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Estudo do Sector do Comércio Informal com Enfoque para a
Comercialização da Fuba de Milho
Município do Lubango
Setembro 2014
Administração Municipal do Lubango
Fundo de Apoio Social
Ficha Técnica
Título: Estudo do Sector do Comércio Informal no Município do Lubango com Enfoque para a Comercialização da Fuba de Milho. Organização: Fundo de Apoio Social (FAS) Coordenação Institucional: Santinho Filipe Figueira, Director Geral Helena Farinha, Directora Geral Adjunta Autoria: Impulso Angola Lda. Consultores:
Hugo Lasala (Consultor Impulso Angola) João Pinto (Consultor Internacional) José M.L. Batuque (Consultor Nacional)
Gestão e Colaboração Municipal: Frederico Sanumbutue - Director Provincial/FAS Huíla Maria Lourdes Faria – Especialista de Desenvolvimento Económico Local / FAS Huíla Fotografias: Hugo Lasala e João Pinto. Design da capa e composição das imagens: Impulso Angola Lda.
Índice
1. INTRODUÇÃO ...................................................................... 13
1.1. Contextualização ............................................................................................ 13
1.2. Metodologia ..................................................................................................... 15
2. ENQUADRAMENTO SECTORIAL ................................... 19 2.1. Milho: características naturais e culturais ................................................... 19
2.2. Contextualização do sector a nível mundial ................................................. 20
2.3. Contextualização do sector em Angola ......................................................... 23
2.4. Exemplos de experiências de sucesso ............................................................ 29
3. MAPEAMENTO DA CADEIA PRODUTIVA ................... 39
3.1. Segmento Fornecedores de Insumos ............................................................. 40
3.2. Segmento Produção Agrícola ........................................................................ 41
3.3. Segmento Intermediários ............................................................................... 45
3.4. Segmento Transformação .............................................................................. 46
3.5. Segmento Comércio Retalho ......................................................................... 49
3.6. Segmento Consumo ........................................................................................ 51
3.7. Ambiente Institucional ................................................................................... 52
3.8. Ambiente político-normativo ......................................................................... 56
4. ANÁLISE DA CADEIA ........................................................ 61
4.1. Visão sistémica da cadeia ............................................................................... 61
4.2. Canais de Distribuição ................................................................................... 63
4.3. Análise do Produto ......................................................................................... 64
4.4. Análise económica/financeira ........................................................................ 65
4.5. Análise crítica: desempenho e governança .................................................. 74
4.6. Análise SWOT ................................................................................................ 82
5. RECOMENDAÇÕES ESTRATÉGICAS ........................... 87
5.1. Acções estratégicas ......................................................................................... 87
5.2. Priorização das intervenções ......................................................................... 92
6. ANEXOS ................................................................................. 96
Índice de Figuras e Fotografias
Figura 1 - Evolução da produção, consumo e variação de stocks do milho a nível mundial ........................................................................................................................... 21 Figura 2. Evolução dos preços do milho no mercado internacional. Fonte: FAOSTAT. .. 23 Figura 3. Metodologia dos Bancos Comunitários de Sementes. .................................... 33 Figura 4. Mapeamento da Cadeia de Fuba de Milho no Município do Lubango ........... 39 Figura 5. Fluxograma de produção da Fuba Limpa e Fuba Pála-Pála ............................ 46 Figura 6. Fluxograma da cadeia produtiva de Fuba de Milho ........................................ 61 Figura 7. Mapa de canais de distribuição da cadeia produtiva de Fuba de Milho do Município do Lubango .................................................................................................... 62
Fotografia 1. Moinho de Milho instalado na comunidade de Río Sumach, Guatemala, através de um projecto financiado pela ONG ActionAid ................................................ 30 Fotografia 2. Moinho de Milho instalado na comunidade de Chamchenga, Malawi, através de um projecto da ONG Malawiáfrica e financiado por Henkel Ibérica ............ 30 Fotografia 3. Silos melhorados, construção em pau-a-pique, desenvolvidos pela ONG Helvetas em Moçambique .............................................................................................. 31 Fotografia 4. Silos melhorados, construção em pau-a-pique e reboco de adobe, desenvolvidos pela ONG Helvetas em Moçambique ...................................................... 32 Fotografia 5. Silos metálicos de baixo custo (tambores) para armazenamento de semente desenvolvidos pela ONG CODESPA na Província do Bié .................................. 32 Fotografia 6. Casa de Farinha gerida de forma cooperativa ao nível comunitário com sala de moagem (transformação primária), cozinha integrada (transformação secundária) e ponto de venda ao público ....................................................................... 34
Índice de Tabelas Tabela 1. Fases do trabalho ........................................................................................................ 15 Tabela 2. Tipologia de actores entrevistados .............................................................................. 16 Tabela 3. Composição nutricional por 100 gr de farinha de milho ............................................. 20 Tabela 4. Principais países produtores de milho (produção ano 2011 em 1000 ton) ................. 20 Tabela 5. Produção mundial de milho (em 1000 ton) ................................................................. 21 Tabela 6. Produtividade do cultivo do milho (Kg/ha) .................................................................. 21 Tabela 7. Principais países importadores de milho (ano 2011)................................................... 22 Tabela 8. Principais países exportadores de milho (ano 2011) ................................................... 22 Tabela 9. Área e produção dos principais produtos agrícolas em Angola .................................. 24 Tabela 10. – Importação de milho em Angola ............................................................................ 24 Tabela 11. Disponibilidade alimentar e consumo per capita de milho em Angola ..................... 25 Tabela 12. Área e produção de milho por tipo de exploração agrícola a nível provincial .......... 27 Tabela 13. Área e produção de milho por EDA na província da Huíla ........................................ 28 Tabela 14. Síntese de algumas experiências de êxito. ................................................................ 35 Tabela 15. Principais insumos e serviços básicos da cadeia produtiva da Fuba de Milho .......... 40 Tabela 16. Listagem de insumos e assistência técnica fornecidos pelo IDA na campanha 2013/14 ....................................................................................................................................... 40 Tabela 17. Principais características dos camponeses e agricultores para o caso do milho. ..... 42 Tabela 18. Número de famílias camponesas e de agricultores existentes e assistidas nos municípios da Huíla. .................................................................................................................... 43 Tabela 19. Número de associações e cooperativas existentes nos municípios da Huíla ............. 43 Tabela 20. Calendário Agrícola ................................................................................................... 44 Tabela 21. Custos médios de operação nas moageiras por 100 Kg de milho ............................. 48 Tabela 22. Principais riscos associados ao processo de transformação da farinha .................... 48 Tabela 23. Principais características dos agentes de comércio a retalho ................................... 51 Tabela 24. Ambiente institucional da cadeia produtiva de fuba de milho .................................. 53 Tabela 25. Ambiente político-normativo da cadeia produtiva de Fuba de Milho ....................... 56 Tabela 26. Descrição dos canais de distribuição da Fuba de Milho. .......................................... 63 Tabela 27. Preços ao consumidor final da Fuba de Milho ........................................................... 64 Tabela 28. Preços ao consumidor final de alguns produtos importados .................................... 64 Tabela 29. Análise econômica financeira do Pequeno intermediário de venda de milho........... 65 Tabela 30. Análise econômica financeira da moageira pequena ............................................... 66 Tabela 31. Análise econômica financeira da Mogaeira tradicional ............................................ 67 Tabela 32. Análise econômica financeira da vendedora (Caso 1) ............................................... 67 Tabela 33. Análise econômica financeira da vendedora (Caso 2) ............................................... 68 Tabela 34. Análise econômica financeira da vendedora (vende na praça) ................................. 69 Tabela 35. Custos, ingressos, lucro líquido e rendimento por comercialização de milho e fuba de milho ............................................................................................................................................ 71 Tabela 36. Outros parâmetros económicos dos actores analisados. .......................................... 72 Tabela 37. Principais pontos críticos da cadeia de Fuba de Milho .............................................. 76 Tabela 38. Parâmetros de análise relacionados com os segmentos da cadeia de Fuba de Milho ..................................................................................................................................................... 77 Tabela 39. Análise SWOT da cadeia produtiva de Fuba de Milho no município do Lubango ..... 82 Tabela 40. Proposta de acções estratégicas para a cadeia de Fuba de Milho............................ 87 Tabela 41. Descrição das propostas de acções estratégicas para a cadeia de Fuba de Milho ... 88 Tabela 42. Proposta de sistema de factores de ponderação ...................................................... 92 Tabela 43. Priorização das acções estratégicas .......................................................................... 93
Introdução
I
Acção manual de desfarelar com peneira para produção de fuba limpa
13
1. Introdução
1.1. Contextualização Este trabalho foi realizado pela empresa Impulso Angola em resposta a um concurso público do Fundo de Apoio Social (FAS) no âmbito do Projecto de Desenvolvimento Local (PDL) para a realização do estudo da cadeia produtiva de Fuba de Milho no Município do Lubango, Província da Huíla.
O FAS é uma agência governamental dotada de personalidade jurídica e autonomia financeira e administrativa, criada em 1994, que visa contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável e redução da pobreza no país. Até meados do ano transacto foi tutelado pelo então Ministério do Planeamento, agora Ministério do Planeamento e Desenvolvimento Territorial. Actualmente, é tutelado pelo Ministério da Administração do Território, estando a ser revisto o seu estatuto na perspectiva de que passe a ser uma instituição que financia iniciativas de desenvolvimento local dos municípios em Angola. O FAS possui actualmente 18 escritórios provinciais e um quadro de pessoal com funcionários efectivos e consultores.
O FAS focaliza a sua actuação através de abordagens participativas a partir das demandas das comunidades, dirigindo as suas actividades ao investimento social nas áreas de educação, água e saneamento, saúde, infra-estruturas básicas e desenvolvimento da economia local e o reforço de capacidades das instituições locais.
O PDL tem como objectivo apoiar o Governo de Angola na implementação da estratégia de desenvolvimento de longo prazo Angola 2025, em complementaridade com as iniciativas das Províncias e Municípios, e estrutura-se em três componentes principais:
• Componente 1 - Infra-estruturas sociais e económicas, visando desagravar as assimetrias territoriais e disparidades sociais no acesso aos bens públicos básicos.
• Componente 2 - Desenvolvimento da Economia Local, visando melhorar o bem-estar social com base numa economia local diversificada.
• Componente 3 - Fortalecimento de capacidades das instituições locais, visando a prestação de serviços de qualidade às famílias mais pobres.
Em particular, os estudos de cadeias produtivas inserem-se no âmbito da Componente 2, a qual apresenta os seguintes objectivos específicos:
• Gerar oportunidades de emprego e o aumento da renda familiar
• Melhorar a capacidade empreendedora dos pequenos produtores, artesãos e prestadores de serviço
• Incentivar e apoiar a criação de pequenas indústrias de transformação
• Revitalizar o mercado local
• Estimular a produção local e vocações regionais
***
Em conformidade com os termos de referência, pretendeu-se com este trabalho realizar um estudo de cadeia produtiva visando identificar e caracterizar os diferentes segmentos existentes e actores intervenientes, bem como realizar uma análise crítica que permitisse
14
identificar os principais obstáculos e potencialidades e as possíveis acções estratégicas para um melhor desempenho da cadeia numa perspectiva de desenvolvimento da economia local.
Este relatório encontra-se dividido em cinco partes principais. Na Parte I faz-se uma breve contextualização da consultoria no âmbito do trabalho do FAS e descreve-se a metodologia utilizada para a realização do estudo. Na Parte II faz-se uma contextualização do sector produtivo a nível mundial, nacional, provincial e municipal. Alguns casos de sucesso e outras experiências com relevância para a cadeia produtiva são também descritas nesta parte. A Parte III consiste no mapeamento da cadeia por forma a identificar e caracterizar os diferentes segmentos existentes e os actores intervenientes. Na Parte IV inclui-se uma análise crítica da cadeia produtiva incluindo a caracterização dos principais canais de comercialização, análise do produto, análise de custos e margens, o desempenho e governança geral e a análise SWOT. Na Parte V identificam-se e caracterizam-se as acções estratégicas que podem ser levadas em consideração para melhorar o desempenho da cadeia produtiva.
***
Os estudos de cadeia produtiva solicitados pelo FAS foram precedidos pela elaboração de Diagnósticos de Perfil Municipal e de Relatórios de Linha de Base para cada município. O presente relatório da cadeia produtiva deve por isso ser lido em paralelo com esses relatórios nos quais consta informação relevante para a interpretação do contexto produtivo, social e econômico do município em questão.
***
A Impulso Angola e a equipa de consultoria gostariam de expressar os seus agradecimentos à Administração Municipal do Lubango pela disponibilidade em acompanhar os trabalhos e apoiar nos contactos institucionais. Um agradecimento particular também à equipa central do FAS em Luanda e à equipa provincial do FAS na Huíla por todo o apoio prestado para a realização deste trabalho, incluindo o acompanhamento da maior parte das visitas de terreno. Por fim, um agradecimento a todos os actores entrevistados, incluindo a nível institucional e agentes da cadeia, os quais funcionaram como fontes de informação privilegiava para a realização deste estudo.
15
1.2. Metodologia Este trabalho tomou como referência a proposta metodológica desenvolvida pelo SEBRAE para estudo sistemático de cadeias produtivas1. Entendeu-se que esta metodologia seria a mais adequada em função do contexto em análise e por possibilitar a incorporação de uma perspectiva de desenvolvimento económico local e superação da pobreza.
Esta abordagem privilegia o carácter sistémico das cadeias produtivas, considerando os diferentes agentes e as relações de interdependência que se geram entre si, bem como outros factores que afectam o seu desempenho e que podem estar localizados, no tempo ou no espaço, nos próprios segmentos da cadeia ou fora dela. Com base nesta perspectiva, analisar a cadeia produtiva significa compreender a sua estrutura e funcionamento, mas também o ambiente institucional e organizacional em que se insere, ou mesmo outros factores (ambientais, culturais, económicos ou tecnológicos) que a influenciam.
Esta abordagem assume características bastante práticas e orientadas para a acção que facilitam o processo de tomada de decisão por parte dos diferentes agentes e actores envolvidos. Por tal razão, o produto do estudo sistemático de cadeias produtivas deve orientar-se para a formulação de propostas de intervenção visando ultrapassar os obstáculos e aproveitar as potencialidades existentes, num contexto de desenvolvimento local.
O estudo desenvolveu-se entre os meses de Julho e Outubro e inclui uma missão de terreno, trabalho de gabinete e um workshop de validação final. A equipa de consultoria da Impulso Angola foi constituída por dois consultores internacionais e um consultor nacional, para além de pessoal técnico da empresa que apoiou a fase de trabalho em gabinete. A tabela seguinte resume as fases da elaboração deste trabalho.
Tabela 1. Fases do trabalho
Julho/Agosto Agosto/Setembro Novembro
Preparação do trabalho
Missão de terreno (29/07 a 05/08):
- Acção de Capacitação
- Colecta de Informação
- Restituição Preliminar
Análise e tratamento da informação Elaboração do Draft do Relatório
Workshop de Validação Elaboração do Relatório Final
No início da missão de terreno foi organizada uma acção de capacitação dirigida aos técnicos do FAS (Provincial), pessoal da Administração Municipal e outros actores relevantes convidados (agentes da cadeia, outras instituições). Esta capacitação visou apresentar a metodologia, discutir conceitos básicos e realizar um mapeamento preliminar da cadeia de forma participativa, com o intuito de orientar a equipa sobre as visitas de campo a realizar e os principais actores a entrevistar.
A colecta de informação baseou-se nos seguintes métodos: observação directa (visitas de campo), entrevistas semi-estruturadas conduzidas por um processo não-probabilístico e intencional (agentes da cadeia, representantes institucionais, informantes-chave), focus group e análise documental (fontes secundárias: estatísticas, documentos oficiais, relatórios, diagnósticos disponíveis).
1 “Cadeias Produtivas Agroindustriais: Metodologia para Estudo Sistemático”. Brasília: SEBRAE/NA, 2000. 56pp.
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Foram entrevistados cerca de trinta pessoas, incluindo agentes da cadeia e informantes-chave de acordo com as tipologias identificadas na tabela seguinte:
Tabela 2. Tipologia de actores entrevistados
Sector Estatal Agentes da Cadeia Mercados Informais Outros
Administração Municipal do Lubango (técnicos e responsáveis)
Direcção Provincial de Agricultura
Vice-Governadora Provincial
Institudo de Desenvolvimento Agrário (IDA)
Estação de Desenvolvimento Agrário (EDA)
Camponeses
Associação Agricultores
Pequenas Moageiras
Moatrimil
Lojas e Supermercados
Vendedoras/Transformadoras
Mercado João de Almeida
Mercado Municipal
Vendedoras Ambulantes
Soba do Lubango
FAO
Restaurantes e Hoteis
Padaria
Armazéns
Responsável EPUNGO (Huambo)
A equipa local do FAS participou ativamente e apoiou a equipa de consultores durante a missão de terreno facilitando assim a colecta de informação e os contactos locais. No final da missão de terreno realizou-se uma restituição à equipa local do FAS sobre os principais constrangimentos encontrados e algumas conclusões preliminares. O relatório preliminar contendo o tratamento e análise da informação foi objecto de discussão e validação num workshop realizado no dia 18 de Novembro de 2014.
17
Enquadramento Sectorial
II
Milho em fermentação nas instalações de moageira semi-industrial
19
2. Enquadramento Sectorial
2.1. Milho: características naturais e culturais O milho (Zea mays L.) pertence à família das gramíneas e é um dos três cereais mais produzidos em todo o mundo, juntamente com o trigo e arroz. É uma espécie originária da América Central, fruto de um processo de domesticação a partir de variedades selvagens. Estima-se que o uso desta planta na alimentação tenha começado há milhares de anos (7.000 a.C.). Hoje existem mais de 300 variedades de milho identificadas, todas elas com origem directa ou indirecta dos processos de selecção natural das civilizações da América Central. O milho foi posteriormente disseminado em todo o mundo a partir da época dos descobrimentos.
Sendo a base da alimentação das civilizações da América Central, o milho poderia ser consumido em verde, mas a maioria da produção era armazenada para ser consumida ao longo do ano em receitas tradicionais como os tamales e as tortilhas. Um dado curioso é que este processamento alimentar implicava a nixtamalização, ou seja, o aquecimento de água, sumo de lima e cal até o milho se tornar uma pasta moldável. Este processo tornou-se vital para a saúde desses povos cuja dieta se centrava exclusivamente no milho, uma vez que a cal quebrava um elemento químico levando o grão a libertar niacina. Este conhecimento empírico não foi passado pelos povos locais aos colonizadores europeus. Como conseqüência, a pelagra (doença nutricional provocada pela carência de niacina) proliferou no continente europeu onde se introduziu o milho causando muitas mortes2.
A importância milho para a alimentação e economia levou ao desenvolvimento de grandes projectos de melhoramento genético desta cultura a partir do século XX. O desenvolvimento de linhas puras por auto-fecundação por várias gerações e do seu cruzamento levou ao surgimento de variedades híbridas altamente produtivas. Posteriormente foram introduzidas várias modificações genéticas (biotecnologia) com o intuito de obter variedades mais resistentes a pragas e doenças, bem como variedades mais adaptadas a diferentes contextos edafo-climáticos. Como é sabido, estas práticas biotecnológicas têm gerado intensos debates sobre as vantagens e os potenciais riscos associados ao uso e disseminação de Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
Uma outra controvérsia actual associada à cultura do milho diz respeito ao seu cultivo para a produção de etanol (biocombustível). De um lado, encontram-se os que defendem as vantagens da utilização de culturas agrícolas com fins energéticos (milho, soja, colza, jatrofa, mamona, girassol, cana de açúcar, etc.) e supostamente mais sustentáveis, face ao previsível esgotamento dos combustíveis fósseis; por outro, os que contradizem esses benefícios e alertam para os riscos de fome generalizada em virtude da competição entre culturas agrícolas para a produção de energia vis-a-vis a garantia da segurança e soberania alimentar, em particular nos países do Sul.
