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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: vínculos paradigmáticos e questões práticas Biguaçu 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI

ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS:

vínculos paradigmáticos e questões práticas

Biguaçu

2007

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CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI

ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS:

vínculos paradigmáticos e questões práticas

Biguaçu

Dissertação apresentada como requisito para a obtenção do Título de Mestre em Administração na Universidade do Vale do Itajaí no Programa de Mestrado Acadêmico em Administração do Centro de Educação Biguaçu.

Orientadora: Prof. Dra. Christiane Kleinübing Godoi

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CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI

ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

vínculos paradigmáticos e questões práticas.

Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do título de Mestre em

administração e aprovada pelo Programa de Mestrado Acadêmico em

Administração e Turismo da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Educação de Biguaçu.

Biguaçu, 19 de dezembro de 2007.

_________________________________________________

Prof. Dr. Carlos Ricardo Rosseto

Coordenador

_________________________________________________

Prof. Dra. Christiane Kleinubing Godoi

Orientadora

_________________________________________________

Prof. Dr. Sérgio Luiz Boeira

Avaliador Interno

_________________________________________________

Prof. Dr. Rodrigo Bandeira-de-Mello

Avaliador Interno

_________________________________________________

Prof. Dra. Simone Ghisi Feuerschutte

Avaliadora Externa

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A felicidade do homem depende da sua disposição e de aceitar a luta.

Da sua determinação de não aceitar nunca a derrota.

Da sua capacidade de enfrentar a adversidade firmemente disposto,

e não se deixar abater.

Da sua tenacidade de perseguir o objetivo traçado.

Da sua disposição de manter-se livre a qualquer custo.

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Aos meus pais, Jane e Géu.

Às minhas filhas, Bianca e Camila.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente e de forma extremamente especial aos meus

pais, Jane e Géu, por todo o carinho e dedicação, por acreditarem e confiarem

em mim, por cuidarem das minhas filhas sempre que foi preciso e por

investirem em mim. Sem eles não teria existido o mestrado.

As minhas filhas, Bianca e Camila, pela “tentativa” de compreensão

desse mundo acadêmico, que nos prende ao computador enquanto o sol está

lindo.

Agradeço as minhas irmãs, Raquel e Letícia, por me darem força pra

crescer profissionalmente e emocionalmente trocando idéias e criando filhos.

Agradeço também a minha avó querida “Bisa”, pois sempre acreditou em

mim e me ajudou muito. Ao meu avô Aldo (in memoriam), pois sei que está de

alguma forma presente.

A minha orientadora Christiane Kleinübing Godoi por todos os

conhecimentos e experiências repassados a mim, e por acreditar que tudo isso

seria possível. Espero ainda aprender muito contigo.

Aos meus amigos Fran e Lucas pelo apoio essencial para minha

conclusão.

As amigas Lena, Déia e Danny.

Ao meu namorado Cidral.

Aos professores Rossetto, Lorena, Simone Ghisi., MDK, Marco Dias, Lu

Imeton, Boeing, Rose, RBM, Silvana Dal, Marilize, Anselmo, Rosane, Elaine,

Sérgio, Cláudia e Jucelino.

Aos meus gatos Espoleta e Mini Pink (in memoriam), que nunca me

deixam só

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RESUMO

Com a intenção de incitar a reflexão acerca de aspectos paradigmáticos e epistemológicos em estudos organizacionais, este estudo teórico buscou compreender as possibilidades de confluência entre os paradigmas pós-modernos propostos por Lincoln e Guba (2006) – positivismo, pós-positivismo, teoria crítica, construtivismo e participativo - e as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas nos estudos organizacionais (experimental, survey, estudo de caso, historiografia, etnografia, grounded theory e pesquisa-açâo). Para compreender a existência de uma confluência paradigmática, este estudo se baseou em sete questões práticas também propostas por Lincoln e Guba (2006). As sete questões (axiologia; acomodação e comensurabilidade; ação; controle; fundamentos da verdade; validade e voz, reflexividade e representação pós-moderna) são consideradas as mais controversas e, por este motivo, com poder de geração de diálogo e reflexão. Através da análise do posicionamento das estratégias de pesquisa com as questões práticas foi possível elaborar uma provável vinculação paradigmática das estratégias de pesquisa analisadas aos paradigmas pós-modernos. Para alcançar este objetivo utilizou-se a estratégia de pesquisa bibliográfica a fim de justificar teoricamente as questões analisadas e a vinculação aos paradigmas. Como conclusão pode-se identificar pouca confluência entre os paradigmas considerados quantitativos (positivismo e pós-positivismo) e os paradigmas qualitativos (teoria crítica, construtivismo e participativo) provavelmente pela dicotomia quali-quantitativa.

PALAVRAS-CHAVE: Estratégia de pesquisa; paradigmas; questões

práticas.

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ABSTRACT

With the aim of stimulating reflection on paradigmatic and epistemological aspects in organizational studies, this theoretical study seeks to understand the possibilities of convergence between the postmodern paradigms proposed by Lincoln and Guba (2006) - positivism, post-positivism, critical, constructivist and participatory theories - and the empirical research strategies used in organizational studies (experimental, survey, case study, historiography, ethnography, grounded theory and participatory action research). To understand the existence of a convergence of paradigms, this study is based on seven practical inquiries, also proposed by Lincoln and Guba (2006). These seven practical inquiries (axiology; accommodation and commensurability; action; control; foundations of truth; validity and voice, reflectivity and postmodern representation) are considered very controversial, and for this reason, the ones with the power to generate dialogue and reflection. Through an analysis of the positioning of the research strategies in relation to the practical inquiries, it was possible to identify a probable convergence of paradigms between the research strategies analyzed and the post-modern paradigms. To achieve this objective, a bibliographical review was carried out, to give theoretical support to the inquiries analyzed, and the linking of paradigms. In conclusion, little convergence is identified between the paradigms considered quantitative (positivism and post-positivism) and those considered qualitative (critical and participatory theories, and constructivism).

KEY WORDS: Research strategy; paradigms; practical questions.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Os paradigmas pós-modernos................................................ 55

Quadro 2: As questões práticas............................................................... 62

Quadro 3: As questões práticas atuais selecionadas para este estudo.......................................................................

71

Quadro 4: Resultados do posicionamento das estratégias de pesquisa quanto às questões práticas selecionadas.............................

94

Quadro 5: Resultado da vinculação paradigmática das estratégias empíricas utilizadas em estudos organizacionais...................

96

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 11

1.1 Problema de pesquisa.............................................................................. 17

1.2 Objetivos do estudo.................................................................................. 17

1.3 Metodologia.............................................................................................. 18

2 AS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EMPÍRICAS UTILIZADAS EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS............................................................. 21

2.1 A estratégia de estudo de caso................................................................ 21

2.2 A estratégia de pesquisa etnográfica....................................................... 25

2.3 A estratégia de pesquisa historiográfica.................................................. 31

2.4 A estratégia de pesquisa-ação................................................................. 34

2.4 A estratégia de pesquisa grounded theory .............................................. 36

2.5 A estratégia de pesquisa survey.............................................................. 40

2.6 A estratégia de pesquisa experimental..................................................... 42

3 DESCRIÇÃO DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÃO COM AS QUESTOES PRÁTICAS........................................................................... 44

4 DISCUSSÂO DAS QUESTÕES PRÁTICAS SELECIONADAS.............. 59

4.1 As questões selecionadas para este estudo............................................ 65

5 O POSICIONAMENTO DAS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EMPÍRICAS QUANTO ÁS QUESTÕES PRÁTICAS SELECIONADAS E UMA POSSÍVEL VINCULAÇÃO PARADIGMÁTICA.......................... 70

5.1 A questão da “Acomodação e Comensurabilidade”................................. 73

5.2 A questão da “Ação”................................................................................. 77

5.3 A questão do “Controle”........................................................................... 80

5.4 A questão dos “Fundamentos da Verdade e do Conhecimento”............ 82

5.5 A questão da “Ampliação das Considerações sobre a Validade”............ 85

5.6 A questão da “Voz, Reflexividade e Representações Textuais Pós-modernas”................................................................................................. 89

6 CONCLUSÕES......................................................................................... 99

REFERÊNCIAS........................................................................................ 102

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1 INTRODUÇÃO

Os estudos organizacionais tratam do esforço de compreensão do mundo

social que nós habitamos. Ele não é um sistema fechado de estudo, como a

lógica ou a matemática (STABLEIN, 20001). É uma área de estudo

interdisciplinar, e de longa data beneficiários e devedores do conhecimento de

outras áreas (FREITAS, 2005).

Os estudiosos das organizações têm se mostrado receptivos às áreas

de conhecimento, como a sociologia, a psicologia e a antropologia, inclusive

compondo teorias destas outras ciências (CAVEDON; LENGLER, 2005). Além

do mais, os estudos organizacionais tem se utilizado dos métodos de pesquisa

destas outras disciplinas, apesar de Deshaies (1992) acreditar que um método

não pode ser intermutável de uma disciplina para outra, os estudos

organizacionais utilizam métodos advindos de outras disciplinas como uma

forma de alcançar novos conhecimentos.

Sendo assim, não é possível negar a interdisciplinaridade dos estudos

organizacionais. Vasconcelos (2003) define a interdisciplinaridade como um

“modelo” ideal de abordagem em ciências sociais, pois quando temos por

assunto os estudos organizacionais, em um ponto ou em outro aflora uma outra

disciplina. Esta interdisciplinaridade ao mesmo tempo em que torna o campo

de conhecimento dos estudos organizacionais abrangente, dificulta o processo

de busca dos estudos organizacionais para se tornar uma ciência.

Os estudos organizacionais na busca por essa cientificidade e

identidade terão, conseqüentemente, que abarcar as visões de mundo

diferenciadas na qual se inserem estas disciplinas tais como: sociologia,

psicologia, antropologia e economia.

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Adorno (1975) esclarece explicando que o conjunto de disciplinas das

ciências sociais não é delimitado e, além disso, não podemos considerar que

isto seja um defeito do sistema da ciência e sim, deve-se pensar que as

ciências relacionadas ao homem formam uma unidade e, assim sendo,

percebemos a noção de interdisciplinaridade sendo advogada nos meios

científicos atuais (LENGLER;CAVEDON, 2005) e nos estudos organizacionais.

Para Bhaskar (apud LACEY, 1998) as ciências sociais – na qual se

insere o estudo organizacional – não podem ser consideradas ciências, mas

talvez ideologias. Esse processo de maior dificuldade em busca de uma maior

cientificidade dos estudos organizacionais ocorre porque as ciências sociais

são mais complexas do que quaisquer definições únicas que sua atividade

poderia abranger, estas disciplinas, como a sociologia, economia, psicologia

estão contribuindo para constituir uma nova “ciência”, e para tal devem

conhecer a natureza dos seus métodos (MAY, 2004).

Geertz (1989) descreve que se quisermos compreender o que é a

ciência devemos olhar, em primeiro lugar, para o que os praticantes da ciência

fazem. Relata Stablein (2001) que o público mais importante para o estudioso

em organizações são os outros pesquisadores. Então, olhar para o que o outro

faz, e para si mesmo, é conhecer o que é considerado científico para os

estudiosos das organizações, pois todos são membros da mesma academia.

Como já explicitou May (2004), considera-se ciência um corpo coerente de

pensamento sobre um tópico acerca do qual há um amplo consenso entre os

cientistas que a praticam.

Para compreender e refletir sobre a cientificidade dos estudos

organizacionais os próprios pesquisadores passaram a fazer uma auto-análise

daquilo que eles já haviam publicado no meio científico. Percebeu-se então,

desde a década de 80, a busca de um maior consenso e de uma maior

cientificidade nos estudos organizacionais através de trabalhos publicados

sobre a produção científica brasileira de diversas áreas, como marketing,

recursos humanos e outras áreas de conhecimento.

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A importância de buscar compreender o contexto no qual os estudos

organizacionais estão inseridos advém do fato de que a investigação social não

se faz “simplesmente seguindo regras metodológicas” (HAMMERSLEY;

ATKINSON, 1994, p. 39) de outras disciplinas. Esta busca tem a intenção de

perceber e esclarecer que tipo de ciência os estudos organizacionais estão

gerando, para possibilitar uma reflexão acerca do que os próprios

pesquisadores estavam produzindo e considerando científico.

Deu-se então início à discussão metodológica e epistemológica acerca

dos estudos organizacionais, e este fato despertou e ainda desperta o

interesse de diversos pesquisadores brasileiros. A preocupação dos

pesquisadores perante a produção científica brasileira publicada nos últimos

anos é percebida através dos trabalhos com estes temas publicados no meio

científico1. Estes trabalhos são de extrema importância para o conhecimento e

avaliação do que se tem produzido no meio acadêmico de forma que sejam

“fontes de reflexão crítica” tal como determinou Bertero, Caldas e Wood Jr.

(2005).

Estas críticas fizeram com que os autores chegassem a conclusões que

contribuem para a reflexão da produção científica brasileira, como a falta de

rigor nas pesquisas realizadas no Brasil; a baixa qualidade metodológica da

produção brasileira e desempenho limitado das pesquisas. As críticas

encontradas na produção científica brasileira2 denotaram uma fragilidade

1 Vergara e Carvalho (1995); Hemais e Vergara (2000); Bignetti e Paiva (2001); Vergara e Pinto (2001); Viera(2003) ; Loiola e Bastos (2003); Vergara (2005b); Godoi e Balsini (2004 e 2006); Vieira, (2005b); Vieira (2003a); Martins e Pucci, (2002); Bertero, Binder e Vasconcelos(2005); Tonelli et al (2003a); Tonelli et al (2005b), Pacheco (2005),; Arkader (2005); Hoppen e Meirelles (2005a); Hoppen e Meirelles (2005b), Hoppen (1998); Rodrigues e Carrieri (2000); Hemais E Vergara, 2000; Bignetti E Paiva, 2001); Giroletti (2000); Vergara e Pinto (2000); Vergara e Pinto (2001); Ludmer et al,(2002); Leal (2005); Leal, Oliveira, Soluri (2003); Arkader (2005), Gosling e Gonçalves(2004); Froemming et al (2000a); Froemming, 2000b, Lima, 1999, Tonelli et al (2005), Pacheco (2005).

2Determinadas críticas foram comuns, entretanto, as mais recorrentes foram as seguintes: a) A crítica pela utilização, em excesso, de referências estrangeiras (VERGARA e CARVALHO, 1995; VERGARA, 2005b, VIEIRA, 2003a; VIEIRA, 2005b; HEMAIS e VERGARA, 2000; BIGNETTI e PAIVA, 2001, VERGARA e PINTO, 2001; LOIOLA e BASTOS, 2003); b) A crítica pela concentração do estudo em determinados temas (VIEIRA, 2003a; MARTINS e PUCCI, 2002; BERTERO, BINDER e VASCONCELOS, 2005; TONELLI et al, 2003 a; TONELLI et al, 2005 b, PACHECO, 2005,; VIEIRA , 2005b; ARKADER, 2005; HOPPEN e MEIRELLES, 2005

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metodológica, e não somente metodológica, mas conseqüentemente

epistemológica na área de estudos organizacionais.

Vale lembrar que, em grande parte dos artigos, as análises não estavam

concentradas em aspectos de ordem epistemológica, ontológica e

metodológica, sendo que um grupo considerável de pesquisadores fizeram

análises não tão aprofundadas no contexto epistemológico, tornando, na visão

de Caldas (2005, p. 53), a discussão ainda incipiente perante a escassez de

trabalhos epistemológicos e metodológicos em língua portuguesa.

Esta questão não apenas metodológica, mas também epistemológica

permanece insolúvel. Bertero, Caldas e Wood Jr. (2005) percebem essa

inquietude e consideram que ainda é problemático falar em conhecimento

científico em administração, pois a área continua agitada por modismos e por

posições diferenciadas quando se tenta abordar a questão de uma perspectiva

epistemológica ou mesmo metodológica. Porém os problemas metodológicos

estão intimamente vinculados com a caracterização epistemológica (VERA,

1973). Além disso, indagar de método é indagar o humano, e irá desencadear

uma atividade pensante (ZACCUR, 2003, grifo do autor) que só terá efeito se

for realizada por toda a academia.

a; HOPPEN e MEIRELLES, 2005b, HOOPEN, 1998); c) A crítica pela não utilização dos autores da academia como referência (VIEIRA, 2003a; MARTINS e PUCCI, 2002; VIEIRA, 2005b, RODRIGUES e CARRIERI, 2000; HEMAIS e VERGARA, 2000; BIGNETTI e PAIVA, 2001); d) A crítica pela escassez de desenvolvimento de uma análise organizacional brasileira gerando falta de identidade na produção científica (GIROLETTI, 2000; VERGARA e PINTO, 2000; VERGARA e PINTO, 2001; RODRIGUES e CARRIERI, 2000; HEMAIS e VERGARA, 2000; BIGNETTI e PAIVA, 2001; GIROLETTI, 2000; LUDMER et al, 2002); e) A crítica à endogenia revelada através da concentração de algumas instituições com maior número de publicações (VIEIRA, 2003; LEAL, 2005; LEAL, OLIVEIRA, SOLURI, 2003; BERTERO, BINDER e VASCONCELOS, 2005, VIEIRA, 2005, ARKADER, 2005, TONELLI et al, 2003; VERGARA e PINTO, 2001; LOIOLA e BASTOS, 2003); f) A crítica ao excesso de trabalhos exploratórios ou sem pretensão de criação de teoria (HOPPEN, 1998; TONELLI et al, 2003; GOSLING e GONÇALVES, 2004; FROEMMING et al, 2000a; FROEMMING, 2000b, LIMA, 1999, TONELLI et al, 2005, PACHECO, 2005, HOPPEN e MEIRELLES, 2005) g) A crítica de um número pequeno de autores por artigo revelando individualismo exacerbado (ARKADER, 2005; VIEIRA, 2003a; BERTERO, BINDER e VASCONCELOS, 2005; VIEIRA, 2005b; LEAL, OLIVEIRA e SOLURI, 2003; LEAL, 2005 ).

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Diante desta fragilidade verificada nos estudos das organizações e

também da escassez de estudos metodológicos e epistemológicos na área,

intencionou-se inserir esta pesquisa na contribuição do preenchimento da

lacuna verificada na produção brasileira. A busca de uma maior compreensão

da epistemologia das estratégias de pesquisa utilizadas nos estudos

organizacionais tem como fator motivador, além dos resultados encontrados

nos estudos críticos da produção brasileira, o fato de incitar a reflexão acerca

da produção científica que, como percebeu Caldas (2005, p.53), a “metodologia

e epistemologia são necessidades eminentes geradas pela falta de consenso

metodológico entre alunos, e principalmente entre pesquisadores”.

Sabe-se que a epistemologia não pode dissociar-se da metodologia e a

metodologia, como Demo (2004, p. 9) explica, concede “construir a capacidade

de construir conhecimento”. Ressalta-se, então, que revitalização do

epistemológico é uma necessidade diante do exposto acerca da produção

científica brasileira e da conseqüente produção de conhecimento.

Antes de descrever o objetivo desta pesquisa ainda é preciso explicar,

primeiramente, o termo estratégia de pesquisa. O termo estratégia de pesquisa

é atual e utilizado por Denzin e Lincoln (1994 e 2000), organizadores do livro

“Handbook of Qualitative Research”. Este termo foi utilizado tanto na edição de

1994, quanto na edição de 2000.

O livro em questão é reconhecido na academia como referência em

termos de pesquisa qualitativa. Denzin e Lincoln (1994) definem o termo

estratégia de pesquisa como um pacote de concepções, práticas e habilidades

que o pesquisador emprega para movimentar-se do paradigma ao mundo

empírico. Percebe-se então que estratégia de pesquisa é um termo abrangente

e importante para a construção de conhecimento científico.

O termo estratégia de pesquisa foi sendo então designado como

preferencial à clássica denominação método de pesquisa utilizada

historicamente (GODOI, BANDEIRA-DE-MELLO e SILVA, 2006). Na

concepção de Yin (2005, p.33) a estratégia de pesquisa não é nem uma

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técnica para coleta de dados, nem simplesmente um planejamento de dados,

mas uma estratégia de pesquisa abrangente.

Ainda Godoi, Bandeira-de-Mello e Silva (2006, p. 9), depois de

analisarem a obra de Rossenau (1992), explicam que a utilização do termo

estratégia de pesquisa não é apenas uma escolha semântica, mas sim “uma

postura crítica com relação à ausência de aproximação entre sujeito e objeto”.

Nesse sentido, vale utilizar a tipologia de Valles (1997) para tornar mais

compreensível a conceituação do termo estratégia de pesquisa utilizado neste

estudo. Na tipologia proposta por Valles (1997) explica-se a designação de

elementos metodológico-epistêmicos e de elementos metodológico-técnicos.

Os elementos metodológico-epistêmicos não se isolam dos elementos

metodológicos–técnicos, e o mesmo ocorre com os elementos metodológicos-

técnicos que estão amarrados aos elementos metodológico-epistêmicos.

Os elementos metodológico-epistêmicos são o suporte fundamentador

da pesquisa e estão em constante relação com os elementos metodológicos-

técnicos, ou seja, as decisões técnicas da pesquisa estão também vinculadas

aos elementos metodológico-epistêmicos. A noção de elementos epistêmicos

refere-se a aspectos epistemológicos e ontológicos da pesquisa que definem a

metodologia da pesquisa e são a base do pensamento e da visão, tanto de

homem quanto de mundo e da realidade, sendo que estes elementos

funcionam como os pilares do trabalho. Dado este exposto percebe-se que a

estratégia de pesquisa estaria em maior predomínio naquilo que Valles (1997)

denomina de elementos metodológico-epistêmicos, sendo que na passagem

para elementos metodógico-técnicos não existe dissociação.

