ética e secretariado

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PAULA RODRIGUES ALMEIDA

ANLISE DA PERCEPO DA TICA NA PROFISSO DE SECRETARIADO EXECUTIVO: UM LEVANTAMENTO NA CIDADE DE MURIA MG.

MONOGRAFIA

Universidade Federal de Viosa Viosa MG Brasil 2007

Universidade Federal de Viosa Centro de Cincias Humanas, Letras e Artes Departamento de Letras

ANLISE DA PERCEPO DA TICA NA PROFISSO DE SECRETARIADO EXECUTIVO: UM LEVANTAMENTO NA CIDADE DE MURIA MG.

Monografia apresentada ao curso de Secretariado Executivo Trilinge, do Departamento de Letras, do Centro de Cincias Humanas Letras e Artes, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Secretariado Executivo Trilinge. Orientadora: Dbora Carneiro Zuin.

VIOSA 2007

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PAULA RODRIGUES ALMEIDA

ANLISE DA PERCEPO DA TICA NA PROFISSO DE SECRETARIADO EXECUTIVO: UM LEVANTAMENTO NA CIDADE DE MURIA MG.

Monografia apresentada ao curso de Secretariado Executivo Trilinge, do Departamento de Letras, do Centro de Cincias Humanas Letras e Artes, como requisito parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Secretariado Executivo Trilinge.

Aprovada em ___ de Fevereiro de 2007.

COMISSO EXAMINADORA

_____________________________________ Prof. Dbora Carneiro Zuin Departamento de Letras Universidade Federal de Viosa Orientadora

____________________________________ Prof. Odemir Vieira Baeta Departamento de Letras Universidade Federal de Viosa

________________________________Prof. Afonso Augusto T. de F. de C. Lima Departamento de Administrao Universidade Federal de Viosa Nota: _______

III

AGRADECIMENTOS

Agradeo a Deus pela fora. Aos meus pais pelo carinho e por serem meu exemplo de vida. s minhas irms pela presena e amizade. Ao meu filho, Guilherme, por ser minha maior alegria e minha fora. professora Dbora, que com pacincia me orientou, me dando todo o aparato necessrio para a concluso deste trabalho. todos aqueles que de forma direta e indireta, contriburam de forma significativa para a realizao deste trabalho. A todos os meus familiares e amigos pela torcida!

IV

SUMRIO

1. INTRODUO ......................................................................................8 2.JUSTIFICATIVA...................................................................................10 3.OBJETIVOS..........................................................................................11 3.1Objetivo Geral.......................................................................................11 3.2 Objetivos Especficos...........................................................................11 4. METODOLOGIA.................................................................................12 5. DESENVOLVIMENTO.......................................................................13 5.1 tica: Etimologia..................................................................................13 5.1.2. A tica como criao histrico-cultural...........................................15 6. HISTRICO DA TICA.....................................................................19 6.1. Scrates................................................................................................19 6.1.2. Plato................................................................................................20 6.1.3. Aristteles.........................................................................................21 6.2.A tica na Idade Mdia.........................................................................22 6.3.O cristianismo e a tica.........................................................................22 6.4. A tica na Idade Moderna ...................................................................23 6.4.1. A tica Kantiana................................................................................25 6.5. tica e a Idade Contempornea............................................................26 6.6. tica e o Neoliberalismo......................................................................28 6.7. A tica Profissional.............................................................................30 7. A PROFISSO DE SECRETARIADO EXECUTIVO.....................33 7.1. Secretrio/Chefe...................................................................................35 7.2. Secretrio/Cliente.................................................................................35 7.3. O controle de agendas..........................................................................36 7.4. As informaes sigilosas......................................................................36 7.5. Secretrios/Colegas..............................................................................36 7.6.O processo de comunicao..................................................................37 7.7.A gesto de documentos.......................................................................37 7.8. Etiqueta................................................................................................38

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8. ANLISE DOS QUESTIONRIOS...................................................40 9. CONCLUSO.......................................................................................55 10. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..............................................57 11. ANEXO................................................................................................59 Anexo 1 Cdigo de tica dos profissionais de Secretariado...................60 12. APNDICES.......................................................................................65 Apndice 1 Modelo de questionrio aplicado a Secretrias Executivas..66 Apndice 2 Modelo de questionrio aplicado aos Chefes.......................69 Apndice 3 Modelo de questionrio aplicado aos Colegas de Trabalho. 73

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LISTA DE GRFICOS

GRFICO 1 Sexo e faixa etria .............................................................42 GRFICO 2 Empresa de atuao ...........................................................43 GRFICO 3 rea em que atua................................................................44 GRFICO 4 Tempo de atuao na empresa............................................45 GRFICO 5 Conhecimento sobre o cdigo de tica dos profissionais de Secretariado...........................................................................................46 GRFICO 6 Relacionamento com os(as) secretrios(as).......................47 GRFICO 7 Nas relaes interpessoais .................................................48 GRFICO 8 - Como facilitador da comunicao......................................50 GRFICO 9 Tarefas delegadas...............................................................51 GRFICO 10 Situao antitica no local de trabalho.............................52 GRFICO 11 Informaes sigilosas.......................................................53 GRFICO 12 Postura tica das secretrias.............................................54

VII

1. INTRODUO

Analisar a tica no mundo atual, inserida em todas as instituies que compem a sociedade se tornou um dos assuntos mais urgentes, visto que essa exerce fundamental importncia para o equilbrio da sociedade e para a manuteno de relacionamentos interpessoais. No entanto, o que se tem visto ultimamente so denncias de roubos, fraudes, lutas, guerras e violncia, deixando claro que a sociedade atual vem sofrendo uma forte crise tica. Segundo Lucca1 ([2004?], p. 1) o neo-liberalismo e a modernidade tm relao estreita com a crise da tica. Eles levam a uma sociedade consumista, o que vai contra todos os preceitos ticos porque exclui as massas. A preocupao com essa crise tica, com a inverso de valores, tem sido tema de vrios estudiosos que tentam resgatar valores ticos universais como a solidariedade, a justia, o respeito e a honestidade ou tentam entender o que leva milhes de cidados a agirem em nome da violncia e do individualismo no contexto atual. No contexto das profisses tambm no diferente. Os profissionais, muitas vezes, agem para obterem lucros, status e se esquecem do carter social e tico de suas profisses. Nesse sentido analisar a profisso de Secretariado Executivo dentro desse mesmo cenrio, tambm se torna importante. A profisso de Secretariado tem se tornado cada vez mais uma profisso de destaque nas organizaes em geral, devido importncia do papel desse profissional como facilitador dos processos de comunicao e por exercer o papel de assessor, participando ativamente das tomadas de deciso.1

http://www2.uol.com.br/debate/1178/cidade/cidade07.htm

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No entanto, como cresceu a importncia do papel desses profissionais, cresceu tambm a necessidade de ter responsabilidade e comprometimento com os princpios que regem a profisso e com o local onde estes esto inseridos. O Secretrio Executivo exerce uma funo delicada, este tem acesso a informaes sigilosas, lidam com um nmero grande de pessoas, cada uma com personalidades e temperamentos diferentes, exercem o papel de elo entre os clientes e os chefes. Por isso, a postura discreta, a conscincia tica e o agir pautados no cdigo de tica da profisso so atributos indispensveis a estes profissionais. absolutamente indispensvel que a secretria rena um mnimo de senso tico em seus usos e costumes, tratando-os sobriamente, cuidando para que seu linguajar seja composto de vocabulrio digno, respeitoso e adequado sua posio na empresa. (GLEICY e LETCIA, 2001, p.15)2.

Portanto o foco desse trabalho analisar a conduta desses profissionais no exerccio da profisso tendo como base os princpios ticos universais e o cdigo de tica para Secretrias, levando sempre em considerao as caractersticas da sociedade atual na qual estamos inseridos.

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www.univap.br/biblioteca/secretariado2001/tgs/poder.pdf

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2. JUSTIFICATIVA

O presente trabalho justifica-se pela necessidade de se analisar a postura tica dos profissionais de Secretariado Executivo, atuantes nas mais diversas reas, na cidade de Muria. Essa anlise de extrema importncia, visto que a prtica dessa profisso envolve uma srie de funes que para serem desempenhadas necessitam de uma forte base tica, fundamentada nos valores ticos universais e no cdigo de tica da profisso. Este estudo ainda torna-se relevante, j que a sociedade na qual este profissional est inserido esta passando por uma forte crise tica. Assim a manuteno de uma prtica profissional tica torna-se um desafio para esses profissionais.

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3. OBJETIVOS

Objetivo geral:

Analisar a postura de profissionais de Secretariado Executivo no

exerccio da profisso, na cidade de Muria MG, e verificar se esta postura condizente com os preceitos descritos no Cdigo de tica para Secretrias e com os valores ticos universais que regem a vida em sociedade.

Objetivos especficos:

Conceituar a palavra tica, bem como, todos os aspectos que

nela esto envolvidos; Definir a tica profissional; Fazer um breve histrico da profisso de Secretariado

Executivo, ressaltando as mudanas de perfil da profisso ao longo do tempo; ticos; Verificar a tica nos profissionais de Secretariado Executivo, na Identificar algumas das vrias funes e aspectos da profisso

de Secretariado, que exigem, por parte dos secretrios, slidos princpios

cidade de Muria, por meio do comportamento que esses possuem; Verificar a necessidade do conhecimento, por parte dos

profissionais de Secretariado Executivo, do Cdigo de tica para Secretrias.

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4. METODOLOGIA

Esta pesquisa descritiva foi realizada atravs de uma reviso bibliogrfica sobre o assunto proposto. Em cunho quantitativo validou-se a tcnica de levantamentos de dados e observaes sistemticas atravs da aplicao de questionrios. Como bibliografia utilizou-se, para fundamentar a pesquisa, os conceitos de tica de alguns autores. Em seguida relatou-se a histria da tica desde a Antiguidade, at a sociedade atual. Logo aps foi realizado um histrico da profisso de Secretariado ressaltando as atividades especficas do profissional dessa rea, bem como a importncia da presena deles dentro das organizaes. Para o levantamento de dados foi escolhida a cidade de Murie, por ser a cidade natal do pesquisador e pelo interesse do mesmo em verificar o trabalho e a postura dos profissionais de Secretariado Executivo nessa cidade. A pesquisa foi aplicada quatorze (14) Secretrias Executivas, 14 (quatorze) colegas de trabalho dessas secretrias e 14 (quatorze) chefes dessas secretrias, atuantes dos mais diversos setores no mercado de trabalho, distribudos entre as reas de educao, comrcio, indstria e outros. A diversidade de reas escolhidas permitiu a anlise da conduta tica desses profissionais em ambientes distintos. A aplicao dos questionrios colegas de trabalho e aos chefes possibilitou tambm a anlise da postura tica das secretrias sobre diferentes ngulos o que enriqueceu ainda mais a pesquisa.

