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Exame Nacional de Português Realismo: Procura a conformação com a realidade. As suas características estão ligadas ao momento histórico, reflectindo as novas descobertas científicas, as evoluções tecnológicas e as ideias sociais, políticas e económicas da época. Preocupa-se com a verdade dos factos, a realidade concreta, a explicação lógica dos comportamentos. Naturalismo: Considera a Natureza como única realidade existente, recusando explicações que transcendem as ciências naturais. Não lhe bastam os quadros objectivos da realidade, mas analisa também as circunstâncias sociais que envolvem cada personagem. Realismo Naturalismo Captação e análise da realidade com precisão objectiva; Representação do mundo exterior de uma forma fidedigna; Análise corajosa, mas exacta da vida, do mundo e dos seus vícios; Marcas da ideologia materialista, do socialismo utópico e do reformismo liberal; Temas cosmopolitas e de incidência colectiva: educação, adultério, opressão, agiotagem, corrupção, jornalismo e politica; Uso da narrativa, cuja narração se articula com a descrição, intercalando a Análise das circunstâncias sociais que envolvem as personagens; Análise aos problemas e doenças hereditárias, aos antecedentes familiares, à educação, ao meio social, à posição económica; Preocupações socioculturais e crítica dos costumes, como o Realismo; Carácter determinista, apresentando-se como uma espécie de Realismo cientifico; O homem é determinado por factores de condicionamento: hereditariedade, meio social, momento

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Exame Nacional de Português

Realismo: Procura a conformação com a realidade. As suas características estão ligadas ao momento histórico, reflectindo as novas descobertas científicas, as evoluções tecnológicas e as ideias sociais, políticas e económicas da época. Preocupa-se com a verdade dos factos, a realidade concreta, a explicação lógica dos comportamentos.

Naturalismo: Considera a Natureza como única realidade existente, recusando explicações que transcendem as ciências naturais. Não lhe bastam os quadros objectivos da realidade, mas analisa também as circunstâncias sociais que envolvem cada personagem.

Realismo Naturalismo

Captação e análise da realidade com precisão objectiva;

Representação do mundo exterior de uma forma fidedigna;

Análise corajosa, mas exacta da vida, do mundo e dos seus vícios;

Marcas da ideologia materialista, do socialismo utópico e do reformismo liberal;

Temas cosmopolitas e de incidência colectiva: educação, adultério, opressão, agiotagem, corrupção, jornalismo e politica;

Uso da narrativa, cuja narração se articula com a descrição, intercalando a representação de uma acção com a descrição dos espaços sociais;

Presença de personagem-tipo que permite a reflexão critica sobre o Homem e os seus problemas;

A construção da personagem está em conexão com o mundo profissional, cultural, económico, social e psicológico.

Análise das circunstâncias sociais que envolvem as personagens;

Análise aos problemas e doenças hereditárias, aos antecedentes familiares, à educação, ao meio social, à posição económica;

Preocupações socioculturais e crítica dos costumes, como o Realismo;

Carácter determinista, apresentando-se como uma espécie de Realismo cientifico;

O homem é determinado por factores de condicionamento: hereditariedade, meio social, momento histórico, e os fenómenos humanos são consequências inevitáveis dessas determinações;

Funda-se, ideologicamente, no Positivismo;

Usa a indução e os métodos experimentais, descreve por exemplo, as emoções, justificando as manifestações físicas pelos estudos fisiológicos e de caracteres, anatomia do carácter;

Dá relevo à importância das leis da Natureza.

A Geração de 70: a “questão Coimbrã”

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Estamos em época de confrontos verbais, reforço disto é a polémica que se gera em torno da Questão Coimbrã. Um pequeno grupo de estudantes ou mancebos da Universidade de Coimbra, liderado por Antero de Quental, reúne as forças necessárias para fazer frente a um dos grandes nomes da literatura portuguesa, António Castilho, o que provoca um escândalo nacional. Este pequeno grupo, conhecido por “Geração de 70”, contesta a autoridade e o absolutismo que se vive nas universidades, defendendo, acima de tudo, a liberdade de expressão. Esta revolta perante Castilho tem como principais objectivos possibilitar a todos os estudantes a liberdade de se expressarem e de criarem, sem ser necessário imitar os antepassados. Esta geração luta também pela possibilidade de se trocar ideias entre vários pensadores e filósofos e também pela inovação na literatura portuguesa.

Em suma, Antero Quental reage contra o conservadorismo, contra a literatura de salão ultra-romântica e contra a falta de ideias, defendendo o progresso, uma literatura viva e comprometida com novos tempos, com os conhecimentos trazidos pelas correntes filosóficas e pelas descobertas científicas da época. É a chamada “Geração de 70” que se assume como consciência de uma época e da necessidade de mudança para um novo século e uma nova mentalidade. As propostas e os debates acerca da renovação cultural portuguesa só ganham projecção política e social com as Conferências de Casino.

Antero de Quental

Antero exprime a revolta e o inconformismo da sua geração perante uma situação social, política e cultural conservadora e retrógrada, fomentada por um romantismo que não conseguiu concretizar os ideais que defendera.

