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Temas em Psicologia – 1999, Vol 7 nº 3, 213-222 Estudos conceituais na análise do comportamento 1 Emmanuel Zagury Tourinho Universidade Federal do Pará 1 Trabalho apresentado no Simpósio Pesquisa hislórico-conceilual e análise do comportamento: Necessidade e perspectivas, XXIX Reunião Anual de Psicologia da Sociedade Brasileira de Psicologia, Campinas - SP, outubro de 1999. Endereço para correspondência: Rua Boaventura da Silva, 1251, Apto. 1402, Belém - PA. e- mail: [email protected] Agradecimentos á Profa. Nilza Micheletto, aos membros do Grupo de Estudos em Análise do Comportamento (UFPA) e a dois pareceristas anônimos pelos comentários c contribuições a uma versão preliminar do texto. Apoio financeiro CNPq 1

Estudos Conceituais Na Análise Do Comportamento

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Estudos conceituais na análise do comportamento1

Emmanuel Zagury TourinhoUniversidade Federal do Pará

RESUMOO artigo apresenta a análise do comportamento como um campo de saber no interior do qual o conhecimento produzido envolve conteúdos conceituais, empíricos e aplicados. A

1 Trabalho apresentado no Simpósio Pesquisa hislórico-conceilual e análise do comportamento: Necessidade e perspectivas, XXIX Reunião Anual de Psicologia da Sociedade Brasileira de Psicologia, Campinas - SP, outubro de 1999. Endereço para correspondência: Rua Boaventura da Silva, 1251, Apto. 1402, Belém - PA. e-mail: [email protected] Agradecimentos á Profa. Nilza Micheletto, aos membros do Grupo de Estudos em Análise do Comportamento (UFPA) e a dois pareceristas anônimos pelos comentários c contribuições a uma versão preliminar do texto. Apoio financeiro CNPq

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interdependência e a complementaridade entre estudos que se aproximam de modos diversos dos diferentes tipos de conteúdos são interpretadas como próprias do fazer científico e da configuração da Psicologia como ciência e profissão. Três estudos relacionados à temática dos eventos privados são citados para ilustrar as possibilidades de aproximação a temas conceituais, empíricos e aplicados.Palavras-chave: análise do comportamento, estudos conceituais, eventos privados.

Conceptual studies in behavior analysisABSTRACTThis paper presents behavioral analysis as a field in which the knowledge involves conceptual, empirical and applied contents. The interdependence and complementarity among studies dealing with different kinds of content are interpreted as appropriate for the construction of science and for the design of psychology as a science and a profession. Three studies related to the issue of private events have been cited in order to illustrate the possible ways in which conceptual, empirical and applied themes may be approached.

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Key words: behavioral analysis, conceptual research, private events.

A pesquisa conceituai vem recebendo atenção crescente na análise do comportamento, o que sugere o reconhecimento de sua relevância para o desenvolvimento da disciplina como um todo. Ao discuti-la neste trabalho, sua importância será interpretada como decorrente de uma interdependência entre os diferentes tipos de estudo que podem sustentar o projeto de constituição da Psicologia como ciência do comportamento.

Numa definição preliminar, estudos conceituais podem ser abordados como aqueles que se ocupam da constituição do sistema explicativo com o qual uma ciência busca dar conta do conjunto de fenômenos que dizem respeito a seu objeto de estudo. Há nesses estudos, invariavelmente, um conteúdo histórico, na medida que são referenciados pelo processo permanente de (re)elaboração do sistema explicativo. Algumas vezes, o caráter histórico é central, outras vezes tem uma incidência periférica. Em alguns trabalhos, a ênfase é nos supostos episte-mológicos, e o estudo ganha ares de investigação filosófica. Em

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todos os casos, diferencia-se pelo objetivo de questionar produtivamente o conjunto de proposições que fundamenta (ou deve fundamentar) a investigação (básica e/ou aplicada) que define o campo de uma ciência.

