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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ITAPIRAPUÃ – GOIÁS Rua 20, Qd. 78, Lt. 08, Ed. do Fórum, Centro, Itapirapuã-GO, Telefone/Fax: 374 – 1236 E-mail: [email protected] 19/04/2004 ACP Iluminação Pública Ação Civil Pública - iluminação pública - serviço público - ineficiência - LIMINAR ACP Iluminação Pública EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ITAPIRAPUÃ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua Promotora de Justiça que ao final subscreve, com fundamento no artigo 127, "caput", e 129, incisos II e III, da Constituição Federal, no artigo 25, inciso IV, alínea "b", da Lei nº 8.625/93, e seu correspondente na Lei Complementar Estadual nº 25/98, nas disposições contidas nas Leis nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública ou dos Interesses Difusos e Coletivos), e nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), vem perante Vossa Excelência propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido LIMINAR INITIO LITIS Em face do MUNICÍPIO DE ITAPIRAPUÃ, pessoa jurídica de direito público, com sede na Praça Marechal Rondon, nº 47, Centro, representada pelo respectivo Prefeito Municipal, pelas razões de fato e de direito que passa expor 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · 2010-12-13 · que pode ser um produto ou serviço. O artigo 2 ... O artigo 3º do CDC define o fornecedor, ... deve ser defendido

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19/04/2004ACP Iluminação PúblicaAção Civil Pública - iluminação pública - serviço público - ineficiência - LIMINARACP Iluminação Pública

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ITAPIRAPUÃ

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua

Promotora de Justiça que ao final subscreve, com fundamento no artigo 127,

"caput", e 129, incisos II e III, da Constituição Federal, no artigo 25, inciso IV,

alínea "b", da Lei nº 8.625/93, e seu correspondente na Lei Complementar

Estadual nº 25/98, nas disposições contidas nas Leis nº 7.347/85 (Lei da Ação

Civil Pública ou dos Interesses Difusos e Coletivos), e nº 8.078/90 (Código de

Defesa do Consumidor), vem perante Vossa Excelência propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA,

com pedido LIMINAR INITIO LITIS

Em face do MUNICÍPIO DE ITAPIRAPUÃ, pessoa jurídica de

direito público, com sede na Praça Marechal Rondon, nº 47, Centro,

representada pelo respectivo Prefeito Municipal, pelas razões de fato e de direito

que passa expor

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1 – DOS FATOS

É de conhecimento público e notório que a Prefeitura Municipal,

vem cobrando de seus usuários, juntamente com as faturas mensais de consumo

de energia elétrica, a famigerada Taxa de Iluminação Pública. Aludida Taxa de

Iluminação Pública, constitui-se de tributo instituído pelo Município de

Itapirapuã, através da Lei n° 643/03, alterada pelas Leis n° 645 e n° 651 com

vistas ao custeio das despesas decorrentes da iluminação pública da cidade.

Desde seu nascedouro, este tributo vem sendo alvo de questionamentos

judiciais, no que se refere à constitucionalidade de sua cobrança, motivo pelo

qual, o Ministério Público local, encaminhou expediente à Procuradoria Geral de

Justiça, representando a Lei que instituiu o tributo para o necessário exame de

sua inconstitucionalidade, consoante documento anexo.

Entretanto, mesmo com a cobrança da taxa, através da qual o

consumidor, que não encontra outra alternativa, senão pagá-la, sob pena de

suspensão no fornecimento de energia elétrica, os níveis de iluminação são

bastante reduzidos e inferiores ao que seria desejável para se conseguir os

padrões de qualidade e segurança a que a população tem direito e que todos

desejamos. Resulta como consequência um serviço de má qualidade e um baixo

nível do padrão de segurança dos cidadãos.

Os depoimentos prestados durante o trâmite do Inquérito Civil

Público, noticiam que os contribuintes não estão sentindo o reflexo do serviço

custeado. Ao contrário, estão inseguros quando trafegam pelas Ruas e Avenidas,

ao ponto de alguns moradores terem de andar em grupo para evitar que um mal

possa acontecer a um de seus cidadãos.

