22
Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores Dezembro/2018 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018 Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores Nayana Daniela Donato [email protected] Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação - IPOG Goiânia, GO, 05 de fevereiro de 2018 Resumo Este artigo refere-se ao estudo do conforto acústico de modo geral aplicado a arquitetura e ao design de inteiores. Devido a qualidade acústica dos espaços construídos apresentarem uma grande relevancia no bem-estar dos ocupantes, questiona-se como a propagação dos ruídos indezejaveis pode ser solucionada em uma edificação. Diante disto, tornou objetivo desta pesquisa introduzir os conceitos e soluções para obter o conforto acústico em edificações. A metodologia utilizada envolveu a pesquisa bibliográfica baseada em material científico (livros, revistas, artigos) e pesquisas eletronicas através da coleta de dados extraídos dos textos. Os resultados encontrados apresentam as estratégias de isolamento ao ruído aéreo e de impacto através do elemento de separação e também as diversas formas de transmissão do ruído por vias secundárias e como evita-las. Também foi possível identificar os meios de condicionamento acústico de um ambiente através da geometria interna e materiais absorvedores. Conclui-se que esta pesquisa possa servir de apoio para a produção de espaços com melhor desempenho acústico garantindo maior conforto aos ocupantes e que atendam a parametros de qualidade de normas em vigor. Palavras-chave: Conforto acústico. Isolamento sonoro. Condicionamento acústico. 1. Introdução Esta pesquisa se insere nas áreas de conhecimento de Arquitetura e Design de Interiores, dentro das disciplinas de conforto ambiental, sendo o conforto acústico objeto de estudo neste artigo. Estas duas áreas de conhecimento possuem uma forte necessidade de integração no segmento acústico e devem ser previstas soluções desde o início do planejamento e projeto, pois intervenções posteriores se tornam muitas vezes dispendiosas. Optou-se por estudar o conforto acústico por se tratar de uma qualidade construtiva ainda pouco presente nos espaços construídos no Brasil, porém de fundamental importância para a satisfação dos ocupantes, conforto, saúde e bem-estar e atendimento as normas vigentes. Nesta pesquisa, será estudado o conforto acústico abrangendo a disciplina de forma geral para contextualização do tema, porém mais voltada para edificações comerciais, corporativas e residenciais, por se tratarem do segmento a qual eu mais atuo no mercado e por serem os espaços mais frequentemente utilizados na vida do cotidiano das pessoas. O meu interesse pelo tema, surgiu diante da minha vivencia em diversos tipos de habitações residenciais e comerciais onde foi percebido um grande incomodo e insatisfação devido as

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – [email protected] Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

  • Upload
    others

  • View
    1

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de

interiores

Nayana Daniela Donato – [email protected]

Design de Interiores

Instituto de Pós-Graduação - IPOG

Goiânia, GO, 05 de fevereiro de 2018

Resumo

Este artigo refere-se ao estudo do conforto acústico de modo geral aplicado a arquitetura e ao

design de inteiores. Devido a qualidade acústica dos espaços construídos apresentarem uma

grande relevancia no bem-estar dos ocupantes, questiona-se como a propagação dos ruídos

indezejaveis pode ser solucionada em uma edificação. Diante disto, tornou objetivo desta

pesquisa introduzir os conceitos e soluções para obter o conforto acústico em edificações. A

metodologia utilizada envolveu a pesquisa bibliográfica baseada em material científico

(livros, revistas, artigos) e pesquisas eletronicas através da coleta de dados extraídos dos

textos. Os resultados encontrados apresentam as estratégias de isolamento ao ruído aéreo e de

impacto através do elemento de separação e também as diversas formas de transmissão do

ruído por vias secundárias e como evita-las. Também foi possível identificar os meios de

condicionamento acústico de um ambiente através da geometria interna e materiais

absorvedores. Conclui-se que esta pesquisa possa servir de apoio para a produção de espaços

com melhor desempenho acústico garantindo maior conforto aos ocupantes e que atendam a

parametros de qualidade de normas em vigor.

Palavras-chave: Conforto acústico. Isolamento sonoro. Condicionamento acústico.

1. Introdução

Esta pesquisa se insere nas áreas de conhecimento de Arquitetura e Design de Interiores,

dentro das disciplinas de conforto ambiental, sendo o conforto acústico objeto de estudo neste

artigo. Estas duas áreas de conhecimento possuem uma forte necessidade de integração no

segmento acústico e devem ser previstas soluções desde o início do planejamento e projeto,

pois intervenções posteriores se tornam muitas vezes dispendiosas.

Optou-se por estudar o conforto acústico por se tratar de uma qualidade construtiva ainda

pouco presente nos espaços construídos no Brasil, porém de fundamental importância para a

satisfação dos ocupantes, conforto, saúde e bem-estar e atendimento as normas vigentes.

Nesta pesquisa, será estudado o conforto acústico abrangendo a disciplina de forma geral para

contextualização do tema, porém mais voltada para edificações comerciais, corporativas e

residenciais, por se tratarem do segmento a qual eu mais atuo no mercado e por serem os

espaços mais frequentemente utilizados na vida do cotidiano das pessoas.

