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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA, CONTAGEM DE AGNOR’S E EXPRESSÃO DE C-KIT NO MASTOCITOMA CANINO Juliana Carvalho de Almeida Borges Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo GOIÂNIA 2013

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS CRITÉRIOS DE … · MASTOCITOMA CANINO Juliana Carvalho de Almeida Borges Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo GOIÂNIA 2013 . ii

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO

HISTOLÓGICA, CONTAGEM DE AGNOR’S E EXPRESSÃO DE C-KIT NO

MASTOCITOMA CANINO

Juliana Carvalho de Almeida Borges

Orientador: Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo

GOIÂNIA

2013

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JULIANA CARVALHO DE ALMEIDA BORGES

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO

HISTOLÓGICA, CONTAGEM DE AGNOR’S E EXPRESSÃO DE C-KIT NO

MASTOCITOMA CANINO

Dissertação apresentada para obtenção do

grau de Mestre em Ciência Animal junto à

Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás

Área de Concentração:

Patologia, Clínica e Cirurgia Animal

Linha de Pesquisa:

Patobiologia animal, experimental e comparada

Orientador:

Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo

Comitê de Orientação:

Profª Drª Veridiana Maria Brianezi Dignani de Moura

Profª Drª Yandra Cássia Lobato do Prado

GOIÂNIA

2013

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AGRADECIMENTOS

À Deus, o maior responsável por todas as oportunidades que me

fizeram chegar até aqui.

Ao meu Orientador, Prof. Dr. Eugênio Gonçalves de Araújo,

primeiramente por me aceitar como orientada, e pela sua grande amizade,

paciência, ensinamentos e imensa contribuição com o meu desenvolvimento

acadêmico.

Aos meus pais pelo amor e apoio incondicional, em todos os momentos

da minha vida;

Às minhas co-orientadoras, Profª Drª Veridiana Maria Brianezi Dignani

de Moura e Drª Yandra Cássia Lobato do Prado pela amizade e imensa

disposição em sempre ajudar no desenvolvimento desta pesquisa;

Em especial à querida amiga, doutoranda, Vanessa de Sousa Cruz

Pimenta, primeiramente pela amizade incondicional, pelo apoio na pesquisa, pelo

incentivo, pela ajuda na realização das técnicas laboratoriais, pelas sugestões no

trabalho e sua orientação amiga;

À Universidade Federal de Goiás e à Escola de Veterinária e

Zootecnia, por terem sido minha casa por quase 8 anos, contribuindo para o meu

crescimento profissional;

À Coordenação de Pós-Graduação em Ciência Animal da EVZ/UFG,

por permitir o desenvolvimento de mais este trabalho;

À CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel

Superior, pela bolsa de mestrado e ao CNPq pelo financiamento dos nossos

projetos;

Aos meus amigos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal

pelos maravilhosos momentos de estudo, lazer, pelas palavras de animo e

entusiasmo, além de contribuírem direta ou indiretamente com este trabalho,

especialmente a Janaína Costa Feistel, Fernando Augusto Fernandes Corrêa,

Danilo Rezende e Silva e Luciana Silva de Carvalho.

Ao Fabrício de Oliveira Pereira, amigo e colega de trabalho pela

excelente convivência, pelas infinitas risadas, pelo forte abraço e ombro amigo

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nos momentos de dificuldades pessoais e principalmente pelo auxílio e incentivo

na conclusão deste trabalho.

À amiga Lorena Lima Barbosa Guimarães pela amizade, pelo auxílio

laboratorial e por suas sugestões sempre tão importantes.

Aos professores da área de Patologia, Clínica e Cirurgia Animal da

EVZ/UFG pela amizade, pelos ensinamentos e pela contribuição de alguma forma

para a execução desta pesquisa;

A todos os estagiários, bolsistas, mestrandos, doutorandos e amigos

do Setor de Patologia Animal pelo convívio nesse período de mestrado;

Aos professores convidados, por aceitarem colaborar com a qualidade

desta dissertação participando da banca de defesa;

Aos secretários da pós-graduação, Gerson Luiz Barros e Andréia

Oliveira de Santana por sempre terem me recebido com atenção e presteza.

Meus sinceros agradecimentos.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS................................................................................................ x

LISTA DE TABELAS ............................................................................................. xii

LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................. xiii

RESUMO .............................................................................................................. xiv

ABSTRACT ........................................................................................................... xv

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................ 1

1 Introdução ........................................................................................................... 1

2 Caracterização do problema ............................................................................... 3

2.1 Mastócitos ........................................................................................................ 3

2.2 Mastocitoma canino.......................................................................................... 4

2.2.1 Estadiamento clínico ..................................................................................... 6

2.2.2 Diagnóstico .................................................................................................... 6

2.3 AgNOR ............................................................................................................. 9

2.4 C-KIT .............................................................................................................. 10

3 . Objetivos ......................................................................................................... 11

3.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 11

3.2 Objetivos específicos...................................................................................... 11

Referências .......................................................................................................... 12

CAPÍTULO 2 – ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS CRITÉRIOS DE

CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DO MASTOCITOMA CANINOErro! Indicador

não definido.

RESUMO .............................................................................................................. 17

CHAPTER 2 – COMPARATIVE STUDY OF TWO CRITERIA FOR

HISTOLOGICAL CLASSIFICATION OF CANINE MASTOCYTOMA ............... Erro!

Indicador não definido.7

ABSTRACT .........................................................................................................177

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 18

MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 19

RESULTADOS ..................................................................................................... 20

DISCUSSÃO.............................................................................................................25

CONCLUSÕES .................................................................................................... 27

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 27

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CAPÍTULO 3 – DETERMINAÇÃO DA FREQÜÊNCIA DE AGNOR’S E

EXPRESSÃO DE C-KIT AUMENTAM A EFICIÊNCIA DA CLASSIFICAÇÃO E

PROGNÓSTICO DO MASTOCITOMA CANINO ...... Erro! Indicador não definido.

RESUMO .............................................................................................................. 30

CHAPTER 3 - DETERMINATION OF THE FREQUENCY OF AGNOR'S AND

EXPRESSION OF C-KIT INCREASE THE EFFICIENCY OF CLASSIFICATION

AND PROGNOSIS OF CANINE MASTOCYTOMA .. Erro! Indicador não definido.

ABSTRACT .......................................................................................................... 30

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 31

MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 33

RESULTADOS ..................................................................................................... 36

DISCUSSÃO............................................................................................................41

CONCLUSÕES .................................................................................................... 44

REFERÊNCIAS ...................................................................................................444

CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................... 47

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Fotomicrografias de fragmento de mastocitoma cutâneo

canino Grau I. A) HE. B) Pardo de Bismark. Notam-se

células de tamanho uniforme, com forma redonda a oval,

citoplasma abundante, núcleo redondo a oval e grânulos

evidentes (setas). 400X .........................................................

21

FIGURA 2 Fotomicrografias de fragmento de mastocitoma cutâneo

canino classificados em grau intermediário. A e B) Células

pleomórficas (setas), quantidade moderada de citoplasma

(cabeça da seta), núcleos de formatos redondos a ovais. C)

Mastocitoma de grau intermediário, reavaliado em baixa

intensidade devido ao aspecto celular uniforme, citoplasma

abundante, núcleo redondo a oval (setas). D) Mastocitoma

de grau intermediário, reavaliado em alta intensidade.

Células multinucleadas (setas) pleomorfismo, citoplasma

moderado, núcleo redondo a oval. HE (A), Pardo de

Bismark (B, C D). 400X.........................................................

23

FIGURA 3 Fotomicrografias de fragmento de mastocitoma cutâneo

canino Grau III. A e B) Células pleomórficas com escassez

de citoplasma (setas), células binucleadas com

cariomegalia (cabeça da seta). Notar ausência de grânulos

em B. C) Mastocitoma reclassificado em alta intensidade.

Presença de células multinucleadas (setas), anisocitose

(seta redonda). D) Tumor reclassificado em baixa

intensidade. Mastócitos neoplásicos infiltrando o tecido

conjuntivo (setas), ausência de células multinucleadas, HE

(A, C e D), Pardo de Bismark (B). 100X.................................

24

FIGURA 1 Mastocitoma cutâneo canino. Os pontos pretos (setas)

representam as regiões organizadoras nucleolares

argirofílicas (AgNOR). A) Mastocitoma de baixa

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intensidade (AgNOR = 1,82), 40x. B) Mastocitoma de alta

intensidade (AgNOR= 2,06), 400x.......................................

36

FIGURA 2 Fotomicrografias de fragmentos de mastocitoma canino

marcados com anticorpo anti c-KIT. A e B apresentam

marcação citoplasmática compatível com padrão de baixa

intensidade. C e D evidênciam a positividade

citoplasmática difusa intensa, compatível com a categoria

de alta intensidade. 400X. DAB, contra-coloração com

hematoxilina................................................

38

FIGURA 3 Variação dos resultados das densidades ópticas das

regiões de alta intensidade, marcadas com o anticorpo

anti c-KIT. Valores expressos em pixels/polegada..............

39

FIGURA 4 Variação dos resultados das densidades ópticas das

regiões de baixa intensidade analisadas marcadas com o

anticorpo anti c-KIT. Notar a discrepância dos valores das

amostras 3 e 10. Valores expressos em pixels/polegada....

40

FIGURA 5 Gráfico evidenciando a densidade ótica da marcação por

c-KIT distribuição imunohistoquímica nas amostras de

mastocitomas cutâneos de cães, classificados de acordo

com os parâmetros de Kiupel. Valores expressos em

pixels/polegada ...................................................................