Estudos conceituais e outros tipos de estudo na análise do comportamento

A análise do comportamento tem sido definida como um sistema cultural (cf. Gtenn, 1993), “cujos comportamentos de seus membros individuais afetam os demais e são selecionados por seu efeito para a sobrevivência do grupo" (Cavalcante, 1999, p. 123). Um modo de referir-se a esse sistema cultural é abordar a literatura da análise do comportamento e interpretá-la como um campo de saber, no interior do qual diferentes tipos de produção são articulados com vistas à formulação de uma compreensão ampla e sólida da problemática do comportamento. As pos-sibilidades de produção definem áreas que se interre- lacionam c que respondem a demandas próprias da ciência em geral e da disciplina psicológica em parti-

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cular. Essas áreas podem ser abordadas recorrendo-se ao projeto de Psicologia elaborado por Skinner.

Na obra de Skinner, a construção de um sis-tema explicativo original para a Psicologia inicia-se com a proposição do reflexo como objeto de estudo, em 1931 (cf. Skinner, 1931 /1961). O texto no qual a proposta é apresentada ocupa-se inicialmente de um exame da história do conceito de reflexo, a fim de possibilitar a identificação de suas bases empirico- experimentais, à parte de “interpretações supérfluas" (Skinner, 1931/1961, p.321), que não auxiliavam no estabelecimento de um programa de investigações.

O interesse skinneriano pela história do conceito de reflexo revela um duplo reconhecimento: primeiro, de que o trabalho de elaboração conceituai constitui requisito para a instauração de um campo de pesquisas, delimitando tuna interpretação particular para a problemática com a qual se pretende lidar e os modos apropriados de investigá-la; segundo, de que estaria operando com um conceito elaborado em domínios teóricos diversos, cuja compreensão era requisito para a formulação de uma nova abordagem. Adicionalmcnte, a proposição de um novo programa exigia decisões (de ordem “epistemológica") relativas

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às noções de conhecimento e linguagem científica com as quais trabalhar. A ciência de Skinner, embora original do ponto de vista epistemológico, declara, desde o inicio, a adesão a princípios do operacionismo de Bridgman e do positivismo de Ernst Mach. A referência ao operacionismo já eslava presente no texto de 1931 e se repetirá em publi-cações posteriores (e.g. Skinner, 1945), ainda que nas últimas Skinner aponte limitações e indique a necessidade de uma análise funcional do comporta-mento verbal do cientista. Também o débito a Ernst Mach era explicitado para explicar a origem do “método de [análise] crítica ... de conceitos científicos" (Skinner, 1931/1961, p.321), empregado no exame do conceito de reflexo.

A consolidação do programa de pesquisas de Skinner e a constituição de uma comunidade cientifica voltada para o seu desenvolvimento produziram uma forte identificação de seu pensamento com a investigação de processos básicos relativos à apren-dizagem. E reconhecida, porém, a predominância de textos teóricos/interpretativos na obra de Skinner, especialmcnte a partir dos anos 50.

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Embora em menor número entre os analistas do comportamento, é também notória a contribuição de autores que, inspirados no pensamento skinneriano, têm se dedicado a trabalhos conceituais, na explo-ração das possibilidades do behaviorismo radical para a redefinição da Psicologia, suas relações com outras ciências e sua capacidade de prover soluções para os problemas humanos. Este é o caso, por exemplo, de Willard Day (cf. Leigland, 1992), que, além de inúmeros artigos sobre a filosofia behaviorista radical, foi responsável pela criação do periódico Behaviorism (atualmente Behavior and Philosophy), destinado a publicar estudos desta natureza.

O exemplo da dedicação de Skinner a trabalhos conceituais, bem como a repercussão dos mesmos em trabalhos de outros analistas do comportamento são indicadores de sua importância. O lugar dos estudos conceituais não se define, porém, sem a referência às outras áreas de produção do saber anali- tico-comportamental.

Skinner define o behaviorismo radical como uma filosofia, que reflete sobre o objeto, os objetivos e os métodos da ciência do comportamento (e.g. Skinner, 1963/1982, 1974/1993). O behaviorismo

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radical correspondería, assim, ao trabalho de siste-matização conceituai da análise do comportamento e à reflexão sobre a extensão de seu projeto cientifico. Apesar da distinção, freqüentementc a análise do comportamento é identificada com trabalhos experi-mentais, sendo referida simplesmente como Análise Experimental do Comportamento (e.g. Skinner, I987)2.

