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Eus e Olhares Sobre Os Outros

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Artigo sobre o filme Hans Staden.

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  • Outros Tempos Volume 7, nmero 9, julho de 2010 - Dossi Estudos de Gnero

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    EUS E OLHARES SOBRE OS OUTROS: relatos de Hans Staden e suas releituras cinematogrficas

    Vitria Azevedo da Fonseca Doutora em Histria pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

    [email protected]

    Resumo: O artigo prope consideraes sobre as relaes de alteridade estabelecidas entre o relato de Hans Staden e suas posteriores adaptaes para o cinema nos filmes Hans Staden (Luiz Alberto Pereira, 1999) e Como era gostoso o meu francs (Nelson Pereira dos Santos, 1971). Na anlise passeamos por diversas temporalidades de eus e outros. H um eu autor (Hans Staden) que descreve um outro desconhecido (indgenas), pautado em outros conhecidos. H eus muito distantes no tempo

    (cineastas) que utilizam o relato deste outro, para falar de um outro outro ainda mais distante. Assim, nesse caldero temporal vamos discutir um processo de leituras e releituras do passado, no cinema.

    Palavras-chave: Hans Staden, cinema brasileiro, alteridade

    Abstract: The paper presents considerations about the alterity relations between the report of Hans Staden and later film adaptations, Hans Staden (Luiz Alberto Pereira, 1999) and Como era gostoso meu francs (Nelson Pereira dos Santos, 1971). The analysis goes through several temporalities of selves and others. There is an author self (Hans Staden) that describes the unknown other (Indians), guided by known others. There are selves very far away in time (moviemakers) which use the account of that other, in order to talk about another other, even more distant. In this time caldron, we will discuss a process of reading and rereading of the past, in cinema.

    Key-words: Hans Staden, brazilian cinema, alterity

    Artigo recebido em 21/2/2010 e aprovado em 4/6/2010

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    O historiador lida constantemente com um outro, distante no tempo e no espao. Mas, o que falar desse outro? Quem o outro? E quem esse eu que fala de um outro? Durante muito tempo e para alguns, ainda hoje , a histria seria o discurso verdadeiro (sobre o outro) por excelncia. Acreditava-se que o historiador descrevia o passado como realmente era. Ou seja, que conseguiria, sem nenhuma parcialidade, falar de fato sobre o outro apagando as marcas da sua presena e do seu presente.

    Mas, no apenas o historiador que se aventura nas searas das temporalidades. Existem

    diversas formas artsticas e culturais que tem como personagens esses outros distantes no tempo, e tambm no espao. O cinema um desses meios que algumas vezes tomam como foco a alteridade do passado.

    No entanto, nem a histria, nem o cinema, ou melhor, nem um historiador nem um

    cineasta conseguem apagar as marcas do prprio discurso e do prprio fazer. E o outro do qual parece se falar no o outro do qual se fala. H uma dinmica intrincada entre o autor e o relato, entre os eus e os outros nesse processo de representao/interpretao do passado.

    Neste artigo, proponho algumas reflexes sobre a dinmica do eu e do outro nos relatos

    do viajante Hans Staden, e sua viso sobre os ndios tupinambs, e a sua posterior transformao em narrativas cinematogrficas: uma delas na dcada de 1970, com o filme Como era gostoso o meu francs (Nelson Pereira dos Santos, 1971) e a outra da dcada de 1990, com o filme Hans Staden (Luiz Alberto Pereira, 1999).

    Nessa dinmica de eus e outros, os trabalhos de Tzvetan Todorov e Franois Hartog so muito interessantes e inspiradores.

    Herdoto, considerado o pai da histria, foi muitas vezes contestado pois algumas de suas afirmaes foram desmentidas ou no comprovadas pelas escavaes arqueolgicas.

    Hartog, em seu livro O Espelho de Herdoto (1999), prope a seguinte abordagem: em vez de invalidar o que Herdoto diz sobre o povo cita em suas Histrias, por terem sido desmentidas pela arqueologia, realizar um outro movimento, de buscar como Herdoto e os seus interlocutores, os gregos, representavam e compreendiam os outros, os no-gregos, e quais os

    significados dessa representao para os leitores. Nesse sentido, a mentira sobre os outros (o povo Cita) deixa de s-lo e passa a ser um elemento constitutivo daquele discurso que remete o historiador para um imaginrio sobre esse povo presente tanto no autor quanto nos seus interlocutores.

