três delas têmoutros trabalhos. As demais, cuidam de suas crian-ças porque não há creches suficientes no bairro.Outro problema é a distância do bairro em relaçãoaos locais nos quais se pode encontrar trabalho. Elastêm muita dificuldade com os maridos, porque elesresistem à atividade profissional das mulheres, mui-tas vezes não concordam com a atividade econômi-ca delas. Os turnos de trabalho são de quatro ho-ras, das 8 às 12h ou das 13 às 17h. A produção ain-da é baixa, temos dificuldade de mercado.

Elizabeth Leeds ] O que se faz em termos decapacitação das cooperadas? O que está sendo feitoem termos de marketing para garantir a indepen-dência do grupo?

Iracema Barbosa ] O CENPEC e a NaturaCosméticos trouxeram assessorias externas como,por exemplo, o Serviço Nacional de AprendizagemComercial (SENAC), além das próprias pessoasdisponibilizadas por estas instituições.

Jan Bitoun ] Quais os avanços? Qual a rendadas cooperadas?

Joana Coutinho ] Há um avanço, porque ascooperadas antes não tinham renda. O piso é de umsalário mínimo, o que ainda não está sendo possívelmanter. Mas este não é o aspecto principal, pois arenda ainda é muito baixa, sendo que em alguns ca-sos (como o de Iracema) a renda familiar diminuiu. Oideal é chegar a um salário mínimo por mês paracada uma das cooperadas. Mas os outros aspectosnão podem ser reduzidos à questão monetária: o res-gate da auto-estima, a capacitação para o trabalho,a ampliação das possibilidades de inserção na vidasocial e econômica e o fortalecimento das relaçõescomunitárias são certamente importantes avanços aserem considerados nessa experiência.

Franklin Coelho ] Sabendo que esta expe-riência é uma referência, pelo tempo em que está

em funcionamento, gostaria de saber sobre o capi-tal de giro e sobre o caráter institucional. Valdi Dantas ] Existem dois fatores. O ativo

fixo em um pequeno empreendimento é pequeno,então o giro é o mais importante e imediato. Aten-demos ao giro (tempo médio de quatro meses). Ogiro tem um crédito menor, mas é mais rápido. Ofixo é um crédito maior, porém mais complicado.Com relação ao caráter institucional, nós só faze-mos um lado da operação, não captamos depósitosetc. Em conseqüência, não somos considerados ins-tituição financeira.

Jan Bitoun ] Você toma emprestado do BIRDe do BNDES, como é isso?

Valdi Dantas ] Do BNDES é um empréstimo,mas em relação ao BIRD é praticamente uma doa-ção, juros altamente subsidiados.

Ladislau Dowbor ] Sobre o custo operacio-nal: quanto custa a máquina operacional da engre-nagem toda, qual o custo do dinheiro?

Valdi Dantas ] R$ 15mil/R$ 20 mil por mêspara custos operacionais.

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Na realidade, o trabalho continua tão central quan-to sempre foi. Não há uma crise do trabalho. Há, sim,uma crise do trabalho assalariado, o que leva a umenorme desemprego. Há um desassalariamento. Aprodutividade não vem crescendo em ritmo superi-or ao daquele verificado nos 30 anos pós-guerra.Mas a economia mundial não cresce, o mercado nãose amplia, a demanda agregada também não. Nun-ca houve tanto desemprego como temos hoje noBrasil. As razões da crise não são tecnológicas. Avariável-chave é o crescimento econômico.

O aumento da produtividade permite que se pro-duza mais, desde que haja aumento da demanda eque diminua o processo de concentração de ren-da, ao contrário do que vem ocorrendo. Sem am-pliação do mercado consumidor, não há como ab-sorver a produção excedente, gera-se desempre-go (pelo aumento da produtividade e pela falta dedemanda). A partir dos anos 80, todas as lições dokeynesianismo foram jogadas fora e surgiu um pa-vor pela inflação. Tornaram-se hegemônicas pelomundo afora políticas macroeconômicas orienta-das para o combate à inflação a qualquer custo,

gerando o que podemos denominar de “crescimen-to-fobia”. Uma evidência disso é o movimento dasbolsas de valores: ao contrário do que a lógicaeconômica determina, se observarmos o que temé a queda das bolsas, ou seja, do investimento pro-dutivo, quando o desemprego cai, pois a expecta-tiva de aumento da demanda gera expectativa deinflação como resultante do crescimento econô-mico, o que gera expectativa de adoção de políti-cas anti-inflacionárias, de forma que os agentescomportam-se desinvestindo.

Quando surgiu a terrível crise do “desassala-riamento”, com enorme perda de postos de traba-lho, a primeira reação foi a de tentar reverter oquadro. Hoje, a esperança de voltar ao modelo queprevaleceu até os anos 70 é muito pequena, porquetêm havido transformações profundas junto às gran-des empresas. De um lado, houve uma violenta cen-tralização financeira, o que leva a uma quase unifi-cação das decisões estratégicas em termos de ge-opolítica. Por outro lado, há uma descentralizaçãodas decisões operacionais, o que corresponde aomodelo da terceirização.

Economia solidária e a novacentralidade do trabalho

Expositor: Paul Singer

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Muito se tem falado no apoio às microempresascomo saída para a crise. De fato, esta é uma impor-tante área de ação, mas é claro que, também aí, existeum limite. O excessivo número de pequenas empre-sas acaba gerando um excesso trágico de oferta, for-çadas pela extrema concorrência a que estão sujei-tas, gerando novamente desemprego etc. Poucasresistem. Cada vez mais as empresas contratam ser-viços externos em todos os níveis, não só na execu-ção de tarefas básicas. Neste mundo, a reinserçãode trabalhadores excluídos faz mais sentido por meioda constituição de organizações autônomas. Dentrodessa lógica, ter trabalhadores organizados autono-mamente faz sentido, é uma alternativa que estáacontecendo em todos os níveis. Faz então maissentido organizações de trabalhadores autônomos,como cooperativas, do que microempreendimentos.As cooperativas de trabalhadores aparecem comouma resposta efetivamente positiva. Quando gruposde pessoas se organizam para produzir qualquer coi-sa, não há limitação. O trabalho de cooperativas temviabilidade. A economia solidária é uma resposta co-letiva. Defendo a idéia de constituir cooperativas al-

tamente profissionalizadas, chamando para integrá-las engenheiros, administradores etc., que se encon-tram desempregados.

Um bom exemplo de cooperativa é a incubadoraonde a primeira experiência aconteceu no Rio de Ja-neiro, na FIOCRUZ. Surgiu, então, a primeira coope-rativa de serviços (“o que vié, nóis traça”). Hoje, hámais de trinta cooperativas desse gênero em maisde vinte favelas do Rio de Janeiro. A experiência dasincubadoras é de um potencial incrível. Há uma naUSP, coordenada por mim mesmo.

Nas universidades, em que as incubadoras assu-mem um papel importante, os próprios alunos se in-teressam em formar cooperativas. Estamosreaprendendo, reinventando a pólvora. Trata-se doenfrentamento de lógicas às quais ainda não estamosacostumados, há um processo e um percurso longode aprendizado: quebram-se hierarquias, pois nin-guém manda em ninguém. Uma coisa é clara: emtodas as grandes crises do capitalismo, as coopera-tivas foram a resposta. É uma história de altos e bai-xos. Surgem e vão sumindo. Então, é precisoreaprender a trabalhar com cooperativas.

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134 Mirna Pimentel ] Qual o cunho social de

uma experiência como a da FENAPE, se os juros sãoos de mercado?

Valdi Dantas ] Trata-se de uma organizaçãoque está voltada para dar o acesso ao crédito parapessoas que estavam excluídas dele. Assim, vocêpermite uma promoção social e econômica das fa-mílias que procuram o crédito. Ou estas pessoastêm crédito com agiotas a 15% ao mês, ou não têmcrédito nenhum. Então o crédito é um elemento im-portante de inclusão social.

Paul Singer ] Há muitos programas de micro-crédito subsidiados, com juros baixos ou inexistentes,mas nunca passam do plano piloto, favorecendo ummínimo de pessoas. Um programa mais amplo não temcomo sobreviver sem cobrar juros de mercado, e 6%é bem baixo pelos padrões atuais de mercado.

Marta Farah ] Com recursos subsidiados,por que o benefício não é repassado ao tomador?

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Valdi Dantas ] Porque o Sistema CEAPE jánão mais existiria, na medida em que o dinheiro degraça está acabando no mundo.

Ladislau Dowbor ] É impressionante aexpansão do microcrédito no mundo.

Peter Spink ] Você tem conhecimento dosvalores envolvidos ao redor do mundo?

Ladislau Dowbor ] Não sei o númeroexato, mas a expansão tem sido muito rápida,certamente já podemos falar em cifras de bilhãode dólares.

Sílvio Caccia Bava ] Tomei conhecimentode que 25% da força de trabalho no Uruguai estáorganizada na forma de cooperativas. É preciso exis-tir um arcabouço institucional que permita que essetipo de organização se desenvolva no Brasil, ummarco regulatório capaz de estimular esse tipo deiniciativas no Brasil.

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Marcus Melo ] Sobre a cooperativa decalçados, gostaria de perguntar a Mauro que fato-res ele julga responsáveis pelo sucesso de sua ex-periência, e que fatores ele conhece que podem serresponsáveis pela falência de outras iniciativas? Eo CENPEC/COOPEC? E o CEAPE? Porque algumasexperiências dão certo e outras não? Quais os fato-res de sucesso? O que resulta em fracassos?

Mauro Martins da Silva ] Vimos algumascooperativas em Birigüi que não funcionaram. Conos-co, tivemos vantagem por iniciar a experiência comum grupo que já possuía conhecimento técnico bási-co, e tivemos sorte com as vendas desde o princípio.Os outros grupos da cooperativa tiveram o apoio doprimeiro grupo, inclusive financeiro. O grupo que estámelhor estruturado dá o apoio aos grupos novos.

Maria Magdalena Alves ] A solidariedadeestendeu-se a outros grupos, como os de beneficia-mento de arroz em certa época. Já tiveram a expe-riência de uma cooperativa socorrer a outra.

Joana Coutinho ] Os dois fatores queajudaram a organização da cooperativa das costu-reiras foram o apoio da Natura e o papel da coo-perativa como ponto de encontro, no qual as mu-lheres podem discutir outras questões, mantendo-se o grupo coeso.

Valdi Dantas ] Algumas variáveis responsá-veis pelo fracasso de organizações voltadas ao mi-crocrédito são: a) falta de foco no negócio (organi-zações que têm tentado fazer outras coisas além domicrocrédito em geral tem fracassado, inclusive comprojetos muito ligados, como a capacitação); b) fal-ta de visão estratégica, tanto no que diz respeito aoalcance (massificação do atendimento) quanto àauto-sustentação, seu horizonte tem que ser a mas-sificação, chegar à grande penetração no mercado,adquirir escala; c) há necessidade de investir na ca-pacitação de gestores (grande necessidade de tra-balhar a capacitação dos gerentes e intermediários

para conseguir essa penetração de mercado), semesquecer do aspecto da solidariedade como subs-trato ideológico que dá base à ação; d) é preciso terrigor metodológico no que diz respeito ao financei-ro (se você não segue certas pautas, não obedeceos quadros, os prazos, você pode fracassar).

Caio Silveira ] A questão do trabalho erenda diferencia-se de emprego e renda, por serum conceito amplo e mais abrangente. O trabalhopode incluir emprego, mas não se resume a ele, podeincluir outras formas de trabalho, alternativas. Oeixo tem sido o trabalho não-assalariado, o que levaà questão do crédito, à da capacitação e à do mer-cado (vínculos das unidades de produção com ou-tros agentes sociais). As ações de trabalho e rendapouco se articulam entre si e com outras políticassociais. Em relação ao crédito, é interessante situara questão no Brasil. Lacunas no microcrédito: a) ris-cos significam menos ousadia, o que leva a menorcapacidade de apoiar novos investimentos produti-vos; b) pequeno apoio a grupos associativos.

Paul Singer ] Gostaria de saber sobre aslinhas específicas para cooperativas.

Caio Silveira ] O PROGER tem uma vertentede apoio às associações e cooperativas. Havia a in-tenção semelhante do PORTOSOL.

Nilson Costa ] Nas experiências de Birigüi edas costureiras há um processo de socialização deconhecimentos técnicos. No caso da FIOCRUZ, arelação solidária entre a contratante e a cooperativa(contratada) garantiu o sucesso desta última, quesó agora vai em busca de mercados alternativos.Outra coisa que chamou a atenção é uma variávelnova no que diz respeito a alavancagem da empre-sa. Relação mais solidária desde o início. Quem sãoos clientes, no caso da FENAPE?

Valdi Dantas ] O indivíduo, a família e opequeno empreendedor familiar.

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Jan Bitoun ] Tendo acompanhado os trêsseminários, refleti sobre o seguinte: as experiênciasde Birigüi e das costureiras não têm impacto sobreas estatísticas de pobreza, o que leva a um lapsoentre os indicadores de pobreza e o surgimento dasiniciativas. A agregação de renda é pequena ou qua-se inexistente. Os que estão abaixo da linha de po-breza nela permanecem, em sua grande maioria.Há outros ganhos importantes, é claro. Mas,estatisticamente, não muda o quadro social. O tra-balho não produz só renda. Há outras experiênciasque trazem subprodutos pessoais para os envol-vidos, embora não sejam cooperativas. Sobre aCOOPEC, no Rio, foi feita uma exposição sobre osindicadores da linha de pobreza. Agora, nem a coo-perativa de costureiras, nem a de Birigüi vai ter umefeito estatístico sobre a linha de pobreza. Não mudamuito a situação, especialmente em Birigüi. Diriaque o trabalho não produz só renda, isto ficou mui-to claro aqui hoje. O trabalho faz com que as pes-soas se reúnam, criem um laço social, e que te-nham a possibilidade de se inserir em alguma coi-sa, com mudanças nas relações familiares etc. Mas,e a preocupação com mudanças mais significativas,de maior impacto?

Joana Coutinho ] Estas questões são muitopertinentes, mas difíceis de serem respondidas. Nocaso da Natura Cosméticos, existe uma parceriaestabelecida com a COOPEC, embora ainda não decompra do produto. A COOPEC não é fruto de umaorganização comunitária. Não existia nenhum grupode mulheres, nenhuma história de luta no bairro. En-tão, a partir do trabalho, começa-se a organizar ummovimento comunitário, e de gênero, que extrapolaa relação familiar. São mulheres que nunca tiveramoportunidade de falar e de serem ouvidas.

Roseni Reigota ] Sugiro que a discussãoseja levada para além das experiências locais, con-siderando a fala do professor Paul Singer. Gostariade propor, como eixo de discussão, a possibilidade

de constituição desta rede solidária a que ele sereferiu, apontando para os caminhos de consolida-ção de uma economia solidária. Como sair das nos-sas 20 famílias e ampliar, perante este enorme de-safio da pobreza no país?

Pedro Jacobi ] Ressalto a engenharia insti-tucional, que une o CENPEC, a Natura e a comunida-de. O trabalho da psicóloga foi muito importante,porque foram questionadas as relações de poder. Édifícil construir a noção da solidariedade, quando ageração de renda é muito escassa.

Sônia Café ] No Rio de Janeiro, está sendodifícil colocar na rua os programas de políticas deemprego e renda, assim como articulá-los. A inte-gração das políticas públicas é um desafio. Dificul-dades de conquistar mercado. Trabalhando separa-damente, sem integração, as cooperativas não con-seguem vencer licitações, não têm crédito.

Peter Spink ] A questão das licitações é umgrande desafio, sabemos que os pequenos empreende-dores nunca vencem, não têm condições de atenderas exigências. O mercado de licitações no Brasil é, defato, um “monopólio” das grandes empresas.

Tânia Zapata ] O Banco do Nordeste temlinha de crédito específica para associações e co-operativas. O teto é de R$ 400 mil. Existe já hácinco anos, com resultados bastante interessan-tes. Incentiva-se a participação da sociedade ci-vil em comitês, que são os que analisam os pro-jetos. Só aqueles aprovados pelos comitês são en-caminhados ao banco. Em relação aos temas tra-tados, tenho uma preocupação, que acho que égeral, acho fundamental a procura do caráter desustentabilidade e de replicabilidade nos progra-mas. Temos sempre planos-piloto, ações-piloto,que logo morrem. É preciso criar escala, ter en-vergadura, é importante replicar e manter. Terestratégias de intervenção que sejam compatíveis.

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Fóruns como este são fundamentais para a troca deidéias, para compartilhar experiências. É preciso terestratégias e tecnologias de intervenção que sejam“macroabrangentes”.

Franklin Coelho ] O que é economia solidá-ria como conceito, e como se diferencia da antiga-mente chamada economia popular? Como se traba-lha com isto? Como são as mudanças na mediaçãodo poder? Como trabalharmos como projeto políti-co, podermos ir além do mero economicismo? Pa-rece que existe justamente uma enorme riqueza aser explorada na diversidade das formas econômi-cas presentes, com atores em processo de constru-ção etc.

Paul Singer ] Economia popular é bemdiferente de economia solidária. Na economia po-pular, não é uma questão de ajudar a erradicar apobreza, para os pobres saírem da pobreza, masapenas de ajudar os pobres. Eles vão continuarpobres, isto na economia popular é fundamental,mas recebem ajuda. Os efeitos comunitários queforam hoje mencionados são ótimos, contanto quehaja geração de renda, e que os pobres deixemde ser pobres. O êxito econômico é essencial. Ha-vendo fracasso econômico, todas as virtudes so-ciais sucumbem também. O êxito econômico é in-grediente essencial. E há pleno potencial desseêxito, é só olhar o exemplo de Birigüi. Apoio eco-nômico ou de outro tipo é ótimo, mas precisa terum limite, depois de um tempo o grupo tem queandar sozinho. Cada cooperativa é uma incuba-dora. Estamos construindo, hoje, redes mais sóli-das de solidariedade, mas estamos apenas no iní-cio. Tem que haver vínculos comerciais tambémentre as cooperativas, senão não vão sobreviver,em termos de potencializar cadeias produtivas.Considero absolutamente essencial o apoio exter-no às cooperativas, porque sem esse apoio elasfracassam. A solidariedade intercooperativas éprincípio do cooperativismo, daí a importância de

se construírem redes mais sólidas de cooperati-vas. É preciso criar vínculos organizacionais e co-merciais entre as cooperativas.

Maria do Carmo Meirelles ] As experiên-cias de Birigüi e das costureiras passam ao largo dopoder público. Gostaria, assim, de discutir como en-volver o poder público nessas experiências, de comoo poder público está discutindo o crédito. Com rela-ção às novas formas do público-privado: os municípi-os já apresentam uma média de 10 Conselhos, masfalta investigar: o que está, de fato, mudando?

Maria Magdalena Alves ] Considero pre-ocupante o fato de o presidente da Comissão de Em-pregos ter afirmado que a Comissão só atende aquem tenha obtido aprovação do crédito solicitadoao Banco do Brasil.

Nilson Costa ] Creio que é tema de agendaa articulação entre os direitos básicos do emprega-do e o mundo das cooperativas.

Cunca Bocayuva ] Três ordens de ques-tões: 1) as que abriram o debate; 2) as experiênciasconcretas apresentadas e debatidas; 3) os proble-mas conceituais que surgiram. Com relação às ques-tões que abriram o encontro, surgiram temasrelacionados às políticas focalizadas, ao combate àdesigualdade, às relações e possibilidades de rela-cionamentos entre políticas públicas e experimen-tações da sociedade, ao potencial de combate à po-breza presente nestas experimentações, à gover-nança, ao acesso à renda, à crise do trabalho, daocupação e do assalariamento, à problemática vivi-da pela periferia industrial, capitalista, à escala dosexperimentos, a localização territorial (local, muni-cipal, regional etc.) dos experimentos, à descontinui-dade dos experimentos. Aqui, a pergunta era: qualo potencial das ações voltadas à geração de ocupa-ção e renda em termos de combate à pobreza? Oque resolvem? O que não resolvem? Qual o seu po-

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tencial? Experiências variadas, diversas, de tipos di-ferentes, atuando na área do fomento (microcrédi-to orientado), no campo produtivo (cooperativas),particularmente no complexo industrial calçadista,todas partindo de um campo da solidariedade. Asduas “vão ao lugar”, ao fazer. Fornecem bases paraum terceiro projeto. Como construir um jardim emum Jardim que não é um jardim?

Parte-se, de qualquer forma, do pressuposto deque sempre há alguém fazendo, sempre há atores, oproblema é o fomento às condições para a realiza-ção. Há a necessidade de que as escolhas confluampara que ganhem escala, como nos trouxe o profes-sor Singer, na confluência para uma macroestratégia,em um contexto de direitos, reorientando a econo-mia em um sentido cidadão.

Afinal, qual é a densidade ética do que temos dis-cutido? O que é a economia social? O que é a econo-mia popular? Quais as suas diferenças? De qualquerforma, é bastante difícil extrair de políticas muito tó-picas, como as que discutimos aqui hoje, uma dimen-são utópica. De qualquer forma, é necessário inda-gar: será possível compatibilizar estratégias de maislongo prazo com necessidades imediatas de sobrevi-vência? O consenso que vem de Recife é que nenhu-ma ação tem sentido se não puder combater adesigualdade, a não ser que sejamos adeptos deações minimalistas, o que não é o caso de ninguémaqui. Embora com valor, ações tópicas não permitemque pensemos em estratégias utópicas.

Encerro, retomando o que já apontei anteriormente:falta-nos um marco ético normativo, com a implosãodo campo dos direitos conquistada com a Constituiçãode 1988, que reconhecia direitos etc. O Brasil não re-sistirá até 2004 com tantas crises, em várias dimen-sões, com cabeças tão diferentes etc., diversidadesregionais, extremas desigualdades, problemas dosquais a atual crise do pacto federativo é apenas a pon-ta do iceberg. O que temos discutido poderá auxiliarna constituição, instituição ou sei lá o que de um novopacto? Talvez. Talvez a economia solidária hoje, o co-operativismo ajude, talvez ajudem a criar novos ar-ranjos no campo dos direitos e da cidadania.

Franklin Coelho ] Creio que as questõeslevantadas hoje cruzam-se com as de Recife, ha-vendo diferenças de qualidade. Há 13 pontos a des-tacar: 1) a presença de Paul Singer coloca a ques-tão das forças sociais e dos projetos em jogo, quearticulam pressupostos e orientam ações. De algummodo, as discussões de melhores práticas têm di-mensões políticas, que devem aflorar, trabalharmospara além da eficiência técnica, as questões da sus-tentabilidade e replicabilidade; 2) a necessidade derecuperar as piores práticas envolve saber comoas melhores práticas incorporaram as questões sus-citadas pelas primeiras; 3) a relação macro-microem torno do emprego, os desafios frente à implo-são do modelo keynesiano europeu; 4) relação dualentre cooperação e competitividade em um campode ação solidária; 5) retomada da relação entre lo-cal e territorial (concepção de um território socio-espacial), à capacidade de construção social dosatores locais; 6) governabilidade e capacidade deação articulada com uma visão de projeto; 7) diver-sidade das formas econômicas e a discussão da pró-pria cooperativa; 8) o papel das políticas públicasna construção do território, possibilitando a supe-ração do economicismo; 9) a questão do microcré-dito, envolvendo escala, capacitação ou não, aces-sibilidade, tecnologias creditícias, novos conceitos,participação das cooperativas no acesso ao crédi-to; 10) a discussão sobre a relação entre economiasolidária e economia popular e como esses concei-tos se inserem em um projeto de transformaçãosocial; 11) trata-se só de trabalho e renda ou estãoenvolvidos outros fatores nas discussões do grupo?Temos que trabalhar de forma mais ampla trabalhoe renda?; 12) indicadores de impacto, resultados;13) que ação é esta que leva à extrapolação dosmuros da cooperativa? Superar o caráter tópico dacooperativa, isolada.

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Políticas sociais de combate à pobreza

Essas discussões são muito oportunas, em es-pecial neste momento, quando a crise certamentelevará ao agravamento do quadro de pobreza, emespecial no meio urbano. Tomando por base os re-sultados realizados recentemente pelo Instituto Pó-lis, levanto algumas questões: a primeira é saberde que pobreza se fala. Afinal, de que pobreza esta-mos falando? Parece que esta questão ainda estáno ar. Pelo que posso perceber das discussões deontem, não se está falando sobre as pessoas queestão abaixo da linha de pobreza. Nos estudos so-bre os programas de renda mínima (Campinas e Dis-trito Federal), verificou-se que aqueles que estãoabaixo da linha de pobreza têm dificuldades até deacesso aos cursos profissionalizantes.

Segundo o Professor Bernardo Kliksberg, logo te-remos, no Brasil, nada menos que 70% da popula-ção abaixo da linha de pobreza. Tem a recente obrade Michael Lipton sobre a erradicação da pobreza:no meio rural, ainda é possível encontrar certas ini-ciativas com razoável sucesso, que podem causar cer-to impacto na qualidade de vida das populações po-bres que aí vivem. Mas e no meio urbano? Estão sur-gindo poucas respostas, e bem menos significativasem termos de efetivos resultados. Assim, me preo-cupa bastante o fato de que no meio urbano, ao con-trário do meio rural, é difícil encontrar programasque realmente fazem impacto, mudando alguma coi-sa de forma mais significativa. Certos programas,como o de renda mínima, têm impactos positivos, mas

não em termos de erradicação da pobreza. Pareceque ainda se está a trabalhar com uma noção de po-breza muita marcada pelo aspecto econômico. Pre-cisamos fazer o trânsito de uma certa visão “huma-nista” da pobreza para o campo dos direitos, da ci-dadania. É importante situar as ações em termos doestabelecimento e construção de mecanismos quepossibilitem a extensão universal de direitos. Pare-ce-me que estamos trabalhando ainda com uma no-ção de pobreza muito atrelada ao econômico. Res-salta que, como apontou a Organização Internacio-nal do Trabalho (OIT), a pobreza não é uma escolhaindividual, mas o resultado das políticas públicas ado-tadas. Ontem, nossas discussões foram mais forte-mente marcadas pela dimensão econômica dasações. E as políticas sociais? Qual centralidade dopapel do Estado nessa questão? Destaco que o per-centual de 1% das receitas municipais destinadasaos programas de renda mínima não tem qualquerapoio técnico. Foi 1% simplesmente porque este foio percentual em torno do qual se deu o consenso,mas poderia ter sido, por exemplo, 4%, o que gera-ria um impacto muito mais importante em termos decombate à pobreza. Haveria alguma perda ou sacri-fício para os não diretamente beneficiados? Alguém,até agora, perdeu alguma coisa com estas ações?Claro que não.

Antigo estudo do BIRD mostra que somente 10unidades de valor, das 100 utilizadas em uma políti-ca pública, chegam até o beneficiário final. Há ne-

Expositores: Sílvio Caccia Bava e Ladislau Dowbor

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cessidade de se alargar o entendimento sobre po-breza, lembrando que alguém já definiu que pobre éaquele que não pode decidir sobre sua vida. Tam-bém no âmbito da ação local existem coisas que nãosão necessariamente políticas de combate à pobre-za, mas que, de uma certa maneira, são medidasefetivas de combate à pobreza. Programas como or-çamento participativo são bons indicadores, estasexperiências de gestão local são exemplos de re-forma administrativa.

Ladislau DowborÉ a cultura que conduz muitos dos processos eco-

nômicos. A dimensão cultural é muito mais determi-nante do que se costuma pensar. Questionado sobrea venda de pares de tênis, que têm um custo de pro-dução inferior a US$ 10, por US$ 130, um executivoda empresa Nike respondeu que não vende calçadose sim sonhos. Para quebrarmos esta lógica perver-sa, é fundamental resgatar a essência das pessoas,de modo que não se pode pensar apenas na geraçãode riquezas econômicas. Como a Iracema falou on-tem, é importante resgatar algo que está dentro daspessoas, estamos falando de um resgate, de umaauto-valorização das pessoas e isto é uma questãocentral. Não podemos ficar só na questão material.Concordo com o Singer que a gente tem que garantiro conforto material, mas acho que esta revaloriza-ção cultural também é fundamental.

Tivemos uma urbanização violenta e criamos su-búrbios sem crescimento da oferta de empregos nomesmo ritmo do crescimento populacional. Na áreado social não temos paradigmas organizacionais. Oantigo paradigma estatal não serve. Então, o que sefaz? Se privatiza tudo, só isso. Na África do Sul temuma política muito interessante: também estão comproblemas de crise, entrando violentamente com no-vas tecnologias (robotização) para acompanhar omercado, mas, ao mesmo tempo, investindo na agri-cultura com gerenciamento comunitário. Temos,neste país, muita terra para ser plantada, inutiliza-da, e muita gente querendo terra para plantar e não

conseguindo. Temos o insumo e o capital humano,ou seja, os fatores de produção essenciais. As mas-sas urbanas sem perspectivas de emprego, os tra-balhadores do campo reivindicando terra, e terraociosa, muita terra ociosa, concentrada nas mãosde poucos. Há as necessidades de habitação, sane-amento etc., para cuja satisfação haveria necessi-dade de gerar muitos empregos. É preciso rearticu-lar políticas de emprego.

