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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA-PR. URGENTE MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, através da Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência desta Capital (Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência), com endereço na Avenida Marechal Floriano Peixoto, nº 1251, Bairro Rebouças, em Curitiba/PR, CEP 80.230-100, fone (41)3250-4795, onde recebe intimações e notificações, por meio de sua Promotora de Justiça, infra-assinada, no uso de suas atribuições legais, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 5º, caput, 23, inciso II, 127 e 129, 203, inciso IV, todos da Constituição Federal, na Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1999 e no Decreto n.º 3.298, de 20 de dezembro de 1999, 798 e seguintes do Código de Processo Civil, vem por intermédio desta propor a instauração de MEDIDA CAUTELAR INOMINADA - COM PEDIDO LIMINAR – VISANDO A APLICAÇÃO DE MEDIDA DE PROTEÇÃO AO JOVEM ...... Consistente na determinação judicial de imediato encaminhamento para entidade de abrigamento com recursos adequados e necessários

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA … · Parquet para a propositura da ação civil pública, ... moradia, alimentação), de natureza indisponível, é extraída do

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA

CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA

DE CURITIBA-PR.

URGENTE

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ,

através da Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos da Pessoa

Portadora de Deficiência desta Capital (Centro de Apoio Operacional

das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos da Pessoa

Portadora de Deficiência), com endereço na Avenida Marechal Floriano

Peixoto, nº 1251, Bairro Rebouças, em Curitiba/PR, CEP 80.230-100, fone

(41)3250-4795, onde recebe intimações e notificações, por meio de sua

Promotora de Justiça, infra-assinada, no uso de suas atribuições legais, vem à

presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 5º, caput, 23,

inciso II, 127 e 129, 203, inciso IV, todos da Constituição Federal, na Lei nº

7.853, de 24 de outubro de 1999 e no Decreto n.º 3.298, de 20 de dezembro

de 1999, 798 e seguintes do Código de Processo Civil, vem por intermédio

desta propor a instauração de

MEDIDA CAUTELAR INOMINADA - COM PEDIDO LIMINAR – VISANDO A

APLICAÇÃO DE MEDIDA DE PROTEÇÃO AO JOVEM

......

Consistente na determinação judicial de imediato encaminhamento

para entidade de abrigamento com recursos adequados e necessários

ao atendimento das necessidades especiais de tratamento de

dependência química e de saúde mental, bem como na aplicação das

medidas legais em defesa dos direitos da pessoa portadora de

deficiência ...., brasileiro, solteiro, referido nos autos como sendo pessoa

portadora de deficiência e doença mental (CID 19 – transtornos mentais e

comportamentais devidos ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras

substâncias psicoativas e, CID 25 – transtorno esquizoafetivo – Atestado

Médico acostado aos autos às fls. 294/295) em situação constante de risco,

nascido aos 10/09/1982, portador da cédula de identidade RG nº 7.374.703-1,

atualmente com 28 anos de idade, filho de ...., atualmente internado no

Hospital Psiquiátrico ...., localizado na ....., em razão dos fatos e razões a

seguir expostos:

I – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA A

PROPOSITURA DA PRESENTE AÇÃO:

A Constituição Federal, em seu art. 127, elevou o

Ministério Público à condição de órgão essencial à justiça, atribuindo-lhe,

como poder/dever, a defesa da ordem jurídica, do regime democrático

e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Para tanto, conferiu legitimidade processual ao

Parquet para a propositura da ação civil pública, destinada à proteção dos

interesses individuais homogêneos, difusos e coletivos.

A propósito:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:(...)III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

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Ainda, a Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993,

que institui a Lei Orgânica do Ministério Público, em simetria com o preceito

constitucional, dispôs, em seu art. 25, inciso IV, alínea a:

Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:(...)IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;

Por sua vez, a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de

1989, que dispôs sobre o apoio à pessoa com deficiência, conferiu

expressamente ao Ministério Público, legitimidade ativa para atuar na defesa

dos direitos coletivos ou difusos desse segmento, conforme se vê do art. 3º:

Art. 3º As ações civis públicas destinadas à proteção de interesses coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal; por associação constituída há mais de 1 (um) ano, nos termos da lei civil, autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção das pessoas portadoras de deficiência.

Ainda, no tocante à matéria, o entendimento do

Superior Tribunal de Justiça é pacífico ao reconhecer:

“PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA, MENTAL OU SENSORIAL. SUJEITOS HIPERVULNERÁVEIS. fornecimento de

