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Gestão da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades  Abril de 2010

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  • Gesto da Limpeza UrbanaUm investimento para o futuro das cidadesAbril de 2010

  • Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Apresentao

    A PricewaterhouseCoopers, para melhor atender s necessidades de seus clientes, opera com uma estrutura segregada em duas dimenses. A primeira agrupa diversas competncias (auditoria, contabilidade, finanas, tributos, legal, organizacional, tecnologia, processos, sustentabilidade etc.) em trs unidades de negcios: Auditoria, Consultoria Tributria e Legal e Consultoria de Gesto, distribudos em 16 escritrios pelo Pas. A segunda est orientada para o conhecimento sobre a operao dos diversos segmentos de negcios e setores econmicos, nos quais as atividades econmicas fazem interface com questes socioambientais, econmicas e de sustentabilidade.

    Nesse contexto, mantemos um grupo de profissionais com grande experincia nas competncias de sua especializao, que so aplicadas nas questes de sustentabilidade, buscando abranger todas as dimenses do tema, como controles, processos, auditorias, aspectos financeiros e legais, due diligence etc.

    Sob contratao do Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de So Paulo - SELUR e da Associao Brasileira de Resduos Slidos e Limpeza Pblica - ABLP, a PricewaterhouseCoopers constituiu um grupo de trabalho que, desde dezembro de 2008, vem estudando as principais questes para o desenvolvimento sustentvel desse setor, a fim de identificar os componentes e os incentivos que possam, de forma consistente, promover a otimizao dos modelos de gesto pblica relacionada limpeza urbana em 14 cidades, levando em considerao os principais mecanismos que contribuem para a eficincia e eficcia.

    Esse grupo de trabalho composto pelos seguintes profissionais do quadro permanente da PricewaterhouseCoopers:

    Rogrio Golloscio responsvel por solues em sustentabilidade para Amrica Latina

    Carlos Rossingerente executivo responsvel pela rea de Sustentabilidade

    Alexandre Parissupervisor da rea de Sustentabilidade

    Heloisa Pizzoconsultora jurdica em sustentabilidade

    Marta Braconiconsultora tcnica em sustentabilidade

    Os recursos aplicados, as estruturas legais/institucionais e o modelo de interao entre o governo local e a prestadora dos servios de limpeza, bem como as consequncias na percepo das principais partes interessadas, sero os temas abordados no estudo.

  • ndice

    Introduo .......................................................................4

    Sumrio executivo..........................................................6

    1. Aspectos gerais da limpeza urbana nas cidades brasileiras ..................................................................7Regulamentaes .............................................................. 7

    Formas de arrecadao aplicveis .................................... 9

    Prestao de servios e tabelas comparativas ................11

    Oramento municipal ....................................................... 14

    2. Cenrio nacional .....................................................17So Paulo ................................................................................ 17

    Rio de Janeiro.......................................................................... 19

    Braslia - DF ............................................................................. 20

    Belo Horizonte ......................................................................... 22

    Salvador................................................................................... 23

    Goinia .................................................................................... 24

    3. Cenrio internacional .............................................26Londres .................................................................................... 26

    Roma ....................................................................................... 29

    Tquio ...................................................................................... 32

    Cidade do Mxico .................................................................... 34

    Nova Iorque ............................................................................. 37

    Paris ......................................................................................... 40

    Buenos Aires ............................................................................ 43

    Barcelona ................................................................................. 46

    4. Percepo das principais partes interessadas ....50

    Consideraes finais ...................................................52

    Bibliografia ....................................................................56

  • 4 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Introduo

    O trabalho de identificao e avaliao de possveis obstculos e oportunidades foi conduzido em linha com os conceitos e as prticas de sustentabilidade, sobretudo por tratar-se de um setor essencial ao bem pblico. Com base nessa premissa, entendemos que um dos princpios fundamentais em questo a assertividade dos dados e das informaes obtidas, o que se tem a partir de um planejamento eficaz.

    O principal objetivo do estudo apresentar modelos de gesto pblica relacionados limpeza urbana em grandes cidades, tomando como referncia seis capitais brasileiras e oito internacionais que figuram entre as principais economias globais. Na anlise desses modelos, foram levados em considerao os principais mecanismos que contribuem para a eficincia e eficcia do setor de limpeza pblica.

    Os recursos aplicados, as estruturas legais/institucionais e o modelo de interao entre o governo local e a prestadora dos servios de limpeza, bem como as consequncias na percepo das principais partes interessadas, so os temas abordados no presente estudo.

    Na pesquisa bibliogrfica realizada, pode-se notar a falta de parmetros de referncia, como qualidade, contratao e escopo dos servios realizados. Tal fato deve-se escassez de informaes oficiais dessa natureza, que, muito embora sejam de interesse pblico, carecem ainda de levantamento e divulgao eficaz pelos rgos que as controlam.

    Assim, o presente estudo procurou alcanar uma parametrizao de critrios para comparao entre os sistemas de gesto de resduos slidos urbanos das cidades pesquisadas, em detrimento das limitaes dos prprios sistemas, especialmente por ter sua base de dados advindas de fontes oficiais.

    O presente estudo aborda os resduos de responsabilidade municipal. O municpio detm a responsabilidade pela coleta e destinao final dos resduos urbanos, sejam aqueles decorrentes de residncias sejam de qualquer outra atividade que gere resduos com caractersticas domiciliares, bem como os resduos originados da limpeza pblica urbana. Em geral, a responsabilidade pela gerao dos demais tipos de resduos do prprio gerador. A tabela 1 apresenta os responsveis por tipo de resduo.

    Tipos de resduos ResponsabilidadesDomiciliar MunicpioComercial* MunicpioPblico MunicpioServios de Sade GeradorIndustrial* GeradorPortos, aeroportos, terminais ferrovirios e rodovirios GeradorAgrcola GeradorEntulho (construo civil)* Gerador

    Tabela 1 - Responsabilidade por tipo de resduo

    * O municpio corresponsvel por pequenas quantidades. A quantidade mxima de resduo varia de acordo com a legislao local.

  • 5SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Resduos slidos urbanos so gerados por domiclios, estabelecimentos comerciais, prestadores de servios pblicos de limpeza urbana e manejo de resduos slidos, que, por sua natureza ou composio, tenham as mesmas caractersticas dos gerados nos domiclios.

    Segundo o Manual de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos, elaborado em 2001 pelo Instituto Brasileiro de Administrao Municipal (IBAM) e Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidncia da Repblica (SEDU/PR), nas atividades de limpeza urbana, os tipos domstico e comercial constituem o chamado resduo domiciliar, que, somado ao resduo pblico, representam a maior parcela dos resduos slidos produzidos nas cidades.

    Os resduos pblicos so aqueles presentes nos logradouros pblicos, em geral resultantes da natureza, como folhas, galhadas, poeira, terra e areia; aqueles descartados de maneira irregular e indevida pela populao, como entulho, bens considerados inservveis, papis, restos de embalagens e alimentos, e os descartados de forma regular, nas lixeiras pblicas.

    O grupo de lixo comercial, assim como os entulhos de obras, pode ser dividido em subgrupos chamados de pequenos geradores e grandes geradores.

    O regulamento de limpeza urbana dos municpios poder definir precisamente os subgrupos de pequenos e grandes geradores. Pode-se adotar como parmetro: Pequeno Gerador de Resduos Comerciais o estabelecimento que gera at 120 litros de lixo por dia. Grande Gerador de Resduos Comerciais o estabelecimento que gera um volume de resduos superior a esse limite.

    Analogamente, pequeno gerador de entulho de obras a pessoa fsica ou jurdica que gera at 1.000 kg ou 50 sacos de 30 litros por dia, ao passo que grande gerador de entulho aquele que gera um volume dirio superior a este. Geralmente, o limite estabelecido na definio de pequenos e grandes geradores de lixo deve corresponder quantidade mdia de resduos gerados diariamente em uma residncia particular com cinco moradores.

    A indstria da construo civil a que mais explora recursos naturais e a que mais gera resduos. No Brasil, a tecnologia construtiva normalmente aplicada favorece o desperdcio na execuo das novas edificaes.

    Enquanto em pases desenvolvidos a mdia de resduos proveniente de novas edificaes se encontra abaixo de 100 kg/m2, no Brasil esse ndice gira em torno de 300 kg/m2 edificados. Em termos quantitativos, esse material corresponde a aproximadamente 50% da quantidade em peso de resduos slidos urbanos coletados em cidades com mais de 500 mil habitantes de diferentes pases, inclusive o Brasil.

    Em termos de composio, os resduos da construo civil so uma mistura de materiais inertes, como concreto, argamassa, madeira, plsticos, papelo, vidros, metais, cermica e terra.

  • 6 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Sumrio executivo

    Globalmente, a busca pela sustentabilidade urbana um desafio enfrentado por grande parte dos pases. Sustentabilidade um termo que compreende o equilbrio entre aspectos econmicos, sociais e ambientais para criar valor a longo prazo para a sociedade, para os negcios, seus colaboradores e acionistas.

    O gerenciamento dos resduos slidos produzidos pela sociedade faz parte desse contexto e tem importncia fundamental dado o impacto que causa ao meio ambiente se feito de maneira inadequada.

    Nos grandes centros urbanos, a gerao de resduos slidos urbanos mostra-se em uma taxa superior ao crescimento populacional, e milhares de toneladas de lixo so despejadas diariamente em lixes ou aterros sanitrios, fazendo com que a necessidade de investimentos no setor aumente progressivamente. Diante dessa realidade, a ampliao dos servios de gerenciamento de resduos slidos uma caracterstica inerente ao processo de urbanizao, estando presente em praticamente todos os pases.

    notadamente importante a participao e a co-responsabilizao de diversos atores na gesto de resduos slidos, no pagamento pelo servio de limpeza urbana, na valorizao da reciclagem e na promoo de aes educativas para mudanas de valores e hbitos da sociedade para uma gesto integrada, descentralizada e compartilhada.

    Um dos elementos centrais na gesto dos resduos slidos a quantidade de recurso destinada a essa atividade. No Brasil, a cobrana pelos servios de coleta e tratamento dos resduos slidos ainda pouco discutida. No entanto, a cobrana, se corretamente aplicada, alm de ser uma forma legal de possibilitar a sustentabilidade do sistema de limpeza urbana ainda contribui para um sistema de consumo mais consciente.

