Estrutura de Filmagem

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    Meu roteiro consumiu quatro dos oitos meses que levei para fazer ofilme... (e) incluia todas as cenas... Descobri os atores meses antes, eprocurei explicar-lhes da melhor forma possvel o que era necessrio paraaparecer em um filme... Fazer um filme exige um esforo totalmente

    organizado e a nica pessoa que sabe como todas as pequenas peas dotrabalho se ajustam, o prprio realizador do filme.

    de The Professional Amateur Film por Kerry Levitt

    Primeiro passo: encontrar uma idia para um filme. Segundo passo:desenvolv-la em um roteiro talvez vrios como guia para filmagem emontagem do filme e preparao de trilha sonora.

    O valor de escrever um roteiro idntico ao valor de elaborar uma lista demateriais e uma planta para construir uma casa. O construtor usa a lista demateriais para empilhar madeira e tijolos apenas o suficiente, no demais.Em seguida, consulta a planta para ver exatamente como a madeira e tijolosdevem ser cortados e arrumados para produzir os corredores, armrios e quartosda casa acabada. Da mesma maneira, o cineasta trabalha com base em umroteiro, para empilhar (filmar) uma metragem de filme aproveitvel, apenas osuficiente, no demais. Em seguida, consulta seu roteiro para ver como ametragem deve ser cortada e arrumada (montada) para produzir o filmeacabado. Um nico roteiro pode servir como guia, tanto para a filmagem como

    para a montagem; ou o cineasta pode preferir escrever dois roteiros, um para serusado diretamente na filmagem, anlogo lista de materiais do construtor echamado roteiro de filmagem, e um segundo a ser usado para montagem,semelhante planta e chamado roteiro bsico.

    Qualquer construtor que erguesse uma casa sem planta, certamenteproduziria um desastre arquitetnico. Cineastas principiantes fazemencantadores filmezinhos sem outra orientao que a do instinto e paixo; commuita freqncia, porm, o filme sem roteiro, como uma casa sem planta,simplesmente no se mantm. muito menos do que poderia ser, e em geral

    custa muito mais do que deveria custar.

    3.ROTEIRO E PLANEJAMENTO

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    ABORDAGENS DO ROTEIRO

    O tratamento

    A mais simples espcie de roteiro cinematogrfico talvez nem chegue aser roteiro chamada tratamento, que consiste em pouco mais do que umresumo breve e genrico do filme a ser realizado. O propsito principal dotratamento transformar uma idia ou premissa bsica de filme em um resumotosco de seqncias, argumento, caracterizao etc. O tratamento pode tambmmencionar como a trilha sonora contribuir para o filme, e que clima ou temageral o filme apresentar.

    Aqui est uma amostra de tratamento para um filme bastante leve, masinstrutivo:

    Tratamento: Uma Perseguio com um Propsito

    Um carro pra ao lado da calada e dois homens descem. Um doshomens, sem perceber, deixa a porta entreaberta. Os dois atravessam acalada e encaminham-se para um parque. Ento, um terceiro homem,um tipo suspeito, sai de trs de uma rvore, aparentemente v que aporta do carro no esta trancada, corre at o carro, abre a porta, furtauma pasta e foge rapidamente. Um transeunte na calada v tudo issoe grita para os dois homens que esto agora se aproximando doparque. Todos os trs perseguem o ladro: do a volta a uma esquina,passam por um ptio de estacionamento, atravessam um gramado echegam a um local de construo. Finalmente, no terreno emconstruo, alcanam o ladro. Dois homens seguram o ladro,enquanto o terceiro abre a pasta. Este ltimo tira da pasta um rolo depapel e sorri para o ladro. O ladro mostra-se perplexo enquanto ohomem desenrola o papel para que todos vejam: UMAPERSEGUIO COM UM PROPSITO: MOSTRAR COMO

    PODE SER FILMADA E MONTADA UMA PEQUENAHISTRIA, BASEADA EM UMA PERSEGUIO. O som para estefilme ser msica alegre de ragtime ao piano, no sincronizada. Oclima total deve ser cmico, conseguido por meio de movimentoexagerado de braos e pernas, etc.

    Do tratamento ao roteiro bsico

    Por mais til que seja um tratamento para ajudar o cineasta a dar corpo asua idia de filme, ainda assim apenas um comeo. O tratamento mau guia

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    para filmar e montar um filme. Precisa ser desenvolvido em alguma coisa maistil. A seguir, est justamente isso: uma descrio, cena por cena, de como ofilme de perseguio, depois de montado, se desdobrar na tela um roteiro.

    Roteiro: Uma Perseguio com um PropsitoCena(*)

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    Descrio

    PG: Carro parando

    PA: Carro pra, um homemdesce e fecha a porta

    PA: Segundo homem desce efecha a porta

    PD: Porta da cena 2 fechando-se, ainda entreaberta

    PG: Os dois homens caminhamem direo ao parque: panormicapara o ladro atrs da rvore

    PG: Transeunte na calada

    PD: Trinco da porta, ladro

    entra correndo no quadro e abre aporta

    PA: Transeunte pra e olha

    PA: Ladro olha dentro docarro

    PD: Pasta

    MPP: Ladro estende a mo para

    a pasta

    PG: Os dois homens na beiradado parque

    PA: Transeunte olha para oshomens e grita

    Tempo

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    Som

    O tempotodo: msicaalegre deragtime aopiano

    * N. do T. Abreviaturas: GPG Grande Plano Geral;PG Plano Geral; PM Plano Mdio; PA Plano

    Americano; MPP Meio Primeiro Plano; PP PrimeiroPlano; PD Plano de Detalhe.

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    PA: Os dois homens param eolham em volta

    PM: Ladro sai correndo

    PM: Os dois homens corrematrs do ladro

    PG: Ladro afasta-se do carrocorrendo

    PG: Transeunte junta-se aosdois homens na perseguio

    PG: Ladro d volta esquina

    PG: Perseguidores do a volta esquina

    PG: Ladro atravessa correndoo ptio de estacionamento;panormica para os perseguidoresno muito distantes

    PA: Ladro correndo pelacalada

    PA: Perseguidores correndopela calada

    PP: Ladro, correndo, olhapara trs

    PA: Perseguidores, decididos

    PP: Ladro olha agora para afrente

    PG: (Do ponto de vista doladro) canto do edifcio, cenasacudida

    PG: Ladro d a volta pelocanto do edifcio

    PG: Perseguidores do a voltapelo canto do edifcio

    GPG: Ladro atravessando ogramado em plano de fundo:

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    Cortar e colar

    Alguns cineastas principiantes ficam surpreendidos ao saber que filmes sofeitos em dois estgios: primeiro, pela filmagem de metragem maior do que se

    precisa; e, segundo, pelo corte, poda e colagem fsica de todas as cenasseparadas. Isto parece muito trabalhoso. Por que no montar na cmara tomar logo de incio as cenas no comprimento e ordem certos, a fim de que ofilme volte do laboratrio exatamente como ser projetado? medida que vocler este capitulo e o resto do livro, as desvantagens de montagem na cmaradevero tornar-se evidentes. Resumidamente, por enquanto, o filme montado nacmara em geral mais vagaroso e menos eficiente do que o filme ps-montadoe as opes criativas so seriamente diminudas no primeiro caso.

    Do roteiro bsico ao roteiro de filmagem

    Sem dvida, o pequeno filme de perseguio poderia ser rodado a partir doroteiro bsico, que pormenoriza meios cinematogrficos para a consecuo dosfins esboados no tratamento. Todavia, roteiros bsicos nem sempre sugerem amelhor maneira de rodar um filme. Se reexaminar o roteiro do filme deperseguio, voc notar que:

    Algumas seqncias de cenas vo e vm entre duas locaes. Porexemplo, a cena 6 mostra um transeunte a certa distncia do carro. A cena7 volta ao carro e a 8 volta ao transeunte. As cenas 9, 10 e 11 fazem aao voltar ao carro, enquanto a 12 se volta para os dois homens nabeirada do parque. Se o filme fosse rodado nesse seqncia, os atores e opessoal tcnico precisariam mudar de locaao a quase toda cena. Afilmagem seria retardada e o entusiasmo embotado. Muito tempo antesque o cineasta arrume seu equipamento e seu pessoal para mudar delocao, ocorrer-lhe- tomar todas as cenas em uma locao de uma vez,e todas as cenas em outra locao, de outra vez. Posteriormente, quando

    montar o filme, poder collas na sequencia adequada.