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prótese auditiva. Ministério PÚBLICO. LEGITIMIDADE ATIVA ad causam. LEI 7.347/85 E LEI 7.853/89.1. Quanto mais democrática uma sociedade, maior e mais livre deve ser o grau de acesso aos tribunais que se espera seja garantido pela Constituição e pela lei à pessoa, individual ou coletivamente.(...)9. A tutela dos interesses e direitos dos hipervulneráveis é de inafastável e evidente conteúdo social, mesmo quando a Ação Civil Pública, no seu resultado imediato, aparenta amparar uma única pessoa apenas. É que, nesses casos, a ação é pública, não por referência à quantidade dos sujeitos afetados ou beneficiados, em linha direta, pela providência judicial (= critério quantitativo dos beneficiários imediatos), mas em decorrência da própria natureza da relação jurídica-base de inclusão social imperativa. Tal perspectiva – que se apóia no pacto jurídico-político da sociedade, apreendido em sua globalidade e nos bens e valores ético-políticos que o abrigam e o legitimam – realça a necessidade e a indeclinabilidade de proteção jurídica especial a toda uma categoria de indivíduos (= critério qualitativo dos beneficiários diretos), acomodando um feixe de obrigações vocalizadas como jus cogens.10. Ao se proteger o hipervulnerável, a rigor quem verdadeiramente acaba beneficiada é a própria sociedade, porquanto espera o respeito ao pacto coletivo de inclusão social imperativa, que lhe é caro, não por sua faceta patrimonial, mas precisamente por abraçar a dimensão intangível e humanista dos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade. Assegurar a inclusão judicial (isto é, reconhecer a legitimação para agir) dessas pessoas hipervulneráveis, inclusive dos sujeitos intermediários a quem incumbe representá-las, corresponde a não deixar nenhuma ao relento da Justiça por falta de porta-voz de seus direitos ofendidos.11. Maior razão ainda para garantir a legitimação do Parquet se o que está sob ameaça é a saúde do indivíduo com deficiência, pois aí se interpenetram a ordem de superação da solidão judicial do hipervulnerável com a garantia da ordem pública de bens e valores fundamentais – in casu não só a existência digna, mas a própria vida e a integridade físico-psíquica em si mesmas, como fenômeno natural.12. A possibilidade, retórica ou real, de gestão individualizada desses direitos (até o extremo dramático de o sujeito, in concreto, nada reclamar) não os transforma de indisponíveis (porque

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juridicamente irrenunciáveis in abstracto) em disponíveis e de indivisíveis em divisíveis, com nome e sobrenome. Será um equívoco pretender lê-los a partir da cartilha da autonomia privada ou do ius dispositivum, pois a ninguém é dado abrir mão da sua dignidade como ser humano, o que equivaleria, por presunção absoluta, a maltratar a dignidade de todos, indistintamente.13. O Ministério Público possui legitimidade para defesa dos direitos individuais indisponíveis, mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada. Precedentes do STJ.14. Deve-se, concluir, por conseguinte, pela legitimidade do Ministério Público para ajuizar, na hipótese dos autos, Ação Civil Pública com o intuito de garantir fornecimento de prótese auditiva a portador de deficiência. 15. Recurso Especial não provido.”1

Outrossim, a legitimidade do Ministério Público para

atuar em defesa da pessoa com deficiência individualmente considerada, em

situação de vulnerabilidade social, pela natureza dos direitos admoestados

(vida, saúde, moradia, alimentação), de natureza indisponível, é extraída do

próprio art. 127 da CF, conforme jurisprudência já pacificada pelo Superior

Tribunal de Justiça:

“PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO A MENOR CARENTE. DIREITO À SAÚDE. DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. LEGITIMAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ART.127 DA CF/88. PRECEDENTES.1. O Ministério Público possui legitimidade para defesa dos direitos individuais indisponíveis, mesmo quando a ação vise à tutela de pessoa individualmente considerada.2. O artigo 127 da Constituição, que atribui ao Ministério Público a incumbência de defender interesses individuais indisponíveis, contém norma auto-aplicável, inclusive no que se refere à legitimação para atuar em juízo.3. Tem natureza de interesse indisponível a tutela jurisdicional do direito à vida e à saúde de que

1 REsp 931.513/RS, Rel. Ministro CARLOS FERNANDO MATHIAS (JUIZ FEDERAL CONVOCADO DO TRF 1ª REGIÃO), Rel. p/ Acórdão Ministro HERMAN

BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/11/2009, DJe 27/09/2010.

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tratam os arts. 5º, caput e 196 da Constituição, em favor de menor carente que necessita de medicamento. A legitimidade ativa, portanto, se afirma, não por se tratar de tutela de direitos individuais homogêneos, mas sim por se tratar de interesses individuais indisponíveis. Precedentes: EREsp 734493/RS, 1ª Seção, DJ de 16.10.2006; REsp 826641/RS, 1ª Turma, de minha relatoria, DJ de 30.06.2006; REsp 716.512/RS, 1ª Turma, Rel.Min. Luiz Fux, DJ de 14.11.2005; EDcl no REsp 662.033/RS, 1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, DJ de 13.06.2005; REsp 856194/RS, 2ª T., Ministro Humberto Martins, DJ de 22.09.2006, REsp 688052/RS, 2ª T., Ministro Humberto Martins, DJ de 17.08.2006.4. Embargos de divergência não providos.2

II – DOS FATOS:

Em 19/05/2008, foi instaurado nesta Promotoria de

Justiça de Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência, através de

Termo de Declarações da Senhora .... (genitora do jovem ....), Procedimento

Administrativo nº 031/08, para verificar a situação de risco em que, em tese,

se encontrariam o jovem .... e a princípio a então declarante, ambos referidos

como sendo pessoas com transtornos mentais, conforme Atestados Médicos

que a mesma forneceu a este órgão ministerial (fls. 09 e 12), bem como

noticiando o abandono e negligencia do genitor (residente no município de

Arapongas/PR) de ... para com ele.

