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Este é um Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à disciplina de Pesquisa e Monografia V, como requisito parcial à conclusão do curso de Teologia Espírita da Faculdade Doutor Leocádio José Correia. Orientador: Prof. Msc. Cleusa Fuckner (TRABALHO REFORMATADO PELA AUTORA, PARA EXPOSIÇÃO NO RECANTO DAS LETRAS) PELAGIO, UM MONGE DO SÉC. V E A DOUTRINA DOS ESPÍRITOS: Aproximações entre a Doutrina Pelagiana e a Doutrina Espírita A liberdade é o maior fruto da auto- suficiência. Epicuro. Deus move o céu inteiro naquilo que o ser humano é incapaz de fazer. Mas não move uma palha naquilo que a capacidade humana pode resolver. Antigo ditado oriental

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Este é um Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à disciplina de Pesquisa e Monografia V,

como requisito parcial à conclusão do curso de Teologia Espírita da Faculdade Doutor Leocádio José

Correia.

Orientador: Prof. Msc. Cleusa Fuckner

(TRABALHO REFORMATADO PELA AUTORA, PARA EXPOSIÇÃO NO RECANTO DAS LETRAS)

PELAGIO, UM MONGE DO SÉC. V E A DOUTRINA DOS ESPÍR ITOS:

Aproximações entre a Doutrina Pelagiana e a Doutrin a Espírita

A liberdade é o maior fruto da auto-suficiência.

Epicuro.

Deus move o céu inteiro naquilo que o ser humano é incapaz de fazer.

Mas não move uma palha naquilo que a capacidade humana pode resolver.

Antigo ditado oriental

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1 INTRODUÇÃO

Por dois milênios, o cristianismo permeia a história, a cultura, a filosofia, a

literatura e a arte ocidental. É a filosofia de vida que mais fortemente caracteriza

nossa sociedade, construindo costumes, ditando normas e padrões de

comportamento. E grande parte destes costumes tem suas bases e fundamentos

nos primeiros cinco séculos de nossa era, onde pensadores e articuladores da Igreja

cristã que se estruturava, formularam suas teologias e dogmas, institucionalizados

pelos sínodos e concílios como o de Nicéia, que instituiu a Trindade e a divinização

de Jesus.

Ao longo do século V d.C., o Império Romano do Ocidente sofreu ataques

constantes dos povos bárbaros. Do confronto desses povos invasores com a

civilização romana em decadência desenvolveu-se uma nova estruturação européia

de vida social, política e econômica, que definiria o período medieval. Em meio ao

esfacelamento do Império Romano, a Igreja conseguiu manter-se como instituição

social mais organizada. Ela consolidou sua estrutura religiosa e difundiu o

cristianismo entre os povos bárbaros, mas preservando muitos elementos da cultura

pagã greco-romana.

No plano cultural, a Igreja passava a exercer amplo domínio, ao modelo do

Império que ruía, traçando um quadro intelectual em que a fé cristã era o

pressuposto fundamental de toda sabedoria humana, começando a demonstrar

intolerância violenta com as crenças opostas, que se seguiria por vários séculos.

O poder da Igreja consistia na crença irrestrita ou na adesão incondicional às

verdades reveladas por Deus aos homens. Verdades estas expressas nas Sagradas

Escrituras e devidamente interpretadas segundo a autoridade da Igreja. É neste

contexto histórico/religioso que se destaca Agostinho, bispo de Hipona (Santo

Agostinho), ideólogo da aliança entre Igreja e Estado e gerador da mentalidade

medieval aonde, mais tarde, baseados em suas justificativas, iria se legitimar os

abusos da Inquisição.

Esta monografia visa aproximar os princípios doutrinários cristãos

desenvolvidos no cristianismo primitivo antes dos concílios, com os da Doutrina dos

Espíritos, através da análise histórica e mais precisamente nas idéias de um de seus

pensadores, um monge da Bretanha chamado Pelagio, que viveu e desenvolveu sua

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Doutrina no séc. V, condenado como herege, que sustentava o livre arbítrio, a

capacidade humana em seguir as leis morais e a infinita justiça de Deus. Sobre

Pelagio, assim como acontecia com os hereges do cristianismo, pouco se sabe a

respeito das suas idéias, pois o material produzido era destruído. O que se conhece

sobre seu pensamento é através das citações e alusões que se opõem a ele e o

condenam, ou seja, pelos escritos de seus opositores.

Apesar das limitações encontradas devido ao pouco material acerca da

Doutrina Pelagiana, podem-se evidenciar as similitudes que há com a Doutrina

Espírita, justificando a argumentação de Allan Kardec, sobre a Doutrina dos Espíritos

ser um resgate do cristianismo primitivo.

O objetivo geral desta pesquisa está em aproximar os princípios da Doutrina

de Pelagio com os princípios da Doutrina Espírita, buscando comprovar as

semelhanças entre elas. Nos objetivos específicos a pesquisa parte da compreensão

do contexto histórico nos primeiros séculos da era cristã; a descrição da Doutrina de

Pelagio e a oposição de Agostinho, bem como os procedimentos para a qualificação

da Doutrina Pelagiana e seu criador em heresia.

O procedimento metodológico será a pesquisa bibliográfica, revisão de

literatura sobre os tópicos abordados e pesquisa teórica de fontes bibliográficas.

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2 PELAGIO, UM MONGE BRETÃO E SUA DOUTRINA

À época de Pelagio, a Igreja cristã tentava se estruturar, sustentada na

mentalidade de seus pensadores e articuladores, demonstrando a mudança radical

dos valores e costumes no já não tão grandioso Império Romano.

Roma, por mais de seis séculos de prosperidade e predomínio, sequer

vislumbrou uma ameaça próximo às suas muralhas. Tempo este que justificou o

jargão de Cidade Eterna. Mas no final do séc. IV e início do séc. V o futuro de seu

domínio já não parecia tão promissor.

Uma série de problemas assolava o Império Romano. Para alguns

historiadores, a batalha de Adrianópolis, em 378 fora a porta de entrada para as

invasões bárbaras, para outros foi a morte de Teodósio e conseqüentemente a

partilha territorial e co-regência entre os seus filhos Honório e Arcádio, em 395,

sendo este um ponto crucial para o enfraquecimento do Império.

De acordo com Aranha (2006, p. 87) o cristianismo já se tornara religião

oficial1, e com a adesão da elite, a Igreja assumiu cada vez mais a estrutura

hierarquizada ao modelo do Império, tendo representantes por todo seu território.

Diante da descentralização e fragmentação do Império Romano, a Igreja surge como

um pólo aglutinador:

O reconhecimento do Cristianismo como religião do Estado acrescentou à dupla centralização política e administrativa um novo elemento: a centralização religiosa. Representante de Deus na Terra, imagem viva da divindade, o Imperador é como um deus presente e corporal (...) ao qual se deve obediência como a Deus mesmo. (AQUINO, 1980, p. 257)

A conversão em massa para o Cristianismo começou pelas classes

populares, devido ao empobrecimento das camadas exploradas e oprimidas da

sociedade e o declínio do sistema econômico, onde as esperanças de uma vida

melhor ficavam transferidas para um Reino após a morte, pois os altos impostos

levaram camponeses à ruína, obrigando-os a buscar a proteção dos grandes

latifundiários em troca do cultivo da terra.

1 Em 313, pelo Edito de Milão, o Estado romano reconheceu oficialmente a religião cristã. (AQUINO, 1980, p. 257)

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A terra passou a ser propriedade de uma minoria privilegiada e o colonato

gradativamente substituiu a economia escravista, acentuando o retrocesso do

Império ocidental à economia ruralista, sem contar os ataques e invasões de povos

“bárbaros”.

Em 410, quando menos se esperava, Alarico – líder visigodo – sitia Roma

com seus exércitos arianos2 (seguidores da crença cristã fundada por Ário).

Tentativas de negociações de paz foram infrutíferas ao mesmo tempo em que a

miséria na cidade aumentava. Alarico exigia em troca das retaliações, todo o ouro e

prata e todos os escravos germânicos. Os romanos protestaram.