O milho é uma cultura muito versátil e de alto valor nutricional. Pode ser usado de forma directa na alimentação humana (diferentes tipos de farinhas e diversos produtos transformados e derivados), ou de forma indirecta através do fabrico de rações para a alimentação animal. Em muitos países, incluindo Angola, o milho é um dos alimentos base da alimentação. Contudo, nos países industrializados, é sobretudo utilizado para o fabrico de rações animais. 2 KIPLE, Kenneth F. “Uma História Saborosa do Mundo: Dez milênios de globalização alimentar”. Lisboa: Casa das Letras, 2008.
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O milho é uma matéria-prima muito valiosa na indústria alimentar, podendo originar centenas de produtos diferenciados (flocos de cereais, óleos, margarinas, pipocas, produtos de pastelaria e panificação, bebidas, etc.). É também utilizado na indústria cosmética e farmacêutica.
Tabela 3. Composição nutricional por 100 gr de farinha de milho
Nutriente Composição
Água % 12,00
Calorias 362
Proteínas gr 9,00
Gordura gr 3,40
Hidratos Carbono gr 74,50
Fibra gr 1,00
Cinzas gr 1,10
Cálcio mg 6,00
Ferro mg 1,80
Fósforo mg 178
Tiamina mg 0,30
Riboflavina mg 0,08
Niacina mg 1,90 Fonte: adaptado de Miracle, 1966
2.2. Contextualização do sector a nível mundial O consumo de milho tem vindo a aumentar aceleradamente. O rápido crescimento da indústria do etanol nos Estados Unidos, a evolução dos países asiáticos, os novos mercados e o aumento da população são algumas das razões que levaram a que o consumo mundial de milho tenha tido um crescimento de mais de 35% durante a última década.
Os Estados Unidos são o principal produtor de milho e juntamente com a China, que praticamente duplicou a sua produção a partir de 2001, eram, em 2011, responsáveis por cerca de 57% da produção mundial, seguidos pelo Brasil, pela Argentina e pela India.
Tabela 4. Principais países produtores de milho (produção ano 2011 em 1000 ton)
País Produção % Total
EUA 313.949 35,36
China 192.781 21,71
Brasil 55.660 6,27
Argentina 23.800 2,68
India 21.760 2,45
Mundial 887.855 100 Fonte: FAOSTAT
21
Tabela 5. Produção mundial de milho (em 1000 ton)
Região 2006 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Mundo 706.847 830.611 820.203 851.271 887.855 872.791 1.016.432
África 49.523 58.953 59.888 66.254 66.53 70.077 71.008
América do Norte 276.491 317.734 342.109 327.879 324.637 286.880 367.893
América do Sul, Central e Caribe 92.960 121.556 98.938 117.390 113.479 131.516 155.005
Ásia e Oceania 210.997 239.138 235.234 254.827 272.548 289.554 305.049
Europa 76.876 93.231 84.031 84.921 110.655 94.765 117.476 Fonte: FAOSTAT
Tabela 6. Produtividade do cultivo do milho (Kg/ha)
Região 2006 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Mundo 4.817 5.106 5.167 5.189 5.154 4.888 5.517
África 1.780 1.919 2.004 2.066 1.924 2.056 2.033
América do Norte 9.326 9.638 10.270 9.597 9.225 7.801 9.954
América do Sul, Central e Caribe 7.724 8.755 7.853 8.773 8.391 8.845 9.557
Ásia e Oceania 10.601 11.198 11.295 11.158 11.631 12.164 12.206
Europa 5.693 6.050 6.064 6.092 6.660 5.168 6.192 Fonte: FAOSTAT
Nas últimas campanhas tem-se observado uma queda da relação stock / consumo devido a um crescimento do consumo que não foi possível acompanhar por parte da produção (recordemos que, este ano, os Estados Unidos reduziram a oferta para o comércio mundial). Esta tendência é evidente nas projecções da campanha 12/13, onde se verifica uma demanda de 854,302 milhões de toneladas, uma produção de 841,05, um stock de 123,953 milhões de toneladas e uma relação stock / consumo de 14,51%.
Figura 1 - Evolução da produção, consumo e variação de stocks do milho a nível mundial
22
Em 2011, foram exportadas mais de 109.000 toneladas de milho, alcançando um valor próximo dos 34 milhões de Dólares. O principal exportador do produto são os Estados Unidos, que assumem cerca de 42% do volume das exportações com mais de 45 milhões de toneladas. A seguir vem a Argentina e o Brasil com cerca de 14% e 9% das exportações respectivamente. Observa-se que as importações se encontram mais distribuídas, sendo encabeçadas pelo Japão (14%), México (9%), República da Coreia (7%) e Egipto (7%).
O preço do milho em exportação alcançou em 2011 os 307,6$/tn, o que representava uma descida de mais de cerca de 60% em relação ao preço de 2002. Em África, a flutuação de preços do milho pode considerar-se similar à evolução mundial, no entanto, regista um preço de exportação inferior.
Tabela 7. Principais países importadores de milho (ano 2011)
País Importação (1000 ton)
% Valor
(1000 USD) % Valor Unitário
($/ton)
Japão 15.285 14 5.347.247 15 349,8
México 9.476 9 2.989.322 8 315,5
República da Coreia 7.759 7 2.248.200 6 289,8
Egipto 7.048 7 2.179.859 6 309,3
Espanha 4.824 4 1.567.668 4 325,0
Taiwan 4.148 4 1.385.015 4 333,9
Irão 3.645 3 1.294.012 4 355,0
Holanda 3.483 3 1.114.210 3 319,9
Indonésia 3.208 3 1.028.527 3 320,6
Argélia 3.153 3 999.094 3 316,9
Mundial 108.067 100 36.342.489 100 336,3 Fonte: FAOSTAT
Tabela 8. Principais países exportadores de milho (ano 2011)
País Exportação (1000 ton)
% Valor
(1000 USD) % Valor Unitário
($/ton)
EUA 45.888 42 13.982.404 41 304,7
Argentina 15.806 14 4.518.823 13 285,9
Brasil 9.487 9 2.716.354 8 286,3
França 6.247 6 2.539.203 8 406,5
Ucrânia 7.806 7 1.982.725 6 254,0
Mundial 109.646 100 33.727.471 100 307,6 Fonte: FAOSTAT
23
Figura 2. Evolução dos preços do milho no mercado internacional.
Fonte: FAOSTAT.
2.3. Contextualização do sector em Angola (Nacional, Provincial, Municipal
2.3.1 Nível nacional Em termos de área cultivada, o milho constitui a principal cultura agrícola a nível nacional, superando mesmo o grupo das leguminosas (onde se incluem importantes culturas como o feijão e o amendoim) e as raízes e tubérculos (onde se inclui a mandioca). No entanto, a produtividade da cultura a nível nacional situa-se pouco acima dos 700 kg/ha, o que representa menos de metade da média do continente africano que é de cerca de 2.000 Kg/ha.
De acordo com dados oficiais do Ministério da Agricultura, verifica-se que os valores de área e quantidade produzida têm verificado ligeiros aumentos nos últimos anos situando-se actualmente em cerca de 1.700.000 ha e 1.260.000 ton, respectivamente.
Em termos nacionais, claramente é a agricultura familiar a maior responsável pela produção de alimentos, incluindo também a cultura do milho. A agricultura familiar é responsável por 90% da área cultivada de milho, contra apenas 10% da agricultura empresarial. Em termos produtivos a agricultura familiar é responsável por 1.038.000 ton, contra apenas 224.500 ton da agricultura empresarial3.
As importações de milho têm vindo a diminuir progressivamente, mas ainda representam mais de doze milhões de dólares anuais, correspondendo a 18.000 ton. Note-se, também que a volatilidade dos preços dos cereais no mercado internacional pode determinar significativos custos de importação como os que ocorreram em 2008 e 2011.
3 Dados oficiais do Ministério da Agricultura referentes às Campanhas Agrícolas 2008-2011.
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Tabela 9. Área e produção dos principais produtos agrícolas em Angola
Área (1000 ha) Produção (1000 ton)
2008/09 2009/10 2010/11 2008/09 2009/10 2010/11
Cereais 1.801 1.973 2.142 1.053 1.178 1.409
Milho 1.544 1.568 1.722 970 1.073 1.262
Massango/Massambala 243 380 394 68 87 123
Arroz 14 25 26 14 18 23
Trigo - - - - - -
Leguminosas 1.013 1.035 1.126 364 371 472
Feijão 710 724 795 247 250 303
Amendoim 289 297 317 111 115 161
Soja 14 14 15 6 6 8
Raízes e Tubérculos 1.259 1.321 1.350 14.633 15.687 16.219
Mandioca 994 1.046 1.082 12.827 13.858 14.333
Batata-rena 103 105 107 823 841 841
Batata Doce 161 170 161 982 986 1.045
Frutícolas - 173 176 - 2.758 3.389
Hortícolas - 400 407 - 4.729 5.188 Fonte: FAOSTAT
Tabela 10. – Importação de milho em Angola
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Volume (ton) 112.000 85.000 28.675 7.060 34.265 39.582 29.066 18.473
Valor (milhares USD) 12.959 12.291 4.150 1.100 13.699 11.165 6.320 11.995
Valor Unitário (USD/ton) 115,7 144,6 144,7 155,8 399,8 282,1 217,4 649,3
Fonte: FAOSTAT
Do total da produção agrícola apenas uma parte fica disponível para a alimentação. Para se estimar correctamente a disponibilidade alimentar é necessário entrar em linha de conta com as exportações, as variações de stock, a quantidade destinada a semente, as perdas existentes ao longo da cadeia produtiva (perdas pós-colheita, perdas transporte, perdas armazenamento, perdas nos mercados) e a quantidade que vai para a indústria de processamento. A tabela seguinte apresenta esses cálculos para o caso do milho em Angola.
Verifica-se que a disponibilidade alimentar real de milho ronda as 800.000 ton, representando um consumo per capita de 40 Kg/habitante/ano. Estima-se que as perdas ao longo da cadeia sejam da ordem dos 14% e que cerca de 3% do total da produção seja destinada a semente e 12% a alimentação animal.
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Tabela 11. Disponibilidade alimentar e consumo per capita de milho em Angola
Parâmetro (1000 ton) 2009 2010 2011
Produção 970 1.073 1.262
Importação 209 179 232
Exportação 0 0 0
Variação stocks -170 -75 -240
Consumo alimentar 729 782 797
Semente 30 36 40
Indústria 25 72 90
Perdas 124 154 174
Alimentação animal 101 101 154
Consumo per capita anual (Kg) 38,6 40,1 39,9 Fonte: FAOSTAT
2.3.2 Contextualização do sector na Província A Província da Huíla encontra-se situada no Sudoeste da República de Angola. Conta com uma superfície de 78.879 km² e uma população estimada acima dos 3 milhões de habitantes, dos quais 1,4 milhões estão concentrados na sua capital, Lubango, com uma extensão de 3.140 km2. Administrativamente, a província da Huíla conta com um total de 14 municípios e 39 comunas (ver Anexo II).
A província está integrada num vasto conjunto de superfícies planálticas do interior angolano, com altitudes que oscilam entre os 1.000 e os 2.300 metros. O seu clima varia entre o tropical de altitude da zona Centro-Norte e o semiárido nas áreas de menor altitude, com duas estações:
• Chuvosa de Outubro a Abril, com temperaturas entre 19-21ºC e precipitações entre 600 e 1.200 mm.
• Seca (Cacimbo), resto do ano, com temperaturas médias entre 15,5-19ºC, ausência de chuva e humidade relativa do ar bastante baixa.
A agricultura, a silvicultura e a pecuária são as principais actividades económicas da província, apesar de serem afectadas pela falta de meios e tecnologias modernas assim como pela irregularidade e escassez de chuvas, que condiciona de forma significativa a produção agrícola e a pecuária.
A contribuição da economia provincial da indústria é reduzida, centrada principalmente em materiais de construção, madeira e mobiliário. No entanto, a disponibilidade da Huíla em matéria mineral é muito importante com reservas de ouro, diamantes, granito, magnésio, etc.
Por último, importa referir que o potencial turístico da província é extremamente importante, com atractivos relevantes como a Fenda da Tundavala (acesso actualmente reabilitado), a Serra da Leba, O Cristo Rei, a Nossa Senhora do Monte, a Cascata da Huíla, etc.
Em matéria de comunicações, a província conta com uma rede de estradas principal identificada no Anexo III como rede principal de estradas já construídas, em fase de construção e/ou reabilitação ou previstas.
Em matéria de energia eléctrica na província, o fornecimento provém da central hidroeléctrica de Matala (Huíla) e das centrais térmicas do Lubango, Namibe e Tombwa, as duas primeiras
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em processo de ampliação. No entanto, para fortalecer este sistema é, neste momento, prioritária a criação do parque eólico da Baía dos Tigres assim como das linhas de distribuição que unam todas estas centrais, acções todas elas contempladas entre os projectos prioritários do Plano de Acção de Energia e Águas 2013 -2017 do Ministério da Energia e Águas.
Em termos de electrificação rural, o Plano inclui projectos para estabelecer pequenos sistemas de distribuição de energia eléctrica que possam incluir pequenos sistemas de produção através de minicentrais hidráulicas.
No que toca à água, apenas 15% da população da Província tem acesso a água potável. Assim como 57% da população bebe água das cacimbas, 18% bebe água directamente dos rios, 6% de chafariz e 3% de lagos e lagoas, mas apenas 1% tem água provinda de rede de abastecimento. Por outro lado, a rede de saneamento é muito limitada.
Na questão social, de acordo com dados recolhidos no Plano de Desenvolvimento da Província da Huíla 2013 – 2017, a província dispõe de centros de diferentes níveis de ensino (geral, médio e superior), assim como de formação técnica profissional, distribuídos pelos municípios de forma muito desigual, concentrando-se maioritariamente no município do Lubango. Neste último, também se concentra a maioria das unidades hospitalares da província, apesar de dispor de uma rede sanitária de cuidados primários que abrange todos os municípios.
Com base nesta análise, o Governo Provincial, juntamente com o Nacional, estabeleceu uma série de áreas de intervenção prioritária nas quais incidem acções presentes e futuras que fazem parte da estratégia de combate à pobreza e que incluem: Segurança alimentar e desenvolvimento rural; Governação; Infra-estruturas Básicas; Emprego e Formação Profissional; Gestão Macroeconómica; Reinserção Social; Protecção Civil; Educação e Saúde
Particularmente, na área de Segurança Alimentar e desenvolvimento rural, procura-se uma revitalização da economia rural que ajudará a fixar a população no campo e conduzirá progressivamente a uma redução da dependência de produtos agrícolas provenientes do exterior.
Os municípios de Matala, Chicomba, Caconda e Caluquembe representam o celeiro da província. O potencial agrícola da região, com a existência de uma área de regadio de mais de 45 quilómetros, contribui para garantir o fornecimento de alimentos à província. A distribuição de sementes, fertilizantes e ferramentas por parte do Ministério, contribui para a diversificação e para o aumento da produção e das áreas de cultivo.
Relativamente ao sector do milho, e de acordo com os dados oficiais do Ministério da Agricultura, verifica-se que a Província da Huíla responde por 11,7% da área e 13,2% da produção de milho a nível nacional. No ranking provincial a Huíla é a quarta maior produtora de milho, sendo apenas superada pelo Huambo, Kuanza Sul e Bié.
Na Província da Huíla as explorações agrícolas do tipo familiar são responsáveis por 80% da produção (132.661 ton) e as explorações agrícolas do tipo empresarial por 20% (33.581 ton). Relativamente às áreas cultivadas, a agricultura familiar é responsável por 88,4% (178.925 ha) e a agricultura empresarial por 11,6% (23.406 ha).
A tabela 12 sintetiza os dados de produção e área cultivada de milho a nível provincial para os dois tipos de agricultura.
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Tabela 12. Área e produção de milho por tipo de exploração agrícola a nível provincial
Área Semeada (ha) Produção (ton)
Familiar Empresarial Familiar Empresarial
NORTE 188.192 11.098 126.736 19.649
Cabinda 8.590 61 3.919 52
Zaire 9.315 74 5.417 91
Uíge 39.680 424 33.376 596
Malange 53.567 6.621 35.492 13.803
Kuanza Norte 12.589 94 9.098 136
Bengo 16.395 2.126 8.635 2.399
Luanda 821 132 479 212
Lunda Norte 17.462 592 7.841 871
Lunda Sul 29.773 974 22.479 1.489
CENTRO 1.093.368 130.305 735.609 167.662
Kuanza Sul 326.843 27.552 198.140 33.255
Benguela 151.182 17.847 71.808 22.676
Huambo 362.726 47.282 260.598 69.273
Bié 217.995 35.159 181.007 39.485
Moxico 34.622 2.465 24.056 2.973
SUL 272.161 26.861 175.339 37.227
Huíla 178.925 23.406 132.661 33.581
Namibe 24.310 1.174 8.887 1.487
Cunene 8.297 1.026 3.931 587
Kuando Kubango 60.629 1.255 29.860 1.572
NACIONAL 1.553.721 168.264 1.037.684 224.538 Fonte: MINAGRI (Campanha Agrícola 2010/11)
2.3.3 Contextualização do sector no Município Não foi possível obter dados da produção agrícola desagregados por município. Junto do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) obtiveram-se dados de produção desagregados por Estação de Desenvolvimento Agrário (EDA). Existem 15 EDA na província da Huíla, cuja área de abrangência coincide basicamente com os respectivos municípios. O município do Lubango é abrangido pelas EDAs de Hoque e Munhino.
Os dados fornecidos pelo IDA apresentam ligeiras discrepâncias relativamente aos dados oficiais publicados pelo Ministério da Agricultura. Essa discrepância pode ser explicada pela fiabilidade na recolha de dados, dado serem conhecidas as debilidades do sistema de informação agrícola no país.
A área de maior produção de milho localiza-se no triângulo geográfico de Caconda – Quipungo – Matala. Os maiores produtores a nível municipal são Chicomba, Caconda, Caluquembe, Matala e Quipungo que em conjunto totalizam cerca de 70% da produção da Huíla. Percebe-se que o município do Lubango não é um grande produtor de milho. Contudo, este município tem
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uma relevância grande em termos da comercialização da fuba de milho, dado que é um município urbano que concentra grande parte da população.
Tabela 13. Área e produção de milho por EDA na província da Huíla
Campanha Agrícola 2011/12 Campanha Agrícola 2013/14
Área (ha)
Produtividade (ton/ha)
Produção (ton)
Área (ha)
Produtividade (ton/ha)
Produção (ton)
Humpata 2.520 450 1.134 1.216 450 547
Hoque 6.038 600 3.623 6.561 600 3.937
Munhino 4.024 450 1.811 4.718 450 2.123
Humpata 2.520 450 1.134 1.216 450 547
Chíbia 18.556 800 14.845 26.759 800 21.407
Quipungo 22.747 1.000 22.747 35.908 1.000 35.908
Matala 22.387 1.000 22.387 39.601 1.000 39.601
Jamba 16.095 900 14.486 16.715 900 15.044
Kuvango 12.251 800 9.801 13.165 800 10.532
Cacula 11.406 450 5.133 14.103 800 11.282
Quilengues 3.459 450 1.557 7.109 450 3.199
Caluquembe 25.605 1.000 25.605 49.501 1.000 49.501
Caconda 26.004 1.000 26.004 38.895 1.000 38.895
Chicomba 29.240 1.000 29.240 46.208 1.000 46.208
Gambos 5.170 300 1.551 2.705 300 812
Chipindo 13.974 1.000 13.974 16.779 1.000 16.779
Total 219.476 883 193.896 319.943 984 295.774 Fonte: IDA Provincial da Huíla, Relatórios Campanhas Agrícolas 2011/12 e 2013/14
De acordo com a classificação de zonagem agrícola do Ministério da Agricultura este município insere-se na Região IV – Zona Agroecológica de Baixa Pluviosidade (ver Anexo IV). Relativamente à classificação por modos de vida o município do Lubango indere-se na Região 04 – Região Sul/Produção de Gado eMilho (ver Anexo V).
O Município do Lubango conta com uma superfície de 3.140 km² e situa-se a Sudoeste da província, contando com uma população residente calculada em 1.414.115 habitantes, concentrados em mais de 80% na cidade do Lubango e arredores (Comuna Sede). A mesma divide-se em cinco comunas: Lubango Sede, Arimba, Hoque, Huíla e Quilemba.
Ao localizar-se também neste município a capital da província, é neste que se concentra o maior número de equipamentos e infra-estruturas colectivas ou sociais, incluindo hospitais, instituições educativas e de ensino, desportivas, turísticas, etc., administrações governamentais e administrativas, e a maioria das empresas.