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5. DESENVOLVIMENTO

5.1. tica: Etimologia

tica, do grego, ethos, com a vogal longa, significa costume. Ethos, com a vogal breve, significa carter, ndole natural, temperamento, conjunto das disposies fsicas e psquicas de uma pessoa. (CHAUI, 1996, p. 340). Conjunto de princpios e valores universais que regem as relaes interpessoais. (SOUZA & RODRIGUES, 1994, p. 13). J Abbagnano (1982) afirma que a tica a cincia da conduta humana e que h duas concepes para tal cincia. A primeira que tambm defendida por Aristteles e So Toms, refere-se cincia do fim a que a conduta dos homens deve se dirigir. A segunda a considera como a cincia do mvel da conduta humana e procura determinar tal mvel com vistas a dirigir ou disciplinar a mesma conduta. tica, ainda definida por Arruda et. al. (2003) como sendo uma cincia prtica de carter filosfico, j que como filosofia, ela tem o papel de conhecer, analisar e questionar os atos humanos e como cincia prtica tem o papel de aplicar suas teorias na prtica cotidiana dos atos humanos. S unindo a teoria prtica que a tica tem realmente valor. Mas, mesmo havendo vrias definies para a palavra tica, percebe-se que esta est intimamente ligada conduta humana, ao estudo do comportamento do homem perante as variadas situaes de sua vida, a fim de criar e estabelecer normas para esses comportamentos que favoream a harmonia nas relaes humanas, buscando sempre a diminuio da violncia e o alcance do bem e da felicidade.

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No entanto, a tica exige a juno de uma srie de fatores para que seja realmente praticada. Dentre vrios desses fatores, encontra-se a conscincia moral e o agente consciente. Segundo Chaui (1996, p. 337)[...] o agente consciente aquele que conhece a diferena entre bem e mal, certo e errado, permitido e proibido, virtude e vcio. A conscincia moral no s conhece tais diferenas, mas tambm reconhece-se como capaz de julgar o valor dos atos e das condutas e de agir em conformidade com os valores morais, sendo por isso responsvel por suas aes e seus sentimentos e pelas conseqncias do que faz e sente.

O sujeito consciente tambm livre, a sua vontade livre. Portanto, para que haja tica, a vontade precisa ser boa, pois se ela for m a ao tambm ser m. Por isso, a tica ainda pressupe a existncia de um sujeito livre, mais racional, capaz de direcionar a vontade para o bem. De acordo com Chaui (1996, p. 342) a racionalidade conduz o homem para a vida virtuosa que agir em conformidade com a razo, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade at ele. No entanto, ainda nesse processo de definio, outro questionamento colocado. O que seria realmente o bem, o que leva algo ou alguma atitude ser considerada como boa ou m? O que seria a felicidade? Vrios filsofos classificaram a tica, o bem e a felicidade de formas diferentes. Segundo Arruda et. al. (2003), [] a felicidade uma certa atividade da alma de acordo com a virtude. A virtude, de acordo com Houaiss (2004, p. 2870) hbito adquirido ou tendncia inata para as boas aes. ... O bem est associado natureza das coisas ou dos seres. (Arruda et al., 2003, p. 46). Partindo dessa classificao de felicidade, virtude e bem, percebe-se que estes no podem ser definidos de forma generalizada, visto que eles esto ligados a alma, sendo algo particular e nico do ser humano. Dentro desta concepo, cada indivduo, durante as experincias de sua vida, passa por um processo de autoconhecimento, imprescindvel para que este possa saber quais so suas necessidades, suas tendncias e inclinaes; e a partir da, perceber, qual o bem que est intimamente ligado sua natureza. Assim, o homem passa a dirigir sua conduta, a fim de

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alcanar suas necessidades pessoais. Somente com esse processo o homem atinge a sua felicidade.O homem consciente do que ele por natureza, busca a felicidade perfeita. A perfeio no somente o bem, mas o bem do prprio homem, isto , o bem conhecido, amado e degustado com plena conscincia da sua convenincia para com o fim de sua natureza. (Arruda et al., 2003, p.46).

Na composio dessa natureza interna, encontram-se nossos instintos, nossos desejos e vontades que nos movem, no entanto, esses aspectos nem sempre podem vir tona. Do ponto de vista tico, somos seres (fruto da nossa natureza) sociais, formamos laos afetivos e necessitamos dos outros para viver, por isso, precisamos adequar nossa natureza a realidade humana; precisamos aprender a buscar a nossa felicidade, a realizao da nossa natureza, respeitando tambm as particularidades do outro. Tambm do ponto de vista tico, somos sujeitos livres, mais a nossa liberdade tem que ser praticada de forma que esta no prejudique a liberdade do outro. com o propsito de se manter as liberdades de cada um e o equilbrio da sociedade que foram tambm criadas, pelo homem, diversas leis, que tm a funo de manter a ordem da sociedade atravs da criao de normas que regem a conduta de todos. Segundo Arruda et al. (2003, p. 46) Pode-se dizer que a principal fonte da tica a realidade humana, na qual a razo encontra e conhece os princpios morais, universais e certos. Portanto, a realidade o palco onde a tica pode ser realmente aplicada, onde todos os cidados precisam viver livremente, de acordo com sua prpria natureza, mais tambm se adequando as leis da sociedade onde esto inseridos e acima de tudo respeitando a liberdade dos outros. 5.1.2. A tica como uma criao histrico-cultural

Toda sociedade possui seus costumes, suas normas e princpios. A partir deles, estabelece o que certo e errado, permitido e proibido, o bem e o mal. Assim, cada sociedade forma sua identidade, cria suas leis e seus valores ticos. Como a tica foi criada pelo homem, esta no pode ser observada sem que esteja inserida em uma determinada sociedade em uma poca da histria. A tica, segundo Chaui (1996) uma criao histrico-cultural.

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Cada sociedade determina o que a violncia, o que lcito e ilcito, o que o bem e a virtude. Por exemplo, as sociedades ocidentais consideram a poligamia um ato ilcito, portanto proibido e antitico. J para os orientais, a poligamia (para os homens) faz parte da cultura, dos costumes, e, portanto, no considerada como um ato ilcito, desde que esses homens possam manter um mesmo conforto, a mesma condio financeira para todas as mulheres que deseja possuir. A prpria violncia tambm caracterizada de maneira diferente de acordo com a sociedade. A nossa sociedade, por exemplo, considera como violncia, tudo aquilo que vai contra a natureza do indivduo. Para Chaui (1996, p. 337) a violncia o exerccio da fora fsica e da coao psquica para obrigar algum a fazer aquilo que contrrio a sua vontade, a sua natureza, causando assim, danos irreparveis para essa pessoa. Os valores ticos, portanto, variam de sociedade para sociedade. Dessa forma, como falar de uma tica que tange a universalidade? Uma tica que seja igual para todos? De acordo com Chaui (1996) [...] embora toda tica seja universal do ponto de vista da sociedade que a instituiu (universal porque seus valores so obrigatrios para todos os membros), est em relao com o tempo e a Histria. O que ocorre, na realidade, uma atualizao dos princpios e valores ticos, de acordo com a cultura, com a sociedade, para que esses possam continuar tendo validade. No entanto, embora cada sociedade institua seus valores ticos, existem alguns aspectos que so percebidos da mesma maneira, que por isso, formam o fundo tico comum a todas. A tica seja ela vista em qualquer sociedade, e em qualquer poca, visa diminuio da violncia, seja ela qual for, e a preservao do grupo social e da pessoa humana. A tica coloca o homem acima de tudo, condenando, portanto, tudo aquilo que fere a dignidade humana. Dessa forma, percebe-se que mesmo havendo diferenas, existem valores que so perenes e comuns a todas as mais variadas culturas. A tica, portanto, revela a maneira de pensar de um povo, a forma de agir e de ver o mundo. Como este mundo e o prprio homem vivem em constante mudana, se aperfeioando e se modificando, necessrio que tudo o que foi por ele criado o acompanhe nesse processo de evoluo, [...] transformando-se para responder a exigncias novas da sociedade e da Cultura, pois somos seres histricos e culturais e nossa ao se desenrola no tempo. (CHAUI, 1996, p. 338).

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Portanto, todos os valores ligados a preservao da dignidade do homem, do seu bem estar, so considerados, do ponto de vista da tica, valores universais. Alguns desses valores so: A conservao da dignidade humana e o combate a violncia: a tica condena tudo aquilo que fere a integridade fsica e psquica de algum. (CHAUI, 1996, p. 337). O respeito: Sentimento que leva algum a tratar outrem ou alguma coisa com grande ateno, profunda deferncia; considerao; reverncia. (HOUAISS, 2004, p. 2439). Como os homens so diferentes entre si, tendo personalidade diferente, cultura, cor, religio, sexo diferente, preciso que todos possam viver de forma livre dentro da mesma sociedade, sendo respeitados e valorizados independentes do que so. Liberdade: Todos os homens precisam ser livres ao mesmo tempo dentro de uma sociedade. O ser humano precisa, portanto, exercer sua liberdade de forma que esta no fira a liberdade do outro. Igualdade: Princpio segundo o qual todos os homens so submetidos lei e gozam dos mesmos direitos e obrigaes. (HOUAISS, 2004, p. 1569) Embora os indivduos sejam diferentes uns dos outros, preciso que todos tenham resguardados os mesmos direitos e deveres. Honestidade: Qualidade ou carter de honesto, atributo do que apresenta proibidade, honradez, segundo certos preceitos morais socialmente vlidos. (HOUAISS, 2004, p. 1549). Existem outros valores universais como: a justia, a solidariedade, a fraternidade, dentre outros que tambm compem as sociedades e preservam a integridade coletiva e individual. Todos esses valores e princpios so passados para os cidados e por eles absorvidos atravs das diferentes instituies que compem a sociedade. Instituies como a famlia, a poltica, o trabalho, a escola. A tica uma espcie de cimento na construo da sociedade: se existe um sentimento tico profundo, a sociedade se mantm bem estruturada, organizada [...]. (SOUZA e RODRIGUES, 1994, p.13). Quanto mais tica for a sociedade, e suas instituies, mais conscientes sero os indivduos, maior sero os valores interiorizados por eles, e consequentemente mais a sociedade se manter equilibrada.

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Nesse contexto, fica claro, a importncia das instituies acima citadas, para os indivduos, para sua formao integral, social e humana. Essas instituies tm o papel de transmitir e embutir os valores ticos, como o certo e o errado, o permitido e o proibido. Elas constroem a conscincia do indivduo. A famlia o alicerce da tica, pois se esta vive em harmonia e preserva os valores ticos, consequentemente, os indivduos desta famlia, principalmente, as crianas, tambm iro preserva-los e iro agir sempre pautados neles.O cidado proveniente de uma famlia onde os valores individuais so respeitados, onde o amor ensinado e vivido, onde o certo e o errado esto bem definidos, tem muito mais chances de estabelecer e praticar valores ticos na sociedade do que outro proveniente de famlias de pais separados, onde as brigas so constantes e o bem e o mal, o certo e o errado so relativizados. (GLEICY e LETCIA, 2001, p. 10)3.

