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MINISTÉRIO DO TRABALHO E DA SOLIDARIEDADE SOCIAL

Estudo Dependencia

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Relatório

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  • MINISTRIO DO TRABALHOE DA SOLIDARIEDADE SOCIAL

    470_09_Capa_C.Social:capa 09/10/13 16:35 Page 1

  • MINISTRIO DO TRABALHO E DA SOLIDARIEDADE SOCIALGABINETE DE ESTRATGIA E PLANEAMENTO

    A dependncia: o apoio informal, a rede de servios e equipamentos

    e os cuidados continuadosintegrados

  • Gabinete de Estratgia e Planeamento (GEP)

    Ministrio do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS), 2009

    A dependncia: o apoio informal, a rede de servios e equipamentos e os cuidadoscontinuados integrados

    Primeira edio: Outubro 2009Tiragem: 500 exemplares

    ISBN: 978-972-704-348-4Depsito legal: 299 119/09

    Coordenao Editorial e de Distribuio:Centro de Informao e Documentao (GEP-CID)Praa de Londres, 2, 2.1049-056 LisboaTel. (+351) 213 114 900Fax (+351) 210 115 784E-mail: [email protected]: www.gep.mtss.gov.pt

    Impresso e acabamento: Editorial do Ministrio da Educao

    Reservados todos os direitos para a lngua portuguesa,de acordo com a legislao em vigor, por GEP/MTSSGabinete de Estratgia e Planeamento (GEP)Rua Castilho, 24, 7., 1250-069 LisboaTel. (+351) 213 114 900Fax (+351) 213 114 980Pgina: www.gep.mtss.gov.pt

    Coordenador do Trabalho: Joo GonalvesAutor: Jos Miguel Nogueira

    MINISTRIO DO TRABALHO

    E DA SOLIDARIEDADE SOCIAL

  • NDICE

    ndice de Quadros .................................................................................... 5

    ndice de Figuras ...................................................................................... 5

    1. Introduo ............................................................................................ 7

    2. A dependncia, o envelhecimento e a proteco social (redesinformais e formais) .......................................................................... 8

    2.1. A dependncia .................................................................................. 82.2. O envelhecimento populacional ........................................................ 92.3. As redes de suporte na dependncia a rede informal versus rede

    formal ................................................................................................ 102.4. A rede de suporte formal: os apoios pecunirios e os servios e

    equipamentos no mbito do Ministrio do Trabalho e da SolidariedadeSocial (MTSS) .................................................................................... 122.4.1. O Complemento por Dependncia .......................................... 122.4.2. A dependncia e os servios e equipamentos sociais no mbito

    do MTSS ................................................................................. 13

    3. O contributo da rede de servios e equipamentos como garanteda autonomia e apoio s pessoas em situao de dependncia uma breve caracterizao com base nos dados da Carta Social 15

    3.1. A opo metodolgica ...................................................................... 153.2. Uma breve caracterizao da dependncia nas respostas sociais ....... 163.3. Os lares de idosos e a dependncia ................................................... 22

    4. A Rede de Cuidados Continuados Integrados, um desafio dopresente pensado para o futuro .................................................... 28

    5. Algumas concluses ........................................................................... 31

    Referncias Bibliogrficas ..................................................................... 32

    CARTA SOCIAL

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  • CARTA SOCIAL

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    ndice de Quadros

    Quadro 1: Populao-alvo e respostas sociais ................................................

    ndice de Figuras

    Figura 1: Utentes da rede de servios e equipamentos (respostas sociaisseleccionadas) por grau de autonomia, 2007 ...............................

    Figura 2: Evoluo 2005-2007 do n. de utentes dependentes e grandesdependentes a frequentar as respostas sociais da rede de serviose equipamentos (respostas seleccionadas) ....................................

    Figura 3: Peso percentual da dependncia em relao ao nmero total deutentes da rede de servios e equipamentos (respostas seleccionadas)por populao alvo, 2007 ............................................................

    Figura 4: Distribuio percentual dos utentes das respostas sociais dirigidasa crianas e jovens com deficincia (respostas seleccionadas) porgrau de autonomia, 2007 ............................................................

    Figura 5: Distribuio percentual dos utentes das respostas sociais dirigidass pessoas adultas com deficincia (respostas seleccionadas) por graude autonomia, 2007 ....................................................................

    Figura 6: Distribuio percentual dos utentes das respostas sociais dirigidas populao idosa (respostas seleccionadas) por grau deautonomia, 2007 .........................................................................

    Figura 7: Distribuio percentual dos utentes das respostas sociais dirigidass pessoas em situao de dependncia por grau de autonomia,2007 ............................................................................................

    Figura 8: Distribuio percentual dos utentes das respostas sociais dirigidass pessoas com doena do foro mental ou psiquitrico por graude autonomia, 2007 ....................................................................

    Figura 9: Peso percentual do nmero de utentes em situao dedependncia a frequentar as respostas sociais da Rede de Serviose Equipamentos (respostas seleccionadas) por resposta social,2007 ............................................................................................

    Figura 10: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares deidosos (respostas seleccionadas) segundo o motivo de ingressono lar, 2005 .................................................................................

    Figura 11: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares deidosos (respostas sociais seleccionadas) segundo a relao com afamlia, 2005 ................................................................................

    Figura 12: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares deidosos (respostas sociais seleccionadas) segundo os critrios deadmisso no lar, 2005 ..................................................................

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  • 6Figura 13: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares deidosos (respostas sociais seleccionadas) segundo o tempo depermanncia, 2005 ......................................................................

    Figura 14: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares deidosos segundo as necessidades de ajudas dirias, 2005 ..............

    Figura 15: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares deidosos segundo a necessidade de vigilncia, 2005 ........................

    Figura 16: Distribuio percentual dos lares de idosos com dependentes(respostas sociais seleccionadas) segundo o hbito de realizaode reunies com os familiares, 2005 ............................................

    Figura 17: Distribuio percentual dos lares de idosos com dependentes(respostas sociais seleccionadas) segundo o nmero de reuniesrealizadas com os familiares, 2005 ...............................................

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  • 7CARTA SOCIAL

    1. Introduo

    A velhice uma etapa da vida inerente a qualquer ser humano, tornando-se esteterritrio da idade mais amplo do que no passado pela contingncia do envelhecimentodemogrfico. As questes da autonomia versus dependncia, revestem-se assim, cada vezmais de actualidade, sendo grande o debate ao nvel europeu sobre os fins e os meios daproteco social face velhice e/ou face dependncia. Neste mbito, questiona-se se asolidariedade face a esta problemtica dever emanar primordialmente da famlia, dasociedade, ou de um esforo conjunto de ambas.

    O estudo que se apresenta no tem a pretenso de se constituir numa anliseaprofundada ou mesmo inovadora sobre as questes da dependncia em Portugal,traduzindo-se apenas numa breve reflexo crtica sobre esta matria, colocando emevidncia a responsabilidade social e econmica das redes de suporte na velhice e o papeldo Estado, atravs das polticas pblicas de proteco social, como garante da autonomiae apoio dependncia.

    Esta reflexo encontra-se estruturada em trs grandes partes distintas: a primeira, visareflectir sobre o conceito e as diferentes tipologias ou nveis de dependncia, destacandoo contributo das redes informais e formais de suporte; a segunda, apresenta alguns dadosque permitem caracterizar sinteticamente o fenmeno da dependncia nas respostassociais da Rede de Servios e Equipamentos, optando-se por num determinado momentopor focalizar a anlise nos Lares de Idosos que detinham exclusivamente, no perodo dereferncia da investigao, pessoas em situao de dependncia; a terceira e ltima parte,incide sobre a Rede de Cuidados Continuados Integrados, o seu desenvolvimento recentee o seu contributo neste domnio.

