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ESTUDOS DE CASO EM PESOUISA E AVALIAÇAO EDUCACIONAL* Roberi E. Stake* * O interesse pelo método naturalista de pesquisa educacional recrudesceu nos Últimos anos tanto nos Estados Unidos como no Brasil. O exemplo mais comum desse tipo de pesquisa é o estudo de caso sobre programa ou projeto curricular. Na medida em que os pesquisadores e ava- liadores vêm explorando esses métodos, seus aspectos positivos e negativos têm sido identificados e, assim, para benefício nosso, as fmalidades da pesquisa e da avaliação em geral têm sido exami- nadas recentemente. Apresentarei um projeto de estudo de caso múltiplo sobre o status do ensino e da aprendi- zagem de ciências nos Estados Unidos nos últimos anos da década & 70. Jack Easley e eu o dirigimos com o auxílio de mais de 75 pesquisadores. Onze desses pesquisadores, cujos nomes aparecem em itálico no Anexo I sobre os Olse Studies in Science Eduation (CSSE), foram colo- cados como observadores de campo em onze distritos escolares separados uns dos outros por centenas de milhas. A fun de apresentar os diferentes relatos e harmonizar os resultados desse projeto, foram empregados métodos que podem ser chamados de etnográficos, ou naturalistas, ou qualitativos ou fenomenológicos. Ainda que essas palavras signifiquem coisas distintas, coleti- vamente, entretanto, enfatiiam a singularidade (uniqueness) e a contextualidade de cada situação educacional. Os &se Studies in Science Edumtion informaram muitas coisas sobre os atuais problemas do ensino de ciência, muitos dos q u i s nunca seriam conhecidos se tivéssemos usado os métodos de pesquisa e de avaliação de programas empregados na década de 60. Envolvemo-nos, no eotan- " Comunicaçáo apresentada no Seminário sobre AVALIAÇÃO em DEBATE promovido pelo üepariamento de Educação da Pontifím Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUCIRI), em wiaboração com. a CAPESJMEC, INEPW, CNPq, USICA, Fundação Fulbright, CIDA, na dias 2 e 3 de agosto de 1982, no auditório do Ri0 DATACENTRO, e organizado pelas Rofar. Dras. Nícia Maria Bessa e Thereza Penna Fume. TraduGüo de Heraldo Marelh Vianna, com permissão do Autor. ** Professar da Univerudade de IUinOis (Urbana, III)

ESTUDOS DE CASO EM PESQUISA E AVALIAÇÃO EDUCACIONAL

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Metodologia da pesquisa. Estudo de caso.

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  • ESTUDOS DE CASO EM PESOUISA E AVALIAAO EDUCACIONAL*

    Roberi E. Stake* * O interesse pelo mtodo naturalista de pesquisa educacional recrudesceu nos ltimos anos

    tanto nos Estados Unidos como no Brasil. O exemplo mais comum desse tipo de pesquisa o estudo de caso sobre programa ou projeto curricular. Na medida em que os pesquisadores e ava- liadores vm explorando esses mtodos, seus aspectos positivos e negativos tm sido identificados e, assim, para benefcio nosso, as fmalidades da pesquisa e da avaliao em geral tm sido exami- nadas recentemente.

    Apresentarei um projeto de estudo de caso mltiplo sobre o status do ensino e da aprendi- zagem de cincias nos Estados Unidos nos ltimos anos da dcada & 70. Jack Easley e eu o dirigimos com o auxlio de mais de 75 pesquisadores. Onze desses pesquisadores, cujos nomes aparecem em itlico no Anexo I sobre os Olse Studies in Science Eduation (CSSE), foram colo- cados como observadores de campo em onze distritos escolares separados uns dos outros por centenas de milhas. A fun de apresentar os diferentes relatos e harmonizar os resultados desse projeto, foram empregados mtodos que podem ser chamados de etnogrficos, ou naturalistas, ou qualitativos ou fenomenolgicos. Ainda que essas palavras signifiquem coisas distintas, coleti- vamente, entretanto, enfatiiam a singularidade (uniqueness) e a contextualidade de cada situao educacional.

    Os &se Studies in Science Edumtion informaram muitas coisas sobre os atuais problemas do ensino de cincia, muitos dos qu i s nunca seriam conhecidos se tivssemos usado os mtodos de pesquisa e de avaliao de programas empregados na dcada de 60. Envolvemo-nos, no eotan-

    " Comunicao apresentada no Seminrio sobre AVALIAO em DEBATE promovido pelo epariamento de Educao da Pontifm Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUCIRI), em wiaborao com. a CAPESJMEC, I N E P W , CNPq, USICA, Fundao Fulbright, CIDA, n a dias 2 e 3 de agosto de 1982, no auditrio do Ri0 DATACENTRO, e organizado pelas Rofar. Dras. Ncia Maria Bessa e Thereza Penna Fume. TraduGo de Heraldo Mare lh Vianna, com permisso do Autor.