41

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1

Frequências absoluta e relativa das amostras de

mastocitoma cutâneo canino de acordo com a

classificação de PATNAIK et al (1984) ........................ 20

TABELA 2 Classificação das amostras de mastocitoma cutâneo

canino de acordo com a classificação de KIUPEL ...... 21

TABELA 1

Variáveis calculadas para AgNOR/núcleo, em

mastocitomas cutâneos caninos, para os dois grupos

histopatológicos (p<0,05) ............................................. 37

TABELA 2 Variáveis calculadas para imunomarcação de c-KIT,

em mastocitomas cutâneos caninos, para os grupos

de alta e baixa intensidade. Valores de densidade

óptica expressos em pixels/polegada........................... 39

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LISTA DE ABREVIATURAS

AgNOR – região organizadora nucleolar argirofílica

ATP – adenosina trifosfato

BSA – soro albumina bovina

CD117 – marcador de receptor tirosina quinase

DAB – diaminobenzidina

DNA – ácido desoxirribonucléico

EVZ – escola de Veterinária e Zootecnia

G1 – grau I de mastocitoma cutâneo

G2 – grau II de mastocitoma cutâneo

G3 – grau III de mastocitoma cutâneo

HE – hematoxilina e eosina

IC – intervalo de confiança

MCC – mastocitoma cutâneo canino

N – número de indivíduos na amostra

NORs – regiões organizadoras de nucléolos

OMS – organização Mundial de Saúde

PAAF – punção aspirativa por agulha fina

PBS – solução salina tamponada com fosfato

RNAr – áÁcido ribonucléico ribossomal

SCF – fator de células tronco

UFG – universidade Federal de Goiás

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RESUMO

Em cães, o mastocitoma é a neoplasia cutânea mais comum, representando até

21% de todos os tumores de pele. Ainda que o fator prognóstico mais consistente

no diagnóstico seja a avaliação histopatológica, diferentes sistemas de

classificação para o mastocitoma cutâneo canino são utilizados, reduzindo o valor

prognóstico da graduação histológica. O sistema de Patnaik, de classificação em

três níveis, ainda é o mais utilizado, mas muitas vezes essa graduação é

subjetiva, podendo um mesmo tumor ser classificado em diferentes graus por

patologistas distintos. Em 2011, KIUPEL e colaboradores propuseram um novo

sistema de classificação histológica, dividindo os tumores em duas classes, baixa

intensidade e alta intensidade. Objetivou-se com este estudo avaliar a

comparação entre os métodos classificatórios de Patnaik e Kiupel, e estabelecer

uma possível relação entre o comportamento biológico do mastocitoma

classificado de acordo com o método de Kiupel, por meio da técnica histoquímica

de AgNOR’s e da expressão de c-KIT. Amostras de mastocitoma cutâneo canino

dos arquivos do Laboratório de Patologia Animal da Escola de Veterinária e

Zootecnia da Universidade Federal de Goiás foram utilizadas para este fim. Além

de explicitar a subjetividade dos tumores classificados em grau intermediário pelo

sistema Patnaik, as análises indicaram que a graduação de Kiupel gerou maior

concordância entre os patologistas, confirmando sua maior eficiência. O índice

proliferativo, determinado pelo método de AgNOR’s, foi superior nos

mastocitomas de alta intensidade. A expressão de c-KIT em geral corroborou a

graduação histopatológica. Os resultados demonstraram que o novo sistema de

classificação histopatológica de Kiupel, aliado ao estudo histoquímico e

imunoistoquímico, é mais eficiente que o método de Patnaik para o diagnóstico

histológico e prognóstico do mastocitoma, ressaltando-se que a graduação

histológica não é um parâmetro suficiente, quando utilizado como ferramenta

única.

Palavras-chave: cães, graduação histológica, Kiupel

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ABSTRACT

In dogs, mastocytoma is the most common skin cancer, representing up to 21% of

all skin tumors. Although the most consistent prognostic factor in diagnosis is

histopathological evaluation, different classification systems for canine cutaneous

mast cell tumors are used, reducing the prognostic value of histological grading.

The Patnaik system, based on a three-level classification, is still the most used,

despite its subjectivity. In 2011, KIUPEL and collaborators proposed a new

histological classification system, sorting the tumors into two classes, low intensity

and high intensity. The objective of this study was to evaluate the comparison

between the methods of classification of Patnaik and Kiupel, and establish a

possible relationship between the biological behavior of Kiupel method classified

mastocytoma with the through the histochemical AgNOR's technique and the

expression of c-KIT. Samples of canine cutaneous mastocytoma from the

Laboratory of Animal Pathology, School of Veterinary and Animal Science, Federal

University of Goiás were used for this purpose. In addition to highlighting the

subjectivity of tumors classified as intermediate grade system by Patnaik, the

analysis indicated that the Kiupel’s method brought up greater agreement among

pathologists, confirming its efficiency. The proliferative index determined by

AgNOR's was greater in high intensity mastocytomas. In general, the expression

of c-KIT corroborated the histological classification. The results showed that the

new Kiupel classification system, is more efficient for the histological diagnosis

and prognosis of canine mastocytoma when coupled with immunohistochemical

and histochemical study.

Keywords: dogs, histologic grading, Kiupel

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CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES INICIAIS

1 Introdução

A dermatologia e a oncologia são as especialidades que mais se

destacaram nas últimas décadas na Medicina Veterinária de pequenos animais,

haja vista que tumores pele são a segunda condição dermatológica mais

diagnosticada. Em cães, o mastocitoma cutâneo é a neoplasia mais comum e

representa entre 7 a 21% de todos os tumores de pele e 11 a 27% das neoplasias

malignas (PULLEY & STANNARD, 1990); (STREFEZZI et al., 2003).

O mastocitoma é uma neoplasia cutânea, de origem mesenquimal,

caracterizado por uma proliferação neoplásica de mastócitos. Apresenta

comportamento biológico variável e imprevisível, com grande capacidade de

recidivas e metástases. Ocorre em todas as espécies domésticas e sua

manifestação mais comum é a cutânea, embora possa ocorrer envolvimento

ósseo ou visceral, principalmente em diferentes localizações do trato

gastrintestinal. Cães de raças de porte grande apresentam risco maior de

desenvolver mastocitoma do que os de raças de porte pequeno (GOLDSCHMIDT

& HENDRICK, 2002; RECH et al., 2004; DIAS, 2007; WHITE et al., 2011.

O fator prognóstico mais consistente no diagnóstico de cães com

mastocitoma é a avaliação histopatológica. O grau histopatológico é determinado

após biópsia incisional ou excisional e correlaciona-se significativamente com a

escolha do tratamento. Recidivas, probabilidade de metastização e sobrevida

animal são associadas à determinação do grau de diferenciação celular.

(FURLANI et al., 2008).

Existem vários sistemas de classificação para o mastocitoma cutâneo

canino (MCC) citados na literatura, como o de Hottendorf & Nielsen (1967), o de

Bostock (1973), o de Patnaik et al., (1984), o de Morris e Dobson (2001) e o de

Meuten (2002). No entanto, a classificação de Patnaik é a mais utilizada pelos

patologistas por ser seu método de graduação mais completo (STREFEZZI et al.,

2010). Neste sistema, os tumores de Grau I são bem diferenciados com presença

de mastócitos neoplásicos na derme superficial ou profunda. No Grau II, os

tumores são maiores, tendo os mastócitos diferenciação moderada, invasão da

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derme profunda e tecido subcutâneo. No Grau III, os mastócitos apresentam

localização extensiva na derme e subcutâneo, células pleomórficas

multinucleadas e células gigantes, citoplasma indistinto e núcleo redondo com um

ou mais nucléolos proeminentes (PATNAIK et al., 1984).

Para BOSTOCK et al. (1989) muitas vezes a graduação histológica é

subjetiva, ou seja, um mesmo mastocitoma pode ser classificado com grau

diferente por patologistas distintos. Esta possibilidade é maior quando se trata de

mastocitomas classificados como grau II, devido ao amplo comportamento

biológico designado a este grau (BOSTOCK et al., 1989).

Em 2011, KIUPEL e colaboradores propuseram um novo sistema de

classificação histológica para melhorar a concordância entre patologistas. O

sistema Kiupel divide os tumores em duas classes, baixo grau (intensidade) e alto

grau (intensidade) de acordo com a frequência de alterações citológicas das

células tumorais, como figuras de mitose, núcleos múltiplos e bizarros, e

cariomegalia. Invasão tumoral, reação do estroma e grânulos intracitoplasmáticos

não estão incluídos nos critérios de classificação de Kiupel (KIUPEL et al., 2011).

Nos últimos anos, alguns pesquisadores vêm propondo a utilização de

novas técnicas para avaliar o prognóstico dos pacientes com mastocitoma. Dentre

essas técnicas, destaca-se o método da região organizadora nucleolar argirofílica

(AgNOR). Demonstrou-se que a técnica de AgNOR é menos subjetiva do que a

avaliação histológica baseada nos graus de diferenciação (GOLDSCHMIDT &

HENDRICK, 2002).

Outra alternativa para o diagnóstico é a utilização do anticorpo anti c-

KIT, que promove imunomarcação eficiente em mastócitos neoplásicos. Essa

análise contribui para maior eficiência do diagnóstico, avaliação da progressão da

neoplasia, provável resposta à terapia e estimativa de sobrevida animal

(LONDON & SEGUIN, 2003).

Dessa forma, considera-se oportuno reunir informações importantes

sobre a avaliação histológica e histoquímica na nova proposta de classificação do

mastocitoma canino, utilizando o método de AgNOR para marcação de nucléolos

e um marcador de ativação e desenvolvimento tumoral, o c-KIT, para estabelecer

um comparativo do comportamento biológico com o novo método de graduação.

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2 Caracterização do problema

2.1 Mastócitos

As células mastocitárias foram descritas pela primeira vez por Paul

Ehrlich em 1878 e o primeiro relato que se tem, de seu cultivo in vitro, foi no início

do ano de 1960, por GINSBURG e colaboradores, sendo posteriormente

cultivadas, por ISHIZAKA e pesquisadores, através de células do timo de ratos

(GINSBURG & LAGUNOFF, 1967; ISHIZAKA et al., 1976).

Os mastócitos são células complexas, multifuncionais, que apresentam

papel central na imunidade natural e adquirida. Eles são formados a partir das

células multipotentes hematopoiéticas, expressando o antígeno CD34, e iniciam

sua diferenciação sob influência do fator de células tronco (SCF), e da IL-3 de

uma linhagem distinta de monócitos, macrófagos e de precursores dos

granulócitos. Fibroblastos também contribuem para diferenciação e maturação

local de mastócitos através do SCF, do fator de crescimento do nervo e de outros

mecanismos (RODEWALD et al., 1996; VAN GYSEL et al., 2006).

Os mastócitos são encontrados principalmente em tecidos epiteliais de

revestimento, tais como a pele, a mucosa do trato respiratório e gastrointestinal. E

estão associadas aos vasos sanguíneos e em estreita proximidade com os nervos

periféricos. No cão, os órgãos que contém maior número de mastócitos são

pulmões, pele, intestino e fígado (O'KEEFE, 1990; JOHNSON & KRENGER,

1992; SAITO et al., 2013).

As funções mais importantes dos mastócitos são sintetizar e

armazenar mediadores e substâncias químicas da reação inflamatória. Um

aspecto característico de mastócitos maduros é a presença de grânulos

citoplasmáticos que contêm substâncias biologicamente ativas como a histamina,

a heparina, a dopamina, as prostaglandinas e diferentes interleucinas. Além da

indução da inflamação aguda, há também uma participação dos mastócitos na

reparação tecidual da inflamação crônica, das reações agudas e tardias da

anafilaxia e condições proliferativas como a mastocitose e o mastocitoma (DIAS,

2007).