  • 2. A dependncia, o envelhecimento e a proteco social (redes informaise formais)

    2.1. A dependncia

    A Recomendao da Comisso dos Ministros aos Estados-Membros relativa Dependncia, define-a como um estado em que se encontram as pessoas que, por razesligadas falta ou perda de autonomia fsica, psquica ou intelectual, tm necessidade deuma assistncia e/ou de ajudas importantes a fim de realizar os actos correntes da vidaou Actividades de Vida Diria1. As Actividades da Vida Diria (AVD) e as ActividadesInstrumentais da Vida Diria (AIVD) esto relacionadas com a capacidade de autonomiado indivduo, no s ao nvel dos auto-cuidados, como tambm na participao nasociedade enquanto cidado2 de plenos direitos.

    No mbito da legislao em vigor, nomeadamente para efeitos de benefcios provenientesde prestaes sociais, consideram-se em situao de dependncia os indivduos que nopossam praticar com autonomia os actos indispensveis satisfao das necessidadesbsicas da vida quotidiana, carecendo da assistncia de outrem. Consideram-se actosindispensveis satisfao das necessidades bsicas da vida quotidiana, nomeadamente,os relativos realizao dos servios domsticos, locomoo e cuidados de higiene3.

    No existe apenas um nico grau de dependncia, este poder variar conforme a pessoanecessite de pouco, muito ou todo o apoio de outrem para os vrios tipos de actividadesda vida diria. A este propsito, Jos So Jos e Karin Wall classificaram a dependnciade acordo com a seguinte graduao: baixa, mdia e elevada. Para os autores, os idososcom baixa dependncia apenas necessitam de alguma superviso, pois possuem algumaautonomia no que respeita mobilidade e realizao das AVD. Os idosos com mdiadependncia no necessitam apenas de superviso, mas tambm de apoio de terceirapessoa para desempenho de algumas actividades dirias. Por ltimo, os idosos comelevada dependncia requerem apoio extensivo e intensivo, o que quer dizer, que notm capacidade para desempenhar um conjunto de tarefas bsicas: so pessoas queesto acamadas ou que tm fortes restries ao nvel da mobilidade, tendo algumasdelas outras incapacidades associadas como, por exemplo a diminuio de aptidescognitivas e do controlo esfincteriano [] (So Jos, Jos e Wall, Karin, 2006). Outratipologia aparece consagrada na legislao para efeitos do acesso prestao social deComplemento por Dependncia. Neste particular, estabeleceram-se dois graus dedependncia: 1. grau indivduos que no possam praticar, com autonomia, os actos

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    1 Unio Europeia (UE), Recomendao da Comisso dos Ministros aos Estados-Membros relativa Depen-dncia, 1998.

    2 T. H. Marshall define cidadania como o status concedido aos membros de pleno direito de uma comunidade.Os seus beneficirios so iguais quanto aos direitos e obrigaes que implica. Com Marshall (Citizenship andSocial, 1950), ocorre o primado da cidadania como um direito social, viso mais ampla que a meraconcepo de cidadania poltica do sculo XIX.

    3 Decreto-Lei n. 265/99, de 14 de Julho (prestao pecuniria Complemento por Dependncia).

  • indispensveis satisfao de necessidades bsicas da vida quotidiana, designadamenteactos relativos alimentao ou locomoo ou cuidados de higiene pessoal; 2. grau indivduos que acumulem as situaes de dependncia que caracterizam o 1. grau ese encontrem acamados ou apresentem quadros de demncia grave4.

    As situaes de dependncia no so exclusivas de um determinado grupo etrio,existindo pessoas dependentes de todas as idades, contudo a maior prevalncia observa--se claramente na populao idosa. Enquanto nas faixas etrias mais jovens, adependncia aparece na maioria dos casos associada a situaes de deficincia congnitaou adquirida, no caso dos idosos, a dependncia, para alm da que resulta das situaesanteriormente descritas tambm, muitas vezes, uma consequncia do processo gradualde envelhecimento humano.

    Por uma opo de investigao, o presente artigo incidir sobretudo na relao entre adependncia e a populao idosa.

    Alguns autores advogam que a velhice no pode ser considerada como um retorno srelaes de dependncia da criana nos primeiros anos de vida. Segundo John Bond5, asrelaes de dependncia encontram-se sempre presentes ao longo da nossa vida, poissomos totalmente dependentes de estranhos que intervm na concepo dos produtosbsicos para a nossa alimentao, que produzem o calado e o vesturio que usamos,que nos prestam todo o tipo de servios, ou dos no estranhos e familiares com quemtrabalhamos, vivemos ou criamos relaes de proximidade afectiva. Efectivamente, aautonomia sempre relativa, o ser humano, ao longo da sua vida, vive mais nainterdependncia do que na independncia. (Bond, John, 1993)

    2.2. O envelhecimento populacional

    O envelhecimento da populao uma realidade na generalidade dos pasesdesenvolvidos e apresenta-se como um desafio social e econmico da maior importnciapara os Estados-Membros da Unio Europeia (UE). Actualmente, verifica-se um contextode diminuio progressiva da natalidade, aliada a um aumento da esperana mdia devida ou da longevidade dos cidados. A conjugao destes dois factores ao nvel dospases desenvolvidos, far com que a sociedade do futuro seja cada vez mais envelhecida.

    Em Portugal, segundo o Instituto Nacional de Estatstica (INE), o nmero mdio de filhospor mulher em idade frtil tem vindo a diminuir de forma considervel desde a dcada de60. Assim, o indicador sinttico de fecundidade que em 1960 se situava nos 3,16, temvindo a decrescer progressivamente para 3,02 em 1970, 2,26 em 1980, 1,55 em 1990,at aos actuais 1,36 filhos por mulher.

    CARTA SOCIAL

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    4 Idem.5 Professor of Social Gerontology and Health Services Research, Newcastle University.

  • A no renovao das geraes comeou a verificar-se a partir de 1982, ano em que ondice de Fecundidade baixou dos dois filhos por mulher. As geraes so cada vez menosfrteis, no s porque ao longo das dcadas, consecutivamente, tem havido menosnascimentos, mas tambm pelo facto das mulheres terem filhos cada vez mais tarde(prximo dos 30 anos), o que diminui a probabilidade de virem a ter mais filhos.

    O fenmeno do envelhecimento populacional tambm em parte uma consequncia dosavanos nos sistemas pblicos de proteco social, atravs de uma melhor redistribuioda riqueza inter-geracional e de uma melhor cobertura na prestao de servios spessoas dependentes. Portugal, um exemplo clarssimo disso. Quando os nossos idososficavam entregues famlia no chegavam, em regra, aos nveis de envelhecimento queso hoje comuns. Em Portugal, como no resto das sociedades europeias, medida que oEstado e um conjunto de actores que nele colaboram se organizam para prestar cuidadossociais e de sade dignos, a qualidade de vida aumentou e a esperana de vida cresceuextraordinariamente. (Capucha, 2006)

    Tambm as progressivas alteraes no seio da estrutura familiar tm originadoconsequncias ao nvel da populao idosa. A passagem do modelo de famlia alargadapara a actual famlia nuclear, condicionou as redes familiares de apoio, aumentando orisco de situaes de isolamento, situao que em Portugal ainda atenuada pelo pesotradicional das redes informais. Estas redes de apoio, revestem-se de uma importnciaacrescida para os idosos, na medida em que o sentimento de ser amado e valorizado, apertena a grupos de comunicao e obrigaes recprocas, leva o indivduo a escapar aoisolamento e ao anonimato.

