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1 Estudo de Viabilidade de Produção de Biocombustíveis na UEMOA (União Econômica e Monetária do Oeste Africano) Relatório 3: Coleta de dados e entendimento da situação atual Chamada Pública de Prospecção BNDES/FEP nº 02/2011 Este documento é confidencial e de uso exclusivo do cliente ao qual é dirigido. Rio de Janeiro, novembro de 2013

Estudo de Viabilidade de Produção de Biocombustíveis na UEMOA

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    Estudo de Viabilidade de Produo de Biocombustveis na UEMOA (Unio Econmica e Monetria do Oeste Africano)

    Relatrio 3: Coleta de dados e entendimento da situao atual Chamada Pblica de Prospeco BNDES/FEP n 02/2011

    Este documento confidencial e de uso exclusivo do cliente ao qual dirigido.

    Rio de Janeiro, novembro de 2013

  • 2

    ndice I. INTRODUO E SUMRIO EXECUTIVO ...................................................................................................... 4

    1. Objetivo do relatrio .......................................................................................................................................... 4

    2. Sumrio Executivo ............................................................................................................................................. 4

    3. Hipteses para os pases da UEMOA aps a coleta de dados ..................................................................... 6

    II. O MERCADO DE BIOCOMBUSTVEIS E ESTUDO DE CASOS DE PASES RELEVANTES ................... 9

    1. Introduo ........................................................................................................................................................... 9

    2. Viso Geral do Mercado de Biodiesel ........................................................................................................... 11

    3. Viso Geral do Mercado de Etanol ................................................................................................................ 17

    4. Lies Aprendidas com biocombustveis ..................................................................................................... 20

    III. AMBIENTE SCIO ECONMICO E CONDIES DE INFRAESTRUTURA E MO DE OBRA ..... 22

    1. Introduo ......................................................................................................................................................... 22

    2. Viso geral da situao econmica da UEMOA .......................................................................................... 23

    3. Senegal ............................................................................................................................................................... 31

    4. Costa do Marfim ............................................................................................................................................... 41

    5. Benim ................................................................................................................................................................. 53

    6. Togo.................................................................................................................................................................... 64

    7. Burkina Faso ..................................................................................................................................................... 75

    8. Mali .................................................................................................................................................................... 85

    9. Nger .................................................................................................................................................................. 96

    10. Guin-Bissau ............................................................................................................................................... 106

    IV. MATRIZ ENERGTICA ATUAL, DEMANDA POTENCIAL DE BIOCOMBUSTVEIS E INSTITUIES E POLTICAS PBLICAS RELEVANTES ................................................................................. 115

    1. Introduo ....................................................................................................................................................... 115

    2. Viso geral ....................................................................................................................................................... 115

    3. Mercado externo de biocombustveis .......................................................................................................... 143

    4. Senegal ............................................................................................................................................................. 148

    5. Costa do Marfim ............................................................................................................................................. 152

    6. Benim ............................................................................................................................................................... 157

    7. Togo.................................................................................................................................................................. 164

    8. Burkina Faso ................................................................................................................................................... 169

    9. Mali .................................................................................................................................................................. 175

    10. Nger ............................................................................................................................................................ 179

    11. Guin Bissau ............................................................................................................................................... 183

    12. Casos Especiais ........................................................................................................................................... 186

    V. PERCEPES DE RISCOS PARA INVESTIDORES E POTENCIAIS FONTES DE FINANCIAMENTO PARA PROJETOS PROPOSTOS .............................................................................................................................. 198

    1. Potenciais fontes de financiamento para projetos propostos ................................................................... 198

    2. Anlise de riscos jurdicos relevantes e seus impactos no investimento ............................................... 203

  • 3

    VI. ASPECTOS JURDICOS E INSTITUCIONAIS E ESTRUTURA TRIBUTRIA PERTINENTE PRODUO DE BIOCOMBUSTVEIS ................................................................................................................... 218

    1. Introduo e Sumrio Executivo .................................................................................................................. 218

    2. Sistema Judicirio e Exequibilidade de Decises ...................................................................................... 220

    3. Reconhecimento da Arbitragem como Mtodo de Soluo de Controvrsias ...................................... 220

    4. Aspectos jurdicos atinentes ao sistema fundirio .................................................................................... 221

    5. Aspectos Ambientais ..................................................................................................................................... 227

    6. Regulamentao de combustveis e desafios para possvel marco regulatrio de biocombustveis . 229

    7. Estrutura Tributria ....................................................................................................................................... 235

    8. Aspectos relativos Propriedade Intelectual e Transferncia de Tecnologia ....................................... 249

    9. Panorama Jurdico dos Blocos Econmicos Regionais ............................................................................. 252

    VII. MAPEAMENTO DAS CONDIES DO ENTORNO AGRCOLA E AMBIENTAL E AVALIAO DA CAPACIDADE DE PRODUO DE BIOCOMBUSTVEIS ......................................................................... 257

    1. Introduo ....................................................................................................................................................... 257

    2. Sumrio Executivo ......................................................................................................................................... 257

    3. Premissas metodolgicas e abrangncia dos resultados .......................................................................... 260

    4. Resultados da avaliao da capacidade de produo de culturas .......................................................... 262

    VIII. REFERNCIA BIBLIOGRFICAS ............................................................................................................... 294

    1. Captulos II, III, IV,V, VI ............................................................................................................................... 294

    2. Captulo VII ..................................................................................................................................................... 298

    ANEXO I ESTUDOS DE CASO DE PASES COM PRODUO DE BIOCOMBUSTVEIS E METODOLOGIA PARA SELEO DOS PASES ................................................................................................ 300

    1. Escolha de Pases para Estudo Aprofundado ............................................................................................ 300

    2. Estudo de Casos de Biodiesel ....................................................................................................................... 305

    3. Estudo de Casos de Etanol ............................................................................................................................ 317

    ANEXO II MAPEAMENTO DE ASPECTOS JURDICOS E INSTITUCIONAIS POR JURISDIO ........ 332

    1. Senegal ............................................................................................................................................................. 332

    2. Costa do Marfim ............................................................................................................................................. 338

    3. Benim ............................................................................................................................................................... 344

    4. Togo.................................................................................................................................................................. 352

    5. Burkina Faso ................................................................................................................................................... 359

    6. Mali .................................................................................................................................................................. 366

    7. Nger ................................................................................................................................................................ 373

    8. Guin-Bissau ................................................................................................................................................... 382

    ANEXO III MAPEAMENTO DE CONDIES DO ENTORNO AGRCOLA E AMBIBIENTAL ............. 393

    1. Metodologia para Estimativa da capacidade de produo de biocombustveis (reas aptas sob perspectiva morfo-edafo-climtica) ..................................................................................................................... 393

    2. Mapas de populao, densidade populacional e crescimento populacional por pas e por provncia 419

    3. Reviso de literatura: ecofisiologia da produo das culturas voltadas produo de bioenergia .. 427

    4. Parmetros para o modelo de crescimento de culturas ............................................................................ 464

    Anexo IV Lista de figuras e tabelas ...................................................................................................................... 469

  • 4

    I. INTRODUO E SUMRIO EXECUTIVO

    1. Objetivo do relatrio Este relatrio composto por seis captulos com o entendimento geral das condies dos pases da UEMOA, j consideradas as informaes coletadas na visita tcnica regio. Este relatrio possui os seguintes captulos: I. Introduo e Sumrio Executivo II. O mercado de biocombustveis e estudo de casos de pases relevantes III. Ambiente scio econmico e condies de infraestrutura e mo de obra IV. Matriz energtica atual, demanda potencial de biocombustveis e instituies e polticas pblicas

    relevantes V. Percepes de riscos para investidores e potenciais fontes de financiamento para projetos propostos VI. Aspectos jurdicos e institucionais e estrutura tributria pertinente produo de biocombustveis VII. Mapeamento das condies do entorno agrcola e ambiental e avaliao da capacidade de produo

    de biocombustveis Os dados apresentados neste relatrio foram coletados principalmente (mas no somente) nas seguintes fontes de acordo com a disponibilidade para cada pas: (i) Literatura acadmica; (ii) Informaes disponibilizadas por instituies de desenvolvimento internacionais como o Banco

    Mundial e a FAO; (iii) Legislao de cada pas; (iv) Entrevistas com especialistas mundiais nas reas de agricultura, combustveis, desenvolvimento

    econmico ou legal; (v) Entrevistas com especialistas locais da UEMOA atravs das viagens para Togo, Benim, Burkina Faso

    (pas sede da UEMOA), Senegal e Costa do Marfim, durante o perodo de 29 de Setembro a 20 de Outubro de 2012, onde foram realizadas mais de 70 entrevistas com empresas, instituies pblicas, rgos de classe e universidades no ramo da agricultura, energia ou combustveis.

    Abaixo apresentado um sumrio executivo do contedo do relatrio consolidando o entendimento da situao de cada pas em torno de trs principais tpicos chave para o desenvolvimento de cada pas: agricultura, energia eltrica e combustveis. A seguir so apresentadas as hipteses a serem testadas na fase de modelo de negcios com base no contexto social, econmico, regulatrio dos pases e na capacidade agronmica de adoo das culturas matria-prima para biocombustveis.

    2. Sumrio Executivo A UEMOA abriga uma populao de 100 milhes de habitantes e um PIB conjunto de 146 bilhes de dlares. Os pases esto todos no ltimo quartil de IDH do mundo e apresentam balanas comerciais em geral deficitrias (exceto Costa do Marfim, onde a exportao de cacau uma das grandes responsveis pela balana comercial positiva). Todos os oito pases precisam importar alimentos para suprir suas necessidades. Nenhum dos pases tem taxa de eletrificao superior a 50%, com Benim, Togo e Nger importando mais de 70% das suas necessidades de energia eltrica. Alm disso, todos, exceto Costa do Marfim e Senegal, importam 100% dos derivados de petrleo que consomem.