Não precisou muito esforço por parte das tropas invasoras para adentrar aos

portões e saquear toda a cidade. Roma era um retrato de devastação e ruína. Os

visigodos saquearam templo por templo, palácio por palácio, exceto as igrejas

cristãs. Alarico se proclamava cristão, e ao examinar os despojos, separou os

tesouros da igreja e ordenou a seus soldados que levassem os objetos sagrados

pelas ruas, com toda pompa, até as igrejas dedicadas a Pedro e Paulo e os

deixassem lá. (SHELLEY, 2004, p. 141)

A glória de Roma chegara ao fim, a cidade eterna não era eterna, e mesmo

após a partida dos visigodos, o mundo conhecido nunca mais seria o mesmo. Os

romanos, desesperados, apontavam para os lugares que antes haviam sido

ocupados pelas estátuas de seus deuses que tornaram Roma importante, indagando

a possibilidade de eles terem salvado a cidade se os últimos imperadores não

tivessem se voltado ao Deus cristão. Nada mais seria como antes; os costumes e os

valores, tanto na vida privada quanto na pública mudariam radicalmente.

Atônitos, frente a uma “tempestade apocalíptica”, muitos buscaram a salvação

na Igreja:

É um tempo que em Roma, os restos do paganismo desmoronam e acontece uma invasão massiva e uma admissão na Igreja de famílias pagãs, de grupos e indivíduos. Com isso, é introduzido também na Igreja, incrível laxismo. Para muitos, o motivo de sua conversão não era religioso, mas puro oportunismo. Via-se que o futuro pertenceria ao Cristianismo e por isso mudava-se a bandeira. É por isso, que

2 Seita fundada por Ário. Tratava do problema da natureza divina de Jesus Cristo. Ário afirmava que o Filho só possui uma divindade secundária e subordinada e que Jesus Cristo não é realmente Deus eterno, infinito e onipotente.

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muitos cristãos, nesta época, fazem expressamente a exigência de um cristianismo autêntico. Contra o laxismo, eles apelam à liberdade do homem de realizar sem restrições as exigências cristãs, tanto na vida privada quanto na pública. Eles refutam com todas as forças que de um paganismo convencional surja um cristianismo convencional. (GRESHAKE, apud ALMEIDA, 2005, p. 1)

Frente a este cenário que muitos cristãos devotos, como Pelagio, não viam

com bons olhos essa conversão em massa, pois julgavam que a Igreja não deveria

ser entendida como uma força mágica e poderosa, com a capacidade de salvar as

pessoas da mesma maneira que o paganismo.

Acerca de Pelagio, quase todas as informações são oriundas de seus

opositores, como Agostinho de Hipona e Jerônimo3, tornando muito difícil ter dados

corretos sobre sua vida.

Pelagio foi um monge dotado de muita força de vontade e profundo senso de

dever, eloqüência e alta didaxia em teologia. Seu ascetismo era reconhecido até por

seus opositores. Por onde quer que se manifestasse, atacava com severidade a falta

de comprometimento e a hipocrisia de alguns cristãos. Enfatizava o esforço e a

liberdade de agir corretamente.

O pouco que se sabe é que seria natural da Irlanda ou Escócia e nascido em

354. Esteve morando em Roma de 384 a 410 e na Palestina entre 410 e 411. De

personalidade austera e profunda, era talentoso, vivia em pobreza e tinha fama de

grande “santidade”.

Seus ideais eram: continência, castidade e humildade.

Devido a sua conduta, não demorava a formar um círculo de amigos e

admiradores ao seu redor, bem como seguidores, "(...) um leigo pio e culto, em

grande demanda nos círculos ascéticos de alta linhagem. Tinha muitos defensores

entre a aristocracia e diversos adeptos ricos, jovens e sinceros" (JOHNSON, 2001,

p. 142). Além de muitos senadores, cônsules e Clérigos (aristocracia romana).

Muitos destes seguidores doaram suas riquezas aos pobres e passaram a viver com

moderação, a exemplo de seus ensinamentos. Seus discípulos eram Celéstio,

advogado e monge e Juliano, bispo de Eclano.

3 São Jerônimo foi o tradutor oficial da Bíblia para o latim, graças ao conhecimento que tinha desta língua, do grego e do hebraico. O conjunto de sua tradução da Bíblia em latim chamou-se "Vulgata" e foi o texto usado largamente nos séculos posteriores, tornando-se tradução oficial com o Concílio de Trento.

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Ao chegar a Roma, por volta de 384, estimulado pelos debates teológicos,

ficou profundamente impressionado com a imoralidade do ambiente, e decidiu

começar uma reforma moralista junto aos sacerdotes romanos, pois Pelagio

percebeu que mesmo recebendo os sacramentos, isso não impedia os homens da

Igreja de pecar. Desenvolveu, portanto, sua Doutrina segundo a qual o homem

dependeria apenas de si para se salvar. Insatisfeito com exortações orais apenas,

Pelagio tentou também uma obra de renovação moral por meio de seus escritos.

Não é possível listar com exatidão os escritos de Pelagio, mas há cinco

escritos que ele próprio designa como seus:

- Epistula ad Paulinum Nolarum

- Epistula ad Demetriadem

- Epistula ad Constantium

- Epistula ad Innocentium, exhibens libellum fidei

- De libero arbítrio libri quatuor

Pelagio manifestava uma crença muito grande no homem; e foi neste

contexto histórico de transição e crença em um fim apocalíptico que este monge de

rigor ético e seus seguidores, desenvolvem sua doutrina humanista.

Não é sem razão que, neste ambiente histórico muitos cristãos sérios, como Pelagio e seus discípulos, entoem o mesmo apelo, que poderíamos definir como da não confirmação do final do mundo, mas de esperança de solução para aquela situação tão caótica. (ALMEIDA, 2005, p. 2)

2.1 SUA DOUTRINA

Os fundamentos da doutrina de Pelagio (Pelagianismo)4 podem ser

sintetizados em dois princípios: absoluta liberdade e auto-suficiência do homem e

justiça infinita de Deus. Sua doutrina consistia principalmente na oposição à teoria

da graça e da predestinação.

Para Pelagio, a responsabilidade implicava sempre em capacidade, ou seja,

uma obrigação moral necessariamente implicava em capacidade moral. Se o homem

tem a responsabilidade moral de obedecer à lei de Deus, deve também ter a

4 Pelagio é considerado o pai da doutrina – causa da origem do nome Pelagianismo ou doutrina pelagiana. (ALMEIDA, 2005, p. 5).

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capacidade moral de fazê-la. A vontade humana é perfeitamente livre, dependente

apenas de si para evitar o "pecado".

Pelagio sustentava basicamente que todo homem nasce moralmente neutro,

e que é capaz, por si mesmo, sem qualquer influência externa, de converter-se a

Deus e obedecer ao seu comando, quando assim o desejar. O homem não

necessita da ajuda divina (graça) para observar os mandamentos. O homem pode,

sempre com o livre arbítrio, cumprir os mandamentos e não "pecar".

Embora a graça pudesse facilitar a realização do que é correto, ela não seria

necessária a essa finalidade, ou seja, apenas facilitaria o que qualquer homem

estaria em condições de cumprir com as próprias forças de sua natureza.

Quanto à justiça infinita de Deus, Pelagio sustentava que Deus sendo justo,

não pode impor-nos algo que supere nossas forças, e não pode dar a alguém um

auxílio maior que a outrem, como no caso da predestinação, onde Deus

predestinaria uns à salvação e outros à "danação", independente de suas obras. Isto

levou Pelagio à completa negação do pecado original. Afirmava que a queda de

Adão tinha afetado somente a Adão; não tinha nenhum poder hereditário. O pecado

de Adão foi só seu; a humanidade não tem de pagar por isto.

Era impossível, para Pelagio, a alma trazer consigo algo que não é culpa sua,

pagar por algo que não cometeu, pois contraria a infinita justiça divina, sendo que

Deus seria injusto imputando-nos uma culpa que nos é alheia. O que a Humanidade

herdou de Adão foi somente o seu mau exemplo, a sua desobediência. Portanto, a

morte não é castigo ao pecado5. Adão e todos os seus descendentes morreriam,

mesmo que ele não tivesse pecado, pois a morte não é conseqüência da sua

desobediência; morrer faz parte da condição humana. "Adão introduziu o pecado no

mundo, mas apenas por seu mau exemplo e não há ligação entre seu pecado e a

condição moral da Humanidade." (SHELLEY, 2004, p. 146).

O homem natural não é concebido em pecado. Sendo assim, a vontade

humana não está presa a uma natureza pecaminosa e seus atributos; apenas as

escolhas determinam se alguém irá obedecer a Deus, e assim ser "salvo". O perdão

de Deus é oferecido a todos que exercitam a fé, e mesmo perdoado, o homem tem

5 “Eis porque, como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram...” (Rom. 5,12)

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em si o poder de decidir que caminho moral seguir. "Pelagio, portanto, não via a

necessidade do poder capacitador do Espírito Santo. Seu conceito de vida cristã era

praticamente a concepção do autocontrole ascético." (p.147).

