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1 ESTUDO DE CASO EM ECOTURISMO: ESTÂNCIA MIMOSA, BONITO, MS, BRASIL DANIEL DE GRANVILLE MANÇO 1 e EDUARDO FOLLEY COELHO 2 RESUMO: O presente estudo é resultado de trabalhos que vêm sendo desenvolvidos na Estância Mimosa, um dos atrativos turísticos de Bonito, MS. Por meio das ações que serão detalhadas neste trabalho, visou-se atingir um grau de excelência em ecoturismo, sendo esta uma iniciativa pioneira para a região. Até sua aquisição pelo proprietário atual, há cerca de dois anos, a única atividade econômica desenvolvida na Estância era a pecuária. A partir de então, o ecoturismo tornou-se o principal objetivo operacional da fazenda. A estrutura original pré-existente (construções, estradas e outras benfeitorias) foi aproveitada da melhor forma possível, tendo sido realizadas apenas ações para ade- quar a destinação de esgoto e permitir o atendimento de grupos de visitantes. Já na área de passeio, diversas ações são desenvolvidas simultaneamente, visando a minimizar o impacto ambiental e otimizar a experiência do visitante. Outras linhas de ação incluem o processo de criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e diver- sos esforços para tornar o produto viável comercialmente. 1 Biólogo. Rua Santana do Paraíso, 520 79290-000 - Bonito, MS - Correio eletrônico: [email protected] 2 Empresário. Av. Afonso Pena, 3.504, sala 26 - 79002-075 - Campo Grande, MS - Correio eletrônico: [email protected]

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ESTUDO DE CASO EM ECOTURISMO:

ESTÂNCIA MIMOSA, BONITO, MS, BRASIL

DANIEL DE GRANVILLE MANÇO1 e EDUARDO FOLLEY COELHO2

RESUMO: O presente estudo é resultado de trabalhos que vêm sendo desenvolvidos na

Estância Mimosa, um dos atrativos turísticos de Bonito, MS. Por meio das ações que

serão detalhadas neste trabalho, visou-se atingir um grau de excelência em ecoturismo,

sendo esta uma iniciativa pioneira para a região. Até sua aquisição pelo proprietário

atual, há cerca de dois anos, a única atividade econômica desenvolvida na Estância era a

pecuária. A partir de então, o ecoturismo tornou-se o principal objetivo operacional da

fazenda. A estrutura original pré-existente (construções, estradas e outras benfeitorias)

foi aproveitada da melhor forma possível, tendo sido realizadas apenas ações para ade-

quar a destinação de esgoto e permitir o atendimento de grupos de visitantes. Já na área

de passeio, diversas ações são desenvolvidas simultaneamente, visando a minimizar o

impacto ambiental e otimizar a experiência do visitante. Outras linhas de ação incluem o

processo de criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) e diver-

sos esforços para tornar o produto viável comercialmente.

1 Biólogo. Rua Santana do Paraíso, 520 79290-000 - Bonito, MS - Correio eletrônico:[email protected] Empresário. Av. Afonso Pena, 3.504, sala 26 - 79002-075 - Campo Grande, MS -Correio eletrônico: [email protected]

III Simpósio sobre Recursos Naturais e Sócio-econômicos do Pantanal Os Desafios do Novo Milênio De 27 a 30 de Novembro de 2000 - Corumbá-MS

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ECOTOURISM STUDY CASE: ESTÂNCIA MIMOSA, BONITO, MS

ABSTRACT: The current work results from studies being developed at Estância Mi-

mosa, one of the tourist attractions offered in Bonito (Mato Grosso do Sul State, Brazil).

By means of these actions, the majority of which are novelties for the region, our aim is

to achieve a degree of excellence in ecotourism. Until about two years ago, when the

current owner acquired the property, the only economic activity developed in Estância

Mimosa was cattle raising. Since then, ecotourism became the ranch’s major operational

objective. The original pre-existing infrastructure (buildings, roads and other improve-

ments) was kept and used whenever possible, undergoing improvements related to

proper sewage destination and to enable the reception of groups of visitors. In the river-

side area where the excursion is done, various efforts are being done simultaneously in

an attempt to minimize environmental impact and optimize the visitors’ experience.