Diante da situação ora veiculada nos autos este

Ministério Público oficiou a Fundação de Ação Social (ofícios acostados às

17/18, 39, 72, 90/91, 108 e 147/148), a Secretaria Municipal de Saúde

(ofícios acostados às 21/22, 40, 73, 92/93, 109 e 144) e a Promotoria de

Justiça de ... (ofícios acostados às 19/20, 41, 63, 66, 71), para ciência da

situação deflagrada e o empreendimento das medidas protetivas e

providências cabíveis em seus âmbitos de atuação.2 EREsp 819010/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, Rel. p/ Acórdão Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/02/2008, DJe 29/09/2008.

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Em data de 20/05/2008 a idosa, Senhora ....,

compareceu a este Ministério Público, relatando que:

“que é pessoa idosa, que não possui mais condições de cuidar de sua filha ... e neto ... que possuem doença mental. Que a declarante tem doença arritmia cardíaca;Que sabe que a filha precisa e quer ser internada para se tratar, todavia, que não tem condições de ficar cuidando do neto ..., pois em razão do transtorno bipolar nunca sabe como estará seu estado, temendo quando ele fica nervoso; que ... não tem condições de cuidar de Giuliano, que o pai teria essa responsabilidade, mas também não quer;(...)Que o pai de ... nunca quis prestar-lhe assistência, que o abandonou completamente;Que a declarante tem 4 filhos, .... (que mora em Curitiba, e é militar do exército, solteiro, que é o único com a qual ela poderia contar para auxiliá-la), ... (que mora em ..., casado, e é da polícia militar) e a ... (que trabalha no Banco do Brasil da Praça Tiradentes, separada, tem duas filhas); que não quer dar endereço e telefone porque os filhos não querem se envolver;(...)Que a filha de Aparecida, sua neta ..., é policial militar, trabalha por escala, e segundo a declarante não teria como atender essa situação;”(SIC)

Infere-se dos autos que o genitor de .... chegou a

figurar como curador do mesmo, desistindo, posteriormente, da curatela (fls.

31/33 e 37/38).

Através do ofício nº 108/2009-2ª PJ (fls. 97/102) a

2ª Promotoria de ...., encaminha Relatório Social nº 005/09 (cópia inclusa),

por meio do qual noticia-se que:

“...O pai e o tio declaram que antes de vir para ..., ... agrediu a mãe e a avó materna. O primeiro expôs que o mesmo realizou pequenos furtos em ... para suprir os gastos com psicotrópicos.A avó materna recebe o BPC de .... e envia para o tio materno, que administra o dinheiro. Os custos adicionais para atender as necessidades econômicas de ... têm

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permanecido a encargo do tio materno, conforme declaração do mesmo.O pai acrescentou que logo que o rapaz chegou em ..., ele pôs fogo em sua casa e depois tomou insulina, entrando em coma, acreditando-se ter sido tentativa de suicídio.Desde que ... chegou nesta cidade, já foi internado três vezes: Jandaia, Rolândia e Londrina. O último internamento foi no ..., permanecendo três meses, de 13/10/2008 à 23/01/2009. Em meio a este internamento, ... fugiu do local, sendo encontrado em ..., em péssimas condições de higiene, sob efeito de substâncias psicoativas, sendo reconduzido ao local de internamento.(...)Em sua residência só tem uma cama e um colchão. Tudo que é colocado a mais é vendido por .....(...)O pai acredita que o filho necessita permanecer continuamente em internamento, pois vive em situação de risco, temendo pela sua segurança, devido à compra de psicotrópicos, quadro este agravado pela doença mental”.

Em 26/06/2009 compareceram a este Ministério

Público os senhores ... (irmão da senhora ...) e ...., declarando que:

... a consulta médica psiquiátrica que foi agendada para 30/07/2009 seja antecipada para o mais breve possível diante da gravidade da situação em que se encontra ..., pois o mesmo está em situação de risco (voltou a usar “crack”);(...)Que diante da situação de risco em que ... se coloca e a terceiros, a declarante concorda que o mesmo seja encaminhado para uma entidade de abrigamento com recursos adequados e necessários as necessidades especiais que seu neto ... possui; Indagada por esta Promotoria de Justiça sobre se no seu entendimento o neto ... possui condições de se auto cuidar, como por exemplo fazer sua comida, lavar roupa, tomar seus medicamentos sozinhos, ter conta em banco, a declarante ... aduziu veementemente que .... não possui a menor condição de se auto cuidar, precisando alguém que cuide dele 24 horas por dia e, que as pessoas que cuidam dele tem que ter força para contê-lo quando está em crise de agressividade e, que pelo comportamento que .... tem a mente dele é de uma criança de 13 anos; que ... não possui nenhum bem em seu nome, sendo que somente recebe o Benefício

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de Prestação Continuada”.

Diante das diversas notícias de que o genitor de ...

nega-se a prestar a assistência e os cuidados de que o mesmo necessita, haja

vista seu quadro de saúde mental, esta Promotoria de Justiça requisitou,

através do ofício nº ... (fls. 96), datado de 12/06/2009, a instauração de

Inquérito Policial para a devida apuração de suposta prática de crime de

abandono contra o referido jovem por seu genitor .... Tal inquérito está em

trâmite junto ao 6º Distrito Policial da Capital, sob o nº 238/09 (fls. 135).