  • 5

    Do ponto de vista da infraestrutura logstica, as malhas rodovirias tm investimentos abaixo do necessrio, e as malhas ferrovirias no esto integradas. No Togo, Benim e Senegal a falta de manuteno levou ao sucateamento das mesmas. Por outro lado, entre Costa do Marfim e Burkina Faso h uma das melhores ferrovias da regio. A falta desse modal diminui a competitividade dos pases sem acesso ao mar, que se obrigam a enviar seus produtos aos portos por rodovias longas e com m manuteno. Os portos so citados como facilitadores do comrcio exterior, apesar dos tempos de espera longos para padres internacionais. Na poltica, ao longo do tempo, os pases sofreram crises ou golpes de Estado. Em 2005, o Togo perdeu ajuda internacional aps a entrada no democrtica de um novo presidente. Entre 2002 e 2010, a Costa do Marfim perdeu importncia na regio devido guerra civil, situao hoje normalizada. Mais recentemente, a rebelio Tuareg no norte do pas tem prejudicado a economia do pas. De maneira geral, a presena de democracias na regio vem aumentando nas ltimas dcadas, e os governos passam a ter mais legitimidade e capacidade de execuo. A comisso UEMOA busca aumentar seu poder de influncia na regio, e aps ter comeado sua articulao regional com alinhamento de intenes (sem fora de lei), j comea a definir diretrizes mais concretas e com mais fora. A mo de obra dos pases apresenta uma produtividade muito baixa, mesmo para padres da frica subsaariana. A baixa produtividade gera um problema de falta de mo de obra, exacerbado no campo, onde o xodo para as cidades comea a se manifestar nas camadas mais jovens da populao. A qualificao da mo de obra tambm mencionada como um problema, mas com menor frequncia, devido baixa necessidade de especializao que a indstria local apresenta. Agricultura O principal objetivo citado pelos Ministrios de agricultura dos pases garantir a segurana alimentar da populao. Todos ainda dependem de importaes para suprir a alimentao bsica, e, dessa forma, ficam expostos a variaes nos preos internacionais dessas commodities (bens e servios) de necessidade primrias. clara a necessidade dos pases de aumentar a produtividade da terra e do trabalho, pois atualmente a agricultura de subsistncia em pequenas propriedades predominante em todos os pases. Um segundo objetivo mencionado foi o fortalecimento das culturas comerciais para exportao e aumento da diversificao. Atualmente muitos pases dependem fortemente do algodo como nica cultura de exportao relevante. Contudo, com a diminuio de seus preos internacionais, a rentabilidade dos agricultores ficou muito limitada e a balana comercial agrcola dos pases foi impactada. Dessa forma, os governos veem com bons olhos a entrada de investidores que sejam especializados no cultivo de culturas com potencial de gerar divisas. Um dos grandes desafios na agricultura a informalidade nos registros de terras. A posse de terras comumente cedida populao pelo uso costumeiro. Contudo, no h documentos ou registros centralizados que garantam segurana na transferncia de posse. Dessa forma, investidores estrangeiros necessitam de apoio direto do governo para: (i) acessar uma quantidade de terra contgua suficiente para o desenvolvimento de uma plantao industrial; e (ii) garantir que a compra dessa terra no seja desfeita por alegaes de posse por parte de terceiros. Energia eltrica A penetrao de energia eltrica nos pases da UEMOA varia de 9% a 47% da populao geral e de 0% a 22% na zona rural dos pases. A gerao local insuficiente para suprir o consumo de energia em Burkina

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    Faso, Benim, Togo e Nger, mas mesmo onde h gerao, a confiabilidade no suprimento de energia baixa, com muitas quedas e oscilaes na tenso da rede. Dessa forma, indstrias se obrigam a instalar geradores prprios e consumir energia a custos muito superiores aos da rede. As empresas de distribuio ficam a merc dos exportadores de energia eltrica da regio (Nigria, Gana e Costa do Marfim) que em horrios de pico por vezes cessam a exportao de energia. Com uma matriz dependente de combustveis fsseis importados, principalmente diesel, para gerao de energia, a busca de alternativas para suprir esse importante insumo industrial se tornou uma prioridade para os governos locais. Dessa forma, gerao a partir de biomassa e gerao distribuda com fonte solar se tornaram opes desejadas para (i) diminuir a dependncia de diesel e eletricidade importada; (ii) aumentar a confiabilidade no suprimento; e (iii) desenvolver a indstria local. Combustveis Apesar de Benim, Togo, Burkina Faso, Mali, Nger e Guin Bissau importarem 100% dos derivados de petrleo que consomem, o fornecimento desses combustveis, apesar de caro, abundante e seguro, ao contrrio do que acontece com a energia eltrica. Os Estados controlam de perto as importaes e os preos praticados e garantem a cobrana de impostos sobre o combustvel, o que se torna uma importante fonte de recursos para os tesouros nacionais. Dessa forma, o nvel de interesse dos governos locais em substituir importaes varia bastante, especialmente se o custo para essa substituio for relevante. A substituio da biomassa utilizada para coco por combustveis mais eficientes vista como imprescindvel para diminuio do desmatamento na regio, e iniciativas que ajudem os governos a viabilizar combustveis alternativos so bem vindas. Atualmente, o GLP a principal alternativa, apesar da averso da populao em utiliz-lo devido crena de que o mesmo perigoso. A aceitao de biocombustveis um pouco maior em Benim, Burkina Faso, Senegal e Mali, onde j foram feitas tentativas de produo de biocombustveis e h projetos de legislao para fomento do setor. Contudo, o nvel de prioridade dado a essas iniciativas baixo, assim como a expectativa de incentivos diretos indstria. Dessa forma, um pequeno aumento no preo da mistura, a ser pago pelo consumidor final, considerado vivel pelos governos citados. Por outro lado, Costa do Marfim, Togo, Nger e Guin Bissau no tm interesse nenhum em desenvolver o mercado, tornando uma regulamentao nica para toda a UEMOA um desafio considervel.

    3. Hipteses para os pases da UEMOA aps a coleta de dados Considerando o contexto apresentado acima, acreditamos que existem oportunidades para atuao no setor de biocombustveis na UEMOA tanto no curto como no mdio prazo. As restries de competio por terra vis--vis culturas de subsistncia, a fraca posio de custos e a escala produtiva nas culturas matria-prima para biocombustveis reduzem a atratividade de investimentos agroindustriais de porte, capazes de fato de transformar o cenrio econmico e social dos pases da regio. Em contraponto s oportunidades em biocombustveis, os pases da UEMOA tm como prioridade a produo agrcola e a gerao de eletricidade. Esses setores tm potencial para atrair investimentos estruturantes e podem transformar a economia e sociedade da regio. As sesses seguintes descrevem as hipteses de oportunidades criadas a partir dos dados coletados at esta etapa do estudo. Essas hipteses sero detalhadas e validadas na fase de Seleo do Modelo de Negcio.

  • 7

    3.1. Hipteses de oportunidades relacionadas a biocombustveis Considerando o cenrio atual dos pases UEMOA, h trs grupos de oportunidades potenciais para atuao em biocombustveis:

    Expandir a produo de cana-de-acar nas reas disponveis, eliminar a importao domstica de acar, destinar parte da produo ao etanol e gerar potencial para cogerao de eletricidade. Considerando que a regio importa acar e que o uso mais rentvel da cana-de-acar o prprio acar, e no o etanol, a prioridade das usinas seria suprir a demanda domstica de acar. Se houver disposio poltica e custo competitivo em relao gasolina, parte da produo pode ser destinada ao etanol. Alm disso, a hiptese inicial de que a usina ter capacidade de cogerao e a eletricidade excedente ser injetada na rede do pas.

    Aumentar a produo de leos vegetais atravs de maior produtividade das propriedades j existentes, suprir a demanda do mercado domstico e destinar percentual do excedente para a produo de biodiesel: os pases da regio em geral tm produo relevante de alguma cultura oleaginosa. Por exemplo, algodo na Burkina, amendoim no Senegal e palma na Costa do Marfim, Togo e Benim. Entretanto, essas culturas possuem baixa produtividade causada por manejo de baixa qualidade ou irrigao insuficiente. Ao mesmo tempo, os pases da regio, com exceo da Costa do Marfim, importam leos vegetais. Nesse cenrio, h potencial para aumento de produtividade das culturas j existentes, de forma a suprir a demanda domstica de leos vegetais, e utilizar parte do excedente para a produo de biodiesel. Nesta abordagem necessrio considerar o papel atual dos pequenos produtores, devido dificuldade de um investidor privado arrendar extenses significativas de terra, principalmente em zonas midas. A combinao de produo prpria e terceira dever ser processada em usinas de porte mnimo, destinadas a produo do leo vegetal e o excedente para a produo de biodiesel. O biodiesel seria adicionado ao diesel, em misturas iniciais de 2-5%. Para que esse cenrio seja vivel, necessrio que o custo de produo do biodiesel, considerando o custo de oportunidade da venda do leo vegetal, seja competitivo em relao ao custo local do diesel. Essa oportunidade, entretanto, menos atraente para um investidor de porte, pela necessidade de coordenar mltiplos pequenos fornecedores e o baixo capital necessrio para a instalao das usinas de processamento.

    Implantar a cultura do Pinho Manso: tentativas recentes indicam que existe potencial para o cultivo de Pinho Manso (Jatropha Curcas) na regio. Diversos investidores locais de pequeno porte j apostaram no uso da planta para produo de Biodiesel apoiados na tese de baixa necessidade de gua da cultura, o que facilitaria o acesso a terra. Este modelo, entretanto, precisar superar desafios importantes que se manifestaram em tentativas anteriores. A cultura ainda no est totalmente domesticada, e a maturao de seus frutos e sua produtividade e so irregulares e pouco previsveis. Alm disso, no existe um mercado estruturado para a comercializao de seu leo, o que expe os produtores ao risco real de mudanas na poltica de biocombustveis Considerando necessrio primeiramente avanar na pesquisa agronmica, a atratividade deste modelo ficaria inicialmente restrita a pequenos produtores que possam utilizar reas marginais (cercas ou intercalando culturas) para produo. O biocombustvel seria consumido nos prprios vilarejos (ex. para alimentar geradores) ou misturado ao diesel.

    Das oportunidades apresentadas, a produo de acar tem maior potencial para atrair investidores de porte. Por outro lado, o aumento da produo de leos vegetais e a implantao do Pinho Manso

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    demandam investimentos menores e a necessidade de desenvolver diversos pequenos fornecedores. Assim, estas oportunidades parecem menos atraentes para investidores internacionais.

    3.2. Hipteses de oportunidades estruturantes O cenrio apresentado anteriormente e as entrevistas com atores pblicos e privados dos pases alvo indicam que suas prioridades so a segurana alimentar e o suprimento confivel de eletricidade. Apesar da necessidade de combustveis mais eficientes na UEMOA, os setores agrcolas e energticos tm maior potencial para transformar pases. Ao mesmo tempo, projetos estruturantes, capazes de transformar os setores prioritrios, so mais alinhados ao perfil de grandes investidores internacionais, como os brasileiros. Sendo assim, projetos mais amplos como polos agroenergticos onde os biocombustveis so parte, porm no principal foco da operao, tm maior impacto e potencial de atrao de investidores. Exemplos incluem (i)complexo soja-milho-protena animal (ii) explorao infraestrutura de irrigao para cultivo de arroz, vegetais e cana de acar atrelada indstria de transformao de grande porte, combinando agricultura familiar e de grande porte. Projetos como estes so descritos como Integrated Food and Energy Systems (Sistemas Integrados de Produo de Alimentos e Energia) e so realizados por instituies como a FAO. Estes projetos necessitam de uma viso mais abrangente da situao atual, contando com os governos locais para criar regulaes favorveis criao de polos econmicos como: acesso facilitado e garantido s terras, reduo de tributos (renda e comercio exterior) para atrao de investidores internacionais, alm de planos de desenvolvimento de infraestrutura. Um projeto deste tipo tem potencial para transformar de forma positiva o cenrio de segurana alimentar e gerao de riquezas do pas sede. A possibilidade de projetos estruturantes ser abordada no prximo relatrio. Entretanto, por no ser foco do presente estudo, aconselhado o estudo de forma aprofundada em potenciais estudos posteriores.