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    Hartog prope uma leitura, atravs da anlise de elementos do prprio texto que leva o historiador, nesse caso, ...no para o lado dos citas, mas para o lado dos gregos. Atravs dessa leitura ... pode-se apreender quem so os citas de Herdoto, o que inclui tambm os citas

    do imaginrio grego, uns remetendo aos outros reciprocamente ... (HARTOG, 1999, p.52). Dentro do texto que fala sobre o outro chega-se, no ao outro de fato, mas ao outro do autor e tambm ao outro do destinatrio, j que o ...destinatrio est, com efeito, alojado no interior do prprio texto (HARTOG, 1999, p.49).

    No final das contas, encontramos o prprio autor e suas dimenses histrico-culturais. Analisando desta maneira um texto histrico, um documento, ou qualquer outro discurso, perde o sentido um mero julgamento de veracidade. O texto histrico e o documento ganham, assim, outro brilho: nem verdade, nem mentira, mas algo a ser analisado na sua prpria complexidade.

    Pensando nisso, proponho algumas consideraes para um exerccio de leitura do relato de Hans Staden e suas posteriores adaptaes. Ao fazer esse exerccio, passeamos por diversas temporalidades de eus e outros. H um eu autor que descreve um outro desconhecido, pautado em outros conhecidos. H eus muito distantes no tempo que utilizam esse relato desse outro,

    para falar de um outro ainda mais distante, chega-se por fim em eus e outros prximos, espectadores e autores que compartilham de um mesmo regime de historicidade.

    RELATOS DE VIAGENS: falar do outro e descobrir o eu

    Resta uma cidade que voc jamais menciona. Marco Polo abaixou a cabea.

    Veneza disse o Khan. Marco sorriu.

    E de que outra cidade imagina que eu estava falando? (CALVINO, 1990, p.82)

    Esse dilogo, citado por Hartog (1999, p.268) quando analisa os relatos de viagens, leva-o seguinte questo: de que fala, no fim das contas, o viajante?. Ao falar sobre todas as outras cidades Marco Polo estava sempre falando da sua cidade, Veneza. Ou seja, ao falar do outro, falava de si, ao falar do diferente, falava do familiar. O viajante olha, e o que enxerga? Descobrir o que ele v no algo simples e direto, perceptvel atravs da literalidade das palavras, pois o que o viajante descreve uma interao entre um eu em contato com aquele outro. Existe um eu implcito na descrio do outro. Portanto, preciso decifrar esse texto.

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    Os ndios, com a descoberta da Amrica foram os outros dos europeus, e muitas foram as repercusses desse outro para o conhecimento que os europeus tinham de si. Ao descreverem, interpretarem, ou tentarem entender os ndios, os europeus projetavam nessas figuras estranhas a sua prpria concepo de mundo.

    Os descobrimentos o contato entre europeus e americanos, a descoberta do novo mundo e sua descrio foram temas escolhidos por Tzvetan Todorov para abordar a questo do outro (TODOROV, 1996). E um ponto que o autor ressalta como Colombo estava imbudo de idias e ideais europeus, no seu contato com os ndios, e como isso influenciou sua viso e sua descrio. Colombo olha para o outro, mas enxerga o que espera ver. Ou seja, ele no enxerga o outro, mas a expectativa que faz do outro: Ele no se preocupa em entender melhor as palavras dos que se dirigem a ele, pois j sabe que encontrar ciclopes, homens com cauda e amazonas. (TODOROV, 1996, p.17). Quando v algo acontecendo na sua frente, descreve-o como algo que j conhece: A coisa acontece na sua frente, mas o que ele relata em seu dirio a explicao de Plnio, tirada de um livro... (TODOROV, 1996, p.17)

    Alm de ver o outro com seus prprios olhos (como poderia ser diferente?), esses olhos que v vem carregado de significaes. Nesse eu que descreve um outro est presente muitos outros eus. Como escreveu Todorov, pode-se descobrir os outros em si mesmo, e perceber que no se uma substncia homognea, e radicalmente diferente de tudo o que no si mesmo; eu um outro. Mas cada um dos outros um eu tambm, sujeito como eu. (TODOROV, 1996, p.3). Encontramos em ns mesmos a influncia dos outros. Os nossos hbitos, os nossos pensamentos no esto isolados de uma cultura, de uma sociedade. Claro que isso no pode ser percebido de forma direta: um ser no um reflexo da sociedade, mas ao mesmo tempo no completamente individual, sem nenhuma ligao com os outros. Os outros tambm esto nesse eu.