    Algumas cenas separadas no roteiro poderiam ter sido filmadas comotomadas nicas de longa durao e posteriormente cortadas para seremusadas vrias vezes no filme acabado. Por exemplo, estas cenas doroteiro:

    9 Ladro olha dentro do carro11 Ladro estende a mo para a pasta

    15 Ladro sai correndo,

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    poderiam efetivamente representar uma nica cena com a durao de uns6 ou 8 segundos, cortada em trs pedaos e intercalada com as cenas 10,12, 13 e 14. No apenas mais fcil e mais rpido filmar como umalonga tomada, o que finalmente se tornar: cenas 9, 11 e 15, mas isso

    tambm assegura continuidade de expresso, clima e ao. Toda vez queuma ao continua filmada em vrias tomadas, o cineasta corre o riscode seu ator no ficar parado, no conservar o brao no mesmo lugar ouno manter a mesma aparncia de cena para cena.

    Alguns cortes ou mudanas de cena no roteiro representam aocontinuada em fluxo realstico de tempo: outros representam aoacelerada, tempo comprimido. Por exemplo, a passagem de tempoimplcita entre as cenas 3 e 4 contnua e realstica. Na cena 3, um

    homem sai do carro e fecha a porta. O montador corta esta cena de modoa comear quando a porta ainda est se fechando a fim de mostrar que a mesma porta da cena 3 e a cena comea exatamente onde terminoua 3, com a porta meio fechada. Embora a porta fechando-se seja mostradaem duas cenas, para a porta fechar-se no demora mais tempo do quedemoraria na vida real. Assim, o movimento continuo e o tempo realstico. Isto chamado corte casado. Enquanto isso, outros cortes noroteiro representam tempo acelerado, ao omitida, como por exemplo ocorte da cena 21 (o ladro correndo por uma calada). bastante fcilfilmar a segunda situao na qual tempo e ao so comprimidos mascomo se filma para produzir um corte casado? O roteiro no diz, emboratalvez voc tenha imaginado. As duas cenas simplesmente captam aosobreposta e duplicada. O homem foi filmado fechando a porta duasvezes fechando-a inteiramente primeiro distncia mdia, depois distncia pequena, e o montador cortou a ao sobreposta, a fim decombinar tempo e ao entre as duas cenas.

    por essas razes, portanto, que o roteiro, embora excelente guia paramontar e visualizar o filme acabado, nem sempre o melhor guia para rodar o

    filme. por isso que muitos cineastas escrevem um segundo roteiro, o roteirode filmagem, cujo propsito :

    relacionar todas as cenas a serem tomadas em cada locao, ou seqnciade filmagem;

    indicar quais cenas separadas do filme acabado devem ser tomadas comonicas, relativamente longas, a serem cortadas posteriormente e

    alternadas com outras;

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    indicar quais cenas registraro ao que se repete ou se sobrepe aode cenas anteriores, para propsitos de montagem a fim de casar tempo eao.

    A seguir, encontra-se um roteiro de filmagem para Uma Perseguio comum Propsito. Note como todas as cenas do transeunte devem ser tomadas deuma vez (representando uma nica seqncia de filmagem) embora no filmeacabado, como vimos, essas cenas devam ser alternadas com outras. Notetambm a cena 2 da seqncia II, que se transforma em trs cenas no filmeacabado (9, 11 e 15). Finalmente, veja como as cenas 1-2 e 3-4 da seqncia I e5-6 e 11-12 da seqncia IV, registram ao repetida ou sobreposta comopreviso para a feitura de cortes casados.

    Roteiro de filmagem: Uma Perseguio com um Propsito

    Seqncia I: Deixando o carro1. PG: Carro parando.2. PA: (Sobreposta cena 1) Carro pra, um homem desce e fecha a porta.3. PA: Segundo homem desce e fecha a porta.4. PD: (Sobreposta cena 3) Porta quase se fecha, permanecendo

    entreaberta.5. PG: Os dois homens atravessam a calada e caminham em direo ao

    parque. Panormica para a direita, a fim de revelar o homem atrsda rvore, que esteve observando tudo isto (ou zoom out).

    6. PG: Os dois homens, caminhando de costas para a cmara, aproximam-se do parque.

    7. PA: Os dois homens param, viram-se, vm o ladro e correm atrs dele.

    Seqncia II: O ladro1. PD: Trinco da porta do carro, ladro entra correndo no quadro, agacha-

    se com a mo no trinco e abre a porta.2. PA: Ladro olha dentro do carro, v a pasta, estende a mo e agarra-a;

    afasta-se da cmara correndo.3. PD: Pasta no carro.4. PG: Ladro correndo para longe do carro.5. PG: Ladro dando a volta esquina.

    Seqncia III: O transeunte1. PG: Homem caminhando pela calada.2. PA: Homem pra, olha para o carro e o ladro, olha para os homens que

    se aproximam do parque e grita para eles.

    3. PG: Transeunte junta-se aos dois homens na perseguio ao ladro.

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    Seqncia IV: A perseguio1. PG: Perseguidores do a volta esquina.2. PG: Ladro atravessa correndo o ptio de estacionamento, panormica

    para os perseguidores no muito atrs.

    3. PP: Ladro olha para trs e depois olha para a frente.4. PA: Perseguidores, decididos.5. PG: (Do ponto de vista do ladro) V o gramado.6. PG: (Sobreposta cena 5). Ladro chega ao gramado.7. PG: Perseguidores na beirada do gramado.8. GPG: Ladro em plano de fundo atravessa correndo o gramado.

    Perseguidores entram correndo no quadro, vindo de trs da cmara(cmara baixa).

    9. PG: Ladro chega ao local de construo.10. PG: Perseguidores chegam ao local de construo.11. PG: Perseguidores finalmente alcanam o ladro; breve luta.12. PA: (Sobreposta cena 11). Perseguidores lutando com o ladro, dois

    homens seguram-no enquanto o terceiro toma dele a pasta.13. PP: Ladro, vencido, olha para o homem com a pasta e em seguida

    parece surpreendido.14.MPP: Homem ajoelha-se sobre a pasta, abre-a, vira-se e sorri para o

    ladro; depois tira o rolo de papel e desenrola-o.

    Preparando um roteiro para uso durante a filmagem

    Se est pensando que a amostra de roteiro de filmagem para o filme deperseguio no suficientemente diferente do roteiro bsico para justificar otrabalho de escrev-la, voc pode ter razo, neste caso. De fato, o roteiro bsicodo filme de perseguio provavelmente poderia ter sido marginalmente anotadopara sugerir como o filme seria melhor rodado, da maneira ilustrada abaixo.Numerais romanos representam as seqncias de filmagem; quadros horizontaissugerem que cenas separadas do filme acabado devem ser filmadas como

    tomada nica e de longa durao; e quadros verticais em volta de nmeros decena so Lembretes para filmar ao sobreposta, duplicada, para corte casadoposterior.

    Seqncia de

    filmagem Cena Descrio

    I 1 PG: Carro parando.I 2 PA: Carro pra, um homem desce.I 3 PA: Segundo homem desce, quase fecha a porta.

    I 4 PD: Porta fechando-se, deixada entre aberta.

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    I 5 PG: Os dois homens caminham em direo ao parque;panormica para o ladro atrs da rvore.

    III 6 PG: Transeunte na calada.II 7 PD: Trinco da porta, ladro entra correndo no quadro,

    abre a porta.III 8 PA: Transeunte pra e olha.II 9, 11, 15 PA: Ladro olha dentro do carro.II 10 PD: Pasta.II 11 PA: Ladro estende a mo para a pasta.I 12 PG: Os dois homens na beiracta do parque.

    III 13 PA: Transeunte olha para os homens e grita.I 14 PA: Os dois homens param e olham em volta.

    II 15 PG: Ladro sai correndo.

    Trabalhando a partir de um roteiro de filmagem informal

    Tratamento, em seguida roteiro bsico, depois roteiro de filmagem.Suponha, porm, que voc reconhece o valor de um roteiro, mas pensa no sercapaz de escrev-lo. Voc acha que exagerei quando disse que cada cena e cadacorte deve ter um propsito. Quais so esses propsitos, pergunta voc com todarazo, e como a gente os aprende? Talvez estas medidas possam ajud-lo:

    Faa um filme muito simples antes de qualquer experincia muitoambiciosa; algo ainda mais simples do que o filme de perseguio.Elabore um roteiro completo, conserve-o curto, mas faa-o o melhor quepuder. Planeje rodar apenas um rolo de filme trs minutos e meio defilme, que voc montar de modo a reduzir para dois minutos mais oumenos. Provavelmente, nada ensina melhor princpios de filmagem emontagem, do que a prtica conforme os padres habituais.