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A mastocitose caracteriza-se pelo acúmulo anormal de mastócitos na

pele ou em outros órgãos e tecidos. Dependendo do órgão envolvido, a

mastocitose pode ser classificada em cutânea ou sistêmica. Nos canídeos, a

classificação dos tumores de origem hematopoiética não contempla a existência

da mastocitose, como definida nos humanos, sendo, portanto uma proliferação de

mastócitos não-neoplásicos em processos reativos dos tipos reações

inflamatórias e alérgicas (VALENT et al., 2001; THAMM & VAIL, 2007).

2.2 Mastocitoma canino

O mastocitoma canino é uma proliferação maligna, de mastócitos, que

corresponde a aproximadamente 11% dos tumores da pele do cão. A exata

etiologia ainda é desconhecida, mas é provavelmente multifatorial. Em ocasiões

raras, essas neoplasias estão associadas às lesões inflamatórias crônicas, e à

exposição contínua da pele, a substâncias irritantes. Alterações genéticas são

cruciais para o desenvolvimento de células neoplásicas, as modificações no gene

supressor tumoral p-53 e nas vias que regulam o ciclo celular foram relatadas

como possíveis causas para o desenvolvimento dos mastocitomas. Descreveu-se

também a existência de mutações, no ponto do gene c-KIT, que codifica o

domínio justamembrana do receptor tirosina quinase, em mastócitos neoplásicos,

justificando o crescimento descontrolado dos tumores (ZEMKE et al., 2002;

THAMM & VAIL, 2007; VILLAMIL et al., 2011; BLACKWOOD et al., 2012).

O mastocitoma cutâneo ocorre em animais de todas as idades, porém

é mais frequente em cães com média de nove anos. Não existe uma predileção

sexual, contudo há evidências de predisposição racial, sugerindo contribuição

genética para o desenvolvimento do mastocitoma e influenciando na

suscetibilidade individual à agressividade do tumor. Cães da raça Boxer, Labrador

Retriever e Golden Retriever são descritas como as mais predispostas ao

mastocitoma (THAMM & VAIL, 2007; WARLAND, 2013).

A manifestação mais comum é a cutânea. Porém, com menor

frequência, pode ocorrer envolvimento ósseo ou visceral primário de cavidade

oral, mucosa nasal, nasofaringe, laringe, traquéia, estômago, intestino, fígado,

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baço, rim, conjuntiva ou canal espinhal extradural (OZAKI et al., 2002), (LONDON

& SEGUIN, 2003).

A maioria dos mastocitomas caninos ocorre na derme e tecido

subcutâneo, sendo os tumores de origem subcutânea, menos agressivos.

Considerando o local anatômico das lesões, os mastocitomas preferencialmente

se desenvolvem na região corporal médio-caudal, incluindo períneo, membros

posteriores, abdômen e genitália. Cabeça e pescoço são regiões de menor

ocorrência (ROSSETO et al., 2009; THOMPSON et al., 2011).

O aspecto clínico do mastocitoma cutâneo canino é bastante variável,

sendo similar a outros tumores, dificultando o diagnóstico macroscópico. As

lesões podem ser firmes ou flutuantes, papulares, nodulares ou pedunculadas, de

localização dérmica a subcutânea, sendo bem ou mal circunscritas, associadas à

alopecia e ulceração. A variação de tamanho pode ser de poucos milímetros a

vários centímetros de diâmetro. O tumor é frequentemente acompanhado dos

sinais clínicos da inflamação, especialmente o edema (THAMM & VAIL, 2007).

MORRIS & DOBSON, (2001) relataram que o comportamento clínico

do mastocitoma canino varia de acordo com o grau de intensidade da neoplasia.

Quando menor, apresenta-se como um nódulo solitário, podendo ulcerar pela

pele, em alguns casos. Irritação e hiperemia poderão ocorrer se houver liberação

de histamina pelas células tumorais. Nos casos mais agressivos, os tumores

podem se apresentar grandes, mal definidos, de consistência macia. Metástases

podem ocorrer por disseminação hematógena ou linfática.

As consequências da liberação dos grânulos mastocitários constituem

uma série de eventos, que decorrem de ações não invasivas do neoplasma, em

sítios distantes do tumor primário, ou de suas metástases, denominando-se

Síndrome Paraneoplásica do Mastocitoma. A liberação da histamina, ocasiona a

reação anafilática. Ela estimula as células parietais do estômago a produzirem

ácido clorídrico, causando danos ao endotélio vascular da mucosa

gastrointestinal, o que resulta em necrose e úlceras gastroduodenais, que

normalmente são múltiplas. Sinais relacionados à pele como prurido, eritema e

edema também decorrem da liberação continuada de histamina pelas células

neoplásicas. Já a liberação continuada de heparina, por sua vez, prolonga o

tempo de coagulação sanguínea, resultando em hemorragia (JONES et al., 2000).

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Distúrbios paraneoplásicos do sistema nervoso são frequentes em

seres humanos, contudo, em animais, a incidência dessas alterações ainda é

desconhecida. Há relatos na literatura, de um número pequeno, de ocorrências de

neuropatia paraneoplásica em animais da espécie canina. Os principais sinais

clínicos são fraqueza, intolerância a exercícios, hipotonia muscular, paresia ou

paralisia de membros torácicos e pélvicos, atrofia muscular neurogênica e

reflexos espinhais reduzidos ou ausentes (MORRISON, 2002; VINCENT, 2005).

2.2.1 Estadiamento clínico

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o

mastocitoma apresenta quatro estádios clínicos, os quais determinam a extensão

da doença no organismo. No estádio I, o tumor apresenta-se confinado à derme,

sem envolvimento dos linfonodos regionais. No estádio II, o tumor está confinado

à derme, com envolvimento dos linfonodos regionais. Já no estádio III, há

múltiplos tumores na derme ou apenas uma grande neoplasia infiltrativa com ou

sem envolvimento dos linfonodos regionais e no estádio IV, tem-se metástase ou

recidiva e enfermidade sistêmica. A forma determinante para se estabelecer o

estágio clínico, do mastocitoma, é através do exame físico completo do animal,

com especial atenção à palpação dos linfonodos e presença de hepato e

esplenomegalia e, dessa forma, tomar-se a decisão terapêutica mais adequada

(DIAS, 2007).

2.2.2 Diagnóstico

O diagnóstico do mastocitoma pode ser feito pelos exames

citopatológico, utilizando a punção aspirativa por agulha fina (PAAF), e

histopatológico, a partir de fragmentos de tecidos oriundos de biópsia incisional ou

excisional. Tanto ao exame citopatológico quanto histopatológico os mastócitos

são caracterizados a partir da morfologia celular e da quantidade e tamanho dos

grânulos citoplasmáticos. O método PAAF é simples e confiável para o

diagnóstico, no entanto, a histopatologia é necessária para graduar o tumor e

determinar, nos casos de exéreses cirúrgicas, se as margens de tecido normal

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estão livres de células neoplásicas. Além da avaliação da amostra tumoral, o

exame do linfonodo regional (drenante) é eficaz na detecção de infiltração e

metástases (LAVALLE et al., 2003; STREFEZZI et al., 2010).

A afinidade granular aos corantes básicos permite identificação

específica de mastócitos, tanto no diagnóstico quanto na identificação do grau de

diferenciação do tumor. Para tal, as colorações preconizadas são Giemsa e azul

de toluidina, nos exames cito e histopatológico, respectivamente. Nessas

colorações, os grânulos tingem-se de vermelho ou púrpura, característica

denominada metacromasia. A proporção de coloração de azul de toluidina é um

parâmetro importante, pois se observa uma coloração mais intensa nos tumores

melhor diferenciados, ou seja, os classificados como mastocitomas de baixa

intensidade (MEUTEN, 2002; PRADO et al., 2012).

MORRIS & DOBSON (2001) relataram que o grau de diferenciação

celular, o índice de mitose e invasão de tecidos adjacentes são eficientes para

graduar histologicamente o mastocitoma. Três graus são descritos: no primeiro, o

tumor é bem diferenciado e prognóstico favorável; no segundo, o tumor é

moderadamente diferenciado, sendo intermediário tanto no aspecto histológico,

como no comportamento; no terceiro, o tumor é pouco diferenciado, invasivo, com

alta taxa de metástase e pobre prognóstico.

MEUTEN (2002) sugeriu uma correlação entre o grau de diferenciação

celular e biológico, descrevendo um sistema de classificação apresentando três

classes. Na primeira classe, os tumores são confinados à derme, na segunda e

terceira se estendem até o tecido subcutâneo divergindo em seu grau de

diferenciação. Neste sistema, os tumores de Grau I (G1) são bem diferenciados

com pouca ou sem mitose. No Grau II (G2) são maiores, menos delimitados, se

estendem até a derme profunda e hipoderme, com pleomorfismo nuclear leve e

índice de mitose menor que dois por campo. No Grau III (G3), os tumores são

compostos por células anaplásicas com tamanhos variados, núcleos

proeminentes, grânulos citoplasmáticos menos numerosos e por vezes não

identificáveis sem a utilização de colorações histoquímicas especiais e figuras de

mitose frequentes.

A classificação mais utilizada, no entanto, ainda é o sistema de

graduação estabelecido por PATNAIK et al. (1984). Neste sistema, os tumores de

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Grau I são bem diferenciados com presença de mastócitos neoplásicos na derme

superficial ou profunda, com células redondas a ovais, uniformes, tendo

citoplasma abundante e bem delimitado e núcleo redondo. As células neoplásicas

se assemelham aos mastócitos normais e estão arranjadas em cordões e/ou

camadas finas.

No Grau II, os tumores são maiores, tendo os mastócitos diferenciação

moderada, invasão da derme profunda e subcutâneo, células redondas a ovais a

moderadamente pleomórficas com raras células binucleadas, citoplasma distinto a

indistinto, núcleo redondo com um ou mais nucléolos visíveis. As células

neoplásicas ainda estão arranjadas em cordões, porém, mais desorganizadas e

com padrão infiltrativo de crescimento. Apresentam menor quantidade de

grânulos citoplasmáticos (PATNAIK et al., 1984; GROSS et al., 2005).

No Grau III ou pouco diferenciados, os mastócitos apresentam

localização extensiva na derme e subcutâneo. As células neoplásicas estão

organizadas em camadas sólidas e os grânulos não são discerníveis às

colorações de rotina. Mesmo as especiais podem exibir pouca metacromasia. As

células são pleomórficas, multinucleadas, o citoplasma está indistinto, o núcleo

redondo com um ou mais nucléolos proeminentes. Há poucos eosinófilos e o

estroma é escasso ou inexistente (PATNAIK et al., 1984; GROSS et al., 2005).