    ** Professar da Univerudade de IUinOis (Urbana, III)

  • to, com algumas questes epistemol6gicas fascinantes e desconcertantes. Aps o tbnnioo do estudo em 1978, continuamos a analisar o problema das questes epistemolgicas na pesquisa naturalista. A pergunta Podemos generalizar a partir de 11 casos? - e outras indagaes metodol6gicas sero discutidas posteriormente, Agora, como exemplo de um veiho mas emer- gente estilo de pesquisa e avaiiao educacional, apresentarei a histria dos nossos Case Studies in Scienee Edumtwn, encerrando-a com a identificao de trs aspectos metodologicamente impor- tantes para a organizao de pesquisas baseadas em estudo de caso.

    Antes de continuar, desejo mencionar uma de minhas tendncias: - acredito que a maioria das pesquisas educacionais deva estar a servio da educao e, claramente, proporcione melhor mmpreenm de seus problemas prticos. 6 admissivel que algumas pesquisas sejam abstratas, sobretudo com vistas i formao de pesquisadores; contudo, no hemisfrio norte, grande nfase est seudo dada a este tipo de pesquisa. No seria realista eu acreditar que a maioria das atuais pesquisas nos Estados Unidos possa contniuir de maneira significativa para a soluo dos pro- blemas prticos de educao, nos limites da minha existncia. Um argumento a favor de estudos de caso, segundo a abordagem naturalista, que muitos educadores os consideram significativos e, algumas vezes, teis. *

    Rob Walker, socilogo educacional e um dos observadores de campo do projeto CSSE, passou 12 semanas numa escola de Boston e, posteriormente, gastou seis meses para elaborar um relatrio de 50 pginas sobre um estudo de caso. A pgina 10 desse documento, descreveu uma aula de cincias ministrada por um jovem professor chamado David:

    David, a seguV. demonstrou o segundo experimento, que consistia em fazer flutuar uma rolha de cortia na &a. Presswnoua, a seguir, sob a gua com um copo comum invertido e ehew de ar. -Descreu onde esta a rolha, disse David. - Sob a gua. - Certo, disse David. A presm do ar empurroua pam baixo. O ar ocupa espao. O ar tem peso. Se inclinar o cop. o ar w i escapar e a rolha subim. Colomrei no quadro a resposta que desejo. Estudo natumlista do ensino e de aprendizagem. O que pretendemos com a palavra natu-

    ralista? Para uma discusso inicial, cito o Dichonary of Psychobm, de Drever. Natural signif- ca que o sujeito no foi orientado a dirigir sua ateno para um estimulo ou para uma resposta. Poderia cham-lo de no-intervencionista, pois nem o tratamento experimental nem o problema orientado por hipteses causa os fenmenos registrados pelo pesquisador.

    Entretanto, pretendemos um significado mais amplo do que no-intervencionista. Dese- jamos aiirmar que os sujeitos so observados em sua atividade habitual, em seu habitat usual e, ainda, que relataremos nossas observaes usando uma linguagem no-tnica, palavras e conceitos j familiares aos nossos leitores.

    O pesquisadorwhuusta -observa, minimizando a intervenp-o; - rehta, em linguagem habihul, - sobre LILIOS e - em suas ativiakies costumeims, - em seus ambientes nahuuis.

    Quando os pesquisadores antecipam a linguagem a ser usada em seus relat6rios fmais, ela influencia o que observam e o que pensam passa a ser importante. Orienta a pesquisa em direo s perspectivas e As experincias de suas audincias. Assim, naturalista refere-se tanto ao sujeito que est sendo estudado como i maneira pela qual o pesquisador se comporta.

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  • Todos se dedicam a esse tipo de estudo. Qual, ento, a razo de ser de toda essa confuso? Nos ltimos sete anos, p p o s de pesquisa nos Estados Unidos vm se agitando porque um nme- ro considervel de pessoas, sob a liderana de h u i s Smith, Egon Guba, i ee Cronbach, entre outras, a f m a que devam ser realizados m i s estudos naturalistas, no apenas na preparao exploratria de estudos mais amplos, mas sim como estudos cujo principal enfoque sqa ensino, aprendizagem, administrao, aconseihamento e pesquisa. Enfm, pesquisas sobre todas as funes no contexto da educao.