    Observe filmes na televiso e no cinema, com muito cuidado, dedicandoparticular ateno ao entendimento do propsito de cada cena e corte.

    Elimine o som do televisor e concentre-se nas imagens.Leia os Captulos 4, 5, 6 e 7, todos os quais detalham propsitos de cenas

    e cortes, antes de tentar seriamente escrever o roteiro.Estude os vrios roteiros neste capitulo e procure absorver intuitivamente

    as funes de cenas e cortes. Olhe tambm uma seqncia de ODesertor e estude as trs amostras de roteiro no apndice.

    No escreva um roteiro bsico. Em lugar disso, escreva um tratamento eum roteiro de filmagem. Faa anotaes para metragem extra, a fim decobrir bem suas cenas e deixe para mais tarde as decises especficas de

    montagem.

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    Esta ltima opo exige explicao. , de fato, o processo seguido pornumerosos cineastas principiantes. O roteiro de filmagem desenvolvido medida que o cineasta imagina seu tratamento cena por cena, e faz anotaespara si prprio a respeito das vrias cenas que poder usar mais tarde ao montar.

    Ele no tem certeza se filmar todas as cenas que prev ou se todas elas,filmadas, sero aproveitveis, mas ainda assim as relaciona como lembretes,apenas por precauo. Depois que receber de volta do laboratrio o filmerevelado, poder escrever um roteiro bsico ou algo semelhante, a fim de ajud-lo a montar o filme.

    O filme O Despertar, descrito no ltimo captulo, foi feito dessa maneira.Vejamos como:

    Tratamento: O Despertar

    Este filme uma histria a respeito de um bbado. Quando comea ofilme, ele est dormindo sobre um jornal em um quarto vazio. Levanta-se,caminha de um lado para outro cambaleando, pe seu esfarrapado chapu epalet, apanha sua bengala e sai a fim de comprar alguma coisa para beber.At este ponto, o efeito total deve ser humorstico. Uma trilha sonora decassete registra seus pensamentos, enquanto ele resmunga e bufa,expressando seu desejo de mais lcool. Na rua passa por uma igreja epergunta a si prprio ironicamente, se no poderia encontrar alguma bebidal dentro. O clima do filme deve comear a mudar aqui. A igreja deverepresentar uma espcie de salvao para o velho miservel, e nomeramente uma fonte de lcool. Mas o bbado despreza a igreja. Umacena em cmara baixa de sua passagem pela igreja deve compor ocampanrio e a cruz da igreja no fundo do alto do quadro. Em outraspalavras, ele vira as costas quela forma de salvao. At agora o cenriofoi urbano. Agora o bbado vagueia pelos subrbios. Conseguiu de algumamaneira uma garrafa de bebida; bebe sofregamente e o monlogo interiorneste ponto deve sugerir que ele deseja convencer-se de que estcontrolado, de que tudo corre bem. Isto deve ser engraado, mas tambm

    comovente. Depois ele encontra um beb, brincando em um gramado eseus pensamentos se tornam melanclicos. Ele pensa. Esqueci algumacoisa, etc. O beb caminha vacilante em sua direo, fascinado. Plano decorte com primeiro plano do bbado estudando o beb, tentando lembrar-sede um tempo mais inocente, mais puro. Finalmente, o beb estende a mopara a garrafa do bbado, mas ele a esconde. Ele no est sendo egosta:objetivo transmitir a idia de que o bbado deseja proteger o beb.Depois disso, ele diz ao beb que v para casa, em essncia, que rejeite aele e quilo que ele representa. Agora, figura trgica e humilhada, o

    bbado continua a descer a rua. Se possvel, esta cena deve ser subexpostapara que ele aparea em silhueta, talvez tendo como fundo galhos de

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    rvores ou o cu para transmitir uma qualidade espiritual. Em seguida,uma cena de uma esttua de anjo para repetir o tema religioso. Naltima cena, o bbado desaparece gradualmente no meio de uma ruamovimentada (isto exigir uma cmara com capacidade para fuso).

    O tratamento torna bastante claro qual o propsito geral do filme: retratar

    um dia na vida de um pria social e apresentar o bbado da maneira maiscompleta e real possvel por meio de imagens e palavras, de modo a conquistarpara ele a simpatia dos espectadores. Alm disso, parece que o cineasta desejavaapresentar alguns contrastes significativos: velhice e infncia, humor eseriedade, corrupo e inocncia, petulncia e humildade.

    Contudo, este tratamento, como todos, preocupa-se mais pelos fins do quepelos meios cinematogrficos. Observe, por exemplo, estes trechos dotratamento:

    Levanta-se, caminha de um lado para outro cambaleando, pe seuesfarrapado chapu e palet, apanha sua bengala e sai... Como deveser filmado isso? Como uma srie de cenas? Que durao deve ter cadauma? Em que ordem devem ser emendadas? Que far efetivamente obbado nesta seqncia? Que dir ele?

    ...o efeito total deve ser humorstico. Novamente, como ser criado ohumor? Mostrando atitudes exageradas? Mostrando a fisionomia dobbado? Pelos pensamentos do bbado? Cenas a curta ou longa distncia?

    Conseguiu de alguma maneira uma garrafa... Ns o veremoscomprando (ou furtando) uma garrafa? Ou o filme simplesmente saltarno tempo e pular a parte onde o bbado obtm a garrafa? Neste caso,como e quando ser a garrafa revelada?

    Ele pensa: Esqueci alguma coisa etc. O que os espectadores veroenquanto o bbado diz isso; e que significa o etc? O que mais ele dir?

    A maioria desses problemas de fins/meios foi resolvida quando o cineastadesenvolveu o tratamento em um roteiro de filmagem informal, que mostradoadiante:

    O bbado passa pela igreja.

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    Roteiro de filmagem informal: O Despertar

    Seqncia I: No quarto

    Bbado dormindo sobre jornais. Panormica lenta dos ps cabea. Quando acmara chega cabea, o bbado mexe-se e estende a mo para a garrafa devinho. Faa outra cena disto de ngulo mais baixo nos ps do bbado. Plano deDetalhe de relgio. Cena do bbado lutando para levantar-se e olhando emvolta. Cena de trs: o bbado cambaleia em direo porta aberta do balco. Nobalco, visto de lado: bbado olha para a rua embaixo. Dentro de casa: bbadovira-se e volta a entrar no quarto. Do balco: bbado dentro de casa caminhaarrastando os ps em direo ao chapu e palet. Dentro de casa: lutando ebufando para vestir o palet. O chapu cai, bbado estende a mo, resmunga,etc. Plano Geral: finalmente pe o chapu e o palet. Faa Plano de Detalhe: ochapu no cho a seus ps aparecem chinelos velhos e usados. Bbadofinalmente sai pela porta. Faa duas cenas: de trs caminhando em direo porta. Do terrao fora, quando a porta se abre e o bbado aparece. No seesquea de cenas dentro do quarto paredes, piso, relgio, banheiro, janelasetc. Poder intercalar isto com o bbado arrastando os ps.

    Seqncia II: Na rua

    Cenas de casas cenas do bbado descendo escada. Cenas de carros. Cena dobbado sacudindo a bengala em direo aos carros que passam. Cena do bbadoatrs de cerca de tela assoando o nariz com os dedos. Cena do bbadocaminhando pela calada ao lado da igreja. Cmara baixa. Cmara imvel. Aprincpio, o bbado encobre a cruz, mas quando passa pela cmara a cruz revelada. Mantenha a cruz durante cinco segundos. Faa esta cenasuficientemente longa (20 segundos) para que o bbado possa dizer (pensar)alguma coisa engraada a respeito de religio.

    Seqncia III: Na rua suburbana

    Plano geral do bbado caminhando pela rua ensombrada em direo cmara.Tira debaixo do palet a garrafa de vinho em um saco e olha em volta. Cenamais prxima quando o bbado se encosta a um cintilante carro, muito alm desuas posses e bebe na garrafa. Plano Geral para apanhar o cenrio: subrbio,carro, bbado. Cena mais prxima para mostrar como o bbado gosta do vinho,ri, etc. Cena mais longa para mostr-lo cambaleante e inseguro, encostando-seao carro. Mais cenas do bbado andando, ficando embriagado e sentindo-semuito bem.

