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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO CAMPUS III PETROLINA EDSON LUIS DOS SANTOS BARBOSA ETNOMATEMÁTICA Nova forma de abordagem dos conteúdos PETROLINA 2011

ETNOMATEMÁTICA Nova forma de abordagem dos conteúdos · ... como ponto principal, uma aula em ... que está centrado nas generalizações de técnicas e mecanização, ... aprendizagem

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UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCOCAMPUS III PETROLINA

EDSON LUIS DOS SANTOS BARBOSA

ETNOMATEMÁTICANova forma de abordagem dos conteúdos

PETROLINA2011

EDSON LUIS DOS SANTOS BARBOSA

ETNOMATEMÁTICANova forma de abordagem dos conteúdos

Monografia apresentada à Universidade de Pernambuco – Campus III Petrolina como requisito parcial para obtenção do título de graduação em Licenciatura Plena em Matemática.

Orientador: Prof. Ms. Claudemiro Junior

PETROLINA2011

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EDSON LUIS DOS SANTOS BARBOSA

ETNOMATEMÁTICANova forma de abordagem dos conteúdos

Monografia apresentada à Universidade de Pernambuco – Campus III Petrolina como requisito parcial para obtenção do título de graduação em Licenciatura Plena em Matemática.

Data: _________________

Resultado: _____________

BANCA EXAMINADORA

Professor(a): _____________________________ Universidade de Pernambuco

Assinatura: _________________________________________________________

Professor(a): _____________________________ Universidade de Pernambuco

Assinatura: _________________________________________________________

Professor(a): _____________________________ Universidade de Pernambuco

Assinatura: _________________________________________________________

3

A minha família, por me fazer acreditar em

minha capacidade de alcançar objetivos. Em

especial Meu PAI e minha MÃE.

Dedico

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, por tudo.

Ao professor Claudemiro, pela importância contribuição na elaboração deste

trabalho.

Às professoras Lucília Batista e Edna Novaes, pela orientação inicial.

Aos meus pais, pela educação, esforços e incentivos para melhoria do nosso

(meu e minha irmã) grau de instrução.

A minha irmã, pelo apoio.

A minha esposa e meus filhos, pela compreensão, amor e carinho recebido

de todos.

5

RESUMO

A pesquisa tem como público alvo alunos da modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA) e apresenta uma forma diferenciada de abordagem dos conteúdos matemáticos a qual facilita o processo de ensino aprendizagem, proporcionando ao aluno a capacidade de utilizar o conhecimento adquirido, em sala de aula, nas suas atividades diárias (em casa, no trabalho...). A pesquisa foi desenvolvida através de conversas informais com professores e alunos e, como ponto principal, uma aula em que a metodologia adotada foi desenvolvida a partir das informações socioeconômica. Tendo como base os princípios etnomatemáticos, nessa aula o conteúdo trabalhado foi adaptado à realidade social, o aluno foi levado a entender a situação problema e montar seu próprio método de resolução. Ao contrário da perspectiva tradicionalista em que a mecanização é a principal ferramenta adotada. Ao fim da pesquisa, notou-se que práticas pedagógicas, como esta desenvolvida, atendem às exigências impostas pelas reformas educacionais e aos anseios dos alunos, tornam-se uma verdadeira ameaça ao ensino tradicional que está centrado nas generalizações de técnicas e mecanização, ou melhor, que não apresenta nenhuma relação entre a escola e o meio externo – a sociedade envolvida, por exemplo.

Palavras chaves: etnomatemática, nova abordagem, ensino da matemática

ABSTRACT

6

The survey's target audience is students on school Youth and Adults (EJA) and presents a different way to approach the mathematical contents which facilitates the process of teaching and learning, giving students the ability to use knowledge acquired in classroom in their daily activities (home, work ...). The research was conducted through informal conversations with teachers and students, as its focal point, a lesson in which the methodology was developed from socioeconomic information. Based on the principles ethnomathematical, this class worked the content was adapted to social reality, the student was led to understand the problem situation and build your own method of resolution. Unlike the traditionalist view that mechanization is the main tool adopted. At the end of the study, it was noted that teaching practices, as this developed, meet the requirements of the educational reforms and concerns of students, become a real threat to traditional education that focuses on generalizations of techniques and mechanization, better , which shows no relationship between the school and the external environment - the company involved, for example.

Keywords: Ethnomathematics, new approach, teaching mathematics.

SUMÁRIO

7

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 09

Capítulo I

1. A Matemática no contexto atual .............................................................. 11

1.2 Tendências atuais no Ensino da Matemática

1.2.1 Etnomatemática ................................................................................. 13

1.2.2 A Filosofia da Matemática ................................................................. 16

1.2.3 História da matemática ...................................................................... 17

1.2.4 Matemática Crítica ............................................................................. 17

1.2.5 Modelagem Matemática .................................................................... 17

1.2.6 Jogos ................................................................................................. 18

1.2.7 Resolução de Problemas ................................................................... 18

1.2.8 Novas Tecnologias ............................................................................. 19

Capítulo II

2. Formação de Professores ....................................................................... 20

2.1 Formação Inicial ..................................................................................... 22

2.2 Formação Continuada ............................................................................ 23

2.3 Formação de Professores de Matemática ............................................. 23

Capítulo III

3. Conhecimento e Ação ............................................................................ 26

3.1 Etnomatemática ..................................................................................... 31

Capítulo IV

4. Desenvolvimento da Pesquisa ................................................................ 34

4.1 Metodologia ............................................................................................ 34

4.2 Análise dos Resultados .......................................................................... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 43

8

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 45

ANEXO ...................................................................................................... 46

INTRODUÇÃO

9

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) detém uma demanda muito grande de

alunos a nível de Brasil. Algumas escolas do município Petrolina, campo de

pesquisa, dedicam o horário noturno somente ao atendimento desta modalidade de

ensino. Trata-se de um público em que não obteve a regularidade do ensino e que,

diante das condições sociais, tentam recuperar o desempenho nos estudos para

conseguir uma melhoria na qualidade de vida – através de uma nova oportunidade

de trabalho, conseguida pela elevação da escolaridade. Além disso, em sua maioria,

tratam-se de pessoas que trabalham diariamente e carregam consigo

responsabilidades familiares. São informações como estas que norteiam as

atividades pedagógica da EJA.

Na escola campo de pesquisa, o professor trabalha com a metodologia tradicional

para ensino da matemática. Ele atua no ensino regular, na EJA e, fora da escola, no

ensino superior. Desta forma, ele não enxerga a necessidade de mudança na

abordagem dos conteúdo matemáticos do ensino regular para a Educação de

Jovens e Adultos. Talvez esse situação seja consequência de uma carga horária

elevada – fruto da má remuneração do profissional de educação. Como também,

não se deve destacar, da falta de interesse do professor em reavaliar suas práticas a

fim de obter o resultado esperado: resultados positivos no processo de ensino-

aprendizagem.

É indispensável que um docente, o qual atua na modalidade de ensino EJA,

conheça o Programa. Ele deve atender às condições sociais enfrentadas por seus

alunos e interpretá-las com sendo um fato decisivo para mudança de postura. Ou

seja, o perfil de um professor que atua na Educação de Jovens e Adultos deve ser

diferente daquele que atua no ensino regular. Paralelo a isso, as reformas

educacionais pedem que o conteúdo ensinado em sala de aula seja abordado de tal

forma que o conhecimento adquirido tenha sua aplicabilidade na vida cotidiana

daquele aluno.

10

Observando que a essência da EJA em muitas escolas não está sendo praticada,

que alguns professores não apresentam preocupação com as suas práticas

pedagógicas e que a Etnomatemática oferece boas ferramentas para atender estas

necessidades, desenvolveu-se a presente pesquisa a fim de analisar o resultado

obtido a partir de uma abordagem diferenciada de conteúdos matemáticos, de

acordo com as necessidade do público-alvo, que possam atendender aos princípios

que regem a Educação de Jovens e Adultos, e consequentemente, atendam às

reformas de ensino

A pesquisa foi organizada da seguinte forma: o primeiro capitulo trata do ensino da

matemática e suas tendências no contexto atual; o segundo capítulo aborda a

formação de professores de um modo geral, a formação inicial, a formação

continuada e a formação dos professores de matemática; o terceiro capítulo faz uma

contextualização da etnomatemática e o quarto capítulo descreve os métodos

utilizados na obtenção e análise de dados.

11

CAPITULO I

1. A MATEMÁTICA NO CONTEXTO ATUAL

Pela sociedade envolvida, a Matemática é taxada como a ciência da exatidão, suas

características são baseadas em números e formas – na maioria das vezes prontas

e acabadas, exigindo somente o mecanismo – que levam a uma desejada precisão.