Apesar das definições acerca da metodologia serem normalmente

acertadas posteriormente, nos elementos metodológico-técnicos as suas

características já estarão inevitavelmente esboçadas desde o princípio através

da base epistêmica. Na base epistêmica está inserida a questão doa escolha

do paradigma e questões relativas a ontologia, já nos elementos metodológico-

técnicos, inserem-se as escolhas metodológicas, mais práticas. Pois os

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problemas relativos ao método tocam, não somente problemas lógicos, mas

epistemológicos e até mesmo metafísicos (MORA, 2000, p. 156).

O que norteia e perpassa todo conjunto de elementos, tanto epistêmicos

quanto técnicos, é o que ficará definido como estratégia de pesquisa neste

estudo, tomando como conceito a designação de Valles (1997). Na definição

de Yin (2005, p. 33), para o termo estratégia de pesquisa percebe-se a falta de

elementos epistêmicos e, demasiada, de elementos técnicos desvalorizando

um aspecto importante da pesquisa científica: os fundamentos

epistemológicos. Solis (2000, p. 153), tal como Valles (1997), percebendo a

importância dos fundamentos epistemológicos explica que todo

questionamento metodológico é, fundamentalmente, epistemológico embora

não se restrinja somente ao campo epistemológico.

1.1 Problema de pesquisa

Diante da fragilidade exposta anteriormente através das críticas

realizadas pelos próprios estudiosos das organizações e, além disso, devido à

escassez de trabalhos de ordem epistemológica e metodológica na área de

estudos organizacionais, é que se insere a justificativa da relevância deste

estudo que pretende responder ao seguinte problema de pesquisa: quais as

possibilidades de confluência paradigmática entre as estratégias de pesquisa

empíricas em estudos organizacionais?

1.2 Objetivos do estudo

Para alcançar a resposta desta pergunta de pesquisa delimitou-se o

seguinte objetivo geral:

Identificar as possibilidades de confluência paradigmática entre as

estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais.

Para alcançar a resposta à pergunta de pesquisa e do objetivo geral

elaborou-se os objetivos específicos abaixo:

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18

• Descrever as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas em estudos

organizacionais

• Descrever os principais paradigmas utilizados em estudos

organizacionais

• Discutir as questões práticas atuais que possam gerar confluência entre

os paradigmas e estratégias de pesquisa

• Posicionar as estratégias de pesquisa de acordo com as questões

práticas selecionadas e aos paradigmas.

1.3 Metodologia

Para que os objetivos pudessem ser alcançados foi utilizada a estratégia

de pesquisa bibliográfica que se tornou, em nossos dias, ciência independente

(FONSECA, 1986, p.10). Esta estratégia de pesquisa permite controlar o

conhecimento disperso (MACEDO, 1994) a fim de alcançar determinados

objetivos.

Cabe esclarecer que para que fosse possível identificar as

possibilidades de confluência paradigmática entre as estratégias de pesquisa

empíricas utilizadas em estudos organizacionais, buscou-se como principal

referencial teórico a visão dos autores Lincoln e Guba (1994, 2006) pela sua

contribuição intelectual significativa nos campo dos estudos organizacionais e

por sua proposta de confluência paradigmática e epistemológica.

Devido ao fato de que a estratégia de pesquisa adotada foi a

bibliográfica operacionalizou-se a alocação das estratégias através da definição

de algumas questões práticas propostas por Guba e Lincon (2006). Apesar da

terminologia “questões práticas” parecer subjetiva, mantém-se este termo nesta

pesquisa pois esta foi a terminologia utilizada pelos autores Guba e Lincoln

(2006).

As questões práticas são questões atuais propostas por Guba e Lincoln

na obra The Landscape of qualitative research. O desenvolvimento destas

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19

questões ocorreu da seguinte forma: na primeira edição do livro os autores

apresentaram suas posições quanto aos paradigmas (positivismo, pós-

positivismo, teoria crítica e construtivismo) e quanto a algumas questões que,

na época, acreditavam ser as mais fundamentais para diferenciar os quatro

paradigmas. As questões práticas nesta época eram: objetivo investigativo;

natureza do conhecimento; acúmulo de conhecimento; bondade ou critérios de

qualidade; valores; ética; voz; treinamento; acomodação; hegemonia.

Após a publicação do livro diversos autores como John Heron e Peter

Reason, discutiram as questões e fizeram algumas sugestões dentre as quais

a inclusão de um novo paradigma – participativo - aceito pelos autores Guba e

Lincoln (2006).

Os autores reformularam as questões e, na nova edição do livro,

buscaram se concentrar no que, para os autores, são as sete questões mais

importantes da atualidade: axiologia; acomodação e comensurabilidade; ação;

controle; fundamentos da verdade e do conhecimento; validade; voz,

reflexividade e representação textual pós-moderna.

Guba e Lincoln (2006) acreditam que estas são as questões mais

controversas, porém as com maior poder de criação de um espaço intelectual,

teórico e prático, que gere diálogo, consenso e confluência. Então, as sete

questões apresentadas acima serão a base na qual será realizada a vinculação

paradigmática entre as estratégias de pesquisa.

As estratégias de pesquisa empíricas analisadas neste estudo são as

seguintes: 1) estratégia de pesquisa de estudo de caso, 2) estratégia de

pesquisa etnográfica, 3) estratégia de pesquisa historiográfica, 4) estratégia de

pesquisa-ação participante 5) estratégia de pesquisa grounded theory, 6)

estratégia de pesquisa survey e 7) estratégia de pesquisa experimental.

Verifica-se acima que delimitamos neste estudo o uso de estratégias

empíricas, ou seja, o uso de estratégias que utilizam dados primários, aqueles

que foram coletados pela primeira vez pelo pesquisador. A escolha de

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20

estratégias empíricas deu-se pelo fato de facilitar a alocação das estratégias

aos objetivos pretendidos, além disso, notou-se a inexistência de literatura

suficiente sobre algumas estratégias de pesquisa como a documental e

bibliométrica.

Ressalta-se, então, que este estudo propõe uma reflexão acerca de

questões epistemológicas das estratégias de pesquisa utilizadas em estudos

organizacionais com a intenção de contribuir para a discussão ainda incipiente

nesta área.

Para tanto, no capítulo 2, a seguir, foi preciso descrever as estratégias

de pesquisas empíricas já apresentadas nesta introdução para então, no

capítulo 3, descrever os paradigmas utilizados em estudos organizacionais

apresentando os paradigmas pós-modernos utilizados neste estudo para

análise posterior.

No capítulo 4 dá-se início à apresentação das questões práticas que

podem gerar diálogo e serem discutidas a fim de contribuir para uma maior

reflexão. No capitulo 5 torna-se possível realizar o posicionamento das

estratégias empíricas quanto as questões práticas explanadas e quanto aos

paradigmas pós-modernos. Para ao final chegar a algumas conclusões acerca

do que foi discutido.

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21

2 AS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EMPÍRICAS UTILIZADAS EM

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Neste estudo utiliza-se o termo estratégia de pesquisa para definir todo o

pacote de concepções, práticas e habilidades que o pesquisador emprega para

movimentar-se do paradigma ao mundo empírico (DENZIN e LINCOLN, 1994).

Valles (1997) compartilha da mesma concepção denominando de estratégia de

pesquisa a passagem, sem dissociação, dos elementos metodológico-

epistêmicos para elementos metodológico-técnicos, sendo que existe uma

maior predominância das estratégias de pesquisa nos elementos metodológico-

epistêmicos.

Cabe então fazer uma breve descrição das estratégias de pesquisa

empíricas utilizadas em estudos organizacionais e analisadas neste estudo.

2.1 A estratégia de estudo de caso

A estratégia de estudo de caso é adotada por diversas áreas de

conhecimento como a psicologia, a psicanálise, a sociologia, a ciência política,

o direito, dentre outras, mas também é apenas uma das maneiras de se fazer

pesquisa em ciências sociais. O estudo de caso, na concepção de Yin (2005,

p.19), é muito utilizado como estratégia de pesquisa quando se colocam

questões do tipo “como” e “por que”. Quando o pesquisador tem pouco controle

sobre os eventos e também quando o foco se encontra em fenômenos

inseridos em algum contexto da vida real. Godoy (2006, p. 122) explica que

estudos de casos adotam um enfoque indutivo no processo de coleta e análise

de dados. Os pesquisadores tentam obter suas informações a partir das

percepções dos autores locais, colocando “em suspenso” suas pré-concepções

sobre o tema que está sendo estudado.

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Um estudo de caso é uma investigação empírica de “um fenômeno

contemporâneo dentro de seu contexto na vida real, especialmente quando os

limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. (YIN,

2005). Além disso Cervo e Bervian (1996) explicam que o estudo de caso serve

para examinar diversos aspectos existentes em determinado indivíduo, família,

grupo ou comunidade.

Stake (2000) distingue três tipos de estudo de caso a partir de suas

finalidades: intrínseco, instrumental e coletivo. O estudo de caso intrínseco

busca-se melhor compreensão de um caso apenas pelo interesse despertado

por aquele caso particular. Já no estudo de caso instrumental, ao contrário, o

interesse do caso se deve ao fato de que ele poderá facilitar a compreensão de

algo maior. No estudo de caso coletivo o pesquisador estuda conjuntamente

alguns casos para investigar um determinado fenômeno. Fachin (2006)

complementa explicando que o número de casos pode ser diminuído a um

componente ou envolver numerosos elementos como grupos, subgrupos,

organizações, comunidades, instituições e outros.

Triviños (1992) constata que estudo de caso é uma categoria de

pesquisa onde o objeto é uma unidade que será analisada em profundidade.

Sendo que nos estudos de caso qualitativos, onde nem as hipóteses nem os

esquemas de inquisição estão previamente estabelecidos, a complexidade do

exame vai aumentando à medida que o assunto vai se aprofundando.

Pozzebon e Freitas (1998, p.144) destacam a forte importância que o estudo

de caso pode vir a desempenhar já que refere-se na área de sistemas de

informação, sobretudo se buscarmos maior rigor na sua aplicação e

complementam referindo-se estudo de caso como exame do mundo real como

ele existe em seu ambiente natural.

Mesmo sendo de caráter qualitativo, conforme já mencionado, o estudo

de caso pode comportar dados quantitativos para aclarar algum aspecto de

questão investigada (GODOY, 2005). Para Merriam (1998) os estudos de caso

normalmente são qualitativos, mas, podem ser, também, quantitativos e testar

teorias

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Godoy (2005) ainda ressalta a importância de que, quando há análise

quantitativa, geralmente o tratamento estatístico não é sofisticado. É também

característica do estudo de caso a heurística, ajudando o pesquisador na

compreensão e descoberta de novos significados para aquilo que está sendo

estudado. O pesquisador que opta por este tipo de metodologia deve estar

atento para o aparecimento de novos significados, explica Godoy (2005 p. 26).

No entendimento de Yin (2003) o estudo de caso é uma investigação

empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto

da vida real quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão

definidos de forma clara. Além dessas contribuições Yin (2003) explica que a

investigação de estudo de caso enfrenta uma situação única, em que existirá

muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e como resultado

baseia-se em várias fontes de evidências, com os dados convergindo em

triângulo e como outro resultado, beneficia-se do desenvolvimento prévio de

proposições teóricas para conduzir a coleta e a análise dos dados.

Stake (2000) alerta para o fato de que nem tudo pode ser considerado

um estudo de caso, pois um caso é uma unidade específica, um sistema

delimitado cujas partes são integradas. Alves-Mazzotti (2006) confirma este

fato quando explica que o grande problema dos trabalhos apresentados como

estudos de caso é o fato de que eles não se caracterizam como um caso. Esta

afirmação, reflete a visão de muitos pesquisadores que entendem,

equivocadamente, que o estudo de caso representa uma pesquisa fácil. Essa

afirmação simplifica a complexidade existente nesta estratégia de pesquisa, e o

conseqüente rigor necessário para sua realização.

Apesar do estudo de caso ser muito utilizado em estudos exploratórios e

descritivos, Stake (2000) alerta para o fato de que nem tudo pode ser

considerado um estudo de caso, pois um caso é uma unidade específica, um

sistema delimitado cujas partes são integradas.

Lüdke e André (1986) explanam várias características dos estudos de

caso que resumidamente são: visar à descoberta, enfatizar a interpretação em

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contexto, buscar retratar a realidade de forma completa e profunda, usar uma

variedade de fontes de informação, revelar experiências vicárias e permitir

generalizações naturalística e procurar representar diferentes e, muitas vezes,

conflitantes pontos de vistas presentes em determinada situação social.

Esta estratégia de pesquisa permite uma investigação que preserva as

características holísticas e significativas dos eventos da vida real (YIN, 2005,

p.21). “O estudo de caso é um estudo de caso” seja ele o mais simples e

específico ou o mais complexo e abstrato, ele pode ser parecido a outros,

entretanto ao mesmo tempo ele é distinto, pois tem um interesse único, próprio

(LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

O estudo de caso contribui de forma inigualável para compreensão que

temos dos fenômenos sociais, individuais, organizacionais, sociais e políticos.

(Yin, 2005, p. 19). O desenvolvimento de um estudo de caso é caracterizado

por Nisbet e Watt (apud LÜDKE e ANDRÉ, 1986, p. 21) pelo desenrolar de três

fases: a primeira aberta ou exploratória, inicial e se desenvolverá nas fases

seguintes, a segunda mais sistemática, pois é onde ocorre a coleta de dados e

a terceira etapa consiste na análise e interpretação dos dados e a conseqüente

elaboração do relatório.

A investigação em um estudo de caso enfrenta uma situação

tecnicamente única que haverá muito mais variáveis de interesse do que ponto

de dados, e como resultado baseia-se em várias fontes de evidências e

também beneficiando-se desenvolvimento previamente realizado de

proposições teóricas para encaminhar a coleta e análise de dados (YIN, 2005,

p. 33) , para ser realizado, Yin (2005) define algumas etapas que podem ser

seguidas: a) formulação do problema, b) definição da unidade-caso; c)

determinação do número de casos; d) coleta de dados; e) avaliação e análise

dos dados; f) preparação do relatório.

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25

2.2 A estratégia de pesquisa etnográfica

Antes de explicitar o surgimento da etnografia dentro dos estudos

organizacionais é válido esclarecer, mesmo que de forma simplificada, o

significado de antropologia. Sendo assim, definimos a antropologia como a

ciência que estuda o homem de todos os tipos e tempos (CAVEDON, 1999,

p.2). É comum associarmos a pesquisa etnográfica com a antropologia, onde

ela tem sido tradicionalmente empregada em estudos com populações

primitivas e minorias culturais. Hoje ela é utilizada também na exploração de

temáticas associadas a outras áreas do conhecimento, como, por exemplo, a

educação, a psicologia social e a administração de empresas (GODOY,

1995a).

O termo cultura está associado ao conceito de antropologia gerando um

contorno a mais neste contexto, dado que a cultura é o maior diferencial

existente entre os homens e os outros animais do planeta. Atualmente utiliza-

se a expressão Antropologia Social como sinônima de Antropologia Cultural e

de Etnologia. E por meio do método típico de pesquisa da antropologia, a

etnografia, busca-se interpretar e dar significado à cultura. Patton (1990, p. 67)

é claro quando explana que o foco da pesquisa etnográfica está na seguinte

questão: o que é ou qual é a cultura deste grupo de pessoas?

Godoy (1995) explica que a estratégia possibilita uma interpretação da

cultura de um grupo a partir da investigação de como seu sistema de

significados culturais está organizado e de como influencia o comportamento

grupal. Nisto consiste a familiarização do pesquisador com a cultura estudada

por meio da observação participante e de uma longa interação social com o

grupo (MASCARENHAS, 2002) demonstrando que a idéia de cultura é central

na etnografia (PATTON, 1990, p. 67).

O método etnográfico, explica Vergara (2005, p. 72), é originado no

campo da antropologia e consiste na inserção do pesquisador no ambiente, no

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dia a dia do grupo investigado. Na antropologia as primeiras experiências

através desta estratégia foram realizadas por Bronislaw Malinowski entre 1914

e 1918 (ANDION, SERVA, 2006), considerado o grande sistematizador da

etnografia como um método de pesquisa. Seus estudos da vida social e da

cultura nas ilhas Trobriand resultaram na obra clássica “Argonautas do Pacífico

Ocidental” em 1922, considerada uma referência fundamental para a definição

do que seria o método etnográfico. Malinowiski propunha a busca da visão de

dentro, através do convívio íntimo e intenso do antropólogo com a cultura

investigada (ROCHA, BARROS e PEREIRA, 2005).

Dentro do campo etnográfico existem três correntes antropológicas

distintas. A primeira corrente seria voltada para a perspectiva de conversão, de

viver como vivem os nativos. Dentro desta perspectiva o precursor é

Malinowski. (VERGARA, 2005).

A segunda abordagem antropológica tem como precursor Clifford

Geertz. Esta abordagem é conhecida como abordagem interpretativa, ou

perspectiva interpretativa, que ao invés de viver como vivem os nativos, possui

a visão de viver com o nativo. Nesta perspectiva a participação do etnógrafo

pode ser aberta ou não na vida diária das pessoas investigadas e o traço

marcante da etnografia é a investigação realizada por dentro da realidade do

grupo (VERGARA, 2005).

A terceira abordagem seria uma continuidade da perspectiva

interpretativa (VERGARA, 2005, p. 72): a abordagem pós-moderna. Porém, na

perspectiva pós-moderna, ainda existe uma imprecisão e falta de consenso

sobre o próprio conceito de pós-modernidade identificado por Macagnan (2005,

p. 13) e por Cavedon e Lengler (2005, p. 50).

O surgimento da etnografia e de tantos outros métodos do conhecimento

científico tiveram a sua origem na Europa no século XIX (CÁCERES, 1998),

especificadamente na França e na Inglaterra. A etnografia originou-se das

ciências humanas, da disciplina Antropologia e, no contexto da antropologia, a

etnografia é considerada clássica e de importância central, já que, no campo

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antropológico, é considerado o método típico de pesquisa (CAVEDON, 1999) e

uma marca do conhecimento da antropologia (ROCHA, BARROS, PEREIRA,

2005, p. 124). Em muitos sentidos esta estratégia é considerada a forma mais

básica de investigação social, pois se assemelha notavelmente aos modos

rotineiros que damos sentido ao mundo e a nossa vida diária (HAMMERSLEY

e ATKINSON, 1994).

A etnografia, nas últimas décadas, tem sido utilizada como forma de se

realizar a investigação social ainda que exista escassez de literatura acerca

das formas de utilização desta estratégia. Essa ausência de conselhos pode

ser traduzida por pesquisadores de uma forma errônea, causando a impressão

de que para conduzir um estudo etnográfico não é necessário preparação ou

conhecimento prévio (HAMMERSLEY e ATKINSON, 1994). Para tanto, por ser

a etnografia um método de pesquisa ou um conjunto de métodos, e por ser sua

principal característica a presença do investigador no campo, o investigador

social, incluindo-se deste modo o etnógrafo, passa a ser um observador

participante.

Hammersley e Atkinson (1994, p. 15) explicam que a crescente

utilização da estratégia etnográfica deve-se à desilusão provocada pelos

métodos quantitativos de pesquisa que dominaram por muito tempo a maior

parte dos estudos sociais e no Brasil, o uso da etnografia nos estudos

organizacionais ainda é recente, sendo utilizado em sua maioria para analisar a

cultura e consumo (VIEIRA, TIBOLA, 2005). Dados mais atuais, levantados por

Barros, Rocha e Pereira (2005, p. 129 e 130), revelam que na área de

marketing, nos Estados Unidos, alguns estudiosos utilizaram a estratégia

etnográfica para conhecerer as dimensões culturais presentes nas ideologias e

práticas de consumo. Dessa forma, complementam Barros, Rocha e Pereira

(2005, p. 139), o estudo etnográfico permite conhecer as formas pelas quais os

grupos sociais atribuem significados ao mundo do consumo e seus infindáveis

produtos e serviços.

No campo do estudo das organizações, os primeiros trabalhos

acadêmicos influenciados pela antropologia ocorreram nos anos 20. As

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primeiras experiências foram os experimentos da fábrica de Hawthorne,

realizados com o objetivo de testar princípios da escola de administração

científica. Como resultados destes estudos constataram a existência da

organização social dos grupos de trabalho, que foram parcialmente

estruturados a partir de conceitos e técnicas da antropologia, conforme explica

Vergara (2005). De volta ao Brasil, alguns trabalhos foram publicados nos

ENANPADs e discutiram o relacionamento entre a antropologia e o marketing,

demonstrando o interesse da academia pela estratégia de pesquisa

etnográfica.

Rocha, Barros e Pereira (2005) vão além da definição etnográfica

considerada comum para os antropólogos. Para os autores, a etnografia é

muito mais do que uma metodologia de pesquisa ou de uma técnica de coleta

de dados, trata-se de um eixo fundador da disciplina antropológica, ou seja,

seu espírito. Pois toda a pesquisa antropológica traz em si, mesmo sem ser

explicitado, uma perspectiva acerca da natureza humana e das possibilidades

de conhecê-la.

As maiorias das investigações etnográficas se preocupam mais por

desenvolver teorias a partir de dados de campo que em verificar hipóteses já

existentes, e uma série de atores, especialmente Glaser e Strauss (1965), tem

chamado a atenção sobre as vantagens que implica desenvolver teorias

mediante o registro sistemático da informação de campo em lugar de confiar na

“teorização de poltrona” (HAMMERSLEY, ATKINSON ,1994, p.41).

