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Evangelho de Joao

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Comentario exegético ao evangelho de João por W.C. Taylor. Volume III.

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  • Comentrio Evangelho de Joo

    Volume III

    C .E .J. 1

  • Impresso nas Oficinas da CASA PUBLICADORA BATISTA

    Rua Silva Vale, 781

  • in/ANGE1}10. SEGUNDO JOO

    Traduo e Comentrio

    101114.4" eaiff , 7414/104

    VOLUME: III

    1959 CASA PUBLICADORA BATISTA

    Caixa Postal 320 Rio de Janeiro

  • OUTROS TESTEMUNHAM SUA ESTIMA PELO EVANGELHO SEGUNDO JOO

    A magna carta do misticismo cristo. Deo Ralph Inge. A genuinidade do Evangelho de So Joo o centro da posio dos

    que sustentam a verdade da histria de nosso Senhor Jesus Cristo que nos dado no Novo Testamento. Lightfoot.

    A ausncia de arte literria, de perodos cuidadosamente polidos, serve para revelar com ainda maior clareza a glria exaltada do Verbo encarnado. John Gresham Machen.

    O Quarto Evangelho foi escrito com uma pena que caiu da asa de um anjo. Herder.

    E' o livro dos sorrisos da Igreja, a alegria dos santos. William Alexander.

    "Joo expe poucas idias, mas estas ele repete inmeras vzes. W. T. Conner.

    Eu realmente prefiro So Joo a seus comentadores. William Ate. xander.

    Eu no vim aqui para levantar os mortos, mas para libertar os vi-vos dos seus erros, disse Joo, segundo afirmou Prcoro, quando alguns lhe pediram que levantasse um menino morto.

    O Quarto Evangelho um livro escrito sem arrire pense, sem vai-dade literria, sem o receio paralisador do criticismo. William Alexander.

    So Joo escreveu seu Evangelho contra Corinto e outros herejes que afirmaram no existir Cristo antes de Maria. Jernimo.

    Como os Evangelhos superam todos os demais livros, assim os de-mais Evangelhos so ultrapassados pelo Evangelho de Joo. Jesse Ly-man Hurlbutt.

    Ele no pretende sacrificar a histria em benefcio do dogma, nem h necessidade de assim fazer. Sua teoria, e somente ela, harmoniza seus fatos. William Alexander.

    Cada pintura verbal nos Quatro Evangelhos adiciona toques que lhe so prprios, mas as feies so sempre as mesmas, o Deus-Homem Je-sus Cristo, o Salvador do mundo. A. T. Robertson.

    Aut Christus Deus, aut homo non bonus est. Os Sinticos nos mostram corno o grande Rabi e Profeta enfureceu

    o povo ao denunciar-lhe as tradies e vidas imorais: Joo nos declara como um personagem divino exacerbou a hierarquia por se declarar um com Jeov. Jesse Lyman Hurlbutt.

    O maior de todos os livros produzidos por homem, o evangelho eter-no da guia que voou at aos altos cus e nos deu uma viso de Deus no rosto de Jesus Cristo. A. T. Robertson.

  • 1NDICE Pginas

    O Panorama do Calvrio e da Glria Alm; A Espiritualidade Efetua a Obedincia em Cristo e em ns. (Cont. do Ca-ptulo XIV, vers. 18 - 31 .. 9

    Palavras Finais do Mestre aos Discpulos: Entre o Cenculo e o Horto. (Captulos XV e XVI) .. .. 37

    O Sumo Sacerdote da Raa Humana Intercede, no Dia do seu Sa-crifcio, no Santo dos Santos da Redeno. (Captulo XVII,

    157 Jesus, Judas e Pedro no Horto. (Captulo XVIII, vers. 1 a 11) 217 Jesus Prso e Processado por Seu Povo: Joo o Acompanha

    mas Pedro o Nega. (Captulo XVIII, vers. 12 a 27) .. .. 231 Jesus Cristo Diante da Autoridade do Imprio Romano. (Cap-

    tulo XVIII, vers. 28 a 40) .. 248

    A Tortura de Jesus e da Conscincia do Juiz Romano. (Cap- ptulo XIX, vers. 1 a 16) ..

    .. 267 O Calvrio: Atritos entre Pilatos, Ans e Caifs acerca do Le-

    treiro da Cruz. (Captulo XIX, vers. 17 a 22) .. .. 281 O Calvrio: Sofre o Cristo Nu, Os Soldados se Divertem na Jo-

    gatina, Os Discpulos Velam. (Cap. XIX, vers. 23 a 37) .. 285 Ricos Timoratos se Identificam com o Senhor no Seu Entrro

    (Captulo XIX, vers. 38 a 42) .. 315 As Primeiras Testemunhas do Senhor Vivo e Verdadeiro. (Ca-

    ptulo XX, vers. 1 a 18) .. 320 Uma Grande Comisso Missionria. (Captulo XX, vers. 19 a 23) 349 Jesus Vence a Mxima Dvida. (Captulo XX, vers. 24 a 29) 370 Como o Evangelho se Rematou Originalmente. (Captulo XX,

    vers. 30 e 31) .... . . . . . . 379 O Eplogo Captulo XXI O Senhor Alivia a Monotonia da

    Espera na Galilia. (Captulo XXI, vers. 1 a 14) .. . . 384

    O Senhor Humilhou Trs Vazes a Pedro, Sondou-o Perante Outros Apstolos e o Orientou Melhor. (Captulo XXI, vers.

    403 O Critrio do Discpulo Amado em Escolher o Material dste

    Evangelho. (Captulo XXI, vers. 24 e 25) . . . . . . . . . . 435

  • O Panorama do Calvrio e da Glria Alm; A Es- piritualidade Efetua a Obedincia em

    Cristo e em ns. (Continuao do Captulo XIV, versculos 18 31)

    18 No Orfandade mas 19 Unio Perene com

    Cristo 20 21 reis que eu estou no Pai e

    A Obedincia do Crente aos Manda-

    22 mentos e Pala- vra do Senhor a Prova Cabal do Amor Cristo

    "No vos deixarei rfos, venho para vs. Ainda um pouco e o mundo j me no v, mas

    vs me continuais a ver; porque eu continuo vivo, vs tambm vivereis. I Naquele dia vs conhece-vs estais em mim e eu estou em vs. I Aquele que tem os meus mandamentos e continuamente os guarda, esse que me ama de contnuo: e aque-le que me ama ser amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei pessoalmente a ele." I Ju-das, no o Iscariotes, lhe pergunta: "O' Senhor, que que tem acontecido que pretendes manifestar-te pessoalmente a ns e no, de forma alguma, ao mun-

    23 do?" I Declarou-lhe Jesus, em resposta: "Se al- me ama, guardar a minha palavra, e meu Pai o amar,

    e presena face face, e faremos nossa morada ao seu lado. 24 no alma no guarda as minhas palavras: e no minha a 25 antes do Pai que me enviou. I Eu vos tenho falado estas 26 palavras enquanto permaneo ao vosso lado: e o

    Advogado, o Esprito Santo, que o Pai enviar em meu nome, sse vos ensinar tdas as verdades e vos far lembrar tdas as palavras que eu vos falei.

    27 I Paz deixo convosco, paz, a minha paz, vos dou: no como o mundo d, dou eu para vs. No con-tinue perturbado o vosso corao nem fique medro-

    28

    so. I Acabastes de ouvir como eu vos declarei: Vou embora, e todavia volto para vs. Se continuamente me amsseis, j vos

    29 tereis alegrado de que vou para o Pai, porque maior do que eu. I Ora, vos tenho dito agora, antes que acontea, a fim que acrediteis de uma vez, quando tiver aconte-

    eido. I J no falarei muitas palavras convosco, porque o Prncipe do mundo vem vindo: ora, ele no tem em mim coisa alguma; I entretanto (ele vem sempre), a fim de que o mundo saiba de vez que amo o Pai e vivo fazendo precisamente como o

    Pai me ordenou. Ficai de p, daqui vamos andando."

    gum continuamente entraremos na sua Aquele que

    palavra qu ouvis, me

    A Presena de Je-sus e Sua Paz. Se-ro Realidades no Corao, pela Ddi-

    va do Esprito Enviado

    O Esforo Baldado 30 do Prncipe Sat,

    no Calvrio: Jesus 31 o vence pela

    obedincia.

    eu

    de

  • 10 EVANGELHO SEGUNDO JOO

    18. No vos deixarei rfos. Alceu Amoroso Lima (Tristo de Athayde) escreveu um livro de grande candura, singeleza e formosura de esprito, como o depoimento de sua saudade pelo falecido cardeal do Brasil, Dom Sebastio Leme. O primeiro captulo uma extensa disserta-o sbre a orfandade, na qual le encaixa o choro pela sua perda de uni amigo e guia espiritual. Quatro pontos cardeais notamos na condio natural da Orfandade o abandono, a solido, a misria e a tristeza ... Em tdas essas notas psicolgicas da orfandade, o que se observa o seu carter negativo. Ela representa por natureza, a negao de tudo o que mais humano no homem o amparo de um Pai, a companhia de um Amigo, o confrto do Alimento, a Paz de Esprito. O rfo o que perdeu o Pai, o Amigo, o Alimento e a Paz... Isso... tambm se passou com o gnero humano. E no mais na ordem da paternidade d'vina . No foi apenas um homem que ficou rfo. Foi tda a humanidade. Foi o Homem que perdeu o Pai... O pecado original no mais do que a Or-fandade do gnero humano. (1) At a, concordamos, se bem que a filia-o natural de Ado, sob a lei do Paraso, bem diferente da filiao do crente, em Cristo e sob o regime da graa uma diferena estupenda a que o escritor romanista est cego. Tambm a paternidade de Deus como Criador do gnero humano grandemente diversa da sua paterni- dade do crente pela graa regeneradora do Esprito Santo.

    Esta idia, que em essncia bblica, vem receber, logo depois, a caiao dos dogmas pagos do romanismo. Ei-la: O Pai, por aqule modo paradoxal da economia singular das coisas de Deus, nos dava uma Me nascida do martrio do Filho, a Igreja que vinha perpetuar o Cristo na luz do Esprito Santo. Os rfos receberam o batismo que os fazia renascer na reconciliao domstica, voltaram Casa Paterna ... A En-carnao era o fim da Orfandade... tda a vida humana passou a oscilar entre dois polos opostos: ou o abandono voluntrio da pater-nidade reconquistada e portanto a volta orfandade pela apostasia ou, de outro lado, o abandono da orfandade e a volta paternidade di-vina, pela vida eucarstica e mstica, pela uno com o Pai nos mist-rios do Filho e da Virgem que nos leva ao Filho. A vida crist veio permitir a vitria do homem sbre a orfandade que era a morte da fi-liao divina. Bem complexa orfandade e um vaivm da filiao e pa-ternidade a cada passo das arbitrrias oscilaes da vontade do pe-cador. Instvel paternidade e mais instvel filiao ainda um dia rfo, outro dia filho, depois novamente rfo! Muda-se de filiao como se muda de roupa!

    A caiao est na v esperana de que uma criancinha inconsci-ente e irresponsvel feita filha de Deus pela graa da gua benta. A gua benta pode gerar mosquitos fz isso na Igreja das Graas, no Recife, uma vez e matou vizinhos da igreja com a febre amarela.

    (1) "O Cardeal Leme", pgs. 11, 13, 14.

  • TRADUO E COMENTRIO 11 Mas a gua benta e todos os demais sacramentos nunca doaram a ne-nhum ser humano a paternidade de Deus ou a filiao do estado rege-nerado. A pia batismal no remdio para a orfandade. Nem Cristo prope semelhante dosagem eclesistica. Ele promete acabar a or-fandade com seu Espirito. Este faria que a invisvel presena e ener-gia do Salvador glorificado fsse real e operosa no crente.

    Tambm Deus no criou uma Me de seus filhos espirituais. Nun-ca lemos na sua Palavra de Filhos da Igreja. E' outra caiao ecle-sistica por cima da verdade evanglica para dar aos homens as hon-rosas funes da Deidade, Somos filhos de Deus, sem me, como foi Ado nova criao em Cristo Jesus.