Aquele que consegue atingir um índice elevado de formação nessa área, passa a

ser enxergado como um “dominador”, como um ser dotado de números, fórmulas e

formas para resolver qualquer tipo de problema matemático, ou melhor, é

“idolatrado” e “dono” da razão perante os alunos e/ou qualquer outra denominação

que se possa dar aos “ouvintes” do portador. Fazendo uma metáfora, seria aquele

que conseguiu, através de estudo, atravessar uma enorme montanha que estava em

seu caminho sem fazer nenhum esforço físico e que, hoje é capaz de subir e descer

quantas vezes quiser, coisa que nem todos podem fazer ou nem se habilita devido

às dificuldades que imaginam encontrar.

Dessa forma, a disciplina vem sendo praticada através de mecanismos. O professor

aborda o assunto, expõe o problema e dá a solução, o aluno, por sua vez, entende o

mecanismo e devolve ao professor. Cria-se então, uma imagem de receptor-

reprodutor sobre o aluno. É Como informou Pedro Vasco Moretto (2002, p. 95):

Nesta visão, que classificamos como tradicional por ainda ser, a nosso ver, a que domina o processo de ensino nos dias de hoje, a avaliação de aprendizagem é encarada como um processo de “toma-lá-dá-cá”, em que o aluno deve devolver ao professor o que dele recebeu e de preferência exatamente como recebeu, o que Paulo Freire chamou “educação bancária”.

Esse mecanismo, tão evidente, acaba trazendo ao aluno a incapacidade de

articulação entre a matemática e o cotidiano – o ensino da matemática fica limitado

às quatro paredes da sala de aula – ou ainda, a de fazer uma relação entre a

matemática e outra disciplina – interdisciplinaridade, importante ferramenta para

aquisição de conhecimento – já que o ensino é mergulhado na abstração. “tenho

12

que decorar aquelas fórmulas” diz o aluno, “se não lembrar das fórmulas, não

resolve a questão” diz o professor.

Os conteúdos matemáticos são abordados/praticados de forma isolada, ou seja, são

apresentados num único momento, até a avaliação, depois são retomados como

sendo uma ferramenta para outro conteúdo. Muitas vezes, esquecem que se o aluno

não praticar certo conhecimento certamente o conteúdo poderá cair no

esquecimento, ou seja, falta uma conexão ativa entre um conteúdo e outro, no

ensino de matemática, fazendo com que o aluno não sinta, a cada novo conteúdo, a

necessidade de “voltar” (rever) ao que já estudou.

É o que acontece, por exemplo, com os alunos do 8º ano (antiga 7ª série): ao iniciar

os estudos sobre “expressões algébricas”, “Produtos Notáveis”, por exemplo, o

aluno precisa de um conhecimento prévio, dentre outros, de “Potenciação”. O que

acontece com esse aluno é que na forma como o ensino é levado – Educação

Bancária – ele acaba absorvendo a mecanização do assunto sem que,

necessariamente, entenda o conhecimento implícito das “Propriedades de

Potenciação” na simplificação de uma expressão algébrica, ou seja, o discente

aprende as técnicas de lidar com determinado assunto e não a associação de um

assunto anterior ao novo. E dessa forma segue séries adiante... É dessa forma que

a matemática perde a sua aplicabilidade e é vista como um conhecimento de

métodos (técnicas) para resolução de problemas – conhecimento metodológico.

A matemática vista em sala de aula está longe de ser a ideal. Há a necessidade de

tornar esta disciplina mais clara: que os alunos possam enxergá-la em seu cotidiano.

Deve-se mudar a visão de que a matemática é aquele bicho de sete cabeças – difícil

de lidar; de que somente aqueles providos de conhecimentos elevados podem

entendê-la; de que é apenas um pré-requisito para estudos posteriores. Uma das

formas de torná-la mais evidente é enfatizar seus conceitos na rotina dos alunos, ou

naquele ambiente em que os mesmos estejam inseridos: aumento salarial, pesquisa

eleitoral, compra de pães a quilo, entre outros. É certo que, irá surgir a importância

13

da compreensão matemática na vida do aluno e, em conseqüência, alterar alguns

conceitos sobre esta disciplina riquíssima em abordagem.

1.2TENDENCIAS ATUAIS NO ENSINO DA MATEMÁTICA

1.2.1 ETNOMATEMÁTICA

Em contradição com essa ideologia tradicional, vem surgindo (ou ressurgindo) uma

nova forma de abordagem a qual não se baseia somente na transmissão de técnicas

e habilidades. A etnomatemática, além de outras atribuições, preocupa-se com o

conhecimento prévio do aluno e procura adequar o conteúdo à sua cultura, ou seja,

o conhecimento matemático é aplicado no cotidiano do aluno (seja no trabalho, em

casa, nas atividades de rotina...). A partir de então, começa a desaparecer a

abstração imposta pelo sistema adversário. Ainda dentro da etnomatemática, pode-

se destacar o fato da flexibilidade para explanação do conteúdo: o conhecimento

social do aluno, a cultura da sociedade envolvida, a situação socioeconômica da

realidade e mais. Sem falar na riquíssima ferramenta para aquisição do

conhecimento, a interdisciplinaridade. Em poucas palavras Ubiratan D’ambrósio

(2008, p.111) descreve: “A abordagem nas distintas formas de conhecer é a

essência do programa etnomatemática”. E ainda:

Diferentemente do que o nome sugere, etnomatemática não é apenas o estudo de “matemática das diversas etnias”. Para compor a palavra etnomatemática, utilizei as raízes tica, matema e etno para significar que há várias maneiras, técnica, habilidades (tica) de explicar, de entender, de lidar e conviver (matema) com distintos contextos naturais e socienconônicos da realidade (etno).(D’AMBRÓSIO, 2007, p. 70)

Eis então, uma esperança para mudar a ideologia dominante, ou melhor, essa

educação formal baseada em transmissões de “assuntos”, através de aulas

puramente teóricas e muitas das vezes abstratas, e adestramento de técnicas e

habilidades, exercícios repetitivos que serão finalmente cobrados em provas e

14

devem apresentar as mesmas características, e ainda, alguns com a mesma

resposta ao pé da letra.

As mudanças na forma de abordagem desta disciplina estão mais evidentes. Diante

de um mundo movido à base da tecnologia a qual faz parte da expansão capitalista,

nota-se alguns desfalques no ensino da matemática. Certos conteúdos tradicionais

trabalhados nas escolas vêem “rolando” à tempos, sem nenhuma alteração. Em

contrapartida, o mundo se torna cada vez mais exigente e sente a necessidade de

um foco maior, desta disciplina, dentro do contexto em que a sociedade está

mergulhada. Em outras palavras, o mundo pede que o ensino da matemática dê

maior relevância a noções de estatística e economia, por exemplo, e tais conteúdos

não estão sequer sendo abordados em sala de aula, indo mais além, não são

incluídos na grade curricular da disciplina. Outro desfalque: o mundo pede a

interdisciplinaridade, a matemática está, há anos, restrita a quatro paredes, a sala de

aula.

Um outro “pedido” feito pela sociedade, por imposição da nova era mundial, à

matemática é a incorporação das novas tecnologias na didática de ensino. O uso da

calculadora, do computador e de outros elementos tecnológicos já é uma realidade

em boa parte da população. Tais instrumentos devem ser usadas de forma a

contribuir para a melhoria do ensino e, porque não, para despertar um interesse

maior por parte do aluno que irá perceber a relevância e a utilidade dos meios

tecnológicos no ensino e na inclusão de vida social, pois estaria acompanhando o

“ritmo” da sociedade em que vive.

1.2.1.1 AVALIAÇÃO

Sabe-se, que essa avaliação de “prestação de contas” dá prioridade

àqueles alunos que são capazes de memorizar regras e esquemas, é ignorada a

compreensão dos conceitos, a criatividade e a tomada de atitude diante dos

problemas. Por outro lado, atualmente bastante “tímida” aparece uma forma de

15

avaliar na qual se baseia em informações que fornecem ao professor o nível de

aprendizagem – como ela está sendo desenvolvida. Ao contrário da anterior, essa

mede a competência, o desenvolvimento (raciocínio) e análise dos alunos diante de

uma situação-problema.

Pedro Vasco Moretto (2002) aponta algumas características entre a avaliação da

escola tradicional e a avaliação na perspectiva construtivista. Em uma dessas

características da avaliação tradicional, ele aponta a exploração exagerada da

memorização e a utilização de palavras de comando sem precisão de sentido no

contexto, ou seja, em uma questão da avaliação o professor começa: dê sua opinião

sobre; como você justifica; o que você sabe sobre. Mas, na realidade o que se pede

é exatamente o que foi passado e não a opinião ou o que o aluno sabe sobre. Esses

tipos de questionamentos podem trazer respostas “imprecisas”, porém não estando

errada. Já no outro tipo de avaliação, ele aponta a contextualização, a exploração da

capacidade de leitura e de escrita do aluno e proposição de questões operatórias e

não apenas transcritórias. As questões no modelo construtivistas provocam no aluno

a explanação de sua linha de raciocínio e despertam uma visão crítica diante da

situação problema a partir de então, o professor pode “medir” o nível de

conhecimento atingido pois o aluno vai transcrever o que realmente entendeu sobre

o assunto, expor a informação absorvida passada pelo professor.