Other guidelines include the future establishment of an official reserve in the property

and several actions to make our product become economically viable.

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INTRODUÇÃO

A prática de atividades turísticas seguindo conceitos mundialmente consagrados

de turismo sustentável – o chamado ecoturismo – ainda encontra muitas resistências e

dificuldades no Brasil. O setor turístico não está acostumado ou preparado para operar

dentro das normas e limitações que esse tipo de atividade exige, o que às vezes torna

bastante difícil a viabilidade comercial dos produtos que procuram seguir tais conceitos.

O objetivo primordial de fazer turismo respeitando o meio ambiente, em detrimento de

atividades massificadas e predatórias, é garantir que esses atrativos naturais e culturais

estejam disponíveis para visitação por muito mais tempo, possibilitando às pessoas que

atuam nesse setor da economia uma oferta constante e duradoura de empregos. Ainda

que em uma primeira análise a lucratividade seja menor, quando comparada a locais que

não demonstram tais preocupações, em médio e longo prazos recupera-se esse prejuízo

por meio da conservação ambiental, que, em última análise, é a maior fonte geradora de

recursos.

A Estância Mimosa é uma propriedade rural que busca aplicar na prática tais

conceitos e provar sua sustentabilidade enquanto empreendimento. Até abril de 1998,

data de sua aquisição pelo proprietário atual, a pecuária era a única atividade econômica

desenvolvida na fazenda. Após, iniciaram-se os trabalhos para implantação de infra-

estrutura turística, por meio de ações, como melhorias na estrutura do receptivo e vias

de acesso, contratação e capacitação de mão-de-obra, implantação da trilha de passeio,

contatos comerciais com agências e operadoras de turismo.

O passeio consiste de duas etapas: a cultural, onde os visitantes são recebidos em

uma casa de fazenda mantida ao máximo dentro de suas características originais, tendo

nas proximidades vários atrativos rurais; e a natural, na qual é realizada uma caminhada

pela mata ciliar do rio Mimoso, com paradas para contemplação e banhos de cachoeira.

Dessa forma, ao receber visitantes em uma típica casa de fazenda sul-mato-grossense,

procurou-se aplicar os conceitos de valorização cultural associados ao ecoturismo, além

de explorar racionalmente os aspectos naturais da região.

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CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

BONITO

O município de Bonito (coordenadas 21°06’S / 56°31’W) localiza-se na porção

sudoeste de Mato Grosso do Sul, na microrregião geográfica denominada Serra da Bo-

doquena, a 330 km da capital Campo Grande (FIG. 1). A superfície total do município é

de 4.934 km2, com uma população estimada em 18.000 habitantes. A altitude na sede do

município é de 315 m. O clima é caracterizado por verões mais chuvosos com tempe-

raturas elevadas (principalmente entre os meses de dezembro e março) e invernos mais

secos, com temperaturas que podem chegar perto de 0°C em algumas madrugadas (em

especial entre maio e julho). As precipitações médias anuais variam entre 1.200 mm e

1.700 mm, e a estação seca dura de três a quatro meses. A temperatura média anual é de

22°C.

FIG. 1. Mapa esquemático indicando os principais rios e vias de acesso a Bonito, MS.

Destaque para a serra da Bodoquena e a Estância Mimosa.

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Na economia do município, destacam-se a pecuária de corte (principal e mais

tradicional atividade econômica do Estado), turismo (atividade recente e em rápida

ascensão), agricultura (baseada principalmente na produção de grãos, como a soja e o

milho) e mineração (com destaque para a extração de calcário utilizado na correção de

solos ácidos).

O turismo ganhou força nos últimos cinco ou seis anos, quando diversos veícu-

los de imprensa começaram a divulgar a região em matérias e reportagens. Assim, di-

versas áreas para passeios foram abertas em propriedades particulares que, no início,

desenvolviam atividades econômicas mais tradicionais, havendo hoje em dia cerca de

30 atrativos na região. Esse rápido desenvolvimento acarretou a necessidade de essas

propriedades, seus donos e funcionários adaptarem-se à esta nova realidade.

