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UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA
FACULDADE DE CINCIAS E TECNOLOGIA
Departamento de Cincias e Engenharia do Ambiente
Estudo da Influncia do Material de Enchimento na Remoo de Matria Orgnica, Azoto e Slidos em
Leitos de Macrfitas do Tipo ESSH
Por Jos Miguel Oliveira
Dissertao apresentada na Faculdade de Cincias e
Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa para obteno
do grau de Mestre em Engenharia Sanitria.
Orientador: Professor Doutor Antnio Albuquerque
Co-orientador: Professora Doutora Leonor Amaral
LISBOA 2008
Agradecimentos
Pg. ii
Agradecimentos
Ao Prof. Albuquerque, uma verdadeira fora da natureza, pela boa disposio, pelos
inmeros apoios, pela motivao, pela competncia na transmisso de
conhecimentos, pela disponibilidade demonstrada para discutir as matrias em estudo
e pela capacidade que possui de nos conseguir levar sempre mais longe.
Agradecer Prof. Leonor que apesar da distncia esteve sempre presente, pelo
incentivo, pelos comentrios e reparos sempre pertinentes e pelo gosto que me incutiu
enquanto aluno, por estas coisas da Eng. Sanitria.
MAXIT S.A. por ter cedido o material de enchimento utilizado no leito
(Filtralite NR 4-8).
Fundao para Cincia e Tecnologia, atravs do projecto PTDC/AMB/73081/2006,
por ter permitido o financiamento de equipamentos, reagentes e material de laboratrio
utilizados nos ensaios.
Cidlia minha amiga e colega de laboratrio o meu bem-haja pela disponibilidade e
pela ajuda.
minha Famlia pelo apoio demonstrado ao longo deste trabalho, em especial
minha me por ter sempre acreditado e incentivado quando precisava.
Catarina, pela pacincia e compreenso, das muitas horas que passei longe, e pelo
alento e carinho incondicional que me acompanharam sempre durante a execuo
deste trabalho.
Resumo
Pg. iii
Resumo
Os leitos de macrfitas de escoamento sub-superficial e horizontal (LM-ESSH) so
muito utilizados para o tratamento de guas residuais domsticas de pequenos
aglomerados no interior de Portugal.
O meio de enchimento, essencial para a fixao das plantas e para o desenvolvimento
de biofilme com capacidade para a remoo de substratos, influncia a eficincia de
tratamento. O crescimento excessivo de biomassa, a acumulao de matria slida
em suspenso, a formao de precipitados e o desenvolvimento de rizomas e de
razes podem contribuir para a colmatao do leito e, portanto, para a diminuio do
volume disponvel para escoamento e da capacidade de filtrao.
O objectivo principal do trabalho centrou-se no estudo do desempenho de dois tipos
de materiais de enchimento (um natural - brita; outro sinttico - argila expandida
calcinada) na remoo de matria orgnica, formas de azoto e matria slida, ao
longo do leito e no tempo, num LM-ESSH laboratorial, colonizado com Phragmites
australis.
Realizaram-se duas Fases de ensaios, a primeira com brita, que incluiu trs Sries de
ensaios, cada uma com seis ensaios; a segunda com Filtralite (argila expandida
calcinada fornecida pela Maxit SA), que incluiu trs Sries de ensaios, cada uma com
cinco ensaios. As duas primeiras Sries de cada Fase foram realizadas com efluente
sinttico base de acetato de sdio (300 mg CQO.L-1) e cloreto de amnio (30 mg N-
NH4.L-1); as duas segundas Sries de cada Fase com efluente sinttico base de
acetato de sdio (300 mg CQO.L-1) e nitrato de potssio (30 e 100 mg N-NO3.L-1) e as
duas ltimas Sries de cada Fase com efluente domstico de tratamento primrio.
Todos os ensaios foram realizados carga hidrulica de 1,510-3 m3.m-2.h-1 (cerca de
3,5 cm.d-1).
Para o perodo de ensaios adoptado para cada Srie (cerca de um ms), a utilizao
de brita permitiu obter taxas de remoo superficial de matria orgnica, amnio,
nitrato e matria slida inferiores s observadas noutros estudos internacionais. A
utilizao de Filtralite, pelo contrrio, permitiu obter taxas de remoo superficial que,
para a generalidade dos parmetros, superaram as obtidas nos estudos onde foi
utilizada brita, inclusive para perodos de operao muito mais longos.
Resumo
Pg. iv
Independentemente do tipo de material utilizado, o efluente final de tratamento de
guas residuais domsticas apresentou caractersticas em conformidade com os
limites de descarga definidos na legislao vigente, com valores mais baixos nos
ensaios com a Filtralite. Assim, admite-se que este material apresente caractersticas
mais favorveis a um rpido desenvolvimento de biofilme capaz de, num curto espao
de tempo, apresentar eficincias de remoo e taxas de remoo de matria orgnica,
amnio, nitrato e matria slida elevadas.
A remoo de matria orgnica, amnio, nitrato e SST ocorreu, essencialmente, no
troo inicial do leito. A matria orgnica e amnio tero sido removidos essencialmente
em ambiente aerbio atravs de microrganismos heterotrficos aerbios e autotrficos
nitrificantes, respectivamente. Contudo, os resultados obtidos com efluente sinttico
sugerem terem ocorrido outros mecanismos de remoo, como a oxidao anaerbia
autotrfica de amnio.
Independentemente do tipo de material utilizado, na presena de efluentes com
substratos orgnicos de constituio complexa ou substratos orgnicos simples e
razo C/N-NO3 prxima da unidade, o nitrato ter sido removido essencialmente por
desnitrificao. Contudo, para a razo C/N-NO3 de 4, os resultados obtidos sugerem
terem ocorrido mecanismos alternativos de remoo de nitrato, no envolvendo a
utilizao de carbono orgnico, como a desnitrificao autotrfica.
Observou-se uma relao linear entre a carga orgnica aplicada e a carga orgnica
removida (rCQO) e entre as cargas de azoto aplicadas e as cargas de amnio (rNH4) e
nitrato (rNO3) removidas, que, para a Filtralite e no tratamento do efluente domstico,
apresentaram coeficientes de correlao superiores a 0,90. Independentemente do
tipo de material utilizado, na presena substratos de constituio complexa, a carga
orgnica e a carga de azoto parecem influenciar as respectivas taxas de remoo.
A capacidade de filtrao do leito no foi afectada durante o perodo de ensaios e os
resultados sugerem que a carga de slidos aplicada no teve efeito significativo na
remoo de matria slida em suspenso.
Palavras-chave: leito de macrfitas, brita, argila expandida, remoo carbonada, nitrificao, desnitrificao, remoo de slidos.
Abstract
Pg. v
Abstract
Horizontal subsurface flow constructed wetlands are widely used for wastewater
treatment in Portugal, especially for small population areas.
The media bed is essential for plant anchorage and biofilm development and does
affect the treatment yield. The continuous growth of roots, the adsorption,
sedimentation and precipitation of wastewater compounds and the biofilm release over
operation time leads to the development of clogging, which affects solutes distribution
throughout the bed and, therefore, may worsen the overall performance of the system.
The main objective of the work was to evaluate the effect of two different bed materials
(a natural gravel; and synthetic expanded clay) on the removal of organic matter,
nitrogen forms and solid matter, over time and throughout the bed, in a laboratory
prototype.
In order to enable a better understanding of the removal mechanisms throughout the
bed, two Phases of assays were developed. The first Phase included gravel bed and
three Series of assays, each one with six assays; the second Phase included Filtralite
NR (a commercial expanded clay developed by Maxit SA) and three Series of assays,
each one with five assays. The first two Series of each Phase were carried out with
synthetic effluent based on sodium acetate (300 mg COD.L-1) and ammonia chloride
(30 mg N-NH4.L-1); the second two Series of each Phase with synthetic effluent based
on sodium acetate (300 mg COD.L-1) and potassium nitrate (30 e 100 mg N-NO3.L-1)
and the last two Series of each Phase with primary treated domestic effluent. The
hydraulic loading was 1.510-3 m3.m-2.h-1 (around 3.5 cm.d-1).
For the period used for each Series of assays (one month) the use of gravel did allow
obtaining lower area removal rates of organic matter, ammonia, nitrate and solid matter
than the ones observed in other international studies. The use of Filtralite allowed
obtaining removal rates for all parameter higher than the ones observed in all consulted
studies with gravel. The final effluent, for both materials, presented characteristics
compatible with the discharge limits imposed by European and national legislation, with
low values for the effluent treated with Filtralite. It seems that this last material present
more favourable characteristics for a quickly biofilm development and, therefore, may
Abstract
Pg. vi
lead to a quickly start up of reactors and to achieve high removal efficiencies in a short
time period of operation.
The removal of organic matter, ammonia, nitrate and TSS presented higher rates in the
first bed section. The organic matter and ammonia were removed mainly in aerobic
conditions through hetertrophs and nitrifiers, respectively. However, the results with
synthetic effluent showed that other mechanism should have occurred, such as
anaerobic ammonium oxidation process.
Independently of the bed material used in the study, for domestic effluents or synthetic
effluents with C/N-NO3 ratio close 1, nitrate seems to have been removed mainly
through denitrification. However, for C/N-NO3 ratio of 4, the results suggest that other
nitrate removal pathway have occurred, not evolving the consumption of organic
carbon, such as autotrophic denitrification.
A linear relationship was observed between organic loading rate and organic removal
rate (rCQO) and between nitrogen loading rate and ammonia removal rate (rNH4) and
nitrate removal rate (rNO3), which for Filtralite and domestic effluent presented
correlation coefficients over 0.90. Therefore, independently of the bed material used in
the study, for domestic wastewater treatment, the organic and nitrogen loading rates
seem to influence the respective removal rates.
The filtration capability of the bed was not affected during the operation time period.
The results suggest that the applied solid loading rates had no effect in the removal of
suspended solid material.
Key-words: constructed wetlands, gravel, expanded clay, carbonaceous removal, nitrification, denitrification, solid removal.