Mestre e mentor, inspirador e símbolo da Geração de 70, a sua personalidade está intimamente ligada à vida cultural e social em que participou;

A poesia de Antero exprime as preocupações do ser humano que reconhece a sua condição e a sua fragilidade, que sente esperanças e sofre desalentos, que duvida perante os mistérios da criação, da morte e de Deus;

Para Antero, “a poesia é a voz da revolução”. Ele foi um verdadeiro apóstolo social, solidário e defensor da justiça, da fraternidade e da liberdade;

As dúvidas, as decepções e a doença conduziram-no a um estado de pessimismo;

Antero nunca conseguiu separar a poesia da vida, da sua ânsia de transformar o mundo, da sua angústia perante a dificuldade de explicar Deus, vida e morte;

Antero luta por ideais feitos de amor, de justiça e de liberdade, Esperança e desilusão são duas forças constantes no seu pensamento e na sua vida, entre as quais tudo oscila;

O pensamento de Deus surge, frequentemente, associado à morte, considerada como a veradeira libertação;

As quatro linhas temáticas da evolução da poesia anteriana:

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1) A expressão do amor: amor espiritual

O amor espiritual à maneira de Petrarca; sem a sensualidade da lírica de Garrett;

A mulher é um ser adorável, mas é uma visão;

O idealismo platónico, o devaneio, a evasão romântica;

2) As preocupações sociais, as ideias revolucionárias:

O desejo de construir um mundo novo;

A importância da poesia e a função do poeta: divulgar e combater, pois a poesia é a voz da revolução que visa a Justiça, o Amor e a Liberdade, poesia é revolução;

A Razão, irmã do Amor e da Justiça, deve permitir ao Homem criar a harmonia e levá-lo à Liberdade;

3) O pessimismo e a evasão:

A busca da evasão através do sonho; incapacidade de adaptação ao real; as conotações positivas associadas ao sonho: eleva o espírito, atenua o sofrimento;

Expressão de um ideal religioso;

4) A metafísica, Deus e a morte:

O poeta busca, de forma racional, o ideal transcendente;

A dificuldade de conciliação entre “o artista, o fidalgo e o filósofo” com “ a plebe operaria”;

O abandono, o descanso merecido após tantas lutas, a resignação após o desencanto;

As duas tendências

O Apolíneo ou Luminoso:

O amor e a razão, como fonte da harmonia e do equilíbrio do individuo e da sociedade;

A “aspiração racionalista”;

“A mente iluminada do pensador e do apostolo”;

O Nocturno:

A noite, o sonho, a morte, o pessimismo, a angustia existencial, o apagamento e a desilusão;

Os Maias

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A intriga trágica entrelaça-se com a crónica de costumes. O título – Os Maias – liga-se à história trágica; o subtítulo – Episódios da Vida Romântica – sugere o retrato da sociedade, feito criticamente e com fina ironia;

A visão crítica incide sobre o mundo social, politico, económico e cultural do século XIX e da Lisboa finissecular. Há uma ampla análise do Portugal da Regeneração, marcado pelo conservadorismo, pelo espírito romântico frustrado e pessimista, pela corrupção dos costumes;

A estrutura dos Maias obedeceu à vontade de Eça fazer uma desenvolvida crónica da vida social lisboeta do seu tempo, embora integrando-a na história de uma família;

A intriga apresenta dois planos de acção: uma secundaria, que envolve Pedro e Maria Monforte; e uma acção principal, centrada na relação entre Carlos e Maria Eduarda, que culmina com o processo de amores incestuosos e a sequente morte trágica de Afonso da Maia;

São diversos os ambientes que permitem o contacto com múltiplas cenas e casos típicos da vida e da sociedade romântica da época da Regeneração: o jantar no Hotel Central, as corridas de cavalos, o jantar em casa do Conde de Gouvarinho, o episodio na redacção do Jornal A Tarde, o sarau literário do Teatro da Trindade;

O jantar no Hotel Central permite abordar a critica literária e a literatura, a situação financeira do país e a mentalidade limitada e retrógrada. Ai se retrata a polémica que marcou a Questão Coimbra, na discussão de Ega e Alencar, defensores do Realismo/Naturalismo e da moral do Ultra-romantismo;

As corridas são uma verdadeira sátira ao desejo de imitar o que se faz no estrangeiro, por um esforço de cosmopolitismo, e ao provincianismo do acontecimento. As corridas no hipódromo permitem apreciar de forma irónica e caricatural uma sociedade burguesa que vive de aparências. São um pretexto para Eça de Queirós, uma vez mais, satirizar a mentalidade e o comportamento da alta-burguesia lisboeta, onde se percebe um verdadeiro contraste entre o ser e o parecer;

No jantar do Gouvarinho, as conversas permitem observar a degradação dos valores sociais, o atraso intelectual do país, a mediocridade mental de algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia. No jantar podemos apreciar duas concepções opostas sobre a educação das mulheres, a superficialidade das opiniões de Sousa Neto e o fascínio pelo que é estrangeiro;

A parcialidade do jornalismo da época surge perfeitamente retratada no episódio do jornal A Tarde;

O episódio do sarau do Teatro da Trindade serve para Eça desferir a sua critica sobre a superficialidade dos temas de conversa, a insensibilidade artística, a ignorância dos dirigentes, a oratória oca dos políticos e os excessos do ultra-romantismo;

O tema da educação é frequentemente tratado por Eça de Queirós e surge nos Maias como um dos principais factores comportamentais e da mentalidade do Portugal romântico por oposição ao Portugal novo, voltado para o futuro;