    Aos advogados dessa posio ope-se um gande gmpo de pesquisadores que a,fkmam ser o naturalismo adequado i explorao preliminar, mas as concluses nele baseadas so subjetivas e no se revestem de fidedignidade. Ellis Page, Fred Kerlinger, Peter Rossi e James Popham, por exemplo, temem que esse tipo de pesquisa possa custar aos avaliadores o respeito que hoje desfrutam as medidas e as tecnologias analticas. Ainda que nos Estados Unidos tenha ocorrido, presentemente, uma diminuio no fmanciamento governamental para pesquisas educacionais, existem argumentos que justificam a realizao de mais pesquisa naturalista.

    As pessoas, ao longo dos anos, tm observado a educao de maneira naturalista, o que justificaria a realizao desse tipo de pesquisa pelos avaliadores.

    Ns, avaliadores, nos ltimos vinte anos pouco contribumos para a compreenso da educao. No auxiliamos, realmente, os que militam na educao, nem as autoridades governa- mentais, salvo na legitimao de alguns de seus programas. No reagimos aos problemas educa- cionais com idias educacionais, mas sim com tecnicas, algwnas das quais causam, por sua vez, novos problemas. Por exemplo, contribumos para a falsa concepo de que a educao essencialmente o domnio de habilidades bsicas. Ou concepo, igualmente errnea, de que no se pode iniciar a educao de uma pessoa antes que tenha dominado algumas habilidades bsicas. Ironicamente, ainda que em suas origens o positivismo tenha syrgido como uma reao ao misticismo, pesquisadores paitivistas contriburam para a mistificao da e d u c e o , fazendo parecer a professores e a administradores que deveriam confiar mais em peritos de universidade e em setores governamentais tecnolgiws. A validade de muito da ncwsa assitncia tecnolgica i educao ainda no foi demonstrada.

    Os pesquisadores, frequentemente, sugerem a professores e a elementos do governo que abandonem suas concepes sobre educao, substituindo-as por novos modelos. Isso tem sido um erro. Deveramos ter adaptado nossa assessoria s suas experincias pessoais, contribuindo, na oportunidade, para que aumentassem suas compreenses, auxiliando-os a serem pesquisadores em ao do ensino e da aprendizagem, clnicos e profissionais menos dependentes de autoridades externas.

    Algumas reas de conhecimento, como a antropologia (especialmente a etnografm), a his- tria, o jornalismo, o direito e as artes, possibilitam percepws dos vrios significados da expe- rincia comum. Podemos auxiliar as pessoas a prolongarem suas experincias de maneira vicria - atravs da nfase em acontecimentos, em testemunhos -, apresentando com menor destaque a redugo dos fenmenos educacionais a variiveis das cincias sociais. As variveis mistificam, o relato honesto de casos pode ajudar a desmistifcar.

    Os pesquisadores naturalistas sugerem um sentido diferente de mia0 e um conjunto diferente de percepes. A esperana centra-se na confiana de que descries naturalistas sero teis, especialmente se a validade basear-se na triangulao e numa reviso dialtica. Eles esperam que um ponto de vista de realidades mltiplas - ponto de vista mais comum aS humanidades do que s cincias sociais - ser, eventualmente, mais aceito (ou tolerado) em crculos cientfiws e administrativos. Estas so algumas das promessas em pesquisa naturalista, assim como tam- bm algumas de suas armadilhas.

    Os oponentes da pesquisa naturalista dizem: - Mas demasiadamente subjetiva!, espe- rando que essa exclamao seja um obstculo defmitivo sua concretizao. A subjetividade precisa ser reconsiderada. Penso que a subjetividade do observador de campo pode ser controlada mas no eliminada. Controlada e usada, entretanto, de um modo vigoroso a fm de fazer com que as concluses da pesquisa sejam mais relevantes e teis.

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  • A dificuldade para o sucesso da pesquisa naturalista no est na subjetividade, mas sim nos seus custos, que S o enormes. Rob Walker gastou 12 semanas no campo e seis meses i sua mesa para apresentar um relatrio de apenas 50 pginas de descrio e interpretao. Este relat- rio esclarece plenamente o problema do ensino e da aprendizagem de cincias em uma escola, mas no informa se qualquer outra escola de Boston semelhante quela que descreveu. Os custos do estudo naturalista de Walker podem ser jusMicados, no porque @a uma repreen- tao autocqntrolada do ensino de cincias, mas sim porque esse estudo possibilitou um aumento valioso do conhecimento existente de muitos leitores Sobre complexos problemas de ensino e

    * aprendizagem. Terry Renny levou quatro semanas estudando uma escola de 20 grau e escolas prepara-

    trias (feeder schools) em um subrbio de Houston, Texas. Achou, imediatamente, que deveria concordar com a defmio de Drever sobre estudo naturalista. Precisava impor-se. Dispondo de apenas quatro semanas em Houston e com a responiibidade de mais de cem classes, no pode- ria esperar que as coisas acontecessem diantes de seus olhos. Ele tinha a vantagem de j ter observado as coisas por algum tempo. Elaborou seu estudo de caso principalmente a partiu de dados de entrevistas.