“A avaliação serve para que o professor verifique o que de sua mensagem foi passado, se seu objetivo de transmitir idéias foi atingido – transmissão de idéias e não aceitação e a incorporação dessas idéias e muito menos treinamento...” (D’Ambrósio, 1996, p. 70)

Nessa sociedade complexa, para que o professor se sobressaia bem, exige-se

novos meios de produtividade, estes meios devem estar ancorados ao

conhecimento. Levando-se em conta a avaliação, o professor deve ter habilidade

para elaborar uma prova. Essas habilidades incluem a contextualização, a forma de

questionar a qual deve ser clara e objetiva – eliminando assim, assuntos irrelevantes

entre outros. A falta de produtividade do professor pode levá-lo ao “desespero” por

não saber transformar a avaliação em algo que não seja só de cobrança de

16

conteúdos, aprendidos na base do decoreba. O que acontece é que ele (professor)

acaba usando o instrumento avaliativo como forma de repressão, como algo para

que haja interesse em sala ou, até mesmo, como forma de se impor diante dos

alunos. Isso é mais fácil do que a busca pela inovação já que todo professor sabe

que é na hora da avaliação que as emoções dos alunos estão à prova, pois naquele

momento, estão vários sentimentos misturado: ansiedade, angústia, tensão, medo,

estresse e outros. Todos “brigando” com o mesmo objetivo. Essa confusão de

sentimentos, na maioria das vezes, leva ao aluno esquecer o conteúdo estudado e

aí surge aquela famosa frase: “Professor, deu um branco”.

1.2.2 A FILOSOFIA DA MATEMÁTICA

A filosofia da matemática surge como algo além das formalidades técnicas inerentes

a disciplina. Trata-se de questionamentos relacionados às conclusões de alguns

matemáticos as quais são aceitas. Tais como, a definição de números, a importância

da matemática na descrição dos fenômenos naturais, a certeza da verdade de uma

proposição matemática, de que forma existem as entidades matemáticas e outras...

Alguns filósofos buscaram respostas para alguns destes questionamentos. Platão e

Aristóteles expulseram as considerações de maior influência sobre o pensamento

das entidades matemáticas. Platão fez uma proposta de que os objetos da

matemática deveriam possuir uma existencia unicamente abstrata e não-material.

Aristóteles se ôpos alegando que o quadrado geométrico é um aspecto significativo

de uma mesa quadrada, mas o quadrado geométrico só pode ser compreendido ao

deixarmos de lado os aspectos irrelevantes como de que material é feita a mesa.

Além destes, outros matemáticos tiveram interesses nos fundamentos da disciplina,

isso proporcionuo à filosofia da matemática poder tornar precisas as doutrinas

fundacionais da disciplina, abrindo a possibilidade dessas serem desenvolvidas ou

refutadas.

1.2.3 HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

17

Por volta dos séculos IX e VIII a.C os babilônios e os egípcios engatinhavam com a

álgebra e a geometria, tais ferramentas eram utilizadas somente para atender às

suas necessidades práticas do cotidiano, ou seja, ainda não era uma ciência

organizada. Os escribas, na Babilônia, usufruía dos recursos matemáticos na prática

das suas atividades, pois eram responsáveis pelo tesouro real. Apesar da já

conhecerem a álgebra e a geometria, estes povos só conheceram a matemática

como ciência dois séculos depois na Grécia. Os gregos transformaram-na numa

ciência propriamente dita sem a preocupação das aplicações práticas. Para tanto,

dedicaram-se a resolver problemas relacionados a infinito, movimento e

continuidade que revelaram o método axiomático-dedutivo – consiste em admitir

como verdadeiras certas proposições e a partir delas, por meio de um

encadeamento lógico, chegar a proposições mais gerais.

1.2.3 MATEMÁTICA CRÍTICA

Diante das constantes transformações sociais, exige-se do cidadão uma

participação mais assídua nas questões econômicas, políticas, ambientais. Numa

participação crítica, a matemática aparece como suporte tecnológico, já que o

objetivo da matemática crítica não é desenvolver habilidades de cálculos. A atual

situação da sociedade revela a necessidade de uma postura crítica a ser assumida

pela educação matemática. Atualmente, ela é usada, em geral, para excluir pessoas.

Por outro lado, pode apresentar soluções para os grandes avanços tecnológicos já

que toda a ostentação tecnológica está alicerçada em conceitos matemáticos. Nesse

sentido, é necessário que os educandos a questionar o porquê, como, para quê e

quando utilizar os modelos matemáticos.

1.2.4 MODELAGEM MATEMÁTICA

Esta linha de educação matemática pode ser entendida como uma forma de usufruir

dos recursos matemáticos para solução de problemas da realidade. A depender do

contexto inserido, a forma de abordagem sofre algumas adaptações em favor do

18

ensino aprendizagem, ou seja, a depender do público envolvido e outros fatores a

estratégia de ensino aprendizagem de é dado tal forma que os alunos sejam levados

a investigar, por meio da matemática, situações com referência na realidade.

Segundo Burak (2004) “ Na Modelagem, o conteúdo matemática a ser trabalhado é

determinado pelos problemas levantados em decorrência da pesquisa de campo...

No ensino usual, ocorre o contrário, o conteúdo estabelecido no programa é que

determina o tipo de problema a ser trabalhado”

1.2.5 JOGOS

Ao optar por jogos, o professor tem como objetivo proporcionar a aprendizagem e,

ao seguir esta linha, procura desenvolver o ensino de um conteúdo ou de uma

habilidade. Durante a prática pedagógica com o uso de jogo, o professor faz o papel

de mediador: cabe ao professor questionar ao aluno suas jogadas e estratégicas

visando a construção de um meio propicio à aprendizagem. A partir de então, o

professor torna sua aula mais interessante e viabiliza a compreensão, a análise e a

tomada de decisão por parte do aluno. Tais requisitos são utilizados, por exemplo,

na resolução de problemas matemáticos. É através das jogadas que o aluno constrói

novos pensamentos e conhecimentos, desligando-se da linha tradicional: sempre a

mesma técnica. (MARCO, 2004)

1.2.6 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

A forma tradicional com que se trabalha os Problemas matemáticos torna este

conteúdo um grande desafio enfrentado pelos alunos no que diz respeito à

aprendizagem. Um dos primeiros passos a ser dado na resolução de um problema é

entender-lo. A partir de então, montar a estratégia e começar a resolver. Funciona

da seguinte forma:

INTERPRETAR ENTENDER RESOLVER/CALCULAR

19

Acredita-se que a dificuldade dos alunos está associada ao primeiro passo, a

interpretação do problema. Trata-se de uma questão não ligada diretamente ao

ensino da matemática e sim, uma construção de conhecimento adquirido em

conjunto com as diversas disciplinas. A questão da interpretação, pode-se afirmar,

está ligada ao hábito da leitura, por exemplo. Quanto ao entender a ao resolver,

cabe ao professor de matemática elaborar técnicas para auxiliar o aluno a montar

sua estratégia de resolução, não é viável apresentar a forma pronta de resolução.

Iniciar com problemas básicos e, aos poucos, elevar o nível dos problemas, é uma

técnica que pode ser apresentada. (SOUZA, 2009)

1.2.8 NOVAS TECNOLOGIAS

A Educação não pode ser distanciada das Novas Tecnologias de Informação e

Comunicação (NTIC). Os alunos vivem submersos nos avanços tecnológicos que

norteiam as rotinas da sociedade atual. Com isso, as Novas Tecnologia passam a

ser fortes aliadas na construção do conhecimento e até mesmo das práticas

educativas. É importante salientar que a prática pedagógica mais utilizada atual

deixa o aluno restrito ao uso de livros e a oratória do professor, ou seja, não há um

elo entre a escola e a sociedade que estar caminhando para um futuro cada vez

mais dependente das NTIC. Isso reforça a importância do uso das Novas

Tecnologias de Informação e Comunicação nas práticas de ensino aprendizagem.

(OLIVEIRA, 2011)

20

CAPITULO II

2. FORMAÇÃO DE PROFESORES

Sabe-se que hoje, existe uma necessidade de que a instituição escolar deixe de ser

“um local” exclusivo para estudos e técnicas, ou melhor, um “um local” onde se

aprenda as quatro operações, um conhecimento social e por fim, uma profissão.

Que ela passe a ser um ambiente onde se possa adquirir e produzir conhecimentos

relativos à vida social dos envolvidos. Deve ensinar como ser um cidadão e os

interesses de sua vivência, seja a questão da democracia, a questão intelectual, a

questão ambiental e outros. Paralelo a isso, surgem as mudanças relacionadas ao

professor. Ele precisa acompanhar a situação histórica da atualidade, analisar

determinados fatos a fim de que, saiba transmitir o foco da situação, ou seja, deve

haver um bom relacionamento entre o docente e a instituição escolar para que

ambos possam atuar ativamente no contexto social o qual estão inseridos.

