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Belo Horizonte 2016 ESTUDOS AVANÇADOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO Roteiro de Estudos PROF. ANDRÉ LUIZ LOPES ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA

ESTUDOS AVANÇADOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO · Afastamento do servidor público para o exercício de cargo eletivo 45 Direitos sociais 45 Sistema remuneratório 46 Teto remuneratório

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Belo Horizonte 2016

ESTUDOS AVANÇADOS DE

DIREITO ADMINISTRATIVO

Roteiro de Estudos

PROF. ANDRÉ LUIZ LOPES ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA

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I – Regime jurídico-administrativo 04 Princípios da Administração Pública 04 II – Atos Administrativos: conceito, elementos e atributos 05 Classificação dos atos administrativos 06 Espécies de atos administrativos 08 Extinção dos atos administrativos 10 Revogação dos atos administrativos 11 Anulação dos atos administrativos 12 III – Licitação: conceito, finalidades e princípios 13 Licitação da Constituição Federal e no Direito Positivo 14 Modalidades de licitação 14 Tipos de licitação 17 Dispensa de licitação 18 Inexigibilidade de licitação 21 Procedimentos da licitação 22 Pregão eletrônico 24 Anulação e revogação da licitação 26 Recursos administrativos no certame licitatório 26 Modelo de Recurso Administrativo em processo licitatório 28 IV – Contrato Administrativo: conceito e características 32 Espécies de contratos 34 Equilíbrio econômico-financeiro 36 V – Servidor Público: conceito e categorias 38 Formas de provimento aos cargos públicos 39 Vacância 40 Regime jurídico do servidor 41 Acesso aos cargos, empregos e funções públicas 41 Direito de greve e liberdade de associação sindical 42 Principais direitos e deveres 43 Regime previdenciário dos servidores 43 Modalidades de aposentadoria 43 Pensões 44 Estabilidade 44 Afastamento do servidor público para o exercício de cargo eletivo 45 Direitos sociais 45 Sistema remuneratório 46 Teto remuneratório 47 Processo administrativo disciplinar 47 Sindicância 48 VI – Responsabilidade civil do Estado: conceito e espécies 49 Responsabilidade subjetiva ou teoria da culpa 49 Responsabilidade objetiva ou teoria do risco 53 Fundamento da responsabilidade objetiva 54 Excludentes da responsabilidade civil do Estado 54 Caracteres da conduta ensejadora de responsabilidade civil do Estado 55

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Responsabilidade civil do Estado decorrente de conduta omissiva 56 Princípio da legalidade e a conduta omissiva 57 Responsabilidade civil do Estado por atos legislativos e judiciais 57 Da denunciação da lide e a ação regressiva contra o funcionário 58 Conclusões 59 Modelo de ação indenizatória movida contra o Estado 61 Modelo de ação anulatória de ato administrativo 68 Lei de Licitação – 8.666/93 80 Bibliografia 124

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I - REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO

PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: L.I.M.P.E (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência)

A Constituição Federal cita textualmente no seu art. 37 “Caput” os princípios que regem a Administração Pública, sendo eles o Princípio da Legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência.

Art. 37. A administração pública direta e indireta, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, e eficiência e, também, ao seguinte:

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE – Segundo este princípio, a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite ou não vede, sob pena de praticar ato inválido.

PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE – A atividade administrativa deve ser destinada a todos os administrados, dirigidas a todos os cidadãos indistintamente, sem determinação de pessoa. Também significa que os atos e provimentos administrativos não são imputáveis ao funcionário que os pratica, mas ao órgão ou entidade administrativa da Administração Pública.

PRINCÍPIO DA MORALIDADE – Por este princípio se entende que ao legal deve juntar-se o honesto e o conveniente aos interesses em questão. Di Pietro leciona que "a moral é identificável no seu objeto ou conteúdo, ou seja, no efeito jurídico imediato que o ato produz e que, na realidade, expressa o meio de atuação pelo qual opta a Administração para atingir cada uma das suas finalidades [...] se o objeto do ato for ofensivo à moral ou às leis de ordem pública, o direito não lhe reconhece validade.".

PRINCÍPIO PUBLICIDADE – Esse princípio torna obrigatória a divulgação de atos, contratos e outros instrumentos celebrados pela Administração Pública direta e indireta, para conhecimento, controle e início de seus efeitos, devendo esta divulgação ser no diário oficial.

PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA – É o princípio que impõe à Administração Pública direta e indireta a obrigação de realizar suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento funcional, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.

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II - ATOS ADMINISTRATIVOS

CONCEITO – Segundo Di Pietro (Direito Administrativo, cit., p. 196), ato administrativo é “a declaração do Estado ou de quem o represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com observância da lei, sob o regime jurídico de direito público e sujeito a controle pelo Poder Judiciário”. ELEMENTOS – São os componentes que o ato administrativo deve reunir para ser perfeito e válido. Assim os elementos são: Agente público competente, finalidade, forma, motivo e objeto.

1. Agente público competente (sujeito): o agente público deve ter força legal para praticar o ato administrativo, ser competente para tanto, sob pena de invalidação, sendo competência o conjunto de atribuições das pessoas jurídicas, órgãos e agentes, fixadas pelo direito positivo.

2. Finalidade: é o requisito que impõe seja o ato administrativo praticado

unicamente para um fim de interesse público, ou seja, corresponde a algo que a Administração Pública quer alcançar com sua edição. Sem este requisito é nulo sob o rótulo de desvio de finalidade. Ex: ato de desapropriação praticado para prejudicar o proprietário do imóvel não tem o requisito finalidade.

3. Forma: é o modo pelo qual o ato administrativo se exterioriza, que via de

regra é escrita, e deve conter formalidades a serem observadas durante o processo de formação da vontade da Administração à publicidade do ato. Ex: se a lei exige processo administrativo disciplinar para demissão de um funcionário, a falta ou vício deste processo invalida a demissão.

4. Motivo: é a circunstância de fato e de direito que serve de fundamento ou

impõe ao agente público a prática do ato administrativo. Ex: no ato de tombamento de imóvel, o motivo é o valor cultural do bem.

5. Objeto: segundo Diogenes Gasparini (Direito Administrativo, cit., p. 65),

“objeto é alguma coisa sobre a qual incide o conteúdo do ato administrativo”. Ex: num ato administrativo de permissão de uso de bem público imóvel o objeto é o bem imóvel.

ATRIBUTOS – São características próprias presentes no ato administrativo que o distingue dos atos jurídicos privados, como a presunção de legitimidade, imperatividade e autoexecutoriedade.

1. Presunção de legitimidade: a presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei e que este, até prova em contrário, foi emitido com observância desta, presumindo-o verdadeiro.

2. Imperatividade: Diogenes Gasparini (Direito Administrativo, cit., p. 72)

ensina que “é a qualidade que certos atos administrativos têm para constituir situações de observância obrigatória em relação aos seus

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destinatários, independentemente da respectiva concordância ou aquiescência.”. Não é encontrável nos atos administrativos que outorgam direitos (permissão, autorização) e muito menos em meros atos administrativos como atestado e certidão, que não impõe obrigações. Ex: ato que institui uma servidão.

3. Autoexecutoriedade: Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo

Brasileiro, cit., p. 137) ensina que a “autoexecutoriedade consiste na possibilidade que certos atos administrativos ensejam de imediata e direta execução pela própria Administração, independentemente de ordem judicial.”. A autoexecutoriedade não é atributo de todo ato administrativo, pois é encontrado nos atos que recebem da lei essa distinção ou quando for indispensável à imediata salvaguarda do interesse público. Ex: apreensão de mercadorias e fechamento de casas noturnas.

CLASSIFICAÇÃO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS Quanto às prerrogativas com que a Administração atua.

Atos de Império - São os praticados pela Administração com todas as prerrogativas e privilégios de autoridade e impostos unilateral e coercitivamente ao particular independentemente de autorização judicial. Ex: desapropriações.

Atos de gestão – São os praticados pela Administração em situação de igualdade com os particulares, para a conservação e desenvolvimento do patrimônio público e gestão de seus serviços.

Quanto à função da vontade.

Atos administrativos propriamente ditos – Há uma declaração de vontade da Administração, voltada para a obtenção de determinados efeitos jurídicos definidos em lei. Ex: demissão, tombamento.

Mero ato administrativo – São os que exteriorizam apenas uma opinião (parecer), conhecimento (certidão) ou desejo (voto num órgão colegiado).

Quanto à formação da vontade.

Atos simples – São os atos que decorrem da manifestação de um único órgão. Ex: nomeação pelo Presidente da República.

Atos complexos – São os atos que resultam da manifestação de dois ou mais órgãos cuja vontade se funde para formar um ato único. Ex: nomeação pelo Governador do Procurador-Geral, indicado pela lista tríplice pelo Colegiado de Procuradores.

Ato composto – É o que resulta da manifestação de dois ou mais órgãos, em que a vontade de um é instrumental em relação a do outro, que edita o

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ato principal. Enquanto no ato complexo as vontades se fundem para a prática de um ato único, no ato composto se pratica dois atos, um acessório e outro principal. Ex: nomeação do Procurador-Geral da República pelo Presidente (ato principal) depende de prévia aprovação pelo Senado (ato acessório).

Quanto aos destinatários.

Atos gerais – São os atos que atingem todas as pessoas que se encontram na mesma situação; são os atos normativos praticados pela Administração, como regulamentos, portarias, resoluções, circulares, etc.

Atos individuais – São os que produzem efeitos jurídicos no caso concreto, tendo destinatário certo. Ex: nomeação, demissão, licença, autorização, etc.

Quanto à exeqüibilidade, que é a capacidade do ato para produzir seus efeitos jurídicos.

Perfeito – É aquele que reúne todos os elementos necessários à sua exeqüibilidade ou operatividade, apresentando-se apto e disponível para produzir seus regulares efeitos.

Imperfeito – É o que se apresenta incompleto na sua formação, ou carente de um ato complementar para tornar-se exeqüível e operante. Ex: quando falta a publicação que a lei exige como requisito para a exeqüibilidade do ato.

Pendente – É aquele ato que, embora perfeito, está sujeito a condição ou termo para que comece a produzir efeitos.

Consumado – É o ato que produziu todos os seus efeitos, tornando-se definitivo, não podendo ser impugnado pela via administrativa ou judicial, cabendo apenas a responsabilidade civil do Estado se este causar dano a terceiro ou a responsabilidade administrativa ou criminal se ilícito.

Quanto aos efeitos.

Constitutivo – É aquele pelo qual a Administração cria, modifica ou extingue um direito ou uma situação do administrado. Ex: permissão, autorização, etc.

Declaratório – É aquele em que a Administração reconhece um direito que já existia antes do ato. Ex: licença, isenção, anulação, etc.

Enunciativo – É aquele pelo qual a Administração apenas atesta ou reconhece determinada situação de fato ou de direito, encerrando juízo, conhecimento ou opinião e não a manifestação de vontade produtora de efeitos jurídicos. Ex: certidões, atestados, informações, pareceres, vistos.

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Quanto ao grau de liberdade da Administração Pública para decidir.

Ato vinculado – São os atos para os quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua realização não podendo a Administração Pública usar de subjetividade, pois a lei se encarrega de ditar com detalhes se, quando e como esta deve agir. Ex: ato que concede aposentaria, onde a lei prescreve o procedimento a ser adotado pela Administração Pública, que, atendidas as exigências legais para sua concessão, cabe a mesma deferir ou indeferir a aposentadoria, não podendo decidir de outra forma.

Ato discricionário – Quando a Administração Pública, diante do caso concreto, tem a possibilidade de apreciá-lo segundo critérios de oportunidade e conveniência e escolher uma dentre duas ou mais soluções, todas válidas para o direito, ou seja, a Administração Pública tem certa margem de liberdade para agir de forma mais conveniente ao interesse público. A discricionariedade administrativa encontra fundamento e justificativa na complexidade e variedade dos problemas que o Poder Público tem que solucionar no cotidiano administrativo e para os quais a lei nem sempre prevê forma e requisitos a serem observados. Ex: a outorga de permissão de uso de bem público, que, nesse caso, a edição do ato ocorre depois de uma avaliação subjetiva da Administração Pública, que poderá deferir ou indeferir a solicitação do particular segundo o interesse público.

ESPÉCIES DE ATOS ADMINISTRATIVOS Quanto ao conteúdo.

Autorização – É o ato administrativo unilateral, discricionário e precário pelo qual a Administração faculta ao particular a realização de certa atividade, prática de ato, serviço público ou a utilização de determinado bem público, que a lei condiciona à concordância prévia da Administração Pública. Ex: autorização de porte de arma, autorização de pesquisa e lavra de recursos naturais.

Licença – É ato administrativo unilateral e vinculado pelo qual a Administração faculta àquele que preencha os requisitos legais o exercício de uma atividade. A diferença entre autorização e licença é que a primeira é ato discricionário e, a segunda, ato vinculado; a primeira é ato constitutivo e a segunda ato declaratório. Ex: licença para construir, licença para dirigir veículos automotores.

Admissão – É ato unilateral e vinculado pelo qual a Administração Pública reconhece ao particular, que preencha os requisitos legais, o direito à prestação de um serviço público. Ex: admissão de alguém em uma unidade educacional para fruição dos serviços oferecidos (inscrição, prova, etc), preenchidos os requisitos legais.

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Permissão – É ato administrativo, vinculado ou discricionário, segundo o qual a Administração Pública outorga ao interessado o direito precário de executar um serviço público ou uso de bem público nas condições por ela estabelecidas. É vinculado se no caso concreto estão preenchidos os requisitos legais, caso em que a Administração não pode negar a permissão, e, discricionário se a Administração tem a liberdade para decidir. Ex: permissão de execução do serviço de transporte coletivo.

Aprovação – É ato unilateral e discricionário mediante o qual a Administração Pública faculta a prática de certo ato jurídico ou concorda com o já praticado para lhe dar eficácia. Ex: pronunciamento do Conselho da República sobre a intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio (art. 90 C.F).

Homologação – É o ato unilateral e vinculado pelo qual a Administração Pública reconhece a legalidade de um ato jurídico. Ela se realiza sempre a posteriori e examina apenas o aspecto de legalidade, no que a distingue da aprovação. Ex: ato da autoridade que homologa o procedimento da licitação (art. 43, VI da Lei 8.666/93).

Parecer – É o ato pelo qual os órgãos consultivos da Administração emitem opinião sobre assuntos técnicos ou jurídicos de sua competência submetida a sua apreciação. É facultativo quando fica a critério da Administração solicitá-lo, passando a integrar a decisão. É obrigatório quando a lei o exige como pressuposto para a prática de um ato. Ex: Lei que exija parecer jurídico sobre todos os recursos administrativos encaminhados ao Chefe do Executivo. É vinculante quando a Administração é obrigada a solicitá-lo e a acatar a sua conclusão. Ex: para conceder aposentadoria por invalidez a Administração é obrigada a ouvir o órgão médico oficial e decidir em conformidade com sua decisão.

Visto – É ato administrativo unilateral pelo qual a autoridade competente atesta a legitimidade formal de outro ato jurídico para lhe dar exeqüibilidade. Ex: é a exigência de visto para encaminhamento de requerimentos de servidores subordinados a autoridade de superior instância.

Quanto à forma.

Decreto – É a forma segundo o qual os chefes do Poder Executivo (Presidente da República, Governador e Prefeito) veiculam atos administrativos de suas respectivas competências – art. 84, IV da C.F – destinados a prover situações gerais ou individuais.

Portaria – São atos administrativos internos pelos quais os chefes de órgãos, repartições ou serviços, expedem determinações gerais ou especiais a seus subordinados, designam servidores para funções e cargos, sindicâncias e processos administrativos.

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Resolução – São atos administrativos normativos expedidos pelas altas autoridades do Poder Executivo (Chefe do Executivo expede decreto), ou pelos presidentes de tribunais, órgãos legislativos e colegiados administrativos, para disciplinar matéria de sua competência específica ou dispor de seu próprio funcionamento. Ex: resoluções do CONTRAN.

Circular – São ordens escritas de caráter uniforme, expedidas a determinados funcionários ou agentes administrativos incumbidos de certo serviço, ou de desempenho de certas atribuições.

Despacho – É ato administrativo que contém decisão das autoridades administrativas sobre assunto de interesse individual ou coletivo submetido à sua apreciação. Ex: despacho do Governador que disciplina o afastamento de policiais eleitos para desempenharem mandato executivo ou legislativo.

Alvará – É o instrumento pelo qual a Administração Pública confere licença ou autorização para a prática de ato ou exercício de atividade sujeitos ao poder de polícia do Estado. O alvará é o instrumento da licença ou autorização, que são o conteúdo do ato. Ex: alvará de localização e alvará de funcionamento de uma lanchonete.

EXTINÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO

1. Pelo cumprimento de seus efeitos: cumpridos os efeitos o ato deixa de existir, extingue-se, podendo este cumprimento ocorrer por esgotamento do prazo, pela execução do ato ou por ter o ato alcançado seu objetivo. É exemplo da primeira espécie o ato de permissão para um circo ocupar um terreno público por 02 meses; exemplo da segunda espécie é o ato que determina a apreensão de mercadorias impróprias para o consumo (apreendida a mercadoria extingue-se o ato); exemplo da terceira espécie é o ato que aumenta certa tarifa pública (aumentada a tarifa o ato alcança seu objetivo e deixa de existir).

2. Pelo desaparecimento do sujeito - Com a desaparição do sujeito da

relação jurídica o ato deixa de existir. Ex: com a morte do permissionário de um bem público extingue-se a permissão.

3. Pelo desaparecimento do objeto – O desaparecimento do objeto da

relação jurídica determina a extinção do ato. Ex: a invasão de terreno público dado em permissão de uso pela água, de forma definitiva, extingue-se o ato de outorga pelo desaparecimento desse bem.

4. Pela retirada – A edição de um ato administrativo cujo objeto é a retirada

de outro ato administrativo do ordenamento jurídico impõe a este ato sua extinção.

Revogação: quando a retirada funda-se em razões de conveniência e oportunidade. Ex: revogação da permissão de uso de um bem

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público, necessário ao exercício de atividade da própria Administração Pública.

Invalidação: quando a retirada funda-se em razões de legalidade. Ex: o desfazimento do ato de nomeação para o cargo de provimento efetivo de candidato não aprovado em concurso público.

Cassação: quando a retirada funda-se no descumprimento de condições que ao beneficiário do ato cabia observar para continuar merecedor do desfrute. Ex: a cassação de licença para funcionamento de um hotel que por haver se convertido em casa de tolerância.

Caducidade: quando a retirada funda-se no advento de nova legislação que impede a permanência da situação anteriormente consentida. Ex: retirada de licença para dirigir outorgada a menor de idade em face da vigência de lei que impede menor de dirigir veículo automotor.

Contraposição: quando a retirada funda-se na emissão do ato com fundamento em competência diversa que gerou o ato anterior, mas cujos efeitos são contrapostos. Ex: a nomeação e a exoneração de funcionário.

5. Pela renúncia – O próprio beneficiário do ato administrativo renuncia à

situação de desfrute que o ato reconhece a seu favor, sendo sempre por iniciativa do beneficiário. Ex: renuncia de direito de uso que fora outorgado ao permissionário por desinteresse.

REVOGAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO Conceito – É ato administrativo discricionário pelo qual a Administração Pública retira, parcial (derrogação) ou totalmente (ab-rogação), um ato administrativo válido e eficaz do ordenamento jurídico, mediante outro ato administrativo, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitando os efeitos já produzidos, surgindo os efeitos desta a partir da própria revogação (ex nunc). Pode ser expressa, quando declara revogado o ato, e, tácita quando o novo ato é incompatível com o ato existente. Ex: quando ocorre com uma permissão de uso de bem público quando a Administração Pública o aliena a terceiro ou ao próprio permissionário.