    Em River Acres, um subtirbw de Houston, uma pmfessora de escoh pnmaM - numa tentativa de descrever cinqenta anos dumnte o intervaio do caf - contou-lhe que o que ele precisava aprender sobre as escohs locais era que. . . a &a o r n e muito len- tamente em River Ames. A situapi era aceila e sabamos disso antes que tudo comepsse a acontecer. Os antigos fazendeiros de Houston tinium certeza de que havia doze anos de escoh pblim pua seus filhos. Os que mo a @iam freqentar em porque m a merecinm Sempre tivemm um bom cuninrlo orientado para a universidade. Assim, enviavam seus filhos a s melhores esmhs pom afast-los da poeira. do petrleo e do gado. Isso, entretanto, mo mais acontece&. Aiguns aindn podem ansku por isso, mas tal mo mais O C O I T ~ . Todas as aianas devem ter igualdode de oportunidades.

    Uma das tempestades que perbdimmente voltava a ocorrer na administrapio era a or- ganiza@ de gnrpos: Quantos niveis e quais os aitrws a usar; q u i s os seus efeitos? Argumentaes convencionais eram apresentadas. Aiguns pleiteavam um nmero maior de nveis insrucionais. e chegavam a propor sete niveis em aido sne por disciplina. Um im- portante administrador queria um mimem menor de niwis, achanab que dois a p w s seriam suficientes:

    A transcrio anterior foi extrada dos Case Studies in Science Education. O Rehtrb HnaI incorporou as observaes de cada avaliador e outros elementos que foram identificados pela equipe de avaliao. O estudo foi realizado para proporcionar 4 Natwnal Science Foun- datwn (NSFJ uma descrio das atuais condies do ensino de cincias desde o jardimda-infncia ao ltimo ano do nvel mdio. 0 governo necessitava desses elementos a fm de fazer com que seus programas de apoio ao ensino de cincias fossem consistentes com as necessidades nacionais. Ao serem iniciados, os programas da NSF foram severamente criticados por alguns poucos con- gressistas do Legislativo. A NSF fmanciou trs estudos, um dos quais usava a metodologia do estudo de c m . O nosso estudo custou 300 mil dlares e levou dois anos para terminar.

    Jack Easley e eu relacionamos onze escolas de 20 grau e escolas preparatrias, que foram extraidas de um grupo diversificado e equilibrado de distritos educacionais dos Estados Unidos: - rural e urbano; de vrias posies geogrficas; racialmente diversificadas; alguns bem situados economicamente, outros pobres; alguns aumentando sua rede escolar, outros reduzindo-a; alguns inovativos e outros tradicionais nas suas programaes curriculares. As onze escolas foram cuidadosamente selecionadas, mas parcialmente de modo a que um pesquisador com ampla e relevante experincia de campo pudesse ser colocado em cada uma delas. Rob Waiker e Terry Denny estavam ansiosos para ir a qualquer lugar nos Estados Unidos, enquanto Louis Smith e

    *

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  • Alan Peshkin desejavam trabalhar em cidades prximas de seus lares. Sentimos de modo critico a necessidade de pesquipndores especialistas em trabalho de mmpo, mas nio oitiamente a necessidade de uma amosira alentorh de lomis.

    Evidentemente, a seleo dos locais das escolas foi arbitrna. A fim de superar essa situao e possibilitar maior generalizao das observaes do estudo de caso, acrescentamos A pesquisa um levantamento (swvey) com base numa amostra probabilstica. Obtivemos respostas de mais de 2.500 pessoas aleatoriamente selecionadas. As perguntas do levantamento somente foram desenvolvidas depois de possuhnos as observaes levantadas nos locais dos onze estudos. O que nos colocou em bom posicionamento para ulterior validao dos resultados obtidos e tam- bm nos permitiu comparar os resultados do levantamento com os dos estudos de caso.

    Muitos estudos de caso incluiro dados de levantamento formais, mas no comum usar levantamentos para estabelecer os limites da generalizao. E no um investimento promissor, penso. muito difcil apresentar os resultados de estudo de caso com itens de questionnos de levantamento.

    * O que tnhamos era um projeto de Estudo Mltiplo de Caso (Muitipie Case Study) com di-

    versos locais e diferentes observadores em cada lugar. O caso era o programa de cincias da escola de cada localidade. impe-se, aqui, um comentrio sobre o planejamento desse tipo de estudo, em que temos diversos estudos de caso em um nico projeto.