“Essa necessária renovação da instituição educativa e esta nova forma de educar, requerem uma redefinição importante da profissão docente e que se assumam novas competências profissionais no quadro de um conhecimento pedagógico, científico e cultural revisto. Em outras palavras, a nova era requer um profissional de educação diferente.” (Francisco Imbernon p. 2002)

Deve-se reconhecer o potencial de socialização que as escolas oferecem, mais um

motivo para justificar a nova metodologia de ensino, ou melhor, as novas exigências

educacionais. Mais uma vez, “os meios de comunicação” vêem interferir no ensino,

na educação. Dessa vez, na atuação do docente: aqueles professores tradicionais

que tem uma linha de raciocínio – para execução da sua atividade – voltada para o

autoritarismo, reconhecendo que ele é o detentor do conhecimento e nada mais lhe

cabe, a não ser repassar o conteúdo já pronto e acabado, ou seja, os chamados

“professores detentores-transmissores” terão seu dias contados. Pois, serão

21

substituídos pela mídia: CD-ROM, DVD’s, Internet, e outras ferramentas dos meios

de comunicação... Uma vez que todos esses conhecimentos congelados são mais

abrangentes e atualizados nesses novos meios de armazenamento de informações.

Sem falar que, com esses tipos de mídias, os alunos podem rever as explicações

quantas vezes quiserem, coisa que não seria possível diante de um professor com

esse perfil profissional. E é através desses recursos que a informação é mais ágil e

disseminada facilmente.

Como oposição, pode-se entender também, em substituição a esse perfil de

professor detentor-transmissor, surgem, também por imposição do contexto social

atual, duas funções para os professores que se adéquam as novas linhas de ensino:

a função de “comentarista crítico” e a de um “animador cultural”. Fazendo um

paralelo, a atuação do professor como comentarista crítico se assemelha como a

profissão de um narrador de futebol: na rádio, ele deve passar o desenrolar do Jogo

de modo a atrair a atenção do ouvinte e “transportá-lo” para a partida; na televisão,

apesar dos telespectadores estarem vendo o jogo, ele consegue abrir um espaço e

ter uma importância significativa. Quanto à atuação do professor como Animador

Cultural, seria algo como a atuação de um Guia Turístico vai dando maior significado

aos meios naturais.

“Cabe ao professor, como comentarista crítico, dar sentido às inúmeras informações recebidas em condições muito distintas e, naturalmente, sem um foco pré-definido. Essa riqueza de informações, obtida de forma caótica, deve produzir conhecimento focalizado numa ação nova. Orientar nessa ação é a função do comentarista crítico.” (D’AMBRÓSIO, 2004)

“O professor animador cultural trabalha com conteúdos abertos, aproveitando o ambiente natural, cultural, social, imaginário para gerar conhecimento.” (D’AMBRÓSIO, 2004)

O ensino educacional não atinge seus objetivos somente dentro da escola. O

sucesso do aprendizado não se limita ao interior da instituição de ensino. Adquiri-se

o conhecimento também, nos espaços extra-escolares tais como: Museus, sítio

arqueológicos, parques, empresas, edifícios públicos e etc. Isso, através de análises

críticas do que se viu, ouviu, leu, observou e imaginou.

22

Então surge a preocupação de repensar os cursos de formação de professores –

uma das atribuições ligadas ao insucesso da educação – pois, no modo que se

segue, as Universidades de formação de professores não conseguem atrair pessoas

interessadas em atuar no magistério, geralmente, uma boa parte daqueles que

ocupam as vagas nas Universidades têm outros objetivos a serem alcançados.

Essas instituições de ensino superior não conseguem ter uma linha de pensamento,

ou não conseguem trabalhar, levando-se em conta as exigências da sociedade,

fundamentais em suas próprias transformações. Deveria se ter a Universidade como

um espaço: propício ao avanço do saber e da aquisição de conhecimento – através

de pesquisas, sem se preocupar com a aplicação imediata; das inovações, ligadas a

tecnologia; da socialização dos saberes ao passo que expressa as informações e/ou

conhecimentos adquiridos em experiências.

2.1 FORMAÇÃO INICIAL

As atuais condições de formação profissional pouco têm influenciado na qualificação

para a execução da atividade, sem falar nas condições de trabalho. São inúmeros os

fatores que contribuem para tanto. Não se pode negar que as Universidades

Públicas enfrentam problemas que dificultam o funcionamento e/ou atividades que

fazem parte de suas atribuições. Podemos citar a falta de investimento financeiro:

acarreta um mau funcionamento administrativo, dificuldade de acomodação por

parte dos alunos – mau estado de conservação dos banheiros, cadeiras e ambiente

de estudo, e depreciação do prédio, estrutura física; a falta de estímulo a pesquisa,

contribuindo para a indesejável formação; a ausência de incentivo aos professores:

salários dignos e melhores condições de trabalho; entre outros.

Praticamente não existe a preocupação em formar pessoas capazes de atuar com

uma visão crítica, ou melhor, com intuito mudanças. Analisando de outra forma, essa

deveria ser o principal objetivo das Universidades, ou seja, o nível de instrução

oferecido hoje, subentende-se, foge dos princípios da realidade: as unidades de

ensino deveriam formar pessoas capazes de diagnosticar e agir no campo de

23

atuação, inclusive com uma visão crítica a qual deveria propor mudanças, se

necessário. Segundo Nilda Alves (1995, p.54):

O que não se justifica é torna-se a universidade um lugar de instrumentação para a dominação de pessoas, de classes e de concepções político-partidária, quando ela poderá constituir-se um lugar de fortalecimento das estruturas e de dinâmicas corporativista ou classista.

Ainda dentro dos problemas que afligem a educação e particularmente a atual

situação dos professores de matemática, Ubiratam D’Ambrósio afirma:

A educação enfrenta em geral grandes problemas. O que considero mais grave, e que afeta particularmente a educação matemática de hoje, é a maneira deficiente com se forma o professor. Há inúmeros pontos críticos na atuação do professor, que se prendem a deficiências na sua formação (1996, p. 83).

2.2 FORMAÇÃO CONTINUADA

Nos últimos anos, torna-se cada vez mais explícita a falência da formação dos

educadores para atuação em seu campo profissional, ou seja, há uma decadência

na qualidade da formação dos educadores para uma atuação competente. Além

disso, a sociedade está em constante transformação em que exige um novo papel

para o professor: mediador no processo de ensino aprendizagem. A formação

acadêmica não acompanha as mudanças e imposições sociais com isso, a formação

continuada é o caminho para tentar amenizar a lacuna existente entre a formação e

as necessidades sociais perante o papel do professor.

2.3 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Ao iniciar um curso de formação profissional, espera-se que o receba toda a

bagagem necessária para atuação em seu campo profissional. Subentende-se que a

24

Unidade de Formação tenha conhecimentos abrangentes e atualizados sobre as

necessidades (exigências) do mercado de trabalho para oferecer ao profissional que

está formando. Não deveria ser diferente quando se trata do Curso de Licenciatura

em Matemática. Ou seja, a Universidade deveria conhecer o perfil profissional que é

exigido hoje e, com base nessas informações, estabelecer um direcionamento

curricular e/ou didático para suprir as condições pretendidas de um profissional para

a prática profissional na escola.

Especificamente no Curso de Licenciatura em Matemática, há uma descontinuidade

entre a matemática ensinada na Universidade aos formandos e a Matemática

praticada na escola durante a prática profissional. A apresentação desta disciplina

para o matemático, “A Matemática Acadêmica”, é fundamentada em processos de

abstratos e procura ao máximo generalizar os métodos que sustentam estas

abstrações, ou seja, trabalham com procedimentos lógico-dedutivos e evidência a

linguagem envolvida no processo. Fica explícito, nesta visão matemática, que o

mérito é dado àqueles que conseguem atingir um maior nível de abstração a qual é

adquirida através da interiorização, em que é formada uma estrutura mental que são

acionadas para uma necessidade operacional; da condensação, onde a

interiorização é usada para captação de um processo pleno; e da reificação em que

o processo se transforma em objeto (MOREIRA, 2005).

