17

Eu, ele e meu marido 15

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Quando o amor é verdadeiro, não existem fronteiras. Eles nasceram um para o outro.

Citation preview

Page 1: Eu, ele e meu marido 15
Page 2: Eu, ele e meu marido 15
Page 3: Eu, ele e meu marido 15

Eu, ElE E mEu maridodelírio ou realidade

Page 4: Eu, ele e meu marido 15
Page 5: Eu, ele e meu marido 15

São Paulo 2016

Eliene dos Santos Vitalino

Eu, ElE E mEu maridodelírio ou realidade

Page 6: Eu, ele e meu marido 15

Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda

Projeto Gráfico Jacilene Moraes

Revisão Vanise Macedo

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________V822e

Vitalino, Eliene dos Santos Eu, ele e meu marido: delírio ou realidade / Eliene dos Santos Vitalino. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2016.

ISBN 978-85-437-0627-6

1. Romance brasileiro. I. Título.

16-32462 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________19/04/2016 22/04/2016

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 – 3º andarCEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

Page 7: Eu, ele e meu marido 15

5

Sul da Bahia, 1980

Júlia era só uma menina; contava com 12 anos. Seu brinquedo favorito, um velho balanço localizado no fun-do do quintal, era seu alvo, para onde corria todos os dias, após chegar da escola. Em sua casa, havia um espaço muito grande, com inúmeras árvores, inclusive uma anti-ga mangueira próxima à ribanceira.

Ela balançava-se por horas, e não sentia medo de ficar sozinha. Por isso, foi uma grande surpresa o que lhe acontecera naquele dia, e jamais viria a se esquecer...

Estava se balançando e, de repente, ouviu um estron-do. Quando olhou para cima, percebeu que o galho da ár-vore havia partido. Tudo aconteceu tão rápido que não foi possível parar o brinquedo. Apavorada, começou a gritar:

— Mãe, me ajude! Vou cair! Socorro!Ao mesmo tempo, Júlia sabia que não havia a quem

pedir ajuda, pois estava só! A mãe tinha saído, e os vi-zinhos ficavam um pouco distantes. De toda a forma, não queria saber e gritava como louca. Naquele momen-to, misteriosamente, ela sentiu mãos a tocando por trás. Com voz suave, a pessoa disse:

— Não tenha medo; estou aqui. Eu ajudarei você. – parou o balanço e ajudou-a a descer.

Após o susto, Júlia mirou o rosto daquele rapaz e sentiu algo estranho. Perguntou-lhe o nome.

— Richard. Meu nome é Richard. E qual é o seu, garota?

— Júlia; eu me chamo Júlia. Você veio de onde? Não é daqui, pois o vilarejo é muito pequeno; se fosse,

Page 8: Eu, ele e meu marido 15

6

eu o conheceria. Minha mãe vende roupas, e eu traba-lho com ela.

— Você é linda! – disse Richard; ele aproximou-se da moça, sem responder e a beijou, abraçando-a forte-mente — Acho que você é a mulher da minha vida!

— Como, Richard?! Você já é um rapagão, e eu sou uma garota! Só tenho 12 anos.

— Qual o problema, minha menina? Não é por ter 22 que há impedimento pra sermos namorados. – ao aca-bar a fala, beijou-a novamente.

— Júlia! Júlia, minha filha, onde você está? – per-guntava Helena, mãe da menina.

— É a minha mãe e está me chamando. Venha, Ri-chard; eu vou apresentá-la a você.

Quando Richard ouviu aquelas palavras, abraçou-a bem apertado e disse:

— Agora não, Júlia; eu não posso. — e foi sumindo.Júlia continuou parada, olhando o lindo rapaz sair.

Na mente, pensava: “como é lindo! Pele branca, cabelos castanho-escuros, olhos azuis... Enfim, Richard é lindo!”. Ela ainda sentia o seu cheiro; ainda podia sentir o gosto do seu beijo.

Então, a poucos metros dali, Richard desapareceu de sua frente como se não fosse de carne. Ao perce-ber, Júlia entrou em pânico e começou a gritar por seu nome, dizendo:

— Onde você está, Richard? Cadê você? Por que faz isso comigo? Você não é de mentira! Você me beijou; eu senti seus lábios me tocando... Richard, volte para mim!!

Page 9: Eu, ele e meu marido 15

7

E, decidida, embrenhou-se mato adentro, à procura do rapaz. De longe, escutava a mãe gritando. De repente, parou e iniciou um choro.

— Menina, saia logo do meio desse matagal! Aí tem cobras venenosas. Por que chora? – perguntava mamãe, caminhando em sua direção.