Eça apresenta dois sistemas educativos opostos: a educação tradicionalista e conservadora protagonizada por Pedro da Maia e Eusebiozinho; a educação inglesa ministrada a Carlos;

A educação tradicionalista e conservadora caracterizou-se pelo recurso à memorização; ao primado da cartilha apenas com os saberes e os valores aí insertos; à moral do catecismo e da devoção religiosa com a concepção com a Natureza. Desvalorizou a criatividade e o juízo crítico, deformou a vontade própria, arrastou os indivíduos para a decadência física e moral. Levou Pedro da Maia a uma devoção histérica pela mãe e ao suicídio, e tornou Eusebiozinho num fraco;

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A educação inglesa caracterizou-se pelo desenvolvimento da inteligência graças ao conhecimento experimental, pelo desprezo da cartilha, embora com a defesa do amor da virtude e da honra como convém a um cavalheiro e a um homem de bem; pela ginástica e pela vida ao ar livre, pelo contacto directo com a Natureza; pelo gosto das línguas vivas. Preparou para a vida, fortalecendo o corpo e o espírito;

Carlos fracassou não pela educação, mas apesar dela. A sociedade é que o conduziu ao fracasso pela ausência de motivações, pelo próprio estatuto económico, pela paixão romântica que o seduziu;

Os Maias surgem como um romance realista ao retratar os espaços sociais da sociedade romântica, recorrendo, frequentemente, à estética naturalista com algumas personagens como produto de factores naturais, sobretudo, do meio, da hereditariedade e da educação;

Os Maias são uma obra mais de carácter documental do que experimental, onde Eça de Queirós tenta uma comedia de costumes pela observação de diversos quadros sociais;

Eça de Queirós deixou-se influenciar pela estética naturalista e pela prosa realista;

A linguagem nos Maias combina com a vernaculidade e o pitoresco com o recurso ao estrangeirismo. Recorre ao estilo indirecto livre e à alternância com o discurso directo. Procura a frase flexível e curta. Ao nível do estilo, a ironia é um dos seus principais recursos, utilizando certos adjectivos insólitos, verbos de grande valor expressivo, diminutivos, advérbios de modo, adjectivação expressiva dupla ou múltipla, por vezes, cruzada com o substantivo. O adjectivo, frequentemente, adquire um valor sinestésico ou apresenta-se como hipálage animizando-se e traduzindo sentimentos;

Cesário Verde

Cesário Verde interessa-se pelo real, procurando descrever com objectividade os objectos, pintá-los, despertar nos outros ideias e sensações;

Cesário é um poeta pintor que capta as impressões da realidade. Próximo do realismo e do naturalismo, presta atenção aos pormenores mínimos que servem para transmitir as percepções sensoriais;

Propõe uma interpretação da cidade de Lisboa, por onde deambula, descreve-a, absorve-lhe a melancolia e a monotonia, projecta nela imagens da mulher formosa, fria e altiva;

Do campo, canta a vida rústica, de canseiras, a sua vitalidade e saúde;

Interessou-lhe o quotidiano da realidade;

Poeta do quotidiano, tenta visionar situações vividas no dia-a-dia, revelando uma atenção permanente ao que o rodeia;

Impressionista, procura surpreender o momento em que os objectos ganham a sua inteira individualidade;

Cesário consegue traduzir uma realidade multifacetada, através de uma grande plasticidade estética;

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O contraste cidade/campo é um dos temas fundamentais da poesia de Cesário e revela-nos o seu amor pelo rústico e natural, que celebra, por oposição a um certo repúdio da perversidade e dos pseudo valores urbanos e industriais, que, no entanto, adere;

A oposição cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida. É a morte que cria em Cesário uma repulsa à cidade por onde gostava de deambular, mas que acaba por aprisioná-lo;

O tempo é um perpétuo fluir e a esperança só é possível para as novas gerações;

A cidade surge associada à mulher fatal e à morte, enquanto o campo se une à imagem da mulher angélica e da vida. Há uma sexualização da cidade e do campo que incorpora as alegrias da morte e da vida;

Cesário procura pintar quadros por letras, por sinais, criando uma pintura literária e rítmica de temas comuns e realidades comezinhas;

Sensível ao estímulo visual, Cesário procura reter diversas impressões visuais e outras para sobrepor imagens que acabem por traduzir e reiterar a visão do que o rodeia e traduzir a sua inspiração pessoal;

A obra de Cesário Verde, caracteriza-se, pela técnica impressionista, ao acumular pormenores das sensações captadas e pelo recurso às sinestesias, que lhe permitem transmitir sugestões e impressões da realidade;

Em Cesário Verde, o campo, ou melhor, a terra, apresenta-se salutar e fértil. Dentro desta concepção de uma terra que revitaliza podemos encontrar o mito de Anteu, ou seja, no contacto com o campo, o sujeito poético parece reanimar-se, sentindo forças, energias, saúde;

O parnasianismo tem como principais características: a reacção contra o romantismo; a defesa da objectividade temática; a obsessão pela perfeição formal; o retorno ao racionalismo e às formas poéticas clássicas; a busca da impessoalidade e da impassibilidade; a Arte pela arte.