Nomenclatura
Pg. vii
Nomenclatura Afl Afluente
C/L Razo entre o comprimento e a largura do leito
C/N Razo entre o carbono orgnico e azoto
C Comprimento do leito
CBO 5 Carncia Bioqumica de Oxignio a cinco dias
CIT Carbono inorgnico total
COT Carbono Orgnico Total
CQO Carncia Qumica de Oxignio
CT Carbono Total
Efl Efluente
EPA Environment protection agency
ESSH Escoamento sub-superficial horizontal
ESSV Escoamento sub-superficial vertical
ETAR Estao de tratamento de guas residuais
L Largura do leito
LM Leito de macrfitas
MLVSS Microrganismos volteis em suspenso
N-NH4 Azoto amoniacal
N-NO3 Azoto ntrico
NNOx: Formas oxidadas de azoto
N-Tot Azoto total
OD Oxignio dissolvido
ORP Potencial de oxidao reduo
P-Tot Fsforo total
PE Populao equivalente
PEAASAR Plano Estratgico de Abastecimento de gua e de Saneamento de guas
Residuais
PEAD Polietileno de alta densidade
SST Slidos suspensos totais
SSV Slidos suspensos volteis
ndice Geral
Pg. viii
ndice Geral
Pgina
Agradecimentos ..... ii Resumo ........... iii Abstract ........... v Nomenclatura ..... vii ndice Geral ..... viii ndice de Tabelas ... x ndice de Figuras ... xii 1. Introduo ... 1
1.1 Enquadramento ... 1 1.2 Objectivos ... 7 1.3 Estrutura da tese . 8
2. Processos de Tratamento por leito de macrfitas ... 10 2.1 Caractersticas das guas residuais 10 2.2 Processos de Tratamento .. 11 2.3 Leitos de Macrfitas 14
2.3.1 Descrio e aplicabilidade . 14 2.3.2 Tipos de sistemas .... . 18
2.3.2.1 Escoamento superficial ... 18 2.3.2.2 Escoamento sub-superficial ... 19
2.3.3 Componentes do sistema .. 21 2.3.3.1 Meio de enchimento 21 2.3.3.2 Plantas ... 23 2.3.3.3 Dispositivos de operao 26
2.3.4 Processos de transformao .... 27 2.3.5 Dimensionamento do sistema... ... 32 2.3.6 Parmetros de controlo .. 35
3. Plano experimental ... 37 3.1 Apresentao ... 37 3.2 Descrio .. 38
4. Material e mtodos 40 4.1 Instalao laboratorial . 41 4.2 Preparao do inoculo 44 4.3 Soluo de alimentao . 45 4.4 Aclimatao da biomassa .. 46 4.5 Colonizao do leito 47 4.6 Modo de Operao . 48 4.7 Amostragem e conservao da amostra . 51
ndice Geral
Pg. ix
4.8 Procedimentos analticos ... 51 5. Resultados Obtidos .. 53
5.1 Fase experimental 1 Ensaios com brita . 53 5.2 Fase experimental 2 Ensaios com filtralite ... 58
6. Anlise e Discusso de resultados . 64 7. Concluses e perspectivas de trabalho futuro ... 83
7.1 Concluses 83 7.2 Perspectivas de trabalho futuro . 85
8. Bibliografia .. 86 Anexos .. 97
Anexo I . 98 Anexo II 105
ndice de Tabelas
Pg. x
ndice de Tabelas
Pgina
Tabela 1.1 Evoluo percentual dos nveis de cobertura (PEAASAR II). 3 Tabela 1.2 Valores limite de descarga de acordo com legislao vigente.. 4 Tabela 2.1 - Valores tpicos de alguns parmetros caractersticos para diferentes tipos de guas residuais domsticas.. 11
Tabela 2.2 - Eficincias de remoo de constituintes das guas residuais domsticas em algumas operaes e processos biolgicos convencionais . 13
Tabela 2.3 Principais mecanismos de remoo de contaminantes em leitos de macrfitas .. 27
Tabela 3.1 Plano experimental .. 37 Tabela 4.1 Caractersticas da instalao laboratorial e dos meios de enchimento 43
Tabela 4.2 Solues usadas para preparar a soluo de alimentao para as sries BS1, BS2, FS1, e FS2 ... 45 Tabela 4.3 Constituio da soluo de alimentao para a fase da aclimatao da biomassa ... 47
Tabela 4.4 Intervalo de cargas de operao do sistema ao longo das diversas sries . 50
Tabela 4.5 Caractersticas associadas s trs seces do leito .. 50 Tabela 5.1 Variao da CQO, amnio e nitrato nas Sries com brita (Sries BS1, BS2 e BS3) .. 53 Tabela 5.2 Variao de SST nas Sries com brita (Ensaios BS1, BS2 e BS3) 56 Tabela 5.3 Variao da CQO, amnio e nitrato nas Sries com Filtralite (Sries FS1, FS2 e FS3) . 58
Tabela 5.4 Variao de SST nas Sries com Filtralite (Sries FS1, FS2 e FS3) 61
Tabela 6.1 Eficincias de remoo nas Sries com brita (Sries BS1, BS2 e BS3) 64
Tabela 6.2 Eficincias de remoo nas Sries com Filtralite (Sries FS1, FS2 e FS3) 66
Tabela 6.3 Variao de cargas aplicadas e cargas removidas para os dois tipos de enchimento (Sries BS1 a BS3 e FS1 a FS3) . 66
Tabela 6.4 Eficincias de remoo obtidas em diferentes estudos para o tratamento de efluentes domsticos primrios ... 81
ndice de Tabelas
Pg. xi
Tabela 6.5 Taxas de remoo por unidade de rea obtidas em diferentes estudos para o tratamento de efluentes domsticos primrios 82
ndice de Figuras
Pg. xii
ndice de Figuras
Pgina
Figura 2.1 - Representao esquemtica da planta e corte de um leito de macrfitas emergentes 15
Figura 2.2 Leito de macrfitas utilizado como sistema secundrio . 17 Figura 2.3 Leito de macrfitas utilizado como sistema tercirio .. 17 Figura 2.4 Esquema de um leito com fluxo superficial .. 19 Figura 2.5 Representao esquemtica de um LM-ESSH ... 20 Figura 2.6 Representao esquemtica de um LM-ESSV ... 21 Figura 2.7 Representao esquemtica das reaces de nitrificao / desnitrificao ... 25 Figura 2.8 Phragmites autralis ... 25 Figura 2.9 Representao das transformaes que ocorrem com o N, em leitos de macrfitas .. 31
Figura 4.1 Representao esquemtica da instalao laboratorial: a) Planta; b) Vista lateral ... 40
Figura 4.2 Aspecto da brita utilizada no leito (Fase 1) .. 41 Figura 4.3 Aspecto da Filtralite utilizada no leito (Fase 2) 41 Figura 4.4 Instalao laboratorial no incio dos ensaios com brita (Fase 1) .. 42 Figura 4.5 Instalao laboratorial no incio dos ensaios com Filtralite (Fase 2) antes de ser plantada a Phragmites autralis ... 42
Figura 4.6 Detalhes da instalao piloto: a) entrada; b) sada . 44 Figura 4.7 Reactores abertos para aclimatao da biomassa (fase de decantao) .. 47
Figura 5.1 Variao da CQO entrada e sada do leito na Srie BS1 ... 54 Figura 5.2 Variao da CQO entrada e sada do leito na Srie BS2 ... 54 Figura 5.3 Variao da CQO entrada e sada do leito na Srie BS3 ... 55 Figura 5.4 Variao da concentrao de amnio entrada e a sada do leito na Srie BS1.. 55
Figura 5.5 Variao da concentrao de amnio entrada e a sada do leito na Srie BS3 . 56
Figura 5.6 Variao da concentrao de nitrato entrada e sada do leito na Srie BS2 .. 56 Figura 5.7 Variao de SST entrada e sada do leito na Srie BS3 57 Figura 5.8 Variao do pH ao longo do leito nas sries com brita .. 57
ndice de Figuras
Pg. xiii
Figura 5.9 Variao do OD ao longo do leito nas sries com brita . 58 Figura 5.10 Variao da CQO entrada e sada do leito na Srie FS1 . 59 Figura 5.11 Variao da CQO entrada e sada do leito na Srie FS2 . 59 Figura 5.12 Variao da CQO entrada e sada do leito na Srie FS3 . 59 Figura 5.13 Variao da concentrao de amnio entrada e sada do leito na Srie FS1 . 60
Figura 5.14 Variao da concentrao de amnio entrada e sada do leito na Srie FS3 . 60
Figura 5.15 Variao da concentrao de nitrato entrada e sada do leito na Srie FS2 .. 61
Figura 5.16 Variao de SST entrada e sada do leito na Srie FS3 .. 61 Figura 5.17 Variao do pH ao longo do leito nas sries com Filtralite . 62 Figura 5.18 Variao do OD ao longo do leito nas sries com Filtralite . 62 Figura 6.1 Aspecto da instalao laboratorial no final dos ensaios com brita (Fase I) .. 67 Figura 6.2 Pormenor do desenvolvimento das razes no final dos ensaios com brita (Fase 1) 68 Figura 6.3 Aspecto da instalao laboratorial no final dos ensaios com Filtralite (Fase 2) .. 69 Figura 6.4 Variao ao longo do tempo da carga orgnica aplicada e da carga orgnica removida (r(CQO)) e da eficincia de remoo de CQO na
presena de brita (Srie BS1) 69
Figura 6.5 Variao ao longo do tempo da carga orgnica aplicada e da carga orgnica removida (r(CQO)) e da eficincia de remoo de CQO na
presena de brita (Srie BS2) 70
Figura 6.6 Variao ao longo do tempo da carga orgnica aplicada e da carga orgnica removida (r(CQO)) e da eficincia de remoo de CQO na
presena de brita (Srie BS3) 70
Figura 6.7 Variao ao longo do tempo da carga de amnio aplicada e da carga de amnio removida (r(N-NH4)) e da eficincia de remoo de N-NH4 na
presena de brita (Srie BS1) 70
Figura 6.8 Variao ao longo do tempo da carga de amnio aplicada e da carga de amnio removida (r(N-NH4)) e da eficincia de remoo de N-NH4 na
presena de brita (Srie BS3) 71
ndice de Figuras
Pg. xiv
Figura 6.9 Variao ao longo do tempo da carga orgnica aplicada e da carga orgnica removida (r(CQO)) e da eficincia de remoo de CQO na
presena de Filtralite (Srie FS1) 71
Figura 6.10 Variao ao longo do tempo da carga orgnica aplicada e da carga orgnica removida (r(CQO)) e da eficincia de remoo de CQO na
presena de Filtralite (Srie FS2) 71
Figura 6.11 Variao ao longo do tempo da carga orgnica aplicada e da carga orgnica removida (r(CQO)) e da eficincia de remoo de CQO na
presena de Filtralite (Srie FS3) 72
Figura 6.12 Variao ao longo do tempo da carga de amnio aplicada e da carga de amnio removida (r(N-NH4)) e da eficincia de remoo de N-NH4 na
presena de Filtralite (Srie FS1) 72
Figura 6.13 Variao ao longo do tempo da carga de amnio aplicada e da carga de amnio removida (r(N-NH4)) e da eficincia de remoo de N-NH4 na
presena de Filtralite (Srie FS3) 72
Figura 6.14 Eficincias de remoo de CQO ao longo do leito nas Sries com brita e Filtralite .. 73
Figura 6.15 Eficincias de remoo de N-NH4 ao longo do leito nas Sries com brita e Filtralite . 74
Figura 6.16 Variao ao longo do tempo da carga de nitrato aplicada e da carga de nitrato removida (r(N-NO3)) e da eficincia de remoo de N-NO3 na
presena de brita (Srie BS2) .. 75
Figura 6.17 Variao ao longo do tempo da carga de nitrato aplicada e da carga de nitrato removida (r(N-NO3)) e da eficincia de remoo de N-NO3 na
presena de Filtralite (Srie FS2) 76
Figura 6.18 Variao ao longo do tempo da carga de slidos em suspenso aplicada e da carga de slidos em suspenso removida (r(SST)) e da eficincia
de remoo de SST na presena de brita (Srie BS3) 77
Figura 6.19 Variao ao longo do tempo da carga de slidos em suspenso aplicada e da carga de slidos em suspenso removida (r(SST)) e da eficincia
de remoo de SST na presena de Filtralite (Srie FS3) ... 78
Figura 6.20 Relao entre as cargas orgnica aplicada e a carga orgnica removida nos ensaios com acetato e amnio (BS1 e FS1) 79
Figura 6.21 Relao entre a carga orgnica aplicada e a carga orgnica removida nos ensaios com acetato e nitrato (BS2 e FS2) 79
ndice de Figuras
Pg. xv
Figura 6.22 Relao entre a carga orgnica aplicada e a carga orgnica removida nos ensaios com efluente domstico (BS3 e FS3) ... 79
Figura 6.23 Relao entre a carga de amnio aplicada e a carga de amnio removida nos ensaios com acetato e amnio (BS1 e FS1) .. 80
Figura 6.24 Relao entre a carga de amnio aplicada e a carga de amnio removida nos ensaios com efluente domstico (BS3 e FS3) ... 80
Figura 6.25 Relao entre a carga de nitrato aplicada e a carga de nitrato removida nos ensaios com acetato e nitrato (BS2 e FS2) 80
Introduo
Pg. 1
1. Introduo 1.1 Enquadramento A gua sempre assumiu ao longo da histria da humanidade uma importncia impar,
na fixao das populaes e no desenvolvimento das mesmas. Os primeiros
aglomerados populacionais surgiram ao longo dos cursos de gua, beira mar ou
ento em locais de nascentes. Com o desenvolvimento da cincia e a evoluo dos
sistemas de transporte, a localizao dos aglomerados deixou de depender da
existncia de gua no local, mas dependeu sempre do seu abastecimento. A
disponibilidade de gua, em quantidade e qualidade, contribui tambm para marcar
nos dias de hoje, a diferena entre pases desenvolvidos e pases em
desenvolvimento.