A estratégia de pesquisa etnográfica além desta, possui outros aspectos

que valem ser destacados aqui para melhor compreensão da estratégia: a)

uma forte ênfase em explorar a natureza de um fenômeno social particular, em

vez de partir para um teste de hipóteses a respeito, b) uma tendência em

trabalhar primeiro com dados que ainda não tenham sido codificados no

momento da coleta de dados em termos de um conjunto fechado de categorias

analíticas, c) a investigação detalhada de um pequeno número de casos, ou de

apenas um caso, d) uma análise de dados que envolvem interpretação explícita

dos significados e das funções das ações humanas, na qual o produto assume

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a forma de descrições e explicações verbais (HAMMERSLEY , ATKINSON,

1994).

Outro traço marcante da pesquisa etnográfica é a investigação por

dentro da realidade de um grupo, sendo o conhecimento cientifico gerado a

partir do ponto de vista do outro (ROCHA, BARROS, PEREIRA 2005).

Hammersley e Atkinson (1994) entendem então o termo etnografia como uma

referência a um método concreto ou a um conjunto de métodos. Sua principal

característica seria que o etnógrafo participa, abertamente ou de maneira

encoberta, na vida diária das pessoas durante um período de tempo,

observando o que acontece, escutando o que se disse,fazendo perguntas; de

fato, fazendo arrecadação de qualquer dado disponível que sirva para

arremessar um pouco de luz sobre o tema em que se centra a investigação.

Ou seja, pesquisador e pesquisados compartilham situações que

permitem ao pesquisador elaborar uma descrição densa, revelam Cavedon e

Lengler (2005). O fazer etnografia implica em ir ao campo com uma bagagem

teórica, entretanto totalmente desprovido de preconceitos vivendo a realidade

da comunidade investigada através da observação participante com todos os

sentidos à flor da pele (CAVEDON, 2001). Desta experiência tudo é relatado,

em detalhes, no diário de campo ou registro de campo, local onde são

anotados minuciosamente todos os acontecimentos. O que antes era novo e

estranho passa a ser familiar e conhecido. Nestes momentos o investigador se

afasta para fazer o relatório de pesquisa. Cavedon (2001) explica que neste

momento passam inúmeras imagens na mente do pesquisador, e muitas vezes

são melhor entendidas do que as palavras.

O trabalho etnográfico busca ler nas entrelinhas, ou seja, busca construir

interpretações. Porém estas interpretações não são definitivas, são sempre

provisórias, passíveis de questionamentos e de reconstruções (PEDRO JR,

2005, p. 157). Mas Cáceres (1998) afirma que através de um conhecimento

aprofundado de um pequeno universo, é possível obter amplas interpretações

das estruturas conceituais que criam os valores presentes na vida dos atores

investigados. Desta forma, Cáceres (1998, p. 349) vê a etnografia como uma

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intenção de trabalho de campo indispensável, e este fato é que determinará a

qualidade central da diversidade dos enfoques que dela fluem.

Contribuindo com as afirmações de que as interpretações do estudo

etnográfico não são definitivas (PEDRO JR, 2005). Hammersley e Atkinson

(1994) consideram as fronteiras da etnografia pouco nítidas. Sendo assim, a

postura da etnografia pressupõe, nela própria, uma concepção da realidade

onde o real não se encontra pré-definido.

A noção de definição da situação impõe a idéia de que são os próprios

atores que definem a situação na qual se encontram e, ao fazerem isso, estão

construindo a situação coletivamente (ROCHA, BARROS; PEREIRA, 2005).

São os próprios sujeitos sociais que interpretam em primeira mão a sua cultura.

Nota-se que a construção da estratégia etnográfica é realizada in loco.

Partindo do encontro e da relação entre pesquisador e pesquisado a etnografia

vai estabelecendo relações que possibilitam compreender, da melhor forma

possível, a complexidade de determinados fenômenos sociais (ANDION,

SERVA, 2006). Não existe unilateralidade na relação entre o pesquisador e

pesquisado. Ao contrário, a relação é constantemente negociada na etnografia.

Desta forma, a etnografia se configura na comunicação, e temos que aprender

a nos relacionar, a respeitar, inclusive a amarmos, e a compreender

(CÁCERES, 1998) e Cáceres (1998) complementa o fato de que o etnógrafo

requer tempo para sua formação, e só melhorará tecnicamente com o passar

dos anos, por meio da experiência. O investigador é o centro de tudo e sua

formação depende do todo, a diferença entre um novato e um experiente é

enorme e muitas vezes definitiva, pois a percepção é o coração do trabalho

etnográfico.

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31

2.3 A estratégia de pesquisa historiográfica

A estratégia historiográfica será analisada no estudo de forma geral, ou

seja, abrangendo a historia oral, de vida e temática.

Esta estratégia é apresentada por Meihy (2002) como uma das

alternativas disponíveis para o estudo da sociedade, realizada através de

depoimentos gravados e transcritos, Ichikawa e Santos (2006,) nos revela que

a historia oral surgiu no Brasil em 1975 e conforme Fenelon (1996) nos últimos

anos vem crescendo no Brasil, o interesse de pesquisadores ligados as

diversas áreas das ciências humanas pela História Oral, ou, pela realização de

trabalhos que utilizam fontes orais. A estratégia de pesquisa historia oral,

atingiu o meio acadêmico a partir da década de 90, de acordo com Ferreira

(2005). A história oral originou-se da Psicologia, da Sociologia e da

Antropologia (CÁCERES, 1998) e não da História, como seria uma escolha

oportuna. Porém, vale ressaltar que a condução da estratégia por um psicólogo

será diferente do modo de conduzir de um sociólogo ou de um antropólogo

(COLE e KNOWLES, 2001).

Nas organizações, explica Freitas (2002), a história oral ainda é pouco

utilizada no estudo. Tal fato pode estar relacionado ao entendimento

equivocado de que a história oral é o estudo sobre fatos passados. Concorda

dessa forma com Ichikawa e Santos (2006,), que explanam, o mesmo

entendimento, equivocado, de estudos sobre fatos passados, já acontecidos e

analisados muitas vezes dentro de uma cronologia insípida. A História, de

forma geral, sempre foi relegada pelos estudiosos das organizações. É

possível afirmar que a pesquisa qualitativa em Administração poderia ser ainda

mais enriquecida por meio da adoção da história oral. A pesquisa

organizacional pode valer-se da abordagem historiográfica como método,

especialmente o enfoque da nova História (CURADO, 2001).

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32

Um motivo que se destaca como gerador da pouca utilização da história

oral é o fato da Administração ser uma disciplina voltada para o futuro e

presente, e não para o passado, e,de um modo geral, a história oral gera pouco

interesse por parte dos pesquisadores que não buscam compreender e

analisar historicamente o contexto vivido pela organização (ICHIKAWA e

SANTOS, 2003). Outro fator explicitado por Freitas (2002) para a falta de

interesse em utilizar a história oral seria a falta de discussão epistemológica da

estratégia por parte dos oralistas. Fato que também não pode deixar de ser

citado neste momento é o discurso, já encontrado em outras estratégias de

pesquisa, diante da forte influência positivista existente na academia. Desse

modo presidindo a resistência ao uso de uma estratégia qualitativa.

Porém, buscando desfazer o equívoco de que a história oral seria

entendida como estudo sobre fatos passados. Ichikawa e Santos (2003)

explicam que, na verdade, a história oral é uma história do tempo presente.

Sendo assim, a história oral tem uma percepção do passado como algo que

tem continuidade no hoje e cujo processo histórico não está acabado.

Tampouco a história oral é uma autobiografia, mesmo que compartilhe com a

autobiografia sua forma narrativa, o ponto de vista na primeira pessoa e as

subjetividade (BECKER, 1992). Mas Alberti (2004) lembra que a história oral não é

um fim em si mesma, e sim um meio de conhecimento. Seu emprego só se justifica

no contexto de uma investigação científica, o que pressupõe sua articulação com um

projeto de pesquisa previamente definido. Assim, antes mesmo de se pensar em

história oral, é preciso haver questões, perguntas, que justifiquem o desenvolvimento

de uma investigação.

Freitas (2002) explica que a estratégia de história oral possui

abrangência multidisciplinar e tem sido utilizada por diversas áreas das

ciências humanas, como História, Sociologia, Antropologia, Linguística e

Psicologia. Porém, apesar da utilização da estratégia de pesquisa de história

oral ser utilizada por estas disciplinas, no ponto de vista teórico e metodológico

ainda há muito espaço para contribuir (FREITAS, 2002).

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Ichikawa e Santos (2006) conceitualizam a história oral como uma

metodologia de pesquisa que visa ao estudo e ao registro de acontecimentos,

histórias de vida, trajetórias de organizações, enfim, de temas históricos

contemporâneos que permitam acessar pessoas que ainda estejam vivas. Sua

principal técnica de coleta de dados é a entrevista de história oral, que obtém

depoimentos dos entrevistados envolvidos no assunto do estudo que está

sendo feito, realizando assim, de acordo com Lang (1996) um processo de

conversação entre o pesquisador e o narrador. Alberti (2004) reforça a idéia de que

a história oral privilegia a realização de entrevistas com pessoas que participaram

de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo, como forma

de se aproximar do objeto de estudo. Ou seja, a história oral, para Meihy (2002), esta

destinada também ao recolhimento de testemunhos, promovendo a análise de

processos sociais facilitando o conhecimento.

Através da história oral, Freitas (2002) relata a possibilidade de

interpretar e realizar reflexões a respeito do tema abordado na entrevista

através do registro oral dos próprios protagonistas e Alberti (2004, p. 31)

compreende que a aplicação da história oral depende intrinsecamente do tipo de

questão colocada ao objeto de estudo.

A história oral pode se distinguir em história oral Temática e História de

vida. História oral temática não exige um depoimento sobre a totalidade da vida

do indivíduo. A história oral temática tem características bem diferentes da

história de vida. Na medida em que se revelam aspectos úteis na historia

pessoal do individuo, para a elaboração do trabalho de pesquisa, é que surgem

os interesses por determinados tópicos ou aspectos da historia pessoal do

narrador (MEIHY, 2002). Lozano (1998) expõe ambas distinções da história

oral como partes de técnicas de investigação. A história oral temática não é o

mesmo que história de vida. A história oral de vida é a descrição da vida de um

individuo através do tempo.

Freitas (2002) diferencia as duas: a história de vida pode ser

considerada um relato autobiográfico que se faz do passado, realizado pelo

próprio individuo sobre sua própria história de vida, abrangendo a totalidade da

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vida do narrador, ou ainda, para Alberti (2004) incluindo a história desde a

infância. Becker (1992) vai mais além e explica a diferença entre a história de

vida e a autobiografia, contradizendo Freitas (2002) que diz história oral de vida

como um relato autobiográfico. Para Becker (1992), na autobiografia o leitor

possui a plena consciência de que o autor está nos contando apenas uma

parte da história, uma parte selecionada, de modo que ele pudesse apresentar

o retrato que ele gostaria que o público tivesse dele. Ou seja, o que foi

ignorado, o trivial ou até mesmo o desagradável para o autor, poderia ser de

interesse dos leitores, mas não do autor. Já na história de vida, todo o contexto

é abrangente, nenhum fato é desconsiderado.

Freitas (2002, p.21) explica que a historia oral temática pode ser

realizada com um grupo de pessoas, sobre um assunto especifico, e não sobre

a vida inteira do narrador (história de vida). A história oral temática parte de um

assunto especifico, segundo Meihy (2002), comprometendo-se dessa forma ao

esclarecimento de um determinado evento ocorrido na vida do entrevistado ao

entrevistador. Alberti (2004) salienta a necessidade da interação adequada das

questões colocadas ao objeto de estudo ao emprego de uma estratégia qualitativa de

investigação e que a realização de entrevistas de história oral constitua

efetivamente caminho adequado diante das perguntas realizadas em uma entrevista.

2.4 A estratégia de pesquisa-ação

Neste estudo consideraremos que toda a pesquisa ação engloba a

pesquisa participante e suas variedades.

Relacionada com a pesquisa participante, a pesquisa-ação

(participativa), conforme Eden e Huxham (2001, p. 96) têm como principal

característica distintiva a combinação do principio da central de pesquisa

“participativa" ou “colaborativa”, a noção de que alguns membros das

organizações estudadas devem participar ativamente do projeto de pesquisa,

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em vez de apenas serem sujeitos, com o princípio central da pesquisa-ação, de

que deve haver uma intenção para realizar ação. Isso sugere um

relacionamento de dupla direção; o pesquisador torna-se envolvido e contribui

para o homem do mundo da práxis, e este se torna envolvido e contribui

diretamente para o desenvolvimento da pesquisa. Normalmente surge em

situações onde as pessoas querem fazer mudanças cuidadosamente – ou seja,

depois de uma reflexão crítica. Aparece quando as pessoas querem pensar

“realisticamente” sobre como, na prática, as coisas podem ser mudadas

(KEMMIS, MACTAGGART, 2000).

A pesquisa ação é um método de pesquisa que visa à resolução de

problemas por meio de ações definidas por pesquisadores e sujeitos

envolvidos com a situação sob investigação, sugere Vergara (2005). Busca

através do comprometimento e envolvimento direto de todos os níveis

organizacionais, soluções criativas adaptadas a partir de teorias construídas e

consolidadas na prática das organizações. Métodos participativos, como a

pesquisa-ação, promovem a capacitação tecnológica dos participantes,

permitindo um crescimento do senso crítico e da capacidade de solucionar

problemas (MACKE, 2002). Para Soriano (2004) o fundamento básico deste

método consiste na participação tanto dos pesquisadores como da população,

num plano de igualdade, como agentes de mudança, fazendo um confronto

permanente do modelo teórico e metodológico com a prática, de modo adequá-

lo à realidade que se quer transformar e para que possa orientar as estratégias

e os programas de ação.

Macke (2002) reforça a pesquisa-ação como uma estratégia de

condução de pesquisa qualitativa voltada para a busca de solução coletiva a

determinada situação-problema, dentro de um processo de mudança planejada

De acordo com Eden e Huxham (2002), a pesquisa-ação tornou-se entre

os pesquisadores envolvidos no estudo das organizações, como um paradigma

assumido, usado para justificar a validade de vários resultados de pesquisa. Às

vezes, o termo é usado livremente para cobrir uma variedade de abordagens.

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São várias as terminologias aliadas à pesquisa ação. Macke (2006, p.

209) nos apresenta expressões como “pesquisa participante” (participatory

research), “pesquisa-ação participante” (participatory action research) e

“ciência da ação” (action science). Para o Kemmis e Mactaggart (2000), essa

estratégia de pesquisa é uma filosofia de pesquisa social que é freqüentemente

associada à transformação social, uma vez que envolve aspectos como análise

de problemas sociais a partir da comunidade e orientação para a ação coletiva.

É estratégia de pesquisa reflexiva, no sentido de engajamento dos

participantes em um processo colaborativo de transformação social, no qual

eles aprendem e mudam suas formas de engajamento. Pesquisas conduzidas

nestas perspectivas adotam uma visão emancipatória, focada no desejo

compartilhado de transformação social, ou a mudança planejada proposta

nessa estratégia de pesquisa conforme explicado por Macke (2002).

Eden e Huxham (2001) reforçam a idéia de que não se pode considerar

qualquer projeto de pesquisa, que interesse à organização, como uma

pesquisa-ação. Para isso, a pesquisa deve satisfazer às características que

faça tornar uma pesquisa rigorosa. Para realizar uma pesquisa com esse tipo

de estratégia, segundo Macke (2002, p. 3), é preciso ter objetivos claramente

definidos. A participação é fruto do processo de pesquisa-ação e um indício de

que a pesquisa está sendo conduzida da maneira correta. A linguagem deve

ser comum entre todas as pessoas envolvidas.

2.5 A estratégia de pesquisa grounded theory

Com origens na sociologia Bandeira-de-Mello e Cunha (2006, p.241)

afirmam que a grounded theory apresenta-se como uma escolha atraente para

pesquisas sobre fenômenos organizacionais. Vergara (2005, p.101) expõe a

grounded theory como uma metodologia que desenvolve uma teoria sobre a

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realidade que se está investigando a partir de dados coletados pelo

pesquisador, sem considerar hipóteses preconcebidas.

A grounded theory está sendo utilizada no Brasil sob o incentivo dos

autores Bandeira-de-Mello e Cunha, é uma estratégia de pesquisa ainda

recente nos estudos das organizações, tal como a historiografia.

Conhecida também como teoria embasada ou teoria fundamentada tem

suas raízes no interacionismo simbólico, que segundo Ichikawa e Santos

(2001, p.05) parte do princípio de que todas as teorias são construções

simbólicas da realidade, criando uma concepção abstrata dos fenômenos do

mundo empírico, através do uso de símbolos. A grounded theory aceita as

considerações ontológicas e epistemológicas do subjetivismo, de acordo com

as explicações Morgan e Smircich (1980).

Para Ichikawa e Santos (2001), essa estratégia de pesquisa assume

caráter qualitativo e, durante muito tempo, ela foi aplicada preponderantemente

em pesquisas na área de saúde; mas, atualmente, sua possibilidade de

utilização foi ampliada para outras áreas no âmbito das ciências humanas.

A metodologia das pesquisas que seguem essa estratégia tende a ir

além da descrição (VERGARA, 2005), exigindo do pesquisador a tarefa de

interpretar os dados, identificar os conceitos e categorias e gerar uma teoria,

fundamentando sua teoria dessa maneira, e não através da literatura existente

(BANDEIRA-DE-MELO 2003, P.02).

Nota-se então, conforme Bandeira-de-Mello (2003, p. 02) que grounded

theory é um método interpretativista de pesquisa que busca explicar os fatos

reais através dos significados atribuídos pelos envolvidos às suas experiências,

pois, conforme a teoria emerge do trabalho já realizado, Ichikawa e Santos

(2001, p.06) explicam que ela aponta para os próximos passos a serem

pesquisados. Ou seja, o pesquisador é direcionado pelos pontos de pesquisa

definidos inicialmente e pelas lacunas que emergem na teoria que ele está

gerando.

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Podemos considerar a existência de duas vertentes da grounded theory.

A primeira linha seria a do autor Glaser que dá ênfase à característica

emergente do método e aos processos indutivos desenvolvidos pioneiramente

pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Columbia nos anos 50 e

60.

A outra linha – considerada por Glaser a antítese de Grounded Theory,

pois, segundo o autor permite a influência de pré concepções do pesquisador –

foi desenvolvida por Strauss e consolidada por Strauss e Corbin (1998).

Após o lançamento de The Discovery of grounded theory, publicações

subseqüentes de Glaser e de Strauss, sozinhos ou como autores, começaram

a refletir e revelar importantes diferenças de como eles entendiam e aplicavam

a grounded theory.

Na obra de Strauss e Corbin (2008), agora publicada em português, os

autores procuram operacionalizar os procedimentos e técnicas da grounded

theory detalhadamente. O livro deu acesso a diversos pesquisadores e tornou

a expressão grounded theory mais concreta e acessível; ao mesmo tempo em

que criou uma grande polêmica com o outro “pai” da grounded theory ,ou seja,

Glaser

O resultado disso possibilitou, nos dias atuais, ao menos duas

diferenças metodológicas derivadas do trabalho original, cada uma com suas

características e seus próprios pressupostos epistemológicos (ICHIKAWA e

SANTOS, 2001)

A obra de Strauss e Corbin (2008) se propõe a apresentar técnicas e

procedimentos de análise capazes de propiciar ao pesquisador o

desenvolvimento de uma teoria que envolva os critérios para realizar uma

“adequada ciência”.

Os dois autores começaram a discordar sobre alguns pontos de vista e

como explica Ichikawa e Santos (2001) em relação a grounded theory pode-se

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afirmar que existem atualmente muitas versões sobre ela e, o que distingue as

várias versões são às posições epistemológicas dos pesquisadores.

Na visão de Ichikawa e Santos (2001) para Strauss o conhecimento

prévio é um meio indispensável para dar sentido aos dados empíricos. Glaser,

ao contrário, propõe uma abordagem que despreza qualquer teoria ou

conhecimento anterior ao trabalho de campo. O argumento principal de Glaser

é que o conhecimento prévio irá, sempre, de uma forma ou de outra, influenciar

a maneira como se vê o mundo.

É importante que o pesquisador use toda literatura que seja relevante,

contudo colocam uma ressalva: se resguardando contra a possibilidade de se

identificar com alguma delas em especial (STRAUSS e CORBIN, 1998).

A resposta de Glaser a esse detalhamento metodológico proposto por

Strauss e Corbin (1990) foi o polêmico Basics of Grounded Theory Analisy,

publicado em 1992, no qual esse autor apresenta críticas ao livro de Strauss e

Corbin (1990), assim como a outros trabalhos conduzidos por Strauss desde

The discovery of grounded theory.

Assim na visão de Ichikawa e Santos (2001) para Glaser, o modelo de

coleta de dados apresentado por Strauss e Corbin (1998) é como uma “camisa

de força”, na qual os dados têm que se encaixar. O que ocorre, é que os dados

deixam de falar por si. Conseqüentemente, não há geração e descoberta da

teoria que, para Glaser, consistia na essência da grounded theory. Por isso,

para Glaser o trabalho de Strauss e Corbin (1998) deixa de ser grounded

theory., e passa a ser apenas um método verificacional, não orientado para a

descoberta de teoria, mas para a descrição da realidade.

Outro aspecto que Ichikawa e Santos (2001) revelam a respeito das

diferenças entre os dois autores é referente ao problema de pesquisa. Para

Strauss e Corbin (1990) a pergunta de pesquisa é uma declaração que

identifica o fenômeno a ser estudado. Para Glaser, ao contrário, a pergunta de

pesquisa não deve ser uma declaração que identifica o fenômeno.