A escola, a educao de forma geral, por sua vez, quando pautados na tica, proporciona a formao de sujeitos ativos, questionadores que visam um mundo e uma sociedade melhor para todos. A educao com base na tica se preocupa no somente com a formao tcnica dos indivduos, mais tambm, com sua formao como cidados. A educao tica acontece quando os valores no exerccio do ato de educar so valores humanos: a igualdade cvica, a justia, a dignidade da pessoa, a democracia, a solidariedade, o desenvolvimento integral de cada um e de todos. (GLEICY e LETCIA, 2001, p. 8)3. J a tica no trabalho propicia um ambiente mais saudvel e confortvel para se trabalhar. Um local de trabalho tico aquele onde os valores como a honestidade, respeito, imparcialidade e justia prevalecem. No entanto, para que os profissionais possam atuar preservando esses valores preciso que a sociedade em geral, tenha transmitido a eles, de forma eficiente, a importncia de se preservar esses valores e os adotar como base de conduta de vida. Os homens tm a formao do seu carter esculpido no desenrolar do tempo. As primeiras noes de tica nascem no seio da famlia. Depois vo sendo ampliadas nos bancos das escolas e na prpria convivncia social, (GLEICY e LETCIA, 2001, p. 10)3 at se estenderem tambm na vida profissional e em todos os outros segmentos. Portanto, a sociedade com todas as instituies que a compe, so importantes para a transmisso dos valores ticos e para a formao de indivduos conscientes.

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www.univap.br/biblioteca/secretariado2001/tgs/poder.pdf

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6. HISTRICO DA TICA

A seguir ser realizado um histrico da tica, desde a Antiguidade at os dias atuais. Para isso sero tambm citados alguns filsofos que foram relevantes para a conceituao e evoluo da definio de tica nas diferentes sociedades e contextos histricos. Ainda coube analisar como religio, o cristianismo, fundamental na formao do conceito de tica nas sociedades ocidentais. Por fim, relatou-se tambm a psicanlise, teoria que tambm provocou alteraes na definio e prtica da tica.

6.1. Scrates (470-399 a.c.)

A tica na Antiguidade foi conceituada de acordo com a viso de alguns filsofos, os quais iniciaram esse processo de anlise que se desenrolou no decorrer da histria. Scrates, filsofo grego, percorria praas e ruas de Atenas indagando a todos o que eram os valores e princpios que estes julgavam ser corretos. Scrates indagava o que era o bem, a virtude, a justia. Suas perguntas provocavam fria nas pessoas, pois, esses no sabiam as respostas e esperavam que ele as tivesse, no entanto Scrates tambm no as tinha. Da surgiu famosa frase socrtica Sei que nada sei. Atravs desse mtodo, Scrates percebia que as pessoas confundiam os valores com os fatos constatveis. Diziam por exemplo, que a coragem era o que tinha feito fulano em uma

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determinada guerra. Ou ainda, diziam que era certo fazer tal ao, pois, seus antepassados assim haviam feito. Scrates convidava as pessoas a iniciarem, em sua companhia, a busca pela essncia de todas as coisas. Convidava as pessoas junto com ele descobrirem o que eram os valores e princpios ticos; os costumes; e o porque da existncia deles. Scrates no tinha as respostas para o que era o bem e a felicidade, mais interrogava os indivduos para saber se esses tinham conscincia do que era. De acordo com CHAUI (1996, p. 341) para Scrates somente aqueles que conheciam a essncia das suas atitudes e das coisas, somente aqueles que sabiam quais eram os objetivos de suas aes e a causa delas que poderiam viver virtuosamente. Scrates no deixou nada escrito, tudo o que se tem a seu respeito foi deixado por seus discpulos, principalmente por Plato.

6.1.2. Plato (427-347 a.c.)

Filsofo grego, discpulo de Scrates, deixou Atenas aps a morte de seu mestre, retornando somente quarenta anos depois. Durante esse perodo, correu o mundo, conhecendo vrias culturas e sociedades, adquirindo assim, uma carga enorme de conhecimento e sabedoria. Nos dilogos que deixou, os quais eram uma mistura de filosofia e poesia, metforas e ironias, Plato defendia a idia de que todo o homem busca a felicidade. No entanto, para Plato, a felicidade no estava nos prazeres mundanos, ao contrrio, estava na imortalidade da alma, na vida aps a morte. Durante a vida, no entanto, o homem deveria alcanar o Sumo bem, que era viver sempre virtuosamente, ou seja, em ordem, em harmonia consigo e com os outros. Uma sociedade de homens justos seria, portanto, um grupo altamente harmonioso e eficiente; pois cada elemento estaria em seu lugar, executando sua funo apropriada como os integrantes de uma orquestra perfeita. (DURANT, [1985a?], p. 92). A tica Platnica, portanto, era a idia do alcance do Sumo Bem, que se resumia na vida virtuosa, na vida divina (quanto mais perto de Deus o homem estivesse, mais virtuoso ele

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era) para se chegar mais perto da felicidade, do mundo perfeito que era alcanado aps a morte. No entanto, segundo ele, o homem s alcanava esse bem atravs da estrutura do estado, da a ligao de sua teoria com a poltica. Plato tambm procura encontrar uma estrutura ideal de cidade e governo. Plato estava mais voltado para a teoria do que para os prprios fatos em si, alm de grande filsofo foi tambm grande poeta, deixando discpulos, assim como Aristteles.

6.1.3. Aristteles (384-322 a.c.)

Discpulo de Plato e tambm grande filsofo grego, herdou muito de seu mestre, mais tambm se distanciou deste em alguns aspectos. Aristteles era um filsofo voltado para a anlise da realidade atual, das coisas reais, e ao contrrio de Plato, no adotava o mtodo potico, irnico e metafrico em seus escritos, preferia a linguagem cientfica. [...] Aristteles nos oferece cincia tcnica, abstrata, concentrada. (DURANT, [1985b?], p. 30). Alm disso, para Plato a felicidade estava no alcance do Sumo Bem, j Aristteles coloca o alcance da felicidade na conquista de uma srie de bens, que para ele, possuem uma escala de valor, sendo alguns melhores e mais importantes do que os outros. Para Aristteles o bem mais precioso e importante do homem a vida terica, a vida da inteligncia e da intelectualidade, dessa forma quem sbio e intelectual, no carece de muitos outros bens. (VALLS, 1992, p. 32). O filsofo, porm, no descartava a importncia dos outros bens para a felicidade. Ele sabia que somente com a juno de todos que o homem poderia ser realmente completo. Aristteles ainda coloca que o homem tambm possui uma virtude intelectual, que o possibilita alcanar seus bens e consequentemente, sua felicidade. Essa virtude seriam hbitos bons adquiridos pela alma, os quais provm de uma liberdade individual de escolher as diversas formas de comportamentos que o homem deseja ter. (VALLS, 1992, p 33). Baseando-se nessas correntes, pode-se concluir que a concepo de tica variava muito de acordo com o filsofo que se propunha a defini-la, no entanto de uma maneira geral, a tica dos gregos se resumia no agir em conformidade com a razo; no agir em conformidade

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com a natureza e com o carter individual; na unio permanente entre tica (conduta do indivduo) e poltica (valores da sociedade).

6.2. A tica na Idade Mdia

A Idade Mdia, longo perodo entre os sculos IV e XV, marcada pelo poderio absoluto da moral crist. Nessa poca, a vida virtuosa era caracterizada pela vida de f, da proximidade com Deus. O homem s capaz de virtude se for ao lado de Deus. Esse por sua vez era caracterizado pelo bem, a justia e a verdade. A igreja na Idade Mdia tinha um grande poder, por isso comandava tudo e todos, dessa forma, at a tica era submetida a ela. Neste contexto dificilmente se concebe a existncia de teorias ticas autnomas da doutrina da Igreja Crist, dado que todas elas de uma forma ou outra teriam que estar de acordo com os seus princpios. (Fontes, [2003?], p.1)4. A concepo tica nesse perodo voltada para a vida de acordo com as leis de Deus, assim como defende a religio crist, descrita a seguir.

6.3. O Cristianismo e a tica

O cristianismo uma religio de indivduos que se definem pela f em um nico Deus. Ele traz consigo uma concepo de que a vida virtuosa, vida tica, s possvel atravs de uma relao espiritual e particular do indivduo com Deus. A tica, portanto, no se define na relao do homem com a sociedade, como a tica dos gregos, mais com sua relao com Deus. O cristianismo julga o homem incapaz de sozinho ter uma vida de virtude e de bem, assim introduz a idia de dever. Segundo CHAUI (1996, p. 343)

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http://www.afilosofia.no.sapo.pt/etica1.htm

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Por meio da revelao aos profetas (Antigo Testamento) e de Jesus Cristo (Novo Testamento), Deus tornou sua vontade e suas leis manifestas aos seres humanos, definindo eternamente o bem e o mal, a virtude e o vcio, a felicidade e a infelicidade, a salvao e o castigo.

Dessa forma, cabe ao homem o dever de conhecer e seguir essas leis. S assim, ele conseguir ter uma vida tica. Alm da idia de dever, o cristianismo introduziu a idia de inteno. A tica, agora, no somente vista nas aes e condutas humanas, ou seja, no que visvel, mais tambm, na interioridade humana, nas intenes. Por isso, um cristo quando se confessa, precisa no s confessar os pecados que cometeu ao agir, mais tambm aqueles que foram cometidos atravs de palavras e intenes. O dever no se refere apenas s aes visveis, mas tambm as intenes invisveis, que passam a ser julgadas eticamente. (CHAUI, 1996, p. 344).

6.4. A tica na Idade Moderna

A partir do sculo XVI, o mundo passou por transformaes, principalmente a Europa Ocidental, que mudaram as concepes ticas que, at ento, existiam. No incio do sculo XVI comea-se um movimento filosfico e artstico, na Itlia, denominado Renascimento. Esse movimento embora tenha se iniciado na Itlia, teve repercusses mundiais. Das idias defendidas e pregadas por esse movimento, uma de grande importncia, foi o antropocentrismo, o homem passou a ter lugar central e de destaque no mundo. O Renascimento veio como um movimento contrrio monarquia e a Idade Mdia. A mudana do teocentrismo para o antropocentrismo foi de grande importncia para a nova concepo do mundo e conseqentemente da tica. Outro grande movimento na histria, foi a Reforma, o qual trouxe novas religies, com novas concepes de Deus. A Reforma juntamente com o Renascimento, colocou abaixo o grande poderio da Igreja catlica, que foi alvo de muitas crticas nesse perodo. O resultado global foi o aumento da descrena, o desenvolvimento do atesmo. (FONTES, [2003?], p. 1)5.