Os principais atrativos turísticos são aqueles ligados aos aspectos naturais, como

as nascentes e rios de águas cristalinas, cachoeiras, grutas, matas, e à diversidade de

fauna e flora. A abundância de rochas calcárias na região é a principal responsável pela

formação das grutas, cachoeiras e, também, pela transparência das águas.

A SERRA DA BODOQUENA

A serra da Bodoquena (FIG. 1) estende-se por cerca de 250 km no sentido norte-

sul, com largura média de 65 km e altitude entre 400 m e 600 m, ocupando área de

8.417 km2 (correspondentes a 2,42% do Estado). Fica nas proximidades da fronteira

com o Paraguai e a sudoeste do município de Miranda, abrangendo os municípios de

Bonito, Jardim, Bodoquena, Nioaque, Guia Lopes da Laguna e Porto Murtinho. É um

importante divisor de águas entre as bacias do rio Paraguai (a oeste) e as sub-bacias dos

rios Miranda e Apa (a leste), abrigando nascentes de diversos rios. Dentre eles merece

destaque o Formoso, o principal rio da região de Bonito em termos de uso turístico, que

deságua no rio Miranda.

A vegetação predominante é de cerrado, ao qual se associam dois outros tipos

vegetacionais: as matas ciliares, que crescem ao longo dos leitos de rios; e a floresta

estacional decidual submontana, nas porções de relevo mais acidentado. A serra da Bo-

doquena abriga a maior extensão de florestas naturais do Mato Grosso do Sul ainda pre-

servadas.

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ESTÂNCIA MIMOSA

A Estância Mimosa (coordenadas 20°58’49”S / 56°30’32”W) situa-se a 26 km

ao norte do município de Bonito, às margens do rio Mimoso, um dos afluentes do For-

moso (FIG. 1). O acesso à Estância é pela rodovia MS-179 (Bonito–Bodoquena). A área

total da fazenda é de 402 ha, assim distribuídos:

a) 201 ha (50 %) = cerrados e matas ciliares;

b) 120,6 ha (30 %) = campos nativos;

c) 80,4 ha (20 %) = pastagens formadas e capoeiras (pasto desativado para recuperação

da vegetação original).

O relevo na propriedade é bastante acidentado, fato que favoreceu sua preserva-

ção pelos proprietários anteriores, por possuir grande parte de suas terras em áreas con-

sideradas de preservação permanente (encostas, morros e matas ciliares).

METODOLOGIA

A. LINHAS DE AÇÃO GERAIS:

Foram estabelecidas dez diretrizes, ou linhas de ação, para orientar este trabalho.

PRÁTICA DE ATIVIDADES TURÍSTICAS DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL

O Conselho de Desenvolvimento do Meio Ambiente (CONDEMA) de Bonito esta-

beleceu para a Estância Mimosa um limite de treze grupos de passeio por dia, limitados

a doze pessoas por grupo, totalizando 156 visitas/dia. Por questões de qualidade dos

serviços e respeito ambiental, a meta é operar sempre com um número abaixo de 120

visitas/dia, o que dá uma margem de segurança de 36 vagas para serem utilizadas ape-

nas eventualmente, em caso de imprevistos, como erros operacionais no momento da

execução da reserva para o passeio.

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Acredita-se que, desta forma, estará sendo garantida a qualidade de informações

para os visitantes, segurança no passeio, minimizado o impacto ambiental e otimizada a

distribuição de renda entre os profissionais de turismo da região.

Durante uma caminhada feita com um grande grupo, observou-se que apenas

aqueles que estavam na frente da fila conseguiam ouvir o guia, e, os demais, procura-

vam se aglomerar na tentativa de ouvir as explicações, ocasionando um alargamento da

trilha em médio prazo, por pisoteio. Em locais mais amplos, como cachoeiras e piscinas

naturais, o controle do guia sobre o grupo fica mais difícil quanto maior for o grupo, que

tende a se dispersar aumentando os riscos de segurança e de danos ambientais.