    Seqncia IV: No ptio

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    Plano geral: bbado perde o equilbrio e cai sobre a mureta baixa de tijolos, doptio. Primeiro Plano do bbado visto de dentro do ptio. Ele olha para dentro,parece curioso, etc. Cenas subjetivas: o ptio, plantas, flores, esguichos,

    gramado etc. Corte de volta ao bbado em Primeiro Plano: ele comea a parecermelanclico. Corte de volta ao ptio: uma panormica termina sobre o beb.Volta ao bbado: sorri fracamente e entra pelo porto, estudando ao mesmotempo intensamente o beb. Bbado senta-se (na verdade deixa-se cair) sobre agrama, ao lado do beb. Plano Americano, mostrando o beb que estende a mopara a garrafa de vinho. Bbado puxa violentamente a garrafa. Este talvez onico movimento rpido e firme do bbado no filme inteiro. Em todas as demaiscenas ele se move devagar e desajeitado. Cena em cmara baixa: bbadolevanta-se e sai do ptio. Componha esta cena com cu e galhos de rvores nofundo, para criar um efeito sensitivo e espiritual. Subexponha tambm a ltimacena para mostrar o bbado em silhueta.

    Seqncia V: Locao sem nada de particular

    Cena do bbado a longa distncia, de costas para a cmara, descendo muitovagarosamente uma rua. Se possvel, apanhe nuvens na cena, talvez, um solpoente. Cena de esttua de anjo, tambm em cmara baixa. ltima cena dobbado atravessando a rua, com fuso para a mesma cena, sem o bbado.

    Sem dvida voc notou que este roteiro de filmagem difere daquele dofilme de perseguio que vimos antes. Em primeiro lugar, no tem as cenasrelacionadas e numeradas, principalmente porque no foi desenvolvido a partirde um roteiro bsico. Em segundo lugar, ainda um pouco genrico em certoslugares, como se o cineasta tivesse deixado algumas decises para o momentoda filmagem real. Em terceiro lugar, comea a parecer-se um pouco com umroteiro bsico, especialmente na seqncia IV, quando as anotaes comeam aantecipar como as cenas sero finalmente montadas. E, em quarto lugar,relaciona mais cenas do que o cineasta efetivamente tomar, como uma maneira

    de pensar por escrito. Em geral, este roteiro de filmagem no to cuidadosa eformalmente elaborado quanto aquele preparado para o filme de perseguio.Mas muito detalhado e suficientemente completo para assegurar adequadacobertura para montagem.

    Roteiro bsico: O Despertar

    Apresento abaixo o roteiro bsico completo de O Despertar. Note comoa trilha sonora palavras sobre msica deve ser sincronizada com as cenas.

    A propsito, todos os sons para este filme foram gravados depois da montagem,

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    e no durante a filmagem. Este o processo-padro de numerosos cineastasamadores.

    Cena

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    Descrio

    PD: Panormica da janela para obanheiro.

    PD: Titulo: O DESPERTAR

    PD: Crditos: por TOM CUNNINGHAM

    PD: ESTRELANDO PHIL BARGAS e CHRISNELSON (ttulos e crditosfilmados sobre espelho quereflete um chapu, uma bengalae um relgio). Zoom invagaroso para o relgio.

    PD: Panormica dos ps at acabea de um velho bbadodeitado sobre jornais em umquarto vazio. Bbado acorda eestende a mo para a garrafade vinho. Descobre que estvazia.

    PP: (Cmara no nvel dos ps dobbado deitado) Olha por cimados ombros para...

    PD: Relgio: 4.40

    PA: Bbado levanta-se com esforoe caminha em direo portado balco.

    Tempo

    (s)

    5

    7

    7

    8

    20

    5

    3

    12

    Som

    1. guapingando.2-19. Msicapara estascenas: rock-jazzmelanclicoe lento,tambores e

    guitarra.

    5. Quandoacorda, obbado bufae tosse:Meu Deus,um trago ia

    bem...Garrafavazia...Precisoarranjar umagarrafa...Tudo muitobaixo erouco.Gravadosobre blues-

    rock.

    8.Esforos,bufos,enquantoluta paralevantar-se.Tosseviolentamen-te. O blues-rock

    continua atcena 21.

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    22

    23

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    um vulto sem feies que descea escada cambaleando.

    PG: Bbado na calada sacudindoviolentamente a bengala na

    direo dos carros que passam.

    PG: Bbado atrs da cerca de tela.Assoa o nariz com os dedos.

    PG: (Cmara baixa) Bbado move-se

    em direo cmara por umacalada. Uma igreja vista

    sua direita. Move-se emdireo cmara, aparecendocada vez maior at encobrir aigreja. Mas quando passa pelacmara, a cruz da igreja, noalto do campanrio, revelada.

    PG: Cenrio muda para uma ruasuburbana. O velho bbado,obviamente embriagado, desce arua cambaleando em direo cmara.

    PA: (Ao casada com cena 23)

    6

    4

    22

    7

    4

    escada.Tosses.

    20. Saiamda minha

    rua! Desde-nhosamente:Carros!

    21. Precisoarranjar umagarrafa.

    22-34.Mudana demsica,

    meditativa,triste, masem tom deblue; terna.Tudo gravadojunto commonlogo dobbado.

    22. Serque no

    arranjo umtrago ali?Sarcstico:Dai-me umpouco devinho,salvai minhaalma,mostrai-me ocaminho,mostrai-me o

    caminha daigreja. Combvio desa-gado: JesusCristo!

    23. Oba,vou mesentir bem!

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    Bbado visto mais de perto,cambaleando rua abaixo. Sorrie olha para seu palet.

    PA: (Ao casada com cena 24:

    grande angular) Bbado tiradebaixo do palet a garrafadentro do saco de papel;cambaleia em direo a umaperua estacionada no meio-fio.

    PP: Chega perua. Encosta-se nelaenquanto bebe na garrafa. Ricom vontade.

    PG: (ngulo lateral) Bbado descea rua ao lado da cmara.

    PG: Bbado move-se em direo cmara na metade esquerda doquadro; a metade direita emprimeiro plano, tronco dervore com um grande e feio

    n.

    PA: Bbado inclina-se para trs afim de beber as ltimas gotas

    da garrafa; perde o equilbrioe cai sobre a mureta baixa detijolos, do ptio de um prdiode apartamentos.

    PA: (De dentro do ptio) Bbadoencosta-se mureta e olhapara dentro do ptio.

    PM: (Cmara subjetiva) Um beb noptio, ergue os olhos para o

    bbado.

    6

    6

    8

    6

    6

    2

    2

    26. Som debeber,suspiro desatisfao,risada

    rouca.

    27. Eu souo rei daestrada.

    28. Masacho queesqueci dealgumacoisa. No

    consigolembrar oque . Achoquedeixei...No sei. Faztantotempo.

    30. Hum!

    31. Eh,beb,

    beb...Hum!

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    PM: Bbado d a volta pelo portoe entra no ptio, estudando obeb com grande interesse.

    PM: Beb ainda se aproximando dobbado.

    PM: Bbado senta-se na grama pertodo beb.

    PM: Beb caminha em direo aobbado.

    PA: Bbado olha pensativo para obeb; tira a tampa da garrafapara um ltimo gole. Olha parao beb enquanto bebe.

    PA: Beb estende a mo paraagarrafa do bbado.

    5

    2

    3

    3

    8

    2

    34. Veja-mos... Eutinha umbeb antiga-mente... Nosei o queaconteceucom ele...Ela medeixou e

    levou obeb.

    34-35.Mudana densica. Aprincpio,h longos esolenesacordes deorgo como

    em umaigreja;depois umaemotivaguitarracrescendogradualmentepara umritmo maisrpido at acena 42.

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    PD: Bbado puxa a garrafa paralonge do beb.

    PA: Bbado esconde a garrafaembaixo do palet, olha para o

    beb com ar paternal.

    PA: Beb ao mesmo tempo confuso ecurioso.

    PA: (Cmara baixa) Bbado levanta-se vagarosamente, olha paratrs, para o beb, depois sai.A cena subexposta; o bbadoaparece em silhueta contragalhos de rvores e cu.

    PG: Sol brilhando atravs denuvens, cmara inclina para obbado que se afasta da cmarapor uma rua suburbana ladeadade rvores.

    PA: (Cmara baixa) Esttua de anjosobre um tmulo; galhos dervores e nuvens no fundo.

    PG: Bbado atravessando a rua emdireo sua casa. No meio darua sai vagarosamente da cenapor meio de fuso.

    FIM, filmado sobre espelho

    com reflexo de chapu, bengalae relgio.

