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E AINDA eleições Pela primeira vez, um candidato estrangeiro concorre à eleição para reitor de uma uni- versidade portuguesa. Prabir K. Bagchi, norte-americano de ori- gem indiana e professor na George Washington University, nos EUA, vai disputar com o ac- tual reitor da Universidade do Porto, José Marques dos Santos, a direcção desta instituição. A possibilidade de um professor ou investigador estrangeiro pre- sidir a uma universidade portu- guesa foi criada com o Regime Jurídico do Ensino Superior, aprovado em 2007. Professor dos EUA concorre a reitor da UP

EUA - sigarra.up.pt · Como é que se explica que, havendo tanta infor-mação sobre os malefícios a ela associados, a obesidade seja um dos mais graves problemas de saúde a nível

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E AINDA

eleições Pela primeira vez, umcandidato estrangeiro concorreà eleição para reitor de uma uni-versidade portuguesa. Prabir K.

Bagchi, norte-americano de ori-

gem indiana e professor naGeorge Washington University,nos EUA, vai disputar com o ac-tual reitor da Universidade do

Porto, José Marques dos Santos,a direcção desta instituição. Apossibilidade de um professorou investigador estrangeiro pre-sidir a uma universidade portu-guesa foi criada com o RegimeJurídico do Ensino Superior,aprovado em 2007.

Professor dos EUAconcorre a reitor da UP

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Tailândia: Rostos e paisagens Fotografia, loséPinto Ribeiro e Miguel Valle de Figueiredo.Galeria da Reitoria da Universidade do Porto

Até dia 22.

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Assistente de clínica geral formado pela Faculdade de Medicina do Porto, FernandoPóvoas dedicou parte da sua vida profissional à medicina desportiva, no FutebolClube do Porto (de que foi vice-presidente), Ermesinde e Freamunde, abriu a sua primeiraclínica na Invicta em 1991 e hoje está também em Lisboa a atender milhares de pessoasque o procuram para perder aqueles quilos a mais. No Centro de Saúde de São Pedroda Cova, onde os casos de obesidade que recebia eram muitos e gritantes, descobriu

a sua vocação de nutricionista. Pinto da Costa e Jesualdo Ferreira, o presidente e o treinadordo Dragão, são a prova viva de que a fórmula do médico resulta.

ENTREVISTA ANA PAGO FOTOGRAFIA NATACHA CARDOSO/GLOBAL IMAGENS

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Como é que se explica que, havendo tanta infor-

mação sobre os malefícios a ela associados,

a obesidade seja um dos mais graves problemas

de saúde a nível mundial?

A entrada das mulheres no mercado de trabalho,

o sedentarismo e o facto de comermos pior são tu-

do mudanças no estilo de vida que vieram alterar

profundamente os hábitos alimentares. Se no tem-

po da minha mãe e da minha avó a mulher era

dona de casa, amante, professora que ajudava os

filhos nos trabalhos de casa, hoje tem de ser isso

tudo e trabalhar. O que sobra? Pouca margem de

manobra. Chega a casa exausta, tem o marido e

os filhos no sofá, a mudarem de canal e cheios

de fome, e o mais rápido de se fazer são os fritos

e aquelas comidas pré-cozinhadas.

Falta tempo para planear as refeições para a se-

mana inteira...

Esse é um dos motivos. Outro é o aparecimento da

televisão, que faz que as pessoas vivam sentadas,

sedentárias, gastando muito poucas calorias e

às vezes comendo ao mesmo tempo aquilo quenão devem, como bolachas, snacks e refrigerantes.

A sociedade arranja cada vez mais coisas para nos

mexermos menos: fazem-se recados e ganham-se

amigos pelo Messenger e na internet, quandohá trinta anos tínhamos de sair a pedalar numabicicleta. Antes, jogava-se futebol na rua, as crian-

ças brincavam, saltavam ao elástico, hoje não

se faz nada disso porque é perigoso estar fora de

casa e os pais ficam muito mais felizes se tiverem

os filhos sentados e controlados ao computadordo que fora de portas, onde se arriscam a que lhes

roubem o telemóvel ou as sapatilhas.

Qual a causa número um da obesidade, segundo

a sua experiência? A alimentação?

A alimentação continua a ser a mae das causas da

obesidade, sim. Mas esta é uma doença mulufac-

torial e, como tal, difícil de tratar porque englobaoutros aspectos que não apenas a alimentação.

Como entram na equação a hereditariedade e a

genética, doenças como a depressão, os distúrbios

alimentares e os problemas de tiróide, os ritmos

de vida actuais?

Sao outras das causas possíveis para a obesidade.

Os factores genéticos permitem herdar a tendên-

cia para engordar, mesmo que a pessoa se alimen-

te e mexa correctamente. As causas hormonais

são as mais faladas (mas também as mais raras),

e antes de se iniciar um plano de emagrecimen-to é necessário perceber se há alguma doençafísica ou psíquica que esteja na origem do proble-ma. Há também o excesso de medicamentos quese toma, muitos dos quais resultam em aumen-

to de peso sem que a classe médica esteja atenta

a esses pormenores. E no dia-a-dia mexemo-nos

menos, sobra pouco tempo para fazer exercício e

vive-se um ritmo frenético que se traduz em

stress, ansiedade, horas mal dormidas e abuso do

tabaco e do álcool.

E a depressão instala-se.

Actualmente, viver a dois é muito complicado.Tem de haver muita cedência e compreensão de

parte a parte para evitar depressões, porque os fac-

tores emocionais são talvez dos mais preponderan-

tes para o excesso de peso. As pessoas mergulham

em angústia, afundam-se em tristezas e depois cor-

rem para o frigorífico e para a caixa das bolachas

como escape imediato.

Quais são os riscos do excesso de peso para os

homens em particular?

Os homens têm normalmente maior volume ab-

dominal e sendo o perímetro abdominal maior de-

sencadeia mais hipertensão, mais diabetes, mais

acidentes vasculares cerebrais, que são hoje a prin-

cipal causa de morte e de invalidez no país. E a obe-

sidade está por detrás de grande parte desses aci-

dentes. Gastamos milhares de euros em medica-

mentos para a hipertensão, a diabetes, os aciden-

tes vasculares e os problemas articulares, mas in-

vestimos muito pouco na descoberta de

medicamentos que realmente ajudem o obeso,

que é um doente crónico.

Não é gordo quem quer. . .

Nem apenas quem tem maus hábitos alimentares,

é verdade. Há quem coma pouco e ainda assim te-

nha grande disposição para engordar. Noto que há

uma certa falta de respeito da sociedade e da partede alguns médicos que apontam o gordo como

sendo o desleixado, o preguiçoso, o fraco. Isso é

muito injusto.Com tantos mitos e tantas teorias a circular,

como chegou à sua fórmula pessoal de emagreci-

mento?

Não gosto de coisas muito restritivas nem muito

punitivas, de outro modo o plano vai cansar e as

pessoas deixarão de o seguir. Gosto de dar alguma

liberdade, prefiro que os meus doentes venham ter

comigo com mais um quilo, ao fim de dois meses,

do que com menos esse quilo e muito depressivos

porque lhes falta algo. É à mesa que convivemos,

namoramos, fazemos grandes negócios, estamos

com a família. Um dos prazeres da vida é comer.

Se for muito restritivo corto na qualidade de vida,

logo o importante é conseguir corrigir os erros das

pessoas disponibilizando outras opções, mas sem

proibir e dando-lhes um dia por semana, à esco-

lha, para que possam abusar. A liberdade gera des-

contracção e permite resistir melhor às tentações

no resto da semana.

Quais são os erros mais frequentes de quemtenta emagrecer?

