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1.ª Promotoria de Justiça da Comarca de Campo Mourão ______________________________________________________________________________________ Promotoria de Justiça da Comarca de Campo Mourão Rua Harrison José Borges, 326 – Cep: 87300-380 – Fone: (44) 3525 1882 Campo Mourão - Paraná 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA ___VARA CÍVEL DE CAMPO MOURÃO – PARANÁ. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por intermédio de sua Promotora de Justiça ao final assinado, no uso de suas atribuições legais e com fundamento no artigo 127, caput, artigo 129, incisos II e III e artigo 208 inciso IV da Constituição Federal, nos artigos 1º, inciso IV, 3º e 5º, inciso I da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, e artigo 54, incisos I, IV, artigo 208, incisos III, 210 inciso I e 201, incisos V e VII, do Estatuto da Criança e do Adolescente, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE LIMINAR para a proteção de interesses transindividuais afetos à infância, contra o MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS, pessoa jurídica de direito público interno, com sede administrativa na Prefeitura Municipal, situada na Rua Rui Barbosa, 286, município de Janiópolis, nesta Comarca, na pessoa de seu representante legal, Sr. JAIR JANUÁRIO DETOFOL , pelas razões de fato e de direito que passa a expor:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA … · público interno, com sede ... AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. GARANTIA ESTATAL DE VAGA EM CRECHE. ... 2 STF

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1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA ___VARA CÍVEL DE

CAMPO MOURÃO – PARANÁ.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por

intermédio de sua Promotora de Justiça ao final assinado, no uso de suas

atribuições legais e com fundamento no artigo 127, caput, artigo 129, incisos II

e III e artigo 208 inciso IV da Constituição Federal, nos artigos 1º, inciso IV, 3º e

5º, inciso I da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, e artigo 54, incisos I, IV, artigo

208, incisos III, 210 inciso I e 201, incisos V e VII, do Estatuto da Criança e do

Adolescente, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência propor a

presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE LIMINAR

para a proteção de interesses transindividuais afetos à

infância, contra o MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS, pessoa jurídica de direito

público interno, com sede administrativa na Prefeitura Municipal, situada na

Rua Rui Barbosa, 286, município de Janiópolis, nesta Comarca, na pessoa de

seu representante legal, Sr. JAIR JANUÁRIO DETOFOL, pelas razões de fato e

de direito que passa a expor:

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PRELIMINARMENTE

I - DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Inquestionável a legitimação ativa do Ministério Público para

pugnar judicialmente pela defesa dos interesses difusos relativos à educação,

sobretudo referentes à oferta de vagas na EDUCAÇÃO INFANTIL,

particularmente na faixa etária de 04 e 05 anos de idade, conforme se infere

dos artigos supramencionados.

Nesta seara, o Estatuto da Criança e do Adolescente

reconhece expressamente a possibilidade do Ministério Público ajuizar a

competente ação civil pública, com o objetivo de tutelar os interesses

relacionados à educação infantil, conforme se constata do disposto no artigo

208, inciso IV da CF e 210 da Lei n° 8.069/90.

Predominantemente a doutrina e a jurisprudência têm

apontado a possibilidade do Parquet propor ação civil pública na hipótese de

constatação de lesão ou ameaça de lesão a interesses difusos e coletivos,

como demonstra o seguinte aresto:

ADMINISTRATIVO E PROCESSO CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ATO ADMINISTRATIVO DISCRICIONÁRIO: NOVA VISÃO. 1. Na atualidade, o império da lei e o seu controle, a cargo do Judiciário, autoriza que se examinem, inclusive, as razões de conveniência e oportunidade do administrador. 2.

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Legitimidade do Ministério Público para exigir do Município a execução de política específica, a qual se tornou obrigatória por meio de resolução do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. 3. Tutela específica para que seja incluída verba no próximo orçamento, a fim de atender a propostas políticas certas e determinadas. 4. Recurso especial provido. (STJ, RESP 493811, 2ª T., Rel. Min. Eliana Calmon, j. 11/11/03, DJ 15/03/04).

Isso se deve à sua vocação institucional, de legítimo protetor

de interesses não individualizados, impessoais, supra-individuais, assumindo

relevante papel na defesa de bens maiores, dentre eles, os referentes à

garantia de acesso à educação infantil, no caso, da faixa etária de 04 e 05 anos

de idade, consoante será exposto como se segue.

A Promotoria da Justiça de Defesa da Educação não pode

permanecer inerte ante a ameaça ou efetiva violação do direito a educação

infantil, especialmente quando constatada a omissão do Poder Público em

implementar e manter uma estrutura de atendimento adequada às demandas

existentes.

Trata-se, portanto, de ação civil pública que versa sobre

direito indisponível (direito à educação) de crianças de 4 (quatro) e 5 (cinco)

anos de idade, cuja propositura é determinada pela omissão do Poder Público.

Vale dizer, que a Promotoria de Justiça de Defesa da Educação desta Comarca,

possui a competência absoluta para processar a presente demanda, como aliás

ocorre com todas as ações que tenham por objeto a defesa dos direitos e

interesses individuais afetos a educação.

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DO MÉRITO

I - DOS FATOS

Esta ação se fez necessária após o recebimento de ofício do

CAOP - EDUCAÇÃO (Centro de Apoio da Educação do Ministério Público

Estadual) dirigido a esta Promotoria de Justiça de Campo Mourão. Tal ofício

teve por objetivo o acompanhamento e oferta de vagas na EDUCAÇÃO

INFANTIL, em especial para a faixa etária de 04 e 05 anos, pelo MUNICÍPIO

DE JANIÓPOLIS, visando observar o atendimento ao disposto na Emenda

Constitucional n.° 59/2009 e no inciso IV do artigo 208 da Constituição Federal,

tendo em vista a obrigatoriedade da frequência escolar a partir dos quatro

anos de idade, o que deverá ser concretizado até 2016, pelos respectivos

sistemas de ensino, com absoluta prioridade.