    2

    5

    3

    10

    10

    3

    12

    4

    38-41. Nobeb, vocno querisso. No bom para

    voc. Agora melhor irpara casabeb. Hum...Oh, beb...Sim, beb,eu sei agorao que haviaesquecido...Faz muitotempo... V

    para casa...V parajunto de suame. Euprecisodescansar.Eu... euprecisodescobrir oque esqueci.Penso que

    um lar. Pro-vavelmente um lar, emalgumlugar.

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    Sumrio: Como o filme comunica

    Talvez agora, aps ter visto vrios roteiros, possamos considerar o roteiro emparticular e o filme em geral a partir de algumas perspectivas tericas. O bom

    roteiro sensvel a pelo menos seis maneiras como o filme comunica:

    1. Atravs da idia, argumento, tema ou propsito geral do filme (porexemplo, apresentar o bbado de O Despertar inteiro e simptico.)

    2. Atravs de cenas individuais (do bbado em longa distncia em umcenrio, de seu rosto em primeiro plano e do beb.)

    3. Atravs de relaes de cena para cena (planos gerais para estabelecercenrios seguidos por planos de detalhe; um plano do bbado olhando,seguido por um plano do que ele v; corte do bbado para o beb, e devolta para estabelecer relaes entre personagens.)

    4. Atravs de sons individuais (msica para clima, os pensamentos dobbado.)

    5. Atravs de relaes entre cena e som (msica, em ritmo lento,emparelhada com o tempo das imagens, tambm em ritmo lento; o bbadovisto e ouvido lutando com seu chapu e palet; a tosse do bbado,possivelmente prenunciando o fim do filme quando o bbado morre desaparece da cena.)

    6.Atravs de relaes de som para som (simultneas, como quando o jazz eos pensamento do bbado esto misturados, seqenciais, como quando atosse se segue a resmungos e gemidos.)

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    Um segundo filme com roteiro: Comunicaes 101

    Voltemo-nos agora para um segundo filme, que contrasta instrutivamentecom O Despertar e consideremos como foi feito seu roteiro. Este filme,

    intitulado Comunicaes 101,, foi produzido como trabalho de uma classe emque eu lecionava. Ao contrrio do outro filme, ele d destaque a um tema, maisdo que a uma personalidade. Tem mais ao dramtica e mais elaboradamentemontado. O filme realmente uma alegoria e propositadamente irreal. Primeiro,o tratamento do filme:

    Tratamento: Comunicaes 101

    Em uma classe denominada Comunicaes 101, um aluno chega aulavestido em um saco preto que o cobre da cabea aos ps. Ningum sabequem est dentro do saco. O saco nada diz e no se move de sua carteira. Aprincpio, os estudantes e a professora toleram o desconhecido. Mas,gradualmente o clima muda para desconfiana, medo e intolerncia.Estudantes comeam a provocar o saco e perturbar a classe. A professoraperde o controle. Finalmente, violncia: um estudante corpulento pe aprofessora fora da aula e imediatamente a classe investe contra o saco,

    jogando-o ao cho com socos e pontaps. O saco fica cado sem vida; osestudantes deixam a sala, perversamente orgulhosos e seguros.

    Ns (minha classe e eu) pensamos que o filme poderia dizer alguma coisaa respeito de intolerncia e medo do desconhecido. Poderia tambm dizeralguma coisa sobre o preo que se paga por ser diferente, de um lado, e pordecidir no comunicar-se, de outro lado. Naturalmente, porm, esconder-sedentro de um saco e no dizer coisa alguma uma forma de comunicao. Almdisso, gostamos da maneira como essa premissa e tema foram representados nasala de aula, smbolo de autoridade e da ordem social estabelecida. Retire-se aautoridade (a professora) e a ordem social desmorona: rui a tolerncia e emergeo lado mais negro da natureza humana. No um filme bonito, mas achamos

    que em certos sentidos verdadeiro.

    A professora enfrenta o estudante no saco.

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    No poderamos comear a rodar o filme a partir do tratamento queapresentei; ainda mais genrico e anticinematogrfco do que o tratamento deO Despertar. Por exemplo, como o estudante chega aula vestido em um sacopreto? Chega antes, durante ou depois da chegada dos outros estudantes? Como

    ser filmado isso? Quando o tratamento diz: Gradualmente o clima muda paradesconfiana, medo e intolerncia... como esse clima ser transmitido emimagens? Que aes ou expresses faciais so necessrias? Exatamente como aprofessora perde o controle? Como esse momento do filme ser rodado erepresentado?

    Evidentemente, precisvamos de mais orientao. Podamos prever que ofilme acabado exigiria montagem bastante elaborada, pois lidava com trspontos de ao os estudantes, o saco (na realidade inao) e a professora. Porisso, reunimos nossas idias e conhecimentos para escrever um roteiro bsicocompleto a fim de elaborar os detalhes do argumento e determinar comoseriam montados os trs pontos de ao.

    O roteiro bsico completo apresentado a seguir no inclui anotaes parasom, porque na ocasio no planejvamos som algum, exceto msicagenericamente sincronizada.

    Roteiro: Comunicaes 101Tempo em

    Cena Descrio Segundos

    1 PD: Relgio: 9.55. 3

    2 PD e PP: Mo escrevendo no quadro-negro 6Comunicaes 101. Panormica lentapara a esquerda a fim de revelar a donada mo: uma moa.

    3 PG: Saco sentado sozinho na sala 3

    4 PA: Plano de lado para mostrar o rosto da 4professora. Ela continua a escrever no

    quadro-negro, sem tomar conhecimentodo saco.

    5 PD: Mo ainda escrevendo no quadro-negro. 3

    6 PG: Do fundo da sala, com o saco em 3primeiro plano direita, a professora,ainda diante do quadro-negro, no fundo, esquerda. A professora vira-se do quadro-negro e v o saco.

    7 PA: A professora demonstra surpresa e 2ligeiro medo.

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    8 PP: Saco, imvel, imperturbado. 2

    9 PG: Porta da sala de aula estudantes 8entram e notam o saco.

    10 PA: Professora desvia o olhar do saco 2e olha para a porta.

    11 PA: Porta da sala de aula mais estudantes 6entram e notam o saco.

    12 PG: Saco, do ponto de vista dos estudantes. 2

    13 PG: De trs do saco para a porta. Saco no 8primeiro plano, mais estudantes entram

    no fundo e notam o saco.

    14 PA: Dois estudantes segredam e olham de 2relance para o saco.

    15 PA: (Cmara baixa) Professora no estrado 3olhando anotaes.

    16 PA: Panormica para todos os estudantes 9sentados em volta do saco. Eleso esto estudando.

    17 PA: Cmara alta de lado professora no 3estrado olhando anotaes.

    18 MPP: Mais dois estudantes segredando 3a respeito do saco.

    19 MPP: Professora agora ao quadro-negro e 4escrevendo de novo: Tarefa.

    20 PP: Estudante do sexo masculino olha 2

    ameaadoramente para o saco.

    21 PP: Saco, do ponto de vista dos estudantes. 2

    22 PA: Saco direita, estudante atrs 3esquerda, dizendo alguma coisa ao saco.

    23 PG: Professora no fundo, estudante em 8primeiro plano direita e saco emprimeiro plano esquerda. Professoravira-se do quadro e repreende o estudante.

    Quando a professora vira-se novamentepara o quadro-negro, o estudante empurra

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    com o p a perna da cadeira do saco.

    24 PD: (Ao casada com cena 23). Cadeira do 1saco escorregando alguns centmetros.

    25 PA: Outro estudante no primeiro plano: 3saco no fundo. Estudante joga umlivro contra o saco.

    26 PA: Professora, irritada, vira-se furiosa. 3

    27 PG: Saco em primeiro plano bem prximo, 2cobre o lado esquerdo do quadro.Estudante do sexo feminino mostra alngua para o saco e para a professora.

    28 PD: Relgio: 10.30. 2

    29 PA: Duas estudantes riem do saco. Uma delas 6parece planejar uma brincadeira.

    30 PD: (Cmara baixa) Mos masculinas 3amassam um pedao de papel.

    31 PA: Do lado professora ainda 4escrevendo no quadro-negro.

    32 PA: Moa da cena 29 levanta-se e 7caminha em direo ao saco. Abraao saco com fingida simpatia.

    33 PD: Quadro-negro: Recusa de comunicar-se. 3Mo da professora ainda visvelescrevendo.

    34 PP: Moa da cena 32 tira um pedao de 5goma de mascar da boca e aperta-ocontra o rosto do saco.

    35 PP: Outra estudante ri. 2

    36 PA: Professora olha de novo em volta. 2

    37 PA: Um estudante no fundo joga uma bola de 4papel contra o saco no primeiro plano.

    38 PD: (Ao casada com cena 37) Saco quando 1 atingido pela bola de papel.

    39 PA: Professora no suporta mais. Vira-se e 4parece perguntar classe o que

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    est acontecendo.