    2.3. As redes de suporte na dependncia a rede informal versus rede formal

    Actualmente, em Portugal, continuam a subsistir dois tipos de redes de suporte spessoas em situao de dependncia, as denominadas redes informais, nas quais seinclui a famlia, os vizinhos, ou amigos e as redes formais de proteco social onde seinserem todo o tipo de programas e medidas que asseguram a concesso de prestaespecunirias ou em espcie, como o caso dos servios disponibilizados atravs da redede servios e equipamentos sociais. Neste contexto, a publicao Preveno da Violncia Institucional Perante as Pessoas Idosos e Pessoas em Situao de Dependncia,do ex-Instituto para o Desenvolvimento Social (IDS) esclarece: Existem duasmodalidades diferentes de cuidar ou prestar cuidados: informal em que uma pessoaque presta cuidados a outra o faz numa base de solidariedade, como um voluntrio, oude um sentimento pessoal, como amizade, ou de vnculo de parentesco, como de paispara filhos, sem esperar contrapartidas pecunirias ou outras. A outra modalidade decuidar a formal em que a pessoa que presta cuidados a outra o faz numa basecontratual, isto , neste caso a relao que estabelece com o utente/cliente profissional e qualificada, comprometendo-se a prestar-lhe cuidados sob obrigaesespecficas, sob recompensa pecuniria e/ou material pelo exerccio das suas funes.(IDS, 2002)

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    As relaes entre os dois tipos de redes de suporte identificadas, podem ser de comple-mentaridade, ou de substituio. Atente-se por exemplo no caso de um dependente quepassa o dia no Centro de Dia e o perodo ps-laboral na sua residncia, ou na residnciade familiares, beneficiando do apoio destes. Como descreve Ana Paula Martins Gil, noartigo Redes de Solidariedade Intergeracionais na Velhice, vrios autores tm reflectidosobre este relacionamento entre o sistema formal e informal. A Teoria das Tarefas Espec-ficas ou Teoria das Funes Partilhadas de Litwat (1985), que independentemente dereconhecer as diferenas entre as duas redes de suporte, coloca em evidncia a sua com-plementaridade e interdependncia, principalmente se tal favorecer a permanncia dodependente no seu domicilio. A Teoria de Cantor, ou Modelo Hierrquico Compensatriode Cantor (1992) traduz-se numa perspectiva holstica ao propor o modelo de sistema desuporte social. O Suporte Social regido por uma seleco hierrquica compensatria,numa lgica preferencial, assente num processo ordenado. Para Cantor, o idoso, srecorre ao sistema formal quando a rede informal muito fraca ou inexistente, principal-mente devido indisponibilidade de tempo ou incapacidade dos elementos que a consti-tuem em responder s necessidades efectivas da pessoa dependente. O Modelo de Subs-tituio de Shanas (1984), encontra-se prximo do anterior ao preconizar que osmembros da famlia se apoiam atravs de uma ordem em srie, ou seja, numa primeiralinha encontra-se o cnjuge, no caso deste no existir ou estar indisponvel, surgem osfilhos e s na eventualidade destes no estarem disponveis, considera-se ento o recursoa pessoas exteriores famlia (Gil, Ana Paula Martins, 1999). Estas tipologias tm sidoalvo de algumas crticas, nomeadamente por ignorarem a pessoa idosa como actor do seuprprio suporte e por preconizarem a tese da substituio das redes informais pelas redesformais. (Vezine, et al. 1989, cit. Ana Paula Martins Gil, 1999)

    A pesquisa emprica6 levada a efeito em 1998 por Ana Paula Martins Gil no mbito da dis-sertao de Mestrado em Sociologia da Famlia e Populao, comprovou a no existnciado modelo de efeito total de substituio, preconizado por Shanas (1986) nem uma divi-so to rigorosa dos apoios como sustentava Litwak (1985), nem mesmo uma hierarquiarigorosa dos cuidadores como vislumbrava Cantor [] (Gil, Ana Paula Martins, 1999). Osdados do Estudo de Caso revelaram uma coexistncia de aspectos dos vrios modelos. A opo exclusiva pela rede formal7 surge associada a uma inexistente ou muito enfraque-cida relao familiar, ou ento a um maior nvel de dependncia e a um maior grau de exi-gncia nos cuidados a prestar. Em relao aos dependentes que recebem ambos os apoios(rede formal e informal), foram encontradas duas situaes: quando o formal suple-mento do informal e quando o informal surge como complemento do formal. O primeirocaso identifica as situaes de indivduos que recebem predominantemente apoio da redeinformal (filhos, cnjuge, ou outros membros de coabitao), embora beneficiem ainda deum tipo especfico de apoio formal (servio de apoio domicilirio), principalmente no que

    6 Estudo de Caso baseado num inqurito por questionrio aplicado a 300 indivduos com mais de 65 anosinseridos em lares, centros de dia, de convvio, ou utentes de servio de apoio domicilirio em seis fregue-sias do concelho de Sintra.

    7 Nesta caso, devem considerar-se apenas os idosos dependentes inseridos em lares ou a receber apoiodomicilirio, com nveis de dependncia elevados e sem filhos, ou sem grande suporte de ajuda informal.

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    concerne alimentao, trabalhos domsticos ou higiene pessoal. No segundo caso, oapoio formal o dominante sendo o recurso rede informal apenas exercido como com-plemento para suprir eventuais incapacidades de resposta da rede formal. Nesta situaoencontram-se os indivduos cuja rede informal mais frgil, sendo esse apoio (informal),quase sempre exercido por elementos exteriores famlia, como os vizinhos ou amigos.

    Embora o Estudo de Caso8 no tenha comprovado a tese da perda de solidariedade inter-geracional e do isolamento da famlia nuclear, no entanto, o mesmo alerta para a evidnciadas mutaes scio-demogrficas e das consequncias destas nas redes sociais de suporte, oque poder condicionar num futuro prximo algumas prticas sociais actuais de entreajuda.

    Por ltimo, o trabalho de Ana Paula Martins Gil reporta ainda para a questo da femini-zao dos cuidados, na medida em que o modelo cultural dominante atribui mulher emgeral a responsabilidade e a exclusividade desses mesmos cuidados aos mais velhos [](Gil, Ana Paula Martins, 1999), levando a autora a considerar que a solidariedade interge-racional no apoio aos dependentes essencialmente uma solidariedade feminina.

    Outra referncia a ter em conta neste mbito, foi desenvolvida por Jos So Jos e KarinWall (2006), que estudaram a implicao ao nvel da conciliao da vida familiar e activi-dade profissional de trabalhar e cuidar de um idoso dependente. Tal como no estudo deAna Paula Martins Gil, tambm foram identificados dois grandes perfis na prestao doscuidados, dos quais se destacam o perfil familiar, centralizado quase exclusivamente nafamlia e o misto que combina os apoios familiares com os extra-familiares pagos. Cadaum dos grandes perfis identificados, desagregam-se por sua vez em modelos diferentesde apoio (bsico, superviso e gesto)9. Os autores salientam a dificuldade em conciliar avida profissional com os cuidados inerentes a um idoso dependente, principalmentequando a famlia assume sozinha esse encargo. O estudo aponta ainda para a necessi-dade de aumentar a cobertura de servios e equipamentos sociais no mbito das pessoasem situao de dependncia, bem como dos benefcios sociais para os idosos e para ostrabalhadores (familiares) que lhes prestam apoio.

    2.4. A rede de suporte formal: os apoios pecunirios e os servios e equipamen-tos no mbito do Ministrio do Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS)

    2.4.1. O Complemento por Dependncia

    Relativamente aos regimes de segurana social, esto consagradas algumas prestaespecunirias s quais podem aceder as pessoas em situao de dependncia. Emborareconhecendo o mrito e a importncia de todos os apoios pecunirios destinados a este

    8 Estudo de Caso efectuado em 1998, que serviu de base ao artigo Redes de Solidariedade Intergeracionaisna Velhice, de Ana Paula Martins Gil (1999).

    9 Vide SO JOS, Jos; WALL, Karin (2006), Trabalhar e Cuidar de um Idoso Dependente: Problemas eSolues, Cadernos Sociedade e Trabalho VII Proteco Social, MTSS/DGEEP, Lisboa.

  • grupo alvo, no mbito do presente artigo desenvolver-se- apenas o Complemento porDependncia10, que extensivo a pensionistas de invalidez, velhice e sobrevivncia doregime geral de segurana social, do regime no contributivo e regimes equiparados, quesatisfaam as condies de dependncia fixadas na lei, mesmo que se encontrem abeneficiar de assistncia em estabelecimento de apoio social, oficial ou particular sem finslucrativos cujo funcionamento seja financiado pelo Estado ou por outras pessoascolectivas de direito pblico ou de direito privado e utilidade pblica, o que antes noacontecia relativamente ao subsdio por assistncia de terceira pessoa11.