Conseqüentemente, como o homem não nasce com o pecado original,

Pelagio não via necessidade do batismo para crianças, ainda mais as recém-

nascidas, pois ainda não fazem o uso da razão. O batismo é para a "remissão dos

pecados" e só tem validade para adultos, pois redime os pecados cometidos

anteriormente por cada indivíduo, e não um pecado cometido por outrem, como no

caso de Adão.

Ao contrário das acusações de seus adversários, Pelagio não era contra o

batismo, apenas julgava desnecessário a crianças6; ele entendia que a graça foi

dada ao homem no ato criacional (capacidade moral e livre-arbítrio), é da própria

natureza humana. Se o homem tiver força de vontade e quiser, ele poderá ser salvo;

bastando praticar as virtudes, ser orientado pelo livre arbítrio (capacidade de julgar

entre o bem e o mal) e seguir a lei moral7.

Para Pelagio, Jesus Cristo é o bom exemplo que o homem deve seguir; Adão

é o mau exemplo, ou seja, o exemplo a não ser seguido pela Humanidade.

Por conseguinte, se existiu homens que observaram a virtude, a lei moral e

fizeram bom uso do livre arbítrio, antes mesmo de Jesus Cristo, então existiram

homens que conseguiam não pecar, mesmo não sendo batizados e sem conhecer o

Evangelho de Cristo. Para a doutrina de Pelagio a lei de Moisés (Antigo Testamento)

leva à Salvação tanto quanto o Evangelho, e o batismo só têm a função de nos unir

em Jesus. Se assim não fosse, os patriarcas, os justos e os profetas do Antigo

Testamento estariam condenados. Da mesma forma que, assim como a morte de

Adão não acarretou a morte de todos os homens, a Ressurreição de Cristo também

não é causa da ressurreição dos mesmos. A redenção consiste apenas no bom

exemplo a ser seguido, que Cristo deu à Humanidade, vivendo entre nós.

6 Pelagio não era reencarnacionista, tinha a crença de que as crianças nascem puras, sem erros anteriores; "na mesma condição de Adão antes da queda".

7 Para Pelagio, as leis mosaicas, a encarnação de Cristo e seus exemplos são graças externas, amorosamente dadas por Deus. (MONDONI, 2003, p.1)

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Também não acreditava na possibilidade de uma "alma" perdida por completo

(o castigo eterno), mas que o caminho para o aprimoramento estava aberto a todos.

Segundo Johnson, (2001, p.143):

Para Pelagio, o que importava era o potencial do homem, sua liberdade para escolher o bem, além das maravilhosas virtudes de que Deus o dotara, por vezes, profundamente enterradas, mas à espera de serem trazidas à tona.

Para este monge admirável e de grande força interior, "o cristão deveria ser

de uma força moral heróica, como Jó. E ter compaixão, sentir a dor alheia como se

fosse a sua própria, e ser levado às lágrimas pela aflição dos outros homens"

(p.143).

Pelagio exaltava o poder da vontade e da liberdade humana (livre-arbítrio)

voltadas para Deus, enquanto minimizava a função da graça. Isto perturbou muitos

homens da Igreja, principalmente Agostinho, bispo de Hipona (Santo Agostinho),

que promove uma perseguição implacável contra o pelagianismo e que será mais

bem explicado no capítulo 3.

2.2 SEUS SEGUIDORES

Como mencionado anteriormente, Pelagio detinha muitos seguidores e

admiradores, e entre eles Celéstio e Juliano, bispo de Eclano foram os que se

destacaram.

Celéstio era advogado e monge, lembrando que na época, o termo monge era

usado para homens que se dedicavam à vida religiosa, sem serem,

necessariamente, ordenados sacerdotes. Ambicioso, muito expansivo,

acompanhava Pelagio como discípulo. Em Cartago, Celéstio pediu a ordenação

sacerdotal, mas foi acusado de heresia devido à sua obstinação e lealdade à

Pelagio, pelo diácono Paulino de Milão. Aurélio, bispo de Cartago, convocou um

sínodo em 411, onde condenou o Pelagianismo e excomungou Celéstio. Este,

porém, reclamou ao Papa, e fugiu para Éfeso onde conseguiu ser ordenado

sacerdote, pois o Oriente era mais maleável em questões teológicas.

Juliano, bispo de Eclano, de acordo com Almeida (2005, p.6), era bispo em

Apulia (Itália), filho do bispo Ménor, casado com a filha do bispo de Benevento.

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Juliano é considerado o arquiteto do sistema pelagiano. Ao abraçar o

Pelagianismo, procurou suavizar a natureza rigorista e aspereza ascética desta

doutrina. Ao defender o Pelagianismo, envolveu-se em uma vigorosa discussão com

Agostinho. Desvalorizou o trabalho exegético de Jerônimo classificando-o como

pueril e sem originalidade, "dizia sarcasticamente que frente a ele era difícil conter o

riso" (p.6).

Contra Agostinho, bispo de Hipona, Juliano atacou sua vida anterior,

chamando-o de maniqueu não convertido, qualificando a doutrina do pecado original

de Agostinho de maniqueísmo. Juliano recorreu inclusive a sentimentos

nacionalistas romanos, afirmando que bispos africanos queriam impor seus dogmas

à Igreja da Itália. Deste debate, restam infelizmente, apenas fragmentos:

(JOHNSON, 2001, p. 146)

"Na infinita sabedoria de Deus", observou Agostinho, "os genitais foram, apropriadamente, feitos instrumentos para a transmissão do pecado original. (...) É esse o lugar por onde o pecado primordial é transmitido”. Juliano alegou que o sexo era uma espécie de sexto sentido, uma forma de energia neutra que podia ser usada bem ou mal. "Sim?”, replicou Agostinho, "é essa a sua experiência? Logo você não faria os casais coibirem esse mal - refiro-me, é claro, ao seu bem favorito? Logo, você os admoestaria a pular na cama sempre que desejassem, que se sentissem impelidos pelo desejo? Longe deles adiá-lo até a hora de dormir (...) se esse é o tipo de vida matrimonial que você leva, não coloque sua experiência em debate".

Entre 420 e 430, com a decadência do movimento pelagiano, Juliano tentou a

readmissão pelagiana, mas fracassou. Viveu itinerante o resto de seus dias e morreu

depois de 450 na Sicília.

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3 PELAGIO E AGOSTINHO

Aurélio Agostinho (Santo Agostinho) cresceu no norte da África, colônia de

Roma na época, e recebeu sua educação em Cartago, formando-se professor.

Seguiu o Maniqueísmo8 quando estudante, o que ia ao encontro com os sentimentos

de Agostinho, que sentia dentro de si duas forças que se digladiaram, uma boa e

outra má. Neste período conhece uma moça com quem teve um filho, Adeodato.

Viveram juntos por treze anos, em concubinato, o que para os padrões da época,

era comum. O Maniqueísmo já não respondia seus apelos íntimos e apesar do

relacionamento com a mãe de seu filho, Agostinho sentia a tentação sexual como

algo irresistível, o que influenciaria suas concepções de pecado e marcaria toda sua

vida, pois por esforço próprio não conseguia resistir aos apelos ditos "mundanos", o

que muito o angustiava.

Na busca por respostas, conhece por intermédio de sua mãe, o bispo

Ambrósio de Milão. Seu discurso atinge sua alma e o estímulo final para sua

conversão ao Cristianismo parece ter sido o exemplo de Antônio e seus monges

egípcios, homens simplórios que eficazmente enfrentaram as tentações do mundo,

deixando o austero Agostinho deveras envergonhado, pois não conseguira por

esforço próprio vencer as tentações carnais, sendo ele um homem culto.

Angustiado, caminhando por seu jardim, escuta uma voz de criança que

cantarolava: Toma e leia. Ele pegou o Novo Testamento abrindo-o em uma página

cujas palavras se encaixavam aos seus sentimentos conflitantes. Agostinho estava

totalmente convertido ao Cristianismo, convencido que a graça de Deus o tinha

salvado. Em 387, é batizado pelo próprio Ambrósio.

Em 391 foi ordenado sacerdote em Hipona. Em 396, com seus talentos

reconhecidos e a necessidade de liderança na Igreja que ainda se estruturava, foi

nomeado bispo assistente de Hipona, com o direito sucessório em caso de morte do

então bispo Valério, o que ocorreu no ano seguinte.