    40 PG: Da frente da sala. Estudantes em 4silncio. O saco est sentadoimvel no meio deles.

    41 PA: (Cmara alta) Professora parece agora 4um pouco atemorizada. Afasta-se doquadro-negro para o estrado, como quepreparando-se para dar a aula.

    42 PG: (Da frente da sala) Dois estudantes 4avanam do fundo da sala ecomeam a cutucar o saco.

    43 PA: Uma estudante sentada perto do 2saco bate nele com sua bolsa.

    44 MPP: Professora ergue os olhos, muito 2aborrecida.

    45 PG: Estudante no canto da sala levanta-se 3de um salto e aponta acusadoramentepara o saco.

    46 PA: (Cmara baixa) Saco em primeiro plano, 4embaixo, professora no fundo. Professoracaminha para o saco e inclina-se sobre ele.

    47 PP: (Cmara baixa) Professora parece estar 3dizendo ao saco que deve retirar-se.

    48 PP: (Cmara alta) Saco, imperturbvel. 2

    49 PP: Professora faz um ltimo apelo ao saco. 4

    50 PP: Saco, ainda indiferente. 2

    51 PG: Da frente da sala, a professora volta-se 7PA: para a cmara, encobrindo o saco.

    Vira-se e caminha em direo cmara. Quanto mais se aproxima mais

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    evidente sua exasperao. A professorapassa pela cmara, deixando ver osaco no fundo, ainda imvel. De cadalado do saco, ameaadores, estosentados os dois estudantes que

    o cutucaram na cena 42.

    52 PG: Do fundo da sala. Professora anda 3nervosamente de um lado para outro.

    53 PG: Da frente da sala. Um dos estudantes 4da cena 51 levanta-se e caminhaem direo professora. Temaparncia maldosa.

    54 PG: (Ao casada com cena 53) Fundo da sala: 2

    estudante aproxima-se da professora,que est em plano de fundo.

    55 PA: Estudante aproximando-se da professora. 2

    56 PP: Professora, assustada. 1

    57 PA: (ngulo lateral) Estudante agarra o 2brao da professora e empurra-aem direo porta.

    58 PP: (De fora da sala) Estudante empurra 1a professora pela frente da cmara.

    59 PG: Estudantes na sala rindo. 2

    60 PA: Estudante volta sala e fica parado 2na porta.

    61 PG: Estudantes ainda rindo. 2

    62 PP: Estudante da cena 60 olha sombriamente 2para o saco.

    63 PG: (Cmara baixa) Saco no primeiro 3PA: plano direita, estudante no plano de

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    fundo esquerda. Estudante caminhaat o saco e inclina-se sobre eleameaadoramente.

    64 PP: (Cmara alta) Saco. 2

    65 PA: (Cmara baixa) Estudante bate no 2saco, saco move-se para trs na direoda cmara em conseqncia do golpe.

    66 PA: Dois estudantes levantam-se num 1salto, rindo.

    67 PA: (Cmara baixa) Outros trs estudantes 1levantam-se num salto.

    68 PG: Todos os estudantes correm em 2direo ao saco.

    69 PA: Movimento de massa dos estudantes, 2sacudindo braos e dando pontaps.

    70 PA: Cena 69 em contra-campo. 2

    71 PD: (Cmara baixa, subjetiva do ponto de 3vista do saco) Punhos bombardeiama objetiva da cmara. Faces contorcidas

    visveis atrs dos punhos.

    72 PA: Saco no cho, imvel. 3

    73 PG: Estudantes em p em volta do saco 4cado. Entreolham-se orgulhosamente.

    74 PG: Estudantes deixando a sala; dois 4olham para trs em direo aosaco, que no visto.

    75 PG: (Do nvel do cho) Cadeiras vazias, em 4sua maioria viradas. Saco no visto.

    76 PD: Crditos (nomes de estudantes) 8escritos no quadro-negro.

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    Desenvolvendo um roteiro de filmagem para

    Comunicaes 101

    Para rodar o filme, dividimos o roteiro em certo nmero de seqncias.

    Mas, ao contrrio daquelas de Uma Perseguio com um Propsito e ODespertar, estas seqncias de filmagem no foram estabelecidas com base emlocaes, pois todo o filme foi rodado na mesma sala. Em lugar disso, asseqncias foram estabelecidas de acordo com quem aparecia nelas:

    Seqncia I. S a professora: Principalmente cenas da professora aoquadro-negro antes de chegarem os estudantes e quando eles provocam osaco.

    Seqncia II. S saco: Principalmente primeiros planos do saco. Tambmvrios no cho, depois de espancado.

    Seqncia III. A professora e o saco juntos: Pequeno nmero de cenasmostrando a professora e o saco em relao entre si, antes de chegarem osestudantes.

    Seqncia IV. Estudantes e o saco juntos: A seqncia de filmagem maislonga abrangendo duas partes no filme acabado: os estudantes provocandoo saco e os estudantes batendo no saco.

    Seqncia V. Professora, saco e estudantes juntos: Inclui certos planosgerais durante a seqncia de provocao, quando se achou necessriomostrar professora, saco e estudantes juntos. Inclui tambm a seqncia emque o estudante pe a professora para fora da sala.

    Nossa vantagem em filmar fora de seqncia, como se diz, foi que no

    precisamos de todos os atores o tempo todo. As ltimas duas seqncias foramas mais demoradas para filmar e as mais difceis de controlar, porque continhama maior parte da ao do filme e exigiam mais pessoas. Filmamos essas duasseqncias durante perodos regulares de aula em horrio apertado. Contudo,filmamos as seqncias I, II, III depois das horas regulares de aula, pois elas sexigiam a professora e o saco, que estavam presentes depois das horas regularesde aula, enquanto muitos dos outros estudantes no estavam. Assim, nossoroteiro de filmagem refletiu no s preocupaes artsticas, mas tambmpreocupaes prticas. Naturalmente, quando o filme foi montado, cenas das

    seqncias I, II e III foram emendadas entre cenas das seqncias IV e V, a fimde criar o efeito de ao simultnea ou contnua.

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    Aqui est uma lista das cenas da seqncia I, juntamente com as cenascorrespondentes do roteiro bsico (filme acabado), a fim de mostrar como ascenas foram cortadas e emendadas em ordem:

    Cena

    Cena Descrio correspondente

    no roteiro

    1 PD: Mo escrevendo no quadro-negro:e PP: Comunicaes 101. Panormica

    para mostrar a professora.Professora vira-se e descobre osaco, parecendo surpreendida. 2, 4, 7

    2 PA: Professora vira-se para oquadro-negro e escreve. Tarefa,mais algumas palavras queno podem ser lidas. 19, 31

    3 PD: A mo da professora escrevendono quadro-negro recusa decomunicar-se... 33

    4 PA: Professora desvia o olhar do sacoe olha para a porta quandoestudantes chegam. 10

    5 PA: (Cmara baixa) Professora noestrado olhando anotaes. 17

    6 PA: (Cmara alta) Professora noestrado olhando anotaes. 17

    7 PA: Professora, ao quadro-negro, vira-seenraivecida para olhar a classe. 26

    8 PA: Professora vira-se de novo,

    ainda mais irritada. 36

    9 PA: Professora no suporta mais.Vira-se e parece perguntar classe o que est acontecendo. 39

    Voc poder notar que as cenas 1 e 2 do roteiro de filmagem foramcortadas de modo a tornarem-se cinco cenas no filme acabado (2, 4, 7 e 19, 31).A seqncia I no exige filmagem sobreposta ou ao de duplicao em duas

    cenas, pois nenhum corte casado foi feito no filme. Mas as cenas 23-34 e 37-38do roteiro so cortes casados e exigem filmagem de ao duplicada em duas

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    cenas a cadeira escorregando no cho, filmada tanto de distncia mdiacomo de distncia curta, e a bola de papel jogada da posio da cmara eatingindo o saco em outra posio da cmara.