O município do Lubango conta tanto como características urbanas como rurais, representando um importante potencial para a produção agro-pecuária, para a indústria extractiva, para a indústria ligeira, para o comércio, para os serviços, para a hotelaria e para o turismo.
O sector agro-pecuário é um elemento extremamente dinamizador da vida económica do município e dele depende de forma significativa o comércio e a prestação de serviços
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mercantis. Trata-se de um sector de importância estratégica, particularmente em relação à criação de uma base sustentável que garanta a segurança alimentar.
Desta forma, a produção de cereais, frutícolas e hortícolas juntamente com a produção de gado asseguram a subsistência dos núcleos familiares ao mesmo tempo que lhes permite aceder parcialmente a um mercado que representa a principal fonte de rendimentos das famílias.
A actividade económica praticada no município é maioritariamente de carácter familiar e artesanal, sendo as áreas e os níveis de intervenção do segmento empresarial muito reduzidos. Não obstante, existe um crescente grau de associativismo e de produção cooperativa nos sectores agrícola e pecuário, apesar destas estruturas ainda implicarem limitações significativas ligadas aos direitos de propriedade assim como ao acesso a recursos financeiros e técnicos indispensáveis para uma gestão competitiva dos negócios e actividades.
A actividade industrial tem evidenciado um crescimento sustentável no município apesar das limitações significativas existentes em matérias-primas fundamentais para a produtividade e para a viabilidade da actividade económica tais como o acesso a energia e a água, cujo serviço regular actualmente ainda não está assegurado. Estes factos constituem um factor limitador para a instalação da actividade transformadora ao aumentar os custos de produção.
Da mesma forma, a indústria extractiva (granito negro, areia, rocha calcária, etc.), assim como a actividade comercial e a prestação de serviços, tanto de carácter formal como informal, constituem outros segmentos de actividade geradores de ocupação e de rendimentos para a população do município.
Tal como já foi indicado, o município, e particularmente a Comuna Sede, tira proveito da localização da maior parte das infra-estruturas económicas (aeroporto, caminho de ferro, rede de estradas) e sociais da província, o que constitui um elemento potencialmente dinamizador da actividade económica, particularmente no que diz respeito ao sector hoteleiro e turístico, também favorecido pela localização próxima de algum dos pontos turísticos de maior interesse.
2.4. Exemplos de experiências de sucesso Pretende-se neste ponto analisar algumas experiências de sucesso que possam servir de referência para possíveis intervenções na cadeia produtiva. Tais experiências – que podem ser um projecto bem-sucedido, uma inovação tecnológica, uma boa prática/metodologia, uma diferenciação de produto –, são úteis para apoiar os técnicos do FAS e das Administrações Municipais na definição de possíveis apoios para a cadeia.
2.4.1 Moinhos de Baixo Custo O processo de moagem do milho de forma artesanal é uma tarefa que obriga a um significativo esforço físico e que pode demorar várias horas, consumindo muito do tempo útil das famílias, em particular das mulheres. A possibilidade de instalação de pequenos moinhos simples e de baixo custo contribui decisivamente para tornar o processo de moagem mais rápido, libertando tempo disponível para as mulheres se dedicarem a outras tarefas, incluindo a agricultura e venda nos mercados, para além de todas as tarefas domésticas e familiares que já estão sob a sua responsabilidade.
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Existem inúmeros modelos de moinhos com diferentes dimensões e capacidades de laboração (ver fotos 1 e 2). Alguns podem mesmo ter diferentes funções incorporadas como sejam o desfarelamento e diferentes tipos de moagem (mais fina ou mais grossa). Podem ser muito simples e por isso adaptados a uso individual (famílias), ou de maior capacidade e por isso adaptados para uso comunitário.
Fotografia 1. Moinho de Milho instalado na comunidade de Río Sumach, Guatemala, através de um
projecto financiado pela ONG ActionAid
Fotografia 2. Moinho de Milho instalado na comunidade de Chamchenga, Malawi, através de um
projecto da ONG Malawiáfrica e financiado por Henkel Ibérica
Também apresentam várias desvantagens, como seja a dependência de energia eléctrica ou combustível para o funcionamento do motor. Contudo, existem também algumas versões que
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funcionam de forma manual através de manivela ou com um sistema de pedais incorporado. Outra desvatangemé que na maior parte das vezes trituram demais o grão, comprometendo a qualidade da farinha. Também não são muito adaptados para a obtenção de fuba limpa, embora se saiba que a farinha pála-pála seja mais nutritiva.
2.4.2 Silos de Baixo Custo A conservação e armazenagem do milho é uma tarefa central para as comunidades rurais que lhes permite dispor de cereais para consumo em épocas de maior escassez (reservas alimentares), guardar os grãos em condições adequadas para a época de sementeira seguinte, ou aramazenar o milho para venda em épocas de maior procura e, consequentemente, de preços mais elevados.
Existem inúmeros modelos de silos com diferentes capacidades de armazenamento e construídos com diferentes materiais. A indústria oferece já algumas soluções relativamente baratas de silos construídos em plástico ou metal. Contudo, existem também opções bem mais simples e de custo muito reduzido que podem ser mais interesantes para o contexto rural de muitas comunidades em Angola.
Por exemplo, a ONG suíça Helvetas desenvolveu em Moçambique uma solução de silos de baixo custo que podem ser construídos pelas próprias comunidades utilizando pau-a-pique e reboco de adobe (ver fotos 3 e 4). As tampas dos silos podem ser construídas em metal ou mesmo em bambu. Estes silos tem a vantagem de manter os grãos com uma temperatura estável e de os proteger de pragas e roedores; contudo, não são completamente herméticos.
Outra solução ainda mais simples foi desenvolvida em Angola pela ONG espanhola CODESPA na província do Bié. Trata-se da reutilização e aproveitamento de tambores metálicos utilizados pela indústria alimentar de Luanda para a obtenção de pequenos silos de baixo custo (ver foto 5). Estes tambores têm capacidade para 175 Kg de semente e são vendidos aos camponeses a cerca de 2.500 Akz. Em função da sua dimensão, são mais indicados para armazenamento de grãos para semente e têm a vantagem de permitir uma conservação totalmente hermética. As condições de humidade obtidas são excelentes.
Fotografia 3. Silos melhorados, construção em pau-a-pique, desenvolvidos pela ONG Helvetas em
Moçambique
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Fotografia 4. Silos melhorados, construção em pau-a-pique e reboco de adobe, desenvolvidos pela
ONG Helvetas em Moçambique
Fotografia 5. Silos metálicos de baixo custo (tambores) para armazenamento de semente
desenvolvidos pela ONG CODESPA na Província do Bié
2.4.3 Bancos Comunitários de Sementes Esta metodologia foi desenvolvida no quadro do projecto “Sementes do Planalto” implementado na província do Bié pela ONG espanhola CODESPA com o intuito de facilitar o acesso a semente pelos camponeses.
O seu objectivo principal é a consolidação de micro-empresas de produtores que produzem e fornecem de forma sustentável e participativa sementes de boa qualidade visando abordar dois problemas principais que afectam as áreas rurais de Angola: i) falta de sementes de qualidade; e ii) sementes de qualidade com preços elevados.
A estratégia consiste em promover sistemas de produção e multiplicação de sementes de boa qualidade para a criação de bancos de sementes comunitários para a produção e o
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fornecimento sustentável de sementes de boa qualidade aos pequenos camponeses. Até ao momento o projecto tem sido focado apenas em algumas sementes (feijão, soja e milho). A figura seguinte resume esta metodologia dos bancos comunitários.
Figura 3. Metodologia dos Bancos Comunitários de Sementes.
Fonte: CODESPA (Projecto de Sementes do Planalto)
Esta metodologia combina a produção da semente com formações em gestão que pretendem viabilizar economicamente tanto os bancos de sementes como os micro negócios de multiplicação. Esta metodologia assume também uma visão de construção de capacidades institucionais e de sustentabilidade uma vez que privilegia as parcerias com diferentes entidades do território: Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), Serviço Nacional de Sementes (SENSA), Direcção Provincial de Agricultura, Instituto de Investigação Agronómico (IAA), entre outros.
Os camponeses provedores de semente de boa qualidade podem inclusivamente começar a fornecer as entidades oficiais. Até ao momento o projecto capacitou 114 microempresários de multiplicação de sementes cobrindo uma área de 57 ha de produção e associados em 17 cooperativas. Foram constituídos 6 bancos de sementes comunitários. Esta metodologia integra também a componente das Escolas de Campo (ECA) para facilitar o processo junto aos camponeses. Foram implementadas 24 ECA nas 17 cooperativas.
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2.4.4. Casas de Farinha
Casa de Farinha é o nome genérico utilizado no Brasil para designar as pequenas unidades de transformação de farinha a nível comunitário. No caso desse país, a maior parte destas unidades destinam-se à produção de farinha de mandioca, mas existem também unidades dirigidas à produção de farinha de milho em pequena escala. Estas unidades são indicadas para iniciativas de desenvolvimento local a nível comunitário e devem ser organizadas e geridas de forma associativa ou cooperativa por forma a assegurar economia de escala e maior efectividade no investimento.
O grande diferencial destas unidades é que para além da componente de moagem para a transformação primária (farinha), incorporam também uma área para transformação secundária (produtos derivados) através de uma pequena cozinha. Isso permite agregar valor à farinha de milho através da produção de vários outros produtos – como bolos, biscoitos, pipocas, bebidas, etc. – de maior valor agregado. Para esse efeito é necessário um trabalho simultâneo de sensibilização e capacitação das mulheres no âmbito da transformação de produtos alimentares artesanais a partir da farinha.
Na sala de moagem, para além dos equipamentos simples de desfarelamento e trituração do grão, pode ser ainda incorporada uma pequena máquina de embalamento da farinha (sacos de 1 kg, 5 Kg, 25 Kg) que permite aos beneficários apresentar o produto de forma diferenciada e aumentar as suas possibilidades de inserção nas redes de comércio a retalho formais (supermercados), incluindo a utilização de uma marca própria.
Fotografia 6. Casa de Farinha gerida de forma cooperativa ao nível comunitário com sala de moagem (transformação primária), cozinha integrada (transformação secundária) e ponto de venda ao público
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Tabela 14. Síntese de algumas experiências de êxito.
Moinhos de Baixo Custo
Silos de Baixo Custo Bancos Comunitários de Sementes
Casas de Farinha
Tipo Tecnologia Processamento
Tecnologia Armazenamento
Metodologia Processo
Objectivo Produzir farinha a baixo custo
Armazenar e conservar cereal e semente a baixo custo
Introduzir sistemas de produção e multiplicação de sementes a nível comunitário
Introduzir inovação tecnológica e diversificar oferta de derivados
Resultados Diminuição do tempo de trabalho na tarefa de moagem manual Redução do esforço
físico Aumento de
disponibilidade de tempo para as mulheres realizarem outras tarefas
Sistema de reserva alimentar para períodos de escassez Sistema de
armazenamento de semente em condições adequadas Sistema de
conservação para venda de cereal em épocas de preço mais elevado
Aumento da oferta de semente de qualidade e diminuição do seu custo Aumento da produção e
produtividade Aumento da resiliência
dos camponeses Reforço das
competências de gestão e do empreendedorismo
Reforço do associativismo e cooperativismo nas comunidades Possibilidade de
embalamento da farinha Aumento da
ofderta de produtos derivados secundários
Factores de Sucesso
Introdução de inovação tecnológica Baixo custo e
simplicidade de utilização
Baixo custo, possibilidade de construção com recursos da comunidade Simplicidade de
manutenção
Produção e multiplicação de sementes nas próprias comunidades Aproveitamento dos
recursos endógenos Elevado envolvimento
dos beneficiários Fortes parcerias
institucionais
Processo de desenvolvimento comunitário Integração de
diferentes funções da cadeia no mesmo operador Elevado
envolvimento dos beneficiários Fortes parcerias
institucionais
Tipo de Beneficiário
Camponeses e vendedoras de fuba
Camponeses Camponeses Camponeses e vendedoras de fuba
Mapeamento da Cadeia
Produtiva
III
Vendedoras de fuba no mercado informal Km40 do Lubango
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3. Mapeamento da Cadeia Produtiva
Figura 4. Mapeamento da Cadeia da Fuba de Milho no Município do Lubango
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3.1. Segmento Fornecedores de Insumos Este segmento é responsável pelo fornecimento de insumos e serviços básicos necessários tanto para a produção agrícola do milho como para a sua transformação em farinha. Os principais insumos necessários para a cadeia e as diferentes tipologias de actores presentes neste segmento são descritos em seguida.
Tabela 15. Principais insumos e serviços básicos da cadeia produtiva da Fuba de Milho
Segmento da Produção Agrícola (Milho)
Insumos Serviços
Sementes, adubos e fertilizantes, produtos fitossanitários Fomento Agrícola
Equipamentos e ferramentas para a agricultura Assistência Técnica
Sacos Crédito
Segmento da Transformação (Fuba)
Insumos Serviços
Água, electricidade, diesel Sacos Equipamentos para as pequenas moageiras (moinos,
desfarelador, motores, balança) Pilão, balaio
Assistência Técnica Crédito
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa
• Sector Público: Os agentes do sector público são o IDA/EDA, as Administrações Municipais e a Direcção Provincial de Agricultura. São responsáveis pela distribuição de insumos aos camponeses – nalguns casos mediante pronto-pagamento, noutros contra reembolso –, e também por prestarem assistência técnica. O principal insumo é a semente de milho. Esta é ofertada pelo IDA no início da campanha e o camponês devolve em dobro, no final da campanha, a quantidade que adquiriu. De acordo com dados do relatório da campanha agrícola 2013/14, foram distribuídas pelo IDA 15,5 toneladas de milho no município do Lubango, ou seja, mais do dobro da quantidade distribuída na campanha 2011/12 que foram 7 toneladas. Foram também instalados quatro campos de demonstração de milho. A falta de pessoal técnico nas EDAs limita a capacidade de assistência técnica aos camponeses. A tabela seguinte sintetiza os principais insumos agrícolas disponibilizados na presente campanha agrícola.
Tabela 16. Listagem de insumos e assistência técnica fornecidos pelo IDA na campanha 2013/14
Insumo / Assistência Técnica Insumo / Assistência Técnica
Milho (semente) 15,5 ton Charrua 150
Nº Camponeses assistidos 5.898 Motobomba 0
Nº Agricultores assistidos 18 Semeador Manual 25
Limas 1.120 Semeador de Tração Animal 1
Catanas 600 Fertilizante NPK 12-24-12 40 ton
Dias de Campo realizados 10 Ureia 0
Carroça 0 Sulfato Amónio 20 ton Fonte: IDA (Relatório da Campanha Agrícola 2013/14)
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• Sector Privado: As empresas especializadas são o principal agente que intervém no fornecimento de insumos nesta tipologia. No Lubango existem 5 a 7 lojas deste tipo. As principais empresas a operar são a Agrosemente, Angovete, Fertiseme, Fertiangola. As empresas relataram que por vezes também têm rupturas de stock, incluindo fertilizantes e agroquímicos, devido a falhas no fornecimento por parte dos importadores. Normalmente estas empresas não realizam entrega directa aos produtores, a menos que sejam compradas grandes quantidades, ficando neste caso o custo de transporte a ser suportado pelo comprador.
As associações e cooperativas, com destaque para a UNACA, também realizam a venda de insumos aos camponeses, assim como algumas ONGs no âmbito de projectos em curso ou de protocolos com as entidades oficiais. A banca assume também relevância em termos de concessão de créditos, sobretudo aos agricultores de média dimensão.
O sector privado é igualmente um importante fornecedor de insumos necessários ao processo de transformação da farinha, em particular os equipamentos para as pequenas moageiras.
• Sector Informal: alguns insumos básicos estão também disponíveis no mercado informal, incluindo para o segmento da produção agrícola (sementes, fertilizantes, alguns equipamentos e ferramentas) e para o segmento da transformação (sacos para, balaios, pilões, etc.). Os mercados informais são fonte de insumos sobretudo para camponeses e para as vendedoras de fuba que realizam transformação da farinha de forma artesanal ou que levam o milho para moer em peqeunas moageiras.
3.2. Segmento Produção Agrícola O segmento da produção agrícola tem como função proceder ao uso da terra em sistemas produtivos realizando para esse efeito diferentes operações culturais até à colheita e subseqüente escoamento do produto. Como vimos anteriormente, a produção de milho no município do Lubango não é muito expressiva, comparado com outros municípios. Contudo, ocorre com frequência que milho produzido em outros municípios, sobretudo nos limítrofes, possa entrar na cadeia de fuba do Lubango, designadamente através da sua comercialização para fabrico da farinha. No segmento da produção agrícola podem distinguir-se duas tipologias principais de produtores de milho: os camponeses e os agricultores de média dimensão, cujas principais características se descrevem em seguida.
• Camponeses: O milho é uma das principais culturas agrícolas do país. A agricultura familiar é a responsável pela quase totalidade da área cultivada. As famílias camponesas cultivam parcelas de terra de pequena dimensão, sobretudo devido à ausência de mecanização e de limitações no acesso à terra. As produtividades da cultura são baixas em função do limitado uso de insumos agrícolas (estrume, adubos, correctivos, fitofármacos). A mão-de-obra agrícola provém da família. O seu nível de capitalização é muito baixo devido à condição de precariedade e pobreza em que vivem. Utilizam sobretudo variedades regionais.
Possuem baixas competências em termos agronómicos, gestão e organização produtiva. Mesmo quando integrados em cooperativas ou associações, estas estão pouco estruturadas e nem sempre legalizadas. Têm muita dificuldade de acesso aos mercados, sobretudo devido aos elevados custos de transporte e à sua descapitalização.
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• Agricultores: São produtores de média dimensão e geralmente organizados em associações ou cooperativas melhor estruturadas. Cultivam parcelas de terra de maior dimensão, geralmente com recurso a mecanização que pode ser tração animal ou tractor, próprio ou alugado à Administração Municipal ou Mecanagro. Utilizam maior quantidade de insumos e cultivam podem cultivar variedades de milho regionais ou melhoradas, em função do seu poder aquisitivo. Têm um nível médio de capitalização por via de recursos próprios ou de maior facilidade de acesso a crédito. Em função disso, têm também melhor inserção nos mercados.
Tabela 17. Principais características dos camponeses e agricultores para o caso do milho.
Camponeses Agricultores
Área de Produção Área < 1ha (média de 0,5 ha) Área 2-6 ha (média de 4 ha)
Sementes Fornecidas pelo IDA ou compra nos
mercados informais Usa variedades regionais
Fornecidas pelo IDA ou lojas especializadas, no caso de variedades melhoradas Pode usar variedades melhoradas
Produtividade 0,6-0,8 ton/ha (média 700 Kg/ha) 1,3-1,5 ton/ha (média 1.400 Kg/ha)
Destino principal da produção
Auto-consumo e venda Venda
Competências Pessoais
Alfabetização: baixa Competências agronômicas: baixa Competências de gestão: baixa
Alfabetização: baixa Competências agronômicas: média Competências de gestão: média
Capitalização Baixa capitalização e sem capacidade de acesso a crédito
Capitalização média e com alguma capacidade de acesso a crédito
Nível de Mecanização
Baixo: preparação do solo com enxada ou tração animal (junta de bois alugada)
Médio: preparação do solo com tração animal própria ou tractor alugado
Nível de Insumos Baixo: não utiliza estrume ou utiliza
do seu curral, se disponível; Baixo uso de adubos, correctivos e fitofármacos
Médio: usa estrume comprado; Uso regular de adubos, correctivos e fitofármacos
Mão-de-Obra
Familiar Também trabalham como
trabalhadores eventuais para os agricultores
Familiar e eventual
Organização produtiva
Baixa: organização em associações e cooperativas pouco estruturadas
Médio/Alta: organização em associações e cooperativas melhor estruturadas
Tecnologia Baixo nível tecnológico Nível tecnológico médio (aplicação de fitofármacos, mecanização)
Assistência Técnica Reduzida: apenas através das EDAs,
mas com muitas limitações Média: acesso através das EDAs e/ou via
associações e cooperativas
Acesso a Mercado Baixo: dificuldade em assumir custos
de transporte
Baixo/Médio: alguma possibilidade de pagar custos de transporte, a nível individual ou partilhado
Fonte: Elaboração própria com dados recolhidos durante o estudo
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Tabela 18. Número de famílias camponesas e de agricultores existentes e assistidas nos municípios da Huíla.