CONSTANTE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PROGRAMAS

Sempre que os estudos demonstrarem a necessidade de se diminuir o uso de deter-

minadas áreas da fazenda, seja para reduzir o impacto ou melhorar a qualidade do pas-

seio, estarão sendo desenvolvidas novas atividades em outros locais da propriedade.

USO DO ECOTURISMO COM FERRAMENTA PARA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Na Estância Mimosa, freqüentemente, são recebidos alunos do Ensino Fundamental

e Médio de outras regiões, para desenvolvimento de programas de estudos de meio. A

partir do próximo ano, estarão sendo realizados os mesmos trabalhos com estudantes

das escolas de Bonito e região, ficando ao encargo da Estância os custos referentes à

atividade.

Realizou-se, recentemente, um trabalho de conscientização sobre a importância de

se destinar o lixo de maneira apropriada, por meio de um mostruário instalado dentro do

rio Mimoso com vários tipos de lixo comumente encontrados dentro dos rios (vidros,

plásticos, metais, papéis, madeira, tecidos e outros). Esse mostruário, que está sendo

monitorado por uma equipe, é apresentado e explicado aos visitantes, na tentativa de sua

sensibilização sobre a questão.

VALORIZAÇÃO DOS ASPECTOS CULTURAIS E SOCIAIS DA REGIÃO

Nas atividades com visitantes de diversas origens, são mostradas as características

da cultura sul-mato-grossense, por meio da estrutura existente na área do receptivo e das

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refeições oferecidas, baseadas em pratos regionais como arroz-de-carreteiro, sopa para-

guaia e chipa. Ao mesmo tempo, sempre que possível, as pessoas da comunidade são

envolvidas no processo turístico. Incentiva-se, ainda, o comércio local, priorizando a

aquisição de bens, produtos e serviços nos estabelecimentos de Bonito e região, ainda

que a custos mais elevados.

PROIBIÇÃO DE CAÇA, PESCA, CORTE DE MADEIRA E CRIAÇÃO DE

ANIMAIS

É proibida a criação de gatos, cachorros ou outros animais com instinto de caça (que

podem ser prejudiciais à fauna nativa), bem como animais silvestres provenientes de

captura irregular. Simultaneamente, desenvolvem-se programas de reflorestamento pelo

plantio de mudas nativas criadas no viveiro da fazenda.

APOIO A PROJETOS DE PESQUISA CIENTÍFICA

Além de receber pesquisadores interessados em desenvolver projetos na fazenda, no

dia-a-dia realiza-se a catalogação dos animais e vegetais que ocorrem na área, utilizando

essas informações para fins turísticos, educacionais e científicos.

DESTINAÇÃO ADEQUADA DE LIXO E ESGOTO

Após a aquisição da Fazenda, várias obras foram realizadas visando a eliminar to-

talmente o despejo dos efluentes líquidos (esgoto) nos cursos d’água. Ao mesmo tempo,

realizou-se a separação do lixo - o material reciclável é entregue em empresas de Jardim

(município vizinho a Bonito), o lixo orgânico destina-se à criação de porcos (e futura-

mente compostagem para produção de adubo orgânico) e o restante é encaminhado para

Bonito, onde terá a melhor destinação disponível hoje na cidade.

RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE E QUANTIDADE DAS ÁGUAS DO RIO

MIMOSO

Por meio de ações ambientais, como trabalhos de conscientização, investimentos em

obras de reflorestamento, curvas de nível e caixas de retenção, tanto nessa área como

nas fazendas vizinhas, procura-se recuperar, gradualmente, o rio Mimoso às suas condi-

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ções originais de qualidade e volume de água. Atualmente, em períodos de chuvas in-

tensas, a turbidez adquirida pela água tende a prejudicar o passeio, mas a equipe e guias

recebem orientações sobre como canalizar as informações e valorizar outros aspectos

interessantes do passeio, garantindo a satisfação do visitante.