As Temáticas de Cesário Verde:

- Poetização do Real – Capta as impressões do quotidiano:

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Com objectividade e pormenor;

Com subjectividade, graças à imaginação transfiguradora, transpõe a realidade numa outra;

- Binómio Cidade/Campo – Poeta Pintor descreve:

Da cidade – as ruas soturnas e melancólicas, com sombras e bulício, a melancolia, a monotonia, o desejo absurdo de sofrer;

Do campo – a vida rústica, de canseiras, a sua vitalidade e saúde;

- Inovação da Arte Poética – modelo de naturalidade e de sereno realismo visual:

Realista, escolhe as palavras que reflectem a realidade;

A poesia está implícita, disfarçada sob a observação da realidade;

- Questão Social – realismo de intenção basicamente naturalista:

Anatomia do homem oprimido pela cidade;

Integração da realidade comezinha no mundo poético;

- Subjectividade do Tempo e da Morte:

Cidade de homens vivos, mas mórbida, doentia, febril;

Presença da dor, da miséria, da decomposição;

Atracção da morte;

Ameaça da peste;

- Humilhação;

A humilhação sentimental – a mulher formosa, fria, distante e altiva;

A humilhação estética – a revolta pela incompreensão que os outros manifestam em relação a sua poesia;

A humilhação social – povo oprimido e abandonado;

Pessoa Ortónimo

Na poesia de Ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas;

A poesia, cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência de si implica;

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Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação esta evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Obliqua;

O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência;

O Ortónimo tem uma ascendência simbolista evidente desde os tempos de Orpheu e do Paulismo;

A poesia do Ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. O poeta recorre à ironia para por tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte;

As temáticas:

1. O sonho; a intersecção entre o sonho e a realidade;

2. A angustia existencial e nostalgia;

3. A distancia entre o idealizado e o realizado – e a consequente frustração;

4. A mascara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar;

5. A intelectualização das emoções e dos sentimentos para elaboração da arte;

6. O ocultismo e o hermetismo;

7. O sebastianismo;

8. Tradução dos sentimentos na linguagem do leitor, pois o que sente é incomunicável;

Mensagem

Fernando Pessoa, na Mensagem, procura anunciar um novo império civilizacional. O intenso sofrimento patriótico leva-o a antever um império que se encontra para além do material;

Estrutura tripartida da Mensagem:

1. Nascimento;

2. Vida;

3. Morte/Renascimento;

Os 44 poemas que constituem a Mensagem encontram-se agrupados em três partes:

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1. Primeira Parte – Brasão (os construtores do Império): corresponde ao nascimento, com referência aos mitos e figuras históricas ate D.Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões. Dá-nos conta do Portugal erguido pelo esforço e destinado a grandes feitos;

2. Segunda Parte – Mar Português (o sonho marítimo e a obra das descobertas): surge a realização e vida; refere personalidade e acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais. Mas porque tudo vale a pena, a missão foi cumprida;

3. Terceira Parte – O Encoberto (a imagem do Império moribundo, a fé de que a morte contenha em si o gérmen da ressurreição, capaz de provocar o nascimento do império espiritual, moral e civilizacional na diáspora lusíada. A esperança do Quinto Império): aparece a desintegração, havendo, por isso, um presente de sofrimento e de mágoa, pois falta cumprir-se Portugal. É preciso acontecer a regeneração que será anunciada por símbolos e avisos;

Mensagem recorre ao ocultismo para criar o herói – O Encoberto – que se apresenta como D.Sebastião. Note-se que o ocultismo remete para um sentimento de mistério, indecifrável para a maioria dos mortais. Daí que só o detentor do privilegio esotérico se encontra legitimado para realizar o sonho do Quinto Império;

O ocultismo:

- Três espaços: histórico, mítico e místico:

- A ordem espiritual no homem, no Universo e em Deus;

- Poder, inteligência e amor na figura de D.Sebastião;

A conquista do mar não foi suficiente (o império matéria desfez-se, ou seja, a missão ainda não foi cumprida): falta concretizar este novo sonho – um império espiritual;

A construção do futuro (a revolução cultural) tem que ter em conta o Presente e deve aproveitar as lições do Passado, fundamentando-se nas nossas ancestrais tradições;

A atitude heróica é importante para a aproximação a Deus, mas o herói não pode esquecer que o poder baseado na justiça, na lealdade, na coragem e no respeito é mais valioso do que o poder exercido violentamente pelo conquistador – a opção clara pelo poder espiritual, pelo poder moral, pelos valores;

Alberto Caeiro

Apresenta-se como um simples guardador de rebanhos, eu só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade com a qual contacta a todo o momento. Daí seu desejo de integração e de comunhão com a Natureza;

Para Caeiro, “pensar é estar doente dos olhos”. Ver é conhecer e compreender o mundo, por isso, pensar vendo e ouvindo. Recusa o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é não

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compreender”. Ao anular o pensamento metafísico e ao voltar-se apenas para a visão total perante o mundo, elimina a dor de pensar, que afecta Pessoa;

Caeiro é um poeta da Natureza que está de acordo com ela e a vê na sua constante renovação. E porque só existe a realidade, o tempo é ausência de tempo, sem passado, presente ou futuro, pois todos os instantes são a unidade do tempo;