A nova importância do social muda as referências.No EUA, 14% do Produto Interno Bruto correspondeao sistema de saúde. Rapidamente, saúde, educaçãoe cultura estão se tornando os três maiores setoresda economia, o que instaura novas dimensões e pa-péis no campo econômico, mudando as lógicas e flu-xos até então prevalecentes. Na verdade, há umacoincidência entre a necessidade de organizar a so-ciedade e a necessidade de gerir as políticas sociais.Pode-se recuperar o papel central das cidades parao desenvolvimento.

É preciso lutar por uma política nacional de de-senvolvimento local. Lembro do exemplo do siste-ma financeiro, citando o caso de Bertioga, onde 92%dos depósitos nos bancos locais são aplicados forada cidade. É preciso criar uma economia em doistempos: certos setores seguirão a orientação glo-bal de máxima eficiência, outros serão intensivosem mão-de-obra, como o trabalho no campo. A in-fra-estrutura local é uma grande avenida de gera-ção de trabalho. Se não há base organizativa no pla-no local, você não pode mudar as esferas centraisde poder, os macro-sistemas de decisão. É o “ma-cro do local”, digamos assim. Como fazer para ra-cionalizar e potencializar capitais e recursos já dis-poníveis? Investir poupanças onde elas são gera-das, e não nos grandes fundos de pensão. Não sepode exportar poupança, temos que resgatar o lo-cal. Vejam as oportunidades geradas pelas novastecnologias, como os trade centers, a partir da co-nexão de localidades remotas, via internet, aos cen-tros consumidores. É preciso aprender a organizarespaços, nos quais os stakeholders possam articu-lar políticas.

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Sônia Café ] No município do Rio de Janeiro,muito se tem pensado sobre a integração de políti-cas, no eixo favela-bairro, na tentativa de levar todosos instrumentos a esse território. São 900 favelas,das quais apenas 16 são hoje atingidas pelo projeto.Na verdade, em apenas três delas estamos tendo al-gum sucesso mais palpável em termos de ações in-tersecretariais.

Peter Spink ] Destaco a importância, por sisó, de um município como o Rio de Janeiro ter umaSecretaria do Trabalho.

Nilson Costa ] O atual governo municipal doRJ é muito responsável em termos de inovações ereformas institucionais. Proponho que pensemos omacro segundo a linha apresentada por Ladislau,discutirmos em termos de paradigmas de gestãosocial. Temos uma visão conservadora a respeito.Os novos paradigmas para a gestão social são incrí-veis, em termos de flexibilização responsável. Têmacontecido inovações incríveis, de grande importân-cia e envergadura, em poucos anos, nas áreas deeducação e saúde.

Sílvio Caccia Bava ] Com os recursos hojealocados para as políticas sociais, pode-se poten-cializar os resultados das ações, se houver umagestão democrática.

Maria do Carmo Brant ] A questão daspolíticas sociais no enfrentamento da pobreza deveser vista pela ótica de estar ocorrendo saltos posi-

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tivos. O fato de se associar pobreza à macroecono-mia leva a um certo imobilismo. Um dos problemas éque tratamos todos os pobres como se fossem iguaisno Brasil. Problemas como o lixo urbano, por exem-plo, também podem ser trabalhados em termos deenfrentamento da pobreza, em diversas áreas, comoevidenciaram nossos oficinas anteriores, do Rio deJaneiro e de Recife. Acho que realmente temos queolhar o quadro de maneira mais ampla. Em termosde processos-chaves e de estratégias, temos queter mais flexibilidade.

Acho também que ainda trabalhamos com os po-bres de forma tutelar, precisamos dar as ferramen-tas para eles. Temos uma visão tutelar do pobre, oque leva à nivelação dos pobres pela indigência. Con-cordo que os paradigmas organizacionais são extre-mamente importantes. É preciso deixar de partir dedados catastróficos, para partir do conhecimento en-contrado em determinada localidade.

Sílvio Caccia Bava ] Não se trata devisão catastrófica, mas o fato é que não se podever uma evolução positiva dos indicadores soci-ais na perspectiva de décadas. Tem havido umaumento da desigualdade, e este é um fato quenão se pode negar.

Franklin Coelho ] Existe o plano estratégicoque está sendo desenvolvido pelo Estado do RJ, res-saltando a importância de superar a fragmentaçãona ação dos diversos órgãos públicos, criando oschamados territórios inteligentes. É importante a dis-cussão sobre novas formas organizacionais.

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Experiênciasdiscutidas

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Implementado em 1995 como um dos principaissuportes da política educacional, o Programa BolsaFamiliar para a Educação – Bolsa-Escola consiste nopagamento de um salário mínimo a famílias com ren-da per capita mensal de até 1/2 salário mínimo, des-de que mantenham, matriculados na rede pública deensino, todos os filhos em idade escolar (7 a 14 anos).O Programa articula-se a uma série de iniciativas paraa melhoria da qualidade do ensino e a reversão docenário de exclusão escolar dos mais pobres.

O pagamento da bolsa deve ser requerido pela mãe,que precisa comprovar a matrícula escolar de todosos filhos de 7 a 14 anos, bem como atender aos de-mais requisitos de renda familiar e tempo de residên-cia no Distrito Federal (cinco anos, no mínimo).

Entre as famílias priorizadas, estão as que pos-suem crianças ou adolescentes cumprindo medidasde proteção especial (art. 101 do Estatuto da Crian-ça e do Adolescente), ou medidas socioeducativas(art. 124 do Estatuto), famílias com dependentesidosos ou portadores de deficiência, crianças des-nutridas, maior número de dependentes etc. A bol-sa é paga mensalmente, podendo ser renovada aotérmino de cada ano. A freqüência mínima dos fi-lhos à escola deve ser de 90%. Em caso de aprova-ção, ao final de cada ano a família tem depositadoum salário mínimo em conta-poupança, podendoretirar 50% do valor depositado ao término de cadaciclo (4ª e 8ª séries e 2º grau).

Gerido, no mandato do então governador Cris-tovam Buarque, pela Secretaria de Educação do Dis-trito Federal, por intermédio de uma secretaria exe-

cutiva que envolvia diversos outros órgãos públicos,e contando com comissões locais (compostas porrepresentantes do poder público e da sociedade ci-vil), o Programa vinha buscando a construção de umaação intersetorial articulada, bem como a consolida-ção de mecanismos de controle social no uso dosrecursos e na distribuição dos benefícios.

Como resultados, além da significativa cober-tura (25.340 famílias e 50.595 crianças bene-ficiadas, segundo dados de outubro de 1998),correspondendo a 71% de sua demanda potencial,observou-se a diminuição da evasão escolar entreos beneficiários (apenas 0,4%, contra 5,6% entreos não bolsistas), resultando em queda da ordemde 40% neste índice, no Distrito Federal como umtodo, entre 1994 e 1996.

Além disso, a Bolsa-Escola propicia considerávelincremento da renda das famílias beneficiárias. Ou-tros efeitos são a inserção dos pais na vida escolar– aumentando sua participação, inclusive, nos pro-cessos eleitorais de escolha da direção – e o impul-so à economia das regiões pobres.

O Programa apresenta custos bastante reduzi-dos. A estimativa era de gastos da ordem de R$ 32milhões para o ano de 1998, correspondendo a ape-nas 1% do orçamento distrital para aquele ano. Alémdisso, o Programa permite uma economia expressi-va nos gastos do sistema escolar, com a queda dastaxas de repetência. No médio e longo prazos, ascrianças terão melhores oportunidades para umainserção mais digna no mercado de trabalho e navida social como um todo.

Bolsa-Escola: Programa BolsaFamiliar para Educação

Expositor: Antônio Ibañez Ruiz

DISTRITO FEDERAL

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A Região do Grande ABC está localizada na áreamais industrializada do país, a Região Metropolita-na de São Paulo, que engloba sete municípios - San-to André, São Bernardo do Campo, São Caetano doSul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande daSerra, totalizando 2,5 milhões de habitantes. Ape-sar da renda per capita elevada para os padrões dopaís, a região apresenta bolsões de pobreza e o cres-cimento das taxas de desemprego vem agravandorapidamente o quadro social.

A Câmara do Grande ABC é um fórum inter-governamental de planejamento, formulação e im-plementação de políticas públicas, reunindo repre-sentantes do Estado – governo estadual, prefeitu-ras dos sete municípios, deputados estaduais e fe-derais da região, e vereadores –, e da sociedadecivil – sindicatos patronais e de trabalhadores e or-ganizações comunitárias. Foi criada em 1997, paraviabilizar o desenvolvimento de uma região em fran-ca decadência econômica, marcada pelo êxodo deindústrias, pela obsolescência de seu parque indus-trial e pelo crescimento do desemprego.

O potencial dessa experiência para a redução dapobreza reside no aprofundamento do diálogo entreos atores locais. A iniciativa funciona como uma gran-de mesa de negociações, à qual se sentam os ato-res locais com poder decisório e a sociedade civilorganizada. Com base na construção de consensos,o processo permite desencadear diversas ações apartir de uma co-responsabilização dos envolvidos,

uma vez que as decisões emergem da interaçãopolítica entre os mesmos.

A Câmara possui uma estrutura bastante sim-ples, que comporta um Conselho Deliberativo, umaCoordenadoria Executiva e Grupos Temáticos.

Os grupos temáticos – totalizavam 21 em mar-ço de 1999 – discutem e formulam propostas deações conjuntas para os mais diversos desafiossocioeconômicos que são inseridos na agenda. Es-ses grupos estão organizados em quatro grandeseixos temáticos: desenvolvimento econômico eemprego, desenvolvimento urbano e meio ambien-te, desenvolvimento social, e questões administra-tivas e tributárias.

Entre os resultados alcançados por esse proces-so, podem ser citados: 1) criação da Agência de De-senvolvimento Econômico; 2) formulação de um Planode Macrodrenagem, que permite a implementação deações de defesa contra as enchentes; 3) Plano deMelhoria do Sistema Viário; 4) revisão da Lei nº 9472/96, relativa à proteção de mananciais, restringindofortemente as ações de urbanização e de regulariza-ção do uso e ocupação do solo na região, que tem56% de seu território localizado nessas áreas de pro-teção; 5) criação do Movimento Criança Prioridade1, que vem articulando políticas sociais e ações dasociedade civil para a proteção de crianças e adoles-centes em situação de risco pessoal e social; e 6)Movimento de Alfabetização Regional, que já implan-tou 270 salas de aula.

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Câmara do Grande ABC

Expositora: Nádia Somekh

SANTO ANDRÉ, SP

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O Programa Nacional de Fortalecimento da Agri-cultura Familiar (PRONAF), objetiva estimular o de-senvolvimento rural. Atende agricultores com nomínimo 80% da renda familiar oriunda do trabalhoagrícola e que utilizem mão-de-obra da própria fa-mília, em pequenas propriedades.

Instituído em 1996, o PRONAF tem como eixonorteador os Planos Municipais de DesenvolvimentoRural, formulados pelos Conselhos Municipais de De-senvolvimento Rural, a partir dos quais são articu-ladas as seguintes frentes de ação: acesso ao cré-dito para pequenos agricultores, capacitação pro-fissional e financiamento de serviços e obras deinfra-estrutura.

O Programa envolve o Ministério da Agricul-tura e Abastecimento e a Caixa Econômica Fede-ral. As fontes de recursos são o Fundo de Am-paro ao Trabalhador (FAT), o orçamento da União,os fundos constitucionais e a contrapartida dosEstados e Municípios.

Situados no Estado de Pernambuco, os municípiosde Bezerros (com 52 mil habitantes, localizado noAgreste), Sertânia (30 mil habitantes, no Sertão) e SãoLourenço da Mata (90 mil habitantes, na Região Me-tropolitana de Recife) são algumas das localidades ondese desenvolve o Programa. Encarregado de avaliar oPRONAF, o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas(NEPP), vinculado à Unicamp, concluiu que elas exem-plificam três situações diferentes de implantação:

agreste, sertão e região metropolitana.Em Bezerros, entre as obras realizadas de 1997

a 1999, destacam-se a ampliação e construção debarragens e açudes, a implantação de adutora e apavimentação de estradas vicinais, totalizando maisde R$ 500 mil em investimentos (incluindo a contra-partida da prefeitura). Previam-se, para o ano 2000,outros R$ 150 mil.

Em Sertânia, as obras destinaram-se prin-cipalmente à construção e ampliação de poços, re-cuperação de estradas e instalação de caixas d’águacom dessalinizadores. Os investimentos somaramcerca de R$ 527 mil entre 1997 e 1999, incluindo-se, neste total, mais de R$ 47 mil de contrapartidada prefeitura. No ano 2000, seriam investidos maisR$ 165 mil.

Em São Lourenço da Mata, investiu-se tambémna construção de sistemas de abastecimento de águae sedes das associações de pequenos produtores.No ano 2000, com recursos da ordem de R$ 180 mil(R$ 30 mil de contrapartida da prefeitura), São Lou-renço da Mata realiza cursos profissionalizantes, re-forma lavanderias comunitárias e constrói uma casade farinha, entre outros investimentos.

Alguns dos problemas debatidos no âmbito do Pro-grama referem-se às dificuldades burocráticas natransferência de recursos, à pequena participaçãoda população nos Conselhos, ao despreparo dos agen-tes financeiros em relação a programas sociais.

Programa Nacional de Fortalecimentoda Agricultura Familiar - PRONAF

Expositor: Osmil Galindo

PERNAMBUCO

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Jan Bitoun ] Cabe ressaltar que a universa-lidade da saúde e da educação significa justamenteatender a população pobre, excluída desses siste-mas, atingir os que ainda não o foram por essaspolíticas sociais. No campo da saúde e da educa-ção, há inovações muito importantes, na medida emque se trata de políticas universais.

Duas inquietações: a) até que ponto estas po-líticas estão sendo incorporadas pelos urbanis-tas, como técnicos que definem os rumos das ci-dades? Até que ponto os urbanistas que prepa-ram a distribuição do dinheiro em obras estão tro-cando idéias com sanitaristas e educadores paraver as necessidades? b) outra preocupação é comas ações integradas, se trabalhadas efetivamen-te, ações integradas gastam menos dinheiro. Mas,na prática, são muito difíceis de serem realizadas.As ações integradas não são só uma questão dacapacitação dos gestores, mas há enfrentamentopolítico mesmo, na medida em que a forma de gas-tar o dinheiro muda, fazendo-se economia que tirarecursos das secretarias individualmente. Por quetanta resistência ou dificuldade de integrar ações,articular órgãos públicos, criar transetorialidadenas ações?

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Marcos Formiga ] É importante a educaçãopara o enfrentamento da pobreza. Ibañez traz umaresposta a uma preocupação minha, a falta de dis-cussão sobre a educação. No Brasil, o século termi-na com dados vergonhosos sobre a educação. Con-cordo plenamente com a idéia de que o desenvolvi-mento humano está diretamente atrelado à capaci-dade de saber decidir.

Nádia Somekh ] Tenho dúvidas em relaçãoà distinção entre práticas, que são instrumentos depolíticas mais gerais e práticas que não se fazemcomo políticas globais. Tenho muitas dúvidas emtermos da discussão quanto à importância do papeldo Estado no apoio a estas ações.

Ladislau Dowbor ] É impressionante onúmero de iniciativas inovadoras isoladas. O pro-cesso de reprodução social, conforme analisei re-centemente, é um processo que tem como perspec-tiva estancar a separação existente entre os cam-pos do econômico e do social. A reprodução socialdeve estar na mira do econômico. Daí a impressãode que, se trabalhássemos em rede, haveria umenorme ganho. Existe muita inovação acontecendo,

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está faltando comunicação, articulação em rede, di-álogo, comunicação, informação.

O social não é um setor, mas sim um enfoque.Desenvolvimento industrial, por exemplo, pode sersocial, dependendo do enfoque. A transparência deinformação e a construção desta informação podemser instrumentos de alavancagem poderosos. Há umenorme potencial transformador no simples acessoàs informações.

Antônio Ibañez Ruiz ] Voltar a ter empre-go como nas décadas de 60 e 70 é praticamenteimpossível. Concordo com a crítica de Jan Bitoun,de que a importância de reformas urbanas “à laBarcelona”, como é moda atualmente na AméricaLatina, é absurdo. Hoje, o campo é o lugar onde podesurgir o maior número de empregos. Então, achoque não podemos esquecer o campo, que tem maiscapacidade de gerar empregos que a cidade.

A educação está na agenda política. Ainda as-sim, o salário-educação, que é o fundo de com-pensação do governo federal para a área, vem sen-do continuamente dilapidado pelo governo federal.Mas, de qualquer forma, na agenda política, a ques-tão da educação está colocada, mas na agenda so-cial só está colocada pelas pessoas que estão en-volvidas em educação. Em Brasília, o governo doCristovam teve por lema “governar, educando”.Agora, todos são favoráveis à educação. Quem écontra? Todos querem mais educação, mas o con-senso pára por aí. Quando se pergunta “educaçãopara quê?”, surgem dois modelos: a) educação parao mercado de trabalho, e b) educação como umaquestão de cidadania.

Assim, a educação ultrapassou, para nós, o sig-nificado primário normalmente atribuído a ela, en-trando para áreas como trânsito, emprego etc., ouseja, entrou para outros setores. Tem que levarquestões como a educação ambiental para dentroda sala de aula etc., por aí afora. Educação é umaquestão ética, uma questão de cidadania, bem maisampla que meramente a qualificação de mão-de-obra para o mercado de trabalho.

Pedro Jacobi ] Que condições foram criadaspara que se gerasse co-responsabilização pela fre-qüência da criança à escola? E a continuidade oudescontinuidade da bolsa-escola com a atual mu-dança de governo?

Antônio Ibañez Ruiz ] O gasto com o pro-grama no ano passado foi da ordem de R$ 32 mi-lhões, beneficiando 25 mil famílias e mais do que 50mil crianças. Mas gerou várias economias como sub-produtos, como a queda da evasão, da repetência,diminuição do trabalho infantil etc. Mas não é issoque importa ressaltar. Isso é menos importante. Oque importa é a perspectiva de inclusão e acesso aum direito universal. Quanto à continuidade, não seicomo está, só sei que até o momento não foi parali-sado, as famílias continuam recebendo mensalmenteos benefícios no banco. Não sei quanto à continui-dade dos outros aspectos.

Sônia Café ] Como foi que conseguiram obterrecursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT)?Qual a característica institucional da agência dedesenvolvimento, é pública ou de caráter social?

Jan Bitoun ] Dos acordos celebrados, quaissão os que saíram do Grupo de Trabalho de desen-volvimento urbano e do Grupo de Trabalho de desen-volvimento social? Estes acordos foram assinadosentre entes do poder público, ou entrou também osetor privado?

Marta Farah ] Como se passa dos grandesconsensos de linha de ação para os acordos opera-cionais? Qual o envolvimento dos atores com aimplementação efetiva das propostas? Qual o pesoda liderança assumida por um ou alguns prefeitos?O acordo já define medidas concretas?

Nádia Somekh ] Os recursos do FATforam obtidos por intermédio do governo do Es-tado. A sustentabilidade da agência envolve umorçamento bastante restrito, que é financiado no

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percentual de 49% pelo consórcio (são R$ 30 milpor mês). Ainda é preciso descobrir quais as em-presas devem ser estimuladas, assim como cap-tar recursos para isso. Estão em negociação comouma agência de fomento de Milão, além de teremobtido recursos do BID para contratação de con-sultores, para formulação do planejamento estra-tégico regional. Em relação aos acordos celebra-dos, o MOVA, o Criança Prioridade Um são doGrupo de Trabalho de desenvolvimento social e oplano turístico vem do Grupo de Trabalho de de-senvolvimento econômico e ambiental.

Em 1997, cada acordo partiu de um grupo deprioridades, passando pela formulação de um pro-jeto, incluindo a contrapartida de cada um dos agen-tes. Cada um dos parceiros entra com o que pode.Os acordos de 1998 foram assinados a toque decaixa e não houve tempo para formulação de proje-tos. Em 1998, havia o mote da consolidação dos acor-dos. Agora precisa passar por um monitoramento eser construído.

O peso de liderança dos prefeitos varia em fun-ção da visão mais ou menos esclarecida de cadaum. Tem prefeitos que têm uma visão mais regio-nal, e estes precisam passar para os demais a no-ção de que sem a cooperação regional é difícil omunicípio trabalhar e obter sucesso sozinho.

Maria do Carmo Brant ] Na região deChapecó, os agricultores estão muito mais organi-zados para reivindicar os recursos do PRONAF. Nãopode o Estado dar mais apoio ao programa?

Nilson Costa ] O PRONAF tem dois tipos declientelas. Uma é o município, a outra é o indivíduo,que vai no Banco do Brasil e pede o financiamentodo PRONAF. O programa tem uma implantação noSul muito mais efetiva. Valeria a pena discutir CaixaEconômica Federal e Banco do Brasil como gesto-res de programas sociais.

Maria do Carmo Brant ] Aqueles agricul-tores que mais precisam não têm acesso.

Caio Silveira ] A necessidade de conselhomunicipal de agricultura é só para financiamento dopróprio município, não do agricultor individual.

Tânia Zapata ] Pelo menos em relação aoNordeste, não considero o PRONAF um programa ino-vador. Há muitos problemas de implementação, semqualquer impacto significativo sobre a viabilização daagricultura familiar. Em Tejuçuoca (interior do Cea-rá), o plano do PRONAF não teve qualquer participa-ção dos agricultores locais, tendo sido elaborado pe-los técnicos da EMATER. É muito bonito em termosde concepção, mas a viabilização, como em muitosprojetos do governo, não funciona. Falta o caráter deeficiência, de eficácia, de gestão.

Ladislau Dowbor ] Não adianta falar emempregabilidade se não há empregos. Em relaçãoà experiência do ABC, lembro-me de ter participa-do de uma reunião de empresários do setor produ-tivo do plástico, quando houve uma busca do níveloperacional. O realismo é pegar um setor econô-mico concreto e verificar o que falta para viabilizá-lo. O curioso é que é um processo que integra di-versos setores de política em função de um setoreconômico concreto.

Betânia Ávila ] A questão de gênero: é diferen-te a participação das mulheres e dos homens. A partici-pação política de homens é aceita como normal. Mas,para as mulheres, é uma luta política, muitas formasde intervenção ainda funcionam em moldes passa-dos, com a idéia do trabalho da mulher sendo semvalor (trabalho doméstico). Sob a ótica de gênero,gênero é um enfoque, um modo de análise.

A primeira observação é a da importância da di-mensão organizacional e da educação. Qualquer pro-grama acaba selecionando seu beneficiário de acor-do com a capacidade de organização de cada gru-po. As mulheres mais organizadas têm mais acessoaos programas de saúde, não só porque cuidammelhor de sua saúde como porque chegam ao ser-viço com um nível de exigência mais elevado. Em

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alguns programas específicos, sua organização tentatrabalhar a educação da comunidade, associada àpressão sobre os serviços de saúde, assim como àmídia. Na comunicação de massa, sua organizaçãotem conseguido parceiros inéditos.

Nas capacitações e nas mobilizações é precisoque a questão de gênero seja colocada explicita-mente, porque a participação de homens e mulhe-res é diferente. Para os homens, a participação políti-ca é dada, para as mulheres, ao contrário, é umprojeto político em si mesmo. As políticas públicas,a ação governamental e muitas formas de interven-ção social estão organizadas como se o homem tives-se comprometimento de 44 horas semanais de tra-balho e a mulher plena disponibilidade de tempo,como se não tivessem qualquer trabalho. A partici-pação de homens e mulheres não se dá naturalmentee da mesma maneira. Para as mulheres, a capacita-ção começa pelo enpowerment.

Além de todas as questões já colocadas, aconstrução da cidadania exige a construção denovos campos de direitos. É preciso reestruturaro conceito de cidadania, o que possibilita a colo-cação de novas formas de intervenção. Os direi-tos reprodutivos e os direitos sexuais têm a vercom a redefinição do perfil do cidadão e da cida-dã. Na reestruturação do conceito da cidadania,há mudança de mentalidade, mudança de cultu-ra. A relação entre produção e reprodução é im-portante. Nos mecanismos de participação sociale de controle são as mulheres que trazem as ques-tões da vida cotidiana de maneira mais forte. Istoporque são as responsáveis pela tarefa da repro-dução. Em estudo realizado em Recife, verificou-se que as mulheres participam da divisão de ta-refas mas, na hora do orçamento participativo,só os homens intervêm.

Ricardo Beltrão ] Não dá para melhorara situação social despolitizando a discussão paratorná-la estritamente técnica. Em relação ao PRO-NAF, considero que o problema é de desenho enão de implementação.

Antônio Ibañez Ruiz ] Os programas sãobem distintos. Hoje, há diversos municípios e os no-vos governos estaduais interessados em implemen-tar a bolsa-escola. Há a Missão Criança, uma ONGcriada por Cristovam Buarque a fim de assegurar acontinuidade do Programa. Enfatizo, novamente, aimportância da inclusão da educação na agenda pú-blica. O programa de bolsa-escola por si só demons-tra um sucesso pelos resultados, mas é muito maiseficaz se inserido num contexto mais amplo de em-prego e renda. Exemplo disso é uma redução do tra-balho infantil nas ruas do Distrito Federal.

Nádia Somekh ] A Câmara do Grande ABC,após dois anos, está permitindo a construção de umnovo modelo de gestão participativa. Já existem al-guns resultados concretos: melhorias na infra-estru-tura (os piscinões já estão quase prontos); no siste-ma viário; reformulações legislativas; a criação deum fundo de aval, e principalmente a construção derelações de confiança entre as prefeituras e a socie-dade civil, com a ajuda do Diário do Grande ABC. Arelação de confiança que se criou com os empresári-os, em especial com o setor petroquímico, resultouno grupo do plástico, na idéia de se criar um centrode excelência em plástico, um centro de comprasde matéria-prima e um projeto de pólo de moldes.Foi construída uma nova relação com o governo doEstado. Ou seja, em dois anos de trabalho estamosconstruindo uma forma de gestão a partir dos insu-cessos dos modelos de gestão anteriores. Em rela-ção ao impacto da geração de emprego e renda, épreciso um monitoramento de resultados. Ainda nãoestamos neste estágio, mas já temos alguns resul-tados concretos.

Marta Farah ] Uma preocupação: comopodem as iniciativas sobreviver e mesmo avançarem ambientes macroeconômicos tão adversos comoeste que estamos vivendo agora? Outra questão im-portante diz respeito à tensão entre o micro e o ma-cro. Falo das práticas em si mesmas, para indagarcomo elas podem sobreviver, superar o projeto-pi-

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loto, avançar, ao invés de morrer em si mesmas.Parece ser importante o enraizamento local, peloenvolvimento dos atores locais. Sente-se um gran-de compromisso de todos com as experiências, po-rém a questão é de fazer transcender a paixão ini-cial para os atores que sucederão aos primeiros. Éimportante a inserção dessas iniciativas pontuaisem políticas mais abrangentes, bem como a cons-trução de redes que divulguem essas experiências.Finalmente, é importante a apropriação de múlti-plos atores, tanto na sociedade civil como no pró-prio Estado. Qual é o elemento transformador deum programa numa escala maior? Aparecem outrasalternativas, como a construção de redes que divul-gam, uma difusão, uma troca horizontal e não, nes-te caso, uma inserção política. Sem perder a pai-xão, é preciso garantir institucionalidade, criar en-raizamento. Assim, é preciso tomar cuidado paraque os programas muito macros não se percam emum distanciamento entre as macro-estruturas e osusuários. Como não perder os programas muito ma-cros no nível do usuário final? Como sair das gran-des abstrações enclausuradas atrás de portasimpermeáveis? Se, por um lado, é preciso sair deum clientelismo, há o perigo de se fechar em deci-sões técnicas que também não resolvem nada. Comrelação ao problema da politização: se por um ladoé preciso fugir do clientelismo, por outro há o riscode se cair na negação da política e no insulamentotécnico e burocrático.

Maria do Carmo Meirelles ] Nas políticassociais, houve muitos avanços em termos de parti-cipação (conselhos, por exemplo). É preciso, contu-do, aprofundar as discussões em torno desses con-selhos municipais, que são criados apenas como con-dição básica para o repasse de recursos. Outra pre-ocupação é a capacitação dos conselheiros, lembran-do da experiência do Fórum dos Conselheiros de Saú-de. E, por fim, é interessante notar que no discursode Nádia Somekh, todos os rearranjos intermunici-pais que estão surgindo em nível regional são muitorecentes. Acho que temos que aprofundar mais a

compreensão de como estão acontecendo estas po-líticas e o relacionamento entre os municípios.