    Duas viagens ao Brasil (Hans Staden, 1557)

    Hans Staden, um alemo da regio de Hesse, publicou um relato sobre suas viagens

    Amrica durante os anos de 1547 e 1549. Apenas nos primeiros dez anos foi reeditado por mais de cinco vezes. Tornou-se um documento peculiar que atravessou o mar do tempo e permanece como leitura para os olhos contemporneos.

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    Apesar da sua narrativa trazer outros elementos que fazem parte da viagem, aqui vou descrever apenas alguns trechos nos quais o aventureiro entra em contato com uma tribo tupinamb, foco tambm dos filmes a serem analisados na sequncia.

    De acordo com o relato, Hans Staden fora capturado quando caminhava pela mata em busca de seu escravo que fora caar. A partir da, o autor passa a narrar o seu contato com os indgenas, tentando mostrar o quo brbaros e ameaadores estavam sendo com ele. J nesse primeiro contato, Staden realiza uma espcie de milagre: os ndios pedem que ele reze para que

    seu Deus fizesse desviar uma tempestade e isso ocorre. O autor vai mostrando como os ndios eram brbaros e ameaadores e ao mesmo tempo, como aconteciam milagres que iam lhe poupando a vida.

    Quando Staden chega tribo, rodeado por mulheres, o que caracterizaria o incio do ritual antropofgico: Algumas foram minha frente, outras atrs, dansando (sic) e cantando uma cano que, segundo seu costume, entoavam aos prisioneiros que tencionavam devorar. [grifo meu] (STADEN, 1974, p.87). Neste trecho, interessante destacar a frase segundo seu costume, o que nos indica um conhecimento do aventureiro a respeito das prticas e costumes

    dos indgenas. Staden continua a descrio, tentando mostrar os sofrimentos pelo qual passava:

    Tiravam-me umas pelos braos, outras pelas cordas atadas ao pescoo, to fortemente que eu quase no podia respirar. O que tinham em mente, quando assim me arrastavam, no sei. Pensei ento nos sofrimentos do nosso salvador Jesus Cristo, como foi inocentemente torturado pelos vis judeus (...)consolei-me nste pensamento e, mais resignado, tudo aceitei. (STADEN, 1974, p.89-90)

    Para fazer compreender o que ele sentia e passava, associava seus sentimentos aos sofrimentos de Cristo, colocando-se numa posio de mrtir e de algum que tem certa intimidade com Deus.

    Em um momento posterior, Staden descreve sua tentativa de convencer os ndios de que

    no era portugus, mas no consegue. Um francs aparece na tribo e parece ser uma esperana para confirmar para os ndios de que diz a verdade. Mas isso no acontece. E para piorar a sua situao, o francs afirma que Staden portugus e que deve ser comido. Tambm reconhecido por um outro ndio como sendo amigo dos portugueses. A nica maneira de mudar a idia dos

    ndios seria provar que no era portugus, mas tudo caminhava contra isso. Numa noite, quando os chefes se reuniam ao luar, e discutiam sobre o destino de Staden,

    algo diferente aconteceu: ...estava triste, olhava a lua, e pensava comigo: meu Senhor e meu

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    Deus, tira-me dste sofrimento para a bemaventurana. Perguntaram-me ento por que fitava sempre assim a lua, e respondi: Vejo nela que est zangada. (STADEN, 1974, p. 102). Um dilogo travado entre Staden e os indgenas e um deles pergunta com quem est zangada a lua e

    Staden responde: Ela olha para a tua cabana. O ndio fica furioso, mas no dia seguinte chega a notcia de que uma tribo de parentes dos tupinambs havia sido destruda. Partem para ajudar na reconstruo da aldeia e o ritual da morte de Staden tambm est sendo preparado. Ele fica ansioso, pois pode morrer a qualquer momento, basta que seu dono volte. Mas, os parentes de

    seu dono ficam doentes, e isso, segundo o relato, interpretado pelos ndios como sendo a ira do Deus de Staden. E o viajante confirma isso. E conclui: que eu tenha desta sorte aludido lua naquela noite, deve ter acontecido pela providncia divina. Alegrei-me muito e pensei ainda: Hoje Deus est comigo! (STADEN, 1974, p.107)

    Tudo que narrado passa a ter alguma relao com as aes de Staden e passa a ser interpretado como se ele tivesse algum poder divino. Um dia, estava lendo um livro em portugus, e conversou com um prisioneiro amigo dos portugueses, na noite seguinte houve uma tempestade e os ndios achavam que eram por que Staden havia conversado com um amigo e

    tentava impedir que fosse devorado. Staden pediu que Deus o ajudasse e o dia seguinte amanheceu limpo.