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A rede de iluminação pública estava equipada com lâmpadas de

vapor de sódio de 350W, e que foram substituídas por lâmpadas de 150 e 70W,

apresentando um baixo nível de iluminação e com grandes descontinuidades.

2 - DO DIREITO

2.1. Da legitimidade ativa do Ministério Público (interesse difuso e individual

homogêneo).

A legitimidade ad causam do Ministério Público para autuar na

presente ação tem inicialmente fundamento nos artigos 81 e 82 do Código de

Defesa do Consumidor, já que sem sombra de dúvida a situação fática se

materializa em plena relação de consumo, verbis:

Art. 81. Na defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser

exercida em juízo individualmente ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os

transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas

indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os

transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe

de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes

de origem comum.

Art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:

I – o Ministério Público;

(...)

Ainda com relação a legitimidade, não será demais dizer, que

quando se tratar da defesa de interesses individuais homogêneos, o Ministério 3

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Público terá legitimação extraordinária e se investirá da condição de

substituto processual. Isto porque a lei legitimou outrem para a defesa em

juízo, em nome próprio, de direito alheio cujo titular é identificável e

individualizável. Trata-se, portanto, de substituição processual.

Sem prejuízo da legitimidade do parquet para a propositura de

Ação Civil Pública com intuito de inibir os danos e incômodos causados aos

munícipes, pela qualidade constatada na prestação do serviço público de

iluminação pública, em sede de direitos do consumidor (interesses individuais

homogêneos), a legitimidade também é conferida ao Ministério Público nos

termos da Lei nº 7.347/85, para coibir os danos causados ao meio ambiente e

direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Neste caso, a ação civil pública visa a proteção de todas as pessoas

indiscriminadamente (interesse difuso), pois há no caso, afetação à uma grande e

inominada camada de pessoas, impossíveis de serem nominadas e

individualizadas, tomando uma dimensão social difusa, com “impacto de

massa”.

Segundo o magistério de Nelson Nery Jr., quando se tratar de

interesses difusos ou coletivos (strictu sensu) a legitimidade conferida ao

Ministério Público não é extraordinária (substituição processual), mas sim

legitimação autônoma para a condução do processo (de origem constitucional,

nos termos do artigo 129 da CF). A lei elegeu alguém para a defesa de direitos

porque seus titulares não podem fazê-lo, visto que o direito não é

individualizável.1

1 Nelson Nery Jr. e Rosa Maria Andrade Nery. Código de Processo Civil Comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p. 1395

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A requerida, em conseqüência da não observância dos padrões de

qualidade dos serviços públicos de energia elétrica, provocou uma situação de

imenso incômodo, insegurança, constrangimento e prejuízo aos munícipes.

Deve, portanto, a requerida responder pelos danos correspondentes, sob pena de

não respondendo, violar direitos substantivos, conforme enumerados em

seguida.

2.2 Da dignidade da pessoa humana

O diploma constitucional garante a cidadania e a dignidade da

pessoa humana.

A dignidade é um dos principais fundamentos dos direitos

individuais de todo o sistema constitucional.

Como é explícito no texto constitucional, art. 1º, verbis:

“Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união

indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em

Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana

O texto Magno estabelece ainda:

“Art. 6º. são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o

lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a

assistência aos desamparados, na forma desta construção”.

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De fato, não há como se falar em dignidade na vida das pessoas, se

sua Lei Maior não lhe dá guarida. Por isso é de se acreditar que a péssima

execução de um serviço público de suma importância ao cotidiano das pessoas,

afeta a dignidade, saúde e segurança dos munícipes.

2.2. Do Código de Defesa do Consumidor.

Para a aplicação do Código de Defesa do Consumidor à qualquer

relação jurídica é mister que se verifique, primeiramente, se esta relação é de

consumo. Para tanto, são necessários a configuração dos elementos da relação

jurídica de consumo: o consumidor de um lado; o fornecedor de outro e o objeto

que pode ser um produto ou serviço.