  • 9

    II. O MERCADO DE BIOCOMBUSTVEIS E ESTUDO DE CASOS DE PASES RELEVANTES

    1. Introduo Este captulo foi construdo com base nos estudos de casos de pases que possuem produo relevante de biocombustveis e cuja experincia pode ser til para a UEMOA. A fim de embasar as discusses pontuais em cada pas, as dinmicas de mercado do etanol e biodiesel sero analisadas nos primeiros captulos. A metodologia de seleo dos pases para estudo de caso, bem como os estudos de caso completos em cada pas so apresentados no ANEXO I. Estes pases foram estudados em profundidade e sero apresentadas neste captulo as lies aprendidas.

    1.1. Motivao Os estudos de casos tm trs objetivos principais:

    Avaliar a viabilidade econmica da produo de biocombustveis, considerando o ponto de vista do governo, consumidores e pas;

    Entender o modelo e estrutura regulatria utilizados em cada pas, buscando-se avaliar seus mritos e demritos; e

    Identificar as principais lies aprendidas que podem servir ao desenvolvimento do setor de bicombustveis na UEMOA.

    O escopo desse estudo no definir o modelo de desenvolvimento a ser adotado na UEMOA esse tpico ser tratado de forma dedicada em um relatrio posterior.

    1.2. O Mercado de Biocombustveis

    A produo global atual de biocombustveis concentrada no etanol e biodiesel. Esses produtos so utilizados majoritariamente em misturas com gasolina e no diesel. O biodiesel produzido a partir de leos vegetais, principalmente de soja, palma ou colza, atravs do processo de transesterificao. O biodiesel passou por rpido crescimento na dcada de 2000, puxado principalmente pelo mercado europeu. Como seu custo de produo maior que o preo do diesel, a sustentabilidade da demanda depende de incentivos e regulamentaes governamentais. O etanol obtido pela fermentao dos acares contidos principalmente na cana-de-acar e milho, e em menor escala no trigo e beterraba. Seu uso como combustvel ganhou relevncia na dcada de 1970, no Brasil, atravs do programa de governo Prolcool. A partir da dcada de 2000 sua produo cresceu devido adoo nos Estados Unidos. Assim como no biodiesel, seu custo de produo maior que o preo da gasolina, e sua demanda tambm est ligada a incentivos e regulamentaes governamentais. O crescimento da demanda por biocombustveis recente. Como pode ser visto na Figura 1, a produo mundial teve forte crescimento a partir da dcada de 2000, e alcanou uma taxa de crescimento anual composta (TCAC) de 19% entre 2005 e 2011. Considerando seu recente histrico, o mercado de biocombustveis ainda no maduro e pode passar por mudanas relevantes nos prximos anos.

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    25

    50

    75

    100

    125

    1981 1985 1990 1995 2000 2005 2010

    25%

    22%

    33%

    0

    RdM

    UE

    EUA

    Brasil 8%

    19%

    TCAC(05-11)

    Produo de biocombustveispor pas/bloco (M m3/ano)

    Figura 1 Evoluo da produo de biocombustveis entre 2000-2011. Fonte: (EIA; UNICA; USDA)

    A produo de biocombustveis concentrada em poucos pases. A Figura 2 mostra que os nove principais produtores concentram 97% da produo mundial, ou aproximadamente 294M m3/ano de uma produo global de 302M m3/ano.

    Produo de biocombustveis por pas/bloco, 2011 (M m3/ano)

    Figura 2 Produo de biocombustveis por pas/bloco. Fonte: (EIA)

  • 11

    2. Viso Geral do Mercado de Biodiesel A produo mundial de biodiesel recente e pouco representativa quando comparada do diesel. A Figura 3 mostra a evoluo da produo global de biodiesel, separada por continentes. possvel perceber um grande aumento do volume produzido a partir de 2005, impulsionado principalmente pela Europa. Apesar disso, mesmo em 2011, o volume produzido no mundo representava somente 1,6% do volume consumido de diesel.

    0

    20

    40

    60

    80

    0

    20

    40

    60

    80

    2000

    0.8

    2001

    1.0

    2002

    1.3

    2003

    1.7

    2004

    2.2

    2005

    3.6

    2006

    6.3

    2007

    9.0

    2008

    13.2

    2009

    15.6

    2010

    17.1

    2011

    9

    533

    20.4

    0.1% 1.3% 1.4% 1.6%0.1% 0.1% 0.2% 0.2% 0.3% 0.5% 0.7% 1.1%

    25%

    87%61%87%

    35%

    (01-11)TCAC

    % consumode diesel

    Produo deEtanol (Mt)

    Amrica LatinaAmrica do Nortesia Pacfico

    Produo globalde biodiesel (Mt)

    Figura 3 Evoluo da produo global de biodiesel. Fonte: (EIA)

    A Figura 4, que segmenta a produo do biodiesel por localidade, identifica os maiores produtores: Unio Europeia (principalmente Frana, Alemanha, Itlia, Holanda e Espanha), Estados Unidos, Argentina e Brasil. Em seguida, com um menor volume produzido, esto Indonsia, Tailndia, Colmbia, China e Coria do Sul. Esses nove pases so responsveis por aproximadamente 96% da produo mundial do combustvel. relevante observar que a maioria desses pases usa matria-prima de origem domstica para produo de biodiesel, um forte indicativo de que uma produo relevante desse biocombustvel est relacionada existncia de excedente de matria-prima. As nicas excees so Unio Europeia (importa 5% do leo de canola) e Coria do Sul (importa 80% dos leos de soja e palma).

  • 12

    Produo de biodieselpor localidade, 2011 (Mt)

    Domstica 5% Importao 80% Importao

    Frana e Alemanha: 50%

    Itlia, Holanda e Espanha: 20%

    Outros 21 pases: 30%

    Origem da matria prima: Figura 4 Produo de biodiesel segmentada por pases/blocos. Fonte: (EIA; FAS)

    O biodiesel pode ser produzido a partir de diversas matrias-primas. A Figura 5 segmenta a produo de biodiesel de cada pas por matria-prima utilizada. Ela utiliza um grfico, no qual o eixo X representa a quantidade produzida por cada pas e o eixo Y a participao de cada matria-prima no pas. A Unio Europeia usa principalmente colza, que adaptada ao seu clima frio, mas tambm soja, palma e leos reciclados. Argentina, Brasil e Estados Unidos usam majoritariamente leo de soja, este ltimo usando tambm quantidades menores de colza e leos reciclados. Indonsia, Tailndia e Colmbia usam palma como nica matria-prima. A China usa leos reciclados gerados em suas grandes cidades com alta densidade populacional, o que facilita a coleta. A Coreia do Sul usa soja, palma e leos reciclados. possvel perceber que as matrias-primas mais difundidas no mundo so soja, colza e palma.

    Produo de biodiesel por tipo de matria-prima por pas (Mt de biodiesel, 2011)

    *Principalmente gordura animal, girassol, milho e caroo de algodo

    MP

    Figura 5 Utilizao de matrias-primas para produo de biodiesel por pas. Fonte: (USDA)

    A viabilidade econmica do biodiesel depende da comparao entre seu custo de produo e o preo do diesel. A Error! Reference source not found. mostra que os principais leos vegetais usados para produo

  • 13

    do biocombustvel so, em quase todos os anos analisados, mais caros que o diesel. Entre os diferentes leos, o de palma possui o menor valor, seguido pelo de soja.

    Preo referncia dos leos vegetaise do petrleo Brendt (US$/t)

    286 251 231284

    374

    550

    638697

    945

    543

    702

    963 988 965

    Figura 6 Preos de referncia dos leos vegetais, preo Brendt e diesel, em Roterd. Fonte: (FMI;

    Banco Mundial; EIA)

    O valor mais elevado dos leos vegetais se deve ao fato de que estes so consumidos, em sua maior parte, como alimentos, uma utilizao mais nobre do que como combustvel, como pode ser visto na Figura 7.

    Nota: considera yield 1:1 leo-biodiesel

    Consumo mundial de leos vegetais, mdia 2010-2012 (Mt)

    Figura 7 Consumo mundial de leos vegetais por destino. Fonte: (FAS; EIA)

    Considerando os preos internacionais de referncia, os leos vegetais so mais caros que o diesel na maior parte do tempo. Como consequncia, um produtor que comprasse o leo vegetal, o convertesse para biodiesel e vendesse a produo no preo do diesel teria prejuzo. Esse produtor, que no possui produo agrcola da matria-prima chamado de no integrado. A Figura 8 simula a margem de um produtor no integrado que utilize leos de soja e a palma como matria-prima. O eixo vertical representa a margem bruta, considerada como o preo do diesel menos o

  • 14

    custo do produto vendido, considerado como o custo do leo vegetal mais US$150/tonelada de custos de converso.

    Um produtor integrado de biodiesel aquele que produz a prpria matria-prima. Na Indonsia, um produtor integrado teria margem positiva ao exportar sua produo para Roterd. Assim, o biodiesel uma alternativa para escoar excedentes de leos vegetais em momentos de excesso de oferta.

    *EIA US Diesel Refiner Prices for Resale, Palm Oil CIF NWE, Soybean Oil Ex-Mill Netherlands. Yield 1:1 leo:biodiesel, custo caixa de converso U$150/Ton**Custo de produo do CPO na Indonsia para Sime Darby + custo de capital estabelecimento + custo de converso + logstica para Rotterdam

    Margem bruta* mensal de um produtor terico de biodiesel em Rotterdam, com biodiesel vendido a preo do diesel (US$/t)

    PRODUTORNO INTEGRADO

    Margem positivaSpread diesel-leo

    vegetal > custo caixa de produo

    Margem negativaSpread diesel-leo

    vegetal < custo caixa de produo

    (no produz)

    Spread = custo caixa de produo

    Produtor integrado na Indonsia tem margem** para utilizar biodiesel para escoar excedente do CPO

    Figura 8 Margem bruta de um produtor terico de biodiesel. Fonte: (IMF; Banco Mundial; EIA; Sime

    Darby).