8 Doutrina segundo a qual o mundo não é governado por um único Ser perfeito, mas por um equilíbrio de forças do bem e do mal. A doutrina eleva o demônio, como personificação do mal, a uma posição de poder comparável à de Deus. Resulta do Zoroastrismo e foi defendida pelos seguidores de Manes ou Mani. Floresceu entre os séculos III e V d.C. (BLACKBURN, 1997, p. 236).

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Já como bispo de Hipona, com mais influência e fazendo uso do poder de

Estado, pois "Agostinho foi o ideólogo da aliança entre Igreja e Estado" (JOHNSON,

2001, p. 136), passou a combater os Donatistas9, embate que já duravam cem anos

e tinha grande número de seguidores. Agostinho passou a defender o uso da força

em questões religiosas, o que mais tarde, serviu de justificativa à Inquisição, pois

segundo Shelley (2004, p. 146):

(...) Ao ver a resistência donatista ao governo crescer, passou a aceitar o uso da força em questões religiosas. O que parece atitude rude, dizia ele, pode levar o ofensor a reconhecê-la como justa. Não disse o Senhor na parábola: "Força-os a entrar" (Lc 14.23)? Por isso, o prestígio de Agostinho era citado, tempos depois, por aqueles que justificavam os atos cruéis da Inquisição contra os dissidentes cristãos.

Por volta de 430, a igreja donatista foi suplantada. Adeptos da classe superior

se engajaram no sistema estabelecido, mas houve vários casos de suicídio em

massa.

Em 384, Pelagio se dirige a Roma, impelido por debates de cunho teológico,

motivado por uma oração de Agostinho, a qual o irritara muito e que dizia: "Concede

o que Tu ordenaste, e ordena o que Tu desejas". Pelagio se irritara com a primeira

parte da oração, pois interpretou que Agostinho estava pedindo ajuda a Deus para

obedecê-lO.

A vitória sobre o Donatismo muito estimulou o homem de igreja que havia em

Agostinho, pois "em Milão, Agostinho vira a Igreja, na pessoa de um prelado astuto e

magisterial, ajudando a dirigir um império" (JOHNSON, 2001, p. 139) e, ao surgir um

oponente à altura de Pelagio, o bispo direcionou toda sua convicção e poder de

influência contra a doutrina pelagiana10, sendo que "Agostinho via em Pelagio uma

forma de arrogância contra a divindade inescrutável por ênfase indevida nos

poderes do homem" JOHNSON (2001, p. 144).

9 O Donatismo era um movimento, inspirado por Donato, bispo de Cartago (313 - 355), que liderava os protestos contra as práticas católicas. O movimento posicionava-se por uma igreja santa, disciplinada e por uma ferrenha resistência a bispos indignos, pois afirmava que os católicos ordenavam sacerdotes e bispos imorais. (SHELLEY, 2004, p.145) 10 Apesar das controvérsias doutrinárias, Agostinho atacava a Doutrina Pelagiana e não a pessoa de Pelagio, pois seu ascetismo era reconhecido até por seus opositores, inclusive por Agostinho.

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Para Agostinho, o homem tinha a obrigação de obedecer à vontade de Deus,

assim como expressa sua Igreja, além do mais, a doutrina pelagiana contrariava a

sua, que era a base de justificação para sua conversão. Segundo Shelley (2004,

p.147):

Tudo isso contrastava muito com a experiência pessoal de Agostinho. Ele sentia profundamente a gravidade de seu pecado e, por isso, a grandeza de salvação de Deus. Sentia que nada além do irresistível poder divino (graça) poderia tê-lo salvado de seus pecados e que somente o poder constante da graça divina podia mantê-lo na vida cristã. Seu ideal cristão não era o autocontrole estóico, mas a justiça inspirada pelo Espírito de Deus.

Para Agostinho, as idéias de Pelagio tornavam a Igreja dispensável. A

máxima “Fora da Igreja não há salvação” é do bispo de Hipona, pois mesmo

sustentando a predestinação, Agostinho defendia o sacramentalismo, ou seja, a

obediência aos sacramentos da Igreja, tornando na prática, a Igreja e não as

Escrituras, a autoridade moral.

Além do mais, a idéia do livre arbítrio para pecar ou não, confrontava a

incapacidade de Agostinho de resistir aos apelos sexuais a não ser por intermédio

da graça de Deus. Agostinho necessitava do pecado original para justificar seu

fracasso moral. Afirmava que o homem não tem força ou poder próprios, sua

salvação depende inteiramente de Deus, pois o pecado original de Adão fora

herdado por toda a humanidade, sendo o sexo o transmissor do pecado; e mesmo

que o homem caído tenha a habilidade para escolher, está escravizado ao pecado e

não pode não pecar.

Para o bispo de Hipona, o homem precisa principalmente da graça divina, da

benevolência de Deus. Alguns homens já foram predestinados à salvação (vida

eterna), outros estão entregues à perdição merecida, mesmo sem serem

predestinados ao pecado, tampouco importando o esforço pessoal em seguir a lei de

Deus. Entre a graça e a predestinação existe apenas esta diferença: a

predestinação é uma preparação para a graça. Eis uma máxima de Agostinho: "A

Lei foi dada para que se implore a graça; a graça foi dada para que se observe a lei."

Outro ponto conflitante entre Pelagio e Agostinho era o Batismo. Para

Agostinho o batismo das crianças é necessário, pois se todo homem traz dentro de

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si o pecado original, toda humanidade precisa ser purificada, ser lavada. A idéia do

“limbo” para crianças mortas sem batismo é reafirmada por Agostinho11.

Até o séc. V, o pecado original era entendido de outra maneira; os teólogos

pré-agostinianos divergiam em opiniões, mas a maioria entendia que a queda de

Adão maculou os homens pelo exemplo e não pelo mal; frente ao bem e ao mal,

Adão escolheu o mal, introduzindo assim, a possibilidade de imperfeição no homem.

O que ocorreu foi um equívoco de tradução, pois a tradução grega de Rom

5:12 (“Eis porque, como por meio de um só homem o pecado entrou no mundo e,

pelo pecado, a morte, e assim a morte passou a todos os homens, porque todos

pecaram...”) não diz que o pecado entrou no mundo por um só homem, mas em

conseqüência de um homem, o que diferencia profundamente a interpretação, pois

no primeiro caso fala-se de um mal enraizado e no segundo o mal é uma escolha

(SALLES, 2008).

O livre arbítrio para Agostinho, era conseqüência da graça e predestinação,

pois segundo ele, duas condições são exigidas para fazer o bem: o dom de Deus,

que é a graça, e o livre-arbítrio que está escravizado à graça. Segundo Almeida

(2005, p. 9):

Sem a existência do livre arbítrio, não haveria problemas, mas sem a graça, o livre arbítrio (depois do pecado original) não iria querer o bem ou, se o quisesse, não poderia realizá-lo. A graça, portanto, não tem o efeito de suprimir a vontade, mas sim de torná-la boa, pois havia se transformando em má. Esse poder de usar bem o livre-arbítrio é precisamente a liberdade. A possibilidade de fazer o mal é inseparável do livre-arbítrio, mas o poder de não fazê-lo é a marca da liberdade – e encontrar-se confirmado na graça a ponto de não poder mais fazer o mal é o grau supremo da liberdade. Assim, o homem que está mais completamente dominado pela graça de Cristo é também o mais livre: libertas vera est Christo Service.

Por conseguinte, a nossa salvação e redenção têm por intermédio Jesus

Cristo, pois para Agostinho, com e em Adão todos os homens pecaram, e somente

com e em Jesus Cristo todos os homens foram redimidos. Portanto precisamos de

11 Antes de Agostinho, já havia a crença em zonas intermediárias entre a bem-aventurança e o horror do inferno. A idéia do limbo seria o local onde as crianças mortas sem batismo ficariam eternamente, onde não sofreriam dores físicas, mas "dores da alma", pois nunca veriam a Deus. Ao lado do limbo, há uma sala chamada "Sala dos Justos", que está vazia, pois, como uma saída honrosa para explicar a salvação somente por Jesus Cristo, a narrativa católica diz que, antes de ascender aos céus, Cristo desceu até lá para salvar os justos do Antigo Testamento, mas deixou as crianças. O termo "limbo" (orla, fronteira) foi criado oitocentos anos depois, por Tomás de Aquino.