O meu interesse pelo tema, surgiu diante da minha vivencia em diversos tipos de habitações

residenciais e comerciais onde foi percebido um grande incomodo e insatisfação devido as

Page 2: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

péssimas condições de conforto acústico nos espaços, sendo percebido barulho externos a

edificação, gerado por fontes da poluição urbana e também ruídos provenientes de vizinhos

no próprio edifício.

Segundo a OMS “Hoje em dia, o ruído é considerado a terceira maior causa de poluição no

planeta, atrás apenas do ar e da água, tornando-se um problema de saúde pública”.

Os efeitos de elevados níveis de ruído no homem podem causar, além de lesões do

aparelho auditivo, efeitos físicos e psicológicos, como dores de cabeça, fadiga,

distúrbios cardiovasculares, distúrbios hormonais, gastrites, disfunções digestivas,

alergias, bem como perda de concentração e de reflexos, perturbações no sono,

sensação de insegurança, dentre outros (SOUZA et al., 2006).

Com base na relevância deste assunto, torna-se necessário pesquisar quais os tipos de

estratégias e soluções podemos adotar para garantir o conforto acústico em edificações. Para

isso, é necessário identificar os tipos de ruídos presentes nas edificações, como se propagam,

quais os níveis de ruído máximo permitidos em ambientes conforme suas atividades internas e

quais são as normas e legislações vigentes. Ao final, espera-se alcançar a capacidade de

qualificar os espaços construídos dentro das necessidades de conforto acústico de cada

ambiente.

2. Método Adotado

A pesquisa foi elaborada por meio de referências bibliográficas através de livros, artigos,

normas, e pesquisas eletrônicas. Diante da leitura crítico-analítica de diferentes autores, foi

utilizado o método comparativo para que se estabelecesse uma discussão teórica dialogando

com os outros autores acerca do assunto em questão.

O desenvolvimento deste trabalho, é apresentado em duas etapas. A primeira é revisão de

literatura com abordagem nos conceitos, normas existentes e parâmetros presentes na

disciplina de conforto acústico. A segunda parte são as soluções e técnicas encontradas para o

problema discutido.

3. Conceitos

3.1 O Som e o Ruído

Para iniciarmos esta primeira parte da pesquisa, é importante começarmos entendendo os

conceitos de SOM e RUÍDO.

O som é a sensação auditiva produzida por uma variação da pressão atmosférica a

partir de vibração mecânica, que se propaga em forma de ondas, através de meio

elástico e denso. Portanto, para que haja propagação de som, é necessário que haja

um meio, um canal de transmissão. O mais comum dos meios de propagação é o Ar.

No vácuo não existe som. O som também pode se propagar em meios sólidos como

Page 3: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

a estrutura dos edifícios, a terra, etc., e até mesmo em meios líquidos como a água,

por exemplo. (SIMÕES, 2011: 13).

Portanto, o som é toda vibração ou onda mecânica gerada por um corpo vibrante, passível de

ser detectada pelo ouvido humano, e que requer um meio para se propagar. Durante a revisão

da literatura, foi verificado que as ondas sonoras se caracterizam por alguns parâmetros:

período, tempo, amplitude, frequência, comprimento da onda e velocidade de propagação do

som.

Já o ruído pode ser definido, como todo som indesejável à atividade de interesse, interferindo

nos objetivos dos espaços e prejudicando a função do ambiente (SOUZA et al., 2006).

No caso de edificações, os ruídos podem ser classificados em ruídos aéreos e ruídos de

impacto. Os sons gerados por conversas, buzina e música por exemplo, podem ser

considerados ruídos aéreos, já o som de passos, queda de objetos, móveis se arrastando,

vibrações de máquinas e instalações hidráulicas podem ser consideradas ruído de impacto.

Segundo Amorin e Licarião (2005:6) , o ruído pode incomodar ou danificar imediata e

irreversivelmente o ouvido, conforme o tempo e intensidade de exposição.

3.2 Decibel, Potencia Sonora, Pressão Sonora, Intensidade Sonora

O nível do som, intensidade sonora e nível de pressão acústica é medido por um aparelho

chamado decibelímetro, sendo o resultado apresentado em decibéis (dB). O decibel

corresponde a uma escala logarítmica que se aproxima da percepção do ouvido as flutuações

das ondas sonoras.

Potencia sonora e pressão sonora, são conceitos diferentes. Segundo Prata-Shimomura et al

(2015:9) a potência sonora está relacionada a propriedade de uma fonte sonora, independente

do ambiente sonoro. Já a pressão sonora, depende do ambiente acústico ao redor e da fonte

sonora. Quando estamos em um ambiente fechado com um aparelho emitindo um som, a

fonte emissora possui uma potência sonora expressa em Watts (W), já o campo sonoro pode

ser medido a sua pressão sonora expressa em dB.

3.3 Somando e subtraindo decibéis

Por se tratarem de grandezas logarítmicas, não se pode somar decibéis linearmente. A soma

de dois níveis sonoros, emitido por fontes distintas e simultâneas, pode ser obtida através do

gráfico na figura abaixo, elaborado por Bruel & Kjaer, 1984. No caso da soma de mais que

dois níveis em Db, deve ser somado dois a dois por ordem crescente do respectivo valor. Para

diminuir decibéis deve-se seguir o procedimento anterior inversamente.