Em resposta a este Ministério Público, a Fundação de

Ação Social, através do ofício nº 1317/200—PGM-EA (fls. 122/125), datado de

23/07/2009, relata que:

“... No primeiro momento o jovem se manteve em seu quarto, a idosa fez o seguinte relato:Procurou o Ministério Público devido estar com dificuldade em atender seu neto que tem diagnóstico de esquizofrenia e é dependente químico (álcool e outras drogas).Faz uso contínuo das medicações, Carbamazepina 2x ao dia – Diazepan 6x ao dia – Levosine 3x ao dia, Ziprex em falta. Teve convulsão nesta data.(...)Os pais são separados, a mãe tem diabete e depressão, reside em instituição (...), o pai casou-se novamente e tem duas filhas pequenas e, não aceita o jovem para morar consigo.(...)A idosa ressaltou que seu filho ... é militar e no momento está a serviço no Haiti.(...)O outro filho senhor, ... reside em ... PR.(...)Salientou sobre sua saúde, que faz uso de antidepressivo com acompanhamento médico.(...)Contatamos com a irmã de ... a jovem ..., esclarecemos a respeito do dever legal e moral de prestar cuidados e atendimentos ao irmão. A jovem declarou que sai de casa as 7horas e retorna as 20horas e, que portanto não tem como atender o

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irmão.(...)PARECER SOCIAL:Os avós com idade avançada, apresentam dificuldades em atender o jovem adequadamente. A genitora não apresenta condições de saúde para atendimento, estando abrigada no momento.(...)Quanto a necessidade de encaminhar o jovem para entidade de abrigamento, consideramos que sendo comprovado a não capacidade do jovem em administrar a própria vida, é o melhor para os avós já idosos, e para o jovem que poderá ter acompanhamento especializado e supervisão constante com atividades dirigidas; tendo em vista que os demais familiares não apresentam disponibilidade para atendê-lo no dia-a-dia, segundo a avó”. (SIC)

A Secretaria Municipal de Saúde, através do ofício nº

.... (fls. 127/128), datado de 12/08/2009, informa que:

“Foi agendada consulta para a especialidade de psiquiatria no Hospital das Clínicas para o dia 22.07.09, porém, nesta data, embora o jovem estivesse acompanhado pela avó, ... evadiu-se do local e a consulta foi reagendada 27.07.2007 às 07h30.Na data da consulta o jovem foi encaminhado pelo Doutor ... para internamento no Hospital ..., onde se encontra até a presente data.(...)A ... também informou que o jovem no dia do internamento encontrava-se muito agitado e agressivo. (...) a idosa ficou sabendo que o jovem ao passar por uma crise foi contido por seis funcionários. Diante dos fatos ocorridos a mesma manifestou o seu receio de ser curadora e responsabilizar-se pelo mesmo”.(SIC)

Desta feita, verifica-se do Relatório Social, datado de

29/09/2009, encaminhado pela Fundação de Ação Social:

“A Senhora ... informou que seu filho, senhor ..., esteve na Promotoria e explicou que não reside na cidade e não poderá ser curador do sobrinho. A neta Flávia não foi a Promotoria e continua com a mesma posição de não poder assistir o irmão (...). A senhora ... disse que se dispõe a

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ser a curadora do neto.(...) a idosa respondeu que nenhum familiar se dispõe a complementar caso necessário, com pagamento de mensalidade de instituição para o jovem.(...)Em 18/09/2009 recebemos ligação telefônica da assistente social ... do MP, solicitando providências da FAS quanto ao abrigamento do jovem, tendo em vista o risco para a idosa.(...)21/09/2009 – Contatamos via telefone com a senhora ... no período da tarde, a mesma informou que no sábado 19/09/2009, o jovem saiu de casa aproximadamente 14h trajando calça, camiseta e tênis novos, retornando por volta de 22h, vestido apenas de calção e camiseta, relatando uso de crack, após alimentar-se foi dormir.(...)25/09/2009 – Em contato com a assistente social ..., a mesma relatou que nesta data senhora .... telefonou dizendo do retorno do neto ao domicílio e da fala do mesmo em atentar contra a própria vida.(...)A senhora ... nos contatou via telefone, disse que em 24/08 o neto saiu de casa e retornou várias vezes, segundo ela, saia para uso de drogas, deu a ele pequenas quantias de dinheiro nas idas e vindas, ao todo R$ 50,00 (cinquenta reais), estava agitado e novamente falando em atentar contra a própria vida, dormiu em casa. Na presente data foi com o neto até a Unidade de Saúde ... ..., após atendimento foi liberado à retorno ao domicílio para aguardar comunicação de vaga em internamento hospitalar. Relatou que o neto estava agitado e fazendo ameaças contra ela, havia saído, provavelmente atrás de droga, deu a ele R$ 4,00 (quatro reais).Também fez o seguinte relato, disse que a compra de roupas, tênis, relógios e outros objetos de uso pessoal, é constante, porém o neto troca tudo por crack. Relatou não conseguir por limites nas solicitações do neto, pois ele incomoda muito pedindo com insistência o que quer. (...) A senhora .... ressaltou que está “esgotada” (sic) coma situação.(...)29/09/2009 – Em contato com a assistente social ..., a mesma informou que fez contato com a senhora ... nesta data, a mesa informou que o neto retornou para casa em 25/09 tarde da noite, perdendo a vaga do internamento. No sábado doa 26/09 o neto voltou esteve bem agitado, saindo para uso de drogas, retornou com uma pessoa, a qual foi orientada pela neta a não retornar no prédio.PARECER SOCIAL