Quanto à competência, somente quem pratica o ato ou quem tem poderes para dele conhecer de ofício ou por via de recurso, tem competência legal para revogá-lo por motivo de oportunidade ou conveniência.

A revogação deve ser feita nos limites em que a lei permite, não podendo ser revogados:

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1. Os atos vinculados, porque se a Administração não tem a liberdade para apreciar a oportunidade e conveniência no momento da edição do ato, também não pode fazê-lo posteriormente;

2. Os atos que já exauriram os seus efeitos, pois a revogação não retroage,

apenas impede que o ato continue a produzir efeitos;

3. Os atos que já exauriram a competência relativa ao objeto do ato. Ex: recurso contra um determinado ato que esteja sob a apreciação de autoridade superior, deixando de ser a autoridade que praticou o ato competente para revogá-lo.

4. Atos administrativos como as certidões, atestados, votos, porque os

efeitos destes são estabelecidos por lei;

5. Atos que integram um procedimento, pois a cada novo ato ocorre a preclusão com relação ao ato anterior;

6. Atos que geram direitos adquiridos – Súmula 473 do STF.

ANULAÇÃO DO ATO ADMINISTRATIVO Conceito – É o desfazimento do ato administrativo por razões de ilegalidade, retroagindo à data em que o este foi emitido (efeito ex tunc), feita pela própria Administração Pública (poder de autotutela de seus próprios atos) ou pelo Poder Judiciário, mediante provocação dos interessados.

Vícios relativos ao sujeito – O ato administrativo pode apresentar vícios quanto à competência (usurpação de função, excesso de poder e função de fato) e capacidade;

Vícios relativos ao objeto – Ocorre quando o resultado o ato administrativo importa em violação de lei, regulamento ou outro ato administrativo, devendo o objeto ser lícito, possível, moral e determinado;

Vícios relativos à forma – consiste na omissão ou inobservância de formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato;

Vícios relativos ao motivo – quando há inexistência de motivos;

Vícios relativos à finalidade – quando há desvio de finalidade. III - LICITAÇÃO – LEI 8.666/93

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Conceito – É o procedimento administrativo, exigido por lei, mediante o qual a Administração Pública, no exercício de sua função administrativa, seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse. É um ato administrativo Formal.

Por força do art. 37, caput e inciso XXI da CF, estão obrigadas à licitação pública tanto as pessoas de Direito Público de capacidade política quanto às entidades de suas Administrações indiretas, isto é, autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações governamentais, ressalvadas as hipóteses de dispensa ou inexigibilidade. FINALIDADES:

1. garantir a observância do princípio da isonomia - todos poderão participar da licitação;

2. selecionar a proposta mais vantajosa para a administração; 3. mostrar a eficiência e a moralidade nos negócios administrativos.

PRINCÍPIOS A SEREM OBSERVADOS NA LICITAÇÃO:

Legalidade: agir em conformidade com a Lei; impõe o administrador às prescrições legais que regem o procedimento em todos os seus atos e fases;

Impessoalidade: resguardar o interesse público, evitar favoritismos e privilégios; todos os licitantes devem ser tratados igualmente, em termos de direitos e obrigações;

Moralidade: pautar-se por uma conduta honesta, evitando conluios, acordos escusos, etc. Nem tudo que é legal é moral.

Publicidade: os atos devem ser amplamente divulgados para garantir a transparência da atuação administrativa e assegurar o conhecimento de todos os interessados, assegurando também a possibilidade de fiscalização do procedimento. Os atos licitatórios serão públicos desde que resguardados o sigilo das propostas;

Vinculação do instrumento convocatório: a Administração não pode descumprir as normas e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada;

Julgamento objetivo: a decisão a ser tomada pela Administração deverá basear-se em critérios concretos, claros e definidos no instrumento convocatório;

Competitividade: não podem haver regras que impeçam o acesso de interessados ao certame;

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Adjudicação compulsória: a Administração Pública somente poderá, após finalizado o procedimento licitatório, adjudicar o objeto ao vencedor do certame;

Igualdade: é princípio impeditivo da discriminação entre os participantes do certame através de cláusulas que favoreçam uns em detrimento de outros.

OBS: os princípios acima enunciados são de observância obrigatória no procedimento licitatório. Se um dos princípios for afrontado, o procedimento licitatório será nulo.

LICITAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E NO DIREITO POSITIVO A Lei nº 8.666 de 21/06/1993 regulamentou o art. 37, XXI da Constituição Federal, instituiu normas para licitações e contratos administrativos da Administração Pública, informando o art. 22, XXVII ser privativa a competência da União para legislar sobre o assunto. Também a Lei nº 10.520 de 17/07/2002 instituiu a licitação modalidade pregão.

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III; Art. 37 (...) XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações;

MODALIDADES DE LICITAÇÃO

No sistema brasileiro a licitação compreende 5 modalidades, previstas no art. 22 da Lei 8666/93: concorrência, tomada de preços, convite, concurso, leilão e o pregão previsto na Lei nº 10.520 de 18/07/2002.

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A concorrência é obrigatória no caso de valores mais elevados; a tomada de preços, tal como o leilão, é prevista para os negócios de vulto médio e o convite para os de modesta significação econômica.

Todas as modalidades licitatórias dependem da publicação de aviso contendo um resumo do edital com a indicação do local em que os interessados poderão obter-lhe o texto completo, bem como as informações sobre o certame.

Entre esta divulgação e a apresentação das propostas (concorrência, tomada de preços e convite) ou a realização do evento (leilão e concurso) devem haver prazos mínimos obrigatórios que irão variar em função da modalidade licitatória. Tais prazos contam-se a partir da data da última publicação do edital resumido, ou da expedição do convite, ou ainda, da efetiva disponibilidade do edital ou convite. São computados em dias corridos (dias úteis ou não), sempre excluído o dia de início e incluído o de vencimento.

a) Concorrência - É a modalidade licitatória genérica destinada a transações de maior vulto, precedida de ampla publicidade, à qual podem acorrer quaisquer interessados que preencham as condições estabelecidas no edital. É a modalidade obrigatória nas alienações imobiliárias, as concessões de uso, serviços e obras públicas – art. 22, § 1º.

Prazo: o prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do evento será de 30 dias, salvo se o contrato contemplar o regime de empreitada integral ou a licitação for do tipo “melhor técnica” ou “técnica e preço”, quando será de 45 dias. Estes prazos se iniciam a partir do último dia da publicação do aviso contendo o edital ou da efetiva disponibilidade de sua íntegra.

Divulgação: publicação na imprensa oficial e em jornal particular, contendo as informações essenciais da licitação e o local onde pode ser obtido o edital.

b) Tomada de preço - É a modalidade de licitação destinada a transações de vulto médio, em que a participação restringe-se às pessoas previamente inscritas em cadastro administrativo, organizado em função dos ramos de atividades e potencialidades dos eventuais proponentes, e aos que, atendendo a todas as condições exigidas para o cadastramento, até o terceiro dia anterior à data fixada para abertura das propostas, o requeiram e sejam, destarte, qualificados – art. 22, § 2º.

Prazo: o prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do evento será de 15 dias, salvo se se tratar de licitação do tipo “melhor técnica” ou “técnica e preço”, quando será de 30 dias.

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Divulgação: publicação na imprensa oficial e em jornal particular, contendo as informações essenciais da licitação e o local onde pode ser obtido o edital.

c) Convite - É a modalidade licitatória cabível perante relações que envolverão os valores mais baixos, na qual a Administração convoca para a disputa pelo menos 03 pessoas que operam no ramo pertinente ao objeto, cadastradas ou não, e afixa em local próprio cópia do instrumento convocatório, estendendo o mesmo convite aos cadastrados do ramo pertinente ao objeto que hajam manifestado seu interesse até 24 horas antes da apresentação das propostas”. É a única modalidade de licitação em que a lei não exige publicação de edital, já que a convocação se faz por escrito, com antecedência de 5 dias úteis (art. 21 §2o, IV), por meio da chamada carta-convite – art. 22, § 3º.

Prazo: o prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do evento será de 5 dias úteis.

Divulgação: é feita com a simples afixação do edital em local próprio da repartição. Mesmo que não se atinja o número mínimo de três licitantes, por limitações de mercado ou desinteresse, o certame pode ser realizado, desde que tais circunstâncias sejam justificadas no processo.

d) Concurso - É uma disputa entre quaisquer interessados que possuam a qualificação exigida, para a escolha de trabalho técnico ou artístico, mediante prêmio ou remuneração aos vencedores, conforme critérios constantes de edital publicado em imprensa oficial. Como se pode verificar, não se trata do concurso para provimento de cargos públicos, mas do concurso como procedimento administrativo concorrencial com finalidade, geralmente, artística ou científica – art. 22, § 4º.

Prazo: o prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do evento será de 45 dias.

Divulgação: publicação na imprensa oficial e em jornal particular, contendo as informações essenciais da licitação e o local onde pode ser obtido o edital.

e) Leilão - É a modalidade licitatória utilizável para venda de bens móveis inservíveis para a Administração ou legalmente apreendidos ou adquiridos por força de execução judicial, ou, ainda, para venda de imóveis cuja aquisição haja derivado de procedimento judicial ou dação em pagamento, a quem oferecer o maior lance, igual ou superior ao da avaliação (art. 19). Para a alienação de imóveis a regra será a adoção da modalidade concorrência. – art. 22, § 5º.

Prazo: o prazo mínimo até o recebimento das propostas ou da realização do evento será de 15 dias.

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Divulgação: publicação na imprensa oficial e em jornal particular, contendo as informações essenciais da licitação e o local onde pode ser obtido o edital.

f) Pregão – É a modalidade de licitação para aquisição de bens e serviços comuns, qualquer que seja o valor estimado da contratação, em que a disputa pelo fornecimento é feita por meio de propostas e lances em sessão pública, sendo permitido ainda seja realizado por meio da utilização de recursos de tecnologia de informação – Lei nº 10.520 de 18/07/2002.

Prazo: o prazo fixado para a apresentação das propostas, contado a partir da publicação do aviso, não será inferior a 8 (oito) dias úteis;

Divulgação: convocação dos interessados será efetuada por meio de publicação de aviso em diário oficial do respectivo ente federado ou, não existindo, em jornal de circulação local, e facultativamente, por meios eletrônicos e conforme o vulto da licitação, em jornal de grande circulação.

TIPOS DE LICITAÇÃO: São critérios fundamentais de julgamento aplicáveis às concorrências, tomadas de preços e convites – art. 45, § 1º.

Menor preço – o critério de seleção da proposta mais vantajosa para a Administração é o da menor oferta;

Melhor técnica - a seleção da proposta mais vantajosa pressupõe um preço preestabelecido e o julgamento da melhor técnica, cuja avaliação determina a necessidade de estabelecer, no edital, pautas que levem à possibilidade de uma aferição objetiva. (ver art. 46)

Técnica e preço – o critério de seleção da melhor proposta é o que resulta da média ponderada das notas atribuídas aos fatores técnica e preço, valorados na conformidade dos pesos e critérios estabelecidos no ato convocatório; só para serviços intelectuais. Abertos os envelopes de técnica e preço, procede-se à classificação de acordo com a média ponderada das valorizações das propostas técnicas e de preços. (ver art. 46)

Maior lance ou oferta - Aplica-se aos casos de alienação de bens ou concessão de direito real de uso

DISPENSA DE LICITAÇÃO – ART. 24

Segundo o art. 37, XXI da C.F., as obras, serviços, compras e alienações devem ser contratados pela Administração Pública mediante prévia licitação, ressalvadas as hipóteses previstas em lei, o que foi regulamentado pela Lei nº 8.666/93. Os casos de dispensa da licitação estão previstos no art. 24 da Lei

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8.666/93, podendo esta ser em razão de valor, em razão de situações excepcionais, em razão do objeto e em razão da pessoa, sendo eles:

Em razão do valor – É dispensável a licitação para obras e serviços de engenharia de valor até R$15.000,00 (quinze mil reais) e para compras e outros serviços até R$8.000,00 (oito mil reais).

Em razão de situações excepcionais – Quando a demora na realização do procedimento licitatório for incompatível com a urgência na execução do contrato, que ocorre nos casos de emergência ou calamidade pública, em caso de guerra, grave perturbação da ordem, licitação deserta (frustrada – sem interessados), licitação fracassada (nenhuma proposta aproveitada ou desclassificação de todos os interessados).

Em razão do objeto – A lei torna dispensável a realização de licitação para compra ou locação de imóvel, compra de hortifrutigranjeiros, pão e outros gêneros perecíveis, aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos, aquisição de componentes ou peças de origem nacional ou estrangeira necessários à manutenção de equipamentos durante o período de garantia técnica junto ao fornecedor, aquisição de bens ou materiais para as Forças Armadas e aquisição de bens destinados exclusivamente à pesquisa científica e tecnológica.

Em razão da pessoa – É dispensável a licitação para aquisição por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração e que tenha sido criado para este fim específico em data anterior à vigência da Lei 8.666/93, desde que o preço seja compatível com o de mercado. Também os incisos XIII, XVI, XX, XXII, XXIII, XXV, XXVI e XXVII do art. 24.

“Art. 24. É dispensável a licitação: I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea "a", do inciso I do artigo anterior, desde que não se refiram a parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizadas conjunta e concomitantemente; II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea "a", do inciso II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez; III - nos casos de guerra ou grave perturbação da ordem; IV - nos casos de emergência ou de calamidade pública, quando caracterizada urgência de atendimento de situação que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços, equipamentos e outros bens, públicos ou particulares, e somente para os bens necessários ao atendimento da situação emergencial ou calamitosa e para as parcelas de obras e serviços que possam ser concluídas no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias consecutivos e ininterruptos,

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contados da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos respectivos contratos; V - quando não acudirem interessados à licitação anterior e esta, justificadamente, não puder ser repetida sem prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas; VI - quando a União tiver que intervir no domínio econômico para regular preços ou normalizar o abastecimento; VII - quando as propostas apresentadas consignarem preços manifestamente superiores aos praticados no mercado nacional, ou forem incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais competentes, casos em que, observado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e, persistindo a situação, será admitida a adjudicação direta dos bens ou serviços, por valor não superior ao constante do registro de preços, ou dos serviços; VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado; IX - quando houver possibilidade de comprometimento da segurança nacional, nos casos estabelecidos em decreto do Presidente da República, ouvido o Conselho de Defesa Nacional; X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da administração, cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia; XI - na contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento, em conseqüência de rescisão contratual, desde que atendida a ordem de classificação da licitação anterior e aceitas as mesmas condições oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido; XII - nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros gêneros perecíveis, no tempo necessário para a realização dos processos licitatórios correspondentes, realizadas diretamente com base no preço do dia; XIII - na contratação de instituição brasileira incumbida regimental ou estatutariamente da pesquisa, do ensino ou do desenvolvimento institucional, ou de instituição dedicada à recuperação social do preso, desde que a contratada detenha inquestionável reputação ético-profissional e não tenha fins lucrativos; XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos de acordo internacional específico aprovado pelo Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem manifestamente vantajosas para o Poder Público; XV - para a aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos, de autenticidade certificada, desde que compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão ou entidade. XVI - para a impressão dos diários oficiais, de formulários padronizados de uso da administração, e de edições técnicas oficiais, bem como para prestação de serviços de informática a pessoa jurídica de direito público interno, por órgãos ou entidades que integrem a Administração Pública, criados para esse fim específico;

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XVII - para a aquisição de componentes ou peças de origem nacional ou estrangeira, necessários à manutenção de equipamentos durante o período de garantia técnica, junto ao fornecedor original desses equipamentos, quando tal condição de exclusividade for indispensável para a vigência da garantia; XVIII - nas compras ou contratações de serviços para o abastecimento de navios, embarcações, unidades aéreas ou tropas e seus meios de deslocamento quando em estada eventual de curta duração em portos, aeroportos ou localidades diferentes de suas sedes, por motivo de movimentação operacional ou de adestramento, quando a exiguidade dos prazos legais puder comprometer a normalidade e os propósitos das operações e desde que seu valor não exceda ao limite previsto na alínea "a" do inciso II do art. 23 desta Lei; XIX - para as compras de material de uso pelas Forças Armadas, com exceção de materiais de uso pessoal e administrativo, quando houver necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de apoio logístico dos meios navais, aéreos e terrestres, mediante parecer de comissão instituída por decreto; XX - na contratação de associação de portadores de deficiência física, sem fins lucrativos e de comprovada idoneidade, por órgãos ou entidades da Administração Pública, para a prestação de serviços ou fornecimento de mão-de-obra, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado. XXI - Para a aquisição de bens destinados exclusivamente a pesquisa científica e tecnológica com recursos concedidos pela CAPES, FINEP, CNPq ou outras instituições de fomento a pesquisa credenciadas pelo CNPq para esse fim específico. XXII - na contratação do fornecimento ou suprimento de energia elétrica com concessionário, permissionário ou autorizado, segundo as normas da legislação específica. XXIII - na contratação realizada por empresa pública ou sociedade de economia mista com suas subsidiárias e controladas, para a aquisição ou alienação de bens, prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado. XXIV - para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais, qualificadas no âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades contempladas no contrato de gestão. Há, ainda, as hipóteses do art. 17 da Lei 8666/93: “Art. 17. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: I - quando imóveis, dependerá de autorização legislativa para órgãos da administração direta e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais, dependerá de avaliação prévia e de licitação na modalidade de concorrência, dispensada esta nos seguintes casos: a) dação em pagamento;

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b) doação, permitida exclusivamente para outro órgão ou entidade da Administração Pública, de qualquer esfera de governo; c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24 desta Lei; d) investidura; e) venda a outro órgão ou entidade da administração pública, de qualquer esfera de governo; f) alienação, concessão de direito real de uso, locação ou permissão de uso de bens imóveis construídos e destinados ou efetivamente utilizados no âmbito de programas habitacionais de interesse social, por órgãos ou entidades da administração pública especificamente criados para esse fim; II - quando móveis, dependerá de avaliação prévia e de licitação, dispensada esta nos seguintes casos: a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação de sua oportunidade e conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha de outra forma de alienação; b) permuta, permitida exclusivamente entre órgãos ou entidades da Administração Pública; c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação específica; d) venda de títulos, na forma da legislação pertinente; e) venda de bens produzidos ou comercializados por órgãos ou entidades da Administração Pública, em virtude de suas finalidades; f) venda de materiais e equipamentos para outros órgãos ou entidades da Administração Pública, sem utilização previsível por quem deles dispõe. § 1o Os imóveis doados com base na alínea "b" do inciso I deste artigo, cessadas as razões que justificaram a sua doação, reverterão ao patrimônio da pessoa jurídica doadora, vedada a sua alienação pelo beneficiário. § 2o A Administração poderá conceder direito real de uso de bens imóveis, dispensada licitação, quando o uso se destina a outro órgão ou entidade da Administração Pública. § 3o Entende-se por investidura, para os fins desta lei: I - a alienação aos proprietários de imóveis lindeiros de área remanescente ou resultante de obra pública, área esta que se tornar inaproveitável isoladamente, por preço nunca inferior ao da avaliação e desde que esse não ultrapasse a 50% (cinqüenta por cento) do valor constante da alínea "a" do inciso II do art. 23 desta lei; II - a alienação, aos legítimos possuidores diretos ou, na falta destes, ao Poder Público, de imóveis para fins residenciais construídos em núcleos urbanos anexos a usinas hidrelétricas, desde que considerados dispensáveis na fase de operação dessas unidades e não integrem a categoria de bens reversíveis ao final da concessão.