Se behaviorismo radical e a análise experi-mental do comportamento (AEC) representam tipos diversos de produção de conhecimento na análise do comportamento, eles ainda não constituem os limites desse campo; ou melhor, eles não esgotam as possibilidades de uma disciplina, a Psicologia, que se constituiu historicamente como mais do que um espaço para a efetivação de projetos científicos. O próprio Skinner (1987) percebe esse caráter particular do(s) lugar(es) da Psicologia na cultura ocidental.

Em um texto do fina! da década de 80, Skinner (1987), indaga por quê a análise experimental do

2 Neste artigo, Skinner coloca como realizações da AEC tanto a análise do comportamento como função de variáveis ambientais, quanto seu uso na interpretação e modificação do comportamento (cf. Skinner, 1987, p. 782).

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comportamento não chegou a uma aceitação ampla como ciência psicológica, a despeito de suas realizações na interpretação e modificação do com-portamento. Sua resposta aponta para três grandes obstáculos; a psicologia humanista, a psicologia cognitiva e a psicoterapia. A psicologia humanista corresponderia a explicações para o comportamento humano que se apoiam em conceitos como liberdade e responsabilidade, presentes em conjuntos amplos de discursos e práticas sociais, e contrariados por uma análise cientifica do comportamento. A psicologia cognitiva, que adquiriu ampla popularidade a partir de suas sistematizações na década de 60, representou a reintrodução do mentalismo na psicologia cientifica, mesmo quando se voltou para as neurociências (originando a chamada “ciência cognitiva”), ao promover explicações internalistas para o comportamento humano. A referência de Skinner à psicoterapia é a que interessará de perto para uma discussão dos lugares da Psicologia. Diz ele que o fato da Psicologia constituir-se como profissão de ajuda impõe restrições ao seu desenvolvimento como ciência. Skinner atem-se ao fato da psicoterapia basear-se no uso de uma linguagem (mentalista,

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intemalista) que é conflitiva com os modos científicos de falar sobre o comportamento humano. “Os psicoterapeutas devem conversar com seus clientes e, com raras exceções, o fazem usando o inglês colo-quial, que é carregado de referências a causas inter-nas" (Skinner, 1987, p.783)3. O principal a destacar

3 Em 1982, numa reedição de texto publicado em 1963, Skinner aborda o mesmo problema assinalando:"Todas as línguas modernas - mas talvez mais o inglês - são fortemente mentalistas. E quase impossível discutir uma simples interação entre duas pessoas sem invocar mentes, pensamentos, sentimentos, intenções e assim por diante. Quase todas as abordagens eruditas para o comportamento humano - filosofia, teologia, lógica, ciência política, economia e assim por diante - usam termos que implicam que uma pessoa é um agente criativo, iniciador. Os termos funcionam bem para certos propósitos, assim como nosso vocabulário coloquial de fisica funciona bem, embora não esteja cm acordo com a fisica como ciência. Não surpreende, portanto, que quando a primeira onda revolucionária de pensamento behaviorista retrocedeu, nas décadas de trinta e quarenta, a Psicologia retomou aos seus velhos caminhos. Como resultado, o argumento

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aqui é sua observação de que o desenvolvimento da Psicologia envolve sua existência como área de inter-venção voltada para a solução de problemas huma-nos - e que isso repercute na própria elaboração de projetos científicos.

A relação entre construção conceituai e pesquisa empírica, assim como a caracterização do campo psicológico como envolvendo uma profissão voltada para a solução de problemas humanos, poderíam ser formuladas com base cm diversas outras referências (por exemplo, as críticas ao empirismo ingênuo de inspiração baconiana, ou a análise dos fatos histórico-sociais aos quais relaciona-se a emergência do saber psicológico). A apresentação de ambas com o recurso a idéias skinnerianas cumpre o objetivo de sugerir que são questões presentes no próprio sistema analítico-comportamental, e não apenas elaborações externas

central do behaviorismo começou a ser ignorado e mal entendendido. As explicações nos manuais tomaram-se mais e mais simplificadas e passaram a ser ilustradas com relatos estereotipados de velhos experimentos, como o de Pavlov do reflexo condicionado” (Skinner, 1963/1982, p.133).

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com as quais se toma possível refletir sobre a proposta de uma ciência do comportamento. No limite dessas observações, pode-se dizer que três áreas de produção de conhecimento, interrelacionados e interdependentes, representadas na Figura 1, a seguir, constituem contemporaneamente as possibilidades da análise do comportamento:

Trabalhos Conceiluais/Filosdlicos

Trabalhos de Intervenção Pesquisas Empíricas

Figura 1. Áreas de produção de conhecimento na análise do comportamento.