    O montante do Complemento por Dependncia corresponde a uma percentagem dovalor da Penso Social, variando a importncia a pagar de acordo com o grau dedependncia em causa, do seguinte modo: Pensionistas do Regime Geral: 50 % domontante da penso social no caso de situao de dependncia do 1. grau e 90 % domontante da penso social no caso de situao de dependncia do 2. grau; Pensionis-tas do Regime Especial das Actividades Agrcolas, do Regime No Contributivo e Regi-mes Equiparados: 45 % do montante da penso social no caso de situao de depen-dncia do 1. grau e 85 % do montante da penso social no caso de situao dedependncia do 2. grau12.

    A certificao da situao de dependncia para a atribuio da prestao realizada nombito do Sistema de Verificao de Incapacidade. As prestaes so pagas aosrespectivos titulares, ou quando estes se encontrem impossibilitados, a entidades que lhesprestem assistncia, desde que consideradas idneas.

    2.4.2. A Dependncia e os servios e equipamentos sociais no mbito do MTSS

    No sentido de combater o isolamento individual e social, promover a autonomia, bemcomo de assegurar um conjunto de servios e cuidados multidisciplinares a grupos alvosespecficos e vulnerveis como os idosos, pessoas com deficincia e/ou incapacidade,e/ou pessoas em situao de dependncia, foram sendo implementados progressiva-mente na sociedade portuguesa um conjunto alargado de servios e equipamentos sociaisde suporte. Actualmente e segundo os dados da Carta Social do MTSS, existem pessoasem situao de dependncia a frequentar, ou beneficiar dos servios, de diferentes tiposde respostas sociais, destinadas tambm a populaes alvo diferentes. A dependnciaest assim presente, no s nas respostas sociais destinadas populao idosa, popula-o com deficincia, ou ao prprio subgrupo destinado s pessoas em situao de depen-dncia, mas tambm em muitas outras respostas de mbito mais generalista, como ocaso das Creches ou dos Centros de Actividades de Tempos Livres que acolhem, numaperspectiva inclusiva, crianas com necessidades especiais.

    CARTA SOCIAL

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    10 Decreto-Lei n. 265/99, de 14 de Julho e Decreto-Lei n. 309-A/2000, de 30 de Novembro.11 Decreto-Lei n. 265/99, de 14 de Julho.12 Decreto-Lei n 309-A/2000, de 30 de Novembro.

  • No que concerne populao idosa, as primeiras respostas sociais implementadas, tinhampor base a institucionalizao e denominavam-se asilos. Principalmente a partir das dca-das de 50/60 a sociedade foi tendo a noo que seria necessrio melhorar as condiesde acolhimento nos asilos, passando estes a ser chamados Lares.

    Tambm nos finais dos anos 60 surgem as primeiras valncias de Centro de Dia, consistindoesta resposta num equipamento aberto, meio caminho entre o domiclio e o internamento,assegurando a prestao de um conjunto de servios que contribuem para a manuteno dosidosos no meio scio-familiar. Esta resposta social intervm ao nvel da satisfao das necessi-dades bsicas dos idosos, presta apoio psicossocial e fomenta as relaes interpessoais a fim deevitar o isolamento. Os Centros de Convvio surgem tambm nesta altura, mas esto maisvocacionados para a animao e lazer de idosos ainda com um certo grau de autonomia, nose enquadrando no perfil das respostas utilizadas por pessoas em situao de dependncia.

    A partir de 1976, comea a desenhar-se a poltica que ainda hoje perdura e que tem porparadigma a manuteno do idoso no seu domiclio o maior tempo possvel. Na sua residn-cia, o idoso encontra as representaes de toda uma existncia, as memrias, os objectos, oslugares de pertena. Assim, os anos 80 vem emergir com grande intensidade a respostasocial Servio de Apoio Domicilirio (SAD), sendo esta valncia na dcada de 90, alargada aodomnio da Sade, originando o Apoio Domicilirio Integrado (ADI), resposta esta j exclusi-vamente dirigida s pessoas com dependncia. Conjuntamente com o ADI, e tendo por baseo mesmo pblico alvo, foi instituda a resposta social Unidade de Apoio Integrado (UAI), diri-gida tambm s pessoas em situao de dependncia que no possam ser apoiadas no seudomiclio mas que no caream de cuidados clnicos em internamento hospitalar.

    No que concerne populao com deficincia e/ou incapacidade, existem tambm em fun-cionamento respostas sociais que acolhem tambm pessoas em situao de dependncia,como o caso do Lar Residencial, do Lar de Apoio, do Centro de Actividades Ocupacionais(CAO), ou do Transporte (Pblico) de Pessoas Com Deficincia.

    Enquanto o Lar Residencial e o Lar de Apoio, so respostas sociais desenvolvidas em equi-pamento e tm por objectivo o alojamento de pessoas com deficincia impedidas tempor-ria ou definitivamente de residir no meio familiar, os utentes que frequentam o CAO e/ouos que so apoiados pelo Servio de Apoio Domicilirio, ou pelo Transporte de Pessoas comDeficincia, residem normalmente nas suas habitaes particulares. Tal como se observarno captulo seguinte, cerca de 2/3 das pessoas que frequentam as respostas atrs mencio-nadas so dependentes.

    Em relao s respostas sociais destinadas a pessoas com doena do foro mental oupsiquitrico e ao invs do observado anteriormente para o grupo alvo das pessoas comdeficincia e/ou incapacidade, a proporo de pessoas dependentes e grandes dependentesque as frequentam no significativa13.

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    13 Afirmao com base na anlise dos dados da Carta Social 2007, que ser objecto de tratamento maisaprofundado no captulo seguinte.

  • 3. O contributo da rede de servios e equipamentos como garante daautonomia e apoio s pessoas em situao de dependncia umabreve caracterizao com base nos dados da Carta Social

    3.1. A opo metodolgica

    Como se tem vindo a desenvolver no ponto anterior, nem sempre possvel famlia, pres-tar pessoa dependente a totalidade dos cuidados necessrios para a satisfao das suasnecessidades dirias. As respostas sociais da rede de servios e equipamentos tm entoesta dupla funo de complementar, ou mesmo de substituir a famlia nessas tarefas. O Ser-vio de Apoio Domicilirio (SAD) ou o Apoio Domicilirio Integrado (ADI), so exemplos devalncias que actuam principalmente como complemento do apoio familiar, enquanto queas respostas sociais que visam a institucionalizao, como so os casos dos Lares de Idososou dos Lares Residenciais, j se consubstanciam numa vertente mais substitutiva.

    A breve anlise que se apresenta no tem a pretenso de se constituir num estudo apro-fundado sobre o fenmeno da dependncia na rede de servios e equipamentos sociais,mas com base os dados disponveis da Carta Social, pretende-se apenas oferecer ao leitoruma caracterizao sinttica e aproximada sobre o contributo da RSES como suporte spessoas em situao de dependncia e s suas famlias.

    Embora o principal perodo de referncia dos dados seja Dezembro de 2007 (ltimaactualizao da Carta Social), por opo de investigao e sempre que tal se justifique,apresentar-se- a tendncia evolutiva recente. Em determinadas variveis a anlise ape-nas no ano de 2005, uma vez que nesse ano foi possvel recolher e sistematizar um con-junto mais alargado de informao. Todos os dados apresentados foram fornecidos pelasinstituies que integram a rede de servios e equipamentos.

    No ousando descurar ou negligenciar as tipologias, graus, ou nveis de dependnciaoperacionalizados por outros autores, sendo at alguns j referidos no mbito deste tra-balho, para efeitos da presente anlise, consideraram-se os seguintes conceitos que tmsido utilizados ao nvel da Carta Social: Autnomo Capaz de realizar sem apoios de terceiros os cuidados de necessidade bsica. Parcialmente dependente Necessita de apoio de terceiros para cuidados de higiene

    pessoal e/ou deslocao. Dependente No pode praticar, com autonomia, os actos indispensveis satisfao

    de necessidades bsicas da vida quotidiana: actos relativos alimentao, locomooe/ou cuidados de higiene pessoal.