    Um ltimo comentrio sobre roteiros bsicos e roteiros de filmagem:

    Filmagem a partir de roteiro bsico (como certamente se pode fazer) talvez sejaum meio pouco prtico de acumular metragem, mas como a filmagemgeralmente prossegue em seqncia a ordem em que as cenas iro aparecerna tela muitas vezes mais fcil manter continuidade de clima e ao. Osatores precisam de menos orientao e tm mais probabilidade de estarpsicologicamente preparados para cenas sucessivas. Por outro lado, filmagem apartir de roteiro de filmagem em geral a maneira mais prtica de filmar, mas ocineasta pode pagar um preo: perda de continuidade. Filmar fora de ordempode destruir o clima continuado, o impulso dramtico que representao efilmagem direta criam para diretor, operador de cmara e elenco. Na prtica,realizadores de filmes pessoais filmam tanto em seqncia como fora deseqncia. Filmam em seqncia sempre que podem porque, francamente, mais divertido e os resultados geralmente so melhores. Filmam fora deseqncia, quando isso imposto por realidades prticas. Escrever apenas umroteiro bsico, apenas um roteiro de filmagem ou ambos: filmar a partir de umroteiro bsico, de um roteiro de filmagem ou de ambos essas decisesdependem de voc, de sua disposio, da natureza de seu filme e dos horrios deseu elenco.

    ABORDAGENS DO ROTEIRO

    Primeiro, escreva um tratamento, esboce o filme do comeo ao fim. Em seguida, escreva um roteiro bsico completo, com descrio de todas as

    cenas e sons do filme acabado. Depois, escreva um roteiro de filmagem, para ajud-lo a filmar da maneira

    mais prtica.

    OU

    Escreva um roteiro bsico e faa anotaes marginais para filmar da maneiramais prtica.

    OU

    Escreva um roteiro de filmagem informal relacionando numerosas cenas para

    cobertura variada e adie as decises de montagem para depois que analisar seufilme revelado.

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    Desvios do roteiro

    Raros produtores de filme amador seguem seus roteiros cem por cento

    quando filmam e nem devem segui-los. O cineasta que realizou O Despertarabandonou brevemente seu roteiro de filmagem, vrias vezes, a fim de obter ametragem de que acreditava precisar. Minha classe e eu improvisamos vriascenas em que ningum havia pensado antes. Algumas vezes, cenas que parecemboas no papel no do certo, no ficam bem durante ensaios e filmagem. Muitasvezes, algum um ator, o diretor, o operador de cmara ou mesmo umassistente, tem a brilhante idia de tentar isto ou aquilo e o roteiro posto delado durante algum tempo. Todos os cineastas devem estar preparados paraalguma improvisao. Minha tendncia trabalhar a partir de roteiro detalhadosempre que posso, mas no preciso ser escravo dele se s vezes seus instintosparecem um guia melhor. Ao mesmo tempo, excesso de filmagem improvisadapode levar a metragem mal pensada e cobertura inadequada, assim como podecausar problemas mais tarde durante a montagem.

    Determinao da contribuio da trilha sonora

    Os roteiros para O Despertar e Comunicaes 101 representam duasabordagens diferentes do planejamento de som para um filme. No primeirofilme, o som, sob a forma de pensamentos, muito importante toimportante, de fato, que precisou ser planejado durante a preparao do roteiro.Notem-se estas instrues do roteiro de filmagem:

    Cena do bbado caminhando pela calada ao lado da igreja. Cmara baixa.A princpio, o bbado encobre a cruz, mas quando passa pela cmara acruz revelada. Mantenha a cruz durante 5 segundos. Faa esta cenasuficientemente longa (20 segundos) para que o bbado possa dizer(pensar) alguma coisa engraada a respeito de religio.

    Assim o cineasta previu que o som seria sincronizado com esta cena. Aqui,partindo do roteiro bsico, que o bbado realmente pensou quando passavapela igreja:

    Ser que no arranjo um trago ali? Sarcstico: Dai-me um pouco devinho, salvai minha alma, mostrai-me o caminho, mostrai-me o caminhoda igreja. Com bvio desagrado: Jesus Cristo...

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    Na realidade essas frases foram escritas e gravadas depois de montado ofilme um processo arriscado. A cena poderia ter sado curta demais para queo bbado expressasse todos os seus pensamentos.

    Em contraste, nenhum som, a no ser msica genericamente sincronizada,

    foi planejado para Comunicaes 101, de modo que o roteiro de filmagemno precisava mencionar som algum. Assim, se a trilha sonora vai assumir papelimportante em seu filme, voc deve planej-la com tanta preciso quantoplaneja suas cenas. E deve planejar a trilha sonora em trs sentidos, decidindoprimeiro sobre os sons individuais que seu filme acabado exigir e depois sobreas vrias relaes de som para som e as vrias relaes entre o som e a imagemque voc utilizar.

    Se sua trilha sonora exigir dilogo, voc precisar conceb-lo de modo aajustar-se a qualquer sistema sonoro que pretenda usar. Se planeja preparar atrilha em fita de cassete, voc no poder sincronizar o dilogo com lbios emmovimento. O dilogo deve ser ouvido fora do campo de viso da cmara, oudurante cenas distncia. Isso significa que o dilogo no precisa serdeterminado palavra por palavra na ocasio em que voc filma, embora vocdeva ter uma boa idia do que seus atores diro e do tempo que levar para diz-lo, a fim de que suas cenas no fiquem curtas demais. Se planeja aplicar pistasonora magntica em seu filme, voc poder contar com a obteno derespeitvel grau de sincronizao labial, no perfeita, mas geralmente pertodisso, por padres de amador. Neste caso, voc deve ter seu dilogo preparadopalavra por palavra antes de filmar, pois os personagens estaro falandoenquanto voc os filma e geralmente seus lbios em movimento sero vistos. Sevoc no gravar realmente as palavras faladas durante a filmagem e mais tardeos atores dublarem suas frases, o dilogo poder ser to longo ou curto quantodesejar. Mas, se fizer a gravao durante a filmagem e no tiver equipamento desincronizao acoplado entre cmara e gravador, sugiro que no sejam dadas, aator algum, falas de mais de 15 segundos por tomada, pois no se podetransferir de fita para filme com pista magntica mais tempo do que esse emanter sincronizao precisa.

    Cor ou preto e branco?

    A maioria dos filmes de Super 8mm rodada em cores, porque o filmecolorido mais facilmente encontrado. O Despertar foi filmado em cores semoutra razo particular. Comunicaes 101, foi filmado em preto e branco parasimular um clima rido e desolado. Quando cineastas filmam em preto e branco,freqentemente para criar um clima assim. Outros cineastas preferem preto ebranco apenas porque diferente isto , diferente dos filmes domsticos,

    que, naturalmente, so quase sempre filmados a cores. O Desertor, descrito noltimo captulo, foi filmado em preto e branco. Este filme apresenta alguns

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    efeitos de luz bastante incomuns que se prestavam filmagem em preto ebranco. claro que filmes ao ar livre, apresentando cenrios lricos econvidativos flores, cu, nuvens e coisas semelhantes provavelmenteficam melhor filmados a cores.

    LOCAES

    Elaborao do roteiro antes e depois da escolha do local

    Muitas vezes uma idia nua de filme no pode ser transformada em roteirotil, sem que o cineasta determine primeiro as locaes para seu filme e passealgum tempo nelas. Uma casa velha, um grupo de rvores, uma ponte, um sinalrodovirio cada uma dessas coisas pode despertar a imaginao e sugerircenas importantes, seqncias de ao e episdios inteiros. Objetossignificativos nas locaes podero mesmo figurar de maneira to proeminente,a ponto de levar o cineasta a adotar nova idia para um filme inteiramentediferente, introduzir novos personagens ou mudar o final do primeiro filme quetinha em mente. Seja como for, voc desejar andar pelas locaes que escolheue comear a imaginar onde os personagens sero colocados, como se movero,para onde se movero e com que coisas, cores ou formas sero filmados. Talvezvoc queira levar consigo uma cmara, bem como seus atores (ou um ou doissubstitutos) enquanto medita sobre as locaes. Faa os atores ficarem aqui eacol ou moverem-se daqui para acol atravs de portas, atrs de rvores,descendo ladeiras e assim por diante e veja que aparncia eles tm no visorde sua cmara. Depois faa anotaes mentais ou escritas para ajud-lo aresolver pormenores difceis em seu roteiro.

    arriscado comear a escrever pormenorizadamente o roteiro semprimeiro conhecer bem as locaes isto , conhec-las como ativos epassivos de filmagem. Algumas cenas que voc programou podem, de fato, serimpossveis, devido a certas limitaes fsicas ou tcnicas da locao um

    aposento pequeno demais ou muito mal iluminado ou, aparecendo no fundo,uma tabuleta que voc no deseja na cena.