    Todos os elementos que so narrados tm um sentido e um objetivo. Ele descreve a noite do luar para mostrar a sua sorte; cita um menino que comia um pedao de carne humana para

    em seguida mostrar que o infortnio posterior se devia a isso, etc... Ou seja, ele no est querendo descrever e observar os ndios, seus hbitos e costumes. O objetivo do seu relato era outro. E esse objetivo apresentado no nicio do texto.

    O objetivo da prpria escrita um dado importante para compreender as escolhas narrativas e o rumo que a prosa toma. Hans Staden narra sua aventura pretensamente com o objetivo de mostrar como Deus havia sido generoso ao livr-lo dos perigos encontrados.

    Logo na dedicatria, o autor cita uma passagem do profeta David, com a qual se identifica:

    Aqueles que singraram os mares, levando mercadoria aos grandes oceanos; aqueles que a obra do Senhor conheceram e, no mar, o seu poder testemunharam, quando falou e levantou uma tempestade, elevando-os aos cus nas vagas e descendo-os aos abismos, de almas angustiadas, e esmorecidos, cambaleantes, incertos como brios, desesperanados de qualquer alento; aqueles que clamaram de sua misria ao Senhor e le os tirou de sua angstia, acalmando o furaco, e fazendo espraiar-se as ondas suavemente, e voltar-lhes a alegria porque as ondas assim se acalmaram, trazendo-os

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    terra procurada devem agradecer ao Senhor pela bondade e poder com que agraciou aos seus filhos, e louva-lo com os seus irmos e exalta-lo com os seus patriarcas. (STADEN, 1974, p.25)

    Staden se identifica com a profecia de David, e acredita que fora salvo pela Vontade Divina ao passar pelos infortnios, como podemos perceber na passagem seguinte: Agradeo, pois, ao Creador (...) pela grande graa e misericrdia que (...) me foram concedidas maravilhosa e inesperadamente, quando eu, no Brasil, ca em poder dos selvagens, os tupinambs, ficando

    nove mses seu prisioneiro, e tendo escapado a muitos outros infortnios. (STADEN, 1974, p.25-26) Pelo trecho, percebemos que o autor se descreve como sendo um recebedor de graas divinas maravilhosas e inesperadas. Ele se descreve como um personagem privilegiado, agraciado por Deus, cujo objetivo narrativo comprovar essa idia: ...peo ao leitor queira considerar o que escrevo. Dou-me a este trabalho, no pelo prazer de escrever alguma coisa nova, mas exclusivamente para trazer luz os benefcios que Deus me prestou! (STADEN, 1974, p.121)

    Em outro trecho, o objetivo novamente reiterado: De certo tinha eu tambm muito mais para escrever, se para tanto me esforasse, mas o meu intuito no era sse. Exps, aqui e al, suficientemente, o pensamento que me levou a escrever ste livrinho, a saber, como todos ns devemos a Deus louvor e gratido, por ter-nos protegido desde o nascimento, desde a primeira hora, at as presentes, em nossa vida. (STADEN, 1974, p.196)

    Esse um elemento que vai permear toda sua narrativa. Ao escrever sua histria, depois

    de ocorrida a aventura, busca justificar tudo o que ocorreu pela Vontade Divina. E, a partir da, atribui esse significado aos acontecimentos. Essa insistncia em reafirmar o objetivo da escrita pode ter outros significados que mereceriam uma anlise mais profunda, que no cabe nos limites deste texto e deste autor.

    A necessidade de Staden mostrar que, quando solicitado, Deus o ajudou pode ter relao com o fato de o narrador ser protestante, j que, para essa religio, o fiel consegue entrar em contato direto com Deus sem intermedirios. Sendo assim, o texto poderia ser interpretado como uma obra de divulgao religiosa, ainda mais no contexto de disputas entre catlicos e

    protestantes em que vivia a Europa no sculo XVI.

    A religiosidade o tom predominante assumido pelo texto. Staden escreve para um pblico que compreende essa linguagem, e aceita que Deus o ajudou. Segundo Fleischamann (1991) a necessidade de afirmar insistentemente a veracidade do relato um indcio da tendncia

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    do pblico a no acreditar nesse tipo de narrativa. No entanto, essa incredulidade no estaria relacionada a uma falta de religiosidade. O sculo XVI um sculo de crenas, de religiosidade, de brigas religiosas.