Mestre de Pessoa e dos outros heterónimos, Caeiro dá especial importância ao acto de ver, mas é sobretudo inteligência que discorre sobre as sensações, num discurso em verso livre, em estilo coloquial e espontâneo. Passeando e observando o mundo, personifica o sonho da reconciliação com o universo, com a harmonia pagã e primitiva da Natureza;

Caeiro é um sensacionalista, a quem só interessa o que capta pelas sensações e a quem o sentido das coisas é reduzido à percepção da cor, da forma e da existência; a intelectualidade do seu olhar liberta-se dos preconceitos e volta-se para a contemplação dos objectos originais;

Constrói os seus poemas a partir da matéria não-poética, mas é o poeta da Natureza e do olhar, o poeta da simplicidade completa, da clareza total e da objectividade das sensações, o poeta da realidade imediata e do real objectivo, negando mesmo a utilidade do pensamento;

Caeiro vê o mundo sem necessidade de explicações, sem princípio nem fim, e confessa que existir é um facto maravilhoso; por isso, crê na “eterna novidade do mundo”;

Poeta do real objectivo, Caeiro afirma: “fui o único poeta da Natureza”. Vive de acordo com ela, na sua simplicidade e paz. Ama a Natureza: “Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, mas porque a amo, e amo-a por isso”;

Para Caeiro, o mundo é sempre diferente, sempre múltiplo, por isso, aproveita cada momento da vida e cada sensação provocada, apreciando a beleza das coisas na sua originalidade e na sua simplicidade;

Linguagem e estilo:

1. Ausência de preocupações estilísticas;

2. Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento mas espontâneo;

3. Proximidade da linguagem do falar quotidiano, coloquial, fluente, simples e natural;

4. Vocabulário simples e familiar, em frases predominantemente coordenadas; repetições de expressões longas, uso de paralelismos de construção, de simetrias, de comparações simples;

5. Numero reduzido de vocábulos e de classes de palavras: pouca adjectivação, predomínio de substantivos concretos, uso de verbos no presente do indicativo ou no gerúndio;

Ricardo Reis

Ricardo Reis é o poeta clássico, da serenidade epicurista, que aceita, com calma e lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas. “Vem sentar-te comigo Lídia à beira do rio”,

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“Prefiro rosas, meu amor à pátria” são poemas que nos mostram que este discípulo de Caeiro aceita a antiga crença nos deuses, enquanto disciplinadora das nossas emoções e sentimentos, mas defende, sobretudo, a busca de uma felicidade relativa alcançada pela indiferença à perturbação;

A filosofia de vida de Ricardo Reis é a de um epicurismo triste, pois defende o prazer do momento, como caminho da felicidade, mas sem ceder aos impulsos dos instintos. Apesar deste prazer que procura e da felicidade que deseja alcançar, considera que nunca se consegue a verdadeira calma e tranquilidade, ou seja, a ataraxia. Sente que tem de viver em conformidade com as leis do destino, indiferente à dor e ao desprazer, numa verdadeira ilusão da felicidade, conseguida pelo esforço estóico lúcido e disciplinado;

Ricardo Reis propõe, pois, uma filosofia moral de acordo com os princípios do epicurismo e uma filosofia estóica:

1. Aproveitai a vida em cada dia, como caminho da felicidade;

2. Buscar a felicidade com a tranquilidade (ataraxia);

3. Não ceder ao impulso dos instintos (estoicismo);

4. Procurar a calma ou, pelo menos, a sua ilusão;

5. Seguir o ideal ético da apatia que permite a ausência da paixão e a liberdade (sobre esta apenas pesa o Fado);

O epicurismo consiste na filosofia moral do Epicuro, que defendia o prazer como caminho da felicidade. Mas para que a satisfação dos desejos seja estável, sem desprazer ou dor, é necessário um estado de ataraxia. O poeta romano Horácio seguiu de perto este pensamento da defesa do prazer do momento, ao considerar o “carpe diem” como necessário à felicidade;

O estoicismo é uma corrente filosófica que considera ser possível encontrar a felicidade desde que se viva em conformidade com as leis do destino que regem o mundo, permanecendo indiferente aos males e às paixões, que são perturbações da razão. O ideal ético é a apatia que se define como ausência de paixão e permite a liberdade, mesmo sendo escravo;

Ricardo Reis, que adquiriu a lição de paganismo espontâneo de Caeiro, cultiva um neoclassicismo neopagão (crê nos deuses e nas presenças quase divinas que habitam todas as coisas), recorrendo à mitologia greco-latina, e considera a brevidade, a fugacidade e a transitoriedade da vida, pois sabe que o tempo passa e tudo é efémero. Daí fazer a apologia da indiferença solene diante do poder dos deuses e do destino inelutável. Considera que a verdadeira sabedoria de vida é viver de forma equilibrada e serena;

A precisão verbal e o recurso à mitologia associados aos princípios da moral e da estética epicuristas e estóicas ou à tranquila resignação ao destino são marcas do classicismo erudito de Reis. Poeta clássico, da serenidade, Ricardo Reis, privilegia a ode, o epigrama e a elegia. A frase

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concisa e a sintaxe clássica latina, frequentemente com a inversão da ordem lógica favorecem o ritmo das suas ideias lúcidas e disciplinadas;

Álvaro de Campos

Para Campos sentir é tudo e o seu desejo é “sentir tudo de todas as maneiras”. O sensacionismo torna a sensação a realidade da vida e a base da arte. O EU do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir;