    Dessa forma, o presente estudo visa analisar os componentes e os incentivos atuais da gesto pblica relacionada limpeza urbana em 14 metrpoles levando em considerao os principais mecanismos do sistema, de forma a fomentar a discusso respeito da gesto destes servios nas cidades nacionais.

    Os recursos aplicados, as estruturas legais/institucionais e o modelo de interao entre o governo local e a prestadora dos servios de limpeza, bem como as consequncias na percepo das principais partes interessadas, so os temas abordados no estudo.

  • 7SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    1. Aspectos gerais da limpeza urbana nas cidades brasileiras

    RegulamentaesExiste, no Brasil, uma coleo numerosa de leis, decretos, resolues e normas que evidenciam enorme preocupao com o meio ambiente e, especificamente com a questo da limpeza urbana, h ainda iniciativas do Legislativo municipal nas leis orgnicas e demais instrumentos legais locais.

    Em se tratando do tema as Resolues CONAMA e normas tcnicas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT devem ser consideradas como um importante marco legal de mbito federal, uma vez que regularam itens como:

    Coleta seletiva - Resoluo CONAMA n 275/2001;

    Resduos do Servio de Sade - Resoluo CONAMA n 358/2005;

    Resduos da construo civil - Resoluo CONAMA n 307/2002;

    leo lubrificante - Resoluo CONAMA n 362/2005;

    Pneus - Resoluo CONAMA n 258/99;

    Pilhas e baterias - Resoluo CONAMA n 257/1999;

    Resduos slidos - Classificao NBR 10.004; e

    Aterros sanitrios de resduos slidos urbanos - NBR 8.419 e NBR 843.

    A Constituio Federal de 1988 tem papel fundamental na gesto da limpeza urbana, uma vez que elevou o municpio categoria de ente poltico, podendo ele legislar, prestar servios, instituir e cobrar os prprios tributos, alm de eleger prefeito e vereadores. Alm disso, os municpios tm a competncia comum - do artigo 23, incisos VI e VII - de proteger o meio ambiente, combater a poluio e preservar as florestas, a fauna e a flora. O artigo 30 lhes permite legislar sobre interesse local, logo elaborar leis de poltica municipal de meio ambiente, suplementar s legislaes de mbito federal e estadual. Confere-lhes ainda competncia exclusiva para legislar sobre ordenamento territorial, mediante planejamento e uso do solo.

    O artigo 225 da Constituio Federal refora que o municpio tem o dever de proteger o meio ambiente, uma vez que impe ao poder pblico (Unio, Estado e Municpio) e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes. Deste modo, o Municpio pode legislar sobre proteo ambiental e exercer o poder de polcia administrativa.

    Ainda com relao s regulamentaes de mbito federal, dois importantes diplomas devem ser considerados:

    Lei n 11.445/2007 do Saneamento Bsico

    No incio de 2007, foi promulgada a Lei de Saneamento Bsico, depois de muito debate entre as empresas do setor, os governos federal, estadual e municipal, bem como representantes da sociedade civil. A Lei n 11.445/07 conceituou saneamento bsico como o conjunto de atividades compreendidas pelos servios de abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, limpeza urbana e manejo dos resduos slidos e das guas pluviais. Alm da definio mais ampla de saneamento, a lei tambm abre possibilidades para formao de parcerias, consrcios e sociedades entre as companhias prestadoras de servios. Foi a primeira vez em que o servio de limpeza urbana e manejo de resduos slidos foi considerado como um servio de saneamento bsico.

    A lei determina ainda a elaborao de um plano de investimentos em saneamento em mbito municipal, juntamente com a empresa prestadora dos servios. Com o maior planejamento, tambm dever seguir maior cuidado com a superviso do cumprimento dos termos do contrato, para isso um rgo supervisor deve ser criado pelos municpios. Por no determinar prazo-limite para a adoo dos requisitos exigidos na lei, sua aprovao foi seguida de discusses entre o Governo Federal e as instituies representativas. Sem a definio dos prazos, a implementao da lei teria impactos diferenciados sobre os municpios. Aqueles municpios com contratos de servios de saneamento com prazos longos de vencimento e outros que assumem eles prprios a prestao desses servios teriam mais tempo para sua adequao ao novo marco regulatrio. Contudo, a situao dos municpios com contratos vencidos, a vencer no curto prazo ou ento com contratos inadequados (sem valor jurdico) estariam proibidos, pela nova lei, de firmar novos acordos antes da adequao Lei do Saneamento.

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    Alm disso, a exigncia de elaborao dos planos municipais tambm faria necessrios esforos financeiros e jurdicos difceis de serem realizados no curtssimo prazo. Uma vez que a liberao dos recursos previstos pelo PAC (Plano de Acelerao do Crescimento) est vinculada ao cumprimento da Lei do Saneamento, correria o risco de o governo no conseguir atingir suas prprias metas de liberao de recursos para o saneamento.

    Diante dessas dificuldades, o Governo Federal definiu orientaes e ajuda financeira para que os municpios pudessem elaborar seus projetos de investimento em saneamento. Em maro de 2007, o Conselho das Cidades aprovou resoluo definindo os prazos para elaborao dos planos de saneamento por estados e municpios. Ento ficou decidido que, at 2008, o Governo Federal deveria concluir o Plano Nacional de Saneamento, contendo diretrizes para os governos estaduais e municipais. Estados e regies teriam at 2009 e municpios at 2010 para a adequao.

    Nesse perodo de transio, o Conselho decidiu realizar, ainda no primeiro semestre de 2007, uma campanha de mobilizao para elaborar planos de saneamento entre governadores e prefeitos.

    Com os ajustes Lei do Saneamento, feitos mediante decreto complementar, espera-se criar as condies legais necessrias para aumentar a segurana dos investimentos e a transparncia das relaes entre as empresas prestadoras de servio e os governos contratantes, ampliando assim o volume de recursos aplicados no setor, tanto pelo poder pblico como pela iniciativa privada. De acordo com a Associao das Empresas de Saneamento Bsico Estaduais (AESBE) de toda a populao brasileira atendida por abastecimento de gua, 76% servida por companhias estaduais, 21% por municipais e 3% pelo setor privado.

    Projeto de Lei n 1991/2007 - Institui a Poltica Nacional de Resduos

    Embora exista um vasto conjunto de regulamentaes federais que disciplinam os resduos slidos no Brasil, distribudas em leis, decretos, portarias, e resolues, no existe uma lei federal que trate especificamente da gesto dos resduos slidos. Esse fato, alm de dificultar a aplicao das normas legais j existentes, tambm cria considervel insegurana jurdica nos atos da administrao pblica e privada.

    Segundo o Ministrio do Meio Ambiente, no ano 2000, cerca de 60% dos resduos coletados foram depositados inadequadamente em lixes brasileiros; 17% em aterros controlados; e 13% em aterros sanitrios. Em uma dcada, houve um aumento de cerca de 12% dos resduos dispostos inadequadamente no solo. De acordo com os dados, os setores que mais geram resduos atualmente no Brasil so a construo civil, a agricultura e a pecuria.

    Com o intuito de estabelecer uma diretriz federal, foi elaborado o Projeto de Lei no 1991/2007 instituindo a Poltica Nacional de Resduos Slidos, ainda sujeito apreciao do Plenrio da Cmara dos Deputados e, que se aprovado, seguir para o Senado.

    Conforme o texto do Projeto de Lei, o tratamento dos resduos deve seguir os princpios estabelecidos pelas polticas nacionais de meio ambiente, educao ambiental, recursos hdricos, saneamento bsico e sade.

    A proposta probe o lanamento de lixo no solo, nos rios, a queima a cu aberto, bem como a importao de materiais que produzam rejeitos nocivos ao meio ambiente e sade pblica, como pneus usados. Entre as diretrizes estabelecidas, destaca-se o consumo sustentvel, a articulao entre as diferentes esferas do Poder Pblico e a incluso social dos catadores de materiais reciclveis.

    Entre os instrumentos da Poltica Nacional de Resduos Slidos, destaca-se a chamada logstica reversa, que atua como um dos principais impasses para a promulgao da lei, uma vez que acarreta mudanas drsticas nos padres de consumo e em toda a logstica da cadeia produtiva.

    Da mesma forma, o texto estabelece que a responsabilidade do gerador de resduos slidos s cessa quando estes forem reaproveitados em produtos, na forma de novos insumos, em seu ciclo ou em outro ciclo produtivo. Tambm disciplina a responsabilidade compartilhada do consumidor, do fabricante e do importador, de comerciantes, revendedores, e distribuidores de produtos, ou seja, a responsabilidade distribuda entre todos os participantes da cadeia de consumo.

  • 9SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Planejamento, implementao e fiscalizao

    No Brasil, compete aos governos municipais planejar o formato e gerir o sistema de limpeza urbana. J as empresas privadas contratadas devem se ater execuo do objeto do contrato. Neste sentido, a atividade de fiscalizao deve ser incorporada no modelo de gesto adotado visando garantir sua efetividade como parte do processo de manuteno. Sob esta tica o planejamento do sistema deveria prever um escopo claro, especificando a qualidade dos servios a serem prestados e estruturas necessrias.

    Na grande parte das cidades nacionais analisadas o atual modelo gesto dos servios de limpeza urbana est focado na sua implementao e fiscalizao, enquanto o planejamento com uma viso de longo prazo ainda pouco fomentado.

    A fiscalizao sobre o muncipe usurio deficiente e em geral consiste em verificar se os resduos foram dispostos em local ou horrio inadequados, fato que dificilmente verificado na inspeo de rotina dos agentes que passam a agir atravs de denncias e que dependem da infra estrutura disponibilizada por seus rgos para verificarem o fato in loco. O flagrante necessrio para aplicao de penalidades, e em geral o valor das multas aplicadas aos muncipes usurios baixo.

    A melhoria no sistema de fiscalizao da limpeza urbana aliada a implantao de um eficiente sistema de educao ambiental alm de coibirem as infraes, resultariam em significativa reduo da poluio ambiental, e consequentemente em menos custos para o Estado, que deixaria de gastar com a limpeza urbana em todas as suas etapas, inclusive com os problemas causados pelo descarte incorreto de resduos.