O artigo 2º, do CDC, estabelece que “consumidor é toda pessoa

física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário

final”, ao mesmo tempo que equipara a consumidor, a coletividade de pessoas,

ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

O artigo 3º do CDC define o fornecedor, como sendo toda pessoa

física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os

entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de prestação de serviços.

Também são direitos básicos do consumidor a proteção contra as

práticas abusivas impostas no fornecimento de produtos e serviços, bem como a

efetiva prevenção contra os danos materiais que estejam na iminência de

acontecer e a reparação aos danos morais e patrimoniais sofridos, sejam

individuais, coletivos ou difusos, in verbis:

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“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

(...)

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,

individuais, coletivos e difusos”

(...)

X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral”.

2.3 Da reparação

O levantamento técnico feito pela Companhia Elétrica de Goiás

(CELG), datado de 09 de maio de 2.003, dá conta da substituição de lâmpadas

feitas por toda a Cidade, reduzindo substancialmente a potência daquelas que

foram instaladas. Isso porque, consoante documento anexo, “foram substituídas

as lâmpadas de 350 W por lâmpadas de 150 e 70 W, e também 870 lâmpadas

foram substituídas por lâmpadas de 150 W-Incandescente, restando apenas 63

lâmpadas de 350 W.

A troca integral das referidas lâmpadas, com estrita observância das

normas técnicas previstas, é a forma de reparação mais justa que se vislumbra.

O patrimônio público, também objeto da preocupação do

constituinte de 1.988, deve ser defendido como forma de garantir ao Estado

condições de cumprir seus objetivos. Essa defesa há de ser feita, sobretudo, pelo

princípio da eficiência imposto à Administração Pública, bem como não

ocorrendo tal eficiência deve o Ministério Público intervir para que assim seja,

tudo objetivando a manutenção da moralidade pública e a preservação dos

direitos do cidadão. Um atentado à segurança pública atinge sobretudo a

dignidade do cidadão itapirapuense, que encontra-se privado de andar pelas ruas

com a tranquilidade a todos merecida. Se tal princípio não for observado só irá

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gerar descrédito em relação às instituições. Por isso é que, na gestão da coisa

pública, devem ser observados os princípios constitucionais da legalidade,

impessoalidade, moralidade e publicidade.

Foi para dar vida às essas aspirações que o constituinte criou os

instrumentos previstos no artigo 129, III, da Constituição Federal, e os

colocou à disposição do Ministério Público.

2.4 Do poder-dever de agir da Administração: observância aos princípios da

discricionariedade mínima e da eficiência.

Quando falamos em responsabilidade da administração adentramos

na esfera ligada ao poder-dever de administrar. Os poderes e deveres do

administrador público são os expressos em lei, os impostos pela moral

administrativa e os exigidos pelos interesses da coletividade. O poder

administrativo, portanto, é atribuído à autoridade para remover os interesses

particulares que se opõem ao interesse público. Nessas condições, o poder de

agir se converte no dever de agir. Assim, se no direito privado o poder de agir é

uma faculdade, no direito público é uma imposição, um dever para o agente que

o detém, pois não se admite a omissão da autoridade diante de situações que

exijam a sua atuação. Eis porque a Administração responde civilmente pelos

atos lesivas de seus agentes.

Sobre o tema, o saudoso professor Hely Lopes Meirelles já

ensinava:

“Se para o particular o poder de agir é uma faculdade,

para o administrador público é uma obrigação de atuar, desde

que se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da

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comunidade. É que o direito público ajunta ao poder do

administrador o dever de administrar.

Ao poder-dever de administrar alinha-se o dever de eficiência,

impondo-se a todo agente público realizar suas atribuições com presteza,

perfeição e rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função

administrativa, que já não se contenta em ser desempenhada apenas com

legalidade, exigindo resultados positivos para o serviço público e satisfatório

atendimento das necessidades da comunidade e de seus membros.