Cunca Bocayuva ] Olhando o cenário etodas as reflexões, o mais comum entre todos foi ogigantesco esforço subjetivo de criação, de autono-mia, de gestação tanto da parte de governantes etécnicos quanto de movimentos e atores. O quadroatual é de crise e reestruturação, o que exige umredirecionamento dos atores. Nenhum direito, ne-nhum combate à pobreza pode subsistir sem atoresque os sustentem. Observei que, nesta oficina, te-mos um grau de unidade que é a noção de combateà pobreza articulada à noção de luta contra asdesigualdades. A maior parte das políticas aquidiscutidas nos remetem à seguinte questão: é possí-vel uma coalisão entre os incluídos, semi-excluídos,excluídos e vulneráveis dentro de condições tão di-versas no Brasil tripartite, que não é mais só dedesenvolvimento desigual e combinado, sim, de umdesenvolvimento desarticulado? Será que podemoster um arranjo complexo de alianças solidárias comas massas deserdadas? Será que podemos traba-lhar a pluralidade e o pluralismo? Em suma, mesmoque não tenhamos um paradigma, podemos pensarem unificar a plataforma a partir de uma revoluçãodas prioridades.

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Nilson CostaUm pequeno balanço ou memória sucinta das

questões principais que emergiram ao longo dostrês encontros: 1) o primeiro ponto importante é odilema entre o macro e o micro. A estrutura denecessidades do país é imensa, de modo que ha-veria uma infinidade de políticas nacionais a se-rem adotadas; 2) outra questão é pensar o Estadodiante de políticas redistributivas, como as de ren-da mínima e de educação, como potentes meca-nismos de redução da pobreza; 3) outro ponto épensar novos paradigmas para a gestão social, comcapacidade de levantar pontos de interesse nacio-nal, como consórcio e Câmara do Grande ABC; 4)uma outra coisa interessante é pensar o social nãocomo setor, mas como enfoque; 5) ficou claro, poroutro lado, um projeto de economia solidária, ten-do as cooperativas como figuras centrais; 6) aquestão do ambiente favorável para as iniciativaslocais leva a outras indagações como as de aces-so ao crédito e ao mercado; 7) o enfoque das polí-ticas sociais de âmbito nacional, sua engenharia eas novas formas de participação que elas têm de-mandado, destacando a mediação dos conselhos

Identificação das idéias-forçaComentadores: Nilson Costa e Pedro Jacobi

estaduais e municipais e a adequação do usuáriofinal aos modelos regulatórios utilizados.

Pedro JacobiEstamos lidando com um número cada vez mai-

or de atores, com linguagens específicas que pre-cisam ser decodificadas. Questão da co-responsa-bilização: além dos poderes públicos, nós, comoinstituições da sociedade civil, precisamos buscaristo. Somos capacitadores e temos essa respon-sabilidade de trabalhar nossa linguagem para quenos tornemos intelegíveis aos nossos interlocu-tores. Outro aspecto a destacar é que precisamoslevar em conta a necessidade de construção cole-tiva de um novo contexto, com centralidade no so-cial. Também a problemática de gênero, devendoocupar um novo espaço. É importante dar relevân-cia a temas como a sustentabilidade.

O que é esta questão da engenharia institucional?Se esta engenharia institucional for bem feita, esti-mulando co-responsabilização, construindo coali-zões, estabelecendo compromissos entre atoresvários para ações concretas, poderemos mudar oquadro atual de pobreza e desigualdade.

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Em busca de um consensoPORTO DE GALINHAS • ABRIL, 1999

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Ana Britto (Observatório Rio – PROURB/UFRJ) • Ana Clara TorresRibeiro (FASE-Nacional/IPPUR/UFRJ) • Antônio Ibañez Ruiz (Bolsa-Escola/Brasília) • Brasilmar Ferreira Nunes (UNB) • Caio Silveira(NAPP/RJ) • Cristovam Buarque (Missão Criança/DF) • ElizabethLeeds (Fundação Ford) • Fábio Atanásio (UNICEF/PE) • FranklinCoelho (UFF/Secretaria Estadual de Planejamento do Rio de Janeiro/RJ) • Graciete Santos (Casa da Mulher do Nordeste/PE) • Grazia deGrazia (FASE-Nacional/RJ) • Gustavo Krause (Multi Consultoria/PE) •Ismael Ferreira de Oliveira (APAEB-Valente) • Jacqueline Rosas Silva(Programa Bolsões de Pobreza/MG) • Jan Bitoun (Observatório Recife- UFPE) • Joanildo Burity (FUNDAJ/UFPE) • Kátia Lubambo (FUNDAJ/UFPE) • Kleber Montezuma (Secretário Municipal de Habitação deTeresina/PI) • Ladislau Dowbor (PUC/SP) • Marcos Formiga (UNB/FINEP) • Maria do Carmo Brant (PUC/SP) • Maria do Carmo Meirelles(CEPAM – Fundação Prefeito Faria Lima/SP) • Maria Magdalena Alves(Ação da Cidadania/SP) • Marilena Jamur (PUC/RJ) • Marta FerreiraSantos Farah (FGV/SP) • Mirna Pimentel (UFPE) • Nádia Somekh(Prefeitura de Santo André/FAU-Mackenzie/SP) • Neide Silva (ETAPAS/PE) • Nilson Costa (UFF/FIOCRUZ/RJ) • Pedro Jacobi (USP) • RicardoBeltrão (FGVSP) • Ricardo Mello (CEDAC/RJ) • Robert Wilson (Univer-sidade do Texas) • Serafim Ferraz (Banco do Nordeste) • SílvioCaccia Bava (POLIS/SP) • Sônia Café (Secretaria Municipal deTrabalho/Prefeitura do Rio de Janeiro) • Sônia Dias (Introdução dosCatadores no Mercado de Reciclagem/Belo Horizonte) • TelúrioCavalcanti (SUDENE) • Valdi Dantas (Sistema CEAPE)

Participantes

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Em busca de um consenso

O desafio deste encontro é utilizar ao máximo acapacidade, a competência e os pontos de vista detodos os participantes e convidados especiais, nabusca de um quadro de referência para a temáticada pobreza e da exclusão social. Identificar os ele-mentos-chave para a construção de uma platafor-ma de ação em termos de estratégias locais para aredução da pobreza é, portanto, o nosso grandeobjetivo e desafio aqui.

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Abertura

Peter Spink

Após a realização de três seminários ocorridosno Rio de Janeiro (provisão de serviços urbanos),Recife (ações integradas de desenvolvimentosocioeconômico) e São Paulo (geração de empregoe renda) reunindo pessoas com linguagens e visõesde mundo diferentes, é hora de compartilhar as con-clusões parciais e avançarmos na reflexão sobrepossíveis caminhos de ação em face da pobreza, daexclusão e das desigualdades sociais.

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Pobreza, desigualdade einclusão social: questões levantadasdurante os diálogos regionais

Expositores: Maria do Carmo Brant,Marilena Jamur e Sílvio Caccia Bava

Maria do Carmo Brant

As experiências apresentadas e discutidas nes-ta oficina são municipais, são protagonizadas pelogoverno municipal e têm parcerias com organiza-ções da sociedade civil, organizações religiosas e,principalmente, associações de moradores. Nestasiniciativas, percebe-se a existência de uma grandeconexão com o público-alvo e, em especial, com asorganizações locais.

Outra questão a destacar é que há programas,como o de Porto Alegre (Unidade de Triagem), quetêm vários anos de existência, outros, ainda, emboramais recentes, revelam certa continuidade adminis-trativa, que pode ser atribuída às parcerias. Assim, osprogramas que não sofreram descontinuidade (PortoAlegre e Belo Horizonte, por exemplo) têm aliançasmaiores com as associações de moradores.

Um outro elemento geral a ser observado está re-lacionado às atenções que são oferecidas as popula-ções pobres. Tudo leva a crer que os desenhos dosprojeto são mais flexíveis para atender às caracterís-ticas da população-alvo. Neste sentido, eles substitu-em os modelo clássicos de políticas sociais. A maioriadas experiências já vêm com alguma prática ou refle-xões prévias, como o Programa de Saúde da Família(Niterói/RJ, Mutirão do Serrotão/PB) e os Mutirões

Habitacionais (por exemplo, o Programa de Ação In-tegrada nos Bolsões de Pobreza/Ipatinga-MG).

Ao lidar com a pobreza, deve-se trazer à lem-brança que ela é diversificada. Pobreza não é sim-plesmente ausência de renda. No âmbito urbano,por exemplo, a pobreza é marcada basicamentepor um precário acesso a bens e a serviços públi-cos e por um apartheid social visível, sobretudoquando se analisa Recife, São Paulo e Rio de Ja-neiro. Grupos vulneráveis como os catadores depapel da experiência das ASMARE (parceria en-tre a prefeitura de Belo Horizonte e a ASMARE -Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Ma-teriais Reaproveitáveis nas ações de coleta sele-tiva e reciclagem de lixo) e moradores de rua en-volvidos no projeto Unidades de Triagem da Pre-feitura de Porto Alegre, são exemplos que apre-sentam históricos cumulativos de déficits e deinstabilidade. Aliás, sobre esses grupos vulnerá-veis, poderíamos utilizar a expressão “desfilia-do” do autor R. Castell (alusão ao livro “Desi-gualdade e Questão Social” com tradução de Ma-riângela Wanderlei, da PUC/SP) para explicar queessa população está fora do sistema de proteçãosocial e de vínculos de inclusão mínimos, que são

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a sociabilidade sóciofamiliar e comunitária.Outra questão a ser levantada é a ausência de ca-

nais próprios de interlocução entre a população pobree os agentes governamentais e sociais. São sempreoutros agentes, que falam pelos pobres. São as orga-nizações governamentais e as ONGs (os policy makerse a classe média militante) que falam pelos destituí-dos de direito. Esta postura ratifica a exclusão, a de-sigualdade e a tutela. Se olharmos as experiênciasdiscutidas na oficina do Rio, perceberemos que nãoouvimos os saberes que nascem da população. Des-sa maneira, quando se fala em empowerment ou for-talecimento emancipatório ou, ainda, construção dacidadania da população pobre, devemos nos pergun-tar até que ponto estamos querendo dar voz e vez aesse público-alvo chamado pobreza? Isso porque, aose falar em construir cidadania, significa dizer cons-truir “inclusão”, garantindo aos pobres o poder.Entretanto, poder não se dá, poder se conquista. As-sim parece que o grande desafio que enfrentam osprogramas analisados é o de dar voz e vez aos cha-mados pobres brasileiros.

As experiências analisadas na oficina do Rio sãoem si espaços de vocalização e de interlocução. Po-rém, é importante nos perguntar se os agentes des-sas iniciativas estão criando condições estratégicaspara que os programas sejam apropriados comoespaços/canais de voz e de interlocução política pe-los chamados pobres e excluídos.

No mais, é interessante verificar que nos pro-gramas de limpeza urbana, o público é específico(catadores de papel, moradores de rua), mas nãose trabalhou a política de limpeza urbana como umagrande estratégia de redução da pobreza. Não seenfocou a potencialidade da limpeza urbana em si ecomo ela pode chegar às periferias das cidades.Ficou bastante claro que podemos ter três intencio-nalidades diferentes para o conjunto da população:a) construir políticas efetivas (por exemplo: PortoAlegre, com a limpeza urbana); b) programas foca-lizados em clientes específicos (por exemplo: BeloHorizonte, com os catadores de papel); c) progra-mas tutelares, que não constroem cidadania.

Marilena JamurNo que concerne à reconstituição da oficina de

Recife, essa não é uma tarefa muito fácil, em con-seqüência da diversidade e da multiplicidade de olha-res sobre as experiências apresentadas e, conse-qüentemente, da profusão de questões sucitadaspelos participantes. Um exemplo disso foi a síntesedas discussões do primeiro dia de seminários ela-borada do Franklin Coelho (UFF/Governo Estadualdo Rio de Janeiro) na qual haviam 12 questões, dei-xando muita gente preocupada. Mas, provocaçõesà parte, o conjunto das discussões e reflexões foiextremamente rico, desafiador e impregnado de po-lêmicas. Ou seja: um verdadeiro espaço de confron-tação entre o pensar e o agir.

Diante da dificuldade de fazer aqui uma recupe-ração completa do que foi discutido em Recife, voudestacar os pontos mais relevantes. Quero chamara atenção para a diversidade quanto a territoriali-dade das experiências apresentadas, como diferen-ças de geografia e de escala. Discutiu-se, então, oque é o “local”. Confunde-se com o municipal? Al-gumas iniciativas têm caráter regional, portanto temamplitude diferenciada.

Foi ressaltada a importância de se pensar sobrea categoria do lugar: pensar a questão territorial,porém ligada a questão da identidade local, já que éna dimensão do local que as práticas dos atoresefetivamente se realizam. O local, como assinalouIsmael de Oliveira da APAEB, é uma “arena dasdemandas e das reivindicações” – o local é o lugaronde as práticas dos atores se realizam, onde ga-nham visibilidade os processos de mudança, demelhoria da qualidade de vida das pessoas, que po-dem estimular novas práticas, que mudem a corre-lação de forças. O local, porém, deve ser pensadona sua relação com as dimensões territoriais maisamplas (o regional, o nacional, o global).

Falamos em diversidade também em relação aosagentes e atores promotores das experiências: ana-lisamos o seminário de Recife e iniciativas governa-mentais (de governos municipais e estaduais, de ór-gãos do governo federal) de ONGs nacionais e in-

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ternacionais, parcerias entre esferas distintas, ini-ciativas de indivíduos ou grupos atuando no merca-do e até mesmo os chamados “atores híbridos” (ali-ás, essa alusão aos prováveis “atores híbridos”,foi objeto de grande polêmica.) Apesar de toda essadiversidade constatada e discutida em Recife, ob-servou-se um ponto de convergência, que é o cará-ter social das práticas.

Um outro ponto de discussão sempre presentefoi o papel que cabe aos diferentes atores, ressal-tando a indispensabilidade do papel do Estado emmatéria de políticas de redução da pobreza e dadesigualdade, assim como a importância do papelque podem desempenhar as ONGs – o chamado ter-ceiro setor – e também o próprio mercado. Comrelação a este último, foi enfatizada a necessidadeda sua democratização e da participação do empre-sariado, tendo em vista ações de redução das desi-gualdades e de redistribuição de renda.

Essa questão nos levou a outras considerações:1- relação entre as experiências, as práticas

no nível local e as políticas, isto é, a relação entreo micro e o macro – em que medida existe umacompatibilidade, complementaridade entre o microe o macro? O que se percebeu nos relatos das ex-periências apresentadas em Recife é que há umconjunto significativo de atores envolvidos, há re-sultados positivos (mesmo que haja dificuldadepara melhor qualificar esses resultados), mas es-sas experiências não encontram suporte nas polí-ticas existentes e, o que é pior, muitas vezes essaspolíticas representam sérios obstáculos, entravesao desenvolvimento das práticas. Nesse sentido, po-demos facilmente nos entusiasmar por essas práti-cas, mas certamente nos frustramos com as políti-cas em curso. Assim, ao falar em multiplicar e ge-neralizar experiências exitosas, nos remetemos àquestão de como fazer para que elas alcancem umaescala mais ampla;

2- intersetorialidade, que nos remete tanto àquestão da articulação entre as ações, integração ecoordenação, quanto à formação dos atores;

3- outro ponto recorrente nas discussões foramos resultados efetivos que as experiências têm tra-zido para a população-alvo dos projetos: os resulta-dos visados se restringem à geração ou ao aumen-to de renda para os envolvidos, ou significam tam-bém mudanças culturais, sociais e, principalmente,políticas? Um a preocupação constante foi a quali-dade da relação entre os agentes promotores dasexperiências e a população participante. Afinal, es-sas experiências têm contribuído para superar arelação de tutela e dependência, têm contribuído dealguma forma para transformar as pessoas envol-vidas em atores efetivos, por meio de uma partici-pação que avance na direção da emancipação deuma cidadania ativa?

4- como avaliar os resultados obtidos? Na dis-cussão de algumas experiências, essa dificuldade foiexplicitamente colocada, como, por exemplo, no re-lato de Ismael da APAEB, que nos explicou a dificul-dade de medir em números os resultados dos pro-gramas desenvolvidos (segundo Ismael, “é visível,mas é difícil de medir”), revelando inclusive a difi-culdade de obter ajuda da universidade. A universi-dade, aliás, foi alvo de críticas em razão do seudescompromisso social e da formação que oferece.Em torno dessa dificuldade de avaliar o impacto dosprogramas, várias questões emergiram: de que re-sultados se fala, quando se fala em capacitação? Aose apresentar os resultados em termos econômicos,como desvendar a articulação desses resultados comos aspectos cultural, social e político? Como avaliara potencialidade e a perspectiva de continuidade dosprojetos? Em que medida as experiências têm sidosignificativas no que diz respeito às necessidades dapopulação? As experiências têm contribuído para queas pessoas sejam verdadeiros atores, protagonistasdos processos de desenvolvimento? Em que medidaelas geram inclusão social?

5- um último ponto a destacar e que gerou bas-tante controvérsia no seminário de Recife está re-lacionado à questão da seleção do público-alvo. Emque medida a “discriminação positiva” é válida e

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deve ser estimulada em face da desigualdade quegera pobreza e se expande do econômico para asoutras esferas?

Sílvio Caccia BavaQuanto à memória da oficina realizada em São

Paulo, é necessário relembrar inicialmente a falade abertura de Peter Spink sobre a importância dapluralidade de posições entre os participantes, aolongo dessas oficinas. O objetivo da oficina de SãoPaulo era aprofundar o conjunto das ações públicasou comunitárias, ao invés de estudar a pobreza deforma isolada. O social não é algo à parte, mas ape-nas um enfoque com o qual devemos tratar a eco-nomia, a exclusão etc.

O primeiro bloco de idéias diz respeito ao diag-nóstico da pobreza (afinal, de que pobreza estamosfalando?). Há diferenças entre os setores empobre-cidos. Parece haver uma conclusão deste semináriode que a pobreza urbana traria um processo de ex-clusão social maior do que aquela que ocorre noâmbito rural. Outra questão no diagnóstico da pobre-za é o de que as experiências trazidas para o semi-nário de São Paulo não tratavam dos mais pobres,mas dos pobres com algum tipo de formação profis-sional, de experiência etc. Os estudos mais recentestêm revelado que os mais pobres dentre os pobresnão têm condições de sair de sua condição. Pobrezae exclusão não são voluntárias, mas resultado depolíticas públicas. Portanto, a reinclusão envolve ne-cessariamente políticas públicas.

O segundo bloco envolve os índices de pobre-za. Muitos projetos parecem estar apenas geren-ciando a situação de desigualdade. O caráter re-distributivo remete-nos à política, no sentido danecessidade de se refazer um pacto regulatório emtorno da eqüidade social. Emprego não resolveexclusão e pobreza. A questão central é a geraçãode renda. Os processos de capacitação precisamde um patamar mínimo do público –alvo, para quesurtam efeitos. Parcelas da população que não têmgrau de escolaridade e capacitação profissional não

têm condições de aproveitar os processos de ca-pacitação, tal qual oferecidos hoje.

Há todo um raciocínio que está assentado na idéiado desenvolvimento de microempresas, cooperativasetc. Estas iniciativas podem expandir a oferta, mas aconcentração de renda restringe a capacidade de con-sumo. É preciso fazer com que a demanda seja elásti-ca, o que remete às macropolíticas, que devem cuidarda redistribuição de renda. As experiências que têmsido estudadas não repercutem sobre os dados esta-tísticos da pobreza. Daí é fundamental perguntar quala importância dessas iniciativas ditas inovadoras. Ocombate à pobreza é uma missão compartilhada en-tre a sociedade civil e o Estado. A questão virtuosa é ade saber como coordenar estes atores. O combate àpobreza não se reduz à questão material, mas tam-bém à recuperação da auto-estima, da capacidade parao trabalho, ao fortalecimento dos laços sociais. O com-bate à pobreza envolve as condições para o fim daexclusão social. O desafio é o de saber como sair dasexperiências que envolvem um número limitado departicipantes e ampliar o seu impacto para que pos-sam influenciar as estatísticas.

Este desafio remete diretamente à relação como poder público, com o Estado. Os instrumentos têmque ser públicos, com utilização de financiamentospúblicos. É muito usual a valorização de experiên-cias inovadoras, as chamadas best practices. Po-rém, a questão é saber como toda essa riquezavinda da sociedade poderá sensibilizar as instân-cias decisórias, que fazem passar de micropolíti-cas para macropolíticas.

As ações de combate à pobreza exigem: visãosocial, visão intersetorial, visão sobre o regional, oestadual e o nacional a partir do local. Combater àpobreza significa ainda universalizar direitos. Porfim, a gestão democrática e participativa da socie-dade é fundamental para reorientar a aplicação dosrecursos públicos e para valorizar as parcerias.

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Escolhendo os eixos de análise a seremdiscutidos nos grupos de trabalho

Comentadores: Ana Clara Ribeiro e Gustavo Krause

Ana Clara RibeiroA princípio, o trabalho desenvolvido pela Funda-

ção Getúlio Vargas, de São Paulo, por meio de semi-nários voltados para a discussão sobre os caminhosdo combate à pobreza, representa um grande desa-fio. Entretanto, ainda não consigo perceber a possi-bilidade de construir teoria a partir das práticas de-batidas nessas oficinas. Em relação à discussão queestá emergindo sobre a temática específica da po-breza, observei que há uma questão que me preocu-pa e que diz respeito à pobreza e à sua conexão comoutras idéias (desigualdade, exclusão).

A questão é mais sensível quando se pensa a cons-trução histórica das identidades sociais. Algumas leitu-ras referentes à pobreza são de mais difícil apropriaçãopelos atores sociais. Do ponto de vista identitário, háuma diferença entre ator e sujeito. É fundamental en-tender a prática sem esquecer o âmbito dos sujeitos,indispensáveis para a construção da cidadania. Creioque existe um certo ocultamento da política propriamen-te dita, ou seja, a percepção de que algumas experiên-cias só dão certo porque o contexto político permite.Cidadania sem política não existe. O registro político éessencial para a qualificação das experiências.

Chama muito a atenção a fragilidade da categorialocal, pois entre o local e o supralocal há hierarquia. Háque se considerar o contexto das práticas em sua tota-lidade, para que se dê sentido à especialidade. Vemosas oportunidades criadas pelas experiências relaciona-das exclusivamente com alguns fins (emprego e renda).No entanto, a temáticas das oportunidades é bastanteampla e diz respeito à possibilidade de configuração deforças sociais, de romper o isolamento social, de rom-per mecanismos de exclusão e de criar novos contatos

com o mundo. Há a multiplicação de oportunidade pelocaráter democrático das experiências. A reflexão sobrea duração das experiências é importante, sob o pontode vista da configuração identitária (se é possível confi-gurar novas identidades sociais, novos atores e novasrepresentações sociais).

Nossa leitura da pobreza é reprodutora de umolhar hegemônico, de um olhar externalizado. É umolhar que não coincide com o da população que estáenvolvida em uma determinada experiência concre-ta. Entendendo o cotidiano como sendo a vida daprópria sociedade, nós perceberemos que o nossoolhar não coincide, muitas vezes, com o da popula-ção-alvo, com o seu cotidiano.

Neste sentido, ao deslocarmos nosso olhar, nóspodemos formatar as experiências de modo diferenteda realidade e da necessidade do público-alvo. É pre-ciso compreender a riqueza das experiências, tendoem vista que elas estão sendo apropriadas por atoresnão hegemônicos e essa apropriação corresponde efe-tivamente a um desdobramento de táticas. Quem nãotem o poder, desenvolve táticas. Táticas a apropriarãode recursos, táticas de apropriação de oportunidades.Dependendo de como a política é desenhada, ela im-pede as táticas e, portanto, impede a possibilidade deformação de sujeitos. Dessa maneira, é importante cha-mar a atenção para essas diferenças entre o local e olugar, o lugar e o contexto (aqui, Jan Bitoun já haviadespertado essa preocupação) e também a questãode estratégias, de táticas, das ocasiões. Ou seja, a po-pulação não fica parada, ela efetivamente manipulaocasiões, manipula condições e essas condições pre-cisam ser socializadas.

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Outra questão a ser levantada diz respeito à gene-ralização. A idéia de generalização versus a idéia demultiplicação. Até que ponto podemos multiplicar amesma experiência e generalizar os direitos? A proble-mática da generalização esteve no centro da discussãodas oficinas realizadas no Rio de Janeiro e em Recife.

Assim, podemos vislumbrar, ao longo dessas ofi-cinas, a existência de várias entradas simultâneaspara a generalização. Uma primeira entrada para ageneralização seria por meio da teoria, mas isso nãoé factível nas condições de execução da reflexão des-tes seminários. A segunda generalização seria pelaformatação técnica (o que é a natureza técnica dasexperiências, capturá-la e ver qual a sua condição degeneralização). A terceira possibilidade para enten-der a generalização é por meio da cultura política.Isto é, é importante ver quais são os elementos efe-tivos dessas experiências que positivam novos valo-res e que podem ser generalizados. O importante aquié apreender de que modo a extensão de uma certacultura política pode favorecer a generalização dasexperiências desejadas e democráticas. Enfim, umaoutra possibilidade é por meio de leis e de políticas.No caso da limpeza urbana, por exemplo, é impor-tante perguntar por que não construir uma verdadei-ra política que consiga reproduzir (no seu sentidoamplo) algumas experiências, que de fato tenhamindicadores de integração e de democratização dosrecursos. As experiências, quando podem ser trans-formadas em lei (como o PREZEIS no Recife), podemser um bom caminho de generalização.

As bases organizacionais e institucionais que sus-tentam as experiências são essenciais para sua ge-neralização como política em nível nacional. O apri-moramento da máquina de governo (como no PRO-VE, do DF) pode ter efeitos positivos na forma deagir em relação à sociedade. A escolha de questõesnucleares é fundamental em termos de possibilida-de de desdobramento das experiências.

A questão do poder é interessante de ser analisa-da, para que se saiba se a redução da desigualdadecorresponde à ampliação da cidadania, esta somen-te alcançável pela mudança nas relações de poder. A

consolidação do processo está subjacente em toda adiscussão. Ao invés de trabalhar com modelo de de-senvolvimento distante da sociedade e evolucionista,vale a pena pensar em descrição de envolvimento(quanto mais envolvidos, melhor!).

Gustavo KrauseÉ preciso perceber que estamos diante de uma

profunda crise de civilização com um enorme passi-vo social e um outro não menos importante passivoambiental. Faz-se necessário, portanto, mudar o rumodo projeto civilizatório! Estamos diante de uma criseético-social. As políticas públicas estão sendo apro-priadas por pessoas outras e, quanto aos pobres, elesvêm sendo totalmente expropriados por essas mes-mas políticas. Os ricos são todos iguais, os pobres,heterogêneos, daí a dificuldade da expressão políticado interesse destes últimos. Todas as vezes em quese toma uma decisão política é importante não esque-cer que os interesses difusos encontram maior dificul-dade de expressa. Há um dilema, porque os instru-mentos convencionais não respondem por ações he-terodoxas. É preciso maior flexibilidade aos instrumen-tos que vão dar visibilidade às políticas sociais.

No espaço local, a demanda é antropomórfica (temcara de gente). Nas outras esferas de poder, a de-manda chega de forma abstrata (a mortalidade in-fantil chega ao ministro da saúde como uma estatís-tica, no espaço local é o desespero do pai que preci-sa de dinheiro para enterrar o anjinho). É importantetermos um governo de proximidade (de parceria) emrazão de sua enorme capacidade de hierarquizar asnecessidades. Ou seja, no governo de proximidadehá uma verdadeira união dos saberes: o saber dodecisor e o saber que emana da sociedade civil. Ogoverno de proximidade, que promove e alavanca astransformações sociais, é o indutor dos movimentossociais, das organizações comunitárias.

Em suma, trata-se aqui de entender o poder lo-cal como um grande condutor para recriar o espaçopúblico. Espaço público, aliás, que em dias atuaisvem sendo substituído pelo espaço econômico, emdecorrência do fenômeno da globalização.

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Sônia Dias ] A respeito da colocação inicialfeita por Maria do Carmo Brant (PUC/SP), gosta-ria de esclarecer que o programa dos Catadoresde Papel não é uma política isolada, mas se inse-re no âmbito maior da política de limpeza públicaem Belo Horizonte. A concepção de gerenciamentode resíduos, que vem sendo implementada desde93, apóia-se no tripé: emprego de tecnologia maisadequada, capacitação dos agentes e participa-ção da comunidade.

Sônia Café ] O Rio de Janeiro, em termos decombate à pobreza, tem o exemplo do FAVELA-BAIR-RO, que é um programa de urbanização das fave-las, que envolve uma tentativa de desenvolvimentoeconômico local. Iniciativas semelhantes existemtambém em outros municípios.

Joanildo Burity ] Ressalto a ligação entrepolítica e cultura.

Sobre as alternativas que a sociedade civilpode apresentar em relação à pobreza, conside-ro, em primeiro lugar, que as redes de sociabili-

dade locais não se constituem necessariamenteno sentido de um abrandamento das diferenças edos conflitos entre os grupos. O que significa queo trabalho de negociação e de politização se dáem todos os níveis e não somente na esfera daconstrução e da formatação da política pública.Em seguindo lugar, ao falarmos em termos depolíticas, é preciso não esquecer que o espaço dapolítica desenha-se em face dos antagonismos. Adimensão do antagonismo é também uma dimen-são da sociabilidade no campo local e não apenasna esfera macro.

Franklin Coelho ] É fundamental aprendercom os erros, principalmente para saber o que acon-teceu depois das melhores práticas, dada a descon-tinuidade das experiências.