O uso dos diferentes sistemas de classificação dos mastocitomas pelos

patologistas veterinários faz o valor prognóstico da graduação histológica ser

altamente questionável. Em 1989, BOSTOCK e outros pesquisadores já

contestavam a subjetividade da graduação histológica. Questionava-se a

possibilidade de um mesmo mastocitoma ser classificado com grau diferente por

patologistas distintos, principalmente quando se trata de mastocitomas

classificados como grau II, devido ao amplo comportamento biológico designado a

este grau (BOSTOCK et al., 1989; SCASE et al., 2006; TAKEUCHI et al., 2013).

Consequentemente, com vistas à concordância entre patologistas, um

novo sistema de avaliação histológica foi proposto por Kiupel e colaboradores,

classificando os mastocitomas caninos em baixa e alta intensidade, considerando-

se alta quando da presença de pelo menos um dos seguintes critérios em dez

campos analisados: sete figuras de mitose, três células multinucleadas e três

núcleos atípicos (KIUPEL et al., 2011).

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2.3 AgNOR

A mensuração, da atividade celular proliferativa, pode acrescentar

informações importantes para a formulação de um prognóstico mais confiável em

doenças neoplásicas. O método citológico da região organizadora nucleolar

argirofílica (AgNOR- argirophilic nucleolar organizer region) mede grau de

proliferação celular e essa técnica tem sido utilizada, nas últimas décadas, como

um marcador tumoral eficiente na medicina (GOLDSCHMIDT & HENDRICK,

2002; RECH et al., 2004).

As regiões organizadoras de nucléolos (NORs) são alças de ácido

desoxirribonucléico (DNA) responsáveis por sintetizar ácido ribonucléico

ribossomal (RNAr) durante a intérfase, período de síntese protéica e de aumento

de volume, tamanho e número de organelas da célula. É no nucléolo, localizado

no núcleo celular, que há armazenamento e produção de RNAr, que ligados à

várias proteínas irão formar os ribossomos. Esses genes RNA ribossomais

possuem papel importante na transformação maligna. Um aumento no número de

AgNOR seria o resultado de proliferação celular com aumento na transcrição e

aumento do conteúdo celular de DNA, o que ocorre em células que proliferam

mais ativamente (PLOTON et al., 1986; SERAKIDES et al., 1999).

A técnica de AgNOR permite visualizar o nucléolo e estudar a variação

do tamanho do nucléolo e o número de pontos corados pela prata em tecidos. À

microscopia eletrônica, as regiões organizadoras nucleolares argirofílicas,

marcam-se como pontos marrons escuros a castanhos (PLOTON et al., 1986),

(DIAS, 2007).

AgNORs em células normais aparecem de tamanho regular e forma

redonda, mas em tecidos malignos, surgem menos uniformes em tamanho e

forma, assumindo frequentemente formas estranhas (THIELE et al., 2013).

A utilização da técnica de AgNOR em mastocitomas caninos foi

descrita pela primeira vez em 1989, por Bostock e colaboradores. Estudos da

técnica em neoplasias humanas mostraram que o número de AgNORs por núcleo

correlaciona-se com o grau histológico, sendo pior o prognóstico, quanto maior o

número de pontos argirofílicos intranucleares visualizados (BOSTOCK et al.,

1989; TOMITA et al., 1993).

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2.4 C-KIT

Células-tronco são células capazes tanto de diferenciação como de

autorrenovação. As células-tronco hematopoéticas são as mais extensivamente

pesquisadas e podem ser divididas em três tipos: células-tronco hematopoéticas

com capacidade de autorrenovação a longo-termo, células-tronco hematopoéticas

com capacidade a curto termo e progenitores multilinhagem. C-KIT, também

designado CD117 ou KIT, é um dos marcadores de superfície presentes em

células-tronco hematopoéticas com capacidade de autorrenovação a longo-termo

(REYA et al., 2001).

Enquanto a exata etiologia do mastocitoma permanece desconhecida,

sua patogênese relacionada à expressão do c-KIT e sua detecção usando

imunoistoquímica, está bem estabelecida. Um dos mecanismos propostos para a

proliferação de mastócitos em cães é a alteração da sequência de nucleotídeos

do gene c-KIT. Todos os mastocitomas caninos expressam c-KIT, ainda que a

intensidade de reação seja diferente. Aproximadamente 40% dos mastocitomas

apresentam mutações de c-KIT Os tumores de maior grau de malignidade

apresentam sua expressão mais elevada (LONDON et al., 1999; REGUERA et al.,

2000; WELLE et al., 2008).

O proto-oncogene c-KIT codifica a proteína KIT, cuja fosforilação leva a

ativação de receptores tirosina quinase em mastócitos, estimulando a maturação,

proliferação. A falta de SCF ou do gene c-KIT inibe o desenvolvimento de

mastócitos (TIZARD, 2002).

O gene c-KIT codifica um tipo III de receptor da proteína tirosina

quinase, que é composta de ligantes extracelulares (codificado por exons de 1-9

de c-KIT), um segmento transmembrana único (exon 10), um domínio

justamembrana (exons 11 e 12) e um domínio tirosina quinase citoplasmática, que

é dividido por uma inserção no ATP-ligante (exon 13) e lobos fosfotransferase

(exon 17). Várias mutações, incluindo deleções, foram identificadas nos domínios

extracelulares de c-KIT, (exons 8 e 9), justamembrana (exon 11), e

fosfotransferase (exon 17). Mutações no domínio justamembrana do gene c-KIT

causam auto-fosforilação resultando em ativação de c-KIT e desenvolvimento

tumoral (ROSKOSKI, 2005).

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3 . Objetivos

3.1 Objetivo Geral

Nesse trabalho procurou-se descrever o padrão histológico e

histoquímico do mastocitoma canino, seguindo a nova proposta de classificação

de Kiupel, estabelecendo um comparativo do comportamento biológico por meio

do método de AgNOR e a expressão imunoistoquímica de c-KIT, em amostras

obtidas do Laboratório de Patologia Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia

da UFG, do período de janeiro de 2007 a abril de 2011.

3.2 Objetivos específicos

Analisar o padrão histológico do mastocitoma canino no novo modelo de

graduação de Kiupel.

Verificar a frequência de AgNOR nos mastócitos neoplásicos, comparando

com a graduação histológica.

Comparar resultados quantitativos da expressão de c-KIT no novo modelo de

graduação histológica de Kiupel.

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CAPÍTULO 2 – ESTUDO COMPARATIVO ENTRE DOIS CRITÉRIOS DE

CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA DO MASTOCITOMA CANINO

RESUMO

O grau de diferenciação celular, índice mitótico e invasão de tecidos adjacentes

são considerados parâmetros eficientes para graduar histologicamente o

mastocitoma canino. Atualmente, a classificação mais utilizada ainda é o sistema

de três graus estabelecido por Patnaik, que muitas vezes é subjetiva.

Redentemente, Kiupel e colaboradores propuseram um novo sistema de

classificação histológica, dividindo os tumores em duas classes, baixa intensidade

e alta intensidade. No presente estudo, foram comparados os métodos

classificatórios de Patnaik e Kiupel, em fragmentos de mastocitoma canino. Os

resultados indicaram que a graduação de Kiupel apresentou maior concordância

entre os patologistas e permitiram constatar a subjetividade dos tumores

classificados em grau II pelo sistema Patnaik, sendo o modelo proposto por Kiupel

mais eficiente nesses casos.

Palavras-chave: neoplasia, cão, prognóstico.

COMPARATIVE STUDY OF TWO CRITERIA FOR HISTOLOGICAL

CLASSIFICATION OF CANINE MASTOCYTOMA

ABSTRACT

The degree of cell differentiation, mitotic index and invasion of adjacent tissues are

considered efficient parameters to histological grading of canine mastocytoma.

Currently, the most widely used classification method is still the three-grade

system established by Patnaik, which is often subjective. Recently, Kiupel and

collaborators proposed a new histological classification system, sorting the tumors

into two classes, low intensity and high intensity. In the present study, we

compared Patnaik and Kiupel methods, to grade canine mastocytoma samples.

The results indicated that Kiupel’s method increases concordance among

pathologists and allows to assess the subjects' tumors with grade II system by

Patnaik, with the model proposed by Kiupel more efficient in these cases.

Keywords: neoplasia, dog, prognosis.

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INTRODUÇÃO

O mastocitoma é um tumor cutâneo, de origem mesenquimal,

caracterizado por uma proliferação neoplásica de mastócitos, comportamento

biológico variável e imprevisível, com grande capacidade de recidivas e

metástases. Alterações genéticas, como as modificações no gene supressor

tumoral p-53 e nas vias que regulam o ciclo celular, são cruciais para o

desenvolvimento dos mastocitomas, (MEUTEN, 2002; RECH et al., 2004; DIAS,

2007; THAMM & VAIL, 2007).

Ocorre em animais de todas as idades, porém é mais frequente em

cães com média de nove anos. Cães da raça Boxer, Labrador Retriever e Golden

Retriever são descritos como os mais predispostos ao mastocitoma (THAMM &

VAIL, 2007; WARLAND, 2013).

O diagnóstico do mastocitoma pode ser feito pelos exames

citopatológico e histopatológico, em que os mastócitos são caracterizados a partir

da morfologia celular e da quantidade e tamanho dos grânulos citoplasmáticos.

Alguns sistemas de classificação de mastocitoma cutâneo canino são descritos.

Bostock (1973) classificou mastocitomas, como Grau I, aqueles pobremente

diferenciados, Grau II, de diferenciação intermediária e Grau III, neoplasias bem

diferenciadas (LAVALLE et al., 2003; STREFEZZI et al., 2010).

A classificação mais utilizada, no entanto, ainda é o sistema de

graduação estabelecido por PATNAIK et al. (1984). Neste sistema, os tumores de

Grau I são bem diferenciados com presença de mastócitos neoplásicos na derme

superficial ou profunda, com células redondas a ovais, uniformes, tendo

citoplasma abundante e bem delimitado e núcleo redondo, semelhantes aos

mastócitos. No Grau II, os tumores são maiores, os mastócitos diferenciação

moderada, invasão da derme profunda e subcutâneo, células redondas a ovais a

moderadamente pleomórficas com raras células binucleadas, citoplasma distinto a

indistinto, núcleo redondo com um ou mais nucléolos visíveis e menor quantidade

de grânulos. No Grau III ou pouco diferenciados, os mastócitos apresentam

localização extensiva na derme e subcutâneo. As células neoplásicas se

organizam em camadas sólidas e os grânulos não são discerníveis às colorações

de rotina (PATNAIK et al., 1984; GROSS et al., 2005).