Álvaro de Campos é quem melhor procura a totalização das sensações, mas sobretudo das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”;

O sensacionismo de Campos começa com a premissa de que a única realidade é a sensação. Mas a nova tecnologia na fábrica e nas ruas da metrópole moderna provoca-lhe a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações, numa vertigem insaciável;

Ao tentar a totalização de todas as possibilidades sensoriais e afectivas da humanidade, em todo o espaço, tempo ou circunstâncias, num mesmo processo psíquico individual, o sensacionismo faz o mesmo que o Unanimismo francês (procura criar laços entre os grupos humanos, interpretando a sua alma e a sua vida);

A obra de Álvaro de Campos passa por três fases:

1. A decadentista – exprime o tédio, o cansaço e a necessidade de novas sensações; o Decadentismo surge como uma atitude estética finissecular que exprime o tédio, o enfado, a náusea, o cansaço, o abatimento e a necessidade de novas sensações. Traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia;

2. A futurista e sensacionista – Álvaro celebra o triunfo da máquina da energia mecânica e da civilização moderna. Apresenta a beleza dos maquinismos em fúria e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. A Ode Triunfal ou a Ode marítima são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações;

3. A intimista – que, perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado;

O drama de Álvaro de Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra;

Campos busca, na linguagem poética, exprimir a energia ou a força que se manifesta na vida. Daí o surgimento de versos livres e muitos longos, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções;

Miguel Torga

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Indecisão face ao absoluto, ao sagrado, ao divino;

Negação da transcendência;

A revolta e o protesto, a angustia e o desespero;

A negação de Deus e a obsessão da sua presença;

Desdobramento entre um Eu, o Mesmo e o Outro;

Revolta contra Deus (ou os Deuses);

O medo de enfrentar o absoluto;

Conflito entre o homem e o divino;

Inspiração genesíaca;

Fidelidade à terra;

Percepção da condição humana;

A ligação da terra com o sagrado;

Imagens ou metáforas agrário-pastoris da fecundação, germinação, nascimento e morte;

O sentido instintivo, sexual e mortal da vida;

O contacto com o sofrimento humano, a amargura perante o encontro com os outros;

A esperança / desesperança;

A expectativa desconsolada; a consciência da grandeza trágica da nossa condição;

A solidão e o isolamento;

Eugénio de Andrade

Transparência e sedução musical e imagística;

Ritmos e imagens que actualizam as lições clássicas do homem como medida de todas as coisas;

Fusão do corpo humano com a Natureza;

Fidelidade à terra; busca da pureza essencial;

A simbologia dos quatro elementos; fogo, agua, ar e terra;

Intenso sentimento do mundo; o mundo como um jogo de luzes e sombras;

A poesia de carácter solar; a densidade poética;

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Sophia de Mello Breyner Andresen

Caos e cosmos; desordem e equilíbrio; confusão e geometria;

Mar como símbolo da vida;

Mar e pinhais como símbolos para cantar o amor e o trágico da vida;

Imagística das arvores, dos ventos, do mar e das praias, do sol e da noite;

Empenhamento social e politico;

Degradação do tempo dividido;

Preocupação com a degradação do mundo; denuncia das injustiças e da opressão;

A poesia como perseguição do real;

Evocação nostálgica e memoria da Grécia e do mundo clássico com a sua estética;

Aliança entre beleza e verdade;

Visão apolínea; das divindades diurnas; da luz solar;

Mundo povoado por deuses e não por homens;

A magia da palavra poética; a transfiguração do real; Poesia como força transformadora do mundo;

As imagens símbolo que se ligam à pureza; à harmonia e à perfeição;

Palavras e expressões ligadas à vida e à morte;

Aparição (Vergilio Ferreira)

Aparição segue as reflexões da filosofia existencialista sobre o Homem, Deus e o Mundo. Valoriza o Homem, dando à existência a prioridade em relação à essência. A existência precede a essência;

O homem é invenção de si próprio. A existência humana é ser no mundo, marcada por uma finitude original;

O mundo aparece, desaparece, numa relação com as vivências do eu. A busca do que esta para além é do domínio do intangível e do sagrado;

Para que o homem se encontre a si mesmo não precisa da ideia de Deus, pois, para um existencialista como Sartre, “mesmo que Deus existisse, nada mudaria”. A personagem Alberto procura o absoluto que há em nós, mas sem Deus;

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Em Aparição, há o olhar voltado para dentro de si e para a realidade dos outros. Como afirma Vergilio Ferreira, “o que aprendi em Aparição foi a necessidade, para uma realização total do homem, de ele se redescobrir a si próprio, não nos limites de uma estreita individualização, mas no da sua condição humana”;

Ferreira explora o que na condição humana perturba o homem. Alberto Soares faz, ao longo da obra Aparição, a aprendizagem da existência, da vida e dos limites do homem;

Há uma tentativa de alertar para a necessidade de consciência do homem sobre si mesmo. Vergilio reflecte sobre o lugar do indivíduo personalizado, que resulta de um processo interior, a partir da circunstância em que vive;

Toda a obra gira em torno do milagre do ser. O aparecer de nós a nós próprios resulta de uma reflexão da consciência sobre si mesma e da relação coo os outros e com o mundo;