    Formas de arrecadao aplicveis

    Antes de adentrarmos na discusso sobre as formas de arrecadao aplicveis ao setor de limpeza urbana, devemos considerar o que j foi exposto sobre a competncia dos municpios. O inciso I do artigo 30 da Constituio Federal determinou que estes so competentes a instituir e arrecadar tributos. Ainda em se tratando do texto constitucional, destacamos o seguinte artigo:

    Art.145 - A Unio, os Estados, O Distrito Federal e os Municpios podero instituir os seguintes tributos:

    I Impostos;

    II Taxas, em razo do exerccio do poder de polcia ou pela utilizao, efetiva ou potencial, de servios pblicos especficos e divisveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposio; e

    III Contribuio de Melhoria, decorrente de obras pblicas.

    ... 2 As taxas no podero ter base de clculo prpria de impostos.

    Muito embora muitos municpios brasileiros remunerem, total ou parcialmente, os servios de limpeza urbana mediante uma taxa, em geral cobrada na mesma guia do Imposto Predial e Territorial Urbano, existem dois pontos de ateno a serem observados na aplicao dessa cobrana. O primeiro deles se depreende do 2, anteriormente mencionado, em que fica vedada a criao de taxas que tenham a mesma base de clculo de impostos, ou seja, a tributao pela servio de limpeza urbana no pode ter a mesma base de clculo da rea do imvel (rea construda ou rea do terreno).

    O segundo ponto refere-se natureza da taxa descrita no inciso II e, da mesma forma, disciplinou o Cdigo Tributrio Nacional em seu artigo 77 ao definir que a taxa ser instituda em razo da utilizao de servios pblicos especficos e divisveis. O atual sistema de limpeza urbana no dispe de um sistema de medio dos resduos coletados, ficando impossibilitada a caracterstica de diviso destes; mesmo que esse sistema existisse, ainda no seria aplicvel ao lixo pblico recolhido nas ruas e nos logradouros uma vez que este tem natureza indivisvel.

  • 10 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Dessa forma, para que a aplicao da taxa como forma de cobrana dos servios de limpeza urbana seja juridicamente vivel, esta necessita ter base de clculo prpria e seu valor dever revelar divisibilidade entre os contribuintes em razo dos respectivos potenciais de uso. A divisibilidade ento estaria caracterizada na possibilidade de medio isolada por usurio do servio de coleta do lixo, o que justificaria, inclusive, a repartio das despesas da atividade entre os usurios, efetivos ou potenciais, em consonncia com o quanto lhe fora ofertado.

    Pelos itens anteriormente mencionados, h intensa disputa jurisprudencial na aplicao das taxas de limpeza urbana; assim, sua cobrana vem sendo contestada em muitos municpios que passam a no ter como arrecadar recursos para cobrir os gastos dos servios, que podem chegar algumas vezes at 15% do oramento municipal.

    Em geral, os municpios que utilizam a taxa de resduos slidos domiciliares raramente conseguem custear 100% dos servios com sua arrecadao, o que gera a necessidade de aportes complementares de recursos pelo Tesouro Municipal por meio do desvio de verbas oramentrias de outros setores essenciais, exceto sade e educao, para a execuo dos servios de coleta, limpeza de logradouros e destinao final dos resduos.

    Embora em muitas localidades a cobrana pelos servios de limpeza urbana seja, autorizada pela legislao municipal, segundo o Ministrio das Cidades (2008), 40,1% dos municpios brasileiros no exercem esse direito, e aqueles em que a cobrana efetuada, o valor mdio da receita municipal arrecadada pelos servios de limpeza urbana de R$ 31,00 habitante ao ano.

    Outra forma de cobrana pelo servio de limpeza urbana a tarifa tambm chamada de preo pblico, que um instituto tpico de direito privado existente em uma relao de consumo, em que h a autonomia da vontade e a liberdade de contratar diferente da taxa. A tarifa no tem carter compulsrio, cobrada somente dos usurios que utilizam efetivamente os servios.

    As tarifas no so tributos, so fixadas mediante ato administrativo e relacionadas especificamente com a remunerao de servios pblicos prestados por instituies no integrantes da Administrao direta. O impasse na aplicao de tarifas que o servio de limpeza pblica engloba uma variedade de atividades de fruio obrigatria pelos particulares.

    Assim, os cortes comumente adotados no fornecimento de luz ou gua, pela falta de pagamento da tarifa, no podem ser aplicados na coleta ou remoo de lixo. A falta de pagamento da taxa de coleta de lixo, por exemplo, no pode ser combatida com a suspenso do servio e do atendimento ao contribuinte inadimplente, simplesmente porque o lixo de que ele dispe para a coleta tem que ser recolhido de qualquer maneira por razes de sade pblica. Restam, assim, poucas formas de executar a cobrana.

    Embora a aplicao seja legalmente duvidosa, em alguns casos adotada a inscrio do imvel do devedor na dvida pblica do municpio. Mesmo assim, esse ato tem pouco poder punitivo, porque apenas ameaa o devedor na ocasio da possvel alienao do imvel (IBAM e SEDU/PR, 2001).

    Considerando as limitaes dos requisitos para aplicao de taxa ou tarifa, conclui-se que difcil assegurar a sustentabilidade financeira por meio desses instrumentos; portanto, preciso que as prefeituras garantam dotaes oramentrias que sustentem adequadamente o custeio e os investimentos do sistema. De outro modo, fica prejudicada a qualidade dos servios prestados, o sistema de limpeza urbana no modernizado e/ou evolui, pois no dispe dos recursos necessrios.

    importante ainda ressaltar que a instituio de uma cobrana especfica e eficiente pelos servios de limpeza urbana no apenas garantiria a sustentabilidade financeira do setor, como tambm seria um modo de conscientizar a populao para a necessidade de reduzir a gerao e destinar de forma correta os resduos.

  • 11SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Formas de contratao

    No Brasil, a grande maioria dos rgos administrativos delega a execuo do servio de limpeza urbana a empresas privadas por meio do processo de licitao e posterior contratao pblica, regulados pela Lei Federal n 8.666/93.

    De acordo com o disposto no artigo 175 da Constituio Federal incumbe ao poder pblico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, sempre mediante licitao, a prestao de servios pblicos, entre eles, a limpeza urbana.

    Segundo Celso Antnio Bandeira de Melo, concesso de servio pblico o instituto por meio do qual o Estado atribui o exerccio de um servio pblico a algum que aceita prest-lo em nome prprio, por sua conta e risco, nas condies fixadas e alterveis unilateralmente pelo poder pblico, mas sob garantia contratual de um equilbrio econmico-financeiro, remunerando-se pela prpria explorao do servio, em geral e basicamente cobradas diretamente dos usurios do servio1.

    Por sua vez, permisso ato por meio do qual o Poder Pblico transfere a algum o desempenho de um servio de seu dever e proporciona a possibilidade de cobrana de tarifa dos usurios.

    Considerando que grande parte dos municpios exige nos contratos de concesso o investimento por parte das empresas privadas executoras na gesto dos servios, como por exemplo na ampliao de aterros, na operao de estaes de transbordo, e na compra e manuteno de caminhes entre outros, a contratao ou permisso de empresas privadas para execuo do servio de limpeza urbana permite viabilizar o alto investimento necessrio no setor, no onerando o setor pblico no curto prazo.

    Prestao de servios e tabelas comparativas

    A concorrncia no segmento de coleta de lixo maior quando comparada de outras reas de saneamento, como a rede de fornecimento de gua e o de esgotamento sanitrio.

    Esse cenrio mais propcio para a participao de outras empresas se deve ao fato de que os municpios nem sempre conseguem atender demanda, principalmente em relao construo civil que gera uma elevada quantidade de resduos de obras e demolies.

    Dessa forma, considerando os conceitos e fatores previamente discutidos, a Tabela 3 apresenta um quadro-resumo das informaes das cidades nacionais selecionadas.

    1- Curso de Direito Administrativo. 24a. ed., 2007, Editora Melhoramentos

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    15

  • 13SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Cidades Despesas correntes**

    Oramento municipal destinado a limpeza urbana

    Relao entre arrecadao especfica e despesa com SLU

    Oramento gasto com empresas terceirizadas

    Quantidade de lixo por habitante por ano (kg/hab/ano)

    Custo por habitante ano (R$/hab/ano)

    Braslia - DF 7.055.016.177 4,7% 19,8% 53,2% 605,02 144,45

    Salvador 1.851.338.264 12,5% 20,7% 84,8% 253,31 84,99Rio de Janeiro 7.326.538.533 6,8% 110,0% 31,8% 456,56 81,18Goinia 1.182.701.900 7,8% 0,0% 35,6% 368,65 75,80So Paulo 14.495.529.207 5,3% 0,0% 100,0% 351,41 73,63Belo Horizonte 2.726.502.178 6,0% 47,7% 53,1% 349,13 68,04

    Tabela 3 - Principais indicadores comparativos entre as cidades nacionais

    Fonte: Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento - SNIS, Ministrio das Cidades, 2008.

    ** Valor anual do total de despesas da administrao pblica municipal para a manuteno dos servios pblicos em geral, exceto despesas de capital (exemplos: investimentos em obras pblicas, compra de materiais, inverses de capitais).

    De acordo com concepo de desenvolvimento sustentvel estabelecida pela Agenda 21, reduzir e utilizar os resduos e subprodutos que aparecem como tarefas fundamentais sociedade atual. No caso do entulho de obra, os maiores desafios so:

    Beneficiar a quantidade de entulho gerado, reutilizando-o no ciclo produtivo e diminuindo o consumo de energia e de recursos naturais.

    Reduzir o volume de entulho gerado, evitando a utilizao dos escassos locais para sua disposio.

    A seguir, a Tabela 4 apresenta mais informaes sobre o gerenciamento de entulho nas cidades brasileiras selecionadas.