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O uso dos diferentes sistemas de classificação dos mastocitomas,

pelos patologistas veterinários faz o valor prognóstico, da graduação histológica

ser altamente questionável. Desde 1989, BOSTOCK e outros pesquisadores já

contestavam a subjetividade da graduação histológica. Discutia-se a possibilidade

de um mesmo mastocitoma ser classificado com grau diferente por patologistas

distintos, principalmente quando se trata de mastocitomas classificados como

grau II, devido ao amplo comportamento biológico designado a este grau

(BOSTOCK et al., 1989; SCASE et al., 2006; TAKEUCHI et al., 2013).

Em 2011, KIUPEL e colaboradores propuseram um novo sistema de

classificação histológica, para melhorar a concordância entre patologistas. O

sistema Kiupel divide os tumores em duas classes, baixa intensidade e alta

intensidade, considerando-se alta quando da presença de pelo menos um dos

seguintes critérios em dez campos analisados: sete figuras de mitose, três células

multinucleadas e três núcleos atípicos (KIUPEL et al., 2011).

Desta forma, o objetivo deste trabalho foi realizar a classificação

histológica de casos de mastocitoma canino de acordo com os novos critérios de

graduação propostos por KIUPEL et al (2011), estabelecendo uma comparação

com a classificação de PATNAIK et al., 1984.

MATERIAL E MÉTODOS

O projeto foi desenvolvido na Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ)

da Universidade Federal de Goiás (UFG). As análises histológicas e

histoquímicas foram realizadas no Laboratório de Histopatologia do Setor de

Patologia Animal da Escola de Veterinária e Zooctenia (EVZ) da Universidade

Federal de Goiás (UFG).

O estudo foi realizado com 30 amostras, previamente incluídas em

parafina, selecionadas a partir dos arquivos do Laboratório de Patologia Animal

da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás, do

período de janeiro de 2007 a abril de 2011. Os fragmentos, com espessura de

5µm, foram seccionados em micrótomo automático, aderidos em lâminas

histológicas para. Protocolos de rotina do Laboratório de Histopatologia da

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EVZ/UFG foram utilizados para a coloração (HE) hematoxilina-eosina e pardo de

Bismarck (LEACH, 1947; LUNA, 1968).

As lâminas foram montadas com meio a base de tolueno (Entellan,

Merck, Alemanha) e lamínulas histológicas. A avaliação foi feita em microscópio

de luz para promover a categorização do mastocitoma nos diferentes graus,

inicialmente adotando o sistema de graduação, de três classes, estabelecido por

PATNAIK et al. (1984) e posteriormente o método proposto por KIUPEL et al.

(2011) que divide os tumores em duas classes, baixa intensidade e alta

intensidade, considerando-se alta quando da presença de pelo menos um dos

seguintes critérios em dez campos analisados: sete figuras de mitose, três células

multinucleadas e três núcleos atípicosdez campos analisados, em (KIUPEL et al.,

2011).

As duas classificações foram comparadas entre si.

RESULTADOS

O total de registros, de mastocitoma cutâneo canino, avaliados no

período estudado, foi classificado de acordo com o grau histológico estabelecido

por PATNAIK et al. (1984). A tabela 1 expõe as frequências das amostras

histológicas, distribuídas na classificação de três graus. Posteriormente, as

mesmas amostras foram reexaminadas e graduadas de acordo com o sistema de

classificação de KIUPEL et al (2011) em dois níveis: baixa intensidade e alta

intensidade, para efeito comparativo (Tabela 2).

Tabela 1 – Frequências absoluta e relativa das amostras de mastocitoma cutâneo

canino de acordo com a classificação de PATNAIK et al (1984)

Graduação Frequência Relativa (%) Frequência Absoluta

Grau I 20 6

Grau II 50 15

Grau III 30 9

Total 100 30

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Tabela 2 – Classificação das amostras de mastocitoma cutâneo canino de acordo

com a classificação de KIUPEL

Classificação de Kiupel Frequência Relativa (%) Frequência Absoluta

Alta Intensidade 53,33 16

Baixa Intensidade 46,67 14

Total 100 30

De acordo com a classificação de PATNAIK et al (1984), todos os

tumores classificados como grau I, apresentaram suas células com aspecto

uniforme, de tamanho redondo a oval, citoplasma abundante, núcleo redondo a

oval e localizaram-se na derme superficial. Comparando-se os achados da

classificação morfológica descritiva com os da graduação histopatológica, dentre

os 30 registros de mastocitomas cutâneos caninos, os seis casos (20%)

classificados como grau I, pelo sistema Patnaik foram reclassificadas em

mastocitomas de baixa intensidade pelo método de KIUPEL et al. (2011). As

características, dessas amostras, podem ser visualizadas na Figura 1.

FIGURA 1 – Fotomicrografias de fragmentos de mastocitoma cutâneo

canino Grau I. A) HE, 400X. B) Pardo de Bismark, 400X.

Nas duas figuras notam-se células de tamanho uniforme,

com forma redonda a oval, citoplasma abundante, núcleo

redondo a oval e grânulos evidentes (setas).

B A

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Dos 15 casos, classificados como grau II, de acordo com Patnaik, 70%

dos tumores localizaram-se na derme superficial, assim como os tumores de grau

I e apenas 30% das demais amostras localizavam-se na derme profunda.

Anisocitose, pleomorfismo e algumas células multinucleadas estavam presentes,

havia uma quantidade moderada de citoplasma e o núcleo apresentou-se de

formato redondo a oval (Figura 2 A e B). Em comparação com a classificação de

Kiupel, nove (60%), das 15 amostras, foram reclassificadas em mastocitomas de

baixa intensidade (Figura 2 C e D) e seis (40%) como alta intensidade, como pode

ser visualizado na Figura 3.

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FIGURA 2 – Fotomicrografias de fragmentos de mastocitoma cutâneo

canino classificados em grau II. A e B) Células

pleomórficas (setas), quantidade moderada de citoplasma

(cabeça da seta), núcleos de formatos redondos a ovais.

C) Mastocitoma de grau intermediário, reavaliado em baixa

intensidade devido ao aspecto celular uniforme, citoplasma

abundante, núcleo redondo a oval (setas). D) Mastocitoma

de grau intermediário, reavaliado em alta intensidade.

Células multinucleadas (setas), pleomorfismo, citoplasma

moderado, núcleo redondo a oval. HE (A), Pardo de

Bismark (B, C e D). 400X.

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FIGURA 3 – Fotomicrografias de fragmento de mastocitoma cutâneo

canino Grau III. A e B) Células pleomórficas com escassez de

citoplasma (setas), células binucleadas com cariomegalia

(cabeça da seta). Notar ausência de grânulos em B. C)

Mastocitoma reclassificado em alta intensidade. Presença de

células multinucleadas (setas), anisocitose (seta redonda). D)

Tumor reclassificado em baixa intensidade. Mastócitos

neoplásicos infiltrando o tecido conjuntivo (setas), ausência de

células multinucleadas, HE (A, C e D), Pardo de Bismark (B).

100X.

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Apresentando características morfológicas acentuadamente malignas,

80% dos tumores grau III encontraram-se na derme profunda, exibindo o caráter

invasivo da neoplasia e apenas 20% que estavam na derme superficial. Aspecto

celular pleomórfico, escassez de citoplasma, núcleo redondo a oval e bastantes

células multinucleadas podem ser visualizadas na Figura 3.

Dentre as nove amostras classificadas em grau III, oito (88,89%)

apresentaram as características de alta intensidade, com sete ou mais figuras de

mitose, no mínimo três células multinucleadas, três ou mais núcleos bizarros e

cariomegalia. Porém uma amostra (11,11%) foi reclassificada em baixa

intensidade, pois apesar do aspecto infiltrativo, foram observadas poucas células

multinucleadas e não havia figuras de mitose (Figura 3).

DISCUSSÃO

No presente estudo, avaliou-se a relação entre a graduação

histopatológica, de mastocitomas cutâneos caninos, pelos métodos de Patnaik

(1984) e Kiupel (2011), visando-se estabelecer uma comparação entre os dois

critérios de classificação. O sistema de Patnaik tem sido utilizado há várias

décadas como padrão ouro na classificação de mastocitomas, seguindo

características principalmente qualitativas. Porém, tem ocorrido elevada

discrepância entre os observadores, principalmente devido à subjetividade dos

critérios para se estabelecer a classificação. Recidivas, probabilidade de

metástase e tempo de sobrevida animal são variáveis de suma importância,

associadas ao grau de diferenciação celular, o que torna a eficácia da graduação

um fator indispensável. Uma possível diferença, na categorização histopatológica

dos mastocitomas, faz o valor prognóstico e também a escolha do tratamento do

paciente ser altamente questionável (NORTHUP, 2005; FURLANI et al., 2008).

A partir da graduação das 30 amostras de mastocitomas, seis delas

foram classificadas em grau I, de acordo com os critérios de Patnaik, e todas

foram reclassificadas como de baixa intensidade no modelo de Kiupel. Essa

concordância, em relação ao grau I, normalmente ocorre devido ao fato de as

células neoplásicas estarem bem diferenciadas, assemelhando-se aos mastócitos

normais, sendo monomórficas e estando arranjadas em cordões e/ou camadas

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finas. O núcleo é redondo ou ovalado, pequeno, com nucléolos quase invisíveis.

Essas características são mais perceptiveis aos patologistas, proporcionando

conformidade na atribuição desse grau (MEUTEN, 2002).

Conforme esperado, os tumores de grau II de Patnaik se dividiram em

processos de malignidade de baixa e de alta intensidade, tornando evidente sua

heterogeneidade biológica. Esses dados corroboram com os achados já citados

na literatura, por BOSTOCK et al. (1989), SEGUIN et al. (2001) e BALSIMELLI,

(2012), devido aos amplos parâmetros que reúnem o referido grau no modelo de

PATNAIK. A taxa de celularidade é moderada, as células são ligeiramente

pleomórficas e o aspecto do citoplasma não diferencia muito dos tumores grau I,

pois também são distintos. Células binucleadas são observadas, assim como

áreas de necrose e algumas raras figuras de mitose. Essa heterogeneidade na

população celular, atribuída ao grau II, pode justificar a discrepância na

determinação da graduação histopatológica do mastocitoma, entre os patologistas

veterinários, gerando falha no diagnóstico e na previsão do comportamento

biológico da neoplasia.