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INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO Existe a impossibilidade jurídica de competição entre os contratantes; geralmente ocorre pela notória especialização de renomado profissional ou pela singularidade do objeto, tornando o certame inviável. O procedimento licitatório será impossível de ser deflagrado – art. 25. CASOS DE INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO – ART. 25

1. para aquisição de materiais, equipamentos; ou gêneros que só possam ser

fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo;

2. para a contratação de serviços técnicos de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;

3. para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou

através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.

OBS: a inexigibilidade deverá sempre ser motivada (princípio da motivação).

PROCEDIMENTOS DA LICITAÇÃO

Fase Interna: inicia-se na repartição interessada, com a abertura do processo em que a autoridade determina sua realização. É definido o objeto e indicado os recursos hábeis para a despesa.

Fase Externa: desenvolve-se através de audiência pública; edital ou carta-convite; recebimento da documentação e propostas; habilitação; julgamento das propostas; adjudicação e homologação.

a) Procedimento da concorrência: O procedimento da concorrência compreende as seguintes fases: edital, habilitação, classificação, homologação e adjudicação;

1ª Fase: edital – É o ato pelo qual a Administração divulga a abertura da concorrência, fixa os requisitos para participação, define o objeto e as condições básicas do contrato e convida a todos os interessados para que apresentem suas propostas. É a lei da licitação e do contrato – art. 40;

2ª Fase: habilitação – É o momento em que há a abertura dos envelopes contendo a documentação (art. 27) e a proposta para sua apreciação – art. 43, I;

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3ª Fase: classificação – A Administração faz o julgamento das propostas, classificando-as pela ordem de preferência, segundo critérios objetivos constantes no edital;

4ª Fase: homologação – A Autoridade competente, após examinar os atos da licitação, aprova ou não a licitação, homologando-a;

5ª Fase: adjudicação – É o ato pelo qual a Administração, através da autoridade competente para homologar a licitação, atribui ao vencedor o objeto da licitação, sendo o ato final do procedimento licitatório;

b) Procedimento da tomada de preços: Não há muita diferença entre o procedimento da concorrência e o da tomada de preços. A diferença básica está no prazo de antecedência na publicação do edital, que é de 15 dias (art. 21, § 2o, III) e na fase da habilitação. Ela é feita antes do procedimento da licitação, para os inscritos no registro cadastral; e é feita durante o procedimento para os que apresentarem a documentação necessária ao cadastramento até o terceiro dia anterior à data do recebimento das propostas, observadas a necessária qualificação (art. 22, § 2o). A qualificação aí referida é a de que trata o art. 27. Quanto às demais fases, são as mesmas da concorrência; c) Procedimento do convite: No convite, o procedimento é simplificado: a convocação dos licitantes é feita por escrito, com 05 dias úteis de antecedência, mediante carta-convite dirigida a pelo menos 03 interessados, escolhidos pela unidade administrativa, e mediante afixação, em local apropriado, da cópia do instrumento convocatório, sendo facultada, ainda, a publicação no Diário Oficial. Podem participar também, na correspondente especialidade, os interessados que manifestarem o interesse com antecedência de até 24 (vinte e quatro) horas da apresentação das propostas. Recebidos os envelopes com as propostas, seguem-se a classificação, adjudicação e homologação; d) Procedimento do concurso: A Lei 8.666/93 não estabelece o procedimento a ser adotado no concurso, remetendo sua disciplina a regulamento próprio, específico para cada concurso. A lei apenas dita que o edital deve ser publicado com 45 dias de antecedência (art. 21, § 2º, I, “a”) e que o regulamento deverá indicar a qualificação exigida dos participantes, as diretrizes e a forma de apresentação do trabalho, as condições de realização do concurso e os prêmios a serem concedidos (art. 52, § 1º). Não são utilizados os critérios de julgamento previstos no art. 45, § 1º. e) Procedimento do leilão: A lei 8.666/93, também nada estabeleceu sobre o procedimento do leilão, remetendo a matéria à legislação pertinente (art. 53), e, sendo modalidade de licitação utilizada para a alienação de bens móveis, deve observar as normas do art. 17, que exige demonstração do interesse público e avaliação, que será o preço mínimo de arrematação, podendo ser feito por leiloeiro oficial ou servidor designado pela Administração (art. 53), devendo os bens serem pagos à vista ou no percentual estabelecido pelo edital, não inferior a 5%, sendo o bem entregue ao arrematante após a lavratura da ata no local;

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f) Procedimento do pregão: O procedimento do pregão vem regulado pela Lei 10.520/02, tendo a fase interna, que precede a abertura do procedimento ao público, chamada fase preparatória (art. 3º), e a fase externa, que se inicia com a publicação do aviso do edital de convocação (art. 4º).

1ª Fase: edital – Será publicado no Diário Oficial e em jornal de grande circulação, com antecedência mínima de 08 dias úteis da entrega das propostas, sendo possível a divulgação por meios eletrônicos (art. 4º, I);

2ª Fase: julgamento e classificação das propostas – Acontece em sessão pública, na qual são entregues os envelopes contendo a indicação do objeto e do preço oferecido, procedendo-se a sua imediata abertura e a verificação da conformidade das propostas com os requisitos constantes do edital.

O julgamento e classificação das propostas se fazem pelo critério do menor preço, o que não impede sejam analisados os prazos máximos para fornecimento, as especificações técnicas e parâmetros mínimos de desempenho e qualidade definidos no edital (art. 4º, X). Combina proposta escrita com a verbal, que pode ser feita pelos 03 autores das melhores ofertas apresentadas (art. 4º, IX), sendo declarado o vencedor pelo leiloeiro, que pode, inclusive, negociar os valores (art. 4º, XVII);

3ª Fase: habilitação do vencedor – Se processa com a abertura apenas do envelope de documentação da proposta vencedora, que deverá atender as exigências editalícias (art. 4º, XIII), podendo o licitante deixar de apresentar documentação que já conste do Sistema de Cadastro Unificado de Fornecedores - SICAF ou sistemas semelhantes mantidos pelos Estados, Distrito Federal ou Municípios;

4ª Fase: adjudicação – É feita logo após a decisão dos recursos;

5ª Fase: homologação – Que é feita pela autoridade competente após verificar a legalidade e o atendimento ao edital.

PREGÃO ELETRÔNICO – O art. 2º, § 1º da Lei 10.520/02 permitiu a utilização de recursos de tecnologia da informação, criando o denominado PREGÃO ELETRÔNICO, regulamentado pelo Decreto 5.450/05, tem as mesmas fases do pregão comum, porém com algumas exigências a mais:

1. O sistema eletrônico será dotado de recursos de criptografia e de autenticação que garantam condições de segurança em todas as etapas do certame – art. 2º, § 3º;

2. O procedimento é conduzido pelo órgão ou entidade promotora da

licitação, com apoio técnico e operacional da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que atuará como provedor do sistema eletrônico para os órgãos

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integrantes do Sistema de Serviços Gerais – SISG, sistema que poderá ser cedido aos demais entes federados mediante termo de adesão – art. 2º, §§ 4º e 5º;

3. Tem que haver o prévio credenciamento perante o provedor do sistema

eletrônico a autoridade competente do órgão promotor da licitação, o pregoeiro, os membros da equipe de apoio e os licitantes que participam do pregão na forma eletrônica. O credenciamento dar-se-á pela atribuição de chave de identificação e de senha, pessoal e intransferível, para acesso ao sistema eletrônico – art. 3º;

4. No caso de pregão promovido por órgão integrante do SISG, o

credenciamento do licitante, bem assim a sua manutenção, dependerá de registro atualizado no Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores – SICAF – art. 3º, § 2º;

5. A divulgação do pregão tem que ser feita não só pela publicação do aviso

pela imprensa, mas também por meio eletrônico, na internet, no portal de compras do Governo – art. 17, caput e § 1º;

6. As propostas são apresentadas pelo sistema eletrônico (art. 21), podendo

ser substituídas ou retiradas até a abertura da sessão – art. 21, § 4º;

7. Na sessão pública, que os licitantes podem acompanhar pela internet, será feita a desclassificação e o próprio sistema ordenará, automaticamente, as propostas classificadas pelo pregoeiro, sendo que somente estas participarão da fase de lance – art. 23;

8. Os lances serão feitos pela internet, podendo estes ser sucessivos desde

que para sua redução – art. 24;

9. Após o encerramento da etapa de lances da sessão pública, o pregoeiro poderá encaminhar, pelo sistema eletrônico, contraproposta ao licitante que tenha apresentado lance mais vantajoso, para que seja obtida melhor proposta, observado o critério de julgamento, não se admitindo negociar condições diferentes daquelas previstas no edital – art. 24, § 8º;

10. A habilitação, que se faz após a fase de julgamento, baseia-se nos dados

constantes do SICAF ou, quando houver necessidade, em outros documentos apresentados por fax, a serem encaminhados no original ou cópia autenticada, no prazo do edital – art. 25, §§ 2º e 3º;

11. Declarado o vencedor, qualquer licitante poderá, durante a sessão pública,

de forma imediata e motivada, em campo próprio do sistema, manifestar sua intenção de recorrer, quando lhe será concedido o prazo de três dias para apresentar as razões de recurso, ficando os demais licitantes, desde logo, intimados para, querendo, apresentarem contrarrazões em igual prazo, que começará a contar do término do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada vista imediata dos elementos indispensáveis à defesa dos seus interesses – art. 26;

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12. No julgamento da habilitação e das propostas, o pregoeiro poderá sanar

erros ou falhas que não alterem a substância das propostas, dos documentos e sua validade jurídica, mediante despacho fundamentado, registrado em ata e acessível a todos, atribuindo-lhes validade e eficácia para fins de habilitação e classificação – art. 26, § 3º;

13. Decididos os recursos e constatada a regularidade dos atos praticados, a

autoridade competente adjudicará o objeto e homologará o procedimento licitatório – art. 27;

14. Quando convocado a assinar o contrato é que o licitante vencedor deverá

comprovar as condições de habilitação consignadas no edital – art. 27.

REVOGAÇÃO E ANULAÇÃO DA LICITAÇÃO – ART. 49

A autoridade competente para a aprovação do procedimento somente poderá revogar a licitação por razões de interesse público decorrente de fato superveniente devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta. Já a anulação, esta poderá ocorrer por ilegalidade, de ofício ou por provocação de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.

A anulação do procedimento licitatório por motivo de ilegalidade não gera

obrigação de indenizar, ressalvada a hipótese da ilegalidade ser imputável à própria Administração – art. 59, parágrafo único. OBS: A nulidade do procedimento licitatório induz à do contrato, ressalvado o disposto no parágrafo único do art. 59 – art. 49, § 2º.

RECURSOS ADMINISTRATIVOS NO CERTAME LICITATÓRIO – ART. 109

É o meio jurídico que a lei prevê para o reexame interno do ato administrativo, decisão ou comportamento praticado no procedimento licitatório pela entidade licitante, por motivo de ilegalidade, discriminando o art. 109 os atos passíveis de recurso, sendo eles o recurso, representação e pedido de reconsideração:

O recurso, interposto no prazo de 05 dias, combate ilegalidade na: a) habilitação ou inabilitação do licitante; b) julgamento das propostas; c) anulação ou revogação da licitação; d) indeferimento do pedido de inscrição em registro cadastral, sua alteração ou cancelamento; e) rescisão do contrato, a que se refere o inciso I do Art. 79 desta lei; f) aplicação das penas de advertência, suspensão temporária ou de multa.

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O recurso contra a habilitação ou inabilitação do licitante, bem como contra o julgamento de propostas tem necessariamente efeito suspensivo, e, os demais recursos, a autoridade competente pode, motivadamente e presentes razões de interesse público, atribuir eficácia suspensiva – art. 109, § 2º. O processamento obedece às normas do art. 109, §§ 3º e 4º - deve ser dado o prazo de 05 dias úteis aos demais licitantes para impugnar o recurso, que deve ser dirigido à autoridade superior, por intermédio da mesma autoridade que praticou o ato impugnado, que poderá no prazo de 05 dias úteis reconsiderar sua decisão ou fazer subir o recurso à autoridade superior, informando-a, tendo esta o prazo de 05 dias para decidir. OBS: Na licitação modalidade carta convite os prazos estabelecidos nos incisos I, II e no § 3º do art. 109 serão de 2 dias. A representação é a petição dirigida à autoridade superior, no prazo de 05 dias, pleiteando a modificação de ato da autoridade inferior, relativo ao objeto da licitação ou contrato, de que não caiba recurso hierárquico – art. 109, II. O pedido de reconsideração é o recurso aviado pelo interessado, no prazo de 10 dias, contra ato de Ministro de Estado, Secretário Estadual ou Municipal que o declarou inidôneo para licitar ou contratar com a Administração Pública (art. 87, § 3º) – art. 109, III. A lei prevê ainda a possibilidade de qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica representar ao Tribunal de Contas ou aos órgãos integrantes do sistema de controle interno contra irregularidades na aplicação da lei 8.666/93 – art. 113, § 1º. Não obtendo o interessado o resultado pretendido pode ele recorrer ao Poder Judiciário, através de ação ordinária, Mandado de Segurança (lei 12.016/09) ou Ação Popular (lei 4.717/65), podendo obter a tutela antecipada ou liminar para suspender o ato ilegal até decisão meritória.

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À SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CONTAGEM/MG.

ILMO. SR. PRESIDENTE DA COMISSÃO ESPECIAL DE LICITAÇÃO.

REF.: CONCORRÊNCIA Nº 001/2008. PROCESSO Nº: 024/2008. OBJETO: CONTRATAÇÃO DE 02 (DUAS) EMPRESAS, PARA OUTORGA DE CONCESSÃO, PARA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FUNERÁRIOS NO MUNICÍPIO DE CONTAGEM/MG.

FUNERÁRIA SÃO CRISTÓVÃO LTDA - ME, CNPJ – 00.772.419/0001-61, localizada na Rua Cecildes Moreira Faria, 135 – Bairro Nova Gameleira/BH – MG., vem respeitosamente perante V. Sa., por seu advogado abaixo assinado, conforme procuração em anexo, em face da decisão que a inabilitou no processo licitatório, interpor RECURSO ADMINISTRATIVO, nos termos do art. 109, inciso I, alínea “a” e seu parágrafo 2º, da Lei Federal nº. 8.666/93 e posteriores alterações, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – DOS FATOS E DO DIREITO

A Recorrente apresentou seus documentos de Habilitação e sua Proposta Comercial na forma da Lei e dentro das regras exigidas pelo Edital nº 001/2008, processo nº 024/2008, licitação na modalidade de CONCORRÊNCIA, com critério de julgamento de “MAIOR OFERTA”, com fulcro no art. 15, II da Lei 8.987/95 objetivando a contratação de 02 (duas) empresas, para outorga de CONCESSÃO, para prestação de serviços funerários no Município de Contagem/MG., conforme especificações constantes neste Edital e seus anexos.

Acontece que em sessão de julgamento dos documentos de habilitação,

ocorrida no dia 05/05/2008, a Comissão Especial de Licitação, designada pela Portaria nº 011 de 16/01/2008, com o objetivo de analisar e julgar os documentos apresentados pelas empresas participantes, decidiu inabilitar a empresa Recorrente sob o argumento de que apresenta composição acionária em comum com a empresa ASSISTENCIAL LUZIENSE LTDA, configurando conluio, causando prejuízo ao caráter competitivo no certame, nos termos do art. 90 da Lei 8.666/93.

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Ora, dentre as condições previstas no edital para a participação no processo licitatório não há qualquer restrição no sentido de que as empresas interessadas não possam ter sócios em comum, conforme abaixo demonstrado.

II - CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO

2.1. Poderão participar desta licitação pessoas jurídicas do ramo pertinente ao objeto licitado, que atendam às condições de habilitação estabelecidas no Título VII e requisitos exigidos neste instrumento convocatório. 2.2. Participarão da Sessão todos os que tenham protocolados seus envelopes até o horário estipulado no Preâmbulo deste edital. 2.3. As empresas que desejarem poderão se fazer representar nos atos desta licitação mediante pessoa devidamente habilitada por instrumento público ou particular de mandato ou, ainda, pelo instrumento constitutivo da empresa quando for o caso. 2.4. O documento de mandato referido no item anterior deverá descrever quais poderes detém o representante da empresa para este Certame. 2.5. As empresas que não apresentarem representantes ou ainda que o apresentem em desconformidade com este Edital poderão participar da licitação sem que, no entanto, seja considerada qualquer manifestação nas atas elaboradas. 2.6. NÃO PODERÁ PARTICIPAR DA LICITAÇÃO, A EMPRESA: 2.8.1. Suspensa, impedida de licitar ou contratar com a Administração, nos termos do art. 87, III, da Lei 8.666/93; 2.8.2. Declarada inidônea para licitar ou contratar com a Administração, nos termos do art. 84, IV, da Lei 8.666/93; 2.8.3. Com falência declarada, em liquidação judicial ou extrajudicial; 2.8.4. Em consórcio; 2.8.5. E que incidir no disposto no art. 9º da Lei n.º 8.666/93 e no art. 33 da Lei Orgânica do Município de Contagem: Art. 33 - O Prefeito, o Vice-Prefeito, os Vereadores, os ocupantes de cargo em comissão ou função de confiança, as pessoas ligadas a qualquer deles por matrimônio ou parentesco, afim ou consangüíneo, até o segundo grau, ou por adoção, e os servidores e empregados públicos municipais, não poderão contratar com o Município, subsistindo a proibição até seis meses após findas as respectivas funções. 2.9. A observância das vedações do item anterior é de inteira responsabilidade do licitante que, pelo descumprimento, se sujeita às penalidades cabíveis.

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Também a Lei 8.666/93 não restringe a participação no processo licitatório de empresas que tenham sócios em comum, e, onde o legislador não restringe, não cabe ao interprete restringir – regra básica de hermenêutica.

Por outro lado, ao contrário do alegado pela Comissão Especial de

Licitação, as empresas FUNERÁRIA SÃO CRISTÓVÃO LTDA – ME e ASSISTENCIAL LUZIENSE LTDA, não têm “composição acionária comum”, mas cotas que o sócio CARLOS ALBERTO RIOS MANUEL possui em ambas as empresas, registrando que a pessoa jurídica não se confunde com a pessoa física de seus sócios.

Aliás, a pessoa jurídica é a unidade de pessoas naturais e/ou de

patrimônios que visa a obtenção de certas finalidades, reconhecida pela ordem jurídica como pessoa de direitos e obrigações, sendo certo que a licitação em questão informa que “poderão participar desta licitação pessoas jurídicas do ramo pertinente ao objeto licitado, que atendam às condições de habilitação estabelecidas...”, não fazendo qualquer alusão às pessoas de seus sócios.

II -- DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

O princípio da legalidade é um dos princípios fundamentais à formação do próprio Estado de Direito sustentado no império da lei, e, na tripartição dos poderes, possui especificidades no âmbito do Direito Público, onde é mencionado em diferentes dispositivos como, por exemplo, no art. 37 da Constituição no Capítulo VII, que trata da Administração Pública, e no art. 150, inciso I, do Título VI, Capítulo I, Seção II, que trata das limitações ao poder de tributar.

A conotação aqui é de estrita vinculação do poder público aos ditames da

lei e do Direito. Resulta, pois, o princípio da legalidade no âmbito do Direito Público num poder-dever que condiciona toda e qualquer ação do administrador público. Mesmo quando este age dentro de seu poder discricionário, onde há uma pequena porção de liberdade de escolha, deve fazê-lo dentro do campo balizado pelo ordenamento jurídico..