Após instaurado Procedimento Investigatório Preliminar n.º

MPPR-0024.11.000214-4, providências adotadas e diligências efetuadas

apontaram que a oferta irregular de vagas para infantes de 4 (quatro) e 5

(cinco) anos de idade, no Município de Janiópolis merece ser exemplarmente

combatida, pois vem somente crescendo, o que constitui grave violação do

direito fundamental à educação a que fazem jus.

Grande parte da população infantil desta cidade demonstra

que o requerido abandonou ou relegou tal direito fundamental à segundo

plano, em total desrespeito as normas constitucionais e infraconstitucionais

vigentes sobre o tema.

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Observa-se a necessidade de vagas em centros municipais de

educação infantil, em favor de várias crianças, demonstrando claramente que o

Município de Janiópolis, ao contrário da imagem que tenta cultivar, não está

agindo de forma a respeitar com prioridade absoluta as diretrizes legais.

Diante deste triste quadro, em total e flagrante desrespeito

ao preconizado na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do

Adolescente, o MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS muito pouco fez, ante a

demanda apurada, para adequar-se à oferta de vagas na EDUCAÇÃO

INFANTIL da faixa etária de 04 e 05 anos de idade, não tendo, assim,

cumprido seu dever no sentido de evitar, ou minorar que fosse, os malefícios

que a falta desta importante etapa da educação básica1 acarreta a um número

cada vez maior de nossas crianças.

Conquanto também seja dever da família e da sociedade, o

Município requerido, na forma da Lei nº 8.069/90, Lei nº 9.394/96 (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e, acima de tudo, da Constituição

Federal, tem o dever de, com absoluta prioridade, assegurar o direito à

educação de sua população infantil.

Embora a tal dever de ordem constitucional corresponda o

direito de todas as crianças de 4 (quatro) e 5 (cinco) anos terem acesso à

centros municipais de educação infantil (pois a educação se constitui numa

política social básica, nos moldes do previsto no art. 87, inciso I, da Lei nº

8.069/90), seu injustificado – e injustificável – descumprimento por parte do

requerido é particularmente danoso às crianças oriundas de famílias carentes,

ou seja, aquelas que vivem abaixo (ou no limite) da chamada "linha da

pobreza" (com renda mensal per capita de até um salário mínimo), que ante a

1 A creche e a pré-escola são sinônimo de educação infantil, sendo a primeira etapa da educação básica, que ainda compreende o ensino fundamental e o ensino médio.

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manifesta falta de recursos materiais, não conseguem garantir a adequada

formação e desenvolvimento de seus filhos, inclusive acarretando-lhes forte

carência nutricional, fator que repercute negativamente no aprendizado da

criança e influencia negativamente no sucesso escolar quando esta vier a

freqüentar o ensino fundamental.

Isto porque, embora os Centros Municipais de Educação

Infantil façam parte da política básica de EDUCAÇÃO, não se lhes pode negar

um certo caráter assistencial, pois nestes as crianças encontram, além dos

necessários estímulos à sua aprendizagem e pré-alfabetização, tão necessários

(de acordo com a medicina) para formar as ligações nervosas que irão

determinar, no futuro, seu grau de inteligência, alimentação e abrigo,

enquanto seus pais trabalham.

Art.98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente

são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta lei forem ameaçados ou violados:

I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; II – [...]

É o entendimento já firmado por nossa Corte Superior, senão

vejamos:

DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. GARANTIA ESTATAL DE VAGA EM CRECHE. PRERROGATIVA CONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA NO PODER DISCRICIONÁRIO DO PODER EXECUTIVO. PRECEDENTES. 1. A educação infantil é prerrogativa constitucional indisponível, impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o efetivo acesso a creches e unidades pré-escolares. 2. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo Estado, quando inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente

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previstas, sem que haja ingerência em questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo. 3. Agravo regimental improvido. (RE 464143 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 15/12/2009, DJe-030 DIVULG 18-02-2010 PUBLIC 19-02-2010 EMENT VOL-02390-03 PP-00556)2

Como decorrência dessa conduta omissiva do requerido, há a

obrigatória incidência do disposto no artigo 208 IV da Constituição Federal e

artigo 5º da Lei nº 8.069/90, que além de acarretar a responsabilidade das

autoridades públicas omissas, autoriza a intervenção da Promotoria de Justiça

de Defesa da Educação para compeli-las ao cumprimento de suas obrigações

com as crianças, uma vez que, vinte e três anos após o advento da

Constituição Federal, que estabeleceu ser a educação (inclusive a educação

infantil), um direito de TODOS, e um dever do Poder Público (CF arts. 205, 211,

§2º e 227, caput), não a recebem em sua plenitude.

Assim, a presente ação tem por objetivo compelir o

Município de Janiópolis a cumprir seu DEVER jurídico-constitucional3 de

fornecer o DIREITO à educação, para as crianças desta cidade, de 4 (quatro) e

5 (cinco) anos.

Por força constitucional e legal, o requerido, como visto

acima, tem o dever de assegurar às crianças, com absoluta prioridade, a

efetivação do seu direito à educação (apenas para ficar mais restrito, tendo

em vista que tal premissa também se estende à vida, à saúde, à alimentação,

ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à

convivência familiar e comunitária), devendo para tanto, além de

2 STF. Jurisprudência. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia /listarJurisprudencia.asp?s1=GARANTIA%20ESTATAL%20DE%20VAGA%20EM%20CRECHE&base=baseAcordaos> Acesso em: 28 de fev de 2010. 3 interessante, aliás, notar que tanto a Constituição Federal, em seu art.227, caput, quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art.4º, caput, começam precisamente com a determinação de que “é dever ...do Estado...”