    O Dr. Alceu Amoroso Lima no coerente consigo. Ele diz: C' Cristo vinha apagar, para sempre, na vida sobrenatural, o estigma ter-rvel da Orfandade. (2) Est correto, pois Jesus diz: Aqule que cr em mim tem a vida eterna. Como pode o pecador, uma vez salvo. oscilar, como o pndulo de um relgio, entre orfandade e filiao Deus, se Cristo apagou PARA SEMPRE para o crente essa orfandade ? Ele afirma que a redeno o ltimo estado de nossa natureza agra-ciada. Mas suponhamos que um ex-padre se converta a Cristo, evang-licamente creia e receba de Jesus Cristo a vida eterna pela f, e que, por isso, le seja excomungado da Igreja Romana. Ento, nue ficou desse ltimo estado, que havia recebido para sempre quando a gua ben-ta lhe conferiu a filiao sacramentalista? No h nem evangelho nem bom senso no sacramentalismo. A cada passo se contradiz.

    E' prazer passar dessa elaborada teoria, dessa complexidade anti-evanglica e monstruosa, e voltar para a simples idia de Jesus que tanto confrto outorgou ao eminente catlico. Eis suas palavras.

    Eu no vos deixarei na Orfandade. O cristianismo est contido nes-sa sentena divina. Essa a significao da Encarnao, centro da hist-ria do mundo e expresso misericordiosa da histria de Deus. Fomos cria-dos para filhos e no para produtos de uma natureza cega ... A vin-da de Jesus Cristo representa o fim da Orfandade global do gnero humano e a vitria perene, desde ento, contra Vida a orfandade na-tural. (3) E' melhor a doutrina de Paulo: Sois todos vs filhos de Deus mediante a f em nosso Senhor Jesus Cristo. gua benta no influi na soluo do problema. Melhor Jesus do que Roma.

    Orfanados. Que ternura h na referncia de Paulo aos cren-tes novos de quem le, seu evangelizador, ficou separado contra sua vontade. 'Mas ns, irmos, privados de vs por um pouco', I Tes. 2: 17. O verbo quer dizer: orfanados. Paulo, sem a camaradagem dos crentes, era qual rfo chorando a perda de seu lar. (4)

    (2) Idem, p. 16. (3) "O Cardeal Leme", ps. 22, 23. (4) "Janelas Gregas", p. 11, por W. C. Taylor.

  • 12 EVANGELHO SEGUNDO JOO Eu voltarei a vs. este pequeno prazo se refere ao breve in-

    tervalo entre a crucifixo e ddiva do Esprito Santo. (5) Mas vde as notas sbre os vs. 3, 20: (Naquele dia). H muitas vindas de Jesus. No h motivo de dogmatismo, onde o contexto no define. Aqui acho que a volta a ressurreio de Jesus, dando certeza da sua constante presena invisvel mediante o Esprito Santo.

    19. Um pouco... o mundo j me no v. A partida de Jesus, no xodo da sua morte, era sua separao final do mundo, nos dias de sua carne, no estado de sua humilhao. Apareceria a Tiago, e tal-vez aos outros membros incrdulos da sagrada famlia, e a Saulo de Tarso. Mas o oferecimento visvel de si mesmo sua gerao e a seu povo acabara aquela semana. Olhos incrdulos, com essas poucas excees, j no o veriam na terra.

    Vs me vdes. Continuais a me ver. E' a viso que os olhos do corao enxergam (Efs. 1:18). Contudo essa poca seria inau-gurada pelas aparies dos quarenta dias depois da ressurreio, dan-do certeza ao coraco e acostumando-o a ver o Invisvel. A viso con-tnua parte da vida eterna. Vde... vivereis dois resultados das divinas realidades em Cristo.

    20. Naquele dia. No dia daquela volta, para ficar face face com les. Esta chegada do tmulo seria efetuada no primei-ro domingo. Da a trs dias, les o veriam face face no cenculo de novo, ressuscitado. E' bem provvel. porm, aue sse dia se estende, no pensamento de Jesus e na doutrina de Joo, numa reminiscncia dessa palavra, por tda a era evanglica at a segunda vinda. E' o dia da sua comunho espiritual com seu povo pela presena real que nos preciosa pela f. Vde a discusso da palavra hora, em 5:25. Nosso gzo, porm, da presena invisvel de Cristo, tem seu funda-mento objetivo nas aparies do Cristo ressuscitado, nos quarenta dias entre a ressurreio e a asceno. Foi neste tempo que seu povo se acostumou a pensar: Ns no o vemos, mas le est e nos v. ouve-nos, atende-nos e talvez volte outra vez a estar presente visivelmente conosco por um 13011C0.>> Terminadas as manifestaes visveis, ficou a conscincia da PRESENA, por todo o dia do evangelho no mundo.

    Unidade experimental: eu... no Pai, vs... em mim, eu... em vs. O verbo que expressa essa unidade viver. A vida eterna uni-fica os vivos com aqule que a nossa vida. No unidade dos mortos em delitos e pecados, pela gua benta, pelo sacerdotalismo, por credos ou organizao eclesistica. E' a unidade dos espiritual-mente vivos, no terreno de sua vida espiritual. Quem no tiver a vida eterna ser alheio unidade da vida.

    21. Aqule que tem os meus mandamentos e os guarda o que me ama. E' a Grande Comisso antecipada. Ide, fazei discpulos de

    (5) "Cambridge Biblical Essays", 283, pelo Deo Ralph Inge.

  • TRADUO E COMENTRIO tdas as naes, batizando-os (os discpulos o grego faz uma repen-tina mudana de gnero aqui) em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo, ensinando-lhes a guardar tdas as coisas quantas vos mandei, e eis que eu (enftico) convosco estou todos os dias at a consumao da era (isto , durante o porvir, at que no haja tempo mais). Meu livro *Os Mandamentos de Jesus, enumera todos os seus 489 mandamentos e os divide em mandamentos pessoais, hiperblicos, morais, sociais, evanglicos (definindo o que le nos manda fazer para ser salvos), de-vocionais, eclesisticos, cvicos, domsticos, missionrios, ministeriais, escatolgicos, etc. Ter gsto em obedecer e em guardar (que muito mais que obedecer) sses mandamentos como o patrimnio, a herana imutvel e a norma da vida crist, de gerao em gerao eis o cris-tianismo da Grande Comisso, imposto sbre a conscincia com a abso-luta autoridade total no cu e na terra. Por que h to pouco respeito por esses mandamentos de Jesus, mesmo entre seu povo? A razo simples. E' porque h muito pouco amor e sse mesmo to protocolar e frio, ignorante e mal orientado, indiferente ou desviado, dedicado s tradies dos homens e religio de nossos pais, que no leva em conta a autoridade de Jesus Cristo na conscincia e na conduta.

    O amor no sentimentalismo e xaropada palavrosa acrca do (meigo Nazareno essa figura ignorada na Bblia, to diferente do Jesus real dos Evangelhos. O amor obedece. A desobedincia des-amor.

    Aqule que tem os meus mandamentos e os guarda, sse o que me ama. Aqule que os tem na sua memria e os guarda em sua vida; aqule que os tem oralmente e os guarda moralmente; aqule que os tem no ouvido e os guarda no feito, ou que os tem no feito e os guarda pela perseverana, sse o que me ama. (6)

    E aqule que me ama ser amado por meu Pai e eu o amarei e me manifestarei a le. Agostinho ainda diz sbre sse versculo: Os santos se distinguem do mundo por aqule amor que faz que os de uma s mente vivam juntos numa casa.

    Ama. Francisco de Assis falava da Grande Cortesia de Deus". Realmente, nada h, mesmo no lar, que tanto expressa como promove e faz prolongar-se o amor na vida, como a cortesia, juntamente com o respeito. E' por isso que a Bblia, que nunca manda que a espsa ame ao marido, ordena que ela o reverencie. Se falta o respeito mtuo hoje, amanh faltar o amor genuno, pelo menos na sua forma de mtuo gozo. E, neste terreno, entra o provrbio: a cortesia do soldado a obedincia. Se me amardes, guardareis os meus mandamentos. Nada mais real como prova do amor da criatura ao Criador, do sdito ao Soberano, do filho ao Pai.

    Pai. Para Jesus, Deus o Pai dos que so scios na comunho (6) "Comentrio de Agostinho sbre este Evangelho, II 280, Verso de J. Gibbs.

  • 14 EVANGELHO SEGUNDO JOO do Filho com le, no o Pai de todos os homens, em geral... E' para les (os discpulos), e smente para les, que se deu a orao: Pai nosso que ests nos cus... No h lugar nenhum (no Novo Testamento) onde se veja evidncia alguma de que os homens, como tais, so consi-derados filhos de Deus ou irmos uns dos outros, no pleno sentido dessas palavras... A comunho que a frase 'Pai e filho' sugere baseada na posio de Redentor e dos redimidos. (7)

    Os meus mandamentos". Os mandamentos de Jesus tratam geral. mente de princpios, deveres morais e espirituais e, em poucos casos, das duas grandes ordenanas simblicas e da vida dos crentes nas igre-jas. No romanismo, precisamente o contrrio. Para a celebrao da Missa so prescritos nada menos do que 330 atos ou gestos. E com cada detalhe dessas tradies dos homens, vai uma teoria elaborada, enquan-to se olvida a simples verdade que Jesus ensinou. Algum disse: Se cada cerimnia religiosa tende a degenerar num formalismo co, como toda a experincia testifica, por mais bem calculada que seja para im-pressionar o corao, que loucura, sim que iniqidade , fazer com que tais cerimnias se tornem, no apenas os acessrios, mas os ele-mentos primaciais do culto e, por um ritual elaborado, desenvolver a su perstio inata do corao, em vigor e luxo portentosos.,, (8)

    Joo diz que novo mandamento, 13:34. E' velho e novo. E' to velho como o evangelho e to novo como a experincia do amor de Deus em Cristo Jesus por cada alma... E' to velho como o evangelho... como Deus mesmo. Mas quando rompe como a aurora na noite do pe-cado de uma alma, a coisa mais nova, mais revolucionria e que mais pasma, entre tdas as experincias que o mundo jamais teve. (g)

    Ama. Alguns, diz o Meister Eckhart, amam a Deus como amam a uma vaca, que se ama por causa do leite e do queijo e do lucro que dela se tira... Jowett pensava que no era prtico insistir no amor a Cristo... baseado na suposio de que no prtico concentrar nossos pensamentos numa pessoa que viveu h 1.800 anos e quase desconhecida para ns. (1) Vde as notas sbre 5:42 a respeito do amor genuno. Deveras era desconhecido para semelhante incrdulo e cnico, como completamente desconhecido a todos os tais, meros adep-tos de um senhor morto. O crente adora, ama, serve e conhece espi-ritualmente o Senhor vivo, que nos diz : Minha graa te basta. Eis que eu estou convosco todos os dias.x.

    22. Judas, no iscariotes. O Deo Farrar escreveu a seu res-peito: No terceiro grupo de quatro (na lista dos apstolos) achamos um apstolo com trs nomes. Seu nome real era Judas, mas como j

    (7) "Love in the New Testament", ps. 69, 70, por James Moffatt. (8) The Protestant Dictionary", p. 96, por C. H. H. Wright e 70 outros. (9) "The Epistles of John", p. 63, por Walter T. Conner. (10) "Love in the New Testament", p. 27, por James Moffatt.