    Cidades

    EntulhoServio executado pela prefeitura*

    Existncia de empresa especializada

    Quantidade coletada pela prefeitura ou contratada (ton/dia)

    Quantidade coletada por empresa ou autnomo contratado pelo gerador (ton/dia)

    Quantidade coletada por outros agentes (ton/dia)

    Existncia Cobrana

    So Paulo Sim No Sim 1.917 1.683 0Rio de Janeiro Sim No Sim 289 1.065 149Braslia - DF No - Sim 0 0 0Salvador Sim No Sim 1.267 390 0Belo Horizonte Sim No Sim 203 1.047 0Goinia Sim No Sim 401 522 80

    Tabela 4 - Informaes sobre entulho nas cidades nacionais selecionadas

    Fonte: Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento - SNIS, Ministrio das Cidades, 2008.

    * Em cada municpio, incidir uma regulamentao especfica estabelecendo um limite a ser coletado.

  • 14 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    No Brasil, existem em operao cerca de nove unidades de beneficiamento de resduos de construo implantadas a partir de 1991, sendo a experincia mais significativa a da prefeitura de Belo Horizonte que dispe de duas usinas de reciclagem de entulho com capacidade para processar at 400 toneladas dirias.

    Oramento municipal

    O presente captulo traz um comparativo quanto ao oramento pblico contemplando o percentual destinado ao setor de limpeza urbana.

    Segundo estudo do IBAM e SEDU/PR, em muitos municpios brasileiros a limpeza urbana pode consumir at 15% do oramento municipal.

    No caso das cidades selecionadas para o presente estudo, todas apresentam um percentual inferior a essa mdia. A Tabela 5 apresenta esses valores para os municpios selecionados, no qual o Distrito Federal se destaca pelo menor percentual e Salvador pelo maior, apesar de cobrir apenas 20,7% de suas despesas com a arrecadao do servio.

    CidadesBraslia - DF Salvador Rio de Janeiro Goinia So Paulo Belo Horizonte

    4,7% 12,5% 6,8% 7,8% 5,3% 6,0% Tabela 5 - Percentual do oramento municipal destinado limpeza urbana

    Fonte: Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento - SNIS (2008).

    O grande problema do entulho est relacionado ao seu acondicionamento, pois os contineres metlicos utilizados atrapalham a passagem de pedestres e/ou o trnsito, bem como o estacionamento de veculos. Alm disso, o entulho de obra tambm consome muito espao nos aterros, espao esse que poderia ser utilizado para a destinao de outros tipos de resduos no passveis de reciclagem.

    Com o advento da Constituio Federal de 1988, nosso Pas passou a reconhecer a sade como um direito de todo o cidado e um dever do Estado, garantida mediante polticas sociais e econmicas que visam reduo do risco de doena e de outros agravos, bem como mediante acesso universal e igualitrio s aes e aos servios para sua promoo, proteo e recuperao. Dessa forma, todo ano uma parte do oramento municipal obrigatoriamente repassado sade.

    Desse modo, a execuo da limpeza urbana, alm de evitar problemas ambientais catastrficos, ainda evita a transmisso de diversas doenas causadas pela destinao e disposio inadequada dos resduos como leptospirose, febre tifide, dengue, giardase e febre amarela. Por essa tica, a limpeza urbana muitas vezes questionada como uma questo de sade pblica passvel de previso oramentria quer seja por meio de um percentual no oramento reservado sade quer seja por meio especfico.

  • 15SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Custo do servio de limpeza urbana

    Os custos em limpeza urbana esto divididos entre coleta, varrio, tratamento e disposio final dos resduos slidos urbanos (RSU). Existem diversas variveis que influenciam nesses custos, como o nmero de empregados, o valor dos salrios, a abrangncia do atendimento, a frequncia, a logstica, a reciclagem e a qualidade dos servios prestados. Existem ainda questes culturais, como o consumismo, o desperdcio e a falta de conscientizao da populao, que podem afetar diretamente esse valor.

    A Figura 1 apresenta uma comparao dos custos per capita dos servios de limpeza urbana nas cidades selecionadas pelo estudo. Se considerado o valor mdio, os municpios brasileiros apresentam valores significativamente inferiores s mdias apresentadas pelas cidades internacionais analisadas.

    Mdia Internacional: 480,17

    Mdia Brasil: 88,01

    1200,00

    1000,00

    800,00

    600,00

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    200,00

    0,00

    Tquio Cidade do Mxico

    Barcelona Roma Paris NovaIorque

    Londres BuenosAires

    Braslia - DF

    Salvador Rio de Janeiro

    Goinia So Paulo Belo Horizonte

    Figura 1 - Gastos em RSU per capita (R$/habitante/ano) das cidades selecionadas pelo estudo

    Fonte: Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento - SNIS (2008).

  • 16 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    1200,00

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    Gastos per capita (R$/Hab/ano) Quantidade de resduo per capita (kg/hab/ano)

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    200,00

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    Tquio Cidade do Mxico

    Barcelona Roma Paris NovaIorque

    Londres BuenosAires

    Braslia - DF

    Salvador Rio de Janeiro

    Goinia So Paulo Belo Horizonte

    A cidade de Nova Iorque, por exemplo, similar So Paulo em relao quantidade de trabalhadores por habitante apresentando respectivamente, um trabalhador para 800 habitantes em Nova Iorque e um trabalhador para aproximadamente 1.000 habitantes em So Paulo. Os custos com limpeza urbana em Nova Iorque so trs vezes maiores do que em So Paulo, porm devemos considerar que o valor do salrio mnimo superior assim como o valor econmico de sua moeda. J Braslia apresenta o maior custo per capita em decorrncia da longa distncia a ser percorrida para atingir a maior parte da populao.

    Figura 2 - Comparao dos gastos per capita dos servios de limpeza urbana nas cidades com a quantidade de resduo per capita.

    Podemos observar atravs deste grfico que as cidades internacionais produzem aproximadamente 20% mais de resduo por habitante, porm gasto cerca de 5 vezes mais em limpeza urbana. Por exemplo, Tquio gera cerca de 400 kg/hab/ano comparado a 350 kg/hab/ano em So Paulo, porm investe 13 vezes mais por habitante respectivamente.

    A Cidade do Mxico, que apresenta desafios semelhantes de So Paulo tanto em sua dimenso territorial como populacional apresenta, entretanto, um gasto no gerenciamento de resduos slidos sete vezes maior. Buenos Aires, outra cidade similar em comparao cidade de So Paulo, tambm apresenta um gasto per capita duas vezes maior.

  • 17SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    2. Cenrio nacional

    So Paulo

    A cidade de So Paulo composta por mais de dez milhes de habitantes e, com mais 38 municpios, forma a regio metropolitana de So Paulo, constituindo a quarta maior conurbao urbana do mundo. uma cidade que abrange uma rea de aproximadamente 1.523 km2 e apresenta uma economia bastante desenvolvida, com PIB per capita de R$ 25.675,00.

    Nas ltimas duas dcadas, o crescimento urbano evoluiu de forma diferenciada, ou seja, as reas centrais registraram taxas negativas de crescimento, com reduo da populao j consolidada, enquanto as regies da periferia esto constantemente recebendo novos habitantes. Esse fato agrava o desafio da gesto da limpeza urbana.

    So Paulo apresenta o maior custo (R$ 762 milhes no ano de 2006) e a gerao absoluta de resduos slidos urbanos (3,65 milhes de toneladas ano), porm os indicadores de gerao per capita/dia e de custo por tonelada esto muito prximos da mdia das cidades brasileiras selecionadas. A cidade apresenta o maior percentual (99%) de terceirizao dos servios de limpeza urbana.

    Em 2004, duas grandes empresas venceram a concorrncia pblica que assegurou a concesso dos servios de coleta por 20 anos, podendo ser prorrogada por mais 20 anos, no valor de R$ 9,8 bilhes. Pelo contrato, as concessionrias so obrigadas a fazer investimentos de R$ 1 bilho, em que R$ 457,5 milhes sero investidos nos primeiros cinco anos do contrato, e os demais previstos, ao longo do perodo de concesso.

    Essa a primeira concesso em que o servio de limpeza urbana no pago por tonelada de resduo coletado e tratado. As empresas concessionrias recebem uma tarifa fixa mensal e, consequentemente, faz com que no seja interessante ter maior quantidade de lixo produzida. A tonelagem de resduos produzidos e as coletas so medidas somente para controle estatstico.

    Uma das concessionrias responsvel por atender regio Sudeste da capital paulista, que abrange 18 subprefeituras, da zona leste zona sul, atendendo a uma populao de 6,1 milhes de habitantes e cerca de 1,6 milho de domiclios. A empresa coleta diariamente cerca de 6 mil toneladas de resduos domiciliares e 50 toneladas de resduos de servios de sade que so levados, em menor parte, para o aterro So Joo e Centro de Disposio de Resduos (CDR) Pedreira, em Guarulhos. Por sua vez, a outra concessionria responsvel pela Regio Noroeste da cidade, abrangendo 13 subprefeituras, atendendo a uma populao de 4,2 milhes de habitantes e um total de 1,4 milhes de domiclios. A empresa informa que coleta 6 mil toneladas de resduos domiciliares por dia que vo para um aterro sanitrio em Caieiras.

  • 18 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Remunerao dos servios

    No ano de 2002, foi reinstituda a Taxa de Resduos Slidos Domiciliares - TRSD, popularmente conhecida como Taxa do Lixo, mediante a Lei n 13.478. A referida Lei trouxe uma srie de inovaes, como a definio do sistema de limpeza urbana em So Paulo, a remunerao do concessionrio, a classificao do potencial de gerao de resduo por residncia, o conceito de grandes geradores e a criao da AMLURB - Autoridade Municipal de Limpeza Urbana, que fiscalizaria todo o sistema estabelecido.

    A frao divisvel dos servios (coleta domiciliar) passou a ser custeada por meio da taxa de coleta domiciliar do lixo, a frao indivisvel era custeada por outros tributos municipais.

    Todavia, a TRSD, como ficou conhecida, desde sua criao passou a ser alvo de questionamentos, bem como de indagaes quanto sua constitucionalidade, e acabou sendo extinta em 2005 pelo Decreto Lei n 14.125. Vale ressaltar que o referido decreto, determinou a iseno da taxa para os muncipes que habitarem local de difcil acesso, bem como para aqueles que gerarem diariamente at 200 l (duzentos litros) de resduos slidos comuns. Tal disposio traz algumas divergncias com a realidade da prestao de servios de limpeza, uma vez que as empresas concessionrias no dispem de um sistema de verificao de peso e volume, estando, portanto, sujeitas a coletar os resduos dispostos para coleta indiscriminadamente.