Com o passar do tempo as preocupaes relativamente a este recurso foram
naturalmente evoluindo, desde os problemas associados quantidade para os
associados qualidade, integrando o desenvolvimento sustentvel com a necessidade
de minimizar os impactes da sua utilizao para os vrios usos da actividade humana
at ao uso eficiente da mesma e a minimizao de perdas e potencializao de
reutilizaes nos mais diversos usos. com este cenrio que actualmente nos
debatemos: um bem escasso, um pilar fundamental do desenvolvimento e da
sustentabilidade da vida nas suas diversas vertentes, onde a gesto eficiente assume
um papel preponderante no desenvolvimento sustentvel preconizado pela sociedade
actual.
A qualidade da gua est intimamente ligada s suas utilizaes, ou seja, uma gua
com qualidade para um determinado uso, como por exemplo agricultura, ser
forosamente diferente da qualidade da gua utilizada no abastecimento pblico. A
qualidade de gua encontra-se definida em termos legislativos atravs de um conjunto
de caractersticas fsicas, biolgicas e ecolgicas prprias, expressas em
concentraes de diversas substncias orgnicas, inorgnicas, espcies qumicas,
caractersticas organolpticas, parmetros fsicos e ainda pela composio e estado
do biota. (Barros et al., 1995).
Devido interferncia de inmeros factores como o clima, a geomorfologia e a
geoqumica da bacia drenante e dos aquferos subjacentes, ou devido introduo de
Introduo
Pg. 2
materiais, energia e microrganismos, principalmente como resultado das actividades
humanas a qualidade de uma massa hdrica varivel no espao e no tempo.
A crescente utilizao dos recursos hdricos superficiais e subterrneos, na maior
parte dos casos de uma forma pouco racional, vem pondo em risco as disponibilidades
de gua, as quais devem ser analisadas numa perspectiva de quantidade e qualidade.
As actividades humanas acabam por interferir directa ou indirectamente na qualidade,
quer seja pelo consumo, quer seja pelo apresamento em albufeiras ou pela regulao
de caudais, quer seja ainda pelo uso das massas hdricas como destino final de
poluentes gerados pelas actividades antropognicas. A deteriorao da qualidade da
gua est assim associada a causas de origem natural (e.g. caractersticas
morfolgicas e geoqumicas do solo e eroso e transporte de origem hdrica) ou
antropognica (actividades domsticas, industriais e agrcolas) que podem pr em
risco os seus mltiplos usos (abastecimento para consumo humano, indstria,
agricultura, actividades recreativas e de lazer, aquacultura e piscicultura, entre outros).
No final do sc. XX, Portugal apresentava registadas 4 384 captaes para
abastecimento, 6,1% delas do tipo superficial e 77,4% do tipo subterrneo, estando as
restantes sem classificao. Das captaes com origem superficial, 76,8% serviam
aglomerados com mais de 10 000 habitantes, enquanto 97,6% das captaes
subterrneas abasteciam aglomerados com menos de 10 000 habitantes, traduzindo-
se em cerca de 63,0% da populao nacional servida com origens superficiais e
37,0% com fontes subterrneas. De referir, no entanto, que na ultima dcada
aumentou significativamente o recurso a gua superficial em detrimento das captaes
subterrneas. A nvel do consumo de gua os sectores encontravam-se distribudos
da seguinte forma: a agricultura destacava-se, com cerca de 74,4%, a produo de
energia com 14%, o abastecimento residencial apresentava valores na ordem dos
6,7%, enquanto que a industria utilizava somente 4,4%.
Relativamente aos nveis de atendimento em guas residuais, conforme referido no
Plano de Desenvolvimento Regional 1994-1999 (INAG, 2001a), o nosso Pas
dispunha, nos finais do sculo passado, de apenas 55,3% de infra-estruturas de redes
de drenagem e instalaes de tratamento de guas residuais que serviam cerca de
75% da populao.
Com o terceiro quadro comunitrio de apoio, e elaborao do Plano Estratgico de
Abastecimento de gua e de Saneamento de guas Residuais (MAOT I, 2000) (2000-
Introduo
Pg. 3
2006), Portugal deu um salto qualitativo e quantitativo a nvel de atendimento e
cobertura como se pode observar na Tabela 1.1. na qual as projeces contavam com
a finalizao de todas as obras previstas no PEAASAR I (MAOT II, 2007). Apesar de
se ter registado uma evoluo positiva e o PEAASAR I ter sido considerado um xito,
este plano beneficiou essencialmente a vertente em alta com melhoria significativa
ao nvel da populao servida por sistemas de tratamento. Mais recentemente,
beneficiando do 4 quadro comunitrio de apoio, foi elaborado o PEAASAR II (2007-
2013), que pretende beneficiar a vertente em baixa dos sistemas de gua e
saneamento.
Tabela 1.1 Evoluo percentual dos nveis de cobertura (MAOT II, 2007).
Vertente em baixa 1994 1999 2006
Abastecimento de gua 84% 88% 93%
Recolha de guas residuais 63% 72% 76%
Tratamento de guas residuais 32% 55% 80%
O PEAASAR II centra a sua aco na sustentabilidade econmico-financeira,
ambiental e social dos sistemas, interligadas entre elas pelo preo da gua, que
dever representar um ponto de equilbrio. A prioridade para o perodo 2007-2013
centra-se na criao de condies para a cobertura integral dos custos do servio,
como forma de garantir a sustentabilidade do sector para geraes futuras. Tambm a
mudana dos actores no desenvolvimento das redes na vertente em baixa permitir
uma maior optimizao e o uso eficiente do recurso gua possibilitando um aumento
dos nveis de atendimento e a diminuio do ndice mdio nacional de perdas em
redes de abastecimento.
Dos cerca de 561 719 x 103 m3.ano-1 de gua consumida no Pas, 90,9% so
devolvidos a massas hdricas (INAG, 2001b). Destes, 56,9% no sofrem qualquer tipo
de tratamento, 3,8% passam por fossa sptica, 11,1% tem tratamento primrio, 25,9%
sofrem tratamento secundrio e 2,3% tratamento avanado. Um estudo sobre o
desempenho dos sistemas de tratamento de guas residuais no nosso Pas (MAOT I,
2000), revelou que, da maioria dos pontos de descarga identificados, apenas 20% so
provenientes de ETAR, enquanto que 48,8% so provenientes de fossas spticas
colectivas. O estudo conclui ainda que, das 1 228 ETAR e fossas spticas analisadas,
18,0% apresentavam um bom funcionamento, 58,1% um desempenho satisfatrio e
23,9% no funcionavam ou funcionavam com deficincias. A predominncia de
sistemas de pequena dimenso, com solues ao nvel do aglomerado populacional,
Introduo
Pg. 4
associados a grande disperso espacial e multiplicidade de ligaes e o deficiente
desempenho das infra-estruturas, em muitos casos sem operao adequada, ou,
tambm, a adopo de solues de tratamento desajustadas, so as principais razes
apontadas para os baixos ndices da qualidade do servio prestado (MAOT I, 2000).
A eficcia do tratamento de guas residuais encontra-se intrinsecamente ligada a
determinados parmetros que a caracterizam como, por exemplo, a carncia
bioqumica de oxignio a cinco dias (CBO5), a carncia qumica de oxignio (CQO), o
carbono orgnico total (COT), o azoto total (N-Tot), os ies amnio (NH4+) e nitrato
(NO3-), o fsforo total (P-Tot) e os slidos suspensos totais (SST).
O tratamento de guas residuais tem como objectivo principal a remoo da sua carga
poluente, manifestada pelas suas caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas, de
forma a produzir um efluente final de qualidade conforme as normas de descarga
impostas pela legislao vigente, nomeadamente o Decreto-lei n 152/97 de 19 de
Junho para PE superiores a 2000 (proteco das guas superficiais em relao
poluio de origem urbana) e o Decreto-lei n 236/98 de 1 de Agosto (normas de
qualidade da gua para diferentes usos) para PE inferiores a 2000, e pelos objectivos
de qualidade definidos para o meio receptor. Estas normas referem valores limite de
emisso que so apresentados na Tabela 1.2.