Pedro Jacobi ] Considero importante quetenhamos em mente a riqueza das experiênciasapresentadas e discutidas nas oficinas do Rio, deRecife e de São Paulo. Riqueza essa que tem comoresultado um conjunto de atores dentro de uma

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lógica pró-ativa, baseada em algumas premissas.Uma dessas premissas, que é fundamental, dizrespeito à sustentabilidade. Sustentabilidade, quearticula o social, o político e o econômico a partirde um a visão educativa de mudança de padrão ede consumo que é extremamente importante parase pensar a questão desse contraponto da exclu-são e da inclusão.

Marilena Jamur ] Sugiro a discussão sobreo espaço da mídia, par indagar se ele pode ou nãose tornar diferente do que é hoje.

Antônio Ibañez ] Não se deve discutir asexperiências em si, mas quais políticas sociais de-vem lhes dar sustentação. Seria importante trazeras universidades para a ação em prol da cidadania.Não se pode trabalhar à margem das políticas pre-sentes. Daí o porquê da necessidade de lutar porum novo modelo tributário.

Fábio Atanásio ] Ao longo da experiênciaque o UNICEF tem aculumado em várias localida-

des do Brasil, uma grande dificuldade encontradana gestão do ambiente urbano é a inserção da lim-peza urbana dentro do contexto de poder.

Graciete Santos ] É importante considerarnas discussões deste seminário a abordagem degênero e também que possamos discutir o espaçoprivado e o público, o trabalho produtivo ereprodutivo. Com relação à fala de Ana Clara Ribei-ro, ainda é fundamental refletir sobre a as ativida-des do cotidiano (a vida das pessoas). Assim pode-remos ter uma visão/análise mais real de como seorganiza a sociedade.

Mirna Pimentel ] Ao se falar em solidarie-dade, ficam de fora alguns itens fundamentais. Épreciso trabalhar com o conceito de coesão social.

Marcos Formiga ] É importante associar apobreza à questão da educação. O grupo estáteorizando, embora Ana Clara Ribeiro pense o con-trário. Elogio a preferência do Gustavo Krause peloespaço local.

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Grupo 1 - Provisão dos Serviços UrbanosCoordenador: Pedro JacobiRelator: Marcus Melo

RESULTADOS DOS GRUPOS DE TRABALHO

Marcus Melo

O grupo discutiu sobre a provisão de serviçosurbanos. Não houve consenso, de modo que o rela-to apenas aponta os pontos discutidos. Inicialmen-te, buscou-se pautar as discussões em torno dasseguintes questões: para que usar o conhecimentosobre a as experiências discutidas? Como usá-las?Para quem usá-las? Muitos questionaram se era ocaso de discutir experiências inovadoras, quandoestas apresentam apenas esforços locais em facedo desengajamento do governo central. O grupoconsiderou que tais experiências podem ser colo-cadas de forma mais positiva. As experiências re-presentariam uma certa tecnologia social. A ques-tão da variabilidade dos contextos pareceu a todoscomo algo importante, mas ao mesmo tempo difícilde discutir justamente pela diversidade.

Conjunto de questões nucleares:a) integração entre políticas e geração de renda;b) estratégias locais como exemplo de integração

intersetorial;c) flexibilização de regras e instrumentos de po-

líticas públicas, inclusive no que diz respeito aosarranjos entre esferas de governo;

d) espírito empreendedor, no que diz respeito à sus-

tentabilidade financeira das comunidades envolvidas;e) ações com caráter preventivo e não curativo;f) protagonismo do controle social por parte

dos envolvidos (para alguns, há fragilidade des-te controle).

Pedro JacobiNas experiências discutidas pelo grupo, há o as-

pecto importante da sustentabilidade socioambiental.

Marta FarahA dificuldade de consenso em relação ao prota-

gonismo dos atores sociais teve uma dimensão im-portante, que é a presença ativa da população. To-dos do grupo entenderam ser essencial a presençaativa da população-alvo, só não houve consensoquanto à forma em que se deve dar essa presença(conselhos, democracia direta etc.).

Grazia de GraziaOs mecanismos de participação da sociedade ci-

vil devem ser muito abertos. Seria importante, poroutro lado pressionar às políticas nacionais no sen-tido da descentralização de recursos.

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Grupo 2 - Ações Integradas deDesenvolvimento Socioeconômico

Coordenadora: Maria do Carmo BrantRelator: Jan Bitoun

RESULTADOS DOS GRUPOS DE TRABALHO

Jan Bitoun

O objetivo do grupo era definir as idéias-força ealinhavá-las de maneira a ressaltar caminhos decombate à pobreza, considerando a diversidade dasiniciativas apresentadas na oficina de Recife. Nestesentido, o desafio foi grande e expresso no própriotítulo do seminário: “ações integradas de Desen-volvimento Socioeconômico”.

O primeiro ponto discutido foi a territorialidadee o combate à pobreza, que se desdobrou em trêsoutros pontos:

a) territorialidade como dimensão quantitativa:alcance. Quando as ações são de pequena escala,há o problema da multiplicação ou da generalizaçãofrente à especificidade dos contextos;

b) territorialidade como uma dimensão legal-constitucional ligada aos arranjos dos poderes ins-titucionais da federação: Município, Estado eUnião e algumas outras dimensões – regiões me-tropolitanas;

c) territorialidade como dimensão identitária (ex-pressa pela palavra lugar): sempre ligada ao localem construção, com raízes históricas. O mais im-portante em termos de combate a pobreza e de cons-trução da cidadania é a tensão que o local exerce

sobre as esferas de decisão - imediatas e distantes- na cobrança, na formulação e na implementaçãode políticas públicas. Essa tensão é mais forte quan-do há uma mobilização que, segundo todas as evi-dências, a proximidade facilita.

O segundo analisado e debatido pelo grupo dizrespeito à intersetorialidade, à multissetorialidadee as relações interorganizacionais, fazendo emer-gir as seguintes questões:

a) caráter central da capacitação, considerandoos atores envolvidos;

b) identificação das questões nucleares que po-dem ou não nascer no local, mas que mantém essatensão e fomentam parcerias, iniciativas e agregamoutras questões inter-relacionadas. O ponto de par-tida pode ser emprego e renda ou serviços urbanos,mas outros setores vão sendo acrescidos a fim dereduzir a exclusão. Neste processo, apareceu a evi-dência da importância de incluir a questão ambiental(lato sensu);

c) o problema da intersetorialidade é a constru-ção interativa de ações multilaterais. No decorrerdesse processo, se aprende errando, se reconhecea importância de estratégias específicas e deve-se

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ficar atento ao nascer de novos atores (na esferada sociedade e dos poderes instituídos) que surgemdurante a mobilização;

d) não desconhecer as dificuldades dentro desseprocesso, nem o fato de que ele envolve uma dimen-são normativa. Isto é, se precisamos de multisseto-rialidade, é preciso instituir novas formas e modelosde atitudes e práticas, considerando as peculiarida-des e a cultura organizacional de cada setor;

e) introdução de novos valores na cultura política.E o terceiro e último ponto concerne à necessida-

de política e metodológica de construção de indica-dores. No aspecto político, há essa necessidade por-que a construção de indicadores é um insumo à cons-trução da multissetorialidade, podendo também de-monstrar que a intersetorialidade (cuja construçãoleva tempo e mobiliza energia) traz resultados. Quantoao aspecto metodológico, há necessidade de instru-mentos de monitoramento, em face dos inúmeros

projetos que surgem por toda a parte. Na construçãode indicadores, na três eixos fundamentais:

a) mensurar impactos a partir de diagnósticospré-existente (inclusive considerando a diversidadee heterogeneidade da população pobre);

b) qualificar processos, ações e resultados;c) necessidade de segmentar a avaliação de re-

sultados (indicadores sociais).

Serafim FerrazAs experiências têm uma função didática e um

efeito “bola de neve”, porque se iniciam pequenase tendem a crescer e irradiar.

Joanildo BurityUma implicação importante em termos de quali-

ficação dos indicadores é a possibilidade de reedu-car o olhar para perceber os processos de mudan-ça em curso.

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Grupo 3 - Geração de Emprego e Renda

Coordenador: Marcos FormigaRelator: Caio Silveira

RESULTADOS DOS GRUPOS DE TRABALHO

Caio Silveira

A temática trabalho e renda deve ser vista comouma decorrência de ciclos e dinâmicas de mercado. Taispolíticas – e seus efeitos – transcendem o estritamenteeconômico, uma vez que colocam em jogo aspectos re-lacionados à ética, à cultura e à democracia.

O grupo de trabalho abordou o tema procurandoconsiderar o que são, para quem se destinam e parao que se direcionam essas políticas públicas, aquientendidas em um sentido mais amplo do que políti-cas estatais.

Do ponto de vista da oferta institucional (o quesão), três eixos foram destacados: o crédito popu-lar ou microcrédito, a capacitação profissional e seuselos com a questão da educação e a geração dealternativas de mercado.

Quanto ao público envolvido nessas múltiplaslinhas de fomento (para quem se destinam), a tô-nica em sentido amplo reside em segmentos so-ciais caracterizados por um a situação de baixa

renda e baixa escolaridade, com barreiras de en-trada, isto é, restrições de acesso a benefícios edireitos já amplamente reconhecidos no imaginá-rio social contemporâneo.

Políticas ativas de trabalho e renda associam-se de modo geral ao intuito de possibilitar a estesgrupos o acesso a recursos e o desenvolvimento deaptidões que aumentem suas possibilidades de in-clusão e de manutenção no mundo do trabalho, pro-cesso constitutivo de cidadania.

No que se refere aos três eixos de fomentodesatacados pelo grupo:

a. Microcrédito ou crédito popularO acesso ao crédito constitui elemento de de-

mocratização e de cidadania. Envolve ainda as-pectos extra-econômicos relevantes, à proporçãoque geram novas oportunidades e novos vínculossocietários, estimula a auto-estima e, em muitas

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172 experiências em curso, atual diretamente sobrequestões de gênero, ao possibilitar às mulheres umdireito duplamente negado.

b. CapacitaçãoA questão da educação assume um caráter

crucial e estratégico sob a ótica da cidadania e doacesso ao mundo do trabalho, devendo ser pensadanão apenas do ponto de vista da inserção imediatano mercado de trabalho, mas também com ênfaseno sentido ético e formativo, combinando perspec-tivas de curto, médio e longo prazos.

c. Geração de alternativas de mercadoSob esta designação bastante abrangente, incor-

poram-se diversos campos de ação levantados, en-volvendo tanto mercado para produtos quanto mer-cado de trabalho. Constata-se a necessidade de mai-or integração entre os diferentes eixos e modalida-des de políticas de fomento na área de trabalho erenda, o que supõe uma visão sistêmica e a poten-

cialização em torno dos elos, vasos comunicantes esinergias entre os diferentes componentes, o quepode melhor se materializar por intermédio de re-des de trabalho ou agências de desenvolvimento.

Mais amplamente, trata-se de integrar as políticasde trabalho e renda não apenas entre si, mas tambémcomo outras políticas públicas, onde se articulam aquestão social e a questão do desenvolvimento.

Todo esse processo supõe esforços renovados nosentido de gestação de uma nova institucionalidade.

Além da dimensão intra-estatal, nas três esfe-ras de governo, está em jogo fundamentalmente aperspectiva de ampliação da esfera pública, o quesignifica participação social mais direta, aprofun-dando o caráter democrático das gestões e o con-trole social sobre as políticas públicas.

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Oficina 4

Debate

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Debate

Ricardo Mello ] O grande obstáculo às iniciativasde cooperativismo ou de microempreendedores sãoas articulações de mercado.

Sônia Café ] O seguro desemprego não éuma política ativa, mas um apolítica passiva que deveser integrada às políticas ativas. Há necessidadede pensar políticas de geração de emprego e rendaintegradas às demais políticas sociais.

Sílvio Caccia Bava ] A questão maisdesafiante foi identificar que muitas das experiên-cias analisadas não se dirigiam aos grupos mais vul-neráveis. Existe uma formação histórica desses seg-mentos da população ligada ao meio rural. Daí anecessidade de pensar a possibilidade do retornodos pobres urbanos ao campo, utilizando, por exem-plo, assentamentos que promovam a pequena pro-dução familiar.

Antônio Ibañez ] A distribuição de renda éessencial, sendo a reforma tributária um instrumen-to para que isto aconteça. A capacitação é pensada

de forma mais imediatista. Educação tem um papelestratégico mais marcante.

Valdi Dantas ] Ressalto a questão da distri-buição de renda, no sentido de que política de com-bate à pobreza passa par uma política deredistribuição de renda. Criam-se iniciativas produ-tivas que esbarram nas restrições da demanda. Con-sidero o microcrédito como um exemplo exitoso dasmudanças ocorridas no Brasil. Há dez anos o gover-no era um grande ausente nessa área. Todo o apoiovinha de organizações não-governamentais interna-cionais. Nos últimos dois anos, o microcrédito vemse tornando uma política pública.

Maria do Carmo Brant ] Por causa do tema“geração de emprego e renda”, o grupo pode cor-rer o risco de ter uma visão muito circunscrita aolocal. A educação tem que estar na agenda, porqueo nível médio de escolaridade da PEA é muito baixo.Geração de emprego tem relação direta com a ele-vação do grau de escolaridade. Por outro lado, polí-ticas ativas de geração de emprego e renda não po-

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dem ser geradas exclusivamente no plano local. Asociedade civil tem que levantar a bandeira da ge-ração de emprego e renda. O empresariado tem queintegrar as parcerias, porque os programas de ge-ração de emprego devem estar colocados junto àscadeias produtivas.

Franklin Coelho ] A integração entre aspolíticas sociais é a primeira idéia-força. A segundaidéia-força é uma visão sistêmica. A terceira é deque os processo analisados representam uma mu-dança de cultura política. A integração coloca-setambém em relação ao mercado. O desenvolvimen-to de indicadores implica a realização de estudosmais aprofundados das experiências analisadas.

Nilson Costa ] Os programas de geração deemprego e renda não atingem os mais pobres, au-mentando a pobreza e a desigualdade. Neste senti-do, uma das questões mais importantes é: como fa-zer para atingir essa população mais vulnerável?

Marta Farah ] Destaco a ampliação do espa-ço público, como dimensão importante na relaçãogoverno – sociedade civil, com a integração de no-vos atores à arena decisória. Por outro lado, numcenário de restrição de custos, a mobilização de ato-res fora do Estado parece ser fundamental. A am-pliação da esfera de atuação do poder local deveser mencionada e sobretudo, reforçada. Nas ativi-dades de oferta de serviços, há um potencial de re-dução e pobreza e também um esforço de emanci-pação das populações-alvo, reduzindo-se o papel tu-telar clássico das políticas públicas.

Joanildo Burity ] Não se pode ter fantasias,no sentido de que a sociedade civil possa assumir oônus do enfrentamento da pobreza. Tem-se faladomuito no local, esquecendo-se da idéia de que o lo-cal, quando não é dado previamente, define-se pelasoutras ações. A intersetorialidade deve ser vista deforma distinta. De um lado, seu aspecto normativo,

de outro, sob o ponto de vista pragmático, a dificul-dade de concretizar-se a tal intersetorialidade.

Ricardo Mello ] Uma questão muito discuti-da no meu grupo de trabalho foi o “para quem” aspolíticas públicas se destinam. Além do grande nú-mero de pessoas empobrecidas já existentes, a po-pulação que se encontra baixo da linha de pobrezasó tende a aumentar! Destaco também que os sindi-catos devem retomar alguma importância nessecenário de crise, com um papel talvez de “sindica-to-cidadão”, visando dotar o trabalhador de capa-cidade de auto-gestão e de participação.

Caio Silveira ] Quanto à questão dos indica-dores, coloco um desafio. A referência com a qualainda se trabalha são projetos e programas locali-zados. Por outro lado, há necessidade da integração,da transetorialidade. Portanto, é preciso pensar emreferenciais para indicadores de ações integradas.

Valdi Dantas ] Lembro o que foi dito por PaulSinger durante a oficina realizada em São Paulo, nosentido de que a variável-chave é o crescimento eco-nômico, ao qual se pode chegar com políticas públi-cas do governo central. Por outro lado, levando emconsideração a fala de Ladislau Dowbor nesta mes-ma oficina, chama a atenção a necessidade de semanter atualmente uma economia em dois tempos(globalizada e tradicional). O problema é saber comoestas duas economias dialogam entre si. Em rela-ção à regulamentação do microcrédito pelo nossoBanco Central, o importante é que não se poderáganhar em escala sem uma regulamentação do se-tor. O modelo prevê a constituição de microfinan-ceiras como S/A, cujas acionistas seriam as ONGsque já atuam no setor.

Serafim Ferraz ] Há uma ênfase muito grandepara experiências no meio urbano, entendendo que onosso trabalho não será completo sem que se tenhatambém uma preocupação com o meio rural.

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176 Graciete Santos ] As relações de gê-

nero são relações de poder, daí a necessidade demudar as relações desiguais. É preciso uma re-construção da sociedade, mudando as relaçõesde gênero. As mulheres são as responsáveis, so-cial e culturalmente, pela sobrevivência e pelabusca de alternativas de renda. Por outro lado, épreciso pensar em metodologias de avaliação,criando indicadores que tornem visíveis as ques-tões de gênero.

Maria do Carmo Meirelles ] Devehaver maior preocupação em relação à mídia, paraque as informações aqui geradas possam ir alémdos limites desta sala e das instituições aqui repre-sentadas. Sugiro que se pense em novas formas decooperação intermunicipal, considerando que, dosmais de 5.000 municípios existentes, uma parte sig-nificativa ainda é de tamanho pequeno. Vejo limitespara que a intersetorialidade saia do discurso, daí a

importância de se definirem estratégias para pro-mover qualquer avanço nessa área.

Fábio Atanásio ] Destaco a necessidadede alterar as estruturas legais, que não acompa-nham a lógica do que se está pensando e discutin-do aqui. A intersetorialidade esbarra nas estrutu-ras de poder: quem tem poder não a quer, quemnão tem, quer!

Robert Wilson ] Para resolver os pro-blemas sociais precisamos mudar as políticas pú-blicas. Neste sentido, é importante que a socie-dade civil possa trabalhar em conjunto com osempresários.

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Pedro Jacobi

Caminhos de ação diante dapobreza e da desigualdade

Comentadores: Pedro Jacobi, MarcosFormiga e Maria do Carmo Brant

É importante estabelecer aspectos conceituais,metodológicos e de disseminação. Considero igual-mente importante, contextualizar a temática da po-breza no cenário da globalização, no cenário de umpaís que tem que cumprir um plano de ajuste eco-nômico, de um país que está desempregando. Emtermos de contextualização, julgo essencial incluirtambém os aspectos de mobilização, empowermentetc. Vale a pena ressaltar aqui algumas noções, quesão necessárias para a multiplicação de uma visãoespecífica sobre as políticas públicas.

Questões fundamentais:a- reforçar todas as propostas que estimulem a co-

responsabilidade e a ampliação dos espaços públicos;b- não se pode mais pensar políticas sociais que

não encerrem em si aspectos de emprego e renda;c- é preciso destacar novos aspectos de gestão,

que valorizem a ação conjunta de municípios;d- destacar o controle social como aspecto es-

sencial da cidadania;e- tornar explícito que políticas públicas têm

que ser colocadas sob a premissa de desenvolvi-mento sustentável;

f- valorizar as ações preventivas, ao invés depriorizar as corretivas ou curativas;

g- reforçar a lógica da proximidade, porque aíse criam os processos de agregação;

h- tudo deve estar sob o abrigo de uma práticapedagógica, formal e informal, enfatizando-se os te-mas ligados à cidadania.

Marcos FormigaChamo a atenção para as estatísticas do Banco

Mundial em relação à agregação de quatro milhõesde brasileiros aos que já se encontravam abaixo dalinha de pobreza. Lembro, ainda, das estatísticas so-bre o desemprego em São Paulo e da resultante per-da da capacidade de reivindicação dos sindicatos.O cenário é sombrio em relação ao emprego paraos próximos anos. A cada ano deveríamos criar 1,6milhão de novos empregos. O governo federal aca-ba de anunciar o propósito de criar 1,5 milhão de

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empregos em três anos, número inferior ao que seprecisaria para apenas um ano. E mais: o empregoformal está em queda contínua, ao contrário do em-prego informal, responsável por 85% dos novospostos de trabalho.

Segundo José Pastore (ver o livro ”O Desem-prego Tem Cura?”), entre os anos de 1992/1996, ocrescimento da economia no Brasil foi da ordem de7,5%, enquanto o emprego foi reduzido em menosde 0,21%. Embora se saiba que a melhor política éo desenvolvimento econômico, nem sempre isto ésuficiente, pois as causas do desemprego e dosubemprego são múltiplas e as teorias econômicasnão explicam tudo, muito menos conseguem tudoresolver. A propósito, Marcelo Nery, economista doIPEA, afirmou que: “a grande vantagem de cuidardos pobres – o que a política brasileira tem dificul-dade de fazer – é que é relativamente barato”!

a- ações integradas pró-ativas no âmbito local,em contraposição à avalanche da globalização;

b- reposicionamento do papel do Estado, guiadopor padrões éticos e dotado de controles eficazesde monitorização para evitar desperdícios, interme-diação e desvio das ações que beneficiam a popula-ção pobre;

c- tal qual o Estado, também a sociedade civil esuas organizações não podem abrir mão dos crité-rios de honorabilidade e têm que procurar extinguira cultura clientelística e as disputas pelos pobres;

d- subordinação da “economia dual” (ver CelsoFurtado, Milton Santos e Ladislau Dowbor) à socie-dade, em favor de uma mudança de paradigma naspolíticas de redistribuição de renda. Trazer sempre àmemória o que afirmou Gustavo Krause ontem, nes-te seminário: “a máquina pública não está prepara-da para trabalhar com os pobres e os excluídos...”;

e- endossar as recomendações do grupo de tra-balho de “Geração de Emprego e Renda”, relata-das por Caio Silveira, dando ênfase à busca de solu-ções (“hands on”), em especial o microcrédito, acapacitação e a organização do mercado para a pro-dução de bens e serviços informais;

f- investir em educação, capacitação e formaçãoe produção de material para ampla divulgação e usointeligente da mídia, falando uma linguagem populare preferencialmente se dirigindo às mulheres.

Maria do Carmo BrantInvestir na mudança da cultura política e da ges-

tão pública. Os processos pedagógicos geravam de-pendência, porque nossa prática é ainda de acentuaras debilidades dos pobres ao invés de valorizar assuas potencialidades.

Assim, quando se fala em emancipação, deve-se dar destaque à ampliação do universo informaci-onal e cultural da população.

É preciso investir em redistribuição de poder. Emgeral, são as ONGs e as instituições governamentaisque falam pelo pobre. É preciso que haja espaçospúblicos de vocalização das reivindicações dos po-bres. É preciso estabelecer uma pedagogia emanci-patória. É preciso criar um pacto maior de comple-mentaridade entre o Estado e a Sociedade Civil, oque envolve um novo formato institucional de ges-tão. Os nossos formatos ainda são muito setorializa-dos, inclusive os conselhos, que são definidos poráreas de políticas públicas etc. Faz-se necessário,portanto, criar colegiados, nos quais os diversos con-selhos falem entre si. É preciso também definir quaissão os grupos que vivem em extrema pobreza. Essesgrupos são muito diferentes no âmbito rural e noâmbito urbano. É preciso qualificar resultados, me-dir impactos, monitorar a ação, porque a avaliaçãodeve entrar em nossa cultura, inclusive como meiode produção de conhecimento e de aprimoramentoda ação. Não há indicadores de impactos de açõesde combate à pobreza.

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Tânia Bacelar

Pobreza e cidadania: desafios

Comentadores: Tânia Bacelar, TelúrioCavalcanti, Brasilmar Nunes, Ladislau Dowbore Cristovam Buarque

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Farei quatro comentários. O primeiro é sobre ocontexto. É muito importante partir da realidade, deações concretas. No contexto, o importante é apro-fundar o aspecto econômico, pois a pobreza volta acrescer no mundo nos anos 70 e no Brasil, nos anosrecentes. No Brasil a questão adicional é a herançada crise social. A dimensão da pobreza no Brasil écentral. O ponto a aprofundar é o que os economis-tas estão chamando de “financeirização” da rique-za, fenômeno que volta a produzir mais pobres e deforma crescente. O Brasil resistiu a este fenômenonos anos 70, entrando de cabeça nos anos 90. hoje,se luta pela estabilização, que na verdade é um sub-produto do rentismo, que gera fortunas para os apli-cadores em mercados financeiros. No caso do Bra-sil, o sistema tributário merece reflexão, porquequando o Estado arrecada, concentra renda, ao in-vés de desconcentrar, como em outros países. Des-sa maneira, nosso sistema tributário é profunda-mente anti-social.

As iniciativas mais importantes na área socialse dão na sociedade civil e no nível local, e muitopouco no governo nacional. O sistema tributário atua

contra essas duas tendências, pois a carga tributá-ria subiu, desde o Plano Real, de 25% para mais de30%, e as novas iniciativas do sistema tributáriosão iniciativas não-partilhadas, aumentando a par-ticipação da União no total da receita pública, o queé antagônico e bloqueador do que a sociedade estáfazendo de esforço para combater a pobreza.

Que fazer? Aprofundar tais pontos e fazer pres-são para que se mude o rentismo. Temos que agre-gar pressão contra essa microopção!

No que diz respeito ao nosso esforço aqui nesteseminário, de um lado o esforço deve ser o de difu-são e, de outro lado, o esforço de articulação. Asexperiências analisadas ao longo das oficinas reali-zadas estão dentro da lógica da descentralização eda democratização. Só que a integração dessasações é o ponto central para qualquer avanço. Docontrário, vamos ficar atomizados. Precisamos demodelos descentralizados e coordenados! O gran-de desafio é construir sinergias, construir “nós”de articulação.

O novo conceito de desenvolvimento discutidomundialmente é o de desenvolvimento humano, a

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substituir o de desenvolvimento econômico. O queimporta para o desenvolvimento humano é a gera-ção de novas oportunidades. Assim, a visão do po-bre não pode ser simplesmente a de portador demazelas. Na realidade, o pobre é portador de habi-lidades, que não puderam ser aproveitadas pela faltade oportunidades.

O terceiro ponto a ser destacado está relaciona-do às ausências desses seminários. A primeira des-sas ausências são as estratégias de combate à po-breza que sejam reais, mas que não são legais. Es-sas estratégias são bem reais, porém não são acei-tas socialmente. No Brasil tem muita gente que es-capa da pobreza participando do narcotráfico e daprostituição. Não se pode desconhecer este ponto!Uma outra ausência verificada relaciona-se à dis-cussão sobre a retomada do crescimento. Não bas-ta insistir que o crescimento é melhor do que arecessão, porque não é qualquer crescimento quepermite a inclusão dos pobres. É preciso que toda apopulação tenha acesso a dois ativos: educação eterra. Quanto à terra, as discussões do grupo fo-ram omissas. Não adianta, neste aspecto, políticaslocais, tanto no que diz respeito à educação quantono que concerne à terra.

No debate, a terceira ausência diz respeito ao quese pode generalizar, no sentido de massificar. Duascoisas podem ser massificadas: uma é o programaBolsa-Escola, a outra é o microcrédito. No caso domicrocrédito, pode-se envolver o setor privado comodemandante (é o que os economistas chamam deintegração produtiva). A segunda estratégia demassificação passa por fora das grandes empresascapitalistas, com a introdução das cooperativas e redede associação, por exemplo.

Telúrio CavalcantiMuitas das observações feitas pelos participantes

deste seminário vêm ao encontro do que a SUDENEestá realizando, ou seja, a preocupação com o local ecom um sistema de informação. O sistema de infor-mação seria também voltado para o processo de acom-

panhamento e avaliação das ações em âmbito local, oque exige um esforço no desenvolvimento de indica-dores. A necessidade de capacitação é também umagrande preocupação da SUDENE.

Brasilmar NunesO primeiro ponto que me chama a atenção é a

relação da pobreza com os não-pobres. É óbvio queesta é uma dicotomia, mas temos que lembrar quea excessiva concentração da riqueza nacional trans-forma a quantidade de pobres na sociedade brasi-leira em um número possível de intervir em qual-quer decisão plebiscitária.

Mesmo assim, definir pobreza é um eterno proble-ma que é retomado de forma permanente nos discur-sos técnicos e políticos. Procura-se ampliar sutilmen-te o conceito incorporando diversas dimensões queestariam na base de uma perspectiva preconceituosana leitura do fenômeno. Em geral, características taiscomo acessos às vantagens do sistema e formas decidadania não são demandadas única e exclusivamen-te pelos pobres. São processos sociais e históricospermanentemente reconstruídos pela sociedade, demodo que não se pode dizer que chegamos a um pon-to ideal. Portanto, a pobreza não pode ser colocadasimplesmente como a falta de acesso a serviços, for-mas de sociabilidade etc. O que caracteriza os pobresé a falta de renda, tratando-se de indivíduos com umacompleta incapacidade de manobrar seus destinos.

De qualquer forma, continua sendo necessáriodefinir as diversas formas como a pobreza vem seexpressando.