  • TRADUO E COMENTRIO 15 havia um Judas entre os apstolos, e era um dos nomes mais comuns e havia ainda o Judas que era um dos irmos do Senhor, ste Judas parece ter duas alcunhas populares Lebeu, de lebh, corao, e Tadeu (outra forma de Teudas, At. 5:36), de thad, peito possivelmente, como alguns tm conjeturado, do calor e da ternura de sua disposio. (11) Ele pensa que este Judas era filho de Tiago, em lugar de irmo de Tiago o grego no diz nem filho nem irmo, mas apenas Judas de Tiago, que possibilita uma ou outra traduo. Farrar ainda pensa que esse Tiago idntico ao filho de Alfeu, e que, portanto, Judas era neto de Alfeu. Segundo seus clculos, pois, que no so geralmente aceitos por outros peritos no estudo, temos o seguinte parentesco no apostolado: Si-mo e Andr eram irmos; Tiago e Joo eram irmos e, se Salom era irm da Virgem (Mar. 15:40; Joo 19:25), eram primos de nosso Se-nhor; Filipe e Bartolomeu talvez fssem irmos; Tom, Mateus e Tiago talvez irmos tambm, primos de nosso Senhor; Lebeu, ou Judas de Tia go, era primo em grau mais remoto; Simo Zelotes e Judas Iscariotes eram talvez pai e filho. (Ele deduz isso de um texto grego inferior, em que Iscariotes concorda com Simo, e no com Judas, em Joo 13:2, W. C. T.). Assim mais do que a metade dos apstolos eram parentes de nosso Senhor, se bem que seus irmos no creram nle (Joo 7:5). A dificul-dade de ter certeza a respeito procede do fato de haver poucos nomes, entre os judeus, e a conseqente freqncia dos nomes Simo, Judas, Tiago, etc. (11)

    Judas. O romanismo mata pessoas eminentes, na histria bblica, como se escrever histria fsse a celebrao de uma noite de S. Bartolo-meu. Liqidou duas das Marias dos Evangelhos, sem razo alguma, identificando-as com uma meretriz annima, e apagou do record tambm as grandes figuras de Tiago, irmo do Senhor, e Judas, autor da Eps-tola erroneamente chamada Catlica, que se orgulhava de entitular-se irmo de Tiago, daquele Tiago que sculos depois ficou entitulado dbispo da Igreja de Jerusalm, se bem que qualquer outro presbtero daquela igreja era bispo da mesma maneira, no mesmo sentido do tr-mo que se aplica ao referido Tiago. O primeiro sculo cristo no era re-gime de nenhum bispo medieval numa igreja de Deus, mas de vrios bispos em cada igreja grande. Um podia ser presidente, ocasionalmente ou geralmente, nas deliberaes da igreja, se fsse para isso eleito por seus irmos, mas nenhum bispo monrquico aparece em evidncia, nas pginas do Novo Testamento. E' anacronismo ignorante e imperdovel, num historiador srio.

    Os fatos sbre os vrios Judas so claros. Um era o nome de um filho de Israel, e da tribo de que veio nosso Senhor. Outro era ste aps-tolo, e a probabilidade muito grande de que le fsse irmo, no filho,

    (11) "The Cambridge Greek Testament", com notas. o Vol. sobre Lucas, ps. 183, 184, pelo Deo (anglicano) F. W. Farrar.

  • 16 EVANGELHO SEGUNDO JOO de Tiago, havendo assim dois filhos de Alfeu no apostolado. Depois h o Iscariotes. E ainda h o Judas de que se escreve: No ste o filho do carpinteiro? Sua me no se chama Maria, e seus irmos no so Tiago, Jos, Simo e Judas? No vivem entre ns tdas as suas irms? (Mat. 13:55). E h os dois outros Judas do livro dos Atos, o revolucionrio (5:37) e Judas Barsabs, o profeta, companheiro de Paulo (15:22). Os quatro irmos de Jesus, filhos de Jos e Maria, eram incrdulos durante seu ministrio, consideravam seu irmo desequilibrado e, longe de sim-patizarem com seu ministrio, falavam desdenhosamente a respeito. Isso prova cabal de que o Judas da sagrada famlia, que foi conhecido e declarado, em Nazar, ser irmo de Jesus, no foi o apstolo Judas de que se fala neste versculo. Era o Judas que escreveu a Epstola do nosso Novo Testamento, irmo do Tiago que escreveu outra.

    O prof. Othoniel Motta, comentando o esfro dos irmos de Jesus para tir-lo de sua carreira, como desequilibrado (Mat. 12:46), diz: Sa-bemos que Jesus tinha quatro irmos e vrias irms. Dos irmos temos os nomes: Tiago, Jos, Simo e Judas (Cap. XIII-55). O plural irms implicaria pelo menos duas, se a expresso de Mateus `thdas as suas ir-msi no levasse a ver pelo menos trs, de acrdo com a lngua grega... A Igreja Romana, seguindo S. Jernimo, diz que sses irmos no passa-vam de primos. Salta aos olhos do crtico o que h de forado nesta in-terpretao. Quando temos que Andr era irmo de Pedro, Joo irmo de Tiago, Marta, irm de Maria, etc., em todos sses passos irmo ir-mo e irm irm. Somente com Jesus o caso diferente. No seu caso, em que, mui especialmente, qualquer expresso ambgua era para evitar-se, s a irmo repetido no sabemos quantas vzes sempre e sempre primo. Por que no se escreveu primo uma nica vez?... Para sepult-la (essa teoria) de todo h um passo de Eusbio que de fra especial e que no tem sido aproveitado na polmica. Diz le: 'Ento tambm Tiago, chamado o irmo de nosso Senhor porque tambm chamado o fi-lho de Jos ...' O trecho afigura-se-nos transparente e fechado a todos os sofismas (Eus. 11-1)... Bem sabemos como isto vai chocar melindres sagrados que tudo faramos para respeitar se no nos tivssemos imposto obedecer verdade e s a ela. O cristianismo ou vive com a verdade que resiste anlise, ou a sua runa apenas uma questo de tempo. (12) Outros dados e comentrios a respeito se encontraro nas notas sbre 2: 12; 7:3, 5, 10.,

    Por que no temos mais a respeito do apstolo Judas, no Iscario-tes? Pergunto, a propsito, quantos generais da Grande Guerra II h cujo nome e servios valiosos nas armas conhecido mesmo nos dias con-temporneos? E quem j se lembra de doze generais da Grande Guer-ra I? Contudo houve e h milhares dles, e meia divzia apenas lembra-da. O local e o regional desaparece na histria, a no ser no local e na

    (12) "O Evangelho de So Mateus, Traduo e Anotaes", ps. 125, 126.

  • TRADUO E COMENTRIO 17 regio. Os apstolos que, na providncia divina, se relacionaram com o mundo ocidental, por via da Europa, so vultos de vastas propores em nossas tradies. Mas os que morreram na Palestina ou nas popula-es para o leste e o sul, no alcanam meno, seno por uma palavra saliente ou um ato especialmente notvel no prprio ministrio de Jesus. Contudo, alguns deles que ns quase desconhecemos assumem propor-es vastssimas nas tradies da ndia, da Armnia, da Arbia, da Eti-pia, etc., Depende de quem escreve. Lucas escreveu sua histria para o imprio romano e o mundo grego. Salienta, mui naturalmente, os que ali eram fatres principais. Paulo, contudo, nos d uma descrio ds-te Judas e dos demais apstolos menos historiados, dizendo: Porven-tura no temos o direito de levar conosco uma crente espsa, como tam-bm o4 outros apstolos, e os irmos do Senhor, e Cefas% Nenhum ce-libatrio havia nos dois grupos. E evidente que os dois grupos consti-tuiam os dois magnos fatres no cristianismo do Oriente Prximo. Os ir-mos do Senhor deram Igreja de Jerusalm a presidncia de suas reu-nies por muito tempo, e nos legaram duas das Epstolas do nosso Novo Testamento, epstolas no catlicas mas nacionais, especialmente vi-sando os crentes judeus a quem ministraram. Das trs colunas da Igre-ja de Jerusalm que Paulo menciona na Ep. aos Glatas, uma do grupo dos irmos do Senhor, e duas do apostolado aos judeus, (2:9) .

    No ao mundo. Lembremo-nos de que estes apstolos j haviam acompanhado Jesus em obras missionrias na Judia, quando les batiza-ram mais discpulos do que o Batista havia batizado na mesma zona. Ainda presenciaram o grande ministrio de Jesus por dois dias numa vila sama-ritana. Foram seus companheiros em viagens entre as cidades gregas de Decpolis, e nas terras estrangeiras de Cesaria de Filipe, Tiro e Sidon. Ouviram as palavras de exaltao, de Jesus, na ocasio em que gregos o buscavam. Parece, pois, uma vira-volta radical que Jesus no ir mani-festar-se ao mundo, no futuro. No avaliam, naquela hora trgica, que le se tornar invisvel, na obra missionria, da por diante, e les mes-mos sero os missionrios e os promotores da atividade missionria das igrejas, e faro uma obra mil vezes maior do que Jesus fizera, ou Jesus e Joo juntos. Maior, na declarao de 14:12, no em respeito a sua natureza essencial, mas no que diz respeito ao seu ministrio. (13) Como o Pai enviara ao Filho e le acabou sua carreira, assim le entregar aos Ddze a responsabilidade missionria, e les s igrejas apostlicas e aos seus pastres-bispos-presbteros e aos rebanhos unnimes sob essa auto-rizada direo. Talvez fosse mais reverente a f que no fazia perguntas, como notamos em 4:27, mas fcil entendermos a perplexidade de Judas.

    23. Se algum me amar, guardar a minha palavra. E' bem signi-ficativo o uso do singular. A soma do ensino de Jesus j ia sendo reconhe-

    (13) "The Companion Bible", Vol. V, p. 7.157.

    .E.J. 2

  • 18 EVANGELHO SEGUNDO JOO tida como a Palavra. E' o mago da Palavra de Deus que temos no Novo Testamento.

    Quem pode ler isso sem pensar no Salmo 19? A lei de Jeov per-feita, e refrigera a alma; o testemunho de, Jeov fiel e d sabedoria aos simples. Os preceitos de Jeov so retos e alegram o corao; o manda-mento de Jeov puro, e esclarece os olhos. O temor de Jeov limpo, e permanece para sempre, os juizos de Jeov so verdadeiros e' inteira-mente justos. Eles so mais para desejar do que o ouro, sim do que mui-to ouro fino; e so mais doces do que o mel e o que os favos distilam. De-mais disso por les o teu servo advertido; e em os guardar h grande galardo.

    Se o Salmista, que possuia to pequena parte de nossas Escrituras, achava to precioso seu valor, to salutar seu ensino, to benfazejo guar-dar sua palavra, que no teria escrito le se tivesse o Novo Testamen-to e a revelao final de Deus em Jesus Cristo? Todavia costume, hoje em dia, taxar de orgulhosos os que insistem na lealdade Palavra de Cristo.

    E' orgulhoso o Salmista porque acha refrigeradora, fiel, sbia, reta, doadora de alegria, pura, limpa, permanente, verdadeira, justa, de-sejvel e doce a Palavra de sua Escritura, e sua obedincia? Vamos ver. Imediatamente depois de to insigne louvor lei e obedincia, ele excla-ma: Quem pode discernir seus erros? Purifica-me de faltas secretas. Tambm de pecados de presuno guarda ao teu servo. Que eles no se assenhoreiem de mim; ento serei perfeito e ficarei livre de grande trans-gresso. Sejam agradveis as palavras da minha boca e a meditao do meu corao, perante a tua face, Jeov, rocha minha e redentor meu. H orgulho a? H tudo quanto seja contrrio ao orgulho. No se acha perfeito mas acha a lei de Jeov perfeita. Jesus nosso Jeov. Sua vontade nossa lei. E' humilde obedincia achar que a lei de Cristo perfeita e guardar perante ns o alvo volante de absoluta obedincia ento serei perfeito. Mas no digo que eu j o tenho obtido, ou que seja j perfeito, mas vou prosseguindo... prossigo em direo ao alvo, (Fil. 3:12, 13).

    Paulo diz: De modo que a lei santa e o mandamento santo, justo e bom... a lei espiritual; mas eu sou de carne, vendido para estar su-jeito carne... Eu sei que em mim, isto , em minha carne, no habita o bem... (Rom. VII). Paulo insiste em levar todo o pensamento em cativeiro para a obedincia de Cristo, (II Cor. 10:5). Mas essa atitude era o mais humilde amor a Cristo.

    Tomemos alguns mandamentos por exemplo. Cristo mandou batizar os evangelizados. A obedincia consiste em ser simblicamente sepultado com Cristo e ressuscitado com ele, para andar em novidade de vida. A obedincia simples. E' um ato de cinco ou dez minutos, uma vez na vida. O mandamento claro. Dizer que no claro, constitui libelo con-

  • TRADUO E COMENTRIO 19 tra a inteligncia ou a boa vontade de Deus. O ato a imerso, uma imer-so obediente, social, a entrada numa vida coletiva dos que se dedicam a guardar, e ensinar a guardar, tdas as coisas que Cristo mandou. Pois bem. E' orgulho sse ato de obedincia ? E' orgulho ensinar um dever to simples e claro? Ento por que Cristo imps isso na Grande Co-misso?