    Grande dependente Acumulam as situaes de dependncia que caracterizam osdependentes e encontram-se acamados ou apresentam quadros de demncia grave14.

    Como objecto de investigao, seleccionaram-se cinco tipos de populao alvo e 17 respostassociais diferentes, de acordo com o quadro apresentado na Figura 1. Num determinado

    CARTA SOCIAL

    15

    14 Conceitos utilizados no mbito da Carta Social.

  • momento da pesquisa, por uma opo de estudo, procurou-se isolar e analisar osdados referentes apenas aos lares de idosos que detinham exclusivamente pessoas emsituao de dependncia. Tendo em conta os conceitos apresentados no pargrafoanterior, consideraram-se em situao de dependncia apenas as duas ltimas categorias(dependente e grande dependente).

    Quadro 1: Populao-alvo e respostas sociais

    3.2. Uma breve caracterizao da dependncia nas respostas sociais

    Em Dezembro de 2007 e para o conjunto das 17 respostas sociais, integradas nos cincotipos de populao alvo seleccionados, observou-se que a maioria dos utentes/clientes(68,5 %) se encontrava na situao de autonomia ou de dependncia parcial.

    Figura 1: Utentes da rede de servios e equipamentos (respostas sociais seleccionadas) por grau de autonomia, 2007

    Fonte: GEP, Carta Social 2007.

    Autnomos Parcialmente dependentes

    Dependentes Grandes dependentes

    43,3 %

    25,2 %

    12,3 %

    19,2 %

    POPULAO-ALVO RESPOSTA SOCIAL

    Crianas e Jovens com DeficinciaLar de Apoio e Transporte de Pessoas com Deficincia(Crianas e Jovens).

    Pessoas Adultas com DeficinciaLar Residencial, Servio de Apoio Domicilirio, Centrode Actividades Ocupacionais e Transporte de Pessoascom Deficincia (Populao adulta).

    Populao IdosaLar de Idosos, Residncia, Centro de Dia e Servio deApoio Domicilirio.

    Pessoas em Situao de DependnciaServio de Apoio Domicilirio, Apoio DomicilirioIntegrado e Unidade de Apoio Integrado.

    Pessoas com Doena do Foro Mental ou Psiquitrico

    Form Scio-Ocupacional, Unidade de Vida Protegida,Unidade de Vida Apoiada e Unidade de Vida Autnoma.

    16

  • O peso percentual do gnero feminino sempre superior ao masculino em qualquer umadas categorias estudadas (cerca de 64 % das pessoas dependentes ou grandesdependentes pertenciam ao sexo feminino), o que remete necessariamente para umamaior proporo de mulheres a frequentar ou usufruir dos servios destas respostassociais.

    Em termos absolutos e evolutivos, constata-se em 2007 um acrscimo em relao aosanos anteriores, do nmero de pessoas dependentes e grandes dependentes a frequentaras respostas sociais seleccionadas. Este aumento traduz sobretudo o esforo financeiro doEstado em reforar a capacidade instalada (nmero de lugares disponveis), uma vez quese verificou que o mesmo no provm de uma diminuio percentual das pessoasautnomas ou parcialmente dependentes.

    Figura 2: Evoluo 2005-2007 do n. de utentes dependentes e grandes dependentes a frequentar as respostas sociais da rede de servios e equipamentos

    (respostas seleccionadas)

    Fonte: GEP, Carta Social 2007.

    Analisando a dependncia por populao alvo, observa-se, como seria alis expectvel,que a maior proporo de pessoas dependentes e grandes dependentes a frequentar asrespostas sociais seleccionadas, frequentam valncias especficas destinadas a pessoas emsituao de dependncia, das quais so exemplo o Servio de Apoio Domicilirio, ApoioDomicilirio Integrado e Unidade de Apoio Integrado. Cerca de 70 % utentes/clientesdestas respostas so dependentes ou grandes dependentes.

    0

    10 000

    20 000

    30 000

    40 000

    N.

    50 000

    60 000

    70 000

    2006 20072005

    Utentes dependentes e grandes dependentes

    CARTA SOCIAL

    17

  • No grupo das Crianas e Jovens com deficincia, constata-se que sensivelmente 60 % dosutentes das respostas seleccionadas (Lar de Apoio e Transporte de Pessoas comDeficincia (Crianas e Jovens), encontravam-se na situao de dependncia ou grandedependncia. Em relao populao adulta com deficincia (Lar Residencial, Servio deApoio Domicilirio, Centro de Actividades Ocupacionais e Transporte de Pessoas comDeficincia para a populao adulta), a percentagem de dependncia ronda os 50 %,mesmo tendo em conta que neste grupo se encontram respostas como o CAO que jpressupem alguma autonomia.

    Figura 3: Peso percentual da dependncia em relao ao nmero total de utentes da rede de servios e equipamentos (respostas seleccionadas)

    por populao alvo, 2007

    Fonte: GEP, Carta Social 2007.

    No que respeita populao idosa, observou-se em 2007, que um em cada trs utentes/clientes das respostas estudadas (Lar de Idosos, Residncia, Centro de Dia e Servio deApoio Domicilirio), so dependentes ou grandes dependentes. A Residncia para Idosos(at pela sua filosofia de autonomia) e o Centro de Dia, so as respostas que detm ummenor peso de dependentes.

    Dependentes e Grandes dependentes

    0,0

    10,0

    20,0

    30,0

    40,0

    50,0

    60,0

    70,0

    80,0

    Crianas e jovenscom deficincia

    Pessoas adultascom deficincia

    Populao Idosa Pessoas em Situaode Dependncia

    Doena Mental

    %

    18

  • Fonte: GEP, Carta Social 2007.

    Em relao ao grupo das Pessoas com Doena do Foro Mental ou Psiquitrico (FormScio-Ocupacional, Unidade de Vida Protegida, Unidade de Vida Apoiada e Unidade deVida Autnoma), a percentagem de dependentes e grandes dependentes apurada(6,4 %), claramente a mais baixa de todos os grupos alvos estudados, reportando assimpara um satisfatrio grau de funcionalidade destas pessoas em termos da realizao dasactividades da vida diria (AVD).

    Grandes dependentes

    9,6 %

    Parcialmentedependentes

    37,6 %

    Dependentes15,1 %

    Autnomos37,6 %

    Grandes dependentes

    38,5 %Parcialmentedependentes

    24,0 %

    Dependentes28,5 %

    Autnomos9,1 %

    Figura 7: Distribuio percentual dos utentesdas respostas sociais dirigidas s pessoas

    em situao de dependncia por grau de autonomia, 2007

    Figura 6: Distribuio percentual dos utentesdas respostas sociais dirigidas populao

    idosa (respostas seleccionadas) por grau de autonomia, 2007

    Grandes dependentes

    16,8 %

    Dependentes29,0 %

    Parcialmentedependentes

    27,8 %

    Autnomos26,4 %

    Grandes dependentes

    22,7 %

    Parcialmentedependentes

    22,9 %

    Dependentes36,2 %

    Autnomos18,2 %

    Figura 5: Distribuio percentual dos utentesdas respostas sociais dirigidas s pessoas adultas

    com deficincia (respostas seleccionadas) porgrau de autonomia, 2007

    Figura 4: Distribuio percentual dos utentesdas respostas sociais dirigidas a crianas e jovens

    com deficincia (respostas seleccionadas) porgrau de autonomia, 2007

    CARTA SOCIAL

    19

  • Figura 8: Distribuio percentual dos utentes das respostas sociais dirigidas s pessoas com doena do foro mental ou psiquitrico

    por grau de autonomia, 2007

    Fonte: GEP, Carta Social 2007.