HELY LOPES MEIRELLES, quanto ao significado do princípio da

legalidade, aduz que "o administrador público está, em toda a sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei, e às exigências do bem-comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e criminal, conforme o caso". (“Direito Administrativo Brasileiro" Ed. Revista dos Tribunais, 15ª edição, 1990, página 79).

Assim, não tendo o edital exigido, dentre outras condições, que as

empresas participantes não tenham sócios em comum, bem como a Lei 8.666/93 da mesma forma nada menciona/restringe, não pode a Comissão Especial de Licitação inabilitar a Recorrente sob este argumento, sob pena de ferir o Princípio da Legalidade, ignorando o art. 5º, II da Constituição Federal que dita que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.", estando, portanto, viciado este ato/decisão.

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Lado outro, a Douta Comissão, somente poderia desclassificar uma das empresas, pecando pelo excesso ao desabilitar ambas, não aplicando a costumeira Justiça ou Lei, pois, ao contrário do alegado, não houve conluio entre as empresas, em face da idoneidade de ambas no mercado de Minas Gerais, com real possibilidade de ganhar o certame pela “maior oferta”, favorecendo a Administração do Município de Contagem. III - DA IMPUTAÇÃO DO CRIME TIPIFICADO NO ART. 90 DA LEI 8.666/93 A inabilitação declarada pela Comissão Especial de Licitação imputou à Recorrente o crime tipificado no art. 90 da Lei 8.666/93, alegando que, por ter composição acionário em comum com a ASSISTENCIAL LUZIENSE LTDA, configurou conluio, causando prejuízo ao caráter competitivo no certame. Ora, como pode ter conluio pelos simples fato de empresas terem em comum um sócio, apesar destas terem administrações independentes. O que de fato correu é que ambas as empresas têm administração distintas e independentes, localizando-se em municípios diferentes, não tendo a empresa ASSISTENCIAL LUZIENSE LTDA tomado ciência prévia da participação da Recorrente no certame. Assim foi leviana a imputação de tão grave crime à Recorrente, desprovida de qualquer prova inequívoca que justificasse sua inabilitação. IV – DOS REQUERIMENTOS a) Diante do exposto, requer seja o presente recurso recebido no efeito suspensivo, reformando essa Douta Comissão sua decisão para habilitar a Recorrente no processo licitatório em questão.

b) Caso não seja esse o entendimento desta D. Comissão Especial de Licitações, e seja negado provimento ao presente recurso, requer-se, sucessivamente, que mesmo seja encaminhado à Autoridade imediatamente superior, para que esta também se pronuncie sobre o presente recurso, de acordo com o art. 109, § 4°, da Lei 8.666/93.

Nestes termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 09 de maio de 2008.

André Luiz Lopes

OAB/MG – 70.397

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IV - CONTRATOS ADMINISTRATIVOS Conceito – É o ajuste que a Administração Pública, agindo nesta qualidade, firma com particular ou outra entidade administrativa, para consecução de objetivos de interesse público, nas condições estabelecidas pela própria Administração - Hely Lopes Meirelles (Direito Administrativo Brasileiro, cit., p. 189). CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS ADMINISTRATIVOS São características dos contratos administrativos:

1. Presença da Administração Pública como Poder Público – Nos contratos administrativos a Administração Pública aparece com uma série de prerrogativas que garantem a sua posição de supremacia sobre o particular, que vêm expressas precisamente por meio das cláusulas exorbitantes ou de privilégio ou de prerrogativas;

2. Finalidade pública – Esta característica está presente em todos os atos e

contratos da Administração Pública, ainda que regidos pelo direito privado, podendo às vezes ocorrer que utilidade direta seja usufruída apenas pelo particular, como ocorre na concessão de uso de sepulturas. Contudo, indiretamente, é sempre o interesse público que a Administração tem que ter em vista, sob pena de desvio de poder;

3. Obediência à forma prescrita em lei – As inúmeras formas do contrato

administrativo se encontram na lei, sendo a forma essencial para o controle da legalidade, estando a maioria prevista na lei 8.666/93;

4. Procedimento legal – A lei estabelece determinados procedimentos

obrigatórios para a celebração de contratos e que podem variar de uma modalidade para outra, compreendendo medidas como autorização legislativa, avaliação, motivação, autorização pela autoridade competente, indicação de recursos orçamentários e licitação. A própria Constituição Federal, em seu art. 37, XXI exige licitação para os contratos de obras, serviços, compras e alienações, e o art. 175 para concessões de serviços públicos;

5. Contrato de adesão – Todas as cláusulas dos contratos administrativos

são fixadas unilateralmente pela Administração Pública, ou seja, pelo instrumento convocatório da licitação o poder público faz uma oferta a todos os interessados, fixando as condições em que pretende contratar, equivalendo às propostas dos licitantes à aceitação da oferta feita pela Administração, ditando o art. 40, § 2º da Lei 8.666/93 que, dentre os anexos do edital, deve estar necessariamente presente a minuta do contrato a ser firmado entre o vencedor do certame e a Administração Pública;

6. Natureza intuitu personae - Todos os contratos para os quais a lei exige

licitação são firmados intuitu personae, ou seja, em razão de condições

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pessoais do contratado, apuradas no procedimento licitatório, motivo pelo qual o art. 78, VI da Lei 8.666/93 veda a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado a outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial;

7. Presença de cláusulas exorbitantes – São as cláusulas que não seriam

comuns ou que seriam ilícitas em contrato celebrado entre particulares, por conferirem prerrogativas a uma das partes (a Administração) em relação à outra, colocando-a em posição de supremacia;

Exigência de garantia – É a possibilidade da Administração Pública exigir nos contratos de obras, serviços e compras caução em dinheiro ou títulos da dívida pública, seguro garantia e fiança bancária, exigência que consta no próprio edital da licitação. A garantia quando exigida no contrato é devolvida após a execução do contrato – art. 56 da Lei 8.666/93;

Alteração unilateral – Está prevista no art. 58, I para possibilitar a melhor adequação às finalidades de interesse público, mais especificamente nos casos do art. 65, I (quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos; quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei);

Rescisão unilateral – Prevista no art. 58, II c/c art. 79, I e 78, I a XII e XVII, abrangendo o inadimplemento com culpa, sem culpa, razões de interesse público e caso fortuito ou de força maior;

Fiscalização – Trata-se de prerrogativas do poder público prevista no art. 58, III e disciplinada especificamente no art. 67, que exige seja a execução do contrato acompanhada e fiscalizada por um representante da Administração Pública, especialmente designado, permitida a contratação de terceiros para assistí-lo e subsidiá-lo de informações pertinentes a essa atribuição;

Aplicação de penalidades – A inexecução total ou parcial do contrato dá à Administração a prerrogativa de aplicar sanções de natureza administrativa (art. 58, IV) dentre as indicadas no art. 87 (advertência, multa, suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração Pública e declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública);

Anulação – A Administração Pública, que está sujeita ao princípio da legalidade, tem que exercer constante controle sobre seus próprios atos, cabendo-lhe o poder-dever de anular aqueles que contrariam a lei, inclusive os contratos;

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Retomada do objeto – É a possibilidade que tem a Administração Pública de rescindir unilateralmente o contrato e assumir imediatamente o objeto do contrato;

Restrição ao uso da exceptio non adimpleti contractus – No direito privado, quando uma das partes descumpre o contrato, a outra pode descumpri-lo também socorrendo-se da exceptio non adimpleti contractus (exceção do contrato não cumprido), com fundamento no art. 477 do Código Civil. No Direito Administrativo isso não ocorre, pois o particular não pode interromper a execução do contrato, em decorrência dos princípios da continuidade do serviço público e da supremacia do interesse público sobre o particular. Deve o particular requerer a rescisão do contrato via administrativa ou judicial;

8. Mutabilidade – Decorre da possibilidade da Administração Pública permitir

a adequação do contrato para manter o equilíbrio econômico do mesmo, causados pela força maior e:

Risco empresarial – risco que todo empresário corre nos negócios cotidianos resultante da própria flutuação do mercado.

Risco Administrativo; o Alteração unilateral do contrato administrativo para atender

interesse público, incumbindo à Administração Pública restabelecer o equilíbrio voluntariamente rompido;

o Fato do príncipe – ato de autoridade, não diretamente relacionado com o contrato, mas que repercute indiretamente sobre ele, incumbindo à Administração Pública restabelecer o equilíbrio voluntariamente rompido;

o Fato da Administração – É toda ação ou omissão do Poder Público que, incidindo direta e especificamente sobre o contrato, retarda, agrava ou impede a sua execução;

9. Risco econômico – São circunstâncias externas ao contrato, estranhas à

vontade das partes, imprevisíveis, excepcionais, inevitáveis, que causam desequilíbrio muito grande no contrato, dando lugar à aplicação da teoria da imprevisão. A Administração Pública, em regra, responde pela recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do contrato;

ESPÉCIES DE CONTRATO ADMINISTRATIVO

01. CONTRATO DE OBRA PÚBLICA - É todo ajuste administrativo que tem por objeto uma construção, uma reforma ou uma ampliação de imóvel destinado ao público ou ao serviço público. Construção é a conjugação de materiais e atividades empregados na execução de um projeto de engenharia; reforma é a obra de melhoramento da construção, sem ampliar sua área; ampliação é a obra que tem por objeto aumentar a área da construção.

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Quanto ao regime de execução os contratos de obra pública podem ser:

Empreitada: a Administração repassa ao contratado a execução da obra por sua conta e risco, mediante remuneração previamente ajustada. A empreitada pode ser por preço global (é aquela em que se ajusta a execução por preço certo, embora reajustável, previamente estabelecido para a totalidade da obra), por preço unitário (é a em que se contrata a execução por preço certo de unidades determinadas) ou misto;

Administração contratada: é aquela em que o valor da obra é apenas estimado e o pagamento é ajustado com base nos custos do material e da mão-de-obra, geralmente fornecidos pelo contratado;

Tarefa: é aquele em que a execução de pequenas obras ou de parte de uma obra maior é ajustada por preço certo, global ou unitário, com pagamento efetuado periodicamente.

02. CONTRATO DE SERVIÇO – É todo ajuste administrativo que tem por objeto uma atividade prestada à Administração para atendimento de suas necessidades ou de seus administrados.

Serviços comuns: são todos aqueles que não exigem habilitação especial para sua execução, podendo ser realizado por qualquer pessoa ou empresa;

Serviços técnicos profissionais: São os que exigem habilitação legal para a sua execução, variando esta habilitação de simples registro do profissional ou firma na repartição competente, até o diploma de curso superior oficialmente reconhecido. Pode ainda ser serviços técnicos profissionais generalizados, especializados ou notória especialização;

03. CONTRATO DE FORNECIMENTO – É o ajuste administrativo pelo qual a Administração Pública adquire coisas móveis (materiais, produtos industrializados, gêneros alimentícios, etc), necessárias à realização de suas obras ou à manutenção de seus serviços. 04. CONTRATO DE CONCESSÃO – É o ajuste pelo qual a Administração delega ao particular a execução remunerada de serviço ou de obra pública, ou lhe cede o uso de um bem público, para que explore por sua conta e risco, pelo prazo e nas condições regulamentares e contratuais, licitados na modalidade concorrência, podendo ser:

Concessão de serviço público: é o que tem por objeto a transferência da execução de um serviço do Poder Público ao particular, que se remunerará dos gastos com o empreendimento através de uma tarifa cobrada pelos usuários;

Concessão de obra pública: é o ajuste administrativo que tem por objeto a delegação a um particular da execução e exploração de uma

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obra pública ou de interesse público, para uso da coletividade, mediante remuneração ao concessionário, por tarifa;

Concessão de uso de bem público: é o destinado a outorgar ao particular a faculdade de utilizar um bem da Administração, segundo a sua destinação específica, tal como um hotel, restaurante;

05. CONTRATO DE GESTÃO – É o ajuste celebrado pelo Poder Público com órgãos e entidades da Administração direta, indireta e entidades privadas qualificadas como organizações sociais, para lhes ampliar a autonomia gerencial, orçamentária e financeira ou para lhes prestar variados auxílios e lhes fixar metas de desempenho na consecução de seus objetivos.

EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO É A relação de igualdade entre os encargos do contratante particular e a correspondente remuneração a que faz jus, fixada no contrato administrativo para a justa compensação do pactuado. O contrato administrativo deve submeter-se à vontade do contratante quando ocorrerem as situações permissivas de alteração unilateral do contrato. Da mesma forma, eventos imprevisíveis ou mesmo previsíveis, mas de consequências imprevisíveis (caso fortuito e força maior), podem onerar excessivamente o contratado, rompendo o equilíbrio contratual. Porém, deve ser mantida inalterada a equação financeira estabelecida inicialmente no contrato, ou seja, a taxa de lucro do contratado deve manter-se constante. Assim, a qualquer aumento no custo do contrato imposto pelo contratante ou por circunstâncias imprevisíveis deve corresponder o respectivo aumento do pagamento ao contratado. Todo contrato administrativo tem, implícita, a cláusula rebus sic stantibus (“enquanto a situação for mantida”), que determina a validade dos dispositivos financeiros do contrato enquanto a situação existente à época de sua celebração mantiver-se. Seu desdobramento é a teoria da imprevisão, que determina a modificação desses dispositivos em caso de eventos imprevisíveis ou mesmo previsíveis ou de consequências imprevisíveis. O objetivo dessa mudança é a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

Reajustamento contratual de preços - É o aumento do valor pago ao contratado, em decorrência da desvalorização da moeda provocada pela inflação. O reajuste é evento normal relacionado ao contrato, não requerendo sua revisão;

Repactuação - É uma modalidade específica de reajuste, utilizada apenas em contratos de serviços contínuos, na qual não se trabalha com um índice geral de inflação, mas com a variação específica dos custos do contrato. Porém, a revisão contratual será requerida no caso de recomposição

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extraordinária de preços, ou seja, nas situações em que for aplicável a teoria da imprevisão.

Recomposição - Ao contrário do reajuste e da repactuação, previsíveis e com periodicidade mínima de um ano, a recomposição deriva de eventos imprevisíveis e não tem prazo mínimo para ser aplicada. A atualização financeira, por sua vez, tem semelhanças com o reajuste e a repactuação, pois refere-se também à mera correção monetária do valor.

Atualização – É devida somente nos casos em que a Administração atrasar o pagamento do contratado, sendo estipulada em 6% ao ano.

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V- SERVIDOR PÚBLICO Conceito - São todas as pessoas físicas que mantêm relação de trabalho com a Administração Pública, direta, indireta, autárquica e fundacional, integrados em cargos ou empregos públicos. Os servidores Públicos constituem uma espécie dentro do gênero de Agentes Públicos. Os servidores públicos podem ser:

Estatutários (Funcionários Públicos) - possuem CARGOS;

Empregados públicos (celetistas) - possuem EMPREGOS;

Servidores temporários - possuem FUNÇÃO. Cargos públicos - são as mais simples e indivisíveis unidades de competência a serem expressas por um agente público, previstos em número certo, com denominação própria e fixação de remuneração ou vencimento, e remunerados por pessoas jurídicas de direito público, devendo ser criados por Lei, sob o regime estatutário. Empregos públicos - são núcleos de encargo de trabalho a serem preenchidos por agentes contratados para desempenhá-los sob uma relação trabalhista (celetista). Sujeitam-se a uma disciplina jurídica que embora sofra algumas influências, basicamente são aquelas aplicadas aos contratos trabalhistas em geral. Função pública - é a atribuição ou conjunto de atribuições que a Administração confere a cada categoria profissional, ou comete individualmente a determinados servidores para a execução de serviços eventuais ou temporários, sob o regime celetista. CATEGORIAS

01. Servidores públicos – São todas as pessoas físicas que mantêm relação de trabalho com a Administração Pública, direta, indireta, autárquica e fundacional;

Servidores estatutários: são os que se vinculam à Administração Pública direta, autárquica e fundacional mediante um liame institucional, sujeitos ao regime estatutário e ocupando cargo público;

Empregado público: sãos os contratados sob o regime da legislação trabalhista e ocupante de emprego público;

02. Agentes políticos – “São os componentes do Governo nos seus primeiros escalões, investidos em cargos, funções, mandatos ou comissões, por nomeação, eleição, designação ou delegação para o exercício de atribuições

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constitucionais” - Hely Lopes Meirelles (2003:75) – ficando essas funções políticas a cargo dos órgãos governamentais ou governo propriamente dito e se concentram nas mãos do Poder Executivo e Legislativo 03. Militares – Sãos as pessoas físicas que prestam serviços às Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica) e às Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e Territórios, com vínculo estatutário sujeito a regime jurídico próprio, mediante remuneração paga pelos respectivos cofres públicos; 04. Particulares em colaboração com o Poder Público – pessoas físicas que prestam serviço ao Estado, sem vínculo empregatício, com ou sem remuneração.

Por delegação de poder: é o caso dos empregados das empresas concessionárias e permissionárias de serviço público, os que exercem serviços notariais e de registro e os leiloeiros; eles exercem função pública, em seu nome próprio, sem vínculo empregatício, mas sob a fiscalização do Poder Público;

Mediante requisição, nomeação ou designação para o exercício de funções públicas relevantes como jurados, os convocados para o serviço militar e eleitoral, os comissários de menores; também não têm vínculo empregatício e, em geral, não recebem remuneração;

Gestores de negócio: são os que espontaneamente assumem determinada função pública em momento de emergência, como epidemia, enchente e etc.

FORMAS DE PROVIMENTO DOS CARGOS PÚBLICOS

O Provimento é o ato pelo qual o servidor público é investido no exercício do cargo ou emprego público, podendo ser Originária ou Derivada.

01. Originária: pressupõe a inexistência de uma relação jurídica anterior mantida entre o Servidor e a Administração. A única forma de provimento originário é a nomeação, que pode ser realizada em caráter efetivo ou para cargos de provimento em comissão. Quanto à durabilidade, o provimento pode ser em cargo efetivo, em comissão e vitalício.

Cargo efetivo: pressupõe a aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos, assegurando ao servidor, após 03 anos de exercício, o direito de permanência no cargo (art. 41 C.F) - a aprovação em concurso número, dentro do número de vagas previstas no edital, enseja o direito adquirido à nomeação (Recurso Extraordinário nº 598.099/MS, Tribunal Pleno do STF, Rel. Gilmar Mendes. j. 10.08.2011, unânime, DJe 03.10.2011 – Repercussão Geral);

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Cargo em comissão: é o admitido somente em caráter provisório, destinando-se às funções de confiança dos superiores hierárquicos;

Cargo vitalício: é o cargo público que, mediante nomeação, assegura ao funcionário o direito à permanência no cargo do qual somente pode ser destituído por sentença judicial transitada em julgado. Ex: juízes (art. 95, I C.F) e promotores de justiça (art. 128, § 5º, a C.F).

02. Derivada: as formas derivadas de provimento dos cargos públicos decorrem de um vínculo anterior entre Servidor e Administração.

Promoção: é a elevação de um servidor de uma classe para outra dentro de uma mesma carreira. Com isso, houve a vacância de um cargo inferior e conseqüentemente o provimento do cargo superior. Carreira é o agrupamento de classes de cargos de uma mesma atividade;

Readaptação: é a passagem do servidor para outro cargo, compatível com a deficiência física que ele venha a apresentar;

Reversão: é o retorno ao serviço ativo do servidor aposentado por invalidez, quando insubsistentes os motivos da aposentadoria. Pode acontecer para o mesmo cargo se ele ainda estiver vago ou para outro semelhante. Se não houver cargo vago, o servidor que reverter ficará como excedente;

Aproveitamento: é o retorno ao serviço ativo do servidor que se encontrava em disponibilidade e foi aproveitado. Deve realizar-se em cargo semelhante àquele anteriormente ocupado. A Administração deve realizar o aproveitamento de forma prioritária, antes mesmo de realizar concurso para aquele cargo. Disponibilidade é a colocação do servidor estável em inatividade remunerada, até seu adequado aproveitamento em outro cargo, com proventos proporcionais ao tempo de serviço – art. 41, § 3º da C. F.