1

A senhora ..., idosa e com problemas de saúde, conta no momento somente com o apoio da filha que apresenta problema mental, e solicita auxílio para encaminhamento do neto para instituição de abrigamento. (...). É visível o cansaço da idosa e nos preocupa seu estado de saúde, pois está sobrecarregada na assistência ao neto.(...)Com o passar dos dias após a alta hospitalar do Hospital ..., a situação tem piorado, segundo a senhora ...., ... tem saído constantemente de casa para uso de crack e a pressiona para dar dinheiro para comprar a droga e também que providencie objetos de uso pessoal os quais utiliza como moeda de troca para conseguir crack, faz ameaças contra a própria vida e também a ela.Solicitamos através da Central de Vagas da FAS a verificação de vaga para o jovem em instituição de longa permanência para adultos, até o momento sem confirmação”. (SIC)

No derradeiro Atestado Médico acostado aos autos à

fls. 294/295, emitido pelo médico Doutor ...., declara-se que:

“Atesto que .... passou por avaliação psiquiátrica, sendo diagnosticado como portador dos CID F25.9 + F19.5. Quadro crônico, de prognóstico bastante reservado, não passível de remissão, necessitando fazer uso contínuo de medicamentos, com consequente incapacidade laborativa (já aposentado por invalidez no INSS) com incapacidade para gerir seus bens e no manejo de dinheiro, requerendo assistência para a prática de atos da vida civil, sendo indicada interdição judicial”

Desta forma, verifica-se que diante do quadro de

saúde mental apresentado pelo jovem ...., a indicação das equipes municipais

de saúde e assistencial social indicam o abrigamento como sendo a melhor

solução para a situação vivenciada por ....

Destarte, informa-se que esta Promotoria de Justiça

ajuizou em 14/05/2010 Ação de Interdição em face do referido jovem,

1

indicando a sua avó materna Sra. .... a figurar como curadora do mesmo,

cujos autos ... encontram-se em trâmite junto a ... Vara Cível desta Capital.

É importante ressaltar que ... já freqüentou muitas

Casas de Apoio e já passou por muitos internamentos em Hospitais

Psiquiátricos, sempre evadindo-se dos locais.

Por derradeiro, nesta data, no período da manhã a

avó materna de ... entrou em contato telefônico com esta Promotoria de

Justiça, conforme se vislumbra da “Certidão” de lavra da assessora Jurídica

deste órgão ministerial (documento cópia inclusa), relatou o que segue:

“(...) que ... fugiu por 5 vezes da última Casa de Apoio em que estava abrigado, tendo a proprietária da citada Casa pedido à ... que o tirasse de lá, pois ela não tinha estrutura para manter .... naquela Casa, em razão de seu quadro de saúde mental, dependência química, agressividade e fugas constantes; que na última fuga .... caiu do muro e machucou feio a perna, tendo ficado um dia inteiro no .... e, de lá foi encaminhado para o Posto 24 horas para internação; que passaram (....) em torno de 3 dias no Posto 24 horas, sem voltar para casa, para não perder a chance de conseguir uma vaga de internação para ....; que ... foi dali encaminhado para o ..., estando muito agressivo; que naquele Hospital foi informada que aquele não era Hospital para atender o caso de ...., pois o mesmo era drogadito e agressivo; que na data de ontem (02/12/2010) foi ali atendida pela médica Dra. ...., a qual maltratou a declarante ..., tratando-a com muita rispidez, gritando com a mesma, dizendo que ela o levasse dali, pois ali não era lugar para ele e que ele era problema da família; que a Sra. .... argumentou, pedindo pelo amor de Deus à médica que o deixasse naquele Hospital mais um pouco, pois não teria para onde levá-lo, que seu esposo tinha acabado de realizar uma outra cirurgia cardíaca, que neste momento ... avançou para cima da declarante dizendo que iria matá-la, tendo sido contido por pessoas que estavam no local; mas a médica estava irredutível, dizendo que daria alta para ele e que a família que se virasse; que foi orientada pela assistente Social Sandra a prestar queixa contra o mal atendimento da médica no 156, mas que quis relatar o fato Ministério Público para explanar como as pessoas tem sido atendidas pelos profissionais da área de saúde mental de ...; Que os profissionais da saúde em nenhum momento mostram

1

entender o que a família está passando e, nem se interessam por tentar auxiliar; Que dali ... foi encaminhado para o Hospital ...., sendo que naquele Hospital já foi informada que ... poderá ficar ali por no máximo 15 dias; Assim a idosa senhora ... está desesperada, pois não tem mais local para abrigar ..., que ele está cada vez mais agressivo, não possuindo, nem ela, nem o esposo e nem tampouco a mãe de ... condições de saúde física, mental e emocional e, nem condições estruturais para atender ... em casa, não sabendo mais o que fazer, pedindo ajuda deste Ministério Público para encaminhar ... para uma entidade de abrigamento que possua recursos de atendimento adequados e contenção necessários ao quadro de saúde mental de ..., que além de dependente químico, possui esquizofrenia e psicose. Agradeceu novamente a atenção que o Ministério Público sempre lhe dá, e que não saberia o que fazer se não este órgão não existisse.”

Diante de todo exposto, de conformidade com os

gestores públicos, malgrado todos os esforços tendentes a efetivar o

abrigamento do jovem ...., em razão de suas atitudes sorrateiras e de

agressividade, bem como em razão do quadro de saúde mental apresentado

pelo mesmo, colocando em risco a sua integridade física e psíquica, bem como

a terceiros, notadamente de sua avó materna (pessoa idosa com problemas

de saúde – arritmia cardíaca), certo é que a questão em apreço vem a ser

muito mais abrangente que uma questão particular, individual de saúde,

ganhando proporções de problema de saúde pública.