PRODUÇÃO PRÓPRIA DE PARTE DOS ALIMENTOS

Boa parte da comida servida, durante os lanches e almoços, aos visitantes, assim

como as demais refeições dos funcionários, é produzida na própria fazenda (queijos,

doces, ovos, leite, verduras, frutas, pães, biscoitos).

EMPREGO DE FUNCIONÁRIOS E GUIAS EM CONSTANTE APRIMORAMENTO

Procura-se aprimorar, freqüentemente, os conhecimentos dos funcionários, por

meio do patrocínio para participação em eventos de interesse. Além da capacitação ob-

tida pelo curso, reconhecido pela EMBRATUR, os guias que atuam na Estância Mimo-

sa necessitam participar de um treinamento específico apostilado, garantindo informa-

ção de qualidade e segurança para os grupos que conduzem, e de assegurar que o pro-

duto seja apresentado ao cliente de forma adequada.

LINHAS DE AÇÃO NA TRILHA DE PASSEIO:

A área de passeio na mata ciliar (FIG. 2), distante cerca de 1,5 km do receptivo na

sede da fazenda, é alvo de cuidados especiais com constante monitoramento para ga-

rantir segurança, qualidade e conservação ambiental. Alguns detalhes dos trabalhos que

são realizados com esses objetivos estão listados a seguir.

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FIG. 2. Mapa esquemático da trilha de passeio utilizada para visitação na Estância

Mimosa, em Bonito, MS.

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DETERMINAÇÃO INICIAL DO CAMINHO

Para determinar inicialmente o traçado da trilha de passeio, ao invés de apenas

abrir caminho com um facão, foi aplicada a técnica de utilizar um rolo de barbante.

Assim, evita-se o risco de abrir trilhas por um lugar errado e depois ter de retornar,

deixando a vegetação cortada, como ocorre quando se usa a técnica tradicional. No caso

do barbante, ele é amarrado a um ponto inicial pré-determinado e desenrolado conforme

se caminha na direção desejada. Caso decida-se mudar o rumo, ele é recolhido e busca-

se um novo caminho, deixando a vegetação intacta. Durante esse processo, evita-se

passar muito próximo de áreas de passagem ou abrigo de animais e locais com inclina-

ção excessiva propícios à erosão.

MADEIRAS UTILIZADAS

Toda a madeira utilizada na construção das passarelas e plataformas presentes na

trilha é de origem controlada (itaúba vinda de MT, fiscalizada e com notas fiscais

carimbadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA)) ou proveniente de reaproveitamento (aroeiras que estavam

mortas no cerrado ou postes de cercas antigas).

TRAÇADO DA TRILHA

Na primeira etapa de implantação do passeio, o traçado preliminar da trilha pos-

suía formato linear, havendo um só caminho para ida e volta. Hoje, após a conclusão do

projeto inicial, a trilha adquiriu formato de “8”, possibilitando maior aproveitamento do

espaço disponível, menor ambiental e melhor experiência por parte do visitante. Ao

longo do caminho, a trilha, periodicamente, aproxima-se e afasta-se do rio, minimizan-

do o impacto ambiental e possibilitando sensações diferentes para o visitante. Na beira

do rio existe a beleza cênica e os banhos de cachoeira; conforme se afasta do local, o

som das cachoeiras fica mais baixo, permitindo que se ouça o silêncio da mata ou o som

emitido pelo animais. O início da caminhada, logo após os visitantes deixarem seus veí-

culos, é feito em um trecho mais largo, que permite às pessoas caminharem lado a lado

e conversarem, auxiliando na integração do grupo e servindo como uma aclimatação

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para pessoas não habituadas a caminhar em trilhas na mata. Após esse trecho entra-se na

trilha propriamente dita, onde a largura só permite a caminhada em fila indiana, mini-

mizando as conversas e o impacto sobre a vegetação lateral.