Na maioria das vezes o desejo de perder peso leva

a que se experimentem aquelas monodietas ditas

milagrosas, extremamente restritivas, que efectiva-

mente começam por emagrecer porque se está

motivado para isso, mas que ninguém conseguemanter durante muito tempo. Além disso, não são

didácticas, não ensinam a comer nem o conceito

de variedade, o que significa que quando acabam

as pessoas vão engordar tanto ou mais do que es-

tavam na altura em que a iniciaram. Uma dieta de

Carrinho de compras saudávelDisciplinando-se de antemão para não ir com fome

ao supermercado e fazer uma lista que lhe permita

focar-se no essencial (sem cair na tentação de

levar depois algo muito saboroso mas altamente

calórico), tenha em atenção que as seguintes es-

colhas de mercearia são boas opções, segundo

Fernando Póvoas:

Lacticínios - Leite, queijo fresco, requeijão e

iogurtes magros.

Peixaria - Quase todos os peixes são bons, incluin-

do o salmão e o atum que, sendo mas gordos, aju-

dam a combater o mau colesterol e devem por

isso ser ingeridos com alguma frequência. Os mo-

luscos são alimentos igualmente interessantes.

Talho - Opte sempre que possível pelas carnes

magras (frango, peru, avestruz e coelho). No caso

do porco e da vaca, retire sempre a gordura visível

antes de cozinhar a carne.

Mercearia - Leguminosas (feijão, ervilhas, lentilhas),

arroz e massas integrais, gelatina, ovos e azeite

(se optar por óleo, prefira o de milho ou de girassol).

Charcutaria - Paio magro, salsicha fresca de aves

e fiambre de frango ou peru.

Fruta - De preferência laranja, maçã, pêra, ameixa,

morango, melancia e frutas tropicais como a papaia,

o ananás e o kiwi. Uvas e bananas são mais calo-

ricas e devem ser consumidas com moderação.

Legumes - Alface, alho-francês, aipo, agrião, be-

ringela, brócolos, cebola, chuchu, curgete, endívía,

couve, espargos, espinafres, feijão-verde, grelos,

nabiça, nabo, pepino, quiabo, pimento, rabanete,

tomate. A consumir também cogumelos, algas,

bambu e soja e apostar em condimentos como

a salsa, os coentros e o alho para dar um melhor

sabor aos alimentos cortando no sal.

Padaria - Pão de centeio ou mistura, tostas

integrais ou de fibras.

Bebidas - Água engarrafada (se gostar mais

do que da torneira), café, chá, vinho tinto maduro.

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sucesso é aquela em que se come de tudo um pou-co de forma equilibrada.Que conselhos daria a todos os gordos, de um mo-

do geral?

Apontava-lhes logo os inconvenientes de terem

excesso de peso, que não são unicamente estéticos

nem de auto-estima, apesar de essa vertente ser

muito importante hoje em dia, dada a ditadura da

beleza que se instalou. Há a hipertensão,a diabetes, o colesterol, as doenças osteoarticula-

res, os problemas de varizes e de celulite, os dese-

quilíbrios psicológicos, tudo riscos que a obesida-

de traz. Mais: numa sociedade como a nossa em

que o alvo preferencial dessa ditadura da beleza é

a mulher, e sabendo nós as dificuldades queas mulheres mais cheiinhas têm em vestir-se, no

casamento, no primeiro emprego - onde muitas

vezes são trocadas por outras mais altas, magras

mas incompetentes -, se conseguirmos motivá-las

iremos ter sucesso.

Somos aquilo que comemos?

Sem dúvida alguma.

Qual é o exemplo de um dia equilibrado em termos

alimentares e nutricionais?

Em primeiro lugar, é importante as pessoas respei-

tarem os horários das refeições, sem saltarem ne-

nhuma, e irem fazendo refeições intercalares, de

modo a chegarem à mesa sem fome. Igualmente

importante é tomar um bom pequeno--almoço, fundamental para toda a gente mas

sobretudo para as crianças em idade escolar.

Depois desse bom pequeno-almoço, que pode in-

cluir leite, chá, café, fruta e pão de mistura comfiambre ou queijo fresco (os cereais, para quem

quer emagrecer, não são o mais indicado por se-

rem demasiado açucarados), a meio da manhã po-de comer-se uma peça de fruta ou um iogurte e

uma bolacha ou uma tosta integral. Ao almoço,

deve comer-se sempre uma sopa de legumes de

entrada - é importante ensinar as crianças a gosta-

rem de legumes e de fruta já que o homem é umanimal de hábitos e tem de aprender-lhes a textu-

ra e o paladar desde tenra idade -, carne acompa-nhada com massa cozida e uma gelatina. A meio

da tarde, outra peça de fruta ou um iogurte, comuma bolachinha, e ao Jantar, peixe (se se comeu

carne ao almoço) ou dois pratos de sopa e uma pe-

ça de fruta.

O que explica que os homens estejam à frente das

mulheres no que diz respeito ao excesso de peso,

segundo um relatório da Sociedade Portuguesa

para o Estudo da Obesidade (SPEO)?

Os homens fazem mais asneiras e menos profila-

xia, já as mulheres cuidam-se mais, também por-

que a sociedade é muito castradora com elas: ao

homem tolera-se uma barriguinha, à mulher nem

pensar. E o homem, normalmente, bebe mais, pe-tisca mais com os amigos, cuida-se menos. E se é

verdade que na fase inicial faz mais exercício do

que a mulher depois dos 40 anos isso inverte-se e

tende a desleixar-se muito mais.

A maioria dos homens ainda crê que perder pesoé coisa de mulheres?

Hoje já não, são cada vez mais os homens que se

preocupam e cuidam de si. Antigamente, vinham

apenas quando o vizinho de cima tinha um enfar-

te e ficavam assustados ou quando começavam a

ter diabetes e problemas de hipertensão. Mas ho-

je vêm antes porque se preocupam efectivamente

com a aparência e estão dispostos a mudar de vi-

da, e não só quando o peso começa a causar-lhes

transtornos a nível de saúde. Aliás, isso nota-se nofacto de também eles recorrerem à depilação e usa-

rem cremes de dia e de noite. E as mulheres apre-ciam esse cuidado masculino.

E que atenção especial deve ser dada à ingestão

de produtos light, visto que muitas vezes o consu-

midor se sente tentado a duplicar a dose?

Cuidado com os produtos light e com os produtos

integrais, que têm tantas calorias como os outros.

As vantagens dos alimentos integrais são as de re-

gular o trânsito intestinal e combater o colesterol,

o que é extremamente positivo, mas convence-

mo-nos de que por ser integral se pode comer mais

é mentira. E os produtos light, muitas vezes, não

são mais do que publicidade enganosa, já que são

assim rotulados quando têm apenas menos dez

por cento das calorias do produto normal, são

mais caros, estão nas prateleiras à altura dos olhos

e as vantagens que deles se tira são muito poucasatendendo ao preço que custam e à tendência que

depois se tem para comer o dobro. Tenho muitas

reservas relativamente a estes produtos.

Quais são as suas regras de ouro para uma alimen-

tação saudável?

É importante beber muita água durante o dia, umlitro e meio a dois litros. Privilegiar o peixe face à

carne e não descurar o pequeno-almoço. Evitar os

fritos. Fazer refeições de sopa de legumes, sobretu-

do à noite, e apostar em jantares ligeiros de ummodo geral. Nunca abolir a batata, o arroz e a mas-

sa: os hidrates de carbono são fundamentais em

quantidades moderadas. Evitar tudo o que sejam

gorduras visíveis e retirá-las antes de cozinhar a car-

ne (inclusive na picanha), visto que depois de cozi-

nhadas elas entram na parte magra dos tecidos. Be-

ber um bom copo de vinho, de preferência tinto,em alturas festivas e ao fim-de-semana. Não ficar

muitas horas sem comer e repartir as refeições sem

petiscar entre elas. Simplificar no tempero e na for-

ma de cozinhar. Comer devagar, sentado e numambiente tranquilo. E basicamente é isto. ¦

A dieta ideal do Dr. Póvoas

- Consumo de todo o tipo de nutrientes.