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implementar uma política própria, para qual deverá destinar os recursos

que se fizerem necessários (CF art. 4º, parágrafo único, alíneas “c” e “d”, da

Lei nº 8.069/90), promover a adaptação de seus órgãos, programas e

serviços (CF art. 208 e parágrafo único – a contrario sensu – e art. 259,

parágrafo único, da Lei nº 8.069/90). Sobre a questão em casos semelhantes,

já se manifestaram os Tribunais:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO - CRIANÇA DE ATÉ SEIS

ANOS DE IDADE - ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA - EDUCAÇÃO INFANTIL - DIREITO ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV) - COMPREENSÃO GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO - DEVER JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º) - RECURSO IMPROVIDO. - A educação infantil representa prerrogativa constitucional indisponível, que, deferida às crianças, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em creche e o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV). - Essa prerrogativa jurídica, em conseqüência, impõe, ao Estado, por efeito da alta significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das "crianças de zero a seis anos de idade" (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se inaceitável omissão governamental, apta a frustrar, injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo Poder Público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da Constituição Federal. - A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criança, não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da Administração Pública, nem se subordina a razões de puro pragmatismo governamental. - Os Municípios - que atuarão, prioritariamente, no ensino fundamental e na educação infantil (CF, art. 211, § 2º) - não poderão demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da República, e que representa fator de limitação da discricionariedade político-administrativa dos entes municipais, cujas opções, tratando-se do atendimento das

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crianças em creche (CF, art. 208, IV), não podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juízo de simples conveniência ou de mera oportunidade, a eficácia desse direito básico de índole social. - Embora resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar políticas públicas, revela-se possível, no entanto, ao Poder Judiciário, determinar, ainda que em bases excepcionais, especialmente nas hipóteses de políticas públicas definidas pela própria Constituição, sejam estas implementadas pelos órgãos estatais inadimplentes, cuja omissão - por importar em descumprimento dos encargos político-jurídicos que sobre eles incidem em caráter mandatório - mostra-se apta a comprometer a eficácia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional. A questão pertinente à "reserva do possível". Doutrina. (RE 410715 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 22/11/2005, DJ 03-02-2006 PP-00076 EMENT VOL-02219-08 PP-01529 RTJ VOL-00199-03 PP-01219 RIP v. 7, n. 35, 2006, p. 291-300 RMP n. 32, 2009, p. 279-290)4

Ao tratar do assunto, Wilson Donizeti Liberati assinala que:

Por absoluta prioridade devemos entender que a criança e o adolescente deverão estar em primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes; devemos entender que, primeiro, devem ser atendidas todas as necessidades das crianças e adolescentes, pois “o maior patrimônio de uma nação é o seu povo, e o maior patrimônio de um povo são suas crianças e jovens” (Gomes da Costa, A. C.). Por absoluta prioridade entende-se que, na área administrativa, enquanto não existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes, dignas moradias e trabalho, não se deveria asfaltar ruas, construir praças, sambódromos, monumentos artísticos etc., porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças são mais importantes que

4STF. Jurisprudência. Disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia /listarJurisprudencia.asp?s1=EDUCAÇÃO%20e%20DIREITO%20FUNDAMENTAL%20INDISPONÍVEL&base=baseAcordaos> Acesso em: 28 de fev. 2010

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as obras de concreto que ficam para demonstrar o poder do governante.5

Torna-se necessário frisar que, antes da

propositura da presente ação, o Ministério Público tentou solucionar o

problema na esfera administrativa e firmar compromisso de ajustamento com

o requerido, conforme demonstra minuta e os ofícios integrantes do

procedimento investigatório, além do relatório da reunião ocorrida no dia 23

de agosto deste ano. Como não houve interesse pelo Município de Janiópolis

a respeito, outra alternativa não resta senão a de questionar, judicialmente,

seus nefastos atos, denotadores de desrespeito à infância.

O déficit de vagas é presente em todas as regiões e Distritos

da cidade, como informa quadro demonstrativo apresentado pelo próprio

Município de Janiópolis. Veja-se:

2008 (4 anos) 2007 (5 anos) 2006 (6 anos)

Janiópolis 51 51 49

Bragápolis ----- 03 04

São Domingos 04 03 04

Graminha/Vila

Rural

03 03 03

Entorno de

Janiópolis

01 02 06

Total 59 62 66

Na Escola Total 32 45 61

Fora da escola

Total

27 17 06

Fonte: Prefeitura Municipal de Janiópolis. Tabela juntada aos Autos de Procedimento Preparatório n.º MPPR-0024.11.000214-4, fls.13

5 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 1997. p. 16-17.

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2008 (4 anos) 2007 (5anos) 2006 (6 anos)

Arapuan 06 02 04

Na escola ----- ----- 02

Fora da Escola 06 01 02

Fonte: Prefeitura Municipal de Janiópolis. Tabela juntada aos Autos de Procedimento Preparatório n.º MPPR-0024.11.000214-4, fls.13

2008 (4 anos) 2007 (5 anos) 2006 (6 anos)

Bredápolis total 07 11 17

Na escola 07 09 13

Fora da escola ------ 02 04

Fonte: Prefeitura Municipal de Janiópolis. Tabela juntada aos Autos de Procedimento Preparatório n.º MPPR-0024.11.000214-4, fls.13

Inquestionável, portanto, que o MUNICÍPIO DE

JANIÓPOLIS, mesmo diante das violações antes mencionadas, preferiu fazer

“vistas grossas”, omitindo-se a respeito, descurando de seus deveres impostos

pela Constituição e legislações Federal, Estadual e Municipal, uma vez que

desde há muito já deveria ter tomado as providências necessárias para impedir

a continuidade das ofensas aos direitos dessas crianças.