O princípio da eficiência, que deve regular a atuação de todo

administrador público e de todos aqueles que se encontrem a serviço de ente

público, está expressamente previsto no art. 37, caput, da Constituição Federal,

que assim dispõe:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer

dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios obedecerá aos princípios da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,

ao seguinte...”

A gestão administrativa na administração pública direta ou indireta,

de qualquer das entidades estatais, além do dever de se pautar pela ética,

impessoalidade, transparência e sujeição ao ordenamento jurídico, tem que se

ater à eficiência, ou seja, deve ser direcionada sempre ao atendimento mais

adequado, razoável ou eficaz possível, do interesse público. A administração

deve buscar a medida eficiente para obter o resultado desejado pelo corpo social.

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Significa dizer que o agente público tem o dever jurídico de agir

com eficácia real ou concreta. A sua conduta administrativa deve se modelar

pelo dever da boa administração, o que não significa apenas obediência à lei e à

honestidade, mas, também, produtividade, profissionalismo e adequação técnica

na execução de obras ou do exercício funcional à satisfação do bem comum.

A respeito do tema, salienta Alexandre de Moraes:

‘Assim, o princípio da eficiência é aquele que impõe à

Administração Pública direta e indireta e a seus agentes a

persecução do bem comum, por meio do exercício de suas

competências de forma imparcial, neutra, transparente,

participativa, eficaz, sem burocracia, e sempre em busca da

qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais

necessários para a melhor utilização possível dos recursos

públicos, de maneira a evitar-se desperdícios e garantir-se um

maior rentabilidade social. Note-se que não se trata da

consagração da tecnocracia, muito pelo contrário, o princípio

da eficiência dirige-se para a razão e fim maior do Estado, a

prestação dos serviços sociais essenciais à população, visando a

adoção de todos os meios legais e morais possíveis para a

satisfação do bem comum.’ (Moraes, Alexandre, Direito

Constitucional, 5ª ed., Atlas, 1999, p. 294)

A inserção na Constituição Federal da eficiência como princípio

constitucional da administração pública, fundamental e expresso, não deixa

margem a qualquer dúvida: de um lado, que é legítima, e mesmo necessária, a

investigação ampla da eficiência das ações administrativas pelo Poder

Judiciário, e, de outro, que a Administração deve cumprir seus contratos com o

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fim do bem social. A atuação ineficiente da Administração, portanto, é ilegítima

e pode, inclusive, configurar ato de improbidade administrativa previsto no

artigo 11 da Lei nº 8.429/92.

No contexto constitucional, o administrador está vinculado ao

princípio da eficiência. A sua desídia na execução de seus contratos é passível

de responsabilização e a sua margem de discricionariedade é mínima, não

contemplando os contratos inadimplidos.

Conclui Maria Sylvia Zanella Di Pietro que o controle da

Administração é “o poder de fiscalização e correção que sobre ela (a

administração pública) exercem os órgãos dos Poderes Judiciário, Legislativo e

Executivo, com o objetivo de garantir a conformidade de sua atuação com os

princípios que lhe são impostos pelo ordenamento jurídico.”

A definição anterior estará completa ao agregarmos o Ministério

Público, que pode exercer o controle extrajudicial ou judicial, o cidadão e ainda

as associações civis, que exercem o controle da administração através do

Judiciário, por meio da ação civil pública. Não se pode arredar a assertiva de que

as normas constitucionais que estabelecem os direitos sociais são eficazes e

vinculam a administração para sua implementação e por serem os direitos

sociais dotados de eficácia, e para alguns constituindo mesmo direitos

fundamentais, que não seriam passíveis de abolição por emenda constitucional,

o seu não reconhecimento possibilita aos interessados/legitimados demandarem

judicialmente por sua implementação.