- Liberdade de uma vez por semana cair em

tentação.- Controlar o emagrecimento pela roupa e

não pela balança, já que a prática de exercício

físico pode não se traduzir imediatamente em

perda de peso (mas notar-se-á na roupa).- Beber muita água e infusões sem açúcar,

de preferência fora das refeições, para não

dilatar o estômago.- Deixar os refrigerantes e o álcool para o dia

de liberdade.

- Reduzir a ingestão de doces para um peque-

no bolo ou gelado e também apenas no tal dia

de liberdade.

- Substituir o açúcar por adoçantes com me-

nos calorias.

- Comer somente um pão por dia, de prefe-

rência de mistura e ao pequeno-almoço, acom-

panhado com fiambre magro ou queijo fresco

e sem manteiga.

- Evitar conservas e enchidos.

- Deixar os cereais, inclusivamente os light,

para o dia de liberdade.

- Escolher uma refeição do dia para consumir

hidratas de carbono como a massa, o arroz

e batatas. Na outra, trocar os glícidos por

legumes e verduras.

- Privilegiar o peixe relativamente à carne e

as carnes brancas mais do que as vermelhas.

Retiraras gorduras visíveis.

- Comer sobretudo grelhados, cozidos ou assa-

dos sem gordura, e evitar os fritos e os moihos.

- Comer sopa de legumes sem restrições,

preferencialmente sem batata e cenoura.

Das 14 refeições semanais, escolher cinco

para comer apenas sopa à noite.

- Consumir a fruta cerca de uma hora e meia

antes do almoço e do jantar (e não depois),

acompanhada de uma bolacha maria.

- Iniciar o almoço e o jantar com uma grande

porção de hortaliças e legumes, em saladas

ou sopas, de modo a encher o estômago com

poucas calorias. De vez em quando, pode

substituí-los por frutas igualmente saciantes

como o melão ou a meloa.

- Optar por lacticínios magros.- Comer devagar, a horas e sentado num

ambiente tranquilo, de modo a facilitar a mas-

tigação e a digestão.- Praticar exercício físico (no mínimo 30 minu-

tos diários).

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Empurrar a doençacom a barrigaCarlos Oliveira sofreu por causa da gordura em excesso. Hoje, é presidenteda Associação de Obesos e Ex-obesos e lembra que a gordura abdominal é um prenúnciode coisas muito graves. A obesidade, frisa, é uma doença e não tem cura.

TEXTO LEONOR MOREIRA

A OBESIDADE é uma doença crónica: não

tem cura. O ponto de partida de uma con-

versa com Carlos Oliveira, presidente da As-

sociação de Obesos e Ex-obesos (Adexo) de

Portugal, tem de incluir esta verdade irrefu-

tável mesmo quando o tema é a malfadada

barriguinha. «A barriguinha, sinal de uns

quilos a mais, não é doença, ela é ou podeser um prenúncio» de doenças complicadascomo os enfartes, que parecem escolher a

gordura localizada no perímetro abdominaldos homens para se acoitar, diz.

Carlos Oliveira, capitão da marinha mercan-

te, é um ex-obeso - um doente crónico, por-tanto - que passou de 152 quilos para os ac-

Crianças de alto riscoNo s/fe da Adexo na internet (www.adexo.pt)

a secção de estudos revela alguns dados impor-

tantes sobretudo para perceber que o problema

da obesidade está a atacar cada vez mais jovens

e crianças e que nada pode substituir uma cons-

ciência alimentar correcta. Um estudo de Cristina

Padez datado de 2001 deixa números e apontafactores de risco - como a obesidade dos proge-

nitores ou o estilo de vida induzido ou permitido

às crianças, factores que Carbs Oliveira conside-

ra estarem no centro da acção da sua associação.

«Uma parte essencial do trabalho concentra-se na

prevenção e tem associado o Ministério da Edu-

cação», lembra, recordando o fácil que é para um

jovem que apenas tenha dois ou três euros por dia

para se alimentar sair da escola e encontrar bom-

bas caióricas para a refeição.

Diná Matias, do Curso de Ciências de Nutrição

da Universidade do Porto, estudou 14 dietas rá-

pidas propostas em revistas de divulgação geral

e concluiu — como se lê no estudo divu gado na

Adexo - que 92,9 por cento excluíam alimentos

ou grupos inteiros da roda dos alimentos, todas

prometiam ser rápidas, todas apresentavam de-

sequilíbrios em relação a ingestão de proteínas,

gorduras, hidratos de carbono e fibras e nenhu-

ma apelava à mudança ou correcção de hábitos

alimentares incorrectos.

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tuais cem com recurso a uma banda gástrica

e a muito mais. «Ninguém acorda de repen-te com 152 quilos, e reduzir isso implica téc-

nicas como a sleeve, a banda gástrica ou o by-

pass gástrico, mas impreterivelmente tam-bém a reeducação alimentar e motricionalou física», garante.O problema da obesidade, segundo explicao director de operações marítimo-portuáriasdo porto de Sines, é que o obeso sente-se,e está, bem até muito tarde na vida. A doen-

ça é apenas aparentemente falsa. «Eu só medescobri doente com 46 anos porque até aí

as minhas análises eram óptimas. Depois,e aí sim, de repente, vi-me num quadro pré--diabético, com problemas respiratórios gra-ves que me impediam de dormir deitadoe com uma erisipela que me deixou de per-na ao alto um mês e sem poder trabalhar»,conta Carlos Oliveira consciente de que foi

conduzido a este cenário pelos motivos quecolocam boa parte dos obesos na rota dos

problemas de saúde graves: estilo de vida se-

dentário (que ataca cada vez mais crianças e

jovens) e falta de tempo (ou dinheiro) parase alimentar correctamente.«Eu só comecei a engordar quando embar-

quei. Andei embarcado 15 anos, e foi aí queengordei, porque é difícil manter uma acti-

vidade física regular dentro de um navio»,diz o capitão da marinha mercante.

EM PORTUGAL, quase sessenta por cento da

população tem excesso de peso e 1 7 por cen-

to é obesa - ou seja, há cerca de 1,7 milhões

de portugueses com um problema de saúde

crónico, um problema que é responsável pe-la maior percentagem de utentes na lista de

espera das cirurgias em Portugal, como reco-

nheceu o secretário de Estado da Saúde, Ma-nuel Pizarro, e que em 2002 foi responsável

por custos indirectos no montante de 199,8milhões de euros.

Os dados constam de um estudo publicadona Revista Portuguesa de Saúde Pública porJoão Pereira e Céu Mateus, disponível, combastantes outros sobre o assunto, na páginada Adexo na internet. Boa parte destes cus-

tos, concretamente 117 milhões de euros

(58,4 por cento do total), corresponde a

mortalidade, resultado de 18 733 potenciaisanos de vida activa perdidos numa razão de

três mortes masculinas por cada morte fe-minina.Outro dado preocupante nos estudos são os

números para o excesso de peso nos cida-

«De repente, vi-me numquadro pré-diabético,com problemasrespiratórios gravesque me impediamde dormir deitadoe com uma erisipelaque me deixou de pernaao alto um mêse sem poder trabalhar.»

dãos até aos 18 anos, um problema que afec-

ta quase trinta por cento das crianças e jo-vens em Portugal. Sem surpresa, os estudos

mais recentes apontam as horas passadas a

ver televisão e ao computador ou a obesida-de dos progenitores entre os factores quemais influenciam o risco de obesidade nesta

faixa populacional.

«O DITADO antigo dizia "pobres e famintos",o novo diz "pobres e obesos", porque a co-mida mais barata e acessível a larguíssimascamadas da população é simultaneamente a

mais calórica, por excesso de gordura e açú-

cares», alerta Carlos Oliveira, que encontra

na doença uma componente de responsabi-lidade muito alta a atribuir ao modelo de or-

ganização social dos nossos dias, mas não

exime ninguém de procurar a solução quenunca, e Carlos Oliveira frisa o «nunca», é

obra de um milagre ou medicamento.«Sem empenho e consciência não há solu-

ção. A maioria do que se vende no mercado

só serve para emagrecer a carteira. Atenção

que não estou a falar de perder seis quili-nhos, porque aí admito que possa haver coi-

sas que ajudam, no mercado, nos spas. Só

que aí estamos a falar de soluções para pro-blemas estéticos, não para o problema de

saúde que é a obesidade. Que é uma doençacrónica, repito», diz. E aponta: «Em Portu-

gal, havia apenas três medicamentos paraajudar ao tratamento da obesidade e dois es-

tão suspensos. Mesmo assim, sem a reeduca-

ção alimentar e física, o medicamento ou a

intervenção cirúrgica não vai fazer perderpeso.»