Já a Matemática desenvolvida na prática escolar é de cunho educativo. O que é

praticado, nesta linha de ensino, é algo que vise à compreensão do processo por

parte do aluno para que ele possa utilizar na escola e no seu meio social. Que ele

possa construir justificativas coerentes e convenientes. No que se refere ao mundo

da abstração, “Matemática Escolar” não propõe ao aluno que demonstre, prove e/ou

garanta as definições já produzidas pelos matemáticos (teoremas, por exemplo). Os

pilares que norteiam as ações desta matemática estão sustentados numa visão

fundamentalmente diferente. Essa visão giram em torno de um contexto que busca

formas alternativas para apresentação de conceitos e resultados. E ainda, exige

uma reflexão sobre os erros cometidos pelos alunos para que isso tenha como

resultado uma mudança da alternativa adotada. (MOREIRA, 2005)

25

Diante deste cenário, que Plínio Cavalcanti Moreira e Maria Manuela M. S. David

(2005) chamaram de Matemática Acadêmica x Matemática Escolar, em “Formação

Matemática do Professor, licenciatura e prática docente escolar” o professor acaba

lhe dando com situações distintas para um mesmo fim. Com isso, a sua prática

profissional acaba sendo um “campo” de aprendizagem em que ele reestrutura seu

conhecimento e adapta às necessidades de atuação – acaba eliminando algo que

na Universidade funciona como um ápice (uma posição de destaque) a ser

alcançado e que é fundamentado na abstração, em favor de outra linha de atuação

que mantenha certa relação com a realidade vivida naquele espaço em que está

inserido – meio profissional.

CAPÍTULO III

26

3. CONHECIMENTO E AÇÃO.

Ao longo dos tempos, percebe-se a inquietação do homem, refletido na sociedade,

em busca de algo novo, de explicações e formas de lidar/conviver com o meio em

que está inserido – atingindo inclusive a cultura. A vontade de sobreviver é uma

característica típica das espécies vivas que tendem a evoluir com o passar do

tempo. Porém, o ser humano possui outra característica marcante e explicita no seu

cotidiano, a vontade de transcender – ir além do limite, está sempre em busca de

algo.

Tem-se a matemática como sendo a resposta às necessidades de sobrevivência e

de transcendência, que sintetizam a questão existencial da espécie humana – cria

teorias e práticas que resolvem a questão existencial. Esses experimentos são

aprimorados cada vez mais, ao passo da necessidade humana que possivelmente

não terá fim. O homem nunca está satisfeito pelo que tem, procura sempre melhorar

suas condições. Talvez seja essa uma das muitas explicações para ter alcançado a

dimensão de conhecimentos adquiridos em toda a história da humanidade. Pois, a

obtenção e elaboração do conhecimento se dão no presente, como resultado de

uma experiência no passado, com planos de estratégias para o presente, sendo

lançada para o futuro. Dessa forma o homem vai modificando e introduzindo novos

fatos e informações na história.

“O ciclo da vida é: (...) a REALIDADE informa o INDIVIDUO, que processa a informação e define a estratégia de AÇÃO que insere novos fatos na REALIDADE, que informa o INDIVIDUO que processa (...). (D’AMBRÓSIO, 2005, p.108).

Esse ciclo da vida é (foi) vivenciado nos estudos matemáticos. Deve-se lembrar de

alguns estudiosos apontados como responsáveis pelo desenvolvimento e pela

solidificação da matemática na história: Pitágoras, Euclides, Tales, Leibniz, Einsten,

Galileu... Pode-se afirmar que estes souberam executar muito bem o “ciclo da vida”.

Tanto que hoje, essa ciência é de suma importância e tem seus pontos de

27

ancoragem sustentados em experimentos e conclusões desses heróis – a maioria

filósofos. Talvez por uma certa idolatria a esses cientistas, pela forma como eles

foram lapidando essa ciência, a matemática é vista como uma ciência de números e

formas, que apontam para a precisão, rigor e exatidão. É soberana em qualquer que

seja a cultura. Dá-se então, um caráter de ciência dominante – seja qual for o meio,

ela se apresenta da mesma maneira, não sofre nenhuma influência decorrente de

uma sociedade e/ou cultura.

Uma cultura pode ser identificada pelos comportamentos cotidianos dos indivíduos

que a constrói: explicações, filosofias, ações e teorias. Todos esses elementos

apóiam-se em ferramentas como a comunicação, a representação, a comparação...

Que são determinantes dentro de um meio, pois, variam entre as diversas culturas e

se transformam com o tempo. Conseqüentemente, surge o conhecimento que é

dado conforme a cultura e é sempre inovado. Em uma de suas obras D’Ambrósio

afirma que o homem (individuo) deve procurar conhecer mais as coisas para

conhecer melhor e assim, aprimorar – eis mais um exemplo de transcendência.

Sabe-se que a matemática tem uma função tão essencial para o ser humano, em

sua vida, quanto à linguagem. Qualquer pessoa, seja qual for o grau de instrução, se

apropria de formas matemáticas em seu cotidiano. Às vezes, isso é tão intuitivo que

não se percebe a aplicação dessa ciência, por exemplo, o hábito de contar. Esse

mecanismo é tão simples que o ser humano não associa como sendo uma técnica

ou conhecimento específico dessa ciência. O mesmo acontece ao somar números

de um dígito, é algo como ler e falar. Quando parte para soma e multiplicação de

números com dois ou mais dígitos, há uma necessidade de utilizar vários recursos

como, por exemplo, relembrar a tabuada. A partir de então, é que fica mais explicita

a aplicabilidade do conhecimento matemático. Outro bom exemplo, é a

porcentagem. Muitas pessoas, até mesmo as que nunca freqüentaram a escola

regularmente, sabem lidar e fazer cálculos, mentalmente, de DESCONTOS, JUROS,

ACRÉSCIMOS envolvendo percentuais, principalmente, pessoas que vivem de

comercio, seja num mercadinho, num camelô ou em feiras-livres. Detalhe: Eles

28

fazem esses cálculos mentalmente, mas não têm a mesma habilidade, às vezes não

sabem como fazer, através de métodos e técnicas manuscritas da matemática.

Isso evidência o modelo de abordagem que se implantou na disciplina. Uma

metodologia baseada em processos abstratos – se liga a idéias e não a

instrumentos reais. Basicamente ignora seus princípios, já que, os conceitos

elaborados, hoje praticados, foram criados por motivos práticos e não apenas por

motivos racionais. Hoje, para que o aluno possa se dá bem nessa disciplina, faz-se

necessário que entenda os mecanismos dessa abstração, desenvolvendo técnica e

recursos para complementar a prática, além de entender a formação dos conceitos

matemáticos.

Essa forma de ensino é resultado de um movimento educacional inserido numa

política de modernização econômica o qual tornou a matemática um caminho

privilegiado para o pensamento científico e tecnológico, bem próxima da visão dos

estudiosos e pesquisadores – é o que se denominou, MATEMÁTICA MODERNA.

Daí então, o ensino ganhou um caráter de formalizações excessivas, distanciando-

se das questões práticas (sociais). Pode-se considerar que um dos instrumentos

utilizados para alcançar essa linha de raciocínio, foi a forma de elaboração dos livros

didáticos que persiste até hoje. Grande parte desses livros é elaborada de forma

resumida, focalizando as técnicas de resolução. Não há um embasamento histórico

para iniciação do assunto com isso, a abordagem fica bastante resumida; as

formulas já vêem prontas, bastando apenas decorar; há um foco maior para os

exercícios a fim de que o aluno adquira habilidades na resolução dos exercícios.

Essa centralização, que o aluno aprenda somente técnicas, é tão evidente nos livros

didáticos, que eles trazem, nas páginas finais, as RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS.

Essa linha de pensamento, praticamente ignora as condições de conhecimento

obtidas pelo individuo na esfera social. Ao dá espaço para que algo de concreto

seja incorporado nas execuções práticas da ciência, ou seja, a interação social e o

ensino matemático não conseguem adquirir harmonia de modo que um determinado

29

conteúdo tenha aplicabilidade prática na realidade social do individuo nela inserida.

Cria-se uma linha escolar organizada esquematicamente, privando o homem do

patrimônio de conteúdos conquistado durante sua vida pessoal. Tanto que nas

escolas, o melhor aluno é aquele que responde a prova completa sem erros e tem

uma certa facilidade de resolver os exercícios. Independe se ele assimila ou não o

assunto com o contexto social, se é capaz de aplicar as técnicas e habilidades na

vida prática.

Na década de 70, depois de um fracasso da matemática moderna, deu-se início,

pelos educadores da época, a uma reação contra a existência de um currículo

comum e da maneira de apresentar a matemática de uma só visão – conhecimento

Universal e de verdades absolutas. Ou seja, essa matemática não abria caminhos

para o que se chama de conhecimento prévio do aluno - o que ele traz para a sala

de aula em decorrência da sua cultura social.

Surgiram então, várias correntes educacionais para essa disciplina cujo objetivo dos

educadores era focalizar a cultura da sociedade envolvida. Aplicar o conhecimento

matemático na vida diária dos pedreiros, dos artesões, por exemplo, a fim de que

possam utilizá-la como ferramenta em suas atribuições. Daí, surgem novos termos

para essa nova linha de educação:

• Em 1973, Cláudia Zalavsk, chamou de sociomatemática, as aplicações da

matemática na vida dos povos africanos;

• Em 1982, Ubiratan D’Ambrósio, denominou Matemática Espontânea, os

métodos matemáticos desenvolvidos por povos a sua luta de sobrevivência;

• Também em 1982, Posner, designa Matemática Informal, aquela que se

transmite e apresenta fora do sistema de Educação Formal;

30

• Ainda no mesmo ano, Paulus Gerdes, chamou de Matemática Oprimida,

desenvolvida em Países Pobres dando destaques à existência do elemento

opressor: sistema de governo, pobreza...