    A literatura metodolgica que encontrei sobre como fazer um estudo mltiplo de caso 6 bem reduzida. Para ns no eram onze repeties de um caso nem uma anlise secundAria de onze estudos independentes. Desejvamos uma certa coordenao conceitual e metodolgica atravs delocais de modo que cada pesquisador pudesse apreender o que existia nalocalidade. Certamente no desejvamos asfuriar suas pesquisas com numerosos elementos controversos prdespecificados.

    O principal problema do planejamento refere-se i Intopretapio dos Resultados. Necessit- vamos obter dados de diversas origens e de observadores de campo que possuam diferentes mtodos de ao, organizandoas de modo a permitir interpretaes significativas. Desejvamos apresentar cada estudo de caso ao leitor e uma anlise completa dos resultados comuns entre as localidades.

    A observao de outros projetos de estudo mltiplo de caso constituiu parte do planeja- mento. Alguns tentaram computar o imenso trabalho de classificao e recuperao& dados de medo engenhoso, mas sem sucesso no breve perodo disponvel de dois a trs anos. Ao contrrio, decidimos estabelecer um pequeno g ~ p o de coordenadores de locais que poderiam controlar os dados de vrias localidades, familiarizar os observadores de campo com os dados obtidos em outras regies e que poderiam escrever os captulos de interpretao dos dados. Desejvamos um pequeno grupo de pessoas que j tivessem trabalhado entrosadamente e que, rotineira e compulsivamente, trabalhassem alm dos limites do horhrio e, t a m b h , se preocupassem com o ensino de cincias. Criamos tal grupo. Eles se mantiveram, razoavelmente, em comunicao com os observadores, mas aos poucos perderam o interesse e evitaram a tarefa fmal de elaborao dos captulos de anlise dos resultados. Alguns estudantes competentes de ps-graduao os subs- tituram, permitido-nos terminar a tempo o relatrio fmal, mas com perda de continuidade e da experincia de pesquisa originalmente pretendida. A anlise dos resultados foi um trabalho bem maior do que tnhamos calculado, ainda que tivssemes previsto que seria a maior anlise j feita por nosso gnipo.

    Os pesquisadores de campo foram instrudos para descobrir o que estava acontecendo, O que consideravam importante nos currculos de cincias. (A defiio de cincias da NSF inclui matemtica e cincias sociais). Aos observadores que ficaram no campo de quatro a quinze semanas no foi solicitado que coordenassem os seus trabalhos com os de outras localidades. Algumas questes originalmente apontadas como importantes pelos patrocinadores da pesquisa ou anteriormente identificadas no campo eram mencionadas de tempos em tempos pelo p p o de coordenao, mas os observadores de campo decidiam sobre o que relatar.

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  • Cada observador preparou um relatrio de estudo de easo que foi integralmente mantido como parte da coleo fmal. Os dados dos levantamentos foram apresentados separadamente e os resultados obtidos foram mostrados no contexto das mudanas sociais e educacionais con- temporneas. *

    Alan Peshkin, autor de Growing up Amerimn, escreveu um dos estudos de caso. Um trecho

    Por qualquer padm, BRT 6 um pequem distrito esmdor. Suas experincias, conse- qentemente, refletem as Iirnitagies de tnis distritos, ai& que atenuadas por uma buse tributa* excepcionalmente grande. A maioria das rsagies ao ERT um reflexo do seu ta- manho e m o de sua loalizap-o rumL AUm de um programa vomeional de agtimltum e de omsionais referncios de professores e esrudantes a a g r i m h . para ilusimr determinado assunto, seu nurimio na0 infkrenciado pelo contexto nua1 & regiii. Os membros de seu conselho dizem que sua escodo m o deve ser diferente de uma escudo urbana, pois a es- nmgadom maiorb de seus graddos vive em outros &ares e na em fazendas. Foi dito: As necessidades dos estudantes devem ser dominantes. Ncis os educamos para um futum desconhecido. Um edumdor, contudo, lamenta o xodo em masu de esrudantes forma- dos, observando que o mesmo afasta pessoas que seriam valiosos elementos dn comunfdade.

    W n a s m m orientap-o nadmim partem. No consmnmos aqueles que usam a edump-o para pmgredw. Os que fmm proeumm coisas ligadas a terra. Nossos doutores e advogndos Sao todos oriundos de outros lugnres. A tarefa para cada um dos observadores de campo do CSSE consisti em descrever o que

    encontravam sobre cincias, matemtica e estudos sociais. Deveriam idenuficar questes proble- mticas no desenvolvimento dos programas. E claro que, antes de partirem para o trabalho de campo, tinham emmente algumas questes, tais como:

    - Quais os efeitos dos cortes oramentrios? - As atitudes numa comunidade ~ r a l rica & iliimois diferem das atitudes de uma cidade

    empobrecida da Pensilvnia? - Quais OS traos do movimento de reforma curricular de 1960 que podem ser encon-

    trados? - H uma discrepncia importante entre a maneira como os professores so treinados

    nas universidades para ensinar e o que os seus colegas dizem a eles sobre como o ensino deve ser praticado?