A Figura 1 indica que Trabalhos Conceituais/ Filosóficos, Pesquisas Empíricas e Trabalhos de

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Intervenção constituem áreas cujas produções guar-dam sempre relações umas com as outras. Ou seja, não há trabalho conceituai que não se articule com programas de investigação empírica e com demandas relativas à solução de problemas humanos. Similar-mente, não há trabalho empírico que não se articule com elaborações conceituais, ou que não guarde relações com possibilidades de intervenção do psicó-logo. Por último, não há modelo de intervenção de caráter analitico-comportamental que não esteja fundamentado em conceitos/interpretações behavioristas radicais e em princípios derivados da investigação empírica do comportamento.

Apesar de ilustrar positivamente as áreas e suas relações de interdependência, a representação acima talvez ainda seja insuficiente para caracterizar os diferentes estudos na análise do comportamento, uma vez que sugere a possibilidade de caracterização de cada produção como própria de uma área. A Figu-ra 2, adiante, sugere, ao contrário, localizações inter-mediárias dos estudos.

Trabalhos Conceituais/Filosóficos

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Trabalhas de Intervenção Pesquisas Empíricas

Figura 2. Localização intermediária dos estudos entre duas áreas de produção na análise do comportamento.

A Figura 2 apresenta os diferentes estudos na análise do comportamento como localizados, não nos limites específicos das áreas de produção anterior mente citadas, mas em posições intermediárias entre diferentes áreas. E claro que do ponto de vista da percepção imediata de um pesquisador, sua produção é tipicamente conceituai, ou empírica, ou relacionada à intervenção. No entanto, essa vem a ser uma visão restrita dos processos em curso quando uma comuni-dade promove e valida estudos em qualquer área particular, pelos motivos de interdependência e com-plementaridade assinalados acima. A comunidade da análise do comportamento não promove e valida, por exemplo, estudos empíricos que não estão solida-

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mente formulados com o aparato conceituai da área, ou modelos de intervenção que não se nutrem dos resultados derivados da investigação empírica.

Deve-se considerar, ainda, a possibilidade de que, tendo em vista a conformação particular da Psi-cologia e a interdependência e complementaridade dos estudos, toda produção envolva sempre e necessariamente uma aproximação aos três tipos de conteúdos. Nesse caso, cada trabalho estaria localizado em algum ponto da área interna da figura, e não em um ponto qualquer entre apenas duas áreas. A Figura 3, a seguir, ilustra esta interpretação.

Tiabalhos Canceituais/FilasálieosMalhos de Inleivenção Pesquisas Empíricas

Figura 3. Localização intermediária dos estudos entre três áreas de produção na análise do comportamento.

De acordo com a Figura 3, um trabalho pode estar mais próximo de uma área de produção de conhecimento, mas cultivará sempre relações com as demais. Na discussão do alcance desse modelo inter-pretative, toma-se importante atentar para alguns

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aspectos. Primeiro, afirmou-se que com sua análise histórica do conceito de reflexo, Skinner reconhecia o trabalho conceituai como condição para a instauração de programas de pesquisa; pode-se agora acrescentar que ele é igualmente condição para o desenvolvimento da investigação empírica, regulando-a permanentemente e refletindo também (isto é, sendo também regulado por) seus resultados. Relações similares podem ser apontadas com respeito aos modelos de intervenção elaborados em resposta às demandas por solução de problemas comporta- mentais humanos, que definem e são definidos pela relação com o que é produzido nas duas outras áreas.