    No orgulho algum . O crente ergue sua bandeira de lealdade, le-vanta publicamente seu ideal de trazer em cativeiro a Cristo tda a sua vida obedientemente no porvir. Seu ideal a morte da velha vida e andar todos os anos futuros em novidade de vida. Mas se algum pergunta ao crente, ao sair das guas como saiu seu Senhor das guas do Jordo: En-to, o irmo perfeito, heim? J se orgulha de haver obedecido a Cris-to? o espanto do novo discpulo seria tremendo. Diria: No, irmo. Obedeci num s ato agora, mas tomei por ideal obedecer a Jesus o resto da vida. Mas o resto da vida est ainda para viver, na novidade da santi-dade que Cristo quer. Apenas tomei o passo pblico que comea minha peregrinao obediente com os que tm igual preciosa f e convices da vontade revelada pelo Senhor Jesus no Novo Testamento. No sou orgu-lhoso de coisa alguma. Exalto a Cristo, no a mim; e isso pretendo fazer o resto da vida.

    Outro mandamento a mordomia. Por insistir que o homem consi-dere Cristo Senhor e o crente servo, Cristo o Dono e o crente o mordomo, Cristo o Proprietrio e o crente o administrador do tempo, dinheiro, talen-tos e tudo que temos e somos, digo, por insistir nessa doutrina e em obedecer a ela orgulhoso o crente obediente? Mil vzes no. Ele se hu-milha diante de Jesus, exalta a Jesus, vai obedecendo a Jesus. E' a vida inteira. Mas quando le pela primeira vez se considera mordomo e toma os votos da mordomia, sse o momento de suprema humildade perante Jesus. Ergueu um ideal ; no se ufana de ter alcanado a meta. Prossegue e progride e anda humildemente na direo do alvo volante. Tdas as obedincias so guas que correm em caudaloso rio, esto elas numa ca-deia da vontade de Deus, so passos numa peregrinao. Nenhum ds-ses passos orgulho ou motivo de orgulho. Mas Cristo o caminho e a obedincia a le o andar do crente que o ama., Chamar isso orgulho perversidade e inveja. Persistamos, a despeito de semelhante cilada e propaganda, persistamos em guardar os mandamentos, a Palavra e as pa-lavras de Jesus, pois quem o ama guarda a sua Palavra.

    Entraremos na sua presena face face, e faremos nossa morada ao seu lado. Parece-me que h um tesouro escondido em declaraes como estas: Eu me manifestarei a le, e faremos nossa morada ao seu lado, tesouro de uma riqueza que ns nem sequer poderamos adivinhar. Mas lemos as palavras como algum que pisasse na grama de um solo debaixo do qual h veios de ouro escondidos. (14)

    (14) "The Expositor" (data no anotada), num artigo de Josephine Butler.

  • 20 EVANGELHO SEGUNDO JOO Pousada. David Smith nota que no morada, como se Deus

    viesse para ficar em nossa casa na terra. No. Ele vem visitar um pere-grino, visit-lo na pousada (15) da sua peregrinao, pois aqui no te-mos moradia fixa, e sua visita, em comunho especial numa experincia sagrada de g"ozo, visa nos confirmar na peregrinao e nos dar motivo de seguir na jornada. Todavia, convm notar que em v. 2 as moradas ali esto todas na casa do Pai e expressam a hospitalidade. E, certamente a pousada de Deus com o crente leal por todos os dias. A fase pere-grinadora de nossa relao com ste mundo, no de nossa comunho com Deus.

    O amor pode ser duro, e tem de se mostrar severo, em dadas circuns-tncias... O Deus que le convidou os homens a amar e imitar no era o `bon Dieu' meigamente tolerante das distines entre o mal e o bem, mas um Deus cujo amor abrangia a severidade moral e a justia e, por sua qualidade de santidade reagia severamente contra os que dgradavam e desviavam as almas humanas. ...Indignao moral dsse quilate um dos mais difceis, como um dos mais necessrios elementos do carter hu-mano. (16)

    Chegaremos. Sbre as vrias vindas de Jesus, vede as notas sbre 3:3.

    24. Palavras... palavras. Vde as notas sbre 4:42; 17:6, 14, 17. Evidentemente as duas expresses guardar seus mandamentos e guardar sua palavra so usados para significar a mesma coisa. Isso mostra que o autor pensa, no tanto de atos particulares de obedincia, como do esprito que obedece toda a vontade de Cristo. (17 )

    Aqule que no me ama, no guarda as minhas palavras. E' o dis-cernimento penetrante do entristecido Senhor da conscincia. O amor sempre procura agradar ao amado. Isso se v nas relaes humanas. Quem nada faz para agradar, no ama. E o amor do discpulo para com o Mestre consiste em crer o que le ensina como verdade revelada do cu e obedecer ao que le manda como dever. Uma vida indiferente vontade de Jesus indiferente a Jesus mesmo.

    Outra parte da propaganda e cilada que calunia o crente obediente chamando-o de orgulhoso insiste em dizer que desairoso classificar um crente como desobediente e outro como obediente. Se desairoso, o cul-pado o prprio Jesus, pois le fz a distino. Quem me ama, guarda a minha Palavra... Aquele que no me ama no guarda as minhas pa-lavras. No h torcer ou fugir dessa discernidora sentena do Mestre. Todo o discipulado perseverar na sua palavra. Vde as notas sbre 8:31. J no curso de sua pregao na Galilia, Jesus declarou: Aqule que violar um destes mnimos mandamentos, e assim ensinar aos homens,

    (15) "Contmentary on the Four Gospels", Vol. III, p. 256. (16) "Love in the New Testament", ps. 30, 31, por James Moffatt. (17) "The Epistles of John", p. 59, por W. T. Conner.

  • TRADUO E COMENTRIO 21 ser chamado mnimo no reino dos cus ; mas aquele que os observar e ensinar, sse ser chamado grande no reino dos cus, Mat. 5:19. Notai como repudiado o desenfreado individualismo que campeia no mundo hoje em dia. O que violar um mandamento no fica contente, vivendo a ss na desobedincia. A desobedincia est sempre ansiosa por angariar proslitos, arrebanhar outros para a mesma rebeldia, a fim de se justifi-car na rejeio da vontade de Deus. Igualmente, Jesus no pede, no es-pera, apenas a obedincia pessoal. Espera que nossa atitude para com os mandamentos de Deus seja de os observar e ensinar. Entre essas duas atitudes to diferentes e inevitvelmente antagnicas le distingue com severidade. Um dia os homens vero os fatos. Vero que a desobedincia veio da ambio da popularidade ou de posies ou de intersses. Vero as verdadeiras propores mnimas do amor e da lealdade. E vero que nobre e grande a devoo, o amor a Cristo, daquele que lhe obedece.

    Notai que Jesus no nega que esteja no reino um crente que tanto desobedece como faz questo de que outros desobedeam tambm. A sal-vao pela f e no pela obedincia aos mandamentos de nenhuma lei de conduta. Se no houvesse crente desobediente no reino, no haveria ningum no reino, pois humildemente confessamos, como Tiago (3:2), que todos ns tropeamos em muitas coisas.

    Se a obedincia apenas parcial em todos, ento no so iguais a obedincia e a desobedincia ? No . Em qualquer obedincia h amor e grandeza no reino. Em qualquer desobedincia h falta de amor e a mes-quinhez de esprito e de carter. Um desobedece em uma coisa, outro em outra. Todos so imperfeitos. Sendo crentes, todos esto no reino. Seu lugar entre os grandes no reino e os mnimos no reino est em pro-poro sua obedincia amorosa, leal, positiva e sacrificial.

    Um crente desobedece no batismo. Est no reino, mas no numa igreja bblica ainda. Mas pode ser dedicado mordomo do tempo ou do dinheiro ou bom pai e bom samaritano. Estas obedincias seriam melho-res com aquela. Nenhuma obedincia auxiliada pela desobedincia em outra esfera da vida.

    Porm, no o individualismo na obedincia que se enxerga na Es-critura citada do Sermo do Monte. E' obedecer e ensinar a obedincia, ou desobedecer e ensinar a desobedincia. O que d mesquinhez no rei-no o preconceito que justifica a desobedincia, busca imp-la sbre ou-tros, quer igual-la obedincia, ambiciona abolir tda a distino nas atitudes leais ou rebeldes contra os mandamentos de Deus . Ningum vive a ss. Se determinar desobedecer, vai ensinar isso, fazer propaganda disso, agrupar os dessa disposio. E' uma sociabilidade sectria, uma solidariedade antagnica Palavra de Deus, naquilo em que seus manda-mentos porventura desagradam ao rebelde. O desobediente fica um mes-tre tambm, ensinando o contrrio do que Cristo ensina. Os perplexos dis-cpulos tm de escolher entre o mestre em tradies dos homens e o Mes-tre da infalvel Palavra de Deus. Abrem-se escolas rivais, multiplicam-se

  • 22 EVANGELHO SEGUNDO JOO as divises, e quem mais grita contra elas o responsvel por mais uma. Nutramos o amor que obedece, a humildade que confessa que sempre um alvo volante, e ensinemos os mandamentos de Cristo, pois no so penosos nem confusos. E se no nos possvel a perfeio total, vi-vel aproximarmo-nos cada vez mais dela. E se algum nos mostra me-lhor caminho de maior obedincia, est apenas fazendo o seu dever. E' nosso benfeitor. E' grande no reino de Deus.

    Em tudo, fique diante de ns Jesus Cristo e nossa responsabilidade direta para com le. Alguns esto de tal modo perturbados com o cristia-nismo e seus males e divises que nem enxergam acima do cristianismo, a Cristo. Obedeamos ao Homem-Deus. O cristianismo nominal no senhor de ns ou de nossa conscincia. Este muito errou, muito sangue derramou, muitas vzes foi o pio da civilizao e para a religio. Nossos deveres so diretamente com Jesus Cristo. Guardemos sua Palavra e si-gamos para onde ela nos conduz. Muitos s enxergam o cristianismo e so cegos para com o Cristo, o Soberano da vida e o Senhor da conscin-cia. Obedeamos a le, e a obedincia nos conduzir a igrejas tambm obedientes e santidade e ao sacrifcio no trabalho delas para a exten-so do reino.

    Pode algum objetar que os mandamentos contemplados no Sermo do Monte so os elementos do legalismo mosico e tratam principalmente de consideraes morais. No est certo, porm, pois a justia contem-plada bem diferente da dos legalistas, dos escribas e dos fariseus, 5:20. E' nos profetas tambm que Jesus pensa e no s na lei, e so stes mandamentos os que le ia impor de novo com sua prpria autoridade, com aplicao vastssima vida prtica. E o sermo terminar, apoiando todo aqule, pois, que ouve estas minhas palavras e as observa a mesma atitude do discurso final que estudamos agora.

    Ora, se o Sermo do Monte tratasse somente dos grandes princpios da moral, no foi assim, entretanto, na Grande Comisso, nem em Joo 14:16. Todos os mandamentos o alvo do ensino universal aos disc-pulos batizados em tdas as naes. E' uma clssica distino que nossos pais faziam entre os mandamentos morais, inerentes na tica fundamen-tal, revelados e reafirmados por Jesus, e os mandamentos simblicos que tm seu fim nas verdades que proclamam. Assim o dia do Senhor. Proclama sua ressurreio e essencial para o culto. Assim o batismo que ordenana associativa e est cheia de verdades sublimes proclama-das. E' assim com a Ceia do Senhor, memorial, testemunho e profecia. E' assim com o mandamento da disciplina: Dize-o igreja, exigindo a superintendncia congregacional dos membros. Obedecer a Jesus sinal de amor, nestes deveres por le impostos para fins simblicos e associati-vos, exatamente como nos demais mandamentos. Alis, em meu livro Os Mandamentos de Jesus, mostro umas doze categorias de suas or-dens aos crentes. Amemos segundo tdas elas, de acrdo com o grau de

  • TRADUO E COMENTRIO 23 nossa devoo a Cristo e nossa espiritualidade. Se dssemos nfase s-mente a uma das doze categorias de mandamentos, seramos defeituosos na obedincia e no amor. Seja feita a vontade do Rei em tdas as esfe-ras em que deu leis ao seu povo.