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Além destes já explanados existem outros pontos que evidenciam a

discordância entre os autores, como o procedimento de análise de dados.

Glaser discorda dessa forma de conduzir a pesquisa. Para ele o pesquisador

deve conceitualizar os dados apenas quando há um padrão de incidentes

similares.

Na opinião de Ichikawa e Santos (2001) Glaser parece estar mais

comprometido com princípios e práticas comumente associados com o que o

pode ser amplamente descrito como paradigma qualitativo. Strauss também

está comprometido em oferecer alguns importantes insights a partir da

realidade cultural dos participantes. Contudo, parece estar mais preocupado

em produzir uma descrição detalhada dessa realidade cultural.

Outra visão da grounded theory é a de Charmaz (2000). A autora traz

um enfoque mais contrutivista da grounded theory e foi aceita por diversos

pesquisadores. Bandeira-de-Mello e Cunha (2006) explicam que a grounded

theory determinada por Charmaz (2000) assume múltiplas realidades,

reconhece a mútua criação de conhecimento pelos sujeitos e pesquisadores, e

focaliza-se na interpretação dos significados atribuídos pelos sujeitos e

pesquisadores. Além disso, Charmaz (2000) enfatiza a compreensão em lugar

da previsão e a realidade em lugar da verdade absoluta.

2.6 A estratégia de pesquisa survey

As surveys são freqüentemente utilizadas nas ciências sociais (TREZ,

MATOS, 2006, p.01) e permitem descobrir informações, determinadas

características sobre alguma população, isto é, descobrir a distribuição de

certos traços e atributos, explica Babbie (1999 p.97). May (2004, p.111)

exemplifica com uma pesquisa survey que aborda questões, perguntando

sobre o comportamento eleitoral, por exemplo, e procuram explicar como as

atitudes ou intenções das pessoas estão ligadas ao seu histórico pessoal ou a

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outra variável explicativa. May (2004, p. 111) nos revela ainda que a origem da

pesquisa survey está na tradição positivista, embora descrevê-la como

“positivista” seja claramente um excesso de exemplificação nos dias de hoje.

Hair Jr et al (2005) definem a pesquisa do tipo survey como um

procedimento para coleta de dados primários a partir de indivíduos. Estes

dados podem ser crenças, opiniões, atitudes, estilo de vida e também podem

ser informações sobre a experiência do individuo, gênero, idade, escolaridade.

Alem disso podem ser as características de uma empresa, ou o que for do

maior interesse para o pesquisador.

Como características de uma pesquisa survey, May (2004, p.112) cita o

interesse de produzir descrições quantitativas de uma população; e o uso de

um instrumento predefinido. Freitas (2000, p.105) descreve a pesquisa survey

como a aquisição de dados ou informações sobre características, ações ou

opiniões de determinado grupo de pessoas. Grupo que pode representar uma

população-alvo. A aquisição dos dados de uma pesquisa survey normalmente

se dá por meio de um instrumento de pesquisa, questionários preenchidos

pelos pesquisados, explanam Trez e Matos (2006, p.01). Os dados

conquistados na pesquisa devem ser analisados por meio de ferramental

estatístico para a obtenção das informações desejadas, devendo-se, para

tanto, considerar o tipo de análise estatística aplicável às variáveis em estudo

(MAY, 2004, p.109).

Para Babbie (1999, p.83) o formato desse tipo de pesquisa permite

elaboração clara e rigorosa de um modelo lógico clarificando o sistema

determinístico de causa e efeito, permitindo também o desenvolvimento de

testes formais. May (2004, p.112) complementa que além dos testes uma boa

pesquisa survey segue um processo comum no desenvolvimento de sua teoria,

permitindo a formulação de uma hipótese, ou das hipóteses. As surveys são

muito apropriadas para coletar dados de grandes amostras (HAIR Jr et al,

2005)

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2.6 A estratégia de pesquisa experimental

Varias são as ciências que utilizam a estratégia experimental como

pesquisa de campo (FACHIN, 2001). Para Gelman (1971) a pesquisa

experimental é notável por suas contribuições ao desenvolvimento das ciências

físicas e biológicas, mas pouca utilidade vinha oferecendo ao cientista social.

Porem a pesquisa experimental ainda é muito utilizada em estudos

organizacionais por ser pesquisa com características quantitativas.

Para os adeptos deste tipo de pesquisa a verdade só será considerada

se os resultados forem confiáveis, ou seja, tanto a coleta como análise devem

ser feitas de forma objetiva e criteriosa (BARBETTA, 2003).

Historicamente o método experimental passou a ser conhecido como

pesquisa quantitativa. Na visão de Appolinário (2004) a experimentação é

utilizada para testar hipóteses e oferecer respostas a problemas específicos,

pode ser feita em laboratório (experimentação laboratorial) e também pode ser

utilizada para realizar comparações (experimento comparativo).

Em um design experimental é preciso escolher a pergunta de pesquisa e

elencar as hipóteses a serem testadas. O design da pesquisa deve ser o mais

adequado para testar as hipóteses e as opções (amostra, mensuração,

tratamento estatístico) devem se adequar às necessidades do pesquisador

(BLACK, 1999, p. 59).

As hipóteses no entender de Soriano (2004) devem se sustentar tanto

em conhecimentos teóricos (caso existam) quanto em informação empírica.

Elas resgatam a concepção da realidade expressa na teoria e nos orientam na

apropriação do objeto de estudo.

O método experimental é aquele em que as variáveis são manipuladas

de maneira preestabelecida e seus efeitos são controlados e conhecidos pelo

pesquisador para observação do estudo (FACHIN, 2006). O pesquisador

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experimental precisa ter o controle das variáveis de estudo para garantir a

validade do que será observado (BLACK, 1999). E normalmente os dados são

tratados através de análise estatística.

As variáveis são definidas como característica, atributo, propriedade ou

qualidade que a) pode existir ou estar ausentes nos indivíduos, b) pode

apresentar-se em diferentes modalidades e c) em graus ou medidas distintas

ao longo de um continuum (SORIANO, 2004).

Barbetta (2005) explica que embora as técnicas estatísticas sejam

utilizadas basicamente na etapa de análise dos dados, ela pode ser aplicada a

diversas etapas da pesquisa interagindo com a metodologia.

A estratégia experimental tem sido utilizada como base para o progresso

do conhecimento nas áreas consideradas científicas, pois esta estratégia de

pesquisa de coleta de dados, visa obter respostas claras e diferenciadas em

função de uma hipótese que pode envolver relações de causa e efeito

(FACHIN, 2005).

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44

3. DESCRIÇÃO DOS PARADIGMAS E SUA RELAÇÂO COM AS QUESTÕES

PRÁTICAS

As questões práticas são enfrentadas por todos os paradigmas e não

são as únicas, porém são algumas das questões consideradas críticas e

passíveis de discussão e diálogo. Entretanto, primeiramente serão explicitados

os conceitos relativos aos paradigmas.

As questões práticas modificam de acordo com os paradigmas, por isso,

é importante descrever os paradigmas, pois eles têm ligação intrínseca com as

questões selecionadas para análise. No caso deste estudo, os paradigmas que

possuem ligação intrínseca com as questões selecionadas são os paradigmas

propostos por Lincoln e Guba (1994, 2006): Positivismo, Pós-positivismo,

Teoria Crítica e outros, Construtivismo e Participativo.

A definição do significado de paradigma e sua evolução seguem desde

definições simplificadas até explicações mais elaboradas. Porém, a grande

parte dos paradigmas utilizados em ciências sociais embasa-se em dicotomias,

ou seja, em visões de mundo comumente conhecidas como positivismo e

fenomenologia, ou quantitativo e qualitativo. Porém a partir da década de 80

nota-se uma mudança de visão paradigmática, confirmando aquilo que Demo

(1987) já havia relatado “nas ciências sociais, as visões não são definitivas,

porém estão em passagem ou transição, admitindo sempre aperfeiçoamentos e

superações”.

Cabe então retomar este termo bastante difundido, mas ainda com

muito a ser refletido e, neste capítulo, se descreve o significado deste termo

para definir o que será considerado um paradigma dentro deste estudo.

Buscou-se iniciar a questão a partir de Kuhn (2003). Apesar do

conceito ter sido exposto a uma ampla variedade de interpretações Kuhn tem

grande influência na discussão paradigmática até os dias de hoje.

Para Kuhn (2003) o conhecimento científico desenvolve-se através da

contestação de observações ou do ajustamento de teorias, essas contestações

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e ajustamentos são partes comuns da pesquisa normal da ciência. O autor

explica o significado de “ciência normal”. Na sua visão a ciência normal seria a

pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas

passadas. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por

alguma comunidade científica específica proporcionando os fundamentos para

sua prática posterior (KUHN, 2003, p.29).

Kuhn utiliza o termo paradigma em lugar de teoria para denominar o

que é rejeitado e substituído durante as revoluções científicas (FEITOSA,

1993). A originalidade de Kuhn consistiu em detectar, sob os pressupostos ou

postulados, um fundo coletivo de evidências escondidas e imperativas, que

denominou os paradigmas, e em sustentar que as grandes transformações na

história das ciências eram constituídas por revoluções paradigmáticas (MORIN,

2002, p. 259)

Um paradigma é a unidade mais geral de consenso dentro de uma

ciência e serve para diferenciar uma comunidade científica de outra, definindo

e inter-relacionando as teorias, os métodos e instrumentos (KUHN, 2003). Para

o autor, então, os paradigmas são as visões de mundo que orientam as

pesquisas científicas.

Boeira e Vieira (2006) desaconselham a utilização da noção de

paradigma determinada por Kuhn em estudos organizacionais. E expõem que a

noção de paradigma determinada por Morin (2003), explicada a seguir,

ultrapassa a de Kuhn, englobando-a.

O sentido do termo grego paradigma oscila em Platão em torno da

exemplificação do modelo ou da regra. Para Aristóteles, o paradigma é o

argumento que, baseado em um exemplo, destina-se a ser generalizado

(MORIN, 2002, p. 258, grifo do autor). Morin (2002, p. 261) ainda relata que um

paradigma contém, para todos os discursos que se realizam sob seu domínio,

os conceitos fundamentais ou as categorias mestras de inteligibilidade.

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46

Guba e Lincoln (1994) definem paradigma como um sistema de

crenças básicas sobre a natureza da realidade (ontologia), sobre a relação

entre o investigador e o investigado (epistemologia) e sobre o modo que

podemos obter o conhecimento desta realidade (metodologia). Não se trata,

portanto de um aspecto apenas metodológico, os três componentes principais

de qualquer paradigma (ontologia, epistemologia e metodologia) estão inter

relacionados. Deste modo a crença básica que o pesquisador assume em um

campo ontológico deve ser coerente com a escolha nos campos

epistemológico e metodológico (VALLES, 2000), ou seja, a escolha do método

de pesquisa depende de uma postura filosófica sobre a possibilidade de

investigar a realidade (ROESCH, 1999).

Assim, os indivíduos conhecem, pensam e agem conforme os

paradigmas neles inscritos culturalmente. Os sistemas de idéias são

radicalmente organizados em virtude dos paradigmas (MORIN, 2002). No

entanto, em um dado momento, podem coexistir diferentes concepções de

mundo, de natureza e de conhecimento (ANDERY et al, 1996).

O paradigma é uma teoria ampliada, formada por leis, conceitos,

modelos, analogias, valores e regras para avaliação de teorias e formulação de

problemas, entre outros aspectos. Os paradigmas servem como norteadores

da atividade de pesquisa, pois instituem teorias (ALVES-MAZZOTTI;

GEWANDSNAJDER, 1999).

Os paradigmas são um conjunto de referenciais que orientam a

compreensão que se tem acerca de determinado fenômeno (APPOLINÁRIO,

2005). Eles filtram a percepção da pessoa e podem ser tão poderosos que até

determinam o que será real para a pessoa (DUARTE Jr, 2004, p.2). Além

disso, os paradigmas estabelecem uma espécie de crença dogmática quase

igual à fé religiosa.

Os autores que tiveram grande destaque e contribuição na área de

paradigmas em estudos organizacionais foram Burrel e Morgan (1979), e

Morgan (2005), sendo este um dos autores mais citados. Morgan (2005)

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propôs um modelo de paradigma, ou seja, uma base ontológica e

epistemológica que, segundo Burrel e Morgan (1979) fundamentariam as

teorias organizacionais modernas. Muitos pesquisadores utilizaram os quatro

paradigmas para analisar a produção científica, e utilizaram os autores como

embasadores de estudos.

De forma didática, Burrell e Morgan (1979) apresentaram à academia de

Administração norte-americana um modelo de categorização dos campos

paradigmáticos. Os autores sobrepunham dois eixos: um representaria os

pressupostos metateóricos sobre a natureza da ciência, opondo a ciência

“objetivista” à ciência “subjetivista”, enquanto o outro simbolizaria as premissas

metateóricas sobre a natureza da sociedade, contrastando uma sociologia da

“regulação” a uma sociologia da “mudança radical” (CALDAS, 2005).

Cada um dos quatro paradigmas – funcionalista, interpretativista,

humanista radical e estruturalista radical – reflete uma rede de escolas de

pensamento relacionadas, diferenciadas na abordagem e na perspectiva, mas

compartilhando suposições comuns fundamentais sobre a natureza da

realidade de que tratam (MORGAN, 2005)

O paradigma funcionalista é baseado na suposição de que a sociedade

tem existência concreta e real, e um caráter sistêmico orientado para produzir

um sistema social ordenado e regulado. A perspectiva funcionalista é

primordialmente reguladora e prática em sua orientação básica, e está

preocupada em atender a sociedade de maneira a gerar conhecimento

empírico útil.

Já o paradigma interpretativista é baseado na visão de que o mundo

social possui uma situação ontológica duvidosa e o que se passa como

realidade social não existe em qualquer sentido concreto, mas é um produto da

experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos. A sociedade é entendida a

partir do ponto de vista do participante em ação, em vez do observador. O

paradigma humanista radical enfatiza como a realidade é socialmente

construída e sustentada, mas vincula sua análise ao interesse no que puder ser

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48

escrito como patologia da consciência, por meio da qual os seres humanos

aprisionados nos limites de realidade que eles mesmos criam e sustentam

(MORGAN, 2005).

Enfim a realidade definida pelo paradigma estruturalista radical, assim

como a do humanista radical, é baseada na visão da sociedade como uma

força potencialmente dominante. No entanto, é ligada a uma concepção

materialista do mundo social, definido por estruturas sólidas, concretas e

ontologicamente reais. A realidade é vista como existindo por sua própria

conta independente do modo como é percebida e reafirmada pelas pessoas em

suas atividades diárias (MORGAN, 2005).

O argumento de Morgan (2005) baseia-se no fato de que a realidade

paradigmática, inconsciente e indiscutida, bem como a aceitação quase

hegemônica do paradigma funcionalista, estaria aprisionando e limitando o

desenvolvimento do campo, e seria sua missão “libertá-lo” e expandir seus

limites (CALDAS, 2005).

A intenção de Morgan (2005) seria de, em primeiro lugar, sugerir que o

campo cresceria em reflexividade e riqueza se os distintos paradigmas

pudessem se reconhecer e eventualmente dialogar no processo de

desenvolvimento científico e, em segundo lugar, desvendar caminhos

metateóricos pouco explorados e promissores, além do funcionalismo

dominante, especialmente os referenciais críticos e interpretativos (CALDAS,

2005)

Lewis e Grimes (2005) também fizeram sua contribuição na discussão

paradigmática com um guia útil de modelos, distinguindo três abordagens: 1)

revisões multiparadigmáticas; 2) pesquisa multiparadigmática; e 3) construção

multiparadigmática de teorias.

Os autores utilizam o termo “multiparadigmáticas” para denotar

perspectivas paradigmáticas distintas, e “metaparadigmática” para uma visão

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49

mais holística, que vai além das distinções paradigmáticas revelando assim as

disparidades e complementaridades.

Mesmo Morgan (2005) utilizou perspectivas paradigmáticas

consideradas opostas ou em disputa, porém visando conceber um diálogo

entre os paradigmas propostos tal como Lewis e Grimes (2005). Então, as

tentativas de classificação de paradigmas como já explicitadas anteriormente

normalmente se referem a paradigmas opostos como positivismo e

fenomenologia (ROESCH, 1999), ou racionalista e interpretativo (VALLES,

2000), objetivismo e subjetivismo (DAVILA, 1999), ou até mesmo a visão de

Trivinõs (1987) que buscou traçar as características e idéias básicas de três

correntes epistemológicas: o positivismo, a fenomenologia e o marxismo.

Todas estas visões paradigmáticas elencadas são de extremos,

normalmente opostos, com visões de mundo diferenciadas. Essa dicotomia

entre quantitativo e qualitativo se expressa de forma freqüente em ciências

sociais, sendo que o quantitativo seria referente a números, exterior,

explicação, fato, e qualitativo seria referente a palavras, interior, compreensão

(DAVILA, 1999).

González Rey (2005) explica que o pensamento ocidental tem se

inclinado em dicotomias, a partir das quais temos concebido o mundo como

externo e independente em relação a nós, como se não fossemos parte dele e

como se não estivéssemos implicados em seu próprio funcionamento.

Evidenciando a preocupante hegemonia do funcionalismo na teoria

organizacional que se faz e se reproduz no Brasil.

Em uma linha de pensamento semelhante Deshaies (1992) explica que

existem duas grandes formas de raciocínio, o que se poderia denominar de

paradigma, que decorrem em escolhas no plano dos métodos. Desta forma, se

o investigador tiver uma visão de mundo voltada para dedução, para o lógico, o

concebido e o geral, fará escolhas diferentes daquela que possui uma forma de

raciocinar voltada para indução, para o intuitivo, o percebido e o particular. Os

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50

“hábitos de espírito” impregnam secretamente a utilização dos métodos

(DESHAIES, 1992).

Boeira e Vieira (2006) explicam que, de modo geral, considera-se que a

filosofia positivista teria sido afirmada como paradigma desde meados do

século XIX, fundamentando o desenvolvimento de pesquisas quantitativas e

experimentais, enquanto a filosofia fenomenológica como um “novo paradigma”

ou método de pesquisa nas ciências sociais.

A crise dos paradigmas caracterizou-se por ser o momento em que

foram colocados em questão os aspectos da ciência dominante na década de

60: o positivismo. Em conseqüência disso, pois até então a ciência era

inabalável, surgiram diversas reações que foram desde o relativismo radical,

até a busca de uma ciência voltada para a transformação social (ALVES-

MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1999, p. 129).

No entender de Triviños (1987, p. 31) o declínio do positivismo, além de

outros fatores, ocorreu pelo fato de que a investigação tornou-se algo mecânico

“sem sentido, opaca, estéril”. Em meio a essa confusão começaram a surgir

modelos diferentes do positivismo, que foram denominados por Alves-Mazzotti

e Gewandsznajder (1999) como os “paradigmas qualitativos” e, além deste,

três paradigmas sugiram como sucessores do positivismo: o construtivismo

social, o pós-positivismo e a teoria crítica.

Boaventura Santos (2003) reconhece que estamos vivendo um período

de revolução científica e Caldas (2005) aponta que estamos promovendo a

diversidade paradigmática na direção de outros referenciais.

Neste ambiente novas reflexões surgem, mais do que a oposição

quantitativo/qualitativo, inicia-se uma distinção ontológica entre qualidade e

quantidade, porém, ambas em relação dialética, pois é possível a

transformação de uma em outra (DAVILA, 1999).

Boeira e Vieira (2006) buscam introduzir a noção de Grande Paradigma

do Ocidente (GPO), proposta por Edgar Morin. Segundo Morin, o Grande

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51

Paradigma do Ocidente pode ser considerado, de fato, um paradigma, na

medida em que determina os conceitos soberanos e prescreve a disjunção - a

separação ou desunião - como sendo a relação lógica fundamental.

A obra de Morin é admirável, extensa e complexa, revelando

inegavelmente um espírito criativo, instigante, sensível, compassivo com as

grandes questões planetárias, às vezes até mesmo marginal e difícil de ser

avaliada de forma sistemática, e tem constituído uma semente inspiradora de

vários núcleos de pesquisa e de pensadores em vários países, principalmente

de língua latina (VASCONCELOS, 2002).

Dessa forma, e retomando Kuhn, Boeira e Vieira (2006) explicam que as

transformações do conceito de paradigma sugeridas por Kuhn, em direção à

idéia de matriz disciplinar, o tornam menos e não mais atrativo para as ciências

sociais – especialmente para o campo dos estudos organizacionais. Pois, além

deste campo abrigar inúmeras disputas de natureza teórica e epistemológica,

Kuhn acabou seguindo uma trajetória de estreitamento e normalização

graduais do seu próprio conceito de paradigma

Reconhece-se então que vários paradigmas podem coexistir, dispondo

para isso de espaços diferenciados, ainda que mantenham relações

conflitantes e permaneçam cegos uns em relação aos outros. De certa forma, a

concepção de Morin transcende e engloba a noção de Kuhn, ao mesmo tempo

em que a critica como confusa e limitada (BOEIRA; VIEIRA , 2006, p.40).

Diferentes paradigmas podem e têm utilizado metodologias

qualitativas. Isto não quer dizer, porém, que não se possa, no interior desses

paradigmas, distinguir pesquisas cuja ênfase recai sobre a compreensão das

intenções e dos significados dos atos humanos, de outras que não têm essa

preocupação (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 2004).

O surgimento desses paradigmas, mesmo gerando alguns equívocos

em relação a seus conceitos, fez também surgir um diálogo entre eles,

trazendo benefícios à ciência e tornando o panorama de pesquisa atual

extremamente complexo.