O PROBLEMA é bem mais grave do que os

quilinhos a mais, a auto-estima mais em ci-

ma ou mais em baixo, um espelho mais

complacente ou rigoroso, mas no espaço eu-

ropeu apenas Portugal reconheceu a obesi-

dade como uma doença, ainda por cima ins-

crita na lista da Organização Mundial de

Saúde. «Só Portugal fez esse reconhecimen-to. Na Europa, as listas de espera de cirurgiasnão incluem esses casos, que são sempre tra-

tados como um problema de estética», la-menta Carlos Oliveira, esperançado em quea partir deste ano o cenário comece a mudar.A Adexo tem colaborado com cidadãos bel-

gas que se associaram no seu país em tornoda Bold, uma associação com os contornosda Adexo, e um outro sinal promissor é o

facto de este ano, pela primeira vez, no pe-núltimo domingo de Maio (o próximo dia

22), se assinalar o VI Dia Nacional de Com-bate à Obesidade e simultaneamente o I Dia

Europeu contra a Doença.«Esta iniciativa ainda não é oficial no con-texto europeu - em Portugal vamos com se-

te anos de avanço nessa matéria -, mas te-

mos já o empenho e uma série de suportesde iniciativas vindas do Parlamento Euro-

peu», comenta Carlos Oliveira, confiante em

que o exemplo português acabe por ser par-tilhado pela União Europeia. ¦

Números da obesidadeem Portugal

2002

Custo indirecto total

199,8 milhões de euros

Número de anos de trabalho perdidos

18 733

Dias de incapacidade/ano

1,6 milhões

Taxa de mortalidade/sexo

3 Homens/1 Mulheres

2004

40-49 anos

16 por cento obesos

40-49 anos

43,2 por cento com excesso de peso50-59 anos

20,7 por cento obesos

50-59 anos

43,3 por cento com excesso de peso

7-9,5 anos

31,56 por cento com excesso de peso

ou obesidade

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Bombeirosinalam maissubstânciasperigosas queo aceitávelIncêndios. Universidades de Coimbra e deAveiro estão a estudar os efeitos do fumo noaparelho respiratório destes profissionais

BRUNO ABREU

Óxido nítrico, monóxido de carbo-

no, metano, compostos orgânicosvoláteis e dióxido de azoto são al-guns dos ingredientes do cocktailde substâncias que cada bombei-ro inala quando combate um in-cêndio sem protecção. A Universi-dade de Coimbra e aUniversidadede Aveiro andam há três anos aanalisar quatro corporações debombeiros para saber os efeitosdos fumos no aparelho respirató-rio destes soldados da paz. Os re-sultados, até agora, indicam queas substâncias inaladas são supe-riores às recomendações da UniãoEuropeia e da Organização Mun-dial de Saúde.

"A ideia é analisar cada um dosbombeiros e verificar os riscos pa-ra a saúde, depois da exposiçãoaos fumos de um incêndio", expli-ca ao DN António Ferreira, inves-

tigador do Centro de Pneumologiada Universidade de Coimbra. Napassada quinta-feira foi feito umteste na serra da Lousa, com umasimulação de fogo que, segundoAntónio Ferreira, "correu muitobem".

O projecto Fumexp, que teveinício em 2007 e termina a 3 1 deDezembro do presente ano, "visa

despertar as autoridades para aimportância do estudo dos efeitosdo fumo nos bombeiros que, nocombate aos fogos, acabam porestar muitas horas expostos a ga-ses e partículas que terão reflexono seu estado de saúde", diz Do-mingos Xavier Viegas, da Associa-

ção para o Desenvolvimento daAerodinâmica Industrial da Uni-versidade de Coimbra. O investi-gador acrescentou ainda que osresultados servirão, ainda, para se

conhecerem os efeitos em quemestiver exposto a condições seme-lhantes.

Tudo começa com a simulaçãode um incêndio "em condições de

segurança", como fez questão defrisar o cientista do Centro de

Pneumologia: "Não queremosatear um incêndio a sério e já porisso vamos suspender os testes nofim do mês, quando vier a épocade mais calor."

Depois, os bombeiros das qua-tro corporações municipais deCoimbra e Lousa e os voluntáriosde Castanheira de Pêra e de Alber-

garia-a-Velha-que aceitaramparticipar no projecto - são mo-nitorizados antes do incêndio-"Porvolta das 07.00, 08.00 damanhã, quando entram ao servi-

ço" - ao fim do dia e ainda quandoexpostos aos fumos da simulação.

Cada um deles carrega consigoum aparelho que vai recolhendodados ao nível, por exemplo, da

inalação de partículas, de oxigénioou monóxido de carbono. Paraalém disso, os bombeiros levamconsigo um GPS para o seu percur-so ser acompanhado. Desta forma,os investigadores conseguem sa-ber por onde andaram e calcular onível de exposição aos gases. Emcaso de incêndio real, a oportuni-dade não é desperdiçada peloscientistas. "Os bombeiros têm oscontactos telefónicos do pessoaldo Centro de Pneumologia. Após

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um incêndio, contactam qualquerum dos elementos, que sai imedia-tamente, qualquer que seja a horado dia ou noite, para o ir analisar",explica António Ferreira.

Os resultados obtidos pela equi-pa mostraram que os bombeirosestão expostos a níveis de gasesmuito pouco saudáveis. O investi-

gador da Universidade de Coim-bra destacou os altos níveis de dió-xido de azoto e compostos orgâni-cos voláteis. Aquele com "maiorrisco imediato por ser encontradoem concentrações muito eleva-das" é mesmo o monóxido de car-bono. O sucesso do projecto temsido reconhecido a nível interna-cional, sendo discutido em algunscongressos.

Fim do projectonão é o fim damonitorizaçãocontinua Apesar de o

projecto Fumexp estar

previsto para o último diado presente ano, osbombeiros das corporaçõesirão continuar a ser

acompanhados pela equipade cientistas para ver osefeitos do fumo a longoprazo. "Três anos dão para

se observar os efeitos numespaço de tempo médio, o

que é perfeito para se obterdados acerca do sistema

respiratório", explicouao DN António Ferreira, doCentro de Pneumologia daUniversidade de Coimbra.Apesar disso, não escapouaos responsáveis os efeitos

cancerígenos que o fumopode ter. Já por isso o

Centro de Pneumologia temuma equipa dedicada aostratamentos oncológicosque irá analisar os

bombeiros a longo prazo- apesar de este

acompanhamentocontinuar centrado nosproblemas do sistemarespiratório. "Não contamosmuito com casos de cancro,uma vez que é maisprovável que aconteçaquando sujeitos a incêndioscom químicos envolvidos,como acontece nas fábricase em complexos maisindustriais", terminao investigador.

Simulaçãode incêndio

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¦ Uma equipa de investigadores portugueses conseguiu extrair e separarcom êxito as fibras do caule do cânhamo, aplicando-lhe as propriedadesnecessárias à confecção de vestuário técnico apenas com estas fibras naturais.0 projecto partiu de um desafio lançado pela indústria têxtil europeia. A modifi-

cação das fibras é coordenada por Ana Manaia, investigadora do Instituto PedroNunes e da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. As

fibras de cânhamo são "mais ecológicas e baratas que outras fibras naturais,como o algodão ou linho, e possuem propriedades de resistência muito superior(cinco vezes superior ao algodão)", disse a investigadora à Lusa.