    O Pai que me enviou. E' frase que se acha 24 vzes no Novo Testamento, tdas no ensino de Joo. (17-A)

    25. Tenho falado estas palavras... ao vosso lado. Este fato um dos baluartes da fortaleza da f. Guardar as palavras de Jesus parte vital do amor cristo. Ser que Joo no as havia guardado? Es-tava inventando estas preciosas sentenas de ternura, de autoridade, de revelao? Semelhante idia racionalista assim identifica a men-tira e o amor. A misso do Esprito aos apstolos, como rgos de reve-lao divina, era de fortalecer e dirigir as memrias dles, numa especial fidelidade para com as palavras de Jesus. Que um racionalista negue isso e atribua estas palavras originalidade do apstolo Joo ou ao presb-tero Joo ou a uma annima e heterognea sucesso de redatores e edit-res e revisores, repudiar o ensino fundamental de Jesus sbre o minis-trio prometido do Esprito Santo. Nossa melhor base de certeza da imortalidade a radiante certeza de Jesus, na vspera da sua paixo, aqui demonstrada, e suas promessas. Se so parte de uma novela religiosa, mera literatura interessante, fico como Quo Vadis?, ento o homem comum dir: Comamos e bebamos, pois amanh morreremos. Natu-ralmente, ningum querer crer numa mentira, embora sirva de pio s angstias da morte ou do mdo da morte. Se o evangelho no veraz, tirai o pio, senhores modernistas, pois ns agentaremos a dor. Pode-mos ser cnicos e pessimistas tambm. Mas no leve a vossa ofensa contra a raa humana. Suponhamos que ns que cremos temos razo. Ns olhamos a esta literatura como genuna e sincera. Somos juzes dis-cernentes da sua real natureza e seu verdadeiro valor? Ento os que, por seguir crticos incapazes, enganados, enganadores, cegos guias de ce-gos, erraram num juzo literrio atribuindo estas palavras no a Jesus, mas a impostores do segundo sculo, so os mais incompetentes e anr-quicos ludibriadores dos incautos. So verdadeiramente inimigos da raa humana. No leve ofensa fingir ser cristo e mestre nas Escrituras, e ao mesmo tempo destruir a f na Escritura. E' explorao da mente inexperiente de moos que deviam crer e pregar estas mesmas verdades da Palavra de Deus, em amor que confia na sua veracidade e aceita sua autoridade na vida. O problema da autoria deste Evangelho um pro-blema moral, que em si mesmo afeta o juzo literrio. Ouviremos nosso Salvador dizer a Pilatos: Os que so da verdade ouvem a minha voz. Se algum, pois, ouve estas palavras e no discerne a voz do Salvador, sua opinio sua sentena. Enquanto ele julga a Jesus, eis que Jesus j o jul-gou e repudiou seu suposto discernimento literrio. A falta de afinidade

    (17-A) "The Companion Bible", Vol. V,. p. 1.556.

  • 24 EVANGELHO SEGUNDO JOO com a literatura o desqualificou como crtico. Os que tm a experincia, a esperana, a f e o amor que guarda as palavras de Cristo, so os crti-cos ajuizados de seu evangelho. A afinidade para com sua verdade lhes d capacidade de discernir. A soberba incrdula, cega, incapacita, enche o ar de neblina que surge da prpria cabea que deve examinar impar-cialmente. O crente afirma a veracidade de Joo e Jesus aqui, na mais sria e sincera opinio literria e moral no caso. O discernimento cristo, em mentes experimentadas, desinteressadas, e cheias do Esprito que ins-pirou ste Evangelho, reconhece estas palavras como vindas verazmente de Jesus. Sabemos que Joo resumiu discursos de horas, em poucas p-ginas. No insistimos num record verbatim (vde no Vol. I, as pgi-nas 35 e 36). Mas insistimos que vital para a prpria existncia do cristianismo que no neguemos a revelao aqui dada por Jesus, preser-vada pelo apstolo, transmitida pela inspirao especial do Esprito em lhe fortalecer a memria, j mui forte pelo amor a Cristo e sua Palavra. Com

    tdas as veras da alma, pois, dizemos e diremos: Estas so verazes palavras do nosso Senhor Jesus Cristo, de que tanto Joo como o Esp-rito Santo nos so testemunhas. Vde a opinio do Dr. A. R. Crabtree, citado no comentrio sbre 21:24, a respeito deste ponto.

    26. O Advogado. Vde as notas sbre v. 16. O bispo anglicano, William Alexander, diz: O Esprito Santo foi enviado, segundo a pro-messa que no podia ser quebrada. Ele vos ensina (e se le vos ensina, sabeis) tdas as coisas que Cristo disse, at onde sua substncia foi es-crita num documento veraz tdas as coisas relacionadas com a nova criao faladas por nosso Senhor, preservadas pelo Esprito nas mem-rias de testemunhas escolhidas, com uma perene novidade, e pelo mesmo Esprito expostas e interpostas a vs. (18)

    Esse.. . vos... Sabemos a quem se refere o primeiro pronome ao Esprito. Mas a quem se refere o segundo? Quem so as pessoas a quem Jesus disse essa palavra: vs? Interpretar a palavra vs uma das mais importantes e mais difceis tarefas da exegese da Bblia. E' fcil, s vzes. Vs sois do vosso pai, o Diabo. Dizemos logo: Isso no se refere a ns. Ns no somos dsse VS. Jesus fala a palavras que tratam somente de seus ouvintes judeus incrdulos. Pois bem. Mas quando Jesus disse: Ele vos ensinar tdas as coisas, estava falando a ns, quaisquer crentes vinte sculos depois? E' to contra o bom crit-rio de interpretao, tomar para ns o pronome vs num caso como em outro. A promessa vingou para aqueles a quem foi feita, mas no est em vigor para pessoas e geraes a quem nunca foi feita. Quando que palavras na segunda pessoa do plural, no Novo Testamento, se re-ferem a crentes de tdas as pocas, e quando se referem aos ouvintes de ento? No possvel saber ou responder, seno passagem por passa-gem, julgando cada texto no seu contexto imediato e geral. Quantas v-

    (18) "Expositor's Bible", Comentrio sbre I Joo, p. 172.

  • TRADUO E COMENTRIO 25 zes vs no significa: Ns. E aqui um caso. Quem teria a ousadia de dizer que foi cumprida esta promessa em seu caso, que j sabe tdas as coisas? Espero que ningum entre os vivos teria essa ousadia. Ns cremos, porm, que a promessa teve seu cumprimento, na revelao his-trica do primeiro sculo cristo, e no Novo Testamento, em que o Esp-rito uniu estas verdades tdas. A veracidade e a suficincia do Novo Tes-tamento o cumprimento desta promessa, e assim tem sido sempre en-tendida pelos intrpretes mais espirituais e ajuizados. Vde a trplice definio da VERDADE, no comentrio sbre 18:37, 38. 26; (e 16: 13) . Estas Escrituras nos garantem que o Novo Testamento nosso ni-co padro escrito de credo ou conduta. (19) Assim diz o Dr. W. T. Whit-ley, eminente historiador ingls, por longos anos secretrio arquivista da Aliana Batista Mundial. Outro autor declara: H um Mestre no cora-o cuja ctedra est no cu. Mas este Mestre usa o Livro que da sua autoria. O Esprito nunca ensina agora coisa alguma contrria ao que le ensinou quando revelou aos apstolos tda a verdade. Todos os falsos profetas do sabatismo e de outros nefandos erros, atravs dos s-culos, procedem de sua falta de respeito ao Novo Testamento, imaginan-do que opinies de nossos contemporneos tm valor igual ao ensino apostlico. Tda a doutrina do infalvel magistrio do clero, os lderes mais ignorantes da verdade que os sculos post-apostlicos deram aos ho-mens, da mesma pea. Se aos autores do Novo Testamento foi outorga-da tda a verdade, ento a suposta tradio secreta do clero espria. E' contra a verdade e no complemento da mesma. No restou nada para ser revelada em 1870, Por que precisou o mundo de esperar tantos sculos a fim de saber pela primeira vez, autorizadamente, que os papas so infal-veis de vez em quando, ningum sabendo quando , seno o promulgador dsse novo dogma? Por que Deus deixaria qualquer verdade genuinamen-te crist nas trevas por tanto tempo?

    O bispo anglicano, William Alexander, assim comenta outras pala-vras de Joo: Vs tendes uma uno do Santo, e de todos tendes conheci-mentos. A uno que dle recebestes permanece em vs, e no tendes ne-cessidade de que algum vos ensine; mas como a sua uno vos ensina em tdas as coisas, e ela verdadeira e no mentirosa, e como ela vos ensinou, permaneceis nle (I Joo 2:2, 27). Uma espcie de oniscincia espiritual parece ser tributada aos crentes. Catecismos, confisses, credos, mestres, pregadores, todos parecem ser postos ao lado, por um golpe da pena do aps-tolo, em um como que magnfico exagero. O texto soa como o cumprimen-to de Jer. 31:34 (Todos me conhecero). H um mestre cuja ctedra est no cu. (20) A um extremo est o romanismo, com sua absoluta de-pendncia no clero, como infalvel magistrio a quem o leigo, nulidade ab-

    (19) "Church, Ministry and Sacraments in the New Testament", escrito em colaborao com W. F. Moulton, p. 107.

    (20) "The Expositor's Bible", Vol. sbre 1 Joo, p. 167.

  • 26 EVANGELHO SEGUNDO JOO soluta no romanismo, est escravizado. Ao outro extremo so os adeptos de seitas pietistas e quietistas e dos quakers, que desprezam as Escrituras como revelao de tda a verdade e equiparam a elas a luz interior, suas prprias revelaes. Dizem: Deus me disse. . . , precisamente como Paulo descreve sua conversao com Jesus na vizinhana de Damasco. Acham que suas idias so tda a verdade, para nos orientar hoje em dia. No est muito diferente a definio modernista da Palavra de Deus : a iluminao contnua da humanidade pelo Esprito Santo da ver-dade... todo o novo conhecimento que seja firmemente estabelecido e que demonstre como pode unir-se com a f em Cristo e fortific-la. (21) Estes (modernistas da Igreja Anglicana) aceitam tdas as concluses da erudio moderna e da cincia moderna e esto prontos, tanto quanto fr necessrio, a aplic-los a fim de modificar as doutrinas tradicionais da Igreja Crist.) (22) So palavras proferidas em 1925. Garanto que vasta proporo da-quilo que o mesmo bispo anglicano aceitava em 1925, le agora repudia, luz das duas Guerras Mudiais e das mudanas daquela sempre instvel criatura, a cincia moderna e sua falaz irm, a soma da erudio ho-dierna.

    Esse vos ensinar tdas as coisas. J notamos que a palavra todo, nos Evangelhos, significa tudo de que se trata no contexto. O contexto tem por assunto: a vida eterna em unio com Deus, por Jesus Cristo, mediante o Esprito Santo, na peregrinao do crente at a casa do Pai. A a reve-lao das Escrituras adequada, infalvel, completa, final. E' na matria de revelao, dada em Jesus e no evangelho e na vontade de Deus para seu povo. No faz do Novo Testamento um texto de geografia, astronomia, fi-losofia ou cincia. Mas a revelao divina, onde toca incidentalmente nesses assuntos, ser veraz, se bem que fale em linguagem popular. Assim crem os crentes que permanecem, atravs dos sculos.

    O Pai enviar... em meu nome. E' a doutrina da Trindade. Pai, Fi-lho e o Esprito so unidos, mas o nome exaltado o de Jesus. Vejamos o que Cristo faz em nome do Pai, o que o Pai faz em nome de Jesus e o que outros fazem em seu prprio nome, nos estudos que se encontram nas dis-cusses de 5:43; 12:13 ; 14:13; 15:16, 21; 17:12; 20:31. Os crentes, como Jeremias profetizou, na Nova Aliana, so todos ensinados por Deus. A revelao histrica foi dada em Jesus, na encarnao e na obra reden-tora. A revelao literria foi dada no Novo Testamento, guia para tda a verdade. A revelao subjetiva est na obra do Esprito no crente, iluminando os olhos dos nossos coraes para confiarmos em Jesus, tom-lo como Mestre, e assimilar seu ensino, preservado 'no Novo Testamento. So as trs fases de revelao: histrica, literria e experimental. Cristo o FATO, o Novo Testamento a INTERPRETA.