Reintegração: é o retorno ao serviço ativo do servidor que fora demitido, quando a demissão for anulada administrativamente ou judicialmente, voltando para o mesmo cargo que ocupava anteriormente. Dá-se com o ressarcimento de todas as vantagens que o servidor deixou de receber durante o período em que esteve afastado;

Recondução: é o retorno do servidor estável ao cargo anteriormente ocupado.

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VACÂNCIA É o ato administrativo pelo qual o servidor é destituído do cargo, emprego ou função, e decorre de exoneração, demissão, aposentadoria, promoção e falecimento. ESPÉCIES DE VACÂNCIA

01. COM EXTINÇÃO DO VÍNCULO

Exoneração - a pedido do funcionário ou ex officio (manifestação autônoma da Administração Pública);

Demissão – constitui penalidade decorrente da prática de ilícito administrativo;

Morte – é o desaparecimento do servidor;

Aposentadoria – é a passagem do servidor da atividade para inatividade.

02. SEM EXTINÇÃO DO VÍNCULO

Promoção – é a mudança do servidor de um cargo (que por isso fica vago) para outro, com elevação de função e vencimentos;

Readaptação – é a mudança do servidor de um Cargo (que por isso fica vago) para outro mais compatível com sua capacidade profissional;

REGIME JURÍDICO DO SERVIDOR A Constituição Federal na redação original do art. 39 exigiu o regime jurídico único para os servidores da Administração direta, das autarquias e das fundações públicas, seja da União, Estados, Distrito Federal e municípios. A Emenda Constitucional nº 19 excluiu a exigência do regime jurídico único, contudo, o STF ao julgar a ADIn 2.135/DF decidiu pela suspensão da vigência do artigo 39 “caput” em sua redação dada pela referida emenda, o que redunda na exigência de regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da Administração Pública direta, autarquias e fundações públicas. Para Celso de Mello é o conjunto de regras que disciplinam os diversos aspectos das relações, estatutárias ou contratuais, mantidas pelo Estado com os seus agentes. Assim, o conceito de regime jurídico único é o regime Estatutário, no qual todos os servidores da Administração direta do Estado, das autarquias e fundações

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públicas sejam submetidos a idênticos critérios de recrutamento, de provimento, de progressão na carreira, de retribuição, de auferimento de vantagens e direitos ACESSO AOS CARGOS, EMPREGOS E FUNÇÕES PÚBLICAS O art. 37, I da Constituição Federal assegura o direito de acesso aos cargos, empregos e funções públicas aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, e os estrangeiros na forma da lei. CONDIÇÕES DE INGRESSO O art. 37, II da Constituição Federal prescreve que a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. Para os cargos em comissão o art. 37, II dispensa o concurso público, o que não significa ser inteiramente livre a escolha dos seus ocupantes, conforme redação do inciso V do mesmo dispositivo, que prescreve que “as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;”. Além dos cargos em comissão, a própria Constituição estabelece outras exceções, como as referentes à nomeação dos membros dos Tribunais (arts. 73, § 2º, 94, 101, 104, parágrafo único, II, 107, 111-A, 119, II, 120, III e 123). Também o art. 37, IX prescreve que a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. O prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma vez, por igual período (art. 37, III), alcançando a estabilidade após três anos de efetivo exercício, os servidores nomeados para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público – art. 41.

DIREITO DE GREVE E LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO SINDICAL - ART.37, VI E VII O art. 37, VI e VII da Constituição Federal assegura ao servidor público o direito de greve, nos termos e limites definidos em lei específica, e à livre associação sindical, que é auto-aplicável. O art. 142, § 3º proíbe a greve e a sindicalização do militar.

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PROIBIÇÃO DE ACUMULAÇÃO DE CARGOS – ART. 37, XVI Nos termos do art. 37, XVI da Constituição Federal, é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI (teto de vencimento ou subsídio): a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro, técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas. O art. 38, III admite a possibilidade do servidor investido em mandato de vereador continuar no exercício de seu cargo, emprego ou função, desde que haja compatibilidade de horários, hipótese em que perceberá as vantagens correspondentes a sua condição de servidor e de vereador. O art. 95, parágrafo único, I veda aos juízes exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério, o que também é repetido aos membros do Ministério Público – art. 128, § 5º, II, d. PRINCIPAIS DIREITOS E DEVERES NA RELAÇÃO ESTADO-SERVIDOR DIREITOS – Os direitos do servidor público estão consagrados, em grande parte, nos arts. 37 a 41 da Constituição Federal, sem prejuízo de outros outorgados pelas constituições estaduais ou lei orgânica de município, constando ainda no Estatuto do Servidor das entidades federadas, que têm competência para estabelecê-los, ou da CLT, se o regime for celetista, constituindo, dentre eles, as férias, licenças, vencimento ou remuneração e demais vantagens pecuniárias, assistência, direito de petição, disponibilidade e aposentadoria, livre associação sindical e o direito à greve, nos termos e nos limites definidos em lei específica. DEVERES - As legislações constitucional e infraconstitucional, acrescidas dos Estatutos dos Servidores, seja da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, impõem deveres e obrigações para os servidores públicos. São deveres básicos: exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; ser leal ao órgão e entidade em que servir, cumprindo as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais; atender com presteza; levar ao conhecimento das autoridades superiores as irregularidades de que tiver ciência; zelar pela economia do material e conservação do patrimônio público; guardar sigilo; ser assíduo e pontual; submeter-se a revisão médica. O descumprimento dos deveres enseja punição disciplinar.

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REGIME PREVIDENCIÁRIO DOS SERVIDORES A aposentadoria é o direito à inatividade remunerada, assegurada ao servidor público em caso de invalidez, idade ou requisitos conjugados de tempo de exercício no serviço público e no cargo, idade mínima, compulsória e voluntária. O art. 40 da C.F prescreve que os servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. MODALIDADES DE APOSENTADORIA

01. Por Invalidez: quando o servidor está incapacitado para o serviço, recebendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente de serviço, moléstia profissional, doença grave, contagiosa ou incurável – art. 40, § 1º, I; 02. Compulsória: aos 75 anos de idade, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição – art. 40, § 1º, II; 03. Voluntária: desde que cumprido tempo mínimo de 10 anos de efetivo exercício no serviço público e 05 anos no cargo efetivo em que se dará a aposentadoria, observadas as seguintes condições:

60 anos de idade e 35 de contribuição, se homem, e 55 anos de idade e 30 de contribuição, se mulher;

65 anos de idade, se homem, e 60 anos de idade, se mulher, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição.

SEXO

PROVENTOS INTEGRAIS PROVENTOS PROPORCIONAIS AO

TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO

IDADE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO IDADE

HOMEM 60 35 65

MULHER 55 30 60

Os requisitos de idade e de tempo de contribuição serão reduzidos em cinco anos, em relação ao disposto no art. 40, § 1º, III, "a", para o professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil, ensino fundamental e médio – art. 40, § 5º.

Os proventos de aposentadoria e as pensões, por ocasião de sua

concessão, não poderão exceder a remuneração do respectivo servidor, no cargo

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efetivo em que se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão da pensão – art. 40, § 2º. PROVENTOS – É a designação técnica dos valores pecuniários devidos aos inativos (aposentados e disponíveis).

PENSÕES - É o pagamento efetuado à família do servidor em virtude de seu falecimento. A pensão tem valor igual ao valor dos proventos a que teria direito o servidor em atividade;

ESTABILIDADE – art. 41 C.F É a garantia de permanência no serviço público assegurada, após 03 anos de exercício, ao servidor nomeado por concurso público, que somente pode perder o cargo mediante sentença transitada em julgado ou processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa. Este período de 03 anos é chamado de estágio probatório. Ver art. 169 da C. F. O servidor público estável só perderá o cargo:

em virtude da sentença judicial transitada em julgado;

mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa;

mediante procedimento de avaliação periódica de desempenho, na forma de lei complementar, assegurada ampla defesa.

AFASTAMENTO DE SERVIDOR PARA O EXERCÍCIO DE CARGO ELETIVO

Ao servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, segundo o art. 38 da C.F., se aplicam as seguintes disposições:

tratando-se de mandato eletivo federal, estadual ou distrital, ficará afastado de seu cargo, emprego ou função;

investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração;

investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo

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da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior;

o militar se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade, e se contar mais de dez anos de serviço, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade – art. 14, § 8º, I e II;

em qualquer caso que exija o afastamento para o exercício de mandato eletivo, seu tempo de serviço será contado para todos os efeitos legais, exceto para promoção por merecimento;

para efeito de benefício previdenciário, no caso de afastamento, os valores serão determinados como se no exercício estivesse

DIREITOS SOCIAIS O art. 39, § 3º da Constituição Federal estendeu aos servidores ocupantes de cargos públicos os seguintes direitos sociais previstos no art. 7º para os trabalhadores urbanos e rurais:

salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender as suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, conforme art. 37, X da C.F., sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;

décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;

remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;

salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;

duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;

repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;

remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinqüenta por cento à do normal;

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gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;

licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de 120 dias;

licença-paternidade, nos termos fixados em lei;

proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;

redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

SISTEMA REMUNERATÓRIO DOS SERVIDORES PÚBLICOS

A remuneração dos servidores públicos é composta de uma parte fixa, representada pelo padrão fixado em lei (vencimento), e uma parte que varia de um servidor para outro, em função de condições especiais de prestação de serviço, em razão do tempo de serviço e outras circunstâncias previstas nos estatutos funcionais e que são denominadas de vantagens pecuniárias (adicionais, gratificações e verbas indenizatórias). A outra forma é o Subsídio - Espécie de remuneração que consiste no pagamento de parcela única que proíbe o acréscimo de qualquer gratificação, adicionais, abonos, prêmios, verbas de representação ou outra espécie remuneratória. Vencimento - É a retribuição pecuniária a que faz jus o servidor pelo efetivo exercício do cargo público. É igual ao padrão ou valor de referência do cargo fixado em lei. Assim, os sistemas remuneratórios dos servidores são dois:

Remuneração - Vencimento + vantagens pecuniárias (adicionais);

Subsídio O art. 39, § 4º da C.F., prescreve que o membro de Poder (que compreende os membros do Legislativo, Executivo e Judiciário da União, Estados e Municípios), detentor de mandato eletivo, os Ministros de Estado e os Secretários Estaduais e Municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, obedecido, em qualquer caso, o disposto no art. 37, X e XI.

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Serão obrigatoriamente remunerados por subsídios:

Todos os agentes públicos mencionados no art. 39, § 4º;

Os membros do Ministério Público – art. 128,§ 5º, I, “c”;

Os integrantes da Advocacia Geral da União, os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal e os Defensores Públicos – art. 135;

Os Ministros do Tribunal de Contas da União – art. 73, § 3º;

Os servidores policiais – art. 144, § 9º.

TETO REMUNERATÓRIO - A remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal – art. 37, X e XI da C.F.

Os vencimentos dos cargos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário não poderão ser superiores aos pagos pelo Poder Executivo – art. 37, XII C.F.

A Constituição Federal garante no seu art. 37, XV a irredutibilidade do subsídio e dos vencimentos dos ocupantes de cargos e empregos públicos, ressalvado o disposto nos inciso XI e XIV deste artigo e nos arts. 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR Conceito – É o instrumento destinado a apurar responsabilidade de servidor por infração praticada no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as atribuições do cargo em que se encontra investido, sendo obrigatório, conforme determina o art. 41, § 1º da Constituição Federal. Objeto e finalidade – O objeto do processo administrativo disciplinar é sempre a apuração das infrações e a aplicação das penas correspondentes aos servidores infratores, sendo sua finalidade o controle da conduta dos servidores públicos. Princípios – Os princípios fundamentais do processo administrativo disciplinar são os mesmos dos processos administrativos em geral (publicidade, oficialidade, informalismo, gratuidade, ampla defesa e contraditório, pluralidade de instâncias, economia processual). Procedimento – O processo tem início com despacho de autoridade competente, determinando a instauração, assim que tiver ciência de alguma irregularidade. Não havendo elementos suficientes para instaurar o processo, determinará previamente a realização de sindicância.

O processo se desenvolve nas seguintes fases: instauração, instrução, defesa, relatório e decisão.

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Determinada a instauração e já autuado o processo, este é encaminhado à Comissão Processante, formada por funcionários estáveis, que o instaura por meio de portaria em que conste o nome dos servidores envolvidos, a infração de que são acusados, com a descrição sucinta dos fatos e indicação dos dispositivos legais infringidos, equivalendo a uma denúncia no processo penal. Caso a infração administrativa constituir também ilícito penal, deve a comissão processante comunicar às autoridades policiais, fornecendo-lhes os elementos de instrução que dispuser.

Concluída a instrução deve ser assegurado o direito de vista do processo

ao indiciado, notificando-o para a apresentação de sua defesa escrita, pessoalmente ou por advogado, sendo que, na falta da apresentação de defesa, a comissão processante nomeará um funcionário para fazê-la.

Terminada a fase de defesa a comissão apresentará seu relatório, que deve concluir com a proposta de absolvição ou de aplicação de determinada penalidade, indicando as provas em que se baseia sua conclusão.

A fase final é a de decisão, onde a autoridade julgadora poderá ou não

acolher a proposta apresentada pelo relatório da comissão processante, fundamentando sua decisão, que é cabível de recurso administrativo, pedido de reconsideração, recurso hierárquico e revisão. SINDICÂNCIA – Enquanto o processo disciplinar é meio formal e solene de apuração das infrações cometidas pelos servidores e conseqüente aplicação das penas, a sindicância é processo sumário de elucidações de irregularidades no serviço público praticadas por servidores, para bem caracterizá-las ou para determinar seus autores, para posterior instauração do competente processo administrativo disciplinar, não servindo de base para a aplicação de qualquer pena.

A sindicância tem a finalidade de servir de peça preliminar e informativa do processo administrativo disciplinar.

A sindicância é instaurada mediante portaria da autoridade competente,

indicada em lei ou regulamento, que deve indicar as infrações a serem apuradas, nomear a comissão de sindicância ou o sindicante e fixar prazo para conclusão.

As fases do processo de sindicância são: abertura, instrução e relatório,

inexistindo a fase de defesa e o julgamento.

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VI - A RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO CONCEITO – É a obrigação legal que é imposta ao Estado no sentido deste ressarcir os danos causados a terceiros por atos lícitos ou ilícitos, omissivos ou comissivos por ele praticado em virtude de suas atividades. ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL 1 - Quanto ao seu fato gerador, poderá ser: a) Responsabilidade contratual: proveniente de conduta violadora de norma contratual; b) Responsabilidade extracontratual ou aquiliana: resultante da violação de um dever geral de abstenção, de respeito aos direitos alheios legalmente previstos. 2 - Quanto ao agente, poderá ser: a) Responsabilidade direta: proveniente de ato do próprio responsável; b) Responsabilidade indireta: provém de ato de terceiro, vinculado ao agente ou de fato de animal ou coisa inanimada sob sua guarda. 3 - Quanto ao seu fundamento, poderá ser: a) Responsabilidade subjetiva: presente sempre o pressuposto culpa ou dolo. Portanto, para sua caracterização devem coexistir os seguintes elementos: a conduta, o dano, a culpa e o nexo de causalidade entre a conduta e o dano. b) Responsabilidade objetiva: não há a necessidade da prova da culpa, bastando a existência do dano, da conduta e do nexo causal entre o prejuízo sofrido e a ação do agente. A responsabilidade está calcada no risco assumido pelo lesante, em razão de sua atividade. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA OU TEORIA DA CULPA

O fato é um pressuposto material da existência do direito, sendo um fenômeno perceptível, que resulta de uma atividade humana ou da natureza, agindo sob o mundo exterior.

Os fatos podem ser naturais ou jurídicos. Fato natural é um acontecimento

qualquer, abrangendo os fatos dependentes e não dependentes da conduta humana, ou seja, que contam ou não com a participação do homem para sua ocorrência. O fato jurídico é o acontecimento que marca o começo ou o término de relações jurídicas, possibilitando a conservação, modificação ou extinção de direitos.

Os fatos humanos, também chamados de atos jurídicos, são conceituados

como sendo todo comportamento apto a gerar efeitos jurídicos. Dentre eles, há o ato jurídico lícito, ou, simplesmente, ato lícito, e os atos jurídicos ilícitos ou atos ilícitos.

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O ato lícito é causa geradora de obrigação, como o contrato e a declaração unilateral de vontade. O ato ilícito, a princípio, pressupõe culpa lato sensu do agente, ou seja, a intenção do agente de prejudicar outrem, a violação de um direito, o prejuízo causado por negligência, imprudência ou imperícia.

No Código Civil tal regra foi dividida em mais de um artigo, constante na Parte Geral, Livro III, Título III ("Dos Atos Ilícitos"), e na Parte Especial, Livro I, Título IX ("Da Responsabilidade Civil"). Na nova redação, foram modificadas e inseridas algumas palavras, a fim de deixar mais clara a intenção do legislador, além de inserir o posicionamento jurisprudencial já pacífico de que haverá responsabilidade por dano moral independente da existência cumulativa de dano material (art. 186 in fine), bem como o abuso do direito como ato ilícito (art. 187) e o conceito de responsabilidade objetiva (parágrafo único do art. 927):

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

A imputabilidade da conduta do agente, em face do citado art. 186 c/c 927, caput do Código Civil, sobressalta como elemento subjetivo do ato ilícito. Da mesma forma, se o ato do agente não for voluntário, seja por ação, seja por omissão, ou, ainda, se o evento danoso é proveniente de caso fortuito, força maior ou de outra causa de exclusão de responsabilidade, excluída está a responsabilidade.

Do exposto, sobressaem os seguintes elementos da responsabilidade civil subjetiva: 1) a conduta; 2) o dano; 3) a culpa; 4) o nexo de causalidade entre a conduta e o dano.

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Conduta - a responsabilidade civil, tanto objetiva como subjetiva, deverá sempre conter como elemento essencial uma conduta.

MARIA HELENA DINIZ assim a conceitua: "Ato humano, comissivo ou

omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado".

SÍLVIO RODRIGUES, por outro lado, somente considera como

pressuposto da responsabilidade a ocorrência de um ato ilícito, diferentemente de MARIA HELENA DINIZ que abarca em seu conceito também os atos lícitos. Para aquele autor, seria pressuposto a ação ou omissão do agente, que "decorre sempre de uma atitude, quer ativa, quer passiva, e que vai causar dano a terceiro. A atitude ativa consiste em geral no ato doloso ou imprudente, enquanto a passiva, via de regra, retrata-se através da negligência.

Portanto, podemos dizer que conduta seria um comportamento humano, comissivo ou omissivo, voluntário e imputável. Por ser uma atitude humana, exclui os eventos da natureza; voluntário no sentido de ser controlável pela vontade do agente, quando de sua conduta, excluindo-se, aí, os atos inconscientes ou sob coação absoluta; imputável por poder ser-lhe atribuída a prática do ato, possuindo o agente discernimento e vontade e ser ele livre para determinar-se.