As leis que integraram as normas constitucionais da ordem social

regulam a própria discricionariedade do administrador, apontando-lhe a melhor

solução para atender a finalidade constitucional. Esta Administração está

também adstrita ao princípio da razoabilidade, pois o efetivo exercício dos

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direitos sociais não pode ser postergado por sua inação ou ação que contrarie os

ditames constitucionais e legais.

3. DA LIMINAR

Considerando o estado atual das Ruas e Avenidas da Cidade de

Itapirapuã, onde tais Ruas e Avenidas estão a cada dia mais inviabilizadas de

tráfego, tudo em razão da insegurança pública local, gerada pela má iluminação,

a população, com toda razão, tem exigido imediatas providências para que essas

Ruas e Avenidas possam ser utilizadas sem riscos de lesão à integridade pessoal,

patrimonial dos cidadãos, saúde e segurança.

Com a troca de lâmpadas, tornou-se simplesmente imprestável o

serviço de iluminação pública desta Cidade, onde a população, além de gozar de

uma péssima iluminação, se viu obrigada a pagar uma nova modalidade de

tributo, a chamada CONTRIBUIÇÃO PARA CUSTEIO DA ILUMINAÇÃO

PÚBLICA – COSIP.

Como dito, as lâmpadas foram substituídas, e com isso, a atual

iluminação pública gera insegurança à toda população e a nova substituição das

lâmpadas de forma adequada não pode mais ser adiada e muito menos aguardar

o findar da presente ação, o que, per se, evidencia o periculum in mora; também

está fartamente evidenciado o fumus boni juris; a antecipação liminar da

prestação jurisdicional é admitida e considerada inerente ao processo coletivo,

com previsão expressa no sistema legal, conforme ensinamento ministrado pelo

eminente Professor Arruda Alvim, verbis

3.1 - No sistema do Código de Proteção e

Defesa do Consumidor, até mesmo a própria

tutela liminar do direito e, não uma tutela

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apenas cautelar, poderá ser concedida, como,

ainda, verifica-se pelo texto, a satisfação

específica do bem tutelado. É o que vem

disposto no art.84, par. 3º, do Código de

Proteção e Defesa do Consumidor, e, no art.84

e seu parágrafo 1º, verifica-se que a solução

das perdas e danos foi praticamente descartada

pelo legislador, somente tendo lugar, quando

for inviável a tutela específica, ou quando,

impossível essa, que também não se possa

assegurar resultado equivalente; ou, por certo,

quando o autor por essa solução livremente

optar. Na LACP é possível a concessão de

medida liminar, "com ou sem justificação",

medida esta que não é, propriamente, uma

cautelar, senão que, ao menos em parte, é

representativa de adiantamento da eficácia da

sentença, se esta vier a ser favorável ao autor

(25)". (Revista do Advogado, AASP, julho/93, nº

40/26),

3.2 Do Fumus Boni Iuris

O fumus boni iuris encontra-se sedimentado nas teses mestras que

dão escora ao pedido liminar, com fundamento no direito material contido em

todos os artigos e princípios referidos anteriormente, bem como nas provas

demonstradas nos autos.

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3.3 Do periculum in mora

O perigo da demora da decisão pode acarretar graves danos a todos

os cidadãos que por Ruas e Bairros trafegarem, e que pelo estado atual, estão

expondo diretamente suas famílias à falta de segurança e riscos à saúde, sendo

vítimas da má execução de um serviço público –mau - prestado pela

Administração Pública, onde esta agiu de forma abusiva, não prestando o

serviço com devida eficiência que era esperado.

Requer, a concessão de ordem liminar para determinar à ré a

imediata substituição das lâmpadas, retirando as lâmpadas de 150 e 70 W- vapor

de sódio e instalando ou reinstalando as lâmpadas de 350 W vapor de sódio nas

Ruas e Avenidas da Cidade às suas próprias custas, sem quaisquer ônus para a

os munícipes, cuja conclusão deverá se dar em no máximo trinta dias. As novas

lâmpadas de Vapor de Sódio, irão permitir um aumento do fluxo luminoso

emitido obtendo-se níveis de iluminação mais aceitáveis nas redes de

Iluminação Pública.