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52

As perspectivas multiparadigmáticas oferecem a possibilidade de criar

novos insights porque partem de diferentes bases ontológicas e

epistemológicas, o que implica a possibilidade de vislumbrar diferentes facetas

do fenômeno organizacional e produzir diferenças marcantes e informações

sobre visões teóricas ou fenômenos em estudo (GIOIA; PITRE, 1990).

Bericat (1998) ressalta que a ciência social, desde a sua origem, é

multiparadigmática. Para o autor, existem vários modos de se perceber e

conceber a realidade social, fornecendo ao pesquisador várias possibilidades

de investigação da realidade.

A distinção quantitativa/qualitativa é uma oposição binária que esconde

uma distinção mais complexa, não dicotômica e não hierárquica (STABLEIN,

2001) e o lugar fundamental, e ideal da investigação social está na tensão

entre o qualitativo e o quantitativo (ADORNO, 1979). Então, a existência desta

dicotomia permite aos investigadores sociais repensar suas noções

paradigmáticas, e, quem sabe, aprender novas formas de ver o mundo.

Os diversos paradigmas estão começando a se misturar de tal forma

que dois teóricos, que antes viveriam em eterno conflito, agora podem “dar a

impressão que um está prestando informações aos argumentos do outro”

(LINCOLN; GUBA, 2006, p. 170)

No início Guba e Lincoln (1994) focaram na disputa entre vários

paradigmas de pesquisa pela legitimidade e pela hegemonia intelectual e

paradigmática. Os paradigmas pós-modernos, que foram discutidos,

disputavam legitimidade com paradigmas positivista e pós-positivista

geralmente aceitos.

Porém durante o período entre a publicação do Handbook of qualitative

research e The Landscape of qualitative research: theories and issues

ocorreram mudanças substanciais no panorama da investigação científica

social.

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53

No que diz respeito à legitimidade, Denzin e Lincoln (2006) observaram

que os pesquisadores que se interessavam sobre paradigmas e epistemologia

tinham grande curiosidade em ontologias e epistemologias diferentes daquelas

que ofereciam um amparo à ciência social convencional.

Os pesquisadores com experiência na ciência social quantitativa

tinham interesse em aprender um pouco mais sobre as abordagens

qualitativas, devido ao crescimento deste tipo de pesquisa. Para Denzin e

Lincoln (2006) o aumento de pesquisadores atentos na investigação de novos

paradigmas vem crescendo e, na opinião dos autores, não existem dúvidas de

que a legitimidade dos paradigmas pós-modernos está bem estabelecida e no

mínimo, iguala-se a legitimidade dos paradigmas aceitos e convencionais

(DENZIN; LINCOLN, 2006).

Apesar da afirmação otimista dos autores Denzin e Lincoln (2006) este

estudo buscou o referencial paradigmático pós-moderno proposto por Lincoln e

Guba (2006). Porém, apesar de estar-se vivenciando em estudos

organizacionais uma dominação positivista, torna-se importante optar por um

referencial paradigmático pós-moderno, pois a intenção é a busca de um

momento de reflexão e de uma explicação paradigmática que abarque mais do

que simples dicotomias quali-quantitativas.

Portanto se afirmarmos que são os paradigmas que estão em disputa é

menos útil do que provar onde e como os paradigmas demonstram confluência

e onde e como demonstram diferenças (LINCOLN; GUBA, 2006, p. 170).

Os paradigmas analisados neste estudo são aqueles propostos pelos

autores Lincoln e Guba (2006): positivismo, pós-positivismo, teoria crítica,

construtivismo e participativo, considerados paradigmas pós-modernistas.

Também Creswell (2003) propõe, como paradigmas alternativos,

construtivismo, participativo, porém considerou-se a visão de Lincoln e Guba

(2006) mais abrangente.

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54

Na visão dos autores Denzin e Lincoln (2006b, p. 34) estes paradigmas

são um conjunto de crenças básicas que orientam a ação, ou seja, os

paradigmas são uma rede que contém premissas epistemológicas, ontológicas

e metodológicas do pesquisador.

O pós-modernismo, na definição de May (2004) é a crença de que o

conhecimento é tanto local como contingente, e que não há padrões além dos

contextos particulares por meio dos quais podemos julgar a sua verdade ou

falsidade. Refere-se a uma perspectiva cultural ou um movimento, uma

epistemologia.

Como já explicado, este estudo se embasa nos paradigmas pós-

modernos propostos por Lincoln e Guba (2006) para os autores os paradigmas

possuem imbricação com as questões, e assim sendo, são fonte de reflexão

para todos os paradigmas.

Que

stão

Positivismo Pós- positivismo

Teoria Crítica e outros Construtivismo Participativo

Axi

olog

ia

O saber proposicional a respeito do mundo é, por si só, uma

finalidade, possui valor intrínseco

O saber transacional, proposicional, revela um valor instrumental como meio para a

emancipação social,a qual, sendo por si mesma uma finalidade,

possui valor intrínseco

O saber prático

sobre como prosperar em uma

cultura, com um

equilíbrio entre a

autonomia, a

cooperação e a

hierarquia é, por si só,

uma finalidade,

possui valor intrínseco.

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55

Ont

olog

ia

Realismo ingênuo-

realidade “real” mas inteligível

Realismo crítico-

realidade “real”, mas apenas

imperfeitamente e

probabilisticamente inteligível (apreensível)

Realismo histórico-

realidade virtual influenciada por valores sociais,

políticos econômicos, étnicos, de

gênero cristalizados ao longo do tempo.

Relativismo – local e

realidades especificamente

construídas

Realidade participativa- realidade subjetiva-

objetiva, co-criada pela mente e por

um dado cosmos.

Epi

stem

olog

ia

Dualista/ objetivista;

descobertas verdadeiras

Objetivista/ dualista

modificada; tradição crítica/ comunidade; descobertas

provavelmente verdadeiras.

Transacional/ subjetivista; descobertas

valores

Transacional/ subjetivista; descobertas

criadas

Subjetividade crítica na transação

participativa com o

cosmos, epistemolo-

gia ampliada

para experimenta

ção proposital e conhecimen

to descobertas co-criadas.

Met

odol

ogia

Experimental/ manipuladora; verificação de

hipóteses, métodos

quantitivos

Experimental modificada/

manipuladora; multiplismo

crítico, falsificação de

hipóteses, pode incluir métodos

qualitativos

Dialógica/dialética

Hermenêutica/ dialética

Participação política e

investigação de ação

colaborativa uso da

linguagem e métodos baseados

no contexto Quadro 2 : Os paradigmas pós-modernos Fonte: Lincoln e Guba (2006, p. 173)

No paradigma positivista o mundo social existe externamente ao

homem, e suas propriedades, devem ser medidas através de métodos

objetivos (ROESCH, 1999). Este paradigma, ainda dominante em ciências

sociais, tem como aspecto central determinada concepção do método

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56

científico, seguindo o modelo das ciências naturais método, neste caso, quer

dizer verificação de teorias (HAMMERSLEY; ATKINSON , 1994).

Os paradigmas positivista e pós-positivista funcionam a partir de uma

ontologia realista e crítico-realista e de epistemologias objetivas dependendo

de metodologias experimentais, ou quase-experimentais (DENZIN; LINCOLN,

2006). Percebe-se a predominância deste paradigma nos estudos

organizacionais quando Dalmoro, Faller e Wittmann (2006) analisaram 835

trabalhos publicados no ENANPAD 2006, e, a média geral indicou o paradigma

positivista como dominante, inclusive nas áreas mais tradicionais.

Porém, apesar de ser o paradigma dominante para muitos, o enfoque

positivista é considerado como uma visão artificial e limitada para o contexto

sociológico. Suas raízes são plantadas no modelo das ciências naturais de

cunho cartesiano (HAMMERSLEY; ATKINSON, 1994). Complementando o

exposto acima para Rocha e Ceretta (1998) o positivismo admite que o espírito

humano é capaz de atingir verdades positivas ou de ordem experimental, mas

não resolve as questões metafísicas, não verificadas pela observação e

experiência.

Os paradigmas positivista e pós-positivista funcionam a partir de uma

ontologia realista (positivismo) e crítico-realista (pós-positivismo) e de

epistemologias objetivas. Além disso, dependem de metodologias

experimentais, ou quase experimentais, de levantamentos e rigorosamente

definidas (DENZIN; LINCOLN, 2006b).

O pós-positivismo também é reconhecido como positivismo lógico, pois

prega a necessidade da junção da lógica-matemática com o empirismo, para

compreender-se. O propósito do pós-positivismo para Appolinário (2004, p.

159) é a verificabilidade, pois para que uma proposição seja considerada

verdadeira, deve ser logicamente coerente e ser suscetível de verificação

empírica.

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57

Diferentemente dos paradigmas positivistas, o paradigma da teoria

crítica, na opinião de Vieira e Caldas (2007), ainda gera muita confusão devido

ao desconhecimento da sua origem e de seus fundamentos teóricos, os

autores explicam que a teoria crítica tem por base a seguinte questão é

impossível mostrar as coisas como realmente são, senão a partir da

perspectiva de como elas deveriam ser (grifo dos autores).

A teoria crítica não admite a neutralidade positivista, sua visão é

subjetiva e a realidade é enxergada através de valores sociais, políticos,

econômicos (LINCOLN ; GUBA, 2006).

Já o construtivismo supõe uma ontologia relativista, ou seja, acredita na

existência de realidades múltiplas, de epistemologia subjetiva. Termos como

credibilidade, confiança e confirmação substituem os critérios positivistas de

validade interna e externa e objetividade (DENZIN; LINCOLN, 2006b).

Já o construtivismo supõe uma ontologia relativista, ou seja, acredita na

existência de realidades múltiplas, de epistemologai subjetiva. Termos como

credibilidade, confiança e confirmação substituem os critérios positivistas de

validade interna e externa e objetividade (DENZIN; LINCOLN, 2006b). Para

Freitag (1995) o construtivismo parte do pressuposto epistemológico de que os

pensamentos não tem fronteiras: ele se constrói, se desconstrói, se reconstrói.

O paradigma participativo foi incluído nos paradigmas pós-modernos

analisados. Este paradigma foi proposto por Heron e Reason (apud LINCOLN;

GUBA, 2006) e tem uma suposição pós-positiva, pós-moderna e criticalista,

este paradigma foi acrescido como mais uma possibilidade paradigmática

qualitativa, em conjunto com o paradigma construtivista e teoria crítica pelos

autores Lincoln e Guba (2006).

Os paradigmas expostos acima (positivismo, pós-positivismo, teoria

critica e participativo) serão os paradigmas analisados. As questões práticas

têm relação intrínseca com os paradigmas pós-modernos, e as estratégias de

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58

pesquisa serão posicionadas de acordo com as questões práticas e,

consequentemente com os paradigmas.

No próximo capítulo serão discutidas as questões práticas que serão

analisadas neste estudo.

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59

4 DISCUSSÃO DAS QUESTÕES PRÁTICAS SELECIONADAS

Ressalta-se a importância de discutir as questões práticas propostas por

Lincoln e Guba (2006). As questões práticas, para os autores, são as questões

mais críticas enfrentadas por todos os paradigmas. Cada paradigma

(positivismo, pós-positivismo, teoria crítica, construtivismo e participativo)

assume uma postura diferenciada diante das questões práticas.

Apesar de serem as questões mais polêmicas, podem ser fonte de

estímulo para “criar o espaço intelectual, teórico e prático para que ocorra o

diálogo, o consenso e a confluência” (LINCOLN; GUBA, p. 171).

Estas questões propostas por Lincoln e Guba (2006) - axiologia;

acomodação e comensurabilidade; ação; controle; fundamentos da verdade;

validade e; voz, reflexividade e representação pós-moderna - são explicadas

neste capítulo, pois serão a base teórica operacional para a análise das

estratégias de pesquisa, quando, no próximo capítulo, as estratégias serão

posicionadas de acordo com as questões práticas explicadas aqui.. As

questões são enfrentadas por todos os paradigmas e se modificam. Cabe

salientar que estas não são as únicas questões existentes, porém, são

algumas das consideradas críticas e passíveis de discussão e diálogo.

Convém explicar o desenvolvimento do quadro 2, na visão dos autores

Lincoln e Guba (2006). Inicialmente Guba e Lincoln (1994) na primeira edição

do livro The landscape of qualitative research discutiram a natureza axiomática

- verdadeira por si mesma - dos paradigmas (antes foram considerados apenas

quatro paradigmas positivismo, pós-positivismo, teoria crítica e construtivismo),

e também discutiram as questões que acreditaram serem as mais

fundamentais para a diferenciação dos paradigmas.

As questões examinadas foram aquelas que, na opinião dos autores,

geravam mais controvérsias. Na época foram estas as questões examinadas:

objetivo investigativo, natureza do conhecimento, o modo como o

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60

conhecimento se acumula, a bondade ou critérios de qualidade, os valores, a

ética, a voz, o treinamento, a acomodação e a hegemonia.

Entretanto, desde a publicação de Guba e Lincoln (1994), houve

diversos pesquisadores interessados naquilo que foi discutido através das

questões e dos paradigmas e, então, os autores Heron (1996) e Heron e

Reason (1997) reescreveram as questões e incluíram um novo paradigma:

participativo, aceito por Lincoln e Guba (2006).

O objetivo atual dos autores é ampliar ainda mais a discussão acerca

dos paradigmas e das questões práticas com base no que Heron e Reason

(1997) acrescentaram e, também, na reformulação das questões práticas. Às

questões foram acrescentadas às sugestões de Heron e Reason (1997) que

também propuseram, na escolha dos autores Lincoln e Guba (2006) o que

seria o mais importante a ser discutido na atualidade. Uma questão importante,

nesse caso, pode ser aquela que possa ser amplamente debatida, contestada

ou que exponha uma nova consciência.

Na reformulação das questões práticas foram englobadas novas

questões e, apesar dos autores considerarem estas, e as questões anteriores,

as mais controversas, também crêem que elas acrescentam um espaço

intelectual para ocorrer o diálogo, o consenso e a confluência. Existe então, a

partir destas questões, um grande potencial para a incorporação de múltiplas

perspectivas.

È necessário deixar claro que neste estudo faremos a análise das

estratégias de pesquisas empíricas diante das questões práticas mais atuais,

reformuladas pelos autores Lincoln e Guba (2006) desde a publicação da

primeira edição do livro (axiologia; acomodação e comensurabilidade; ação;

controle; fundamentos da verdade; validade, voz, reflexividade e representação

pós-moderna) por serem as questões mais críticas enfrentadas por todos os

paradigmas A escolha destas questões mais atuais se deu pelo fato de que,

além delas ainda não terem sido discutidas, são questões que geram

contribuição reflexiva, lembrando que cada paradigma assume uma postura

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61

diferente nesses tópicos, e neste estudo as questões mais atuais serão

analisadas no próximo capítulo.

No quadro 2 apresenta-se as questões de Guba e Lincoln (1994)

juntamente com as questões práticas mais atuais de acordo com os cinco

paradigmas pós-modernos propostos por Lincoln e Guba (2006). Os

paradigmas identificados pelos autores foram: positivismo; pós-positivismo;

teoria crítica e outras; construtivismo e participativo já explicados

anteriormente.

Que

stão

Positivismo Pós- positivismo

Teoria Crítica e outros Construtivismo Participativo

Nat

urez

a do

co

nhec

imen

to Verificação

das hipóteses estabeleci-das como

fatos ou leis

Hipóteses não- falsificadas que

são fatos ou leis prováveis

Insights estruturais/ Históricos

Reconstruções individuais que se fundem em torno de um consenso

Epistemologia ampliada: pri-

mazia da subjetividade crítica; saber

prático; conhecimento

vivo.

Acú

mul

o de

co

nhec

imen

to Acréscimo- “blocos de

construção” que se somam ao “edifício do

conhecimento”; generalizações e vínculos de

causa e efeito.

Revisionismo histórico;

generalização por similaridade.

Reconstruções mais informadas e sofisticadas;

experiência vicária.

Em comunidades

de investigação implantadas

em comunidades

de prática

Bon

dade

ou

crité

rios

de

qual

idad

e Pontos de referência convencionais do ”rigor”;

validade interna e externa, confiabilidade e objetividade.

Situacionalidade histórica,

desgaste da ignorância e dos

equívocos; estímulo para

ação.

Fidedignidade e autenticidade

Congruência do saber

experimental, presentacional proposicional

e prático; conduz à ação

a fim de transformar o

mundo a serviço da

prosperidade humana.

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62

Étic

a Inclinação extrínseca para fraude

Inclinação moral intrínseca para

a revelação

Inclinação do processo intrínseco para a revelação

Pos

tura

do

inve

stig

ador

Cientista desinte-ressado como um

informante dos

tomadores de

decisões, dos

elaborado-res de

políticas e dos agentes

de mudanças.

“Intelectual transformativo”

como um defensor e

ativista

Participante apaixonado como um

facilitador da reconstrução

multivocal

Manifesto da voz primária por meio da ação auto-reflexiva

consciente; vozes

secundárias na teoria

elucidativa, na narrativa, no movimento,

na música, na dança e em

outras formas de

apresentação.

Trei

nam

ento

Técnico e quantitativo,

teorias substanti-

vas

Técnico, quantitativo e

qualitativo, teorias

substantivas.

Ressocialização, qualitativo e quantitativo; história, valores de

altruísmo e de capacitação.

Co-pesquisadores são iniciados no processo

de investigação

pelo facilitador/pes-

quisador e aprendem

pelo envolvimento ativo nesse processo;

facilitador/pes-quisador exige

uma competência emocional,

uma personalidade democrática e habilidades.

Page 63: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

63

Axi

olog

ia

O saber proposicional a respeito do mundo é, por si só, uma finalidade, possui

valor intrínseco.

O saber transacional, proposicional, revela um valor instrumental como meio para a

emancipação social, a qual, sendo por si mesma uma finalidade,

possui valor intrínseco.

O saber prático sobre

como prosperar em uma cultura,

com um equilíbrio entre a

autonomia, a cooperação e a hierarquia

são, por si só, uma

finalidade, possui valor intrínseco.

Aco

mod

ação

e

com

ensu

rabi

lida-

de Comensurável a todas as

formas positivistas

Incomensurável com as formas positivistas; comensurabilidade parcial com as abordagens

construtivista, criticalista e participativa, especialmente à medida que estas fundem-se em

abordagens liberacionistas fora do Ocidente.

Açã

o

Não é responsabilidade do pesquisador, enxergada

como “defesa” ou subjetividade, e, por isso,

considerada uma ameaça à validade e à objetividade.

Encontrada especialmente na forma de capacitação, previsão e

esperança de emancipação; o objetivo final é a transformação

social, particularmente em direção a

maior eqüidade e justiça.

Entrelaçamento com a validade; a investigação muitas vezes

mostra-se incompleta sem ação por parte dos participantes; a

formulação construtivista determina que seja feito um treinamento em ação política

caso os participantes não entendam os sistemas políticos.

Con

trol

e

Encontra-se exclusivamente no pesquisador

Geralmente encontra-se no

“intelectual transformativo”;

novas construções, o controle volta à comunidade.

Compartilhado entre o

investigador e os participantes

Compartilhado em níveis variados

Page 64: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

64

Rel

ação

com

os

fund

amen

tos

da

verd

ade

e do

co

nhec

imen

to

Fundacionalista Fundacionalista dentro da crítica

social

Antifundaciona-lista

Não –fundaciona-

lista

Am

plia

ção

das

cons

ider

açõe

s so

bre

a va

lidad

e (c

ritér

ios

da

bond

ade)

Construções positivistas tradicionais da validade; rigor, validade interna,

validade externa, confiabilidade, objetividade.

Estímulo para ação (ver acima),

transformação social,

eqüidade, justiça social.

Construções ampliadas da

validade: a)validade cristalina

(Richardson); b)critérios de autenticidade

(Guba e Lincoln); validades catalíticas,

rizomáticas, voluptuosas

(Lather); critérios

relacionais e centralizados na ética (Lincoln); e)determina-

ções de validade

centralizadas na comunidade.

Veja “ação” acima

Mistura de vozes entre o pesquisador e

os participantes

Mistura de vozes, em que as vozes dos

participantes às vezes são

dominantes; reflexividade

séria e problemática; representação

textual e ampliação da

questão.

Mistura de vozes;

representação textual

raramente discutida, porém,

problemática; reflexividade depende da subjetividade crítica e da

autoconsciên-cia.

Voz

, ref

lexi

vida

de,

repr

esen

taçõ

es te

xtua

is p

ós-m

oder

nas.

Voz do pesquisador, principalmente a reflexividade

pode ser considerada um problema na objetividade; representação textual não-

problemática e, de certa forma, chavão.

As práticas de representação textual podem ser problemáticas, ou seja, “fórmulas de ficção”, ou

“regimes de verdade” não-examinados. Quadro 2: As questões práticas Fonte: Lincoln e Guba (2006, p.174).

Page 65: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

65

No quadro 2 se vê todas as questões práticas, porém, apenas as

questões mais atuais serão expostas neste capítulo, pois elas serão base para

análise posterior, na qual resultará no posicionamento paradigmático das

estratégias de pesquisa empíricas.

Cabe então explicar as questões mais atuais, que poderão gerar uma

oportunidade de diálogo, no próximo capítulo.

4.1 As questões práticas selecionadas para este estudo

A primeira questão é a axiologia. Lincoln e Guba (2006) explicam que

esta questão prática se mistura com as crenças básicas dos paradigmas, no

caso: ontologia, epistemologia e metodologia. O único motivo que fez os

autores manterem a axiologia como uma questão prática é o fato desta

interessar-se pela “religião”. Para os autores a questão da axiologia é um local

onde o espiritual encontra a investigação social.