II - DO DIREITO

O direito fundamental à educação é tema afeto a inúmeros

diplomas legais em todas as órbitas da Federação.

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Além de objeto da Constituição da República, é também alvo

de leis nacionais como a que estabelece diretrizes e bases para a educação (Lei

9.394/96) e o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90).

a) Da Constituição Federal

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, dentre os seus

princípios fundamentais e como alicerce do Estado Democrático de Direito, a

dignidade da pessoa humana e a cidadania (artigo 1º, incisos II e III),

determinando, ainda, como um de seus objetivos fundamentais, a construção

de uma sociedade justa, livre e solidária.

Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da

vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade

dentro do grupo social.

A educação deve ser uma das prioridades, porque é através

dela que se alcança, de forma efetiva, a cidadania.

Pensando nisto, a Constituição Federal definiu a educação

como direito social fundamental, conforme disposto em seu art. 6º:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

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Com vista ao seu pleno exercício, a Constituição Federal

prevê, como instrumento fundamental, a universalização do direito à educação

(notadamente à educação básica, que compreende a educação infantil, o

ensino fundamental e o ensino médio), tendo definido, já no enunciado de seu

art. 205, que a educação é um “DIREITO de todos” e um “DEVER do Estado”:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Art. 208. O dever do Estado com a educação será

efetivado mediante a garantia de: I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)

aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiverem acesso na idade própria;

II – [...] IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças até 5

(cinco) anos de idade. § 2.° O não oferecimento do ensino obrigatório pelo

Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

A instituição educativa, a serviço do bem estar social,

complementa, ao lado da família, o desenvolvimento pessoal e social das

crianças e dos adolescentes e contribui decisivamente para a melhoria de vida

de cada cidadão.

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Por isso que a Constituição Federal estabelece ser a educação

um direito de todos, e que todos devem ter garantidas iguais de acesso e

permanência nos diversos níveis de ensino (princípio da isonomia).

Não bastassem as disposições específicas relativas à

educação, contidas nos artigo 205 e seguintes, da Constituição Federal, o

constituinte também não deixou de fazer expressa referência àquele direito

fundamental quando tratou da “Doutrina da Proteção Integral à Criança e

ao Adolescente”, dispondo no art. 227, caput, de nossa Carta Magna que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A Magna Carta deu ainda um valor especial ao capítulo da

educação, pois mesmo vedando a vinculação de receita de impostos a órgão,

fundo ou despesa, ressalvou, em seu artigo 212, a destinação de recursos para

a manutenção do ensino, determinando que os Municípios aplicarão,

anualmente, nunca menos de vinte e cinco por cento da receita resultante de

impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e

desenvolvimento do ensino - aí compreendida, obviamente, a educação

infantil.

De modo a evitar o tradicional “jogo de empurra” entre os

entes federados, no que concerne à responsabilidade pela oferta dos diversos

níveis de ensino, o art. 211, também de nossa Carta Magna, confere

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claramente ao município o dever de ofertar, prioritariamente, o ensino

fundamental e a educação infantil:

Art. 211[...] §2º. Os municípios atuarão prioritariamente no ensino

fundamental e na educação infantil.

Tudo isso para que as crianças em tenra idade possam, desde

os primeiros anos de sua existência, praticar, exercer e conduzir

adequadamente a inteligência, seus afetos, sentimentos, imaginação,

conhecimento e valores, de forma a propiciar seu pleno desenvolvimento.

b) Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente

O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, em

inúmeros de seus dispositivos, registra o dever do Poder Público para com a

educação, dando ênfase ao ensino fundamental e à educação infantil,

premissas maiores de intervenção do Município na condução da gestão

educacional.

Assim, na esteira do art. 227 da Constituição Federal, o

Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece, em seu artigo 4º, in verbis:

Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

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A garantia de prioridade absoluta compreende-se nas

diretrizes a serem observadas pela Administração e estão sintetizadas no

mesmo dispositivo, quando resta explicitada:

Art. 4º. [...] Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: [...] c) preferência na formulação e na execução das políticas

sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas

relacionadas com a proteção à infância e juventude.

A preferência que deve haver tanto na formulação quanto na

execução das políticas públicas deve, na forma do disposto no art. 87, inciso I,

da Lei nº 8.069/90, começar já com as políticas sociais básicas, dentre as quais

se inclui obviamente a educação infantil:

Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: I – políticas sociais básicas.

Como se observa, a Constituição Federal e a legislação

infraconstitucional não tratam a educação como um fim em si mesmo, ou

mero aparato de enriquecimento cultural, mas como um instrumento para

construção de uma sociedade rica e desenvolvida, bem como algo que deve

ser garantido à criança com prioridade absoluta.

Não deixam de prever, também, que o dever do Estado em

relação à educação será efetivado mediante a garantia de atendimento em

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centros de educação infantil, preceito normativo reforçado no artigo 54, inciso

IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente (vide EC 53, de 19 de dezembro

de 2006, que modificou o artigo 208, IV da CF).

Ainda na Lei nº 8.069/90, é possível depreender que:

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Não satisfeito, o legislador do ECA, como resposta ao contido

em seu art. 5º (que promete a punição, na forma da lei, qualquer atentado, por

ação ou omissão, aos direitos fundamentais assegurados a crianças e

adolescentes), em seu art. 208, inciso III, c/c arts. 213 e 216, deixa claro que o

não oferecimento ou a simples oferta irregular de vagas nos centros de

educação infantil, acarreta a responsabilidade do agente público omisso em

cumprir suas obrigações, autorizando o art. 212, do mesmo Diploma Legal, a

utilização de “todas as espécies de ações pertinentes”, para assegurar o pleno

exercício deste direito pela população infantil local:

Art. 208. Regem-se pelas disposições desta lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular:

[...] III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças de

zero a seis anos de idade; (vide artigo 208, IV da CF).