— Desculpe, mamãe. Eu estava brincando no ba-lanço; de repente, parei de brincar, entrei no matagal e não encontrava o caminho de volta. Ainda bem que me encontrou aqui.

Londres, Inglaterra.

Ao som de latas e panelas, vários amigos de Richard invadiam seu quarto e cantavam.

— “Um elefante incomoda muita gente; dois ele-fantes incomodam, incomodam, muito mais!” Acorde, Richard Lee! Hoje é sua despedida de solteiro. Você casará daqui a dois dias! Alugamos uma casa noturna, e haverá várias garotas por lá. Tomaremos todas a que temos direito; afinal, não é todo o dia que o rapaz mais rico da cidade participa de uma despedida! Aqui está o jornal; ouça o que tem na primeira página: “O úni-co herdeiro da rede internacional dos hotéis Rhesus irá se casar em dois dias. Richard Lee, o gato mais cobiçado do país.” — falou John Lepool.

Richard, que ainda estava deitado, olhou para os amigos e disse:

Page 10: Eu, ele e meu marido 15

8

— Tive um sonho tão real... Eu salvava uma garota que caía de um balanço. Era uma linda menina chamada Júlia, e eu a beijei de verdade.

Ao ouvir o amigo, os rapazes começaram a rir.— Foi só um sonho, Richard. Você vai beijar, sim,

muitas garotas hoje, mas será na boate. Quem sabe não haja alguma Júlia por lá?! – disse um deles.

Richard levantou e caminhou para o toalete; olhou--se diante do espelho e relembrou o sonho.

— Mas eu a beijei! Júlia; esse é o nome. Uma linda garota... Nunca tive um sonho tão real assim.

No sul da Bahia

Júlia pensava naquele lindo rapaz e dizia para si mes-ma: “Não foi um sonho; eu toquei nele. O Richard me beijou de verdade e até me salvou de cair do balanço. Ele me pediu em namoro e, de repente, começou a andar e desapareceu na minha frente! Por que veio a mim?! Pra que eu me apaixonasse por ele?”.

Em uma casa noturna, Richard se divertia com os amigos, mas não conseguia esquecer o sonho. Delicada-mente, disse a todos:

— Eu adorei a brincadeira que vocês fizeram pra mim, mas não estou me sentindo bem. Terei de ir embora.

Dois dias depois, no altar de uma igreja, Richard aguardava a chegada da noiva, Cameron Girl. Em pou-

Page 11: Eu, ele e meu marido 15

9

cos minutos, a linda moça entrou, acompanhada do pai, Samuel Teylo. O padre realizou a cerimônia e, ao fim, au-torizou que se beijassem. No momento em que Richard tocou nos lábios de Cameron, ele fechou os olhos e, em seu pensamento, surgiu Júlia.

— Júlia, é você? — disse ele.— Como pode casar comigo, me beijar e pensar em

outra?! Quem é Júlia? – irritou-se Cameron.— Eu disse “Júlia”? Desculpe, meu amor! Sabe que

a amo. Desculpe se eu a chamei de Júlia. — respondeu.

O tempo passou. Durante quatro anos, sempre que dormia, Richard sonhava com Júlia, e sua alma ia até a moça.

— Você está linda! Cresceu e se tornou uma linda moça. Eu, cada vez mais, sinto que estou apaixonado por você! — disse Richard.

Júlia, sentada no mesmo balanço do primeiro en-contro, respondeu:

— Como pode estar apaixonado por mim?! Quem é você, afinal? Por que não fica comigo de verdade? Há quatro anos, aparece, me abraça, me beija, diz que me ama e, em seguida, desaparece. Some, assim, do nada como se não existisse! Você está vivo, ou é uma alma pe-nada?! Eu também estou apaixonada por você!

Ao ouvir aquilo, novamente o rapaz desapareceu diante da moça. Júlia sentiu-se extremamente assustada e refletiu: “Meu Deus! Acho que ele não existe de verdade. Talvez seja um espírito, ou eu estou ficando louca! Será que só existe na minha mente?!”. Ainda sem sair de seus pensamentos, escutou a voz de Helena.

Page 12: Eu, ele e meu marido 15

10

— Júlia! Júlia, minha filha! Temos que arrumar nos-sas malas. Daqui a três dias iremos pra São Paulo. Seu ir-mão já comprou as passagens; elas estão aqui em minhas mãos. Conseguimos vender a casa.

Ao ouvir a mãe, a moça lançou um olhar em di-reção ao balanço, pensando: “Eu estou indo embora, Richard. Irei pra São Paulo e vou sentir muitas saudades desse lugar. Adeus!”.