Roupas melhores

e mais baratas

INVESTIGADORES PORTUGUESES EXTRAEM FIBRAS DO CÂNHAMO

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"Os líderessindicaisde cá nãomobilizamos jovens"

Marinús Piresde Lima Investigadorprincipal do ICS

JOANA PEREIRA BASTOS

e MICAEL PEREIRA

jbastos @ expresso.impresa.pt

Os sindicatos não estão à altura da cri-se que atingiu Portugal. Velhos, gastose acomodados, os principais dirigentessindicais perderam capacidade de gal-vanizar as pessoas para a luta. "Nãohouve uma renovação da geração quefez o 25 de Abril. Os líderes são sempreos mesmos e, possivelmente, acomoda-ram-se. Não têm capacidade de mobili-zar os mais novos", explica Marinús Pi-res de Lima, investigador principal doInstituto de Ciências Sociais (ICS). Es-sa é uma das razões que levam o espe-cialista em movimentos de contestaçãosocial a duvidar que se venha a assistira uma explosão de protestos violentossemelhante à que se vive na Grécia.

Entre o aumento do desemprego e da

precariedade laborai, o agravamentodas condições de vida e o corte de pres-tações sociais, não é que faltem moti-vos para a luta. O que escasseia em Por-tugal são rostos e palavras de ordem ca-

pazes de trazer a multidão à rua. Nãose encontram nos sindicatos e não es-tão nos partidos, vistos com crescente

desconfiança. O problema, diz o investi-

gador, é que não existe quase nadaalém disso. "A contestação é dominada

quase em exclusivo pelas estruturas sin-

dicais e partidárias. Não há movimen-tos sociais espontâneos", constata.

Os estudantes, que em Atenas inaugu-raram uma onda de contestação maisviolenta, há muito que perderam forçaem Portugal. "Cá os movimentos estu-dantis não têm tido grande importân-cia porque as suas reivindicações sãomuito específicas e corporativas, porexemplo de contestação às propinas, e

não suficientemente amplas para queoutros segmentos da população se jun-tem a eles. Noutros países europeus,têm uma intervenção muito mais glo-bal na sociedade".

A perda de força dos movimentos aca-démicos é apenas um dos reflexos de"uma sociedade civil fraca" e apática,afirma Pires de Lima. Mesmo quando,em 1983, o país vivia uma situação ain-

da mais grave do que a actual, com re-dução salarial, aumento de impostos euma inflação superior a 20%, não hou-ve protestos violentos. "Portugal é mes-mo um país de brandos costumes". Tan-to que, ao contrário do que acontecenoutros pontos da Europa, quer a extre-ma-direita quer a extrema-esquerda ra-dical não têm qualquer expressão, nemse prevê que venham a ganhá-la.

O facto de os níveis de instrução dos

portugueses serem os mais baixos daUnião Europeia também não contribui

para a criação de uma dinâmica de

transformação social que ganhe visibili-dade nas ruas, adianta o investigador."Em parte, continua a ser o país do fute-bol, fado e Fátima. É através do futebol

que se vai mudar a sociedade? Não,mas é exactamente para as claques e

para essas rivalidades que está a ser ca-nalizada muita da tensão dos jovens".

UA nossa sociedade civil é muitomais fraca do que nos outrospaíses europeus e mesmo do quena América Latina. No 25 de Abrilhouve um movimento social muitoforte. Mas foi só nessa altura

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Esperança Uma mão-cheia de empresas portuguesas de base tecnológica está em grande crescimento e a exportar, em contraciclo co

a resto da economia. Mostram que afinal é possível ter sucesso em tempos difíceis

Empresas que deram um

E ontapé na criseTextos JOÃO RAMOS

m número significati-vo de empresas tecno-lógicas portuguesas re-gistou em 2009 umforte crescimento quesó parecia possível de

atingir em tempo dei J vacas gordas. São em-S presas que apostam

em áreas emergentes e que estão a darpassos sólidos na internacionalização,apostando muitas vezes na diversifica-ção de mercados.

Não têm ainda grande dimensão — sãoessencialmente pequenas e médias em-presas — nem, no seu conjunto, terão a

massa crítica suficiente para alimentar a

recuperação económica do país. "Exis-tem claramente na economia portuguesadois universos de empresas a duas veloci-dades: o universo das grandes empresasque não conseguiram escapar à crise e odas pequenas e médias empresas inova-doras que estão em forte crescimento,mas que infelizmente ainda não compen-sam as perdas das primeiras", observaDaniel Bessa, director-geral da Cotec Por-tugal — Associação Empresarial para aInovação, que tem mais de uma centena

de PME associadas. "Devíamos ter come-çado 10 anos mais cedo esta mudança de

paradigma que está em curso", refere.Na opinião de Lino Fernandes, presi-

dente da Agência da Inovação (Adi), es-tas empresas tecnológicas lusas, incluin-do os casos de maior dimensão como aEfacec ou a Bial, já têm "um impacto eco-nómico que não é marginal" e pode "darum empurrão para sair da crise".

E comenta que "no início da década de

80, quando Portugal também sofreuuma forte crise e um aperto orçamental,em que teve de fazer um acordo com oFundo Monetário Internacional, não es-tava tão bem preparado como agora pa-ra iniciar a recuperação". Lino Fernan-des admite, no entanto, que a conjuntu-ra internacional também é diferente,com a emergência das novas potênciaseconómicas (BRIC — Brasil, Rússia, ín-dia e China).

"Apesar de não existirem actualmenterazões para estar muito optimista, reco-nheço que hoje temos melhores factores

de competitividade, recursos humanos

qualificados e empresas inovadoras do

que há 30 anos para ultrapassar a actualcrise", acrescenta o dirigente da Adi.

Saldo tecnológico é positivo

O conjunto das largas dezenas de em-presas tecnológicas — das quais o Expres-so faz aqui referência a uma pequena par-te — contribuiu para que a balança de pa-gamentos tecnológica do país continue

positiva pelo terceiro ano consecutivo. Se-

gundo o Banco de Portugal, o saldo tecno-lógico, no final do ano 2009, situou-senos €85 milhões, tendo até havido umcrescimento de 9% nas exportações de

produtos tecnológicos, quando houve umrecuo global das exportações nacionais.

Também um recente relatório do Euro-

pean Innovation Scoreboard 2009 mos-trava indicadores animadores, ao colocarPortugal à cabeça do grupo dos paísesmoderadamente inovadores, tendo sidoo país que mais progrediu em investimen-to de empresas em investigação e desen-volvimento. Portugal foi o segundo paísda Europa com maior investimento pelasempresas em inovação e o quarto commaior progresso nos indicadores relati-vos aos efeitos económicos de inovação.

Manuel Caldeira Cabral, professor deEconomia da Universidade do Minho,destaca o papel positivo destas empresasinovadoras na retenção de mais valoracrescentado na economia portuguesa."Enquanto a indústria transformadoradeixa um valor acrescentado entre os

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'/o e os 40% (descontando a importa-i de matérias-primas e o consumo de

;rgia), as indústrias de software ou de

tecnologia têm um valor acrescenta-entre 80% e 90%", explica,lime Quesado, gestor do Programaeracional da Sociedade do Conheci-nto (POSC), diz também estar a ob-var "um novo Portugal tecnológico a

ergir", que "começa a mudar a facepaís económico". "A aposta na inova-i e a integração em redes globais po-fazer do empreendedorismo tecnoló-o um dos motores da retoma". Mas otor cessante do POSC aponta para as

ponsabilidades oficiais: "Cabe ao Go-no saber animar e monitorizar esteicesso de renovação da economia por-uesa".

Um dos principais motivos de preocupa-ção, comum a estes especialistas ouvidos

pelo Expresso, está relacionado com aforma de resolver o problema social dostrabalhadores menos qualificados queperderam o emprego com a crise.

Embora as empresas tecnológicas preci-

sem de mão-de-obra qualificada, LinoFernandes é da opinião que podem tam-bém desempenhar um importante papelna resolução do problema. "Quando háum tecido empresarial pujante na áreatecnológica, também se criam muitos em-pregos a montante e a jusante, por exem-plo, na hotelaria e na área dos transpor-tes", concretiza Jaime Quesado.