Requer, por imprescindível, e com base no disposto artigo 2º, da

Lei 8.437/92, que o Município de Itapirapuã, na pessoa de seu representante

legal, seja notificado para, querendo, manifestar-se sobre a medida liminar ora

requerida, no prazo de 72 horas.

Requer, ainda, para eficácia da medida liminar e garantia da

imediata troca de lâmpadas, a fixação de multa diária de R$ 2.000,00 (dois mil

reais) no caso de descumprimento da medida.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSPROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE ITAPIRAPUÃ – GOIÁS

Rua 20, Qd. 78, Lt. 08, Ed. do Fórum, Centro, Itapirapuã-GO, Telefone/Fax: 374 – 1236 E-mail: [email protected]

DOS PEDIDOS

Requer o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,

diante de todo o exposto, que seja: (a) citada a Prefeitura Municipal de

Itapirapuã, na pessoa de seu representante legal, para, querendo e sob pena de

revelia, vir responder a presente ação e acompanhá-la até final; (b) julgada

procedente a presente ação, confirmada a ordem liminar e condenada a requerida

a realizar, às suas expensas as substituições de lâmpadas, nos termos requeridos

na liminar.

Requer também a condenação da requerida no pagamento das

verbas de sucumbência.

Protesta pela produção de todas provas em Direito admitidas,

especialmente documentais, testemunhais e periciais.

Dá à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais) para efeitos meramente

fiscais.

Itapirapuã, 31 de março de 2.004.

Luciene Maria Silva Oliveira

Promotora de Justiça

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LIMINAR

Autos nº 09/04

O Ministério Público Estadual, por sua ilustre representante legal

nesta Comarca, no uso de suas atribuições constitucionais de proteção aos

interesses difusos e coletivos, preconizados no artigo 127, caput, e incisos II e

III do artigo 129, da Constituição Federal, combinados com o artigo 25, inciso

IV, alínea “b”, da Lei nº 8.625/85 e seu correspondente na Lei complementar

Estadual nº 25/98, na disposições contidas nas Leis nº 7.347/85 e nº 8.078/90,

ingressou em juízo e propôs a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA a ser

processada segundo o rito ordinário (art. 282 e sgts. do Código do Processo

Civil), com PEDIDO DE LIMINAR, contra o MUNICÍPIO DE ITAPIRAPUÃ.

Funda-se nos dispositivos constitucionais e infraconstitucionais já

mencionados, conferindo ao Ministério Público, enquanto Defensor da Ordem

Jurídica e como, na hipótese, defensor dos interesses coletivos ou difusos,

esteia-se a legitimidade para ajuizar ações civis públicas.

Sustenta sua pretensão no argumento de que a atual administração

municipal, além de instituir taxa relativa ao custeio da iluminação pública - que,

inclusive, terri sua constitucionalidade questionada através do documento de fls.

20 - não vem oferecendo à população satisfatório serviço de iluminação,

deixando seus usuários a míngua de sofrerem danos em sua integridade física

em virtude da falta de segurança decorrente da má iluminação.

Acrescenta que o serviço tornou-se imprestável tendo em vista a

troca das lâmpadas de vapor de sódio de 350W por lâmpadas de 150 e 70W, que

apresentam baixo nível de iluminação e grandes descontinuidades estando,

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portanto, fora dos padrões de qualidade dos serviços públicos de energia

elétrica.

Postula, ao final, seja concedida ordem liminar para determinar à ré

imediata substituição das lâmpadas sem quaisquer ônus para a população, no

prazo de 30 dias.

Requer ainda, seja fixada multa diária de R$ 2.000,00 (dois mil

reais) em caso de descumprimento da medida.

Com inicial adveio farta documentação, inclusive o INQUÉRITO

CIVIL PÚBLICO Nº 02/2004 (fl.17/40).