    Atualmente, no h cobrana especfica pelos servios de limpeza urbana, e a destinao do oramento municipal para o servio de limpeza urbana foi inferior a 6% no ano de 2006.

    Legislao O Estado de So Paulo possui um vasto conjunto de leis disciplinando a limpeza urbana. Para efeitos deste estudo, destacamos alguns diplomas, a comear pela Lei n 12.300 de 2006, que instituiu a Poltica Estadual de Resduos Slidos e tem como princpio a gesto integrada e compartilhada dos resduos slidos envolvendo o Poder Pblico, a iniciativa privada e demais segmentos da sociedade civil. O princpio da responsabilidade compartilhada entre produtores, comerciantes, consumidores, catadores e coletores de resduos e o princpio do poluidor pagador, normas de direito ambiental, consistem em obrigar o poluidor a arcar com os custos da reparao do dano por ele causado ao meio ambiente.

    A referida Poltica Estadual tambm considerou a problemtica da conurbao urbana ao estabelecer em seu artigo 12, a criao de incentivos aos municpios que se dispuserem a implantar, ou a permitir a implantao, em seus territrios, de instalaes licenciadas para tratamento e disposio final de resduos slidos oriundos de quaisquer outros municpios. Estabeleceu ainda o Plano de Gerenciamento de Resduos Slidos, a ser elaborado pelo gerenciador dos resduos, e constitui documento obrigatoriamente integrante do processo de licenciamento das atividades.

    J a Lei Municipal n 13.478/02 determinou as principais diretrizes como a organizao do sistema de limpeza urbana do municpio, criou e estruturou o rgo regulador, autorizou o poder pblico a delegar a execuo de servios mediante a concesso ou permisso, instituiu as taxas de resduos domiciliares, servios de sade e de fiscalizao dos servios de limpeza urbana e criou o fundo municipal de limpeza urbana.

  • 19SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    A Lei Municipal n 14.803 de 2008, por sua vez, adiciona aos geradores de resduos da construo civil a responsabilidade pela destinao dos resduos oriundos dessas atividades e ainda restringe a 1 m3 o volume de resduos da construo civil e de resduos volumosos, destinados aos pontos de entrega implantados nas subprefeituras. Os pontos de entrega municipais so chamados de Ecopontos. Os Ecopontos podem receber, alm de pequenos volumes de entulho, grandes objetos e materiais reciclveis, com uma caamba para cada tipo de resduo. A inteno da Prefeitura aumentar o nmero de pontos disponveis.

    A Lei Municipal n14973 de 2009 dispe sobre a organizao do sistema de coleta seletiva nos Grandes Geradores de Resduos Slidos, determinando que estes devero separar os resduos slidos produzidos em seus setores alm de enviarem estes para locais adequados que garantam o seu bom aproveitamento, ou seja, a reciclagem.

    Rio de JaneiroCom mais de 6 milhes de habitantes, a cidade do Rio de Janeiro est entre as primeiras economias do Pas, com PIB per capita de R$ 20.851,00 ao ano. Com uma rea de 1.182 km2, a cidade referncia nos cenrios nacional e internacional e foco de turistas o ano todo.

    A prestao de servios de limpeza urbana na cidade do Rio de Janeiro de responsabilidade de uma empresa de economia mista denominada Companhia Municipal de Limpeza Urbana - COMLURB. O Rio de Janeiro a cidade com o menor custo por quilograma de resduo slido urbano. Entre as cidades selecionadas a nica em que a arrecadao destinada para limpeza urbana cobre todos os custos e ainda supera em 10% as despesas com a prestao desses servios. Apresenta o menor ndice de terceirizao (31,8%), que corresponde apenas sua frota e manuteno desta. O rgo municipal responsvel pela limpeza urbana uma sociedade de economia mista com administrao pblica.

    Remunerao dos servios

    A COMLURB praticou, at 1980, a cobrana de uma Tarifa de Coleta de Lixo - TCL, recolhida diretamente aos seus cofres. O Supremo Tribunal Federal, entretanto, em acrdo de 4/9/1980, decidiu que aquele servio, por sua ligao com a preservao da sade pblica, era um servio pblico essencial, no podendo, portanto, ser remunerado mediante tarifa (preos pblicos), mas sim por meio de taxas e impostos. Esse acrdo continua em vigor at hoje, at que as proposies de modificao dessa legislao tenham efeito em uma reforma tributria.

    No ano de 2000, a prefeitura do Rio de Janeiro extinguiu a taxa de limpeza urbana e criou a taxa de coleta de lixo, tendo como base de clculo a produo de lixo per capita em cada bairro da cidade, bem como o uso e a localizao do imvel. Conseguiu-se, com a aplicao desses fatores, um diferencial de sete vezes entre a taxa mais baixa e a mais alta cobradas no municpio.

    A COMLURB contratou as associaes de moradores de favelas para que estas operassem a coleta de lixo porta a porta e a limpeza das vias internas. A contratao de trabalhadores locais eleva o comportamento dessas comunidades, que passam a ter ao direta no asseio dos prprios assentamentos. A empresa paga pelos servios, d suporte tcnico e fiscaliza a qualidade da operao. As associaes contratam os prprios empregados e gerenciam os trabalhos. Os resultados positivos motivaram a expanso rpida desse programa para quase todas as favelas existentes no Rio de Janeiro.

  • 20 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Alm disso, em maro de 2009, o governo do Rio de Janeiro declarou a implantao de um projeto chamado D a mo para o futuro - Colabore com a Reciclagem e Ajude a Gerar Trabalho e Renda. Esse programa tem como objetivo criar uma soluo tcnica, ambiental, econmica e socialmente apropriada para gesto dos resduos slidos. Para isso, sero utilizados sistemas de coletas seletivas j existentes no municpio e associaes ou cooperativas de catadores. A durao prevista de 24 meses e inclui um programa de educao ambiental para a populao, como forma de estimul-la a participar separando o seu lixo. J as prefeituras sero responsveis por manter infraestrutura e condies para operao das cooperativas e pela destinao de materiais reciclveis provenientes da coleta seletiva para essas organizaes.

    Legislao Entre os diplomas que disciplinam a limpeza urbana no Rio de Janeiro destaca-se a Lei Municipal no. 3.273 de 2001 que autoriza cobrana de tarifa/taxa e multas, atribui a responsabilidade da fiscalizao ao rgo Municipal competente e ainda traz definies importantes, como o lixo urbano por tipo, que difere os resduos com tipologia de resduo domiciliar produzido por estabelecimentos comerciais e de sade do lixo extraordinrio, de acordo com o limite dirio de 120 kg.

    A qualidade dos servios prestados acompanhada pelas reclamaes e sugestes encaminhadas ao teleatendimento 24 horas e ouvidoria, alm do site da empresa. As reclamaes so avaliadas e imediatamente encaminhadas s reas operacionais para as correes que se fizerem necessrias.

    Braslia - DFO Distrito Federal - DF uma das 27 unidades federativas do Brasil, em que se localiza a capital federal Braslia.

    Por limitao constitucional, no pode ser dividido em municpios. O Distrito Federal regido por lei orgnica, tpica de municpios, e no por uma constituio estadual. Acumula as competncias legislativas reservadas aos estados federados e municpios, no vedadas pela Constituio.

    Figura 2 - Regies administrativas do Distrito Federal

    Planaltina

    SobradinhoBrazlndia

    Ceilndia

    Samambaia

    Recanto das Emas

    Gama

    Braslia

    TaguatingaGuar

    Riacho Fundo

    Santa MariaSo Sebastio

    Parano

    NcleoBandeirante

    Lago Sul

    Candangolndia

    Cruzeiro

    Lago Norte

  • 21SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Inaugurada em 21 de abril de 1960, Braslia uma cidade que j foi planejada com finalidade de ser a capital do Pas. formada pela regio central e por cidades-satlites, que compem o Distrito Federal, abrangendo um total de 5.802 km, com aproximadamente 2.456 milhes de habitantes na rea do DF. Assim, o DF tem o PIB per capita mais alto do Pas, correspondendo a R$ 37.600,00 por ano.

    Para o presente estudo, o DF ser tratado da mesma forma que as demais cidades selecionadas. Apresenta o maior custo por tonelada de resduo per capita/ano e tambm a maior gerao per capita entre as cidades selecionadas. A receita proveniente da arrecadao da cobrana pela prestao dos servios de limpeza urbana de, apenas, 19,8% das despesas para a execuo desses servios. No 1 Seminrio sobre Coleta Seletiva no DF, realizado no dia 23 de maio de 2008, foi discutido um novo modelo de coleta seletiva a ser implantado de forma gradual, a criao de novos negcios para os produtos reciclveis, a reduo dos impactos ambientais gerados pelo lixo e a educao da populao para gesto de seus resduos.

    Remunerao dos servios

    No Distrito Federal, a chamada Taxa de Limpeza Pblica - TLP foi instuda pela Lei n 6.945, de 1981, e foi sofrendo modificaes. Em 2007, a Lei n 4.022 estabeleceu como parmetros para fixao da taxa: a populao existente em cada cidade ou regio; o ndice de Desenvolvimento Humano/Renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE; a atividade econmica exercida como determinante da quantidade e da qualidade de lixo produzidas; e dados sobre a produo de lixo. A referida lei tambm fixou um valor nico para os imveis comerciais e outro para os residenciais.

    A cobrana da taxa no Distrito Federal, assim como ocorre em outros municpios que utilizam esse meio de cobrana, no foi suficiente para cobrir os gastos com a limpeza urbana, motivo pelo qual, em 2007, surgiu um projeto de lei alterando a mencionada lei de 1981, estabelecendo que o valor da TLP ser determinado anualmente e seu total equivaler ao rateio dos custos operacionais de limpeza pblica.

    No Distrito Federal, os contratos so denominados contratos de empreitada, caracterizando-se pela terceirizao simples.

    A fiscalizao, at junho de 2008, era exercida por servidores do prprio Sistema de Limpeza Urbana - SLU. A partir de julho de 2008, esses servidores foram transferidos para a Agncia de Fiscalizao - AGEFIS, outro rgo pblico do governo do Distrito Federal. Cerca de 250 servidores foram transferidos. Quanto s penalidades, variam conforme o volume de resduo, considerando-se situaes atenuantes ou agravantes, com base em legislao especfica, Lei n 972/95 e Decreto n 17.156/96.