Por exemplo, a Alert, que recebe mui-tas delegações na sua sede em Gaia ecom muitos recursos humanos a viajar

constantemente pelo mundo, tem sido

um factor dinamizador da indústria hote-leira do Porto.

Como apanhar a onda certa

"Em época de crise económica, apostarno negócio da tecnologia é como fazersurf: é preciso entrar na onda certa nahora certa", afirma Lino Fernandes.

Com efeito, da análise das empresas tec-

nológicas com melhor desempenho, cons-tata-se que aquelas que apresentam me-lhores índices de crescimento são as que

apostam em áreas emergentes com gran-de potencial como o marketing interacti-vo ou a realidade aumentada. Ou actuamem nichos de mercado não saturados emtermos de concorrência internacional.Outros casos há em que foi feita umaaposta em zonas geográficas com paísesem expansão económica. Por exemplo,a Altitude Software, que é a mais antigade entre as multinacionais portuguesasde software (tem clientes em mais de 60países), fortaleceu o seu crescimento em2009 por ter apostado nas regiões do

globo com maior crescimento (AméricaLatina e Ásia — nomeadamente índia eFilipinas).

"Há empresas que crescem rapidamen-te porque identificam precocemente ten-dências do mercado das tecnologias de

informação e das comunicações, ao con-trário de outras que definham insistindoem modelos de negócio ou em tecnolo-

gias obsoletas", refere Jaime Quesado.jramos @ expresso.impresa.pt

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Roff evita flutuações do mercadodoméstico com a exportaçãode serviços e software SAP para aNoruega, França, Argélia e Angola

Pela primeira vez, a Roff facturoumais além-fronteiras do que no merca-do nacional em 2009.

Francisco Febrero, presidente execu-tivo da empresa do grupo Reditus, diz

que este crescimento é explicado, emparte, pelos preços "competitivos" pra-ticados pela empresa.

Do volume de negócios registado em2009 (€26,6 milhões), 51% (€13,6 mi-lhões) foi efectuado junto de clientesinternacionais. "Hoje concorremoscom as grandes consultoras internacio-nais a nível de SAP", sublinha.

Fundada em 1996, a Reditus tor-nou-se, paulatinamente, um dos princi-pais especialistas nacionais na imple-mentação de software empresarial da

empresa alemã SAP. A partir de 1999,a Roff começou a fazer projectos pon-tuais para clientes internacionais. Atéque, nos últimos anos, para ficar me-nos exposta à reduzida dimensão e às

crises cíclicas do mercado português,passou a encarar o negócio internacio-nal de uma forma estruturada.

"Percebemos que havia uma oportuni-

A vantagem de teruma 'fábrica' na Covilhã

dade para uma empresa portuguesa es-

pecialista em tecnologia SAP venderserviços e software em países onde amão-de-obra é mais cara", explicaFrancisco Febrero. A competitividadeda Roff foi reforçada com a criação deuma fábrica de software (15 colabora-dores) na Covilhã, cidade que tem cus-tos inferiores aos de Lisboa, mas que játem mão-de-obra qualificada formadapela Universidade da Beira Interior.

Foi com estes argumentos que a tecno-lógica portuguesa foi sucessivamenteconquistando grandes contratos com aGivaudan Suisse (líder mundial no negó-cio de fragrâncias e aromas), ICA Norge(empresa norueguesa de retalho comaproximadamente 800 lojas), a petrolí-fera francesa Perenco e a UCPA (organi-zação francesa de tempos livres).

O mercado angolano também foiexplorado, tendo a companhia de

aviação TAAG como um dos clientesde referência. Mais recentemente,ganhou um importante contrato naArgélia para a implementação deum sistema SAP num grupo local(Metidji).

"Hoje temos 120 consultores (de umtotal de 300) a trabalhar no estrangei-ro", revela o gestor da Roff, referindoque, para os especialistas da empresa,"trabalhar no estrangeiro é uma expe-riência única de valorização pessoal" e

que as equipas são muitas vezes "umamescla de portugueses expatriados ede quadros locais".

Esta presença internacional levou aRoff a criar as subsidiárias francesa e

angolana. "A parte de consultoria téc-nica é feita no cliente (levantamentode processos, desenho da solução, im-plementação e formação), enquanto a

componente técnica do projecto é asse-

gurada a partir de Lisboa ou na fábri-ca de software da Covilhã", explicaFrancisco Febrero.

Para 2010, as expectativas de cres-cimento são semelhantes às de 2009porque existem "mais negócios nacalha".

ROFF

Área de actividade Consultoria e implementação de software SAPVolume de negócios em 2009 e crescimento face a 2008 €26,6 milhões (35%)Percentagem do negócio no estrangeiro 51%Previsão de crescimento do volume de negócios em 2010 35%Número de colaboradores em 2009 300

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Portugal é balão deensaio para o mundo

Mobbit ensaia em Portugalnovas soluções multimédiacomo objectivo de serem replicadasno mercado internacional

Os ecrãs informativos criados pela Mob-bit para as lojas da Nespresso em Portu-gal vão ser replicados noutros países on-de esta marca da Nestlé está presente.Uma solução idêntica, criada para a zo-na infantil das lojas da FNAC, vai serutilizada nas lojas do grupo francês noBrasil. Também os painéis interactivosde publicidade exterior da JCDecauxcriados pela Mobbit para Portugal deve-rão surgir noutros países.

Estes são apenas três exemplos de pro-jectos ensaiados Portugal com sucesso

pela Mobbit que vão proporcionar negó-cios além-fronteiras. Uma estratégiaque ajuda a explicar como poderão seratingidas as ambiciosas expectativas decrescimento para os próximos anos."Em 2014 deveremos ter um volume de

negócios de €24 milhões", revela Henri-que Couto Martins, presidente executi-vo e fundador da Mobbit.

Criada em 2003, a empresa começoupor desenvolver um produto multimé-dia que fazia a 'ponte' entre as comuni-cações móveis e o mundo da publicida-de. O primeiro grande contrato foi con-

seguido com a adjudicação do sistemade TV informativo do Metro de Lisboa.

Em 2005, a empresa ainda tinha oitotrabalhadores. Até que finalmente os só-cios fundadores, que ainda funcionavamem tempo parcial, decidem investir eminvestigação e desenvolvimento, apostan-do na área do digital signage (ecrãs quemostram informação, publicidade e ou-tras mensagens). "As empresas e os orga-nismos públicos precisavam de estabele-cer um novo tipo de contacto com os

seus públicos", refere Couto Martins.Mas o grande salto foi dado em 2009,

quando a Mobbit passou a fazer partedo grupo Ongoing. A empresa passoude repente de 26 para 80 colaboradorese a facturação disparou, graças, em par-te, às oportunidades desencadeadas pe-lo novo accionista. "Deixámos de fazer

MOBBIT

Área de actividade Comunicação multimeiVolume de negócios em 2009 e crescimeni

Percentagem do negócio no estrangeiro 1(

Previsão de crescimento do volume de negNúmero de colaboradores em 2009 80

jectos à medida do cliente e passá-s a ter músculo financeiro para inves--10 desenvolvimento de produtos pró-js", afirma. Só este ano deverão ver ado dia 23 novos produtos que resul-

-1 do "esforço de inovação",preocupação de Couto Martins tem) tornar esses produtos universais,seja, que não sejam específicos dorcado português e com potencial pa-;erem exportados. Além de televisãoporativa, a tecnológica passou tam--1 a apostar na televisão para centroscontacto, GPS turísticos, ecrãs inte-tivos sensíveis ao toque e gestão dendimento com IPTV, realidade au-ntada, interactividade transaccionaiserviços colaborativos via Web. "Aida larga em fibra óptica em muitobeneficiar o nosso negócio", refereito Martins.primeiro alvo foi alavancado pelo

jecto editorial do grupo Ongoing nosil — o "Brasil Económico" (réplica'Diário Económico") —