DISTRIBUIÇÃO DAS CACHOEIRAS

No traçado atual, as cachoeiras do passeio foram distribuídas de maneira uni-

forme ao longo da caminhada, ao invés de serem concentradas em pontos próximos e

depois permanecerem longos períodos de caminhada sem pontos de banho. Outra preo-

cupação foi deixar por último a cachoeira onde vive uma colônia de peixes cascudos,

em teoria um ambiente mais frágil e vulnerável. O fato de este ser o último ponto de

visitação da trilha faz com que poucas pessoas disponham-se a nadar, reduzindo assim o

impacto por visitação.

SINALIZAÇÃO

Um criterioso trabalho de sinalização, com placas de madeira entalhadas, vem

sendo desenvolvido na trilha. Boa parte das árvores de maior interesse já foi identificada

e sinalizada, bem como alguns animais, cujas placas foram distribuídas ao longo do

passeio. O próximo trabalho será um sistema de sinalização para orientar guias e visi-

tantes, indicando as saídas da trilha e retornos ao ponto de partida.

DECKS E PASSARELAS

Os decks e passarelas existentes na trilha foram projetados nos mínimos detalhes

para garantir a qualidade do passeio, além de não serem visualmente agressivos. As

passarelas foram construídas em locais de maior fragilidade ambiental ou terrenos mais

acidentados, garantindo maior conservação e viabilizando o acesso com segurança para

pessoas que, normalmente, não teriam condições de visitar um local com tais caracterís-

ticas. Os corrimões são lixados à mão, não apresentando ferpas ou cantos vivos que pos-

sam causar ferimentos. Em todos os pontos de banho existem bancos para que as pesso-

as que não forem nadar possam ficar esperando os demais com todo o conforto. Isso

serve como uma forma de estímulo para aqueles que desejem entrar na água mas se

sentem inibidos por deixarem os demais aguardando do lado de fora, no caso destes

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serem a maioria no grupo. Nas escadas e plataformas de acesso à água, não existem

pontas salientes de madeira onde as pessoas poderiam se machucar ao entrar ou sair do

rio. Na medida do possível, fez-se um planejamento visual para evitar que cada deck ou

passarela ficasse visível de outro deck, rio acima ou abaixo. Diariamente, essas estrutu-

ras são varridas por uma equipe – além da questão de limpeza, para devolver ao solo a

matéria orgânica (folhas, galhos, flores e outros) que irá se decompor no ritmo natural

da mata.

REVESTIMENTO DE CASCALHO

Toda a trilha foi revestida com uma camada de cascalho retirado de áreas dentro

da própria fazenda. Esse revestimento auxilia na drenagem da água, evitando a forma-

ção de poças, lama ou erosão, e na proteção às raízes expostas. A ausência de poças ou

lama faz com que os visitantes permaneçam sempre no traçado original da trilha, sem

realizar desvios que acabam causando alargamento excessivo da mesma. A proteção das

raízes evita danos à árvore, tais como: eventual contaminação por microorganismos;

retirada da casca ou esmagamento da raiz por animais ou pelo pisoteio constante; enfra-

quecimento da estrutura de apoio da árvore no solo - fato que poderia ocasionar sua

queda. Sem a tomada de tais medidas, a longevidade da árvore poderia ser seriamente

comprometida. Outro aspecto é a minimização do risco de tropeções e tombos por parte

dos visitantes durante a caminhada.

MONITORAMENTO DE IMPACTO

Está sendo desenvolvido um trabalho pioneiro de monitoramento da trilha por

meio de medições periódicas de sua largura e profundidade. Analisados em conjunto

com dados referentes a número diário de visitantes, tamanho dos grupos e pluviosidade,

será possível avaliar o impacto causado pela visitação turística a essa área, podendo

adequar a operação de acordo com os resultados obtidos.

COLETA DIÁRIA DE INFORMAÇÕES

Foram instalados termômetros e réguas para medir a temperatura da água e do

ar, a visibilidade e a profundidade do rio. Todas as manhãs esses dados são verificados,

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anotados e repassados às agências de turismo que queiram fazer reservas para o passeio,

possibilitando a elas informar melhor os clientes sobre a visita à propriedade. Durante

essa verificação, são observados também aspectos como presença de mosquitos ou atra-

tivos extras (animais silvestres, plantas da estação e outros). Desta forma, as vendas aos

clientes podem ser feitas com mais precisão de informações e honestidade, além de se

obter um registro que pode ser de grande utilidade para trabalhos futuros.