    (21) "Should Such a Faith Of fend?", p. XV, pelo "bispo" E. W. Barnes. (22) Idem, p. 209. (Como fruto dsse modernismo, lemos o testemunho do Lord Grey,

    calculando um decrscimo no clero anglicano de 3.000 "padres", nesta dcada de 1938 a 1948.)

  • TRADUO E COMENTRIO 27

    O do fato, e a nossa vida em Cristo, sob o Esprito Santo em unio com o crente, nossa aceitao do FATO INTERPRETADO pelas tes-temunhas competentes, sendo assimilada nossa vida crist pela resi-dncia do Revelador conosco.

    Todas as coisas. Em contraste com estas coisas, de v. 25. E vos far lembrar todas as verdades quantas eu vos declarei. A pa-

    lavra verdades no est no original, tampouco a palavra coisas. Jesus ensinava verdades, no coisas, portanto acho que a traduo deve ser assim. Seja qual fr a palavra usada na traduo, plural. A memria dos que haviam de receber esta influncia do Esprito j tinha sido depsito das verdades que Jesus havia proferido. Mas a memria humana frgil, falvel, corrompida pela depravao universal da raa decada que somos. O homem se lembra de muito que nunca foi dito, mas que coisa parecida, adaptada sua vontade, captada em linguagem mais ou menos idntica ou pelo menos parecida. O resultado seu prprio produto intelectual, atribuido indevidamente a outrem.

    A promessa de Jesus aqui de uma obra especial, de ordem mira-culosa, sbre a mente do crculo apostlico, obra do Esprito Santo nas testemunhas auriculares e oculares que preservariam para a posterida-de a mensagem do Salvador. A mesma graa especial que veio sbre a Virgem e garantiu a encarnao imaculada do Eterno, viria de um modo diferente sbre as memrias das testemunhas oficiais de Jesus Cris-to ressuscitadas, dando-lhes memrias ungidas, sobrenaturalmente for-tificadas, para transmitir verdades de Jesus. Esta uno contribuiria com eficcia e energia do Esprito para a transmisso do que tinham ouvido da bca de Jesus. Naturalmente, tais palavras no podem ter aplicao a ns que nunca vimos nem ouvimos Jesus falar. E' uma ou-sadia incrvel que algum hoje em dia finja que esta Escritura se apli-ca ao seu caso.

    Nem necessrio supor que smente os apstolos seriam escritores do Novo Testamento. Lucas escreveu mais do Novo Testamento do que qualquer apstolo, mas le transmitiu fielmente o testemunho de me-mrias despertadas pelo Esprito, segundo esta promessa, Luc. 1:1-2. Jesus aqui nos garante o Novo Testamento. Vde, na Introduo, Vol. I, p. 36, que no se trata de preservar na sua inteireza os longos dis-cursos de Jesus, nem que seu resumo fsse dado verbatim. Garante, porm, uma fidelidade verbal que nos produz a confiana de que o que lemos no Novo Testamento, por mais humano que seja, tambm a Pa-lavra de Deus. A inspirao das Escrituras e a encarnao do Verbo so doutrinas gmeas, e uma tem tantas dificuldades como a outra, e tantas provas como a outra, e inseparvelmente caem ou ficam de p. Cremos na obra do Esprito sbre a memria apostlica, inclusive a de Joo. Memria. Isto , o ensino do Esprito havia de se ligar com o ensino de Cristo de tal maneira que vivificaria a memria de palavras

  • 28 EVANGELHO SEGUNDO JOO esquecidas dele, e lhes daria novo sentido. (23) Esta ltima parte importante tambm. Inevitvelmente aqules discpulos de Cristo dei-xaram passar despercebidas muitas verdades que seu Mestre ensinara. As palavras no lhes ficaram completamente alheias memria, mas a inspirao divina agora superintenderia suas memrias para reproduzir a verdade, no a confuso ou ignorncia prevalecente quando registra-ram no seu crebro a primeira impresso. O prprio sentido das pala-vras de Cristo seria amplificado de acrdo com o progresso da revela-o at a.

    Nesta conexo, podemos meditar com proveito nas palavras do Dr. Crabtree: Por outro lado, a Bblia livro divino. Seu Autor Deus. Este fato explica a unidade e a harmonia de suas diversas partes. O mtodo histrico, portanto, no tudo. Empolgados pelo sistema novo e frutfero, inspirados pela personalidade dos grandes profetas e o no-bre servio aos contemporneos, foram ao extremo alguns 'zelosos, dan-do tda a nfase exegese histrica e no seu entusiasmo esqueceram-se da unidade da Palavra de Deus, da parte divina na sua produo e, por-tanto, da necessidade de interpretar qualquer Escritura luz da Bblia tda.

    Por muito importante que seja a interpretao de tda e qual-quer Escritura sob o ponto de vista do seu autor, isto nem sempre suficiente. Depois de se apresentar tudo que possvel sbre as cir-cunstncias que determinaram a produo de um livro da Bblia; depois de se estudar a cultura intelectual, o estilo literrio e a personalidade do autor; depois de se chegar, se fr possvel, a entender tudo que le Quis dizer por qualquer preceito; ainda pode ser que haja na sua pala-vra alguma verdade que nem mesmo o profeta compreendesse perfei-tamente, mas que o Esprito, que orientou o profeta, teve em vista no aperfeioamento da revelao divina. (24) Nestas sbias e bem oportu-nas palavras do Dr. Crabtree, vemos como muitas Escrituras tm, quan-do citadas no Novo Testamento, um valor e uma aplicao que no ti-nham no Velho Testamento. O mesmo Esprito que deu a linguagem original, agora lhe outorga uma aplicao nova, uma verdade messini-ca, e na aplicao da linguagem a Cristo vemos um cumprimento, uma plenitude do valor da linguagem que no podia ter na mente do pro-feta que a escreveu. Isso mais do que predio, tim-tim por tim-tim. E' a Promessa, em tda a linguagem dos profetas. O Esprito aplica sua prpria linguagem a Jesus, luz dos fatos da sua vida e morte e redeno. Por esta mesma considerao, compreendemos como os au tores das Escrituras podem falar da Escritura prevendo... A Pala-vra de Deus viva, cresce, tem aplicaes prximas e ltimas, cum-pre (enche) seu sentido de germe no pensamento do profeta que a pro-

    (23) "The Expositor's Greek Testament", Vol. I, p. 820, por Marcus Dods. (24) "A Esperana Messinica", p. VIII, por A. R. Crabtree.

  • TRADUO E COMENTRIO 29

    feriu. Tal a unidade da revelao progressiva que temos na Bblia. A ltima palavra est com o Esprito de Deus para dizer o alcance de sua antiga revelao.

    27. Paz deixo convosco. No era o pacifismo que constituia sse sublime legado. Uma controvrsia em escala verdadeiramente na-cional e internacional chegaria ao seu auge no dia seguinte, num surto de dio religioso tal como o mundo nunca viu. Jesus se movia constan-temente no meio de dios provocados pelas verdades que le anunciava desde a aurora de seu ministrio pblico, e prometeu claramente o mes-mo destino aos que lhe seguissem as pegadas. E' impossvel abrir o Novo Testamento sem achar os apstolos e seus camaradas em luta s-bre a verdade com inimigos dessa verdade. Isso o Novo Testamento, no seu todo e nas suas partes, pressupe. Raro o livro da coleo que no seja o znite de uma luta em defesa da verdade. A certeza de que nossa vida fiel de testemunhas dle daria o mesmo resultado precisamente o motivo por que le nos chama para levar nossa cruz, para calcular de antemo o custo da vida crist, como um rei que antes de encetar uma guerra estuda o que envolve, e para saber que le seria uma espada agu-da, dividindo famlias e amigos e povos.

    Se a paz que Cristo outorga no o pacifismo doutrinrio ou pol-tico, que ? E' a paz de Deus que ultrapassa todo o entendimento, a paz de Rom. 5:1; 8:6; 10:15; 14:17; 15:13; Ef. 2:14; Fil. 4:7, a paz cuja base objetiva o Calvrio e cujo Autor subjetivo em ns o Esprito Santo. O pacifismo a fuga de responsabilidade e lealdade, a recusa de agir, de resistir ao mal enquanto h tempo; a suprema incompe-tncia moral, traio pusilnime da conscincia, aliana tcita com o agressor contra a verdade. Sbre sse pacifismo poltico e religioso, vede 5:17. A paz que o pacifista admira, Cristo no veio trazer (Luc. 12:51) . Mas no momento de f le diz: A tua f te salvou: vai em paz. O fruto do Esprito paz. E esta paz com Deus, e com todos que consentem na vontade de Deus, independente das circunstncias exte-riores, Cristo mesmo no corao, a prpria paz de Joo XIV-XVII transmitida do Salvador ao salvo.

    No continue perturbado o vosso corao nem fique medroso. H um temor de Deus que o princpio de sabedoria, e h um mdo e uma nsia que a consumao de falta de f, o auge de dvida desleal. O te-mor santo de Deus no servil, paralizador, supersticioso. E' filial, re-verente, inteligente luz da revelao que temos nas Escrituras. Vde as notas sbre ste elemento de nossa honra ao Filho, no comentrio s-bre 5:23. No como o mundo d. O mundo lhe dera a entrada tri-unfal. Seria seguida por Getsmane e Calvrio, obra do mesmo mundo. Mas a paz de Cristo permaneceria, presente e suficiente em todos os em-bates da vida. No se turbe o vosso corao. Observando que a sen-tena inicial repetida aqui, e mesmo fortificada, entendemos que tudo que est includo entre estas duas exortaes compe um antdoto di-

  • 30 EVANGELHO SEGUNDO JOO vino perturbao e desolao de esprito que seria produzido nles pela partida do Senhor. (25)

    Perturbado o corao... medroso. Ernest Gordon diz : Pertur-bado (por temores ntimos) e medroso (de oponentes exteriores). E' o equivalente de lutas dentro, temores fora (II Cor. 7:5), de Paulo. Con-tudo le fala de si, no versculo anterior, como transbordando do con-forto, evidentemente se referindo presena do Parcleto prometido ou o Consolador, de Joo 14. (26)

    28. Volto. Sua ressurreio ao terceiro dia. (27) Alegrar-vos-iels de que eu v para o Pai. Jesus a Cabea, ns os membros do seu Corpo mstico. A. W. Robinson emprega esta comparao: Para usar uma analogia, seria como se um nadador explicasse aos seus mem-bros inferiores porque a Cabea tem de ficar fora das guas enquanto les ficam embaixo. Seria melhor para todos; antes, digamos que in-dispensvel; pois, somente quando a Cabea est livre para respirar o ar puro da vida e energia super-terrestre, que pode dar aos membros essa vida e capacidade de trabalhar. A separao no seria real. A unio entre Cabea e membros seria bem mais vital pela mudana da posio da Cabea. (28) A linda figura do nadador como que compara a vida de Cristo na sua Encarnao e Humilhao um mergulho nas guas fundas, sendo a Asceno sua volta tona dgua.

    Ainda podemos desenvolver a mesma analogia. Para os peixes um homem nadando um homem sem cabea. Os membros agem sem dire-o e controle superior. Mas le vive porque le no tem cabea visvel debaixo das guas. Se a tivesse cabea, seria logo cadver, cabea e membros. E' precisamente o estado dos corpos eclesisticos que esto doidos por ter uma Cabea visvel aqui na terra. So cadveres eclesis-ticos. Os membros do corpo mstico e vivo de Cristo so visveis, mas a Cabea invisvel; respira o ar celeste e assim vitaliza, com um vigor que no da terra, seus membros que labutam aqui. (29)

    Se me amsseis... Essas palavras espantam. E como sondam nossos coraes! O amor mtuo traz o entendimento mtuo. Como toda a nossa perplexidade na interpretao da Palavra de Cristo procede de falta daquela compatibilidade que a fonte de entendimento. Muitas vezes le afirma essa afinidade entre Cristo e os que amam a verdade. O amor entre pessoas traz a compreenso pessoal. O amor a Cristo, nesse transe, aceitaria sua palavra como real e benfazeja. Esta mesma verdade se aplica ao nosso espanto e clamor na hora da perda de entes queridos. Se amssemos a Cristo e ao crente querido, avaliaramos como esta providncia dle, que tem as chaves da morte e do Hades, para a

    (25) "The Expositor's Greek Testament", Vol. I, p. 826, citando Bernard. (26) "Notes From a Layman's Greek Testament", por Ernest Gordon, p. 157. (27) "Epochs in the Life of the Apostle John", por A. T. Robertson, p. 139. (28) "The Christ of the Gospels", por A. W. Robinson, p. 196. (29) Idem, p. 204.

