Estudo de Caso Concreto

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Estudo de Caso Concreto:

1)Selecionar 2 julgados do STJ, que abordem os princpios contratuais.

2)Identifique nos julgados selecionados os princpios contratuais aplicados para a soluo da demanda, estabelecendo a relao destes com os princpios constitucionais.3)Os julgados selecionados encontram-se em consonncia com o contedo da teoria contratual contempornea? Justifique sua resposta a partir dos argumentos apresentados no texto doPrenncio da Ressistematizao (Cap. 3) extrado do livro DO CONTRATO: Conceito Ps-Moderno em busca da sua formulao na perspectiva civil-constitucional. (Paulo Nalin).Entrega: 07/04/2013

1)Selecionar 2 julgados do STJ, que abordem os princpios contratuais.

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL N 218.712 - RS (20120172829-0)RELATOR:MINISTRO JOO OTVIO DE NORONHA

AGRAVANTE:UNIMED NORDESTE RS - SOCIEDADE COOPERATIVA DE SERVIOS MDICOS LTDA

ADVOGADOS :FERNANDA CARDOSO BRITO E OUTRO(S)

MARCO TULIO DE ROSE E OUTRO(S)

AGRAVADO:VILMA SCARMIN VACARI

ADVOGADO :BERTO RECH NETO E OUTRO(S)

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL N 218.712 - RS (20120172829-0)EMENTAPROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PLANO DE SADE. NO RENOVAO. FATOR DE IDADE. OFENSA AOS PRINCPIOS DA BOA-F OBJETIVA, DA COOPERAO, DA CONFIANA E DA LEALDADE. AUMENTO. EQUILBRIO CONTRATUAL. CIENTIFICAO PRVIA DO SEGURADO. DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. IMPOSSIBILIDADE DE ANLISE EM RECURSO ESPECIAL. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL. NO COMPROVAO.1. Na hiptese em que o contrato de seguro de vida renovado ano a ano, por longo perodo, no pode a seguradora modificar subitamente as condies da avena nem deixar de renov-las em razo do fator de idade, sem que ofenda os princpios da boa-f objetiva, da cooperao, da confiana e da lealdade. 2. A alterao no contrato de plano de sade consistente na majorao das prestaes para o equilbrio contratual vivel desde que efetuada de maneira gradual e com a prvia cientificao do segurado. 3. No cabe ao Superior Tribunal de Justia intervir em matria de competncia do STF, ainda que para prequestionar matria constitucional, sob pena de violar a rgida distribuio de competncia recursal disposta na Lei Maior. 4. A comprovao do dissdio jurisprudencial viabilizador do recurso especial requer bases fticas e contextos jurdicos semelhantes com desfechos jurdicos diversos. 5. Agravo regimental desprovido.VOTOO EXMO. SR. MINISTRO JOO OTVIO DE NORONHA(Relator): A irresignao no merece prosperar, devendo a deciso agravada ser mantida por seus prprios fundamentos. I - Reajuste das prestaes do plano de sadeA respeito do reajuste das contraprestaes do plano de sade em razo da faixa etria, o STJ firmou o entendimento de que, na hiptese em que o contrato de plano de sade renovado ano a ano, por longo perodo, no pode a seguradora promover alteraes contratuais que importem em aumentos nas prestaes mensais sem que o segurado seja previamente cientificado. Esta Corte concluiu ainda que a administradora do plano de sade deve demonstrar a proporcionalidade entre a nova mensalidade e o potencial aumento de utilizao dos servios. Procedimento diverso ofenderia os princpios da boa-f objetiva, da cooperao, da confiana e da lealdade.Confiram-se estes precedentes: REsp n. 1.073.595MG, Segunda Seo, relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe de 2942011; AgRg no REsp n. 202.013DF, Quarta Turma, relator Ministro Antonio Carlos Ferreira, DJe de 2632013; AgRg no REsp n. 1.324.344SP, Terceira Turma, relator Ministro Sidnei Beneti, DJe de 142013; REsp n. 1.228.904SP, Terceira Turma, relatora Ministra Nancy Andrighi, DJe de 832013; AgRg no AREsp n. 248.310RS, Quarta Turma, relator Ministro Luis Felipe Salomo, DJe de 1822013.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------RECURSO ESPECIAL N 910.537 - GO (2006/0270411-5) RECORRENTE : EDUARDO DIAS

ADVOGADO : OSVALDO BONIFCIO JUNIOR

RECORRENTE : COMRCIO E INDSTRIA BRASILEIRAS COIMBRA S/A

ADVOGADOS : BEATRIZ M A CAMARGO KESTENER

NANCY GOMBOSSY M FRANCO E OUTRO (S)

RAFAEL FERNANDES MACIEL E OUTRO (S)

ADVOGADA : MIRIAN DE FATIMA LAVOCAT DE QUEIROZ

RECORRIDO : OS MESMOS

RELATRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): Trata-se de recurso especial interposto por EDUARDO DIAS, visando impugnar acrdo exarado pelo TJ/GO no julgamento de recurso de apelao.