Dano – o dano representa uma circunstância elementar ou essencial da

responsabilidade civil, presente em ambas as teorias anteriormente citadas. Configura-se quando há lesão, sofrida pelo ofendido, em seu conjunto de valores protegidos pelo direito, relacionando-se a sua própria pessoa (moral ou física) aos seus bens e direitos. Porém, não é qualquer dano que é passível de ressarcimento, mas sim o dano injusto, contra ius, afastando-se daí o dano autorizado pelo direito.

Para o dano ser passível de indenização há a necessidade de apuração de

alguns requisitos: atualidade, certeza e subsistência. O dano atual é aquele que efetivamente já ocorreu. O certo é aquele fundado em um fato certo, e não calcado em hipóteses. A subsistência consiste em dizer que não será ressarcível o dano que já tenha sido reparado pelo responsável.

O dano poderá ser patrimonial ou moral. Patrimonial é aquele que afeta o

patrimônio da vítima, perdendo ou deteriorando total ou parcialmente os bens materiais economicamente avaliáveis. Abrange os danos emergentes (o que a vítima efetivamente perdeu) e os lucros cessantes (o que a vítima razoavelmente deixou de ganhar), conforme normatizado no art. 1.059 do antigo Código Civil, referendado no art. 402 do novo Código. Já o dano moral corresponde à lesão de bens imateriais, denominados bens da personalidade (ex.: honra, imagem etc.).

O dano também pode ser reflexo ou em ricochete, correspondendo ao fato

de uma pessoa sofrer, por reflexo, um dano, que primariamente foi causado a outrem, p. ex., separanda que deixa de receber pensão alimentícia em razão da superveniente incapacidade física do ex-marido, esta decorrente de ato ilícito praticado por terceira pessoa.

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Nexo de causalidade - o nexo de causalidade consiste na relação de causa e efeito entre a conduta praticada pelo agente e o dano suportado pela vítima.

Nem sempre é tarefa fácil buscar a origem do dano, visto que podem surgir

várias causas, denominadas concausas, concomitantes ou sucessivas. Quando as concausas são simultâneas ou concomitantes, a questão resolve-se com a regra do artigo 1.518 do antigo Código Civil, regra também presente no novo Código, em seu art. 942, que estipula a responsabilidade solidária de todos aqueles que concorram para o resultado danoso.

Porém, diante da problemática a respeito das concausas sucessivas,

surgiram três teorias a respeito: a) Teoria da equivalência das condições ou dos antecedentes ou conditio sine qua non: estipula que existindo várias circunstâncias que poderiam ter causado o prejuízo, qualquer delas poderá ser considerada a causa eficiente, ou seja, se suprimida alguma delas, o resultado danoso não teria ocorrido, ex. se uma pessoa é atropelada, a causa pode ser a imperícia do condutor, mas também a constituição débil da vítima, a natureza do pavimento sobre o qual esta foi projetada, a demora de seu transporte para o hospital, a falta de meios adequados para o seu tratamento etc. Essa teoria, se aplicada de forma isolada, leva a resultados absurdos, provocando infinitamente responsabilidades. b) Teoria da causalidade adequada: para essa teoria, a causa deve ser apta a produzir o resultado danoso, excluindo-se, portanto, os danos decorrentes de circunstâncias extraordinárias, ou seja, o efeito deve se adequar à causa. c) Teoria da causalidade imediata ou dos danos diretos e imediatos: para essa é preciso que exista entre o fato e o dano uma relação de causa e efeito direta e imediata. Essa é a teoria adotada pelo nosso ordenamento jurídico, prevista no art. 1.060 do antigo Código Civil, bem como no art. 403 do novo Código. Portanto, será causa do dano aquela que está mais próxima deste, imediatamente (sem intervalo) e diretamente (sem intermediário).

A culpa exclusiva da vítima, a culpa de terceiro, o caso fortuito ou a força maior, a cláusula de não indenizar, as excludentes de ilicitude, o estado de necessidade e a legítima defesa retiram o nexo causal, por isso serão estudados mais detalhadamente, adiante. Importante também salientar que a coincidência não implica causalidade.

Culpa - a culpa, para a responsabilização civil, é tomada pelo seu vocábulo lato sensu, abrangendo, assim, também o dolo, ou seja, todas as espécies de comportamentos contrários ao direito, sejam intencionais ou não, mas sempre imputáveis ao causador do dano.

Apesar de o legislador brasileiro não os definir, podemos dizer que a culpa

strictu sensu seria a violação de um dever, legal ou contratual, por imprudência, negligência ou imperícia; e o dolo seria a violação de tais deveres

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intencionalmente, buscando o resultado que aquele ato irá causar ou, ainda, assumindo o risco de produzi-lo.

A culpa estaria presente somente nas responsabilizações civis decorrentes

de atos ilícitos, segundo a orientação adotada pelo Código Civil pátrio, uma vez que as responsabilidades provenientes de atos lícitos não exigem tal pressuposto. Francisco Amaral, reportando-se a René Savatier, traz como pressupostos da culpa: a) um dever violado (elemento objetivo); b) culpabilidade ou imputabilidade do agente (elemento subjetivo). Acrescenta, ainda, que este último se desdobra em dois elementos: a) possibilidade, para o agente, de conhecer o dever (discernimento); b) possibilidade de observá-lo (previsibilidade e evitabilidade do ato ilícito). RESPONSABILIDADE OBJETIVA OU TEORIA DO RISCO

A regra geral é a responsabilidade civil aquiliana ou subjetiva. Porém, nossa legislação, com finalidade protetiva, criou certas exceções, aplicando em determinados casos a responsabilidade objetiva, que elimina de seu conceito o elemento culpa, ou seja, haverá responsabilidade pela reparação do dano quando presentes a conduta, o dano e o nexo de causalidade entre estes.

A evolução que a teoria objetiva provocou se deu pelo fato da facilitação da

ação da vítima em concreto na reparação do dano, gerando aos infratores a obrigação de indenizar por acidentes provenientes de suas atividades, em detrimento da teoria subjetiva, para a qual o agente precisa salientar a culpa dentro da idéia de desvio de conduta.

A prova acaba sendo de difícil constatação, criando grandes óbices à vítima, parte hipossuficiente, seja econômica e culturalmente, que quase sempre acabava arcando com o ônus probatório. Com a técnica da presunção de culpa, impõe-se a inversão do ônus da prova, em razão da condição menos favorável da vítima.

Já é pacífico o entendimento de que o ordenamento jurídico brasileiro admite que o Estado possa causar prejuízos aos seus administrados, através de comportamentos lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos, resultando-lhe a obrigação de recompor tais danos.

A responsabilidade do Estado obedece a um regime próprio, compatível com sua situação jurídica, pois potencialmente tem o condão de proporcionar prejuízos macroscópicos. Ademais, os administrados não têm poderes para diminuir a atuação do Estado, no âmbito de seus direitos individuais.

Para CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, a responsabilidade do

Estado está implícita na noção do Estado de Direito, não havendo necessidade de regra expressa para firmar-se isto, posto que no Estado de Direito todas as pessoas, de direito público ou privado, encontram-se sujeitas à obediência das regras de seu ordenamento jurídico. Desta forma, presente também está o dever de responderem pelos comportamentos violadores do direito alheio.

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HELY LOPES MEIRELES utiliza o termo "responsabilidade da administração", pois entende que o dever de indenizar se impõe à Fazenda Pública.

A responsabilidade civil do Estado, considerada pela teoria do risco

administrativo, conduz a pessoa jurídica de direito público à reparação do dano sofrido pelo particular por conduta da administração, segundo o princípio da repartição eqüitativa dos ônus e encargos públicos a todos da sociedade, num sentido de socialização dos prejuízos oriundos daquela conduta.

FUNDAMENTO DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA A responsabilidade objetiva tende a se bastar com o simples nexo de causalidade material, eliminada a perquirição de qualquer elemento psíquico ou volitivo, bastando-se com a identificação do vínculo etiológico-atividade do Estado, como causa, e dano sofrido pelo particular, como conseqüência, eliminada, a priori, o exame de qualquer coeficiente de culpa na conduta do funcionário, ou de culpa anônima decorrente de falha da máquina administrativa, investindo a culpa de presunção absoluta. EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE DO ESTADO

A responsabilidade civil do Estado será elidida quando presentes determinadas situações, aptas a excluir o nexo causal entre a conduta do Estado e o dano causado ao particular, quais sejam:

A força maior;

O caso fortuito;

O estado de necessidade;

A culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. A força maior é conceituada como sendo um fenômeno da natureza, um

acontecimento imprevisível, inevitável ou estranho ao comportamento humano, p. ex., um raio, uma tempestade, um terremoto. Nesses casos, o Estado se torna incapacitado diante da imprevisibilidade das causas determinantes de tais fenômenos, o que, por conseguinte, justifica a elisão de sua obrigação de indenizar eventuais danos, visto que não está presente aí o nexo de causalidade.

Importante ressaltar que se o Estado deixar de realizar ato ou obra

considerada indispensável e sobrevier fenômeno natural que cause danos a particulares pela falta daquele ato ou obra, portanto conduta omissiva, o Poder Público será o responsável pela reparação de tais prejuízos, visto que neste caso estará presente o nexo de causalidade entre o ato omissivo e o dano. Desta forma, a causa do dano não é o fato de força maior, mas o desleixo do Estado em, sendo possível prever tal fenômeno e suas conseqüências, nada ter feito para evitá-las.

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Já na hipótese de caso fortuito, o dano decorre de ato humano, gerador de resultado danoso e alheio à vontade do agente, embora por vezes previsível. Por ser um acaso, imprevisão, acidente, algo que não poderia ser evitado pela vontade humana, ocorre, desta forma, a quebra do nexo de causalidade, daí a exclusão da responsabilidade diante do caso fortuito.

A força maior e o caso fortuito estão previstos no art. 393 do Código Civil.

Porém, tais normas não os definiram separadamente, o que vem provocando na seara jurídica uma divergência quanto às suas definições, alguns os conceituando exatamente ao contrário do acima exposto, que é posição da corrente dominante.

O estado de necessidade é também causa de exclusão de

responsabilidade, pois traduz situação em que prevalece interesse geral sobre o pessoal e até mesmo individual - princípio da supremacia do interesse público, caracterizado pela prevalência da necessidade pública sobre o interesse particular. Ocorre quando há situações de perigo iminente, não provocadas pelo agente, tais como guerras, em que se faz necessário um sacrifício do interesse particular em favor do Poder Público, que poderá intervir em razão da existência de seu poder discricionário.

A culpa exclusiva da vítima ou de terceiro é também considerada causa

excludente da responsabilidade estatal, pois haverá uma quebra do nexo de causalidade, visto que o Poder Público não pode ser responsabilizado por um fato a que, de qualquer modo, não deu causa. Decorre de um princípio lógico de que ninguém poderá ser responsabilizado por atos que não cometeu ou para os quais não concorreu.

Nos casos em que se verifica a existência de concausas, isto é, mais de uma causa ensejadora do resultado danoso, praticadas simultaneamente pelo Estado e pelo lesado, não haverá excludente de responsabilidade. Haverá, sim, atenuação do quantum indenizatório na medida da participação no evento.

CARACTERES DA CONDUTA ENSEJADORA DE RESPONSABILIDADE DO ESTADO

A responsabilidade civil do Estado poderá ser proveniente de duas situações distintas, a saber: a) de conduta positiva do Estado, isto é, comissiva, no sentido de que o agente público é o causador imediato do dano; b) de conduta omissiva, em que o Estado não atua diretamente na produção do evento danoso, mas tinha o dever de evitá-lo, como é o caso da falta do serviço nas modalidades em que o serviço não funcionou ou funcionou tardiamente, ou ainda, pela atividade que se cria a situação propiciatória do dano porque expôs alguém a risco. Contudo, devem estar presentes:

Evento danoso;

A qualidade de agente na prática do ato (conduta omissiva ou comissiva);

Nexo de causalidade material;

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RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO DECORRENTE DE CONDUTA OMISSIVA

É certo que o Estado poderá causar danos aos administrados por ação ou omissão. Porém, nos casos de conduta omissiva, há entendimentos diversos no sentido de que esta não constitui fato gerador da responsabilidade civil do Estado, visto que nem toda conduta omissiva retrata uma desídia do Estado em cumprir um dever legal.

Seria o Estado responsável civilmente quando este somente se omitir

diante do dever legal de obstar a ocorrência do dano, ou seja, sempre quando o comportamento do órgão estatal ficar abaixo do padrão normal que se costuma exigir. Desta forma, pode-se afirmar que a responsabilidade estatal por ato omissivo é sempre decorrente de ato ilícito, porque havia um dever de agir imposto pela norma ao Estado que, em decorrência da omissão, foi violado.

Para ser apurada a responsabilidade do Estado por conduta omissiva,

deve-se indagar qual dos fatos foi decisivo para configurar o evento danoso, isto é, qual fato gerou decisivamente o dano e quem estava obrigado a evitá-lo. Desta forma, o Estado responderá não pelo fato que diretamente gerou o dano, ex. enchente, mas sim por não ter ele praticado conduta suficientemente adequada para evitar o dano ou mitigar seu resultado, quando o fato for notório ou perfeitamente previsível.

A evolução da responsabilidade do Estado, no sentido de sua objetivação, fica ainda mais evidente quando se constata a redação, como se segue, do art. 43 do novel Código Civil, que entrou em vigor no dia 11 de janeiro de 2003:

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

Fica absolutamente claro que o legislador contemplou, mais uma vez, a responsabilidade objetiva do Estado - embora já não fosse necessário fazê-lo - permitindo a perquirição sobre a presença do elemento subjetivo (culpa ou dolo) tão-somente na ação regressiva (do Estado) em face do (agente) causador do dano.

Concluindo, pode-se afirmar que o legislador brasileiro, bem como a

doutrina e a jurisprudência, sempre tiveram clara a evolução da responsabilidade do Estado, sempre no sentido de sua objetivação, afastando-se da culpa e aproximando-se do risco, até assumi-lo.

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O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE E A CONDUTA OMISSIVA

O princípio da legalidade é considerado como sendo o princípio maior que rege os atos administrativos, praticados pelo Estado. Exige ele que a administração pública somente poderá fazer ou deixar de fazer algo, desde que prescrito por lei. Ocorre, porém, que em sua grande maioria os atos administrativos são atos vinculados. Mesmo nos atos discricionários também pesa tal princípio, visto que a margem de liberdade de decisão que a norma autoriza ao agente possui, sempre, um limite, posto pela própria norma.

Na responsabilidade do Estado por conduta omissiva, o agente tem o dever

de agir, estabelecido em lei, mas, desobedecendo à lei, não age. Por não ter agido, causou um dano ao particular. Portanto, trata-se de uma conduta ilícita, isto é, contrária à lei. Logo, feriu-se o princípio da legalidade.

Como o interesse social tem por objetivo a manutenção da ordem pública

no sentido de viabilizar a harmonia social, importante ressaltar a gravidade de uma conduta ilícita e omissiva. O ato ilícito corresponde ao que a sociedade repudia como comportamento, isto é, o que não é aceito no grupo social. Por isso, é o mesmo que estar violando os valores deste grupo. Da mesma forma, o risco social que apresenta a conduta omissiva é de gravidade muito mais elevada.

Destarte, é imperiosa a proteção do administrado contra condutas mais

graves, ampliando o seu campo de amparo pela adoção da responsabilidade objetiva. RESPONSABILIDADE DO ESTADO POR ATOS LEGISLATIVOS E JUDICIAIS A lei e a sentença, atos típicos, respectivamente, dos Poderes Legislativo e Judiciário, dificilmente poderão causar dano reparável visto que a lei age de forma geral, abstrata e impessoal, pois, se impõe a toda coletividade. O que pode ocorrer é a declaração de responsabilidade patrimonial do Estado por ato baseado em lei, posteriormente, declarada inconstitucional Já a sentença poder gerar obrigação indenizatória quando consubstanciadas em condenações pessoais injustas, cuja absolvição é obtida em revisão criminal (art. 5º, LXXV da C.F), e, ainda se essas condenações não forem imputadas a ato do próprio condenado (art. 630, § 2º C.P.P). Também prevê o Código de Processo Civil as hipóteses elencadas no art. 133:

Art. 133. Responderá por perdas e danos o juiz, quando: I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude; II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício, ou a requerimento da parte. Parágrafo único. Reputar-se-ão verificadas as hipóteses previstas no número II só depois que a parte, por intermédio do escrivão, requerer ao juiz que determine a providência e este não lhe atender o pedido dentro de 10 (dez) dias.

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De qualquer forma poderá o Estado buscar regressivamente contra o juiz os valores pagos à vítima.

DA DENUNCIAÇÃO DA LIDE E A AÇÃO REGRESSIVA CONTRA O FUNCIONÁRIO A denunciação da lide é modalidade de intervenção de terceiros consagrada no Código de Processo Civil (art. 70, III) que permite à parte ressarcir-se, nos próprios autos, de eventuais prejuízos numa demanda judicial. Na definição de MOACYR AMARAL SANTOS, a "denunciação da lide é o ato pelo qual o autor ou o réu chamam a juízo terceira pessoa, que seja garante do seu direito, a fim de resguardá-lo no caso de ser vencido na demanda em que se encontram". Para SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, "é meio para obter indenização do denunciado, por prejuízo que o denunciante sofrer com a perda da ação". O objetivo principal da denunciação da lide é agilizar a prestação jurisdicional, permitindo que duas relações jurídicas (autor versus réu e denunciante versus denunciado) sejam solucionadas num mesmo processo, numa única sentença. Trata-se de instituto intimamente ligado ao princípio da economia processual. Ocorrendo a denunciação da lide, estabelece-se uma nova relação processual, entre denunciante e denunciado, paralela àquela entre autor e réu. Embora nos mesmos autos, tecnicamente são duas ações diferentes, ainda que conexas. O inciso III do artigo 70 do Código de Processo Civil tem a seguinte redação:

"Artigo 70. A denunciação da lide é obrigatória: (...) III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda".

A doutrina é francamente dominante no sentido de que, no caso do inciso III, a "obrigatoriedade" da denunciação é relativa, ou seja, a sua falta impede o regresso nos mesmos autos da demanda originária, mas não acarreta a perda do direito regressivo. A Constituição ressalva às pessoas jurídicas de direito público a ação regressiva contra o funcionário culpado pelo prejuízo causado a terceiros (art. 37, § 6º), em princípio, a hipótese enquadrar-se-ia no inciso III do artigo 70 do Código de Processo Civil (obrigação legal ou contratual de indenização regressiva), cabendo a denunciação da lide. Mas a questão não é tão simples.