, que deu ori--1 a uma plataforma multimédia (pa-, corporate TV, portal Internet, tele-vel, pontos de venda) para melhortabilizar os conteúdos. Espanha, Rei-LJnido e Estados Unidos são os próxi-s mercados alvo da Mobbit.

e a 2008 €8,1 milhões (354%)

; em 2010 18,5%

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Transformar a crisenuma oportunidade

Quidgest abranda crescimento em2009, por exposição ao mercado doEstado, mas quer retomar o fortenível de expansão dos últimos anos

Uma mão-cheia de negócios em curso ouem perspectiva provenientes do mercadointernacional — Alemanha, França, Rei-no Unido, Espanha, Moçambique, Ango-la, Cabo Verde e Lituânia — deverá per-mitir à Quidgest retomar este ano os ní-veis de crescimento a que nos últimosexercícios se tinha habituado, na casados 4O%."Queremos aumentar o negócioproveniente do estrangeiro, mas conti-nuamos a apostar no mercado da Admi-nistração Pública portuguesa que no anopassado se cifrou em 50% do nosso negó-cio", afirma João Paulo Carvalho, sóciosénior da Quidgest. "Vamos continuar aser especialistas em Administração Públi-ca, apesar de ser um mercado sazonal",acrescenta.

Esta estratégia da Quidgest de apostarnos mercados externos recebeu recente-mente um incentivo simbólico, ao ser dis-

tinguida na categoria 'internacionaliza-ção' pelo organismo britânico UK Tradeand Investment.

"Foi reconhecida a nossa rápida expan-são no mercado do Reino Unido, atravésda filial Quid Software Engineering que

foi fundada em 2008", afirma João PauloCarvalho, referindo que a empresa está

empenhada ao longo deste ano em expan-dir o número de parceiros internacionaisatravés da rede QuidNet.

O objectivo é colocar o maior númeropossível de empresas a utilizar o Génio, o

produto estrela da empresa, uma plata-forma de geração automática de progra-mas informáticos. "Tem uma vantagemcompetitiva de grande importância paraas organizações porque permite uma re-dução drástica nos custos e prazos na pro-dução de software", afirma o dirigenteda Quidgest, referindo que o tempo de

programação e implementação do projec-to pode ser reduzido na relação de 10 pa-ra 1, em relação aos métodos tradicionaisde produzir código sem erros.

Além de um escritório em Londres, a

Quidgest conta com pólos de desenvolvi-mento e empresas locais em Madrid, Ma-puto e Timor-Leste e parcerias na Ale-manha, Angola, Lituânia e São Tomé e

Príncipe. De entre os projectos mais em-blemáticos no exterior, João Paulo Car-valho destaca o fornecimento de um sis-

tema de gestão dos recursos humanosda administração pública de Timor-Les-te que foi financiado pelo Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento.E dá relevo também ao sistema de ges-tão municipal para Maputo, que foi fi-nanciado pelo Banco Mundial, e a umprojecto de gestão integrada para o Esta-do cabo-verdiano.

Em Portugal, a Quidgest foi pioneira nainformatização da Administração Públi-ca, com o sistema SINGAP que "é utiliza-do por quase metade dos organismos pú-blicos da Administração Central".

Na área empresarial, além de um ERP,a empresa tem apostado em sistemas de

gestão estratégica (Balanced Scorecard)e no desenvolvimento de um sistema de

transição de plataformas obsoletas parasistemas modernos.

"A crise é uma oportunidade para o nos-so negócio porque podemos ajudar à mu-dança nas organizações para serem maiseficientes", conclui João Paulo Carvalho.

QUIDGEST

Área de actividade Software empresarial e para administração públicaVolume de negócios em 2009 e crescimento face a 2008 €3,2 milhões (5%)Percentagem do negócio no estrangeiro 15%Previsão de crescimento do volume de negócios em 2010 30%Número de colaboradores em 2009 80

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OUTROS CASOS

ALERTÁrea de actividadeSoftware hospitalarVolume de negócios em 2009€42 milhõesCrescimento face a 2008 17%

Percentagem do negóciono estrangeiro 67%Previsão para 2010 17%Número de colaboradores 792

ALTITUDE SOFTWAREÁrea de actividadeSoftware para centrosde contactoVolume de negócios em 2009€31,3 milhõesCrescimento face a 2008 13,3%

Percentagem do negóciono estrangeiro 80%Previsão para 2010 Crescer,embora a ritmo mais reduzidoNúmero de colaboradores 308a nível global (159 em Portugal)

F3MÁrea de actividadeSoftware de gestãoVolume de negócios em 2009€5,8 milhõesCrescimento face a 2008 10%

Percentagem de negóciono estrangeiro 6%Previsão para 2010 12%Número de colaboradores 115

NDRIVEÁrea de actividadeSistemas de navegação (GPS)Volume de negócios em 2009€5 milhões (software) e €3,1milhões (hardware, jádescontinuado)Crescimento em 2009 no negóciode software 153%

Percentagem do negóciono estrangeiro 85%Previsão para 2010 €12 milhões

(crescimento de 137%)Número de colaboradores 54

PRIME IT CONSULTINGÁrea de actividade

Serviços de tecnologias de

informação e telecomunicaçõesVolume de negócios em 2009€6,9 milhõesCrescimento face a 2008 53%Previsão para 2010 €10 milhões

Percentagem do negóciono estrangeiro InexistenteNúmero de colaboradores 140

SCIENCE4YOUÁrea de actividade

Jogos educativosVolume de negócios em 2009€200 milCrescimento face a 2008 300%

Percentagem do negóciono estrangeiro 30%Previsão para 2010 €400 milNúmero de colaboradores 8

VISION-BOXÁrea de actividadeSistemas de segurançabiométricosVolume de negócios em 2009€7,3 milhõesCrescimento face a 2008 38%

Percentagem do negóciono estrangeiro 60%Previsão para 2010 €10 milhõesNúmero de colaboradores 77

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Superior Três casos no meio académico chegaram a julgamento nos últimos anosFONTE: PÚBLICO

Professora acusada de plágio pededemissão de escola onde dava aulas

Conclusões do inquérito ao caso conhecidas no final do mês. Investigadorbrasileiro vítima do alegado plágio defende que direitos autorais são seus

Samuel Silva

• A professora acusada de ter plagia-do a sua tese de doutoramento pediua demissão do Instituto Politécnico doPorto (IPP). 0 eventual afastamento dadocente está ainda a ser avaliado pelaEscola Superior de Estudos Industriaise de Gestão (ESEIG), onde esta leccio-nava. O caso está sob investigação daUniversidade do Minho (UM), institui-

ção que concedeu o grau de doutor,devendo as conclusões ser conhecidasaté ao final do mês.

O pedido de demissão da docentefoi confirmado ao PÚBLICO pela pre-sidente do IPP, Rosário Gamboa. Se-

gundo aquela responsável, a carta em

que é solicitada a cessação de funçõesfoi enviada à direcção do instituto nasemana passada. "De acordo com os

estatutos, compete agora à direcçãoda ESEIG pronunciar-se sobre a ques-tão", avança aquela responsável.

A professora pretende pôr fim à sua

ligação ao IPP, onde ocupava o cargode professora adjunta desde 2006. Nacarta de demissão não são evocados

quaisquer motivos que justifiquem o

pedido. Apesar das várias tentativasfeitas, também não foi possível obterum esclarecimento por parte da do-cente sobre quem recaem as acusa-

ções de plágio.Há três semanas, politécnico e

universidade receberam uma cartaanónima que denunciava que o grauacadémico teria sido obtido com basenuma tese plagiada. 0 caso está, desde

então, sob investigação da UM, deven-do as conclusões desse inquérito serconhecidas ainda este mês. "Trata-sede um processo que necessita ser de-vidamente investigado, impondo-seuma averiguação e confirmação dos

factos, necessárias à tomada de umadecisão legalmente enquadrada", jus-tifica a reitoria em comunicado.