    Portugueses, Espanhis, Italianos, Franceses: todos, durante anos, durante decnios, se orgulham de que melhor do que correr o mundo como mercadores, navegar, combater, desbravar todos os riscos antes do mais, para alargar os limites da cristandade...So homens de ao, mais do que crticos. So ...obsidiados completamente por um grande sonho de unificao do mundo cristo, de incorporao, cristandade renovada, de povos at ento estranhos e hostis ao cristianismo. (FEBVRE, s/d, p.502)

    A misria, a busca de riquezas talvez tambm fossem motivos que movessem os homens em seus intentos, mas a justificativa religiosa no pode ser ignorada.

    A memria que os viajantes sugerem em seus relatos medieval (adjetivo): impregnada de religiosidade, destaca-se em suas manifestaes o amor-temor a Deus e ao Diabo; (...)Se a incredulidade, como demonstrou Lucien Fbvre, era impossvel no sculo XVI (quando foi ou ser?), no novidade alguma demonstrar isso novamente, relacionando expresses tiradas desses relatos apenas para provar o que j est provado. (MICELI, 1998, p.33)

    Nesse sentido, podemos supor que o pblico leitor de Staden era um pblico que acreditava e talvez at valorizasse uma narrativa de vanglria ao poder do seu Deus. Em alguns momentos, Staden apresenta a sua situao de forma bastante desfavorvel, o que gera o efeito

    posterior de que a ajuda divina foi ainda maior. Chega numa situao que parece sem sada, mas consegue escapar pela fora divina.

    Como no poderia ser diferente, Hans Staden, como um viajante e narrador, assumia posturas semelhantes s descritas por Todorov no que diz respeito aos viajantes do Novo Mundo: ao narrar sobre seu contato com os indgenas j tinham uma idia pr-concebida e narrava a partir de refernciais j conhecidos.

    Isso particularmente aplicvel no tratamento do tema do canibalismo, aventura central do livro. Alguns autores questionam a maneira como foram lidas as idias de canibalismo

    presentes nos relatos de viajantes quinhentistas (FLEISCHAMANN, 1991). Esses autores levantam uma problemtica semelhante a encontrada na descrio de Herdoto do povo Cita:

    [...] tanto o lugar do crime como a realidade dos fatos canibalsticos desapareceram para sempre. O que nos resta so textos, que no so aptos para uma investigao do tipo positivista. Estes textos no documentam apenas a realidade, eles tem funes sociais, tradies e legitimaes prprias. (FLEISCHAMANN, 1991, p. 128)

    Como querer saber sobre esse outro indgena, e supostamente canibal, a partir de um relato escrito por europeu, cujo objetivo e pblico leitor est focado em outros europeus do

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    sculo XVI? Staden no fala dos ndios reais, ele fala de um imaginrio criado em torno do Novo Mundo.

    O canibalismo no Brasil mencionado pela primeira vez por Amrico Vespcio, cujas cartas eram de uma leitura bastante freqente na Europa: ... constituiu-se atravs delas, uma imagem do Brasil como terra dos canibais... (FLEISCHAMANN, 1991, p.131). Ou seja, criou-se um imaginrio em torno dessas figuras que comem gente.

    Escrever sobre o canibalismo era tambm uma forma de agradar ao pblico, no caso de

    Hans Staden e Jean de Lery: O tema canibalismo, na sua tradio j estabelecida, correspondia ao gosto de leitores amantes de histria curiosas e de aventuras, cuja autenticidade no os preocupava. Correspondia tambm aos interesses dos colonos e razo estatal, busca de argumentos a favor da escravido dos ndios e aos interesses da igreja que buscava razes para sua misso civilizatria. (FLEISCHAMANN, 1991, 139)

    Segundo esses autores, o fato de os viajantes descreverem o ritual de antropofagia de forma to detalhada e semelhante, leva a crer que se basearam numa narrativa anterior. Na descrio de Staden, por exemplo, num determinado momento, quando ele capturado pelos ndios e achava que seria comido, sua postura foi de procurar ... em torno pelo ibira-pema, a maa com que executam os prisioneiros (STADEN, 1974, p.90). Ou seja, ele j sabia anteriormente o que iria encontrar e j procurava por ela. uma narrativa pautada em pressupostos que condicionam o olhar.