    Analisando os dados por resposta social, observa-se que a Unidade de Apoio integrado,resposta desenvolvida especificamente para pessoas em situao de dependncia e quevisa prestar cuidados temporrios, globais e integrados, a pessoas que, por motivo dedependncia, no podem, manter-se apoiadas no seu domiclio, mas que no carecem decuidados clnicos em internamento hospitalar15 claramente aquela onde se verifica amaior incidncia de dependentes e grandes dependentes (74,7 %). O transporte dePessoas (crianas e jovens) com Deficincia (72,4 %), o Apoio Domicilirio Integrado16

    (66,5 %), resposta que se concretiza atravs de um conjunto de aces e cuidadospluridisciplinares, flexveis, abrangentes, acessveis e articulados, de apoio social e desade, a prestar no domiclio, durante vinte e quatro horas por dia e sete dias por semanae o Servio de Apoio Domicilirio para Pessoas com Deficincia (65,0 %), so tambmrespostas sociais que apresentavam em 2007 um elevado peso de pessoas em situao dedependncia ou grande dependncia.

    O fenmeno da dependncia encontra-se tambm presente noutras respostas sociaisdirigidas s Pessoas com Deficincia e/ou incapacidade como caso do Lar de Apoio quevisa [] acolher crianas e jovens com necessidades educativas especiais que necessitemde frequentar estruturas de apoio especfico situadas longe do local da sua residnciahabitual ou que, por comprovadas necessidades familiares, precisem, temporariamente,

    Grandes dependentes2,5 %

    Parcialmentedependentes

    37,5 %

    Dependentes3,9 %

    Autnomos56,1 %

    20

    15 Respostas Sociais Nomenclaturas e Conceitos, Despacho do Senhor Secretrio de Estado da SeguranaSocial, de 19.1.2006.

    16 Idem.

  • de resposta substitutiva da famlia17, ou mesmo, do Lar Residencial que se destina a[] alojar jovens e adultos com deficincia, que se encontrem impedidos temporria oudefinitivamente de residir no seu meio familiar18. A propsito desta relao incapacidadeversus dependncia, alguns autores advogam que ter uma determinada incapacidade,implica necessariamente tambm um certo grau de dependncia.

    Figura 9: Peso percentual do nmero de utentes em situao de dependncia a frequentar as respostas sociais da Rede de Servios e Equipamentos (respostas seleccionadas)

    por resposta social, 2007

    Fonte: GEP, Carta Social 2007.

    No grupo alvo da populao idosa, o lar de Idosos a resposta com maior incidncia dedependentes ou grandes dependentes (cerca de 50 %), seguindo-se o Servio de ApoioDomicilirio, resposta na qual um em cada trs utilizadores encontravam-se nesta situao. O facto do Servio de Apoio Domicilirio para Idosos no deter uma elevadapercentagem de dependentes ou grandes dependentes pode ser explicado pela naturezadesta valncia que visa essencialmente manter o idoso no seu domiclio o maior tempopossvel, potenciando a sua autonomia relativa, constatando-se sim, em 2007, umaelevada percentagem de pessoas parcialmente dependentes a usufrurem deste servio.

    0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0

    Lar de ApoioTransporte Pessoas com Def. (Crianas e jovens)

    Servio de Apoio Domicilirio (Idosos)Centro de Dia

    Residncia IdososLar de Idosos

    Servio de Apoio Domicilirio (P. Def.)Centro de Actividades Ocupacionais

    Lar-ResidencialTransporte Pessoas com Def. (P. Adulta)

    Servio de Apoio Domicilirio (Dependncia)Apoio Domicilirio IntegradoUnidade de Apoio Integrado

    Frum Scio-OcupacionalUnidade de Vida Protegida

    Unidade de Vida AutnomaUnidade de Vida Apoiada

    %

    Dependentes e Grandes Dependentes

    CARTA SOCIAL

    21

    17 Idem.18 Idem.

  • 22

    3.3. Os lares de idosos e a dependncia

    Como foi oportunamente referido no incio, por uma opo de investigao, procurou-seaprofundar um pouco mais a caracterizao e o conhecimento sobre o fenmeno dadependncia nas respostas sociais da rede de servios e equipamentos, seleccionando-secomo campo de estudo apenas os lares de idosos cuja totalidade dos utentes/clientes seencontrava em situao de dependncia ou grande dependncia. Pretendeu-se com estaanlise, complementar de forma cirrgica, embora limitada pela informao existente, acaracterizao apresentada no ponto anterior, procurando fornecer mais alguns inputssobre esta matria. Mais do que retirar grandes concluses, procurar-se- contribuir paraa formulao de novas perguntas de partida e consequentes novos caminhos deinvestigao neste mbito. Dadas as limitaes apresentadas em termos de informaodisponvel, explorar-se-o sobretudo s algumas varveis, das quais se destaca asnecessidades dirias dos utentes, o motivo de ingresso no lar, a relao com afamlia, o tempo de permanncia na resposta social, bem como alguns aspectos defuncionamento dos lares que foi possvel apurar e que se julgou pertinente incluir. A anlise apresentada tem por base o inqurito presencial da Carta Social realizado totalidade das instituies da rede de servios e equipamentos em Dezembro de 2005,uma vez que dadas as caractersticas especficas da mesma, de momento a mais actual.

    O motivo principal de ingresso no lar parece estar directamente relacionado com aincapacidade do idoso num determinado momento da sua vida em gerir as suasactividades da vida diria, coexistindo esta incapacidade com a impossibilidade da famliaem garantir o apoio necessrio nesse sentido. Tem-se observado que em alguns casos, orecurso ao Servio de Apoio Domicilirio precede e retarda a efectivao dainstitucionalizao no lar, sendo esta, para muitos idosos, a ltima opo em termos deapoio dependncia. Embora num segundo plano, salienta-se ainda que cerca de 20 %das instituies tenham invocado o isolamento como o principal motivo para o ingressono lar. Tendo em conta o envelhecimento progressivo da populao e o aumentocrescente do nmero de pessoas a viverem ss em Portugal19, este fenmeno doisolamento, poder vir a constituir uma prioridade na poltica social para a terceira idade,apresentando-se igualmente como um desafio que a Aco Social e a prpria da Rede deServios e Equipamentos procurar responder atravs da sua dinmica natural deadequao das respostas s necessidades emergentes.

    19 O fenmeno do isolamento parece estar directamente ligado ao aumento da populao idosa na socie-dade. Segundo o estudo de Maria da Graa Magalhes (INE), subordinado ao tema Quem vive s emPortugal, tendo por base os dados dos Recenseamentos Gerais da Populao (1991-2001), o nmero depessoas que viviam ss elevou-se de tal forma em 2001, que a taxa de variao em relao a 1991 cres-ceu 44,1 %. O estudo comprovou que a maioria dos indivduo a viver s em Portugal tinha mais de 65anos.

  • Figura 10: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares de idosos (respostas sociais seleccionadas)

    segundo o motivo de ingresso no lar, 2005

    Fonte: GEP, Carta Social 2005.

    Segundo os directores das instituies inquiridas, a grande maioria das pessoas em situa-o de dependncia residente nos lares seleccionados (72 %) tem uma relao regularcom a famlia, sendo residual a percentagem dos utentes que perderam totalmente oslaos familiares. Esta relao regular com a famlia poder constituir um ponto deancoragem importante para a estabilidade emocional dos idosos, podendo esta, serainda potenciada pelas instituies, atravs por exemplo, do desenvolvimento de acesou eventos que promovam ainda mais esses contactos.

    Figura 11: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares de idosos (respostas sociais seleccionadas)

    segundo a relao com a famlia, 2005

    Fonte: GEP, Carta Social 2005.

    Relaoocasional

    22 %

    Relaoinexistente

    6 %

    Relaoregular72 %

    Dependncia,insuficinciaem gerir as

    necessidadesdirias,

    impossibilidadeda famlia

    66 %

    Conflito familiar8 %

    Isolamento18 %

    Ausnciaalternativaresidencial

    8 %

    CARTA SOCIAL

    23

  • A residncia na rea geogrfica do lar e a impossibilidade da famlia em prestar oscuidados necessrios s actividades de vida diria do idoso, so, por esta ordem, os doiscritrios de prioridade na admisso mais referidos pelas instituies.