EDA Aldeias Camponeses Agricultores
Existentes Assistidos Existentes Assistidos Existentes Assistidos
Humpata 23 38 13.000 3.728 224 44
Chibia 52 54 26.740 11.282 67 56
Quipungo 125 56 29.714 19.592 52 10
Munhino 39 68 11.976 5.430 50 30
Hoque 36 52 17.964 5.898 33 18
Matala 115 72 37.143 32.220 106 74
Gambos 14 40 7.185 2.714 33 10
Quilengues 70 50 24.601 5.568 67 14
Caconda 204 110 29.412 54.020 7 30
Chicomba 323 98 52.293 53.872 31 16
Jamba 50 58 45.000 10.196 12 12
Kuvango 99 46 15.553 8.046 10 14
Cacula 54 52 15.569 9.324 22 12
Caluquembe 378 114 52.293 64.454 12 26
Chipindo 150 46 3.600 2.086 8 10
Total 1.732 954 382.043 288.430 734 376 Fonte: IDA (Relatório da Campanha Agrícola 2013/14)
Tabela 19. Número de associações e cooperativas existentes nos municípios da Huíla
Associações Cooperativas
Município Nº Homens Mulheres Total Nº Homens Mulheres Total
Caconda 98 1.862 4.445 6.307 23 1.287 2.197 3.484
Cacula 51 3.222 2.826 6.048 6 442 83 525
Caluquembe 180 10.676 4.054 14.730 31 9.568 2.112 11.680
Chibia 45 2.646 553 3.199 15 894 340 1.234
Chicomba 44 1.771 2.252 4.023 6 588 674 1.262
Chipindo 29 5.718 4.319 10.037 8 5.927 4.127 10.054
Gambos 23 233 331 564 5 233 291 524
Humpata 16 475 232 707 5 98 19 117
Jamba 49 1.682 243 1.925 8 277 46 323
Kuvango 27 746 598 1.344 6 162 197 359
Lubango 24 779 404 1.183 19 1.095 423 1.518
Matala 51 2.659 2.032 4.691 13 732 164 896
Quilengues 54 1.846 549 2.395 3 720 329 1.049
Quipungo 88 5.269 7.922 13.191 49 3.740 2.574 6.314
Total 779 39.584 30.760 70.344 197 25.763 13.576 39.339 Fonte: IDA (Relatório da Campanha Agrícola 2013/14)
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Muitos camponeses e agricultores não possuem título de posse de terra, embora realizem operações de compra, venda ou cedência de parcelas de terreno entre si através de procedimentos informais. A legislação de terras aprovada em 2004 e a crescente ampliação dos processos de legalização contribuirá progressivamente para uma melhor gestão fundiária. Note-se, porém, que no caso dos camponeses a maior limitação para a ampliação da área cultivada é sobretudo a ausência de mecanização. Por exemplo, a possibilidade de dispor de tração animal própria resultaria em aumentos de áreas cultivas que facilmente poderiam duplicar ou triplicar em virtude da redução da mão-de-obra e do tempo de execução das operações.
Tal situação resultaria em aumentos brutos de duas a três vezes mais para cada camponês. A tração animal é, ainda assim, a forma de preparação de terreno mais utilizada, embora os custos de aluguer sejam elevados para o seu nível de capitalização. O fomento da tração animal junto aos camponeses poderia ser equacionada através de processos colectivos, por forma a partilhar custos de manutenção (alimentação, veterinária, outros) bem como tornar a sua gestão mais eficiente. Além disso, traz ainda outros benefícios como sejam a possibilidade de dispor de transporte (carroça) e de fertilizante (estrume).
A maior parte do cultivo do milho é feito em regime de sequeiro devido à dificuldade de acesso a água e aos custos dos sistemas de irrigação. Por conseguinte, a principal época de produção coincide com o período das chuvas. No entanto, pode também ocorrer o cultivo de milho nas nacas durante a época seca, embora com menor expressão.
Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Precipitação (mm) 52,7 61,6 83,7 42,0 3,1 0 0 0 3 24,8 42,0 46,5
Temp. Méd (ºC) 21,6 22,2 22,8 22,2 19,9 17,6 16,7 18,1 19,4 20,7 21,4 21,3
Temp. Máx (ºC) 26,1 26,6 27,2 27,0 25,5 23,0 21,7 22,9 24,2 25,5 26,1 25,8
Temp. Min (ºC) 17,1 17,7 18,3 17,4 14,2 12,2 11,7 13,2 14,6 15,8 16,6 16,8
Estação Meteorológica do Lubango
Período Chuva
Período Seca
Sementeira (1ª Época)
Colheita (1ª Época)
Sementeira (Nacas)
Clolheita (Nacas) Fonte: Elaboração própria com Dados Meteorológicos (INAMET) e Dados Agrícolas (IDA)
Tabela 20. Calendário Agrícola
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3.3. Segmento Intermediários Os intermediários assumem a função de recolha de produção e transporte para agentes do segmento da transformação. Por vezes os próprios camponeses e agricultores acumulam também a função de intermediários/distribuidores na cadeia, levando a sua própria produção aos mercados informais ou a outros pontos de revenda, como as moageiras, através de carroça ou de moto-táxi (Kaleluia), assumindo eles os custos de transporte. Contudo, o mais comum é que sejam outros actores a realizar esta função, sendo possível identificar os seguintes tipos principais na cadeia do Lubango.
• Vendedoras: são agentes, sobretudo mulheres, que compraram o milho diretamente aos camponeses ou a agricultores e o transportam para revenda nos mercados informais ou a outras mulheres que se dedicam à transformação da fuba. Geralmente o milho é vendido à porta das pequenas moageiras. Estes intermediários são um agente importante na cadeia e detêm bastante poder, dado que são elas que na maior parte dos casos definem o preço de compra ao produtor em função da procura no mercado. Estas vendedoras compram o produto geralmente em sacos de 100 a 150 Kg e assumem elas próprias o custo do transporte. Note-se, contudo, que estas vendedoras podem elas próprias transformar em farinha e vender a retalho ao consumidor final, integrando assim três funções na cadeia (intermediárias, transformadoras e retalhistas).
• Pequenos intermediários: são agentes da cadeia que possuem viatura própria e compram produção de milho aos camponeses para revender a outros agentes, em particular os transformadores. Estes intermediários circulam pelos kimbos e comunidades nas épocas de colheita transaccionando a produção com os camponeses e obtendo assim uma margem com a revenda do produto. Ocorre também que estes intermediários armazenem o cereal para vender em épocas de menor disponibilidade de produto obtendo assim margens mais elevadas.
• Grémio dos Comerciantes e Produtores de Milho de Angola (EPUNGO): é uma associação que reúne produtores e comerciantes de milho, formada em 1992, com o objectivo de servir de ligação com os camponeses para o escoamento da produção de cereais. A associação compra o milho aos camponeses e procede à sua classificação e armazenamento colocando-o à disposição do governo ou outros operadores (industriais e ONG). Esta instituição está a passar por grandes dificuldades e encontra-se pouco operacional, pelo que a sua relevância actual na cadeia é muito limitada. Em todo o caso, é um actor que pode assumir uma importância crescente no curto e médio prazo, em particular em termos da estruturação e organização do sector a jusante da produção, assim como no estabelecimento de reservas alimentares. As suas principais dificuldades centram-se na dificuldade de acesso a financiamento para construção ou reparação dos silos de armazenamento dos cereais. A maior parte dos silos foram destruídos durante o período da guerra.O governo tem feito um esforço importante para a reabilitação destas infra-estruturas em várias províncias. Contudo, a maioria ainda não está operacional. Em alguns casos, a gestão destas infra-estruturas estatais foi terceirizada à EPUNGO. A falta de energia em várias regiões é também uma limitação para o normal funcionamento dos silos. Durante a missão de terreno foi informado que o Governo pretende construir e/ou reabilitar silos nos municípios da Matala e Caconda, no caso da província da Huíla.
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3.4. Segmento Transformação Neste segmento o milho é transformado em farinha através do método de moagem que consiste na alteração das características físicas do grão reduzindo-o a pequenas partículas por forma a aumentar a disponibilidade dos seus nutrientes e permitir diferentes usos, incluindo o seu consumo.
Existem dois produtos principais que resultam do processo de transformação: a farinha integral (Fuba Pála-Pála), que resulta da moagem directa do grão inteiro; e a farinha fina (Fuba Limpa) em que o grão sofre uma primeira trituração para retirada do pericarpo (farelo) e ainda um processo de fermentação e secagem antes da moagem final.
O processo de fermentação natural confere à farinha um odor e sabor característico como resultado da formação de ácido butírico. Do ponto de vista nutritivo a Fuba Pála-Pála é de melhor qualidade e mais rica em fibra porque contém todos os elementos do grão (ver figura 5). No entanto, o consumo de Fuba Limpa é mais apreciado pela população.
Na cadeia produtiva da fuba de milho do Lubango existem dois métodos de transformação da farinha: a moagem tradicional, em que todo o processo é realizado manualmente com recurso a utensílios tradicionais; e a moagem mecânica, realizada em pequenas moageiras, em que o processo é realizado com recurso a equipamentos mecânicos de desfarelamento e trituração do grão.
A sequência de passos para a obtenção dos produtos é similar em ambos os métodos e encontra-se representada no fluxograma da figura 5. As principais diferenças são descritas em seguida.
Fonte: Elaboração própria
• Moagem Tradicional: Neste método todo o processo é realizado manualmente e é integralmente realizado pelas mulheres. Para a obtenção da Fuba Limpa as mulheres realizam uma primeira trituração grossa para soltar o pericarpo (desfarelamento). Esta
Desfarelamento
Limpeza
Fermentação
Secagem
Fuba Limpa
Moagem
Moagem
Fuba Pála-Pála
Milho
Figura 5. Fluxograma de produção da Fuba Limpa e Fuba Pála-Pála
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operação pode ser realizada no chão, abrindo-se para esse efeito um buraco na terra onde o milho é colocado e socado com um pau. Pode também ser realizada numa laje de pedra, ficando as mulheres sentadas e socando o milho com um pau. Pode ainda ser realizado com recurso ao pilão, um instrumento tradicional construído especificamente com o propósito de triturar cereais. O pilão é geralmente feito de um tronco escavado, com dimensões variáveis, e o “pau de pilão” é um tronco liso e pesado para facilitar a trituração.
Em seguida procede-se à limpeza, operação que consiste na remoção do farelo. Para esse efeito as mulheres usam o balaio, um objecto circular construído em palha, e que facilita o lançamento do cereal para remoção das impurezas pela circulação do ar. Em seguida o produto é colocado em potes (barro ou plástico) com água para fermentar durante dois a quatro dias. Depois da fermentação o produto é estendidoao sol para secar e reduzir ao máximo o seu teor de humidade, antes de voltar a ser triturado. Esta última trituração resulta em Fuba Limpa e pode ser realizada novamente na pedra ou no pilão, mas nunca feita no chão para evitar a contaminação com terra e outras impurezas.
Para a obtenção da Fuba Pála-Pála procede-se unicamente à trituração do grão integral na pedra ou no pilão.
O método tradicional é fruto do conhecimento tradicional e experiência acumulada (aprender-fazendo). Percebe-se que é uma tarefa que requer elevado esforço físico por parte das mulheres. É também uma tarefa demorada que consome bastante tempo de trabalho. No caso das famílias camponesas, a maior parte do produto transformado destina-se ao auto-consumo. Estas famílias procedem à venda de farinha para realizar dinheiro em caso de necessidade ou para comprar outros produtos. Também se verificam trocas de farinha por outros produtos entre famílias da mesma comunidade.
As mulheres que se dedicam à actividade profissional de transformação e venda de farinha geralmente usam as pequenas moageiras às quais pagam uma taxa pelo serviço de moagem, como a seguir se descreve.
• Pequenas Moageiras: Nas moageiras a transformação da farinha é realizada com recurso a equipamentos mecânicos de desfarelamento e trituração do grão. As moageiras são pequenos espaços, simples e bastante precários, cujo negócio consiste exclusivamente na prestação do serviço de moagem às vendedoras de fuba (ver tabela 21). As vendedoras podem abastecer-se de milho junto aos produtores (camponeses ou peqeunos agricultores), ou através de pequenos intermediários que entregam o milho às vendedoras à porta das moageiras.
Os passos para a obtenção da farinha são os mesmos do método tradicional, com excepção das fases de desfarelamento e moagem da farinha que são realizadas mecanicamente através de desfareladores e moinhos, respectivamente. Estes equipamentos podem funcionar a energia eléctrica ou diesel.
Todas as demais fases são também realizadas na própria moageira, incluindo a limpeza, fermentação e secagem, pois estas dispõem de um espaço exterior onde as mulheres se acomodam para a realização das tarefas. Algumas moageiras cobram também uma taxa pelo acesso à água necessária para a fermentação. Na maior parte dos casos a água utilizada é obtida através de furo artesiano e nem sempre é de boa qualidade.
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Existem dezenas de moageiras em funcionamento na cidade do Lubango e nas comunas do município. Estas são normalmente propriedade de apenas uma pessoa, geralmente homem, que pode ou não dispor de alguns funcionários que operam os equipamentos. As condições de trabalho são muito precárias. Os operadores das máquinas e as mulheres estão em permanência sujeitas à poeira que resulta do processo de moagem e que é extremamente prejudicial à saúde, podendo causar problemas respiratórios.
A manutenção dos equipamentos é muito precária. As peneiras, em particular, são de desgaste rápido e na maior parte dos casos têm que ser substituídas a cada dois ou três meses. A maior parte dos proprietários tem dificuldade em obter assistência técnica devido ao custo elevado dos serviços e de substituição do equipamento.
Tabela 21. Custos médios de operação nas moageiras por 100 Kg de milho
Custos Operação nas Moageiras
Desfarelamento 100 Akz
Limpeza 100 Akz
Fermentação e Secagem 100 Akz
Água 50 Akz
Moagem 350 Akz
Moagem (Fuba Pála-Pála) 400 Akz Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa
Tabela 22. Principais riscos associados ao processo de transformação da farinha
Riscos inerentes ao produto
Químicos Contaminação com resíduos de pesticidas resultantes da produção agrícola ou da utilização de água de fraca qualidade.
Físicos Contaminação da farinha com terra, poeira e outras substâncias adversas.
Biológicos Contaminação com fungos, micotoxinas e bactérias devido à ineficácia do processo de secagem e armazenamento que pode levar proliferação de bolores e outros microorganismos patogênicos. Risco de pragas (insectos e roedores).
Riscos inerentes às operações
Acidentes Risco de acidentes e lesões dos operadores por falta de cuidados no manuseamento das máquinas nas pequenas moageiras.
Saúde
Risco de problemas de saúde, em particular respiratórios, devido á inalação contínua de poeira nas moageiras. Riscos também de infecções oculares devido ao contacto contínuo com as poeiras. Risco de perda de audição devido ao elevado ruído causado pelas máquinas em funcionamento.
Ergonómicos Risco de lesões e tendinites nos operadores das máquinas nas moageiras e das mulheres nas diferentes tarefas de produção da farinha em virtude da aplicação de movimentos pesados e contínuos durante longos períodos de tempo.
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa
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• Moagem Industrial (Moatrimil): a Moatrimil é unidade industrial de transformação de cereais de grande dimensão, sediada no Lubango. Com origem em 1977 como indústria de moagem estatal (ex-Saidy Mingas), esta empresa foi privatizada em 2008 e actualmente pertence ao Grupo Socolil. Esta unidade tem capacidade para laborar 120 ton/dia de cereais. Entre o período 2003 e 2012 a Moatrimil laborou apenas com milho importado. Quando decidiu voltar-se para o mercado interno, deparou-se com enormes dificuldades em termos de fornecimento de matéria-prima: falta de fornecimento regular; quantidades fornecidas em muito pequenas quantidades; qualidade de matéria-prima variável; custos do milho nacional mais elevados do que importado. Tal situação levou à paragem da fábrica em 2013.
A principal queixa da Moatrimil refere-se à desorganização do sector produtivo nacional e à falta de operacionalidade das infra-estruturas de apoio, como os silos de grande dimensão, o que dificulta o acesso a matéria-prima de forma regular. Para garantir um trabalho contínuo de 12 horas diárias necessitavam de receber um fluxo de 60 ton/dias. Neste momento só estão a conseguir receber 15 ton/semana.
Esta empresa detém um contrato de fornecimento de farinha com o Ministério da Assistência e Reinserção Social (MINARS). Contudo, asseveram que actualmente é mais barato importar farinha do que produzi-la a nível nacional. Esta unidade industrial tem uma intervenção na cadeia muito reduzida uma vez que não está a laborar milho nacional. Em todo o caso, é um actor que pode assumir uma importância crescente no curto e médio prazo, em particular em termos da estruturação do sector da transformação.
3.5. Segmento Comércio Retalho O comércio a retalho constitui o ponto de venda directa do produto ao consumidor. A Fuba de Milho é praticamente comercializada na totalidade através do comércio informal. Existem, contudo, alguns agentes do comércio formal que também comercializam fuba nacional. Relativamente ao primeiro, é possível identificar as seguintes categorias:
• Mercados informais de grande dimensão: A maioria da fuba de milho é comercializada nestes mercados. Caracterizam-se por serem não especializados, ou seja, vendem todo o tipo de mercadorias. Nestes mercados normalmente existem zonas próprias para venda de determinados produtos, sendo possível identificar a zona de hortícolas, raízes e tubérculos, grãos e farinhas, etc., e também zona de venda de animais vivos (currais) e de venda de carne (barracas de carne). Os pontos de venda são ocupados maioritariamente por mulheres (quitandeiras) que pagam uma taxa diária pela utilização do ponto de venda.
A taxa é cobrada pelo município e é paga a um fiscal, normalmente no início do dia, variando entre 50 e 100 Akz/dia. Geralmente existem vendedoras especializadas em fuba de milho, ou seja, vendem apenas este tipo de produto. Estas vendedoras podem abastecer-se de farinha junto a outras vendedoras que transformaram a fuba e que revendem sacos de 100 – 150 Kg nos próprios mercados. Podem também ser elas próprias transformadoras de fuba acumulando assim diferentes funções da cadeia.
Em termos de infra-estruturas estes mercados são muito precários. Existem vendedoras que dispõem de bancas de madeira, mas a maioria ocupa apenas um espaço no mercado colocando os sacos no chão. A unidade de medida para venda ao consumidor é a “caneca”, ou seja, uma lata que serve de referência para o preço a
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cobrar. A farinha é depois colocada em sacos de plástico, de acordo com o número de medidas que o consumidor pretende comprar.
Na época chuvosa as condições destes mercados tornam-se mais precárias devido à formação de lamas. Na época seca, o calor e a poeira constituem as maiores dificuldades para as vendedoras e clientes.
Normalmente os acessos a estes mercados são bons, embora no seu interior a circulação se torne muito difícil, tanto através de viatura como a pé, em função do elevado número de clientes e da desorganização que os caracterizam.
As condições de conservação nestes mercados são inexistentes ou muito precárias. Em alguns casos existem armazéns nos próprios mercados – designados localmente por “processos” –, que possibilitam às vendedoras guardar a mercadoria não vendida para o dia seguinte. A fuba de milho é armazenada em sacos. Os custos médios do “processo” são de 50 Akz/noite para guardar o saco no armazém.
• Mercados Municipais: Assumem características similares aos mercados informais de grande dimensão, mas apresentam melhores condições para as vendedoras e clientes, pois são cobertos. Possuem bancas de venda em alvenaria e melhor iluminação, bem como acesso a água potável e por vezes acesso a casas de banho. Caracterizam-se por serem de menor dimensão e possuírem um número de postos de venda mais reduzido, face aos mercados informais. Na maior parte dos casos os agentes destes mercados abastecem-se de produto junto a outras vendedoras de fuba, normalmente nos mercados informais de grande dimensão ou nas pequenas moageiras, as quais assumem funções de transformadoras e grossistas nesta cadeia. Estes mercados são geridos pelos municípios e as vendedoras pagam igualmente uma taxa pela sua utilização.