Uma segunda observação é a de que Skinner refere-se ao behaviorismo radical como filosofia (e.g. Skinner, 1963/1982, 1974/1993), mas há uma coincidência entre a caracterização que faz dessa filosofia e a definição aqui apresentada para trabalhos conceituais/filosóficos. O conceito de filosofia correspondería, então, a mais do que a reflexão sobre temas tipicamente filosóficos. Assim, estão mais próximos do vértice dos trabalhos conceituais/filosó-ficos tanto estudos sobre os compromissos epistemo-

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lógicos de uma ciência do comportamento, quanto ensaios sobre a linguagem (Skinner, 1957), ou sobre a possibilidade daquela ciência fundamentar o plane-jamento da cultura (Skinner, 1948/1971). São exem-plos de trabalhos desta natureza todos os textos de Skinner usualmente referidos como “teóricos”. A dificuldade em diferenciá-los do tratamento de questões de intervenção e de investigação empírica apenas confirma a impossibilidade de estudos situados nos limites de uma área do saber analitico- comportamental. Não é sem motivos que Skinner (1974/1993) aponta, dentre as questões das quais a “filosofia behaviorista radical" se ocupa: “Que métodos pode [a ciência do comportamento humano] empregar? (p.3); “Proporcionará ela uma tecnologia e, em caso positivo, que papel desempenhará nos assuntos humanos?” (p.3).

A identificação do behaviorismo radical com a área de estudos conceituais/filosóficos pode parecer conflitiva com a histórica referência de Skinner (1963/1982; 1974/1993) ao behaviorismo radical como filosofia de uma ciência do comportamento, isto é, como algo diferenciado (e talvez anterior) à ciência comportamental. Entende-se, no entanto, que esse

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não é o caso, uma vez que a "ciência do compor-tamento” referida por Skinner corresponde ao que neste ensaio se abordou como a área de estudos empíricos. Ao incluir as elaborações filosóficas de Skinner no campo da análise do comportamento esta última não está sendo identificada com a investigação cientifica do comportamento, mas elaborada como um campo de saber, ou sistema cultural amplo, definido por modos particulares de referir/explicar/abordar fenômenos comportamentais.

Enquanto os trabalhos conceituais/filosóficos incluem todos os esforços reflexivos sobre compro-missos c realizações de um sistema explicativo analítico-comportamental, os trabalhos empíricos envolvem tanto a investigação experimental dos processos comportamentais básicos (com a qual a análise do comportamento é usualmente identificada) quanto a pesquisa empírica aplicada (desse modo estão inseridas aqui tanto a análise experimental do comportamento quanto a análise aplicada do comportamento). O vértice dos trabalhos de inter-venção representa as aplicações (não a pesquisa aplicada) da análise do comportamento nos diferentes contextos de ação do psicólogo; ele corresponde

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especialmente à produção literária sobre os modelos de intervenção em diferentes domínios, baseados na literatura conceituai e empírica da análise do com-portamento (embora deva-se também considerar que inclui as intervenções em si, como constitutivas da análise do comportamento enquanto campo de saber ou sistema cultural).

Por último, e mais importante, o modelo sugere a existência de inúmeras possibilidades de produção de conhecimento, mais ou menos aproximadas das diferentes áreas, todas relevantes para o desenvolvi-mento da análise do comportamento como um todo. Uma maior variabilidade na elaboração de trabalhos conceituais, empíricos, ou de intervenção, não ape-nas é possível, mas talvez seja mesmo requisito para a evolução da abordagem comportamcntal, inclusive na direção da superação de alguns dos obstáculos citados por Skinner (1987). O afastamento em relação a lugares bem demarcados de produção, longe de ser um problema, pode representar uma contribuição importante.

A produção de conhecimento sobre eventos privados nas diferentes áreas

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Quando uma ciência conta com uma forte tradição experimental e reúne uma comunidade em torno de programas de pesquisa razoavelmente definidos e assentidos quanto aos problemas que merecem análise e o delineamento básico para sua investigação, raramente o pesquisador se indaga sobre os supostos teóricos e epistemológicos que estão na base de seu cotidiano cientifico44. Em tais circunstâncias, o trabalho teórico perde a centralidade para grande parte da comunidade, à exceção daqueles que, pela formação e atualidade, estão atentos ao processo permanente de (re)elaboração conceituai inerente a qualquer sistema científico. Quando, mesmo nestas condições, uma comunidade se volta para um problema novo, fica mais fácil per-ceber como diferentes esforços vão sendo requeridos para tomar possível uma resposta consistente.