Os tumores classificadas em grau III, nesse estudo, apresentaram em

sua maioria características de alta intensidade. Porém, uma amostra (11,11%) foi

reclassificada em baixa intensidade de acordo com os critérios de Kiupel, pois

apesar do aspecto infiltrativo, foram observadas poucas células multinucleadas e

não havia figuras de mitose. Esse resultado contraria os achados de BALSIMELLI

(2012) e SCHLIEBEN (2012), onde todos os tumores de grau III foram

reclassificados em alta intensidade.

Quanto à categorização histopatológica dos mastocitomas, em dois

níveis, os resultados mostraram ser mais consistentes do que o atual sistema de

classificação, de Patnaik, por promover uma melhor distinção, entre as alterações

celulares, malignas e de baixa intensidade. Notou-se também uma tendência, dos

patologistas, em classificar com maior frequência o grau II, atribuindo 50% das

amostras, do estudo, a esse grau intermediário, de pouco valor prognóstico para o

clínico. Além disso, a partir da reclassificação, nesse estudo, foi constatada a

subjetividade dos tumores classificados em grau II pelo sistema Patnaik,

concordando com RAMOS-VARA et al., (2011), que afirmam ser o novo modelo

de graduação histopatológica proposta por KIUPEL mais eficiente nesses casos,

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devido ao fato de os critérios para julgamento serem do tipo quantitativo,

permitindo a redução da subjetividade.

A classificação dos mastocitomas, somente em baixa e alta

intensidade, pode promover maior consistência no estadiamento tumoral e um

melhor valor prognóstico, quando comparado ao atual sistema de graduação, em

três níveis. No entanto, uma diminuição no número de categorias, traria uma

facilidade na classificação, mas não na acurácia do prognóstico. Por ser um

método de classificação recente, seu valor clínico ainda deverá ser bastante

avaliado e discutido, cabendo estudos prospectivos no sentido de avaliar sua real

relevância.

CONCLUSÕES

Diante da reclassificação histopatológica descritiva, concluiu-se que

a proposta de Kiupel de agrupar os mastocitomas em duas classes é mais

objetiva que a de Patnaik, diminuindo a variação interobservador na determinação

do estádio da neoplasia, gerando uma maior padronização no diagnóstico.

Constatou-se também a subjetividade dos tumores classificados em

grau II, pelo sistema Patnaik, sendo o modelo proposto por Kiupel mais eficiente

nesses casos.

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20. WARLAND, J. D., J. Breed predispositions in canine mast cell tumour: A single centre experience in the United Kingdom. Veterinary Journal, London,

v.197, n.2, p.496-498, 2013.

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CAPÍTULO 3 – DETERMINAÇÃO DA FREQÜÊNCIA DE AGNOR’S E

EXPRESSÃO DE C-KIT AUMENTAM A EFICIÊNCIA DA CLASSIFICAÇÃO E

PROGNÓSTICO DO MASTOCITOMA CANINO

RESUMO

Fatores como estadiamento clínico da neoplasia, avaliação histoquímica e expressão de marcadores devem ser considerados para a determinação do prognóstico do mastocitoma canino. Recentemente, Kiupel e colaboradores propuseram um novo sistema de classificação histológica, agrupando os tumores em duas classes, baixa intensidade ou alta intensidade. O objetivo deste trabalho foi correlacionar dois indicadores de prognóstico tumoral, a contagem das AgNOR’s e a expressão do marcador de proliferação celular c-KIT, com a graduação histopatológica para o mastocitoma proposta por Kiupel. O presente estudo foi realizado em 20 amostras de mastocitoma canino, graduados histologicamente segundo o novo critério proposto por Kiupel, pertencentes aos arquivos do Laboratório de Patologia Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás. O índice proliferativo, determinado pelo método de AgNOR’s, foi superior nas variáveis estudadas nos mastocitomas de alta intensidade, enquanto a expressão de c-KIT em geral correspondeu à intensidade da graduação histopatológica. Os resultados demonstraram que o novo sistema de classificação histopatológica de Kiupel é mais eficiente para o diagnóstico histológico e prognóstico do mastocitoma quando aliado ao estudo histoquímico e imunoistoquímico. Palavras-chave:, cão, classificação histológica, contagem de nucléolos, imunoistoquímica, neoplasia

CHAPTER 3 - DETERMINATION OF THE FREQUENCY OF AGNOR'S AND

EXPRESSION OF C-KIT INCREASE THE EFFICIENCY OF CLASSIFICATION

AND PROGNOSIS OF CANINE MASTOCYTOMA

ABSTRACT

Factors such as clinical staging of the tumor, markers expression and histochemical evaluation should be considered to determine the prognosis of canine mast cell tumors. Recently, Kiupel and collaborators proposed a new histological classification system, grouping tumors into two classes, low intensity or high intensity. The aim of this study was to correlate two indicators of prognosis tumor, the count of AgNOR's and the expression of cell proliferation marker c-KIT, with histopathological grading for mastocytoma proposed by Kiupel. This study was conducted on 20 samples of canine mast cell tumor, graded according to the Kiupel criteria, from the files of the Laboratory of Animal Pathology, School of Veterinary Medicine and Animal Science of the Federal University of Goiás. The proliferative index, determined by AgNOR's method, was higher in the variables in the mast cell high intensity, while the expression of c-KIT in general corresponded

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to the intensity of histopathological grading. The results showed that the Kiupel, classification system is more efficient for the histological diagnosis and prognosis of mast cell tumor when coupled with immunohistochemical and histochemical tests. Keywords: counting nucleoli, dog, histologic classification, immunohistochemistry, neoplasia

INTRODUÇÃO

Mastocitoma é a proliferação neoplásica dos mastócitos. A exata

etiologia ainda é desconhecida, mas é provavelmente multifatorial. Em ocasiões

raras, essas neoplasias estão associadas às lesões inflamatórias crônicas e à

exposição contínua da pele a substâncias irritantes. As alterações genéticas são

cruciais para o desenvolvimento de células neoplásicas. Modificações no gene

supressor tumoral p-53 e nas vias que regulam o ciclo celular foram relatadas

como possíveis causas para o desenvolvimento dos mastocitomas. Descreveu-se

também a existência de mutações no ponto do gene c-KIT que codifica o domínio

justamembrana do receptor tirosina quinase em mastócitos neoplásicos,

justificando o crescimento descontrolado dos tumores (ZEMKE et al., 2002;

THAMM & VAIL, 2007; BLACKWOOD et al., 2012).

A graduação histológica é necessária para o estabelecimento de uma

conduta terapêutica apropriada para cada caso. A utilização de diferentes

sistemas de classificação para o mastocitoma canino é contestada desde 1989,

com a alegação de que um mesmo mastocitoma poderia ser classificado com

grau diferente por patologistas distintos. Em 2011, KIUPEL e colaboradores

propuseram um novo sistema de classificação histológica, com o intuito de

melhorar a concordância entre patologistas. O sistema Kiupel divide os tumores

em duas classes, baixa intensidade e alta intensidade, de acordo com a

frequência de alterações citológicas das células tumorais como núcleos múltiplos

e bizarros, figuras de mitose e cariomegalia. Considerando-se alta intensidade

quando da presença de pelo menos um dos seguintes critérios em dez campos

analisados: sete figuras de mitose, três células multinucleadas e três núcleos

atípicos (KIUPEL et al., 2011).

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No entanto, outros fatores devem ser considerados para a

determinação do prognóstico do mastocitoma. A Organização Mundial de Saúde

(OMS) preconiza quatro estádios clínicos para determinar a extensão desta

neoplasia no organismo. Classifica-se como estádio I quando o tumor apresenta-

se confinado à derme, sem envolvimento dos linfonodos regionais. Como estádio

II quando o tumor está confinado à derme, com envolvimento dos linfonodos

regionais. Já como estádio III, quando há múltiplos tumores na derme ou apenas

uma grande neoplasia infiltrativa, com ou sem envolvimento dos linfonodos

regionais. E como estádio IV quando há metástase, recidiva ou enfermidade

sistêmica concomitante (DIAS, 2007).

Alguns pesquisadores tem proposto utilizar de novas técnicas para

avaliar o prognóstico dos pacientes com mastocitoma. Dentre essas técnicas,

destaca-se o método da região organizadora nucleolar argirofílica (AgNOR -

argirophilic nucleolar organizer region). As proteínas AGNORs são definidas como

sítios onde estão localizados genes rRNA durante a interfase e durante a mitose.

As AGNORs são alças de DNA que ocorrem no nucléolo das células e possuem

genes RNA ribossomais. Esses genes RNA ribossomais possuem papel

importante durante a síntese protéica, crescimento e diferenciação celular e

também na transformação maligna. Um aumento no número de AgNOR seria

resultado de proliferação celular com aumento na transcrição e aumento do

conteúdo celular de DNA, o que ocorre em células que se proliferam mais

ativamente (PLOTON et al., 1986; SERAKIDES et al., 1999).

A técnica de AgNOR é menos subjetiva do que a avaliação

histopatológica baseada nos graus de diferenciação. Ela permite visualizar o

nucléolo, estudar a variação do seu tamanho e o número de pontos corados pela

prata em tecidos. Além disso, é possível medir o grau de proliferação celular

tendo sido utilizada, nas últimas décadas, como um marcador tumoral eficiente

em pacientes humanos. O fato é que o número de AgNORs por núcleo

correlaciona-se com o grau histológico, sendo pior o prognóstico, quanto maior o

número de pontos argirofílicos intranucleares visualizados. A mensuração, da

atividade celular proliferativa, pode acrescentar informações importantes para a

formulação de um prognóstico mais confiável em doenças neoplásicas.

(GOLDSCHMIDT & HENDRICK, 2002; RECH et al., 2004).

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A utilização da técnica de AgNOR em mastocitomas caninos foi

descrita pela primeira vez em 1989 por Bostock e colaboradores. Estudos da

técnica em neoplasias humanas, mostram que o número de AgNORs por núcleo,

correlaciona-se com o grau histológico, sendo pior o prognóstico, quanto maior o

número de pontos argirofílicos intranucleares visualizados. Por meio da técnica de

AgNOR é possível visualizar o nucléolo e o número de pontos corados pela prata

em tecidos. À microscopia, as regiões organizadoras nucleolares argirofílicas,

marcam-se como pontos marrons escuros a castanhos. AgNORs em células

normais aparecem de tamanho regular e forma redonda, mas em tecidos

malignos, surgem menos uniformes em tamanho, assumindo formas diferentes

(PLOTON et al., 1986. BOSTOCK et al., 1989; TOMITA et al., 1993; DIAS, 2007;

THIELE et al., 2013).