• Vendedoras Ambulantes: Também conhecidas por zungueiras ou quitandeiras, são vendedoras que vendem fuba de milho que elas mesmas transformaram ou que compraram em sacos a outras vendedoras. Normalmente existem pontos de venda já conhecidos pelos clientes e estrategicamente localizados para a venda dos produtos, por exemplo, passeios junto a supermercados ou pontos de maior circulação de pessoas.
O comércio formal processa-se através de supermercados e outras pequenas lojas comerciais (minimercados). Existem vários operados deste tipo no município do Lubango. Estes operados comercializam, sobretudo, farinha importada. O volume de comercialização de fuba nacional através destes operadores é por isso muito reduzido. Quando vendem fuba de milho nacional, costumam abastecer-se junto de vendedoras locais que assume a função de transformadoras/grossistas. Este é o caso do supermercado Casa Azul e da Shoprite. Estes supermercados abastecem-se de sacos de fuba (pala-pála e limpa) e eles próprios retalham em pequenos sacos plásticos de 1 kg para venda ao consumidor final.
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Tabela 23. Principais características dos agentes de comércio a retalho do município do Lubango
Características Mercado Informal Mercado Municipal
Vendedoras Ambulantes
Lojas e Supermercados
Área Comercial Elevada Média --- Média
Número de Operadores Elevada Média Baixa ---
Condições de venda Baixa Média Baixa Elevada
Segurança Baixa Elevada Elevada Elevada
Condições de Armazém Existente Existente Inexistente Existente
Proximidade ao consumidor
Elevado (rurais) Baixo (urbanos)
Elevado (urbanos) Baixo (rurais)
Elevado (urbanos) Baixo (rurais)
Elevado (urbanos) Baixo (rurais)
Distância ao transformador Baixa Baixa Baixa Baixa
Taxa de Utilização Existente Existente Inexistente Inexistente
Município do Lubango
Mercado João de Almeida Mercado do Km 40 Mercado do
Mutundo
Mercado do Lubango Número Elevado
Casa Azul Marivel Shoprite Minimercados
Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa
3.6. Segmento Consumo O segmento de consumo constitui o último ponto da cadeia produtiva e é o principal direcionador de todo o sistema. Em última instância, a cadeia estrutura-se para satisfazer o mercado de consumo, o qual varia em função das necessidades e preferências dos consumidores.
Não existem dados que permitam estimar o consumo per capita de fuba de milho em Angola. Contudo, sublinhe-se que a fuba é um produto base da alimentação da população e por isso assume um peso importante na dieta alimentar e nas despesas de consumo.
As formas mais comuns de consumo deste produto são o pirão ou funge de milho, em papas e a kissangua. O primeiro consiste na farinha cozida em água e mexida com frequência até criar uma massa consistente e uniforme (sem grumos). Geralmente funciona como acompanhamento de carne, peixe ou legumes, embora possa ser consumido simples caso o poder aquisitivo das famílias não permita incluir outros alimentos. A papa de milho é um alimento comum para as crianças e consiste na mistura da farinha com água ou leite adicionada de açúcar. A kissangua é uma bebida típica resultante da fervura da fuba em água que é depois fermentada durante alguns dias; posteriomrmente pode ser adicionado açúcar ou, nos casos mais tradicionais, o lupro que é uma raiz de um arbusto.
Neste segmento podem diferenciar-se as seguintes tipologias principais de consumo:
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• Consumo Familiar: constitui a maior parcela e refere-se ao consumo feito pelas famílias em casa. No caso das famílias camponesas a maior parte da fuba que consomem é produzida de forma artesanal, em casa. A maioria da população é de baixa renda e possui um limitado poder de compra. Contudo, a fuba é um alimento base e por isso assume características económicas de bem elástico, ou seja, o seu consumo não tem variações significativas em função de flutuações de preço.
No seio da família é a mulher quem compra a fuba, maioritariamente nos mercados informais. Também ocorre com alguma frequência que as próprias famílias compram o milho e levam a uma peqeuna moageira para fazer a farinha. Famílias com nível de vida médio ou mais elevado podem também comprar no comércio formal (supermercados), aproveitandoque estão a fazer outras compras e levando também a fuba. Dado o baixo poder aquisitivo, a maior parte das famílias compra fuba em quantidades muito pequenas, sendo esta a razão principal para o facto de a unidade de media básica ser a “caneca”.
• Consumo Privado: refere-se ao consumo efectuado pelas unidades privadas como restaurantes e hotéis. Naturalmente que, em última instância, são as famílias os destinatários finais deste consumo. Estas unidades podem abastecer-se nos mercados informais, ou dispor de vendedoras que fornecem produto com determinada regularidade. Ainda no consumo privado identificaram-se também as chamadas “barracas do mercado”, que constituem pontos de consumo nos próprios mercados que vendem refeições. Estas barracas abastecem-se de produto nos próprios mercados.
3.7. Ambiente Institucional O ambiente institucional refere-se às dinâmicas que influenciam a cadeia produtiva em função da intervenção directa ou indirecta de diferentes instituições. Pode ocorrer que estas instituições integrem os próprios segmentos da cadeia enquanto agentes directos, embora normalmente a influenciem a partir de fora da cadeia por diferentes formas (organização dos agentes, fornecimento de informação, difusão de tecnologia, produção de conhecimento, regulação, fiscalização, etc.). A sua identificação é importante para melhor se compreender o contexto em que se insere a cadeia e também para perceber outros possíveis factores de estrangulamento ou oportunidade que devem ser tidos nas acções de monitoria ou intervenção. A tabela seguinte resume o quadro institucional mais significativo para esta cadeia produtiva.
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Tabela 24. Ambiente institucional da cadeia produtiva de fuba de milho
Instituição Função na Cadeia Intervenção na Cadeia Nível de influência
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural / Direcção Provincial Agricultura
Regulação
Informação
Fiscalização
A nível central o MINAGRI é responsável por formular, executar e controlar a política do Governo nos domínios da agricultura, desenvolvimento rural e segurança alimentar. Assume funções de regulador e fiscalizador em função da diferente legislação aplicável ao sector. Assume funções de provedor de informação, em particular relativamente à sistematização de dados sobre mercados e preços, condições meteorológicas, campanhas agrícolas e normas técnicas. Os Governos Províncias, designadamente através da Direcção Provincial de Agricultura, assumem competências executivas, regulação e provimento de informação relativamente a nível provincial.
+
Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA) / Estações de Desenvolvimento Agrário (EDA)
Informação
Fomento Agrícola
Assistência Técnica
Tutelado pelo MINAGRI, o IDA é responsável pela coordenação e execução das políticas e estratégias para o sector agrário, assumindo funções de fomento agrícola, extensão rural/assistência técnica e provedor de informação. A intervenção a nível descentralizado ocorre através das EDA com presença nos Municípios. Assumem também influência directa em termos de fornecimento de insumos agrícolas (sementes, ferramentas) e na construção de capacidades através de diferentes metodologias como o caso dos centros experimentais.
+
Administração Municipal
Regulação
Informação
As Administrações Municipais têm vindo a assumir maior autonomia, incluindo em termos financeiros, e assume papel relevante na cadeia em termos de planificação e regulação no território dos municípios assim como no provimento de informação. O provimento de serviços sociais básicos e de infra-estruturas, em particular rurais, tem igualmente impacto na cadeia. O incentivo à implementação de Conselhos de Auscultação e Concertação Social nos Municípios (CACs) constitui um mecanismo importante para a gestão territorial.
+
Ministério do Comércio / Direcção Provincial do Comércio
Regulação
Informação
Fiscalização
Responsável a nível central e provincial – através da Direcção do Comércio - pela elaboração, execução, supervisão e controlo da política comercial, visando regular e disciplinar o exercício da actividade do comércio (incluindo importações e exportações), promover o desenvolvimento, ordenamento e a modernização das infra-estruturas comerciais, bem como assegurar a livre e leal concorrência entre comerciantes, salvaguardando os direitos dos consumidores.
+
Instituto de Investigação Agrária (IIA)
Investigação
Experimentação
Informação
O IIA assume funções de investigação e experimentação na área agrícola. Desenvolve projectos para melhoramento de variedades e desenvolvimento de tecnologia que são disponibilizadas aos agricultores através dos serviços públicos de extensão rural e assistência técnica. Assumem também funções de provimento de informações, em particular no âmbito da gestão das estações agrometeorológicas. Importa destacar que o IIA está a ser fortalecido através de um programa de cooperação Sul-Sul do MINAGRI com apoio da FAO e EMBRAPA (instituição brasileira) visando a estruturação do sistema de investigação agrária.
-
54
Instituição Função na Cadeia Intervenção na Cadeia Nível de influência
Grémio dos Comerciantes e Produtores de Milho de Angola (EPUNGO)
Prestação serviços
Associação que reúne produtores e comerciantes de milho, formada em 1992, com o objectivo de servir de ligação com os camponeses para o escoamento da produção de cereais. A associação compra o milho aos camponeses e procede à sua classificação e armazenamento colocando-o à disposição do governo ou outros operadores (industriais e ONG). Esta instituição está a passar por grandes dificuldades e encontra-se pouco operacional, pelo que a sua relevância actual na cadeia é muito limitada.
-
Codex Alimentarius de Angola
Informação
O Codex Alimentarius é um programa conjunto FAO e OMS encarregue de preparar normas, códigos de uso, directrizes e recomendações em matéria alimentar. Angola aderiu ao Codex Alimentarius em 1990. A nível nacional o secretariado do Codex Alimentarius de Angola tem como função coordenar todas as actividades do código alimentar no país, auxiliando o executivo na tomada de decisões políticas e técnicas científicas, no quadro da legislação alimentar internacional e nacional. Prevê a harmonização das normas e códigos de uso internacionalmente aceite, por forma a proteger a saúde do consumidor, coordenando todos os trabalhos realizados no domínio das normas alimentares, por organizações internacionais, governamentais e não governamentais.
+
MECANAGRO, E.P. Prestação
Serviços
Empresa pública tutelada pelo MINAGRI com função de gestão e exploração de máquinas agrícolas, preparação de terras e outras operações (derrubas e ripagens, lavouras e gradagens, construção de barragens e chimpacas, abertura de canais e terraplanagens, abertura de estradas terciárias, construção rural e infra-estruturas). Presta serviços aos agricultores ou associações.
-
Organizações Não-governamentais (ONG)
Informação
Assistência Técnica
Capacitação
Desenvolvem projectos junto dos beneficiários, com freqüência camponeses e pequenos produtores, prestando assistência técnica, construindo capacidades e apoiando na organização produtiva (associações e cooperativas). Destaca-se o trabalho da ADRA que tem desenvolvido e aplicado metodologias de reforço associativo e facilitação de acesso ao crédito com sucesso. Também o trabalho da Visão Mundial e ADPOV. Pontualmente projectos específicos ligados com o desenvolvimento agroalimentar e a adopção de tecnologias de baixo custo a diferentes níveis (produção, irrigação, transformação, comercialização) são implementados com benefícios relevantes para os produtores.
±
Associações e Cooperativas (UNACA e outras)
Organização do Sector
Diferentes associações e cooperativas, variáveis em termos de dimensão e nível organizacional, desempenham papel relevante na organização do sector, designadamente ao nível dos camponeses e pequenos produtores. Destaca-se a UNACA que tem desenvolvido trabalho na legalização de associações e cooperativas, distribuição de insumos, assistência técnica e capacitação, bem como o acompanhamento da implementação de alguns programas públicos junto dos camponeses (PEDR, Programa Microcrédito, etc.).
±
55
Instituição Função na Cadeia Intervenção na Cadeia Nível de influência
Instituições de Ensino (Universidade e Institutos Médios Agrários)
Investigação
Produção de Conhecimento
Formação de Quadros
Desempenham função de formação de quadros de nível médio e superior, designadamente na área das ciências agrárias, que reforçarão as capacidades de assistência técnica e prestação de serviços do sector. Destaca-se o Instituto Médio Agrário do Tchivinguiro que em média forma anualmente 80 técnicos de agronomia em diferentes especialidades (Produção Animal, Produção Vegetal, e Gestão Agrária). Destca-se ainda a UPRA – Universidade Privada de Angola e o Instituto Politécnico do Lubango que desenvolvem formação e investigação na área da agronomia e ciências alimentares.
±
Agências Multilaterais (FAO)
Assistência Técnica
Capacitação
Apoio Financeiro
Projectos de doadores e agências podem influenciar a cadeia em virtude de iniciativas de assistência técnica, apoio financeiro (subvenções) ou capacitação a diferentes agentes. Destaca-se em particular a FAO que tem previsto ampliar a metodologia das Escolas de Campo do Camponês (ECA) para a província da Huíla. Esta metodologia tem sido implementada em parceira com IDA e outros actores e tem obtido sucesso nas províncias de Huambo, Bié e Malange. ±
Fundo de Apoio Social (FAS)
Assistência Técnica
Capacitação
Apoio Financeiro
Agência governamental dotada de personalidade jurídica e autonomia financeira e administrativa que visa contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável e redução da pobreza no país. Tem em curso diferentes projectos, com destaque para o Projecto de Desenvolvimento Local (PDL), através do qual serão apoiadas intervenções na cadeia produtiva, entre outras, mediante apoio financeiro, assistência técnica e capacitação.
+
Instituições Bancárias
Crédito Responsáveis pela concessão de crédito aos diferentes agentes da cadeia produtiva. -
Fonte: Levantamento Directo Legenda: + Elevado ± Médio - Baixo
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3.8. Ambiente político-normativo O ambiente político-normativo refere-se às dinâmicas que influenciam a cadeia produtiva em função da aplicação de instrumentos de política pública (políticas, programas, estratégias) e instrumentos legislativos e reguladores (leis, normas, regulamentos). Considera-se importante a sua identificação para perceber o contexto em que se insere a cadeia e o tipo de influência política-normativa gerado (regulamentação, resolução de disputas, ameaças ou oportunidades). A tabela seguinte resume o quadro político-normativo mais significativo para esta cadeia produtiva.
Tabela 25. Ambiente político-normativo da cadeia produtiva de Fuba de Milho
Instrumento Relevância na Cadeia Nível de influência
Programa de Desenvolvimento de Médio Prazo do Sector Agrário (2013-2017)
Instrumento político de orientação estratégica no âmbito do sector agrário visando a transformação sustentável da agricultura para alcançar a segurança alimentar e a dinamização da agro-indústria nacional. Inclui nos seus objectivos estratégicos a capacitação profissional e a transferência de tecnologias, o desenvolvimento da agricultura familiar e cooperativismo, reforço da coordenação e sinergias entre os diferentes sectores.
+
Programa Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza (PIDRCP)
Visa impulsionar o desenvolvimento rural e o combate a pobreza. Coordenado a nível central através do Ministério do Comércio é executado pelos municípios através da formulação de planos municipais que incluem intervenções nas áreas de organização territorial, acesso à alimentação e oportunidades no meio rural, fortalecimento da agricultura familiar, empreendedorismo, crédito rural, ampliação e promoção de serviços básicos, mobilização e concertação social.
+
Programa de Crédito Agrícola
Programa de crédito aos pequenos e médios produtores gerido pelo Ministério da Economia. Lançado em 2011 com um orçamento de 200 milhões de USD para investimentos e 150 milhões de USD para crédito de campanha, assegurava uma taxa de juro de 21%, dos quais 16% eram suportados pelo governo e 5% pelos beneficiários. Actualmente, o programa está sendo financiado pelo BDA, através de quatro bancos operativos (Banco Sol, Banco Comércio e Indústria, BAI Micro Finanças e o BPC). O programa foi suspenso em função da seca verificada no Sul do país a partir de 2012 que dificultou o reembolso dos créditos.
-
Pauta Aduaneira
Providencia informação relativa à classificação e tributação das mercadorias na importação, bem como outro tipo de medidas como condições de desalfandegamento, restrições e proibições. A pauta aduaneira actualmente em vigor foi revista em 2012 e aprovada em 2013 introduzindo alterações com impacto muito relevante para a cadeia produtiva.
+
Legislação do Sector Agrário
Lei de Bases do Sector Agrário: estabelece as bases que devem assegurar o desenvolvimento e a modernização do sector agrário, criando para o efeito mecanismos de apoio e incentivos às actividades agrárias.
±
Lei de Terras: estabelece as bases gerais do regime jurídico das terras, bem como os direitos que podem incidir sobre as terras e o regime geral de concessão e constituição dos direitos fundiários.
+
Lei de Sementes: estabelece o controlo e fiscalização da produção, do comércio e da importação e exportação de sementes. ±
Lei de Sanidade Vegetal: regulamenta em matéria de sanidade vegetal e protecção fitossanitária. -
Lei dos Pesticidas: regulamenta sobre uso e aplicação de pesticidas. -
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Instrumento Relevância na Cadeia Nível de influência
Legislação do Sector do Comércio
Lei das Actividades Comerciais: estabelece as regras de acesso e o exercício da actividade do comércio e contribui para o ordenamento e a modernização das infra-estruturas comerciais, a livre e leal concorrência entre comerciantes e salvaguarda os direitos dos consumidores.
+
Regulamento sobre Organização, Exercício e Funcionamento da Actividade Comercial a Grosso: enquadramento jurídico-legal, definições, conceitos, princípios e normas que devem presidir a criação, instalação, funcionamento e organização do comércio a grosso.
-
Projecto de Regulamento sobre Organização, Exercício e Funcionamento da Actividade Comercial a Retalho: estabelece o regime jurídico geral para a organização, exercício, disciplina e funcionamento da actividade de comércio a retalho, bem como as modalidades de promoção de vendas, modalidades de vendas e vendas especiais.
-
Regulamento sobre Afixação de Preços: estabelece as normas que regulamentam a venda a retalho referente à fixação de preços. -
Regulamento sobre a Inscrição e Actividade dos Importadores e Exportadores: Regula o processo de importação e exportação de mercadorias.
-
Mercados Rurais: regula a actividade comercial exercida nos mercados rurais. +
Comércio Ambulante: regula o exercício da actividade de comércio ambulante. +
Outra Legislação
Lei das Associações: Regula o direito de associação previsto na Constituição. +
Lei das Cooperativas: Visa regular a constituição de cooperativas e o sector do cooperativismo (actualmente em discussão). +
Lei do Consumidor: A presente lei estabelece os princípios gerais da política de defesa do consumidor. -
Legenda: + Elevado ± Médio - Baixo Fonte: Levantamento Directo
59
Análise da Cadeia
IV
Workshop de capacitação com as Administrações municipais de Chibia e do Lubango
61
4. Análise da Cadeia 4.1. Visão sistémica da cadeia
Figura 6. Fluxograma da cadeia produtiva de Fuba de Milho do município do Lubango
62
Figura 7. Mapa de canais de distribuição da cadeia produtiva de Fuba de Milho do Município do Lubango
63
4.2. Canais de Distribuição Os canais de distribuição representam o fluxo do produto até ao consumidor final. A figura 7 apresenta o mapa dos canais de distribuição mais frequentes e a tabela seguinte descreve as suas principais características.
A maior parte da fuba de milho é comercializada através do comércio informal. O canal do Tipo B é o mais comum, podendo implicar normalmente duas ou três transacções de produto até ao consumidor final.
Tabela 26. Descrição dos canais de distribuição da Fuba de Milho. Fonte: Levantamento Directo
Canais de Distribuição
Tipo A: Camponês – Consumidores
Este é o canal de distribuição mais curto e representa a fuba de milho que é transformada pelo método de moagem tradicional e vendida pelos próprios camponeses a partir de milho produzido também por eles. Implica apenas uma transacção até ao consumidor final que corresponde à venda da fuba. Não é um canal muito comum dado que a maior parte da fuba produzida entra para o auto-consumo.
Tipo B: Produtores de Milho – Vendedoras – Consumidores
Neste canal a transformação da fuba é feita pelas vendedoras nas pequenas moageiras pagando uma taxa pelo serviço de moagem. Representa o caso em que as próprias vendedoras se abastecem de milho junto aos camponeses (primeira transacção), ou então o milho é vendido pelos camponeses ou pequenos intermediários à porta da moageira assumindo, assim estes os custos de transporte.
Após o processo de transformação as próprias mulheres podem vender o milho directamente ao consumidor final, através da venda ambulante ou nos mercados informais (tipo B1) ou então revendem a fuba a outras vendedoras, assumindo as primeiras a função de grossistas e as segundas a função de retalho (tipo B2).