• No ano de 1987, por Gerdes, Matemática Não-Estandartizada, para

diferenciar da academia. Anteriormente, 1985, usou Matemática Escondida e

Congelada;

Enfim, após outros e outros termos utilizados por vários educadores, o termo

Etnomatemática foi citado pela primeira vez por Ubiratan D’Ambrósio em 1985,

através de seu livro: “Etnomathematics and its Place in the History of Mathematics” ,

termo inserido na Historia da Matemática. É importante lembrar, que em 1986 foi

criado o Grupo Internacional de Estudo em Etnomatemática (IGSEm) o qual reunia

pesquisadores educacionais de todo o mundo que estavam preocupados com a

maneira de utilizá-la em sala de aula.

Vale lembrar, que em 1980 o National Council of Teachers of Mathematics – NCTM,

através de um documento conhecido como “Agenda para Ação”, apontou alguns

caminhos norteadores a serem seguidos no ensino da matemática. Dentre eles,

destacou a compreensão da relevância de aspectos sociais, antropológicos,

lingüísticos e cognitivos, na aprendizagem da matemática. Daí, surgiram novos

rumos de discussões curriculares. Vários países adotaram essa nova visão e

apresentaram pontos de convergências comuns: direcionamento do ensino para

aquisição de competências necessárias à cidadania; desempenho ativo do aluno na

construção do seu conhecimento; exploração da matemática a partir de problemas

vividos no cotidiano do aluno...

Percebe-se que a etnomatemática é uma das manifestações da sociedade diante da

necessidade de abordar a matemática num contexto social, ou melhor, adaptá-la a

uma determinada cultura. Entende-se, também, por cultura, um conjunto de

conhecimentos compartilhados e comportamentos compatibilizados. Veja, por

31

exemplo, uma comunidade que conviva com a agricultura e dependa totalmente dela

como meio de sobrevivência. Eles, através da matemática, poderão buscar ou

organizar instrumentos capazes de analisar as condições climáticas e as

necessidades de manejos diários; criar uma base de conhecimento importante para

análise de produção e/ou comportamentos - um bom exemplo disso, seria a

aplicação de estatística no meio rural a qual poderia apresentar uma prévia de

colheita/desperdício da produção.

Veja adiante, um outro exemplo citado por D’Ambrósio no jornal “Diário do Grande

ABC” em, 31 de outubro de 2003. Para ele, a matemática passada pelo professores

de hoje, é usada como filtro social que indica quem está melhor preparado para

tomar decisões, ele acredita que o natural seria a matemática ser tratada como um

conhecimento presente em todas as coisas do cotidiano das pessoas.

“Um médico de cultura indígena não usa um eco cardiograma para enxergar o que se passa no coração do paciente, ele usa elementos de outra natureza. Essa matemática não é menor que a outra, é adequada àquele ambiente.”

3.1 ETNOMATEMÁTICA

A criação de técnicas e habilidades para entender e conhecer as necessidades de

sobrevivência no seu habitat natural, sociedade e cultura, é o que podemos designar

o conceito de ETNOMATEMÁTICA.

A proposta do programa da etnomatemática não é rejeitar a matemática acadêmica,

a qual é vista como essencial para o individuo ser atuante no mundo moderno, isso

se dá devido ao grande avanço tecnológico vivido atualmente. O alvo da

etnomatemática é incorporar a matemática atual ao momento cultural,

contextualizada, na educação matemática. Ela privilegia o raciocínio qualitativo e

não só, o quantitativo. É uma linha de raciocínio que abre espaço para identificar a

melhor maneira de atingir o sucesso do ensino matemático conforme a necessidade

32

e capacidade de aquisição de conhecimento dos elementos envolvidos, o melhor, da

sociedade envolvida.

Essa nova forma de Educação surge como uma ferramenta contrária ao caráter de

universalidade adquirida pela matemática – obtida numa linguagem superior as

diversas culturas, um deus supremo. Com isso, a etnomatemática revela-se

contrária a essa homogeneização cultural e a favor do convívio harmonioso das

diferenças através do respeito mútuo, da solidariedade e de cooperação. Tem como

princípios, os conhecimentos próprios de cada cultura, reconhecendo as pulsões,

próprias da espécie humana, de sobrevivência e transcendência. Com o objetivo de

entender o ciclo do conhecimento em diversos ambientes, já que o homem tem seu

comportamento sustentado pela obtenção de conhecimento (saber/fazer).

Assim como outras ciências, a matemática foi desenvolvida com o objetivo de

justificar, de conhecer, de aprender e até dar uma previsão para o futuro. No

entanto, a metodologia de ensino tomou um rumo de condicionamento planetário,

uma tentativa de unificar o conhecimento dessa ciência mundialmente, ou seja, a

matemática, ensinada nos Centros Urbanos da França, deve ser a mesma ensinada

no Sul da África. Esse exemplo (França x África) é para deixar mais evidente a

vontade de homogeneizar o conhecimento dessa ciência, independentemente dos

costumes – dois países de costumes diferentes, sendo a matemática a mesma para

ambos. É uma modelagem intercultural – relação entre indivíduos de culturas

distintas. Não muito longe, basta comparar o ensino numa escola de uma Região

Metropolitana e a de uma escola da Zona Rural cujos relacionamentos estão

basicamente ligados a tecnologia e a agricultura, respectivamente.

Pode-se citar, a diversidade dos Meios de Comunicação como uma poderosa

ferramenta para essa tentativa de unificação planetária. Esses meios facilitam o

transporte das informações nas diversas culturas, levam a todas, as mesmas

informações e, conseqüentemente, as mesmas técnicas de lidar e conhecer. Com

isso, abre uma enorme possibilidade para que essa imposição/pasteurização seja

atingida, independentemente se há ou não entendimento e harmonia entre a

33

humanidade. Essa é mais uma das influências dos meios de comunicação na

educação em geral. Como todo processo, há influências negativas e positivas, seja

na formação do aluno, na formação do professor, em atividades interdisciplinares e

outras.

CAPITULO IV

34

4. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

4.1 METODOLOGIA

Neste capítulo será descrito os passos da realização da pesquisa bem como fatos

que são considerados importantes durante o processo, em cima disso, será feito

algumas observações baseadas em pesquisas teóricas, realizadas antes do projeto,

sobre o tema ou que venha a servir de ponto de ancoragem para as devidas

afirmações.

Como se trata de uma nova forma de educação matemática, a opção foi por

observar ou ter como base para essa pesquisa a Educação de Jovens e Adultos

(EJA) que se apresenta como uma cultura e a metodologia de ensino aplicada no

campo de pesquisa. O campo de pesquisa é uma escola localizada num bairro

central de Petrolina com uma estrutura física significante: 15 salas de aulas, uma

biblioteca, sala climatizada para os professores, um auditório para apresentações

teatrais e outras, e logo em breve, um laboratório de informática além de ampliação

da biblioteca. Atende em dois turnos, pela manhã, às turmas de 5ª série ao 3º ano

do Ensino Médio, e à noite tem suas salas todas ocupadas em sua totalidade por

aluno do EJA.

A opção pelo EJA foi por se acreditar que seja o alvo para a aplicação de novos

métodos para o ensino da matemática, já que dispõe de um grande percentual de

alunos pertencentes a classe trabalhadora – o que podemos designar, uma mesma

cultura. E também porque esse programa de educação não deve ser tratado com o

tradicionalismo, pois, além da característica apontada, há alunos que deixaram de

estudar a um bom tempo e, devido a isso, não devem ser encarado de mesma forma

que os jovem de ensino continuado.

Como meios para argumentação da pesquisa, foi feito um bom diálogo com os

professores e um pouco mais aprofundado com os alunos do programada de ensino

pesquisado. Com estes, foi possível realizar ainda, uma aula numa perspectiva

etnomatemática, seguida de uma avaliação ainda com traços da avaliação

tradicional, sem contar com uma rica conversa informal com vários deles.

35

O primeiro passo da pesquisa foi marcado por uma conversa com os alunos, com o

objetivo de se conhecer a realidade social em que os mesmos estavam inseridos: o

cotidiano dessas pessoas. Em circulo, os alunos foram questionados. Num primeiro

momento as perguntas foram dirigidas de tal forma que pudesse revelar o perfil

socioeconômico dos alunos: faixa etária, estado civil, relacionamento com os

membros da família, participação financeira na família, se trabalha, em que trabalha,

horas trabalhadas por dia e outras. Ao final dessa primeira etapa, foram

questionados o motivo da opção pela Educação de Jovens e Adultos e o uso dos

conteúdos matemáticos, abordados em sala, em seus cotidianos.