    Descoberta de cenrios visualmente significativos

    Talvez esteja me repetindo aqui, mas desejo acentuar a importncia deescolher locaes que trabalhem a seu favor. E no digo trabalhar meramente nosentido de proporcionar-lhe espao e objetos para filmar. Refiro-me a um

    cenrio que trabalhe no sentido de intensificar qualquer clima ou tema que vocdeseje explorar. O jovem cineasta que realizou O Despertar mudou cenrios

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    de locaes urbanas para suburbanas, como maneira de destacar a sensibilidadevariante do bbado. Quando minha classe realizou Comunicaes 101,escolhemos a sala de aulas mais fria e menos alegre que pudemos encontrarpara rodar o filme porque achamos que uma sala assim contribuiria para o

    tema do filme. Nenhum cenrio neutro. A locao de seu filme suaimpresso e seu poder de sugerir to importante como meio decomunicao cinematogrfica quanto a linha de sua histria, o desempenho deseus atores, seu trabalho de cmara, sua montagem e sua trilha sonora.

    Obteno de permisso para filmar em certas locaes

    Alguns realizadores de filme pessoal esquivam-se de filmar dentro ouperto de lojas varejistas, edifcios pblicos ou imveis de propriedade, ou sobadministrao de pessoas que no conhecem. Geralmente, porm, basta apenasexplicar aos proprietrios o que voc pretende fazer e obter permisso parafilmar. Raramente proprietrios tm recusado de maneira categrica permitirque meus alunos usem aposentos, edifcios ou terrenos para filmagem, a noser, naturalmente, quando prevem possveis perturbaes ou danos. Muitacoisa depende de como voc se apresenta. Assegure aos donos do imvel quevoc respeitar pessoas e propriedades, assim como os desejos do prprioproprietrio; e, naturalmente, cumpra sua promessa e mantenha boa vontade se no o fizer, o prximo cineasta que quiser usar para filmagem aquelaestranha casa velha ou aquele terreno, encontrar uma reao colrica doproprietrio.

    Existem cineastas atrevidos que invadem locais pblicos ou propriedadesprivadas e comeam a filmar sem pedir permisso a pessoa alguma. Algumatrevimento desejvel em um cineasta, mas no deve tomar a forma deflagrante desrespeito. Se se sentirem um pouco desajeitados por serem filmadosem uma locao constrangedora sem que voc tenha primeiro obtido permisso,seus atores podero no lhe dar bons desempenhos. Todos trabalharo maisrelaxados se voc fizer antecipadamente os necessrios arranjos.

    RECRUTAMENTO DE ELENCO E EQUIPE DE PRODUO

    H duas coisas a ter em mente quando voc seleciona atores para seufilme: So eles adequados aos papis e merecem confiana? As vezes vocprecisa submeter a um teste os atores potenciais, fazendo com que representemuma ou duas cenas para ver se so capazes de desempenhar os papis que temem mente para eles. Voc no precisa realmente filmar essas tentativas: limite-

    se a observar cuidadosamente e tentar imaginar como parecero osdesempenhos no filme. Muitos produtores de filme pessoal recrutam amigos

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    ntimos como atores. timo, s que s vezes se torna difcil dizer a um amigoque ele no adequado a certo papel (ou que no sequer capaz de representar).Voc poder ter algumas surpresas. Amigos que em sua opinio seriam grandesatores podem dar-lhe desempenhos decepcionantes, enquanto alguns de seus

    conhecidos menos extrovertidos podem revelar um talento que ningumconhecia.Alguns cineastas que conheo entraram em contato com professores de

    escolas de arte dramtica a fim de recrutar seus elencos. Algumas associaesforam estabelecidas entre cineastas que desejam realizar filmes e estudantes dearte dramtica ansiosos por representar. Essas associacs podem no resultarem amizades, mas no esse o ponto: associaes que permanecem em nvelmais formal podem mesmo oferecer vantagem, pois as relaes no sonubladas por consideraes pessoais.

    Recrutar numerosos intrpretes para papis pequenos como aquelesusados em Tarde Cinza pode ser um problema. Em geral, o realizador defilme pessoal entra em contato com seus intrpretes de papis pequenos,telefonando a amigos e fazendo circular a informao de que gostaria quemuitas pessoas se apresentassem em certa locao a determinada hora. Asvezes, recruta intrpretes de papis pequenos em classes que est freqentando.Quando o cineasta consegue fazer com que dez pessoas concordem emcomparecer para interpretar papis pequenos, ter sorte se na realidadeaparecerem trs. E os trs que aparecerem tendero a mostrar-se inquietosdepois de cerca de uma hora de filmagem, queixando-se de que esto com fomeou precisam ir ao banheiro.

    Este problema de conseguir que pessoas compaream e permaneam comvoc pode aplicar-se tambm aos atores principais, se no os escolheu comprudncia. Muitos filmes pessoais potencialmente belos precisaram serabandonados quando atores disponveis para filmagem em um fim de semanano puderam comparecer no fim de semana seguinte (ou assim disseram), nemno seguinte ou no seguinte. O remdio: conhea seus atores; explique-lhesfrancamente durante quantas horas, dias ou fins de semana voc precisar deseus servios. Superestime o tempo que levar para completar sua filmagem.

    No deixe que a filmagem seja uma brincadeira. um trabalho trabalhoagradvel, espero que voc ache mas ainda assim, trabalho.

    Alm de recrutar o elenco atores que efetivamente se apresentaro nofilme voc talvez deseje levar consigo uma ou duas pessoas para ajud-lo amover ou preparar acessrios, acompanhar o roteiro, segurar ou instalar luzes,ou segui-lo com a cmara e o trip para que voc possa dedicar toda ateno direo e outras questes artsticas. Poder tambm recrutar seu prpriooperador de cmara e, talvez, algum para gravar sons na locao. Comfreqncia o elenco ajuda; atores que no esto participando da filmagem de

    certas cenas podem mudar acessrios ou segurar o roteiro para voc. Vocrealmente deve ter pelo menos um assistente, algum que goste de coisas dessa

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    espcie. A filmagem, com freqncia, prossegue mais depressa e melhor se odiretor atribui tarefas especficas ao pessoal mo, de modo que cada um saibao que fazer e o faa, antes ou depois das tomadas.

    PROCURA DE CONSELHO

    Naturalmente, gosto de pensar que dou muitos bons conselhos neste livro,mas no me possvel cobrir todos os possveis problemas tcnicos ouconceituais que voc poder encontrar no planejamento de seu filme. Seumelhor caminho para procurar conselho tcnico atravs da principal loja decmaras de sua rea. Faa suas perguntas ao dono ou gerente da loja ao mesmotempo que compra seu filme. Geralmente, experientes proprietrios de lojas decmaras conhecem muita coisa a respeito de tecnologia cinematogrfica e teropacincia com suas perguntas. Mas tambm desejam seu negcio: ficarodecepcionados se lhe dedicarem muito tempo sem que voc compre coisaalguma deles.

    Voc poderia tambm procurar um professor de cinema ou um estdio paraobteno de conselhos tanto tcnicos como conceituais. Mesmo que voc noesteja freqentando cursos com esses professores, a maioria deles no se negara dedicar-lhe alguns minutos de seu tempo. Outros professores que poderiamdar-lhe valiosos conselhos conceituais so os de criao, arte dramtica e artesplsticas.

    FILMAGEM DE ROLOS DE TESTE

    Existem vrias razes para rodar um ou dois rolos de filme antes de iniciara verdadeira realizao: 1) voc pode estar usando uma cmara com a qual noesteja familiarizado e deseja ter certeza de que compreende seu funcionamentoou deseja ter certeza de que ela funciona, antes de reunir atores e equipamentoem locao para uma filmagem sria; 2) voc simplesmente deseja sentir a

    impresso de trabalhar com uma cmara como firm-la, como mov-la,como compor cenas, etc. antes de iniciar a realizao; 3) voc tem em menteum efeito especial que pode no dar certo, por isso deseja filmar um rolo deteste para experimentar; e 4) voc deseja testar exposio, tom de cor ouiluminao. Tenho visto numerosos filmes de Super 8 mm tecnicamente falhosque sairiam muito melhores e custado muito menos em sua produo seos cineastas rodassem rolos de teste antes de iniciar a filmagem.