    Mas, deliberadamente, os pesquisadores de campo procuram prestar ateno aos problemas, preocupaes e s satisfaes apresentadas pelos professores, estudantes e outras pessoas das regies pesquisadas.

    * Um dos resultados interessantes foi constatar que problemas de interesse nacional rara-

    mente tinham importncia local: declinio dos escores & testes, iniegrao racial, uniformizao do apoio fmanceiro entre os distritos educacionais.Problemas nacionais e locais no se harmoniza- vam. As pessoas sabiam que tais questes eram discutidas na teleWo nacional, mas essas coisas pareciam ter pouca relao com a qualidade do ensino de cincias em suas pr6prias salas de aula. Eles tinham outras preocupaes.

    Muito mais importante, a nvel local, eram assuntos como a crescente nfase no ensino da leitura - mesmo em turmas de cincias - , a criao de condiges em d a de aula que evitassem distraes, e o desejo de moldar as crianas de fama a tom-las cidados disciplinados e esfora- dos trabalhadores da classe mdia. Estes eram os problemas, os pontos a debater, assuntos de complexidade contextuai e todos os esforos para aprimor-los significavam aumento de custos, intensificao do trabalho ou algum tipo de prejuzo para algum.

    dele transcrito a seguir.

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  • Um dos temas objeto da controvrsia centrava-se no ensino baseado em textos. O mtodo predominante no ensino de cincias, particularmente no i? ciclo da escola mdia, baseava-se na leitura e posterior repetio oral (recitation) do livro-texto. Nas escolas elementares, as claws de cincias poderiam observar o comportamento de lagartas ou ler fico cientfica, mas quando alguma coisa irnportcmte deveria ser ensinada, programavam-se leitura e repetio oral, e talvez uma pequena prova. As classes de 20 ciclo muito provavelmente fariam exerccios, possivelmente em g n i p reunidos no laborat6ri0, mas a atividade mais comum seria, novamente, a repetio oral sob controle do professor, que acrescentaria alguma outra informao e talvez fmsse de- monstraes.

    O livro-texto era a chave para a informao. A antroploga Jacquie Hill observou (para 116s) uma classe de escola urbana prxima de Washington, D.C.

    Oito crianas de quarta srie cwcundavam a professom durante a aula de estuabs sociais. A Srta. Willianr p w n t o u - Por que Nova Iorque uma ciaizde cosmopolita? (Nenhuma resposta) Terry? Tmy l: - Nova Iorque uma das maiores cidades do mundo, e olha interrogativamente. No, olhe o pardgrufo, A sede das Naes U n a s est M e comercia com todos os pises .

    * Entrementes, poderamos indagar se outro grupo de pesquisa teria chegado a esse resultado.

    E quo importante que todos os pesquisadores cheguem aos mesmos resultados. Desejo, agora, identificar trs aspectos metodolbgicos importantes para a elabora8o de

    estudos de caso. At o presente momento, tenho discutido a abordagem naturalista dos estudos de caso. fi necessrio ressaltar que a pesquisa do estudo de caso existe h muito tempo em vrios campos de conhecimento, inclusive na medicina, no direito e nas humanidades. A sua caracteri- zao, apresentada aqui de forma resumida, foi estabelecida a partir de seu uso em diferentes reas.

    Os estudos de caso podem ser conceituados em termos de limites do caso, problemas (issues) do estudo e padres nos dados. Sempre que, semestralmente, inicio meu CUISO de mtodos de estudo de caso, toco uma fita da AERA intitulada Seeking Sweet Water, que estimula os estudantes a pensarem em termos de limites, problemas e padres.

    Antes de mais nada, o pesquisador necessita especificar o caso a ser estudado, o que geral- mente uma tarefa difcil. O caso pode ser - um progama federal adaptado a certo local; um festival de msica da eswlacomunidade; um sindicato de professores. O que e o que no includo no caso? No me refm ao que includo na pesquisa, mas quai o l i t e que circuns- creve o prprio caso? Por exemplo, sabemos que as id6ias de cincias que uma, criana encontra na televiso so externas ao caso da cincias na escola. Mas como um professor molda a matu- ridade de um estudante para as idias apresentadas na televiso , atuaimente, uma das mais vitais responsabiiidades no ensino de cincias. O pesquisador dos CSSE necessitava saber como o tra- balho escolar se integrava ou se isolava da aprendizagem de cincias fora da escola, realizada atra- vs de jogos de televiso, em parques nacionais e em outros contextos fora de controle do pro- fessor. O problema no caso inclua oportunidades no planejadas na escola e fora dela, que per- mitem a aprendizagem de cincias.