Após esta etapa, chegou-se ao perfil da turma alvo da pesquisa, considerando as

maiores ocorrências encontradas:

• Alunos com faixa etária superior aos 30 anos;

• Na maioria dos casos, estão retornando à sala de aula após anos de

abandono;

• Pessoas que trabalham no comércio, portanto no mínimo 8 horas diárias,

tendo que, às vezes, sair do trabalho direto para a escola; e,

• Única fonte de renda na família – há casos em que dividem com outrem;

Quanto à opção pelo EJA, os alunos afirmamser devido à situação social aliada à

perspectiva de desenvolvimento pessoal. Acreditam que através da Educação de

Jovens e Adultos o nível de escolaridade seja elevado mais rapidamente e, como

conseqüência, traga mudanças em sua vida pessoal – oportunidade de conseguir

uma melhor empregabilidade. Muitos assumem que, atualmente, as oportunidades

de emprego estão ficando escassas para quem tem o segundo grau completo, com

isso, imagina-se que aqueles que não tem, no caso deles, a situação é ainda pior.

Tratando-se do relacionamento do conteúdo matemáticos com a vida diária, os

alunos alegam que não há nenhuma aplicabilidade já que o professor segue a

mesma linha, sempre, explica o assunto, apresenta o exercício, ele mesmo resolve

de forma explicativa e, em seguida, pede para os mesmos tentar resolver o

exercício seguinte. Esse mecanismo é repetido constantemente, segundo eles, o

professor não apresenta nenhuma outra forma de abordagem do conteúdo. Quanto

36

às avaliações, o professor chega a colocar o mesmo texto das questões trabalhadas

nos exercícios em sala de aula, mudando apenas os números (valores). Ou seja, é a

educação do “faz de conta” O professor faz de conta que ensina e os alunos que

aprenderam. Ou, Educação bancária, como definiu Paulo Freire.

Fazendo uma breve análise do passo anterior, nota-se que há uma grande lacuna a

ser preenchida. A própria Constituição federal e a LDB estabelecem que as

características dos aluno, seus interesses, condições de vida e de trabalho devem

ser considerados para que oportunizem uma educação apropriada já que são alunos

que não puderam efetuar seus estudos em idade regular. Além disso, acredita-se

que proposta pedagógica da Educação de Jovens e Adulto esteja pautada na

qualidade do ensino dirigido por professores capacitados que estejam atentos às

dinâmicas sociais.

Nos dias de hoje a alfabetização não visa somente à capacitação do aluno para o mercado de trabalho é também necessário que a escola desenvolva no aluno suas capacidades, em função de novos saberes que se produzem e que demande um novo tipo de profissional, que o educando obtenha uma formação indispensável para o exercício da cidadania. (SILVA, 2009)

Após a análise situacional, partiu-se para a próxima etapa que foi a elaboração de

uma aula que levasse em conta as questões sócioeconômicas dos alunos, que

tivesse uma forma diferenciada de abordagem e, mais importante, que eles

adquirissem um conhecimento no qual fosse posto em prática na vida pessoal, seja

em casa, no trabalho e na escola. Durante o período de pesquisa, o próximo assunto

a ser trabalhado seria PORCENTAGEM. Aproveitando a oportunidade, foi elaborado

um plano de aula em cima deste assunto. Sabemos que a matemática tem diversas

aplicações no dia a dia das pessoas. De modo especial, a porcentagem para esse

grupo de aluno é de suma importância para uso na atividade profissional já que,

ratificando, a maioria dos mesmos atuam no comércio da cidade.

Como material de apoio, foram utilizados jornais de alguns estabelecimentos

comerciais, inclusive de lojas em que alguns alunos trabalham, que mostram os

produtos para venda, forma de parcelamento e pagamento à vista. A partir de então,

foram criadas situações problemas em que os alunos eram levados a questionar e

fazer comparativos a fim de que pudessem escolher a melhor opção de compra caso

37

desejasse. Por outro lado, trabalhou-se também numa visão de comerciante em que,

por exemplo, comprovasse um produto com a intenção de revendê-lo com um lucro

de “x” por cento. Outro instrumento de auxílio foi a calculadora eletrônica. Como o

objetivo é fazer o aluno enteder a dinâmica do problema e a forma de resolvê-lo,

neste primeiro momento, a realização do cálculo escrito iria, certamente, tirar o foco

do aluno ao que pretende-se alcançar, ou seja, seria uma “perda de tempo”, já que

todos sabem trabalhar com as quatro operações, bem como, com frações e com

números decimais. É importante salientar que, apesar do uso da calculadora

eletrônica, os alunos foram proibidos de usar a tecla de porcentagem da calculadora.

Eles foram limitados a usar o instrumento apenas naquilo que já tinham

conhecimento (multiplicação, divisão, adição e subtração), tanto que, alguns alunos,

dispensaram o uso da mesma.

A princípio, passou-se a idéia do que representa um dado percentual sobre um certo

valor. Por exempo, 20% indica que a cada 100 temos 20 de algo, então, 20% de R$

300,00 representa R$ 60,00 já que R$ 300,00 é igual a R$ 100,00 + R$ 100,00 + R$

100,00. Como para cada R$ 100,00 temos R$ 20,00, então: 20 + 20 + 20 = R$

60,00. Diversos exemplos como este foram mostrados a fim de que o aluno pudesse

compreender e fazer alguns cálculos mentalmente. Partindo para a parte de

cálculos, foram apresentadas aos alunos as duas formas de representar um número

decimal, na forma de fração e na decimal. Ainda no exemplo dado, 20% pode ser

representado por 0,20 ou 20/100. A partir de então, apresentou-se um problema com

a devida resposta, daí o aluno foi impulsionado a procurar, através das quatro

operações, como se chegou àquele resultado usando o percentual em uma das

duas representações supracitadas. Não demorou muito para os alunos perceberem

que para saber o valor que representa o percentual de algo, basta multiplicar o valor

total pela forma decimal do percentual dado. Pegando o exemplo acima, tem-se que

300 x 0,20 = 60.

Percebendo o entendimento do aluno, elevou um pouco o grau dos problemas

propostos, partiu-se então, para a questão de descontos, acréscimos, lucros e

prejuízos. Como a idéia principal da porcentagem foi bem absorvida pelos alunos e

por estarem diariamente lhe dando com lucros e prejuízos por trabalharem no

comércio, ficou fácil entender que basta saber quanto a porcentagem representa do

38

total e, a partir disso, somar, se for algo voltado para acréscimo ou lucro, ou subtrair,

se for o caso de desconto ou prejuízo. Num terceiro momento, durante a aula, os

alunos foram levados a descobrir o percentual que um valor representa sobre outro,

o inverso do que foi proposto nos primeiros momentos. Para tanto, usou-se o

mesmo dinamismo, foi proposto um problema com a devida resposta a fim de que o

aluno procurasse os passos para chegar àquele resultado. Chegando a descobrir

que basta dividir o valor que quer se fazer representar em percentual pelo todo,

encontrando como resposta um número decimal que deveria ser multiplicado por

cem para obter o percentual direto. Ainda com o exemplo dado, funcionaria da

seguinte forma: 60 dividido por 300 é igual a 0,2 vezes 100 é igual a 20, ou seja,

20%.

4.1.1 AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO

Sabendo que o professor já havia trabalhado o assunto de porcentagem numa outra

turma da mesma modalidade de ensino (EJA), optou-se por aplicar um exercício nos

mesmo moldes da turma já trabalhada. O objetivo foi fazer um comprativos entre os

resultados de uma aula dada nos moldes tradicionais e outra baseada no

conhecimento da etnomatemática.

39

4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Analisando a prova realizada pelo professor há vestígios que ratificam as

informações colhidas no início da pesquisa. A professora procurou repassar o

conteúdo de porcentagem tendo como ponto de ancoragem a regra de três simples.

É importante frisar que o professor não abordou o conhecimento de regra de três

antes de iniciar o de porcentagem. Como informado anteriormente, ele mostrou a

maneira de resolver um problema e, de forma repetitiva, seguia para os próximos –

explicando com exemplos. Na realidade, o que está sendo passado é o mecanismo

de resolução e não o conhecimento da situação para a busca do resultado. Abaixo,

tem-se a figura de uma questão respondida pelo alunos nesta prova feita pelo

professor. A questão é a seguinte: “70% do salário de José é gasto com

alimentação. Se ele recebe R$ 600,00 encontrar: o valor gasto com alimentação.

Figura 1. Cópia de parte da avaliação de um aluno. Questões aplicadas numa perspectiva

tradicionalista.