Tabela 1. 2 Valores limite de descarga de acordo com legislao vigente
Parmetros Dec. Lei n 152/971 Dec. Lei n 236/982 CQO (mg O2 L-1) 125 150 CBO5 (mg O2 L-1) 25,0 40,0 SST (mg.L-1) 35,0 60,0 N-Tot (mg.L-1) 10,0; 15,03 15,0 NO3- (mg.L-1) - 50,0 NH4+ (mg.L-1) - 10,0 P-Tot (mg.L-1) 1,0 2,04 5,0; 3,0; 10,05
A disperso de aglomerados de pequena dimenso, especialmente em zonas rurais
ou perifricas de grandes cidades, tem levado adopo de sistemas de tratamento
economicamente viveis e tecnicamente sustentveis, como o caso dos leitos de
1 Para PE > 2000 2 Para PE < 2000 3 15,0 mg L-1 entre 10 000 e 100 000 PE; 10,0 mg L-1 para mais de 100 000 PE 4 2,0 mg L-1entre 10 000 e 100 000 PE; 1,0 mg L-1para mais de 100 000 PE 5 10,0 mg L-1 (geral); 3,0 mg L-1 (guas que alimentam lagoas ou albufeiras); 0,5 mg L-1 (lagoas ou albufeiras) PE: equivalentes populacionais
Introduo
Pg. 5
macrfitas, que, alm de tratamento secundrio, podem tambm proporcionar
tratamento de afinao, especialmente til quando o meio receptor considerado
sensvel ou se pretende instalar a opo de reutilizao.
Os leitos de macrfitas tm recebido cada vez mais ateno por parte da comunidade
cientfica mundial (Bastian e Benforado, 1983; Reddy e Smith, 1987; Reed et al., 1988,
Hammer, 1989; Cooper e Findlater, 1990; Etnier e Guterstam, 1991; Tchobanoglous e
Burton, 1991; Vymazal et al., 1998; IWA, 2000; Njau et al., 2003). Este facto parece
dever-se ao crescente interesse em tecnologias ecolgicas mais consistentes com a
conservao de recursos, proteco do ambiente e maior fiabilidade deste tipo de
processos ecolgicos em detrimento de processos de tratamento consumidores de
mais, energia, produtos qumicos e utilizadores de meios mecnicos mais intensivos.
O primeiro trabalho de investigao que intencionalmente pretendeu estudar o
tratamento de efluentes em leitos de macrfitas foi conduzido por Seidel (1955) no
Max Planck Institute em Plon, na Alemanha. Em 1952, Seidel pesquisou a remoo de
fenis de efluentes atravs da Scirpus lacustris e em 1956 comeou a testar o
tratamento de efluentes com S. lacustris (Bastian e Hammer, 1993).
De 1955 at ao final da dcada de 70, Seidel publicou numerosos estudos sobre o
tratamento de guas e guas residuais recorrendo a leitos de macrfitas (Seidel 1955,
1961, 1976). Um dos seus alunos, Kickuth, continuou o trabalho experimental e
popularizou esta tecnologia, juntamente com colegas europeus , tendo projectado e
construdo cerca de 200 estaes de tratamento de guas ou guas residuais para
efluentes domsticos e industriais.
Durante os anos 70, nos Estados Unidos da Amrica (EUA), foram desenvolvidos
tratamentos alternativos, suportados por projectos de investigao desenvolvidos em
universidades e apoiados pela agncia de proteco ambiental (EPA), exrcito ou
outras agncias governamentais (Bastian e Hammer, 1993), que permitiram a
expanso e aplicabilidade daqueles sistemas.
Estes sistemas, dada a sua aplicabilidade a aglomerados urbanos de dimenso entre
100 e 5000 PE (Haberl et al., 1995; Vymazal et al., 1998; IWA 2000), comearam a ser
bastante utilizados em aglomerados de pequena dimenso ou dispersos, em
alternativa a sistemas convencionais de tratamento centralizados, sendo, portanto,
Introduo
Pg. 6
mais considerado um sistema descentralizado, com boas potencialidades para ser
integrado com a possibilidade de reutilizao do efluente final.
A maioria dos leitos de macrfitas com escoamento sub-superficial que se construram
na Europa foram projectados para aglomerados populacionais com menos de 500 PE.
No entanto, existem exemplos de sistemas projectados para aglomerados
populacionais de muita pequena dimenso (menos de 50 PE) e exclusivamente para
uma habitao (IWA 2000).
Nos sistemas que esto a ser implementados em Portugal normalmente para
aglomerados com dimenso inferior a 2000 PE, prevalece a colonizao com a
espcie Phragmites australis, sendo a alimentao, normalmente, subsuperficial e o
escoamento do tipo horizontal (LM-ESSH). O meio de enchimento, essencial para a
fixao das plantas e para o desenvolvimento de biofilme com capacidade para a
remoo de substratos, apresenta, normalmente, problemas de colmatao, cujas
causas no esto muito bem estudadas, presumindo-se que possam estar
relacionadas com as caractersticas do material de enchimento, crescimento excessivo
de biomassa, acumulao de matria slida em suspenso, formao de precipitados
e desenvolvimento de rizomas e de razes.
Trata-se de um problema grave para as entidades gestoras, uma vez que tem ocorrido
em intervalos de tempo entre os 3 meses e os 2 anos aps o arranque das
instalaes, quando se esperaria que apenas ocorresse com importncia significativa
ao fim de 5 anos. Ou seja, os custos de operao e manuteno relacionados com a
substituio do meio de enchimento, colonizao e arranque das instalaes esto a
aumentar significativamente, alm das consequncias ambientais relacionadas com a
falha no tratamento e a activao dos sistemas de by-pass.
Os problemas da colmatao prematura do leito podem estar relacionados com as
caractersticas do material e da sua colocao em obra, com o cumprimento da
inclinao mnima necessria ao escoamento laminar e com as caractersticas dos
efluentes, nomeadamente flutuaes de caudais em reas de actividade sazonal e
entrada na rede de drenagem de contribuies provenientes de fontes industriais e
agrcolas.
Na impossibilidade de serem introduzidas alteraes estruturais nos LM-ESSH j em
funcionamento, uma das solues apontadas pelas entidades gestoras, alm da
Introduo
Pg. 7
melhoria do tratamento primrio, tem sido a substituio do meio de enchimento
tradicional (brita) por outro mais homogneo, com maior superfcie especfica, que
permita uma maior eficincia de tratamento para o volume de leito instalado.
A utilizao de argila expandida tem sido apontada como uma soluo alternativa,
tendo apresentado bons resultados (Vandevivere et al., 1999; Daims et al., 2001;
Vacca et al., 2005; Cortes et al., 2006) em outros pases com clima Mediterrnico (e.g.
Espanha, Itlia, Frana e Egipto), acreditando-se que pode permitir aumentar a
eficincia de tratamento nos sistemas que apresentam cargas orgnicas e de azoto
superiores s previstas em projecto ou, nos sistemas sem grande alterao das
condies de afluncia, pode reduzir o volume instalado para tratamento. Contudo,
no existem estudos em Portugal que permitam tirar concluses sobre a eficcia da
argila expandida relativamente ao enchimento clssico base de brita no tratamento
de efluentes domsticos ou urbanos, pelo que, por solicitao de algumas entidades
gestoras localizadas na regio da Beira Interior, se decidiu realizar um estudo
comparativo sobre a influncia das caractersticas destes dois tipos de meios de
enchimento na remoo de matria orgnica, formas de azoto e matria slida em LM-
ESSH.
1.2 Objectivos O objectivo principal do trabalho centrou-se no estudo da influncia do tipo de material
de enchimento na remoo simultnea de matria orgnica, formas de azoto e matria
slida em leitos de macrfitas com escoamento subsuperficial e horizontal (LM-ESSH),
atravs da utilizao de um modelo fsico laboratorial, colonizado com Phragmites
australis.
Assim, os objectivos especficos do estudo centraram-se nos seguintes aspectos:
1) Estudo da remoo, ao longo do leito e no tempo, de formas de azoto inorgnico
(azoto amoniacal e nitrato) e da sua relao com a reduo de matria orgnica, para
dois tipos de enchimento (brita e argila expandida com o nome comercial Filtralite),
utilizando efluentes sinttico ( base de acetato, cloreto de amnio e nitrato de
potssio) e de tratamento primrio proveniente da ETAR da Capinha;
Introduo
Pg. 8
2) Avaliao da capacidade de filtrao do leito ao longo do tempo e sua relao com
a evoluo da colmatao, para dois tipos de enchimento (brita e argila expandida
com o nome comercial Filtralite), utilizando efluentes sinttico ( base de acetato,
cloreto de amnio e nitrato de potssio) e de tratamento primrio proveniente da ETAR
da Capinha
3) Avaliao das relaes entre cargas aplicadas e cargas removidas ao longo do
tempo e sua comparao com o observado noutros estudos internacionais.
1.3 Estrutura da tese A tese encontra-se estruturada em sete captulos.
No captulo um apresenta-se o enquadramento do tema, com abordagem dos
sistemas de tratamento por leitos de macrfitas e sua aplicabilidade para o tratamento
de efluentes, a importncia da gesto da gua e preservao da sua qualidade para
as actividades humanas e evoluo das politicas para a sua gesto em Portugal,
finalizando com os objectivos gerais e especficos da dissertao e com a sua
estrutura.
No captulo dois, apresenta-se uma breve reviso bibliogrfica sobre leitos de
macrfitas, nomeadamente sobre os tipos de sistemas mais utilizados, sua
classificao, constituio, aplicabilidade, mecanismos responsveis pela
transformao de substratos, parmetros de controlo e critrios de dimensionamento.
O captulo trs inclui a descrio do plano experimental.
No captulo quatro descrevem-se os materiais e mtodos utilizados, incluindo a
apresentao da instalao laboratorial, a metodologia seguida para a preparao do
inoculo e da soluo de alimentao, aclimatao de biomassa e colonizao do leito,
bem como o modo de operao utilizado, as tcnicas de amostragem e conservao
de amostras e os procedimentos analticos utilizados.
No captulo cinco apresentam-se, de forma resumida, os resultados da fase
experimental, que so includos na totalidade no Anexo I.
Introduo
Pg. 9
No captulo seis apresenta-se a anlise e discusso dos resultados, incluindo a
comparao com os resultados obtidos noutros estudos, sendo as concluses e
recomendaes para trabalhos futuros includas no captulo sete.