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Alm disso, nessa poca, a expanso martima j havia acontecido. Portanto, o mundo j era composto por diferentes povos, cada um com sua cultura e religio.

O universo deixa de ser concebido como um mundo fechado para ser encarado como espao infinito. A terra, o Sol, mas tambm o Homem perderam neste processo a sua importncia e significado. As descobertas revelaram igualmente a existncia de outros povos, culturas, religies at a desconhecidas. A realidade tornou-se muitssimo mais complexa e plural. (FONTES, [2003?], p. 1)5.

Todos esses movimentos ocorridos a partir do sculo XVI mudaram radicalmente a vida dos homens na terra. A concepo do mundo e do prprio homem sofreu alteraes. A razo, a cincia, os avanos tecnolgicos mostraram que o homem era capaz de explicar muitos fenmenos que aconteciam no mundo sem coloc-los sobre a vontade dos Deuses ou do Divino, que o homem podia, portanto, construir sua histria. Dessa forma, o homem se percebe mais forte e mais autnomo, dono de si e da sua prpria histria. Segundo Campos et al. (2002, p. 4)As profundas transformaes que o mundo sofre a partir do sculo XVII, com as revolues religiosas, com Lutero; cientfica com Coprnico e filosfica, com Descartes, oprimem um novo pensamento na era Moderna, caracterizada pelo Racionalismo Cartesiano a razo o caminho para a verdade, e para chegar a ela preciso um discernimento, um mtodo. Em oposio f, surge agora o poder exclusivo da razo de discernir, distinguir e comparar.

Ainda ocorre neste perodo, a ascenso de uma nova camada social chamada de burguesia, alm de uma nova forma de produo e as novas relaes capitalistas. [...] A burguesia que comeava a crescer e a impor-se, em busca de uma hegemonia, acentuou outros aspectos da tica: o ideal seria viver de acordo com a prpria liberdade pessoal. (VALLS, 1992, p. 45)

Vrios filsofos, nesse perodo, criaram novas correntes ticas, como:

Descartes (1596-1650): Somente pela razo podemos atingir o conhecimento absoluto. Descartes criou um modelo universal baseado na matemtica e na razo. Para ele somente a matemtica estava correta, assim tudo devia ser baseado nela. Descartes ainda introduziu a dvida como elemento primordial para a investigao filosfica e cientfica.

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Outro grande filsofo pensador da burguesia e do Iluminismo, e que teve grande importncia na tica moderna e contempornea, foi Immanuel Kant.

6.4.1. tica Kantiana (1724 1804)

Enquanto os filsofos gregos como, Scrates, Plato e Aristteles, classificavam a tica como a busca pelo bem e pela felicidade, Kant, filsofo da modernidade, a fundamentava como o dever. Segundo Kant, o bem que aspiramos egosta, por isso, o nico bem possvel, sem restries, a boa vontade, ou seja, agir por obrigao, por dever. Segundo Kant6 (apud ARRUDA et al., 2003, p. 32) de tudo quanto possvel conceber no mundo, e mesmo fora do mundo, no h nada que possa ser considerado sem restrio alguma como bom, a no ser a boa vontade. Para Kant, somos seres dotados de paixes, de desejos e somos por natureza, seres ambiciosos, egostas, agressivos e destrutivos. Por isso, que precisamos do dever para nos orientar e nos tornarmos sujeitos ticos. Assim, Kant afirma que todos os atos devem ser realizados apenas por respeito ao dever, desconsiderando todos os motivos retirados da natureza ou da sensibilidade. Ainda para Kant (apud Arruda et al., 2003, p. 32)O dever corresponde lei que provm da razo e se impe a todo ser racional. uma espcie de fato que no pode ser deduzido de um princpio superior. Traduz-se na conscincia pelo imperativo categrico. O imperativo categrico, por sua vez, exprime-se em uma frmula geral: Age em conformidade apenas com a mxima que possas querer que se torne uma lei universal.

A partir dessa frmula, Kant ainda deduz outras duas. 1. Age sempre de tal maneira que trates o humano, em ti ou em outro, como um fim e nunca como um meio. Tendo, no entanto a idia de fim como sendo o dever.

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KANT, Immanuel. Fundamentao da metafsica dos costumes. Lisboa: ed. 70, 1995

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2. Age sempre como se fosses ao mesmo tempo legislador e sdito na repblica das vontades livres e racionais. (CHAUI, 1996, p. 346).

Kant coloca, ento, que o dever seria, portanto, um conjunto de princpios, valores e leis que ns estabelecemos e a eles nos subordinamos, baseando nossas aes e condutas. A idia de liberdade para Kant era, ento, vista como a capacidade que os indivduos tm de criar suas prprias leis e normas e a elas obedecerem, baseando suas condutas. Kant defende ainda a idia de que o dever vale incondicionalmente para todos, em todas as situaes, independente da poca ou da sociedade. A tica Kantiana, no entanto, sofreu vrias crticas, pois a sua classificao baseava-se somente no agir de acordo com o dever, desprezando assim, toda a influncia histricocultural, e isso no era possvel, visto que, a prpria concepo humana do dever varia de acordo com o contexto no qual o homem est inserido. Kant, no entanto, fundamentou de forma diferente a concepo de tica, sendo, portanto, fundamental na histria.

6.5. tica e a Idade Contempornea

No sculo XIX, vrias correntes ticas distintas surgiram. Hegel, filsofo contemporneo, traz uma nova e complementar idia da tica, at ento, no abordada pelos filsofos modernos. Segundo Valls (1992, p. 45) Hegel acreditava que o ideal tico estava em uma vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito, que preservasse os direitos dos homens e lhes cobrasse seus deveres, onde a conscincia moral e as leis do direito no estivessem nem separadas e nem em contradio. Para ele, os indivduos interiorizavam de forma natural os valores da sociedade e passavam a pratic-los tambm de forma natural. V-se, portanto, que para Hegel viver eticamente estava na capacidade de viver de forma livre, exercendo seus direitos e sendo respeitados por eles, mais ao mesmo tempo, respeitando as exigncias impostas pela sociedade. Outra corrente tica desse perodo foi o utilitarismo, cujo seu fundador foi Jeremy Bentham (1748 1832) e o seu grande difusor foi John Stuart Mill (1806 1873). Essa

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corrente difundia que a felicidade a busca do prazer e a ausncia de dor e que preciso aspirar tambm aos prazeres espirituais. Essa corrente ainda difundia, segundo Arruda et al. (2003, p. 35) que o objetivo da tica a maior felicidade para o maior nmero de pessoas. Outro filsofo dessa poca Nietzsche, este, coloca a origem dos valores ticos na emoo e no na razo. O homem, portanto, para se ter uma vida tica precisa expor suas emoes no se submetendo as normas e leis da sociedade. Surge, ento, nessa poca, alguns problemas que foram colocados tica. A psicanlise, por exemplo, surge para coroar a mudana j introduzida por Nietzsche. A psicanlise trouxe o conceito de inconsciente como barreira para o poder total do consciente e da razo, alm de ter colocado a sexualidade como fora determinante de nossas aes e condutas. Segundo Chaui (1996, p. 355) para a psicanlise, somos seres dotados de desejos e impulsos inconscientes e por serem inconscientes, desconhecem limites e barreiras para sua realizao. Nessa concepo, o inconsciente, ainda burla o consciente para a realizao dos desejos. Percebe-se, portanto, que para a psicanlise a conscincia e a razo perdem seu valor, pois no tm o poder total sobre os nossos desejos, e sem a existncia de um sujeito dotado de conscincia, no h como haver tica. A psicanlise, ainda, coloca os valores ticos, como sendo normas repressivas dos desejos e impulsos inconscientes e no os considera mais, como necessrios para a harmonia da sociedade e para alcanar o bem e a felicidade. Outros problemas da contemporaneidade foram o marxismo, com a concepo de que o sujeito social est internamente dividido em diferentes classes sociais, e que a moral vigente colocada de acordo com os diferentes interesses de seus dominantes, por isso, para o marxismo, a tica no pode ter a pretenso universalidade. Outro problema para a tica foi trazido, pelo estruturalismo, por volta da segunda metade do sculo XX, nos anos 50 e 60. O estruturalismo nas cincias humanas defendia a idia de que qualquer coisa s tinha sentido e s era compreendida quando entendida em relao s outras partes de uma mesma totalidade. Para o estruturalismo, o sujeito autnomo no existia, o que existia eram as

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estruturas, econmicas, lingsticas, polticas, culturais, sociais, que juntas formavam o indivduo, que agia e pensava de acordo com essas estruturas. A Idade Contempornea deu continuidade aos avanos tecnolgicos e a cincia que passaram a ter grande importncia a partir da Idade Moderna. Esse aspecto tambm provocou implicaes para a tica. A sociedade se viu deslumbrada com o avano da cincia e passou a coloc-la acima de tudo e de todos. Assim, de acordo com Fontes7 ([2003?], p.1) a Contemporaneidade foi marcada tambm por caractersticas tais como: a) A cincia e a Tecnologia trouxeram uma melhoria na vida das pessoas, mais por um lado, provocou tambm, muitas desigualdades, pois, uns no sabiam o que fazer com tantos recursos e outros lutavam para obter restos para conseguirem sobreviver. b) No havia limites para o desenvolvimento da cincia e da tcnica. Valores que antes eram sagrados tornaram-se banais: manipulaes genticas, clonagens, inseminao artificial e outros. c) O progresso da tica no acompanhou o progresso cientfico e tecnolgico.

Por tudo isso, por todas as transformaes ocorridas, percebe-se ento o surgimento de um grande nmero de teorias ticas. Esta pluralidade revelou a enorme dificuldade que hoje os homens tm sentido em estabelecer consensos sobre a tica e sobre as relaes humanas, alm disso, em nome da cincia, do avano tecnolgico, da necessidade de se obter vantagens individuais tm-se perdido toda a pretenso tica defendida at ento.