Como resposta para a questão, o alunos encontrou 8,5. Como este aluno não é

levado a fazer uma análise da questão, ele não chega a refletir sobre a resposta

encontrada, pois como justifica 8,5 representar 70% de R$ 600,00 se a cada R$

100,00 temos R$ 60,00, ou ainda, 1% de R$ 600,00 é 6, 6 x 70 = 420 (R$ 420,00,

resposta que deveria ser apresentada pelo aluno). Quanto ao mescanismo de

resolução, o aluno consegue fazer tudo como “pede o professor”: Se for observado,

na organização dos dados, lado esquerdo da figura, ele consegue colocar os valores

de acordo com a unidade de medida (um sobre o outro). Será que ele consegue

entender essa necessidade para resolver um problema de regra de três? Acredita-se

40

que não, já que os problemas propostos nesta avaliação, são os mesmos exemplos

explicativos que o professor impôs ao trabalhar o assunto, mudando apenas os

valores/medidas.

4.2.1 DETALHES SOBRE A AVALIAÇÃO DO PROFESSOR:

• Antes da “prova” o professor faz uma “atividade avaliativa” valendo três

pontos e a “prova” valendo dez pontos. Deste total, o alunos tem que ficar

com uma nota acima de seis para ser aprovado nesta avaliação, caso

contrário, irá fazer a recuperação, persistindo a nota baixa, há outra

recuperação – sem contar que o aluno pode seguir nas séries adiante caso

não consiga atingir a média;

• Durante a “atividade avaliativa” o aluno pode consultar o caderno para

resolver as questões que são as mesmas com valores diferentes;

• O professor não tem o trabalho de preparar a prova. O mesmo escreve as

questões no quadro e pede que os alunos copiem no caderno e destaque a

folha ao término.

Na Avaliação de Conhecimento realizado com os alunos foco da pesquisa, houve a

preocupação de fazer uma atividade digitada e apresentar figuras associadas às

questões. Ao receber uma atividade com ilustrações, a exemplo da usada na

pesquisa (figura 2), os alunos podem fazer uma analogia a alguma atividade extra-

escolar. Isso também faz parte da metodologia aplicada na abordagem do conteúdo

– jornais dos estabelecimentos comerciais usados na aquisição do conhecimento. E

ainda, uma questão como a supracitada pode levar o alunos a, por exemplo,

despertar a vontade de revender ou repassar para alguém vender algo

estabelecendo um percentual para o seu lucro ou de outrem.

41

Figura 2. Cópia da avaliação de um aluno. Questões baseadas em situações cotidianas dos alunos envolvidos na pesquisa.

Quantos aos erros cometidos pelos alunos, pôde-se constatar somente aqueles

ligados a “falta de atenção”. Seria algo, como por exemplo, na hora da multiplicação,

o aluno informar certo algarismo onde deveria ser outro. Não foram observados

nenhum tipo de resposta incoerente como a apresentada pelo aluno na primeira

figura (melhor diferenciar, “prova do professor”). A maneira de resolver as questões

variava de aluno para aluno: alguns resolviam usando a representação decimal para

a porcentagem indicada no problema e outros usavam a forma de fração. Isso é

resultado da forma que a aula foi conduzida, mostrando vários caminhos e deixando

o aluno a vontade para escolher a maneira de resolve-la – não foi imposta uma

forma única de resolução, a forma encontrada foi “descoberta” por eles. Os alunos

foram Sujeito na construção do conhecimento.

4.2.2 DETALHES DA AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTO:

42

• A questões apresentadas foram propostas com base em situações reais, a

exemplo do percetual de aprovados no vestibular de determinado curso;

• “Questão Bônus”: a questão apresentada é similar à questões cobradas em

concurso e vestibulares – crescimento profissional e pessoal, buscado pelos

alunos;

• Durante a avaliação, os alunos não puderam fazer uso da calculadora

eletrônica, todos os cálculos foram manuscritos e registrados na prova;

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

43

A metodologia de ensino adotada pela maioria dos professores de matemática está

totalmente mergulhada no tradicionalismo. Muitos destes profissionais,

principalmente àqueles com mais de 10 anos de carreira, não têm interesse em

avaliar suas propostas pedagógicas, ou melhor, fazer seus planos de aula. Acredita-

se que a falta de interesse esteja ligada a desvalorização do professor na sociedade

atual. Fala-se muito em reformas educacionais. No entanto, o foco destes

movimentos não inclui a valorização do professor, pelo contrário, apenas impõem a

necessidade de mudanças e de maior efetividade em suas práticas pedagógicas.

Pode-se constatar que a matemática está presente no dia a dia das pessoas e que é

de suma importância, se aplicada. A escola deve apresentar-se como um ambiente

de “transfomação do conhecimento”: recebe o conhecimento de vida adquirido pelo

alunos, processa e devolve ao aluno de forma mais ampliada. Neste contexto, o

professor é a peça fundamental, sem ele, o conhecimento não atingiria grandes

dimensões, o aluno não teria onde apoiar seus conhecimentos para recebê-lo

ampliado e a escola não teria essa importância já que, entrar e sair não seria

bastante para o aluno ampliar sua visão. Para tanto, o professor deve ter ciência de

que suas práticas pedagógicas são diretamente responsáveis para ratificar sua

importância em meio às exigências da sociedade.

Nota-se que uma prática pedagógica feita com foco nas questões sociais dos alunos

torna a aula mais atrativa e atinge, senão o todo, boa parte do papel estabecido pela

sociedade à escola: forma cidadãos capazes de atuar na sociedade, sendo capazes

de críticas e adquirir opiniões próprias com base no conhecimento adquirido e

ampliado na escola. Não se trata de reiventar prática de ensino e sim, de fazer uma

análise dos dados que norteiam àquela cultura (vivência dos alunos) para então,

planejar a melhor forma de abordagem a fim de que o conhecimento não fique

limitado às paredes da escolar. Ou seja, não se trata de “reinventar a roda” e sim,

aprimorá-la para a melhor forma de uso e de obtenção de resultados.

Com esta visão, acredita-se que em pouco tempo, o ensino tradicional será extinto.

Á medida que novas formas de trabalho forem surgindo e tendo resultados que

reflitam na sociedade de forma benéfica, os alunos passarão a não aceitar aquele

44

ensino baseado no faz de conta. Eles irão sentir a necessidade de algo mais

significativo, algo que justifique a presença deles durante aquele período, caso

contrário: será uma mera perda de tempo que por imposição da sociedade tornou-se

muito valioso nos dias atuais. Eis um bom exemplo do que a sociedade pode fazer

com as práticas pegagógicas: torná-la valiosa, de tal forma que, se não for bem

aproveitada acarretará em prejuízos individuais ou coletivos.

REFERÊNCIAS

45

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática: Elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

_______, Educação Matemática: da teoria à prática. 16 ed. Campinas, SP: Papirus (Coleção Perspectiva em Educação Matemática), 2008.

_______, Formação de Professores: o comentarista crítico e o animador cultural. Disponível em: <http://vello.sites.uol.com.br/formar.htm> acesso em: 14 abr. 2011.

MOREIRA, Plínio Cavalcanti; DAVID, Maria Manuela M. S. A formação matemática do

professor: licenciatura e prática docente escolar. Belo Horizonte: Autêntica, 2005

MARCO, Fabiana Fiorezi. Estudo dos processos de resolução de problemas

mediante a construção de jogos computacionais de matemática no ensino

fundamental. 2004. 157f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade

Estadual de Campinas Faculdade de Educação, Campinas 2004.

SOUZA, Roseli Lima Dias. Resolução de problemas matemáticos. 2009. Artigo.

OLIVEIRA, Sérgio Santos de Jesus. O Ensino da Matemática através das Novas

Tecnologias. 2011. Artigo.

HUBNER, Luciana. Etnomatemática. Diário do Grande ABC, Santo André, SP, 31 out. 2003. Diário na Escola – Santo André, p. 3.

ANEXO

AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTO

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1. Observe, na tabela, o número de inscritos e o número de aprovados para os cursos de Direito e Medicina de certa universidade. Determine a taxa percentual de aprovação em cada um desses cursos.

2. Milton comprou uma filmadora digital por R$ 2.500,00 e deseja revendê-la com lucro de 15%. a) De quanto será o lucro em reais?

b) Qual será o valor de revenda?

3. Qual dos pacotes abaixo oferece maior quantidade suplementar de café

15% 20%

400g 250g

4. Um carro foi vendido com 25% de lucro sobre o preço de compra. Se o preço de venda foi de R$ 15.000,00, qual foi o preço de compra do carro?

5. Um perfume custa R$ 150,00. Para a compra à vista, há um desconto de 15%. Quanto esse perfume custa à vista?

6. Renato comprou um objeto por R$ 240,00 e vendeu-o um mês depois com prejuízo de 40%. Por quanto Renato vendeu o objeto?

QUESTÃO BONUS !!!

Direito Medicina

Inscritos 500 800

Aprovados 60 64

47

7. Determine o valor de 5% de 50% de 60.