Desta feita, além da proteção individual do

jovem ...., a presente demanda busca a proteção da avó idosa de ..., que

permanecerá à mercê dos riscos que advém do quadro de agressividade do

jovem ...., bem como do envolvimento deste com pessoas ligadas ao tráfico

de drogas (crack), as quais já estão, inclusive, cercando a residência da idosa

exigindo dinheiro, enquanto não forem empreendidas ações efetivas de

proteção à idosa e ao jovem.

Portanto, restando notória a situação de risco social,

1

de saúde e de vulnerabilidade a envolver jovem .... (riscos esses estabelecidos

pelas condutas do referido jovem em razão de seu quadro de saúde mental e

uso de drogas – crack), bem assim considerando que não obstante esforços

empreendidos pelos gestores públicos e por este Parquet, não houve êxito nas

medidas encetadas a reverter o quadro de risco moldado ao entorno das

referidas pessoas, tornam-se as mesmas alvo da proteção do Estado, razão

pela qual justifica o manejo da presente demanda por parte deste órgão

ministerial, enquanto garantidor dos direitos fundamentais indisponíveis (vida

e saúde das pessoas em tela), para o fim de que sejam encetadas medidas

urgentes destinadas ao imediato afastamento da situação de risco

exaustivamente demonstrada nesta exordial e ilustrada pela documentação

acostada aos autos de Procedimento Administrativo ....

Por fim, vale ressaltar, mais uma vez, que as

medidas pleiteadas na presente ação visam não apenas a proteção e bem-

estar do jovem ...., como também a salvaguarda do seio familiar e da

comunidade do entorno, em razão do perigo a que todos estão expostos pelas

atitudes cometidas por ... e da invasão de pessoas estranhas - envolvidas com

drogas – no edifício em que residem, facilitadas por ele mesmo.

A “Medida de Proteção” ora requerida, destinada à

proteção do jovem ...., prima por concretizar e efetivar seus direitos e

garantias de portadora de deficiência legalmente assegurados, propiciando-

lhes assim, uma existência digna.

Portanto, sendo certa a inviabilidade da permanência

do jovem .... (referido nos autos como sendo pessoa com deficiência) “ad

eternum” em internações hospitalares, bem como perambulando pelas ruas da

cidade, sem destino, à margem da sociedade, sem os atendimentos que lhe

são necessários na área da saúde, social, educacional e de reabilitação, sem o

mínimo de vida digna, pelos motivos já expostos, urge que medida protetiva

de abrigamento, somada a outras providências que venham a ser

1

consideradas pelos órgãos públicos competentes como necessárias ao

resguardo dos direitos, interesses, integridade e bem-estar do aludido

jovem, sejam aplicadas em favor do mesmo, visando garantir-lhe existência

digna e a efetivação de seus direitos.

III - DO DIREITO

"O maior pecado contra nossos semelhantes não é o

de odiá-los, mas de ser indiferentes para com eles"

Bernard Shaw

A Constituição Federal Brasileira, promulgada em 5

de outubro de 1988, visando garantir direitos iguais a todos os brasileiros,

preceitua:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:(...)II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;”

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:(...)IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

Os direitos das pessoas portadoras de deficiência

também são garantidos pela Constituição do Estado do Paraná, nos seguintes

termos:

1

Art. 12. É competência do Estado, em comum com a União e os Municípios:(...)II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;

A Lei Orgânica da Assistência Social, Lei n.º 8.742 de

07 de dezembro de 1993, preceitua:

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

Art. 2º A assistência social tem por objetivos:(...)IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

Art. 13. Compete aos Estados:(...)IV - estimular e apoiar técnica e financeiramente as associações e consórcios municipais na prestação de serviços de assistência social;V - prestar os serviços assistenciais cujos custos ou ausência de demanda municipal justifiquem uma rede regional de serviços, desconcentrada, no âmbito do respectivo Estado.

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de 1 (um) salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família.

§ 5º A situação de internado não prejudica o direito do idoso ou do portador de deficiência ao benefício.

Art. 24. Os programas de assistência social compreendem ações integradas e complementares com objetivos, tempo e área de abrangência

1

definidos para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais.§ 1º Os programas de que trata este artigo serão definidos pelos respectivos Conselhos de Assistência Social, obedecidos os objetivos e princípios que regem esta lei, com prioridade para a inserção profissional e social.§ 2º Os programas voltados ao idoso e à integração da pessoa portadora de deficiência serão devidamente articulados com o benefício de prestação continuada estabelecido no art. 20 desta lei.

A Lei n.º 7.853, de 24 de outubro de 1999, que

dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência e sua integração

social, assim determina:

Art. 2.º Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.”Parágrafo único. Para o fim estabelecido no caput desse artigo, os órgão e entidades da administração direta e indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência e finalidade, aos assuntos objetos desta Lei, tratamento prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas: (...)II – na área da saúde:(...) d) a garantia de acesso das pessoas portadoras de deficiência aos estabelecimentos de saúde públicos e privados, e de seu adequado tratamento neles, sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados(...);f) o desenvolvimento de programas de saúde voltados para as pessoas portadoras de deficiência, desenvolvidos com a participação da sociedade e que lhes ensejem a integração social;(...).