    Como consequncia do maior custo do biodiesel, sua adoo nos pases analisados somente ocorre quando h obrigatoriedade legal. A Error! Reference source not found. apresenta as misturas obrigatrias e efetivas para diversos pases. A Costa Rica declara que almeja atingir 20% de mistura de biodiesel no diesel, porm a mistura efetiva no existe porque no h obrigatoriedade legal.

    Participao biodiesel no consumo de combustveis ciclo diesel (%, 2012)

    Mistura no obrigatriaProduo irrelevante

    Metas de mistura no so agres-sivas: ~5-10%

    Mistura obrigatriaProduo significativa

    Para regies especficas

    Figura 9 Mistura obrigatria e efetiva de biodiesel por pas. Fonte: (USDA; EIA)

  • 15

    Como mostrado anteriormente, o custo de produo do biodiesel maior que o preo do diesel para um produtor terico em Roterd. Entretanto, a viabilidade do biocombustvel pode ser diferente em cada pas. A presena de excedente de leos vegetais, que reduz o valor do produto no mercado interno, e a importao de diesel fssil, que o torna mais caro, podem tornar o biodiesel mais atrativo. A Figura 10 mostra que os principais produtores de biodiesel so exportadores de leos vegetais e importadores de diesel. Os pases da UEMOA so, em geral, importadores de diesel. Para que eles possam considerar a produo de biodiesel, entretanto, ser necessrio ter produo robusta e competitiva de matrias-primas.

    Figura 10 Comrcio de leos vegetais vs. comrcio de diesel. Fonte: (FAO; EIA)

    Embora o excesso de matria-prima e a falta de diesel favoream o biodiesel, este no competitivo mesmo em pases que renem ambos os fatores. A Figura 11 compara o valor do diesel em cada pas com o custo de produo do biodiesel para um produtor local no integrado. O valor do diesel no mercado local considera a produo das refinarias presentes no pas, precificada a paridade de exportao, e as importaes necessrias para suprir o mercado interno, precificadas a custo de importao. Mesmo na Indonsia e na Argentina, que renem condies muito favorveis, como importao de diesel, exportao de leo de palma e impostos sobre a exportao do leo, o biodiesel ainda tem um custo superior ao do diesel.

  • 16

    Figura 11 Custo de produo do biodiesel vs. valor do diesel por pas. Fonte: (IMF; Banco Mundial; EIA)

    Como consequncia do custo mais elevado, a adoo do biocombustvel gera custos para o governo e/ou para os consumidores. A Figura 12 mostra o custo de adoo do biodiesel para esses atores em cada pas selecionado para os estudos de caso. O governo pode arcar com esses custos de duas maneiras: atravs de incentivos diretos aos produtores caso da Indonsia e da Malsia ou atravs de isenes de impostos caso da Colmbia, da Argentina e do Brasil. O consumidor paga os custos, ou parte deles, atravs de um preo maior da mistura diesel/biodiesel. Apesar de o biodiesel gerar custos para os atores citados, este pode criar riqueza para o pas como um todo atravs da gerao de empregos e pagamento de impostos adicionais. Essa possibilidade ser testada nas anlises de viabilidade econmica na UEMOA. Os cdigos B10, B7,5, B5 indicam uma mistura de 10%, 7,5% e 5%, respectivamente, de biodiesel no diesel.

    Figura 12 Custo da adoo do biodiesel para o governo e/ou consumidor. Fontes: (USDA)

    110

    (1,4)

    210

    (1,4)

    300

    (0,5)

    270

    (0,9)

    47

    (1,0)

    370

    (5)

    1460

    (2,6)

    330

    (1,6)

    0,13% 0,03% 0,01% 0,08% 0,02% 0,09%

    Transferncia de custopara consumidor

    Incentivos do governo

    Colmbia (B10)

    Brasil(B5)

    Argentina(B7,5)

    Malsia(B5)

    + Nvel de mistura obrigatria por pas

    Isenes fiscais

    Incentivos diretos

    Custo do biodiesel para governo e consumidores

    (% GDP do pas)

    Tailndia(B4,5)

    Indonsia(B7,5)

    Blend obrigatrio% volumena mistura

    Comparao vs. dieselUS$M (US$c/litro)

    Retorno social e econmico resultante deve ser avaliado para cada caso

    2012

  • 17

    3. Viso Geral do Mercado de Etanol O uso de etanol como combustvel em larga escala iniciou-se na dcada de 1970, no Brasil. Como consequncia, sua produo global menos recente que a de biodiesel, como mostrado na Figura 13. Brasil e EUA concentram a produo, sendo EUA o grande responsvel pelo crescimento do setor na ltima dcada.

    Produo global deetanol combustvel (Mt)

    Figura 13 Produo mundial de etanol ao longo do tempo. Fonte: (EIA)

    A produo de etanol nos EUA e Brasil, como apresentada na Figura 14, representa aproximadamente 90% da produo mundial. Outros produtores relevantes incluem a Unio Europeia, a China, o Canad, a Tailndia e a Austrlia.

    Produo de etanol por localidade, 2011 (Mt)

    Figura 14 Produo de etanol por pas. Fonte: (EIA; FAS)

  • 18

    A Figura 15 mostra que a cana-de-acar (utilizada pelo Brasil e pela Tailndia) e o milho (utilizado pelos EUA, Canad e China) so as principais matrias-primas do etanol. O trigo e a beterraba tambm tm utilizao significativa, principalmente na Unio Europeia. O milho e a cana possuem dinmicas de mercado especficas, o que torna necessrio avaliar a economicidade do etanol em separado para cada matria-prima.

    0

    20

    40

    60

    80

    100%

    EUA

    41.8

    41.8

    Brasil

    18.0

    18.0

    UE

    0.9

    1.2

    0.7

    0.5

    3.31.8 Total = 67.0

    ChinaCanad

    1.4

    Tailndia

    0.4

    Austrlia

    0.3

    Milho

    Cana

    TrigoBeterraba

    Outros*

    Matrias-primas da produo de etanol por pas (Mt de etanol, 2011)

    *Centeio, Cevada, Mandioca, Sorgo

    MP Economicidade do etanol deve ser ava-liada regionalmente- Brasil: concorrncia

    com acar- EUA: custo do milho e

    valor do subproduto

    Figura 15 Matrias-primas usadas para produzir etanol. Fonte: (USDA)

    A Tabela 1 mostra que os custos de produo do etanol a base de cana no Brasil e a base de milho nos EUA so mais altos que o preo de referncia da gasolina, considerando os custos e preos mdios de 2007, 2009 e 2011. interessante notar que o custo por metro cbico do etanol menor que o preo da gasolina. Consequentemente, o consumidor somente percebe o impacto econmico de utilizar o biocombustvel, que tem 72% do valor energtico da gasolina, ao calcular o consumo do veculo.

    Tabela 1 Custos de produo de etanol a partir da cana e do milho. Fonte: (EIA; USDA; IOWA State

    University; PECEGE/ESALQ)

    Input Unidade Valor

    Preo Milho US$/ton 207

    Yield Milho ton/m3 etanol 2,5

    Custo milho US$/m3 etanol 514

    Preo DDGS US$/ton 145

    Yield DDGS ton /m3 etanol 0,7

    Crdito DDGS US$/m3 etanol 101

    Custo milho crdito DDGS US$/m3 etanol 413

    Custo industrial(consumveis,MDO, taxas)

    US$/m3 etanol 121

    CPV US$/m3 etanol 535

    Perda vs. gasolina US$/m3 etanol -122

    MILHO EUA CANA BRASIL (SP, PR)

    Input Unidade Valor

    Custo cana prpria R$/TC 39,8

    Preo cana fornecedor R$/TC 50,1

    Cana prpria moda % total 64%

    Custo cana moda R$/TC 43,6

    Custo industrial R$/TC 18,8

    ATR Kg ATR/TC 133

    ATR por m3 anidro (@90% recuperao) Ton ATR/m3 EA 1,72

    Custo da cana R$/m3 etanol 565

    Custo industrial R$/m3 etanol 244

    CPV R$/m3 etanol 809

    FX mdio BRL por USD 1,87

    CPV US$/m3 etanol 432

    Perda vs. gasolina US$/m3 etanol -19

    US$574/m3 Gasolina NY Harbour x 72% energia EA vs. gasolina = US$413/paridade energtica m3 EA

    CUSTO DE PRODUO 1M3 ETANOL ANIDRO VS. PREO GASOLINA (MDIA 07,09,11)

  • 19

    Como consequncia do custo de produo maior que o preo da gasolina, a mistura obrigatria uma alavanca fundamental para a adoo do etanol. A Tailndia, que no possui mistura obrigatria, e o Brasil, que consome um volume maior que o justificado pela obrigao legal, so excees. Entretanto, como abordado em detalhe no ANEXO I, esses pases possuem incentivos fiscais que tornam a adoo do biocombustvel vivel para os consumidores. importante notar que os termos E10, E20 e E85 representam a quantidade de mistura de etanol na gasolina (10%, 20% e 85% respectivamente).

    *Obrigatoriedade de volume consumido anualmente **Mistura obrigatria da Frana, a maior entre os pases da UE

    Participao do etanol no consumototal etanol e gasolina (%, 2012)

    20-25% de mistura obrigatria na gasolina

    Adoo do etanol hidratado depende do preo no mercado local

    No h mistura obrigatria

    E10, E20 e E85 disponveis nos postos. Misturas mais elevadas so + subsidiadas

    Figura 16 Misturas obrigatrias e efetivas de etanol por pas. Fonte: (EIA; USDA)i

    O maior custo de produo do etanol em relao gasolina gera custo para o governo e/ou para os consumidores. A Figura 17 mostra o custo de adoo do etanol para esses atores em cada pas selecionado para os estudos de caso. Apesar de o etanol gerar custos para os atores citados, ele pode criar riqueza para o pas como um todo atravs da gerao de empregos e pagamento de impostos. Essa possibilidade ser testada nas anlises de viabilidade econmica na UEMOA.

    Figura 17 Custo da adoo do etanol para o governo e/ou consumidor

    1.010

    (14)

    -170(ganho fiscal)

    (-1)

    - -

    - - - -

    -130 (economia)

    (-2)

    2.590

    (6)

    15.640

    (3)

    480

    (6)

    0,2% 0,1% 0,1%

    Transferncia de custopara consumidor

    Incentivosdo governo

    Brasil, hidratado

    (E100)

    Tailndia(E5)

    Brasil,anidro(E20)

    + Nvel de mistura

    Isenes fiscais

    Incentivos diretos

    Custo do etanol para governo e consumidores

    (% GDP do pas)

    EUA(E10)

    Comparao vs. gasolina AUS$M (US$c/litro)

    2012Blend

    obrigatrio% volumena mistura

  • 20

    4. Lies Aprendidas com biocombustveis

    Os biocombustveis ainda so mais caros que os fsseis. O etanol a base de cana no Brasil o biocombustvel mais competitivo, porm ainda mais caro que a gasolina. O biodiesel a base de palma ocupa a segunda posio em competitividade, conforme indica a Figura 18.