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Jesus Cristo e de ser batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Somente observar os mandamentos (lei) e praticar as virtudes não é premissa para

a salvação. Nenhum homem ou criança pode ser salvo, pura e simplesmente, por

seus méritos; não podem se salvar sem a graça divina.

Para o monge Pelagio, a virtude adquirida por si mesma é o bem supremo

que é seguido pela recompensa. A religião e a moralidade encontram-se na esfera

do espírito livre; realizam-se em todo o momento pelo esforço próprio do homem, na

busca de um conhecimento maior da lei divina. A ajuda de Deus concedida à

vontade humana, apenas facilita o que qualquer homem está em grau de cumprir

com as próprias forças de sua natureza.

Como podemos perceber, a controvérsia entre Pelagio e Agostinho passava

pelas questões da liberdade e da graça. Agostinho acentuava a dependência para

com a graça, Pelagio acentuava a liberdade, ou seja, Agostinho destacava o aspecto

teocêntrico e Pelagio o aspecto antropocêntrico.

3.1 A HERESIA PELAGIANA

Em conformidade com a sua ortodoxia, Agostinho condena a doutrina de

Pelagio, pois não seria possível proclamar o primado da moral, da lei e da

capacidade do homem de fazer o bem simplesmente por seus méritos, reduzindo

Jesus Cristo a mero modelo ético.

Determinado a expulsar Pelagio e seus seguidores da Igreja, Agostinho fez

com que fossem condenados por duas vezes na África. O espírito reformador de

Pelagio, ansioso por ajudar a Igreja e preocupado com a possibilidade de seus

esforços fracassarem diante das acusações de heresia, parte para a Palestina onde

o debate ainda era possível, pois lá as igrejas eram mais receptivas aos seus

ensinamentos. Isto durou até que Orósio12 enviasse a Jerônimo e a João, patriarca,

avisos mandados por Agostinho. Em Belém, Jerônimo atacou o Pelagianismo:

"aquele cão corpulento, pesado de mingau escocês, não tinha negado o pecado

original?" (JOHNSON, 2001, p. 144).

12 Paulo Orósio, correspondente de Agostinho, feroz caçador de heresias espanhol, arquiteto das melhores maneiras de se eliminar os hereges não somente na Espanha como na Palestina.

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O concílio de Jerusalém não quis a condenação, pois Pelagio soube expor

sua Doutrina com prudência e calma. Preferiram pedir ao Papa Inocêncio I que o

examinasse.

Ao mesmo tempo, o concílio de Lida o declarava ortodoxo. Mas, quando

Orósio levou à África a declaração deste concílio, os Bispos de Cartago enviaram a

Roma uma carta sinodal em que rejeitavam a doutrina de Pelagio. Como os sínodos

de Cartago e Milevo, em 416, haviam condenado Pelagio e Celéstio, os bispos

escreveram duas cartas ao papa Inocêncio - cinco bispos escreveram mais outra

particularizada - invocando uma autoridade mais universal e eficaz.

Inocêncio I (402-417) salientou que em questões de fé todos deveriam referir-

se a Santa Sé, ratificou as decisões dos bispos africanos e deixou aos imputados a

via aberta ao arrependimento.

Pelagio enviou a Roma uma profissão de fé, juntamente com sua obra De

libero arbitrio, em quatro volumes. O papa Zózimo (417-418), já sucessor de

Inocêncio I, baseando-se nas profissões de fé apresentadas por Pelagio e Celéstio,

acreditou poder justificá-los. Segundo Mondoni (2003, p.2):

(...) Zózimo escreveu às Igrejas da África, exortando-as a alegrar-se pelo fato de Pelagio e Celéstio não estarem fora da verdade católica; segundo seu parecer - influência do bispo Pátroco de Arles - os bispos não fizeram um juízo correto acerca de Celéstio, e agiram com leviandade e precipitações dando fé a pessoas desconhecidas e desonradas; estipulou o prazo de dois meses para que alguém fosse a Roma e refutasse Celéstio.

O bispo Prailo de Jerusalém escreveu a Zózimo a favor de Pelagio. Numa

outra reunião em São Clemente foi lida uma carta do próprio Pelagio. Roma

inclinava-se a aceitar Pelagio por sua palavra, pois ele contava com o apoio de

famílias poderosas e influentes sobre as autoridades imperiais, mas a vontade dos

africanos prevaleceu.

O sínodo13 de Cartago de 418, que contou com a participação de mais de

duzentos bispos, reconfirmou a sentença de condenação de Pelagio e Celéstio e

estabeleceu a doutrina sobre a necessidade da graça e sobre o pecado original:

13 Assembléia de eclesiásticos e leigos com o objetivo de discutir e deliberar sobre questões de fé, doutrina e costumes. No concílio, só participam eclesiásticos.

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- a morte é conseqüência do pecado original, transmitido efetivamente a todos

os homens, necessitando-se, por isso, do batismo, inclusive para as crianças;

- a graça é concedida não para auxiliar a nossa vontade, mas para torná-la

capaz de operar aquilo que por si mesma não pode realizar.

Emitiu-se uma carta sinodal declarando que Pelagio e Celéstio

reconhecessem a necessidade da graça para todo ato, e que sem ela o homem não

pode conceber ou cumprir algo santo, o que é claro, não ocorreu.

As cartas dos bispos africanos fizeram com que Zózimo se reportasse à

sentença de Inocêncio I, renovando a condenação com a Epistola Tractoria. Foram

bem sucedidos em suas pressões, não só sobre o bispo de Roma como também

sobre o imperador. Consta que para atingir o objetivo, usaram até de suborno, de

acordo com Johnson (2001, p. 145):

(...) Por fim, recorreram ao suborno direto: oitenta excelentes garanhões númidas, criados em propriedades episcopais na África, foram embarcados para a Itália e distribuídos entre os vários comandantes da cavalaria imperial cujos esquadrões, em último recurso, imporiam a teoria agostiniana da graça. Para as autoridades imperiais, os pelagianos eram retratados como perturbadores da paz pública, inovadores perigosos, homens ávidos por despojar os ricos e redistribuir a terra, não mais aceitáveis para os ortodoxos da Igreja e do Estado que os Donatistas. Grupos pelagianos na Grã-Bretanha e Espanha, Sicília, Rodes e Palestina foram identificados e extintos.

Dezoito bispos italianos, chefiados por Juliano de Eclano, não subscreveram,

sendo excomungados, depostos e exilados. Perseguidos pelo imperador,

refugiaram-se no oriente, onde foram acolhidos por Teodoro de Mopsuéstia e

Nestório; mas em 429 o imperador Teodósio II expulsou os pelagianos de

Constantinopla.

Em 431, o Concílio de Éfeso declarou oficialmente a Doutrina pelagiana como

herética. Pelagio, seus seguidores, bem como sua doutrina, não fariam mais parte

da Igreja.

3.2 O SEMIPELAGIANISMO

Mas a controvérsia continuou, deslocando-se desta vez da África para a

Gália, onde emergiram duas correntes contrapostas: agostiniana e antiagostiniana.

O mosteiro de Lérins (região de Marselha - França) tornou-se um dos centros da

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polêmica antiagostiniana, pois a teoria rígida de Agostinho sobre a predestinação

suscitou adversários tanto entre os pelagianos como entre os antipelagianos, pois

parecia pôr em perigo a liberdade do querer humano e as aspirações às virtudes, ou

seja, a cooperação (sinergismo) de nossa livre vontade com a graça divina. O que os

marselheses almejavam era um meio termo entre a doutrina pelagiana sobre a

graça, também refutada por eles, e a doutrina agostiniana, que para eles era

incompatível com as Escrituras, pois pregava uma espécie de fatalismo, devido à

teoria da predestinação.

Reagindo contra as conseqüências perigosas do agostinismo rígido, que

podia induzir ao fatalismo e a renuncia à luta contra o pecado, os monges de

Marselha e Lérins sustentaram as seguintes teses:

- vontade salvífica universal: Deus quer a salvação de todos os homens e

oferece-lhes a graça; todos, querendo, podem corresponder à graça e salvar-se;

- a predestinação não se baseia somente na predileção de Deus, mas

também na presciência divina, enquanto elege para a beatitude os que prevê que se

tornarão dignos de eleição - predestinação condicionada, ou previsão de eleição, ou

previsão que Deus tem dos méritos e deméritos de cada um;

- para o initium fidei - primeiro desejo da salvação, o anelo vago e ainda

incerto de Deus - a graça de Deus não é necessária, pois pode provir também do

homem, embora a obra salvífica não possa depois cumprir-se sem ela; com suas

próprias forças o homem não está em grau de cumprir atos sobrenaturais, mas pode

desejá-los, querê-los e pedir ajuda a Deus - o homem pode desejar a virtude, mas tal

desejo permanece ineficaz sem a graça divina;

- para viver conforme a fé basta o querer humano; os justificados não

necessitam do dom particular da perseverança final para conseguir a vida eterna: a

perseverança final depende apenas da livre vontade do homem;

- o ponto fundamental do sistema, do qual em substância derivam os demais,

consiste no esforço de atribuir ao homem o primeiro passo no caminho da salvação;

a acolhida da graça e até mesmo a busca de Deus anterior à conversão, assim

como a perseverança da graça recebida, dependem unicamente do esforço humano.