6.6. tica e o Neoliberalismo

No sculo XVIII ocorre tambm, a Revoluo Francesa (1789) um marco para o incio do Liberalismo. Essa revoluo foi importante, pois foi criado a Declarao dos Direitos dos homens e dos cidados, importantes para o reconhecimento e garantia das liberdades

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http://afilosofia.no.sapo.pt/etica1.htm

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individuais dos cidados. A Revoluo Francesa ainda tinha como lema a Igualdade, Liberdade e Fraternidade. O liberalismo, ento institudo, se opunha ao poder total do Estado e defendia a liberdade dos cidados e a propriedade privada. Ele se baseava no liberalismo econmico (laissez faire, laisser passer). A sociedade e o mercado eram geridos por um somatrio de interesses individuais e no mais pelo estado. Esse somatrio de interesses era capaz de sozinho organizar a vida econmica, social e poltica, sem precisar da interveno estatal. O liberalismo, portanto, inseriu a idia de uma liberdade exacerbada, onde os interesses individuais prevaleciam e estavam acima de tudo. Onde valia tudo pela busca por poder e por ascenso social. [...] o neoliberalismo introduz a idia de competio e competitividade como solo intransponvel das relaes sociais, polticas e individuais. Chaui (1994, p.39). Percebe-se que dos ideais defendidos pela Revoluo Francesa, a liberdade se tornou mais evidente em detrimento aos outros ideais. A igualdade, por exemplo, no considerada como necessria para a plena realizao da liberdade. Outros problemas tica foram surgindo no desenrolar do tempo, com as mudanas culturais e com o desenvolvimento da sociedade. Com o desenrolar do tempo at o neoliberalismo, vrias antigas idias como o poderio da razo, conscincia, liberdade, justia, responsabilidade e igualdade foram sendo deixados de lado, culminando em uma nova e radical forma de vida e de pensamento. O neoliberalismo se ops a tudo o que era anterior a ele para criar sua prpria tica.O ps-modernismo aceitou os efeitos do neoliberalismo e, tomandoos como verdade nica e ltima, renunciou aos conceitos modernos de racionalidade, liberdade, felicidade, justia e utopia, para mergulhar no instante presente como tempo nico e ltimo. (CHAUI, 1994, p. 39).

Fica para trs todos os preceitos ticos defendidos desde a Antiguidade. Agora o cenrio passa a ser diferente. A sociedade atual vive pautada em valores como: vontade de poder, vontade de saber, instituies sociais que determinam estrutura da famlia, da escola, do trabalho; e a cincia como desejo de poder social. A cincia hoje no mais usada nem para descrever os fenmenos naturais, nem para apenas estuda-los. Hoje, o homem cria os fenmenos dentro dos laboratrios, a realidade pode ser construda.

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Segundo Chaui (1994, p. 40)As tecnologias biolgicas, nucleares, cibernticas e de informao revelam a capacidade humana para um controle total sobre a natureza, a sociedade e a cultura. Controle que, no sendo puramente intelectual, mais determinado pelos poderes econmicos e polticos, pode ameaar todo o planeta.

A funo cientfica, era desmistificar vrios mitos que desde a Antiguidade surgiam para justificar fenmenos e acontecimentos, que a princpio, pareciam inexplicveis, gerando assim medo nas pessoas. A cincia buscava explicaes plausveis para esses acontecimentos, diminuindo assim, a crena em Deuses. O propsito inicial da cincia era esse, beneficiar o homem, para que esse pudesse viver de forma mais tranqila e confortvel. Esperava-se que a capacidade cientfica de proporcionar uma vida cada vez mais tranqila para os homens, pudesse cada vez mais, se aperfeioar. No entanto, a cincia hoje, gerou novos mitos e conseqentemente novos medos e angstia.[...] a cincia e a tecnologia contemporneas, submetidas lgica neoliberal e ideologia ps-moderna, parecem haver-se tornado o contrrio do que delas se esperava: em lugar de fonte de conhecimento contra as supersties, criaram a cincia e a tecnologia como novos mitos e magias: em lugar de fonte libertadora de guerras, tornaram-se, atravs do complexo industrial-militar, causas de carncias e genocdios. (CHAUI, 1994, p. 40).

A cincia atual, portanto, coloca por terra qualquer pretenso tica, j que gera medo, guerras, ou seja, gera a violncia. No s a cincia caminha ao contrrio da tica, mais os prprios governos, com seus governantes envolvidos freqentemente em escndalos de corrupes, os profissionais em geral, que mesmo cientes dos preceitos de suas profisses, da contribuio que devem fornecer a sociedade, continuam agindo na busca por uma ascenso individual, tanto de poder quanto financeira, sem ao menos, se preocuparem com os meios que utilizaro para alcanar seus objetivos. Indo ento, de forma oposta aos valores ticos como o respeito, a honestidade e a justia; esquecendo-se tambm dos cdigos de tica que so criados para reger as profisses.

6.7. A tica Profissional

um conjunto de normas morais, pelas quais, o indivduo deve orientar seu comportamento na profisso que exerce8.8

http://www.instrumentador.com.br/internas/etica.htm

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A maioria das profisses possui seu Cdigo de tica, um documento que contm os direitos e deveres, as obrigaes e as punies dos profissionais de uma determinada profisso. A reflexo sobre a tica profissional deve comear antes da prtica da profisso escolhida. Por isso, nas formaturas, antes dos profissionais entrarem no mercado de trabalho e comearem a atuar, precisam fazer um juramento, no qual deixam claro, os aspectos que sero importantes para conseguirem praticar de forma tica a profisso que escolheram. Muitos futuros profissionais fazem esse juramento, sem muitas vezes, medirem a responsabilidade que iram assumir na prtica. No entanto, seus clientes confiam a esses novos profissionais, sua sade, sua educao, supondo, portanto, que esses so capazes tica e intelectualmente. O trabalho algo inerente natureza humana, no somente no sentido de obter dinheiro, mais tambm no sentido de realizao plena de sua natureza. Ao realizarmos determinado trabalho, ns no s criamos ou transformamos algo, mais tambm nos transformamos e nos aperfeioamos. Quando falamos de tica profissional, estamos nos referindo ao carter normativo e at jurdico que regulamenta determinada profisso a partir de cdigos especficos. A tica profissional estuda e regula o relacionamento do profissional com sua clientela, visando dignidade humana e a construo do bem-estar no contexto scio-cultural onde exerce sua profisso. No entanto, muitos profissionais tm se preocupado mais com as questes individuais do que com a coletividade e com o bem comum. Dessa forma, vo contra aos propsitos da tica profissional, de criar ou transformar algo que v dar bons retornos para a sociedade. Agindo de forma individual, o trabalho perde a razo de ser, j que o nico propsito o crescer individual e no o bem estar e crescimento da sociedade como um todo. O neoliberalismo embutiu, portanto, essa idia exacerbada do individualismo, da ganncia e da necessidade extrema do aparecer social. Isso contribuiu para que inmeros profissionais passasem a agir, muitas vezes, baseados nessas idias, deixando de lado, os preceitos ticos da prpria profisso e os preceitos ticos universais de valorizao do homem, do respeito e da honestidade acima de tudo.

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A todo o momento, vemos notcias de corrupes, de denncias de roubos por parte de profissionais em seus locais de trabalho e tantos outros casos, que fica claro que a concepo de valorizao do homem e da preocupao com o bem estar social algo que parece ter ficado pra trs, algo que perdeu seu valor, dando espao a um novo conjunto de valores, como a ganncia, a busca por poder e lucro. nesse contexto atual, do neoliberalismo, que est inserido o Secretrio Executivo, profissional que tem ganhado cada vez mais destaque no mercado, devido ao seu papel de assessor a executivos, tornando, portanto, indispensveis, j que esses executivos possuem a cada dia, menos tempo para se dedicar a todos os seus compromissos de forma eficiente e eficaz. Cabe, portanto, analisar os profissionais dessa rea no seu dia-a-dia profissional e verificar qual a postura deles diante das mais variadas situaes que enfrentam e perceber qual a base que esses tm para nortear suas posturas, suas condutas; se eles tm claro a importncia da tica, ou seja, do agir para o bem estar da sociedade e do agir em conformidade com a prpria natureza; e se esses conhecem e se baseiam no cdigo de tica da profisso. Essa anlise relevante j que o papel dos Secretrios Executivos se torna cada vez mais expressivo no contexto atual.

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7. A PROFISSO DE SECRETARIADO EXECUTIVO

Acredita-se que a palavra Secretria tenha surgido [...] da palavra latina secretarium que significa lugar retirado, conselho privado. Existe tambm secretum, cuja traduo retiro, solido, audincia secreta, segredo, mistrio. (GUIMARES, 1995, p. 398). A profisso de Secretariado tem sua origem nos escribas, esses eram homens que dominavam a escrita, eram responsveis pelos arquivos e por redigir as ordens. Com o passar dos sculos muita coisa mudou e se aperfeioou, embora, ainda hoje os Secretrios continuem exercendo todas essas funes. No princpio os Secretrios eram contratados para secretariar seus chefes exercendo somente tarefas rotineiras, como atender telefonemas, controlar agendas e arquivos e ser o intermdio entre o chefe e seus clientes. O papel dos Secretrios era muito restrito e pouco expressivo. Nos anos 90, no entanto, os Secretrios, ganharam mais destaque. A globalizao e o avano tecnolgico possibilitaram um rpido e fcil acesso a todos os tipos de informao a tempo recorde. Isso gerou um acirramento da competitividade em nvel global, levando os executivos de maneira geral, a terem grande preocupao com o tempo que despendiam para realizar todas as suas tarefas. Nesse novo cenrio, o secretrio passa a ser mais valorizado, [...] est se envolvendo mais no negcio da empresa. O executivo est delegando mais responsabilidades, exigindo mais do secretrio, no se satisfazendo s com seu trabalho operacional. (GUIMARAES, 1995, p. 411).

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O secretrio passou a ter um papel de assistente, podendo participar com conhecimento e competncia, de tomadas de decises e de elaborao de projetos, podendo at mesmo, presidir reunies, caso o chefe no esteja presente. O secretrio passou a se preocupar mais com sua formao profissional, se graduando em curso superior de Secretariado Executivo, embora muitos secretrios ainda sejam bacharis de outras reas, muitos participam de treinamentos, cursos voltados para as reas de marketing, finanas, relaes internacionais, administrao, direito, psicologia, adquirindo um vasto e amplo conhecimento de reas bem diversas, podendo ento, participar, como acima citado, de questes decisivas para a empresa.Tradicionalmente, os cursos para secretrias abordavam apenas a parte tcnica como redao, atendimento telefnico e organizao de agenda. Atualmente, com a mudana no perfil profissional, os programas envolvem reas como marketing, contabilidade, finanas e matemtica financeira, entre outras. (GUIMARAES, 1995, p. 411).