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Art. 213. Na ação que tenha por objeto obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser condenação ao Poder Público, o Juiz determinará a remessa de peças à autoridade competente, para apuração da responsabilidade civil e administrativa do agente a que atribua a ação ou omissão.

Por fim, em seu art. 259, parágrafo único, a Lei nº 8.069/90

realça a necessidade de que o Poder Público municipal promova as

adequações necessárias (obviamente a começar pelo remanejamento dos

correspondentes recursos orçamentários), para o cumprimento das regras e

princípios estatutários:

Art. 259. [...] Parágrafo único. Compete aos Estados e Municípios

promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às diretrizes e princípios estabelecidos nesta lei.

c) Lei nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional

O tema da educação é de tal importância que há lei federal

recente com quase uma centena de artigos estabelecendo apenas as diretrizes

e bases para a educação. Esse diploma, a Lei 9.394, de 20 de dezembro de

1996, no que se refere ao dever do Estado para com a educação, destaca

principalmente que:

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Art. 4º - O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de:

[...] IV - atendimento gratuito em creches e pré-escolas às

crianças de zero a seis anos de idade; (vide EC 53/2006) Art. 11° – Os municípios incumbir-se-ão de: [...] V - Oferecer educação infantil em creches e pré-escolas, e,

com prioridade o ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.

Ainda em relação à educação infantil, o Título V, Capítulo II,

Seção II da Lei 9.394/96, assim disciplina a matéria:

Art. 29 - A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Art. 30 - A educação infantil será oferecida em: I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de

até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de

idade;

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d) Da Lei Orgânica do Município de Janiópolis

Como não poderia deixar de ser, regras similares às acima

transcritas foram reproduzidas e complementadas pela Lei Orgânica do

Município de Janiópolis, quando dispôs que:

Art. 9° - Ao Município de Janiópolis compete, privativamente, prover a tudo quanto diga respeito ao seu peculiar interesse e ao bem-estar de sua população, cabendo-lhe, entre outras, as seguintes atribuições:

[...] II – manter, com a cooperação técnica e financeira da

União e do Estado do Paraná, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental;

Art. 156 – A educação, direito de todos e dever do Município e da família, em ação conjunta com o Estado e a União, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 158 – O dever do Município com a educação será

efetivado mediante a garantia de: [...] III – atendimento: [...] b) em pré-escola, para crianças de quatro a seis anos. [...] § 1º - Os programas de ensino fundamental e de

educação pré-escolar, nos termos dos incisos I e III do caput deste artigo, serão mantidos pelo Município, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado do Paraná.

§ 2º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

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§ 3º - O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público municipal, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.

Art. 161 – O Município atuará prioritariamente no ensino

fundamental e pré-escolar. Art. 162 – O Município aplicará, anualmente, na

manutenção e desenvolvimento do ensino, observado o disposto no artigo anterior, nunca menos de vinte e cinco por cento da receita resultante de:

I – impostos municipais; II – transferências recebidas do Estado e da União. Art. 163 – Os recursos públicos serão destinados às

escolas públicas mantidas pelo Município, com objetivo de atender o princípio da universalização do atendimento escolar, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que:

[...] II – apliquem tais recursos em programas de educação

pré-escolar e de ensino fundamental;

Importante salientar a responsabilidade do Município, uma

vez que o artigo 211, parágrafo 2º da Magna Carta, bem como o artigo 88,

inciso I, do ECA, indicam-no como ator prioritário no ensino fundamental e

pré-escolar, no estabelecimento de programas com vista a garantir o acesso e

a permanência da criança e do adolescente na escola, dentre outras,

estabelecendo a municipalização desses atendimentos como primeira diretriz

da política da infância e juventude.

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III – DO DEVER DO MUNICÍPIO EM ASSEGURAR O DIREITO

À EDUCAÇÃO INFANTIL PARA CRIANÇAS DE 4 (QUATRO) E

5 (CINCO) ANOS

Diante das disposições expressas, contidas nos diversos

diplomas legais acima transcritos e na própria Constituição Federal, pouco

resta a dizer, no sentido da obrigatoriedade do município em proporcionar a

educação infantil à sua população infantil de 4 (quatro) e 5 (cinco) anos de

idade.

A respeito da matéria, no entanto, vale colacionar o escólio

de Afonso Armando Konzen, que ao comentar a Lei nº 9.394/96, assinala que:

A oferta da educação infantil, sinônimo de creche e pré-escola, passou a ser obrigação do Poder Público. Não há a obrigatoriedade de matrícula. No entanto, toda vez que os pais ou o responsável quiserem ou necessitarem do atendimento, nasce a correspondente obrigação pela oferta. A Lei de Diretrizes e Bases, ao incumbir aos Municípios a responsabilidade pela oferta ( artigo 11, inciso V ), também retirou a creche e a pré-escola do âmbito das políticas de proteção especial e também transferiu todo o encargo para o sistema educacional. Assim, a creche e a pré-escola não podem mais ser consideradas uma espécie dos programas de apoio sócio-familiar, como até então, em geral, vinham entendendo os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, e tampouco integram as políticas de assistência social de caráter supletivo, mas passaram constituir em política básica de educação.

Resumidamente, in casu, o Ministério Público está

defendendo um interesse coletivo, transindividual, pois o acesso a centros de

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educação infantil é um direito constitucional de todas as crianças até 5

(cinco) anos, ao qual corresponde o dever do município de Janiópolis.

Não poderíamos deixar de citar a lição de Paulo Afonso

Garrido de Paula, ao ministrar que o remédio adequado para a defesa dos

direitos indisponíveis das crianças e dos adolescentes é a ação civil pública,

conforme adiante exposto:

A ação civil para a defesa de interesses difusos e coletivos afetos à infância e juventude é um caminho ímpar de resgate da enorme dívida social para com os pequenos grandes marginalizados deste país: as crianças e os adolescentes. É chegada a hora da justiça cobrar responsabilidade dos governantes, colocando-os como réus quando de suas omissões no trato desta questão crucial, de sorte a verdadeiramente amparar os desvalidos efetivamente protegendo-os da descúria estatal.6

De todo o exposto, justifica-se o pedido e, de resto,

demonstrada está conduta contra legem do Réu.