Deitado ao lado da esposa, Richard protestou:— Não, não, Júlia! Não vá embora! Fique aí, pois

vou buscá-la. Eu a amo, menina.— Richard! Richard! Acorde e me diga, de uma vez

por todas, quem é essa mulher! Não é a primeira vez que escuto você falar o mesmo nome. E isso começou no dia do nosso casamento! Durante todos esses anos, sempre sonha com outra mulher. Ande, fale logo quem é, ou cortarei todas as suas coisas com uma tesoura! — falou Cameron Girl.

— Acho que estou ficando louco! Não existe ne-nhuma Júlia na minha vida. Na verdade, é apenas uma garota com quem sonho. Eu nunca a traí, Cameron. É você que eu amo! Preciso ir a um psiquiatra com urgên-cia. – respondeu.

— Isso não me convenceu. Como pode sonhar com uma pessoa assim, que não conhece?

— Pode acreditar, meu amor. É verdade. Há bastan-te tempo gostaria de ter contado isso a você. Faz quatro anos que vi a garota num sonho, a Júlia, antes de nos casarmos. E ela cresceu, está uma linda garota... Porém,

Page 13: Eu, ele e meu marido 15

11

eu não entendo por que isso está acontecendo. Acredite em mim! Nunca a traí. Cameron, me leve a um médico; eu preciso contar tudo isso pra não ficar louco!

Ao perceber o desespero do esposo, Cameron per-turbou-se e não sabia se de fato acreditava.

— É muito esquisito. Será que é uma alma que o perturba? Estou sentindo medo, Richard. Não sei se creio nessa história. – depois de pensar um pouco mais, Came-ron surgiu revoltada – Richard, eu vou descobrir quem é ela. Você me paga! Conte essa história pra outra; não pra mim. Colocarei um detetive atrás de você, viu?

— Vai perder o seu tempo, Cameron; estou falando a verdade.

15 de julho de 1984, Camacã, sul da Bahia.

Na rodoviária, Júlia, o irmão Marcelo e Hele-na embarcavam para São Paulo. Durante a viagem, a moça relembrou todas as vezes que vira Richard. E, saudosa, disse:

— Mãe, vamos voltar pra nossa casa. Eu não quero ir pra São Paulo. Já estou sentindo saudades de lá! Gosto muito daquele lugar, das árvores, do canto dos pássaros e, principalmente, do balanço. Brinquei ali durante anos!

— Você está louca, minha filha. Vendi a casa. Com o tempo, Júlia, você esquecerá aquele lugar. Agora esta-mos indo pra são Paulo, pra cidade grande! Lá, você ter-minará os estudos, vai se formar em Administração de Empresas, como o seu pai queria. Aliás, você prometeu a

Page 14: Eu, ele e meu marido 15

12

ele. E, certamente, conhecerá um bom rapaz pra se casar. Fique calma; esquecerá nossa antiga casa.

Em pensamento, Júlia prendia-se a uma única ideia: “Eu nunca vou esquecer aquele lugar!”.

O tempo passou. Helena morreu, seis anos após a chegada da família a São Paulo. Júlia cursou Administra-ção, e o irmão formou-se em Direito. Ao longo dos anos, a moça namorara alguns rapazes, mas nunca conseguia se apaixonar de verdade. Richard permanecia aparecendo, e ela pergunta a ele:

— Será que, algum dia, iremos nos encontrar de verdade?

— Eu existo mesmo, Júlia. Mas nunca entendi por que apareço pra você. Minha alma está com você en-quanto eu durmo, e você está acordada. Cheguei a pensar em procurar ajuda médica e contar tudo isso, mas tenho vergonha e medo. Acho que dirão estou enlouquecendo!

— E eu também! Nunca falei isso para ninguém, nem pra minha melhor amiga, a Sônia.

No fundo, Júlia acreditava que deveria tirar Richard de sua cabeça e encontrar alguém de verdade para se apaixonar...

22 de agosto de 1994

Em um restaurante no centro da cidade, Júlia e al-guns amigos – Sônia, Jennifer, Letícia e Marcelo — co-memoravam o aniversário de 26 anos da moça. As moças tomavam cerveja e divertiam-se muito, rindo. Um grupo de rapazes, em determinado momento, aproximou-se.

Page 15: Eu, ele e meu marido 15

13

— Queremos participar dessa reunião. Parece que uma de vocês está aniversariando hoje...— perguntou Pedro.

— É ela, a Júlia. – respondeu Sônia, apontando para a amiga — Está ficando velha, completando 26 anos!