    Assim, como poderamos compreender os ndios nessa narrativa? Que ndios so esses descritos? No podemos considerar que essa seja uma verdade sobre os ndios, e que tudo que aparece ali baseado num olhar neutro do viajante. Ele pode at descrever o que viu, mas o que v ganha sentido a partir do que ele j conhece sobre o assunto: ...se voc no pode dizer seno o que viu, no pode ver seno o que dito... (HARTOG, 1999, p.261)

    Dentro dessa perspectiva, quem esse eu (Staden) que fala sobre um outro? Assim como em Herdoto cujo outro sobre o qual fala o autor, no o outro real, mas, o outro que est no imaginrio tanto do autor, quanto dos seus interlocutores. Assim, os ndios descritos por Staden e tudo que vivenciou na tribo nos remete muito mais a um imaginrio europeu sobre como deveriam ser os selvagens ndios do que aos ndios em si. Isso no significa invalidar o

    relato como inverdico, mas compreender sobre quem e sobre o que ele fala.

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    DUAS VIAGENS RELIDAS: transcriaes cinematogrficas

    Muitos e muitos anos depois da publicao de Duas viagens ao Brasil, a aventura de

    Hans Staden ganha visibilidade cinematogrfica. O relato foi usado como documento para duas produes cinematogrficas que tematizaram o encontro do branco europeu com a vida indgena no Brasil do sculo XVI.

    Os dois filmes, Hans Staden (Luiz Alberto Pereira, 1999) e Como era gostoso o meu francs (Nelson Pereira dos Santos, 1971) usaram a narrativa de Staden para construir a sua prpria narrativa. Da mesma maneira que o relato do viajante, os filmes so construdos com um propsito, um objetivo e ao falar do outro falam muito mais de si mesmos. Tentarei mostrar como os dois filmes tm leituras distintas de uma mesma obra de base e revelam concepes

    distintas sobre o passado tematizado no cinema. Enquanto um busca a neutralidade, o outro, pelo contrrio, assume claramente um ponto

    de vista. Enquanto um se apresenta como uma narrativa que fala do passado, o outro usa o passado para falar do presente. O objetivo de Luiz Alberto Pereira mostrar o Brasil do sculo XVI, enquanto o de Nelson Pereira falar do seu tempo presente. So dois olhares e dois objetivos diferentes.

    Ao utilizar um texto como base para uma obra cinematogrfica, ou fazer qualquer outro tipo de adaptao, importante uma boa leitura da obra de base em toda complexidade e no

    apenas na sua literalidade. Ou seja, fazer uma leitura histrica desse texto tentando perceber como e com quais objetivos construiu-se a narrativa, com que elementos est dialogando e principalmente qual o seu pblico alvo. No basta considerar que o texto uma janela para a realidade, como vimos anterioremente.

    Os dois filmes tm leituras distintas da mesma obra e tambm objetivos distintos. H tambm diferenas na concepo de histria. O diretor de Hans Staden declara que .... minha idia foi transpor para a tela algo nunca feito antes, mostrando como era de fato o Brasil do sculo 16 (PEREIRA, 2000, p.11).

    Esse objetivo, o de mostrar o Brasil como era no sculo XVI, vai direcionar a leitura da obra de base e lev-lo utilizao do relato do viajante de maneira literal. A narrativa do filme Hans Staden construda seguindo-se a mesma seqncia do relato do viajante. E como parece

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    no ter havido uma leitura crtica desse relato, uma contextualizao e uma compreenso daquela obra, o filme adquire um aspecto meramente descritivo e parece no querer dizer nada.

    As aes de Staden, que tm funes especficas no relato escrito, perdem seus

    significados e parecem no adquirir um novo significado no filme de Luiz Pereira. Enquanto na narrativa de Staden todos os elementos caminham no mesmo sentido, de forma a comprovar a sua tese, como vimos anteriormente, o filme parece solto. Ele utiliza de maneira literal o texto de Staden e parece acreditar com isso que est sendo imparcial e verdadeiro.

    Ingenuidade. No possvel ser neutro. E um filme no pode mostrar como era de fato o Brasil do sculo XVI s porque se baseia em um relato de um viajante que esteve no local e descreveu aquelas pessoas. Entre falar sobre o outro (Staden) para chegar no outro (ndio) h um processo complexo de alteridades e identidades.

    Ao contrrio, o filme de Nelson Pereira tem significados e objetivos, no pretende ser neutro. Sua narrativa no uma transposio de fatos, mas a construo de idias atravs de vrios elementos histricos.