    Legislao O Plano Diretor de Resduos Slidos um projeto 100% financiado pelo governo espanhol, e o Distrito Federal a nica localidade abordada que tem um diploma dessa espcie. Dentre os objetivos do estudo, esto: orientar o desenvolvimento da limpeza pblica, avaliar as condies atuais no DF, estabelecer diretrizes e metas futuras para o desenvolvimento sustentvel, bem como promover a incluso socioeconmica.

    O plano tem caracterstica multidimensional, por apresentar diversos aspectos normativos e legais; institucionais; tcnicos e tecnolgicos; econmicos e financeiros; ambientais e sociais, por exemplo. Por se tratar de um conjunto de aes, o projeto tem um escopo de 20 anos.

  • 22 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Belo Horizonte

    Com mais de 2 milhes e meio de habitantes, Belo Horizonte foi fundada em 1897 e j esteve entre as 100 melhores cidades do mundo quanto qualidade de vida. Seu PIB per capita de R$ 13.636,00 ao ano.

    A cidade apresenta o menor custo por habitante/ano entre as cidades selecionadas. A receita proveniente da arrecadao especfica para a prestao de servios de limpeza urbana corresponde a aproximadamente 50% das despesas com esses servios.

    Remunerao dos servios

    Em Belo Horizonte, a Lei n 8.147 de 2000 instituiu a Taxa de Coleta de Resduos Slidos Urbanos, que, em sntese, obtida mediante o custo previsto do servio, rateado entre os contribuintes, conforme a frequncia da coleta e o nmero de economias existentes no imvel.

    A TCR ser devida anualmente, podendo ser lanada e cobrada com o Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana - IPTU - ou na forma e nos prazos previstos em regulamento, e o pagamento da TCR no exclui o pagamento de preos pblicos devidos pela prestao de servios extraordinrios de limpeza urbana previstos na legislao municipal especfica.

    Legislao A Lei n 2.968 de 1978 aprovou o Regulamento de Limpeza Urbana de Belo Horizonte e trouxe importantes determinaes em seu texto, por exemplo, que a Superintendncia de Limpeza Urbana - SLU somente executar a coleta e a disposio final dos resduos especiais, bem como os provenientes das feiras livres, em carter facultativo e a seu exclusivo critrio mediante pagamento do preo pblico.

    A referida lei tambm define quais resduos slidos so considerados especiais, entre eles, o lixo industrial ou comercial cuja produo exceda o volume dirio de 200 kilogramas.

    A Lei n 18.031 de 2009 instituiu a Poltica Estadual de Resduos Slidos em Minas Gerais, e entre seus princpios destacam-se a preveno e a reduo da gerao, o reaproveitamento e a reciclagem, a destinao ambientalmente adequada e a valorizao dos resduos slidos. Uma de suas diretrizes a responsabilidade socioambiental compartilhada.

    O texto ainda disciplina instrumentos como o inventrio estadual de resduos industriais e incentivos fiscais destinados a atividades que adotem medidas de no gerao, reaproveitamento e reciclagem. Tambm dispe sobre obrigaes e penalidades, sobre a elaborao do plano de gerenciamento integrado de resduos slidos, alm de fixar prazo para elaborao de plano de gesto integrada (artigo 53).

    A cidade objetiva otimizar e aumentar sua capacidade na prestao de servios de limpeza das vias e de coleta domiciliar, bem como viabilizar novas alternativas para destinao e tratamento dos resduos. Assim, estabeleceu algumas metas, entre elas:

    aumentar a capacidade de prestao de servios de limpeza das vias, incluindo atividades de varrio, capina, limpeza de bocas de lodo. A meta que, at janeiro de 2010, 11.154 quilmetros de sarjetas sejam limpas todas as semanas;

    at dezembro de 2009, realizar estudos de viabilidade para gesto dos resduos, com novas tecnologias e novas formas de disposio;

    implantar duas unidades para destinao de entulhos, uma em 2010 e a outra em 2012; e

    at abril de 2010, implantar uma unidade para destinao dos resduos de sade.

  • 23SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Salvador

    Uma das primeiras cidades do Brasil, Salvador marcada por sua colonizao pioneira e pela rpida miscigenao da populao formada por quase 3 milhes de habitantes, em 707 km2 de territrio. A base de sua economia est no terceiro setor, produzindo um PIB per capita de R$ 8.870,00 ao ano.

    A Limpurb apresentou quatro projetos com potencialidade na gerao de emprego e renda, criando uma logstica para a coleta, transporte e disposio final dos resduos slidos e dimuindo os gastos pblicos com a atividade. Esses projetos foram encaminhados para captar recursos no Plano de Acelerao do Crescimento (PAC). Os quatro programas so:

    Unidade de beneficiamento da casca do coco verde;

    Central de recepo de materiais inservveis, como eletroeletrnicos, eletrodomsticos e mveis;

    Unidade de compostagem; e

    Posto de descarga de entulho.

    Remunerao dos servios

    Em Salvador, a Lei n 5.262 de 1997 instituiu a Taxa de Limpeza Pblica, a qual, de acordo com o artigo 3, tem como base de clculo o custo dos servios de coleta, remoo, tratamento e destinao final do lixo domiciliar, de acordo com a localizao e rea construda, tratando-se de prdio; a rea e localizao, tratando-se de terreno; a localizao e utilizao, tratando-se de barracas de praia, bancas de chapa e boxes de mercado.

    Existe a possibilidade de a taxa ser cobrada isoladamente ou com o IPTU (artigo 4), e o artigo 9 isenta da taxa os imveis residenciais localizados em zonas populares cuja rea construda no ultrapasse os 30 m2.

    A lei ainda dispe que o pagamento da taxa no exclui o pagamento de preos ou tarifas de prestao de servios especiais, como entulhos de obras, lixos extraordinrios resultantes de atividades especiais, bens mveis imprestveis etc.

    Legislao Em Salvador, os lixos pblico, comercial e domiciliar so disciplinados por Decretos Municipais, como os de n 7.700 de 1986 e n 12.066 de 1998, e pelas Leis Municipais ns. 7.186/2006 e 4.783/93, alm de obedecerem a outros diplomas municipais e Resoluo CONAMA.

    Os resduos industriais so disciplinados pela Resoluo CONAMA n 313/03. J os resduos provenientes da construo civil, quando sua gerao no ultrapassar 2 m, so de responsabilidade do Poder Pblico Municipal e disciplinados pelo Decreto Municipal n 12.133/98.

  • 24 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Goinia

    Com mais de 1 milho de habitantes, Goinia, capital do Estado de Gois, foi fundada em 24 de outubro de 1933. a cidade brasileira com a menor populao abordada por este estudo. Possui um PIB per capita de R$ 13.006,00 ao ano.

    A cidade de Goinia recolhe uma mdia diria de resduo de 1.100 toneladas, considerando os resduos domiciliares e hospitalares, que so depositados no aterro sanitrio em clulas distintas. A prefeitura estabeleceu um projeto de adequao, com tratamento do chorume, redimensionamento das lagoas de chorume e aumento na rea do aterro. Essas medidas devem aumentar a sua vida til de 17 a 20 anos.

    A responsabilidade pela execuo dos servios de coleta e tratamento de resduos slidos urbanos em Goinia da prpria prefeitura, administrada pela COMURG - Companhia de Urbanizao de Goinia - empresa de capital misto em que 98% so de capital pblico.

    A COMURG presta servios de coleta domiciliar e hospitalar, varrio, remoo de entulho, coleta seletiva, operao de aterro sanitrio, capina, roada, pintura de meio-fio, limpeza de crregos, iluminao pblica e arborizao.

    Quanto coleta seletiva, a Amma (Agncia Municipal do Meio Ambiente), em parceria com a COMURG, desenvolve o Projeto Goinia Coleta Seletiva, que ser desenvolvido em trs etapas. Na primeira delas, sero distribudos pela cidade Pontos de Entrega Voluntria (PEV), que, alm dos materiais reciclveis, possuem um compartimento para disposio de resduos eletrnicos, baterias e pilhas. Depois, o setor pblico vai se adequar para fazer a separao dos materiais. Na ltima fase, a prefeitura cadastrar as residncias que tm interesse em participar da coleta domiciliar em que o caminho busca os resduos reciclveis, encaminhando-os para os centros de triagem.

    Remunerao dos servios

    De acordo com o Cdigo Tributrio, Lei n 5.040 de 20 de novembro de 1975, Regulamento - Decreto n 2.273 de 13 de agosto de 1996, a cobrana pode ser efetuada por meio de taxas pela utilizao, efetiva ou parcial, de servios pblicos especficos e divisveis, prestados ao contribuinte ou aos postos sua disposio. Esto sujeitos incidncia da taxa a prestao compulsria do servio de coleta de lixo domiciliar, bem como a sua remoo e destinao final, pela prefeitura de Goinia, na rea urbana do municpio.

    A taxa ser lanada e cobrada, mensal ou anualmente, com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), facultando ao contribuinte o seu pagamento integral, em parcela nica ou parceladamente no mesmo exerccio financeiro a que se referir.

    No entanto, em 1996 foi solicitado um recurso ao STJ para proibir o lanamento da taxa alegando inconstitucionalidade, e dessa forma, ainda com o recurso em tramitao, o servio de limpeza urbana no cobrado. Desde ento, todo o servio de coleta de pequenos e grandes geradores executado pela COMURG, sem nenhum nus para a populao.

    No Dirio Oficial de 21 de agosto de 2009 do municpio de Goinia, o Secretrio de Finanas designou, em carter de urgncia, a elaborao de minuta do Decreto Regulamentador das competncias de fiscalizao, lanamento e cobrana da taxa incidente sobre a efetiva prestao do servio de limpeza de lotes pela prefeitura de Goinia.

  • 25SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Legislao Em Gois, a Lei no 14.248/2002, que dispe sobre a Poltica Estadual de Resduos Slidos, tem como princpios o gerenciamento integrado, por meio do Poder Pblico, produtores e demais segmentos da sociedade civil; a gradao de metas ambientais; a responsabilizao ps-consumo do produtor pelos produtos e servios ofertados; e a adoo do princpio do poluidor pagador.