Essa participao mais expressiva dos secretrios foi importante, pois o tempo se tornou imprescindvel para que uma empresa pudesse manter seu patamar perante o mercado global e pudesse competir de maneira vantajosa com as demais empresas. Portanto, a tarefa de delegar e a presena de um assessor que pudesse ajudar o executivo a controlar seus assuntos, que pudesse resolver problemas, que tivesse um bom conhecimento de lnguas, de redao, senso crtico, esprito de equipe e organizao, que fosse proativo e flexvel se tornava a melhor frmula de fazer um trabalho com eficincia e eficcia. Segundo Guimares (1995, p. 415) o papel do profissional o de assessorar o executivo, tirando de suas mos o maior nmero de tarefas para que ele possa ficar livre e pensar efetivamente em sua funo. No entanto, como cresceu seu papel dentro das empresas, cresceu tambm a responsabilidade, a necessidade de ter tica profissional e de agir sempre respeitando os direitos e deveres contidos no Cdigo de tica da profisso, alm da preocupao de agir buscando sempre o bem estar da sociedade. A profisso de Secretariado Executivo, no diferente das tantas outras profisses, exige uma postura tica muito grande, isso porque, no conjunto de atividades que devem ser desempenhadas por esses profissionais, encontram-se muitas que requerem um alto grau de discrio, honestidade e clareza, caractersticas que se tornam, portanto, imprescindveis, para os profissionais dessa rea. O profissional de Secretariado precisa agir em conformidade com os preceitos ticos da profisso e de acordo com os valores ticos universais, como, o

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respeito, a honestidade, a justia, a verdade, o combate violncia, e a preservao da dignidade humana. A prpria descrio da palavra Secretria, deixa claro a caracterstica de discrio que esta precisa ter. A seguir sero descritas algumas das inmeras funes e aspectos que so desempenhados pelos Secretrios Executivos no exerccio da profisso que exigem uma postura tica por parte dos profissionais. No entanto, este trabalho no tem inteno de citar todas as funes e aspectos da profisso que necessitam tambm de uma postura tica.

7.1. Secretrio/Chefe

Um dos problemas sofridos pelos Secretrios, principalmente pelas mulheres, so os comentrios sobre sua relao com o chefe. No raro surgir comentrios de que a relao chefe/secretrio vai alm da profissional se estendendo a um relacionamento pessoal, mesmo quando isso no ocorre. inevitvel que as secretrias e secretrios tenham uma relao bem estreita com seu chefe, j que administram o seu tempo, sua agenda, seus compromissos e passam grande parte do dia na companhia deles. No entanto, muitas vezes, o secretrio alm de tomar conta somente da vida profissional do chefe acaba administrando tambm seus compromissos pessoais. nesse aspecto que os secretrios precisam tomar cuidado, no que isso no possa ocorrer ou que ambos no possam tambm ter laos pessoais fora do trabalho. No entanto, preciso que os secretrios tenham uma postura discreta, sria, no dando espao para brincadeiras ou grandes intimidades, para dessa forma, manterem o respeito a si e aos outros, evitando tambm, comentrios que muitas vezes, no condizem com a realidade. Mantendo a postura firme, com bom senso, os secretrios, evitam problemas como assdio. O ideal que no se estabelea relacionamentos pessoais ntimos com os chefes.

7.2. Secretrio/Cliente

Os secretrios so responsveis pelo elo entre seus chefes e seus clientes, por isso, a cordialidade, a educao no relacionamento com esses devem ser atributos que devem ser utilizados.

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Os contatos mantidos com os clientes, pelos secretrios, devem ser constitudos por justia e imparcialidade. O tratamento justo e imparcial gera nos clientes segurana e certeza de igualdade e seriedade. (GLEICY e LETCIA, 2001, p. 16)9.

7.3. Controle de agendas

Cabe aos secretrios o controle da agenda do executivo, ou seja, os secretrios administram e controlam os compromissos e o contato deles com seus clientes. Por isso, mais uma vez, valores como a honestidade, a justia e a imparcialidade devem ser usados como base nessa tarefa. Um exemplo: Os secretrios no devem aproveitar do relacionamento pessoal que tm com algum cliente para tentar encaixa-lo em algum horrio melhor para ele, prejudicando assim, outros clientes. O respeito e o bom senso devem prevalecer em todos os momentos.

7.4. As informaes sigilosas

Como os secretrios tm acesso a muitas informaes estratgicas para a empresa, informaes que cabem somente aos executivos, esses devem manter a honestidade, o cuidado, a responsabilidade e o comprometimento, sabendo, que podem contribuir para o sucesso da organizao ou podem tambm, agindo de forma leviana, causar danos e a perda de grandes negcios, caso o sigilo no seja mantido. Nesse aspecto importante tambm, o relacionamento com os colegas de trabalho. De acordo com Gleicy e Letcia (2001, p. 16)9 as relaes devem ser pautadas na sinceridade, porm, sem perder o foco de uma convivncia profissional e no pessoal, portanto, as questes centrais so as da empresa [...].

7.5. Secretrios/Colegas

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www.univap.br/biblioteca/secretariado2001/tgs/poder.pdf

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De acordo com o prprio Cdigo de tica para secretrias, Dirio Oficial da Unio (DOU 1989) compete aos secretrios manter uma boa convivncia com os demais colegas no local de trabalho, no alimentando discrdia e desentendimentos. Ainda, como j foi citado acima, os interesses da empresa devem estar acima de tudo, tendo o secretrio que colocar, portanto, a tica profissional e o comprometimento com a empresa acima de qualquer relao com colegas. Ainda relevante ressaltar a importncia de saber lidar com as diferenas, respeitando todos e tratando-os da mesma forma. Os secretrios precisam muitas vezes, trabalhar em equipe, por isso, a habilidade de lidar com pessoas de personalidades diferentes e opinies diferentes um atributo que vai contribuir de forma qualitativa para o trabalho. A capacidade de saber ouvir, respeitar, ceder e impor de forma gentil seu ponto de vista so importantes para o sucesso do trabalho em equipe. Os secretrios devem exercer o papel de facilitadores desse tipo de trabalho.

7.6. O processo de comunicao

Os secretrios devem tomar cuidado ao transmitirem uma informao, seja de forma oral ou por escrito. Os profissionais de secretariado devem estar atentos na veracidade e na utilizao correta das palavras, para que a mensagem possa atingir o seu real objetivo. Portanto, a clareza, a objetividade e principalmente a honestidade, devem ser preservadas no processo de comunicao. Os profissionais no devem aproveitar da posio que possuem para tirar proveito para si ou em nome de algum, no repassando, por exemplo, informaes fundamentais para o sucesso da empresa ou ainda, deturpando o contedo delas.

7.7. A gesto de documentos

Toda documentao destinada ao executivo passa, em primeiro lugar, nas mos de seu secretrio, esse, portanto, deve ter a clareza e o discernimento de abrir somente os documentos que no so de cunho particular. Os outros devem ser passados diretamente para

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o executivo, caso contrrio, o executivo deve deixar claro para o seu secretrio, qual o procedimento adequado.

7.8. Etiqueta

Etiqueta: Conjunto de regras de conduta, esp. as de tratamento , seguidas em ocasies ger. formais, e que revelam sobretudo a importncia social das pessoas envolvidas. (HOUAISS, 2004, p. 1272). A etiqueta fundamental para todo o ser humano, ela engloba uma srie de valores que devem ser percebidos no indivduo, atravs da sua conduta e postura perante as situaes. As regras de conduta so baseadas nos valores ticos e por isso, so importantes seja na vida pessoal quanto na profissional.

Esses aspectos mostram que, a todo o momento, no exerccio da profisso, o profissional de Secretariado deve se pautar nos valores ticos e no Cdigo de tica, devido ao carter peculiar da profisso, para no cometer deslizes ticos, causados muitas vezes, devido a presses externas ou seduzidos por determinadas situaes que o levam a obter vantagens individuais. Alguns casos que comprovam um desvio de conduta, por parte de profissionais de Secretariado, foram relatados publicamente, manchando a categoria. Um dos casos mais recentes o ligado ao esquema do mensalo. Segundo Arraes (2005, p. 39) Fernanda Karina Somaggio, ex-secretria do empresrio Marcos Valrio quebrou um dos princpios-mor da profisso: a discrio, ao fazer denncias contra seu exchefe sobre o envolvimento dele nesse esquema. Outro exemplo o de Adriana Antunes, ex-secretria executiva de Jack Corra, vicepresidente de Relaes Governamentais da multinacional Coca-Cola, no Brasil. De acordo com Gantois10 (2004) Adriana acusou a Coca de mtodos desleais de lobby junto ao Governo10

http://www.terra.com.br/istoedinheiro/365/economia/secretaria_barulho.htm

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e ao Congresso na defesa dos interesses da multinacional. A Coca-Cola por sua vez, acusou a ex-secretria de roubo de documentos da empresa e prometeu leva-la justia. Aparentemente a atitude das secretrias em ambos os casos parece ser a correta, visto que os secretrios no podem ser coniventes com nenhum tipo de fraude, corrupo ou com algo que possa manchar o nome da profisso. De acordo com o Cdigo de tica da profisso, caso passem por quaisquer situaes como essas, o profissional deve imediatamente denunciar o caso e pedir demisso, isso tendo sempre como objetivo, o bem estar da sociedade. No entanto, nos dois casos acima citados, as secretrias denunciaram seus exchefes para obter vantagens individuais, pois ambas trabalharam como secretrias para os chefes envolvidos nos escndalos, durante um bom tempo, dessa forma estiveram tambm coniventes com o caso, e s resolveram denunciar, quando perceberam que conseguiriam algo vantajoso em troca. O foco da atitude no foi, portanto, o bem da sociedade. Dessa forma, continuaram agindo de forma antitica. Esses so casos que se tornaram pblicos, eles demonstram como existem profissionais que deixam os preceitos da profisso de lado e passam a agir de forma leviana e irresponsvel. Esses casos demonstram que muitos profissionais parecem no estar usando o Cdigo de tica da profisso, como base para a prtica profissional, seja por no o conhecerem ou por agirem movidos por valores baseados na ganncia e na ambio acima de tudo, colocando todos os valores ticos, descritos no Cdigo de tica, por terra.

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8. ANLISE DOS QUESTIONRIOS

Para validar a pesquisa, o levantamento de dados foi feito atravs da aplicao de questionrios quatorze Secretrias Executivas e a quatorze colegas de trabalho e chefes dessas secretrias atuantes na cidade de Muria. A escolha da cidade se deu por ser a cidade natal do pesquisador e pelo interesse do mesmo em verificar a postura dos profissionais de Secretariado Executivo nessa cidade. J os profissionais analisados o critrio de escolha foi o fcil acesso aos mesmos e a disponibilidade desses em participar deste trabalho. As organizaes, nas quais os questionrios foram aplicados esto descritas abaixo descritas: Rodovirio Lder, Covepe Comrcio de Veculos Pesados LTDA, Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais Delegacia Regional de Muria, Indstria Doce Lar, Sociedade Mdica de Muria, UNIPAC/Muria Fundao Presidente Antnio Carlos, Hospital So Paulo, Recreio Muria Veculos, Fundao Cristiano Varella Hospital do Cncer, Faminas Faculdade de Minas, Meta Tecnologia em Sistemas LTDA, Sindicato dos Professores da cidade de Muria, SANCAR CAMINHES LTDA, Toyota - Kurum Muria. Esse processo foi feito atravs de visitas a alguns locais de trabalho, o que nesses casos, foi possvel tambm a anlise do assunto em questo, atravs de entrevistas e observaes do pesquisador acerca do espao, do contexto e da cultura organizacional. Dos quatorze chefes, secretrias e colegas de trabalho, cinco foram entrevistados nos seus locais de trabalho, sendo que a entrevista s pde ser feita com as secretrias e colegas. Aos chefes foram encaminhados os questionrios. Dois chefes, secretrias e colegas responderam por e-

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mail e para os demais, os questionrios foram entregues nos locais de trabalho e posteriormente recolhidos para a anlise, no sendo possvel nesses casos, entrevistas e observaes mais aprofundadas. Nas prximas sees trazemos a anlise dos questionrios.