A elite reproduz práticas excludentes de caráterpopulista. Na verdade, não há uma preocupação dereverter os processos sociais que eternizam a exclu-são. A questão social sempre foi marginal nas políti-cas de governo. O resultado é a permanente deterio-ração da qualidade de vida de parcelas crescentesda população, explodem-se as redes tradicionais desociabilidade e recriam-se redes alternativas de so-lidariedade. Criam-se espaços sociais em que a or-dem estatal não é hegemônica.

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O deslocamento de parcelas substanciais da po-pulação ou de grupos da lógica hegemônica provo-ca a sensação de “despertencimento”, transfor-mando indivíduos em seres com personalidade frá-gil, facilmente manipuláveis. Poderíamos argumen-tar, inclusive, que a flexibilização do mercado detrabalho está criando personalidades flexíveis. Oindivíduo está submetido a situações permanente-mente novas, fragmentando sua personalidade. Ésobretudo em relação aos pobres que este fenôme-no é mais evidente! O Estado brasileiro tem enormedificuldade de se legitimar perante a população bra-sileira, dadas as diferentes ordens sociais que secriam paralelamente àquela do próprio Estado.

Outra dimensão das discussões diz respeito aolocal frente ao nível macro. O macro tem uma dimen-são qualitativamente deferente em relação ao micro.As experiências locais não refletem necessariamen-te tendências que estão ocorrendo no nível macro,mas muitas delas podem ser transformadas em açõesparadigmáticas. A definição de qual seria a caracte-rística universalizante dessas experiências dependede um projeto de nação. Sem um modelo de nação, asomatória dessas experiências pareceria um amon-toado de propostas, sem qualquer integração. Nesteprojeto de nação, não se pode perder a capacidadede indignação diante da pobreza, diante das desigual-dades sociais. Podemos aceitar as diferenças, maseticamente é inaceitável aceitar as desigualdades!Ampliar o conceito de pobreza traz à tona outras for-mas de manifestação das diferenças e talvez estejaaí o impasse de colocar a pobreza como foco privile-giado das políticas públicas.

De fato, o conceito de pobreza é historicamenteconstruído e se liga visceralmente à questão de ren-da. Fora deste nível econômico é necessário traba-lhar com o conceito no nível simbólico. É no nívelsimbólico que se pode falar das outras dimensõesde pobreza. Talvez seja por isso que nós desenvol-vemos reflexões sobre uma “cultura da pobreza”na qual, de acordo com Jan Bitoun, a sociabilidadedos pobres chega nos surpreender permanentemen-

te. E talvez estejam aí explicações sobre as razõesque levam os pobres, na maioria das vezes, a nãoelegerem os próprio pobres. Na sociedade brasilei-ra, não há relações de classe, mas uma visão bur-guesa da sociedade que a todos os níveis permeia.Para de fato haver relações de classe, seria precisoter um projeto alternativo de nação, o que só sepode construir no longo prazo. É um processo delongo prazo que se manifesta de maneira pontual(governos municipais e estaduais), mas que encon-tra barreiras difíceis de serem transpostas.

Muitas das experiências apresentadas e discuti-das nos seminários realizados no Rio, em Recife eem São Paulo parecem improvisadas a partir devivências não reguladas pela esfera hegemônica dasociedade. O espaço público, que é o espaço do mer-cado político, tenta e vai permanentemente tentarse apropriar e fazer uso dessas experiências.

No nível macro – aquele das práticas governa-mentais, no reino do “pensamento único” – abafa-se o potencial transgressor das pospostas que vêmdo “local”, onde de fato se constroem práticas so-ciais inovadoras. As estratégias para tanto são per-manentemente renovadas, como são também reno-vadas as tentativas de superação para os pobres.Isso coloca a questão do cotidiano, levantada aquipor Ana Clara Ribeiro, que lembrava que o cotidia-no é o lugar onde se consegue escapar do controledas práticas das elites. Nessa perspectiva, pode-mos pensar as experiências locais como embriõesde uma sociedade solidária, com uma dinâmicaendógena, de baixo para cima.

Ladislau DowborEstamos vivendo um período de mudança de ru-

mos. Primeiro, estamos mudando de uma visão quetem centro na economia para uma que focaliza ohomem, o desenvolvimento humano. Por outro lado,estamos indo para uma visão que entende que odesenvolvimento deve ser economicamente viável,socialmente justo e ambientalmente sustentável. Sãotrês eixos, assim, que devem ser articulados e que

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demos aprender a articular. É importante que pa-remos de contrapor o social ao econômico, ou oambiental ao econômico, pois do contrário vamospara uma visão bem surrealista das coisas. Os pro-cessos democráticos não podem ser mantidos comexpedientes simplificadores, como estatizar tudoou privatizar tudo. Liberalismo ou ultraliberalismosão extremismos da nossa sociedade. É precisosaber equilibrar Estado-Sociedade Civil-Empresasem algum tipo de articulação que envolve diferen-tes níveis da sociedade e diferentes níveis territo-riais, mas que faça parte dessa nova arquiteturaque vai se delineando e que está saindo aos poucosda neblina. É preciso recriar sistemas mais demo-cráticos, mais participativos.

Convivemos com um extremo atraso político e,simultaneamente, com um grande avanço tecnoló-gico. O poder real que enfrentamos é próprio de um“coronel cibernético”. O local articulado se torna omotor de uma mudança cultural, que abre espaçopara a construção de um outro tipo de política. Éimportante dinamizar transformações. Nós acaba-mos descobrindo que o poder local, pelo seu poderde transformação simbólico e organizador da popu-lação, é uma alavanca poderosa (um motor de ar-ranque) para toda política. Poder local é reorgani-zador e rearticulador da sociedade.

É importante o conceito de produtividade social aser aplicado a cada um dos municípios, tendo em vis-ta os recursos subutilizados em nível local. Um exem-plo são as possibilidades que podem surgir a partirda articulação urbano-rural. Temos a tendência dereagir negativamente diante das novas tecnologias.Não é defensável essa atitude, pois qualquer tecno-logia pode ser apropriada de forma transformadora.O essencial é que estamos construindo cidadania,acabando com a visão de que a política é feita exclu-sivamente por especialistas, e sim também por cida-dãos. A mudança da sociedade dar-se-á pela mobili-zação da própria comunidade.

Temos no emprego um eixo de ação, de articula-ção e de mobilização extremamente poderoso. E aí

entra tudo: microcrédito, água, articulação com os sin-dicatos e outras articulações institucionais. Por outrolado, não há uma política nacional de desenvolvimentolocal e isso envolve as políticas tributárias, o pactofederativo, a descentralização etc. Para o local funcio-nar é preciso ter políticas nacionais.

Cristovam BuarqueTânia Bacelar colocou uma pergunta fundamen-

tal para entender a pobreza: por que aumentaramos índices de pobreza nos anos 70, quando já havi-am recuado no passado? Porque mudou a forma deriqueza. No passado, a riqueza crescia e se espa-lhava. A partir dos anos 70, a riqueza passou a cres-cer concentradamente, com um cone. Isso faz comque não exista uma correlação entre crescimento eeliminação da pobreza. Pode até existir uma corre-lação entre estagnação e aumento da pobreza. Quan-do há estagnação, a pobreza aumenta, ou seja, opobre é quem paga. Mas quando há crescimento,nem sempre os pobres se beneficiam.

Esse dado de realidade vem do tipo de progressotecnológico que faz com que o trabalhador seja dis-pensado. Observa-se também que o produto que essainovação tecnológica produz não é distributivo. Éconcentrador nas suas próprias características (porexemplo: os automóveis). É falso, portanto, acreditarque o crescimento voltando, a pobreza será eliminadae que tudo se resolverá. Para haver redução da po-breza, o crescimento deve propiciar um tipo de rendaque possa ser dividida. Temos o vício de ver o proble-ma social como decorrência do problema econômico.A renda aumenta a riqueza, mas não necessariamen-te elimina a pobreza. O problema da pobreza é comi-da, é escola, é saúde. Depois que se tem tudo isso,não basta. Aí precisa-se da renda, no limite da soluçãoda pobreza. Como uma parte dos bens que servempara reduzir a pobreza está no mercado, precisa-sede um pouquinho de renda. Porém, a renda não é odeterminante da luta contra a pobreza.

O programa Bolsa-Escola tem de interessante,além de seus efeitos, a forma como surgiu. A ótica

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foi mudada: vamos dar renda para que a criança dopai que não tem renda possa ir à escola. Uma dasmudanças de ótica é entender o custo da omissãoem não fazer as mudanças. Há um desinvestimentohoje na sociedade brasileira, quando, por exemplo,deixamos as crianças sem escola. Quando percebe-mos que há um custo pela omissão nas coisas comas quais o Estado não gasta e que cada um de nóstambém não gasta do ponto de vista da responsabi-lidade cidadã, já é um início de mudança em relaçãoao enfrentamento da pobreza. Ter pobreza gera cus-tos (o custo do status quo, segundo Wanderley Gui-lherme dos Santos).

As soluções podem ser locais, desde que combina-das com o nacional, porque o local tem a desvanta-gem de ser muito lento em sua expansão. O nacionalpode apressar as soluções localizadas, ao mesmo tem-po em que evita que o local seja penalizado por terencontrado a solução. Não é o Estado que resolve osproblemas. A sociedade civil tem um papel tão impor-tante quanto o Estado. Talvez o papel do Estado sedestaque em termos de agente financiador.

O desemprego pode ser a solução dos proble-mas. Se todos estivessem empregados, quem iriatrabalhar com saneamento etc.? Crescimento não éo instrumento fundamental, nem único, de enfren-tamento da pobreza. É preciso ter soluções simplese baratas, para que tenham apoio. Precisamos in-ventar soluções simples, que possam enfrentar osproblemas localmente.

Neste sentido, acho muito louvável o envolvimen-to e a vontade dos participantes desse seminário,bem como da Fundação Getúlio Vargas de São Pau-lo e da Fundação Ford, de colocar no cenário dasdiscussões, no foco da agenda, as soluções simplesde prefeitos, de governadores, de ONGs, da socie-dade civil. É extremamente importante termos hojesoluções simples que possam enfrentar os proble-mas localmente, muitas vezes de forma independen-te do nacional.

O que a gente precisa é desenvolver essas so-luções daqui para diante. Para isso, tenho duas pro-

postas que podem nos ajudar a fazer uma revolu-ção no Brasil. São elas: 1) no plano político: tudoisso aqui tem que ser transformado no bloco ético,um bloco que transcenda, que corte as organiza-ções partidárias. Os partido de hoje não estão or-ganizados para lutar contra a pobreza. Nenhum par-tido político tem programa para enfrentar a pobre-za, porque os políticos se organizam pelos incluí-dos e não pelos excluídos. Ao mesmo tempo, emnenhum partido vamos encontrar alguém que quei-ra lutar contra a pobreza. É preciso, portanto, cons-truir um bloco ético, de modo que a luta contra apobreza (as boas idéias) comece a permear o ima-ginário coletivo; 2) no plano técnico: o que estáfaltando para espalhar soluções simples, baratase criativas é criar centros de formação (“um insti-tuto de soluções simples”), para que, por exem-plo, os secretários municipais, estaduais e prefei-tos interessados possam aprender os macetes doPrograma Bolsa-Escola etc. Os cursos têm que serde “macetes”. Não podem ser cursos teóricos, àmoda tradicional. A partir da realização desses cur-sos, podemos fazer – fora do Estado – a ligaçãoentre o nacional e o local. Embora o local é aqueleque vai executar, por intermédio de entidades comoa FGV e a Fundação Ford e mesmo de pessoas comonós, podemos dar uma dimensão nacional.

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Neide Silva: Gostei muito das colocaçõesde Tânia Bacelar, no que diz respeito à ausênciasna discussão travada até agora. Assim, quero res-saltar que, se estamos falando de combate à po-breza, não podemos deixar de falar dos jovens, poiseles representam uma parcela importante da po-pulação brasileira. Também gostaria de lembrarque nenhum de nós é cidadão/cidadã, visto quesomos obrigados a escolher as escolas e os servi-ços em geral prestados pelo setor privado, porqueos serviços públicos são inaceitáveis. Acrescenta-ria ainda que o próprio pobre tem visões hierar-quizadas da pobreza.

Sílvio Caccia Bava ] Considero um privilé-gio para o grupo participante desse seminário dePorto de Galinhas poder discutir para, então, criarparadigmas que se contraponham às posiçõeshegemônicas. Mas me pergunto: como visualizar aenorme pujança que existe na sociedade civil? Co-meça a tomar corpo a idéia de monitoramento, dedesenvolvimento de indicadores, porque “sem in-formação não há indignação”. Ou seja, sem infor-

mação você não desvenda os mecanismos pelosquais a desigualdade se impõe na nossa sociedade.Proponho ainda a idéia de se criarem observatóriosde políticas sociais, ao invés de se trabalhar apenascom experiências inovadoras.

Caio Silveira ] Minha preocupação está rela-cionada com generalizações perigosas. É importan-te uma atenção especial a esse processo deuniversalização das experiências. Quando falamosem microcrédito e no programa Bolsa-Escola, porexemplo, somo todos defensores da sua generali-zação. Entretanto, é importante que fiquemos emalerta quanto aos critérios dessa proliferação.

Marta Farah ] Tensão permanente entreuniversalização e focalização. Trata-se aqui de man-ter como horizonte a universalização da educação,da saúde, dos serviços urbanos e do emprego, masbuscando incluir os grupos mais vulneráveis, quesão excluídos do acesso a esses serviço discutidosaté agora nesses seminários. A meta é a universali-zação, porém é preciso olhar para a clientela siste-

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maticamente excluída. Um dos eixos fundamentaisnessas estratégias de combate a pobreza é a gera-ção de emprego e renda, mas essas estratégias nãopodem desconsiderar a realidade do mercado, sobpena de fracasso. As políticas de combate à pobre-za precisam reconhecer a heterogeneidade dos po-bres. Algum grau de discriminação positiva tambémdeve ser feito, no sentido de sensibilidade dos pro-gramas e das estratégias, levando em consideraçãoa diversidade e a singularidade dessas carências que,às vezes, são mais profundas para as mulheres e osnegros. Poderíamos pensar nos programas Bolsa-Escola, Saúde da Família e Microcrédito dentro deuma perspectiva de universalização.

Marcus Melo ] Esquecemos de trazer para anossa discussão o tema da desigualdade. Nos últimos15 anos, observa-se um deslocamento analítico quesubstitui a discussão da desigualdade pela da pobrezaabsoluta. No Brasil da década de 70, a grande discus-são nacional era a desigualdade e não a pobreza. Hoje,a questão que está na ordem do dia é a pobreza. Onosso seminário chama-se “Estratégias Locais paraRedução da Pobreza”, mas ele não deve perder devista a questão da desigualdade, sobretudo por estar-mos no país mais desigual do mundo. E isso é muitoimportante, pois como apontou Tânia Bacelar, as polí-ticas públicas no Brasil têm um efeito redistributivo,só que regressivo, isto é, o Brasil sempre operou nosentido de transferir renda para as camadas de rendamédia e alta e não para os pobres.

No que concerne ao tema da avaliação, tão discu-tido aqui, não estamos pouco equipados em termosde instrumental para a avaliação de programas. Oproblema é que, no Brasil, nós não temos a tradiçãode avaliação (nem no âmbito universitário, nem noâmbito do próprio governo). A avaliação nunca foiuma questão central do setor público brasileiro.

Nilson Costa ] Gostaria de perguntar a TâniaBacelar sobre a inexistência de virtudes nas políti-cas sociais.

Tânia Bacelar ] As políticas nacionais sãoamplamente insuficientes, comparando o valor gastocom a saúde e o incremento da dívida externa emrazão da desvalorização da moeda.

Jan Bitoun ] Na realidade, o Observatório dePernambuco tem uma preocupação muito grande como saneamento. Acabaram percebendo que o sanea-mento é uma questão retórica. O saneamento é vistocomo um problema de pobre. Daí a importância detraduzir os indicadores do IBGE em indicadores do co-tidiano, para que se possa passar à indignação.

Franklin Coelho ] Em relação à generaliza-ção das experiências, Cristovam Buarque foi enfáti-co ao dizer que ela ocorre por meio da combinaçãodas políticas nacionais com as políticas locais. Hátrês anos vem sendo realizado o Fórum de Desen-volvimento Local, sem cruzamento com o presenteprojeto. Pergunto a Cristovam qual a sua opiniãosobre a criação de uma possível Agência de Desen-volvimento Local Integrado e Sustentável, sugeridapela Comunidade Solidária, no formato de uma or-ganização social?

Cristovam Buarque ] Se houvesse um go-verno com o compromisso de eliminar a pobreza,qualquer ministério seria um pouco desta agência.O governo seria esta agência. No Brasil, no atualgoverno, perdeu-se essa dimensão. A criação da talagência não é suficiente. Os “locais”, encontran-do-se, nacionalizam-se, desde que se possa identi-ficar os que tem experiências a ensinar para os queainda não as têm.

Ladislau Dowbor ] A Fundação ABRINQmontou uma rede “Jornalista Amigo da Criança”,um macete de comunicação que pode ser aprendi-do e irradiado.

Valdi Dantas ] Destaco a questão da mobiliza-ção das famílias, dos grupos etc. Isso é de uma po-

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188tencialidade enorme. Há a possibilidade de comba-ter a pobreza por meio do crescimento econômico.

Cristovam Buarque ] Se todos nós pe-gássemos a renda nacional e dividíssemos entre apopulação adulta, não daria mais de US$ 300,00 paracada um. Que repercussão isso teria sobre a pobre-za? O que elimina a pobreza é a educação, e no lon-go prazo. A luta contra a pobreza gera a renda. Oprograma Bolsa-Escola gera renda no combate àpobreza, dinamizando a economia pela base e nãopelo topo.

Fábio Atanásio ] É preciso aprimorar osmecanismos de avaliação, lembrando que a realidadeé mutável. É preciso criar mecanismos de dissemina-ção das experiências, com ênfase na concepção.

Franklin Coelho ] Deve-se pensar emdiversos programas e em sua integração com di-

versos focos. Ou seja, nós podemos pensar umaexperiência de desenvolvimento local em que se te-nha a cadeia produtiva do lixo, incorporando essesdiversos focos de maneira integrada e pró-ativa.

Marilena Jamur ] A solução apresentadafoi satisfatória. A linha é a da universalização e oestabelecimento de prioridades deve ser feito deacordo com as características de cada população ecom o seu potencial.

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Apresentação do consenso

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Pobreza: delimitando o seu campo

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Considerando a existência de múltiplos estudose de inúmeros indicadores sobre o fenômeno da po-breza, não cabe apresentar aqui mais dados espe-cíficos sobre as dramáticas desigualdades socioe-conômicas, de acesso a bens e serviços, bem comode acesso às oportunidades. Aliás, essas desigual-dades refletem um cenário de “catástrofe em câ-mara lenta” anunciado por um dos participantes doseminário de Porto de Galinhas (e aceito pelos de-mais). A situação que o país enfrenta está relacio-nada, em parte, às abordagens simplistas sobre ofenômeno da pobreza, presentes em muitos estu-dos que tratam do tema assim como no imagináriosocial, que explicam o fenômeno ora pela ausênciade recursos materiais dos indivíduos – “pobre” équem não tem dinheiro - ora exclusivamente pelosefeitos da globalização e das políticas macroeconô-micas, colocando em segundo plano os múltiplosmecanismos que produzem a desigualdade social e aexclusão e as ações administrativas que contribuempara a sua manutenção.

À medida que as discussões foram evoluindo aolongo das oficinas, houve uma tendência à buscaruma abordagem mais plural, considerando não so-mente as capacidades e os recursos individuais ou

sociais, e as estratégias de promoção do desenvolvi-mento econômico socialmente sustentável, mas tam-bém a provisão e o acesso aos serviços e bens ne-cessários para uma qualidade de vida mais digna,menos desigual e caracterizada pelo exercício plenoda cidadania.

Observou-se, conseqüentemente, que para repen-sar os caminhos que levarão à redução da pobreza,é essencial entendê-la como uma questão de cidada-nia, de democratização da sociedade e de constru-ção de novos padrões de sociabilidade. Sem uma aten-ção prioritária à temática da pobreza, assimilada apartir do enfoque da exclusão e da desigualdade so-cial, a situação no país só tende a se agravar. Tornarpolíticas públicas, ações administrativas e programasespeciais efetivamente sensíveis à questão exigirá -de acordo com as análises feitas durante os encon-tros - intervenções em níveis institucionais diversose, também em distintas dimensões do processo deexclusão, por meio de novas configurações e rela-ções entre os diferentes atores envolvidos: as insti-tuições e representações do Estado nacional e sub-nacional, da sociedade civil e do meio empresarial.Por fim, falar em pobreza é acima de tudo falar emfalta de cidadania.

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Conclusões iniciais a partirdas oficinas setoriais

1.1.1.1.1. Qualquer governo nacional eleito democrati-camente é responsável pelas conseqüências sociaisde suas políticas e ações em qualquer área ou cam-po de atuação e, também pelo seu impacto nas con-dições de vida da população, nos direitos individuaise coletivos e no exercício pleno da cidadania. A ques-tão social não pode ser reduzida a uma área especí-fica de atuação governamental, mas deve ser consi-derada como permeando toda e qualquer ação, in-cluindo a econômica.

2. 2. 2. 2. 2. Pobreza se caracteriza pela sua heterogenei-dade e amplitude, afetando a maioria das pessoas.Faz-se urgente a necessidade de uma maior com-preensão e transparência sobre o fenômeno e suasdistintas manifestações regionais através de indi-cadores multissetoriais. Taxas de mortalidade in-fantil podem esconder, pela utilização da média, di-ferenças de até dez vezes quando diversos níveisde renda são contemplados. Nota-se a mesma fra-gilidade metodológica, em relação à utilização doindicador de um dólar por dia para mensurar a con-dição de pobreza das pessoas. Um esforço maior éigualmente necessário para medir com seriedadeas conseqüências e impactos da presença ou dasupressão de ações e programas públicos.

3 .3 .3 .3 .3 . Pobreza é entendida freqüentemente comoconseqüência da precariedade de acesso a bens eserviços e pela ausência de canais efetivos deinterlocução entre as esferas de poder e as deman-das da população. Nesse contexto, os interesses quese encontram melhor representados se apropriam

da parcela mais significativa destes bens e servi-ços, se comparadas à que é destinada ao conjuntoda maioria da população empobrecida.

4. 4. 4. 4. 4. O enfrentamento da pobreza deve ser enten-dido como uma questão de construção de cidada-nia, de democracia, de empowerment, de emanci-pação, de dar voz e vez às populações em situaçãode pobreza. A participação social está ainda emconstrução, e os atores engajados na promoção deum reequilíbrio socioeconômico precisam buscar ca-minhos que rompam com a tutela e criem instru-mentos que possibilitem um desenvolvimento ver-dadeiramente participativo e sustentável. É impor-tante estimular e apoiar o surgimento de entidadescomunitárias autônomas, redes e movimentos pró-prios da população em situação de pobreza e evitarque os governos e as organizações não governa-mentais as substituam. Torna-se necessário aindaconfrontar as relações paternalistas e clientelísticas.Neste sentido, é essencial que as organizações co-munitárias sejam reconhecidas enquanto tais, semmaior preocupação com a sua profissionalização.Deve-se evitar, portanto, a criação de novos meca-nismos que possam vir a substituir essas mesmasorganizações a pretexto de maior eficiência.

5. 5. 5. 5. 5. Qualquer tentativa de reduzir a desigualdadedeve levar em consideração que o acesso ao “bem-estar” é um jogo de soma zero face aos recursos eserviços implicados, como também em relação aopoder. A superação da desigualdade requer o en-frentamento e a efetiva redistribuição de poder,

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ampliando o espaço público para a incorporação desaberes diversos e às vezes conflitantes. A susten-tabilidade das ações voltadas para o combate à po-breza se ancora na coesão social. A articulação po-lítica e social local é uma constante em muitas dasexperiências que conseguiram criar raízes.

6 .6 .6 .6 .6 . O momento atual se caracteriza como umaencruzilhada ética e moral, na qual o passivo socialdos modelos de desenvolvimento pregressos e doajuste estrutural atual é imenso, levando ao des-gaste da própria noção de coesão social e civiliza-ção. Por outro lado, encontramos no âmbito localsinergias diversas que recuperam a noção do “com-promisso social” e avançam na criação de um es-paço público permitindo à sociedade civil uma voltaà cena política. Nessa ótica, a definição do interes-se público, não mais parece restrita a um conjuntolimitado de atores, mas se amplia para incorporar apresença e as demandas de setores até então ex-cluídos e permitir, desta forma, a possibilidade deum espaço público mais abrangente e inclusivo.

7.7.7.7.7. O Estado, entretanto, continua com o papelcentral de regulação social e redistribuição da rique-za e da renda. Uma vez que a pobreza e a exclusãosocial são conseqüências dos impactos de políticaspúblicas, de prioridades e de escolhas, sua supera-ção também depende de uma ação incisiva no campodas políticas públicas. Porém, inexiste um instrumen-tal adequado para avaliar a operacionalização depolíticas em termos de sua sensibilidade à temáticada pobreza. É essencial desenvolver mecanismosmais adequados de avaliação de impacto e tambéminstrumentos de discriminação positiva - ou ação afir-mativa - que garantam cada vez mais que as políti-cas públicas sejam de fato públicas.

8. 8. 8. 8. 8. Hoje, a busca de novas estratégias para a supe-ração da pobreza vem requerendo novas relações en-tre o Estado, as diferentes organizações da sociedadecivil e o setor privado. Com o surgimento de novosatores orientados para a promoção de iniciativas con-

juntas, vêm sendo estabelecidas novas formas de diá-logo, favorecendo a construção de um espaço públicoque é claramente de interesse público.

9.9.9.9.9. No processo de construção de novos espaços pú-blicos é importante reconhecer, nos programas e proje-tos analisados, a existência de iniciativas de médio al-cance, que são diferentes das que têm alcance mais limi-tado. Neste sentido, a expressão mais adequada parareconhecer a abrangência destas múltiplas iniciativasparece ser a de “lugar”. O “lugar”, como foi dito pormuitos durante os seminários, “tem a cara de gente”revelando distintas arenas de demandas, conflitos ede reivindicações por melhoria na qualidade de vida.Denso, o lugar é a vida das pessoas em espaço etempo que, dependendo das circunstâncias, pode sero bairro, o município ou a região. O lugar é, sem dú-vida alguma, onde se enraízam as experiências, astáticas, os métodos e as práticas simples que for-mam uma biblioteca invisível de soluções para redu-ção da pobreza.

10.10.10.10.10. Um elemento freqüentemente presente nasdiscussões, especialmente se levarmos em contaas experiências que têm em comum um forte com-ponente associativo, foi a dificuldade encontrada –quando não a recusa e desinteresse – por parte dosórgãos públicos em lidar com as soluções hetero-doxas e não convencionais.

11. 11. 11. 11. 11. Uma outra constante foi o reconhecimento deque as experiências, projetos e programas discutidostêm muito mais as características de processos do quede atividades planejadas antecipadamente. Eles nun-ca se iniciam já totalmente estruturados, ao contrário,tendem a ir ganhando forma no decorrer da prática edo tempo, integrando outros elementos e idéias à ação.Não havia, mesmo nas atividades ditas “integradas”,um plano programático que, definido previamente, fos-se capaz de garantir resultados. Estratégias, portan-to, são muito mais um reconhecimento posterior deencaminhamentos adaptados, do que etapas progra-máticas anteriormente definidas.

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12.12.12.12.12. O entendimento em relação ao processo,também deriva da importância atribuída pelas ex-periências em compreender o enfrentamento dapobreza como acesso à qualidade de vida digna,igualdade de direitos, inclusão social e acesso à ci-dadania. Eleger igualdade como ponto de partida enão como resultado final leva à promoção de umagestão participativa e democrática. As experiênciasdiscutidas mostraram ser eficazes nessa compreen-são do que vem a ser combate à pobreza, pois fo-ram capazes de alterar a estrutura de poder, otimi-zando alianças entre governos que se colocam comosendo de proximidade e entre diversos atores dasociedade civil em condição de pobreza, que podemse fazer presentes com capacidade e força de ação.No quesito continuidade das experiências a presen-ça e atuação de organizações comunitárias tiveramum papel relevante.

13. 13. 13. 13. 13. É importante evitar o uso de interpretaçõesque negam ou abrandam os conflitos que efetivamen-te existem. Dessa maneira, torna-se fundamental con-siderar todos os elementos constitutivos do processode empobrecimento dos indivíduos. A visão de solida-riedade, por exemplo, pode ser bem intencionada en-quanto postura moral. Por outro lado, ela pode tam-bém estar indicando um retrocesso, ao classificar “opobre” como “coitado” ou “vítima” e estimular ape-nas as tradicionais práticas caritativas.

14. 14. 14. 14. 14. Enquanto a educação e a capacitação têmum papel essencial a desempenhar em muitas dasações de redução da pobreza, também é importan-te reconhecer a existência dos saberes que ema-nam das comunidades. Recuperar e reconhecer acontribuição destes saberes é um elemento-chavepara a construção de uma cidadania mais ampla comrespeito às gerações futuras.