    O texto tambm traz os instrumentos da Poltica Estadual de Resduos Slidos, como incentivos fiscais que estimulem a minimizao dos resduos, o licenciamento e a fiscalizao.

    Conforme determina o artigo 12, fica proibida a destinao de resduos a cu aberto, a queima em cu aberto, o lanamento em mananciais e cursos dgua, em redes de guas pluviais e esgoto.

    Quanto legislao municipal, a cidade segue o Cdigo de Posturas do Municpio de Goinia com a Lei Complementar n 014, de 29 de dezembro de 1992, que, em seu Captulo I, trata das Disposies Preliminares da Higiene Pblica e, em seu artigo 3, estabelece que o zelo pela higiene pblica de responsabilidade do Poder Executivo Municipal, visando melhoria do ambiente, sade e ao bem-estar da populao.

    Outro captulo relevante do Cdigo de Posturas do Municpio de Goinia quanto higiene pblica o Captulo VIII, que trata do Acondicionamento e da Coleta de Lixo. Assim, o artigo 26 diz que compete ao rgo responsvel pela limpeza urbana estabelecer normas e fiscalizar o seu cumprimento quanto ao acondicionamento, coleta, ao transporte e ao destino final do lixo.

    No artigo 27, institui a obrigatoriedade de acondicionamento do lixo em recipientes adequados para a sua posterior coleta.

    J a Lei Orgnica Municipal de Goinia institui ao municpio a competncia para prover os servios de limpeza das vias e dos logradouros pblicos, remoo e destino de lixo domiciliar e de outros resduos de qualquer natureza. Valendo-se ainda do artigo 12, competncia do municpio de Goinia, em comum com a Unio e com o Estado de Gois, proteger o meio ambiente e combater a poluio em qualquer de suas formas.

  • 26 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    3. Cenrio internacional

    Londres

    Caracterizao socioeconmica e demografia

    das cidades

    Prestao de servios de limpeza urbana

    A gerao de resduos slidos domsticos em Londres da ordem de 4,2 milhes de toneladas por ano. A prefeitura de Londres no responsvel diretamente por sua coleta, sendo os responsveis quatro autoridades locais, conforme segue:

    East London Waste Authority (ELWA);

    North London Waste Authority (NLWA);

    West London Waste Authority (WLWA); e

    Western Riverside Waste Authority (WRWA).

    Como exemplo de prestao de servio, podemos citar a Shanks Waste Services Limited, que responsvel pela gesto de todo o resduo slido produzido por Londres Leste (ELWA) e seus quatro distritos. Isso inclui os resduos gerados por famlias e pequenas empresas, os de varrio de rua e tambm os depositados por entes pblicos. No perodo de 2006/07, o total de resduos foi de aproximadamente 500.000 toneladas. Uma parte dos resduos gerados reciclada ou segue para compostagem, reduzindo a quantidade de resduos slidos destinados aos aterros sanitrios.

    Legislao uma exigncia legal que a prefeitura de Londres acompanhe as estratgias das autoridades locais. Entre essas estratgias, deve ser estabelecido um plano para gesto dos resduos slidos urbanos. Cada plano deve ser coerente com a diretriz geral da cidade e deve integrar o planejamento para todos os setores. O presente Plano de Londres foi publicado em fevereiro de 2008 e tem o trmino previsto entre 2025 e 2026.

    O GLA (Greater London Authority) Act 2007 refora os poderes da prefeitura com relao sua estratgia de gesto de resduos slidos urbanos. Em sua seo 37, exige que as autoridades locais responsveis pela gesto dos resduos selecionados pela prefeitura atuem em conformidade geral com a estratgia do prefeito, com a ressalva de que o cumprimento dessa estratgia municipal no poder impor um custo excessivo sobre os agentes selecionados.

    H quase dois milnios, Londres, capital da Inglaterra e do Reino Unido, um dos maiores centros financeiros do planeta. uma cidade que tem grande participao na poltica, na cultura, no entretenimento, na moda e nas artes do mundo; portanto, caracteriza-se como uma cidade global.

    Com uma superfcie total de 1.579 km2 e com 33 distritos (incluindo a cidade), Londres, ou Grande Londres, conta com 8.278.251 habitantes.

  • 27SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Contratos O Greater London Authority Act de 1999 atribui prefeitura de Londres a responsabilidade sobre as empresas de gesto de resduos slidos urbanos contratadas. O prefeito pode executar a reviso dos contratos das empresas do setor de resduos, no exerccio das suas funes, de acordo com as partes II e IV do Environmental Protection Act de 1990, para os seguintes tipos de servios:

    Coleta dos resduos slidos;

    Destinao final dos resduos slidos;

    Operaes em comemoraes cvicas;

    Reciclagem (coleta, tratamento e processamento); e

    Limpeza das ruas.

    uma tendncia para a cidade de Londres incluir no mesmo contrato diferentes servios que uma mesma empresa de gerenciamento de resduos slidos urbanos pode prestar.

    Os contratos, que particularmente integram coleta e destinao final dos resduos slidos, tm a durao mdia de 20 anos, porm so flexveis para incorporar o conceito de Best Value, que visa s melhores prticas disponveis e melhoria contnua dos processos. Muitas vezes, os contratos so de longo prazo, para viabilizar a escala de investimento necessria na gesto de resduos slidos e limpeza urbana. As autoridades londrinas devem demonstrar porque optaram pelo determinado pacote no contrato de prestao dos servios de gesto dos resduos slidos urbanos, de acordo com os princpios do Best Value, durante toda a sua vigncia.

    Em dezembro de 2002, a autoridade local de Londres Leste (East London Waste Authority - ELWA) assinou um contrato de prestao de servios de 25 anos de durao com a Shanks Waste Services Limited empresa que responsvel pelas atividades de coleta e destinao final. Em 1992, a autoridade local de Londres Norte (North London Waste Authority - NLWA) realizou um processo de joint venture com a empresa Waste Company para a gesto dos resduos slidos. A durao desse contrato ser at 2014.

    Os resduos slidos de Londres Oeste so geridos pela prpria autoridade local (West London Waste Authority - WLWA), que responsvel pela coleta e destinao final de seus seis distritos: Brent, Ealing, Harrow, Hillingdon, Hounslow e Richmond-upon-Thames.

    A Western Riverside London Authority - WRLA tem um acordo de 30 anos de durao, desde 2002, com a empresa Cory Environmental para a gesto dos resduos slidos.

  • 28 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Tributos Desde a implementao da taxa sobre resduos slidos, em outubro de 1996, os custos de coleta, tratamento e disposio final dos resduos londrinos tm aumentado, incorporando alguns dos custos externos. A autoridade responsvel pela gesto dos resduos slidos em Londres arrecadou cerca de 42 milhes por meio desse tributo no ano fiscal de 2001/02. Alm da taxa sobre resduos slidos, tambm foi ampliado o crdito sobre a reciclagem, que concedido pelos agentes responsveis pela destinao final aos agentes responsveis pela coleta, contribuindo para tornar a reciclagem economicamente atraente.

    A principal barreira para a ampliao de progressos na reciclagem o custo. Aterros e incinerao so muito mais baratos, especialmente porque os preos no refletem os custos sociais externos. Transpor essa barreira fundamental, e as medidas introduzidas pelo governo municipal de Londres pretendem contribuir para corrigir essa distoro.

    Landfill Allowance Trading Scheme

    O Landfill Allowance Trading Scheme (LATS) introduz alteraes significativas e inovadoras na poltica de resduos slidos da Inglaterra e tem como objetivo uma reduo da quantidade de resduos urbanos biodegradveis (Biodegradable Municipal Waste - BMW) nos aterros sanitrios a um custo eficaz. As metas dessa diretiva com relao aos resduos so:

    75% de reduo da gerao de BMW at 2010 em relao a 1995;

    50% de reduo da gerao de BMW at 2013 em relao a 1995; e

    35% de reduo da gerao de BMW at 2020 em relao a 1995.

    Em cada ano do regime (de 1 de abril a 31 de maro), as autoridades responsveis pela gesto dos resduos slidos podem destinar para os aterros sanitrios a quantidade de BMW estabelecida por suas permisses (allowance). Uma permisso equivale a uma tonelada de BMW destinada a um aterro sanitrio. Essas permisses podem ser comercializadas, ou seja, as autoridades que utilizaram menos do que as permisses podem vend-las para aquelas que utilizaram mais do que as permisses que tinham.

  • 29SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Roma

    Caracterizao socioeconmica e demografia

    das cidades

    Prestao de servios de limpeza urbana

    O grupo AMA conta, atualmente, com mais de 6.300 empregados e o principal operador italiano na gesto integrada de servios ambientais. Todos os dias, gerencia servios de saneamento urbano em toda a cidade de Roma, cuidando da limpeza de estradas e de todos os servios necessrios para gerir o ciclo de vida de coleta de resduos, tratamento, destinao final, reciclagem e valorizao energtica.

    Roma paga um preo relativamente baixo para a destinao de seus resduos em aterro. Tem um aterro operado por uma empresa privada, chamado Malagrotta, o maior da Europa. O custo real do aterro 42 euros/ton, acrescido de um imposto ambiental regional de 30 euros/ton. Esse valor inferior em relao mdia das demais cidades italianas: 120 euros/ton no norte da Itlia e 80 - 100 euros/ton no sul.

    Com sua populao de 2.724.347 habitantes espalhados por uma rea de 1.285 km, a capital e a cidade mais populosa da Itlia. Roma est situada no meio da costa oeste italiana, cerca de 20 km para o interior. Sua popularidade se deve ao fato de ter sido, durante a sua histria milenar, a capital do Imprio Romano e o corao do cristianismo catlico. Em seu centro histrico, a sobreposio de construes de quase trs milnios foi includa na lista de Patrimnio Mundial da UNESCO.

    As alteraes nos processos demogrficos, sociais, econmicos e arquitetnicos constituem as principais dimenses de mudana urbana. As transformaes nessas dimenses esto relacionadas com o boom imobilirio que moldou sua rea metropolitana, impulsionado pelo turismo e pelo crescimento do setor tercirio privado. Esse boom imobilirio tem como consequncia a formao de uma zona suburbana, ocupada principalmente pela populao de baixa renda.

