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MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIÁS PROCURADOR DE CONTAS Praça Cívica n. 332, Goiânia - GO – Tel.: (062) 3201-7395 [email protected] Representação em face do Edital nº 05/12, cujo objeto é o processo seletivo para a contratação de vigilantes penitenciários temporários. 1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIAS, DR. EDSON JOSÉ FERRARI, NOS TERMOS DO ARTIGO 33 DA RESOLUÇAO NORMATIVA TCE-GO Nº 01/2008. EMENTA: Representação. Edital nº 005/2012, da Secretaria de Gestão e Planejamento de Goiás, veicula Processo Seletivo para contratação imediata de Vigilantes Penitenciários Temporários. Conduta renitente do Estado que burla a regra do concurso público para o preenchimento de cargos efetivos para o exercício de funções com Poder de Polícia. Providências. 1. No tocante ao Edital de Processo Seletivo para a contratação de Vigilantes Penitenciários Temporários, não pode o edital: a) exigir do contratado temporariamente qualificação acadêmica abaixo da legalmente exigida do servidor por ele substituído; b) realizar seleção meramente curricular; c) estipular diferença remuneratória para o exercício da mesma atividade funcional; d) permitir deficiência de treinamento do contratado temporariamente; d) diferenciar candidatos, para desempate na classificação, por meio de critério primeiro que não a idade. 1.1. Concessão de medida liminar, para suspender o Edital. 1.2. Ilegalidades que implicam a anulação desse edital. 2. Em relação ao silêncio formal da Administração Pública sobre a questão da prorrogação do concurso público veiculado por meio do Edital nº 03/2009, a existência de candidatos aprovados em concurso público válido e a comprovação da necessidade de preenchimento de quase 1000 (mil) cargos públicos efetivos vagos de Agente de Segurança Prisional retiram a legitimidade da conduta administrativa que não estende o prazo de validade desse concurso e, ato contínuo, abre processo seletivo para contratação temporária, a fim de suprir por esse meio a deficiência de pessoal efetivo; da manifestação indireta de vontade da Administração Pública, consistente essencialmente em burla à regra do concurso público, pode resultar dano ao erário. 2.1. Conversão dos autos em Tomada de Contas Especial. 3. Quadro de descalabro na área de pessoal da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal a demandar a pactuação de Termo de Ajustamento de Gestão, para que a Administração Pública cumpra fielmente o mandamento constitucional da realização de concurso público para provimento dos cargos efetivos vagos.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTEDO TRIBUNAL DE … · 2013-09-03 · ... (item 1.9 do Edital), ... também da Carta Magna Estadual, nomeadamente os da impessoalidade, ... A CF/88

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MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIÁS PROCURADOR DE CONTAS

Praça Cívica n. 332, Goiânia - GO – Tel.: (062) 3201-7395 [email protected]

Representação em face do Edital nº 05/12, cujo objeto é o processo seletivo para a contratação de vigilantes penitenciários temporários.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIAS, DR. EDSON JOSÉ FERRARI, NOS TERMOS DO ARTIGO 33 DA RESOLUÇAO NORMATIVA TCE-GO Nº 01/2008.

EMENTA: Representação. Edital nº 005/2012, da Secretaria de Gestão e Planejamento de Goiás, veicula Processo Seletivo para contratação imediata de Vigilantes Penitenciários Temporários. Conduta renitente do Estado que burla a regra do concurso público para o preenchimento de cargos efetivos para o exercício de funções com Poder de Polícia. Providências. 1. No tocante ao Edital de Processo Seletivo para a contratação de Vigilantes Penitenciários Temporários, não pode o edital: a) exigir do contratado temporariamente qualificação acadêmica abaixo da legalmente exigida do servidor por ele substituído; b) realizar seleção meramente curricular; c) estipular diferença remuneratória para o exercício da mesma atividade funcional; d) permitir deficiência de treinamento do contratado temporariamente; d) diferenciar candidatos, para desempate na classificação, por meio de critério primeiro que não a idade. 1.1. Concessão de medida liminar, para suspender o Edital. 1.2. Ilegalidades que implicam a anulação desse edital. 2. Em relação ao silêncio formal da Administração Pública sobre a questão da prorrogação do concurso público veiculado por meio do Edital nº 03/2009, a existência de candidatos aprovados em concurso público válido e a comprovação da necessidade de preenchimento de quase 1000 (mil) cargos públicos efetivos vagos de Agente de Segurança Prisional retiram a legitimidade da conduta administrativa que não estende o prazo de validade desse concurso e, ato contínuo, abre processo seletivo para contratação temporária, a fim de suprir por esse meio a deficiência de pessoal efetivo; da manifestação indireta de vontade da Administração Pública, consistente essencialmente em burla à regra do concurso público, pode resultar dano ao erário. 2.1. Conversão dos autos em Tomada de Contas Especial. 3. Quadro de descalabro na área de pessoal da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal a demandar a pactuação de Termo de Ajustamento de Gestão, para que a Administração Pública cumpra fielmente o mandamento constitucional da realização de concurso público para provimento dos cargos efetivos vagos.

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Representação em face do Edital nº 05/12, cujo objeto é o processo seletivo para a contratação de vigilantes penitenciários temporários.

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE GOIAS, DR. EDSON JOSÉ FERRARI, NOS TERMOS DO ARTIGO 33 DA RESOLUÇAO NORMATIVA TCE-GO Nº 01/2008.