A temática dos eventos privados serve bem para ilustrar a interdependência das três áreas de produção na análise do comportamento, uma vez que sua elaboração conceituai ainda é precária e não há

4 Essa condição corresponde parcialmentc ao que Kuhn (1978) definiu como ciência normal

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modelos de investigação empírica consagrados e que possam orientar tanto investigações descritivas ou experimentais, quanto a intervenção correspondente. Ela permite visualizar como cada estudo incide nas diferentes áreas, ainda que em graus variados. Nos trabalhos a serem comentados em seguida, o trabalho empírico é um estudo descritivo e, na área de intervenção, aborda-se especificamente a intervenção clínica, na qual a referência a eventos privados encontra grande repercussão.

Três estudos serão brevemente citados: o trabalho de Tourinho, Teixeira e Maciel (2000) mais próximo do vértice dos trabalhos conceituais; a Dissertação de Martins (1999), um estudo empírico descritivo; e a Dissertação de Cavalcante (1999), que examina um conjunto de proposições relativas à intervenção em Terapia Analitico-Comportamental.

Tourinho e cols. (2000) examinaram textos de Skinner nos quais a problemática dos eventos priva-dos é abordada, buscando explicitar como se equa-ciona a referência a eventos fisiológicos, isto é, como Skinner sistematiza uma interpretação dos fenômenos fisiológicos, sustentando um recorte extemalista para

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a análise dos eventos privados. A posição de Skinner foi sumarizada com base nas seguintes categorias:

as variáveis biológicas como constitutivas, mas não definidoras do fenômeno comportamental privado: variáveis biológicas são constitutivas do organismo que se comporta e delimitam as possibilidades de produção de relações comportamentais; no entanto, não se impõem como referência na especificação de relações do organismo como um todo com o mundo a sua volta.

a autonomia do recorte analitico-comportamental diante dos fatos biológicos/fisiológicos: eventos ou condições anátomo-fisiológicas são interdependentes de eventos comportamentais; não se pode falar de uma autonomia dos dois conjuntos de fenômenos. Enquanto nível de análise, porém, fisiologia e análise do comportamento são independentes e complementares na abordagem do fenômeno comportamental. Na medida que as variáveis internas ao organismo não definem as relações

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comportamentais, sua especificação não é indispensável para a identificação e produção do comportamento.

os limites do controle do comportamento por eventos intcmos/fisiológicos: os processos através dos quais eventos internos podem vir a participar do controle discriminativo de respostas verbais envolvem componentes públicos, sendo apenas parcial e circunstancial o controle por evento privado.

o comportamento privado como comportamento do organismo como um todo: mesmo no caso de comportamentos encobertos, a resposta do organismo é uma resposta do organismo como um todo, e não de sua(s) parte(s). O apelo ao sistema nervoso central, comum a algumas teorias cognitivistas/mentalistas, corresponde a transitar para o domínio da (neuro)fisiologia, e permanecer sem uma explicação para o fenômeno comportamental do organismo como um todo.

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a distinção entre localização, acesso, contato e conhecimento: localização, acesso, contato e conhecimento dizem respeito a aspectos diferen-ciados do fenômeno comportamental privado. A localização interna de um evento pode envolver um contato especial para o sujeito, mas ao qual estará associada uma restrição no acesso e a impossibilidade de conhecimento pleno.

a preservação do recorte analítico-comporta- mental em situação de análise aplicada do com-portamento: o recorte analitico-comportamental representa não apenas um modelo interpretative e de investigação experimental, mas também uma possibilidade consistente de delimitação da inter-venção do psicólogo.

O trabalho de Tourinho e cols. (2000), tipica-mente conceituai, envolve um componente histórico, imposto pela necessidade de atentar para mudanças na argumentação skinneriana sobre a autonomia do recorte analitico-comportamental, na medida que explicações (neuro)fisiológicas para o comportamento vão deixando de ser especulativas e vão baseando

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sua legitimidade em estudos empirico- experimentais. Também vai se sugerindo um componente filosófico-epistemológico quando se observa que a instrumentalidade vai sendo empregada como critério na demarcação de fronteiras entre análise do comportamento e fisiologia (este aspecto da análise sugere a pertinência de um estudo sobre os modos como Skinner e outros analistas do comportamento apropriam-se do critério instrumental de verdade e validação de explicações, sistematizado por William James no início deste século - cf. Tourinho, 1999).