    Os limites, mais, talvez, do que as tendncias centrais, na minha opinio, merecem maior atenpo, pois muito do significado do caso 6 encontrado em suas extremidades, tendo em vista a influncia especialmente exercida por elementos circmdantes, por seu contexto. Os limites so freqentemente variveis e indistintos. O leitor precisa conhec-los. A reflexo sobre os limites auxilia-nos a progredir na compreenso do caso. * American Educational Research Association

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  • Em um de meus escritos sobre programas de avaiiao re9ponsRa desiaquci os p m b b como organizadores conceituais. A palavra problema (ime) lembrados de que os asuntos ou questes para indagaes possuem componentes de d o r e so potencjalmente cnntencicsos. Todos os estudos de caso possuem certo elemento intelectual importante, quer seja o caso uma simples oportunidade conveniente para estudar um problema predominante, quer seja o caso fixo e preeminente como ocorre geralmente nos programas de avaliao.

    Exemplos de problemas no CSSE: - Quais os efeitos dos cortes oramentrios? - Quais os traos do movimento de reforma curricular dos ~ w 8 60 que ainda so obser-

    Frequentemente, identifico problemas que kiuenciam a inmmmtu- de .urna

    - Usando certos crittrios para decidir quem pode ir numa excurso noiurna a fm de es-

    O nmero de problemas aumenta com o desenvolvimento do estudo e M medida em que os

    vveis?

    determinada deciso tomada por responsveis por programas. Por exemplo:

    tudar a MtUreZa, 6 provvel que o nmero de meninas seja menor. Igpo C justo?

    assuntos apresentem diversos nveis de importncia.

    * O terceiro aspecto do estudo de caso centra-se M procura de padrBes nos dados, devendo

    a palavra padr&s ser entendida como c o n f i e s recorrentes. Em estudos mais quantitati- vos, so chamados de wvariaes ou tendncias cclicas. Fadres so regularidades que nos possibilitam um discemimento sobre a natureza do problema. Encontramos um exemplo de padro, em nosso trabaiho sobre o ensino de cincias, quando nos defrontamos c m o problema da diminuio de recumos, pois os departamentos reduziriam o seu envolvimento com o ensino da cincia geral e preservariam o da fsica avanada e o da qumica, se pudessem. A educao preparatria para a universidade, de diferentes modos, parecia ser tratada com mais importncia do que a educao geral, mesmo em escolas em que somente uma pequena poro de estudantes se destinava s universidades. Em estudos de caso, evidncias para tais generaliza6es aparecem sob diferentes formas, tomando-as difceis de agregar e susceptiveis a interpretao pessoal. Pesquisadores naturalistas continuam a necessitar de melhores procedimentos para trabalhar com padres de dados, sem, necessariamente, recorrer mais a listas de classificao.

    Ao chamar ateno para limites, problemas e padres espero encorajar meus estudantes a trabalharem no sentido de estabelecer meios mais efetivos de provarem a complexidade e a contextualidade dos fenmenos educacionais. Ainda que atuaimente muita coisa fique para a intuio - no obstante seja a intuio um ingrediente essencial i pesquisa naturalista - , con- tinuamos a pesquisar rotinas que faro esses mtodos mais rigorosos.

    0 Preocupamo-nos, claro, em estudos de avaliao, com o mrito e a deficincia de alguma

    coisa. Sabemos que o valor grandemente contextuai e freqentemente determinado pela expe- rincia individual. Os estudos de caso, segundo a perspectiva naturalista, prestam especial ateno aos resultados determinados pelo contexto do programa e permitem uma realizao vicria do valor.

    Nossos colegas em avaliao empenham-se em fazer com que os programas de avaliao sejam racionais e empricos, mas todos achamos que nossa experincia pessoal e a dos outros determina muito do valor das coisas. isso verdade para aiuoos da quinta srie, ministros de educao e, tambm, para pesquisadores. A ~vai ia~o subjetiva. So necessrios dados conSii tentes em estudos de avaiiio, mas avaliadores com sensibilidade acham que a utilidade da subjetividade controlada est sendo cada vez mais valorizada. O estudo de caso um modo de faz-lo.

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  • Uma grande ateno tem sido dada, nos Estados Unidos, A utilidade de nom estudo, os CASE STUDIES M SWCE EDUCATION, que, entretanto, no foram usados conforme o planejado. As principais deciscs da NSF foram antecipadas e tomadas antes que os resultados dos CSSE estivessem disponveis. Poucas foram as pessoas em Washington e em outros lugares que prestaram ateno a nossas publicaes; contudo, algumas das atuais percepes do governo sobre o ensino de cincias podem ser relacionadas ao CSSE. Muitos pontos de vista existentes foram reforados. Ficamos satisfeitos ao ouvir que um dos membros do g ~ p o de r e W o crtica de nossos estudos de caso e de outros trabalhos sobre o ensino de cincias destacou que, ao se aproximar o fm do seu trabalho, o seu grupo tinha consultado nossos estudos de casos cen- tenas de vezes para cada referncia a uma outra fonte. Mas a traduo em poltica ou prtica indireta e difusa.