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 10
2. Processos de tratamento por leitos de macrfitas 2.1 Caractersticas das guas residuais A composio das guas residuais de um aglomerado populacional depende das
caractersticas do prprio aglomerado, sendo o resultado da mistura de guas
residuais de uso domstico (essencialmente guas de lavagem e de evacuao de
excreta), industriais e por vezes, de guas pluviais. Sendo assim, as guas residuais
podem dividir-se em (Metcalf e Eddy, 2003):
guas residuais domsticas: guas de lavagem e de evacuao de excreta,
provenientes de habitaes, hotis, pequeno comrcio, escolas, etc., e
caracterizadas essencialmente pela presena de compostos orgnicos biolgicos
ou quimicamente degradveis;
guas residuais industriais: resultantes da actividade industrial e que podem conter
compostos maioritariamente orgnicos e relativamente fceis de remover
biologicamente (e.g. guas residuais da actividade agro-pecuria e agro-alimentar,
matadouros) ou compostos orgnicos e inorgnicos, tais como substncias txicas,
metais pesados, pesticidas, fenis, cidos, bases, etc. de difcil biodegradabilidade
(e.g. guas residuais das indstrias do papel, qumica e txtil) ou germes
patognicos (e.g. guas residuais hospitalares);
guas pluviais: resultantes da chuva e da lavagem das ruas;
guas residuais urbanas: consiste na mistura de guas residuais domsticas com
guas residuais industriais e pluviais.
As guas residuais domsticas contm entre 60 a 80% de matria orgnica de fcil
biodegradabilidade, cujos principais componentes so carbohidratos (e.g. acares e
amido), compostos azotados (e.g. protenas e ureia) e gorduras; e entre 20 a 40% de
compostos de difcil biodegradabilidade (e.g. leos, detergentes, celulose e
hidrocarbonetos), matria inerte, metais pesados e sais. As guas residuais
domsticas contm ainda microrganismos bacteriolgicos associados evacuao de
excreta (e.g. bactrias, vrus, fungos, protozorios e helmintas), alguns patognicos
responsveis por doenas como a clera, a hepatite A ou gastroenterites
(Albuquerque A., 2003b).
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 11
O tratamento de guas residuais pretende a remoo da sua carga poluente, afim de
produzir um efluente final com caractersticas conforme as normas de descarga ou de
reutilizao impostas pela legislao vigente e pelos objectivos de qualidade definidos
para o meio receptor ou para futuras aplicaes.
A eficcia do tratamento de guas residuais encontra-se intrinsecamente ligada a
determinados parmetros, como apresentado na Tabela 2.1.
As massas hdricas, dependendo das suas caractersticas biticas, apresentam uma
capacidade natural de auto depurao que lhes podem permitir recuperar dos efeitos
da incorporao de massas poluentes num perodo de tempo limitado. Contudo, a
descarga de substncias que, pela sua composio ou quantidade, alterem
profundamente as caractersticas da gua, podem torn-la incompatvel com a vida
aqutica e com a utilizao humana.
Entre os poluentes de maior preocupao encontram-se os compostos consumidores
de oxignio (e.g. poluentes de origem orgnica) que interferem, essencialmente, com
os ciclos naturais do azoto e do fsforo, e substncias persistentes e bio acumulveis
que podem causar mortalidade, morbilidade, perturbaes genticas e outros efeitos
nos organismos vivos, ou mesmo desequilibrar de forma significativa os ecossistemas.
Tabela 2.1 - Valores tpicos de alguns parmetros caractersticos para diferentes tipos de guas residuais domsticas (adaptado de WPCF, 1996; Metcalf e Eddy, 2003)
Tipo de gua
Residual CBO5
(mg O2 L-1) CQO
(mg O2 L-1) COT
(mg C L-1) SST
(mg L-1) NH4+
(mg L-1) COT/ CQO C/N
1
No tratada 140,0
400,0
350,0
1000,0
120,0
300,0
100,0
350,0
25,0
50,0
0,25
0,40
3,0
3,4
Aps tratamento primrio
80,0
250,0
200,0
500,0
80,0
200,0
80,0
140,0
20,0
40,0
0,4
0,5
3,5
4,0
Aps tratamento secundrio
20,0
40,0
80,0
150,0
40,0
80,0
10,0
50,0
10,0
20,0
0,3
0,5
3,5
4,8 1 C refere-se ao COT e ao N ao azoto total
2.2 Processos de tratamento Um dos principais objectivos das tecnologias ambientais melhorar a eficincia do
tratamento de resduos atravs de processos que consumam menos recursos,
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 12
especificamente no que respeita energia e aos materiais (Rodrigues et al. 2004).
Neste contexto, os processos biolgicos so aqueles que quer tecnicamente quer
economicamente tm produzido melhores resultados para tratamento de efluentes
urbanos com uma componente importante de matria biodegradvel (Martins 2004).
A remoo ou a reduo significativa da carga poluente veiculada pelas guas
residuais numa ETAR envolve a combinao de operaes e processos unitrios, que
se distribuem por diferentes nveis de tratamento (preliminar, primrio, secundrio,
tercirio e de afinao e o tratamento de lamas). A remoo de slidos grosseiros e
sedimentveis conseguida atravs de processos fsicos de separao, como
gradagem, tamisao e decantao. A remoo da carga orgnica na forma solvel
e/ou coloidal , no essencial, realizada por microrganismos, atravs de processos que
privilegiam biomassa fixa, em suspenso ou mista.
Os tratamentos biolgicos (e.g. lamas activadas, leitos percoladores, leitos de
macrfitas, lagunagem e discos biolgicos) so os mais utilizados para a remoo da
carga poluente de efluentes urbanos. A eficincia do tratamento , normalmente,
avaliada em funo das taxas globais de remoo de determinados parmetros, como
apresentado na Tabela 2.2. Contudo, estes processos no permitem remover a
totalidade dos constituintes presentes nos efluentes domsticos, podendo observar-se
a presena de valores residuais, mesmo aps tratamento secundrio. Os constituintes
remanescentes podem causar impactes ambientais significativos nas massas hdricas
e no solo, nomeadamente nos seus potenciais usos.
Entre os compostos residuais que so detectados na descarga de instalaes de
tratamento encontram-se, de acordo com Albuquerque (2003a), matria orgnica
solvel, biodegradvel ou refractria, produtos resultantes da actividade
microbiolgica, slidos suspensos, metais pesados, compostos orgnicos volteis e
compostos inorgnicos solveis. A descarga de efluentes industriais na rede de
drenagem aumenta significativamente a quantidade e variabilidade destas
substncias.
Quando o meio receptor apresenta, pelas suas caractersticas, sensibilidade
descarga de efluentes tratados ou, a jusante, utilizado para determinado uso, a
ETAR deve ser dotada de nveis de tratamento complementares, como o tercirio ou o
de afinao, de forma a reduzir a presena de compostos residuais, podendo,
alternativamente, integrar-se a possibilidade de reutilizao. No primeiro caso incluem-
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 13
se, essencialmente, processos biolgicos para remoo de azoto (nitrificao e
desnitrificao) e processos biolgicos e/ou qumicos para a reduo do fsforo (e.g.
por precipitao com sais de alumnio, ferro ou clcio); no segundo caso incluem-se,
por exemplo, a desinfeco e a remoo de substncias orgnicas refractrias.
Tabela 2.2 - Eficincias de remoo de constituintes das guas residuais domsticas em algumas operaes e processos biolgicos convencionais (adaptado de Albuquerque et al. 2008; EPA 1999; IWA 2000; Kowalik P. 1995; Korkusuz 2005)
Operao ou Processos de
tratamento
Eficincia de remoo (%)
CBO5 CQO SST P-Tot Org.-N NH4+-N
Gradagem e Desarenamento 0,0
0,5
0,0
0,5
0,0
1,0 0,0 0,0 0,0
Decantao Primria 20,0
40,0
30,0
40,0
50,0
60,0
10,0
20,0
10,0
20,0 0,0
Lamas Activadas (sistema convencional)
80,0
95,0
80,0
90,0
85,0
90,0
10,0
30,0
15,0
50,0
10,0
15,0
Leitos Percoladores (alta carga, enchimento de brita)
60,0
90,0
60,0
80,0
60,0
90,0
10,0
15,0
15,0
20,0
8,0
15,0
Leitos Percoladores (alta carga, enchimento sinttico
65,0
85,0
65,0
85,0
65,0
85,0
10,0
15,0
Discos Biolgicos 80,0
90,0
80,0
85,0
80,0
85,0
10,0
25,0
15,0
50,0
8,0
15,0
Leitos de Macrfitas
ESSH 40,0
- 95,0
60,0 -
90,0
60,0 -
90,0
10,0 -
35,0
49,0 -
90,0
48,0 -
88,0
ESSV 25,0
- 99,0
49,0 -
91,0
30,0 -
84,0
31,0 -
92,0
28,0 -
91,0
44,0 -
95,0
Os processos de tratamento que utilizam filtrao atravs de um meio poroso (e.g.
leitos percoladores, leitos compactos ou leitos de macrfitas) apresentam,
normalmente, um enchimento constitudo por brita, seixo rolado ou material sinttico, e
so muito utilizados como tratamento secundrio, tercirio ou de afinao de vrios
tipos de efluentes (e.g. guas residuais domsticas, efluentes industriais, escorrncias
de rodovias e lixiviados de aterro sanitrio). A remoo de substratos ocorre
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 14
maioritariamente por contacto da gua residual com o filme biolgico (biofilme)
presente no meio de enchimento.
2.3 Leitos de Macrfitas 2.3.1 Descrio e aplicabilidade
Os leitos de macrfitas tm sido utilizados para o tratamento de efluentes de origem
diversificada, nomeadamente domsticos, de actividades industriais e agrcolas,
lixiviados de aterros sanitrios, de actividades mineiras e de escorrncias de rodovias
(IWA 2000; Langergraber et al., 2000), beneficiando de processos naturais envolvendo
plantas, solo e uma comunidade microbiana de constituio diversificada e adaptada a
diferentes ambientes bioqumicos.
A sua utilizao no tratamento de guas residuais industriais tem sido confinado a
efluentes biodegradveis (e.g. indstria de processamento de fruta, matadouros e
lagares de azeite) ou que no apresentem toxicidade, para a biomassa ou plantas.
(Davies et al, 1990). Os estudos mais recentes centram-se no estudo da remoo de
elementos especficos como corantes produzidos na indstria txtil (Husband et al.,
2000) ou metais na indstria de curtumes (Calheiros et al. 2008; Calheiros et al. 2007)
No tratamento de efluentes provenientes da actividade agrcola intensa (e.g vacarias,
suiniculturas e avirios), dada a presena de elevadas concentraes de matria
orgnica e matria slida que podem provocar a colmatao rpida dos leitos, tm
sido utilizada a associao de lagoas de estabilizao com lagoas de macrfitas
(Geary e Moore, 1999), o que parece ser uma soluo mais econmica
comparativamente com os processos clssicos de decantao primria (decantador
primrio ou tanque Imhoff).
Existem inmeros estudos sobre a utilizao de leitos de macrfitas no tratamento de
escorrncias provenientes de solos agrcolas, com presena considervel de azoto,
fsforo e pesticidas (Crumpton, 2000; Romero et al. 1999), e provenientes de rodovias
(Nuttall et al., 1997; Thorn et al. 2003), com elevadas remoes de slidos e metais
pesados, nomeadamente cobre, crmio, nquel, zinco, chumbo e ferro (Sakadevan et
al., 1999; Shutes et al., 2000), tendo sido registadas elevadas eficincias de remoo
daqueles constituintes.