    *Gasolina NY Harbour, Diesel CIF Rotterdam

    Custo de produo FOB usina de biocombustveis menos preo de referncia* de combustveis fsseis (US$/paridade energtica de 1 m3 de etanol anidro)

    Impostos exportao de leos vegetais reduzem

    artificialmente preo da MP na Indonsia e Argentina

    Figura 18 Desvantagem de custos dos biocombustveis

    Como consequncia, a adoo de biocombustveis depende de incentivos governamentais. Os pases que adotam os biocombustveis tm diferentes motivaes, conforme indica a Figura 19. No caso do Brasil, por exemplo, a criao de empregos no setor de etanol compensa o maior custo do biocombustvel e gera riqueza para o pas.

    Pases que adotambiocombustveisenxergamvalor em absorvercustos do projeto

    Objetivos da UEMOAdevero ser conside-rados na criao do modelo de negcios

    Sociais- Gerao de empregos- Redistribuio de renda entre

    camadas sociais e geografias- Fortalecimento da agricultura local pela agregao

    de valor ao excedente de leo e acar

    Ambientais- Adoo de energias renovveis- Reduo da emisso de enxofre e particulado- Reduo da emisso de CO2 (no ciclo)

    Polticas- Reduo da dependncia de petrleo,

    gasolina e diesel importados- Criao de estrutura capaz de desenvolver, produzir

    e consumir biocombustveis de 2G no futuro

    Figura 19 Diferentes razes que levam os pases a adotarem os biocombustveis.

  • 21

    Pases que possuem produo e consumo domstico relevantes de biocombustveis tm caractersticas comuns:

    Normas tcnicas para biodiesel e etanol definidas pelo governo; Participao de petrolferas estatais, que em geral concentram compra e mistura de biocombustveis

    e atuam em sua produo; Mistura obrigatria de 5-10% para o biodiesel e 5-20% para a gasolina;

    o Uso do biocombustvel puro na bomba exceo. Dentre os pases pesquisados, modelo relevante somente no Brasil com etanol hidratado, que tem custos de produo muito competitivos.

    Alta produtividade e custos agrcolas competitivos; Excedentes relevantes de matrias-primas (leos vegetais/acar); Importao de petrleo, diesel e/ou gasolina; Regulao transparente e adoo obrigada pelo governo;

    o No biodiesel, a maioria dos pases utiliza preos de venda definidos pelo governo, com base nos custos de um produtor eficiente. Brasil utiliza leiles de compra, que incentiva a competitividade dos produtores.

    o No etanol, Brasil e EUA possuem mercados maduros e precificam o biocombustvel atravs de livre mercado. Na Tailndia, preo de venda pelo produtor definido pelo governo.

    Isenes fiscais para produo e venda de biocombustveis em relao aos combustveis fsseis. A criao de um cluster de biocombustveis robusto facilita a sua adoo. necessrio encontrar uma regio agrcola propcia na UEMOA que possibilite competitividade de custos e que possua demanda concentrada.

    Estas lies aprendidas sero consideradas na definio do modelo de negcios da UEMOA.

  • 22

    III. AMBIENTE SCIO ECONMICO E CONDIES DE INFRAESTRUTURA E MO DE OBRA

    1. Introduo Este captulo consolida os seguintes tpicos contemplados no estudo de viabilidade dos biocombustveis na UEMOA:

    (i) Ambiente scio econmico contemplando a situao social, econmica e fundiria; (ii) Condio atual da infraestrutura logstica e de irrigao; e (iii) Situao atual da mo de obra local.

    As questes relacionadas infraestrutura de energia eltrica sero tratadas no Captulo IV: Matriz energtica atual; demanda potencial de biocombustveis; e instituies e polticas pblicas relevantes. Alm da compilao dos principais dados socioeconmicos, de infraestrutura e mo de obra, tambm pretendemos neste captulo avaliar o impacto da produo de biocombustveis no crescimento econmico da regio atravs de duas diferentes ticas: tanto pela Acumulao de Capital, quanto pelo Aumento da Produtividade Geral dos Fatores. Na tica da Acumulao de Capital, acreditamos que a UEMOA pode ser diretamente beneficiada atravs do aumento dos investimentos, reduo das importaes e aumento das exportaes da seguinte maneira:

    Aumento da Formao Bruta de Capital Fixo (FBCF), derivada dos investimentos realizados para a instalao/ampliao da cadeia produtiva do biocombustvel como, por exemplo, a construo de infraestrutura logstica (rodovias, ferrovias, dutos, portos e aeroportos), maquinrio agrcola e industrial, construo de edificaes, extenso da rede de telecomunicaes, etc.

    Substituio das importaes de combustveis fsseis, como diesel e gasolina, que hoje representam grande parte do dficit da balana comercial dos pases da regio (tendo como nica exceo a Costa do Marfim, como balana comercial superavitria).

    Exportao do excedente da produo, tanto o prprio biocombustvel, quanto o leo vegetal e produtos secundrios (como o farelo no caso da soja).

    Desta forma, dentro do item Ambiente Econmico sero avaliadas as evolues dos percentuais de Formao Bruta de Capital Fixo e os pesos dos diferentes setores nas Balanas Comerciais (principalmente combustveis e agricultura). J na tica do Aumento da Produtividade Geral dos Fatores acreditamos que a implantao de biocombustveis tem como principal impacto o aumento de produtividade no setor agrcola atravs das seguintes medidas:

    Adoo de melhores tcnicas de manejo; Melhor qualificao da mo de obra; Maior e mais eficiente uso de insumos agrcolas; Aumento da mecanizao na colheita, trato e plantio; Novas oportunidades de processamento da matria-prima agregando valor produo primria; e Melhoria dos servios relacionados cadeia como logstica, produo de insumos, rede de

    distribuio, etc. Para entender o potencial de melhoria nestas alavancas, dentro do item mo de obra sero avaliadas as Produtividades da mo de obra em todos os setores, principalmente no agrcola.

  • 23

    2. Viso geral da situao econmica da UEMOA

    2.1. Contexto social A UEMOA formada por aproximadamente 100 milhes de habitantes compostos de uma mistura de povos africanos que guardam em comum (exceto pela Guin-Bissau) um histrico de colonizao francesa. A herana mais caracterstica desta colonizao a adoo do francs como idioma oficial (e portugus, no caso da Guin-Bissau). A religio tambm varia entre pases e at mesmo entre vilas, com o cristianismo mais concentrado ao sul, o islamismo ao norte e crenas animistas locais como o vodu distribudas por toda a regio. Os pases so, em geral, pouco urbanizados, com uma mdia de apenas 36% da populao vivendo em reas urbanas (mnimo de 18% no Nger e mximo de 51% na Costa do Marfim), contra 85% no Brasil. O IDH de todos os pases est abaixo do brasileiro em qualquer uma das dimenses avaliadas, como mostra a Figura 20:

    Figura 20 IDH dos pases da UEMOA por dimenso avaliada

    2.2. Contexto econmico Observamos na UEMOA uma situao econmica frgil, com dficits na balana comercial de todos os pases exceto Costa do Marfim. Todos os pases receberam, em algum momento, perdo parcial de dvida externa, totalizando mais de US$ 27 bilhes entre 2000 e 20121. Entretanto, a economia comea a mostrar sinais de recuperao, como o crescimento recente dos nveis de formao bruta de capital fixo e o constante crescimento da produtividade da mo de obra. Quanto formao bruta de capital fixo (Figura 21), os nveis no tm acompanhado o desempenho nem dos pases de baixa renda de acordo com a definio do Banco Mundial (com PNB produto nacional bruto per capita de at US$1.035), sendo Senegal e Nger as excees (com investimentos no setor de servios/telecomunicaes e atividades extrativistas como o urnio, respectivamente). Segundo o FMI2, um dos principais fatores que contriburam para este desaquecimento econmico foi a valorizao artificial da moeda local, o Franco CFA, o que reduziu a competitividade da produo local. A moeda, at ento

    1 FMI, Heavily indebted poor countries initiative and multilateral debt relief initiatve statistical update, 2013 2 Retirado de http://www.imf.org/external/pubs/ft/fabric/backgrnd.htm, visitado em 23 de agosto de 2013

  • 24

    atrelada ao Franco Francs, foi desvalorizada em 50% no incio de 1994 com o suporte do prprio FMI o que, atrelado a outras reformas econmicas, resultou numa retomada nos investimentos na regio. Portanto, apesar das recentes evolues, ainda h espao para investimentos focados em desenvolvimento de infraestrutura na regio, o que aceleraria ainda mais o crescimento econmico.

    Figura 21 Formao Bruta de Capital Fixo da UEMOA

    Como mostra a Figura 22, a balana comercial dos pases da UEMOA majoritariamente deficitria, dependente de manufaturados (65% das importaes lquidas), principalmente em veculos e elementos de infraestrutura como a de telecomunicaes, e combustveis (20% das importaes lquidas), principalmente derivados de petrleo. No lado das exportaes, estas so dependentes de bens extrativistas (ex.: cacau, castanha de caju, ouro, urnio, fosfatos), como destacado na Figura 23. O nico pas a exibir supervit comercial a Costa do Marfim, com exportaes fortemente baseadas em produtos agrcolas (principalmente o cacau, com exportao lquida de US$3,8 B em 2010).

    Figura 22 - Balana comercial da UEMOA agregada por setores

  • 25

    Na Figura 23, fazemos uma comparao entre as balanas comerciais nos setores de agricultura e de combustveis. possvel verificar que a potencial substituio de 5-10% do consumo de diesel e/ou gasolina (mistura obrigatria comum em pases com programas de biocombustveis) ainda seria pequena se comparada com o potencial de reduo de importaes de alimentos. Alm disso, importante notar que muitos destes pases so importadores lquidos de acar e ou leos vegetais, que so as matrias-primas mais comumente utilizadas na produo de biocombustveis.

    Figura 23 Balana comercial dos setores Agronegcio e Combustveis

    2.3. Agricultura e outros setores relevantes Apesar de boa parte da agricultura da regio se basear em produo de subsistncia em pequenas propriedades, com pouco ou nenhum uso de fertilizantes, mecanizao ou seleo de sementes, ainda possvel observar diferentes modelos de cadeia de valor:

    Estatal controlando preos de insumos e garantindo compra da produo. Exemplo: algodo no Burkina Faso atravs da SOFITEX.