Ao: de nulidade de Cedula de Produto Rural (CPR) e desconstitutiva de contrato de compra e venda de soja, proposta por EDUARDO DIAS em face de INDSTRIAS BRASILEIRAS COINBRA S/A. O autor alega que firmou com a r contrato mediante o qual se comprometeu a vender 1.000 sacas de soja por ocasio da colheita, vinculando a um Cedula de Produto Rural (CPR). Ocorre que, pela verso exposta na inicial, o contrato conteria uma srie de irregularidades, entre elas: (i) o pagamento pela safra contratada no se deu de forma antecipada, do que decorreria a nulidade da CPR; (ii) o preo pela soja foi fechado, pela r, em valor inferior ao praticado no mercado; (iii) o contrato deveria ser rescindido por onerosidade excessiva; (iv) haveria clusulas abusivas no contrato de adeso; (v) a multa, fixada em 10%, no poderia ter excedido a 2%; (vi) a r se valeu da inexperincia do autor ao contratar, do que decorreria leso; (vii) o autor no teria meios para entregar a produo, visto que a safra fora prejudicada pela praga Ferrugem, consubstanciando caso fortuito ou de fora maior; (viii) haveria ofensa ao princpio da funo social do contrato que, no entender do autor, estaria direcionado defesa do agricultor.

[...]VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator): I

Delimitao da lide Cinge-se a lide a definir a validade de um contrato de compra e venda futura de soja e de Cedula de Produto Rural a ele vinculado. A discusso se estabelece em torno dos seguintes elementos: (i) suposta existncia de leso contratual; (ii) possvel onerosidade excessiva; (iii) ofensa funo social do contrato; e (iv) invalidade da CPR por falta de antecipao do pagamento do preo.