A vida é uma criação. Para Alberto, a vida é uma evidência, mas o mistério de estar vivo revela-se através da vibração e do espanto. A vibração da experiência vivida escapa à razão;

A vida coloca-nos perante o absurdo ou inverosimilhança da morte. Existir é ser para a morte. Por isso, a morte é angústia e fascínio. Incita à vida na própria tensão que contém. Como diz Vergilio, a vida está entre duas noites: nascimento e morte;

A morte surge nas mais diversas circunstanciam – morte do Pai (já velho, subitamente à mesa), de Cristina (ainda criança, num acidente rodoviário), de Bailote (por suicídio), de Sofia (assassinada); a morte dos animais (cão e galinha) – mas sempre como destino, fim último para quem não aceita a intervenção de Deus. A morte intriga o protagonista, pois é inexplicável e absurda, mas também uma violenta redescoberta sempre ameaçadora;

Em Aparição encontramos a descoberta e a revelação da morte, do mundo dos outros, dos sentimentos, do mundo de prodígios e grandezas;

A personagem Alberto Soares interroga-se sobre o entendimento dos sentimentos e das emoções. Verifica que a razão não é autónoma, pois as emoções do corpo surgem primeiro que a ordem da razão. Mas para tomar consciência da condição humana, a razão é fundamental;

Verificamos que o corpo é o lugar onde o espírito se forma e se projecta para o mundo;

Por toda a obra perpassa a memória das origens, do passado e do silêncio;

Évora surge como o espaço, a angústia e a solidão. Aparece como cidade, como a cidade branca, mítica e mística, espelho da angústia do eu;

Évora apresenta-se labiríntica ao exprimir as inquietações das personagens, metafísica ao abrir-se ao infinito, e existencial ao alimentar a busca e a descoberta do eu;

Em Évora, tornam-se fundamentais na descoberta do eu as relações de Alberto e a família Moura; Alberto e Sofia; Alberto e Ana; Alberto e Carolino; Alberto e Cristina ou, ainda, Alberto e Chico;

Na Beira, são importantes as relações de Alberto e a sua família; Alberto e Tomas;

O narrador é autodiegético e omnisciente, construindo em retrospectiva a narração;

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Os símbolos cósmicos permitem a compreensão das realidades mais profundas, ligadas à origem da vida e ao processo criador;

Felizmente Há Luar (Sttau Monteiro)

Felizmente Há Luar, é um drama narrativo, de carácter social, dentro dos princípios do teatro épico. Defende as capacidades do homem, que tem o direito e o dever de transformar o mundo em que vive, oferecendo-nos uma análise crítica da sociedade e procurando mostrar a realidade em vez de a representar, para levar o espectador a reagir criticamente e a tomar posição;

Trágica apoteose da história do movimento liberal oitocentista, Felizmente Há Luar interpreta as condições da sociedade portuguesa do início do século XIX e a revolta dos mais esclarecidos, muitas vezes organizados em sociedades secretas, contra o poder absolutista;

A figura centra é o general Gomes Freire de Andrade que está sempre presente embora nunca apareça e que, mesmo ausente, condiciona a estrutura interna da peça e o comportamento de todas as outras personagens;

Felizmente Há Luar, destaca a preocupação com o homem e o seu destino, a luta contra a miséria e a alienação, a denúncia da ausência de moral, o alerta +ara a necessidade de uma superação com o surgimento de uma sociedade solidária que permita a verdadeira realização do Homem;

A defesa da liberdade e da justiça, atitude de rebeldia, constitui a hybris (desafio) desta tragédia. Como consequência, a prisão dos conspiradores provocara o sofrimento (pathos) das personagens e despertará a revolta do espectador;

Tendo como cenário político dos inícios do século XIX, Sttau Monteiro provocou a reflexão, denunciou as injustiças e avivou a chama da esperança de liberdade;

O recurso à distanciação histórica e à descrição das injustiças praticadas no início do século XIX em que decorre a acção permitiu-lhe colocar em destaque as injustiças do seu tempo e a sua necessidade de lutar pela liberdade;

As personagens psicologicamente densas e vivas, os comentários irónicos e mordazes, a denúncia da hipocrisia da sociedade e a defesa da justiça social são características da obra

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1 - Da geração de 70 destacou-se o autor do romance “Os Maias”. Numa cuidada composição, clara, concisa, e correcta sobre todos os aspectos, exponha o que sabe sobre a sátira feita nessa obra através das seguintes personagens: João da Ega, Tomás de Alencar, Dâmaso e Eusébio.

2 - Considerando “Os Maias” como uma pintura da sociedade lisboeta, faça uma composição em que, centrando-se em dois quadros desse imenso painel, refira:. a classe social focada,. o modo como é definida pelo narrador,. o processo pelo qual o narrador lhe confere realidade.

3 - “Independente! Só por isso os jornalistas me negam as colunas”.A falta de dignidade de certa imprensa é também motivo de crítica em Eça de Queirós. Refira-se a passos de “Os Maias” que condenam, o mau jornalismo da época.

4 - “Ela cruzava-o numa bela tarde, bela como uma deusa transviada”.Estabeleça um confronto entre a visão que Carlos tem de Maria Eduarda com a concepção da mulher que pôde apreciar em textos de poética trovadoresca.