A imunohistoquímica é um método valioso de avaliação tumoral. O

produto do oncogene c-KIT pode ser usado como um marcador para o

diagnóstico e prognóstico do mastocitoma. A proteína KIT tem sua expressão

detectada em células tronco hematopoiéticas, sendo a alteração da sequência de

nucleotídeos do gene c-KIT um dos mecanismos propostos para a proliferação de

mastócitos em cães. Enquanto a exata etiologia do mastocitoma permanece

desconhecida, sua patogênese relacionada à expressão do c-KIT e sua detecção

pela imunohistoquímica está bem estabelecidas. Todos os mastocitomas caninos

expressam c-KIT, ainda que a intensidade de reação seja diferente. Os tumores

de maior grau de malignidade apresentam expressão mais elevada (REGUERA et

al., 2000; PREZIOSI et al., 2004; WELLE et al., 2008).

Nesta perspectiva, o objetivo deste trabalho foi verificar o modelo de

graduação do mastocitoma canino proposto por KIUPEL etal (2011),

estabelecendo um comparativo do comportamento biológico, por meio do método

histoquímico de AgNOR e da expressão imunoistoquímica de c-KIT.

MATERIAL E MÉTODOS

O projeto foi desenvolvido na Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ)

da Universidade Federal de Goiás (UFG). As análises histológicas e

histoquímicas foram realizadas no Laboratório de Histopatologia e as de

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imunoistoquímica, no laboratório de Imunopatologia do Setor de Patologia Animal

da Escola de Veterinária e Zooctenia (EVZ) da Universidade Federal de Goiás

(UFG).

O estudo foi realizado em 20 amostras de mastocitoma canino,

graduados segundo a classificação de KIUPEL, sendo 10 casos de baixa

intensidade e 10 casos de alta intensidade. As amostras pertencem aos arquivos

do Laboratório de Patologia Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal de Goiás.

Para a realização da técnica de coloração pela prata (AgNOR’s),

fragmentos incluídos em parafina, com espessura de 5µm, foram seccionados em

micrótomo semi-automático e aderidos em lâminas histológicas. As lâminas

obtidas foram submetidas à hidratação progressiva por imersão em etanol 70%

durante 15 minutos, seguido por imersão em água deionizada por 10 minutos.

Para a solubilização das proteínas citoplasmáticas e melhoria da qualidade da

coloração, as lâminas foram imersas em uma solução de triton X-100 a 0,5% em

PBS, durante 15 minutos em temperatura ambiente e após, lavadas durante 10

minutos em água corrente. Este procedimento foi acrescentado ao protocolo de

coloração como uma medida para facilitar a análise morfométrica, uma vez que a

solubilização de algumas proteínas citoplasmáticas produz um fundo mais claro e

com maior contraste e definição das proteínas AgNors, além de tornar os núcleos

das células mais limpos e permeáveis à prata (VIDAL & MELLO, 1995).

As lâminas foram coradas pelo método da prata coloidal descrito por

(PLOTON et al., 1986). Esta técnica consiste da mistura de duas partes de uma

solução aquosa de prata a 50% com uma parte de uma solução aquosa de

gelatina a 2% em água deionizada com ácido fórmico a 1%. Para a diminuição

dos depósitos inespecíficos de prata sobre o material, foi realizada a coloração

com lâminas invertidas. Um mililitro da solução de prata coloidal foi depositado

sobre uma bandeja de coloração de polipropileno e as lâminas, depositadas sobre

o corante posteriormente. A bandeja foi mantida em estufa a 37◦C por 12 a 15

minutos. Após serem retiradas da estufa, as lâminas foram lavadas rapidamente

em água corrente para tirar o excesso da prata e colocadas em cubas com álcool

etílico absoluto por 5 minutos. Em seguida, o material foi lavado em água corrente

por 5 minutos e imerso no corante metil green por mais 5 minutos. Em seguida,

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dois banhos de dois minutos cada em álcool isopropílico, novamente mergulhados

em álcool etílico absoluto por 40 segundos, diafanizadas em xilol para montagem

com lamínula e resina sintética.

Para determinar a freqüência de AgNOR, os nucléolos evidenciados no

interior dos núcleos, foram contados através do método de contagem direta à

microscopia óptica. Procedeu-se a contagem dos grânulos em 100 mastócitos

neoplásicos por lâmina, dividindo o valor encontrado, em cada caso, por 100.

Para a análise estatística foi utilizado o teste não paramétrico x². Para cada grupo,

baixa e alta intensidade, foi calculado a média para representar a tendência

central, o intervalo de confiança de 95% pela regressão logística e o limite do

intervalo de confiança.

A técnica da imunohistoquímica teve início quando fragmentos

incluídos em parafina, com espessura de 5µm, foram seccionados em micrótomo

automático, aderidos em lâminas impregnadas por solução de organosilano a 3%

(aminopropyl-triethoxysilane, Sigma – USA) em acetona. Em seguida, houve a

desparafinização em estufa à 60ºC, seguindo a fase de hidratação. Logo após,

realizou-se o bloqueio da atividade da peroxidase endógena por 15 minutos,

incubando as lâminas com peróxido de hidrogênio diluído em solução de PBS

(phosphate buffered saline), pH 7,2. A recuperação antigênica ocorreu em

solução de citrato, pH 6,0, em banho-maria (solução pré-aquecida a 96ºC), por 15

minutos. O bloqueio da marcação inespecífica foi feito com 3% de soro albumina

bovina (BSA) por uma hora, em câmara úmida e temperatura ambiente, para

prevenir ligações não específicas.

O anticorpo primário c-KIT (polyclonal/coelho, SC168, Santa Cruz

Biotechnology, USA) foi diluído em BSA 1,5% (1:2000), instilado nos fragmentos e

o material incubado overnight em câmara úmida, sob refrigeração a 4ºC. Os

controles negativos foram realizados omitindo o anticorpo primário em um

fragmento de cada grau.

As secções foram lavadas em PBS e incubadas, em seguida, utilizando

o KIT LSAB (DAKO Ref: K0690 - USA), em que o anticorpo secundário

permaneceu por 30 minutos e o complexo estreptoavidina-biotina-peroxidase por

mais 30 minutos, em temperatura ambiente. Em seguida, foram lavadas em PBS.

A reação foi revelada com a adição do cromógeno diaminobenzidina-peroxidase

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(Liquid DAB Substrate Chromogen System, DAKO Ref: K3468 - USA) por três

minutos. As lâminas foram montadas com meio a base de tolueno (Entellan,

Merck, Alemanha) e lamínulas histológicas. Procedeu-se a análise em

microscópio de luz comum.

As lâminas marcadas com o anticorpo anti c-KIT foram analisadas pelo

software processador de imagem Image J (National Institute of Health,

Washington DC, EUA). Foram selecionadas três áreas de concentração de

células neoplásicas por lâmina, como regiões de interesse para avaliação pelo

processador de imagens. O programa forneceu o valor das densidades ópticas,

nas áreas selecionadas, expresso na unidade pixels/polegada. Os resultados

foram transferidos para uma planilha eletrônica. Para cada grupo, de baixa e alta

intensidade, foi calculado a média para representar a tendência central, o

intervalo de confiança de 95% pela regressão logística e o limite do intervalo de

confiança.

RESULTADOS

As regiões organizadoras nucleolares argirofílicas coraram-se, como

pequenos pontos escuros dispersos pelo núcleo e foram mais freqüentemente

observadas nos mastocitomas de alto grau (Figura 1).

FIGURA 1 – Mastocitoma cutâneo canino. Os pontos pretos (setas)

representam as regiões organizadoras nucleolares argirofílicas

(AgNOR). A) Mastocitoma de baixa intensidade (AgNOR =

A B

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1,82), 40x. B) Mastocitoma de alta intensidade (AgNOR=

2,06), 400x.

A tabela 1 apresenta os resultados encontrados a partir da contagem

de AgNOR de 100 células tumorais. A média de nucléolos nos tumores de alta

intensidade foi de 2,06 e nos de baixa intensidade foi de 1,82. Apenas uma

amostra (10%) estava abaixo do limite do intervalo de confiança calculado para o

grupo de alta intensidade. Dentre os processos de baixa intensidade, nenhuma

amostra esteve fora do limite do intervalo de confiança.

TABELA 1 – Variáveis calculadas para AgNOR/núcleo, em mastocitomas

cutâneos caninos, para os dois grupos histopatológicos (p<0,05)

Intensidade N Média Mínimo - Máximo IC Limites do IC

Baixa 10 1,82 1,44 – 2,30 0,05 1,37 – 2,35

Alta 10 2,06 1,14 – 3,00 0,64 1,42 – 2,70

A partir da técnica de imunoistoquímica, os fragmentos tratados com o

anticorpo anti c-KIT apresentaram marcações citoplasmáticas em todos os

mastócitos neoplásicos (Figura 2).

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FIGURA 2 - Fotomicrografias de fragmentos de mastocitoma canino marcados

com anticorpo anti c-KIT. A e B apresentam marcação

citoplasmática compatível com padrão de baixa intensidade. C e D

evidenciam a positividade citoplasmática difusa acentuada,

compatível com a categoria de alta intensidade. 400X. DAB,

contra-coloração com hematoxilina.

A análise da expressão do anticorpo, nas categorias de baixa e alta

intensidade, encontra-se na Tabela 2.

A B

C D

C

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TABELA 2 – Variáveis calculadas para imunomarcação de c-KIT, em

mastocitomas cutâneos caninos, para os grupos de alta e baixa

intensidade. Valores de densidade óptica expressos em

pixels/polegada.

Intensidade N Média Mínimo - Máximo IC Limites do IC

Alta 10 78682,44 29777,67 – 173854,00 26290,92 52391,52 – 104973,40

Baixa 10 71490,50 18379,00 – 195730,00 41560,07 29930,43 – 113050,60

Os resultados demonstraram variações discrepantes, entre as

amostras de alta intensidade, analisadas. A figura 3 apresenta a dispersão desses

valores encontrados.

FIGURA 3 – Variação dos resultados das densidades ópticas das

regiões de alta intensidade, marcadas com o anticorpo

anti c-KIT. Valores expressos em pixels/polegada.

Dentre os valores de imunomarcação, de c-KIT, encontrados no grupo

de baixa intensidade, duas amostras apresentaram-se acima do limite máximo do

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intervalo de confiança (113050,60). Na Figura 4 é possível notar a discrepância

dessas amostras, frente às demais.

FIGURA 4 – Variação dos resultados das densidades ópticas das

regiões de baixa intensidade analisadas marcadas

com o anticorpo anti c-KIT. Notar a discrepância dos

valores das amostras 3 e 10. Valores expressos em

pixels/polegada.