IV - DO AGIR VINCULADO DO ADMINISTRADOR PÚBLICO

Resta irrefutável, pois, que para o Poder Público o

atendimento em centro de educação infantil às crianças de quatro e cinco

anos de idade constitui-se em um poder-dever indeclinável, não se tratando

de mera discricionariedade do Poder local.

6 PAULA, Paulo Afonso Garrido de. Menores, Direito e Justiça. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1989, p.126.

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Assim, as premissas expostas encontram respaldo na

legislação e obrigatoriamente são consideradas de eficácia plena, funcionando,

portanto, como limitador do campo de atuação discricionária do

Administrador Público.

Ademais, sabe-se que “discricionariedade” não é sinônimo de

arbitrariedade, mas sim apenas se constitui na maior ou menor “liberdade” que

o administrador tem para agir dentro dos estritos parâmetros estabelecidos

pela lei e pela Constituição Federal, tendo sempre por norte os princípios e

objetivos por estas definidos.

Perceba o entendimento do Superior Tribunal Federal acerca

do tema:

DIREITO CONSTITUCIONAL E DIREITO DA CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. GARANTIA ESTATAL DE VAGA EM CRECHE. PRERROGATIVA CONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA NO PODER DISCRICIONÁRIO DO PODER EXECUTIVO. PRECEDENTES. 1. A educação infantil é prerrogativa constitucional indisponível, impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o efetivo acesso a creches e unidades pré-escolares. 2. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo Estado, quando inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência em questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo. 3. Agravo regimental improvido. (RE 464143 AgR, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 15/12/2009, DJe-030 DIVULG 18-02-2010 PUBLIC 19-02-2010 EMENT VOL-02390-03 PP-00556) 7

7 STF. Jurisprudência. Disponível em:<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia /listarJurisprudencia.asp?s1=GARANTIA%20ESTATAL%20DE%20VAGA%20EM%20CRECHE&base=baseAcordaos> Acesso em: 28 de fev de 2010.

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Consta na Constituição Federal, no artigo 227, o chamado

princípio da prioridade absoluta, que determina ser dever da família, da

sociedade e do Estado, assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta

prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária.

Para que não pairasse qualquer dúvida quanto à

aplicabilidade do preceito constitucional, veio reiterada e esmiuçada na Lei nº

8.069/90, artigo 4º e parágrafo único.

Vale ressaltar, ainda, que o artigo 6º, do Estatuto da Criança e

do Adolescente, traça os rumos da hermenêutica a ser empregada por seu

aplicador, destacando os fins sociais a que se dirige, quais sejam, as exigências

do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos e a condição

peculiar da criança e do adolescente, pessoas em desenvolvimento.

Prioridade, segundo o mais popular dos dicionaristas

brasileiros, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, é a “qualidade do que está

em primeiro lugar, ou do que aparece primeiro; primazia. [...]”8

Absoluta, segundo o mesmo dicionário Aurélio, significa

“ilimitada, irrestrita, plena, incondicional”.

Segundo o Promotor de Justiça Wilson Donizeti Liberati,

especialista na área dos direitos da criança,

Por absoluta prioridade, devemos entender que a criança e o adolescente deverão estar em primeiro lugar na escala de preocupações dos governantes; devemos entender que,

8 “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, p. 1393, Ed. Nova Fronteira.

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primeiro, devem ser atendidas todas as necessidades das crianças e adolescentes (...). Por absoluta prioridade, entende-se que, na área administrativa, enquanto não existirem creches, escolas, postos de saúde, atendimento preventivo e emergencial às gestantes, dignas moradias e trabalho, não se deveria asfaltar ruas, construir praças, sambódromos, monumentos artísticos etc., porque a vida, a saúde, o lar, a prevenção de doenças são mais importantes que as obras de concreto que ficam para demonstrar o poder do governante.9

O jurista Dalmo de Abreu Dallari comentando o artigo 4º, do

Estatuto da Criança e do Adolescente, destaca a necessidade de serem

priorizados o apoio e a proteção à infância e juventude, por mandamento

constitucional. Mais. Preceitua não ter ficado ao alvedrio de cada governante

decidir se dará ou não apoio prioritário às crianças e aos adolescentes.

O fato de o princípio da prioridade absoluta encontrar

assento constitucional denota seu sentido norteador, verdadeira super-norma

a orientar a execução e a aplicação das leis, bem como a feitura de diplomas

de inferior hierarquia, tudo dentro da mais estrita legalidade.

Na discussão sobre a implementação dos bens-interesses

previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente jamais pode ser denegada

qualquer pretensão deduzida em juízo sob o argumento de que o

Administrador Público tem o discricionário “poder” de eleger prioridades e

estabelecer prioridades, já que a Constituição Federal, em seu artigo 227,

minudenciada pelo artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, não

estabelece qualquer hierarquia entre os direitos ali reconhecidos como

prioritários.

9 “O Estatuto da Criança e do Adolescente - Comentários”, pp. 4/5, Ed. IBPS.

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Em suma, pode-se afirmar, sem medo de errar que diante do

princípio constitucional da absoluta prioridade à criança e ao adolescente,

desaparece por completo a “discricionariedade” do administrador público.

Pensar de outra maneira é converter o artigo 227, da

Constituição da República, e o microssistema criado pela Lei nº 8.069/90, com

vista à proteção integral à criança em meras cartas de intenções, desvirtuando-

os de seu sentido evolutivo, de sua virtual condução a uma utopia concreta.