    Empresa privada controlando o processamento da produo de pequenos agricultores. Exemplo: amendoim no Senegal atravs da SUNEOR.

    Empresa privada controlando o processamento e dividindo a parte agrcola com pequenos produtores. Exemplo: palma na Costa do Marfim atravs da PALMCI.

    Empresa privada controlando toda a cadeia (agrcola + industrial).

    Exemplo: cana-de-acar no Senegal atravs da CSS.

    Agricultura muito distribuda e sem processamento. Exemplo: hortalias.

    Em resumo, os principais setores econmicos da regio, como refletido na balana comercial, so baseados em bens extrativistas como o cacau (Costa do Marfim e Togo), o algodo (Benim, Burkina Faso, Mali e

  • 26

    Togo), a palma (Benim e Costa do Marfim), a cana-de-acar (Mali e Senegal) e a minerao de ouro (Burkina Faso, Mali e Nger), fosfatos (Senegal e Togo) e urnio (Nger).

    2.4. Estrutura fundiria A estrutura fundiria dos pases da UEMOA e do Oeste da frica apresenta diversos fatores em comum. Entre eles:

    Forte influncia de aspectos costumeiros e de lderes locais na definio das propriedades e na transferncia destas;

    Grande fragmentao da terra em pequenas propriedades, com enfoque na produo de subsistncia; e

    Pouca influncia da legislao, pois as leis so do perodo ps-independncia dos pases (dcadas de 1960 e 1970) e no refletem a realidade do pas ou mesmo no caso de novas leis, estas normalmente no so cumpridas ou o cumprimento inadequado.

    De maneira geral, foi possvel verificar que todos os pases enfrentam algum nvel de insegurana jurdica com relao propriedade de terras. Apesar de em alguns pases a legislao ser mais nova e complexa do que em outros, notamos que em todos os pases h dificuldades relacionadas, dentre outras, a:

    legitimao ou ratificao da posse habitual das terras pelas comunidades locais (positivar o direito consuetudinrio) e desenvolvimento de sistema de cadastro de terras dos pases que inclua formas razoveis de registrar terras pertencentes a estes grupos;

    implementao e/ou complementao das leis j promulgadas; criao e desenvolvimento de rgos/instituies de regularizao fundiria e aperfeioamento de

    um sistema consistente e unificado de registro de terras.

    2.5. Mo de obra Os custos de mo de obra variam consideravelmente entre os pases. Como mostrado na Figura 24, o custo de um funcionrio que ocupe cargo de gerncia pode variar de XOF 2.000 por dia no Benim a pouco mais de XOF 4.000 por dia no Senegal (aproximadamente R$420 por ms, considerando-se 22 dias teis no ms), segundo dados da WageIndicator Foundation (ligada Universidade de Amsterd AIAS).

    Figura 24 Salrio dirio mdio

    A produtividade geral da mo de obra ainda muito baixa na regio. Como mostra a Figura 25, o pas que tem maior gerao de valor por trabalhador a Costa do Marfim, com US$ 5.030 por trabalhador, enquanto a vizinha Nigria apresenta valor 50% superior, US$ 7.570 por trabalhador. Nger e Togo so os menos produtivos, apresentando valores prximos a US$ 2.000 por trabalhador. A infraestrutura precria, o foco

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    em setores de baixo valor agregado e a falta de competitividade causada pelas frgeis instituies locais so alguns dos fatores que podem contribuir para esta situao.

    Figura 25 Evoluo da produtividade de mo de obra para a UEMOA e comparao com a Nigria

    No setor agrcola, a diferena ainda maior. Como mostra a Tabela 2, a mdia da UEMOA quase um tero da j citada Nigria, embora as condies climticas no sejam distintas. A falta de escala na produo, os solos pobres em nutrientes e sem correo e o baixo ndice de irrigao artificial podem representar boa parte desta diferena.

    Tabela 2 Produtividade da mo de obra por setor

    Para efeito de comparao, caso todos os pases da regio atingissem a mesma produtividade da Nigria nos setores de agricultura e indstria e servios (combinados), isolados os demais fatores, o PIB da regio teria um aumento de 99,5%, ou seja, um acrscimo de US$133,6 bilhes. Evidentemente, essa conta apenas uma simplificao matemtica. Mas serve, porm, para mostrar o impacto que um incremento realista na produtividade pode causar economia.

    2.6. Infraestrutura

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    Infraestrutura logstica Os pases sem acesso ao mar so dependentes diretamente dos pases costeiros para manter seu comrcio exterior. Nger, Mali e Burkina Faso utilizam os portos dos vizinhos tanto da UEMOA (Dakar, Abidjan, Lom e Cotonou) quanto os de Gana e Nigria. Para eles, as ms condies de conservao das rodovias, a falta de um sistema ferrovirio integrado e as ineficincias operacionais nos portos citados so barreiras constantes importao e exportao de produtos. Quanto aos portos da UEMOA, a guerra civil na Costa do Marfim gerou um deslocamento do fluxo de mercadorias para os demais ao longo da dcada de 2000. Com isso, os portos de Dakar, Lom e Cotonou viram a demanda aumentar rapidamente. Como apresentado na Figura 26, j em 2006 o porto de Lom se destacava com alto volume transportado, menor custo em relao a Abidjan e bons indicadores operacionais (como exemplo foi utilizada a produtividade dos guindastes do porto). J as malhas rodovirias dos pases esto em diferentes estgios de evoluo. Enquanto o Senegal est reformando e expandindo sua rede com participao da iniciativa privada, importantes eixos como Ouagadougou-Boromo (principal conexo rodoviria da Burkina Faso) ou Lom-Cotonou (conectando as capitais do Togo e do Benim), entre outros, encontram-se em precrias condies de manuteno. As ferrovias sofrem com a falta de uma total integrao entre os trechos que cortam os pases, o que faz com que o transporte de pessoas e mercadorias tenha que ser complementado por via rodoviria. Segundo o Banco Mundial, dois dos mais importantes planos de investimento no setor so:

    A expanso da linha frrea Cotonou-Parakou (no Benim) para que esta chegue at o interior do Nger e permita o escoamento direto de sua produo mineral; e

    A interligao das linhas da TRANSRAIL (Mali-Senegal) e SITARAIL (Burkina Faso-Costa do Marfim), aumentando a integrao logstica da regio.

    Figura 26 Volume movimentado, produtividade e custos dos portos da UEMOA (2006)

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    Figura 27 Principais ferrovias do oeste africano

    Irrigao A Figura 28 apresenta a rea equipada para irrigao nos pases da UEMOA. V-se que os pases mais prximos do Sahel, como Mali e Nger, ou que tem uma regio mais seca, como ao norte do Senegal, apresentam uma maior regio irrigada. O Mali, em especial, se destaca pela grande quantidade de terras irrigadas, fruto de um investimento francs na regio do Office du Nger, na dcada de 1930. Por outro lado, pases com maior presena de reas midas, como Benim e Togo, contam com menor rea irrigada. A Guin-Bissau apresenta um porcentual maior de rea irrigada comparada ao restante do grupo devido a sua pequena rea e a presena natural de rios que favorecem a irrigao por gravitao na regio, utilizada principalmente para a produo de frutos tropicais (FAO, 2005).

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    Figura 28 Evoluo da rea equipada para irrigao na UEMOA

    O nvel de utilizao da irrigao na UEMOA aponta para um grande potencial de aumento do uso dessa tecnologia, com consequente aumento da produo agrcola da regio. Outro aspecto a ser considerado em relao irrigao segurana hdrica dos pases, principalmente em regies nas quais a populao no tem amplo acesso gua, como no Sahel. necessria a anlise de quais reas suportam o uso de recursos hdricos na agricultura sem comprometer o acesso gua para a populao.

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    3. Senegal

    Figura 29 Mapa administrativo do Senegal

    Tabela 3 Dados gerais do Senegal (Banco Mundial, 2011)

    Capital Dakar Populao (M) 12,8 IDH 0,470 PIB, ppc (US$B) 25,1 PIB per capita, ppc (US$) 1.967 rea (km) 196.720 Idiomas Francs (oficial), Wolof, Pulaar, Jola, Mandinka Religies Islamismo (94%), Cristianismo (5%) e Crenas Indgenas (1%) Principais recursos naturais

    Amendoim Cana-de-acar Milho mido Arroz Melancia

    O Senegal possui na estabilidade poltica uma de suas maiores vantagens em relao aos seus vizinhos. Isso se reflete no crescente nvel de investimentos, no crescimento da sua produtividade e na evoluo de seus indicadores sociais. O pas conta com uma boa malha rodoviria e um porto eficiente, apesar de pequeno. Outro ponto positivo para o pas a presena de empresas relacionadas produo de biocombustveis como a CSS (produtora de acar), SUNEOR (produtora e processadora de amendoim) e a ICS (fertilizantes). Contudo, o pas ainda fortemente dependente de importaes de alimentos bsicos (por exemplo, cereais e acar) mercado esse prioritrio na alocao de terras iniciativa privada.

    3.1. Contexto social Como comum no oeste africano, a populao senegalesa est se expandindo e se urbanizando rapidamente devido ao xodo rural. Em 2011, o crescimento anual da populao foi de 2,1% (totalizando 12,8M de habitantes), enquanto a taxa de urbanizao foi de 3,4% (restando ainda 57% de populao rural). No caso do Brasil, os valores foram, respectivamente, de 0,9% e 1,2% no mesmo ano, segundo o Banco Mundial.

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    Embora o IDH esteja evoluindo nos ltimos 30 anos e seja o mais alto da UEMOA, o valor ainda considerado baixo (o pas apenas o 154 do mundo) segundo a PNUD (Figura 30). A rpida expanso urbana somada carncia de planejamento de longo prazo e condies precrias de desenvolvimento humano criou um ambiente de desigualdade e fortes presses sociais nas periferias de cidades como Dakar e Kaolack.