15. 15. 15. 15. 15. A criação de uma entidade independente na so-ciedade civil, servindo de referência para estatísticas edados de avaliação social sobre o impacto das ações

públicas na redução da pobreza é um contraponto ne-cessário para os muitos indicadores produzidos por di-versas instituições governamentais e multilaterais. Nota-se também que a criação de tal estrutura fortalecerásobremaneira o debate democrático.

16. 16. 16. 16. 16. A generalização de ações a partir de práticaseficazes é um processo que não deve ser reduzido amera replicabilidade. Replicar no sentido de dissemi-nar “melhores práticas”, corre o risco de reprodu-zir uma tecnologia em série que privilegia tudo e nadaao mesmo tempo. Aprender a partir de práticas efi-cazes exige uma reflexão sobre suas condições deêxito, seus limites e os diferentes elementos incor-porados ao longo do processo. O conhecimento ad-quirido por meio das experiências exitosas favorecemelhores formatações técnicas e a produção de teo-ria pertinente. Estimula também uma cultura políticade ação comprometida e eficaz no combate à pobre-za e a criação de políticas e leis mais adequadas esensíveis à temática. Por vezes, o simples conheci-mento de uma experiência é suficiente para que aspessoas possam perceber que realmente é possívelagir. Na verdade, as experiências representam o pri-meiro passo de uma tomada de consciência face àsmudanças realizadas no quotidiano.

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Lições específicas a partir dasexperiências discutidas

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1.1 .1 .1 .1 . As experiências demonstram a potencialida-de das ações locais e a presença de uma tecnologiasocial subjacente. Revelam toda a vitalidade e tam-bém a possibilidade de replicação tanto em termosde estratégias, quanto em termos de ação específi-ca. A sua disseminação é importante, como tambéma sua efetiva avaliação. Por isso, há necessidade dese trabalhar com indicadores que possam ser utili-zados para esta finalidade.

2 .2 .2 .2 .2 . Há uma capacidade empreendedora presen-te nas experiências discutidas. Entretanto, as expe-riências também sinalizaram para a carência de açãogovernamental em diversos níveis. Torna-se neces-sário, portanto, criar políticas, regras e instrumen-tos mais flexíveis e também novos arranjos entreesferas de governo. Os exemplos são vários: faltade integração entre políticas públicas e atividadesde geração de renda, impasses entre jurisdiçõessubnacionais e impasses entre as ações locais e apolítica nacional. A impressão geral é que o desen-volvimento local se realiza apesar da política nacio-nal e sem o seu suporte.

3 .3 .3 .3 .3 . As ações locais precisam de maior integra-ção. A ausência dessa integração tem implicaçõesdiretas na sua sustentabilidade. No entanto, há umadistinção importante a ser feita entre a necessida-de e o desejo de desenvolver ações intersetoriais e

a dificuldade encontrada para criar formatos viá-veis para a sua execução - em termos de políticas edesenhos organizacionais e gerenciais.

4 .4 .4 .4 .4 . Os mecanismos de controle social continuamfrágeis, embora exista uma participação ativa dapopulação-alvo e das organizações da sociedade ci-vil nos projetos contemplados. Essa participação éobservada sob diferentes formas e aspectos e colo-ca em destaque a importância de aprofundar todaessa diversidade e opções de engajamento, o queleva a crer que o espaço público emergente é umespaço híbrido e não pode ser reduzido a uma sériede conselhos consultivos.

5 .5 .5 .5 .5 . A territorialidade dos exemplos de ação efi-cazes também é um elemento importante a ser le-vado em consideração. É fundamental reconhecer aterritorialidade enquanto alcance. Territorialidadenão é sinônimo de Estado ou de Município e fre-qüentemente ela está relacionada aos espaços in-termediários, de região intermunicipal ou de distri-to intramunicipal. Territorialidade emerge tambémcomo um elemento significativo em termos identitá-rios: o lugar, as raízes históricas e culturais.

6 .6 .6 .6 .6 . Intersetorialidade e multissetorialidade sãoem geral resultados e não pontos de partida dasações eficazes de combate à pobreza. Nesse pro-

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cesso, à medida que as ações evoluem, aspectosdiversos são contemplados a partir de uma visãosistêmica ou de um encadeamento de iniciativas quetentam conjugar melhoria de qualidade de vida,emancipação social e geração de atividades produ-tivas. Apesar da sinalização de bons resultados, pro-mover ações intersetoriais e multissetoriais não éuma tarefa fácil, exigindo novos arranjos institucio-nais, novas posturas, práticas e também novos va-lores políticos.

7 .7 .7 .7 .7 . A temática de emprego e renda está semprepresente na discussão sobre estratégias de comba-te à pobreza, seja em relação à promoção de ativi-dades econômicas, seja em relação à sua inserçãoem outras atividades integradas como, por exem-plo, a urbanização e o desenvolvimento rural. Ficoutambém evidente, a partir das análises e debates, anecessidade de deslocar a discussão sobre empre-go e renda do estritamente econômico para o cam-po da ética e dos direitos.

8 .8 .8 .8 .8 . No tema de geração de emprego e renda ob-serva-se ainda uma questão fundamental relativa àadequação entre oferta e demanda: a públicos es-pecíficos, oferta específica. Neste sentido, deve-selevar em conta toda uma pluralidade de instrumen-tos, modalidades de apoio, flexibilidade de metodo-logias e harmonia no enfoque. Trata-se aqui de bus-car maior complementaridade entre a realidade, ossaberes e as oportunidades que emanam da popu-lação-alvo.

9 .9 .9 .9 .9 . Além da flexibilidade, adequar oferta e de-manda requer, sensibilidade às questões de gêne-ro, que são em grande parte ignoradas. Na áreaespecífica do crédito, há uma dificuldade freqüen-temente assinalada e que se refere ao próprio pro-cesso de exclusão - o que foi chamado por muitosde “bloqueios aos sem acesso”. Os relatos das ex-periências também revelaram os impasses criadostanto no âmbito urbano quanto no âmbito rural, tan-

to no âmbito dos pequenos agrupamentos em fasede formação como também em relação aos acessosde linhas de financiamento para organizações jáconstituídas. O apoio ao acesso e à articulação jun-to aos mercados é vital para a sobrevivência daspessoas envolvidas nos projetos. A capacidade deidentificar e avaliar os elementos-chave que com-põem as cadeias produtivas (organização da produ-ção, transferência de tecnologia, financiamento, ca-pacitação, processamento da produção e comerciali-zação) é um dos caminhos para intervenção, na me-dida em que torna mais visíveis os elementos de de-sigualdade e exclusão social. A economia solidáriatambém oferece caminhos e precisa ser compreen-dida como confrontação com outros modelos econô-micos e não como simples complementação.

10.10.10.10.10. Programas de capacitação privilegiam emdemasiado a formação técnica, considerada impres-cindível para as oportunidades de trabalho, esque-cendo a importância de igualmente privilegiar a cons-trução de uma consciência cidadã e de se atribuirmaior respeito ao conhecimento e às habilidades jáexistentes na população.

11.11.11.11.11. Faz-se também importante ampliar a temáticade emprego e renda, e associá-la aos outros campose áreas, incluindo as arenas interorganizacionaisemergentes, como os consórcios intermunicipais.Porém, uma provável descentralização nas esferasde poder exigirá certamente mudanças na culturapolítica, superando-se a lógica clientelista que repro-duz “balcões e grupos cativos de ‘pobres’ atendidospor este ou aquele segmento da máquina governa-mental”, como foi assinalado por um dos participan-tes dos nossos encontros.

12.12.12.12.12. O caminho para a intersetorialidade pare-ce ser o enfoque territorial, conduzindo os diver-sos elementos para dentro de um contexto onde ocontrole social é possível. O lugar é portanto es-sencial, seja ele submunicipal, municipal ou supra-

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municipal. A criação de esferas públicas ampliadasnas quais emancipação e transferência de poder(empowerment) levam ao confronto e geram a co-nexão entre serviços, parece ser um bom caminhoa ser privilegiado. Há um grande número de açõesacontecendo de baixo para cima, em que pessoasestão conseguindo desenvolver atividades produti-vas. Não obstante, falta uma atitude, uma ação nosentido oposto - de cima para baixo - desbloquean-do os impasses que, ao não distribuir adequadamen-te as oportunidades, acabam por reproduzir, quan-do não produzir, a desigualdade e a exclusão social.Há necessidade urgente de assumir o desafio e acei-tar o conflito da discriminação positiva.

13.13.13.13.13. A questão da discriminação positiva, ou açãoafirmativa, se torna mais visível quando se discuteprioridades. Face ao imenso contingente de pessoasem situações de pobreza, em relações socioeconô-micas de exclusão e desigualdade, qual deve ser aprioridade? Percebe-se que muitas iniciativas aca-bam não atingindo as pessoas que se encontramem situação de extrema precariedade. Nessa pers-pectiva, corre-se o risco de reproduzir processosde discriminação e exclusão dentro do próprio cam-po da ação para a redução da pobreza e para inclu-são. Não é fácil decidir quem deve ser priorizado.Reconhecendo que toda política pública deve ser con-siderada de fato distributiva – no sentido de quenão há neutralidade na política pública – resta, por-tanto, saber para quais setores a distribuição efeti-vamente se orienta. Assim, pergunta-se quem defato é beneficiado pelas ações públicas e quem deveser beneficiado.

14.14.14.14.14. Durante o processo de discussão sobre asdiversas experiências apresentadas, tornou-se cla-ro que, em resposta à questão levantada no iníciodo processo haveria um espaço de ação de comba-te à pobreza entre as macropolíticas nacionais e asações desenvolvidas a partir da sociedade civil?,havia, sim, um espaço para a ação subnacional. En-

tretanto, esta ação vem sendo construída na ausên-cia de uma política pública nacional de redistribuiçãode renda, comprometida em combater efetivamen-te a pobreza.

15.15.15.15.15. Os diversos arranjos locais e subnacionais -sejam estes de estados, municípios, de agências re-gionais e locais do governo nacional, de alianças comorganizações não governamentais e comunitárias,empresas e cooperativas e toda uma variedade deinstituições e organizações cívicas nas quais a igrejacatólica continua demonstrando uma competênciaespecifica e exemplar - têm muito a contribuir e mos-tram caminhos possíveis, construídos a partir de so-luções simples e concretas. Porém, vale salientar queestes caminhos não podem ser considerados comosubstitutos de uma responsabilidade institucionalmaior, na qual o papel do Estado é central.

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Em direção às conclusões possíveis

1.1 .1 .1 .1 . Durante as discussões, emergiu naturalmen-te, uma indignação moral em relação à pobreza en-quanto produto socioeconômico de uma sociedadedesigual e profundamente injusta.

2 .2 .2 .2 .2 . Mesmo chegando à conclusão de que há umespaço de ação no âmbito local, que precisa ser ur-gentemente assumido e ocupado e que vem demons-trando sinais animadores da conquista de poder ede oportunidades, não se pode ignorar o contextomais amplo dentro do qual o fenômeno de pobrezae exclusão se constrói: os dramas decorrentes daglobalização, das políticas de ajuste estrutural, quenão privilegiam o social. É urgente a adoção de po-líticas que garantam um mínimo social, sensíveis àsquestões de gênero, da infância e adolescênciaviabilizadas por meio de abordagens simples, comoprogramas de renda-mínima, salário social, bolsa-escola, que demonstram na prática a eficiência dassoluções simples.

3.3.3.3.3. Frente às possibilidades de agir para transfor-mar a realidade, diversos são os temas a serem con-templados: a importância e a dificuldade de criar abor-dagens intersetoriais; a necessidade de políticas pú-blicas que estimulem a co-responsabilidade e oprotagonismo; a presença na política social da temáticade trabalho e renda dentro da ótica de um mínimo so-cial enquanto direito fundamental; a capacidade de efe-tivamente atingir os grupos mais vulneráveis; a im-portância de se dar maior visibilidade aos novos me-canismos interorganizacionais e o papel formador deações sociais de controle do agir público.

4 .4 .4 .4 .4 . A proliferação de conselhos e outras instân-cias formais de decisão e consulta no âmbito de po-

líticas públicas específicas não podem ser ignora-das. Reconhecer o potencial de complementaridadehorizontal dos diversos colegiados pode levar ao for-talecimento do seu papel fiscalizador e orientador,enfrentando assim as tentativas da sua apropria-ção artificial por interesses hegemônicos de elitese grupos profissionais específicos. Há muitos exem-plos de situações em que as informações e oportu-nidades não chegam onde deveriam, e em que asexigências de consulta acabam por virar barreirasem relação ao que buscam: o engajamento efetivoda comunidade.

5.5.5.5.5. Houve um consenso em torno da centralidadede uma nova concepção do local visto como lugar,não se traduzindo em nenhum nível específico degoverno, mas sim onde a lógica da proximidade, doencontro e do confronto é possível. O lugar não édado, mas se define e se redefine a partir das ações,remetendo a um contexto de relações que não é so-mente local. Requer dos agentes públicos uma prá-tica pedagógica ética e cívica que evidencie a pro-moção da cidadania. Requer, também, instrumen-tos de avaliação que estimulem o debate e possamproduzir conhecimentos.

6 .6 .6 .6 .6 . As ações emergentes, reposicionam o papeldo Estado, mas não reduzem o seu papel centralno enfrentamento da pobreza percebida a partirda ótica da exclusão e da desigualdade social. Asmúltiplas organizações da sociedade civil, ao apre-sentarem soluções, dão sinais evidentes de umaresponsabilidade social e de um engajamento cívi-co, porém não desobrigam, em nenhum momento,as organizações públicas de uma ação igualmenteresponsável e comprometida.

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7.7.7.7.7. As soluções locais que emergem na área deemprego e renda são freqüentemente resultados deações que favorecem o microcrédito e a capacitação,mas também de um diálogo e apoio direto à popula-ção envolvida. Aprender a reconhecer e a respeitaros muitos saberes existentes e, também, levar emconsideração a importância de uma solidariedade noquotidiano são elementos que criam condições parao êxito dos projetos voltados para redução da pobre-za. Para atingir resultados concretos, observa-se ain-da a necessidade de flexibilizar linhas de apoio e deações técnicas, algo que infelizmente muitos dos pro-gramas e organismos públicos têm dificuldade emassumir. A lacuna que se cria, em conseqüência, éem si a expressão da permanente produção e repro-dução da desigualdade e da exclusão social. Grossomodo, a máquina pública parece não estar ainda pre-parada, ou mesmo disposta, a encarar seriamente anecessidade de redução da pobreza, da exclusão ouda desigualdade no Brasil.

8 .8 .8 .8 .8 . A emancipação cívica e a conquista da cida-dania ativa é um processo de destruição dos meca-nismos de tutela e ampliação do universo cultural eeducacional. É necessário buscar e dar visibilidadeaos caminhos que dão voz e vez a um maior númerode pessoas, favorecendo a criação de novos espa-ços públicos. Qualquer programa de enfrentamentoda pobreza é parte desse processo e precisa seravaliado nesse sentido.

9 .9 .9 .9 .9 . O espaço local é o motor de arranque do pro-cesso de enfrentamento da pobreza e precisa serprivilegiado. A construção de múltiplas formas deidentificação e de avaliação de práticas e de solu-ções eficazes - por instâncias independentes - pode

prestar um serviço importante à sociedade. No Bra-sil, não há uma tradição de efetiva avaliação de po-líticas públicas da parte de organismos governamen-tais. Além do que, a produção de dados sobre aheterogeneidade da pobreza, a desigualdade, comotambém sobre os resultados e impactos de ações -sejam estas positivas ou negativas - é essencial paraevitar que o fenômeno perca seus contornossociopolíticos e gere uma individualização tutelada,transformando a pobreza em “pobre”. A criaçãode indicadores de avaliação e de uma base inde-pendente de dados estatísticos socialmente adequa-dos é de extrema importância para a mudança danossa realidade.

10.10.10.10.10. Falta de renda não é sinônimo de pobreza,mas é um dado importante a ser considerado, cha-mando a atenção para as conseqüências das rela-ções socioeconômicas constitutivas do quotidiano.Porém, ações nesta área precisam reconhecer a im-portância da emancipação política e do engajamentode atores locais na discussão do desenvolvimentodo “lugar”. Essas ações precisam se iniciar a par-tir de bases sólidas, simples e participativas, per-mitindo resultados concretos e sustentáveis.

11.11.11.11.11. Integração multissetorial e estratégiascomplexas e detalhadas de intervenção pré-elabo-rada têm pouco efeito quando servem de ponto departida para ação no âmbito do lugar. As experiên-cias demonstram que integração e elaboração,quando acontecem, são normalmente resultadosde um processo gradual de aproveitamento deoportunidades, de aprendizagem e de luta, abrin-do possibilidades de escolhas seguindo o crono-grama dos atores e acontecimentos.

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Buiding citizenship: localstrategies for poverty reduction

Introduction

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Public Practice and Poverty is a special project within the Public Manage-ment and Citizenship Program, seeking to identify and disseminate practices andideas aimed specifically at the improvement of the quality of life and social inclu-sion of poor populations. Supported initially by the Ford Foundation, the projectnow counts as well with the support of the World Bank and the BNDES (NationalBank of Economic and Social Development). The project’s main activities are:

1. To promote meetings based on specific themes involving actors from dif-ferent segments of action and reflection: from commmunities, academic institu-tions. civil society organizations and the public sector.

2. To develop studies and research focussing on emerging social and publicpractises, in their several forms, which have been shown to have a real anddirect impact on the quality of life and social inclusion of the poor.

3. To develop training programs in responsible social action for profession-als from local administrations, state governments, development institutes, non-governmental organizations and communities in general.

4. To produce written and audiovisual material for use in the dissemination ofpractices and ideas, as well as for teaching purposes.

The Public Management andCitizenship Program

Public Practice and Poverty

An awards and dissemination program for innovations in Brazilian sub-na-tional governments developed through the initiative of FGV/EAESP in São Pauloand the Ford Foundation with additional support from the Brazilian National Eco-nomic and Social Development Bank (BNDES). The program’s objectives are toencourage states, municipalities and the governments of the indigenous peoplesto share with others the approaches they are using to solve public issues andrespond to community needs; to evaluate and identify the key features of theseinnovations and to create mechanisms fot the widespread dissemination of prac-tical approaches to effective government.

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In October 1998, the Public Management and Citi-zenship Program of the Getulio Vargas FoundationSão Paulo with support from the Ford Foundationheld the first of a cycle of four workshops directedat discussing local strategies to reduce poverty.During each 2-day meeting, between 30 and 40people drawn from different settings (academic re-search, community organizations, NGOs, municipaland state government organs, development banksand multilateral institutions) gathered to debate thepotential for action and change.

The question that had triggered the meetings wassimple and direct: what were the real possibilities foractions to reduce poverty; was there a space that couldbe occupied and developed between the macro levelof national domestic policy and the micro level of indi-vidual civil society organization actions? If so, whatroutes should such a mid-range approach follow, whatpaths were likely to be more effective?

The rules for the workshops were egalitarian.All participants were to have the same opportunityto debate and present arguments, with a balancebeing maintained between academic presentations,first hand reports by activists and community lead-ers and technical analyses.

The first meeting, in Rio de Janeiro, focused onpoverty in relation to urban service provision. Thesecond, held in Recife in December 1998, debatedthe possibility of integrated actions for socio-eco-nomic development, and the third, held in São Pauloin March 1999, dealt with the issues of generatingjobs and income. At the end of April of the same

year, the fourth workshop took place in Porto deGalinhas, Pernambuco, with the objective of shar-ing the views developed in the first three and look-ing for possible conclusions.

In all, 146 people took part in the events, as-suming an active role in listening and debating. Akey feature was the willingness of participants toconfront different action languages, theories andviews of the world and to evaluate the contributionsof the variety of experiences discussed.

The experiences presented were selected fromamongst the projects entered for the Public Man-agement and Citizenship Program’s annual awardscycle. They were supplemented with other casesidentified in a study about the role of alliances be-tween local, non-governmental and private organi-zations for poverty reduction, developed with thesupport of the World Bank. The experiences werechosen to reflect the diversity of sub-national juris-diction, areas of action and type of impact. Duringthe meetings other initiatives were mentioned byparticipants, thus broadening even more the vari-ety of actions available for discussion.

This publication is in its second edition thanks tothe generous support of the William and FloraHewlett Foundation. The edition represents an im-portant and timely contribution in the formulaton,evaluation, monitoring, and thinking regarding poli-cies, programs, and socialprojects. This documentis also very useful in respect to how it synthizesideas regarding collective action, and emphaisizesa diverse blend of local best practices.

Introduction

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Buiding citizenship: localstrategies for poverty reduction

Workshops

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The selected experiences discussed

Rio de Janeiro WorkshopIntrodução do Catador no Mercado daIntrodução do Catador no Mercado daIntrodução do Catador no Mercado daIntrodução do Catador no Mercado daIntrodução do Catador no Mercado da

Reciclagem (Belo Horizonte/BH) - Reciclagem (Belo Horizonte/BH) - Reciclagem (Belo Horizonte/BH) - Reciclagem (Belo Horizonte/BH) - Reciclagem (Belo Horizonte/BH) - A result ofthe partnership between the municipal governmentand civil society organizations in Belo Horizonte,Minas Gerais, ASMARE - the Association of Collec-tors of Paper and other Recyclable Materials - buildscitizenship and generates jobs and income throughrecycling paper and other dry waste material.

Unidades de Triagem (Porto Alegre/RS) -Unidades de Triagem (Porto Alegre/RS) -Unidades de Triagem (Porto Alegre/RS) -Unidades de Triagem (Porto Alegre/RS) -Unidades de Triagem (Porto Alegre/RS) -The waste recycling program in Porto Alegre, RioGrande do Sul, collecting dry waste from door-to-door for selection and processing at units run byformer street collectors.

Projeto Lixo e Cidadania (Olinda/PE) - Projeto Lixo e Cidadania (Olinda/PE) - Projeto Lixo e Cidadania (Olinda/PE) - Projeto Lixo e Cidadania (Olinda/PE) - Projeto Lixo e Cidadania (Olinda/PE) - Multipartnered program in Olinda, Pernambuco, offeringalternatives for children scavenging on municipalwaste dumps by creating educational opportunities,housing and training for family members and recy-cling cooperatives.

Projeto Mutirão Reflorestamento (Rio deProjeto Mutirão Reflorestamento (Rio deProjeto Mutirão Reflorestamento (Rio deProjeto Mutirão Reflorestamento (Rio deProjeto Mutirão Reflorestamento (Rio deJaneiro/RJ) - Janeiro/RJ) - Janeiro/RJ) - Janeiro/RJ) - Janeiro/RJ) - A forestry project in the city of Rio deJaneiro, creating work opportunities through com-munity involvement in tree planting and the develop-ment of environmental controls on hillside areas.

Ações Integradas nos Bolsões de PobrezaAções Integradas nos Bolsões de PobrezaAções Integradas nos Bolsões de PobrezaAções Integradas nos Bolsões de PobrezaAções Integradas nos Bolsões de Pobreza(Ipatinga/MG) - (Ipatinga/MG) - (Ipatinga/MG) - (Ipatinga/MG) - (Ipatinga/MG) - A low cost housing project in

Ipatinga, Minas Gerais, which promotes communityinvolvement both in construction work and in linkedinitiatives in areas such as health and education.

Programa de Reassentamento de FamíliasPrograma de Reassentamento de FamíliasPrograma de Reassentamento de FamíliasPrograma de Reassentamento de FamíliasPrograma de Reassentamento de Famílias(Teresina/PI) -(Teresina/PI) -(Teresina/PI) -(Teresina/PI) -(Teresina/PI) - Housing relocation for low-incomefamilies residing in risk areas in the municipality ofTeresinha, Piauí. Actions focused on improving liv-ing conditions are also linked to activities in healthand income generation.

PREZEIS-Plano de Regularização das Zo-PREZEIS-Plano de Regularização das Zo-PREZEIS-Plano de Regularização das Zo-PREZEIS-Plano de Regularização das Zo-PREZEIS-Plano de Regularização das Zo-nas Especiais de Interesse Social (Recife/PE)nas Especiais de Interesse Social (Recife/PE)nas Especiais de Interesse Social (Recife/PE)nas Especiais de Interesse Social (Recife/PE)nas Especiais de Interesse Social (Recife/PE)----- Initiative of the municipal government in Recife,Pernambuco, aimed at achieving land ownership forshanty town communities in inner city areas, pro-moting urban development and guaranteeing therights of basic citizenship.

Programa Médico de Família (Niterói/RJ)Programa Médico de Família (Niterói/RJ)Programa Médico de Família (Niterói/RJ)Programa Médico de Família (Niterói/RJ)Programa Médico de Família (Niterói/RJ)- - - - - The family doctor program of the city of Niterói,Rio de Janeiro, administered jointly by the local gov-ernment and community associations, which usessmall mobile health teams to reach areas with littleaccess to health resources.

Programa Saúde da Família (Curitiba/PR)Programa Saúde da Família (Curitiba/PR)Programa Saúde da Família (Curitiba/PR)Programa Saúde da Família (Curitiba/PR)Programa Saúde da Família (Curitiba/PR)- - - - - A family health program from Curitiba, Parana,where multi-disciplinary teams work from localcenters to provide integral health care and preven-tion to communities.

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Programa de Saúde da Família de MutirãoPrograma de Saúde da Família de MutirãoPrograma de Saúde da Família de MutirãoPrograma de Saúde da Família de MutirãoPrograma de Saúde da Família de Mutirãodo Serrotão (Campina Grande/PB) -do Serrotão (Campina Grande/PB) -do Serrotão (Campina Grande/PB) -do Serrotão (Campina Grande/PB) -do Serrotão (Campina Grande/PB) - A coop-erative community action program in a poor districtof Campina Grande, Paraiba, which has developeda prevention and action policy that promotes the in-clusion of low income communities into the publichealth system.

Recife WorkshopAPAEB Associação dos Pequenos Agricul-APAEB Associação dos Pequenos Agricul-APAEB Associação dos Pequenos Agricul-APAEB Associação dos Pequenos Agricul-APAEB Associação dos Pequenos Agricul-

tores (Valente/BA) -tores (Valente/BA) -tores (Valente/BA) -tores (Valente/BA) -tores (Valente/BA) - APAEB, the Small AgriculturalProducers Association from Valente, Bahia, is trans-forming the economic and social prospects of sisalproduction, creating new jobs, incomes, education andrural electrification through its community threshingmachine, sisal factory, bank and credit cooperative.

Programa de Desenvolv imento Local -Programa de Desenvolv imento Local -Programa de Desenvolv imento Local -Programa de Desenvolv imento Local -Programa de Desenvolv imento Local -PNUD/BNB (Região Nordeste) - PNUD/BNB (Região Nordeste) - PNUD/BNB (Região Nordeste) - PNUD/BNB (Região Nordeste) - PNUD/BNB (Região Nordeste) - A partnershipbetween the Northeast Development Bank and theUnited Nations Development Program to train ruraland urban producers from the north east region inentrepeneurial skills.

Projeto São José (CE) - Projeto São José (CE) - Projeto São José (CE) - Projeto São José (CE) - Projeto São José (CE) - An income genera-tion and local development program for rural com-munities in the state of Ceará which finances pro-duction and infrastructure through partnerships withcommunity associations.

PROVE PROVE PROVE PROVE PROVE - Programa de Verticalização da- Programa de Verticalização da- Programa de Verticalização da- Programa de Verticalização da- Programa de Verticalização daPequena Produção Agrícola (DF) -Pequena Produção Agrícola (DF) -Pequena Produção Agrícola (DF) -Pequena Produção Agrícola (DF) -Pequena Produção Agrícola (DF) - The FederalDistrict of Brasilia’s program to integrate rural small-holdings into the productive cycle and support thedevelopment of micro agricultural businesses.

Projeto Pólo-Agroflorestal (Rio Branco/AC)Projeto Pólo-Agroflorestal (Rio Branco/AC)Projeto Pólo-Agroflorestal (Rio Branco/AC)Projeto Pólo-Agroflorestal (Rio Branco/AC)Projeto Pólo-Agroflorestal (Rio Branco/AC)----- A municipal agricultural reform program for theresettlement of rubber workers on the outskirts ofRio Branco in the State of Acre.

Projeto Couro Vegetal da Amazônia (ValeProjeto Couro Vegetal da Amazônia (ValeProjeto Couro Vegetal da Amazônia (ValeProjeto Couro Vegetal da Amazônia (ValeProjeto Couro Vegetal da Amazônia (Valedo Alto Rio Juruá/AC) -do Alto Rio Juruá/AC) -do Alto Rio Juruá/AC) -do Alto Rio Juruá/AC) -do Alto Rio Juruá/AC) - A project within the Ama-zonian area that promotes community developmentand the trade of rubber-based products throughpartnerships between research institutes, indig-enous organizations, independent extractors, NGOsand private companies.