5 - “... meu amado...” e “... meu marido...” definem a ligação que Maria Eduarda e Maria Monforte estabelecem com duas personagens em “Os Maias”. O amor por elas inspirado é um dos responsávis pelo clima trágico vivido no romance.Numa cuidada composição, desenvolva os aspectos implícitos nestas afirmações.

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6 - Numa cuidada disertação, comente as seguintes afirmações de Ernesto Guerra da Cal sobre “Os Maias”: Todas as personagens são derrotadas duma maneira ou doutra, todo o mundo mais ou menos falha” diz João da Ega - Isto é, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação.”

7 - Aprecie criticamente a afirmação abaixo transcrita, baseando-se na actuação de Carlos e Ega ao longo da obra:“ - E que somos nós? - exclamou Ega - Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão”.

8 - Atente no seguinte passo de “os Maias”:“... Era uma manhã muito fresca, toda azul e branca, sem uma nuvem, com um lindo sol que não aquecia, e punha nas ruas, nas fachadas das casas, barras alegres de claridade dourada. Lisboa acordava lentamente: as saloias ainda andavam pelas portas com os seirões das hortaliças; varria-se devagar a testada das lojas; no ar macio morria à distância um toque fino de missa”.Numa dissertação cuidada, explique como Eça de Queirós põe em prática neste passo e ao longo da obra as ideias expostas na 4ª Conferência do Casino, subordinada ao título “O Realimo como nova expressão de Arte”:“O Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na vida contemporânea. Deste princípio, que é basilar, que é a primeira condição do Realismo, está longe nossa literatura.”

9 - No romance “Os Maias” encontramos personagens planas, personagens modeladas ou meros figurantes. Refira-se de forma especial a esta última categoria, indicando por meio de exemplos devidamente seleccionados a função que desempenham na obra.

10 - Também Carlos, que julgava encontrar um paraíso no seu amor por Maria Eduarda, acaba por cair num inferno sentimental que ocasiona a morte inesperada do avô. Mostre, numa curta mas cuidada composição, que existem n’Os Maias além de crítica mordaz aos costumes da época, uma tragédia familiar.

11 - No final d’Os Maias, Carlos da Maia e João da Ega percorrem o Chiado, onde encontram Dâmaso Salcede.Trace o perfil deste figurante e ponha em relevo sua função na obra.

12 - Os Maias reflectem a sobreposição de valores materiais às forças criadoras no mundo artístico da Lisboa da Regeneração, já que nos é possível confrontar o ponto de vista do narrador e de algumas personagens sobre literatura (no jantar do Hotel Central, por exemplo), a conduta de alguns artistas (como Tomás de Alencar e Cruges) e a reacção do público (no Sarau da Trindade).Analise os elementos acima referenciados e demonstre o seu valor para a caracterização da sociedade da época.

13 - Há, em OS MAIAS, vários espaços físicos descritos.Numa cuidada dissertação, indique esses espaços a defina as suas funções no romance a partir da perspectiva do narrador e das personagens que com eles se relacionam.

14 - “Se soubermos ler Os Maias, Carlos fraquejou... apesar da educação recebida. Quais portanto os motivos da sua frustração? Dois basicamente: o temperamento, portuguesmente mole e apaixonado; o meio lisboeta, portuguesmente ocioso.”J. Prado Coelho, Ao Contrário de Penélope

Numa redacção organizada, baseando-se na leitura de Os Maias, desenvolva opinião citada.

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15 - “EÇA DE QUEIRÓS (...) Incorporou assim o trágico do amor impossível, com todas as suas românticas implicações, no realismo do romance de costumes. E não se pretenda que o dissolveu pela ironia ou pela censura crítica. O trágico subsiste n’ Os Maias como um dos valores estéticos maiores.”Jacinto do Prado Coelho, “Ao Contrário de Penélope”Baseando-se na citação transcrita e na leitura que fez do romance “Os Maias”, elabore uma composição cuidada, mostrando que o trágico subsiste na obra como “um dos valores estéticos maiores”.

16 - “As personagens de Os Maias, tanto como as situações, os sentimentos, os conceitos, são múltiplas peças dum grande jogo de contrastes, ora categóricos, violentos, ora ténues, de simples cambiantes.”Jacinto do Prado Coelho, “Ao Contrário de Penélope”Numa composição cuidada, desenvovlva afirmação de J. Prado Coelho, a partir do contraste entre a educação de Carlos e Eusebiozinho e seus reflexos na construção daquelas personagens, considerando o seu percurso na obra.

1. O problema da Educação em " Os Maias " adquire uma importância fundamental.

Explique devidamente as características fundamentais de cada modelo educacional, apresentado na obra e os seus reflexos no percurso vivencial das personagens que os representam.

2. Explique devidamente a existência de um subtítulo na obra.

3. Esclareça a articulação entre a Intriga principal e a Intriga secundária.

4. Comente o valor da amizade que se estabelece entre Carlos da Maia e Ega.

5. Alencar e Ega representam duas concepções filosóficas e literárias distintas e antagónicas.

Identifique-as e comente a polémica gerada entre as duas personagens.

6. Explique, à luz das actuações das personagens ao longo da obra, as afirmações de Carlos e Ega, no último capítulo da obra:

" - E que somos nós ?- exclama Ega. - Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de Latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão..."