Page 4: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Figura 1 – Gráfico elaborado por Bruel & Jjaer

fonte: Carvalho (2010)

3.4 Curvas de ponderação A

Devido ao ouvido humano possuir sensibilidades distintas em diferentes frequencias, é

utilizado o valor do nível de pressão em Db(A), baseado em curvas isofonicas criada por

Fletcher e Munson que leva em consideracao os valores correspondentes de igual sensação do

aparelho auditivo humano para ruídos aéreos e de baixa intensidade. Este valor pode ser

obtido através do decibelímetro, ou na falta dele pode-se utilizar a tabela de correção

exemplificada na figura abaixo.

Figura 2 – Correção da curva de ponderação A

fonte: Carvalho (2010)

3.5 Legislação e Normas Técnicas

Para verificação do limite da quantidade de exposição a certo ruído, em função da atividade

desenvolvida e do local em uso, devemos seguir as normativas que irão nos guiar aos padrões

adequados em nosso país, tanto para ambientes interntos quanto externos. Também devemos

mencionar a grande relevancia da norma de desempenho NBR 15575, que estabelece

parametros de conforto acústico para habitações residenciais desde 2013.

Na figura 3, podemos observar os valores de níveis de ruído permitidos para ambientes

externos, diurno e noturno, indicados na Norma Técnica Brasileira NBR 10151.

Page 5: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Figura 3 – Nível critério de avaliação do ruído para ambientes externos em dB (A)

Fonte: NBR 10151 (2000)

Para ambientes internos, existe a norma técnica NBR 10152, que regulamenta os níveis de

ruído admissíveis com o conforto acústico conforme o tipo de uso. Segue abaixo a tabela na

figura 4.

Figura 4 – Nível critério de avaliação do ruído para ambientes internos em dB (A)

Fonte: NBR 10152 (2017)

Através desta norma, podemos adotar estes dados para praticas projetuais em diversas

tipologias construtivas. Porém, foi com o surgimento da NBR 15.575 que tem sido exigido

Page 6: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

com mais rigor o atendimento ao desempenho acústico em habitações residenciais. Pierrard

(2015) afirma que “A NBR 15575 veio definir, a partir desses níveis admissíveis previstos na

NBR 10152, os níveis de desempenho que os sistemas construtivos devem ter para atenuar a

transmissão dos ruídos gerados externa e internamente nas edificações habitacionais.

Regulam-se assim os níveis de desempenho acústico das paredes externas, das esquadrias

utilizadas em dormitórios, das paredes internas que separam duas unidades, das paredes

internas que separam as unidades das áreas comuns, do conjunto de paredes e portas que

separam duas unidades, e dos sistemas de pisos com relação ao ruído aéreo e de impacto.”

A NBR 15575, também apresenta orientações de desempenho acústico para instalações

hidráulicas, porém não exige o seu cumprimento. No decorrer desta pesquisa, será

apresentado mais informações a respeito dos valores exigidos pela norma.

3.6. Reflexão

Segundo Prata-Shimomura et al (2015:1), “Considerando apenas o som direto, sem

influências das superfícies e obstáculos, a onda sonora tende a propagar-se esfericamente, em

todas as direções. Nas edificações, o comportamento do som irá variar em função de algumas

características dos obstáculos que ele irá atingir e das superfícies dos acabamentos do

ambiente. Porém a regra válida em todos os casos é de que o ângulo de incidência é igual ao

ângulo de reflexão.

Prata-Shimomura et al (2015:2) também afirma que “A reflexão sonora ocorre quando as

ondas sonoras encontram superfícies duras e lisas. Nestas condições, voltam para trás,

refletindo-se.” O angulo de reflexão é sempre igual ao angulo de incidencia, no entanto a

direção dessa onda pode variar conforme a forma da superficie em que ela incide. Em uma

superfície convexa, o som tende a se distribuir, já em uma superfície concava, as ondas

sonoras tentem a se concetrar em uma direção, conforme a figura abaixo apresenta:

Figura 5 – Reflexão sonora

Fonte: Carvalho (2010)

3.7 Absorção Sonora

Page 7: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

A absorção sonora é a capacidade de um material absorver total ou parcialmente a energia

sonora incidente, podendo se transformar em energia térmica. Essas superfícies absorvedoras

geramente são porosas ou fibrosas.

3.8 Reverberação

Para Simões (2011:29), o tempo de reverberação consiste no tempo em que a energia emitida

por uma fonte sonora permanece audível, a partir do momento em que a fonte para de emitir.

Na visão de Amorin e Licarião (2005:17), “Em ambientes fechados, existem dois campos

sonoros: da fonte e o refletido. Chegando juntos, reforçam o som, chegando separados, em

pequeno intervalo, atrapalham o entendimento, caracterizando a reverberação.” Carvalho

(2010,32) considera que:

Consiste no prolongamento necessário de um som produzido, a título de sua

inteligibilidade em locais mais afastados da fonte produtora. Isso se dá basicamente

em recintos fechados. Esse prolongamento deverá ser maior quanto maior for a

distância entre a fonte e a recepção, ou ainda, quanto maior for o volume interno do

recinto. (CARVALHO, 2010:32)

Ao comparar as três abordagens sobre reverberação, é possível perceber que as ideias dos

autores convergem entre si, e reforçam a ideia e entendimento sobre o conceito do tempo de

reverberação.