Tipo C: Produtores de Milho – Intermediários – Vendedoras – Consumidores
Este canal é similar ao anterior,mas inclui mais um agente que são os intermediários de milho e por isso implica duas transacções a montante da transformação. Estes intermediários podem ser agentes que se dedicam à actividade de compra e venda de milho e dispõem de viatura própria intermediando o produto entre o camponês e os transformadores, ou podem ser vendedoras que assumem esta função comprando o milho aos camponeses assumindo os custos de transporte e vendedndo a outras mulheres para posterior transformação.
A justante da transformação a distribuição ocorre também através de duas formas: as próprias mulheres podem vender o milho directamente ao consumidor final, através da venda ambulante ou nos mercados informais (tipo C1) ou então revendem a fuba a outras vendedoras, assumindo as primeiras a função de grossistas e as segundas a função de retalho (tipo C2).
Tipo D: Produtores de Milho – Vendedoras – Supermercados – Consumidores
Este canal não é muito comum dado que o volume de fuba comercializado pelos agentes do comércio formal é muito limitado. Contudo, existem casos em que estes agentes comercializam fuba nacional. Na maior parte dos casos dispõem de fornecedores específicos (vendedoras) que fornecem a fuba que elas mesmas produziram nas pequenas moageiras através de sacos grandes, ocupando-se os agentes do comércio a retalho pela sua divisão em sacos de 1 kg para venda ao consumidor final.
Dependendo da existência ou não de intermediários eda correspondente transacção a monstante da transformação obtém-se o canal do tipo D1 ou tipo D2, respectivamente.
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4.3. Análise do Produto A fuba de milho é comercializada praticamente na totalidade através dos mercados informais, sendo apresentada pelas vendedoras ao consumidor a granel. Estas vendedoras não dispõem de balança e por isso a unidade de medida utilizada é a “caneca” que, em função da densidade do produto, pode conter um peso médio de 800 gramas (fuba pála-pála) ou 700 gramas (fuba limpa).
Nestes mercados a fuba de milho fica exposta a poeira e ao sol e os seus teores de humidade podem sofrer grandes variações. Não existe nenhum tipo de identificação do produto em termos de procedência da fuba, data de fabrico ou data de validade. Em virtude disso, não se exclui a possibilidade de algumas vendedoras adoptarem práticas oportunistas e menos lícitas e venderem fuba importada como sendo fuba nacional. Com freqüência ocorrem também práticas oportunistas na quantidade/peso de produto transaccionado, em função do maior ou menor volume de farinha no acto do enchimento da caneca ou do seu grau de deterioração da (mais amolgadas levam menos).
Os consumidores escolhem a fuba em função do seu aspecto, textura e aroma e os preços são com freqüência negociados no acto da transacção.
Nos mercados formais (lojas e supermercados) a fuba é comercializada em sacos de 1 Kg, embora como já relatado o volume de transacção de fuba nacional nestas unidades seja pouco expressivo. Estas unidades iferecem ainda uma diversidade de farinhas de milho importadas e diferentes derivados secundários, o que demonstra a oportunidade para aumentar a gama de produtos a partir da fuba nacional.
Nas tabelas seguintes sistematizam-se os preços médios de venda ao público da fuba de milho em diferentes mercados e de alguns produtos importados.
Tabela 27. Preços ao consumidor final da Fuba de Milho
Farinha Peso Estimado Caneca (Kg)
Preço de Venda Caneca (AKz) Preço Unitário
(AKz/Kg) Min Med Máx
Mercados Informais
Fuba Limpa 0,7 60 70 80 100
Fuba Pála-Pála 0,6 45 50 65 83
Mercados Formais
Fuba Limpa (Casa Azul) 1 Kg - 100 - 100
Fuba Limpa (Shoprite) 1 Kg - 270 - 270 Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa
Tabela 28. Preços ao consumidor final de alguns produtos importados
Tipo Preço de Venda (Akz) Preço Unitário (AKz/Kg)
Armazéns (Grossistas)
Fuba Limpa (Farinha Boa Mão, saco 25 Kg) 1.850 74
Fuba Pála-Pála (Farinha Everytone, saco 25 Kg) 2.000 80
Fuba Pála-Pála (Farinha Boa Mão, saco 25 Kg) 1.800 72
65
Supermercados
Farinha “Yoki” (Brasil) - 500 gr 170 340
Farinha “Nacional” (Portugal) – 1 Kg 170 170
Farinha “Dona Flor” (Portugal) – 1 Kg 200 200
Farinha “White Star” (África do Sul) – 2,5 Kg 300 120
Farinha “Força” (África do Sul) – 5 Kg 700 140
Canjica – Brasil – 500 gr 350 700
Flocos de Milho “Corn Flakes” – 200 gr 400 2000 Fonte: Elaboração própria com dados da pesquisa
4.4. Análise económica/financeira Nas tabelas seguintes, vem analisada a estrutura de custos e lucro, assim como os dados de produtividade dos actores mais importantes da cadeia. Recorreu-se a valores médios, com base em dados de produtividade disponibilizados ou calculados. Apesar de os valores absolutos poderem conter alguma imprecisão, considera-se mais relevante a comparação relativa entre os diferentes actores, que é bastante fiel à realidade e confere, sem dúvida, uma ordem de magnitude dos valores económicos e financeiros dos actores de cada segmento. É necessário ter em conta que, para além dos dados em AKz/Kg de milho ou fuba, consoante o caso, para calcular os valores anuais, foi considerada a capacidade de operação anual de cada actor. É importante ter em conta que a moagem artesanal apenas presta serviço de moagem às vendedoras.
Tabela 29. Análise econômica financeira do Pequeno intermediário de venda de milho
Pequeno intermediário de venda de milho
Custos
Conceito Valor Nota Conversão para valores médios Akz/Kg milho
Milho branco 30 Akz/caneca aprox. 750 gr/caneca 40,00
Milho amarelo 40 Akz/caneca aprox. 750 gr/caneca 53,33
Saco de 120 Kg 100 Akz 0,83
Transporte 200 Akz 1,67
Taxa mercado 100 Akz/dia 3,33
Taxa armazém 50 Akz/dia 1,67 Carregar e
descarregar saco 100 Akz/dia 3,33
Meio branco/meio amarelo Total 57,50 Akz/Kg milho
Produtividade
Conceito Nota Valor
Caneca milho - 750 gr
Turnos de trabalho/dia 1 turno 11 hs/dia
Dias trabalho ano 4 dias/semana 50 semanas/ano 300 dias/ano
Volume venda dia 1 saco/4 dias Aprox. 30 Kg/dia
9.000 Kg milho/ano
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Receitas por venda
Conceito Valor médio de venda
Lucro líquido potencial/Kg milho
Lucro líquido potencial anual (Akz)
Caneca milho amarelo 50 Akz/caneca 2,50 11.250
Caneca milho branco 40 Akz/caneca 2,50 11.250
Valor total 22.500 Akz/ano Fonte: Levantamento Directo
Comentários Tabela 29: Compra pequenas quantidades de milho e vende nas praças em canecas
Tabela 30. Análise econômica financeira da moageira pequena
Moageira pequena
Custos
Conceito Nota Valor Conversão para valores médios Akz/Kg milho
Amortização instalações Motor electrico 123.000 Akz/10 anos 0,02
Moinho 300.000 Akz/10 anos 0,05
Dínamo 40.000 Akz/2 anos 0,03
Mão de obra 3 pessoas 8.000 Akz/mês pessoa 0,46
Electricidade Rede 5.000 Akz/mês 0,10
Manutenção 7.500 Akz cada 2 meses substituição da paneira 3.750 Akz/mês 0,07
7.000 Akz cada 2 meses/paneira desfarelador
3.500 Akz/mês 0,13
Furo de água 8 metros produndidade 8.000 Akz/mês 0,15 Outros custos
(taxas, imprevistos...)
2.000 Akz/mês 0,04
Total 1,06 Akz/Kg milho
Produtividade
Conceito Nota Valor
Turnos de trabalho/dia 1 turno 11 hs/dia
Dias trabalho ano 6 dias/semana - 50 semanas/ano 300 dias/ano
Materialtotal processado dia 2.000 Kg milho/dia
Material total processado ano 600.000 Kg milho/ano
Serviços pala-pala 50% do total 300.000 Kg milho/ano
Serviços desfarelar 50% do total 300.000 Kg milho/ano
Serviços fuba limpa 50% do total (mesma
quantidade que desfarelada, restando o peso do farelo)
282.000 Kg milho/ano
Receitas por venda
Conceito Valor médio de venda
Lucro líquido potencial/Kg milho
Lucro líquido potencial anual (Akz)
Prestação serviços: pala-pala 4-7 Akz/Kg milho 4,44 1.332.788
Prestação serviços: desfarelar 3-4 Akz/Kg milho 2,44 732.788
Prestação serviços: fuba limpa 5-6 Akz/Kg milho 4,44 1.252.820
Total 3.318.395 Akz/ano Fonte: Levantamento Directo
67
Comentários Tabela 30: Possuem uma instalação de moagem pequena a gasolina ou a electricidade. Prestam exclusivamente serviço de moagem a vendedoras.
Tabela 31. Análise econômica financeira da moageira tradicional
Moageira tradicional vende na praça fuba Ilmpa
Custos
Conceito Nota Valor Conversão para valores médios Akz/Kg milho
Milho branco 40 Akz/caneca aprox. 750 gr/caneca 49,78
Saco de 50 Kg 100 Akz 2,00
Transporte 250 Akz/saco 5,00
Taxa mercado 100 Akz/dia 2 dias/semana 4,00
Taxa armazém 50 Akz/dia 1 dia/semana 1,00 Carregar e
descarregar saco 100 Akz/dia 2 dias/semana 2,00
Total 63,78 Akz/Kg fuba
Produtividade
Conceito Nota Valor
Caneca milho 750 gr
Caneca fuba limpa 700 gr
Tempo de processo 4 dias
Capacidade de processamento 2 lotes de 25 Kg 50 Kg/semana
Dias trabalho ano 7 dias/semana- 50 semanas/ano 300 dias/ano
Volume venda 2 dias/semana 50 Kg/semana
Volume venda total 2.500 Kg fuba limpa /ano
Receitas por venda
Conceito Valor médio de venda
Lucro líquido potencial/Kg milho
Lucro líquido potencial anual (Akz)
Fuba limpa 80 Akz/caneca 50,51 126.270 Akz/ano Fonte: Levantamento Directo
Comentários Tabela 31: Compra milho, transforma artesanalmente e vende na praça.
Tabela 32. Análise econômica financeira da vendedora (caso 1)
Vendedora caso 1 (compra milho vende fuba a outras vendedoras)
Custos
Conceito Nota Valor Conversão para valores médios Akz/Kg milho
Milho branco caneca milho 750 gr 30-40 Akz/caneca 54,90
Saco 120 Kg 100 Akz/saco 0,83 Serviços moagem
pala-pala 5 Akz/Kg 5,00
Serviços moagem antes de desfarelar aplica a fuba limpa 3 Akz/Kg 3,00
Serviços moagem fuba fermentada aplica a fuba limpa 5 Akz/Kg 5,00
Transporte 120 Kg 250 Akz/saco 2,08 Meio por meio fuba
pala-pala/limpa Total 64,32 Akz/Kg fuba
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Produtividade
Conceito Nota Valor
Caneca milho 750 gr
Caneca fuba limpa 700 gr
Caneca pala-pala 600 gr
Caneca farelo 600 gr
Rendimento pala-pala 100 gr milho=90 gr pala-pala 90%
Rendimento fuba-limpa 100 gr milho=79 gr fuba limpa 80%
Tempo elaboração fuba limpa 1 turno de 11 hs/dia 4 dias
Capacidade de processamento 4 sacos/semana 480 Kg/semana
Dias trabalho ano 300 dias/ano 6 dias/semana; 50 semanas/ano
Produção anual pala-pala 50% 10.800 Kg/ano
Produção anual fuba-limpa 50% 9.600 Kg/ano
Produção anual farelo 6 % do milho processado para fuba limpa 720 Kg/ano
Volume venda total 21.120 Kg/ano de fuba e farelo
Receitas por venda
Conceito Valor médio de venda Lucro líquido potencial/Kg milho
Lucro líquido potencial anual (Akz)
Farelo 10 Akz/caneca 16,67 12.000
Fuba pala-pala 45 Akz/caneca 12,18 131.559
Fuba limpa 50 Akz/caneca 5,61 53.855
Valor total 197.414 Akz/ano Fonte: Levantamento Directo
Comentários Tabela 32: Compra milho ao produtor, poupa 10 Akz/caneca da margem de um pequeno intermediário de venda de milho. Paga um serviço de moagem na Moageira 1.
Tabela 33. Análise econômica financeira da vendedora (caso 2)
Vendedora caso 2 (compra milho vende fuba a outras vendedoras)
Custos
Conceito Nota Valor Conversão para valores médios Akz/Kg milho
Milho branco caneca milho 750 gr 30-40 Akz/caneca 54,90
Saco 120 Kg 100 Akz/saco 0,83 Serviços moagem
pala-pala 4,5 Akz/Kg 4,50
Serviços moagem antes de desfarelar aplica a fuba limpa 4 Akz/Kg 4,00
Serviços moagem fuba fermentada aplica a fuba limpa 5-6 Akz/Kg 5,50
Transporte 120 Kg 250 Akz/saco 2,08 Meio por meio fuba
pala-pala/limpa Total 71,81 Akz/Kg fuba
Produtividade
Conceito Nota Valor
Caneca milho 750 gr
Caneca fuba limpa 700 gr
Caneca pala-pala 600 gr
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Produtividade
Caneca farelo 600 gr
Rendimento pala-pala 100 gr milho=90 gr pala-pala 90%
Rendimento fuba-limpa 100 gr milho=79 gr fuba limpa 80%
Tempo elaboração fuba limpa 1 turno de 11 hs/dia 4 dias
Capacidade de processamento 4 sacos/semana 480 Kg/semana
Dias trabalho ano 300 dias/ano 6 dias/semana; 50 semanas/ano
Produção anual pala-pala 50% 10.800 Kg/ano
Produção anual fuba-limpa 50% 9.600 Kg/ano
Produção anual farelo 6 % do milho processado para fuba limpa 720 Kg/ano
Volume venda total 21.120 Kg/ano de fuba e farelo
Receitas por venda
Conceito Valor médio de venda
Lucro líquido potencial/Kg milho
Lucro líquido potencial anual (Akz)
Farelo 10 Akz/caneca 16,67 12.000
Fuba pala-pala 40 Akz/caneca 4,35 46.959
Fuba limpa 45 Akz/caneca -3,03 -29.116
Valor total 29.843 Akz/ano Fonte: Levantamento Directo
Comentários Tabela 33: ao produtor, poupa 10 Akz/caneca da margem de um pequeno intermediário de venda de milho. Paga um serviço de moagem na Moageira 2.
Tabela 34. Análise econômica financeira da vendedora (compra fuba e vende na praça)
Vendedora (compra fuba e vende na praça)
Custos
Conceito Nota Valor Conversão para valores médios Akz/Kg milho
Caneca fuba limpa 40 Akz/caneca 57,14
Saco 120 Kg 250 Akz/saco 2,08
Taxa mercado 2 dias/saco 100 Akz/dia 1,67
Taxa armazém 1 dia/saco 50 Akz/dia 0,83 Carregar e
descarregar saco 100 Akz/dia 2 dias/saco 1,67
Total 61,72 Akz/Kg fuba
Produtividade
Conceito Nota Valor
Turnos de trabalho/dia 1 turno 11 hs/dia
Dias trabalho ano 300 dias/ano 6 dias/semana; 50 semanas/ano
Volume venda total 2 sacos/semana 12.000 Kg/ano
Receitas por venda
Conceito Valor médio de venda
Lucro líquido potencial/Kg milho
Lucro líquido potencial anual (Akz)
Caneca fuba limpa 60-80 Akz/caneca 38,27 459.286 Akz/ano Fonte: Levantamento Directo
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Figura 8. Rendimentos produção farinha de milho.
Na Tabela 35 vem resumido para cada um dos actores analisados, o seu custo, ingressos por venda e lucro líquido no caso da comercialização de milho, serviços de moagem e fuba, vindo expresso em Akz por Kg de milho ou fuba conforme o caso e em Akz / ano. Vem igualmente indicado o rendimento, calculado como o rácio lucro líquido/custo.
Note-se que no caso da moageira pequena os custos e as receitas unitárias são os mais baixos, devido à sua qualidade de fornecedor de serviço, no entanto o seu rendimento é extremamente elevado, assim como o seu lucro anual. Nos dois casos de vendedoras analisados, o caso 2 obtém um rendimento muito inferior ao do caso 1, devido a um custo superior dos serviços de moagem e a um preço de venda de caneca inferior ao do caso 1. O preço menor de venda deve-se à localização menos transitada da moageira e o menor lucro líquido deve-se ao facto de que realmente a venda de fuba limpa é deficitária, por apresentar um custo de produção superior ao seu preço de venda, como é possível observar na Tabela 33.
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Tabela 35. Custos, ingressos, lucro líquido e rendimento por comercialização de milho e fuba de milho
Cadeia Produtiva da Fuba de milho
Intermediário milho Transformação Vendedoras Retalho no mercado
Actor Akz/Kg Akz/ano Actor Akz/Kg Akz/ano Actor Akz/Kg Akz/ano Actor Akz/Kg Akz/ano
Custos Pequeno
intermediário de milho
57,50 517.500
Moageira pequena 1,06 298.180 Vendedora
caso 1 64 1.310.300 Vendedora (compra -
vende fuba) 61,73 740.714
Moageira tradicional 63,78 159.444 Vendedora
caso 2 72 1.319.300
Receitas por venda
Pequeno intermediário
de milho 60,00 540.000
Moageira pequena 4,83 4.251.000 Vendedora
caso 1 54 1.507.714 Vendedora (compra -
vende fuba) 100,00 1.200.000
Moageira tradicional 114,29 285.714 Vendedora
caso 2 49 1.349.143
Lucro líquido
Pequeno intermediário
de milho 2,50 22.500
Moageira pequena 3,78 3.318.395 Vendedora
caso 1 11 197.414 Vendedora (compra -
vende fuba) 38,27 459.286
Moageira tradicional 50,51 126.270 Vendedora
caso 2 6 29.843
Rendimento Pequeno
intermediário de milho
4,3%
Moageira pequena 1113% Vendedora
caso 1 15,1% Vendedora (compra -
vende fuba) 62,0%
Moageira tradicional 79,2% Vendedora
caso 2 2,3%
Fonte: Levantamento Directo
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Tabela 36. Outros parâmetros económicos dos actores analisados.
Actor Valor agregado (Akz/Kg) % Valor Agregado Receitas dia (Akz)
Moageira pequena 4,83 11 9.091
Vendedora caso 2 49,21 13 82
Vendedora caso 1 54,37 23 541
Pequeno intermediário de milho 60,00 24 62
Vendedora (compra -vende fuba) 100,00 29 1.258
Moageira tradicional 114,29 98 346
A percentagem de valor acrescentado, representa a percentagem de valor de venda nas transacções intermédias face ao de venda ao consumidor final, que pode variar em função do canal de distribuição utilizado. No gráfico, foi representada a percentagem de valor de venda, face ao máximo identificado entre os actores analisados, que corresponde à venda a retalho realizada pela moageira artesanal que integra as funções de transformação e venda a retalho na praça, depois, aparece o caso da vendedora que compra fuba a outras vendedoras que vendem na própria moageira pequena, e revende nas praças.
O valor menor, agregado, diz respeito à moageira pequena, mas resulta da sua qualidade de prestador de serviços, sem compra / venda de produto. No caso da moageira artesanal trata-se do actor com maior lucro líquido unitário (Akz/Kg fuba), apesar de a sua capacidade de produção anual ser limitada e portanto o seu lucro líquido anual ser de 126.270 Akz/ano face aos 459.286 Akz/ano da vendedora de fuba na praça, e face ao actor com mais lucro líquido anual, sendo a moageira pequena com 3.318.395 Akz/ano.
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Figura 9. Valor acrescentado e receitas líquidas.