II Negativa de prestao jurisdicional: ofensa ao art. 535 do CPC O acrdo recorrido manifestou-se sobre todos os pontos suscitados nas apelaes, inclusive sobre os vrios temas enumerados nas razes recursais e reputados de omissos ou contraditrios, alcanando soluo tida como a mais justa e apropriada para a hiptese vertente. O no acolhimento das teses contidas no recurso no implica obscuridade, contradio ou omisso, pois ao julgador cabe apreciar a questo conforme o que ele entender relevante lide. O Tribunal no est obrigado a julgar a questo posta a seu exame nos termos pleiteados pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento, consoante dispe o art. 131 do CPC, utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudncia, aspectos pertinentes ao tema e da legislao que entender aplicvel ao caso. Dessa forma, est correta a rejeio dos embargos de declarao, visto que inexiste omisso ou contradio a ser sanada e, por conseguinte, ausncia de ofensa ao art. 535 do CPC. III A funo social do contrato: arts. 421 e 422 do CC/02 O acrdo recorrido afastou a ocorrncia de leso (fls. 722 a 724) e de onerosidade excessiva (fls. 725 a 732). Assim, no h interesse para a parte em discutir suposta violao do art. 478 do CC. A tese acolhida pelo TJ/GO foi a de que o contrato descumpriu sua funo social (fls. 732 a 738). O motivo seria o de que a recorrente teria imposto ao recorrido a aceitao de clusulas contratuais desvantajosas, notadamente quanto fixao de preo e emisso da CPR. Assim, para anlise da tese de m aplicao do princpio da funo social dos contratos, o recurso especial dever ser analisado sob duas ticas: por um lado, a da violao do art. 422 do CC/02; por outro, a possibilidade de comprometimento da safra mediante emisso de CPR sem antecipao de preo, conduzindo violao aos arts. 3 e 11 da Lei 8.929/94. III.1) A fixao do preo Com o advento do CC/02, consolidou-se uma tendncia j iniciada sob a gide da lei anterior de se considerar o contrato no apenas um mero instrumento regulatrio de interesses privados, mas um elemento que fomenta a circulao e, principalmente, a criao de riquezas, em benefcio de todo o tecido social. Disso decorreria que no apenas as partes, mas toda a sociedade seria interessada no melhor desenvolvimento das relaes contratuais. Essa ideia, que encerra o embrio do princpio da funo social do contrato insculpido no art. 421 do CC/02, desenvolveu-se no sentido de se exigir que os negcios jurdicos, a par de regular simplesmente relaes privadas, respeitem tambm princpios de solidariedade, de justia, de fraternidade, de boa-f. A inobservncia desses princpios levaria ineficcia superveniente do contrato . Individualizaram-se, com isso, trs hipteses em que o princpio da funo social do contrato considerar-se-ia desrespeitado: a) leso a interesses coletivos; b) leso dignidade humana; c) impossibilidade de obteno do fim ltimo visado pelo contrato (GOMES, Orlando. Contratos. Atualizado por Antnio Junqueira de Azevedo e Francisco Paulo de Crescenzo Marino, Coordenao de Edvaldo Brito, Forense: Rio de Janeiro, 2007, pp. 48 e ss). Na hiptese dos autos, o primeiro motivo pelo qual o TJ/GO entendeu que a funo social do contrato em discusso teria sido frustrada foi o de que o instrumento possibilitava a fixao unilateral do preo pela recorrente. Nas palavras do acrdo recorrido, essa circunstncia estaria evidenciada, porque o contrato prev que o preo seria apurado pela mdia dos preos praticados pelas "empresas" de referncia nominadas no instrumento contratual (Caramuru, Cargil e Selecta). Sucede que tais sociedades mercantis, dominam, junto com a recorrida, o mercado de soja na regio, e servem de referncia recproca uma para a outra. Em ltima instancia, portanto, o preo, tambm nesse caso, acaba sendo ditado pela prpria apelante, isto , de forma unilateral (grifo nosso). Contudo, diferentemente do que sustentou o TJ/GO, a variao da mdia de preos de mercado para uma commodity negociada internacionalmente no pode ser controlada apenas por alguns dos participantes do mercado, ainda que se trate dos principais compradores do produto no mercado nacional. Referido controle s seria possvel na hiptese de formao de cartel, cuja ocorrncia fora peremptoriamente negada pelo acrdo recorrido (fl. 736). O motivo o de que, sendo internacional a cotao de preos do produto, sua variao necessariamente obedecer s variaes mundiais de oferta e demanda. O que influencia tais variaes so os mais diversos fatores, como os perodos de supersafra, eventuais pragas que reduzam significativamente a colheita, crises internacionais que inibam o consumo, entre outros. No raro, a reduo singificativa da safra de um pas que seja um grande produtor pode impulsionar para cima o preo desse bem em todo o mundo. J a produo excedente ou a reduo mundial do consumo implicar necessariamente a queda geral de preos. No h, em princpio, um mtodo de controle para essa flutuao. A eventual manuteno de preo baixo pelas principais compradoras nacionais