    Figura 30 IDH do Senegal por dimenso

    3.2. Contexto econmico O PIB do Senegal de 25 bilhes de dlares (em paridade de poder de compra) apresentando crescimento mdio de 5,8% a.a. nos ltimos 20 anos, acima da mdia da regio (5,3%), porm abaixo do valor referente a pases de baixa renda (6,6%) e frica Subsaariana (6,2%). Alm disso, o PIB per capita tambm apresentou crescimento chegando a US$ 1.967 em 2011, considerando a paridade do poder de compra. O pas passou por uma profunda reforma econmica a partir de 1994. Com a assistncia de organizaes internacionais, como o FMI, a moeda nacional (o FCFA) foi desatrelada do franco e desvalorizada em 50%. Desde ento o pas apresentou taxas de crescimento mdio da economia de 5% a.a. entre 1995 e 2004. Entretanto, ainda h uma forte dependncia de ajuda externa. Transferncias de ajuda externa direta somaram US$ 930 milhes em 2010, formando uma parcela importante da balana de pagamentos. O FMI incluiu o Senegal no seu programa de perdo de dvidas, que pode chegar a dois teros das dvidas bilaterais, multilaterais e iniciativa privada. Uma das economias mais desenvolvidas da regio, o Senegal tem aumentado sua participao como polo logstico para a regio, alavancando-se principalmente no seu litoral. Por outro lado, sofre com a escassez de recursos naturais e baixa produtividade total dos fatores. Solos pobres e clima seco prejudicam a agricultura (15% do PIB) que est dividida principalmente entre pequenos produtores de amendoim e um grande produtor privado de cana no norte do pas. Apesar do esforo de privatizao do governo nas duas ltimas dcadas, a indstria (24% do PIB) ainda se encontra concentrada em estatais ou empresas recm-privatizadas. As principais indstrias do pas so: processamento de produtos agrcolas e pescados e a minerao de fosfato e produo de fertilizantes (CIA). O setor de servios (61% do PIB) , segundo a OMC, o mais dinmico da regio. Os principais destaques so para as empresas de telecomunicaes, transporte, comrcio e, em menor escala, o turismo.

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    Figura 31 Evoluo da economia do Senegal por setor

    3.2.1. Formao Bruta de Capital Fixo A formao bruta de capital fixo do Senegal (Figura 32) est constantemente superando a mdia da regio. Segundo o Banco Mundial, o Senegal tem uma posio privilegiada em relao aos vizinhos no comrcio e na estabilidade poltica, alm de uma economia fortemente voltada a mercados externos. Os investimentos em infraestrutura se aceleraram nos ltimos 10 anos, como mostra a Figura 32. No incio dos anos 2000 o pas passou por uma fase que ficou conhecida como ICT Revolution (a revoluo em TI e telecomunicaes, em traduo livre), fazendo referncia rpida expanso do setor de telecomunicaes, com investimentos concentrados em telefonia mvel. Hoje, dada sua posio geogrfica, o pas serve, junto Nigria, de polo para as comunicaes de todo o oeste africano. Segundo o Banco Mundial, a maior oportunidade agora se concentra na expanso do acesso internet banda-larga. O setor contribuiu com 1,26% de incremento do PIB per capita ao ano entre 2001 e 2005. Ainda segundo o relatrio, o setor de energia eltrica causou um impacto negativo de 0,23% a.a. no mesmo perodo devido s limitaes estruturais.

    Figura 32 Evoluo da Formao Bruta de Capital Fixo no Senegal

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    3.2.2. Balana comercial Como boa parte dos pases da UEMOA, a balana comercial do pas deficitria (Figura 33). Os manufaturados representam a maior parcela do dficit, 48%. Os itens mais representativos so automveis, veculos pesados (caminhes, tratores, etc.) e infraestrutura para telecomunicaes (torres, antenas, etc.). Em seguida, as parcelas mais relevantes so combustveis (31% do dficit) e agronegcios (alimentos, 19%). A alta das commodities agrcolas em 2008, alm de parecer explicar o aumento irregular do dficit da categoria naquele ano, tambm expe a fragilidade da economia nacional frente a oscilaes de preos de produtos bsicos no mercado internacional. A exportao mineral, nica categoria superavitria, se baseia em matria-prima para produo de cimento Portland e ouro. Entretanto, a produo deste ltimo ainda est em estgio inicial, sendo explorada pela empresa Teranga Gold.

    Figura 33 Balana comercial do Senegal agregada por setores

    O dficit relacionado a combustveis (Figura 34) o que aumentou mais rpido desde 2005. Como no um produtor de petrleo, o pas importador lquido tanto de petrleo quanto de seus derivados. O valor do consumo de petrleo e derivados cresceu, em mdia, 13% a.a. com efeitos do aumento do volume (volume de gasolina para uso de transporte cresceu a 8% a.a.), mas tambm nos preos da commodity.

    Figura 34 - Balana comercial do setor Energtico do Senegal

    O setor agrcola tambm deficitrio (Figura 35) e a segurana alimentar continua sendo um problema no pas. Com uma estratgia de desenvolvimento do setor agrcola focada em exportaes desde a dcada de

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    19603, o pas se descuidou da necessidade de suprir a demanda interna e se exps s variaes de preos dos mercados internacionais. Com isso, a exportao das quatro principais commodities agrcolas (peixes, frutos do mar, leo de amendoim e algodo) historicamente mal cobrem os gastos com a importao apenas do arroz. Considerando este cenrio, no caso da implantao de biocombustveis, devem-se priorizar reas que hoje no sejam locais de plantio de alimentos para a produo das matrias-primas de biocombustveis.

    Figura 35 - Balana comercial do setor Agrcola do Senegal

    3.3. Agricultura e outros setores econmicos relevantes Trs dos setores econmicos mais importantes do Senegal e com interesse (direto ou indireto) para a rea de biocombustveis so: (i) produo e processamento de amendoim, (ii) setor aucareiro e (iii) indstria qumica com foco na produo de fertilizantes (CIA, World Factbook). Sua distribuio est representada na Figura 36 com uma viso simplificada da infraestrutura do pas.

    3 OECD Yoshiko Matsumoto-Izadifar, Senegal Challenges of Diversification and Food Security, 2008

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    Figura 36 - Distribuio dos principais setores produtivos do Senegal e ilustrao da infraestrutura

    3.3.1. Amendoim A cultura, responsvel por cerca de 40% da rea cultivada do pas, emprega aproximadamente um milho de agricultores (cerca de 8% da populao do pas) 4. A cultura foi tambm responsvel por cerca de 60% das exportaes agrcolas do pas trs quartos sob a forma de leo vegetal. O leo vegetal do amendoim exportado pelo Senegal representa de 45% a 50% do mercado mundial do leo (USDA, 2007). O cultivo realizado majoritariamente por pequenos produtores em rea espalhada pela regio oeste do pas (Figura 36). A produo caracterizada pela baixa escala, devido fragmentao das propriedades, ao baixo nvel de utilizao de fertilizantes e irrigao predominantemente pluvial. Alm disso, o pouco acesso a crdito outra barreira aos pequenos produtores. De acordo com a USDA, produo mdia nos ltimos anos foi de pouco mais de 800.000 t por ano (resultando em uma produtividade de aproximadamente 400 kg/ha), destinado quase totalmente (95%) produo de leo vegetal5. O preo pago pelas sementes a serem processadas pr-definido pelo governo senegals no incio da temporada. A coleta destas sementes feita em pontos previamente determinados, localizados prximos aos vilarejos, deixando a cargo da processadora, e no dos produtores, a maior parte do custo referente ao frete at as plantas de processamento6. A extrao do leo feita majoritariamente pela empresa SUNEOR, antiga estatal SONACOS, privatizada em 2007 e agora pertencente ao grupo francs ADVENS (USDA, 2007). A empresa compra a produo dos pequenos agricultores, extrai e refina o leo nas plantas de Kaolack, Ziguinchor, Diourbel, Louga e Dakar. Outras processadoras de leo de amendoim so a NOVASEN e a CAIT, ambas privadas. O governo do Senegal tambm define o preo do leo vegetal. Devido a uma grande oferta excedente na safra 2009/2010, a partir de 2010 o governo passou a encorajar a exportao do amendoim in natura por parte dos produtores. Essa medida fez com que as processadoras enfrentassem maior competio pela matria-prima produzida no pas, at ento garantida. As empresas de processamento esto usando sua grande influncia para fazer lobby de oposio exportao da matria-prima com o objetivo de manter o controle sobre a mesma.

    4 USDA, Senegal - Agricultural Situation Country Report, 2007 5 A USDA afirma que as estatsticas de produo no so totalmente precisas, pois no contam com parte do produto que contrabandeado para ser processado nos pases vizinhos. 6 IFPRI, Spatial Price Transmission and Market Integration in Senegals Groundnut Market, 2010

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    3.3.2. Acar A produo de acar no Senegal comeou em 1972, com a Compagnie Sucriere Senegalaise (CSS). Localizada na regio de Richard-Toll, a companhia possui o monoplio de fato do mercado senegals. A empresa produz e comercializa acar em cubos, acar branco e acar cristal. A CSS cultiva atualmente 8.000-10.000 ha prprios de cana-de-acar, com rendimento entre 120-130 t/ha, e produz 90-100Kt de acar por ano. Alm disso, ela tambm produz 8-10 milhes de litros de etanol por ano, consumidos pela indstria local. A empresa emprega 3.000 trabalhadores permanentes. Durante a safra, 75% da colheita so feita manualmente, por 2.000 trabalhadores temporrios que cortam em mdia 6.000 toneladas de cana por dia. O carregamento e transporte da cana so feitos mecanicamente, por uma frota de carregadoras de cana e tratores acoplados a reboques. A cana esmagada em uma bateria de seis moendas, e o bagao utilizado nas caldeiras geradoras de vapor. O mercado de acar do Senegal protegido por impostos de importao, e o preo local de venda determinado pelo governo. Apesar disso, a CSS tem enfrentado a concorrncia de importaes ilegais de acar, principalmente da Mauritnia. O pas vizinho cultiva e processa a cana-de-acar e a processa do outro lado da fronteira, tambm no vale do rio Senegal. Nos ltimos anos a fiscalizao da fronteira se fortaleceu, e inibiu parte da importao ilegal. A produo atual da CSS no suficiente para suprir o mercado local, que importa atualmente 40-50 kt por ano. A CSS est implantando um projeto para expandir a sua produo para 150 kt de acar, equivalente demanda atual de acar no Senegal. Entretanto, segundo executivos da empresa, h resistncia dos vilarejos prximos em ceder parte da terra necessria para a expanso. O projeto tambm prev a expanso da capacidade de cogerao da empresa. Essa expanso permitiria que a usina se tornasse autossuficiente e ainda vendesse algum excedente para a SENELEC, a distribuidora local de eletricidade. Segundo executivos da empresa, a autossuficincia em eletricidade deve aumentar a rentabilidade do negcio, ao reduzir a compra do diesel usado atualmente para alimentar geradores eltricos prprios.