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Os sínodos de Arles e Lião de 472 apoiaram as tendências semipelagianas14,

sobretudo por defender o livre-arbítrio e por evitar a difusão da teoria de uma

reprovação positiva de determinados homens por parte de Deus. Opondo-se às

decisões semipelagianas do sínodo de Valença (528), Cesário, bispo de Arles (470-

542) reuniu, em julho de 529, bispos e leigos no sínodo de Orange. Os sinodais

propuseram um agostinismo moderado, e em vinte e cinco cânones condenaram o

Pelagianismo e o semipelagianismo. Abandonou-se a doutrina da vontade salvífica

particular, da predestinação incondicionada e da pena às crianças mortas sem

batismo.

O sínodo de Orange decretou:

- a incapacidade natural do homem para realizar o bem sobrenatural;

- a necessidade absoluta da graça interna sobrenatural para cada ato

salvífico, inclusive para o início da salvação e a perseverança no bem até o fim;

- o enfraquecimento do homem após o pecado original;

- a impossibilidade de se merecer a graça.

O Concílio de Orange condenou também aqueles que ensinavam que a

salvação poderia ser concedida no simples ato de se fazer uma oração, afirmando

em lugar disso, com muitíssimas referências bíblicas, ser necessário Deus despertar

o pecador e lhe conceder o dom da fé antes que ele possa até mesmo buscá-lO.

(HORTON, 2008)

O Pelagianismo foi condenado por mais concílios da Igreja do que qualquer

outra heresia na história, mas não foi extinto. Várias formas de Pelagianismo

recorreram periodicamente através dos séculos. O próprio Lutero escreveu "A

Escravidão da Vontade" em resposta a Erasmo15, onde este, segundo Lutero,

defendia conceitos pelagianos. Lutero acreditava que Erasmo era "um inimigo de

Deus e da religião Cristã" acusando-o de ser um pelagiano disfarçado. E para

desconforto de Lutero, o Catolicismo medieval, sob a influência de Aquino, adotara

14 Somente no século XVII é que a doutrina sustentada pelo mosteiro de Lérins recebeu o nome de semipelagianismo; até então seus autores eram designados pelo apelativo de marselheses, devido ao fato de suas vidas e obras terem se desenvolvidos em torno da cidade de Marselha. (MONDONI, 2003, p.3) 15 Desidério Erasmo, mais conhecido como Erasmo de Roterdã, autor de Elogio da Loucura, contemporâneo de Lutero. Considerado um dos primeiros e maiores humanistas do Renascimento do norte, suas obras serviram de inspiração para o movimento da Reforma. Rompeu com Lutero devido a sua obra De libero arbítrio.

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um semipelagianismo, mesmo que na Antigüidade houvessem rejeitado o

Pelagianismo puro.

Mas o semipelagianismo ainda é presente (a Igreja prefere o termo

agostinismo moderado), pois hoje remanesce na Igreja o entendimento da

capacidade moral dentro do homem não afetada pela queda. O homem tem ainda a

habilidade inerente de se inclinar ou se mover para cooperar com a graça de Deus.

A graça é necessária, mas não necessariamente eficaz. Seu efeito depende sempre

da cooperação do pecador pela virtude do exercício da vontade.

Mesmo sob a égide de heresia e as tentativas de sufocar sua Doutrina,

Pelagio ainda vive, nas suas idéias e ensinamentos, permeando o universo cristão.

E passados 1500 anos, encontramos parte de seus ensinamentos em uma nova

doutrina, que surge na segunda metade do séc. XIX, também perseguida pela Igreja,

mas instituída em milhares de corações: a Doutrina Espírita.

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4 A DOUTRINA PELAGIANA E A DOUTRINA ESPÍRITA

A Doutrina de Pelagio se fundamenta basicamente na liberdade e capacidade

do homem e na infinita justiça de Deus. São dois fundamentos, que se desdobram

em vários princípios, que também são encontrados na Doutrina Espírita. São esses

pontos em comum que serão analisados neste capítulo.

Pelagio exaltava o poder da vontade e da liberdade humana (livre-arbítrio)

voltadas para Deus, onde a vontade humana é livre, dependente apenas de si para

evitar o "pecado". Para Pelagio, a responsabilidade implicava sempre em

capacidade, ou seja, uma obrigação moral necessariamente implicava em

capacidade moral. Deus não exigiria algo que estivesse além da capacidade do

homem, e se O faz, é porque Lhe deu tal capacidade. Se o homem tiver força de

vontade e quiser, ele pode ser "salvo"; basta praticar as virtudes, ser orientado pelo

livre arbítrio (capacidade de julgar entre o bem e o mal) e seguir a lei moral.

Para a Doutrina dos Espíritos, o livre arbítrio é um dos cinco princípios

básicos, que são: Deus; Jesus e a moral cristã; livre arbítrio; reencarnação e

comunicação entre os polissistemas espiritual e material. Mas para compreender

melhor o livre arbítrio, faz-se necessário algumas considerações.

O livre arbítrio significa decisão livre, sob o poder da vontade livre e

consciente de cada um. Sendo assim, determinará também a força e o valor do

resultado em razão da conduta livre e opcional de cada ser, ao desejar a necessária

e respectiva conseqüência pretendida, na conduta e comportamento individualizante

do ser humano.

O livre arbítrio é a marca da hominização, ou seja, é atribuição do ser auto-

consciênte ou Espírito. É a consciência de si mesmo e a capacidade de escolha no

âmbito moral que diferencia o homem dos animais, fazendo uso da razão para

determinar sua ação.

Embora constitua marca inerente ao Espírito, esse atributo, contudo, não é

absoluto e ilimitado. O exercício do livre arbítrio é limitado ou condicionado pelos

paradigmas da inteligência, da cultura e da contingência, ou seja, o livre arbítrio é

limitado pelo próprio ser e sua história de vida; pelo exercício do livre arbítrio do

outro; pelo meio cultural e pelo meio físico. É liberdade de escolha frente ao que se

apresenta no momento. O livre arbítrio é a ação livre sustentada por um pensamento

livre e linguagem livre (BRANCO, 2008).

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Na Codificação da Doutrina dos Espíritos, na questão 843 de O Livro dos

Espíritos, esclarece: O homem tem o livre arbítrio dos seus atos? Visto que ele tem a

liberdade de pensar, tem a de agir. Sem livre arbítrio o homem seria uma máquina.

(KARDEC, 1987, p. 325)

Para Pelagio o que importava era o poder da vontade e da liberdade humana

(livre-arbítrio) voltadas para Deus, onde o progresso do caráter humano se daria em

termos meramente naturais, por seguir o exemplo de Cristo, negando

veementemente o caráter da predestinação, onde uns estariam predestinados à

salvação ou "Reino dos Céus", e outros à "danação eterna".

De acordo com Sabbag (1999, p.101):

Para a Doutrina Espírita não há destino, não há predestinação, não há sorte ou azar. O futuro é construído todos os dias. Através de pensamentos e ações, o espírito e seu grupo cultural escolhem e determinam seus caminhos, exercitando uma característica indissociável do ser inteligente: o livre-arbítrio.

Como dito anteriormente, Pelagio entendia a responsabilidade moral de

acordo com a capacidade moral, aproximando ainda mais seus ensinamentos dos

da Doutrina Espírita, pois mesmo limitados pelas condições físicas, culturais e

pessoais, pode-se contornar estes obstáculos e agir de maneira que pareça a mais

acertada, determinando a própria conduta.