São Paulo WorkshopCooperativa Mista de Produção AlternativaCooperativa Mista de Produção AlternativaCooperativa Mista de Produção AlternativaCooperativa Mista de Produção AlternativaCooperativa Mista de Produção Alternativa

de Birigüi (Birigüi/SP) -de Birigüi (Birigüi/SP) -de Birigüi (Birigüi/SP) -de Birigüi (Birigüi/SP) -de Birigüi (Birigüi/SP) - A shoemaker’s coopera-tive in the town of Birigüi, São Paulo, set up by a groupof unemployed workers and now comprising variousproduction groups and factories, generating jobs andincome and offering training opportunities.

Projeto Cidadania e Ação Comunitária (SãoProjeto Cidadania e Ação Comunitária (SãoProjeto Cidadania e Ação Comunitária (SãoProjeto Cidadania e Ação Comunitária (SãoProjeto Cidadania e Ação Comunitária (SãoPaulo/SP) -Paulo/SP) -Paulo/SP) -Paulo/SP) -Paulo/SP) - Part of a local development and socialinclusion program being carried out in one of SãoPaulo’s low income communities by Cenpec, a SãoPaulo based ONG. The specific project discussed wasthe women tailors cooperative.

FENAPE - Federação Nacional de Apoio aosFENAPE - Federação Nacional de Apoio aosFENAPE - Federação Nacional de Apoio aosFENAPE - Federação Nacional de Apoio aosFENAPE - Federação Nacional de Apoio aosPequenos Empreendimentos -Pequenos Empreendimentos -Pequenos Empreendimentos -Pequenos Empreendimentos -Pequenos Empreendimentos - An independent or-ganization with a national program aimed at poverty re-duction through micro-credit support to small businesses.

Programa Bolsa-Escola (DF) -Programa Bolsa-Escola (DF) -Programa Bolsa-Escola (DF) -Programa Bolsa-Escola (DF) -Programa Bolsa-Escola (DF) - A family incomeand school grant scheme in the Federal District ofBrasília which guarantees a minimum monthly wageto low-income families with school age children.

Câmara do Grande ABC (Região do ABCCâmara do Grande ABC (Região do ABCCâmara do Grande ABC (Região do ABCCâmara do Grande ABC (Região do ABCCâmara do Grande ABC (Região do ABCPaulista/SP) - Paulista/SP) - Paulista/SP) - Paulista/SP) - Paulista/SP) - The intermunicipal consortium cre-ated in the industrial region surrounding São Paulo(ABC) to formulate regional strategic plans with theinvolvement of the municipal authorities, electedrepresentatives, employers federations, trades un-ions, NGOs and community groups.

PRONAFPRONAFPRONAFPRONAFPRONAF ----- Programa Nacional de Fortaleci-Programa Nacional de Fortaleci-Programa Nacional de Fortaleci-Programa Nacional de Fortaleci-Programa Nacional de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar (PE) -mento da Agricultura Familiar (PE) -mento da Agricultura Familiar (PE) -mento da Agricultura Familiar (PE) -mento da Agricultura Familiar (PE) - The Nation-al Program of technical and financial support for ruraldevelopment. The experience discussed was that ofthe State of Pernambuco. Objectives are to strength-en family agricultural enterprises through raising pro-ductive capacity and income generation.

This report sets out the main points on whichparticipants at the workshops were in agreement.As an initial consensus, it reflects work in progressrather than a logically structured argument. How-ever it leaves no doubt that there are conclusionsthat can be drawn from the discussions that tookplace and that there are answers for those who seekaction to reduce poverty and equality in Brazil.

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Rio de Janeiro Workshop|Adauto Cardoso (Observatório-IPPUR/UFRJ)|Ademir Margenti Castro (Programa Unidades

de Triagem/RS)|Adler do Couto (Escola do Futuro/USP)|Ana Britto (Observatório-PROURB/UFRJ)|Ana Christina Barbosa (BNDES/RJ)|Ana Clara Torres Ribeiro (FASE-Nacional/

IPPUR/UFRJ)|Berenice Ramos (Programa Mutirão do

Serrotão/PB)|Caio de Azevedo (BNDES/RJ)|Carlos Pontes (Centro de Pesquisa Ageu

Magalhães/ Observatório Recife)|Celso Junius Ferreira Santos (Projeto

Mutirão Reflorestamento)|Elizabeth Leeds (Fundação Ford)|Fábio Atanásio (Projeto Lixo e Cidadania-

UNICEF/Recife)|Grazia di Grazia (FASE-Nacional)|Iraci Reis (PUC/SP)|Isabelle Wolff (Médicos Sem Fronteiras-

missão Bélgica)|Jacqueline Rosas Silva (Programa Bolsões de

Pobreza)|Jan Bitoun (UFPE/Observatório Recife)|Kleber Montezuma F. dos Santos (Programa

de Reassentamento de Famílias)|Leda Maria Albuquerque (Programa Saúde da

Família de Curitiba)

Participants

The Public Management and

Citizenship Program would like to

take this opportunity to thank all the

people who participated in the

meetings and accepted the

challenge not only to confront issues,

ideas and practices, but also to try to

identify the possible elements of a

mid-range approach to poverty

reduction. If the conclusions are of

value, and we believe they are, this is

the direct result of the commitment

and disposition of all who took part

to embrace dialogue as a collective

process. In alphabetical order, the

participants were:

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|Luiz César de Queiroz Ribeiro (Observatório-IPPUR/UFRJ)

|Maria Magdalena Alves (Ação da Cidadania/SP)

|Marcos Formiga (UNB/FINEP)|Maria do Carmo Brant de Carvalho (PUC/SP)|Marilena Jamur (PUC/ RJ)|Marta Pordeus (Assessora do Fórum do

PREZEIS)|Marta Prochnik (BNDES/RJ)|Neide Silva (ETAPAS/Recife)|Nelson Duplat (BNDES/RJ)|Nilson Costa (UFF/FIOCRUZ)|Orlando Júnior (FASE-Nacional/

Observatório-IPPUR/UFRJ)|Pedro Jacobi (USP)|Pedro Lima (Programa Médico de Família de

Niterói/RJ)|Ricardo Ernesto Vasquez Beltrão (FGV/SP)|Sônia Maria Dias (Introdução do Catador no

Mercado de Reciclagem/BH)

Recife Workshop|Ademar de Oliveira Marques (Frente das

ONGs de Pernambuco)|André Monteiro Costa (NESC/CPQAM/

FIOCRUZ)|Armando Mendes (UFPA)|Beatriz Saldanha (Projeto Couro Vegetal/AC)|Carlos Osório (Programa de Apoio ao

Desenvolvimento Local/PNUD)|Carlos Pontes (Observatório-Recife)|Eduardo Homem (Centro Luiz Freire-TV

VIVA/Recife)|Fernanda Costa (Observatório-Recife)|Franklin Coelho (UFF/Secretaria Estadual de

Planejamento/RJ)|Ismael Ferreira de Oliveira (APAEB/BA)|Jan Bitoun (UFPE/Observatório Recife)|João Luiz Homem de Carvalho (PROVE/DF)|Josias Farias Neto (Projeto São José/CE)|Lívia Miranda (Observatório Recife)

|Luiz de La Mora (UFPE)|Maria da Luz Magalhães (Promoção Social do

Governo de Angola)|Maria do Carmo Brant de Carvalho (PUC/SP)|Marilena Jamur (PUC/ RJ)|Marília Andrade (Instituto de Serviço Social

de Lisboa)|Mirna Pimentel (UFPE)|Neide Silva (ETAPAS/PE)|Nilson Costa (UFF/FIOCRUZ)|Pablo Sidersky (AS-PTA Regional Nordeste)|Paulo Henrique Martins (UFPE)|Pedro Jacobi (USP)|Ricardo Ernesto Vasquez Beltrão (FGV/SP)|Serafim Ferraz (Banco do Nordeste)|Sueli Guimarães (Fundação Joaquim

Nabuco/PE)|Suely Maria Ribeiro Leal (UFPE)|Tereza Lima (Banco do Nordeste)|Vando Nogueira (Consultor independente/PE)|Vânia Ribeiro (Projeto Pólo-Agroflorestal/AC)

São Paulo Workshop|Antônio Ibañez Ruiz (Bolsa-Escola/Brasília)|Betânia Ávila (SOS-CORPO/PE)|Brian Wampler (Universidade do Texas)|Caio Silveira (NAPP/RJ)|Celso Mendes (Web-Brazil Internet

Design/SP)|Cunca Bocayuva (FASE-Nacional/RJ)|Elizabeth Leeds (Fundação Ford)|Franklin Coelho (UFF/Secretaria Estadual de

Planejamento/RJ)|Grazia di Grazia (FASE-Nacional/RJ)|Iracema Barbosa (Cooperativa de

Costureiras do Jardim Horizonte Azul/SP)|Iraci Reis (PUC/SP)|Jan Bitoun (UFPE/Observatório Recife)|Joana Coutinho (Projeto Ação Comunitária e

Cidadania/SP)|José Carlos Vaz (POLIS/SP)|Ladislau Dowbor (PUC/SP)

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|Lília Martins (Universidade Metodista dePiracicaba/SP)

|Marcos Formiga (UNB/FINEP)|Marcus Melo (UFPE)|Maria do Carmo Brant de Carvalho (PUC/SP)|Maria do Carmo Meirelles (CEPAM-Fundação

Prefeito Faria Lima/SP)|Maria Magdalena Alves (Ação da Cidadania/SP)|Mariangela Belfiore Wanderley (IEE-PUC/SP)|Marilena Jamur (PUC/ RJ)|Marta Ferreira Santos Farah (FGV/SP)|Mauro Martins da Silva (Cooperativa Mista

de Birigüi/SP)|Mirna Pimentel (UFPE)|Nádia Somekh (Prefeitura de Santo André/

FAU-Mackenzie/SP)|Nilson Costa (UFF/FICRUZ)|Osmil Galindo (Fundação Joaquim Nabuco/PE)|Paul Singer (USP)|Pedro Jacobi (USP)|Ricardo Ernesto Vasquez Beltrão (FGV/SP)|Roseni Reigota (CENPEC/SP)|Sílvio Caccia Bava (POLIS/SP)|Sônia Café (Secretaria Municipal de

Trabalho/Prefeitura do Rio de Janeiro)|Tânia Zapata (PNUD/BNB)|Valdi Dantas (FENAPE)

Porto de Galinhas Meeting|Ana Britto (PROURB/UFRJ)|Ana Clara Torres Ribeiro (FASE-Nacional/

IPPUR/UFRJ)|Antônio Ibañez Ruiz (Bolsa-Escola/Brasília)

Brasilmar Ferreira Nunes (UNB)|Caio Silveira (NAPP/RJ)|Cristovam Buarque (Missão Criança/DF)|Elizabeth Leeds (Fundação Ford)|Fábio Atanásio (UNICEF/PE)|Franklin Coelho (UFF/SERE/RJ)|Graciete Santos (Casa da Mulher do

Nordeste/PE)|Grazia di Grazia (FASE-Nacional/RJ)

|Gustavo Krause (MULTI Consultoria/PE)|Ismael Ferreira de Oliveira (APAEB-Valente)|Jacqueline Rosas Silva (Programa Bolsões de

Pobreza/MG)|Jan Bitoun (UFPE/Observatório Recife)|Joanildo Burity (FUNDAJ/UFPE)|Kátia Lubambo (FUNDAJ/PE)|Kleber Montezuma (Secretário Municipal de

Habitação de Teresina/PI)|Ladislau Dowbor (PUC/SP)|Marcos Formiga (UNB/FINEP)|Marcus Melo (UFPE)|Maria do Carmo Brant de Carvalho (PUC/SP)|Maria do Carmo Meirelles (CEPAM-Fundação

Prefeito Faria Lima/SP)|Maria Magdalena Alves (Ação da

Cidadania/SP)|Marilena Jamur (PUC/RJ)|Marta Ferreira Santos Farah (FGV/SP)|Mirna Pimentel (UFPE)|Nádia Somekh (Prefeitura de Santo André/

FAU-Mackenzie/SP)|Neide Silva (ETAPAS/PE)|Nilson Costa (UFF/FIOCRUZ/RJ)|Pedro Jacobi (USP)|Ricardo Ernesto Vasquez Beltrão (FGV/SP)|Ricardo Mello (CEDAC/RJ)|Robert Wilson (Universidade do Texas)|Serafim Ferraz (Banco do Nordeste)|Sílvio Caccia Bava (POLIS/SP)|Sônia Café (Secretaria Municipal de

Trabalho/Prefeitura do Rio de Janeiro)|Sônia Dias (Introdução dos Catadores no

Mercado de Reciclagem/BH)|Tânia Bacelar (UFPE)|Telúrio Cavalcanti (SUDENE)|Valdi Dantas (FENAPE/Brasília)

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Buiding citizenship: localstrategies for poverty reduction

Consensuspresentation

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213Given the many studies and indicators producedin recent years in relation to poverty, this is not theplace to repeat known data about the dramatic socio-economic inequality in Brazil or about the differentialaccess to goods, services and opportunities. The coun-try currently faces a “slow motion catastrophe” touse a phrase coined by one of the participants. Thissituation is worsened by simplistic approaches to pov-erty that explain the phenomenon in terms of eitherthe absence of individual material resources - a“poor” person is one who has no money - or exclu-sively as an effect of globalization and of macroeco-nomic policies. The result is that the multiple mecha-nisms that produce social inequality and exclusionand the administrative actions that contribute to itsmaintenance are left in second place.

As the workshop discussions evolved, a more plu-ral approach emerged. This considered not only socialand individual capacities and resources and the over-all strategies for the promotion of socially sustainableeconomic development, but also the provision and ac-

cess to services and goods necessary for a more dig-nified life; characterized by less inequality and charac-terized by the full exercise of citizenship.

Thus in order to re-think actions that will lead topoverty reduction, it is essential that these be under-stood in terms of citizenship, of democratic societyand of building new standards of sociability. If prior-ity is not given to the question of poverty, seen fromthe standpoint of exclusion and social inequality, thesituation in Brazil will only get worse. To increase thesensitivity of policies, administrative actions and pro-grams to poverty will demand - according to analy-ses made during the meetings - interventions at dif-ferent institutional levels and, also, in different partsof the process of exclusion. This will require new or-ganizational configurations and relations between thedifferent actors involved: national, state or municipalgovernments, public sector institutions and their rep-resentatives, civil society and the business commu-nity. Above all, to talk about poverty is to talk aboutthe lack of effective citizenship.

Poverty: defining the field

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214 1.1.1.1.1. Any democratically elected national governmentis responsible for the social consequences of its poli-cies and actions in all areas and for their impact onliving conditions, on individual and collective rights, andon the exercise of citizenship. Social issues cannot bereduced to a specific area of governmental policy oraction, but must be considered as permeating any andall action, including those in the economic field.

2.2.2.2.2. Poverty in Brazil is characterized by its hetero-geneity and amplitude and affects the majority of thepopulation. There is an urgent need to develop a bet-ter understanding of the phenomenon and its differentregional manifestations through the use of multipleindicators that can be discussed publicly. Care needsto be taken when using average or aggregated data,because this can hide wider differences. For example,average infant mortality rates may hide differences ofup to 10 times when income level is taken into consid-eration. Equally fragile is the excessive use of the 1 USdollar per capita indicator to measure poverty condi-

tions. Greater effort is also required to measure theimpacts and consequences of the presence or suppres-sion of public programs and actions.

3.3.3.3.3. Poverty manifests itself in the precarious ac-cess to goods and services, and in the absence of ef-fective channels of dialogue between those in powerand the demands of the population. As a result, thoseinterests that are better placed and more capably rep-resented are able to claim a more significant part ofgoods and services than those without such access.

4.4.4.4.4. The fight against poverty should be understoodin terms of building citizenship and of democracy,empowerment, emancipation; giving priority to thevoice of those who most face its consequences. So-cial participation is still not widespread and those in-volved in promoting a more just socio-economic bal-ance must seek ways to create mechanisms for amore truly participative and sustainable development.It is important to encourage and support autonomous

Conclusions from thesector workshops

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community groups, networks and movements whichemerge from and are sustained by the poor and avoidtheir substitution by NGOs and governments. In or-der to confront paternalism and clientelism, it is es-sential that community organizations, their methodsand practices should be recognized and respectedwithout concern for professionalism. Equally, the cre-ation of mechanisms that could lead to the substitu-tion of such organizations under a pretext of greaterefficiency should be avoided.

5 .5 .5 .5 .5 . Attempts to reduce inequality must be awarethat access to well being has, given the availabilityof resources and services involved and the implica-tions for power, many elements of a zero sum game.The need for an effective redistribution of power inovercoming inequality must be faced and the publicspace increased by incorporating different and attimes conflicting bases of knowledge. The sustain-ability of actions directed at reducing poverty de-pends on social cohesion and effective local politi-cal and social articulation is a factor in many expe-riences that have taken root.

6. 6. 6. 6. 6. Brazil is currently at an ethical and moral cross-roads, where the social debts of past developmentmodels and of the present structural adjustments areenormous, weakening the very notion of social sup-port and civilization. At the same time, synergisms areemerging at the local level that recuperate the idea of“social commitment” and with it the creation of a pub-lic space that allows civil society to return to the politi-cal scene. Within this, the defining of public interestno longer seems an activity restricted to a limited groupof elite players, but is incorporating the presence anddemands of sectors previously excluded, allowing fora broader and inclusive public space.

7. 7. 7. 7. 7. The State, however, has a central role to playin social regulation and the redistribution of wealthand income. As poverty and social exclusion are con-sequences of the impact of public policies, priorities

and choices, their elimination depends on incisiveaction in the field of public policy. Unfortunately, thereare no adequate instruments to effectively evaluatepoverty sensitivity in the implementation of policies.It is essential to develop better mechanisms in thisarea and also to invest in positive discrimination - oraffirmative action - that will increasingly ensure thatpublic policies become, in fact, truly public.

8. 8. 8. 8. 8. Nowadays, the search for new strategies to over-come poverty also requires new relations between theState, the different organizations of the civil society,and the private sector. With the appearance of newsocial actors oriented towards the promotion of jointactivities, new forms of public interest dialogue arebeing established within the public space.

9. 9. 9. 9. 9. The discussion of the programs and projectsduring the workshops pointed to the importance, inthis process of building new public spaces, of mid-rangeactivities that are different to those with a more lim-ited scope. The most adequate expression to describethe scope of these various activities seems to be thatof “place”. The “place” is where we find ourselvesand indeed the “place”, as some participants pointedout, “looks like ourselves”. It is formed by differentand interlocking arenas of demands, conflicts andclaims for improvements in the quality of life. Dense,the “place” is a reference for people’s lives in spaceand time that, depending on circumstances, can be aneighborhood, a municipality or a region. The “place”is, without doubt, where the simple experiences, tac-tics, methods and practices root themselves to createan invisible library of poverty reduction solutions.

10.10.10.10.10. An element that was frequently mentioned,especially in relation to experiences that have astrong local associative character, is the difficultyand lack of interest by conventional public agencieswhen faced with heterodox and non-conventional so-lutions. At times, this difficulty can lead to a rejec-tion of the “new” and the “different”.

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11. 11. 11. 11. 11. Another constant theme was the recogni-tion that the experiences, projects and programs dis-cussed are much more processes in action ratherthan precise and previously planned activities. Theynever begin in a structured manner, rather the op-posite: taking shape in practice and with time, inte-grating other elements and ideas within the flow ofaction. Even in so-called “integrated” activities andapproaches, it was not possible to identify a pro-grammatic plan that had been previously defined andwas capable of guaranteeing results. Frequently,what are described as strategies are, in fact, theex-post recognition of links between different ac-tions adopted, rather than the ex-ante specificationof causal steps.

12. 12. 12. 12. 12. This vision of action as a process is alsopresent in the importance that those involved in theexperiences attribute to understanding the fightagainst poverty in terms of access to a quality of lifethat brings dignity, equal rights, social inclusion andaccess to citizenship. To elect equality as a startingpoint and not as a goal leads immediately to adop-tion of democratic and participative methods ofproject administration. The experiences discussedproved to be very effective in this aspect; they wereable to alter power structures, optimize alliancesbetween governments and the poor, especially withthose sub-national governments that were seekinga greater proximity with excluded groups, enablingthese to present themselves with capacity andstrength. In terms of continuity, the active presenceof community organizations played a key role.

13.13.13.13.13. It is important to avoid explanations and in-terpretations that deny or soften conflicts that effec-tively exist. It is also fundamental not to loose sightof all the many elements that constitute the complexprocess of impoverishment. The over use of the no-tion of solidarity, for example, may be well meant asa moral posture. But, it can have a negative effectthrough qualifying the “poor” person as an “unfor-

tunate” person or “victim”, thus reducing and limit-ing action to traditional charitable practices.

14.14.14.14.14. Although education and training have an im-portant role to play in many of the actions being de-veloped to reduce poverty, it is also vital to respectthe presence of other forms of knowledge that be-long to the communities themselves. Recovering andrecognizing the contribution of such local knowledgeis a key element in building a broader basis for citi-zenship and strengthening future generations.

15. 15. 15. 15. 15. The creation of a independent entity withincivil society that could serve as a reference pointfor statistics and information about the social evalu-ation of the impact of public actions to reduce pov-erty, is a necessary independent counterpoint forthe many indicators supplied by the several govern-mental and multilateral institutions. Such a refer-ence organization could make a major contributionto strengthening democratic debate.

16.16.16.16.16. Generalizing actions on the basis of effec-tive practices is not a process that can be reducedto mere replication. Reproducing actions on the ba-sis of “best practices” runs the risk of giving im-portance to everything and nothing at the same time.Learning from effective practices requires reflec-tion on the conditions of their success, their limitsand the different elements that were incorporatedduring the process. The knowledge acquired fromsuccessful experiences helps to develop better tech-nical approaches and contributes to the productionof relevant theory. It also stimulates a political cul-ture of committed and effective actions to combatpoverty and the creation of more adequate and sen-sitive laws and policies. Sometimes, the simpleawareness of an experience is enough for people toperceive that it is possible to act. In this way, suc-cessful experiences represent the first step in de-veloping consciousness of the changes that can bebrought about in everyday life.

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2171. 1. 1. 1. 1. The experiences clearly show the potential that

exists for local action and the existence of an underly-ing social technology. They reveal vitality and also showthe possibility of replication both in terms of strate-gies, as well as pointing to specific actions. It is impor-tant that they should be both disseminated and effec-tively evaluated. There is a real need to develop indi-cators that can be used to for this purpose.

2.2.2.2.2. Entrepreneurial capacity is also present at dif-ferent levels but, in contrast, the corresponding gov-ernment action is often lacking. It is therefore nec-essary to create more flexible policies, rules andinstruments, and also new forms of coordination be-tween different spheres of government. There aremany examples: lack of integration between publicpolicies and income generating activities, obstaclesbetween different sub-national jurisdictions and ob-stacles between local actions and national policies.The feeling was widespread that local developmenttakes place despite national policies and withoutnational government support.

3. 3. 3. 3. 3. Local actions also require more integration.The lack of this integration has direct implications onthe sustainability of poverty reduction actions. How-ever, there is an important difference to be madebetween the need and desire to develop inter-secto-rial actions and the difficulty found to create viableforms for their execution; in terms of policies, mana-gerial practices and organizational design.

4. 4. 4. 4. 4. Inter-sector and multi-sector patterns of ac-tion are generally the results rather than the startingpoints for efficient action to combat poverty. As theactions evolve, different aspects emerge or stimu-late other initiatives that jointly link to improve thequality of life, provide for social emancipation andaid productive activities. Whilst these generate goodresults, it remains the case that promoting inter-sec-torial and multi-sectorial actions is not an easy task;demanding new institutional arrangements, new pos-tures, practices and also new political values.

5.5.5.5.5. Whilst the mechanisms for social control of

Lessons learned from theexperiences discussed

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public processes continue fragile, there are signs ofgrowing active participation both of target popula-tions and of civil society organizations in the projectsstudied. Participation can take different forms andapproaches, highlighting the importance of differentoptions of involvement. The emerging public spaceappears to be hybrid in nature and certainly cannotbe reduced to a series of Consultative Councils.

6. 6. 6. 6. 6. The territorial nature of effective action is alsoan important element to be taken into consideration. Itis fundamental to recognize territoriality in relation tothe scope of action. Territoriality is not a synonym forState or Municipality, and is frequently related to in-termediate spaces such as inter-municipal regions orintra-municipal districts. Territoriality also emerges asan important element for identity: part of the “place”and its historical and cultural roots.

7 .7 .7 .7 .7 . Employment and income issues are alwayspresent in discussions about strategies to combat pov-erty, whether in relation to promotion of economic ac-tivities or in relation to their role within integrated ac-tivities such as, for example, urbanization and ruraldevelopment. It was also evident from the analysis anddebates that there is a need to displace the discussionabout employment and income from the strictly eco-nomic field to the field of ethics and of rights.

8. 8. 8. 8. 8. A fundamental question in relation to employ-ment and income generation was that of the bal-ance between demand and supply in relation to therequirements of specific groups and specific offersof support. It is important to take into considerationa whole plurality of instruments, forms of supportand flexibility of methods. Greater symmetry is alsoneeded between conditions, knowledge and the op-portunities that are generated by target populations.

9.9.9.9.9. To balance supply and demand requires, besidesflexibility, sensitivity to frequently ignored gender is-sues. In the specific area of credit, access is an often-mentioned difficulty and a key factor in the exclusion

process. Those involved in the experiences pointed tothe obstacles created by official lines of support thatmade access difficult both for small groups that werein the process of formation and to existing and estab-lished organizations. Gaining support for access andfor articulation with markets is vital for the survival ofmany projects and their members. The ability to iden-tify and evaluate the elements that constitute produc-tive chains (organizing production, technology trans-fer, finance, training, production processing and com-mercialization) is a key to turning more visible the dif-ferent elements of inequality and social exclusion. Whathas been called the alternative economy of solidarityalso offers ways forward; not as a complement but asa challenge to existing economic models.

10.10.10.10.10. Training programs can tend to place exces-sive emphasis on technical skills, considered essen-tial for employment opportunities. They forget theimportance of giving equal emphasis to buildingawareness of citizenship and also of respecting thoseareas of skills and knowledge that already exist with-in the day to day of the focal population.

11.11.11.11.11. It is important to open up the issues of em-ployment and income, and to link them to other fieldsand areas of action, using also strategies that in-volve the emerging inter-organizational arenas, suchas inter-municipal consortiums. The political decen-tralization of spheres of power may also stimulatechanges in political culture, hopefully overcomingthe existing clientelist practices within which cap-tive groups are attended to by this or the other partof the government machine.

12. 12. 12. 12. 12. The path to inter-sectorial working seems tolie in a territorial focus, bringing various elementstogether in a context where social control is possi-ble. The “place” is thus essential to action, be itsub-municipal, municipal or supra municipal. The cre-ation of enlarged public spheres where emancipa-tion and empowerment can lead to confrontation andconnection between services appears a positive

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course to follow. There are a large number of ac-tions happening in a bottom up manner, throughwhich people are managing to develop productiveactivities. Unfortunately there is a lack of attitudesand actions in the top - down direction; actions thatcould clear obstacles that reproduce, when not pro-duce, inequality and social exclusion. There is anurgent need to accept the challenge and face theinevitable conflict of positive discrimination and af-firmative action policies.

13.13.13.13.13. The issue of positive discrimination, or affir-mative action, becomes especially visible when pri-orities are discussed. Faced with the enormous num-bers of people in poverty situations, trapped in so-cio-economic relations of exclusion and inequality,what should the priority be? It was noted that manyinitiatives do not reach the people who are in themost precarious settings. Again there is the risk ofreproducing discrimination and exclusion in the veryactions intended to reduce poverty. To decide whoshould have priority is not an easy matter. Recog-nizing that all public policy in distributive in someway - that is, that there is no neutrality in publicpolicy - the question becomes that of to which sec-tor should distribution be effectively directed? Whoactually receives the benefits of public actions andwho should receive the benefits?

14.14.14.14.14. As the experiences were discussed, it be-came evident that the answer to the question raisedat the beginning of the workshop series “is there aspace for actions to combat poverty that lies be-tween the macro level of national policy and themicro level of individual solidarity?” was certainlyyes. Such a mid-range and subnational space doesexist. However, the actions that are emerging aretaking place in the absence of any coherent and ef-fective national public policy for income redistribu-tion and for poverty reduction.

15.15.15.15.15. The different local and sub-national arrange-ments that are being formed are diverse in nature.

They can involve state, municipal and regional or-ganizations, or local agencies of national govern-ment, alliances with non-governmental and commu-nity organizations, companies and cooperatives, anda large variety of civil institutions and organizations,amongst which the Catholic church continues to dem-onstrate a specific and exemplary competence. Allhave much to contribute and can point to possiblecourses of action that arise out of simple and con-crete solutions. However, it is necessary to reiter-ate that these cannot be considered as substitutesfor a much larger area of responsibility in which thenational government’s role is central. C

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1.1 .1 .1 .1 .During the discussions, it was clear that allpresent shared a feeling of moral indignation in re-lation to the widespread presence of poverty in Bra-zil; seeing this as a socio-economic product of anunequal and profoundly unjust society.