A respeito da matéria, interessante colacionar recente julgado

do Supremo Tribunal Federal, que de maneira expressa reconhece a

obrigatoriedade do município adequar seu orçamento ao atendimento das

necessidades básicas da população, notadamente no que diz respeito à oferta

de vagas em creches e pré-escolas para crianças da faixa etária ora pleiteada:

CRECHE E PRÉ-ESCOLA - OBRIGAÇÃO DO ESTADO -

IMPOSIÇÃO - INCONSTITUCIONALIDADE NÃO VERIFICADA - RECURSO EXTRAORDINÁRIO - NEGATIVA DE SEGUIMENTO. 1. Conforme preceitua o artigo 208, inciso IV, da Carta Federal, consubstancia dever do Estado à educação, garantindo o atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade. O Estado - União, Estados propriamente ditos, ou seja, unidades federadas, e Municípios - deve aparelhar-se para a observância irrestrita dos ditames constitucionais, não cabendo tergiversar mediante escusas relacionadas com a deficiência de caixa. Eis a enorme carga tributária suportada no Brasil a contrariar essa eterna lengalenga. O recurso não merece prosperar, lamentando-se a insistência do Município em ver preservada prática, a todos os títulos nefasta, de menosprezo àqueles que não têm como prover as despesas necessárias a uma vida em sociedade que se mostre consentânea com a natureza humana. 2. Pelas razões acima, nego seguimento a este extraordinário, ressaltando que o acórdão proferido pela Corte de origem limitou-se a ferir o tema à luz do artigo 208, inciso IV, da Constituição Federal, reportando-se, mais, a compromissos reiterados na Lei Orgânica do Município - artigo

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247, inciso I, e no Estatuto da Criança e do Adolescente - artigo 54, inciso IV. 3. Publique-se. (STF, Decisão RE N. 356.479-0, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 30/04/04, DJ 24/05/04 – grifamos)

Na mesma linha decidiu o Egrégio Supremo Tribunal Federal,

em decisão monocrática proferida pelo Min. Carlos Velloso no RE n° 352686,

publicada no Diário de Justiça de 08/11/2004.

Cabe dizer, que é evidente que o Poder Judiciário não apenas

pode, mas tem o verdadeiro dever institucional, na condição de garantidor da

ordem jurídica e do chamado “Estado Democrático de Direito”, que pressupõe

o respeito às leis e às disposições constitucionais soberanas, obrigar o

administrador público, sempre que necessário, em cumprir aquilo que lhe

incumbem a lei e a Constituição Federal.

E nem poderia ser diferente.

É a própria Constituição Federal, por fim, que confere ao

Poder Judiciário a prerrogativa de zelar pelo cumprimento da lei por TODOS,

inclusive o Poder Público, pois do contrário, de nada valeriam quer o princípio

da inafastabilidade da jurisdição, insculpido no art.5º, inciso XXXV da própria

Carta Magna, quer os inúmeros mecanismos judiciais de exigibilidade de

direitos relacionados no art.208 e seguintes da Lei nº 8.069/90, alguns dos

quais, como nos casos dos arts. 212, §2º e 213 c/c 216, expressamente

destinados a serem utilizados contra o Poder Público.

V – DA URGÊNCIA DO PROVIMENTO JURISDICIONAL

No presente caso, necessária a urgência em compelir o

município de Janiópolis a proporcionar, já no início do próximo período letivo,

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que se avizinha, a ampliação da oferta de vagas em centros de educação

infantil, de modo a atender, num primeiro momento, ao menos aqueles casos

de maior risco, envolvendo crianças que permanecem sozinhas em casa

enquanto seus pais trabalham, e/ou que há muito já esperam por uma vaga

nos centros existentes, minimizando assim o sofrimento dessa já combalida

parcela da população do município Janiópolis, bem como reduzindo os

mencionados efeitos deletérios resultantes da omissão do requerido,

resguardando assim a ordem jurídica violada.

O provimento jurisdicional em caráter liminar exige a

presença de dois requisitos essenciais: fumus boni iuris (juízo de probabilidade

e verossimilhança da existência de um direito) e periculum in mora (fundado

temor de que a demora na solução do litígio inviabilize a sua “justa

composição”).

Com efeito, a plausibilidade do direito invocado, qual seja o

fumus boni iuris, está plenamente evidenciado pela flagrante desobediência às

referidas normas constitucionais e infraconstitucionais.

Quanto mais tempo perdurar a negligência e omissão do

requerido, maiores os prejuízos àqueles que já aguardam vaga nos centros de

educação infantil, e maior a chance de a solução às graves violações apontadas

aos direitos das crianças tornarem-se inviáveis de serem alcançadas (até

porque as crianças não pararão de nascer e crescer, assim como os riscos e

problemas decorrentes da negativa do exercício do citado direito fundamental

não cessarão, enquanto se aguarda uma solução).

No caso em tela, depreende-se que se encontram presentes

os requisitos necessários à concessão da medida liminar, na forma do artigo 12

da Lei 7.347/85, sem que seja necessária justificação prévia.