incentivaria a importao direta da commodity pelos produtores, do que decorreria a imediata correo do preo interno. A determinao, portanto, de que o preo do produto seja fixado pela mdia de mercado praticada das principais empresas compradoras, por si s, sem que se demonstre eventual formao de cartel, no implica possibilitar a fixao unilateral do preo. Alis, ao contrrio: a possibilidade de reduo de colheita, de supersafra, de inibio de consumo e assim por diante produzem uma influncia to forte na variao de preos das commodities que justamente para mitigar esses riscos que foi criado o sistema de securitizao representado pelas Cdulas de Produto Rural (CPR), o que nos leva ao segundo motivo pelo qual o TJ/GO entendeu que se violou o princpio da funo social dos contratos. III.2) A suposta imposio abusiva de emisso da CPR O acrdo recorrido menciona que houve a emisso de Cedula de Produto Rural, com clusula pignoratcia (da colheita futura) e hipotecria (de imvel rural do recorrente), sem que houvesse o pagamento do preo (contraprestao). Ora, por tratar-se de ato jurdico de graves conseqncias para o produtor rural que alm de no receber apoio financeiro, tem onerado seu patrimnio atual e futuro , e extremamente benfico primeira apelada que sem despender qualquer soma, obtm um ttulo de crdito relativo colheita do produtor (...) no h dvida de que a emisso do referido ttulo decorreu de imposio abusiva da recorrida (...) . Para o TJ/GO, o pagamento do preo pelos produtos relacionados nCPRPR deve se dar antecipadamente, sendo essa a nica forma de esse ttulo servir como instrumento de fomento da produo rural. Todavia, o pagamento antecipado do preo no o nico meio de fomentar o desenvolvimento do setor agrcola, em benefcio da produo. Em julgamento recente (REsp 1.023.083/GO, de minha relatoria, 3 Turma, julgado em 15/4/2010, ainda no publicado), teci as seguintes consideraes acerca do assunto: O acrdo recorrido determinou a anulao da sentena, com devoluo do processo origem, sob o fundamento de que "equivocou-se o ilustre magistrado ao entender que a apelante deve comprovar que pagou pela soja reclamada". Para o TJ/GO,"a exigncia de adiantamento do numerrio para s depois a apelante reclamar a entrega dos gros seguramente no se coaduna com o propsito do contrato entabulado entre os contendores", medida que, pelo sistema da CPR,"os apelados entregam a mercadoria e, de imediato, recebem o preo respectivo". O TJ/GO no est isolado na interpretao que deu para o instituto das CPR. Substancial parte da doutrina sustenta que a emisso de tal ttulo de crdito no pressupe, necessariamente, a antecipao do pagamento pela safra futura . Nesse sentido podem ser citados diversos artigos publicados em revistas especializadas por ARNOLDO WALD ("Da desnecessidade de pagamento prvio para a caracterizao da Cdula de Produto Rural", in Revista Forense, vol. 374, pgs. 3 a 14), HAROLDO MALHEIROS DUCLERC VEROSA e NANCY GOMBOSSY DE MELO FRANCO ("Crdito e Ttulos de Crdito na Economia Moderna: Uma viso focada na Cedula de Produto Rural - CPR", in Revista de Direito Mercantil, vol. 45, n 141, pgs. 96 a 104), RENATO BURANELLO ("A Cdula de Produto Rural na Escriturao das Operaes Financeiras", in Revista de Direito Mercantil, vol. 45, n 143, pgs. 121 a 126) e IVO WAISBERG ("Cdula de Produtor Rural", in Revista de Direito Bancrio e do Mercado de Capitais, n 44, pgs. 321 a 334). Para essa parcela da doutrina, a CPR figuraria como um ttulo mediante o qual o produtor poderia no apenas obter financiamento para o plantio, emitindo o papel contra o pagamento imediato do preo, mas tambm mitigar seus riscos, negociando, a preo presente, a sua safra no mercado futuro. Nesta segunda hiptese, a CPR funcionaria como um ttulo de securitizao, emitido em uma operao de hedge, e o preo no precisa necessariamente ser pago de forma antecipada . A importncia do negcio estaria, no no financiamento da safra, mas na diluio, para o produtor, do risco inerente flutuao de preos na poca de colheita. Os defensores dessa idia sustentam, inclusive, que foi justamente para conferir maior utilidade CPR, servindo a esses dois propsitos entre outros, que o legislador no teria includo, na Lei 8.929/94, qualquer dispositivo que imponha, como requisito de validade do ttulo, o pagamento antecipado do preo. Assiste razo a esta parcela da doutrina e, portanto, est correto o raciocnio desenvolvido pelo TJ/GO. No possvel, tampouco conveniente, restringir a utilidade da CPR mera obteno imediata de financiamento em pecnia. Se a CPR pode desempenhar um papel maior no fomento ao setor agrcola, no h motivos para que, mingua de disposies legais que o imponham, restringir a sua aplicao . No se pode perder de vista que a CPR um ttulo de crdito e como tal deve ser tratada. O foco, na anlise desse instituto, deve estar voltado aos princpios inerentes a tais ttulos, notadamente o da cartularidade e o da literalidade. A CPR deve ser entendida como "um ttulo representativo de mercadoria" (WALD, op. cit., pg. 