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16 14 12 10 8 6 4 2 0 Chefes Colegas

Sexo e faixa etria

Masculino Feminino 18 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59Secretrias

Mais de 60

Atravs do grfico acima, percebe-se que do total de quatorze chefes entrevistados, dez so do sexo masculino e quatro do sexo feminino. Isso demonstra que atualmente a maioria dos gestores e administradores ainda so homens. E, atravs de anlise das entrevistas feitas com algumas das secretrias, percebe-se que esse fator interfere diretamente na relao chefe/secretria e tambm na postura das mesmas. Segundo elas, o fato de o chefe ser homem, implica em uma postura cada vez mais discreta e profissional, com o intuito de adquirirem maior credibilidade e respeito perante eles e a empresa. Alm desse dado, o grfico mostra que desses chefes, quatro esto na faixa etria entre 30-39 anos, nove esto na faixa de 40-49 anos e apenas dois esto na faixa entre 50-59 anos. Esse dado revela que, a maioria dos gestores so pessoas includas em uma faixa etria, na qual a maioria j adquiriu experincias profissionais, capazes de assumirem, portanto, um cargo que exige um alto grau de competncia e profissionalismo. No que tange os colegas de trabalho, percebe-se que estes so bem diversificados, sendo oito do sexo masculino e seis do sexo feminino, estando cinco includos na faixa etria entre 18-29 anos, cinco na faixa entre 30-39 anos e somente quatro includos na faixa entre 50-59 anos. No houve nenhum profissional includo nas demais faixas especificadas no grfico. J os Secretrios Executivos, esses foram por unanimidade mulheres, o que fica claro a predominncia feminina na profisso. Outro dado constatado acerca das secretrias que a maioria das entrevistadas, no caso oito, esto includas na faixa etria entre 18-29, isso tambm demonstra que a maioria dos profissionais, atuantes nessa rea so jovens. Cinco, destes encontram-se na faixa de 30-39 anos e somente duas esto na faixa de 40-49 anos.

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14 12 10 8 6 4 2 0 Chefes

Empresa de atuao

Pblica Privada

Colegas

Secretrias

Este grfico representa a rea em que as empresas entrevistadas atuam. Percebe-se que doze dessas empresas atuam na rea privada e somente duas encontram-se na esfera pblica.

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7 6 5 4 3 2 1 0 Educacional

rea em que atuaChefes Colegas Secretrias

Industrial

Comercial

Outras

O grfico revela que das empresas onde os secretrios, chefes e colegas de trabalho foram entrevistados, trs delas encontram-se na rea educacional, uma encontra-se na rea industrial, seis na rea comercial e as demais se encontram inseridas em outras reas no especificadas nos questionrios. No entanto, essas reas compreendem as empresas ligadas rea mdica. A diversidade de reas possibilitou a verificao da postura das Secretrias Executivas em diversos setores. Outro fator verificado foi a constatao da existncia e da importncia do profissional de Secretariado em todos esses diferentes setores.

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Tempo de atuao na empresaMais de 10 anos Entre 5 e 10 anos Entre 1 e 5 anos Menos de 1ano 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Secretrias

Colegas

Chefes

Conforme o grfico acima, o tempo de atuao dos chefes nas empresas em que trabalham est dividido da seguinte forma: quatro chefes possuem mais de 10 anos de servio em sua empresa; cinco deles possuem entre 5 e 10 anos de atuao; quatro possuem entre 1 e 5 anos e apenas 1 chefe do total de quatorze possui menos de 1 ano de atuao. Em relao aos colegas de trabalho, cinco deles possuem tempo de atuao entre 5 e 10 anos; seis dos entrevistados possuem entre 1 e 5 anos de servio na empresa e trs possuem menos de 1 ano. Essa informao relevante para a pesquisa, visto que, o tempo de trabalho dos profissionais tem implicao direta no relacionamento e na convivncia dos mesmos.

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Conhecimento sobre o cdigo de tica dos profissionais de secretariado8 7 6 5 4 3 2 1 0 No conheo Conheo e vejo que conheo mas nunca li as secretarias o utilizam S ouvi falar No tenho interesse e nem as secretrias daqui tmChefes Colegas Secretrias

O grfico acima fornece a informao sobre o conhecimento dos profissionais entrevistados acerca do cdigo de tica de Secretariado. Como especificado acima, dos chefes entrevistados sete no possuem conhecimento sobre o cdigo, apenas um conhece e v que as secretrias da empresa o utilizam e seis s ouviram falar. Sobre os colegas de trabalho, sete deles no conhecem o cdigo, apenas dois conhecem e vem que as secretrias o utilizam, um conhece, mas nunca leu e quatro s ouviram falar. No que tange as Secretrias Executivas apenas trs no possuem conhecimento do cdigo, duas conhecem e o utilizam, trs conhecem mais nunca leram e seis s ouviram falar. Essas informaes mostram que a maioria dos profissionais de outras reas no possui real conhecimento do cdigo. J os dados obtidos em relao s Secretrias Executivas foram de extrema importncia para a pesquisa, visto que, as respostas confirmaram a hiptese levantada pelo pesquisador, de que a maioria das Secretrias Executivas parecem no estar usando o cdigo de tica como base para o exerccio da profisso, isso porque no possuem conhecimento do mesmo. As respostas obtidas mostraram que realmente a maioria s ouviu falar e outras conhecem mais nunca leram o cdigo. Sendo que somente duas das quatorze entrevistadas conhecem e utilizam o cdigo.

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Relacionamento com os(as) secretrios(as)12 10 8 6 4 2 0 Muito bom e estritamente profissional Muito bom, se estendendo a um relacionamento fora do trabalho Conflitante. Por razes pessoais e/ou profissionais No bom razovel Colegas Secretrias Chefes

Outro fator importante abordado foi o relacionamento dos chefes e dos colegas com as Secretrias Executivas. De acordo com o grfico acima, oito dos chefes entrevistados possuem um relacionamento muito bom e estritamente profissional com as secretrias; quatro possuem um relacionamento muito bom se estendendo tambm fora do local de trabalho; apenas um declarou ter um relacionamento conflitante por razes pessoais e/ou profissionais; tambm um declarou ser razovel a relao com as Secretrias de sua empresa. Entre os colegas de trabalho trs declararam o relacionamento muito bom e estritamente profissional; a maioria relatou ser tambm muito boa relao se estendendo tambm fora do local de servio. Das Secretrias Executivas nove declararam ter um relacionamento muito bom e estritamente profissional com os chefes; duas afirmaram ter um bom relacionamento se estendendo tambm fora do ambiente de servio; tambm duas afirmaram ter uma relao conflitante e apenas uma declarou no possuir uma boa relao com o chefe. Ainda em anlise ao grfico, percebe-se que h uma incompatibilidade de respostas quando se compara as respostas dos chefes e das Secretrias, o que pde mostrar que s vezes, as respostas no foram dadas com a veracidade necessria, ou que h realmente vises diferentes em relao s partes envolvidas acerca da relao que possuem. Em relao a viso dos colegas de trabalho percebe-se que estes, em sua maioria, no tm nenhum problema de convivncia com as Secretrias Executivas de suas empresas, o que demonstra que mesmo a maioria dessas secretrias, no tendo conhecimento do cdigo de tica da profisso (Anexo 1), conseguem manter um clima corts no local de trabalho, exercendo, ento um dos fatores contidos nesse cdigo.

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12 10 8 6 4 2 0 Tem dificuldade de relacionamento com os colegas No tem nenhuma dificuldade nas relaes interpessoais e procura ser um facilitador

Nas relaes interpessoais

Chefes Colegas Secretrias

Procura manter a cordialidade com o intuito de obter facilidades e vantagens

Procura manter a cordialidade sem segunda inteno

Procura estabelecer um clima corts, mas caso haja problema, no hesita em discutir

O grfico mostra a viso dos chefes e dos colegas acerca das relaes interpessoais das secretrias nos seus locais de trabalho e a viso das prprias secretrias quanto aos seus relacionamentos com os demais colegas. Como mostra o grfico, a maioria dos chefes, dez deles, relatam que suas secretrias no tm nenhuma dificuldade nas relaes interpessoais e ainda procuram ser facilitadoras desse processo; apenas um afirma que a secretria em sua empresa possui dificuldades de relacionamento com os demais; um relata que a secretria procura manter a cordialidade com o intuito de obter facilidades e vantagens; tambm um chefe afirma que ela mantem a cordialidade, mais sem nenhuma segunda inteno, por fim, ainda um chefe afirma que a secretria da empresa estabelece um clima corts, mas caso haja qualquer problema ela no hesita em discutir. Na viso dos colegas, trs acreditam que as secretrias tm dificuldades para se relacionar; a maioria, nove do total de quatorze, afirmam que elas no tm dificuldades para se relacionarem e procuram ser facilitadoras deste processo; um relata que a secretria procura manter a cordialidade sem nenhuma segunda inteno; tambm um relata que ela mantem um clima corts, mas no hesita em discutir, caso seja necessrio. Na viso das prprias secretrias, a maioria, dez das entrevistadas, responderam que no tm dificuldades para se relacionar; duas afirmaram manter a cordialidade sem nenhuma segunda inteno e tambm duas afirmaram que caso haja problemas no hesitam em discutir, caso no haja, elas procuram manter sempre a cordialidade. Esses dados constatados na aplicao dos questionrios foram tambm

imprescindveis para a anlise da postura tica, j que o prprio cdigo de tica de

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Secretariado, afirma ser necessrio a manuteno da cordialidade e de respeito s diferenas e as limitaes dos outros no local de trabalho e ainda afirma ser necessrio no usar de amizades, influncias para conseguir qualquer tipo de favoritismo em detrimento aos demais.