1

O Decreto n.º 3.298, de 20 de dezembro de 1999,

que regulamenta a Lei n.º 7.853, de 24 de outubro de 1989, consolida as

normas de proteção à Pessoa Portadora de Deficiência, nos seguintes termos:

Art. 5º. A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, em consonância com o Programa Nacional de Direitos Humanos, obedecerá aos seguintes princípios:I – desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da sociedade civil, de modo a assegurar a plena integração da pessoa portadora de deficiência no contexto sócio-econômico e cultural;II – estabelecimento de mecanismos e instrumentos legais e operacionais que assegurem às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciam o seu bem-estar pessoal, social e econômico; eIII – respeito às pessoas portadoras de deficiência, que devem receber igualdade de oportunidades na sociedade por reconhecimento dos direitos que lhe são assegurados, sem privilégios ou paternalismos.

O Conselho Nacional de Assistência Social, através

da Resolução nº 145, de 15 de outubro de 2004, publicada no Diário Oficial da

União de 28 de outubro de 2004, aprovou a Política Nacional de Assistência

Social. O texto do referido documento constitui o Anexo I dessa Resolução,

determinando o seguinte:

A Assistência Social como política de proteção social configura-se como uma nova situação para o Brasil. Ela significa garantir a todos, que dela necessitam, e sem contribuição prévia a provisão dessa proteção. (...) O conhecimento existente sobre as demandas por proteção social é genérico, pode medir e classificar as situações do ponto de vista nacional, mas não explicá-las. (Anexo I, p. 10)

Conforme o mesmo documento, a Política Pública de

Assistência Social, de forma integrada às políticas sociais, tem os seguintes 1

objetivos:

- Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem.- Contribuir com a inclusão e a eqüidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural.Constitui o público usuário da Política de Assistência Social, cidadãos e grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade e riscos (...) (Anexo I, p. 27)

A ênfase da proteção social especial deve priorizar a reestruturação dos serviços de abrigamento (...)São serviços que requerem acompanhamento individual (...) Os serviços de proteção especial têm estreita interface com o sistema de garantia de direito, (...) compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo. (Anexo I, p. 31)

O tópico do Anexo I trata sobre a Gestão da Política

Nacional de Assistência Social na Perspectiva do Sistema Único de Assistência

Social – SUAS dispõe nos seguintes termos:

A proteção social especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e, ou, psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas sócio-educativas, situação de ruas, situação de trabalho infantil, entre outras. (Anexo I, p. 31)Os serviços de proteção especial têm estreita interface com o sistema de garantia de direito exigindo, muitas vezes, uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo. (Anexo I, p. 31)

Ainda, de acordo com Código de Processo Civil.

2

“Art. 798. Além dos procedimentos cautelares específicos, que este código regula no Capítulo II deste Livro, poderá o juiz determinar as medidas provisórias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, causa ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.”

Desta feita, a “Medida de Proteção” ora requerida,

destinada ao imediato abrigamento de ...., prima por concretizar e efetivar

seus os direitos e garantias na condição de pessoa com deficiência legalmente

assegurados, propiciando-lhe assim, uma existência digna, com inserção do

mesmo nas áreas sociais e de saúde.

IV – FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA

Oportuno ressaltar que, de conformidade com o já

exposto exaustivamente nesta peça inicial, não se pode ignorar que o

jovem .... encontram-se em grave situação de risco, notadamente em razão

de seu quadro de saúde mental.

Os inúmeros relatórios sociais e de saúde, bem como

as declarações juntadas a esta inicial, notadamente os trechos acima

transcritos, indicam que a idosa e seu neto em razão do quadro de saúde

mental e uso de substâncias psicoativas por parte de ..., da resistência do

mesmo em aderir a tratamento de saúde e aos atendimentos médicos,

principalmente, das atitudes de agressividade e ameaças de atentar contra

sua própria vida e da avó idosa estão sujeitas a real e iminente situação de

risco.

Além disso, demonstrada a necessidade da medida

2

ao verificar-se que foram esgotadas todas as vias administrativas possíveis de

solução da questão, sem, contudo alcançar-se o êxito almejado. Ao contrário,

há persistência da situação de risco e sua continuidade perdurará caso não

sejam empreendidas medidas com respaldo e amparo jurídico que possam

asseguram sua efetividade, demonstrado, portanto o fumus boni iuris e o

periculum in mora que justifica a presente demanda.

Mister, então, que, com a maior brevidade possível,

seja liminarmente determinado por esse Douto

Juízo, inaudita altera partes, o abrigamento de ....,

em entidade de abrigamento com recursos de

atendimento adequados e necessários às suas

atuais condições de vida e saúde,

imediatamente, após a alta médica hospitalar

do Hospital Psiquiátrico ..., promovendo-se desde

logo o empreendimento imediato das medidas

protetivas destinadas ao afastamento da situação de

risco e/ou perigo em que se encontra o referido

jovem, com o resguardo e proteção dos direitos,

interesses, integridade, bem-estar e segurança

pessoa com deficiência, por parte dos órgãos

competentes Fundação de Ação Social/ ....,

localizada na .... e, Secretaria Municipal de

Saúde/ Coordenação de Saúde Mental, localizada

na ....