    Por exemplo, se tomarmos a representao do ritual antropofgico/canibalstico em cada

    um dos filmes ele ganha um significado. Em Como era gostoso o meu francs, o ritual antropofgico (e no canibalstico) um elemento central da narrativa, a comear pelo prprio ttulo do filme. E esse ritual aparece como uma metfora (e uma referncia cultural simblica) e uma aluso aos seus significados polticos posteriores, principalmente porque o personagem do

    estrangeiro, um francs, de fato comido no final do filme. Essa escolha tem um significado importante, como analisa Ismail Xavier: "A incurso bem-humorada pelo Brasil do sculo XVI se desdobra em profecia sinistra, pois o rito antropofgico que deglute o francs se acompanha da sua advertncia vingativa: seu povo vir em nmero cada vez maior para 'acabar com os

    ndios'" (XAVIER, 1998, p.166-167). Em Hans Staden esse ritual, assim como a maioria dos elementos do filme, aparece

    estritamente atrelado descrio de Staden, sem outros significados, sem tomada de posio. Essa postura de busca de neutralidade nos remete a uma situao histrica na qual o filme foi

    produzido. Lucia Nagib levanta um aspecto importante das produes cinematogrficas da dcada de

    1990, principalmente, que a adoo de um comportamento acrtico por parte dos filmes. Uma

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    das grandes diferenas entre Hans Staden e Como era gostoso meu francs est ligada a esse aspecto, j que um quer ser neutro e o outro escancara o ponto de vista.

    Em todos esses filmes novos, a aspirao do futuro (a esperana revolucionria) d lugar a uma pesquisa arqueolgica (o mito da origem), que procura desencavar fatos histricos a fim de reconstruir a imagem de um personagem individual ligada a uma paisagem e a uma cultura, para s ento quem sabe num segundo momento pensar-se em propostas de transformao. (NAGIB, 2000, p.125)

    Essa vontade de ser neutro dos filmes est muito ligada ao momento histrico descrito pela autora. Num artigo publicado pelo Jornal Folha de So Paulo, essa idia aparece de maneira mais clara no que se refere ao filme Hans Staden:

    Hans Staden' limita-se ao relato factual. Em nenhum momento percebemos as intenes' do diretor. O crtico de cinema fica atnito diante de obra to dura, to objetiva, to parca em significados e intenes de autor. (...). Narra um episdio, simplesmente. O episdio est to distante das habituais interpretaes do Brasil', furta-se (...) miragem do significado. (...) Diz apenas: Foi desse jeito'. Seu objetivismo conduz falta de empatia. O filme interessante, mas no emociona. Recusa-se a todo raciocnio fcil em torno da questo o que o Brasil. Talvez isso seja um sinal de maturidade. Estamos to entupidos, neste ano 2000, de interpretaes, de vises retrospectivas, de culpabilizaes histricas, de raciocnios a respeito do Brasil, que sinal positivo dessa overdose a existncia de um filme neutro, distante, frio, como Hans Staden. Libera-nos de nosso passado. (COELHO, 2000, s/p)

    Esse artigo exalta a neutralidade como qualidade em funo de uma suposta saturao de interpretaes. Ou seja, o passado no visto como origem de algum problema atual, ou as causas dos desdobramentos futuros da nao, algo que aparece no filme de Nelson Pereira. O filme elogiado por esse autor exatamente porque o passado representado livre de

    interpretaes.

    Mas isso no significa que o filme consiga ser neutro. A neutralidade tambm produz discursos e reproduz discursos, como nos alerta Morettin, no caso desse filme:

    Certo que mostrar o sculo XVI a partir do ponto de vista de um europeu imbudo dos preceitos civilizatrios significaria assumir um tipo de discurso sobre o outro que no se coaduma mais com as reflexes acerca do que representou a presena do elemento branco neste territrio no decorrer do perodo colonial. (MORETTIN, 2000)

    Essa suposta neutralidade nos remete a um tipo de pensamento sobre o passado bastante

    criticado, por exemplo, por Roland Barthes (1988), que, ao analisar os elementos lingsticos do texto histrico positivista, observa como a forma de organizao do enunciado pode levar a uma idia de objetividade, fazendo com que desaparea aquele que enuncia, o que faz com que a histria [parea] se contar sozinha. Nesse filme h uma ausncia do sujeito do discurso numa postura supostamente neutra da narrativa: ningum assume a autoria do relato.