  • TRADUO E COMENTRIO 31

    felicidade dos seus. Qual a razo do nosso mdo e relutncia diante da morte? E' porque nosso amor to frio e eivado de materialismo e de satisfao pelas coisas que perecem . Jesus fala compassivamente, do ponto de vista, porm, daquele cujos pensamentos no so como nossos pensamentos e cujos caminhos no so como nossos caminhos. Jesus praticou o que pregou anelou por estar como o Pai. Umas raras vzes tenho conhecido crentes que amavam tanto a Cristo que se gloria. vam na morte de seus irmos na f e na carne e, no meio de urna vida til e feliz, gloriavam-se pela aproximao de sua prpria morte. Um culto fnebre desta natureza abala uma comunidade tda. Jesus espera de ns o realismo luz da eternidade. Fala-se no realismo, no sentido de conformidade, ou pelo menos de apreciao das fras do mal entrin-cheirado no govrno dos homens. Mas h um realismo tambm que percebe e se ajusta com as supremas realidades eternas. Se amarmos profundamente a Jesus Cristo, teremos sse realismo, viveremos cons-cientemente nossa vida eterna, andaremos como quem v o invisvel. Vde o comentrio sbre o amor genuno, nas notas sbre 5:42.

    a() Pai maior. Nunca deixou de ser isto a verdade, e a verdade hoje. Identidade de natureza no envolve igualdade de funo. Vde 10: 29. Paulo compreendia perfeitamente sse fato como o segrdo do es-tado eterno, depois do dia de juzo final, I Cor. XV.

    29. Para que, quando acontecer, acrediteis. E' o mximo, no sentido de f, que Jesus podia esperar. Depois do evento realizado, f-cil ser crente. Mas o evento da sua ressurreio era um fato to estu-pendo, que mesmo vendo, ouvindo e apalpando no podiam crer com fa-cilidade. A luta dles com sua natural incredulidade a maior garantia da base de nossa f. Quo compassivo e compreendedor era Jesus. Co-nhecendo-lhes a natureza, s esperava a f, mesmo num Joo amado, de-pois de ser cabal e repetidamente demonstrado o que lhes havia anuncia-do tantas vzes. Cultivemos tais relaes com Jesus que a f nos seja natural e de antemo saibamos em nosso esprito que vai acontecer o que Jesus disse que havia de acontecer. A esposa de um notvel mestre de pregadores, longo tempo presidente de um dos nossos seminrios teo-lgicos, disse uma vez: E' de pasmar como le v de antemo o que vai acontecer. Ele adivinha o fracasso de alunos que me parecem nossa me-lhor esperana, e o xito de outros em que eu no vejo valor algum. Ele discerne tantas coisas que mais tarde acontecem que, no momento de fa-larmos na intimidade sbre o assunto, no posso acreditar. Mas quase infalvel e invariavelmente, para minha grande surpresa, s vzes, o que le previu, h longo tempo, eu vejo quando j aconteceu.", Nisso, o not-vel cristo era, em sentido plido, um reflexo do seu Mestre, no seu co-nhecimento dos homens e, o que muito mais, na sua afinidade com Deus e conseqente percepo e apoio dos seus propsitos.

    30. O Prncipe do mundo vem. Ele volta para o assalto final que comeou logo depois do batismo de Jesus. E', ao primeiro pensamento,

  • 32 EVANGELHO SEGUNDO JOO espantoso, quase um escndalo, avaliar que a primeira influncia do Es-prito sbre Jesus foi de `conduzi-lo ao deserto para ser tentado pelo Diabo'. ...Foi uma experincia medonha. Ouvimos um eco disso na splica: No nos induzas tentao. Nenhum outro homem foi jamais assediado com tanta subtileza, tanta persistncia, como o foi Jesus. (30 ) O Salvador j compreende as tticas do Diabo. Sabe que le volta confiante no con-junto das fras naturais e sobrenaturais que constituem o real signifi-cado do Calvrio. Mas suas ciladas j no metem mdo em Jesus, pois o horror do seu clice de expiao do pecado passar, em Getsmane. Sa-tans no tem onde fincar o p na fortaleza do esprito submisso e deter-minado do Messias de Deus. Vde a discusso de 12:31.

    Vem o prncipe do mundo; le nada tem em mim. O mestre dos pecaminosos me acha sem pecado, (31) a parfrase de Fairbairn.

    Nada tem em mim nenhuma jurisdio sbre mim. (32) No muitas coisas. Mas de quo grande valor! A chegada de Satans na pessoa e obra de Judas, ir demorar tempo suficiente para termos dos lbios de Jesus ainda as palavras preciosas dos Captulos XV e XVI do nosso Evangelho. Como devia estar cheio o corao de Cristo, para ainda outorgar aos seus to grandes e preciosos ensinos, com plena calma, at quase chegar ao lugar de sua priso. A le por um tempo se entregaria sininho a sorver antecipadamente algo do clice que havia de beber na sua amargura do dia seguinte. Mas agora, sua alma to transparente e sua paz trasborda para os apstolos, como a calma luz da lua cheia da Pscoa, em cujo esplendor caminha vagarosamente do cenculo, passando pelo templo, at Getsmane. No muitas coisas mas no h preo que compre essa ddiva que o Senhor legou ao crente.

    31. Mas le vem sempre. A certeza da vitria no diminui a fe-rocidade da luta. O inimigo que no sabe que vai ser derrotado e ns que somos de Deus temos de empregar fora superior que o vena, em-penhar-nos na luta que o afaste, sofrer seu ataque, discernir suas ciladas, desnudar o peito sua espada, se o sacrifcio fr o caminho da vitria vicria.

    Um conhecido meu narrou ste incidente: um rapaz de poucas lu-zes foi caar com le de noite. Mataram um animal numa rvore com um tiro certo. O bobo exclamou, quando viu o corpo inerte cair no cho: Que pena! Gastei inutilmente a bala e a plvora! A queda o teria ma-tado ! A questo : Que teria causado a queda, se se guardasse a bala e a plvora? Muitos pseudo-filsofos e crticos dos Evangelhos so companheiros dsse caador, espiritualmente. Vem os resultados do evangelho na vida e dizem: Isso que basta. Para que morreu Jesus? Muitos telogos liberais so tambm dessa espcie de caadores. Muitos desejam a regenerao, os frutos sociais do evangelho, inventando at

    ,(30) "The Self-Interpretation of Jesus", p. 43, por W. O. Carver. (31) "The Philosophy of dia Christian Religion", p. 362, por F. M. Fairbairn. (32) "Commentary on the Four Gospels", vol. III, p. 261, por David Smith.

  • TRADUO E COMENTRIO 33

    um evangelho social. Mas suprimem, negligenciam ou talvez repudiam a real BOA NOVA da redeno objetiva efetuada por Cristo no Calv-rio, sem a qual no h resultados subjetivos de santidade e amor, que se manifestam em vidas altrusticas e serviais, em obedincia a Cristo e em testemunhos e beneficncia para com os homens. No nos engane. mos com o lema: Bastam-nos os frutos: dispensamos a rvore que os produz. E' doutrina bem popular hoje em dia. Caveat!

    Nenhum passo desnecessrio foi dado por Jesus Cristo na obra con-sumada do Calvrio. Sem essa obra redentora, e tudo que dela faz parte essencial, Deus nunca poderia ter perdoado um pecado, redimido uma al-ma, gerado um esprito transformado pelo novo nascimento, nem dado ao mundo os frutos da salvao que s viria pela morte e ressurreio do Salvador. Jesus no era um ator no palco de um drama csmico. O Cal-vrio no era um fingimento, para ingls ver. Correspondia s mais pro-fundas e eternas realidades na natureza divina, e eram uma infinita ne-cessidade para Deus. Jesus demonstrou essa realidade em Getsmane. e mostra-se cnscio mora da luta nue se aproxima, a cada passo que d no caminho para Getsmane, como mostrara em cada passo da sua ltima jornada para Jerusalm. Ns temos de ser justificados gratuitamente nela sua graa, mediante a redeno que h em Cristo Jesus; ao qual Deus props como propiciao, pela f, em seu sangue, para manifestar a sua justia por ter deixado de lado os delitos passados na tolerncia de Deus, tendo em vista a manifestao da sua justia no tempo presente, a fim de que le mesmo seja iusto e o justificador daquele que tem f em Cristo Jesus (Rom. 3:24-26) .

    O preclaro intrprete Carroll atribuia a esta vinda e a ste ataque de Satans os horrendos fenmenos sobrenaturais do Calvrio, s trevas de trs horas sbre a terra, os sinais portentosos na prpria natureza f-sica. Jesus discerne com plena viso e calma o que vai ser a luta no Cal-vrio. Mas sua alma assediada cidadela inexpugnvel, por causa de sua impecabilidade. A luta real, tambm certa, desde a eternidade, a vitria. Mas no deixa de ser medonho o fato de que o prncipe dste mundo se aproxima.

    E' mentalidade simplria a nue duvida da realidade de sofrimentos porque o fim j era previsto. Qualquer general, mesmo o de corao mais terno, d ordens para o combate. embora saiba que seu filho amado est na linha de frente e h de ser liqidado no avano. E' o preo da vitria. Mas s o estulto dir: }!,?m. Se le j sabe de antemo que ter a vitria. para que sacrificar o filho? Ele sabe nue ter a vitria POR-QUE CONHECE O SACRIFICIO QUE PRODUZIR sse resultado alme-jado. O sofrimento de Jesus, na redeno consumada no Calvrio, to real como a do soldado na praia da invaso libertadora. Ele corre para a morte, sabendo que o preo, preo real, necessrio, no uma coisa fin-gida, dispensvel, ato de palhao num palco para entreter espectadores por uma hora de lazer. So almas superficiais as que se entretm no pra-

    C.E.J. 3

  • 34 EVANGELHO SEGUNDO JOO zer de argumentar, as que imaginam qualquer artificialidade nos sofri-mentos de Jesus. Na morte de Jesus, seu Filho, Deus sofre, com infinita intensidade, o Filho sofre, a prpria natureza torce-se e geme; e a hu-manidade consterna-se ou unida com Satans na sua suprema raiva, na sua ftil inferioridade com respeito a Jesus. As naes se amotinam e os povos tramam. Tramam em vo, mas em vo, afinal, porque Je-sus contribuiu com a realidade vencedora do sofrimento vicrio que tor-nou v a raiva diablica nos peitos maus, humanos e demonacos. O cen-tro do universo est naquela Colina da Caveira. E no h no universo corao sensvel s realidades supremas que no veja naquele evento da cruz verdade genuna, necessria, redentora. Afinidades ntimas se mos-tram e se proclamam: ningum se pode esquivar na escolha; h dois la-dos naquele conflito decisivo, o de Satans que ataca, o de Cristo que nos defende e redime e liberta pelo seu real sacrifcio, o sacrifcio de si mes-mo em infinito sofrimento.

    O ctico ainda pergunta: Mas se le sabia que ia vencer, por que se angustiou e bradou suas palavras de separao de Deus? Isso da na-tureza vicria da expiao. Bradou porque sentia o que bradou. Isaas LIII o representa como que em dores de parto para dar luz a nossa alma. Pergunta, ctico, porque a mulher se angustia no parto, se j sabe que dar luz seu filho amado. O racionalista cego para os fatos do Calvrio.