V - DO PEDIDO:

Face ao exposto, requer-se:

a) seja liminarmente determinado por esse Douto

2

Juízo, inaudita altera partes, o ABRIGAMENTO de ... em entidade de

abrigamento com recursos de atendimento adequados e necessários

às suas atuais condições de saúde física e mental e sócio-familiares,

conveniada ou mantida pelo Município de ..., a ser indicada em conjunto pela

Fundação de Ação Social/ Coordenação de Proteção Social Especial de

Alta Complexidade, localizada na ... e, Secretaria Municipal de Saúde/

Coordenação de Saúde Mental, localizada na ...., determinando-se aos

aludidos órgãos públicos sejam promovidas, desde logo, o empreendimento

imediato das medidas protetivas destinadas ao afastamento da situação de

risco e/ou perigo em que se encontra o referido jovem, com o resguardo e

proteção dos direitos, interesses, integridade, bem-estar e segurança da

pessoa com deficiência, por parte dos órgãos competentes. Para o

cumprimento da ordem de abrigamento, requer-se seja imediatamente

oficiado à Fundação de Ação Social/ Coordenação de Proteção Social

Especial de Alta Complexidade, localizada na .... e, Secretaria Municipal

de Saúde/ Coordenação de Saúde Mental, localizada na ..., a fim de que,

acompanhados de um Oficial de Justiça a ser designado por Vossa Excelência,

em cumprimento à ordem deste Douto Juízo, realizem o abrigamento de ...,

imediatamente após sua alta hospitalar do Hospital Psiquiátrico ..., na

entidade de abrigo que melhor atenda às suas necessidades especiais de vida,

saúde e sócio-familiares. Para o bom êxito da medida requer-se que os órgãos

públicos competentes empreendam as medidas destinadas ao abrigamento

de .... com a ciência e a participação dos familiares de ... (sua avó e curadora

Sra. .... e sua genitora Sra. ..., ambas podendo ser localizadas na ....).

b) no mérito, o recebimento e a procedência do

pedido, com a confirmação da liminar que ora se espera seja concedida,

determinando-se o abrigamento do jovem ... em entidade de

abrigamento com recursos de atendimento adequados e necessários

às suas atuais condições de saúde física e mental e sócio-familiares,

conveniada ou mantida pelo Município de ..., a ser indicada em conjunto pela

Fundação de Ação Social/ Coordenação de Proteção Social Especial de

2

Alta Complexidade, localizada na .... e, Secretaria Municipal de Saúde/

Coordenação de Saúde Mental, localizada na ...., determinando-se aos

aludidos órgãos públicos sejam promovidas, desde logo, o empreendimento

imediato das medidas protetivas destinadas ao afastamento da situação de

risco e/ou perigo em que se encontra o referido jovem, com o resguardo e

proteção dos direitos, interesses, integridade, bem-estar e segurança da

pessoa com deficiência, por parte dos órgãos competentes. Para o

cumprimento da ordem de abrigamento, requer-se seja imediatamente

oficiado à Fundação de Ação Social/ Coordenação de Proteção Social

Especial de Alta Complexidade, localizada na .... e, Secretaria Municipal

de Saúde/ Coordenação de Saúde Mental, localizada na ...., a fim de que,

acompanhados de um Oficial de Justiça a ser designado por Vossa Excelência,

em cumprimento à ordem deste Douto Juízo, realizem o abrigamento de ...,

imediatamente após sua alta hospitalar do Hospital Psiquiátrico ..., na

entidade de abrigo que melhor atenda às suas necessidades especiais de vida,

saúde e sócio-familiares. Para o bom êxito da medida requer-se que os órgãos

públicos competentes empreendam as medidas destinadas ao abrigamento

de ... com a ciência e a participação dos familiares de ... (sua avó e curadora

Sra. ... e sua genitora Sra. ..., ambas podendo ser localizadas na ....).

c) seja determinada a remessa a esse Douto Juízo

de Direito e à Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos da Pessoa

Portadora de Deficiência, em prazo a ser determinado por Vossa Excelência,

de Relatório Conclusivo, único e conjunto, a ser elaborado pelos supracitados

órgãos públicos, com informações sobre a entidade de abrigamento para a

qual o jovem .... foi encaminhado e das demais medidas protetivas adotadas

ao caso;

d) Oitiva do jovem .... em audiência, bem como das

testemunhas adiante arroladas.

e) Juntada de cópia integral do Procedimento

2

Administrativo Nº ..., cujo objeto versa sobre a situação do jovem .... e de sua

genitora ...., a fim de que faça instruir a presente ação;

Dá-se à causa o valor de R$ 510,00 (quinhentos e

dez reais) para fins de alçada.

Neste termos;

Pede deferimento.

Curitiba, 03 de novembro de 2010

Terezinha Resende CarulaPromotora de Justiça

2

Rol de Testemunhas:

1. ....

Avó materna e curadora de ....Av. Fone: ....

2. ....

Genitora de ....Av. .... – Curitiba/PR – CEP ....Fone: ....

3. Dr. ....

Médico PsiquiatraRua ....Fone: ....

4. ....

Assistente Social – CRESS ... – Matrícula ....Fundação de Ação Social/....Praça ....– Curitiba/PR - CEP: ....Fones: .....

5. ....

Coordenadora de Assistência à SaúdeSecretaria Municipal de Saúde/SMS – Distrito Sanitário Matriz.....Telefone: ....

Rol de Documentos:

Cópia Integral do Procedimento Administrativo ...., que ora instrui a presente

Ação de Medida de Proteção.

2