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 15
Os leitos de macrfitas (Figura 2.1) so sistemas de tratamento biolgico de guas
residuais em superfcie livre (as de escoamento superficial) ou por filtrao em meio
poroso (as de escoamento sub-superficial), caracterizados por pequenas depresses
escavadas no terreno com fundo impermevel, onde se desenvolvem espcies de
plantas hidrfilas, caractersticas de terrenos encharcados, as macrfitas (Cabral
2004). Normalmente, so antecedidos por um tratamento preliminar e primrio a
montante, incluindo um sistema de grades, um desarenador e fossa sptica ou o
tanque Imhoff.
Figura 2.1 - Representao esquemtica da planta e corte de um leito de macrfitas emergentes (adaptada de Relvo, 1999)
De acordo com (Esteves 1998), macrfita aqutica a denominao mais adequada
para caracterizar vegetais que habitam em brejos (terrenos encharcados), margens e
reas rasas de rios, lagos, reservatrios, fitotelmos, entre outros corpos de gua, onde
se incluem os vegetais, macroalgas, e at as plantas vasculares.
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 16
As espcies de plantas utilizadas esto adaptadas ou adaptam-se facilmente s
caractersticas de diversos efluentes, apresentando capacidade de transportar
oxignio, atravs dos aernquimas especiais, at s razes e rizomas e daqui para o
exterior para a rizosfera (zona de transio entre as razes e os rizomas e a fase
lquida).
O papel desempenhado pela comunidade de macrfitas aquticas no equilbrio de
ecossistemas lmnicos considerado de grande importncia para a transio entre
ecossistemas aquticos e o ambiente terrestre adjacente, onde a gua surge como
factor determinante no desenvolvimento de solos e de comunidades biolgicas.
Em termos de escoamento, o fluxo pode ser horizontal ou vertical, em superfcie livre
ou atravs de um meio poroso, razes e rizomas das plantas, onde ocorrem
fenmenos de filtrao, sedimentao, volatilizao, decomposio por processos de
oxidao-reduo, adsoro e precipitao, resultando a remoo de matria
orgnica, matria slida e nutrientes (particularmente de azoto e fsforo), bem como
de microrganismos patognicos e metais pesados (Relvo 1999, Duarte 2002, Cabral
2004). No entanto, as caractersticas dos leitos de macrfitas, a qualidade e
quantidade de gua residual a tratar e as variaes do ciclo hidrolgico, so factores
bastante importantes no desenvolvimento de mecanismos de remoo de poluentes.
So normalmente utilizados como tratamento secundrio, para complementar o
tratamento primrio (Figura 2.2) em aglomerados urbanos de pequena e mdia
dimenso (50 a 5000 p.e), dispensando o recurso a sistemas mecanizados de
manuteno onerosa. Tambm podem ser utilizados para tratamento tercirio (para
remoo de azoto e fsforo como ilustrado na Figura 2.3).
Entre as principais vantagens dos leitos de macrfitas destacam-se (EPA, 1999;
Relvo 1999, IWA, 2000; Cabral 2004):
Custos de construo e operao relativamente baixos comparativamente com os
sistemas convencionais (e.g. lamas activadas ou leitos percoladores);
Necessidade de menores reas para implantao que os sistemas de lagunagem
de estabilizao (sem plantas);
Fcil operao e manuteno;
Elevadas eficincias de remoo de matria orgnica, matria slida, nutrientes
(azoto e fsforo) e metais pesados;
Tolerncia a variaes de cargas hidrulicas, orgnicas e inorgnicas;
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 17
Reduzida emisso de odores (sistemas com escoamento sub-superficial);
Dispensa a utilizao de qumicos;
Gastos de energia relativamente baixos;
Possibilidade de reutilizao do efluente final;
Obteno de benefcios adicionais, nomeadamente, espaos verdes, habitats
naturais e reas de recreio ou educacionais.
Como principais desvantagens destacam-se (EPA, 1999; Relvo 1999, IWA, 2000;
Cabral 2004):
Necessidade de maiores reas para implantao que os sistemas convencionais
como as lamas activadas ou leitos percoladores;
Colmatao do leito devido presena de elevadas concentraes de matria
orgnica e matria slida;
As eficincias de tratamento mais elevadas podem s ser atingidas dois a trs anos
aps o inicio da explorao (i.e., aps um bom desenvolvimento das plantas);
Apresenta eficincias sazonais, influenciadas pelas pocas vegetativas e no
vegetativas;
Possvel aparecimento de roedores e insectos, nomeadamente mosquitos;
Para minimizar algumas das desvantagens apontadas , portanto, necessrio ter
alguns cuidados quando se procede ao seu dimensionamento, tais como as
caractersticas do afluente aps o tratamento primrio, o tipo de enchimento, o tipo de
planta para colonizao e a variao das condies climatricas que pode influenciar o
ciclo hidrolgico.
Figura 2.2 Leito de macrfitas utilizado como sistema secundrio.
Figura 2.3 Leito de macrfitas utilizado como sistema tercirio.
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 18
2.3.2 Tipos de sistemas
Existem diversos tipos de configuraes de leitos de macrfitas que se classificam de
acordo com as seguintes caractersticas (Vymazal, 2003; EPA, 1999; Haberl, 1999;
IWA, 2000):
De acordo com o tipo de macrfita aqutica dominante (submersa, emergente ou
flutuante.
De acordo com o tipo de configurao dos leitos (sistemas hbridos, de uma
passagem ou com recirculao);
De acordo com o tipo de afluente a tratar (domstico, industrial, agrcola, lixiviados
de aterros sanitrios ou de actividades mineiras e escorrncias de rodovias ou de
actividades agrcolas);
De acordo com o nvel de tratamento exigido (secundrio, tercirio ou de afinao);
De acordo com o tipo de meio de enchimento (brita, areia ou areo grosso, seixo
rolado, argila expandida ou material sinttico);
De acordo com o tipo de carga (continuo ou descontinuo);
A classificao mais comum inclui o tipo de escoamento:
Sistemas de escoamento superficial;
Sistemas de escoamento sub-superficial: horizontal e vertical
Sistemas mistos ou hbridos.
No mbito deste trabalho, apenas so descritos os sistemas estabelecidos com
macrfitas aquticas emergentes, por serem os mais utilizados em Portugal,
apresentando-se mais detalhes para os sistemas de escoamento sub-superficial e
horizontal que se utilizam no plano experimental deste estudo.
2.3.2.1 Escoamento superficial
Os sistemas com escoamento superficial (Figura 2.4) apresentam uma superfcie
lquida acima do meio de enchimento e permitem boas condies para a formao de
biofilmes. De acordo com a configurao do leito, a altura no nvel do lquido, as
caractersticas do efluente e da planta usada, a temperatura e outras condies
ambientais, podem predominar mecanismos de remoo aerbios, anaerbios e
anxicos.
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 19
Estes leitos podem ter a configurao de bacias ou canais impermeabilizados, com
profundidade entre 0,3 a 1,0 m e declives de fundo entre 0,5% a 1,5%. Por vezes, so
providos de uma camada que suporta a vegetao emergente, de espessura reduzida
(entre 0,10 m e 0,20 m), base de brita e/ou areo, e um corpo de gua geralmente
pouco profundo (0,6 a 1 m).
As espcies de macrfitas emergentes mais utilizadas nestes sistemas so o Scirpus
lacustris, a Typha latifolia e a Phragmites australis (a mais comum na Europa).
Os inconvenientes destes sistemas esto associados proliferao de insectos e
odores desagradveis, que se desenvolvem devido ao contacto do efluente com a
atmosfera.
Figura 2.12 Esquema de um leito com fluxo superficial (adaptado de Dias et al. 2000)
2.3.2.2 Escoamento sub-superficial No sistema de escoamento sub-superficial o nvel do lquido mantm-se abaixo da
superfcie do leito, podendo a sua profundidade variar de 0,3 a 1,0 m, sendo 0,6 m a
mais vulgar (Dias et al. 2000). As vantagens destes sistemas prendem-se com a
menor ocorrncia de odores e de insectos e tambm com o menor risco de contacto
das pessoas com a gua residual, uma vez que esta mantida abaixo da superfcie do
leito. Consoante o tipo de alimentao, possvel distinguir-se os sistemas de
escoamento sub-superficial horizontal (LM-ESSH) e os de escoamento sub-superficial
vertical (LM-ESSV).
O sistema LM-ESSH (Figura 2.5) o mais usual no nosso Pas e na maioria dos
pases europeus e mediterrnicos. O afluente distribudo entrada do leito ao longo
de toda a sua largura, deslocando-se horizontalmente, penetrando atravs do meio
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 20
poroso e da rizosfera, no existindo, portanto, escoamento superficial. Enquanto
ocorre a passagem do lquido pela rizosfera sucedem-se mecanismos de adsoro,
precipitao e degradao microbiana. O efluente tratado recolhido no extremo
oposto entrada, para ser descarregado num destino final, normalmente em linha de
gua (Oliveira 1995).
Figura 2.5 Representao esquemtica de um LM-ESSH (adaptado de Iweme et al. 2005)
Nos sistemas do tipo LM-ESSV existem dois sentidos de escoamento, o vertical
descendente (Figura 2.6), mais comum, e o vertical ascendente.
Nos sistemas descendentes, a gua residual passa verticalmente pela superfcie do
leito, infiltrando-se rapidamente, at ser recolhida inferiormente junto base do leito.
Nos sistemas ascendentes o escoamento ocorre por contra-corrente e por
capilaridade, normalmente com a utilizao de sistemas mecanizados.
A eficincia de remoo de poluentes nestes sistemas depende da capacidade de
arejamento do solo e, portanto, das propriedades do material de enchimento.
Podem ainda, coexistir a associao de sistemas ESSV e ESSH, denominados
sistemas mistos ou hbridos.
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 21
Figura 2.6 Representao esquemtica de um LM-ESSV descendente (adaptado de Iweme et al. 2005)
2.3.3. Componentes do sistema
2.3.3.1 Meio de enchimento
Nos sistemas de escoamento sub-superficial o meio de enchimento de importncia
fundamental para o desenvolvimento do biofilme e a ancoragem das plantas. Nesta
matriz de material de enchimento, razes e rizomas, coabita uma grande variedade de
microrganismos, nomeadamente bactrias, fungos, algas e protozorios, que utilizam
os substratos para obterem carbono, nutrientes e energia para as suas actividades de
crescimento e manuteno. A maior parte dos microorganismos responsveis pela
alterao de substratos est presente no biofilme que se desenvolve nas razes e
rizomas das plantas ou nas partculas de meio de enchimento inerte.