Uma elaboração dos eventos privados que equacione a referência à Fisiologia incide diretamente sobre a investigação empírica relativa ao tema, por exemplo ao prover uma referência para a avaliação da consistência teórica de terapeutas anali- tico-comportamentais, ao lidarem com eventos privados. Também a possibilidade do analista do comportamento confinar-se a relações comporta-mentais será importante para avaliar modelos de intervenção clinica, dada a ênfase com que trata-mentos farmacológicos são sugeridos contempora- ncamentc na literatura psicológica e na mídia em geral. Adicionalmente, a análise pode ser útil para a

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discussão de modelos topográficos de avaliação e diagnóstico clínicos, predominantes na literatura psicológica e psiquiátrica, e cuja maior expressão na atualidade é o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais - DSM-IV (cf. Cavalcante e Tourinho, 1998).

O estudo de Martins (1999) consistiu de uma descrição de verbalizações sobre eventos privados, de terapeutas e clientes, em sessões de terapia anali-tico-comportamental. Foram analisados dados de três atendimentos (quatro sessões de cada) e dentre os principais resultados pode-se destacar:

verbalizações que abordam eventos privados são bastante freqüentes em sessões de terapia analí- tico-comportamental, mais no caso dos clientes (acima de 30% em clientes adultos escolarizados) do que dos terapeutas (12% a 20%).

verbalizações de terapeutas e clientes são mais freqüentemente precedidas e sucedidas por verbalizações do interlocutor que não abordam eventos privados.

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dentre as verbalizações dos terapeutas, as mais freqüentes são as correspondentes à ftinção de investigação de eventos privados.

raramente as indagações sobre eventos privados dizem respeito a condições fisiológicas dos clientes.

Além de retratar de modo original e cuidadoso a intervenção de terapeutas estagiários com respeito a eventos privados, o estudo de Martins (1999) apresenta dados importantes para uma discussão conceituai. A alta frequência de verbalizações que abordam eventos privados, associada à baixa fre-quência de referências a relações comportamentais neste contexto sugere que as contingências sociais têm favorecido descrições de eventos privados mais precisas do que descrições de relações comporta-mentais. Talvez isso explique a predominância, para os terapeutas, de verbalizações com função de inves-tigação, na referência a eventos privados. Por outro lado, a baixa freqüência de verbalizações antecedidas e/ou sucedidas por verbalizações do interlocutor que

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também abordem eventos privados (mais freqüentemente as verbalizações que abordavam eventos privados foram antecedidas e/ou sucedidas por verbalizações que abordavam eventos públicos) sugere que a funcionalidade de verbalizações sobre eventos privados está condicionada por variáveis que freqüentemente não têm como base ocorrências internas e/ou pessoais do indivíduo. Estes são dados importantes tanto para uma discussão da interpre-tação skinneriana dos eventos privados, como para a avaliação de modelos de intervenção baseados na referência a sentimentos e pensamentos (como a Terapia de Aceitação e Compromisso, proposta pelos behavioristas contextualistas - cf. Cavalcante, 1999).

A dissertação de Cavalcante (1999) examinou criticamente as propostas que vêm sendo apresen-tadas por autores autodenominados behavioristas contextualistas, com vistas à redefinição da terapia analitico-comportamental em bases consistentes com a filosofia behaviorista radical e os princípios derivados da pesquisa na análise experimental do comportamento. Como parte do trabalho, Cavalcante (1999) revisou a noção de análise funcional, tal como aparece em trabalhos behavioristas radicais e em

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debates sobre a terapia comportamental. Propôs, então, que uma aplicação da análise funcional basea-da no behaviorismo radical estaria regulada pelos seguintes princípios:

selccionismo como modelo causai e funciona-lismo como princípio de análise: a rejeição de modelos estruturalistas e mecanicistas de causali-dade, em favor de uma interpretação funcionalista original e do reconhecimento da complexidade dos processos de determinação do comportamento humano.

extemalismo como recorte de análise: interpre-tação do comportamento como relação do orga-nismo como um todo com o ambiente que lhe é externo, associado ao interesse pelos eventos privados, reconhecida sua natureza também rela-

complexidade, variabilidade e caráter idiossin-crático das relações comportamentais: reconheci-mento da variabilidade e pluralidade das relações comportamentais resultantes de processos com-

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plexos de determinação c caráter ideográfico da análise funcional pertinente.

critério pragmático na definição do nivel de intervenção: análise funcional que orienta a inter-venção como regulada pelo interesse na solução de problemas comportamentais concretos.

distinção entre o alcance da avaliação e o alcance da intervenção: necessidade de diferenciação do alcance da análise funcional na etapa de avaliação e na construção de hipóteses e na etapa de intervenção para a solução de problemas.