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16 14 12 10 8 6 4 2 0 Facilita sempre a comunicao entre os clientes internos/externos e seu chefe

Como facilitador da comunicao

Chefes Colegas Secretrias

Raramente facilita o Facilita, mais nem Tenta facilitar, mais relacionamento com sempre consegue no consegue os superiores respeitar hierarquia

Nunca facilita

O processo de comunicao dentro de uma empresa fator crucial para o bom desempenho das atividades e para o sucesso dos processos. O cdigo de tica (Anexo 1) coloca como sendo uma das competncias necessrias aos profissionais dessa rea: atuar como figura-chave no fluxo de informaes desenvolvendo e mantendo de forma dinmica e contnua os sistemas de comunicao. O grfico acima mostra que sobre esse aspecto, os chefes tm a seguinte opinio: dez deles acreditam que as secretrias facilitam sempre a comunicao entre eles e os clientes internos/externos; um deles acredita que raramente a secretria facilita o relacionamento com os superiores, outros dois afirmam que elas facilitam, mais no conseguem respeitar a hierarquia; outro chefe relata que sua secretria tenta mais no consegue facilitar o processo de comunicao. Essa anlise mostra a diferena de respostas dadas pelos chefes, o que deixa claro, a diferena de perfil de uma profissional para outra e como o processo de comunicao facilitado por algumas e por outras no. Sobre um outro ngulo, com a viso dos colegas de trabalho, esses em sua maioria, sendo nove, afirmam que as secretrias facilitam a comunicao; outros dois acreditam que elas raramente facilitam; trs acham que elas facilitam, mais nem sempre mantm a hierarquia.No entanto, os dados do grfico mostram que, segundo elas, por unanimidade, afirmam que facilitam sempre a comunicao entre os clientes internos/externos e seus chefes.

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Tarefas delegadas 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Realiza sem hesitar Realiza, mas questiona determinada tarefa No realiza quando No realiza quando Jamais se opem a acha que no acha que no convm qualquer coisa convm, mas no e discute sobre o delegada, pois sua discute assunto funo atender as ordens de seu chefe

Chefes

Colegas

O grfico acima possui as respostas da questo das tarefas que so delegadas s Secretrias Executivas. Essa questo, no entanto, s foi feita aos chefes e colegas. Segundo oito dos chefes entrevistados, as secretrias realizam as tarefas que so por eles delegadas, sem hesitar; outros cinco afirmam que as secretrias realizam, mais questionam determinadas tarefas; e apenas um, coloca que sua secretria no realiza quando acha que no convm e discute o assunto. Para os colegas, tambm oito, assim como os chefes, afirmam que as secretrias realizam as tarefas sem hesitar; trs acham que elas realizam, mais questionam determinadas tarefas; um afirma que a secretria no realiza quando no convm, mais no discute o assunto e dois dos colegas relatam que elas no realizam quando no convm e discutem sobre o assunto. Esse aspecto tambm relevante, para se analisar at que ponto as Secretrias exercem tudo o que lhe pedido, sem avaliar as questes ticas que envolvem as tarefas.

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Situao antitica no local de trabalho 7 6 5 4 3 2 1 0 Participa da situao sem hesitar, j que seu papel cumprir as ordens, ou perder seu emprego No participa de forma alguma Procura discutir a situao antes de se envolver nela Nunca se deparou com uma situao em seu trabalho Sempre se depara e seu envolvimento vai depender do tipo de situao Secretrias

J este grfico foi aplicado somente s Secretrias Executivas. Ele mostra as respostas encontradas sobre as situaes antiticas que por ventura, as Secretrias possam se deparar no seu local de trabalho. Nesse caso qual seria a posio adotada por elas? De acordo com o grfico, duas afirmam participar da situao, sem hesitar, com medo de perderem o emprego. O cdigo de tica da profisso probe o envolvimento desses profissionais em qualquer situao que possa ferir o nome do profissional e o nome da categoria, ainda probe o profissional de ser conivente com erros. Trs das profissionais afirmam no participar de forma alguma da situao; seis, a maioria, afirma que procura discutir a situao primeiro antes de se envolver nela; e tambm trs, afirmam se deparar sempre com esse tipo de situao no local de trabalho e que o envolvimento vai depender muito do tipo de situao. Esse fator importante para a pesquisa, j que todo o profissional est sujeito a se deparar com esse tipo de situao no dia-a-dia profissional, e a postura adotada vai depender somente da conscincia tica de cada um.

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Informaes sigilosas Divulga a informao sem receio, dependendo do assunto por entender que no to importante Comenta a informao com amigos de trabalho, pedindo sigilo absoluto Demonstra conhecimento, mas no comenta nada Chefes Demonstra conhecimento, mas comenta pouco Age como se no tivesse conhecimento de nenhuma informao 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Secretrias Colegas

O cdigo de tica de Secretariado (Anexo 1) afirma: Art.6. - A Secretria e o Secretrio, no exerccio de sua profisso, devem guardar absoluto sigilo sobre assuntos e documentos que lhe so confiados. Sobre esse aspecto quatro chefes afirmam que suas secretrias agem como se no tivessem conhecimento de nenhuma informao; outros oito julgam que elas demonstram conhecimento, mas comentam pouco e dois afirmam que suas secretrias demonstram conhecimento, mas no comentam nada. Dos colegas, trs afirmam que as secretrias agem como se no tivessem conhecimento de nenhuma informao; sete acham eu elas demonstram conhecimento, mas comentam pouco; e quatro afirmam que elas possuem conhecimento, mais no comentam nada. Das Secretrias Executivas, no entanto, oito agem como se no soubessem de nada de nada; cinco demonstrariam conhecimento e comentariam pouco; e apenas uma, demonstraria conhecimento e no comentaria nada.

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Postura tica das secretrias 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Muito boa Boa na maioria das Ruim na maioria das vezes, mas com vezes, mas com alguns problemas a se algumas atitudes que atentar e melhorar a demonstram um postura pouco de tica Muito Ruim Pssimo. As secretrias no tm noo de tica profissional

Chefes

Colegas

Este grfico mostra a opinio dos chefes e dos colegas de trabalho acerca da postura tica das Secretrias Executivas de suas empresas. O grfico interessante, pois deixa claro, a imagem que as secretrias, atravs de suas posturas, esto passando para os demais profissionais da empresa. Deixa claro ainda, qual a viso que esses tm sobre o trabalho delas no aspecto da tica profissional e da conscincia tica que essas possuem. Essa anlise crucial para a concluso da pesquisa. Segundo os chefes, como pode ser observado nos dados acima, seis deles, afirmam que a postura tica de suas secretrias muito boa; outros sete afirmam que a postura boa, na maioria das vezes, mais com alguns problemas a se atentar e melhorar a postura; apenas um chefe afirma ser ruim a postura, na maioria das vezes, mas com algumas atitudes que demonstram um pouco de tica. No que tange os colegas, seis deles julgam ser muito boa a postura tica das secretrias; sete julgam ser boa, mais podendo melhorar a postura; e apenas um afirma ser ruim.

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9. CONCLUSO

Entender o que a tica, os aspectos que a envolvem, bem como sua caracterizao durante vrios perodos da histria da humanidade foi de extrema importncia para se entender a sociedade atual, com seus valores e normas. Com o estudo verificou-se o processo de evoluo do pensamento dos cidados, a mudana de valores, de cultura, de poltica, de economia, a descoberta de novas teorias da terra e do homem, o que culminou na sociedade atual pautada em uma miscelnea de valores tanto ticos quanto antiticos. Verificou-se nesse processo de evoluo, a pluralidade de teorias ticas atuais e a banalidade como so tratados alguns valores que at ento, eram vistos como eternos e sagrados. Verificou-se ainda, dentro desse contexto atual, a postura tica dos profissionais de Secretariado Executivo. Essa verificao foi de extrema importncia visto que, a tica algo inerente ao contexto organizacional tendo implicaes diretas no comportamento individual do profissional e nas relaes interpessoais que estes estabelecem. Dessa forma, percebemos que devido a uma srie de funes, especficas da profisso de secretariado, bem como alguns aspectos que envolvem a atuao desse profissional no seu dia-a-dia de trabalho, a tica algo que deve fazer parte dos atributos desse profissional. Vimos que o relacionamento das secretrias com os chefes, com os colegas de trabalho deve ser pautado em respeito, flexibilidade e profissionalismo, atributos que so defendidos pelo prprio cdigo de tica da profisso. Outras caractersticas, as quais necessitam de uma forte base tica foram a capacidade em lidar com informaes sigilosas, com situaes antiticas no local de trabalho, com o processo de comunicao.

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A pesquisa ainda demonstrou que a forma como as Secretrias Executivas lidam com esses atributos no dia-a-dia profissional ainda no completamente satisfatria, devido ao fato de elas, em sua maioria, no conhecerem o cdigo de tica da profisso. Atravs do levantamento de dados acerca dessas Secretrias Executivas atuantes nos mais diversos setores na cidade de Muria - MG, feito por meio de questionrios aplicados aos chefes das Secretrias, aos colegas de trabalho delas e s prprias Secretrias Executivas, constatou-se que essas, em sua maioria, no utilizam o cdigo de tica da profisso como base para sua atuao profissional, principalmente por no o conhecerem, o que dificulta a atuao tica defendida nesse cdigo e a uniformidade das aes desses profissionais. Muitas das tarefas exercidas por elas, no esto de acordo com o que pregado no cdigo de tica, nem mesmo a postura que essas exercem perante os demais membros da empresa est de acordo com os preceitos ticos. Por outro lado, muitas delas, mesmo sem o conhecimento devido do cdigo, estabelecem um comportamento de acordo com o mesmo, pelo fato de possurem uma identidade tica formada ao longo da vida, pautada nos preceitos ticos universais. Outro fator importante constatado atravs de entrevistas feitas a algumas secretrias, foi que a maioria delas no formada em curso superior de Secretariado Executivo, nem mesmo possuem formao tcnica na rea. Elas so, em sua maioria, profissionais formadas em reas como administrao, pedagogia, letras, fsica e esto atuando na rea por gostarem da prtica secretarial e por no terem conseguido empregos nas reas em que so habilitadas. Outro ponto importante constatado que, quando se cruzam as respostas dadas pelo chefe, com as da secretria e as do colega de trabalho, acerca da postura da secretria, as respostas nem sempre batem, ficando, portanto, claro que a postura que as mesmas julgam ter, nem sempre a mesma que est sendo passada para os que esto a volta delas. Dentre as Secretarias Executivas entrevistadas, a maioria no se baseia em nenhum cdigo especfico, ou seja, elas agem com base na conscincia profissional que adquiriram, em um bom senso, aliados a conhecimentos tcnicos. Dessa forma, fica clara a importncia da formao tcnica e/ou superior dessas secretrias, a fim de que desenvolvam uma conscincia tica profunda, atravs do conhecimento aprofundado da profisso, do cdigo da mesma, entre outros, para que possam se tornar profissionais mais competentes e centrados em sua profisso, preocupados com sua imagem profissional perante a organizao que trabalham e tambm perante a sociedade.

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10. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de Filosofia de Nicola Abbagnano. 2 ed. [S.1.]: Mestre jov, 1982. p. 360-367. ARRIEL, Silvnia. As Donas da Agenda. Encontro. Belo Horizonte, setembro. 2005. p. 3942. ARRUDA, C. C.; WHITAKER, M. C.; RAMOS, J,.M.R. Fundamentos de tica Empresarial e Econmica. 2. ed. So Paulo: Atlas, 2003. 201 p. CAMPOS, M. et al. Histria da tica. CienteFico, Salvador, v. 1, n. 2, p. 11, 20