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4.5. Análise crítica: desempenho e governança A fuba de milho é um importante produto base da alimentação e praticamente todo o volume de fuba consumido pelas famílias provém de milho nacional transformado localmente e transaccionado nos mercados informais. Isto demonstra a importância desta cadeia para a dinamização da economia local nas suas diferentes vertentes, mas também para a garantia de segurança alimentar de grande parte da população.
A fuba importada e comercializada pelos armazéns grosssitas destina-se maioritariamente à indústria de panificação. Nas redes de comércio a retalho formais, como os grandes supermercados, existem diferentes tipos de farinha de milho industrializada e importada, mas o seu consumo dirige-se sobretudo às populações urbanas de maiores rendimentos.
A cadeia possui vários constrangimentos que afectam o seu desempenho. O sector da produção agrícola, primordial para o fornecimento de matéria-prima, encontra-se pouco organizado e com enormes debilidades do ponto de vista da assistência técnica e de acesso a insumos (terra, semente, fertilizantes, mecanização) que determinam produtividades muito baixas e impedem os camponeses e pequenos agricultores de aumentarem a área de produção. O milho é uma das culturas agrícolas mais importantes do país, mas mesmo assim o país ainda importa uma quantidade significativa deste cereal. Existe uma margem importante para aumentar a produção interna e reduzir o peso das importações deste produto. Isto revela-se ainda mais prioritário quando verificamos nos últimos anos os significativos aumentos dos preços do milho nos mercados internacionais.
Ainda assim, os produtores queixam-se das dificuldades de escoamento do milho e dos baixos preços de venda da produção. As infra-estruturas de apoio à produção e pós-colheita (silos de armazenamento) encontram-se na sua maioria inoperacionais, comprometendo uma melhor organização da produção e subseqüente escoamento do produto.
A indústria nacional, como é o caso da Moatrimil, tem por isso muita dificuldade em conseguir matéria-prima nacional para laborar. A capacidade de laboração desta unidade está completamente sub-aproveitada. Nos últimos anos têm laborado apenas com milho importado devido às dificuldades de obtenção de produto nacional. Mesmo assim, muitas vezes fica mais barato comprar milho importado, incluindo os custos de transporte, do que produção nacional. A EPUNGO e o Instituto Nacional de Cereais poderiam ter um papel importante na estruturação do sector, quer ao nível produtivo quer em termos de logística pós-colheita. Contudo, estas instituições possuem também debilidades várias que determinam uma intervenção na cadeia sem expressão.
As pequenas moageiras desempenham um papel relevante nesta cadeia, pois são eles os responsáveis pela transformação da maior parte do volume de fuba produzido a nível nacional. Existe um elevado número de agentes deste tipo, mas estes apenas prestam um serviço na cadeia e por isso não participam na transacção de produto. Estas peqeunas unidades são muito precárias e apresentam enormes debilidades em termos de organização e gestão do negócio e também em termos de condições de trabalho e segurança para os operadores. A sua proliferação tem sido completamente desordenada, muitas vezes sem atender a critérios básicos como acesso a energia, água ou localização mais adequada em termos estratégicos para a basorção da produção de milho ou distribuição do produto transformado (fuba).
Esta é uma cadeia altamente feminizada onde as mulheres desempenham o papel mais importante. Estas mulheres, conhecidas localmente como vendedoras, são responsáveis por dinamizar toda a cadeia, aassumindo inclusivamente diferentes funções. São elas que maioritariamente fazem a ligação com os produtores para se abastecer de milho, dado o reduzido número de intermediários com viatura própria existentes. São igualmente elas as
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responsáveis pela transformação da fuba, seja através do método tradicional (moagem manual em casa) ou, mais frequentemente, usufruindo do serviço das moageiras para essa tarefa. São também elas as responsáveis pela distribuição e venda da fuba aos consumidores finais através dos mercados informais.
Dado o elevado número de vendedoras e das suas características é possível afirmar qu esta cadeia se encontra altamente atomizada e dispersa. O processo de transformação da fuba, em particular a fuba limpa, é uma tarefa que demanda muito tempo e várias etapas. Embora por vezes ocorra divisão de tarefas, sub-contratando ou pagando serviços a outras mulheres, na maior parte dos casos são as vendedoras que acumulam todas as funções de intermediários de milho, transformação da farinha e venda do produto. Este facto, a par da reduzida capacidade das vendedoras em termos individuais e da comcorrência gerada pelo elevado número de operadores, introduz várias ineficiências na cadeia.
Em virtude disso, uma das principais recomendações para uma melhor organização desta cadeia é o trabalho com estas mulheres e o seu reforço associativo para se constituírem em pequenos grupos de produção local visando a realização de diferentes funções da cadeia de forma mais eficaz e eficiente.
Outro aspecto relevante no desempenho da cadeia é que não existe regulamentação técnica que defina critérios técnicos padronizados para o fabrico da fuba de milho nem padrões físico-químicos ou microbiológicos para o produto final. Por outro lado, também não existe qualquer estratégia de marketing ou forma diferenciada de apresentação do produto que permita agregar valor e explorar outros mercados, como o comércio formal ou institucional.
A fuba de milho assume características económicas de bem inelástico, ou seja, o seu consumo não varia significativamente com alterações do preço do produto. Contudo, isto aplica-se apenas ao caso dos mercados informais. No caso dos mercados formais o consumidor dispõe de produtos concorrenciais, nacionais e importados, de qualidade diferenciada. A possibilidade de ofertar produto nacional embalado, para além da opção actual a granel deve ser ponderada, pois só dessa forma se poderá penetrar em mercados mais exigentes como os supermercados. De igual modo, a possibilidade de sinergias institucionais com o programa de merenda escolar ou com outros ministérios que tradicionalmente compram grandes quantidades de produto nacional (por exemplo assistência social e exército) deve também ser equacionada no âmbito do apoio a esta cadeia.
O desempenho desta cadeia é também afectado pela inexistência de transformação secundária relevante de derivados da farinha de milho. Em virtude do aumento crescente do poder aquisitivo da pouplação, em particular nos mercados urbanos, pensamos que existe um nicho de mercado interessante por explorar correspondente à venda de produtos secundários (bolos, biscoitos, bolachas, outros). Na maior parte dos casos estes produtos podem ser elaborados de forma artesanal, acabando por gerar margens muito interessantes em função do seu elevado valor agregado.
Na Tabela 37 sintetizam-se os principais pontos críticos identificados em cada segmento da cadeia e na Tabela 38 sintetizam-se outros parâmetros de análise do desempenho desta cadeia.
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Tabela 37. Principais pontos críticos da cadeia de Fuba de Milho
Segmento Pontos Críticos
Fornecedores de Insumos Reduzida taxa de cobertura da extensão rural e assistência técnica
Produção Agrícola
Limitada capacidade de acesso a insumos básicos por parte dos camponeses e pequenos agricultores o que reduz a possibilidade de aumentar a área cultivada e a produtividade da cultura do milho Inexistência ou ineficácia das estruturas de armazenamento (silos) e de acesso a
mercados
Intermediários Inexistência ou ineficácia das estruturas de armazenamento (silos)
Transformação
Excessiva atomização do segmento da transformação em virtude da proliferação de operadores (vendedoras e pequenas moageiras) de forma descoordenada e da sua pequena capacidade de laboração Condições precárias de laboração nas pequenas moageiras Reduzida diferenciação da fuba de milho e inexistência de aproveitamento de
produtos derivados secundários
Retalho Deficiente apresentação do produto ao consumidor (origem, data fabrico, data
validade, etc.) e de estratégias de marketing (marca, rótulos, embalagens diferenciadas, etc.)
Fonte: Levantamento Directo
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Tabela 38. Parâmetros de análise relacionados com os segmentos da cadeia de Fuba de Milho
Parâmetro Insumos Produção Intermediários Transformação Grossista Retalho
Números de Agentes + Informal e Privado
- Estatal + Camponeses - Agricultores
+ + Método Tradicional
+ Moageiras -
+ Vendedoras - Lojas e Supermercados
Nível Tecnológico
- - Camponeses ± Agricultores
- - Método Tradicional
± Moageiras - -
Ambiente Institucional - + - - - ±
Ambiente Político Normativo
- + + + + +
Incerteza - + + - - -
Risco - + ± - - -
Competição - + + + + + Vendedoras
- Lojas e Supermercados
Rendimento + - Camponeses ± Agricultores
- ± Método Tradicional
+ Moageiras - Vendedoras
- Vendedoras + Vendedoras só retalho
- Vendedoras
Capacidade de Gestão ± - Camponeses ± Agricultores
- - - - Vendedoras
+ Lojas e Supermercados
Poder de Negociação
... - Camponeses ± Agricultores
+ + + +
Racionalidade ... - + + + +
Oportunismo ... - + - + +
Condição Social ... - Camponeses ±Agricultores
- - Método Tradicional
- Moageiras -
- Vendedoras + Lojas e Supermercados
Geração de Emprego + + + + + +
Questão de Género H H M / H M M M
Legenda: + Elevado ± Médio - Baixo
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Número de Agentes
- Elevado número de agentes no segmento de fornecimento de insumos através dos mercados informais. Baixo número de agentes no sector público constituído apenas pelos serviços de extensão e insumos fornecidos pelas EDAs.
- Elevado número de operadores no segmento da produção agrícola, na grande maioria constituída por camponeses que desenvolvem a sua actividade produtiva de forma individual ou organizados em associações e cooperativas pouco estruturas e nem sempre legalizadas.
- Elevado número de agentes que operam como intermediários de milho, em particular no caso das vendedoras que assumem também esta função na cadeia. Os intermediários de milho com veículo próprio ou que se dedicam em exclusivo a esta função são em número reduzido.
- Elevado número de agentes no segmento da transformação, quer ao nível dos camponeses que realizam o método tradicional, como das pequenas moageiras que prestam o serviço de moagem.
- Baixo número de operadores no segmento grossista, constituído exclusivamente pelas vendedoras que assumem igualmente esta função na cadeia.
- Elevado número de operadores no retalho, constituído sobretudo pelas quitandeiras, que exercem actividade nos mercados informais e algumas também nas ruas através da venda ambulante. A venda de fuba de milho é claramente uma actividade do comércio informal, pelo que o número de agentes do comércio formal que vende este produto é muito limitado.
• Nível tecnológico
- Baixo nível tecnológico no segmento de insumos, tanto em termos da oferta limitada de máquinas e outra tecnologia (no caso das lojas especializadas), como em termos do nível tecnológico introduzido pela assistência técnica e extensão rural das EDAs (no caso do sector público).
- Baixo nível tecnológico no segmento da produção ao nível dos camponeses, quer em termos de mecanização como na adopção de outras tecnologias para irrigação, condução cultural, tratamentos fitossanitários, colheita. A tipologia dos agricultores já possui algum nível tecnológico, mas ainda assim também baixo.
- Baixo nível tecnológico também nos demais segmentos, em particular ao nível do transporte e armazenamento de milho e produto transformado (farinha).
- Médio nível tecnológico no caso das peqeunas moageiras que já dispõem de alguns equipamentos de transformação.
• Ambiente Institucional
- Elevada influência na cadeia por parte das instituições públicas vinculadas ao Ministério da Agricultura em termos de provimento de informação e de regulação do segmento da produção. A dependência do Estado é ainda uma variável importante, em particular no segmento da produção – dependência dos camponeses relativamente ao fornecimento de insumos básicos e necessidade de assistência técnica.
- Médio nível de influência por parte das instituições públicas vinculadas ao Ministério do Comércio em termos de provimento de informação e de regulação do segmento da comercialização.
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- Baixo nível de influência das instituições bancárias, em particular pela ausência de mecanismos facilitados de apoio financeiro (crédito) aos operados da cadeia.
- Elevada influência do FAS em função da perspectiva de apoio diferenciado (assistência técnica, capacitação, investimento) a vários agentes da cadeia.
• Ambiente Político-normativo
- Elevada influência das políticas e programas públicos do sector agrário em termos de apoio à produção e da correspondente legislação.
- Elevada influência da legislação do sector comercial na regulação das actividades do comércio (afixação de preços, comércio rural, comércio ambulante, venda a retalho).
• Incerteza
- Elevada incerteza no segmento da produção em virtude das características da actividade agrícola e sua dependência das condições naturais e climatéricas com influência nas colheitas, bem como elevada imprevisibilidade do escoamento da produção no final de cada campanha.
- Elevada incerteza ao nível dos intermediários em função da imprevisibilidade relativa da revenda de milho.
- Baixa incerteza nos demais segmentos dado que controlam melhor as condições da sua actividade e não estão sob influência de tantos factores externos e adversos que não podem controlar. Por exemplo, no caso da transformação os agentes só laboram se houver serviço; no caso dos operadores do retalho só compram produto em função da previsibilidade de venda. Em todo o caso, a fuba é um produto base da alimentação pelo que não existe significativa variação da procura por partes dos consumidores.
• Risco
- Elevado risco no segmento da produção em virtude da exposição a factores de risco da actividade agrícola (secas, inundações, pragas, doenças), bem da dificuldade de venda da produção.
- Médio risco da actividade dos intermediários em função da imprevisibilidade relativa da revenda de milho.
- Baixo risco nos demais segmentos da cadeia em função da inexistência de variação na procura de mercado pela fuba de milho e da inexistência de competição por produtos subsititutos.
• Competição
- Em função do elevado número de agentes envolvidos nos diferentes segmentos esta cadeia caracteriza-se por elevada competição entre os diferentes agentes que disputam entre si as respectivas parcelas de mercado e a venda de produto/serviço a preço mais competitivo: i) venda da produção no caso dos camponeses e agricultores; ii) venda de milho no caso dos intermediários; iii) disputa por clientes no caso das moageiras e venda de farinha por parte das vendedoras-intermediárias; iv) venda de fuba ao consumidor final no caso das vendedoras dos mercados informais e ambulantes.
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• Rendimento
- Dos intervenientes nesta cadeia, o actor com maior rendimento é o operador de uma moageira pequena, devido ao facto de prestar apenas um serviço de moagem, sem compra-venda de milho ou fuba.
- No caso da família camponesa que vende ocasionalmente a fuba de milho elaborada através do método tradicional com o seu próprio milho, esta obtém um rendimento razoavelmente elevado ao integrar todas as funções da cadeia, desde a produção de milho até à venda de fuba no mercado informal.
- Os intervenientes com um rendimento moderado são o agricultor-produtor de milho que acumula uma certa economia de escala, e a vendedora que compra fuba e vende fuba no mercado informal.
- É relevante o caso do actor mais frequente e mais importante em toda a cadeia, que consistem nas vendedoras que compram milho, transformam-no em fuba pagando serviços de moagem e vendem na própria moagem a outras vendedoras, sendo o seu rendimento extremamente baixo devido à reduzida margem de lucro aplicada na venda de fuba, chegando em alguns casos a obter rendimento negativo sobretudo na venda de fuba limpa, cuja aquisição é mais dispendiosa em tempo e em dinheiro.
• Capacidade de Gestão
- Baixa capacidade de gestão na maioria dos agentes da cadeia em termos de planificação da actividade, incluindo visão de negócio, controle de custos, percepção sobre margens de comercialização, contabilização de receitas e lucros.
- Média capacidade de gestão no caso dos agricultores e elevada no caso dos mercados de retalho formal, os quais já adoptam uma visão planificação e mais controlada da actividade.
• Poder de Negociação
- Baixo poder de negociação dos camponeses relativamente à aquisição de insumos: a sua descapitalização e as pequenas áreas cultivadas não lhes permitem economia de escala para uma negociação mais vantajosa do fornecimento de insumos básicos. Baixo poder de negociação também na venda produção dado que a formação dos preços é sobretudo definida pelas vendedoras/intermediários, razão pela qual estas assumem um elevado poder na cadeia produtiva.
- Os agricultores já adquirem alguma capacidade de negociação no fornecimento de insumos, em particular quando realizado através das associações. Em função do maior volume de produção adquirem também maior capacidade de negociação na venda da produção.
- Elevado poder de negociação nos demais agentes, em particular das vendedoras que assumem diferentes funções na cadeia e que detêm poder de negociação e barganha junto dos respectivos clientes.
• Racionalidade
- Baixa racionalidade por parte dos produtores pois não dominam ou não conseguem processar toda a informação necessária à tomada de decisão, em particular a relativa ao escoamento da produção no final da campanha e dos preços de mercado que se podem atingir.
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- Elevada racionalidade nos demais segmentos, em particular das vendedoras que assumem diferentes funções na cadeia, pois geralmente são elas que estão na posse da informação completa relativamente às dinâmicas do mercado – incluindo a procura e a flutuação dos preços –, podendo assim tomar decisões mais racionais.
• Oportunismo
- Baixo oportunismo no segmento da produção onde se verifica maior entre-ajuda, relações de confiança (maioria das vezes familiares) e partilha de informação entre os camponeses e também nos peqeunos agricultores.
- Elevado oportunismo das vendedoras que assumem diferentes funções na cadeia. Em virtude da maior posse de informação, designadamente sobre os preços de mercado, as vendedoras incorrem com frequência em práticas oportunistas – seja no segmento intermediários de milho junto aos camponeses, como no segmento da transformação e retalho de fuba de milho – escondendo ou escamoteando os reais preços de mercado e com isso conseguindo tirar maior proveito próprio nas transações.
• Condição Social e questão de género
- A condição social dos principais operadores da cadeia é baixa, vivendo a maioria em situações de pobreza.
- Relativamente à questão de gênero, o segmento de fornecedores de insumos e da produção agrícola é maioritariamente masculino (embora não menosprezando o papel da mulher na agricultura). Os demais segmentos encontram-se claramente feminizados dado que são as mulheres que desempenham as respectivas funções.
• Geração de Emprego
- Todos os segmentos da cadeia assumem relevância para a geração de emprego directo.
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4.6. Análise SWOT
Tabela 39. Análise SWOT da cadeia produtiva de Fuba de Milho no município do Lubango
Forças Fraquezas
O milho é uma commodity agrícola de elevado valor acrescentado e é uma das principais culturas produzidas em Angola.
A fuba de milho é um dos produtos base da alimentação angolana.
Existe conhecimento tradicional acumulado sobre os processos de transformação da farinha de milho.
Dificuldade de acesso a insumos por parte dos camponeses (semente, assistência técnica, ferramentas, tração animal) em função da sua fraca capitalização e dificuldade de acesso a crédito; Baixas produtividades do milho, sobretudo nos
camponeses. Inexistência de sistemas de logística,
armazenamento e distribuição pós-colheita e a jusante do segmento da transformação. Debilidades organizativas no sector da produção
(associações e cooperativas) e deficiente coordenação entre produtores de milho e transformadores de farinha. Deficientes capacidades técnicas e de gestão dos
diferentes agentes da cadeia. Preço da fuba de milho nacional não é
competitiva com a fuba importada. Condições laborais (higiene e segurança no
trabalho) deficientes no segmento da transformação, em particular nas peqeunas moageiras. Elevado número de operadores no segmento da
transformação e inexistência de organização produtiva neste segmento, determinando elevada competição e perda de eficiência da cadeia. Inexistência de regulamentação técnica que
defina critérios e padrões físico-químicos, microbiológicos ou de qualidade para a fuba de milho ou para o seu processo produtivo
Oportunidades Ameaças
Revisão da pauta aduaneira determina custos mais elevados à importação de milho.
Potencial para aumentar a gama de derivados de milho e de produtos a partir da fuba com alto valor agregado.
Incorporação de sistemas de empacotamento de baixo custo pode facilitar integração progressiva nas redes de comércio a retalho formal, incluindo para fora da província.
Potencial para aproveitamento e melhor integração na cadeia de agentes para o sub-produto farelo.
Municípios circundantes são também grandes produtores de milho e de fuba, aumentando assim a concorência entre diferentes operadores da cadeia.
Revisão da pauta aduaneira determina custos mais reduzidos à importação de farinha.
Êxodo rural dos jovens do campo está em crescendo.
Empobrecimento dos solos agrícolas pode comprometer aumentos de produtividade do cultivo, bem como contribuir para impacto ambiental negativo.
83
Proximidade de instituições de ensino médio e superior na área agrícola e agro-industria pode facilitar a construção de capacidades e investigação aplicada em diferentes segmentos da cadeia, bem como aumentar oferta de técnicos qualificados.