    Em Malagrotta, existe uma usina de gaseificao em fase de testes, que a primeira incineradora a utilizar a tecnologia de gaseificao na Europa. Essa usina tem uma capacidade para queimar 500 toneladas por dia, alm de produzir energia, e sua entrada em operao completa est prevista para o final de 2009. Atualmente, o aterro de Malagrotta produz eletricidade por meio da captao e queima do biogs.

    A AMA tambm opera outras usinas: a usina de compostagem de Maccarese, com uma capacidade para tratar 30.000 toneladas de resduos provenientes de diferentes fontes de resduos orgnicos, como resduos de cozinha, reas verdes e resduos de mercados. J na usina de reciclagem de Rocca Cencia, so recuperadas 1.200 ton/dia de metais, plsticos, vidro e papel, produzindo compostos de SRF (Smaltimento Rifiuti Sanitari/ Disposio de Resduo Sanitrio) e matria de compostagem adequada para fazer a cobertura do aterro. Na pequena usina incineradora de Colleferro, queimam-se 500 toneladas dirias de SRF produzido em Rocca Cencia.

  • 30 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Legislao Na Itlia, no existe uma estratgia pblica, e sim o uso da lei para estabelecer o que ou no permitido fazer no setor de prestao de servios relacionados a resduos slidos. Algumas leis estabelecem metas, que o mais prximo que a Itlia chega de uma estratgia para o setor.

    O Decreto Legislativo 152, de 3 de abril de 2006, a principal lei que estabelece o modo como os resduos devem ser geridos, regulamenta as autorizaes para os geradores de resduos e impe metas para reciclagem. Foi modificado em parte pelo Decreto Legislativo nmero 04 de 2008.

    A meta nacional para reciclagem de 65% at 2013 e seu cumprimento exigido para todos os cidados; caso contrrio, ser cobrada uma multa. Alm disso, todos os resduos de embalagens so sujeitos a um imposto ambiental, a ser pago para um consrcio de embalagem chamado CONAI. Esse imposto utilizado para pagamento pela recuperao e reciclagem das embalagens.

    A Itlia tem cumprido todos os objetivos da Unio Europia (UE) para a recuperao de resduos de embalagens.

    Outros resduos so regulados por leis nacionais, que so essencialmente leis italianas relativas s diretivas da UE. Por exemplo, a lei para a reciclagem de resduos eletrnicos, que entrou em vigor em 2008, a legislao para veculos em fim de vida, que deve entrar em vigor ainda este ano, e a diretiva europia de resduos, que entrou em vigor na Europa desde novembro do ano passado e deve ser incorporada ao direito italiano no prazo de dois anos. Essa diretiva europia de resduos estabelece metas, sobretudo para a reduo da gerao de resduos e para reciclagem global.

    O decreto sobre aterros sanitrios (nmero 36 de 2003) estabelece metas para a reduo de resduos orgnicos depositados em aterros, assim como uma adaptao para o direito italiano de uma diretiva da UE para aterros sanitrios.

    Roma ter dificuldades para atingir as metas estabelecidas, uma vez que demasiadamente dependente da utilizao de aterros para a disposio final de seus resduos, com ou sem tratamento. Na realidade, mais de 70% dos resduos vo para o aterro Malagrotta prximo cidade, cerca de 3.500 toneladas por dia. O restante encaminhado para o incinerador de Colleferro e para reciclagem. Dessa forma, a populao percebe que necessrio um aumento na quantidade reciclada e receia o final da vida til do aterro de Malagrotta.

  • 31SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Tributos Nos termos da legislao municipal, todos os resduos produzidos na jurisdio de Roma so de monoplio da sua empresa municipal, AMA Roma. Nenhuma outra operadora pode cobrar, transportar ou prover a destinao final dos resduos, a menos que autorizada pela AMA Roma.

    A taxa de resduos para habitaes privadas calculada com base na rea da residncia, incluindo reas de garagens, terraos, jardins ou pores, e no nmero de residentes. O nmero de habitantes calculado por residncia pela prefeitura de Roma e atualizado duas vezes por ano, antes da cobrana. Os cidados podem calcular a taxa pelo site da empresa na Internet.

    Um apartamento de 80m2 em Roma, ocupado por trs pessoas paga, aproximadamente, 250,00 por ano. Essa taxa serve para cobrir os custos fixos de limpeza urbana e lavagem de estradas, sade ambiental e atividades de gesto de resduos de qualquer natureza ou origem e um custo varivel ligado quantidade de resduos gerados, coletados e tratados at a destinao final.

    Clientes no domsticos

    Empresas e indstrias tambm pagam AMA uma taxa calculada sobre resduos gerados, resduos esses denominados especiais. A coleta dos resduos provenientes das diversas fontes frequentemente ocorre de forma conjunta.

    Portanto, muito difcil calcular a quantidade de resduos especiais, que muitas vezes podem ser subsidiados por usurios domsticos.

    Oramento O municpio de Roma deixou de pagar diretamente AMA pelos servios de limpeza urbana e gerenciamento de resduos slidos, que so cobrados diretamente da populao e das empresas.

    Em 2007, Roma produziu cerca de 2.000.000 toneladas de resduos. O oramento total da AMA para 2008 foi de cerca de 550.000.000.

    Contrato Como a AMA uma empresa pblica, todos os seus procedimentos devem ser realizados por meio de concurso pblico e licitaes. Por ser um monoplio da municipalidade, a taxa de resduos, aplicada a agentes pblicos e privados, objeto de deciso financeira e poltica.

    Todavia, a AMA Roma enfrenta dificuldades na arrecadao da taxa de resduos de muitos usurios pblicos e privados, incluindo as entidades estatais, e, como resultado, regularmente o oramento da empresa deficitrio, requerendo injees financeiras peridicas por parte do municpio de Roma.

    Fiscalizao A AMA Roma sujeita auditoria como qualquer outra empresa no mbito da legislao italiana e tambm objeto de monitoramento para acompanhar os servios pblicos prestados. Alm disso, elabora anualmente um relatrio sobre as condies e os custos de seus servios.

  • 32 Gesto da Limpeza Urbana Um investimento para o futuro das cidades

    Tquio

    Caracterizao socioeconmica e demografia

    Responsabilidades sobre a gesto de resduos slidos domiciliares

    A responsabilidade para a disposio adequada de resduos domsticos no Japo incide sobre os governos municipais. Assim, cada provncia elabora um plano de destinao desses resduos. No entanto, existe a possibilidade de participao dos moradores no que diz respeito destinao dos resduos e na elaborao e reviso desse plano. O processo de tratamento intermedirio dos resduos (como incinerao), antes da eliminao permanente dos produtos residuais desse processo, tambm abordado nesse plano. Alguns municpios dispem das fases de tratamento intermedirio e disposio final em sua localidade, enquanto outros estabelecem parcerias.

    Com relao aos resduos industriais, a responsabilidade de destinao final adequada das empresas geradoras. Quando uma empresa incapaz de tratar os seus prprios resduos industriais, deve terceirizar essa tarefa.

    Gerenciamento dos resduos slidos em Tquio

    O volume total dos resduos domsticos produzidos na regio metropolitana de Tquio no ano fiscal de 2006 foi de 4,97 milhes de toneladas. De acordo com a metodologia de classificao adotada, os resduos domsticos podem ser classificados em: resduos combustveis, resduos no combustveis, oversized garbage e reciclveis. Resduos combustveis representam 46% do volume total dos resduos domsticos.

    Tquio tem 12.064.101 habitantes, cerca de 10% da populao do pas, e a sua rea metropolitana apresenta mais de 31,2 milhes de habitantes, o que a torna a maior rea urbana do mundo.

    Embora Tquio seja considerada uma das mais importantes, movimentadas e densamente habitadas cidades do mundo, ela no tecnicamente uma cidade. No h no Japo uma cidade chamada Tquio. Na verdade, Tquio designada como uma metrpole e constituda de 23 subrbios, 26 cidades primrias, cinco cidades secundrias e oito vilas diferentes. Cada uma delas tem um governo que opera no mbito regional. Tambm fazem parte de Tquio pequenas ilhas no Oceano Pacfico, localizadas a mais de mil quilmetros ao sul, nos subtrpicos. Tquio uma das 47 provncias do Japo.

  • 33SELUR ABLP PricewaterhouseCoopers

    Coleta, tratamento intermedirio e reciclagem

    Em cada subrbio, os resduos domsticos so recolhidos de acordo com o dia da semana estabelecido para cada rea e tipo de resduo. Os reciclveis (inclusive vidro, latas, papel usado e as garrafas PET) so coletados e destinados s respectivas indstrias de reciclagem.

    Os resduos combustveis so totalmente incinerados em instalaes que operam de acordo com normas sobre reduo volumtrica dos resduos e controle sanitrio. Em 70% das instalaes de incinerao, a potncia gerada por meio de energia trmica proveniente da prpria incinerao. O Conselho de Gesto de Resduos de Tquio e seus 23 subrbios tm a responsabilidade da destinao das cinzas remanescentes dos incineradores. Aps a incinerao, so usualmente aplicadas como escria, material para obras de construo civil. Os resduos no combustveis e oversized garbage ainda esto sujeitos fragmentao, triagem e a um processo de recuperao dos recursos antes de serem enviados para a destinao final em um aterro.

    O TMG (Tokyo Metropolitan Government) considera as especificidades de cada localidade e fornece apoio tcnico e financeiro para melhoria nos aterros nas ilhas metropolitanas. Alm disso, a TMG tem como responsabilidade a inspeo regular nas instalaes que fazem parte do gerenciamento municipal dos resduos slidos domiciliares. J os governos municipais do Japo so responsveis pela limpeza de seus distritos administrativos. Portanto, os bairros, as cidades, as vilas e at as aldeias devem estabelecer os seus prprios programas para uma limpeza pblica e execut-los.

    Preveno de lixes ilegais O TGM dispe de regulamentaes bastante restritivas para controlar a destinao final dos resduos. Com o objetivo de erradicar a disposio de resduos em lixes ilegais so realizadas patrulhas que cobrem toda a regio metropolitana de Tquio. Entretanto, apesar desses esforos, a disposio ilegal de resduos ainda persiste. Estima-se que os resduos de constru