Intimado para se manifestar, nos termos do artigo 2º da Lei nº

8.43792, o representante legal do município pugnou pelo indeferimento da

liminar pleiteada, aduzindo que há insuficiência de receita para cobrir as

despesas com a iluminação pública, mesmo com as lâmpadas de menor potência

e que o deferimento da medida acarretaria grandes aumentos nas despesas

mensais do Município, as quais não poderia suportar.

Acrescentou que através de atos, atitudes e ações honestas,

responsáveis e planejadas, tem conseguido realizar alguns investimentos sociais.

Era o necessário a relatar.

Decido.

“O direito de viver e de trabalhar em meio ambiente sadio deve ser

considerado como um dos direitos fundamentais do homem, impondo-se ao

respeito de todos e exigindo uma proteção vigilante do legislador e do

juiz” (“Carta de Brasília”, VIII Reunião do Conselho Central da União

Internacional dos Magistrados”.

As informações prestadas não me convenceram da inexistência dos

requisitos necessários para concessão da liminar pleiteada na exordial.

O argumento de que, caso concedida a liminar, acarretará aumento

nas despesas mensais do Município, sem provisão de acréscimo na fonte de

arrecadação é um absurdo, posto que das informações prestadas é possível

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auferir que a Prefeitura tem realizado gastos com fatos que não tem tanta

prioridade quanto a iluminação pública que está intimamente ligada à segurança

pública e o bem-estar da comunidade local.

Iniludível o eminente risco e grave prejuízo a que está sendo

submetida a COMUNIDADE quando expõe a perigo a vida dos MUNÍCIPES

fazendo-os conviver com uma iluminação pública, sem as condições e normas

adequadas, inclusive diante da atual contribuição instituída por lei municipal.

Há nos autos, prova suficiente de risco a segurança e o bem-estar

dos munícipes, o que faculta ao Juiz a concessão de providência acautelatória,

prendendo-se ao seu prudente arbítrio e livre convencimento o qual nesse mister

e na avaliação do caso concreto, não pode ser substituído, sob o risco de

malferição do princípio do juiz natural.

Com efeito, não é difícil compreender que a omissão da Ré tem

redundado no agravamento do “estado de alerta” em que vivem todos aqueles

que transitam pelos logradouros e vias públicas desta comuna e, principalmente

os estudantes do período noturno, que têm o dissabor da falta de proteção do

BEM JURÍDICO maior que é a vida.

Do simples ato de trafegar pela cidade no período noturno é

possível observar que a comunidade de Itapirapuã encontra-se em risco com sua

segurança.

Qualquer pedestre pode ser atropelado por veículo automotor em

face da pouca iluminação pública na via terrestre.

A fraca luminosidade noturna existente é favorável, a ação de

vândalos e marginal.

Não para por aí, a ilumiação pública de frente a Cadeia Local é tão

precária que falta inclusive lâmpadas em alguns refletores, o que pode contribuir

com a fuga de detentos, a exemplos do que já ocorreu no dia 14/06/2003,

quando fugiram 08 presos.

Registre-se que a iluminação daquela época é mesma de hoje.

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É evidente, pois, tendo todos, indistinta ou indivisivelmente como

povo o direito ao USO COMUM de ruas, praças, nesta cidade, está a

COLETIVIDADE exposta a eminente risco que poderá ceifar VIDAS, em razão

da conduta irresponsável da ré, que detém poderes e meio para fazer volta o

estado anterior da iluminação pública que existia na cidade e foi alterada pela

atual administração municipal, conforme se extrai dos depoimentos existentes

no Inquérito Civil.

Preleciona Hely Lopes Meireles (in Direito Administrativo

Brasileiro, citado na obra A Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional,

pg. 52, ed. Saraiva) que não basta o controle da poluição e a preservação dos

recursos naturais para a completa proteção ambiental: torna-se necessária a

restauração dos elementos destruídos ou degradados pelo homem. Daí poque há

necessidade, hoje, de que se aja com o poder de polícia preventiva e repressiva,

compelindo o poder público municipal a fim de evitar dano ao festejado bem

jurídico da coletividade, custeando a recomposição do estado natural.