À primeira vista, a liberdade do homem parece muito limitada no círculo de fatalidades que o encerra: necessidades físicas, condições sociais, interesses ou instintos. Mas, considerando a questão mais de perto, vê-se que esta liberdade é sempre suficiente para permitir que a alma quebre este círculo e escape às forças opressoras. A liberdade e a responsabilidade são correlativas no ser e aumentam com sua elevação; é a responsabilidade do homem que faz sua dignidade e moralidade. Sem ela, não seria ele mais do que um autômato, um joguete das forças ambientes: a noção de moralidade é inseparável da de liberdade. (DENIS, 2008)

Quanto maior o conhecimento, maior a possibilidade de discernimento entre o

certo e errado. Ao processar conhecimentos novos, o Espírito modifica a visão que

tem de si mesmo, dos outros, do mundo e de Deus, ou seja, amplia a sua

consciência e evolui, determinando um caminho próprio para si mesmo e para o ser

autoconsciente. Desta forma, cada ser amplia também a própria liberdade e auto-

suficiência. Também segundo Denis (2008):

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Se a liberdade humana é restrita, está pelo menos em via de perfeito desenvolvimento, porque o progresso não é outra coisa mais do que a extensão do livre-arbítrio no indivíduo e na coletividade. (...) A inteligência e a vontade chegam, pouco a pouco, a predominar sobre o que a nossos olhos representa a fatalidade. O livre-arbítrio é, pois, a expansão da personalidade e da consciência. Para sermos livres é necessário querer sê-lo e fazer esforço para vir a sê-lo, libertando-nos da escravidão da ignorância e das paixões baixas, substituindo o império das sensações e dos instintos pelo da razão. Isto só se pode obter por uma educação e uma preparação prolongada das faculdades humanas: libertação física pela limitação dos apetites; libertação intelectual pela conquista da verdade; libertação moral pela procura da virtude.

Para o monge Pelagio, a moral e a religiosidade encontram-se na esfera do

espírito livre, realizando-se continuamente pelo esforço próprio do homem, na busca

de um conhecimento maior da lei divina. Da mesma forma a Doutrina dos Espíritos

entende que o conhecimento aclarador de si mesmo e das leis morais, liberta o

Espírito das amarras dos obscurantismos e crendices, levando-o a um entendimento

mais amplo do seu "papel" no Universo. Quanto maior o alcance neste

entendimento, maior a responsabilidade, pois:

Daí uma grande diferenciação nas responsabilidades. O Espírito só está verdadeiramente preparado para a liberdade no dia em que as leis universais, que lhe são externas, se tornem internas e conscientes pelo próprio fato de sua evolução. No dia em que ele se penetrar da lei e fizer dela a norma de suas ações, terá atingido o ponto moral em que o homem se possui, domina e governa a si mesmo. (DENIS, 2008)

O autoconhecimento é fundamental para o exercício pleno do livre-arbítrio. A

escolha que o espírito faz diante das situações apresentadas é de sua completa

responsabilidade, dentro dos limites de seu entendimento; é ele o responsável pelas

conseqüências, efeitos, desdobramentos gerados a partir de suas decisões. "O

espírito cresce na medida em que se esforça por preservar ou ampliar as

experiências que são favoráveis ou modificar as que não são adequadas" (SABBAG,

1999, p.105).

As escolhas conscientes são direcionadas pela coerência entre a verdade

alcançada pelo Espírito e a sua prática, portanto, a responsabilidade está de acordo

com a sua capacidade. "Em tese geral, todo homem chegado ao estado de razão é

livre e responsável na medida do seu adiantamento" (DENIS, 2008). Pelagio

sustentava também, que Deus sendo justo, não imporia algo que superasse nossas

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forças, como também não daria a alguém um auxílio maior que a outrem, ou seja,

Deus, em sua infinita justiça, não privilegiaria uns em detrimento de outros. A

questão 13, capítulo primeiro, de O Livro dos Espíritos, discorre sobre a perfeição de

Deus:

(...) A razão vos diz, com efeito, que Deus deve ter essas perfeições no supremo grau, porque se o tivesse uma só de menos ou não fosse de um grau infinito, Ele não seria superior a tudo, e, por conseguinte não seria Deus. Por estar acima de todas as coisas, Deus não deve suportar nenhuma vicissitude e não ter nenhuma das imperfeições que a imaginação pode conceber (KARDEC, 1987, p. 47).

Na mesma questão, Kardec discorre sobre os atributos de Deus, que são:

Deus é eterno; imutável; único; todo-poderoso; soberanamente justo e bom. "A

soberania providencial das leis divinas se revela nas menores coisas, como nas

maiores, e essa sabedoria não permite duvidar da sua justiça, nem da sua bondade"

(q. 13).

A soberana bondade implica na soberana justiça, porquanto, se Deus

procedesse injustamente ou com parcialidade, numa só circunstância que fosse, ou

a uma de suas creaturas apenas, já não seria soberanamente justo e,

conseqüentemente, não seria soberanamente bom.

Deus creou a todos iguais, sem privilegiados. Dotou o homem do livre-arbítrio

para que cada um possa caminhar e crescer no aprimoramento moral e intelectual.

Estabeleceu normas e bases justas, fundamentada na Lei de Causa e Efeito.

Conhecida também como Lei de Ação e de Reação, é uma lei que já tem embutida

em si mesma os efeitos decorrentes de nossos atos. Usando o jargão popular,

"todos, absolutamente todos, colherão apenas e tão somente o que plantarem".

Portanto, não há castigo divino, muito menos penas eternas, apenas a sujeição às

conseqüências dos próprios atos e a devida reparação. Por conseguinte, caminho

aberto à evolução. Sendo assim, diante do exposto, podemos concluir que:

Dentre os conceitos fundamentais que compõe o núcleo do Espiritismo, o livre-arbítrio é o aspecto da lei maior que sustenta a evolução do universo inteligente. Livre-arbítrio é a ação do espírito no limite de seu conhecimento, e responsável na medida de seu entendimento. (SABBAG, 1999, p.107)

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Outro ponto importante entre a Doutrina pelagiana e a Doutrina Espírita, é o

fato de Pelagio entender a "redenção" no bom exemplo a ser seguido, que Cristo

deu à Humanidade, vivendo entre nós. A moral cristã é um dos princípios

fundamentais da Doutrina Espírita, e entende que o seu significado se evidencia no

exemplo de vida de Jesus, na demonstração da viabilidade de sua conduta e padrão

de comportamento. Segundo Sabbag (1999, p. 95):

"foi a força de seu exemplo que deu significado à sua existência, e não a série de mitos, interpretações e dogmas que foram agregados ao entendimento de sua mensagem".

Para a Doutrina Espírita, não importa como Jesus nasceu ou morreu, mas

como viveu; não vê sua morte como sacrifício para salvar a humanidade, tampouco

como uma exceção na idéia da ressurreição. Também não o confunde com Deus ou

Sua encarnação, mas sim como filho de Deus como todos o são. A Doutrina Espírita

considera Jesus "um ideal possível de ser alcançado, uma referência exeqüível para

a humanidade" (p.96), ou seja, o Espírito que alcançou o que nenhum outro

conseguiu aqui na Terra, que é a compreensão do amor como lei fundamental do

Universo.

Da mesma forma, o monge Pelagio via Jesus como o bom exemplo a ser

seguido, não um "mero" exemplo como na acusação de Agostinho, mas o exemplo.

Assim também o é para a Doutrina dos Espíritos:

(...) Seus ensinamentos, seu comportamento e os exemplos de outras pessoas que se identificaram com sua proposta, foram desenhando, construindo um código, um padrão de referência fundamentado na unidade da humanidade e na igualdade entre os seres, e em decorrência, no amor ao próximo, na solidariedade, na tolerância, na responsabilidade pessoal, na liberdade de consciência e na moral como defesa, promoção da vida. Jesus é padrão de comportamento aberto para auxiliar as pessoas na construção de seu próprio futuro. Jesus é exemplo claro de comportamento moral que reflete a identidade do ser com o universo e com Deus. (SABBAG, 1999, p. 99)

Outra característica da Doutrina pelagiana é o caráter mais antropocêntrico

que teocêntrico, pois Pelagio acentuava a capacidade do homem voltada para Deus,

mas como vontade ou escolha pessoal e não concessão divina, portanto, uma

filosofia mais humanista. Da mesma forma, a Doutrina dos Espíritos também é

humanista, visto que é direcionada a nós Espíritos, encarnados e desencarnados, e

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está no Espírito a capacidade de fazer juízo crítico e definir padrões de conduta. É o

Espírito e apenas ele que "faz necessariamente alcance do seu ser no espaço e no

tempo, tendo em vista o processo evolutivo a que está submetido" (CRUZ, 2005, p.