    Figura 12: Distribuio percentual dos lares de idosos com dependentes (respostas sociais seleccionadas) segundo os critrios de admisso no lar, 2005

    Fonte: GEP, Carta Social 2005.

    Relativamente ao tempo de permanncia no lar, constata-se que cerca de 40 % dos idososresidem nesta resposta social at trs anos, 30 % permanecem institucionalizados entrequatro e seis anos, sendo de 30 % a percentagem de utentes cujo perodo depermanncia mais longo (mais de sete anos).

    Figura 13: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares de idosos (respostas sociais seleccionadas) segundo o tempo de permanncia, 2005

    Fonte: GEP, Carta Social 2005.

    De 11 a 15 anos5 %

    De 4 a 6 anos30 %

    De 1 a 3 anos23 %

    Inferior a 1 ano17 %

    Mais de 15 anos4 %

    De 7 a 10 anos

    21 %

    0 %10 %20 %30 %40 %50 %60 %70 %80 %90 %

    100 %

    1. Critrio 2. Critrio 3. Critrio

    Indisponibilidadeda famlia em prestar

    os cuidados

    Ausnciaalternativaresidencial

    Situao de pobreza

    Conflito/abandonofamiliar

    Residnciana rea

    24

  • Os utentes dependentes dos lares de idosos seleccionados, necessitam diariamente deapoio em praticamente todas as actividades de vida diria (AVD). As ajudasconcretizam-se essencialmente em aspectos to distintos como a alimentao, a higienepessoal, a mobilidade, a utilizao de instalaes sanitrias, a mudana de roupa e amedicao.

    O apoio ao nvel da medicao, higiene pessoal e mudana de roupa praticamenterequerido pela totalidade dos utentes, embora os restantes tipos de ajuda sejam tambmuma rotina diria para sensivelmente 2/3 dos idosos institucionalizados.

    Figura 14: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares de idosos segundo as necessidades

    de ajudas dirias, 2005

    Fonte: GEP, Carta Social 2005.

    0 %10 %20 %30 %40 %50 %60 %70 %80 %90 %

    100 %

    UtilizaoInstalaesSanitrias

    MudanaRoupa

    MedicaoMobilidadeHigienePessoal

    Alimentao

    CARTA SOCIAL

    25

  • A necessidade de vigilncia diria das pessoas em situao de dependncia apresenta-seuma prtica comum e constante nos lares de idosos estudados. A grande maioria dosutentes dependentes carece de ateno permanente, ou atravs de intervalos temporaisreduzidos. Cerca um de em cada trs idosos necessita de vigilncia apenas no perodonocturno.

    Figura 15: Distribuio percentual dos utentes dependentes nos lares de idosos segundo a necessidade

    de vigilncia, 2005

    Fonte: GEP, Carta Social 2005.

    Considerando que em muito casos a pessoa em situao de dependncia encontra-sefragilizada no s a nvel fsico, como tambm psquica e emocionalmente, procurou-seindagar de que forma algumas normas ou regras de funcionamento dos lares de idososseleccionados, constituiriam boas prticas no que concerne ao conforto, relao com omeio exterior e privacidade dos utentes/clientes.

    A informao disponvel indicia que a generalidade das instituies estudadas autoriza ouso do telefone em privacidade, tem por hbito a auscultao regular dos idosos no querespeita sua satisfao em relao aos servios prestados e permite visitas de familiaresou amigos, embora a maioria o faa em regime condicionado/regulado.

    De uma forma geral, a maioria das instituies confirma a existncia de processosindividuais, de um sistema de desenvolvimento individual de cada utente, bem como deuma relao dos bens que cada um levou consigo no momento da institucionalizao.No obstante estes aspectos positivos, ainda assim, cerca de 45 % dos lares inquiridosreconhecem no realizar reunies formais peridicas com as famlias dos idososdependentes.

    Permanente40 %

    Intervaloscurtos34 %

    S noite26 %

    26

  • Relativamente s respostas sociais que alegaram promover reunies regulares com asfamlias, a maioria f-lo semestralmente.

    Fonte: GEP, Carta Social 2005.

    Mais de umapor trimestre

    22 %

    Uma portrimestre

    11 %

    Uma porano

    17 %

    Uma porsemestre

    50 %

    No45 %

    Sim55 %

    Figura 17: Distribuio percentual dos lares de idosos com dependentes (respostas sociaisseleccionadas) segundo o nmero de reunies

    com os familiares, 2005

    Figura 16: Distribuio percentual dos lares de idosos com dependentes (respostas sociaisseleccionadas) segundo o hbito de realizao

    de reunies com os familiares, 2005

    CARTA SOCIAL

    27

  • 4. A Rede de Cuidados Continuados Integrados, um desafio do presentepensado para o futuro

    Como tem sido demonstrado neste artigo, o fenmeno do envelhecimento da populao uma realidade na generalidade dos pases desenvolvidos e apresenta-se como umdesafio s polticas sociais dos Estados-Membros da Unio Europeia (UE). Em Portugal esegundo recentes projeces do Instituto Nacional de Estatstica (INE), a populaoresidente atingir o seu limite mximo dentro em breve, assistindo-se depois a umaprogressiva reduo populacional. Esta previso de diminuio da populao ter comoconsequncia o envelhecimento populacional, aumentando de forma acentuada o pesodos cidados com mais de 65 anos na sociedade. Ainda segundo o INE, Portugalconverter-se- num dos pases da UE com maior percentagem de idosos e menorpercentagem de populao activa em 2050. Em virtude deste cenrio, o nmero deidosos a viver s aumentar nos prximos anos, como aumentar tambm a incidncia dedoenas crnicas, degenerativas e incapacitantes em consequncia da idade.

    Tendo por base as preocupaes expressas no texto anterior, em 16 de Maro de 2006 oConselho de Ministros aprovou o diploma que instituiu a Rede Nacional de CuidadosContinuados Integrados de Sade a Idosos e Dependentes (RNCCI), enquadrada juridica-mente pelo Decreto-Lei n. 101/2006, de 06 de Junho. A RNCCI foi criada porque[] verificam-se carncias ao nvel dos cuidados de longa durao e paliativos, decor-rentes do aumento da prevalncia de pessoas com doenas crnicas incapacitantes. Esto,assim, a surgir novas necessidades de sade e sociais, que requerem respostas novas ediversificadas que venham a satisfazer o incremento esperado da procura por parte depessoas idosas com dependncia funcional, de doentes com patologia crnica mltipla ede pessoas com doena incurvel em estado avanado e em fase final de vida20.

    A Rede de Cuidados Continuados Integrados, tutelada em parceria pelos Ministrios daSade e do Trabalho e da Solidariedade Social composta pelo conjunto das instituies,pblicas ou privadas, que prestam cuidados continuados, tanto no local de residncia doutente como em instalaes prprias. Esta rede destina-se a prestar apoio integrado nasreas da sade e da segurana social atravs de equipas multidisciplinares que actuam noterreno, em estreita colaborao com os hospitais e centros de sade.

    Por Cuidados Continuados Integrados entende-se o conjunto de intervenes sequenciaisintegradas de sade e apoio social, decorrente de avaliao conjunta, visando arecuperao global da pessoa entendida como o processo teraputico e de apoio social,activo e contnuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade dapessoa em situao de dependncia, atravs da sua reabilitao, readaptao e reinserofamiliar e social. So os cuidados de convalescena, recuperao e reintegrao dedoentes crnicos e a pessoas em situao de dependncia21.

    28

    20 Decreto-Lei n. 101/2006, de 06 de Junho, excerto do prembulo deste documento legislativo.21 Conceito retirado de http://www.arslvt.min-saude.pt/.