    Eu amo. E' a nica vez que o Senhor diz que ama ao Pai. Seis vzes o amor do Pai ao Filho mencionado, 3:35; 10:17; 15:9; 17:23, 24, 26. (33)

    Amo... vivo fazendo precisamente como o Pai me deu ordens. No-tai a conexo invarivel, natural e perene entre o amor a Deus e a obe-dincia. Jesus o Exemplo perfeito: o crente, na sua imperfeio. tem de confessar que erra o alvo. Mas aviltar esse alvo e dizer que obedincia coisa banal na vida crist, outra coisa. E' jogar fora a bandeira da ptria celeste e cessar a luta nas fileiras de seus patriotas, alistando-se nas hostes oue seguem as tradies dos homens. Fica iada, com galhar-dia e lealdade, a bandeira da obedincia, pois a flmula da autoridade e soberania de Cristo, como Rei no seu reino. Se pecarmos, confessemos os nossos pecados e nos conduzamos de novo pela senda da vontade de Deus. Mas nunca consintamos em dizer que a senda m, ou que a obe-dincia matria indiferente, ou que as diferenas entre a verdade e o rro. ou entre a obedincia e a desobedincia, so coisas banais, de some-nos importncia. Se nossa desobedincia se tornar assim deliberada, jus-tificada por ns, insolente, lembremo-nos de que nosso Deus um fogo consumidor e, nos seus castigos, horrenda coisa cair nas mos do Deus vivo.

    Vamo-nos daqui, Este mandamento de Jesus. diz o prof. E. A. Mc

    (33) "The Companion Bible", Vol. V, p. 1.557.

  • TRADUO E COMENTRIO 35

    Dowell, deve ser tomado no seu sentido natural. Termina o episdio do cenculo. O que se segue no est na atmosfera do cenculo fechado... E' possvel que esse discurso tenha sido proferido no prprio terreno do templo que iam atravessando e que a ele se tenha seguido a grande ora-o do Cap. 17, enquanto o grupo reverente e calado dos apstolos esta-va ouvindo, sob o doce claro da lua cheia pascoal, e a se oferecia ao Deus de seus pais em eterna consagrao. (")

    (34) "The Revim, and Expositor", Vol. XXXIV, n. 4, r. 416.

  • Palavras Finais do Mestre aos Discpulos :

    Entre o Cenculo e o Horto

    (Captulos XV e XVI)

    1 A Unio Vital como

    Eu sou a videira genuna, e meu Pai o Cultiva-

    2 a Vide e as Varas dor. 1 Cada vara que continuamente deixa de pro-

    duzir fruto em unio comigo, le a remove; e cada vara que constante em produzir fruto, ele a poda a fim de que produza cada

    3 vez mais fruto. 1 Vs j estais podados por causa da palavra que vos falei e

    4 que perdura convosco: I firmai de vez vossa permanncia em mim, e eu farei o mesmo em unio convosco. Como a vara no pode produzir fruto de suas prprias fras, se no permanecer na videira, assim tambm vs no

    5 podeis, se no permanecerdes em unio comigo. I Sou eu a videira, vs sois as varas. Aquele que permanece em mim e no qual eu permaneo, este vai

    6 dando muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer. I Se algum persiste em no permanecer em unio comigo, le j foi definitivamente jogado fora, como a vara mencionada, e ficou seco; e reunem as tais e as jogam no fogo e vo

    7 sendo queimadas. I Se permanecerdes resolutos, de uma vez, em mim e as minhas palavras ficaram arraigadas de vez em vs, pedireis o que quiserdes

    8 e vos ser feito. I Nisto ficou realizada a glria do meu Pai, no propsito de que continuamente deis muito fruto, e assim, se-

    9 Permanente amor reis constituidos discpulos para mim. I Como o e Gzo Pai me amou, tambm eu vos amei tomai vossa

    10 permanente posio de vez no meu amor. I Se vos firmardes na guarda dos meus mandamentos, permanecereis em meu amor, co-mo eu me tenho conservado na guarda do mandamento do meu Pai, e es-

    11 tou vivendo permanentemente em seu amor. 1 Estas verdades vos tenho fa- 12 lado para que o meu gzo esteja em vs e vosso gzo seja consumado. I O

    meu mandamento este, que continuamente vos ameis uns aos outros, assim

    13 como vos amei. I Ningum tem amor maior do que

    Amigos de Cristo este, que algum oferea a sua vida em lugar dos seus

    14 lhe Obedecem

    amigos. 1 Vs sois meus amigos, se continuamente 15 fizerdes aquilo que eu vos mando. 1 J no vos

    chamo escravos, porque o escravo no sabe o que seu amo est fazendo: mas tenho vos chamado amigos, porque vos fiz conhecer todas as coisas que ouvi

    16 de meu Pai. 1 Vs outros no me escolhestes; pelo contrrio, sou eu que vos escolhi e fiz a disposio de vs, para que continuamente vs vades embora e deis fruto e para que vosso fruto fique permanente, a fim de que aquilo que em

    17 dado momento pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos d de vez. Estou

  • 38 EVANGELHO SEGUNDO JOO a fim de que vs sempre ameis uns aos outros. I Se

    o mundo tem dio constante para convosco, ficai sabendo que primeiramente me odiou e ainda me odeia. I Se vs fsseis do mundo, o mundo ama-ria o que lhe seria peculiar. Por este motivo, po-rm, o mundo vos odeia, porque no sois do inundo,

    20 pelo contrrio, eu vos selecionei em separao do mundo. I Conservai em vossa memria a palavra que eu vos disse: o escravo no maior do que seu senhor. Se me perseguiram, a vs tambm perseguiro: se guardaram minha

    21 palavra, tambm guardaro a vossa. I Mas tdas estas coisas faro contra vs por causa do meu nome, porque no conhecem aqule que me enviou.

    22 I Se eu no tivesse vindo e falado com eles, no teriam pecado. Mas agora, 23 eles no tm desculpa por seu pecado. I Aqule que vive me odiando, est 24 odiando tambm ao meu Pai. I Se eu no tivesse

    A Luz da Revelao feito entre eles as obras que nenhum outro fez, no Aumenta a Culpa

    25 do Pecado

    O Amor a Cristo 19 traz o dio do

    Mundo

    18 vos ordenando estas coisas

    teriam pecado. Mas agora eles tanto tm visto como tm odiado tanto a mim como a meu Pai. I Mas assim, para que seja cumprida definitivamente a pa-

    lavra que permanece em vigor como foi escrita na lei deles: Odiaram-me sem

    26 motivo. I Quando vier o Advogado, que eu vos enviarei do lado do Pai, o Esprito da verdade, o qual procede do lado do Pai, esse testificar acerca

    27 de mim; I e vs testificareis tambm, porque desde o princpio estais comigo. XVI-1 I Eu vos tenho dito estas verdades, para que no sejais de repente escandali-

    2 zados. I Tomaro medidas para que sejais excomungados. Sim, aproxima- se uma hora tal que todo aqule que vos assassina chegue concluso de estar rendendo um culto a

    3 Crente

    Deus. I E tomaro essas medidas porque no che- garam a conhecer, experimentalmente, nem ao Pai

    4 nem a mim. I Mas eu vos tenho falado estas verdades para que, quando vier a hora deles, vos lembreis de que sou eu que vos avisei. I Ora, no vos

    5 disse estes fatos desde o princpio, porquanto eu estava convosco. I Agora, porm, vou para Aqule que me enviou, e nenhum de vs me pergunta: Para

    6 onde vais? I Pelo contrrio, a tristeza vos encheu o corao e se prolonga,

    7 porque vos tenho informado destes fatos. I Ora, eu vou vos dizer a verdade: E' conveniente para vs que eu v embora. Pois se eu no partir, de forma alguma vir para vs o Advogado. Se eu fr, porm, envi-lo-ei para vs.

    8 E, vindo ele, convencer o mundo de pecado, de

    9 O Espirito Aliado justia e de juzo: I de pecado, porque no so

    10 dos Crentes contra crentes em mim; I e de justia porque vou para o

    11 o mundo Pai e vs j no me vedes; I e de juzo, porque o prncipe deste mundo ficou, e ainda, definiti-

    12 vamente julgado. I Ainda tenho que vos dizer muitas verdades. Mas no po-

    13 deis suport-las agora. I Quando ele, porm, vier, o Esprito da verdade, ele vos guiar em tda a verdade; porque de sua prpria iniciativa ele no falar, mas vos dir tdas as verdades que ouve e vos anunciar os eventos do porvir.

    O Mundo Contra o

  • TRADUO E COMENTRIO 39

    tomar do que meu e o anunciar a vs. 1 So meu Pai possui. Por isso vos declarei: "Tomar a vs. 1 Um pouco e j no me vdes; novamente um pouco e me vereis." 1 Alguns dos seus disc-pulos, pois, disseram uns aos outros: "Que isso que ele est dizendo? 'Um pouco e j no me vdes; e novamente um pouco e me vereis', tam-

    14-15 1 Ele me glorificar porque meus todos os recursos que

    16 do que meu e o anunciar 17

    Breve Tristeza; Eterno Gzo no

    Cristo Ressuscitado 18 bem: 'Vou partir para o Pai.' " 1 Portanto, diziam:

    "Que isso que ele fala esse `um pouco'? No entendemos o que ele est 19 dizendo." 1 Jesus percebeu que lhe queriam dirigir perguntas e lhes disse:

    "Ests cogitando acerca disso, uns com os outros, porque eu disse: 'Um pois- 20 co e no me vdes; e novamente um pouco e me vereis?' 1 Mui solene-

    mente vos declaro que vs pranteareis e entoareis lamentaes, mas o mundo estar jubiloso. Vs sereis entristecidos, mas a vossa tristeza ser transformada

    21 em alegria. 1 A mulher, quando sente as dores de parto, tem tristeza, por-que veio va hora dela; usas quando fr nascido o menino, j no se lembra da aflio, por causa da alegria porque um homem foi dado luz para o mundo.

    22 Igualmente vs agora, pois, tendes tristeza; mas de novo vos verei, e vosso 23 corao se alegrar e ningum vos tirar o vosso gzo. 1 Outrossim, naquele

    dia no me perguntareis nada. Mui solenemente vos declaro: Se pedirdes ao 24 Pai algo em meu nome ele vo-lo dar; 1 at agora no pedistes nada em

    meu nome. Ide pedindo, e haveis de receber, a fim Orao por Cristo de que o vosso gzo fique consumado, perfeita e

    25 na completamente. I Tenho falado estas verdades em Nova Era figuras: est chegando uma hora em que j no vos

    falarei em figuras, mas vos transmitirei com fran- 26 queza mensagens a respeito do Pai. 1 Naquele dia, pedireis em meu nome, 27 e no estou dizendo que eu rogarei ao Pai por vs; 1 porque o prprio

    Pai sempre vos ama porque vs de contnuo me haveis amado e crido que 28 eu sa de Deus. 1 Sa do Pai e vim ao mundo, e eisme aqui. Vou deixar 29 o mundo outra vez e sigo para o Pai." 1 Os seus discpulos lhe tornam: 30 "Eis que agora falas com franqueza e no dizes nenhuma figura. 1 Agora

    sabemos que conheces todas as verdades e no tens necessidade de que pessoa alguma te faa perguntas; baseados nisso, ns

    31 A Unio do Filho e cremos que saste de Deus." 1 Jesus lhes tornou: 32 do Pai nos garante "Agora credes? 1 Eis que vem, alis j tem chega-

    a Vitria e a Paz, do, uma hora tal que sereis espalhados de vez, cada qual para sua casa e de repente me deixareis si:ai-

    33 nho, e todavia no estou sozinho, porque o Pai est comigo. 1 Estas palavras vos tenho falado para que em mim sempre tenhais paz: no mundo tendes tri-bulaes; mas sede de constante e bom nimo, eu tenho consumado a vitria sobre o mundo."

  • 40 EVANGELHO SEGUNDO JOO 1. A Videira genuna. meia noite, a Ceia Pascal terminou e os

    portes do templo se abriram. E, embora o templo fsse a cidadela dos adversrios de Jesus, era o ltimo lugar em que o procurariam agora.

    Sbre a entrada do templo havia um emblema sagrado que cati-vava os olhares de todos que entravam uma grinalda urea de videiras, com cachos de uvas da altura de um homem... Esse adorno magnfico era uma das maravilhas do templo de Herodes. Em eras remotas a vi-deira fora um smbolo de Israel, assim empregada por profetas e sal-mistas, mas em pocas posteriores era smbolo do Messias... Sendo, pois, emblema messinico, a escultura sbre a entrada do templo se em-prestou ao Senhor para servir como parbola visvel impressionante: Eu sou a Videira real. (')

    Outros acham muitas outras ori