9).

A proposta da Doutrina está direcionada à promoção do ser humano, em uma

visão antropogênica16.

O centro espírita, sendo agência ampla de promoção humana, faz antropogenia em todas as suas atividades. (...) Quando o centro espírita conceitua dinamicamente a unidade fisio-psicológico-social - o homem - o faz sob a ótica pela qual nenhuma pergunta do homem poderá ser respondida sem o concurso do homem. (p. 11)

A Doutrina dos Espíritos está fundamentada no conjunto de toda experiência

da Humanidade. Ela representa toda a história humana em si, e demonstra que é

essencial para a evolução do Espírito alcançar novos conhecimentos, ampliando

assim sua consciência para melhor expressar o livre arbítrio e alcançar a

essencialidade do pertencimento.

16 Antropogenia é a promoção e construção humana em todos os aspectos: material, cognitivo, moral e espiritual.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Jesus, através de valores universais únicos, suscitou mudanças não apenas

de ordem espiritual e emocional como também cultural e material; sua passagem

pela Terra foi tão marcante que a História da Humanidade se dividiu em antes e

depois dele.

De seus ensinamentos resultaram enumeras interpretações, sendo as dos

primeiros séculos que definiram a estrutura teológica do cristianismo. A Igreja se

encontrava em franca expansão, devido ao declínio do Império Romano, tornando-a,

diante deste contexto, um pólo aglutinador, onde assumia a estrutura hierarquizada

ao modelo do Império.

Este modelo de domínio norteou as disputas teológicas entre muitos de seus

pensadores, como Agostinho, que via a Igreja não só ajudando a dirigir um império,

mas também no controle da universalidade das idéias cristãs. A Igreja, segundo

Johnson (2001. p. 139):

Liderada pelos eleitos, seu dever era transformar, absorver e aprimorar todos os laços de relacionamentos humanos, todas as instituições e atividades humanas existentes, regularizar, codificar e elevar todos os aspectos da vida.

Durante esta pesquisa foi possível constatar que nos primeiros séculos do

Cristianismo, pouco menos de um terço da Igreja era trinitarista, e quase metade da

Igreja compartilhava das idéias de Pelagio, mas Agostinho conseguiu fazer

prevalecer suas idéias e por um ponto final nestas discussões, usando de todos os

meios para derrotá-lo.

Agostinho preconizava a imposição da teoria da graça e da predestinação,

bem como a herança do pecado original; e ao vencer Pelagio, Agostinho faz uma

ponte entre o humanismo do período clássico ao pessimismo da Idade Media,

tornando-se o inspirador da mentalidade medieval e o ideólogo da união entre Igreja

e Estado e mais tarde, justificativa aos abusos da Inquisição. Típico de um puritano

que já foi libertino, Agostinho instituiu o sexo como pecaminoso e relegou a mulher a

uma classe inferior. “A mentalidade por ele expressa tornar-se-ia a perspectiva

preponderante do cristianismo e, como tal dominaria toda a sociedade européia por

muitos séculos” (p. 147).

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Por conseguinte, nos séculos seguintes a Igreja continuaria a se reestruturar,

através de seus pensadores e articuladores, baseados em poder e absoluto domínio

das consciências humanas.

Analisando o universo de idéias e as permanências produzidas pelo

cristianismo, quão gratificante foi pesquisar sobre este brilhante Espírito Pelagio e

sua doutrina, mesmo com poucas informações sobre sua vida. Com poucas

exceções, encontram-se livros ou artigos escritos com neutralidade, a maioria parte

de preconceitos tanto contra Pelagio devido a heresia como contra Agostinho e sua

ortodoxia antipelagiana.

Todavia, apesar das dificuldades encontradas, pode-se afirmar que o

resultado desta pesquisa foi satisfatório, pois seu objetivo foi aproximar os princípios

da Doutrina pelagiana com os princípios da Doutrina Espírita, frente às similitudes

que há nas duas doutrinas.

A doutrina de Pelagio é humanista, acentua a liberdade humana e o esforço

de agir corretamente; Pelagio acreditava no potencial humano para escolher o bem

e não no poder capacitador do Espírito Santo. Para este admirável monge, a graça

de Deus estava na capacidade e liberdade humana, pois dotara os seres humanos

destes atributos no ato da Creação. Por conseguinte, as Leis Mosaicas, Cristo e seu

exemplo de vida, bem como seus ensinamentos, também seriam graças

amorosamente concedidas por Deus.

Pelagio não via necessidade de rogar a Deus aquilo que Ele já concedera, ou

seja, o livre arbítrio e a auto-suficiência na busca do conhecimento maior das leis

morais, e estava no domínio deste entendimento a responsabilidade frente à

obrigação moral; via Jesus como o melhor exemplo a ser seguido e a Redenção

consistia em seguir os ensinamentos que Cristo deu à Humanidade. Portanto, o

“castigo eterno” contrariava a misericórdia divina, sendo que o homem poderia

sempre e a qualquer tempo, decidir pelo caminho do bem. Pelagio opunha-se

veementemente à teoria da graça e da predestinação.

Como exposto neste trabalho, a Doutrina Espírita e a Doutrina de Pelagio

compartilham vários princípios; pois a Doutrina Espírita entende o livre arbítrio como

atribuição do ser auto-consciênte ou Espírito. O progresso moral nada mais é do que

a extensão do livre-arbítrio no indivíduo e na coletividade, sendo o conhecimento

que amplia a consciência para a evolução do ser. Portanto o autoconhecimento é

fundamental para o exercício pleno do livre-arbítrio, quanto maior o conhecimento,

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maior a possibilidade de discernimento entre o certo e errado e quanto maior o

alcance neste entendimento, maior a responsabilidade, pois mesmo limitados pelas

condições físicas, culturais e pessoais, pode-se agir de maneira que pareça a mais

acertada, determinando a própria conduta.

A Doutrina entende que a liberdade é sempre domínio de espaço, vinculada ao sentido da vida, potencializada pelo possível, pela experiência que cada um acumulou ao longo do processo reencarnatório. (CRUZ, 1999, p. 94)

Para a Doutrina Espírita não há destino ou predestinação e o futuro é

construído todos os dias. Deus creou a todos iguais, sem privilegiados, pois em Sua

infinita justiça, não privilegiaria uns em detrimento de outros. Entende também

Jesus, como "um ideal possível de ser alcançado, uma referência exeqüível para a

humanidade" (Sabbag, 1999, p.96). A moral cristã sendo um dos princípios

fundamentais da Doutrina Espírita alcança que o seu significado se evidencia no

exemplo de vida de Jesus, na demonstração da viabilidade de sua conduta e padrão

de comportamento.

A Doutrina dos Espíritos é direcionada aos Espíritos, encarnados e

desencarnados, e está no Espírito a capacidade de fazer juízo crítico e definir

padrões de conduta, por conseguinte, também é humanista, visto que a proposta da

Doutrina está direcionada à promoção do ser humano, em uma visão antropogênica.

É por este contexto histórico dos primeiros séculos da era cristã, onde as

discussões e interpretações eram abertas e o Cristianismo repousava no “culto

interior”, em um sentido filosófico, substancial e não formalístico de religião, que

Kardec referencia o Espiritismo como um retorno ao Cristianismo primitivo, antes dos

concílios instituírem seus dogmas, como o da Santíssima Trindade e,

conseqüentemente, o do Espírito Santo e o da Divindade de Jesus, que não existiam

entre as primeiras gerações das comunidades Cristãs; como também o

sacramentalismo dos ritos, ou seja, a obrigatoriedade dos sacramentos como

exigência cristã.

Outro ponto importante que esta pesquisa alcançou é que há ainda um campo

vasto e fascinante para ser investigado, nas mentes de tantos outros pensadores do

Cristianismo dos primeiros séculos, que assim como o Espiritismo, também foram

considerados hereges.

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Ao fim deste trabalho, resta a possibilidade de conjecturar em como seria a

mentalidade atual, não só religiosa como cultural - visto o predomínio da cultura

cristã sobre tantos povos quanto crenças - se pensadores como Pelagio e tantos

outros tivessem tido abertura para expor suas idéias, se a busca pelo entendimento

maior das leis morais se baseasse na liberdade de pensamento e expressão, ao

invés da visão dogmática e escravizadora da culpa, pecado e castigo, onde por

muitos séculos substituíram o Deus de amor ensinado por Cristo, pelo Deus punitivo

e seletivo do Cristianismo medieval.

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