  • A filosofia dos cuidados continuados integrados assenta no princpio da adequao doscuidados s necessidades de reabilitao ou de manuteno de funes bsicas do indiv-duo, permitindo-lhe, quando possvel, recuperar a autonomia para as actividades da vidadiria e reduzir o seu grau de dependncia. Os cuidados continuados integrados iniciam-secom alta hospitalar, garantindo a continuidade do tratamento atravs da reinsero emunidades de internamento alternativas ao hospital, ou no domiclio do doente, sendoneste caso, o apoio efectuado por equipas de cuidados domicilirios multidisciplinares eresultantes da articulao entre os Centros de Sade e a Segurana Social.

    A RNCCI constituda por Unidades de Internamento: Unidades de Convalescena at30 dias, Unidades de Mdia Durao e Reabilitao de 30 a 90 dias, Unidades de LongaDurao e Manuteno para internamentos superiores a 90 dias e Unidades de CuidadosPaliativos, destinadas a doentes em situao clnica complexa e de sofrimento, decorren-tes de doena severa ou avanada, incurvel e progressiva; Unidades de Ambulatrio(Unidade de dia e de promoo da autonomia); Equipas hospitalares: Equipas de gestode altas e Equipas intra-hospitalares de suporte em cuidados paliativos e Equipas Domici-lirias (Equipas de cuidados continuados integrados).

    Pretende-se com a RNCCI promover as dinmicas de parcerias regionais e locais entreentidades do sector pblico, privado no lucrativo e privado lucrativo, articulando deforma integrada e complementar, como j foi evidenciado, o Servio Nacional de Sadecom o Sistema de Proteco Social.

    A Rede de Cuidados Continuados Integrados uma iniciativa inovadora, criada em 2006com experincia piloto, concretizando-se o seu alargamento apenas a partir de 2007. A RNCCI continua em 2008 em processo de desenvolvimento, tendo sido celebrados atesta data um nmero significativo de acordos (principalmente celebrados com instituiesdo sector social), no mbito das Unidades de Convalescena, Unidades de Mdia Dura-o e Reabilitao, Unidades de Longa Durao e Manuteno e Unidades de CuidadosPaliativos. Ao longo destes dois anos de funcionamento da Rede, os Ministrios da Sadee do Ministrio do Trabalho e Solidariedade Social tm vindo a empreender uma acoconjunta que apoiou cerca de 15 mil utentes, tendo sido criadas at esta data, aproxima-damente 3 mil camas. De acordo com os dados do Ministrio da Sade, durante o 1.semestre de 2008, 81 % dos doentes com alta da RNCCI, tiveram como destino o domic-lio, dos quais, 67 % no continuaram a receber apoio por no ter sido identificada neces-sidade de continuidade dos cuidados.

    Em termos de capacidade instalada, o objectivo constituir at 2016, 2787 Unidades deConvalescena, 3171 Unidades de Internamento de Mdia Durao, 8220 Unidades deInternamento de Longa Durao e 350 Unidades de Cuidados Paliativos. Prev ainda oMinistrio da Sade, que o nmero de postos de trabalho alocados prestao de cuida-dos no mbito da RNCCI possa ser em 2016, de 40 mil a 50 mil.

    A progressiva implementao destas novas respostas integradas, constitui inequivoca-mente uma dupla oportunidade: em primeiro lugar para as prprias pessoas em situaode dependncia, quer essa incapacidade seja de carcter transitrio, ou mais prolongado,

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  • uma vez que tm agora acesso a um maior leque de opes de apoio, porventura maisadequadas e feitas medida das suas necessidades clnicas e sociais; num segundodomnio, constituem tambm uma oportunidade para as instituies sociais do 3. Sector,uma vez que estas organizaes apresentam-se como parceiros privilegiados na imple-mentao destas unidades, capitalizando j uma longa experincia e tradio ao nvel dasparcerias pblico-privado.

    Tendo em considerao a complexidade do fenmeno da dependncia, do seu carctermais transitrio, ou mais permanente e do nvel ou tipo de autonomia que cada caso indi-vidual encerra, no parece crvel, nem porventura adequado, que as novas respostas cria-das no mbito da RNCCI tenham por objectivo abarcar a totalidade da populao depen-dente, no considerando as respostas sociais convencionais da Rede de Servios eEquipamentos (RSES), como igualmente opes vlidas para estas pessoas. Mesmo tendoem ateno que por razes de eventual sobreposio, algumas respostas da RSES,nomeadamente as dirigidas ao grupo alvo da dependncia, podero extinguir-se numfuturo prximo, admite-se, que existiro sempre pessoas em situao de dependncia afrequentar respostas convencionais da RSES, como por exemplo os lares de idosos, o ser-vio de apoio domicilirio ou as respostas dirigidas s pessoas com deficincia.

    Considerando que em muitos casos, as instituies promotoras de respostas no mbito daRNCCI e da RSES possam ser as mesmas ou congneres, as relaes entre as duas Redestendero mais para a complementaridade, do que para a sobreposio, sendo aindaespectvel, como at desejvel, que algumas das novas respostas integradas, criadas nombito da RNCCI, venham num futuro prximo a fazer parte das nomenclaturas e con-ceitos em aco social, integrando desse modo a composio e tipologia das respostassociais da RSES.

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  • 5. Algumas concluses

    Em Portugal continua a subsistir um modelo misto de solidariedade na velhice e nadependncia. Embora em processo de mutao progressiva, a rede informal, ancorada nafamlia ou vizinhana, continua activa no existindo ainda, como noutros pases, umproblema de solidariedade intergeracional. A rede formal, baseada essencialmente nosapoios pblico-privados, pecunirios e/ou em espcie, desenvolvidos atravs dasrespostas da RSES e da RNCCI, tem vindo paulatinamente a reforar no s a capacidadeinstalada, como os meios fsicos, tcnicos e humanos de apoio.

    A investigao comprovou a existncia de pessoas dependentes em todas as 17 respostassociais da RSES estudadas e integradas nos cinco tipos diferentes de populao alvoseleccionados, sendo que cerca de um em cada trs utentes/clientes encontravam-se emsituao de dependncia ou de grande dependncia.

    A maioria da populao com dependncia inserida nos lares de idosos seleccionados(incluam exclusivamente, em 2005, pessoas dependentes ou grandes dependentes), caracterizada por ter ingressado no lar devido incapacidade manifesta em gerir as suasactividades de vida dirias, necessitando diariamente de apoio em praticamente todas asAVD (as ajudas concretizam-se em aspectos como a alimentao, a higiene pessoal, amobilidade, a utilizao de instalaes sanitrias, a mudana de roupa e a medicao), devigilncia diria constante e permanecem institucionalizadas no lar h mais de quatro anos.

    A informao disponvel indicia que a generalidade das instituies estudadas consente ouso do telefone em privacidade, tem por hbito a auscultao regular dos idosos no querespeita sua satisfao em relao aos servios prestados e permite visitas de familiaresou amigos, embora a maioria o faa em regime condicionado/regulado.

    A maioria das instituies confirma ainda a existncia de processos individuais, de umsistema de desenvolvimento individual de cada utente, bem como de uma relao dosbens que cada um levou consigo no momento da institucionalizao.

    A Rede de Cuidados Continuados Integrados a mais recente resposta pblica-privadano mbito do apoio s pessoas em situao de dependncia. A filosofia dos cuidadoscontinuados integrados assenta no princpio da adequao dos cuidados s necessidadesde reabilitao ou de manuteno de funes bsicas do indivduo, permitindo aosutentes da Rede, sempre que possvel, a recuperao da autonomia para as actividadesda vida diria, reduzindo assim o grau de dependncia dos mesmos. O mrito da parceriaentre os Ministrios da Sade e do Trabalho e Solidariedade Social inquestionvel,tendo sido concebidas um conjunto de respostas integradas que visam apoiar odependente desde o internamento ao regresso a casa. A Rede tem vindo a empreenderum dinamismo assinalvel e apresenta-se como uma mais-valia para as pessoas queusufruem dos cuidados e para as instituies que promovem estes servios.

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  • MINISTRIO DO TRABALHOE DA SOLIDARIEDADE SOCIAL

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