3.9 Eco

O Eco deve ser evitado em ambientes em que a acústica é importante, pois é um fenômeno em

que o som refletido alcança o ouvinte um tempo depois do som direto (original). Carvalho

(2010:33) considera que em ambientes fechados, o eco ocorre onde o prolongamento do som

(reverberação) for além do necessário. Para Carvalho et al (2017: 10) “A título de não

gerarmos ecos internos, é importante que a diferença entre o percurso do som direto contra o

refletido (via paredes e/ou teto) seja sempre menor que 17m.”

Para evitar o eco em ambientes fechados, é necessário o condicionamento acústico do

ambiente, através de superfícies de alta absorção sonora e também através da geometria

interna. Simões (2011: 35) demostra alguns casos em que pode haver a correção da altura do

forro para diminuir o percurso das ondas refletidas ou também uma pequena variação na

parede do fundo de um ambiente para redirecionamento das ondas refletidas para pontos

menos prejudiciais aos ocupantes. Na figura abaixo estão indicadas as reflexões de um som na

parede, e qual o procedimento indicado para a eliminação do eco.

Page 8: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Figura 6 – Evitando o eco

Fonte: Simões (2011)

3.10 Refração

“Recebe o nome de refração a mudança de direção que uma onda sonora sofre quando passa

de um meio de propagação para outro. Essa alteração de direção é causada pela brusca

variação da velocidade de propagação que sofre a onda.” (CARVALHO, 2010:31)

3.11 Difração

Este fenomeno está relacionado com a “Propriedade que uma onda sonora possui de transpor

obstáculos posicionados entre a fonte sonora e a recepção, mudando sua direção e reduzindo

sua intensidade.” Prata-Shimomura et al (2015:11).

3.12 Ressonância do som

Segundo Carvalho (2010:31), o fenômeno consiste na “Vibração de determinado corpo por

influência da vibração de outro, na mesma faixa de frequência.” Este conceito é muito

explorado em teatros para aumentar o tempo de permanência do som no ar por meio de

ressoadores.

3.13 Inteligibilidade

É uma das características essenciais presentes em um ambiente fechado para obtermos uma

boa acústica, pois reflete o grau de entendimento das palavras. Carvalho (2010: 32) afirma

que “Para locais onde a comunicação é primordial (auditórios, cinemas, teatros, igrejas, salas

de aulas e conferências, etc.), a boa inteligibilidade acústica é um fator decisivo.”

4. Comportamento Acústico dos Materiais

Page 9: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Neste momento, estaremos iniciando a segunda etapa da pesquisa, no qual iremos identificar

as formas de propagação do som e as soluções acústicas para os fenômenos de absorção e

transmissão.

Quando um som incide um obstáculo, segundo Carvalho (2010:55) ocorrem 4 fenômenos

(figura 7): Som refletido; Som absorvido; Som transmitido por via aérea e Som propagado por

via sólida. Quando o material absorve uma maior quantidade de energia, dizemos que ele tem

boa absorção acústica, e quando o material reflete maior energia ele é considerado um bom

isolante acústico.

Figura 7 – Comportamento sonoro em um obstáculo

Fonte: Carvalho (2010)

Estes conceitos de absorção acústica e isolamento acústico são totalmente diferentes, e devem

ser adotadas as devidas soluções necessárias conforme as necessidades de condicionamento

acústico e isolamento acústico (aéreo e de impacto). A figura 8 apresenta as principais

diferenças entre a absorção e a transmissão e algumas soluções indicadas.

Figura 8 – Absorção x Transmissão

Fonte: Simões (2011)

4.1 Condicionamento Acústico

Page 10: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Segundo Carvalho et al (2017: :8) o condicionamento acústico “Consiste em conferir as

melhores condições possíveis de audibilidade a um recinto.” Esse condicionamento pode ser

garantido via geometria interna e através de materiais e revestimentos que proporcionem a

absorção sonora.

4.1.1 Via geometria interna

Os resultados decorrentes da pesquisa bibliográfica demonstram que volumes impróprios a

destinação dos ambientes dificulta a correção do tempo de reverberação. Sendo assim,

Carvalho (2010) apresenta algumas questões de geometria interna que decorrem de:

Superfícies muito próximas, vibrantes e paralelas podem gerar ecos palpitantes [...]

Distâncias muito grandes entre as paredes podem propiciar a ocorrência de ecos. [...]

Afastamentos muito grandes entre o palco e as últimas fileiras da plateia

comprometem substancialmente a boa audibilidade [...] neste caso são preferíveis,

por exemplo, auditórios em leque, aproximando a plateia do palco e proporcionando

melhor visibilidade. [...] Diferenças de percursos dos sons diretos contra os

refletidos via paredes e tetos, superiores a 17m, comprometem a boa audibilidade. (CARVALHO, 2010:96)

Carvalho (2010,99) também afirma deve-se buscar uma relação coerente entre o volume per

capita em função do destino do recinto, e que seja coerente com a figura abaixo.

Figura 9 – Reverberação x Geometria interna

Fonte: Carvalho (2010)

4.1.2 Via absorção interna

A absorção sonora é utilizada no controle de ruído e reverberação com intuído de garantir

uma boa intangibilidade no ambiente. Os resultados demostram que antes da escolha de

materiais absorventes ou refletivos para condicionar acusticamente um ambiente, deve-se

obter o valor do tempo ótimo de reverberação conforme o uso, indicado pela tabela abaixo.