Lincon e Guba (2006) também explicam que a axiologia se junta ao

processo de investigação nos seguintes sentidos: na escolha do problema; na

escolha do esquema teórico; na escolha dos principais métodos de coleta e

análise de dados; na escolha do contexto, no tratamento dos valores que já

residem dentro do contexto e na escolha do formato de apresentação das

descobertas.

Alguns destes sentidos serão analisados nas questões posteriores. E

todos esses sentidos confluem com a escolha paradigmática do pesquisador.

Por este motivo à questão da axiologia é explicada em conjunto com os

paradigmas, pelo fato de concordar que a axiologia não deveria ser uma

questão prática, mas um dos itens das crenças básicas dos paradigmas.

A segunda questão refere-se à acomodação e comensurabilidade. Em

estudos realizados a partir de 1981, a visão dos autores Lincon e Guba (2006)

quanto a comensurabilidade em nível paradigmático não era considerada

possível. Para os referidos autores existir comensurabilidade entre os

Page 66: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

66

paradigmas positivista e pós-positivista, com os outros paradigmas - teoria

crítica, construtivismo e participativo - era considerado inviável, porém, dentro

dos paradigmas, nas estratégias de pesquisas poderiam ocorrer

comensurabilidade. A comensurabilidade, neste estudo, significa a

possibilidade de existir a prática simultânea de diferentes paradigmas, ou

diferentes metodologias.

Com a reformulação deste pensamento – de ser impossível existir

comensurabilidade paradigmática - os autores passam a admitir alguma

comensurabilidade, todavia de forma bastante cautelosa, pois, caso os

paradigmas possuam axiomas em comum, podem ser comensuráveis por

seguirem a mesma tendência e, desse modo, conseguem ajustar-se

confortavelmente. Porém, os paradigmas entram em confronto quando existem

axiomas contraditórios e mutuamente exclusivos.

A pergunta chave para esta questão é: os paradigmas são

comensuráveis? Existe a possibilidade de misturar elementos de um paradigma

com os elementos de outro, de forma que alguém possa envolver-se em uma

pesquisa que represente o que há de melhor nestas duas visões de mundo?

Apesar dos autores Lincoln e Guba (2006) não explicarem a questão da

acomodação através dos estudos percebe-se que a acomodação seria o fato

de não existir comensurabilidade, ou seja, de um paradigma não intervir em

outro, e por este motivo permaneceria em estado de acomodação.

A terceira questão prática é o apelo à ação. O apelo à ação é uma das

questões que Lincoln e Guba (2006) acreditam existir grande controvérsia

paradigmática, e também uma diferença muito evidente entre os paradigmas

positivistas e pós-positivistas, e os outros paradigmas. Os pesquisadores

adeptos do positivismo vêem o apelo à ação como uma ameaça à objetividade

e aos resultados da pesquisa, que podem, a partir do apelo à ação, ficarem

contaminados. Existe então um apelo fraco à ação neste paradigma positivista.

Page 67: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

67

A questão do apelo à ação pode ser relacionada tanto a transformação

interna, quanto à transformação social. A mudança em direção à ação, na

visão de alguns teóricos, surgiu para responder ao vasto não aproveitamento

das descobertas realizadas em pesquisas.

O controle do estudo é a quarta questão prática a ser analisada. Quem

inicia o controle? Quem determina os problemas mais importantes? Quem

determina o que compõem as descobertas? Quem determina o modo como os

dados serão coletados? Quem determina de que forma as descobertas serão

tornadas públicas, ou se é que serão? Quem determina quais são as

representações que serão feitas dos participantes da pesquisa? Ou seja, a

questão do controle está muito ligada à outra questão prática: a questão da

voz, da reflexividade e a questões que envolvem a representação textual pós-

moderna.

A quinta questão prática refere-se aos fundamentos da verdade e do

conhecimento nos paradigmas.

Os autores Lincoln e Guba (2006) explicam esta questão com base no

fundacionalismo, antifundacionalismo e não-fundacionalismo. Na visão de

Godoi, Bandeira-de-Mello e Silva (2006) o fundacionalismo (ou tradição

fundacional da filosofia ocidental) é um período que tem a concepção de que o

conhecimento só pode ser considerado verdadeiro se tiver um fundamento

absoluto.

O segundo período considerado antifundacional (ou relativismo) o

conceito de interpretação foi redefinido e o movimento antifundacional não

estava em busca da verdade manipulando objetos, nem em obter ou adquirir

conhecimento de modo instrumental (GODOI, BANDEIRA-DE-MELLO e SILVA,

2006).

Para Lincoln e Guba (2006) o antifundacionalismo é um termo utilizado

para designar a recusa em adotar qualquer padrão invariável (ou

fundacionalista) pelo qual a verdade pode ser conhecida universalmente.

Page 68: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

68

Os fundacionalistas afirmam que os fenômenos reais implicam certos

critérios definitivos para testar a sua veracidade, já os não-fundacionalistas

afirmam que estes critérios não existem de forma definitiva, somente podemos

concordar por um determinado tempo e sob certas condições com alguns

destes critérios. Os critérios fundacionalistas são descobertos, e os não-

fundacionalsitas são negociados (LINCOLN;GUBA, 2006).

A sexta questão atenta para ampliação das considerações sobre a

validade. Esta é uma questão que rende diálogos muito férteis. A validade não

é como a objetividade, existem razões fundamentais teóricas, filosóficas e

pragmáticas que englobam esta questão.

A questão da validade, até mesmo nos paradigmas mais atuais, não é

uma questão descartada, e é fonte de preocupação por parte destes

pesquisadores. Provavelmente a preocupação com a validade é uma herança

do positivismo, porém cada paradigma tem seus critérios de legitimação dos

dados. No positivismo, Cooper e Schindler (2003) explicam que a validade

busca garantir a objetividade de um estudo quantitativo, a validade então é a

confiança que se pode tirar das conclusões de uma análise.

Uma das questões que envolvem a validade, e que vamos considerar

neste estudo, é a combinação entre método e interpretação. Lincoln e Guba

(2006) acreditam que a questão da validade em ciências sociais ocorra nesta

fronteira entre método e interpretação.

A sétima questão é a voz, reflexividade e representação textual pós-

moderna.

A voz tem significado muitas coisas para diferentes pesquisadores. Os

pesquisadores, à medida que adquiriram uma maior consciência das realidades

abstratas criadas por seus textos, também passaram a se conscientizar de que

os leitores “escutavam” seus informantes, permitindo que esses leitores

ouvissem as palavras exatas como sinais paralingüísticos, lapsos, pausas e

interrupções dos informantes.

Page 69: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

69

A voz na visão de Hertz (1997 apud LINCOLN; GUBA, 2006) tem

múltiplas dimensões. A primeira dimensão é a voz do autor. A segunda

dimensão é a voz dos entrevistados, de alguém dentro de um texto. A terceira

dimensão ocorre quando o eu é o sujeito da investigação.

A voz, na visão de Lincoln e Guba (2006), atualmente pode significar

não apenas a presença do pesquisador (a voz do pesquisador), mas também a

oportunidade dos participantes da pesquisa falarem por si mesmos.

A reflexividade é o processo de reflexão crítica sobre o eu na função de

pesquisador, sobre o ser humano como instrumento. É um experimentar

consciente do eu no papel de investigador e de entrevistado, daquele que vem

a conhecer o eu dentro dos processos da pesquisa propriamente dita

(LINCOLN; GUBA, 1994, 2006).

A reflexividade obriga a nos desfazermos, não apenas quanto ao

problema de pesquisa que escolhemos e daqueles que participam da pesquisa,

mas a nós mesmos e às múltiplas identidades que representam o eu mutável

no cenário da pesquisa.

As representações textuais pós-modernas possuem duas vertentes

inerentes e que necessitam de alerta. Primeiro é o fato do método de pesquisa

levar o pesquisador a acreditar que o mundo é bem mais simples do que

realmente é e, segundo, que os textos possam reinscrever formas duradouras

de opressão histórica. Existe então uma crise. Essa crise criou duas vertentes,

a primeira é a que informa que o mundo é de uma maneira, enquanto pode ser

de outra, ou de várias outras maneiras. A segunda é a crise de representação,

que serve para silenciar aqueles cujas vidas são apropriadas pelas ciências

sociais. E que podem servir para recriar este mundo, e não outro talvez mais

complexo.

No próximo capítulo aponta-se um possível posicionamento das

estratégias de pesquisa empíricas de acordo com as questões práticas

explicitadas acima.

Page 70: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

70

5 POSICIONAMENTO DAS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EMPÍRICAS

QUANTO AS QUESTÕES PRÁTICAS SELECIONADAS E UMA POSSÍVEL

VINCULAÇÃO PARADIGMÁTICA

Após a descrição das questões práticas selecionadas torna-se possível

apontar um provável posicionamento das estratégias de pesquisa, pois a

intenção deste estudo é gerar discussão e reflexão diante das estratégias de

pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais, dentro destas

questões.

É importante ressaltar que se torna inviável dissociar as questões

práticas dos paradigmas, pois cada paradigma assume uma postura diante das

questões práticas. Incluir o posicionamento das estratégias de pesquisa dentro

deste contexto sem comentar a questão paradigmática seria um tanto

negligente, já que uma questão não se dissocia do paradigma, mas sim o

complementa. Além disso, cabe explicar que se buscou na literatura consultada

justificar o posicionamento de cada estratégia de pesquisa ao paradigma. Após

esta justificativa teórica demonstrada em forma de texto, repete-se parte do

quadro do capítulo anterior, porém, somente com as questões práticas a serem

analisadas. A análise foi feita justificando teoricamente o posicionamento

através das estratégias de pesquisa empíricas tendo como base o significado

dos paradigmas e das questões práticas propostas por Lincoln e Guba (2006) e

já explicitadas anteriormente.

Que

stão

Positivismo Pós- positivismo

Teoria Crítica e outros Construtivismo Participativo

Page 71: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

71

Axi

olog

ia

O saber proposicional a respeito do mundo é, por si só, uma finalidade, possui

valor intrínseco.

O saber transacional, proposicional, revela um valor instrumental como meio para a

emancipação social, a qual, sendo por si mesma uma finalidade,

possui valor intrínseco.

O saber prático sobre

como prosperar em uma cultura,

com um equilíbrio entre a

autonomia, a cooperação e a hierarquia

são, por si só, uma

finalidade, possui valor intrínseco.

Aco

mod

ação

e

com

ensu

rabi

lidad

e

Comensurável a todas as formas positivistas

Incomensurável com as formas positivistas; comensurabilidade parcial com as abordagens

construtivista, criticalista e participativa, especialmente à medida que estas fundem-se em

abordagens liberacionistas fora do Ocidente

Açã

o

Não é responsabilidade do pesquisador, enxergada

como “defesa” ou subjetividade, e, por isso,

considerada uma ameaça à validade e à objetividade.

Encontrada especialmente na forma de capacitação, previsão e

esperança de emancipação; o objetivo final é a transformação

social, particularmente em direção a

maior eqüidade e justiça.

Entrelaçamento com a validade; a investigação muitas vezes

mostra-se incompleta sem ação por parte dos participantes; a

formulação construtivista determina que seja feito um treinamento em ação política

caso os participantes não entendam os sistemas políticos.

Con

trol

e

Encontra-se exclusivamente no pesquisador

Geralmente encontra-se no

“intelectual transformativo”;

novas construções, o controle volta à comunidade.

Compartilhado entre o

investigador e os participantes

Compartilhado em níveis variados

Page 72: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

72

Rel

ação

com

os

fund

amen

tos

da

verd

ade

e do

co

nhec

imen

to

Fundacionalista Fundacionalista dentro da crítica

social

Antifundaciona-lista

Não –fundaciona-

lista

Am

plia

ção

das

cons

ider

açõe

s so

bre

a va

lidad

e (c

ritér

ios

da

bond

ade)

Construções positivistas tradicionais da validade; rigor, validade interna,

validade externa, confiabilidade, objetividade.

Estímulo para ação (ver acima),

transformação social,

eqüidade, justiça social.

Construções ampliadas da

validade: a)validade cristalina

(Richardson); b)critérios de autenticidade

(Guba e Lincoln); validades catalíticas,

rizomáticas, voluptuosas

(Lather); critérios

relacionais e centralizados na ética (Lincoln); e)determina-

ções de validade

centralizadas na comunidade.

Veja “ação” acima

Mistura de vozes entre o pesquisador e

os participantes

Mistura de vozes, em que as vozes dos

participantes às vezes são

dominantes; reflexividade

séria e problemática; representação

textual e ampliação da

questão.

Mistura de vozes;

representação textual

raramente discutida, porém,

problemática; reflexividade depende da subjetividade crítica e da

autoconsciên-cia.

Voz

, ref

lexi

vida

de,

repr

esen

taçõ

es te

xtua

is p

ós-m

oder

nas.

Voz do pesquisador, principalmente a reflexividade

pode ser considerada um problema na objetividade; representação textual não-

problemática e, de certa forma, chavão.

As práticas de representação textual podem ser problemáticas, ou seja, “fórmulas de ficção”, ou

“regimes de verdade” não-examinados. Quadro 3: As questões práticas atuais selecionadas para este estudo Fonte: Lincoln e Guba (2006, p.174).

Page 73: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

73

Como já explicitadas anteriormente, estas questões são aquelas que

ainda não foram discutidas pelos pesquisadores e são as questões mais

controversas na visão de Lincoln e Guba (2006), porém, e, inclusive, por serem

as mais críticas, são as que têm grande poder de contribuição para gerar

reflexão.

A questão da axiologia não será analisada neste capítulo por ser

fortemente confundida com a vinculação paradigmática, este ponto foi

explicado no capitulo anterior, sob a justificativa dos próprios autores Lincoln e

Guba (2006). Desta forma, a questão da axiologia será retomada no próximo

capítulo.

5.1 A questão da “Acomodação e Comensurabilidade”

O estudo de caso é tradicionalmente utilizado em pesquisa qualitativa, é

também conhecida como a principal estratégia de pesquisa utilizada em

estudos qualitativos (GODOI; BALSINI, 2006).

Porém, em estudos organizacionais, esta estratégia também é muito

utilizada como forma de estudo de caso quantitativo apesar de sempre

predominar o uso do tipo qualitativo. Mariz et al. (2004) associam este fato à

grande versatilidade desta estratégia, expondo que isso contribuiu para

disseminação do seu uso em estudos organizacionais.

Neste estudo utilizaremos para análise a estratégia de estudo de caso

qualitativo, e a estratégia de estudo de caso quantitativo separadamente.

Ainda Mariz et al (2004) confirmam o fato de existir a possível

comensurabilidade entre métodos (de coleta e análise) admitida pelos autores

Lincoln e Guba (1994, 2006). Grande parte de artigos que utilizaram o estudo

de caso quantitativo e qualitativo fez uso de mais de um método de coleta de

Page 74: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

74

dados, sendo que os dois métodos de coleta de dados mais utilizados foram a

entrevista e o questionário.

De todas as estratégias utilizadas em estudos organizacionais, além do

estudo de caso ser o mais comumente utilizado, é uma estratégia que

perpassa o campo qualitativo e o quantitativo, por ser utilizado nestas duas

formas. Diante dos paradigmas apresentados, apesar da estratégia de estudo

de caso perpassar o campo qualitativo e o quantitativo (ou vice-versa), não é

possível considerar uma comensurabilidade do estudo de caso entre todos os

paradigmas.

Na literatura consultada inexiste uma ligação do estudo de caso com a

transformação social, confirmando a incomensurabilidade desta estratégia com

o paradigma participativo. Apesar desta estratégia ser inerentemente qualitativa

sua intenção não é a transformação social, ou intervenção.

Godoy (2006) explica que os estudos de caso adotam um enfoque

indutivo no processo de coleta e análise de dados. Os pesquisadores tentam

obter suas informações a partir das percepções dos autores locais, colocando

“em suspenso” suas pré-concepções sobre o tema que está sendo estudado,

porém verifica-se que pode ocorrer comensurabilidade quando Godoy (1995)

esclarece que ainda que os estudos de caso sejam essencialmente

qualitativos, podem comportar dados quantitativos para aclarar algum aspecto

de questão investigada.

Devido à vasta comensurabilidade entre a estratégia de pesquisa de

estudo de caso aos paradigmas, podemos considerar esta estratégia com

pouca acomodação, pois ela transita entre os diversos paradigmas de

pesquisa, com exceção do participativo,sendo assim uma estratégia de grande

“movimento”.

No caso da estratégia etnográfica e da estratégia historiográfica torna-se

quase inaceitável uma comensurabilidade entre estas estratégias e os

paradigmas positivista e pós-positivista, devido ao fato de serem estratégias

Page 75: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

75

intrinsecamente qualitativas e interpretativas e que não utilizam métodos de

coleta e análise de dados de cunho quantitativo.

As questões axiomáticas destas duas estratégias entram em desarmonia

quando se força existir uma comensurabilidade entre o paradigma positivista e

pós-positivista. Parece poder existir comensurabilidade dentre estas duas

estratégias e os paradigmas teoria crítica, construtivismo e participativo,

inclusive no que tange aos métodos de coleta e análise de dados qualitativos.

Porém, não existirá comensurabilidade entre paradigmas quantitativos e

métodos de coleta e análise de dados quantitativos. Alberti (2004) explica que

é necessário o uso de metodologias qualitativas e que a entrevista é o caminho

apropriado para este tipo de investigação, na prática, este argumento foi

comprovado através do estudo de Godoi e Balsini (2006) quando analisaram

artigos das principais revistas científicas brasileiras que utilizaram estratégias

de pesquisa qualitativas, o resultado foi expressivo: 56,6% dos artigos

analisados utilizaram a entrevista como método de coleta de dados.

Devido à ausência de comensurabilidade entre paradigmas

quantitativos e qualitativos nas estratégias de pesquisa etnográfica e

historiográfica considera-se estas duas estratégias em estado de maior

acomodação paradigmática, ou seja, existe uma maior dificuldade de transição

entre os paradigmas.

A pesquisa-ação é uma estratégia que, tal como o estudo de

caso, poderá ser comensurável com alguns paradigmas. Inclusive existem

autores como Yin (2003, 2005) e Éden e Huxham (1996, 2001) que consideram

a pesquisa-ação como uma variação do estudo de caso, e por este motivo,

todas as características do estudo de caso também seriam da estratégia de

pesquisa-ação.

Porém, tem-se uma consideração diferente neste estudo, já que o

estudo de caso se diferencia da pesquisa-ação pelo fato de não se preocupar

em intervir na organização, ou no “caso” a ser analisado. Macke (2006)

compartilha da mesma idéia.

Page 76: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

76

Thiollent (1999, 2005) afirma que a pesquisa-ação não é um estudo de

caso, mas, assim como o estudo de caso, também pode fazer uso de métodos

de coleta e análise de dados qualitativas e quantitativas.

A estratégia de pesquisa-ação pode ser comensurável aos paradigmas

teoria crítica, construtivismo, participativo e ao pós-positivismo, pois existe

confluência quanto ao uso de métodos de coleta ou análise quantitativos, mas

não devido ao pensamento paradigmático desta estratégia.

A estratégia de pesquisa grounded theory será analisada diante de duas

vertentes. A primeira a grounded theory de Glaser e Strauss (1965), que

englobaremos aqui como sendo também a visão de Strauss e Corbin (1998,

2008). E a segunda a grounded theory de Charmaz (1994). Na estratégia de

pesquisa da grounded theory nota-se alguns procedimentos considerados de

análise positivista e construtivista, no entanto estes procedimentos são de

origem paradigmática e também de origem metodológica (como fazer) durante

o processo de coleta de dados.

Explicam Strauss e Corbin (2008) que não se pode ir a campo com

posições paradigmáticas pré-determinadas (apesar dos autores saberem que

isso influencia a coleta de dados), pois os dados coletados emergem

inicialmente de forma qualitativa para, então, decidir qual será a melhor forma

de continuar a coleta, e isso dependerá do que for o mais apropriado naquele

momento, ou seja, poderá ser uma coleta de dados através de questionários ou

entrevistas.

Charmaz (2000) explica que a coleta de dados na estratégia da

grounded theory parte-se de casos individuais para desenvolver de forma

progressiva categorias conceituais que expliquem e compreendam os dados de

forma que identifiquem relações entre eles. Percebe-se que a visão de

Charmaz (2000) demonstra um pensamento mais qualitativo e construtivista do

que a visão de Strauss e Corbin (2008).

Page 77: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

77

As pesquisas do tipo survey e experimentais são comensuráveis

somente aos paradigmas positivistas (positivismo e pós-positivismo). Não

existe participação destas duas estratégias de pesquisa perante formas

qualitativas de pesquisa nem no modo de enxergar a realidade, nem na forma

de se coletar e analisar os dados.

Percebe-se, então, uma incomensurabilidade das estratégias survey e

experimental em relação a outros paradigmas considerados mais qualitativos,

que existe uma grande acomodação, ou seja, ausência de movimentação entre

os paradigmas.

5.2 A questão da “Ação”.

A ação, ou apelo à ação é uma das questões mais controversas entre os

paradigmas e, conseqüentemente, entre as estratégias de pesquisa. O apelo à

ação se refere tanto à possibilidade de transformação social quanto à influência

que pode existir entre o pesquisador e o pesquisado.

Na estratégia de estudo de caso podemos notar um apelo à ação fraco.

A estratégia de estudo de caso não tem a intenção de realizar uma mudança

social em todos os seus aspectos, porém pode abarcar este tipo de pesquisa,

apesar de em estudos organizacionais não existir esta intenção. Como esta

estratégia perpassa por quase todo o caminho paradigmático possível neste

estudo, não podemos desconsiderar a possibilidade de existir estudos de caso

com a intenção de realizar mudanças sociais, mesmo que sejam apenas em

forma de estímulo de mudança, mas não de realização.