MELHORIAS CONSTANTES

A trilha está em constante melhoria e adaptação – sempre se antecipa a eventuais

problemas ambientais que um traçado errado possa vir a causar, corrigindo os detalhes

de imediato.

PRIMEIROS SOCORROS

Tanto na trilha como no receptivo existem caixas de primeiros socorros com

medicamentos e equipamentos de emergência. Além disso, o carreador (trecho mais

largo utilizado originalmente como via de acesso para veículos) que acompanha a trilha

permite um resgate rápido e eficiente com veículo motorizado, em caso de acidentes.

Em todos os pontos de banho existem bóias salva-vidas que oferecem uma segurança

adicional aos visitantes, e no receptivo há uma maca para transporte de feridos. Para os

visitantes mais inseguros ou despreparados, é oferecido sem custo extra um colete sal-

va-vidas para realização do passeio.

RESULTADOS E CONCLUSÃO

Analisando sob a óptica ambiental, até o momento os resultados dos esforços de

conservação têm se mostrado positivos. As pesquisas de monitoramento de impacto

sobre a trilha e observações da fauna e flora ao longo do ano demonstram que a intensi-

dade de visitação não vem causando prejuízos ambientais consideráveis. A largura e

profundidade da trilha vêm se mantendo constantes e dentro do aceitável, não havendo

indícios de erosão ou compactação. Com relação à fauna, observa-se que, nos locais de

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visitação onde existem ninhos ou abrigos de animais, a presença humana não parece

estar afetando seus hábitos.

Do ponto de vista de satisfação do cliente, esta série de detalhes listados anteri-

ormente – em especial a limitação do tamanho dos grupos e a infra-estrutura do recepti-

vo e da trilha – tem ocasionado grande quantidade de elogios escritos e verbais, com-

provando assim que este é o caminho certo de atuação, de acordo com o público que

freqüenta Bonito atualmente. Apesar de em um primeiro momento algumas pessoas

hesitarem em aceitar algumas regras e limitações, ao final elas compreendem os moti-

vos desses cuidados e percebem nitidamente o ganho de qualidade.

Em termos comerciais, existem algumas dificuldades para a viabilização merca-

dológica deste produto, principalmente pela falta de prestígio a iniciativas como esta por

parte de todo o setor turístico da região. Por se tratar de um atrativo que exige alguns

detalhes adicionais no momento da venda (restrições ao tamanho máximo dos grupos de

passeio, respeito aos horários e intervalos entre cada grupo, exigências quanto à atuação

dos guias de turismo e cobranças da valorização das informações prestadas ao visitante),

em certas situações há preferência a outros destinos que se apresentam mais flexíveis

quanto a esses aspectos. Entretanto, pelos níveis de satisfação dos visitantes constatados

e pelo conhecido fato de que a propaganda “boca-a-boca” é um dos principais instru-

mentos de divulgação de um produto turístico, acredita-se que esta situação se reverterá

em curto e médio prazos.

Soma-se a isto o fato de que, a longo prazo, os cuidados ambientais nessa Estân-

cia tendem a evidenciar as diferenças entre um lugar bem manejado e outros que não

apresentam tais preocupações, inclusive ficando estes sujeitos a problemas com fiscali-

zação, embargamento e multas.

Assim, continua sendo realizados diversos esforços comerciais para comprovar a

viabilidade e a importância de uma operação modelo em turismo sustentável, em uma

região tão frágil em termos ambientais como é o caso de Bonito.

É fundamental a divulgação dos trabalhos que estão sendo realizados, para que

sirvam como base para projetos de conservação em outras propriedades da região. Não é

suficiente que tais critérios e técnicas sejam aplicados apenas em uma propriedade, visto

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que a conservação deve ser considerada sob uma visão global e não restrita apenas a

iniciativas isoladas.