    3.3.3. Fertilizantes Um dos poucos recursos minerais do Senegal, as minas de fosfato localizadas na regio de Taba so matria-prima para produo de fertilizantes. O fosfato de Taba tem um padro de 79 BPL fosfato comercial oscila em mdia entre 60 e 80 BPL7. extrado desde 1960 em Ndomor Diop e mais recentemente em Keur Mor Fall e Tobne. A abertura do painel de minerao Tobne elevar a capacidade de Taba a dois milhes de toneladas de fosfato comercializvel por ano, com reservas estimadas entre 60 e 70 milhes de toneladas. A empresa ICS Industries Chimiques du Sngal controla a cadeia produtiva no pas. Atualmente a empresa tem como donos: 66% SENFER AFRICA LTD (empresa privada pertencente ao grupo indiano ARCHEAN GROUP), 18,5% IFFCO Indian Farmers Fertiliser Cooperative, 15% para o governo do Senegal e 0,5% para o governo indiano. A empresa possui minas de fosfato em Taba, a 100 km de Dakar, de onde extrai a matria-prima. A partir da, essa produo destinada produo de cido fosfrico em duas plantas adjacentes localizadas prximas mina em Darou, e produo de fertilizantes (DAP, NPK, SSP/TPS) em uma planta localizada em MBAO, a 18 km de Dakar.

    7 IFDC, World Phosphate Rock Reserves and Resources, 2010

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    A planta de produo de cido da ICS tem capacidade total de produo de 660.000 toneladas de P2O5 por ano. Praticamente toda essa produo (exceto por uma parte reservada para a planta de Fertilizantes) exportada para a IFFCO8. A unidade de fabricao de fertilizantes em Mbao, a 18 km de Dakar, tem capacidade de produo de 250.000 toneladas de fertilizante granulado por ano. Maior parte da produo abastece o mercado do oeste africano, principalmente para a produo de algodo, amendoim e legumes. A ICS tambm opera poos para fornecimento de gua e gerao prpria de energia eltrica, alm de servios de logstica voltada ao escoamento de sua produo atravs da subsidiria SEFICS. Dentre seus ativos logsticos se encontra uma malha ferroviria ligando as diferentes plantas (contando com 8 locomotivas e 293 vages) com capacidade de transportar cerca de dois milhes de toneladas ao ano. Quanto logstica porturia, a empresa possui um terminal porturio em Dakar, alm de infraestrutura como guindastes e dutos para transporte de amnia (importao) e cido fosfrico (exportao).

    3.4. Estrutura fundiria A quase totalidade (95%) das terras agrcolas do Senegal voltada produo de subsistncia, com reas entre 1,5 e 5 ha, ficando o restante das terras nas mos de produtores comerciais. Entre as dcadas de 1960 e 1970, o pas aprovou duas leis que visavam oficializar e organizar seu regime fundirio. Em 1964, a National Domain Law estabeleceu que 97% da terra pertencem ao estado. J em 1972, a Rural Community Law descentraliza a gesto das terras, passando esta responsabilidade para as comunidades rurais. Entretanto, apesar desses esforos, as tradies continuam prevalecendo em algumas comunidades e a transferncia de terras ocorre baseada em idade, sexo ou posio social com a deciso final cabendo ao lder comunitrio.

    3.5. Mo de obra O crescimento da mo de obra est em linha com o crescimento da populao. Entre 1990 e 2010, o crescimento mdio anual foi de 3,2%. Como comparao, o Brasil teve expanso mdia de 2,5% a.a. no mesmo perodo. Enquanto a mo de obra se expande, a produtividade geral da mesma (Figura 37) tambm tem crescido a aproximadamente 3% ao ano desde a dcada de 1990. Entretanto, ainda baixa, mesmo quando comparada vizinha Nigria que possui quase o dobro de valor adicionado por trabalhador. A discrepncia maior no setor agrcola devido i) localizao na regio seca do Sahel, com solos pobres em nutrientes, ii) apenas 5% da terra irrigada e iii) um regime pluviomtrico extremamente irregular. Como comparao, de acordo com os dados coletados durante a visita tcnica, um cortador de cana senegals ganha cerca de US$ 9 por dia de corte, metade do valor pago no Brasil. Um problema frequentemente durante a visita pelo interior do pas foi o pouco interesse dos jovens no trabalho de campo, dificultando o acesso mo de obra no setor. A falta de interesse no setor de agricultura no restrito, porm, aos trabalhos mais pesados do campo; tambm h falta de trabalhadores com nvel tcnico ou especializado. Mesmo quando oferecido treinamento e salrio acima da mdia local, como verificado em algumas empresas do setor, difcil encontrar interessados e algumas vagas tcnicas so preenchidas com estrangeiros. Nas entrevistas de campo foi possvel perceber que um dos principais efeitos disso o envelhecimento da mo de obra agrcola, o que se reflete em produtividades mais baixas.

    8 De acordo com o website da empresa, http://www.ics.sn/

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    Figura 37 Evoluo da produtividade da mo de obra para o Senegal

    3.6. Infraestrutura Infraestrutura logstica Fortemente dependente da malha rodoviria, a infraestrutura logstica do Senegal vem passando por diversas melhorias. Enquanto na ltima dcada as atenes estavam voltadas para a rea de telecomunicaes, mais recentemente o governo tem se concentrado no desenvolvimento da malha rodoviria. Durante a visita tcnica, a equipe atravessou vrios quilmetros em direo ao norte e ao interior do pas e pde observar uma grande quantidade de obras de ampliao construo de novas estradas. Empresas de transporte de mercadorias do interior do pas para o porto disseram no haver grandes problemas logsticos entre os polos produtivos e o mar. De forma geral, as rodovias do Senegal (representadas na Figura 38) se mostraram as mais avanadas dentre os cinco pases visitados, com asfalto liso, boa sinalizao e praas de pedgio amplas e organizadas. As praas de pedgio tambm denotam outra caracterstica desta expanso: a forte participao da iniciativa privada. Segundo dados do Banco Mundial9, em 2009, 61% das estradas pavimentadas do pas estavam em boas condies de trfego, configurando a malha rodoviria do Senegal como a melhor do oeste africano. Embora os dados sejam antigos, provavelmente essas condies melhoraram nos ltimos anos com todas as obras j citadas. O pas compartilha com o Mali uma linha ferroviria que atravessa a regio centro-sul e atravessa a fronteira entre os dois pases, ligando o pas vizinho ao porto de Dakar. Entretanto, a m conservao da linha e dos equipamentos fez com que a linha no conseguisse acompanhar o crescimento da demanda9.

    9 Banco Mundial, Senegal's Infrastructure: A Continental Perspective, 2011

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    Figura 38 Malha rodoviria, ferroviria e aeroportos do Senegal (Banco Mundial10)

    Ainda segundo o Banco, em 2011 o Porto de Dakar se tornou o principal ponto de importao para o Mali devido crise na Costa do Marfim. O porto tambm tem vital importncia para a Mauritnia, sendo responsvel por 25% das importaes deste pas. Entretanto, em 2006 o porto de Dakar ainda no era o principal da regio, transportando 331k TEU11 de cargas, contra 500k TEU em Abidjan, 460k TEU em Lom e 158k TEU em Cotonou. O porto de Dakar se destaca pela sua eficincia frente aos seus concorrentes regionais. O tempo de espera dos contineres no Senegal de sete dias em mdia, contra doze em Abidjan e Cotonou e treze em Lom. Ao mesmo tempo, ele se destaca pelos baixos custos. Por exemplo, para movimentar um TEU em contineres o custo em Dakar em 2011 era de US$ 160, contra US$ 260 em Abidjan, US$ 220 em Lom e US$ 180 em Cotonou (no h dados divulgados para a Costa do Marfim ps-crise). Irrigao A oferta de gua para irrigao, como apresentado na Figura 39, se concentra principalmente no norte do pas, tomando proveito do rio Senegal na fronteira com a Mauritnia (Figura 40). Nesta regio est localizada a CSS, Compagnie Sucrire Sngalaise que utiliza tanto irrigao por gravidade quanto por gotejamento e chega a atingir 130 t/ha.

    10 Banco Mundial, Senegal's Infrastructure: A Continental Perspective, 2011 11 Unidade equivalente a 20 Ps (em ingls: Twenty-foot Equivalent Unit ou TEU), uma medida padro utilizada para calcular o volume de um continer.

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    Figura 39 - Distribuio dos recursos hdricos do Senegal (Banco Mundial12)

    Figura 40 Sistema de irrigao de plantao de cana-de-acar

    4. Costa do Marfim

    12 Banco Mundial, Senegal's Infrastructure: A Continental Perspective, 2011

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    Figura 41 Mapa administrativo da Costa do Marfim

    Tabela 4 Dados gerais da Costa do Marfim (Banco Mundial, 2011)

    Capital Yamoussoukro Populao (M) 20,2 IDH 0,432 PIB, ppc (US$B) 36,1 PIB per capita, ppc (US$) 1.789 rea (km) 322.460 Idiomas Francs (oficial), 60 dialetos nativos - Dioula o mais falado Religies Islmicos (39%), Cristos (33%), Crenas Indgenas (12%) Principais recursos naturais

    Inhame Mandioca Cana-de-acar Pltanos Dend (fruto)

    Embora a Costa do Marfim j tenha sido a grande potncia econmica do oeste africano e ainda seja o nico pas da UEMOA com saldo positivo na balana comercial, as sucessivas crises polticas que culminaram na guerra civil no incio da dcada passada desaceleraram o crescimento da economia. O pas ainda a maior economia da UEMOA e mantm o maior nvel de urbanizao, contudo seu IDH aponta para fraquezas nos setores de educao e sade. A experincia na produo de culturas comerciais (cacau e caf) somada capacidade de refino de petrleo d ao pas potencial para retomada no nvel de investimentos estruturantes, to necessrios para melhorar a infraestrutura, que ainda representa uma barreira aos negcios. A presena de empresas multinacionais indica que o governo do pas sabe trabalhar com investidores estrangeiros, e os riscos polticos diminuram muito quando comparados ao perodo de crise. Dessa forma, o pas comea a esboar caractersticas desejadas para receber investimentos externos.

    4.1. Contexto social O pas o mais urbanizado da regio, com 51% de sua populao vivendo em reas urbanas segundo o Banco Mundial (contra 84% no caso do Brasil). Com pouco mais de 20M de habitantes, sua populao

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    cresce a cerca de 2% nos ltimos anos, uma das menores taxas da UEMOA (junto com a Guin-Bissau e Togo). Embora Yamoussoukro seja a capital administrativa do pas, Abidjan se destaca como centro financeiro e cultural do pas. A cidade, com mais de sete milhes de habitantes em sua rea metropolitana, a terceira maior cidade francfona do mundo, atrs apenas de Paris e Kinshasa, na Repblica Democrtica do Congo. O IDH da Costa do Marfim apenas o 4 maior da regio, embora o seu ndice de renda (0,409) esteja quase empatado