Caso se confirme que a tese é plagia-da, a professora do IPP perderá o graude doutor e terá ainda que devolver abolsa de doutoramento que recebeudurante quatro anos. As conclusõesterão ainda que ser comunicadas aoMinistério Público, uma vez que o plá-gio é considerado crime e tem umamoldura penal que pode chegar aostrês anos de prisão.

Tese "coincide em tudo"A tese da professora demissionáriaé alegadamente plagiada da tese dedoutoramento de Sérgio Masutti, uminvestigador da Universidade Federalde Santa Catarina, do Brasil, defendi-

da em 2005. Contactado pelo PÚBLI-

CO, o académico brasileiro afirma játer tido conhecimento do caso, atravésde mensagens de correio electrónico

que lhe foram enviadas por colegasportugueses.

O académico afirma que o seu dou-

toramento foi desenvolvido entre2002 e 2005, "numa época em quehavia pouca literatura específica".Masutti diz não ter tido oportunida-de de fazer uma análise detalhada datese da professora portuguesa, mas

assegura ter "constatado que na suamaioria" se trata de "uma tradução"da sua pesquisa.

"Verifiquei que no início a lista de

siglas e abreviaturas coincide em tudocom a da minha tese, ao ponto de te-rem sido citadas também instituiçõesque visitei em Itália durante a pesqui-sa", exemplifica, apontando igual-mente "coincidências, inclusive das

páginas consultadas" nas referências

bibliográficas dos dois documentos."Respeito Portugal e acredito que,

como aqui, também exista legislaçãopertinente na defesa da autoria e dodesenvolvimento científico. Sendoaplicadas as leis, o direito autoral é

meu", assegura o investigador.

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As duas teses e quatro exemplos de um possível plágioInvestigações portuguesa e brasileira coincidem em inúmeros trechos

Ocorreu a substituição da economiada oferta, pela economia da procuramotivada pelas comunicações.0 comércio mundial cresceu muitomais do que a produção, nas últimasdécadas. Aponta-se como um dos

principais agentes deste crescimentoa OMC (Organização Mundial do

Comércio), cujos acordos em escalamundial, permitiram a conjugaçãode factores tais como: produzir ondeé mais barato; investir onde houvermaior rendimento; transportar commaior facilidade e com menos custo;consumir mais e globalmente;vender mais rápido e melhor.

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Este contexto é confirmado porHannah e Freeman (1987, p.930) quandocomentam que as mudanças ocorremem ritmo acelerado e integram o

quotidiano de quase todos os sectoresda vida das pessoas. Entretanto, a maiorparte da estrutura organizacional e

prática gerencial, não foi criada comesse ritmo de mudança em mente, foramcriadas para funcionar num ambientemais estável, mais previsível.

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A economia da oferta transformou-senuma economia da procura gerada pelodesenvolvimento das comunicações.0 comércio mundial evolui mais e

apresenta uma dinâmica muito superiorà da produção. Com a existência deacordos à escala mundial, decorrentes daOMC (Organização Mundial do Comércio),conjugam-se factores como o acessoà produção nos locais onde o custoé inferior, o investimento onde se verificao maior rendimento, a maior facilidadee o menor custo dos transportes, oaumento e globalização do consumoe a aceleração das trocas comerciais,entre outros factores.

Paginai

Hannah e Freeman (1987, p.930)confirmam este contexto quandoreferem que as mudanças ocorrema um ritmo acelerado e integram o

quotidiano de quase todos os sectoresda vida das pessoas. No entanto, a maiorparte das estruturas organizacionaise as práticas de gestão não foramnem implementadas, nem tão poucocriadas, tendo subjacente esse ritmode mudança, mas sim no sentido de

operarem num ambiente maisestável e previsível.

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Apesar da dificuldade em demonstrarempiricamente as suas contribuições,estudos recentes mostram claramenteque a inovação e a mudança tecnológicasão de facto determinantes parao crescimento económico, emboraa sua contribuição precisa sejamais difícil de analisar quantificar.A constatação deste facto pode seranalisada recorrendo à selecção deum conjunto de indicadores básicos

para os países da OCDE (Organisationfor Economic Cooperation andDevelopment) (OCDE, 2000).

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"2.2.1.11 A confiançacomo integrador da rede".A confiança é determinadaculturalmente e, de acordo comFukuyama (1996, pp.3o-55), consistena expectativa que emerge de umacomunidade onde "os seus membrosse caracterizam por um comportamentoestável e honesto e por regrascomummente partilhadas". 0 nívelde confiança de uma sociedade seavalia a partir do valor do capitalsocial que essa sociedade apresenta,interessará também compreender o

que se entende por capital social.

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Estudos recentes mostramclaramente que a inovaçãoe a mudança tecnológica são,efectivamente, factores determinantespara o crescimento económico, muitoembora a sua contribuição exactanão seja fácil de analisar e quantificar.Contudo, este facto pode ser comprovadorecorrendo à selecçãode um conjunto de indicadores básicos

para os países da Organisation forEconomic Cooperation and Development(OCDE, 2000).

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"3.1.11 Confiança comomecanismo integrador da rede".A confiança é determinada culturalmentee consiste na expectativa que ocorrenuma comunidade onde os membrosse caracterizam por comportamentosestáveis e honestos e por regraspartilhadas (Fukuyama, 1996, pp.3o-55).Uma vez que é a partir do valor do capitalsocial que essa sociedade apresenta quese avalia o nível de confiança, torna-senecessário compreender o quese entende por capital social.

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Page 24: EUA - sigarra.up.pt · Como é que se explica que, havendo tanta infor-mação sobre os malefícios a ela associados, a obesidade seja um dos mais graves problemas de saúde a nível

Custa 50 mil por ano

O que falhouno softwareantiplágio dauniversidade?• A tese de doutoramento alegada-mente plagiada foi defendida na Es-cola de Engenharia da Universidadedo Minho (UM), uma instituição queinveste 50 mil euros por ano numaplataforma informática que permitea detecção de cópias.

Há quatro anos que o sistema anti-plágio está disponível para todos osdocentes da UM e a instituição está,por isso, a avaliar o que falhou nes-te processo que possa ter permitidoa aprovação da tese da docente doPorto. Anualmente, a universidadeinveste 50 mil euros num programade e-learning do qual faz parte um sof-

tware que permite detectar casos de

plágio. O programa já permitiu des-cobrir cópias integrais em trabalhosacadémicos de licenciatura e mestra-do, mas o caso denunciado no mês

passado foi o primeiro numa tese dedoutoramento.

O software em causa é usado me-diante a compra de uma licença, masna Internet estão disponíveis outros

programas, alguns deles de acessogratuito, que permitem detectar as

cópias com diferentes níveis de efi-cácia.

No sistema usado pela UM, os tra-balhos submetidos são comparadoscom uma base de dados que agrupamilhões de artigos. Posteriormente,o programa assinala as semelhançase sugere as fontes originais dos tra-balhos, permitindo aos professoresfazer a sua própria comparação entreos documentos.

Apesar de ser crime, o plágio rara-mente chega a tribunal. E, em Por-tugal, apenas três casos estão a ser

julgados, um dos quais aconteceuprecisamente na UM. As outras duasdenúncias surgiram na Universidadede Coimbra e na Faculdade de Medici-na da Universidade de Lisboa (UL).

O caso da UL foi conhecido em2004 e levou mesmo à intervençãoda Ordem dos Médicos, uma vez queenvolvia três clínicos. A tese aprovadadois anos antes naquela faculdade se-ria copiada de um estudo publicadopor investigadores da mesma insti-tuição em 1990.

A massificação da Internet facili-tou o acesso dos estudantes às fon-tes de informação e tornou o plágioapetecível, o que obriga os docentesa reforçar os mecanismos para en-contrar quem copia. Nos últimos anosassistiu-se também ao crescimentode um outro fenómeno: o negóciode venda de trabalhos académicosonline, cujo preço chega a atingir os1500 euros no caso de uma tese demestrado. S.S.