O meio de enchimento , normalmente, constitudo por camadas de material natural
(normalmente gravilha, mas pode tambm ser utilizado solo arenoso, areia ou areo
grosso e seixo rolado), reciclado (e.g. geopolimeros e compsitos de argila expandida
e lamas residuais) ou sinttico (e.g. poliestireno), de profundidade tipicamente inferior
a um metro, podendo levar em toda a superfcie uma estreita camada de solo arvel
que suporta o crescimento das plantas (Relvo, 1999; IWA, 2000; Albuquerque et al.,
2008). A constituio do leito pode incluir camadas de granulometria crescente,
normalmente no sentido ascendente, at camadas homogneas do mesmo tipo de
material.
De acordo com Relvo (1999), EPA (1999), IWA (2000), o meio de enchimento deve
apresentar uniformidade e porosidade e condutividade hidrulica adequadas, pois
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 22
estas caractersticas podem afectar o escoamento e o desempenho do sistema. A
uniformidade importante devido ao facto de partculas mais pequenas poderem
ocupar os poros e diminuir o volume disponvel para o escoamento e transporte de
solutos, alm de contribuir para uma mais rpida colmatao do leito. A condutividade
hidrulica deve ser suficientemente elevada para permitir que o escoamento seja sub-
superficial, evitando o escoamento superficial e caminhos preferenciais no interior do
leito, susceptveis de provocar a diminuio do rendimento do sistema. A
condutividade hidrulica vai sendo alterada ao longo do tempo de operao, devido ao
desenvolvimento dos rizomas e das razes, pela formao de precipitados e pela
acumulao de partculas contidas nas guas residuais afluentes.
O material de enchimento particularmente til na remoo de slidos em suspenso
e de microrganismos patognicos, sendo aconselhvel, nestas circunstncias, a
utilizao de um meio com baixa granulometria. Recentemente, tm surgido materiais
alternativos, base de elementos reciclados ou argila expandida, cujas caractersticas
parecem beneficiar o funcionamento do sistema. Os leitos mais finos permitem uma
maior eliminao de microrganismos e uma melhor absoro dos nutrientes e maior
clarificao, contudo, exigem reas mais extensas. Pelo contrrio, leitos mais
permeveis, base de gravilha e areo, no so to eficazes no desenvolvimento das
plantas nem na remoo de poluentes e microrganismos, mas permitem a aplicao
de cargas hidrulicas mais elevadas e oferecem menores riscos de colmatao,
aspecto particularmente importante nos dois primeiros anos de funcionamento.
Assim sendo, um meio muito permevel admitir cargas hidrulicas mais elevadas e
estar menos sujeito a colmatao mas, em contrapartida, no assegurar condies
adequadas de filtrao e reteno, ou eliminao de microrganismos patognicos,
podendo, adicionalmente, originar um menor desenvolvimento das macrfitas. Nos
sistemas de leito com gravilha e areo, podem admitir-se cargas hidrulicas (caudal
por unidade de rea do meio) variando entre 2,5 x 10-2 a 6,0 x 10-2 m3.m-2.d-1(2 a 20
cm.d 1 ). A espessura da camada porosa pode variar entre 0,4 m e 1,0 m, sendo mais
frequente e recomendvel o valor de 0,6 m (Relvo, 1999; IWA, 2000).
No que diz respeito estanquicidade do leito, h que garantir, por um lado, a
proteco dos solos e dos recursos hdricos subterrneos e, por outro lado, assegurar
uma alimentao adequada para irrigao das plantas ao longo de todo o ano. Deste
modo, recomendvel que se proceda impermeabilizao do fundo e taludes do
leito, com uma camada de cerca de 0,2 m de argila compactada, ou com uma
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 23
membrana de polietileno de alta densidade (Relvo, 1999; IWA, 2000). Apenas em
solos muito argilosos se pode dispensar a utilizao de impermeabilizao do leito
(Relvo, 1999).
O fundo do leito dever ter uma ligeira inclinao, da entrada para a sada, que pode
variar de 0,2% a 3%, embora se recomendem valores de 0,5% a 1,5% (Relvo 1999;
EPA, 1999; IWA, 2000). Podero adoptar-se diversas configuraes para os leitos, de
forma a adapt-los topografia e geologia do terreno, sem prejuzo de se
assegurarem os critrios mnimos de funcionalidade (e.g., velocidades de
escoamento). A configurao mais comum a de planta rectangular, devendo o
comprimento (C) ser superior largura (L). Leitos com elevada permeabilidade devem
ser dimensionados para elevados valores de razo C/L, enquanto que leitos
constitudos por solo com baixa permeabilidade deve ser concebidos para baixos
valores de razo C/L.
2.3.3.2 Plantas
As plantas macrfitas so hidrfitas por estarem fisiologicamente ligadas gua, pelo
menos parte do seu ciclo de vida, ou por existirem em ambientes hmidos ou
encharcados que toleram a submerso em perodos mais ou menos longos. So
plantas macroscpicas que incluem macroalgas, lquenes, brifitos, pteridfitos e
plantas superiores.
A distribuio das espcies no ambiente aqutico varivel, dependendo do grau da
adaptao da espcie, consoante ela habita regies mais rasas ou mais profundas. As
plantas anfbias constituem aquele grupo de espcies aquticas que vivem dentro da
gua, nos perodos de cheia, mas conseguem sobreviver por perodos variveis no
solo livre de inundao durante o perodo de seca. As plantas macrfitas so os
vegetais que melhor caracterizam os pntanos e as galerias ripcolas por estarem
adaptadas a ambientes alagados, influenciando significativamente a vida aqutica,
fornecendo alimento (frutos, folhas e sementes) e abrigo, principalmente para os
peixes e mamferos aquticos. Estes, em troca, realizam a disperso de sementes,
contribuindo assim para a regenerao da vegetao florestal das reas envolventes.
De acordo com Etnier e Guterstam (1991), Kadlec e Knight (1996), Vymazal et al.,
1998; EPA (1999), IWA, (2000) e Korkusuz (2005), existem vrios grupos de plantas
macrfitas, destacando-se os seguintes:
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 24
Macrfitas emergentes plantas enraizadas no solo com a maior parte dos caules
e folhas fora de gua, como por exemplo o canio (Phragmites australis), as
espadanas (Typha latifolia), os juncos do pntano ou lrios do pntano (ris
pseudocorus), e o junco (Scirpus lacustris). Encontram-se geralmente nas margens
dos cursos e massas de gua.
Macrfitas flutuantes plantas que flutuam superfcie da gua, no estando
enraizadas no leito, como por exemplo, o jacinto-aqutico (Eichhornia crassipes),
as lentilhas-de-gua (Lemna spp.) e a azola (Azolla filiculoides). Tm a maior parte
dos caules e folhas emersos.
Macrfitas enraizadas com folhas flutuantes plantas enraizadas ou ancoradas ao
leito mas que tm a maioria das folhas superfcie, como por exemplo de a
pinheirinha de gua (Myriophyllum aquaticum), e os nenfares (Nymphaea sp. e
Nuphar sp.);
Macrfitas submersas plantas enraizadas ou ancoradas ao leito ou em
suspenso na gua, que tm as partes vegetativas abaixo da superfcie da gua
embora, muitas vezes, os rgos reprodutores estejam superfcie ou acima dela.
Alguns exemplos so o limo mesto (Potamogeton pectinatus) e Elodea
canadensis.
As plantas desempenham um papel eficaz no tratamento das guas residuais, pois
permitem criar em torno das suas razes e rizomas um meio rico em oxignio, onde se
geram condies de oxidao que estimulam a decomposio aerbia da matria
orgnica e o crescimento das bactrias nitrificantes (Relvo 1999, Carvalho 2003,
Cabral 2004), bem como o desenvolvimento de biofilme.
No tratamento de guas residuais podem ser utilizadas vrias espcies de plantas
macrfitas, dependendo do tipo de sistema e escoamento a utilizar. De acordo com
Relvo (1999), mais frequente a utilizao de macrfitas emergentes, como as
espadanas (Typha latifolia), os juncos ou lrios do pntano (ris pseudocorus), o junco
(Scirpus lacustris) e os canios (Phragmites australis), sendo esta ltima espcie a
mais usada no nosso pas pelos melhores resultados que apresentam ao nvel da
adaptao ao clima, do desenvolvimento de rizomas menos volumosos e da facilidade
de manuteno, comparativamente com as outras espcies (Bandeiras 2006).
A libertao de oxignio ocorre atravs das razes e dos rizomas. O facto de
possurem aernquima, que um tipo de parnquima condutor e aerfiro, permite-lhes
um maior desenvolvimento em terrenos encharcados, sem que sofram asfixia
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 25
radicular. As espcies com aernquima, assim como as espcies que possuem caules
ocos (e.g. Phragmites sp.) possuem maiores concentraes internas de oxignio e,
consequentemente, um potencial maior para libertar uma maior quantidade desta
molcula para a rizosfera.
A importncia do oxignio libertado na rizosfera na remoo de carbono orgnico e
azoto (nomeadamente amnio e nitrato) no est muito bem estudado (Randerson et
al., 2005), nem a variao das condies de oxidao-reduo na rizosfera (Kayser et
al., 2003). Contudo, acredita-se que, como o oxignio consumido rapidamente,
criam-se zonas sobrepostas (Randerson et al., 2005) aerbias, anaerbias e anxicas
na matriz do solo em torno da raiz (Figura 2.7), que permitem a ocorrncia de
reaces de oxidao-reduo, responsveis pela remoo de carbono, de azoto e
fsforo, catalizadas por enzimas segregadas por microorganismos de natureza
diversificada (autotrficos nitrificantes e desnitrificantes e heterotrficos nitrificantes e
desnitrificantes).
A Phragmites australis (Figura 2.8) uma das espcies mais utilizadas nas instalaes
do nosso Pas, apresentando rizomas robustos, muitas vezes com rebentos que podem
atingir os 10 m de comprimento, folhas lanceoladas com 15 a 60 cm de comprimento e 1
a 6 cm de largura, sem plos e de colorao verde ou verde-azulada (glaucas), pancula
densamente florida de cor amarela acastanhada ou arroxeada, com 15 a 40 cm de
comprimento, espculas com 10 a 17 mm e flsculo inferior com estames.
Figura 2.7 Representao esquemtica das reaces de nitrificao / desnitrificao (adpatado de Relvo 1999)
Figura 2.8 Phragmites autralis (adaptado de Hagen 2002)
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 26
A colonizao do leito pode realizar-se por transplantao de ps jovens ou de caules
providos de razes. A fase de crescimento inicia-se em Fevereiro, em regies quentes
e em Abril em regies frias. Trata-se de uma espcie que no resiste a cortes
abundantes e prolongados, podendo estes ser efectuados na fase de crescimento,
contudo, para se obter o mximo de produo, no deve ser cortado mais de 50% do
peso obtido neste perodo. Devem, tambm, ser periodicamente podadas para que os
nutrientes incorporados nos tecidos no sejam devolvidos gua aps decomposio
(Corregidor e Parejo 1999).