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Na interpretação do dispositivo legal citado acima, a corrente majoritária pende no sentido de restringir a admissibilidade da denunciação da lide para os casos de ação regressiva automática, de reembolso independente de indagações. A admitir-se a denunciação em qualquer tipo de ação indenizatória, o prejudicado acabaria sendo o terceiro litigante, pois a demanda secundária, com provas e contraditório diversos da demanda principal, acabaria retardando demasiadamente o desfecho do caso. A celeridade processual, maior razão de ser do instituto da denunciação da lide, acabaria sendo prejudicada por esse seu emprego alargado. Cabe indagar, portanto, se a denunciação da lide ao funcionário, na ação indenizatória movida contra o Estado, implica introdução de fundamento novo, ausente na demanda originária. Em caso positivo, será, em princípio, necessário reconhecer-se o descabimento de tal denunciação. O STF assim tem entendido: "RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO: § 6º DO ART. 37 DA MAGNA CARTA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. AGENTE PÚBLICO (EX-PREFEITO). PRÁTICA DE ATO PRÓPRIO DA FUNÇÃO. DECRETO DE INTERVENÇÃO. O § 6º do artigo 37 da Magna Carta autoriza a proposição de que somente as pessoas jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que prestem serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes na qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Esse mesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de direito público, ou de direito privado que preste serviço público, dado que bem maior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional se vincular. Recurso extraordinário a que se nega provimento" (STF. 1a. Turma. RE n. 327.904. Relator Minstro Carlos Britto. Julgamento em 15/08/2006). A ação regressiva contra o servidor culpado é de rito ordinário sujeito às normas procedimentais do C.P.C., visando a Administração Pública reaver o que desembolsou à custa do patrimônio do agente, exigindo-se que a Administração Pública já tenha sido condenada a indenizar a vítima do dano sofrido, com sentença transitada em julgado, e a prova da culpa do funcionário público no evento danoso, visto ser esta subjetiva, enquanto a responsabilidade do Estado é objetiva. CONCLUSÕES 1 - Em nosso ordenamento jurídico, já é pacífico o entendimento de que o Estado é responsável por suas condutas, comissivas ou omissivas, que causarem danos a terceiros, porém essa responsabilidade traz em seu bojo regras peculiares.

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2 - O Estado poderá excluir a sua responsabilidade quando ocorrerem determinadas situações, que, na verdade, retiram o nexo de causalidade entre a conduta estatal e o dano. São elas: força maior, caso fortuito, estado de necessidade e culpa exclusiva da vítima ou de terceiro. 3 - A doutrina e a jurisprudência brasileiras são unânimes quanto à natureza objetiva da responsabilidade do Estado por conduta comissiva. Porém, quanto às condutas omissivas, o direito pátrio traz duas correntes divergentes. A primeira, capitaneada por Oswaldo Aranha Bandeira de Mello e continuada por Celso Antônio Bandeira de Mello, aponta a responsabilidade do Estado como sendo de natureza subjetiva, com base no artigo 15 do antigo Código Civil (art. 43 do novo Código). A segunda corrente, que sustenta ser a responsabilidade objetiva, é seguida pelos doutrinadores Odete Medauar, Celso Ribeiro Bastos, Álvaro Lazzarini, Aguiar Dias, Hely Lopes Meirelles, Weida Zancaner Brunini, Yussef Said Cahali, entre outros, e fundamenta-se no artigo 37, § 6º da Constituição Federal.

Art. 37 – (...) (...) § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

4 - A Constituição Federal, no artigo 37, § 6º, não diferenciou as condutas comissivas e omissivas; assim, o vocábulo "causarem", do aludido dispositivo, deve ser lido como "causarem por ação ou omissão", pois caso contrário o legislador teria recuado no tempo, estabelecendo a responsabilidade objetiva apenas para os casos de conduta comissiva, o que é inconcebível, diante dos avanços em outras matérias constitucionais, tais como a substituição da expressão "funcionário" por "agente", muito mais abrangente, e a extensão da responsabilidade também para os particulares prestadores de serviço. 5 - A evolução da responsabilidade do Estado, no sentido de sua subjetivação, fica ainda mais evidente quando se constata a redação do art. 43 do novo Código Civil de 2002, que deixou absolutamente claro que a perquirição sobre a presença do elemento subjetivo (culpa ou dolo) seria tão-somente na ação regressiva (do Estado) em face do (agente) causador do dano.

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Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da ª Vara da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Belo Horizonte/MG.

JOÃO FRIA, brasileiro, casado, jardineiro, C.P.F – 1111111, carteira de identidade M. 222222, residente na Rua Flor, 150 – Bairro Jaraguá/Belo Horizonte – MG., vem respeitosamente perante V. Exa., por seu advogado abaixo assinado, conforme procuração em anexo, propor AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS contra o ESTADO DE MINAS GERAIS, pessoa jurídica de direito público interno, podendo ser citada na pessoa de seu Procurador, localizado na Rua da Bahia, 222 – Bairro Centro/Belo Horizonte – MG., com fulcro nos arts. 43, 186 e 927 do Código Civil e arts. art. 5º, V e X e 37, § 6º da C. F., pelos fatos e fundamentos a segui expostos:

I - DOS FATOS

No dia 11/05/07 o Autor foi detido por policiais militares e levado preso até a Delegacia de Furtos e Roubos da cidade de Belo Horizonte/MG, sob a suspeita de prática de crime de Roubo.

Os policiais, na ânsia de demonstrar serviço e em cumprimento a um

equivocado Mandado de Prisão, privaram o Autor injusta e totalmente de sua liberdade.

Conforme se apurou, por uma absurda falha na digitação do mencionado

mandado, ficou constando que o Autor era um criminoso e tinha contra sua pessoa, expedida uma ordem de prisão proveniente da 03ª Vara Criminal de Belo Horizonte, referente ao Processo nº 024.02.555.171-0.

A falha restou sobejamente comprovada, inclusive pela própria autoridade

policial, o Doutor José Alfredo, Delegado de Polícia lotado na Delegacia de Furtos e Roubos, através do ofício de nº 155/07, restando comprovada a ilegalidade da prisão.

Em resposta ao referido ofício, foi informado que os réus do processo nº

024.02.555.171-0 da 03ª Vara Criminal de Belo Horizonte, estavam todos presos no presídio de Vespasiano/MG. II - DO DIREITO

A Constituição Federal em seu art. 37, § 6º preceitua:

"§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos

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responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa."

Ainda no plano constitucional, o art. 5º, inciso LXXV, assegura que:

"LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;"

O art. 186 do Código Civil prescreve in verbis:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Igualmente para o artigo 630 do Código de Processo Penal Brasileiro, verbis:

"Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa indenização pelos prejuízos sofridos."

Assim, restou cristalino o dever do Estado de indenizar pelos danos morais causados ao Autor.

III - DO DANO MORAL

O Autor sofreu, por culpa do Estado, a privação de seu bem maior, a LIBERDADE, por 62 (sessenta e dois) dias.

É inquestionável, que a conduta dos agentes do Estado deveria ser fruto de

análise profunda, sobretudo porque o Autor é nascido e criado nesta cidade, contando hoje com 45 anos de idade e nunca ostentou qualquer condenação ou processo judicial, seja por crime ou contravenção penal, conforme comprova a certidão anexa.

É inquestionável o dano moral sofrido pelo Autor, preso diante da sua

família, e sofrendo da segregação social dedicada aos presidiários, registrando que o mesmo foi rudemente arrancado do seio da família, afetando sua prisão não só a sua pessoa, mas, todos aqueles que vivem ao seu redor.

De outra parte, cabe destacar que o direito positivo nunca negou o

ressarcimento do dano extrapatrimonial e para desfazer quaisquer dúvidas, ensina MARIA HELENA DINIZ:

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"Na reparação do dano moral, o juiz determina, por eqüidade, levando em conta as circunstâncias de cada caso, o quantum da indenização devida, que deverá corresponder à lesão e não ser equivalente, por ser impossível, tal equivalência. A reparação pecuniária do dano moral é um misto de pena e satisfação compensatória. Não se pode negar sua função: penal, constituindo uma sanção imposta ao ofensor; e compensatória sendo uma satisfação que atenue a ofensa causada, proporcionando uma vantagem ao ofendido, que poderá, com a soma de dinheiro recebida, procurar atender a necessidades materiais ou ideais que repute convenientes, diminuindo, assim, seu sofrimento."

E mesmo que assim não fosse a Constituição Federal de 1988,

agasalhando a posição seguida por outros países, admitiu e assegurou a indenização do dano puramente moral, em seu art. 5º, inciso X, in verbis:

"X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;"

A prisão do Autor foi indevida e ilegal e trouxe a sua pessoa uma drástica e maléfica transformação, comprometendo sua vida sob todos os aspectos: físico, psíquico, afetivo, sexual, social e emocional.

O caso foi noticiado nos principais meios de comunicação da região,

causando-lhe profundo desgosto, sentindo-se na obrigação de justificar-se perante vizinhos, parentes e amigos.

Demonstrada a lesão sofrida pelo Autor, deve o Estado responder pelos

atos de seus agentes, seja pela responsabilidade objetiva, seja pela subjetiva, que nesses autos está sobejamente comprovada, haja vista a errônea digitação do mandado de prisão. Este é o entendimento do TJMG:

Número do processo: 1.0024.07.568668-3/001(1) Relator: ALVIM SOARES Data do Julgamento: 13/01/2009 Data da Publicação: 30/01/2009 Ementa: INDENIZAÇÃO -DANO MORAL E MATERIAL - PRISÃO - CUSTÓDIA PRISIONAL ILEGAL - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - SENTENÇA CONFIRMADA. ''A Administração Pública responde objetivamente pelos danos causados aos administrados, conforme preceito da CF, 37, § 6º; tal responsabilidade somente deixa de

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prevalecer se demonstrado que o dano ocorreu por culpa exclusiva da vítima'' Súmula: CONFIRMARAM A SENTENÇA, NO REEXAME NECESSÁRIO, PREJUDICADO O RECURSO VOLUNTÁRIO. Número do processo: 1.0024.06.203727-0/001(1) Relator: BELIZÁRIO DE LACERDA Data do Julgamento: 24/03/2009 Data da Publicação: 30/04/2009 Ementa: AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANO MORAL. PRISÃO ARBITRARIEDADE E ILEGALIDADE. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. INDENIZAÇÃO DEVIDA. - A prisão ilegal e abusiva de alguém obriga o Estado ''gendarme'' à reparação do conseqüente dano moral, vez que referido constrangimento inegável e nítido transtorno psico somático da vítima levada a segregação sem nenhum motivo legal que pudesse justificá-la. Súmula: NEGARAM PROVIMENTO.

IV - DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ESTADO

A responsabilidade civil do Estado, considerada pela teoria do risco administrativo, conduz a pessoa jurídica de direito público à reparação do dano sofrido pelo particular por conduta da administração, segundo o princípio da repartição eqüitativa dos ônus e encargos públicos a todos da sociedade, num sentido de socialização dos prejuízos oriundos daquela conduta.

A responsabilidade objetiva tende a se bastar com o simples nexo de causalidade material, eliminada a perquirição de qualquer elemento psíquico ou volitivo, bastando-se com a identificação do vínculo etiológico-atividade do Estado, como causa, e dano sofrido pelo particular, como conseqüência, eliminada, a priori, o exame de qualquer coeficiente de culpa na conduta do funcionário, ou de culpa anônima decorrente de falha da máquina administrativa, investindo a culpa de presunção absoluta.

Assim, estão presentes os requisitos autorizados da obrigação de

indenizar. V - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a V. Exa.: a) A citação do Réu na pessoa de seu Procurador, nos termos do art. 12, I do C.P.C., para querendo, no prazo legal, contestar a presente ação, sob pena de revelia;

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b) A assistência judiciária, nos termos dos arts. 98/102,do C.P.C., por ser o Autor pessoa carente na acepção jurídica do termo; c) A intimação do Ministério Público; d) A designação de audiência conciliatória; e) A procedência do pedido para condenar o Réu no pagamento de indenização pelos danos morais causados ao Autor, em face do episódio narrado na inicial, em valor a ser arbitrado por V. Exa., considerando a condição sócio-econômica das partes e a extensão do dano sofrido; f) A condenação do Réu no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios na ordem de 20% (vinte por cento) do valor da condenação.

Protesta provar o alegado por todos os meios admitidos pelo ordenamento jurídico, em especial pela juntada de novos documentos, oitiva de testemunhas cujo rol será oportunamente juntado e depoimento pessoal do Representante legal do Réu.

Dá-se à causa, para fins de alçada, provisoriamente, o valor de R$1.000,00

(hum mil reais) para efeitos meramente fiscais.

Nestes termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 05 de janeiro de 2016.

André Luiz Lopes OAB/MG – 70.397

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Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da ª Vara da Fazenda Pública Estadual da Comarca de Belo Horizonte/MG.

MARCEL CARVALHO PAIVA, brasileiro, casado, desempregado, C.P.F – 510.133.445-17, residente na Rua Roberto Coutinho, 120/apto. 202 – Bairro Belvedere/Belo Horizonte – MG., vem respeitosamente perante V. Exa., por seu advogado abaixo assinado, conforme procuração em anexo, propor AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA, contra o ESTADO DE MINAS GERAIS, pessoa jurídica de direito público interno, ente federado da República Federativa do Brasil, podendo ser citado na pessoa de seu Procurador Geral, localizado na Avenida Afonso Pena, 1901 – Bairro Funcionários/Belo Horizonte – MG., pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I - DOS FATOS

A Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, órgão da Secretaria de Estado de Defesa Social do Estado de Minas Gerais, através da Academia de Polícia Civil, no dia 25/06/2008 publicou no Diário oficial o Edital nº 04/08 de Concurso Público de Provas para o cargo de AGENTE DE POLÍCIA, integrante da série inicial da carreira do quadro de pessoal da Policial Civil do Estado de Minas Gerais, cuja inscrição se deu no período de 21/07/08 a 08/08/08.

Conforme o item 3 do Edital 04/08, o concurso público para o provimento

das 383 vagas ao cargo de AGENTE DE POLÍCIA tem a previsão de 05 fases, sendo elas:

3.1. São fases do Concurso Público, de caráter eliminatório cada, cuja realização obedecerá a seguinte ordem de sucessão: 3.1.1.Prova de Conhecimentos: objetiva. 3.1.2.Avaliação Psicológica; 3.1.3.Exames Biomédicos e Biofísicos; 3.1.4.Investigação Social; 3.1.5.Curso de Formação Policial (Aspirantado).

O Autor nasceu no dia 17/03/1974 e preenchendo os requisitos exigidos no

Edital nº 04/08, inscreveu-se no concurso, recebendo sua inscrição o nº 37-0, contando, portanto, há época da inscrição, com 33 anos de idade.

A Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais submeteu o Autor e

demais candidatos à prova de conhecimento, avaliação psicológica, exames biomédicos e biofísicos, tendo declarado o Autor apto/aprovado para o Curso de

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Formação Policial (Aspirantado), conforme comprovam os documentos em anexo, tendo, inclusive, convocado o Autor para a apresentação dos documentos a fim deste efetivar a matrícula no referido curso, cujas exigências estavam previstas no item 11 do Edital 04/08, sendo elas:

11. CURSO DE FORMAÇÃO POLICIAL: REQUISITOS 11.1. Os requisitos legais para o provimento no cargo de Agente de Polícia, os quais o candidato deverá atender, cumulativamente, são: a) Ser brasileiro (art. 37, I da Constituição Federal e art. 80, I da Lei nº 5.406/69). b) Ter no mínimo 18 (dezoito) anos de idade e no máximo 32 (trinta e dois), à data da matrícula (art. 37, I da Constituição Federal e art. 80, II da Lei nº 5.406/69). c) Estar em dia com as obrigações eleitorais. d) Estar em dia com o serviço militar, para o candidato do sexo masculino. e) Possuir comprovante de conclusão do Ensino Médio, expedido por estabelecimento oficial ou reconhecido.

Contudo, o Diretor Geral da Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, através da Portaria nº 051/DRS/ACADEPOL/PCMG/2010, tornou público o resultado da análise dos documentos e requisitos estabelecidos no Edital nº 04/08 de Concurso Público de Provas para o cargo de AGENTE DE POLÍCIA, da matrícula no Curso de Formação Policial (Aspirantado), realizado no dia 30/03/2010, onde o mesmo indeferiu a matrícula do Autor no referido curso, conforme documento em anexo, convocando as pessoas que tiveram suas matrículas deferidas para o início do curso, que se iniciará no dia 31/03/2010 (quarta-feira) às 13:00 horas na Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, localizada na Rua Oscar Negrão de Lima, 200 – Bairro Nova Gameleira/BH – MG. Assim, o Autor não teve outra alternativa senão buscar a tutela jurisdicional a fim de buscar a satisfação de seu direito. II - DO ATO ADMINISTRATIVO COMBATIDO No dia 31/03/2010 o Diretor Geral da Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais – Sr. Cylton Brandão da Matta – através da Portaria nº 051/DRS/ACADEPOL/PCMG/2010, tornou público o resultado da análise dos documentos e requisitos estabelecidos no Edital nº 04/08 de Concurso Público de Provas para o cargo de AGENTE DE POLÍCIA, da matrícula no Curso de Formação Policial (Aspirantado), realizado no dia 30/03/2010, onde o mesmo indeferiu a matrícula do Autor no referido curso, conforme documento em anexo, convocando as pessoas que tiveram suas matrículas deferidas para o início do

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curso, que se iniciará no dia 31/03/2010 (quarta-feira) às 13:00 horas na Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, localizada na Rua Oscar Negrão de Lima, 200 – Bairro Nova Gameleira/BH – MG. O indeferimento da matrícula do Autor foi motivado pelo fato deste contar hoje com 36 anos de idade, visto que nasceu no dia 17/03/1974, e, portanto, contrariar o malfadado limite de idade de 32 anos fixado no item 11.1.b do Edital nº 04/08. III - DA LIMITAÇÃO DE IDADE EM 32 ANOS PREVISTA NO EDITAL Nº 04/08 A Constituição Federal estabelece a igualdade de todos perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (art. 5º, caput), sendo vedada a diferença de critérios de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (art. 7º, XXX). Entretanto, a própria Constituição prevê que "os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei" (art. 37, I) e que a lei poderá "estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir" (art. 39, § 3º). Desse modo, o limite de idade pode ser observado como critério de admissão em cargos públicos, desde que tal limite esteja de acordo com a natureza e atribuições do cargo em referência e que esteja previsto em lei, tudo dentro de uma razoabilidade. Assim, o que está implícito na malfada limitação de idade (32 anos) é a exigência do vigor físico e mental para o provimento do cargo de Agente de Polícia, que a própria ACADEPOL – realizadora do concurso, verificou ter o Autor quando o aprovou nos exames de capacidade intelectual, psicológica, biomédica e biofísica, credenciando-o ao cargo concorrido, apesar da idade superior aos 32 anos fixados no item 11.1.b do Edital nº 04/08, não havendo razão para o indeferimento de sua matrícula no curso de Formação Policial (Aspirantado). IV - DA APROVAÇÃO DO AUTOR NOS EXAMES DE CONHECIMENTO, PSICOLÓGICO, BIOMÉDICO E BIOFÍSICO CHANCELADA PELA ACADEPOL Conforme se verifica nos documentos em anexo, a ACADEPOL – Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais submeteu o Autor à verificação de sua capacidade intelectual, psicológica, biomédica e biofísica, aprovando-o em todas estas fases do concurso, considerando-o apto ao provimento do cargo de Agente de Polícia, apesar de estar fora do limite de idade de 32 anos, fixado no Edital nº 04/08. Desta forma, pouco importa sua idade para o exercício desta função, pois, a própria ACADEPOL constatou sua boa saúde mental e seu vigor físico, requisitos que julga necessário ao provimento do cargo de Agente de Polícia.

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Assim, MM. Juiz, se a própria ACADEPOL, que realizou o concurso, aprovou o Autor nos exames de capacidade intelectual, psicológica, biomédica e biofísica, considerando-o apto ao provimento do cargo de Agente de Polícia, não pode agora discriminá-lo em razão do limite de idade de 32 anos fixado no Edital nº 04/08 – item 11.1.b, indeferindo sua matrícula no Curso de Formação Policial (Aspirantado), pois, o que está implícito nesta malfadada limitação de idade é a exigência do vigor físico e mental, que ela própria verificou ter o Autor quando o aprovou nos citados exames realizados nas fases do concurso, não havendo razão para o indeferimento de sua matrícula no curso de Formação Policial (Aspirantado). V - DA JUSTIFICATIVA DE FIXAÇÃO DE LIMITE DE IDADE PARA O CARGO DE AGENTE DE POLÍCIA O objetivo da fixação do limite de idade para o provimento do cargo de Agente de Polícia é explicitado no item 9 do Edital nº 04/08, que trata dos objetivos dos exames biomédicos e biofísicos.