Carvalho (2010:95) afirma que “Adota-se internacionalmente o gráfico [...] para se conhecer

o tor (tempo ótimo de reverberação) que devemos conferir a um recinto à frequência de

500Hz, para cada atividade específica e segundo o volume interno do referido recinto”,

conforme a figura abaixo:

Page 11: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Figura 10 – Tempo ótimo de reverberação

Fonte: Carvalho (2010)

Após ser identificado através do gráfico o valor do tempo ótimo de reverberação adequado ao

ambiente, podemos identificar através de cálculo o tempo de reverberação existente e adequar

o ambiente conforme o valor de referência do tor. Para Simões (2011:29), pode-se prever o

tempo de reverberação de um ambiente antes mesmo de se construí-lo, aplicando a fórmula de

Sabine descrita na figura abaixo. Para isso deve-se conhecer o Volume total do ambiente

analisado (V), dado em m³, a superfície (S) de cada material aparente, dada em m², e seus

respectivos coeficientes de absorção (a) para cada banda de frequência, conforme demostrado

pela figura abaixo:

Figura 11 – Fórmula de Sabine

Fonte: Simões (2011)

Simões (2011:29) afirma que os resultados obtidos através do cálculo de Sabine, deverão

corresponder aos parâmetros de tempo ótimo de reverberação definidos pela Norma Técnica

Brasileira NBR 12.179 (1992), que mostra valores para diversos usos.

Durante a escolha de um material de absorção acústica, deverão ser observados os

coeficientes de absorção e da frequência do ruído, custo, características em altas temperaturas

/ resistência ao fogo, peso e volume em relação ao espaço disponível, rigidez mecânica,

fixação e manutenção, aparência e pintura e limpeza.

Page 12: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Os materiais e revestimentos para o controle de absorção são: Materiais porosos (espumas);

Materiais fibrosos (lã de vidro, lã de rocha, lã de pet); Painéis ou membranas flexíveis;

Ressoadores (ou ressonadores) de Helmholtz; Painéis Perfurados (chapas de drywall

perfuradas); Placas Acústicas; Forro Mineral; Baffles (painéis acústicos suspensos); Nuvens

acústicas. Outras aplicações acústicas em um ambiente através do design de interiores podem

ser atribuídas a utilização de tapetes, cortinas, painel em MDF revestido com tecido,

divisórias que formam barreiras e mobiliário.

Os valores de absorção sonora de um determinado material são apresentados em αw

(Coeficiente de redução sonora ponderado) e NRC (Indice de Redução Sonora). De acordo

com a ISO 11654, para αw, os valos de 0.05-0.10 representão materiais com alta reflexão,

enquanto os valores de 0.90-0.95-1.00 são os materiais de máxima absorção. Já para o NRC,

os valores de mínima reflexão estão abaixo de 0.25, enquanto os valores acima de 0.75 são

referentes a máxima absorção.

4.2 Isolamento Sonoro

O isolamento sonoro é a forma de evitar a transmissão do ruído proveniente de ambientes

externos e internos entre ambientes na edificação, e pode ser classificada em dois tipos: Ruído

aéreo e ruído estrutural (impacto). Segundo Simões (2011:42), a transmissão do ruído aéreo,

geralmente é controlada através de elementos verticais como paredes, esquadrias e

antecâmaras, enquanto que a transmissão do ruído estrutural pode ser controlada através da

laje, pisos e forros.

É importante notar que a transmissão dos ruídos aéreo e estrutural podem ocorrer de forma

direta, através dos elementos de separação e também pode ocorrer a transmissão secundária

ou marginal, que se dá por meio de outros meios, que não sejam o elemento de separação. A

figura 12, demostra um caso em que as transmissões secundárias ocorrem através de frestas,

soleiras das portas sem vedação adequada, através do entre forro, entre outros caminhos em

que não tenha havido uma atenção no projeto ou execução com baixa qualidade.

Figura 11 – Transmissão direta e secundária

Fonte: Prata-Shimomura et al (2015)

4.2.1 Isolamento de ruído aéreo

Page 13: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Segundo Simões (2011:42), a transmissão do ruído aéreo, geralmente é controlada através de

elementos verticais como paredes, esquadrias e antecâmaras, onde a capacidade de isolamento

acústico de um material é sempre indicada em dB ou dBA. Todavia, a transmissão do ruído

também ocorre através da laje, pequenas frestas, dutos de ar condicionado ou ventilação,

sendo que estes locais merecem um cuidado especial, inclusive os projetos complementares.

Para o projeto de isolamento acústico, atenção especial deve ser dedicada aos

Projetos Complementares, como: hidrossanitário, elétrico e sistema de renovação de

ar ou climatização, analisando o desenho das instalações, dutos, apoios, fixações e

atenuadores de ruído na ventilação. Sempre que possível, o controle do ruído deverá

ser realizado na fonte, através de enclausuramento do equipamento ruidoso (fonte

sonora). Também se faz uso de sistemas que evitam a transmissão das vibrações,

como: apoios elásticos e conexões flexíveis para não propagar as vibrações. Nos

sistemas de ventilação faz-se uso de atenuadores de ruído, permitindo a renovação

de ar com baixa transmissão de ruído. A manutenção adequada de rolamentos, eixos,

mancais e hélices de ventiladores, representam economia de meios e maior

eficiência na redução de poluição sonora. (PROCEL, ANO: 42)

É importante notar, que o som não atravessa a parede e sim faz vibrar, fazendo com que ela

produza uma nova fonte sonora. Sendo assim, quanto mais leve a parede, mais fácil ela vibrar.