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VI – DO PEDIDO LIMINAR

- Desta forma, presentes os requisitos necessários, requer o

Ministério Público seja concedida medida liminar, inaudita altera pars,

determinando que o MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS, no prazo máximo de 06

(seis) meses (ou seja, de modo a permitir a matrícula no segundo semestre

letivo de 2012), promova o atendimento em centros municipais de ensino

fundamental, em período integral (manhã/tarde) a, no mínimo, 53

(cinquenta e três) crianças, na cidade ora requerida e seus distritos, além

das já atendidas, em caráter emergencial, conforme Tabela apresentada pelo

Município, em anexo;

- No mesmo ato, deve ser determinado ao MUNICÍPIO DE

JANIÓPOLIS, também em caráter liminar, a criação e implantação, de novos

centros municipais de educação infantil, com atendimento em período integral

(manhã/tarde) para, no mínimo, 565 (quinhentos e sessenta e cinco)

vagas10, além do número de vagas hoje existente e das 53 vagas necessárias

imediatamente, de forma progressiva até o ano de 2016, conforme Emenda

Constitucional 59 de 2009, artigo 6°, nos termos do Plano Nacional de

Educação, e conforme tabela de planejamento apresentada pelo município

requerido;

- Na hipótese do MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS não

providenciar o pleiteado, nos prazos e períodos mencionados, requer o

Ministério Público seja o requerido condenado a arcar com multa

cominatória diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), nos termos do artigo

213, § 2º, da Lei nº 8.069/90 e artigo 12, §2º, da Lei nº 7.347/85, valor esse que

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deverá ser destinado ao fundo gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e

do Adolescente do Município, na forma do artigo 214 do Estatuto da Criança e

do Adolescente c/c os artigos 11 e 13, da Lei nº 7.347/85.

VII - DOS PEDIDOS FINAIS

Ante todo o exposto, restando evidente a prática de atos

atentatórios aos direitos das crianças e dos adolescentes, requer:

a) A concessão e confirmação da medida liminar pleiteada e

especificada no item anterior, ou seja, 53 (cinquenta e três) vagas em centros

de educação infantil em caráter emergencial, no prazo de 6 meses, e

outras 565 (quinhentos e sessenta e cinco) vagas até o ano de 2016,

perfazendo um total de 618 (seiscentos e dezoito) vagas a mais até 2016),

inaudita altera parte e independentemente de justificação prévia ou, se

entendendo necessária, observado o prazo de 72 (setenta e duas) horas da Lei

n° 8.437/92;

b) A citação do MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS, na pessoa de

seu representante legal, para contestar, querendo, a presente ação, sob pena

de revelia;

c) A total procedência do pedido, no sentido de, já a título

de tutela antecipada, na forma do disposto no art. 273, do Código de

Processo Civil, também aplicado subsidiariamente a procedimentos afetos ao

Direito à Educação por força do disposto no art. 152, da Lei nº 8.069/90:

10 Somatória apresentada pelo Município

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32

d) A fixação de multa cominatória diária por cada criança

que não esteja sendo atendida, vencidos os prazos concedidos, no valor de R$

1.000,00 (mil reais), nos termos do artigo 213, § 2º, da Lei nº 8.069/90 e artigo

12, §2º, da Lei nº 7.347/85, valor esse que deverá ser destinado ao fundo

gerido pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente deste

Município, na forma do artigo 214 do Estatuto da Criança e do Adolescente c/c

os artigos 11 e 13 da Lei nº 7.347/85;

e) A teor do disposto no art. 213, caput, segunda parte e §2º,

da Lei nº 8.069/90, na hipótese de descumprimento dos prazos fixados, seja o

município de Janiópolis condenado na obrigação de fazer, consistente na

celebração de convênios com creches e escolas particulares, de modo a

permitir nelas sejam matriculadas, às expensas do município, as crianças

carentes que procurem o serviço (conforme demanda já declinada), tudo

conforme artigo 461 e parágrafos, do Código de Processo Civil;

f) A condenação do MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS à

obrigação de fazer, consistente na previsão dos recursos necessários à criação

e implantação de novos centros municipais de educação infantil, bem como a

ampliação do número de vagas existentes, nos moldes do acima exposto, nas

propostas de leis orçamentárias – Plano Plurianual, Leis de Diretrizes

Orçamentárias e Leis Orçamentárias anuais – devendo promover a alocação

e/ou remanejamento dos recursos necessários na proposta e/ou Lei

Orçamentária de 2012 e seguintes, posterior execução prioritária do

orçamento no setor, tudo de acordo com o disposto nos arts.4º, caput e par.

único, alíneas “b”, “c” e “d” e 259, par. único, da Lei nº 8.069/90 e Lei

Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal).

g) A produção de todas as provas legalmente admissíveis,

especialmente depoimento pessoal dos réus, inquirição de testemunhas,

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juntada de documentos (nos termos do artigo 397 do Código de Processo

Civil) e exames periciais que se fizerem necessários;

h) A remessa de cópia desta petição inicial à Câmara

Municipal de Janiópolis, para conhecimento e adoção das providências

cabíveis;

i) A condenação do MUNICÍPIO DE JANIÓPOLIS ao

pagamento de encargos de sucumbência e demais cominações legais, cujo

montante deverá ser destinado ao Fundo Especial do Ministério Público, criado

pela Lei Estadual nº 12.241 de 28/07/98.

Dá-se à causa para efeitos meramente fiscais, o valor de R$

5.000,00 (cinco mil reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Campo Mourão, 01 de novembro de 2011.

Rosana Araújo de Sá Ribeiro Pereira

Promotora de Justiça

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ROL DE DOCUMENTOS:

I - Portaria n.º MPPR-0024.11.000214-4;

II – Ofício n.º 491/2011-1.ª - encaminhado ao CAOP – Educação;

III – Ofício n.º 494/2011-1.ª - encaminhado ao Prefeito Municipal de Janiópolis;

IV – Ofício n.º 498/2011-1.ª - encaminhado à Câmara Municipal de Vereadores

de Janiópolis;

V – Ofício n.º 075/2011 e anexo – oriundo da Prefeitura Municipal de

Janiópolis;

VI – Tabela de vagas a serem ofertadas até 2012, apresentada pelo Prefeito

Municipal, em reunião ocorrida aos 23/08/2011, na sede desta Promotoria de

Justiça;

VII – Ofício n.º 119/2011-GP – oriundo da Prefeitura Municipal de Janiópolis;

VIII – Lei Orgânica do Município de Janiópolis.