2.3.3.3 Dispositivos de operao
O dispositivo de entrada na lagoa , normalmente, constitudo por uma tubagem
horizontal em T, perfurada a meia cana, e instalada perpendicularmente direco
do escoamento. Desta forma, pretende-se que a alimentao seja distribuda
homogeneamente atravs da seco transversal da lagoa, evitando-se o aparecimento
de zonas mortas e de curto-circuito hidrulico.
A instalao deficiente deste dispositivo, leva ao aparecimento rpido de zonas mortas
e de curto-circuito hidrulico, reduzindo o volume efectivo de tratamento e, portanto,
prejudica o tratamento.
Os dispositivos de sada incluem normalmente: uma tubagem de recolha do efluente
(normalmente em T, perfurada a meia cana, e colocada transversalmente direco
do escoamento); uma tubagem ou ponto de descarga de fundo; um sistema sifonado
para controlo de nvel e uma caixa de recepo do efluente final antes da sua
descarga no meio receptor.
A recirculao do efluente no comum, e aumenta consideravelmente os custos de
operao. Contudo, em sistemas onde a afluncia marcadamente sazonal em
termos de cargas, ou quando a sua variao entre o ano de arranque e o de horizonte
significativa, a recirculao pode ajudar a manter um fluxo de cargas hidrulicas,
orgnicas e inorgnicas que permitem a manuteno do desempenho do leito e das
plantas. Normalmente, inclui um sistema elevatrio para recircular o efluente final para
a entrada das lagoas, podendo, em certas configuraes, permitir o funcionamento em
srie de dois leitos.
O aumento da carga hidrulica atravs da recirculao melhora a distribuio do
efluente no leito, reduzindo a possibilidade de instalao de zonas mortas e as reas
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 27
secas ou a morte de plantas. Por outro lado, a recirculao do efluente mantm o atrito
necessrio para o desprendimento do filme biolgico, particularmente nas zonas onde
se verifica crescimento excessivo, reduzindo os problemas de acumulao excessiva
de slidos e colmatao.
2.3.4. Processos de transformao A maior parte dos microorganismos responsveis pela alterao de substratos est
presente no biofilme que se desenvolve nas razes e rizomas das plantas ou nas
partculas de meio de enchimento inerte. A remoo de substratos ocorre, quer
atravs de fenmenos fsicos (e.g. filtrao e sedimentao), quer atravs de
fenmenos qumicos e bioqumicos (e.g. absoro e biodegradao), como
apresentado na Tabela 2.3.
Tabela 2.3 Principais mecanismos de remoo de contaminantes em leitos de macrfitas (adaptado de Vymazal et al., 1998; EPA 1999, Duarte 2002; Paredes et al., 2007).
Parmetro Mecanismos de remoo
Slidos suspensos Sedimentao, floculao e filtrao/intercepo.
Matria orgnica
Matria orgnica particulada removida com os
slidos suspensos. Adsoro/absoro de matria
orgnica solvel. Adsoro no solo. Converso
bioqumica da matria orgnica. Volatilizao de
compostos volteis.
Azoto
Nitrificao / desnitrificao. Nitrificao parcial.
Oxidao anaerbia de amnia. Remoo
heterotrfica de amnia. Remoo autotrfica de
NOx. Adsoro no solo. Remoo pela planta.
Volatilizao.
Fsforo
Sedimentao e adsoro/absoro da matria
particulada orgnica ou inorgnica no biofilme.
Absoro radicular e microbiana do fsforo solvel.
Precipitao de fosfatos. Adsoro nos minerais de
argila.
Microrganismos patognicos
Remoo conjunta com os slidos suspensos.
Reteno no biofilme. Morte celular natural ou
devida a substncias txicas excretadas pelas
plantas.
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 28
As transformaes bioqumicas so realizadas por um conjunto de enzimas
segregadas pela matriz de microrganismos que existe no biofilme, constituda
essencialmente por algas, bactrias, fungos, protozorios e vrus, constituindo as
bactrias o grupo mais importante. O biofilme uma estrutura complexa, constituda,
de acordo com Criddle et al. (1991) e Grady et al. (1999), por uma matriz de clulas e
produtos celulares, como polmeros extra celulares, ligados a superfcies slidas, cuja
formao se deve a mecanismos de transporte por adveco e difuso, seguidos de
adeso e consolidao atravs de ligaes fsico-qumicas.
Esta massa biolgica encontra-se, essencialmente, fixa superfcie do material de
enchimento, s razes e aos rizomas, embora tambm possam coexistir aglomerados
de biomassa nos espaos intersticiais do meio, que se podem deslocar, ou no, em
funo das foras de presso devidas ao escoamento.
A espessura do biofilme maduro pode variar entre 0,05 cm e 2,0 cm (Arvin e
Harremoes 1990, Tijhuis et al. 1994, Harremoes 1994) dependendo, entre outros
factores, do tipo de material slido utilizado, do volume disponvel para crescimento,
da velocidade do escoamento, do tipo e quantidade de substrato e de nutrientes
disponveis e do ambiente bioqumico (Albuquerque 2003a). O biofilme pouco activo,
isto , a biomassa que vai desprendendo ou sendo removida pelo escoamento, pode
contribuir para a colmatao do leito, em especial em reas onde a velocidade de
escoamento mais baixa.
Os microrganismos obtm nutrientes e energia para as suas actividades (crescimento,
mobilidade e sntese de novas clulas) atravs de mecanismos de degradao (e.g.
respirao aerbia e anaerbia, nitrificao e desnitrificao). Desta forma, so
responsveis pela degradao da matria orgnica, pela remoo de nutrientes e
compostos refractrios obtendo produtos finais mais simples como gua e dixido de
carbono.
Os microrganismos, por intermdio de processos anablicos, asseguram a sntese de
nova biomassa. de salientar que, para que ocorra um adequado desenvolvimento
dos microrganismos, necessrio a presena de nutrientes, indispensveis sua
actividade, como o azoto, fsforo e carbono. De um modo geral, os efluentes
domsticos constituem um substrato equilibrado, apresentando uma adequada razo
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
Pg. 29
C/N/P. O mesmo no se pode dizer de alguns afluentes industriais, que podem conter
elementos txicos susceptveis de inibir o metabolismo microbiano (Cabral 2004).
Os slidos suspensos aparecem no leito, quer transportados pelo afluente, quer como
resultado da morte de invertebrados, da desfragmentao de detritos provenientes das
plantas e algas e da formao de precipitados (e.g. compostos ferrosos). Este material
essencialmente removido por decomposio bacteriolgica, adsoro e filtrao no
meio de enchimento e razes das plantas e decantao (Stowell et al. 1981; EPA,
1999; Vymazal, 2003).
Uma vez que os leitos de macrfitas possuem um tempo de reteno hidrulico
elevado, geralmente de vrios dias, os slidos suspensos tm condies para
sedimentar e ficarem retidos em zonas mortas (IWA 2000). O comportamento deste
material slido bastante distinto consoante o tipo de escoamento praticado no leito.
Nos leitos com escoamento superficial, a influencia dos processos naturais e
condies climatricas bastante superior ao observado nos leitos com escoamento
sub-superficial.
A eficincia de remoo de matria orgnica (normalmente quantificada atravs da
CQO ou CBO5) em leitos de macrfitas geralmente elevada (Cooper e Findlater
1990, Bavor e Mitchell 1994, Kadlec e Brix, 1995; Vymazal et al., 1998). A matria
orgnica sedimentvel rapidamente removida por deposio e filtrao. A velocidade
de remoo de compostos orgnicos depende da concentrao de oxignio no meio,
da temperatura e da presena de elementos inibidores.
A maior parte da remoo carbonada ocorre por via aerbia no biofilme presente nas
superfcies slidas do leito (IWA 2000). O oxignio necessrio para degradar
aerobiamente a matria orgnica fornecido por difuso atmosfrica na zona de
alimentao e atravs do meio poroso, havendo tambm alguma contribuio atravs
das razes (Randerson et al., 2005), Nas zonas anaerbias do leito, o carbono
orgnico removido por desnitrificao ou por processos fermentativos. A remoo de
matria orgnica pelas macrfitas negligencivel quando comparada com a remoo
por degradao biolgica (Watson et al., 1989; Cooper et al., 1996).
As reaces que envolvem a remoo de substratos orgnicos podem produzir ou
consumir alcalinidade, de acordo com o predomnio de reaces qumicas que
produzam ou consumam, fundamentalmente, ies hidrogeno carbonato (HCO3-) e
Processos de tratamento por leitos de macrfitas
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hidroxilo (OH), que provocam o aumento ou a diminuio do pH. De acordo, com
Metcalf e Eddy (2003) os microrganismos apresentam taxas de crescimento mais
elevadas no intervalo 6,0 a 8,0, podendo deste modo, a variao de pH afectar a
actividade dos mesmos.
O fsforo apresenta-se essencialmente sob a forma de ortofosfato, polifosfato e
fsforo orgnico, em soluo, em partculas, nos detritos ou no corpo de organismos
aquticos. A oxidao biolgica resulta na converso da maioria do fsforo para a
forma de ortofosfato (Cooper et al., 1996). Os polifosfatos em soluo aquosa, por
hidrlise, revertem forma de ortofosfatos. Os ortofosfatos como o PO4-3, HPO4-2,
H2PO4-, H3PO4 esto disponveis para serem captados pelas plantas sem outra
transformao adicional.
O azoto pode apresentar-se na forma de azoto orgnico, azoto amoniacal (N-NH4+),
azoto nitroso (N-NO2-), azoto ntrico (N-NO3-) e azoto gasoso (N-N2O e N2). Todas
estas formas de azoto so bioquimicamente convertveis e fazem parte do ciclo do
azoto. O azoto orgnico pode aparecer sob a forma particulada e ou solvel,
principalmente constitudo por ureia e aminocidos. Os mecanismos de remoo de
azoto em leitos de macrfitas so essencialmente a volatilizao, amonificao,
nitrificao e desnitrificao, captao por parte da planta e adsoro (Figura 2.9).
A actividade de nitrificao (oxidao do amnio a nitrito e posteriormente a nitrato)
consome alcalinidade que, de acordo com Mano (1997) e Grady et al. (1999) se traduz
em cerca de 7,2 mg CaCO3 por mg de azoto amoniacal oxidado. O consequente
abaixamento de pH pode, de acordo com Crites e Tchobanoglous (1998), diminuir
consideravelmente as taxas de crescimento de espcies nitrificantes, como as
pertencentes aos gneros Nitrosomonas spp. e Nitrobacter spp., que so sensveis a
valores no intervalo 6,5 9,0.
As taxas de crescimento mais elevadas so observadas para a faixa de pH entre 7,5 e
9,0 (Me