“Nesses termos podemos concluir que a densidade superficial (Kg/m²) de uma parede, por

exemplo, está diretamente relacionada com sua capacidade de isolamento acústico. Quanto

maior a densidade superficial, maior será o isolamento.” (CARVALHO ET AL (2017:4).

No entanto, surge aí a primeira lei da física em isolamento acústico, a lei da massa. Segundo

esta lei, quanto maior a densidade do material, menor vibração e maior o isolamento. Porém,

a duplicação da densidade não duplica o isolamento do material, mas somente irá conferir o

acréscimo de 6dB de isolamento.

O acréscimo da massa e densidade nem sempre é viável, devido a elevar simultaneamente o

peso da estrutura, perda de área útil e o custo da obra. Em contrapartida o isolamento sonoro

das paredes é alcançado facilmente através da segunda lei da física, a lei da massa-mola-

massa. Este efeito consiste em sistemas com a incorporação de ar em seu interior, paredes

duplas, e que podem ser preenchidos com material absorvente acústico, conforme demostrado

na figura abaixo.

Figura 12 – Isolamento massa-mola-massa

Fonte: Carvalho (2010)

Page 14: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Carvalho (2010:63) aponta dois aspectos relevantes: “[...] quanto maior a massa da mola,

maior a capacidade de isolamento acústico do sistema; quanto maior o afastamento entre as

placas externas, melhor o isolamento acústico obtido às baixas frequências.”

Este efeito de massa-mola-massa, também é utilizado em coberturas e forros. No caso dos

forros, somente é indicado onde não foi possível isolar o som na fonte, ou quando se quer

melhorar o desempenho de isolamento, como no caso de laje entre apartamentos.

Simões (2011:52) aponta que “Na execução de forros planos, entre paredes, não se devem

deixar “negativos” (espaços entre o forro e a parede), pois estes prejudicam o isolamento

acústico. O gesso acartonado não trinca como o gesso convencional, podendo-se executar o

forro de parede a parede.” Neste sistema, também devemos ficar atentos a não produzirmos

pontes acústicas entre as conexões rígidas.

Em termos de desempenho habitacional residencial, a Norma de Desempenho 15.575 exige

apresenta os níveis de desempenho para isolamento de ruído aéreo de vedações verticais

internas (figura 13), isolamento ao ruído aéreo de sistemas de pisos (figura 14) e sistemas de

isolamento ao ruído aéreo de vedações externas (figura 15).

O isolamento acústico aéreo de um determinado material é obtido medindo em laboratório e

em campo. Rw, é o isolamento acústico ponderado de determinado elemento construtivo,

medido em laboratório. Sua unidade é o decibel (Db). Dntw, é o isolamento acústico

ponderado de determinado elemento construtivo medido em campo. Sua unidade é o decibel

(Db).

Figura 13 – Isolamento ao ruído aéreo de vedações verticais internas

Fonte: Pierrard (2015)

Page 15: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Figura 14 – Isolamento ao ruído aéreo de pisos

Fonte: Pierrard (2015)

Figura 15 – Isolamento ao ruído aéreo de vedações externas (fachadas)

Fonte: Pierrard (2015)

4.2.2 Esquadrias Acústicas

As esquadrias são um ponto crítico do isolamento, pois geralmente são sistemas leves e

desprovidos de vedações eficientes. Sendo assim, para um bom isolamento devemos adotar

sistemas de isolamento superior ao das esquadrias convencionais. Este sistema pode ser

através de vidro duplo, triplo, quadruplo com câmara de ar ou filme flexível. Para Simões

(2011:55), as vedações com câmara de ar são mais eficientes com espaçamentos de 10, 20 e

30mm, pois câmara de ar pequena de 4 e 8mm é adequado apenas para isolamento térmico.

Carvalho (2010: 104), afirma que não somente o acréscimo de massa dos vidros e

afastamentos são suficientes, mas também é importante verificar: “[...] as conexões dos vidros

com as esquadrias, utilizando borracha ou equivalente, evitando a transferência de vibrações;

a forma de fechamento das esquadrias; a hipótese de criação de vácuo entre cada duas lâminas

de vidro; e o preenchimento dos vazios no caso de perfis ocos.” Ainda segundo Carvalho

(2010:104), as formas de fechamento das esquadrias mais eficientes para isolamento acústico

são as fixas e de giro, pois as de correr requerem folga para deslizamento, gerando perca no

isolamento.

Page 16: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Para edificações existentes com a necessidade de melhorar o isolamento acústico, sendo

impossibilitado a substituição da esquadria, é possível encontrar hoje no mercado esquadrias

para sobrepor internamente no ambiente a janela existente, não interferindo na fachada. Neste

sistema, é importante atender a eficiência da vedação (figura 16). Simões (2011:57) diz que

“[...] o vidro deve ser assentado com silicone em todo o perímetro, antes de aplicar os

baguetes de acabamento.