    Poetas, cientistas e pessoas do povo so igualmente capazes de uma reflexiio sobre a ver- dade, mas 116.3, em pesquisa educacional, ainda no aprendemos bem a auxili-los a encontr-la. Estudos de caso, segundo a abordagem naturalista, so uma possibilidade.

    REFERRNCIAS

    GUBA, Egon G. (1978): Towrd a Methodoiogy of Naturuiistic Inquiy in Educaiwnui Evahrn-

    LEEAN, Constance. (1981). lllustrative Exemples of Case Studies. In Wayne Welch (ed.) Case Study Methodology in Educntwnui Evahrntwn. Proceedings of the 1981 Minnesota Evaiua- tion Conference. Minneapolis: University of Minnesota.

    STAKE, Robert E.; EASLEY, Jack ef ulii. (1978). Case Studies in Science Edueation. Urbana: University of iihois. CIRCE, 270 Education Buildmg.

    STAKE, Robert. (1978). The Case Study Method in Social Inquiry: Edueatioml Resenrcher, Volume 7, Number 2, February.

    tion. Monograph N? 8, Los Angeles: Center for the Study of Evaluation. UCLA.

    ANEXO I

    Freqentes referncias sero feitas aos U S E STUDIES M SCIENCE EDUCATION, um projeto para a NSF (Nutioml Science Foundution), dirigido por Robert E. Stake e Jack Easley. CIRCE. Universidade de Illinois. 1310 South Sity Street, Champaign, Iiiinois 61820 ($40.00 por conjunto).

    O ndice do relat6rio fmal :

    Folheto O - Captulo A - Viso geral do estudo. Captulo B - O contexto da educao pr-universitria na Amrica de hoje. Captulo C - Metodologia do Projeto.

    Folheto I - Terry Denny - Alguns ainda o fazem - RIVER ACRES, TEXAS. Foiheto I1 - Mary Lee Smith - Ensino e o ensino de cincias em FALL RIVER. Folheto iII - Louis M Smith - Ensino de cincias nas escolas de ALTE. F o m o IV - Alin Peshkin - Ensino em BRT - um estudo de caso rural. Folheto V - Wuyne W. Welch - Ensino de cincias em URBAN VILLE: um estudo de caso. Foiheto VI - Rob Wulker - Estudos de caso no ensino de cincias: PINE CITY.

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  • FolhetoW - Rodolfo C Smm - Status da Cincia, Matemtica e Cincias Sociais em

    Folheto WI - James R. Sondem e Doniel L. Siufflbeam - Escola sem escolas; Resposta i

    Folheto M - Jacquetta Hill Bumett - Cincias nas escolas de uma cidade bdnehia do Meio-

    Folheto X - Gordon Hoke - Turbh-o como precursor. Folheto XI - Rob Walker - Estudos de casos no ensino de cincias: Grande Boston. Folheto W - Resultados I - Captuio 12 -0s vrios objetivos do ensino de cincias.

    Captulo 13 - O currculo K-12. Captulo 14 - Piuralismo e uniformidade.

    Folheto Xl - Resultados ii - Captulo 15 -Aprendizagem do estudante. Captulo 16 -0 professbr em sala-de-aula. Captulo 17 - A escola e a comunidade.

    Captulo 18 - Levantamento dos resultados e compmvaes.

    Capitulo 19 - Conhecimento e resposta s necessidades do en-

    WESERN CITY, Estados Unidos.

    Crise Energtica de 1977; COLUMBUS, Ohio.

    Leste.

    Folheto XW - Levantamento dos Resultados -

    Folheto XV - Sumrio -

    sino de cincias.

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  • DISCUSSO DO TRABALHO DE ROBERT E. STAKE

    ESTUDO DE CASO EM PESQUISA E AVALIAAO EDUCACIONAL

    Hermengarda Ludke*

    Estou muito contente com a oportunidade de discutir este trabalho com seu autor, Robert E. Stake, sem dvida um dos especialistas mais credenciados, no meio universitrio americano, para falar sobre o papel do estudo de caso na pesquisa educacional em geral e na avaliao em particular. Ele tem refletido longamente sobre o assunto, sob o ponto de vista tehico, onde sua contribuio j est consagrada como de grande importncia. A publicao de seu artigo O m& todo de estudo de C