Os EXAMES BIOMÉDICOS têm o objetivo de “aferir se os candidatos gozam de boa saúde física, se não são portadores de doenças, sinais ou sintomas que os inabilitem ao exercício da função policial e, ainda, se possuem acuidade visual e auditiva compatível com a carreira policial.” tendo estes “caráter pré-admissional para o ingresso na carreira de AGENTE DE POLÍCIA da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais” - item 9.4 e 9.4.1 do Edital 04/08.

Já quanto aos EXAMES BIOFÍSICOS, o Edital 04/08 prescreve que “são

relativos à capacidade física, e visam aferir se o candidato apresenta condições de saúde condizentes com o peso, altura e idade, além de capacidade física para suportar os exercícios a que será submetido durante o Curso de Formação e as tarefas típicas do policial civil, especialmente para o cargo de Agente de Polícia.” – item 9.14 do Edital 04/08. Contudo a exigência de limite de idade para inscrição em concurso público deve satisfazer a uma finalidade juridicamente aceitável e relevante, sob pena de se configurar discriminação abusiva, inconstitucional.

As atribuições do cargo de Agente de Polícia estão previstas no item 1 do Edital nº 04/08:

1. DISPOSIÇÕES PRELIMINARES 1.1.Descrição sumária das atividades: O AGENTE DE POLÍCIA é o servidor que tem por atribuições as atividades integrantes da ação investigativa para o estabelecimento das causas, circunstâncias e autoria das infrações penais, administrativas e disciplinares e, ainda, o cumprimento de diligências policiais, mandados e outras determinações da autoridade superior competente, contribuindo na gestão de dados, informações e conhecimentos na execução de prisões; a execução de busca pessoal, identificação criminal e datiloscopia de pessoas para captação dos elementos indicativos de autoria de infrações

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penais; execução de ações necessárias para que a segurança das investigações, inclusive a custódia provisória dos presos no curso dos procedimentos policiais, até o seu recolhimento na unidade responsável pela guarda penitenciária; coleta de dados objetivos pertinentes aos vestígios encontrados em bens, objetos e locais de cometimento de infrações penais, inclusive em veículos, com a finalidade de estabelecer sua identificação, elaborando autos de vistoria, descrevendo suas características e condições, para fins de apuração de infração penal e de trânsito; e coleta de elementos objetivos e subjetivos para fins de apuração de infrações penais, administrativas e disciplinares (art. 4º da Lei Complementar nº 84/05).”

Assim, é desarazoada a fixação de limite de idade para o cargo de Agente de Polícia Civil, visto que este não exige vigor físico diferenciado, tendo o Supremo Tribunal Federal no Enunciado nº 683, se manifestado in verbis:

"Súmula 683 - O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7o, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido."

Com efeito, tratando-se de concurso para provimento do cargo de Agente de Polícia, que se refere à polícia judiciária e que, a teor da LC nº 84/05, possui atribuições de natureza eminentemente investigativa e intelectual, a imposição editalícia de limite de idade máxima de 32 (trinta e dois) anos para inscrição, em princípio, configura discriminação inconstitucional, nos termos dos arts. 5° e 7°, XXX, da Constituição Federal, visto que a natureza e atribuições do cargo não evidenciam a necessidade de exclusão de candidatos em razão de idade, mormente porque a própria ACADEPOL os chancelou como aptos/aprovados nos exames de conhecimentos, psicológicos, biomédicos e biofísicos, demonstrando, estes dois últimos, que o Autor está apto ao cargo de Agente de Polícia, independentemente da idade que tem. Certo é que indivíduos que têm idade inferior a 32 anos podem não ter o vigor físico que outros que ultrapassam os 32 anos têm, e, no caso em tela, o Autor demonstrou que, apesar de ter hoje 36 anos, foi considerado apto/aprovado pela ACADEPOL ao provimento do cargo de Agente de Polícia. Ademais, os dispositivos legais em análise até o momento não especificam qual o critério objetivo a justificar o limite etário fixado para o provimento do cargo de Agente de Polícia. Outro fato que merece registro é que no item 1.4.1 do Edital nº 04/08 há previsão para o preenchimento de 39 (trinta e nove) vagas a candidatos portadores de deficiência, observada a exigência de compatibilidade entre a deficiência e as atribuições do cargo, demonstrando, mais uma vez, que a fixação do limite de idade em até 32 anos para o provimento do cargo de Agente de Polícia, sob o pretexto de selecionar candidatos com saúde e vigor físicos, é

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relativa e insubsistente, pois, até uma pessoa que tem limitações em face de deficiência física pode exercer o cargo de Agente de Polícia.

VI - DO PRINCÍPIO DA IGUALDADE

IVES GANDRA (1992:154) preleciona que a Constituição Federal de 1988

adotou o princípio da igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico.

O Mestre ALEXANDRE DE MORAIS (2000:64) registra que a proibição genérica de acesso a determinadas carreiras públicas, tão-somente em razão da idade do candidato, consiste em flagrante inconstitucionalidade, uma vez que não se encontra direcionada a uma finalidade acolhida pelo direito, tratando-se de discriminação abusiva, em virtude da vedação constitucional de diferença de critério de admissão por motivo de idade (C.F., art. 7º, XXX), que consiste em corolário, na esfera das relações do trabalho, do princípio fundamental da igualdade (C.F., art. 5º, Caput).

Assim, toma-se irrelevante a discussão axiológica acerca das razões

motivadoras da Administração para a fixação de critérios de admissão em concurso público. É que a Constituição, neste particular, impõe valor retirando do legislador ordinário, do Administrador Público e do próprio intérprete o poder de escolher valores ou critérios dissonantes.

Desta maneira, o Constituinte não permite que se criem requisitos ou

critérios envolvendo idade, ou ainda que se entenda razoável, por motivação metajurídica, a limitação de idade, invocando-se aspectos físicos ou biológicos de discriminação. O texto proíbe, textualmente, qualquer critério nesse sentido, ressalvados, evidentemente, os próprios critérios constitucionais. Assim, a refrega axiológica sobre os benefícios da idade, antepondo ao vigor dos anos à sageza da experiência, resta inteiramente superada.

A pretexto de estabelecer requisitos do cargo, emprego ou função, a lei não

pode prever a diferença no critério de admissão baseada na cor, no sexo, na idade ou no estado civil dos postulantes do cargo. O princípio da isonomia veda expressamente tais distinções que tomam em consideração a pessoa dos candidatos e não as características específicas dos cargos, empregos ou funções.

Portanto, é inconstitucional a limitação de idade prevista no item 11.1.b

do Edital nº 04/08, sendo desigual e discriminatória a imposição de limite de idade, contrariando, assim, o preceituado no art. 7º, XXX, c/c art. 39, § 3º da Constituição Federal, mormente porque esta malfadada limitação é insubsistente em face da aprovação do Autor nos exame intelectual, psicológico, biomédico e biofísico pela ACADEPOL – órgão que realizou o concurso e avaliou os candidatos.

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VII - DO ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL PELA INCONSISTÊNCIA DA FIXAÇÃO DO LIMITE DE IDADE EM 32 ANOS PARA O CARGO DE AGENTE DE POLÍCIA

Nossos Tribunais vêm entendendo pela falta de razoabilidade na fixação de limite de idade para o provimento do cargo de Agente de Polícia, e que configura, inclusive, discriminação, nos termos dos arts. 5° e 7°, XXX da Constituição Federal, visto que a natureza e atribuições do cargo não evidenciam a necessidade de exclusão de candidatos em razão de idade, mormente porque aprovados pela ACADEPOL nos exames intelectual, psicológico, biomédico e biofísico. Vejamos:

Número do processo: 1.0024.07.383403-8/001(1) Númeração Única: 3834038-98.2007.8.13.0024 Relator: HELOISA COMBAT Data do Julgamento: 27/11/2007 Data da Publicação: 11/03/2008 Ementa: ''APELAÇÃO CÍVEL - CONCURSO PÚBLICO PARA O PREENCHIMENTO DE CARGO DE AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - LIMITAÇÃO MÁXIMA DE IDADE - ATRIBUIÇÕES DO CARGO - PECULIARIDADE DO CASO CONCRETO - Em face do disposto nos artigos 7º, XXX, da CF/88, é vedada a imposição de limite de idade para o preenchimento de cargo público, salvo nos casos em que a limitação possa ser justificada pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido, o que não ocorre no concurso público para provimento do cargo de Agente de Polícia Civil, mormente se foi permitida a inscrição e aprovação do candidato em todas as fases do certame, com proibição apenas ao final, após ter freqüentado, com êxito, o curso de formação na Academia de Polícia.- Recurso provido.'' Súmula: REJEITARAM PRELIMINAR. DERAM PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

Número do processo: 1.0024.07.384138-9/001(1) Númeração Única: 3841389-25.2007.8.13.0024 Relator: HELOISA COMBAT Data do Julgamento: 27/11/2007 Data da Publicação: 11/03/2008 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL - CONCURSO PÚBLICO PARA O PREENCHIMENTO DE CARGO DE AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - LIMITAÇÃO MÁXIMA DE IDADE - ATRIBUIÇÕES DO CARGO - PECULIARIDADE DO CASO CONCRETO- Em face do disposto nos artigos 7º, XXX, da CF/88, é vedada a imposição de limite de idade para o preenchimento de cargo público, salvo nos casos em que a limitação possa ser justificada pela natureza das atribuições

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do cargo a ser preenchido, o que não ocorre no concurso público para provimento do cargo de Agente de Polícia Civil, mormente se foi permitida a inscrição e aprovação do candidato em todas as fases do certame, com proibição apenas ao final, após ter freqüentado, com êxito, o curso de formação na Academia de Polícia.- Recurso provido. Súmula: REJEITARAM PRELIMINAR. DERAM PROVIMENTO, VENCIDO O VOGAL.

Número do processo: 1.0024.09.695318-7/001(1) Númeração Única: 6953187-66.2009.8.13.0024 Relator: EDUARDO ANDRADE Data do Julgamento: 16/03/2010 Data da Publicação: 26/03/2010 Ementa: AÇÃO CAUTELAR - CARÁTER INIBITÓRIO - CONCURSO PÚBLICO PARA AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - LIMITE DE IDADE - REQUERIMENTO DE LIMINAR - PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA - CONCESSÃO - RECURSO DESPROVIDO - Tratando-se de concurso para provimento do cargo de agente de polícia, que desempenha a função de polícia judiciária e, a teor da LC 84/05, possui atribuições de natureza eminentemente investigativa e intelectual, afigura-se relevante o argumento do impetrante de que a imposição editalícia de limite de idade máxima de 32 (trinta e dois) anos para inscrição configura, em princípio, discriminação inconstitucional, não passando pelo crivo da razoabilidade, sendo o caso, portanto, de concessão da liminar. - Presentes os requisitos do fumus boni iuris e periculum in mora, deve ser deferido o pedido de liminar, - Recurso desprovido. Súmula: REJEITARAM A PRELIMINAR E NEGARAM PROVIMENTO.

Número do processo: 1.0024.07.485588-3/001(1) Númeração Única: 4855883-72.2007.8.13.0024 Relator: EDUARDO ANDRADE Data do Julgamento: 04/11/2008 Data da Publicação: 28/11/2008 Ementa: AÇÃO ORDINÁRIA - CONCURSO PÚBLICO PARA AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - LIMITE DE IDADE - DISCRIMINAÇÃO - SÚMULA 683 DO STF. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS MAJORADOS. - Tratando-se de concurso para provimento do cargo de agente de polícia, que, diga-se, refere-se à polícia judiciária e que, a teor da LC 84/05, possui atribuições de natureza eminentemente investigativa

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e intelectual, a imposição editalícia de limite de idade máxima de 32 (trinta e dois) anos para inscrição configura discriminação inconstitucional, nos termos dos arts. 5° e 7°, XXX, da Constituição Federal, visto que a natureza e atribuições do cargo não evidenciam a necessidade de exclusão de candidatos em razão de idade. - Primeiro recurso provido, majorando-se os honorários advocatícios. Segundo recurso desprovido. Súmula: DERAM PROVIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO E NEGARAM PROVIMENTO SEGUNDO.

Número do processo: 1.0024.07.485588-3/001(1) Númeração Única: 4855883-72.2007.8.13.0024 Relator: EDUARDO ANDRADE Data do Julgamento: 04/11/2008 Data da Publicação: 28/11/2008 Ementa: AÇÃO ORDINÁRIA - CONCURSO PÚBLICO PARA AGENTE DE POLÍCIA CIVIL - LIMITE DE IDADE - DISCRIMINAÇÃO - SÚMULA 683 DO STF. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS MAJORADOS. - Tratando-se de concurso para provimento do cargo de agente de polícia, que, diga-se, refere-se à polícia judiciária e que, a teor da LC 84/05, possui atribuições de natureza eminentemente investigativa e intelectual, a imposição editalícia de limite de idade máxima de 32 (trinta e dois) anos para inscrição configura discriminação inconstitucional, nos termos dos arts. 5° e 7°, XXX, da Constituição Federal, visto que a natureza e atribuições do cargo não evidenciam a necessidade de exclusão de candidatos em razão de idade. - Primeiro recurso provido, majorando-se os honorários advocatícios. Segundo recurso desprovido. Súmula: DERAM PROVIMENTO AO PRIMEIRO RECURSO E NEGARAM PROVIMENTO SEGUNDO.

O STF se pronunciou reiteradamente sobre a matéria:

'CONCURSO PÚBLICO - POLICIAL MILITAR - LIMITE DE IDADE - PRECEDENTES - AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE NA EXIGÊNCIA. Os pronunciamentos do Supremo são reiterados no sentido de não se poder erigir como critério de admissão não haver o candidato ultrapassado determinada idade, correndo à conta de exceção situações concretas em que o cargo a ser exercido engloba atividade a exigir a observância de certo limite - precedentes: Recursos Ordinários nos

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Mandados de Segurança nºs 21.033-8/DF, Plenário, relator ministro Carlos Velloso, Diário da Justiça de 11 de outubro de 1991, e 21.046-0/RJ, Plenário, relator ministro Sepúlveda Pertence, Diário da Justiça de 14 de novembro de 1991, e Recursos Extraordinários nºs 209.714-4/RS, Plenário, relator ministro Ilmar Galvão, Diário da Justiça de 20 de março de 1998, e 217.226-1/RS, Segunda Turma, por mim relatado, Diário da Justiça de 27 de novembro de 1998. Mostra-se pouco razoável a fixação, contida em edital, de idade máxima - 28 anos -, a alcançar ambos os sexos, para ingresso como soldado policial militar.' (STF - RE-AgR 345598/DF - Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO - Julgamento: 29/06/2005). EMENTA: CONCURSO PÚBLICO PARA O CARGO DE DELEGADO DE POLICIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. ACÓRDÃO QUE CONCLUIU PELA ILEGITIMIDADE DA EXIGÊNCIA DA IDADE MAXIMA DE 35 ANOS. ALEGADA VIOLAÇÃO AS NORMAS DOS ARTS. 7., INC. XXX, E 37, INC. I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A Constituição Federal, em face do princípio da igualdade, aplicável ao sistema de pessoal civil, veda diferença de critérios de admissão em razão de idade, ressalvadas as hipóteses expressamente previstas na Lei e aquelas em que a referida limitação constitua requisito necessário em face da natureza e das atribuições do cargo a preencher. Existência de disposição constitucional estadual que, a exemplo da federal, também veda o discrime. Recurso extraordinário não conhecido. (RE 140945, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/08/1995, DJ 22-09-1995 PP-30600 EMENT VOL-01801-05 PP-00832)

VIII - DA CONVOCAÇÃO TARDIA DOS CANDIDATOS PELA ACADEPOL – CAUSADORA DE PREJUÍZO AOS CANDIDATOS EM RAZÃO DO LIMITE DE IDADE MM. Juiz, o concurso teve sua inscrição no período de 21/07/08 a 08/08/08, mas somente no dia 31/03/2010 convocou os candidatos aprovados para efetivarem a matrícula no Curso de Formação policial (Aspirantado), causando prejuízo aos candidatos que tinham os 32 anos exigidos no edital há época da inscrição, mas, que por desídia da ACADEPOL, órgão realizador do concurso, hoje têm idade que ultrapassa a malfadada exigência editalícia, não podendo os

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candidatos serem apenados ou prejudicados pelo descaso e inconsequência do Poder Público.

IX - DA NECESSIDADE DO DEFERIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA INITIO LITIS

A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, art. 300,do C.P.C.

Os fatos e fundamentos exaustivamente exposto acima demonstram a prova inequívoca e a verossimilhança dos fatos alegados, razão pela qual se fazem presentes os requisitos legais do art. 300, do C.P.C. A convocação dos candidatos para o Curso de Formação Policial (Aspirantado), que se iniciou no dia 31/03/2010 às 13:00h, conforme Portaria nº 051/DRS/ACADEPOL/PCMG/2010, em anexo, torna irrefutável a existência de perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, decorrente da iminente possibilidade do Autor perder o curso, ou, sua integração tardia culminar na sua eliminação por frequência, conforme previsão editalícia, estando presentes todos os requisitos para a concessão da tutela antecipada ora requerida que, se não deferida, esvaziará o objeto da presente ação.

X - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, o Autor requer a V. Exa:

I) Seja deferida LIMINARMENTE, initio litis, em CARÁTER DE URGÊNCIA, tutela antecipada para ordenar ao Diretor Geral da Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais que matricule/inscreva o Autor no Curso de Formação Policial (Aspirantado), independentemente do limite de idade exigido no Edital nº 04/08, permitindo que o mesmo participe desta e demais fases do concurso, até decisão final deste processo, fixando multa diária para o caso de descumprimento da ordem, em valor a ser arbitrado por V. Exa; II) a citação do Réu, nos termos do art. 75, II do C.P.C., no endereço constante do preâmbulo desta, para, querendo, contestar a presente ação, no prazo legal, sob pena de confissão e revelia; III) A concessão dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita por se tratar de pessoa pobre na acepção jurídica do termo, conforme declaração em anexo; IV) A intimação do Ministério Público; V) A designação de audiência conciliatória;

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VI) A procedência do pedido inicial, ratificando a tutela antecipada porventura deferida, para anular o ato administrativo que indeferiu a matrícula/inscrição do Autor no Curso de Formação Policial (Aspirantado), consubstanciado na Portaria nº 051/DRS/ACADEPOL/PCMG/2010, ordenando ao Diretor Geral da Academia de Polícia Civil do Estado de Minas Gerais que matricule/inscreva o Autor no Curso de Formação Policial (Aspirantado), independentemente do limite de idade exigido no Edital nº 04/08, permitindo que o mesmo participe desta e demais fases do concurso, abonando as faltas oriundas do indeferimento da matrícula, e, se aprovado, o direito à nomeação ao cargo público. Em sede de pedido alternativo, caso não seja deferida a tutela antecipada e julgado tardiamente procedente o pedido, seja o Autor incluído no primeiro Curso de Formação Policial a ser instituído pela ACADEPOL; VII) A condenação do Réu no pagamento das custas e honorários de sucumbência a serem arbitrados por V.Exa.; VIII) A produção de prova por todas as modalidades em direito admitidas, especialmente, a documental, testemunhal e pericial. Dá-se à causa o valor de R$500,00 (quinhentos reais) para efeitos meramente fiscais.

Nestes termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 02 de janeiro de 2016.

André Luiz Lopes

OAB/MG - 70.397

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