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    Postura presente em alguns filmes histricos que transparece, por exemplo, em cenrios,

    figurinos e personagens. O cenrio deve ser feito de forma a reconstituir o ambiente em que 'realmente' se passou a cena representada. As falas dos personagens devem estar de acordo com a

    poca, e os figurinos devem combinar com os personagens. Tudo isso baseado numa boa pesquisa histrica, que d um tom de "cientificidade" e, assim, maior credibilidade ao filme. Ela "possibilita a reconstituio (palavra por demais usado no vocabulrio crtico) e esta, se for 'autntica', nos transmite a impresso de naturalismo." (BERNARDET, 1982, p.64)

    Esse tipo de postura aparece na fala do diretor de Hans Staden, para quem o realismo do filme a sua

    [...] grande virtude.(...). Meus ndios esto nus como os daquela poca. No usam as sunguinhas de penas que os da Globo vestem. As cores das penas que os ndios utilizavam foram mantidas. At as chuvas foram verdadeiras, l em Ubatuba. Nada de filme tropicalista, colorido. Contratamos tambm um professor que at gramtica tupi ensinou para os meus atores, e eles conseguiram me contar piadas em tupi. (PEREIRA, 2000, p.11)

    Jos Geraldo Couto, numa passagem que gosto muito, ao criticar esse tipo de postura no filme A Guerra de Canudos, coloca uma questo importante: ...talvez esse mimetismo exterior, de superfcie, no seja a melhor maneira de o cinema tentar se aproximar de uma realidade ou ao menos da sua verdade (COUTO, 1997). Ser que a melhor maneira de um filme, que aborda uma temtica do passado, construir sua verdade seria se apegar a aspectos factuais e materialmente fidedignos na construo de um passado pautados em documentos e relatos que so, em si mesmos, cheios de complexidades como o caso do relato de Hans Staden?

    E voltamos questo da leitura. Ao buscar simplesmente a verdade da obra de base,

    seja ela ficcional ou historiogrfica, sem se compreender que aquele um discurso, e que o prprio filme um discurso e que no possvel ser neutro, cria-se uma obra cinematogrfica pobre que exalta a fidelidade em detrimento do cinema.

    Uma postura muito diferente adota o diretor Nelson Pereira: "Como era gostoso... uma inveno minha, evidentemente baseada em todos os cronistas da poca: Hans Staden, Jean de

    Lery, os jesutas, mas basicamente a aventura de Hans Staden. Aquele filme uma parbola sobre a ditadura..." (SANTOS, 1998, p.16) A sua relao com o passado outra, no uma aceitao sem crtica, mas um olhar desconfiado, que questiona as narrativas sobre o passado para construir a sua prpria. Segundo Ismail Xavier, o filme de Santos incorpora a tradio das

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    descries "...para deslocar perspectivas, desconfiar de verses oficiais, aludir violncia recalcada por discursos civilizatrios." (XAVIER, 1998, p.166-167)

    Os dois filmes tm a mesma temtica, mas abordadas de maneiras completamente

    diferentes, o que nos revela posturas diferentes em relao prpria histria e a representao do passado pelo cinema.

    O filme de Nelson Pereira nos fala sobre o cinema da dcada de 1970 e sobre uma determinada postura frente cena poltica da poca e vem imbudo de idias e propostas de

    transformao. Sua postura contrria ao regime estabelecido e suas propostas de mudana a partir dos vencidos levam-no a olhar para histria como aquela escrita pelos vencedores, sendo assim, algo a ser contestada. A histria assume claramente uma relao direta com as lutas do presente.

    Em Hans Staden, como vimos, a busca de neutralidade quase sintoma de uma gerao saturada de significados que parece precisar exorcizar o legado deixado pelas geraes anteriores.

    Falar sobre o passado tambm falar sobre o outro, e falar do passado (outro) tambm falar de si mesmo. Em Como era gostoso meu francs o eu do autor est presente e identifica o prprio tempo, enquanto o eu do autor de Hans Staden parece querer se esconder numa suposta neutralidade de um olhar para o passado. No entanto, o eu que se anuncia ou o eu que se esconde gritam sobre si mesmos e demonstram vises sobre a sociedade do presente na qual os

    produtores dos discursos esto inseridos.

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    Referncias

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    BERNARDET, Jean Claude. Qual a histria? In: Piranha no mar de rosas. So Paulo: Nobel, 1982

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    COELHO, Marcelo. Neutralidade qualidade em Hans Staden In: Folha de So Paulo, Ilustrada, edio eletrnica, 29/03/2000

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    TODOROV, Tzvetan. A conquista da Amrica: a questo do outro. Trad: Beatriz Perrone Moiss. So Paulo: Martins Fontes, 1996

    XAVIER, Ismail. Eldorado como inferno - Cinema Novo, Ps-Cinema Novo e as apropriaes do imaginrio do Descobrimento. Revista Sexta Feira, n .3 - fronteiras, So Paulo: Pletora Editora, outubro 1998