Relacionando-se a graduação histopatológica de Kiupel com o padrão

de imunoexpressão, de c-KIT, evidenciou-se que a média de marcação, nos

processos de alta intensidade (78682,44), foi maior que a média, nos processos

de baixa intensidade (71490,50). O gráfico, na figura 5, apresenta a distribuição

dos valores, de c-KIT, encontrados para os grupos de alta e baixa intensidade.

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FIGURA 5 – Gráfico evidenciando a densidade ótica da marcação por c-

KIT distribuição imunohistoquímica nas amostras de

mastocitomas cutâneos de cães, classificados de acordo com

os parâmetros de Kiupel. Valores expressos em

pixels/polegada.

DISCUSSÃO

A associação de métodos citológicos, histopatológicos e

imunoistoquímicos fornecem informações adicionais, para o estabelecimento de

diagnóstico e prognóstico do mastocitoma cutâneo canino.

Neste estudo, o resultado da média geral nas contagens de pontos de

AgNORs por núcleo foi de 1,96, apresentando uma amplitude de 1,56 a 2,37.

RECH (2003), em estudo semelhante, registrou uma média geral de 1,9, com

amplitude variando entre 1,2 a 4,3. DIAS (2007) encontrou uma média geral de

2,81 e amplitude de 1,33 a 3,6. THOMPSON (2011) mostrou em seu estudo,

contagens de AgNORs entre 1,2 a 4,1 por célula, com uma média de 2,2 por

núcleo. Além da técnica de impregnação de proteínas aliadas à atividade

proliferativa ser considerada eficaz, rápida e de custo acessível, esses

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parâmetros são de grande valia considerando a premência de resultados e

terapêutica exigidos pelos proprietários dos animais de estimação.

Nesta pesquisa, intervalos de confiança de 95%, foram estimados pela

regressão logística para cada grau, com a intenção de criar um número de

estimativas prováveis dentro de um parâmetro estatístico. Desta forma, foi

estabelecido um limite em torno da estimativa obtida. Para o conjunto de

mastocitomas de baixa intensidade, a média de contagem de AgNORS por

células foi de 1,864, com margens de intervalo de confiança variando entre 1,37 e

2,35. Desta forma, nenhuma amostra situou-se fora do limite permitido, o que

corrobora com a literatura quando afirma que a contagem de AgNORs por núcleo

correlaciona-se com o grau histológico, sendo pior o prognóstico quanto maior o

número de pontos argirofílicos intranucleares visualizados (TOMITA et al., 1993;

GAMBA et al., 2008).

Os mastocitomas classificados em alta intensidade apresentaram

contagem maior de AgNORs, quando comparada ao grupo de baixa intensidade,

provavelmente devido à sua alta taxa de multiplicação celular. A média foi de 2,06

pontos argirofílicos por núcleo e seu limite de confiança pode variar de 1,42 e

2,70. Nesse grupo, apenas uma amostra (10%) apresentou-se abaixo do limite

estabelecido. Esse fato pode ter ocorrido devido a técnica de AgNOR ser sensível

a vários fatores, tais como fixação dos tecidos, espessura dos cortes, tempo de

incubação da prata, preparação das soluções empregadas e precipitação da

prata, portanto para que o valor prognóstico seja válido, faz-se necessário

estabelecer a relação da técnica do AgNOR com os estudos clínicos (ZACZEK et

al., 1994).

No presente estudo, também foi investigada a expressão da proteína c-

KIT, por meio da associação da técnica de imunohistoquímica com análise pelo

software Image J e cálculos estatísticos. A média de expressão encontrada no

grupo de alta intensidade foi maior que a do grupo de baixa intensidade. O c-KIT

é um imunomarcador, de proliferação celular, e uma relação positiva é esperada

entre a presença de mutações de c-KIT e maior grau do mastocitoma canino

(MISDORP, 2004). Em estudo realizado por ZEMKE et al. (2002), foi relatada a

relação entre a graduação histopatológica e a intensidade de marcação maior em

graus menos diferenciados da neoplasia, mostrando que esses devem apresentar

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alterações genéticas mais significativas para o aumento da produção e

consequentemente expressão do oncogene c-KIT. Tal observação corrobora com

os valores de marcação intensa, de c-KIT, visualizada nos mastocitomas de alta

intensidade, do presente estudo.

A média dos valores, de imunomarcação, no grupo de alta intensidade

foi maior que no grupo de baixa intensidade. Esse resultado pode ser comparado

com a verificação de THOMPSON (2012) que encontrou associação entre

mutação em c-KIT e elevado grau de intensidade em mastocitomas cutâneos

caninos. É bem estabelecido que mutações, em c-KIT estão significativamente

associadas a um maior grau de malignidade neoplásica e também com maior

risco de recorrência e morte do paciente.

Por outro lado, no grupo de baixa intensidade, duas amostras (20%)

ultrapassaram o limite do intervalo de confiança, apresentando valores de

imunomarcação individual muito acima do esperado. É possível que tais amostras

sejam provenientes de cães que apresentavam lesões múltiplas, mesmo sendo

bem diferenciadas histologicamente. Esses achados assemelham-se aos de

PINCZOWSKI (2008), onde os mastocitomas de menor grau apresentaram os

maiores percentuais de intensidade de marcação.

Ainda em relação à imunomarcação de c-KIT, nas amostras dos dois

grupos de mastocitoma cutâneo canino houve casos de valores muito

discrepantes, além de marcação citoplasmática difusa. Para o intervalo de

confiança estabelecido para as amostras de alta intensidade, duas (20%)

situaram-se abaixo do limite. No estudo de GIANTIN et al (2012), não foram

encontradas diferenças, estatisticamente significativas, na expressão de c-KIT,

entre os grupos de mastocitomas no sistema de baixa e de alta intensidade de

Kiupel, que seria devido à elevada variabilidade na expressão de RNAm do c-KIT

nos grupos de maior grau de malignidade, ou ainda por ter sido utilizada uma

amostragem pequena. Assim, uma superexpressão de c-KIT pode desempenhar

um papel de proliferação e transformação maligna, mas aparentemente não indica

o comportamento biológico, apenas de utilidade prognóstica.

KIUPEL et. al. (2011) sugerem que o prognóstico para o mastocitoma

cutâneo canino não deve ser baseado apenas na graduação histopatológica, mas

sempre associado a métodos imunocelulares. De fato, os dados desta pesquisa

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indicam que a classificação de Kiupel, isoladamente, não é um parâmetro

suficiente para o estabelecimento do prognóstico ou tratamento do mastocitoma,

pois este não pode ser considerado como uma neoplasia pouco maligna em

nenhum grau histológico, e seu comportamento biológico é sempre imprevisível.

Há, ainda, uma necessidade de associar a graduação histopatológica, a outros

métodos de diagnóstico, haja vista que essa associação determina ganho

prognóstico.

CONCLUSÕES

As médias AgNOR/núcleo dos tumores de alta intensidade são

significativamente mais elevadas em relação aos de baixa intensidade quando

avaliadas em grupo, demonstrando sua eficiência como indicador prognóstico

objetivo para os mastocitomas.

A magnitude da expressão de c-KIT corresponde à graduação

histológica, sendo a média mais acentuada no grupo de alta intensidade.ou seja,

onde apresenta mais células tumorais indiferenciadas.

As variações individuais dentro dos grupos indica que os critérios de

classificação histológica baseados exclusivamente na morfologia do tecido

tumoral não devem ser os únicos parâmetios de classificação e prognóstico do

mastocitoma canino.

REFERENCIAS

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CAPÍTULO 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na medicina veterinária de pequenos animais, a oncologia tem

evoluído substancialmente, sendo as neoplasias de pele diagnosticadas com

grande freqüência por serem as alterações mais facilmente percebidas pelos

proprietários. No cão, o mastocitoma cutâneo é a neoplasia mais comum,

compreendendo até 21% dos tumores de pele. Sua exata etiologia ainda é

desconhecida.

Após a retirada cirúrgica da neoplasia, a avaliação histopatológica

ainda é o fator prognóstico mais consistente no diagnóstico e correlaciona-se com

a escolha do tratamento e a sobrevida do animal. A classificação mais utilizada é

o sistema de três graus, estabelecido por PATNAIK et al (1984), porém muitas

vezes essa graduação histológica é subjetiva e um mesmo tumor pode ser

classificado em diferentes graus por patologistas distintos.

O fato de o convívio, entre humanos e caninos, ter se tornando cada

vez mais intenso, faz os proprietários estarem cada vez mais atentos aos seus

animais, aumentando a procura pela assistência veterinária e a exigência de

maior acurácia tanto no diagnóstico quanto no tratamento das afecções.

O novo sistema de classificação histológica proposto por KIUPEL et al.

(2011) categoriza os mastocitomas caninos em baixa intensidade e alta

intensidade, de acordo com as características observadas. No presente estudo,

os resultados indicaram que a graduação, de Kiupel proporcionou maior

concordância entre os patologistas, principalmente por estabelecer

quantitativamente as características mínimas, para designar-se uma amostra

como de alta instensidade: sete figuras de mitose, três células multinucleadas e

três núcleos atípicos.

O prognóstico para o mastocitoma cutâneo canino, entretanto, não

deve ser baseado apenas na graduação histopatológica, mas sempre associado a

métodos, como sugerem KIUPEL et. al., (2011). Assim, o uso da técnica, das

proteínas argirofílicas (AgNORs), é efetivo por atuar como eficiente marcador de

proliferação celular, podendo essa ser usada para avaliar a malignidade do

mastocitoma. Como esperado, em geral, os mastocitomas classificados em alta

intensidade apresentaram uma contagem maior de AgNORs, devido ao fato de a

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contagem por núcleo, correlacionar-se com o grau histológico, sendo pior o

prognóstico, quanto maior o número de pontos argirofílicos intranucleares

visualizados.

A técnica de imunohistoquímica, utilizando-se c-KIT, é bem

estabelecida como um marcador para diagnóstico e prognóstico do mastocitoma

cutâneo canino. No presente estudo, as amostras não se apresentaram

homogêneas, em nenhum grupo, e valores discrepantes foram encontrados,

porém relacionando-se a graduação, de Kiupel, com o padrão de imunoexpressão

de c-KIT, a média dos tumores, categorizados em maior intensidade, apresentou

expressão de c-KIT mais elevada, corroborando com os dados da literatura.

Dessa forma, foi observada uma relação entre o aumento dos valores

de imunomarcação celular por c-KIT, da expressão de AgNORs com o alto grau

histológico de malignidade, o que sugere um mecanismo patológico comum entre

estes fatores no mastocitoma canino. Isso indica que para uma acurácia no

prognóstico, deve-se associar a graduação histopatológica a outros métodos de

diagnóstico.