Experiência acumulada na região em matéria de processos de reforço do associativismo e cooperativismo, bem como gestão de caixas comunitárias (metodologia da ADRA), pode facilitar a organização da produção agrícola e o acesso a crédito.
Existência de linha de caminho-de-ferro pode facilitar estruturação da cadeia.
Proximidade da Namíbia e do aeroporto com potencial para facilitar o escoamento de derivados com alto valor agregado.
A nível nacional o IIA está a ser fortalecido através de um programa de cooperação Sul-Sul do MINAGRI com apoio da FAO e EMBRAPA (instituição brasileira) visando a estruturação do sistema de investigação agrária.
Possível impacto das alterações climáticas com implicações nos sistemas de produção.
Existência de elevado número de armazéns (grossistas) que vendem fuba importada.
Existência de comerciantes (armazéns) que se licenciam como grosssitas e depois vendem fuba a retalho, entrando assim em concorrência desleal com as vendedoras
Fonte: Levantamento Directo
85
Recomendações Estratégicas
V
Vendedoras fabricando fuba nas instalações de moageira semi-industrial
87
5. Recomendações Estratégicas
5.1. Acções estratégicas Neste ponto apresenta-se algumas acções estratégicas que podem ajudar a melhorar o desempenho da cadeia produtiva na sua globalidade, num segmento específico ou em alguns agentes particulares. Excluem-se aqui as intervenções de âmbito mais geral que necessitam de uma intervenção governamental para o sector na maioria do país, tais como:
• Melhoria das infra-estruturas dos mercados informais
• Melhoria e ampliação de canais de distribuição
• Melhoria de vias de acesso a mercados
• Aumento dos serviços de assistência técnica e extensão rural
• Facilitação de mecanismos de acesso ao crédito
• Medidas estratégicas a nível nacional para melhoria competitiva dos produtos nacionais
• Reforço de processos de industrialização rural de pequena e média escala
• Melhoria no acesso à informação sobre preços e mercados em todos os segmentos
• Melhoria do ambiente político e normativo nos aspectos mais influentes identificados no ponto 3.8
Sendo que as intervenções anteriores ajudarão a superar graves constrangimentos do sector, assim como a melhorar o desempenho e gestão da cadeia, são acções conhecidas por todos os organismos públicos, posto que o Governo avança progressivamente no sentido da sua melhoria.
Deste modo, incluem-se nas tabelas seguintes algumas acções que podem ser implementadas a curto prazo, de forma relativamente independente, que podem melhorar a coordenação dos agentes ou potenciar a sua acção individual num determinado segmento da cadeia. Considera-se que tais acções se enquadram nas competências do FAS e portanto podem formar parte da sua estratégia de desenvolvimento local, como complemento ou integradas no seu PDL.
Tabela 40. Proposta de acções estratégicas para a cadeia de Fuba de Milho
A1 Promoção da diferenciação de produto no segmento da transformação através do incentivo à criação de derivados secundários e diferentes formas apresentação ao consumidor, incluindo estratégias de marketing.
A2 Reforço das capacidades dos agentes a nível técnico, operacional e de gestão de negócio.
A3 Promover a integração das funções de transformação e retalho no mesmo operador através do reforço do associativismo entre as vendedoras para que adquiram economia de escala (ex.: Associação de Transformadoras e Vendedoras de Fuba de Milho ou “Casa da Farinha”).
A4
Promover o reforço do associativismo entre as pequenas moageiras acompanhadas de iniciativas de fomento da pequena industrialização para que adquiram vantagens comparativas e economia de escala para melhor aproveitamento dos mercados institucionais (ex.: Associação de Pequenos Industriais de Farinha).
88
A5 Promover upgrade tecnológico na cadeia através do incentivo e apoio para o uso de silos familiares e comunitários, moinhos de baixo custo e pequenos equipamentos de empacotamento.
A6 Fortalecimento de sinergias entre agentes da cadeia e actores do território para maior aproveitamento dos mercados institucionais de merenda escolar.
Tabela 41. Descrição das propostas de acções estratégicas para a cadeia de Fuba de Milho
A.1 - Promoção da diferenciação de produto no segmento da transformação artesanal através do incentivo à criação de novos derivados e diferentes formas apresentação ao consumidor, incluindo
estratégias de marketing
Informar e sensibilizar os operadores do segmento da transformação sobre as alternativas e respectivas vantagens da diferenciação de produto e de diferentes formas de apresentação ao consumidor, incluindo estratégias de marketing (marca, rótulos, imagem, estratégias de comercialização). Referimo-nos, em particular, à possibilidade venda de farinha embalada (pacotes de 1 Kg, 3 Kg ou 5 Kg) para melhor integração nas redes de comércio formal (farinha nacional) e de produtos secundários (bolos, biscoitos, pipocas, outros) de maior valor agregado.
O FAS poderia elaborar uma brochura técnica com a sistematização de exemplos de diferenciação de derivados para disseminação junto de potenciais beneficiários. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais.
Apoio financeiro, assistência técnica e capacitação (Matching Grant) para operadores que desejem ofertar produtos transformados diferenciados.
Potenciais Beneficiários
Vendedoras
Jovens do Município com espírito empreendedor
Possíveis Parceiros
Administração Municipal
ONG locais
Indicadores
Número de beneficiários (desagregado por gênero) apoiados.
Aumento crescente da oferta de produtos derivados de qualidade diferenciada e de formas de apresentação do produto ao consumidor
A.2 - Reforço das capacidades dos agentes a nível técnico, operacional e de gestão de negócio
Elaboração e disseminação de brochuras técnicas ou materiais informativos sobre aspectos da produção agrícola dirigidos a camponeses e agricultores, bem como materiais dirigidos a transformadores sobre questões técnicas (incluindo cuidados do operador), gestão de negócio e planos de marketing. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais.
Organização de acções de capacitação de curta duração dirigidas a operadores específicos dos diferentes segmentos da cadeia. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais ou com agentes da cadeia com mais experiência.
Beneficiários
Camponeses e Agricultores
Vendedoras e operadores do segmento da transformação
Jovens do Município com espírito empreendedor
Parceiros
Administração Municipal
ONG locais
IDA/FAO
89
Indicadores
Número de acções de capacitação organizadas.
Número de beneficiários (desagregado por gênero) participantes nas acções e capacitação.
Número e tipo de materiais informativos/didácticos produzidos e disseminados.
A.3 - Promover a integração das funções de transformação e retalho no mesmo operador através do reforço do associativismo entre as vendedoras para que adquiram economia de escala (ex.:
Associação de Transformadoras e Vendedoras de Fuba de Milho ou “Casa da Farinha”).
Informar e sensibilizar as vendedoras sobre as vantagens da organização em grupos locais promovendo a divisão de tarefas e a especialização/profissionalização da actividade de transformação e venda de fuba de milho e derivados secundários.
Apoio a processos organizativos (associações/cooperativas) entre as vendedoras. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais.
Esta iniciativa pode ser equacionado no âmbito do incentivo á constituição de “Casas de Farinha” geridas de forma cooperativa.
Apoio financeiro, assistência técnica e capacitação (Matching Grant) para vendedoras que desejem constituir-se em grupos e produção local. Esta iniciativa pode incluir de forma transversal as acções A.1, A.3 e A.5.
Beneficiários
Vendedoras dos segmento da transformação e retalho.
Parceiros
Administração Municipal
ONG locais
Indicadores
Número de grupos de produção local organizados em associações e cooperativas para transformação e venda de fuba de milho e derivados constituídos.
Número de beneficiários (vendedoras) apoiados.
Aumento crescente da oferta de produtos derivados de qualidade diferenciada e de formas de apresentação do produto ao consumidor.
A.4 - Promover o reforço do associativismo entre as pequenas moageiras acompanhadas de iniciativas de fomento da pequena industrialização para que adquiram vantagens comparativas e economia de escala para melhor aproveitamento dos mercados institucionais (ex.: Associação de
Pequenos Industriais de Farinha)
Informar e sensibilizar os proprietários das pequenas moageiras sobre as vantagens da organização do sector e as possibilidades de ganharem economia de escala para competir com a indústria transformadora, designadamente visando a produção de farinha para abastecimento do consumo institucional (MINARS).
Esta iniciativa pode ser equacionada no âmbito do apoio à constituição de uma “Associação de Pequenos Industriais de Farinha” e do concomitante apoio para a modernização do negocio com novos equipamentos.
Apoio financeiro, assistência técnica e capacitação (Matching Grant) para operadores que desejem associar-se.
Beneficiários
Operadores do segmento da transformação (moageiras)
Parceiros
Administração Municipal
Empresas privadas especializadas
90
Indicadores
Número de pequenas moageiras incluídas e apoiadas.
Número de beneficiários (desagregado por gênero) apoiados.
A.5 - Promover upgrade tecnológico na cadeia através do incentivo e apoio para o uso de silos familiares e comunitários, moinhos de baixo custo e pequenos equipamentos de empacotamento
Informar e sensibilizar os agentes da cadeia, em particular camponeses, agricultores e agentes do segmento da transformação, sobre alternativas simples e de baixo custo para facilitar as operações ou promover melhor conservação/transformação de produto. Esta iniciativa poderia igualmente ser pensada juntamente ONG locais.
O FAS poderia elaborar uma brochura técnica explicando o processo de construção, instalação e funcionamento desses equipamentos para disseminação junto de potenciais beneficiários.
O FAS poderia junto com a Administração Municipal apoiar/montar alguns desses equipamentos numa comuna seleccionada, ou junto a um operador específico, que funcionasse como exemplo demonstrativo. Visitas ao equipamento podem ser organizadas pela Administração Municipal.
Apoio financeiro, assistência técnica e capacitação (Matching Grant) para pequenos operadores que desejem investir nesses equipamentos simples e de baixo custo para melhorar o processo tecnológico.
Beneficiários
Camponeses, agricultores, operadores do segmento da transformação
Parceiros
Administração Municipal
ONG locais
IDA/EDA
Indicadores
Número de equipamentos solares simples e de baixo custo instalados.
Número de beneficiários (desagregado por gênero) apoiados.
A.6 - Fortalecimento de sinergias entre agentes da cadeia e actores do território para maior aproveitamento dos mercados institucionais de merenda escolar
Prtende-se com esta acção um duplo objectivo: i) facilitar o escoamento da fuba de milho aos agentes do segmento da transformação; ii) aumentar o valor nutricional das dietas escolares incorporando proteína animal.
Trata-se de uma inciiativa a desenvolver conjuntamente entre FAS, Administração Municipal, FAO e operadores seleccionados visando a montagem de esquemas locais de abastecimento regular de fuba de milho às escolas do município.
A FAO dispõe de experiência nesta matéria desenvolvida na Província do Bié. É necessário trabalho de sensibilização junto das escolas (incluindo com os pais, professores e futuras cozinheiras) em termos de logística de abastecimento e regularidade na entrega, armazenamento do produto, mecanismos de pagamento, definição das receitas e preparação das refeições.
Beneficiários
Vendedoras
Crianças das escolas (beneficiários indirectos).
Parceiros
Administração Municipal
FAO
ONG locais
Indicadores
Número de escolas abrangidas por mecanismos de abastecimento de fuba de milho para preparo
91
de refeições.
Número de beneficiários dos segmentos da transformação (desagregado por gênero) integrados nas iniciativas.
Número de crianças (beneficiários indirectos) com acesso regular a fuba de milho através da merenda escolar.
92
5.2. Priorização das intervenções As acções podem ser priorizadas em função de múltiplos parâmetros. Na seguinte tabela propõe-se um sistema com alguns factores de ponderação que pode ser usado como ferramenta de tomada de decisões. Os valores de ponderação são indicados por defeito e deverão ser validados pelo FAS e revistos periodicamente em função de alterações significativas que afectem a cadeia. Outros indicadores podem ser incluídos em função de parâmetros de avaliação que o FAS considerar mais pertinentes.
Tabela 42. Proposta de sistema de factores de ponderação
Factores Peso (0-1)
Valor (0-3) Resultado
A Impacto social
0,15
0 Valor nulo
- 1 Gera valor dentro da comunidade
2 Diminui a vulnerabilidade social dentro de uma comunidade
3 Gera valor e diminui a vulnerabilidade dentro de uma comunidade
B Dependência
0,15
0 O avanço do projecto depende da contribuição de meios externos, não pode ser auto-sustentável
- 1 Em caso de êxito do projecto, o mesmo permitirá o acesso ao crédito para a
sua continuidade
2 Em caso de êxito, o projecto conseguirá gerar fundos para a sua auto-sustentabilidade
3 O projecto em si mesmo é auto-sustentável desde o início
C Criação de emprego digno
0,14
0 Valor nulo
-
1 Nos membros de uma mesma família
2 Excluindo os próprios beneficiários, permitirá gerar tantos postos de trabalho como número de beneficiários do projecto
3 Permitirá criar mais empregos do que o dobro de número de beneficiários
D Custo económico
0,13
0 Mais de 50.000 USD
- 1 Entre 30.000 e 50.000 USD
2 Inferior ou igual a 30.000 USD
3 Apenas recursos humanos do FAS
E Geração de renda
0,13
0 Valor nulo
- 1 Permitirá manter o nível de renda actual no beneficiário
2 Permitirá aumentar o rendimento do beneficiário
3 Permitirá duplicar o rendimento do beneficiário ou mais
F Tempo de implementação
0,10
0 Superior a dois anos
- 1 Entre 1 e 2 anos
2 Inferior a um ano
3 Imediato
93
A aplicação desta ferramenta às acções propostas resulta na seguinte tabela de priorização:
Tabela 43. Priorização das acções estratégicas
Acção Factores
Resultado A B C D E F G H
A.3 - Promover a integração das funções de transformação e retalho no mesmo operador através do reforço do associativismo entre as vendedoras para que adquiram economia de escala (ex.: Associação de Transformadoras e Vendedoras de Fuba de Milho ou “Casa da Farinha”).
3 2 2 1 3 1 3 1 2,05
A.6 - Fortalecimento de sinergias entre agentes da cadeia e actores do território para maior aproveitamento dos mercados institucionais de merenda escolar.
2 2 1 2 2 1 3 3 1,96
A.5 - Promover upgrade tecnológico na cadeia através do incentivo e apoio para o uso de silos familiares e comunitários, moinhos de baixo custo e pequenos equipamentos de empacotamento.
3 2 0 2 2 1 2 3 1,87
A.1 - Promoção da diferenciação de produto no segmento da transformação através do incentivo à criação de derivados secundários e diferentes formas apresentação ao consumidor, incluindo estratégias de marketing.
1 2 1 2 2 2 2 3 1,81
A.4 – Promover o reforço do associativismo entre as pequenas moageiras acompanhadas de iniciativas de fomento da pequena industrialização para que adquiram vantagens comparativas e economia de escala para melhor aproveitamento dos mercados institucionais (ex.: Associação de Pequenos Industriais de Farinha).
2 1 2 0 3 1 2 0 1,42
A.2 - Reforço das capacidades dos agentes a nível técnico, operacional e de gestão de negócio.
0 0 0 2 0 2 3 1 0,86
Factores Peso (0-1)
Valor (0-3) Resultado
G Potencial de replicação
0,10
0 Valor nulo
- 1 Projecto replicável no mesmo município
2 Projecto replicável na província
3 Projecto replicável no país
H Necessidade de parceiros para o FAS
0,10
0 Necessária coordenação do Governo a nível central
- 1 Necessário apoio de outras Instituições Públicas ou Privadas
2 Necessário apenas apoio das Direcções Provinciais
3 Não é necessário, ou é suficiente o apoio das Administrações Municipais
TOTAL -
Anexos
VI
Comércio informal de milho no mercado Halle de Chibia
6. Anexos
ANEXO I Lista de contactos e entrevistas
Data Nome Lugar Entrevistados
29-07-2014 Administração Municipal do Lubango Lubango Técnicos da Administração Municipal e FAS
29-07-2014 FAS Huíla Lubango Direcção e Equipa Técnica do FAS
29-07-2014 Direcção Provincial de Agricultura Lubango Director Provincial de Agricultura
30-07-2014 Acção de Capacitação Chibia Técnicos das Administrações Municipais, Equipa Técnica do FAS, agentes da cadeia
31-07-2014 Vice-Governadora Provincial Lubango Vice Governadora Provincial
31-07-2014 Direcção Provincial de Agricultura, Área Económica / PIDRCP
Lubango Assessor para a Área Económica
31-07-2014 Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA)
Lubango Director do IDA
31-07-2014 FAO-Huíla Lubango Coordenador Projectos
31-07-2014 Restaurante Lubango Gerente
31-07-2014 Soba do Lubango Lubango Soba
01-08-2014 Moageira Lubango Proprietário e vendedoras
01-08-2014 Armazém Lubango Responsável de Vendas
01-08-2014 Fábrica Moatrimil Lubango Chefe de Produção
01-08-2014 Famílias Camponesas Lubango Camponeses
01-08-2014 Associação Agricultores Cintura Verde
Lubango Pequenos Agricultores
01-08-2014 EDA Munhino Lubango Directora EDA
02-08-2014 Moageira Lubango Proprietário e vendedoras
02-08-2014 Mercado João de Almeida Lubango Vendedoras e outros operadores
03-08-2014 Supermercado Marivel Lubango Responsável de vendas
03-08-2014 Supermercado Casa Azul Lubango Responsável de vendas
03-08-2014 Supermercado Shoprite Lubango Responsável de vendas
03-08-2014 Vendedoras Ambulantes Lubango Vendedoras
04-08-2014 Mercado Municipal do Lubango Lubango Vendedoras
04-08-2014 Moageira Lubango Proprietário e vendedoras
04-08-2014 Padaria Lubango Gerente e outros operadores
04-08-2014 Reunião de restituição preliminar da missão
Lubango Direcção e Equipa Técnica do FAS / ADRA
ANEXO II Mapa dos Municípios da Província da Huíla
ANEXO III Rede viária da Província da Huíla
Fonte de dados: Instituto Nacional de Estradas de Angola - INEA
ANEXO IV Zonas Agro-ecológicas de Angola
Fonte: IDA/Ministério da Agricultura e FAO
Região IV: Zona de características agro-pastoris onde predomina a pecuária extensiva. As chuvas são muito irregulares. A produção agrícola é dominada pelos cereais, em particular para auto-consumo, havendo nas zonas planálticas alguns excedentes de produção. A região possui solos maioritariamente arenosos e profundos que acumulam pouca água. Na época seca os rios costmam secar e por isso a agricultura de irrigação é limitada. A transumânica é uma prática frequente durante a época seca para conseguir obter pontos de abeberamento para o gado e pastagens. As principais espécies agrícolas são o milho, milheto, sorgo, muitas vezes consociado com feijão ou amendoim. Algumas horticolas e fruticolas pontualmente em determinadas sub-regiões. As principais espécies de gado são o bovino, caprino suíno e aves.
ANEXO V Zonagem de Angola por Modos de Vida
Região 04 – Região Sub-húmida/Produção de Gado e Milho
A pecuária extensiva e a pequena agricultura caracterizam os modos de vida principais e por isso o número de cabeças de gado e a área das parcelas são os dois factores principais que determinam uma maior resiliência por parte das famílias. Os principais factores de risco incluem secas e inundações, pragas e doenças nas culturas agrícolas, sanidade animal descontrolada e flutuação de preços nos mercados locais. A venda da força de trabalho e a colecta de produtos florestais também é freqüente para mutas famílias.
ANEXO VI - Fotografias
Fuba Limpa
Ilustración Instalações de moagem semi-industrial
Instalações de moagem semi-industrial
Vendedoras vendendo fuba nas instalações de moageira semi-industrial
Proprietário e ajudante de moageira semi-industrial
Vendedoras fabricando fuba nas instalações de moageira semi-industrial
Secagem de fuba limpa nas instalações de moageira semi-industrial
Moagem artesanal de fuba com pedra
Moagem artesanal de fuba com pilão
Vendedoras de fuba no mercado informal Km40 do Lubango
Stock de fuba polenta de Moatrimil
Instalações industriais de moagem (Moatrimil)
Vendedoras de fuba no mercado informal Km40 do Lubango
Comércio informal no mercado Km40 do Lubango
Comércio informal no mercado João de Almeida do Lubango
Workshop de capacitação com as Administrações municipais de Chibia e do Lubango
Workshop de capacitação com as Administrações municipais de Chibia e do Lubango