O rapaz aproximou-se de Júlia e deu-lhe os para-béns. Inesperadamente, beijou em seus lábios. Ela gostou e logo puxou assunto.

Desse dia em diante, surgiu o namoro entre os dois, que durou dois anos. Durante o relacionamento de Júlia e Pedro, Richard não apareceu. Contudo, ela nunca o tirou da mente e do coração, indagando-se: ”Como será que ele está?”. Ele apareceu pela primeira vez com 22 anos; da última vez, ainda estava lindo, com os cabelos começando a ficar grisalhos... Se Richard existe de verda-de, hoje deve estar com 38 anos.”.

Sentada no sofá, Júlia divagava e, de momento, olhou para o lado. Inacreditável, mas viu Richard.

— Richard, você voltou? Ele não respondeu; chorava muito.— Richard, por que chora? Fale comigo. Por que sumiu

por tanto tempo? Faz mais de dois anos que não aparece...— Você não esperou por mim, Júlia. Estava namo-

rando aquele rapaz. Eu não sei por que, mas acho que não tive força pra vir até você... Deve ter a ver com você, pois estava com alguém. Mas, mesmo sem ter vindo, eu nunca a esqueci. A única coisa que eu sei dizer é que eu amo você, menina! Desde que a vi, quando tinha 12 anos! Hoje, você se tornou uma linda mulher. Ah, como eu queria tocá-la de verdade, fazer amor com você, amar como eu nunca amei! — falou Richard.

Page 16: Eu, ele e meu marido 15

14

— Você também está lindo. Esses cabelos na altura do pescoço, penteado pra trás... Enfim, lindo! Parece que nós estamos envelhecendo juntos. – comentou Júlia.

O casal beijou-se. Ela segurou a mão de Richard e levou-o a seu quarto. Finalmente, os dois fizeram amor.

Ao ver seu marido se mexendo de forma estranha na cama, Cameron resolveu levantar o lençol, lentamente. E se surpreendeu ao vê-lo em pleno orgasmo!

— Ele está gozando?! – gritou — Seu safado! Ca-chorro! Você está tendo um orgasmo! Com certeza, está sonhando com a tal Júlia, novamente! Mas quem é essa mulher?! Já pus vários detetives atrás de você, e eles me garantiram que não havia ninguém... Será que eu estou lidando com uma alma do outro mundo que perturba meu marido enquanto ele dorme? Se eu pudesse a ma-taria de novo, maldita! Apareça pra mim, sua cachorra! – Indignada, ela levantou e foi ao banheiro, chorando.

Enquanto isso, Richard continuava sonhando com Júlia...

— Júlia, meu amor, eu a amo!Novamente, Cameron ouviu uma declaração àquela

mulher. Rapidamente retornou à cama.— Acorde, seu safado! Você acabou de ter um orgas-

mo! E, sem uma mulher visível! Olhe pra você; veja como está todo sujo.

Sem responder, Richard saiu em direção ao banhei-ro e observou-se pelo espelho. “Eu fiz amor com Júlia, em sonho. Nós nos amamos! E, agora, eu estou mais

Page 17: Eu, ele e meu marido 15

15

apaixonado por ela, meu Deus! Se essa mulher existe mesmo, por favor, coloque-a em meu caminho.”, pediu em voz de sussurro.

Na sala da mansão, Cameron gritava por Richard, um tempo depois.

— Tome logo o banho. O café já está à mesa, e temos reunião às nove com os fornecedores. Estamos atrasados.

Richard lavou-se rapidamente e, em seguida, tomou café com a esposa.

— Estava sonhando com a Júlia, novamente. Não foi, Richard? Eu vi como estava; teve orgasmo. Ficava chamando pelo nome dela. Acho realmente que tem de procurar um psiquiatra, ou um centro espírita. Só estou aconselhando porque sei que não há outra, além de mim, em sua vida. Já contratei diversos detetives, e a conclusão é a mesma. Faz 16 anos que isso continua. Quando termi-nar a reunião, vou levá-lo a um centro espírita. Que acha?

— Faz 16 anos que eu contei sobre ela... Enquanto durmo, eu a veja. Na verdade, são 16 anos vendo a Júlia, desde a primeira vez que eu sonhei com ela, a dois dias do nosso casamento.

O casal entrou no carro. — Deixe que eu dirijo, Richard. Está quase na hora

da reunião, e temos de chegar logo. Além disso, você não tem condição de dirigir. Eu levo o carro. — falou Came-ron, olhando o relógio — Estamos realmente atrasados; vou ter de correr.

— Calma, Cameron. Não precisa correr tanto; re-duza a velocidade deste carro. Agora sou eu que estou mandando. — falou Richard.