Devido à comensurabilidade do estudo de caso entre paradigmas

qualitativos e quantitativos, já explicados na questão prática anterior, caso o

pesquisador realize um estudo de caso sob o paradigma positivista ou pós-

positivista ele negará o apelo à ação, pois ele busca se defender daquilo que

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pode ser subjetivo ou transformador. Entretanto, se o pesquisador utilizar

paradigmas qualitativos (teoria crítica, construtivismo) poderá ser constatado

um espírito transformador, porém sem intervenção social.

A estratégia historiográfica possui uma questão que depende da visão

do pesquisador. Thompson (2002) explica que a história oral não é

necessariamente um instrumento de mudança, pois isso dependerá da forma

que for utilizada. Na visão de Meihy (2002), a “necessidade” da história oral

fundamenta-se no sentido de participação social e, por este motivo, tem ligações com a

cidadania.

Dado o exposto, percebe-se que ao mesmo tempo em que o apelo à

ação está, em parte, nas mãos do pesquisador, alguns autores consideram na

estratégia historiográfica o dever de ter experiência de participação social.

Constata-se também que, na estratégia historiográfica, existe uma relação forte

entre pesquisador e pesquisado, por este motivo o principal método de coleta

de dados desta estratégia é a entrevista (ICHIKAWA; SANTOS, 2006) e isto já

é uma característica de estratégias que advém de paradigmas qualitativos. A

historiografia não tem intenção de excluir a subjetividade, pois na produção do

conhecimento, na visão de Freitas (2002), fatores como a subjetividade são

inevitáveis e, sendo assim a história oral tem adquirido novo status devido aos

novos significados atribuídos ao depoimento e à história de vida.

A estratégia de pesquisa etnográfica tem um forte apelo à ação. Isto

talvez seja característico de estratégias inerentemente qualitativas que

constroem um longo trabalho de campo, que não negam a subjetividade e que,

através dos pesquisados (participantes da pesquisa) e com a ajuda do

pesquisador, podem representar as intenções de uma comunidade e até

mesmo realizar mudanças sociais.

A construção da etnografia, conforme explanam Andion e Serva (2006),

é feita in loco, a partir do encontro e da relação entre pesquisador e

pesquisado, não há, portanto, unilateralidade na relação entre pesquisador e

pesquisado, ao contrário, essa relação parece ser constantemente negociada

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na etnografia. Estas idéias de Andion e Serva (2006) confirmam a influência

existente entre pesquisador e pesquisado e também a impossibilidade de

existir etnografia sem esta relação.

A pesquisa-ação é a estratégia de pesquisa que possui maior apelo à

ação, pois como explana Demo (2004b), a pesquisa participante produz

conhecimento politicamente engajado. Kemmis e McTaggart (2000)

complementam explicando que a pesquisa-ação participante é uma estratégia

de pesquisa reflexiva, no sentido de engajamento dos participantes em um

processo colaborativo de transformação social, no qual eles aprendem e

mudam suas formas de engajamento, adotam uma visão emancipatória, focada

no desejo compartilhado de transformação social.

A pesquisa ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é

concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a

resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os

participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de

modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2005). Existe na pesquisa-

ação a preocupação em pesquisar, mas ao mesmo tempo, em intervir.

Precede também na pesquisa-ação a existência de preocupação em

retornar à comunidade ou a organização na qual se está pesquisando. Isso é

uma característica da pesquisa-ação. No entender de Éden e Huxham (2001)

esta estratégia resulta do envolvimento do pesquisador com os membros de

uma organização em volta de um assunto que é de interesse para os

pesquisados, e no qual existe intenção de agir e intervir.

A estratégia grounded theory, tal como o estudo de caso, não busca

nenhum tipo de transformação social, porém existe grande interação entre

pesquisador e o ato da pesquisa de campo (CHARMAZ, 2000). Strauss e

Corbin (2008) consideram a relação existente entre o pesquisador e os dados,

e não a relação entre o pesquisador e os pesquisados. Além disso, na visão de

Strauss e Corbin (2008) e de Glaser e Strauss (1965), o pesquisador deveria

ser neutro, mesmo sabendo que a neutralidade é inalcançável, neste caso. Já

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para Charmaz (2000), a realidade dos sujeitos, para a grounded theory só

existe à medida que ambos, pesquisador e sujeito, a enxergam.

As estratégias de pesquisa survey e experimental, como já explicitado

na questão anterior, têm um fraco apelo à ação, até mesmo pela objetividade

imposta e inerente a estas estratégias. Babbie (1999) explica que na estratégia

de pesquisa survey existe a elaboração clara e rigorosa de um modelo lógico,

que posteriormente será testado. Nestas estratégias onde reina a objetividade

não existe interação entre pesquisador e pesquisado, a interação praticamente

inexiste e o pesquisador faz questão de que não ocorra para não influenciar na

objetividade dos resultados. Este fato já explica a falta de apelo à ação.

5.3 A questão do “Controle”

O controle é também uma questão controversa. E que, no entender de

Lincoln e Guba (1994, 2006), está muito ligada à questão da “voz, reflexividade

e representação textual pós-moderna”, que será vista mais adiante.

Nas pesquisas consideradas tradicionais, a pesquisa fica sempre a

cargo dos pesquisadores, pois somente esses possuiriam capacidade de

formular os problemas ou de resolvê-los. Desse modo, os resultados da

pesquisa ficam reservados aos pesquisadores e a população acaba por

desconhecer os resultados e menos ainda a discuti-los (BOTERF, 1999).

Logicamente que a questão do controle para o paradigma positivista e

pós-positivista é uma preocupação constante, pois está totalmente nas mãos

do pesquisador (ou pensa-se que está). Então nas estratégias de estudo de

caso (aquelas que advêm de paradigmas positivistas: os estudos de caso

quantitativos) o controle encontra-se exclusivamente no pesquisador, pois é ele

quem determina os problemas importantes, que determina o que fará parte das

descobertas e o modo como os dados serão coletados.

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Trez e Matos (2006) explicam que, na maioria dos casos, as pesquisas

surveys são conduzidas por meio de questionários respondidos pelos

pesquisados, e o mesmo ocorre nas pesquisas experimentais. O questionário

já é, por si só, um método de coleta de dados que não permite interação entre

pesquisador e pesquisado.

Freitas (2000) explica que as principais características do método de

pesquisa survey são o interesse em produzir descrições quantitativas de uma

população; e fazer uso de um instrumento predefinido. Tal como explicado

anteriormente, e o mesmo ocorre com a estratégia experimental. A decisão do

que será pesquisado e quais as características que serão descritas são

definidos anteriormente.

Na estratégia experimental os critérios da pesquisa derivam das

pressuposições do pesquisador e das teorias, e têm a necessidade de

operacionalizar conceitos de tal modo que eles possam ser medidos, pois

acredita-se que a mensuração contribuirá para futuras comparações visando a

objetividade (TRIPODI; FELLIN; MEYER, 1981). Por este motivo a estratégia

experimental é a estratégia que possui maior exigência de controle por parte do

pesquisador. Complementando com a explicação de Black (1999) que ressalta

que o pesquisador, em estudos experimentais, precisa construir o estudo de tal

forma que isole as variáveis que não são de interesse da pesquisa, pois elas

precisam ser controladas para não influenciarem nos resultados.

As estratégias de pesquisa historiográficas e etnográficas têm a questão

do controle de forma compartilhada entre o pesquisador e os participantes da

pesquisa. A rigor são os próprios sujeitos sociais que interpretam em primeira

mão a sua cultura ou sua história. O controle não se encontra somente nas

mãos do pesquisador. O mesmo ocorre na estratégia de grounded theory.

Porém, na visão de Strauss e Corbin (2008) existe uma maior preocupação

quanto ao controle, até mesmo por sua visão paradigmática mais positivista.

Strauss e Corbin (2008) explicam que “é a análise que conduz a coleta de

dados” esse é o processo que se faz para proceder a grounded theory. Porém,

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todo o processo, inclusive a decisão de se retornar ou não a campo, é uma

decisão do pesquisador baseada nos dados analisados.

Charmaz (2000) considera que na grounded theory o controle não é

compartilhado totalmente com os pesquisados, mas devido à forte interação

existente entre o pesquisador e pesquisado, seria impossível afirmar que o

controle encontra-se totalmente a cargo do pesquisador, pois confirma-se uma

certa relação de dependência entre pesquisador e pesquisado.

A pesquisa-ação é a estratégia que tem o controle “compartilhado em

níveis variados”, pois neste caso o controle tem a intenção de promover a

emancipação, capacitação, é claro, dependendo do propósito da pesquisa.

Demo (2004) defende a idéia de que a pesquisa participante torna-se mais

complexa e complicada, quando se exige dela a dimensão completa, ou seja,

que produza, ao mesmo tempo, conhecimento e participação.

Repara-se que o controle, do mesmo modo que é preocupante para as

estratégias mais positivistas (experimental, survey e estudo de caso

quantitativo) porque está totalmente no dominio do pesquisador, também se

torna ponto de preocupação, por exemplo, para a estratégia de pesquisa-ação,

pois, ao invés do controle estar na posse do pesquisador, passa a se encontrar

nas mãos dos pesquisados.

5.4 A questão dos “Fundamentos da Verdade do Conhecimento”

A questão dos fundamentos da verdade e do conhecimento será

explicada com base nos conceitos de fundacionalismo, fundacionalismo dentro

da crítica social, antifundacionalismo e não-fundacionalismo.

As estratégias de pesquisa de estudo de caso quantitativo, estratégia de

pesquisa survey e estratégia de pesquisa experimental enquadram-se nos

critérios do fundacionalismo, que são considerados positivistas ou pós-

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positivistas. Os fundacionalistas se fundamentam na dominação do objeto e na

manipulação dele, acreditando que, para existir o conhecimento, e este ser

considerado verdadeiro, e existir um fundamento absoluto (GODOI,

BANDEIRA-DE-MELLO; SILVA, 2006)

Babbie (1999) explica que as surveys são frequentemente realizadas

para permitir enunciados descritivos, sobre alguma população, isto é, descobrir

a distribuição de certos traços e atributos. Nestes, o pesquisador não se

preocupa com o porquê da distribuição observada existir, mas com o que ela é.

Já a estratégia de pesquisa grounded theory de Strauss e Corbin (2008)

é considerada fundacionalista, por manter-se no paradigma pós-positivista, por

basear-se em uma metodologia objetificadora na visão de Godoi, Bandeira-de-

Mello e Silva (2006) . Porém, a estratégia da grounded theory na visão de

Charmaz (2000) é provavelmente antifundacionalista, pois busca interpretações

de modo diferente dos fundacionalistas, interpretações a partir de padrões que

podem ser modificados, e não de verdades absolutas e invariáveis. A grounded

theory é uma estratégia que visa desenvolver uma teoria sobre a realidade que

se está investigando a partir de dados coletados pelo pesquisador, sem

considerar hipóteses preconcebidas. Conhecida também como teoria

embasada, teoria fundamentada (VERGARA, 2005).

Bandeira-de-Mello (2003) explica que a estratégia da grounded theory

adota as considerações ontológicas e epistemológicas do subjetivismo,

conforme definições de Morgan e Smircich (1980). Vergara explica que esta

estratégia visa ir além da descrição, exigindo do pesquisador a tarefa de

interpretar os dados, identificar os conceitos e categorias e gerar uma teoria.

Sendo assim, é uma estratégia “interpretativista de pesquisa que busca

explicar a realidade a partir dos significados atribuídos pelos envolvidos às

suas experiências” (BANDEIRA-DE-MELLO, 2003). Percebe-se então que os

fundamentos da verdade da grounded theory podem ser considerados

antifundacionalistas.

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As estratégias historiográfica e etnográfica buscam interpretações

diferenciadas daquelas que pregam o fundacionalismo, onde a verdade é

absoluta. Podemos situá-las também no antifundacionalismo em conjunto com

a grounded theory (Glaser). Pois a construção do conhecimento em etnografia

é feita in loco, a partir do encontro e da relação entre pesquisador e pesquisado

(ANDION e SERVA, 2006).

A pesquisa-ação, por seu caráter emancipatório, considerou-se não-

fundacionalista e antifundacionalista. Os critérios para o estabelecimento de

uma verdade são descobertos, mas também negociados entre o pesquisador e

pesquisados. Gianotten e Wit (1999) explicam que a pesquisa participante se

situa entre as correntes das ciências sociais que rejeitam a chamada

neutralidade científica e partem do princípio de que a investigação deve servir a

determinados fatores sociais, buscando uma resposta coerente que permita,

por um lado, socializar o conhecimento e por outro, democratizar os processos

de investigação e educação.

A estratégia de estudo de caso qualitativo pode confluir entre o

fundacionalismo dentro da crítica social e antifundacionalismo. Alguns estudos

de caso são quali-quantitativos, ou qualitativos sem grande profundidade,

apenas buscando a descrição. Então, nestes casos, estariam situados no

paradigma da teoria crítica (fundacionalista dentro da crítica social). E, em

outra perspectiva, podem ser antifundacionalistas, quando são essencialmente

qualitativos, desde a escolha do paradigma até os métodos de coleta e análise

de dados.

Na estratégia de pesquisa etnográfica, como já foi explicado

anteriormente, não existe unilateralidade na relação entre o pesquisador e

pesquisado. Ao contrário, a relação é constantemente negociada na etnografia.

Desta forma, a etnografia se configura na comunicação, e temos que aprender

a nos relacionar, a respeitar, inclusive a amarmos, e a compreender

(CÁCERES, 1998, p. 347). Concordando com este tipo de validação, Rocha,

Barros e Pereira (2005, p. 123) consideram a investigação realizada por dentro

da realidade do grupo estudado,um traço deveras importante na investigação

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etnográfica. Neste caso, o conhecimento científico seria gerado do ponto de

vista do outro. Se o conhecimento é gerado do ponto de vista do outro

podemos situar esta estratégia no que Lincoln e Guba (2006) consideraram

antifundacionalismo.

5.5 A questão da “Ampliação das Considerações sobre a Validade”

As considerações sobre a validade ocorrem em dois pontos distintos. O

primeiro é o rigor defendido pelos positivistas na qual a validade depende da

objetividade dos resultados. E o segundo é o conjunto de verdades que

ocorrem no contexto entre o que foi pesquisado e a sua interpretação.

A validação no caso da etnografia e em todas as estratégias (até mesmo

as quantitativas) situa-se na interpretação. Nas estratégias qualitativas, como

estudo de caso qualitativo, historiografia, etnografia e pesquisa-ação justifica-

se a questão da validade diante do segundo ponto demonstrado acima, na

questão da interpretação. Apesar de que, para Stake (2000), o questionamento

da validade em pesquisas qualitativas não tem sentido e na visão de Lang

(1996), além da comprovação da veracidade não ser primordial, identificar e

qualificar as diferentes versões sobre fatos ou processos irá piorar sua riqueza, mais

do que verificar a veracidade do relato (no caso da estratégia historiográfica).

Ocorre então que, para uma interpretação ser válida deveria realmente

demonstrar a realidade daqueles que foram pesquisados. Desta forma a

validação se completa se houver troca de informações entre o pesquisador e o

pesquisado. É preciso existir um retorno ao campo, para encontrar novamente

aqueles pesquisados visando confirmar o que foi interpretado. Godoy (2006)

explana que, para uma pesquisa qualitativa ser internamente válida, suas

conclusões devem estar apoiadas nos dados. A validade interna é julgada

considerando-se até que ponto a descrição oferecida pelo pesquisador está de

acordo, ou seja, representa os dados coletados.

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Sabe-se que a constatação de Godoy (2006) é bastante subjetiva e

ressalta-se que não pode ser esquecido, no contexto da interpretação, a

experiência e qualidades do pesquisador. Na maior parte das estratégias de

pesquisa qualitativas leva-se em conta esta constatação. Alguns autores

comentam que o pesquisador precisa ter habilidade para realizar entrevista,

como no caso da estratégia historiográfica e também precisam ter algumas

qualidades como resistir à tentação de discordar ou de lhe impor suas próprias

idéias, pois caso ele nao tenha experiência poderá obter informações que, ou

são inúteis, ou enganosas (THOMPSON, 2002). Essas qualidades garantiriam

a validade dos dados coletados.

Cáceres (1998, p. 350) explica que o etnógrafo requer tempo para sua

formação, e só melhorará tecnicamente com o passar dos anos, por meio da

experiência. Na opinião de Cáceres (1998), o investigador é o centro de tudo e

sua formação depende do todo, a diferença entre um novato e um experiente é

enorme e muitas vezes definitiva, pois a percepção é o coração do trabalho

etnográfico. Outro ponto não pode ser ignorado (CAVEDON, 1999) pelo

etnógrafo: a sensibilidade, a empatia que deve estabelecer-se entre

pesquisador e pesquisados. A riqueza ou pobreza dos dados coletados sofre

uma influência muito grande desses aspectos tipicamente humanos. Além

disso, a qualidade dos dados está profundamente relacionada com a

capacidade do etnógrafo de ouvir e compreender o outro com base na emoção.

O reconhecimento e a validade dos resultados da estratégia etnográfica

ainda possuem um papel incerto e muitas vezes questionado. Para

Hammersley e Atkinson (1994) a prova crucial para a veracidade das

informações na etnografia está fundamentada nos próprios atores (os

pesquisados), cujas crenças e comportamentos se pretendem conhecer. Se os

atores reconhecem a validez das descrições realizadas pelo etnógrafo, a

veracidade estaria comprovada. Sendo assim, o propósito da validade na

etnografia está inserido no estabelecimento de uma ligação de veracidade

entre o objeto de estudo e o investigador etnográfico.

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Peirano (1995 apud CAVEDON, 1999) considera uma boa etnografia

aquela cuja riqueza permita uma reanálise dos dados iniciais. Andion e Serva

(2006) explicam que, na etnografia, esta relação, entre o objeto e o

investigador, é constantemente negociada.

Então, as estratégias de pesquisa-ação, historiográfica, etnográfica e

estudo de caso qualitativo possuem validade voltada para interpretação dos

dados coletados e esta interpretação é realizada, no entender de Andion e

Serva (2006), no contexto da relação entre pesquisador e pesquisado.

Na estratégia de pesquisa historiográfica a evidência pode ser

constatada através da comparação ao material de outras fontes (THOMPSON,

2002; LANG, 1996).

No entender de Thiollent (2005), um grande desafio metodológico da

estratégia de pesquisa-ação consiste em fundamentar a inserção da pesquisa

ação dentro de uma perspectiva de investigação científica, concebida de modo

aberto e na qual “ciência” não seja sinônimo de “positivismo”, “funcionalismo”

ou de outros “rótulos”. Eden e Huxham (2001) também explicam esta

dificuldade que consideram ocorrer pela falta de replicabilidade decorrente da

falta de rigor.

Porém, Demo (2004) contradiz esta abordagem explicando que a

estratégia de pesquisa-ação não despreza a metodologia científica em nenhum

momento no sentido dos “rigores metódicos, controle intersubjetivo,

discutibilidade aberta e irrestrita”.

No caso da pesquisa-ação, a validade contém uma ligação com a

questão do “apelo à ação” na sugestão de Lincoln e Guba (2006) (ver quadro

2). Na questão do apelo à ação a estratégia de pesquisa-ação situou-se no

paradigma participativo por ser a estratégia que possui maior apelo à ação, ou

seja, maior movimentação do mundo acadêmico para a sociedade, exatamente

por esta ser uma estratégia que busca também a intervenção.

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As estratégias historiográfica e etnográfica, por serem estratégias que

também utilizam a interpretação como forma de validação, podem perpassar

todo o campo dos paradigmas qualitativos. As construções da validade para

estas duas estratégias são centradas nos pesquisados e na experiência do

pesquisador. Por isto percebe-se que estas estratégias podem se permitir

participar dos paradigmas construtivista e teoria crítica.

Nas estratégias qualitativas, além da interpretação, a experiência do

pesquisador é um critério muito importante para considerar a validade da

pesquisa.

Nas estratégias inerentemente quantitativas, como a pesquisa survey, a

estratégia de estudo de caso quantitativo, e a estratégia de pesquisa

experimental a validação ocorre de forma objetiva, através da comprovação de

hipóteses pré-definidas, com a realização de estatísticas descritivas ou

inferenciais, cálculos matemáticos, métodos de coleta de dados pré-definidos,

(como questionários) buscando, desta forma, controlar o ambiente para que ele

não influencie nos dados.

Freitas (2000) e Babbie (1999) explicam que os dados obtidos com a

realização da estratégia survey devem ser analisados por meio de ferramental

estatístico para a obtenção das informações desejadas, devendo-se, para

tanto, considerar o tipo de análise estatística aplicável às variáveis em estudo,

permitindo, assim, o desenvolvimento e teste rigorosos.

A testagem, como forma de validação da estratégia survey, também é

compartilhada por May (2004), que ainda salienta que a abordagem rigorosa da

estratégia survey visa retirar qualquer viés, tanto quanto possível, e produzir

resultados que sejam replicáveis seguindo-se os mesmo métodos. Sem contar

a questão da generalização dos dados, que na visão de Godoy (2006) tem sido

a regra orientadora das pesquisas desenvolvidas nas tradições do método

quantitativo.

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Ichikawa e Santos (2001), tal como apresentado nas outras estratégias

qualitativas, também ressaltam a importância da sensibilidade do pesquisador

como um instrumento de validade, quando explanam que, para comparar

grupos e gerar teoria, o pesquisador deve utilizar a sua sensibilidade teórica

(theoretical sensivity). Essa sensibilidade tende a aumentar com a experiência

do pesquisador.