2.2.2.2.2. Even reaching a conclusion that there is spacefor action at the local or mid-range level, a spacethat must be urgently occupied and where initiativeshave shown heartening signs of achieving power andopportunity, the wider context within which the phe-nomenon of poverty and exclusion is built cannot beignored. Within this it is necessary to focus the dra-matic consequences of globalization and policies ofstructural adjustment that do not take into consid-eration social concerns. There is an urgent needfor effective public policies that ensure a social mini-mum, that are sensitive to issues of gender, of child-hood and adolescence. There are already many lo-cal level examples on which to draw.

3.3.3.3.3.Faced with the need to act to transform reality,attention can be drawn to several issues. Amongstthese are: the importance and difficulty of creatinginter-sectorial approaches: the need for public poli-cies that stimulate co-responsibility and active par-ticipation; the presence in social policies of the issueof employment and income seen from the viewpoint

of a social minimum as a fundamental right; the abil-ity to effectively reach the most vulnerable groups;the importance of giving greater visibility to new in-ter-organizational mechanisms; and the formative roleof new mechanisms to control public actions.

4 .4 .4 .4 .4 . The proliferation of Consultative Councils andother formal instances of decision and debate in thepublic policy environment cannot be ignored. Easilyappropriated by the dominant interests of specificelites and professional groups, their potential forhorizontal linkage and the complementarity of theirfocal areas can also offer opportunity for other sortsof relation and a different balance of power. Unfor-tunately, there are many examples of situationswhere information and opportunities do not get towhere they are really meant to, and where the for-mal or legislated requirements for consultation cre-ate barriers that impede what is being sought: thecommunity’s effective involvement.

5.5.5.5.5. There was consensus about conceiving the lo-cal space as a “place”, not translatable as any spe-cific government level, but seen as where the logic ofproximity, of encounter and of confrontation becomespossible. The “place” is not given, but is defined andredefined through actions that are themselves linkedto a wider context of relations. It is a stimulus for ethi-

New questions

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cal and civic practices on behalf of public agents andalso for the development of forms of evaluation thathelp debate and produce knowledge.

6.6.6.6.6. The range of actions currently emerging does,without doubt, reposition the role of the State, butdoes not reduce its central role in combating povertyseen within the framework of exclusion and socialinequality. The solutions being developed by themultiple organizations of civil society do point to awider social responsibility and civic involvement, butthey do not, in any way, release public organizationsfrom their obligations to create and sustain equallyresponsible and committed programs of action.

7.7.7.7.7. The local solutions that are generated to tackleunemployment and income generation are frequent-ly results of actions that favor micro-credit and train-ing, but are also characterized by dialogue and directsupport to target populations. To learn to recognizeand respect existing and different bases o knowledgeand take into consideration the importance of soli-darity in everyday life, are factors that create condi-tions for the success of poverty reduction programsand projects. To attain concrete results it is neces-sary to make lines of support and technical expertisefar more flexible than is currently the case; a chal-lenge that many public programs and organs havedifficulty in assuming. The gap that is created as aconsequence, is in itself an expression of the perma-nent production and reproduction of inequality andsocial exclusion. In short, the public sector, its orga-nizations and staff does not seem to be prepared, oreven inclined, to face seriously the need to reducepoverty, exclusion and inequality in Brazil.

8 .8 .8 .8 .8 . Civic emancipation and the conquest of activecitizenship is a process in which paternalist protec-tion mechanisms have to be destroyed and culturaland educational possibilities and openings increased.It is necessary to identify and give visibility to prac-tices that give voice and priority to a greater num-ber of people, favoring the creation of new public

spaces. Any program to combat poverty must rec-ognize itself as being part of this process and mustbe evaluated as such.

9 .9 .9 .9 .9 . The local arena, as a “place”, is the startingpoint in the process of confronting poverty and mustbe given greater priority. The construction of dif-ferent methods to independently identify and evalu-ate innovative practices and potential solutions, is aservice that society needs. Brazil lacks the traditionof the effective evaluation of public policies bygovernment’s own agencies. Information on the het-erogeneity of poverty and inequality, as well as onthe results and impacts of actions (both positive andnegative) is essential to avoid the phenomenon loos-ing its socio-political shape and becoming a ques-tion of individual “misfortune”. The creation of in-dicators for evaluation and of an independent baseof socially adequate statistics is extremely impor-tant at this moment.

10.10.10.10.10. Lack of income is not synonymous with pov-erty, but it is an important factor to be considered,calling attention to the consequences of those socio-economic relations which constitute everyday life.However, actions in this area must recognize theimportance of political emancipation and the involve-ment of local players in the discussion of the devel-opment of their “place”. Such actions must be initi-ated from solid, simple and participatory bases thatfocus concrete and sustainable results.

11.11.11.11.11. Planned multi-sectorial integration and com-plex elaborate strategies of intervention seem to havelittle effect when adopted as a starting point for ac-tion within the context of the “place”. The differentexperiences show that integration and complexity,when they occur, are normally the results of a gradualprocess of taking advantage of opportunities, of learn-ing through doing and of confrontation and conflict.In this way possibilities of joint coordination and de-bate are opened up within the time frames and theavailable choices of social actors and events.

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Lista de participantesLista de experiências

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Adauto Cardoso(IPPUR)Prédio da reitoria, sala 543Cidade UniversitáriaRio de janeiro – RJ21941-590Fone: (0xx21) 2564-4046Fax: (0xx21) [email protected]

Ademar Marques(Frente das ONGs dePernambuco)Rua Frei Jabotão, 280apto. 302/5Recife - PE50710-030Fone: (0xx81) 288-0682/462-7150Fax: (0xx81) 462-8384

Ademir Margenti Castro(Assembléia Legislativa- AssessoriaComunitária deSaneamento)Praça Marechal Deodoro, 101 –4º andar / sala 410Porto Alegre – RS90010-300Fone: (0xx51) 3210-1300Cel: (0xx51) [email protected]

Adler do Couto(Ministério daIntegração Nacional)SQN 203 Bloco K apto. 502Brasília – DF70833-110Fone: (0xx61) 327-9608Fax: (0xx61) [email protected]

Ana Britto(PROURB/UFRJ)Rua Alberto de Campos, 40 - 102Rio de Janeiro – RJ22421-020Fone: (0xx21) 2247-3490 /2598-1990Fax: (0xx21) [email protected]

Ana Christina Barbosa(BNDES)Av. República do Chile, 10014º andarRio de Janeiro –RJ20139-900Fone: (0xx21) 2277-7447

Ana Clara TorresRibeiro (FASE-Nacional/IPPUR/UFRJ)Prédio da Reitoria – Sala 543Ilha do FundãoRio de Janeiro – RJ20241-201Fone: (0xx21) 2590-1191 /2598-1911Fax: (0xx21) [email protected]

André Monteiro Costa(CpqAM/SaúdeColetiva/FIOCRUZ)Av. Moraes Rego, S/N -Cidade UniversitáriaRecife – PE50670-420Fone: (0xx81) 3302-6506Fax: (0xx81) [email protected]

Antônio Ibañez Ruiz(Ministério daEducação)SQN 211 – Bloco C – apto. 603Brasília – DF70863-030Fone: (0xx61) 273-0713Fax: (0xx61) [email protected]

Armando Mendes(UFPA)SHS – Q.02 – Bloco Japto. 314Brasília – DF70327-900Fone/fax: (0xx61) [email protected]

Beatriz Saldanha(Couro Vegetal daAmazônia/TREETAP)Rua General Almério de Moura,200 - São CristóvãoRio de Janeiro – RJ20921-060Fone/Fax: (0xx21) 3878-2131 /2286-7314Fax: (0xx21) 3878-2131e-mail:[email protected]

Berenice Ramos(Mutirão do Serrotão)Praça da caixa d’água, S/N –Mutirão do SerrotãoCampina Grande – PB58100-990Fone: (0xx83) 334-9166

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Betânia Ávila(SOS Corpo)Rua Real da Torre, 593MadalenaRecife – PE50610-000Tel: (0xx81) 3445-2086Fax: (0xx81) [email protected] /[email protected]

Brasilmar Nunes (UNB)Campus Universitário DarciRibeiroAsa NorteInstituto de Ciências Sociais –Depto. SociologiaBrasília – DF70910-900Fone: (0xx61) 307-2389 /272-4125Fax: (0xx61) [email protected]

Brian Wampler(Boise State University)Boise, ID83725EUAFone: (+1) 208 426-2650Fax: (+1) 208 [email protected]

Caio Silveira (NAPP-RJ)Rua Júlio de Castilhos, 63 –7º andar – Sl. 701 –CopacabanaRio de Janeiro – RJ22081-020Fone: (0xx21) 2287-5075Fax: (0xx21) [email protected] /[email protected] /[email protected]

Carlos Osório(BNDES/PNUD)Rua Antonio Lumack do Monte, 96Empresarial Center 2 Sala 402Boa VagemRecife – PE51020-350Fone: (0xx81) 3327-6994 /3327-6998Fax: (0xx81) 3327-6994 /[email protected]

Carlos Pontes(FIOCRUZ)Rua dos Navegantes, 727apto. 404 – Boa ViagemRecife – PE51021-010Fone: (0xx81) 3302-6506Cel: (0xx81) 9968-9733Fax: (0xx81) [email protected]

Celso Junius (ParqueNacional da Tijuca/SMAC)Estrada da Cascatinha, 850 –Alto da Boa VistaRio de Janeiro – RJ22531-590Fone: (0xx21) 2492-2252 /2492-2253Fax: (0xx21) [email protected]

Celso Mendes deCarvalho (Web-Brazil)Rua Alameda das Acácias, 394 –Cidade JardimPirassununga – SP13632-494Fone: (0xx19) 3561-8132 /3562-2962(0xx19) [email protected]

Cristovam Buarque(Ministério daEducação)Esplanada dos Ministérios -Bloco L - Ed. Sede - 8º AndarGabineteBrasília - DF70.047-900Fone: (0xx61) 410-8543 /410-8520Fax: (0xx61) [email protected]

Cunca Bocayuva(FASE-Nacional)Rua das Palmeiras, 90Rio de Janeiro – RJ22270-070Fone: (0xx21) 286-1441Fax: (0xx21) [email protected]

Eduardo Homem(TV VIVA)Rua de São Bento, 344Recife – PE53020-080Fone: (0xx81) 3429-4109Fax: (0xx81) [email protected]

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Elizabeth Leeds(Fundação Ford)Praia do Flamengo, 1548o. andarRio de Janeiro – RJ22210-030Fone: (0xx21) 2556-1586 –ramal: 116Fax: (0xx21) [email protected]

Fábio Atanásio(UNICEF)Rua Henrique Dias, s/nº EdifícioIRH Térreo - DerbyRecife – PE52010-100Fone: (0xx81) 3423-3171Fax: (0xx81) [email protected]

Fernanda Costa(Instituto Pólis)Rua Araújo, 124 – Vila BuarqueSão Paulo – SP01220-020Fone: (0xx11) 3258-6121ramal 232Fax: (0xx11) [email protected]

Franklin Coelho(UFF/VIVA RIO)Av. Rui Barbosa, 20/301Rio de Janeiro – RJ22250-020Fone: (0xx21) 2826-1905Fax: (0xx21) [email protected]

Graciete Santos(Casa da Mulher doNordeste)Rua Lopes de Carvalho, 320Bairro MadalenaRecife – PE50610-170Fone: (0xx81) 3227-0281/3227-0531Fax: (0xx81) 3227-0281/[email protected]

Grazia de Grazia(FASE-NACIONAL)Rua das Palmeiras, 90Rio de Janeiro – RJ22270-070Fone: (0xx21) 2286-1441 /552-2260Fax: (0xx21) [email protected] /[email protected]

Gustavo Krause(Multi Consultoria)Av. Agamenon Magalhães, 2656Ed. Emprl. A. MagalhâesRecife – PE52020-000Fone: (0xx81) 3427-6100Fax: (0xx81) [email protected]

Iraci Reis (PUC-SP)Rua Caiubi, 662 – Casa 10São Paulo – SP05010-0000Fone: (0xx11) [email protected]

Isabelle Wolff(Ass. Terra dosHomens)Rua Pinheiro Guimarães, 88BotafogoRio de Janeiro – RJ22281-080Fone: (0xx21) 2286-0866Fax: (0xx21) [email protected]

Ismael Ferreira deOliveira (APAEB)Rua Duque de Caxias, 78Valente – BA48890-000Fone: (0xx75) 263-2181 /263-2356Fax: (0xx75) [email protected] /[email protected]

Jacqueline Rosas Silva(Regional Noroeste/Programa HabitarBrasil/PMBH)Rua Peçanha, 144 / 7º andarCarlos PratesBelo Horizonte – MG30710-040Fone: (0xx31) 3277-7694Fax: (0xx31) 3277-7661 [email protected]

Jan Bitoun (UFPE)Av. Sigismundo Gonçalves, 176Olinda – PE53010-240Fone: (0xx81) 3429-0424Fax: (0xx81) 3429-0424 [email protected]

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Joanildo Burity(FUNDAJ/UFPE)Rua dois Irmãos, 92 – ApipucosRecife – PE52071-440Fone: (0xx81) 3441-5900ramal: 298Fax: (0xx81) [email protected] /[email protected]

João Luiz Homem deCarvalho (APROVE)SCLRN 716 – Bloco F – Loja23SubsoloBrasília – DF70770-666Fone/Fax: (0xx61) [email protected]

José Carlos Vaz(Intituto Polis)Rua Araújo, 124 – CentroSão Paulo – SP01220-020Fone: (0xx11) 3258-6121Fax: (0xx11) [email protected] /[email protected]

Josias Farias Neto(Projeto São José)Av. Bezerra de Menezes, 1820Fortaleza – CE60320-901Fone: (0xx85) 287-3646Fax: (0xx85) [email protected]

Kátia Lubambo(FUNDAJ/UFPE)Rua Dois Irmãos, 92 – ApipucosRecife – PE52071-440Fone: (0xx81) 3441-5900Ramal 313Fax: (0xx81) 3441-3228lubambo@[email protected]

Kléber Montezuma(Secretaria Municipalde Educação e Cultura)Rua Areolino de Abreu, 1507 -CentroTeresina – PI64000-180Fone: (0xx86) 215-7930Fax: (0xx86) [email protected]

Ladislau Dowbor(PUC-SP)Rua Sepetiba 1102São Paulo – SP05052-000Fone: (0xx11) 3872-9877Fax: (0xx11) [email protected]

Leda MariaAlbuquerqueRua Paulo Rio Branco deMacedo, 791 – Sítio CercadoCuritiba – PR81925-587Fone/Fax: (0xx41) 289-7300Cel: (0xx41) [email protected]

Lília Aparecida deToledo Piza MartinsRua Luiz Rasera, 300 - apto 51Edifício FerraraPiracicaba – SP13417-530Fone: (0xx19) 3411-1899Cel: (0xx19) [email protected]

Lívia Miranda(FASE-Nordeste)Rua Viscondessa doLivramento,168 - DerbyRecife – PE52010-060Fone/Fax: (0xx81) 3221-5478 /[email protected]

Luís de la Mora (UFPE)Av. Prof Moraes Rego, s/nCentro de Artes e ComunicaçãoCidade UniversitáriaEngenho do MeioRecife – PEFone: (0xx81) 3268-7333Cel: (0xx81) 9166-9686Fax: (0xx81) 3271-8772

Luiz César Ribeiro(IPPUR/UFRJ)Prédio da Reitoria, SALA 543Cidade UniversitáriaRio de Janeiro – RJ21941-590Fone: (0xx21) 2598-1932 /2598-1929Fax: (0xx21) [email protected]

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Manoel Marcos MacielFormiga (Ministério daIntegração Nacional/Secretário Extraordináriodo Desenvolvimento doCentro-Oeste)Esplanada dos Ministérios Bl. “A”9º andarBrasília – DF70.054-900Fone: (0xx61) 414-5621 /414-5606 / 414-5622 /[email protected]

Marcus Melo (UFPE)Av. Flor de Santana, 342apto. 101 – Casa-ForteRecife – PE52060-290Fone: (0xx81) [email protected]

Maria da Luz Magalhães(Promoção Social noGoverno de Angola)Rua Sylo Bittencourt, 284Ed. Bélgica, 103B – SetúbalRecife – PE – 51030-080Fone: (0xx81) 3462-4718

Maria do Carmo BrantDe Carvalho(CENPEC /PUC)Rua Tatuí, 123, apto. 41São Paulo - SP01409-010Fone: (0xx11) 3063-4289 /3816-0666(0xx11) 9994-8270Fax: (0xx11) [email protected] /[email protected]

Maria do CarmoMeirelles (CEPAM)Av. Professor Lineu Prestes, 913Cidade UniversitáriaSão Paulo – SP05508-900Fone: (0xx11) 3811-0300Fax: (0xx11) [email protected]

Maria Magdalena Alves(Prefeitura de SantoAndré)Av. Ipiranga, 1138 – Apto.63São Paulo – SP01040-000Fone: (11) 3326-1308 /[email protected]

Mariângela BelfioreWanderley (Instituto deEstudos Especiais -PUC-SP)Rua Ministro Godoy, 121305015-001Fone: (0xx11) 3871-4429Fax: (0xx11) [email protected]

Marilena Jamur(PUC-RJ)Rua Marquês de São Vicente,225 BotafogoRio de Janeiro – RJ22453-400Fone: (0xx21) 2295-8965Fax: (0xx21) [email protected]

Marília Andrade(Instituto de ServiçoSocial de Lisboa)Rua José Purificação Chaves, 62ºDTO – 1500Lisboa – Portugal

Marta Farah(FGV/EAESP)Av. 9 de Julho, 2029Prédio da Biblioteca, 2º AndarSão Paulo – SP01313-902Fone: (0xx11) 3281-7904 /3281-7905Fax: (0xx11) [email protected]

Marta Pordeus (URBE)Av. Oliveira Lima, 867Boa VistaRecife – PE50050-390Fone: (0xx81) 3421-5077ramal: 131

Marta Prochnik(BNDES)Av.República do Chile, 10014º andar20139-900Fone: (0xx21) 2277-7393Fax: (0xx21) [email protected]

Mirna Pimentel (UFPE)Av. Conselheiro Aguiar, 2626 / 401Recife – PE51020-020Fone/Fax: (0xx81) 3227-3004Cel: (0xx81) [email protected]

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Nádia Somekh(Prefeitura de SãoPaulo/Mackenzie)Rua São Bento, 40516 andar – sala 162São Paulo – SP01008 906Fone: (0xx11) 3241-4991Ramal: 200Fax: (0xx11) [email protected] /[email protected]

Neide Silva (ETAPAS)Rua da Soledade, 243 e 249 -Boa VistaRecife – PE50070-040Fone: (0xx81) 3231-0745 /3231-1075Fax: (0xx81) [email protected]

Nilson do Rosário CostaRua Leopoldo Bulhões, 1480 /sala 91321041-210Rio de Janeiro – RJFone: (0xx21) 2598-2645Cel: (0xx21) 9958-8744Fax: (0xx21) [email protected]

Orlando Júnior(FASE-NACIONAL)Rua das Palmeiras, 90Rio de Janeiro – RJ22270-070Fone: (0xx21) 2286-1441Fax: (0xx21) [email protected]

Osmil Galindo(FundaçãoJoaquim Nabuco)Av. Dois Irmãos, 9252071-440Recife – PEFone: (0xx81) 3441-5900Fax: (0xx81) [email protected]

Pablo Sidersky(AS-PTA)Caixa Postal, 33Esperança – PB58135-000Fone: (0xx83) 361-9040Fax: (0xx83) [email protected]

Paul Singer(Ministério do Trabalho)Rua Rio de Janeiro, 338 / 1São Paulo – SP01242-010Fone: (0xx11) 3818-6073Fax: (0xx11) [email protected]

Paulo Henrique Martins(UFPE)Rua José Tavares da Mota, 90casa 7 – IputingaRecife – PE50670-340Fone: (0xx81) [email protected] /[email protected]

Pedro Jacobi (USP)Rua do Anfiteatro, 181 –Colméia Favo 15 – CidadeUniversitáriaSão Paulo – SP05508-900Fone: (0xx11) 3091-3235Fax: (0xx11) [email protected]

Pedro Lima (ProgramaMédico de Famíliade Niterói)Av. Amaral Peixoto, 171sala 313 / 3º andarRio de Janeiro – RJ24020-071Fone: (0xx21) 2622-4348 /[email protected]

Ricardo Beltrão(FGV/PUC)Rua Caiubí, 622 – casa 10São Paulo – SP05010-000Fone: (0xx11) 3873-0745 /[email protected]

Ricardo Mello(CEDAC-RJ)Rua Benjamin Constant, 108GlóriaRio de Janeiro – RJ20241-150Fone: (0xx21) 2509-0263Fax: (0xx21) [email protected] /[email protected]

Page 231: Este projeto foi realizado com o apoio Doação n · Galinhas, Pernambuco, com o objetivo de comparti-lhar todo o conhecimento construído ao longo das oficinas, como também apontar

Robert Wilson(UT-Austin)1201 Castle Hill St - apto. 105Austin – TX78703Fone: (+1) 512 480-0583Fax: (+1) 512 [email protected]

Roseni Reigota(CENPEC)Rua Des. Euclides Campos, 3205030-050São Paulo – SPFone: (0xx11) 3871-5004Cel: (0xx11) [email protected]

Serafim Ferraz(Banco do Nordeste)Av. Paranjana, 5700bloco E2 – TérreoFortaleza – CE60740-000Fone: (0xx85) 299-3091Fax: (0xx85) [email protected] /[email protected]

Sílvio Caccia Bava(Instituto Polis)Rua Araújo, 124 – CentroSão Paulo – SP01220-020Fone: (0xx11) 3258-6121Fax: (0xx11) [email protected]

Sônia Café (BNDES)Av. República Do Chile, 10016º andarRio de Janeiro – RJ20139-900Fone: (0xx21) 2277- [email protected]

Sonia Maria DiasRua Dom Pedrito, 359Nova VistaBelo Horizonte – MG31070-080Fone: (0xx31) 3488-1848 /(0xx31) [email protected]

Sueli Guimarães(Fundação JoaquimNabuco)Av. Dois Irmãos, 92 – ApipucosRecife – PE52071-440Fone: (0xx81) 3441-5900Ramal 313Fax: (0xx81) [email protected]

Suely Maria RibeiroLeal (UFPE)Rua Prof. Júlio Ferreira de Melo,490 / Casa U - Boa ViagemRecife – PE51020-231Fone: (0xx81) 466-2625 /3326-1992Fax: (0xx81) [email protected] /[email protected]

Tânia Zapata(BNDES/PNUD)Rua Antonio Lumack Do Monte,96 / Empresarial Center 2Sala 402 – Boa ViagemRecife – PE51020-350Fone / Fax: (0xx81) 3327-6994/[email protected]

Telúrio Cavalcanti(SUDENE – Diretoria deProgramas Sociais)Praça Ministro João Gonçalvesde Souza, s/n – ed. Sudene12º andar - sala 12022Recife – PE50670-900Fone: (0xx81) 3416-2717 /3416-2719Fax: (0xx81) 3271-3385

Tereza Lima(Banco do Nordeste)Av. Paranjana, 5700 - bloco BSuperior - PassaréFortaleza – CE60740-000Fone: (0xx85) 299-3446 /299-3449Fax: (0xx85) [email protected]

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Valdi DantasSHCN CL, Qd 406, Bloco C,Nº 50, sala 107 – Asa NorteBrasília – DF70847-530Fone: (0xx61) [email protected]

Vando Nogueira (Con-sultor Independente)Rua Marquês de Marica, 88/404Recife – PE50711-120Fone/Fax: (0xx81) [email protected]

Vânia RibeiroRua Ana Vitória - CJ Paulo CésarQuadra D – Casa 6Rio Branco – AC69912-510Fone: (0xx68) 226-1174vâ[email protected]

ExperiênciasAssociação de Apoioà Verticalização daPequena ProduçãoRural – APROVESCLRN 716, Bloco F,loja 23 subsoloBrasília – DF70.770-566Telefax: (0xx61) [email protected]

Associação dosCatadores de Papel,Papelão e MateriaisReaproveitáveis –ASMAREAv. do Contorno, 10.555Bairro PretoBelo Horizonte – MG30110-140Fone: (0xx31) 3201-0717Fax: (0xx31) [email protected]

Programa Bolsa-Escola(Missão Criança)SCLN 107 – Bloco C – Entrada51 – sala 101 – ed. GeminiCenter, Brasília – DF70743-530Fone: (0xx61) 273-4620Fax: (0xx61) 274-0295 / [email protected]

Programa Unidade deTriagem (Prefeiturade Porto Alegre –Departamento Munici-pal de Limpeza UrbanaAvenida Azenha, 631Porto Alegre – RS90160-001Fone: (0xx51) 3289-6999Fax: (0xx51) [email protected]

Projeto Mutirão

Reflorestamento(SMAC/RJ)Rua Afonso Cavalcanti, 45512º andar – sl. 1271Rio de Janeiro – RJ20211-110Fone: (0xx21) 2503-2977Fax: (0xx21) 2293-0595/[email protected]/smac

Meio Ambiente eCidadania (UNICEF)Rua Henrique Dias, s/nºEdifício IRH - térreoBairro DerbyRecife – PE52010-100Fone: (0xx81) 3423-3171Fax: (0xx81) [email protected]

Ação Integrada nosBolsões de PobrezaRua Maria Jorge Selim de Sales,100 – 5º andar da PMIIpatinga – MG35160-011Fone: (0xx31) 3829-8505Fax: (0xx31) 3829-8523www.ipatinga.mg.gov.br

Programa deReassentamentode FamíliasAv. Praça Marechal Deodoro,860 4º piso - CentroTeresina – PI64000-160Tel: (0xx86) 215-7520Fax: (0xx86) [email protected]

Page 233: Este projeto foi realizado com o apoio Doação n · Galinhas, Pernambuco, com o objetivo de comparti-lhar todo o conhecimento construído ao longo das oficinas, como também apontar

Plano de Regularizaçãodas Zonas Especiaisde Interesse Social –PREZEIS (FASE –Recife)Rua Viscondessa do Livramento,168 – DerbiRecife – PE52010-060Fone/Fax: (0xx81) [email protected]

Programa Saúde daFamília de CuritibaAv. Sete de Setembro, 3497Curitiba – PR80250-210Fone: (0xx41) 322-4222 /[email protected]

Estão de Mudança para:Av. João Gualberto, 62380030-000

Programa Médico deFamília de NiteróiRua Visconde de Sepetiba, 9878º andar – CentroNiterói – RJ24.020-206Fone: (0xx21) 26224348Fax: (0xx21) [email protected] /[email protected]

Associação dosPequenos Agricultoresdo Município deValente – APAEBRua Duque de Caxias, 78Valente – BA48890-000Fone: (0xx75) 263-2181 /263-2356 / 624-3803Fax: (0xx75) 263-2236 /(0xx75) [email protected]

Programa de Apoio aoDesenvolvimento LocalBNDES - PNUD*Rua Antonio Lumack do Monte, 96Empresarial Center 2Sala 402Boa Viagem, Recife – PE51020-350Fone: (0xx81) 3327-6994/3327-6998Fax: (0xx81) 3327-6994/3327-6998

Programa CouroVegetal da Amazônia -TREETAPRua General Almério de Moura,200 – São CristóvãoRio de Janeiro – RJ20921-060Fone: (0xx21) 3878-2131Fax: (0xx21) [email protected]

Projeto São JoséAv. Bezerra de Menezes, 1820Fortaleza – CE60320-901Fone: (0xx85) 287-3646Fax: (0xx85) 287-4435 [email protected]

Pólo AgroflorestalRua Antônio da Rocha Viana, s/nHorto-Florestal – Vila IvoneteRio Branco – AC69914-610Fone: (0xx68) 228-2894 /228-2394Fax: (0xx68) [email protected]

Projeto Cidadaniae Ação Comunitária -CENPECRua Dante Carraro, 68São Paulo – SP05422-060Fone: (0xx11) 3816-0666Fax: (0xx11) [email protected]

Sistema CEAPESHIS QI7, bloco B, salas 203 e204, entrada 24 – Lago SulBrasília – DF70615-570Fone: (0xx61) 248.7132Fax: (0xx61) [email protected]

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Page 234: Este projeto foi realizado com o apoio Doação n · Galinhas, Pernambuco, com o objetivo de comparti-lhar todo o conhecimento construído ao longo das oficinas, como também apontar

Programa Saúdeda Família Mutirãodo SerrotãoPraça da Caixa D’Água, s/nMutirão do SerrotãoCampina Grande – PB58100-990Fone: (0xx83) 334-9166

* originalmente vinculado aoBanco do Nordeste

Câmara do Grande ABCPraça IV Centenário, nº 2Centro, Santo André – SP09.015-080Fone: (0xx11) 4469-8000Fax: (0xx11) [email protected]

Programa Nacionalde Fortalecimento daAgricultura Familiar –PRONAF(Ministério doDesenvolvimentoAgrário/Secretaria deAgricultura Familiar)SBN, Ed.Palácio doDesenvolvimento, 6º andarBrasília – DF70057-900Fone: (0xx61) 426-9966/9910Fax: (0xx61) [email protected]

PRONAF – PEAv. Caxangá, 2200 – CordeiroRecife – PE50.711-000Fone: (0xx81) 3228-0690Fax: (0xx81) [email protected]

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