Não é exagero dizer existe risco, no patrimônio cultural e quiçá

palsagístico, considerando que os populares estão tolhidos até mesmo no direito

de suas caminhas após a jornada de trabalho e ainda os passeios na casa dos

vizinhos, a pé, como só é de costume e uma comunidade pequena e pacata como

a desta cidade. Tal fato é notório.

Segunda a lição do doutrinador Vicente Grecco, in Direito

Processual Civil Brasileiro (v. 21/169), é “o de conhecimento geral e por isso

mesmo de prova desnecessária e inútil”.

Torna-se, assim, dispensável a realização de justificação.

DO FUMUS BONI JURIS

Sobejamente comprovado através de legislação e doutrina

invocadas, não tem amparao loegal deixar a iluminação pública na forma que

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está, na medida em que coloca em risco a vida, a segurança e o bem-estar da

COMUNIDADE, sobretudo porque esta tem contribuído com a Taxa de

Iluminação Pública.

Realmente, se houver continuidade do estado de alerta, dado ao

eminente risco à VIDA da POPULAÇÃO desta cidade, estar-se-à violando

norma de ordem pública, afrontando-se, sobretudo o interesse social, e até

mesmo o direito de ir e vir do cidadão no período noturno.

A proteção do meio ambiente vem estabelecida nas leis 7.347/85 e

6.938/81. Esta última, como legislação substantiva, define as hipóteses de lesão

ao MEIO AMBIENTE e as conseqüentes penalidades aplicáveis às infrações,

nela, tipificadas, enquanto a Lei nº 7.347/85, como legislação adjetiva, traça as

regras de procedimento para aplicação daquela, não tendo, em princípio, o

objetivo de instituir outras espécies de penalidades não previstas na Lei nº

6.938/81. A “obrigação de fazer ou não fazer” a que a Lei se refere (7.347/85)

há de encontrar os seus lindes demarcados na Lei substantiva (6.938/81), além

da garantia constitucional.

DO PERICULUM IN MORA

Demonstrado satisfatoriamente o estado de calamidade pelo

eminente risco que a população está exposta por não atender as condições

mínimas especiais estabelecidas a se proteger a integridade física da

coletividade.

A não concessão da cautelar representaria verdadeira negação de

vigência a princípios de ordem pública, além é claro, da permanente lesão

sofrida pelos MUNÍCIPES, eis que, estão com seus sublimes direitos ameaçados

e vivem em constante estado de alerta.

Desse modo, presentes os requisitos hábeis à concessão da liminar,

deve esta operar seus efeitos a favor da COLETIVIDADE, protegendo-se, por

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conseguinte, os inalienáveis e preferenciais interesses coletivos, evitando-se

dano de difícil reparação aos munícipes.

Isto posto, DEFIRO A LIMINAR, nos termos da exordial e, em

conseqüência, DETERMINO, que o Município de Itapirapuã, faça a substituição

das lâmpadas de 150 e 70 W - vapor de sódio por lâmpadas de 350 W vapor de

sódio nas Ruas e Avenidas da Cidade, sem quaisquer ônus para os usuários,

devendo o serviço estar concluído no prazo máximo de trinta dias, a contar da

intimação desta.

Desde já fixo multa diária por atraso em R$ 2.000,00 (dois mil

reais) a serem suportados pela municipalidade, contados a partir do trigésimo dia

da intimação do requerido do teor da presente decisão.

Cite-se o requerido, via oficial, para, querendo, contestar a ação no

prazo de 15 (quinze) dias, notificando-o por todo teor desta, advertindo que o

descumprimento desta poderá ensejar processo por crime de responsabilidade ou

desobediência.

Intimem-se.

Expeça-se o competente mandado.

Itapirapuã, 23 de abril de 2004.

Roberto Neiva Borges

Juiz Substituto

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