Embora voltada para a discussão de modelos de intervenção clinica, a análise de Cavalcante (1999) requereu um exame de compromissos episte- mológicos de Skinner, especialmente sua relação com o pragmatismo. Associado a isso, a discussão sobre os usos clínicos da análise funcional só foi possível a partir de um exame (amplamente ampa-rado no trabalho de Michelletto, 1997) das diferentes versões de funcionalismo e de análise funcional

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presentes no behaviorismo radical skinneriano. Os resultados do trabalho, por outro lado, estarão orien-tando novos estudos empíricos sobre a intervenção de terapeutas analitico-comportamentais com respeito a eventos privados, buscando identificar a compati-bilidade das análises funcionais produzidas nesse contexto com o behaviorismo radical skinneriano.

Sintetizando, os três estudos correspondem a esforços que, partindo de questões diversas, articu-lados com diferentes literaturas do campo analítico- comportamental e pautados por diferentes procedi-mentos metodológicos, visam elaborar um quadro consistente para o tratamento de uma mesma proble-mática: eventos privados. A interdependência e complementaridade entre os trabalhos dificilmente constituem algo particular da temática considerada; mais provavelmente, são características partilhadas com trabalhos voltados para outros problemas.

Por que falar de estudos histórico-conceítuais?

Uma vez que se concorde com a relevância dos estudos histórico-conceituais (ou históricos, ou conceituais) para o desenvolvimento da ciência do

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comportamento como um todo, pode-se indagar: o que significa discutir essa importância no momento atual? Considerando que falar de significado é falar de contingências de reforçamento sob controle das quais a resposta sob análise ocorre, o que pode estar controlando a proposição, a aceitação e a promoção de debates sobre o assunto? Um conjunto amplo de variáveis precisaria ser levado em conta para que uma resposta razoável pudesse ser alcançada. De todo modo, alguns indicadores importantes relativos à atenção que os estudos conceituais vêm recebendo podem ser aqui abordados:

1. Diferente do que ocorre com outras comunidades “psicológicas", entre os analistas do comportamento a proporção de pesquisadores dedicados ao trabalho conceituai é pequena. Uma parte considerável é dedicada apenas à pesquisa empírica, frequentemente sem desempenhar o papel de interlocutora para trabalhos teóricos. Problema semelhante ocorreu com relação à área aplicada, com características próprias, relativas à dificuldade de cumprimento de preceitos metodológicos na situação de intervenção, tendo

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resultado no afastamento de muitos daqueles que trabalham com análise aplicada, que foram buscar interlocutores em outros ambientes. Na área conceituai, entretanto, o problema parece atualmente caminhar no sentido contrário.

2. Os trabalhos conceituais parecem estar ganhando maior repercussão no ambiente acadêmico e profissional da análise do comportamento. Alguns indicadores nesta direção são encontrados nos periódicos (por exemplo, seções especiais do The Behavior Analyst e Journal of the Experimental Analysis of Behavior) e publicações em livro, assim como cm congressos (por exemplo, a programação dos congressos da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental).

3. Se é verdade que há um interesse crescente por trabalhos conceituais, é possível que seja decorrente do fato daqueles estudos estarem contribuindo para a sobrevivência da análise do comportamento como sistema cultural. Neste caso, é possível que a função esteja sendo

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alcançada por dois motivos: (a) estudos conceituais frequentemente criam/definem possibilidades de interlocução com outras abordagens/ciências, o que propicia maior conhecimento/ divulgação da abordagem; e (b) estudos conceituais estão sendo desenvolvidos no contexto de relações mais estreitas com as áreas de aplicação e de estudos empíricos, gerando novas referências a partir das quais trabalhos originais e relevantes podem ser realizados.

Em qualquer circunstância, parece que o desa-fio principal colocado aos analistas do comportamento é o de promover uma integração crescente entre trabalhos conceituais, trabalhos empíricos e aplicações da análise do comportamento; basicamente, porque o avanço de cada área de produção depende do contato com as demais - e também porque a integração talvez seja importante para a sobrevivência da análise do comportamento como sistema cultural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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