Strauss e Corbin (1998 apud BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2006)

propõem que uma teoria substantiva deve ter algumas características, dentre

elas: coerência com a realidade dos indivíduos e grau de generalização para

explicar variações da ocorrência do fenômeno. Essas duas características

também não deixam de ser formas de validar a teoria substantiva obtida.

Bandeira-de-Mello e Cunha (2003) explicam que, de forma diferente de

outros métodos subjetivistas, os procedimentos de análise do método grounded

theory tem a intenção de tornar os resultados os mais objetivos possíveis,

“tanto do ponto de vista teórico, para que tenham possibilidade de

generalização do fenômeno explicado, como do ponto de vista metodológico,

para que possam sofrer posterior escrutínio público sobre o processo de

pesquisa utilizado”. Na opinião do autor isto não significa estar compartilhando

do positivismo, pois, o que deve ser contestado é o processo de pesquisa e o

nível de fundamentação empírica e não se os resultados são a única

explicação da realidade.

5.6 A questão da “Voz, Reflexividade e Representações textuais pós-

modernas”.

À questão da voz é preciso esclarecer o fato de que todo o tipo de

estratégia de pesquisa, sejam estas quantitativas ou qualitativas, possuem, ao

menos, a voz do pesquisador. Mesmo que, em estratégias quantitativas, a voz

talvez seja mais sutilmente notada do que o texto, ainda assim ela existe.

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Na estratégia de pesquisa etnográfica a voz dos pesquisados tende a ter

maior amplitude do que a voz do pesquisador. Percebe-se que os pesquisados

notam a disseminação de sua voz quando Cavedon (1999) expõe a seguinte

colocação: ao contrário do que muitos pesquisadores pensam, os informantes,

ao terem consciência da diferença de mundo que os separa, tendem a usar

esse último como um meio através do qual suas reivindicações possam vir a

ser encaminhadas.

A reflexividade na estratégia etnográfica e historiográfica é uma questão

que se parece com o conceito do paradigma fenomenológico no qual deve-se,

ao menos tentar nos abstermos de todos os nossos conceitos e de todos os

nossos pré-conceitos diante da realidade, para que possamos enxergar a

realidade nos olhos do outro. Diante disso, pode-se verificar que nestas duas

estratégias de pesquisa a reflexividade pré-dispõe que o pesquisador esqueça

de si mesmo.

Os textos ou diários de campo do etnógrafo e do historiador são as

vozes dos pesquisados e o pesquisador procura descrever com detalhes as

vozes dos pesquisados.

A investigação é feita dentro da realidade de um grupo, sendo o

conhecimento científico gerado a partir do ponto de vista do outro (ROCHA,

BARROS; PEREIRA, 2005). No mesmo sentido, Cáceres (1998, p. 351)

considerou o trabalho etnográfico como fenomenológico, mas configurado

hermeneuticamente. Hammersley e Atkinson (1994) explicam que o trabalho do

diário de campo, realizado pelo etnógrafo, assume a forma de descrições e

explicações verbais (HAMMERSLEY; ATKINSON, 1994) e Cáceres (1998, p.

351) sugere o uso de tecnologias que propiciem um melhor registro de campo,

dentre eles a fotografia , o vídeo e o gravador.

O fazer etnografia implica em ir a campo com uma bagagem teórica,

entretanto totalmente desprovido de preconceitos vivendo a realidade da

comunidade investigada através da observação participante com todos os

sentidos à flor da pele (CAVEDON, 2001, p. 2). Desta experiência, tudo é

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relatado, em detalhes, no diário de campo ou registro de campo, local onde são

anotados minuciosamente todos os acontecimentos.

Em princípio a etnografia é um ofício de descrição. “Descrição densa” no

explanar de Cavedon (2001). Para tanto a etnografia tem se utilizado de outros

instrumentos para coletar dados, e também para melhor apresentar seus

resultados. Além da observação participante e das entrevistas o uso da

tecnologia em etnografia já foi citado por Cáceres em 1998, mas também está

sendo utilizado na academia, como relata Cavedon em 2001 (p. 1) com o uso

da antropologia visual.

Thiollent (2005) explica que os pesquisados, na estratégia de pesquisa-

ação, têm algo a “dizer” e a “fazer”. Não é apenas um simples levantamento de

dados ou de relatórios. Com a pesquisa-ação os pesquisadores pretendem

desempenhar um papel ativo. Então se nota que, nesta constatação de

Thiollent (2005), na pesquisa-ação a voz é tanto do pesquisador quanto do

pesquisado, existindo uma mistura de vozes entre eles.

A reflexividade é considerada problemática, pois o envolvimento com o

grupo, ou organização estudada, é muito forte e isso possibilita uma

dificuldade, devido ao excesso de envolvimento, que também pode ser

maléfico. Porém, ao mesmo tempo em que isso ocorre (e deve ocorrer na

pesquisa-ação) o pesquisador e o pesquisado realizam o seu movimento em

busca da mudança (intervenção).

Kemmis e McTaggart (2000) expõem que a estratégia de pesquisa-ação

envolve a busca do ponto de vista de cada participante. Ela é, portanto, uma

estratégia de pesquisa reflexiva, no sentido de engajamento dos participantes

em um processo colaborativo de transformação social.

Na estratégia historiográfica as histórias pessoais ganham alcance social

na medida da inscrição de cada pessoa nos grupos mais amplos que as

explicam (MEIHY, 2002). Assim percebe-se que a voz dos participantes da

estratégia historiográfica emergem de forma mais ampla do que a história

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92

individual, na qual normalmente é realizada. A voz dos participantes, nesta

estratégia, tende a ser mais alta do que a do próprio pesquisador.

Devido à estratégia historiográfica ter servido como um meio para recriar

a história de grupos sociais marginalizadas como os negros, as mulheres e os

trabalhadores (FERREIRA, 2005) acredita-se que exista uma reflexividade

mais forte por parte do pesquisador no que se refere ao ser humano como

instrumento que pode ser mutável no campo da pesquisa. Essa reflexividade

pode ser visível quando o próprio pesquisador se comove diante do pesquisado

e passa a refletir sobre sua própria condição e sobre a condição do outro.

Na estratégia historiográfica as representações textuais podem ocorrer

desde a forma de gravações e transcrições literais de entrevistas até fotos,

cartas, diários e filmes (FREITAS, 2002).

Na estratégia de estudo de caso qualitativo os pesquisadores tentam

obter suas informações a partir das percepções dos autores locais, colocando

“em suspenso” suas pré-concepções sobre o tema que está sendo estudado

(GODOY, 2006) O objetivo então é ouvir a voz daqueles que estão sendo

pesquisados, e não a voz do pesquisador. O mesmo não ocorre no caso dos

estudos de caso quantitativos, no qual o pesquisador, por estar no controle,

assume a voz principal. Por este motivo ocorre pouca reflexividade, ou seja,

percebe-se uma relação insuficiente entre o pesquisador ou entre o

pesquisado, para ser considerada reflexividade.

Na estratégia da grounded theory, apesar do pesquisador se manter no

controle da pesquisa, a voz que emerge é a voz tanto dos pesquisados quanto

do pesquisador. Essa é a visão de Strauss e Corbin (2008) e Charmaz (2000)

que ainda afima que (apud BANDEIRA-DE-MELLO; CUNHA, 2006, p. 255), “o

pesquisador compõe a estória. Ela reflete o observador bem como os

observados”.

A reflexividade ocorre pelo mesmo motivo que a voz, já explicado

anteriormente, mas não no sentido do pesquisador abster-se de seus conceitos

Page 93: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

93

para tal. Quanto às representações textuais podem ocorrer de forma que “o

leitor transcenda às complexidades de uma teoria e entre no mundo dos

sujeitos, enxergue o mundo pelos olhos deles” ou também de forma mais

estruturada, sob a forma de proposições (BANDEIRA-DE-MELLO; CUNHA,

2003, p. 264).

As estratégias de pesquisa survey e experimental adotam a voz do

pesquisador como voz principal de suas pesquisas. Mesmo quando se busca

identificar percepções, são as percepções pré-determinadas pelos

pesquisadores. As representações textuais ocorrem em foram de gráficos,

tabelas planilhas, formas utilizadas constantemente em estudos de paradigmas

positivistas.

Após justificar teoricamente a alocação das estratégias de pesquisa,

temos o resultado do posicionamento das estratégias de acordo com o

paradigma e a questão prática analisada. A alocação da estratégia em cada

paradigma resultou da análise dos dados teóricos descritos neste capítulo e da

definição tanto dos paradigmas – positivismo, pós-positivismo, teoria crítica,

construtivismo e participativo – quanto da questão prática analisada. Após a

análise, foi possível elaborar um posicionamento das estratégias com base na

justificativa teórica.

Que

stão

Positivismo Pós- positivismo

Teoria Crítica E outros Construtivismo Participativo

Aco

mod

ação

e

com

ensu

rabi

lida-

de

Estudo de caso quantitativo Survey

Experimental Grounded Theory (Strauss e

Corbin)

Estudo de caso qualitativo Grounded Theory (Charmaz)

Historiográfica Etnografia

Pesquisa-ação

Page 94: ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS …siaibib01.univali.br/pdf/Cristina Pereira Vecchio Balsini.pdf · 3 CRISTINA PEREIRA VECCHIO BALSINI ESTRATÉGIAS DE PESQUISA EM ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

94

Açã

o Survey

Experimental Estudo de caso quantitativo Grounded Theory (Strauss e

Corbin)

Estudo de caso qualitativo Etnografia

Grounded Theory (Charmaz) Pesquisa-ação Historiográfica

Con

trol

e

Estudo de caso quantitativo Survey

Experimental Grounded Theory (Strauss e

Corbin)

Historiográfica

Etnografia Grounded

Theory (Charmaz)

Pesquisa-ação

Rel

ação

com

os

fund

amen

tos

da

verd

ade

e do

co

nhec

imen

to

Estudo de caso quantitativo Survey

Experimental Grounded Theory (Strauss e

Corbin)

Estudo de caso qualitativo

Grounded Theory

(Charmaz) Historiográfica

Etnografia Estudo de caso

qualitativo

Pesquisa-ação

Am

plia

ção

das

cons

ider

açõe

s so

bre

a va

lidad

e (c

ritér

ios

da

bond

ade)

Estudo de caso quantitativo. Survey

Experimental Grounded Theory (Srauss e

Corbin)

Estudo de caso qualitativo

Historiográfica Etnografia

Historiográfica Etnografia Grounded

Theory (Charmaz)

Pesquisa-ação

Voz

, re

flexi

vida

de,

repr

esen

taçõ

es

text

uais

pós

-mod

erna

s.

Estudo de caso quantitativo Survey

Experimental Grounded Theory (Strauss e

Corbin)

Estudo de caso qualitativo

Historiográfica

Etnográfica Grounded

Theory (Charmaz)

Pesquisa-ação

Pesquisa-ação

Quadro 4: Resultados do posicionamento das estratégias de pesquisa quanto às questões práticas selecionadas. Fonte: Dados teóricos

Após a explanação do posicionamento das estratégias de pesquisa

empíricas utilizadas nos estudos organizacionais foi elaborado o quadro 5 para

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95

auxiliar a representação dos paradigmas às estratégias de pesquisa. Mesmo

sabendo da impossibilidade de dissociar as questões dos paradigmas, e por

este motivo a vinculação paradigmática já estaria esclarecida no conjunto da

análise das questões práticas anteriores, através da vinculação paradigmática

do quadro 5 se pode analisar também a questão da axiologia. Esta questão

prática será analisada juntamente com a vinculação paradigmática, até mesmo

porque na visão de Lincoln e Guba (2006) a axiologia deveria estar no mesmo

grupo das “crenças básicas“ (em conjunto com o que se visualiza no quadro 4).

Tanto a vinculação proposta aqui, quanto o posicionamento das

estratégias de pesquisa às questões, não são determinações definitivas. Este

não é o intuito do estudo. Como já explicado anteriormente a intenção é gerar

um diálogo e reflexão.

Através do posicionamento das questões práticas selecionadas já se

torna possível ter uma idéia da vinculação paradigmática das estratégias de

pesquisa empíricas demonstradas no quadro abaixo.

Que

stão

Positivismo Pós- positivismo

Teoria Crítica e outros Construtivismo Participativo

Ont

olog

ia

Realismo ingênuo-

realidade “real” mas inteligível

Realismo crítico-

realidade “real”, mas apenas

imperfeitamente e

probabilisticamente inteligível (aprensível)

Realismo histórico-

realidade virtual influenciada por valores sociais,

políticos econômicos, étnicos, de

gênero cristalizados ao longo do tempo.

Relativismo – local e

realidades especificamente

construídas

Realidade participativa- realidade subjetiva-

objetiva, co-criada pela mente e por

um dado cosmos.

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96

Epi

stem

olog

ia

Dualista/ objetivista;

descobertas verdadeiras

Objetivista/ dualista

modificada; tradição crítica/ comunidade; descobertas

provavelmente verdadeiras.

Transacional/ subjetivista; descobertas

valores

Transacional/ subjetivista; descobertas

criadas

Subjetividade crítica na transação

participativa com o

cosmos, epistemolo-

gia ampliada

para experimenta

ção proposital e conhecimen

to descobertas co-criadas.

Met

odol

ogia

Experimental/ manipuladora; verificação de

hipóteses, métodos

quantitivos

Experimental modificada/

manipuladora; multiplismo

crítico, falsificação de

hipóteses, pode incluir métodos

qualitativos

Dialógica/dialé-tica

Hermenêutica /dialética

Participação política e

investigação de ação

colaborativa uso da

linguagem e métodos baseados

no contexto

Est

raté

gias

de

pesq

uisa

Estudo de caso quantitativo

Experimental Survey

Estudo de caso quantitativo Grounded

theory (Strauss e

Corbin) Survey

Etnografia Historiografia

Etnografia Grounded theory

(Charmaz) Pesquisa-ação Historiografia

Etnografia Pesquisa-

ação

Quadro 5: Resultado da vinculação paradigmática das estratégias empíricas utilizadas em estudos organizacionais Fonte: Dados teóricos

No quadro 5 se aponta uma provável vinculação paradigmática das

estratégias de pesquisa empíricas analisadas. Este resultado advém da análise

realizada através das questões práticas selecionadas e justificadas

teoricamente.

A estratégia de estudo de caso foi a que apresentou maior confluência

entre os paradigmas analisados, sendo possível à utilização desta estratégia

nos paradigmas positivista, pós-positivista, teoria crítica e construtivismo.

Porém cabe ressaltar que o estudo de caso é uma estratégia, a princípio,

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97

qualitativa, e uma de suas características no entender de Merriam (1998) é a

heurística.

Na estratégia etnográfica notou-se ligação entre os paradigmas

considerados qualitativos, ou seja, e possível haver confluência entre a teoria

crítica, construtivismo e participativo. Cáceres (1998, p. 351) considera a

estratégia etnográfica muito parecida com a fenomenologia. Para o autor o

trabalho etnográfico segue sendo fenomenológico, mas se configura

hermeneuticamente. Já Hammersley e Atkinson (1994, p. 17) consideram que

a estratégia etnográfica tem tendência naturalística.

À estratégia de pesquisa historiográfica vinculou-se os paradigmas

teoria crítica e construtivismo. Ferreira e Amado (2005), consideram a parte

central desta estratégia o subjetivo da experiência humana e explicam que

esta estrategia é capaz apenas de suscitar, jamais de solucionar, questões.

Por este motivo ela é considerada muitas vezes uma pesquisa de segunda

classe, pois vai contra os princípios do quantitativismo.

A grounded theory, apesar de ter suas origens no interacionismo

simbólico (BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2006), que segundo Schawndt

(1994) situa-se no paradigma interpretativista. Na grounded theory proposta por

Strauss e Corbin (2008) considerou-se uma associação ao paradigma pós-

positivista nas questões práticas analisadas

O interacionismo simbólico, na visão de Mendonça (2001), refere-se ao

caráter interpretativo peculiar dos seres humanos e, através da visão de

Charmaz (2000), foi possível associar a grounded theory ao paradigma

qualitativo construtivista.

Na estratégia de pesquisa-ação, considerou se uma confluência entre os

paradigmas construtivista e participativo. Pois a pesquisa-ação, na visão de

Macke (2006), é definida como uma estratégia de condução de pesquisa

qualitativa voltada para a busca de solução coletiva a determinada situação-

problema, dentro de um processo de mudança planejada. Então, repara-se

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98

nesta definição que a pesquisa-ação tem forte ligação com a pesquisa

qualitativa e com a mudança.

As estratégias de pesquisa experimental e survey confluíram apenas

entre os paradigmas quantitativos, positivismo e pós-positivismo, não se

verificou possibilidade de confluência com os paradigmas qualitativos. As

surveys têm sua origem na tradição positivista (MAY, 2004).

No próximo capítulo, as conclusões do estudo.

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99

CONCLUSÕES

Para tornar este estudo possível foi necessário descrever as estratégias

de pesquisa empíricas utilizadas em estudos organizacionais. Notou-se que,

nesta etapa, na bibliografia consultada sobre as estratégias, existia um grande

excesso de autores que se limitam a conceituar a estratégia e demonstrar

algumas formas de “como fazer” a utilização desta estratégia em campo. A

discussão epistemológica das estratégias de pesquisada analisadas, por parte

dos autores consultados, é ainda incipiente, demonstrando a existência de um

grande campo a ser estudado.

A abordagem de análise baseada na concepção de paradigmas invadiu

os estudos organizacionais e continua exercendo influência, tanto na

legitimação de determinados conteúdos e perspectivas, como na própria

institucionalização desta área de conhecimento (CABRAL, 1998). Portanto, foi

preciso reconhecer os paradigmas utilizados em estudos organizacionais.

Neste ponto da pesquisa já foi possível constatar o que permeou o

trabalho até o seu final. A constatação, ou pelo menos, o discurso mais comum

dentro da área de estudo dos paradigmas utilizados em estudos

organizacionais, embasa-se na dicotomia entre o qualitativo e o quantitativo,

ou,na visão de Carrieri e Luz (1998), entre o positivismo e o anti-positivismo.

Apesar do embate existente entre os métodos qualitativos e

quantitativos, Monteiro et al (2005) ressaltam que ambos são válidos para

analisar os fenômenos típicos da administração, e este fato também é

constatado em estudos organizacionais. Porém, este é um dos motivos que

impede uma maior confluência entre a maior parte das estratégias analisadas

pois, muitos paradigmas possuem axiomas incompatíveis com outros.

Soriano (2004) explica que o estudioso da realidade social recebe da

sociedade em que vive (e da instituição ou do grupo em que trabalha) certos

condicionamentos político-ideológicos que determinam as características da

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100

sua própria prática profissional. Esses condicionamentos se refletem na

escolha dos problemas a pesquisar, na elaboração do seu marco teórico e na

determinação dos métodos e técnicas utilizados, bem como na análise e na

interpretação dos resultados e no tipo de soluções que se apresentam.

Se analisarmos o pensamento de Soriano (2004) se percebe que em

estudos organizacionais aprendemos a ser positivistas. E, por isso, existe uma

dificuldade em pensarmos de forma diferente, ou de nos permitirmos fazer

pesquisas de maneiras diferentes. Apesar de a tendência atual estar voltada

para o uso de estratégias qualitativas de investigação (HAMMERSLEY e

ATKINSON, 1994, p. 15), existe ainda uma hegemonia positivista muito forte

em estudos organizacionais. A hegemonia é tão aparente que até mesmo para

se utilizar estratégias qualitativas de investigação os pesquisadores sentem a

obrigação de empregarem os mesmos critérios de cientificidade do positivismo

(buscando formas de rigor, validade). Este fato também foi percebido neste

estudo no momento da análise das estratégias qualitativas, principalmente na

questão da validade.

O objetivo geral deste estudo foi de identificar as possibilidades de

confluência paradigmática entre as estratégias de pesquisa empíricas utilizadas

em estudos organizacionais. Observou-se nos resultados da vinculação das

estratégias às questões práticas, e também, na vinculação aos paradigmas,

que existem poucas possibilidades de confluência paradigmática entre as

estratégias de pesquisa.

A estratégia de pesquisa de estudo de caso teve o maior poder de

confluência entre os paradigmas analisados. A análise das questões práticas

pré-definiu a vinculação paradigmática final. Portanto, percebeu-se que a

estratégia de estudo de caso teve maior confluência porque, apesar desta

estratégia ser inerentemente qualitativa, em estudos organizacionais ela é

também utilizada sob os preceitos do paradigma positivista. Percebe-se aqui

que, além desta estratégia de pesquisa ser a mais utilizada em estudos

organizacionais, adquiriu um formato diferente daquele para o qual ela foi

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101

criada. Ou seja, com o “uso” no estudo das organizações ela foi adaptada aos

objetivos dos pesquisadores.

Este fato gera alguma esperança de confluência paradigmática futura

entre outras estratégias de pesquisa que ainda são pouco utilizadas. Não que a

utilização desta estratégia (ou de outra) seja considerada certa ou errada de

acordo com suas origens, pois sabemos que neste campo existem muitas

críticas. A criação, por parte dos pesquisadores das organizações, de formas

autênticas de se pesquisar envolve a interdisciplinaridade e objetivos dos

pesquisadores diante de seus problemas, e o estudo de caso é um bom

exemplo de que este desenvolvimento é possível.

Entretanto, os autores Lincoln e Guba (2006) ainda têm esperanças de

que os adeptos ao positivismo e aos novos paradigmas possam solucionar as

suas diferenças, de modo que todos os cientistas sociais trabalhem dentro de

um discurso comum.

Portanto, após realizar uma reflexão acerca do posicionamento e

vinculação paradigmática das estratégias de pesquisa, percebeu-se pouca

confluência entre os paradigmas, ou, ao menos, uma confluência menor do que

a esperada.

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