Figura 16 – Isolamento das janelas

Fonte: Simões (2011)

Em relação às portas, Simões (2011:53) afirma que “Ainda em fase de projeto, pode-se prever

a elevação do piso em um lado do ambiente, em 1 cm (um centímetro), aproximadamente,

para este funcionar como batente. Ao fechar a porta faz a vedação da soleira [...].” É

importante adotar uma junta elástica na soleira que forma a saliência do piso, como mostra na

figura X.

Figura 17 – Isolamento de portas

Fonte: Simões (2011)

Simões (2011:53) explica que em locais onde não é possível a construção de uma antecâmara,

muitas vezes convém utilizar duas portas no mesmo marco, abrindo uma para cada lado

Page 17: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

conforme a figura 18 demostra. Também é possível criar uma porta mais isolante do ruído

aéreo através do efeito massa-mola-massa (figura 19).

Figura 18 – Isolamento de portas

Fonte: NBR 10151 (ABNT, 2000)

Para um estúdio de gravação, sugere-se a instalação de portas com duas folhas com

isolamento acústico eficiente, fazendo uso da lei de massa-mola-massa. As portas

abrem uma para cada lado. [...]. Atenção às frestas entre a alvenaria e o marco:

utilizar poliuretano expansivo em todo o perímetro da porta para vedar. (SIMÕES,

2011, 54).

Figura 19 – Isolamento de portas

Fonte: Simões (2011)

Em locais onde é necessário a renovação do ar sem que haja vazamento do som para o

exterior, é recomendado o uso do atenuadores de ruídos (figura 20). Estes equipamentos são

utilizados em locais como casa de máquinas ou até mesmo na ventilação de um banheiro,

evitando a transmissão de ruídos e vozes pelo poço de ventilação, utilizando painel rígido de

lã de vidro nas laterais dos dutos por onde circula o ar. Para Simões (2011:59), também

podem ser instalados nas tubulações de ar acondicionado, nos dutos de insuflamento e

retorno, evitando a transmissão de ruídos das máquinas para o ambiente interno.

O atenuador dissipativo de ruídos é uma caixa com células compostas de material

absorvente, geralmente lã de vidro ou de rocha, separadas por canais por onde

circula o ar. Quanto mais absorventes forem as células, e quanto menor o espaço

para circulação do ar, melhor será a capacidade de redução de ruídos na passagem

do ar, permitindo a ventilação sem a transmissão de sons. (SIMÕES, 2011:60)

Page 18: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

Figura 20 – Atenuadores de ruído

Fonte: Simões (2011)

4.3 Isolamento de ruído de impacto

O isolamento ao ruído de impacto trata-se do isolamento aos ruídos transmitidos através de

impactos em elementos sólidos, gerando ruídos que se propagam pela estrutura predial

decorrente de vibrações destes elementos. Uma forma de conter a transmissão do impacto

para a estrutura seria a utilização de um piso macio, como carpetes e pisos emborrachados ao

invés de um piso rígido. Porém sabemos que não é usual a aplicação de carpetes em todo o

pavimento no Brasil, somente em alguns ambientes conforme o gosto e necessidade do

usuário da unidade habitacional. Em relação ao uso de forros, Carvalho et al (2017: :7) afirma

que:

“A adoção de forros sob as lajes, em muito pouco ou quase nada contribuem para a

atenuação de ruídos de impacto percebidos na recepção. Pior ainda: conforme o

afastamento entre esse forro e a laje, o sistema pode se constituir em um instrumento

de percussão (um tambor), cuja função é a de realçar ruídos de impacto. Nem

mesmo a utilização de quaisquer materiais absorventes acústicos entre a laje e o

forro produz os efeitos de atenuações substanciais de percepção auditiva: estratégias

infundadas e sem consistência técnica.” (CARVALHO ET AL (2017:7)

Já para Simões (2011: 66) A utilização de forros para eliminar os ruídos de impacto apresenta

resultados parciais. Isso se deve ao fato de que o ruído é transmitido pela laje, estrutura e

parede. Com a utilização de forro, estaríamos solucionando pelo menos uma parte do ruído

que é transmitido pelo teto.

Prata-Shimomura et al (2015:54) também afirma que é possível isolar ruídos de impacto

através de forros, mas para isso o forro isolante deve ser completamente fechado e suspenso

da laje com isoladores de vibração que amortecem as vibrações. É preciso tomar cuidado para

que os pontos de contato e suportes dos forros sejam somente através do material resiliente,

ou seja, independentes da estrutura, evitando as chamadas pontes acústicas. Para aumento do

isolamento, o espaçamento entre forro e laje deve ser preenchido com material de absorção

sonora.

Contudo, Carvalho (2010:115) afirma que em não adotarmos pisos macios sobre as lajes, a

solução mais adequada seria a utilização de piso flutuante sobre base elástica, desconectando

inteiramente os contrapisos e pisos de quaisquer elementos estruturais e/ou vedações para que

Page 19: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

não haja as chamadas pontes acústicas. O esquema apresentado na figura abaixo apresenta um

detalhamento técnico da solução indicada.

Figura 21 – Piso flutuante

Fonte: Carvalho (2010)

Os tipos de base elástica (base resiliente) encontrados são as borrachas, lã de rocha, lã de

vidro, aglomerados de cortiça, polietilenos. Já o revestimento final pode ser qualquer material,

como porcelanatos, pisos laminados, carpetes, dentre outros materiais.

Em termos de desempenho habitacional residencial, a Norma de Desempenho 15.575 exige

apresenta os níveis de desempenho para isolamento de ruído de impacto conforme a figura 22.