5), de modo que, em princpio, os produtos por ela abrangidos "ficam proibidos de se tornarem objeto de outros negcios jurdicos" (HAROLDO VEROSA, op. cit., pg. 101). Para que a CPR possa desempenhar seu importante papel de fomento, muito importante que o Poder Judicirio confira segurana ao negcio, garantindo que, no vencimento da crtula, os produtos por ela representados sejam efetivamente entregues . Somente fazendo isso se estar garantindo a segurana do investimento e, consequentemente, colaborando para que o capital privado seja atrado para esse fim. Conforme sustenta HAROLDO VEROSA, "a riqueza que a CPR representa o poder de crdito que gera o contrato de compra e venda antecipada de"commodities"firmado com uma empresa idnea, conhecida por cumprir 100% (cem por cento) de suas avenas. Isso gera riqueza, criao de capital"(op. loc. cit.) O pagamento pela safra representada no ttulo pode se dar antecipadamente, parceladamente ou mesmo aps a entrega dos produtos. Ele poder estar disciplinado na prpria CPR, mediante a incluso de clusulas especiais com esse fim, como autoriza o art. 9 da Lei 8.929/94, ou poder constar de contrato autnomo, em relao ao qual a CPR funcionar como mera garantia . O importante notar, todavia, que, como bem observado pelo acrdo recorrido,"a Cedula de Produto Rural, por ser ttulo executivo (...), constitui documento suficiente para aparelhar o feito executrio", no sendo imposto ao credor"comprovar que adiantou o pagamento do que est sendo executado". Andou bem o TJ/GO, portanto, ao no reconhecer a exigncia de comprovao desse pagamento, pelo credor. (grifos nossos) Na hiptese dos autos, pelo que se depreende do acrdo recorrido, o pagamento pelos produtos se daria aps a respectiva entrega. Nos termos do precedente citado acima, no h qualquer irregularidade nesse procedimento. Falta, contudo, analisar uma segunda questo. O preo, aqui, no seria apenas pago posteriormente, mas tambm fixado posteriormente. No precedente supra referido, mencionei que h interesse do produtor na diluio de seus riscos pela venda, a preo presente , de produtos a serem entregues no futuro. Com isso, ele se garantiria contra as flutuaes de mercado. Mas na venda futura a preo futuro a CPR tambm manteria sua utilidade de fomento ao setor agrcola? A resposta, aqui, tambm afirmativa. Neste processo, o estabelecimento do preo no daria de maneira fixa, na data da entrega dos produtos, eliminando a possibilidade de o agricultor planejar suas receitas e diluir seus riscos quanto variao de mercado. Em vez disso, a fixao do preo era varivel, de modo que ele poderia ser fechado pela mdia de mercado em qualquer momento, do dia seguinte assinatura do contrato at a data da entrega das mercadorias. A opo de fechamento do preo na melhor data no era da compradora, mas do produtor rural. Competia, portanto, a ele verificar em que momento seria conveniente assegurar-se contra as variaes de mercado, dentro do largo prazo que o contrato lhe conferiu. O pagamento no seria antecipado e, como dito, no h qualquer abusividade nisso, mas o importante poder de decidir o preo no era da compradora, mas do vendedor. Disso decorre que no h desrespeito ao princpio da funo social do contrato pela suposta imposio de assinatura de uma CPR sem pagamento de preo . Esse ttulo foi regularmente emitido, como garantia a um lcito contrato de compra. importante no perder de vista que a CPR consubstancia instrumento importantssimo para viabilizar o planejamento da produo agrcola. A oportunidade de contar com um instrumento com essa amplitude fundamental para o crescimento dos negcios dos produtores de boa-f e o respeito aos contratos que lhe do base imprescindvel para o melhor desenvolvimento do agronegcio brasileiro no plano internacional. Mas para que a CPR mantenha essa funo, imprescindvel que o Poder Judicirio mantenha-se firme, nulificando contratos apenas nas hipteses em que efetivamente estejam evidenciados abusos ou imposies inquas. No o que ocorre neste processo, pelo que se depreende das manifestaes das partes e do contedo do acrdo recorrido. O contrato, portanto, no abusivo e, ao contrrio do que sustentou o TJ/GO, desempenhou um importante papel social. O acrdo recorrido violou, portanto, a norma do art. 411 do CC/02. IV A validade da CPR: arts. 3 e 11 da Lei 8.929/94 Como consequncia de tudo o que se afirmou acima, conclui-se que, lcito o contrato de compra e venda e inexistente qualquer imposio legal de antecipao de pagamento do preo, igualmente lcita foi a emisso da CPR ora discutida. Portanto, merece reforma o acrdo quanto manuteno da sentena que decretou a nulidade do ttulo. Forte nessas razes conheo e dou provimento ao recurso especial, para o fim de julgar improcedentes os pedidos formulados na ao declaratria de nulidade de cedula de produto rural e desconstitutiva de contrato de compra e venda proposta por EDUARDO DIAS em face de COMRCIO E INDSTRIA BRASILEIRA S/A COINBRA. Ficam invertidos os nus da sucumbncia.