A medição do ruído é feita através da medição do nível de pressão sonora de impacto

ponderada L’nT,w. Em laboratório, os resultados do nível de pressão sonora ponderado são

apresentados em Ln,w.

Figura 22 – Isolamento ao ruído de impacto em pisos

Fonte: Pierrard (2015)

Além dos ruídos provocados pelas ações humanas, exigem também os ruídos gerados pelos

equipamentos como elevadores, descargas hidráulicas/ tubulações, esgotos, bombas,

exaustores e ventiladores. Nos casos de equipamentos e instalações prediais, é recomendável

Page 20: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

que as vibrações produzidas por estes equipamentos sejam bloqueadas para que não produzam

vibrações nas estruturas. Simões (2011) afirma que:

“Uma das maneiras mais eficientes de evitar a transmissão de vibrações para a

estrutura é através da utilização de amortecedores de vibrações [...] nos apoios

destes equipamentos, tais como geradores, transformadores, bombas d’água, centrais

de ar condicionado e máquinas de elevadores.” (PROCEL, 2011:68)

Já nos casos de sistemas hidrossanitários Simões (2011) recomenda que também que seja

evitado conexões rígidas nas fixações das tubulações hidráulicas, optando por soluções

elásticas, apresentadas na figura abaixo.

Figura 23 – Conexões flexíveis para tubulações

Fonte: Pierrard (2015)

6.0 Conclusão

A pesquisa elaborada revelou que a melhor forma de se obter um bom conforto acústico em

ambientes internos é no momento da concepção inicial do projeto integrando a arquitetura e

interiores, pois soluções para correção dos ruídos indesejáveis posteriores podem não ser tão

eficazes ou viáveis.

Inicialmente foi importante identificar a diferença existente entre isolamento sonoro e

condicionamento sonoro, pois cada um possui estratégias diferenciadas para obter conforto

acústico. Conforme as estratégias apresentadas, foi possível compreender as diversas

maneiras para controle do isolamento sonoro aéreo e de impacto, sendo importante notar que

muitas das vezes os níveis de desempenho de elementos de separação entre ambientes são

reduzidos devido a frestas, pontes acústicas, divisórias que não vão até a laje, esquadrias sem

as vedações recomendadas, entre outros. Já no caso de condicionamento acústico, foi

orientado que a aplicação em menor ou maior quantidade de materiais absorvedores irá variar

orientado pelos níveis de tempo ótimo de reverberação conforme a finalidade de uso do

ambiente, com o intuído de garantir uma boa intangibilidade.

As limitações encontradas no decorrer da pesquisa, foram relativas a soluções e estudos

voltados apenas para a área de design de interiores quanto ao isolamento sonoro em ambientes

Page 21: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

já construídos, pois uma laje ou parede construída de forma ineficaz ao isolamento pouco irá

melhorar seu desempenho com soluções sem quebras e desperdícios. Já para o

condicionamento acústico, uma geometria interna do espaço inadequada poderia gerar um

custo mais alto para correção do tempo de reverberação, mas mesmo assim o design de

interiores possui um papel muito importante na escolha adequada de revestimentos,

mobiliário, forro, entre outros.

Referências

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152: Acústica —

Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro, 2017.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: Informação e

documentação - Artigo em publicação periódica científica impressa - Apresentação. Rio de

Janeiro, 2003.

AMORIN, Adriana; LICARIÃO, Carolina. Introdução ao Conforto Acústico. Campinas:

FEC / UNICAMP, 2005.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10151: avaliação de

ruído em áreas habitadas visando o conforto da comunidade. Rio de Janeiro, 2000.

CARVALHO, Regio Paniago. Acústica Arquitetônica. Brasília: Thesaurus, 2010.

CARVALHO, R. P.; PANIAGO, B. K.; NARDELLI, M. Conforto Acústico e Conforto

Térmico – Fundamentos para a aplicação na arquitetura e urbanismo. Brasília: Arch-

Tec, 2017.

PIERRARD, J. F.; AKKERMAN, D. Manual ProAcústica sobre a Norma de Desempenho.

São Paulo – SP: RUSH Gráfica e Editora Ltda, 2015.

PRATA-SHIMOMURA, A.; DUARTE, D.; MONTEIRO, L. M.; MICHALSKI, R. L. X. N.

AUT 0278 -Desempenho Acústico, Arquitetura e Urbanismo. São Paulo: FAUUSP, 2015.

REZENDE, J. B.; RODRIGUES, F. C.; VECCI, M. A; SUYAMA, E. Análise objetiva e

subjetiva da influência do ruído de impacto de pisos em edificações. Belo Horizonte: Mostra

PROPEEs UFMG, 2013.

SIMÕES, Flávio Maia. Acústica Arquitetônica. Rio de Janeiro: Procel Edifica, 2011.

Page 22: Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de …€¦ · Nayana Daniela Donato – nayanadonato.arq@gmail.com Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação -

Estratégias de conforto acústico em arquitetura e design de interiores

Dezembro/2018

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 16 Vol. 01 Dezembro/2018

SOUZA, L.; ALMEIDA, M.; BRAGANÇA, L. Bê-á-bá da acústica arquitetônica: ouvindo

a arquitetura. São Carlos, SP: EdUFSCar, 2006.149p.