O MINISTÉRIO PÚBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE

GOIÁS, no desempenho de sua missão institucional de defender a ordem jurídica, o regime

democrático, a guarda da Lei e fiscalizar sua execução, no âmbito das contas do Estado de Goiás, e

fundamentado no inc. V do artigo 91 da Lei nº 16.168, de 11 de dezembro de 2007, c/c o inciso V do

artigo 235 do Regimento Interno TCE-GO, vem intentar a seguinte

R E P R E S E N T A Ç Ã O

C / C P E D I D O L I M I N A R

em face do Edital nº 005/2012, tornado público pelo Secretário da Secretaria de Estado de Gestão e

Planejamento (SEGPLAN)1, GIUSEPPE VECI, e da não expedição de ato de prorrogação do Edital de

Concurso Público nº 03, de 10 de setembro de 2009 (cópias anexas), por parte do Presidente da

Agência Goiana do Sistema de Execução Penal (AGSEP-GO), EDEMUNDO DIAS DE OLIVEIRA FILHO,

pelas razões adiante expostas.

1 De acordo com a letra h do artigo 7º da Lei Estadual nº 17.257, de 25 de janeiro de 2011, compete à Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (SEGPLAN) a “realização de concursos públicos e outros processos seletivos, em caráter exclusivo, para os órgãos e as entidades do Poder Executivo, com as exceções desta Lei, e facultativo para os demais poderes, órgãos, entidades, esferas de Governo ou instituições públicas ou privadas”.

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Representação em face do Edital nº 05/12, cujo objeto é o processo seletivo para a contratação de vigilantes penitenciários temporários.

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I – DOS FATOS

1. Por meio do Edital nº 005/2012, o Secretário da SEGPLAN, GIUSEPPE VECCI, “torna

público que realizará Processo Seletivo Simplificado – PSS para contratação de pessoal, por tempo

determinado, para provimento de vagas de Vigilantes Penitenciários – Contratos Temporários – VPT,

em atendimento às necessidades das Unidades Prisionais do Estado de Goiás, da Agência Goiana do

Sistema de Execução Penal – AGSEP” (cópia anexa).

2. O PSS, ofertado de pronto para a realização de 666 (seiscentos e sessenta e duas)

contratações temporárias (item 1.9 do Edital), é constituído de duas etapas, consistindo a primeira

em avaliação curricular, de caráter classificatório e eliminatório, e a segunda, de caráter eliminatório,

em comprovação da documentação referente à Avaliação Curricular, Laudo Psicológico, Laudo

Médico e Toxicológico, Curso de Formação e Verificação da conduta social (item 1.7).

3. A remuneração prevista no edital é de R$ 1.390,46 (Hum mil, trezentos e noventa

reais e quarenta e seis centavos) ou de R$ 1.450,46 (Hum mil, quatrocentos e cinquenta reais e

quarenta e seis centavos), a depender da lotação e do grau de exposição ao risco (item 2.5)

4. Como requisito para inscrição, exige-se do candidato a conclusão do Ensino Médio ou

equivalente (item 3.1, letra a) e veda-se-lhe a acumulação com outro cargo público (item 3.1, letra f)

5. Em relação à avaliação curricular, mencionado edital pontua, em especial, o curso de

formação em segurança prisional (item 4.1, na redação dada pelo Edital de Retificação nº 01/2012

ao Edital nº 05/2012) e também a experiência em segurança prisional (item 4.1).

6. Ainda segundo o Edital, “Para a função de Vigilante Penitenciário Temporário, na

classificação final, entre candidatos com igual pontuação, será fator de desempate: 6.6.1 com maior pontuação

no item 2, experiência profissional, da avaliação curricular, subitem 4.1; 6.6.2 o candidato mais idoso”.

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II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A – DA COMPETÊNCIA DA CORTE DE CONTAS

7. Ao controle externo compete fiscalizar a Administração Pública Estadual, direta e

indireta, sob a ótica dos princípios da legalidade, legitimidade e economicidade (art. 25 da

Constituição do Estado de Goiás), sem prejuízo ademais da concomitante fiscalização da observância

dos princípios insertos no artigo 92, também da Carta Magna Estadual, nomeadamente os da

impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência, razoabilidade, proporcionalidade e motivação.

8. Mesmo os atos relativos a pessoal que não impliquem nomeação em cargo efetivo a

qualquer título estão sujeitos à fiscalização do controle externo, porquanto da ausência de

competência para registrar, p.ex., atos de nomeação de pessoal em cargo em comissão, não tem por

consequência a ausência de competência para fiscalização do gasto público decorrente desses atos.

9. Decorrendo do procedimento de seleção para a denominada meritocracia --- e

consubstanciando ele mesmo --- gasto público, é competente a Corte de Contas para fiscalizá-lo.

B – DO MÉRITO

B.1 – Das ilegalidades contidas no Edital nº 05/2012

10. No tocante ao Edital de Processo Seletivo para a contratação de Vigilantes

Penitenciários Temporários, não pode o edital: a) exigir do contratado temporariamente qualificação

acadêmica abaixo da legalmente exigida do servidor por ele substituído; b) realizar seleção

meramente curricular; c) estipular diferença remuneratória para o exercício da mesma atividade

funcional; d) permitir deficiência de treinamento do contratado temporariamente; d) diferenciar

candidatos, para desempate na classificação, por meio de critério primeiro que não a idade.

Ilegalidades que implicam a anulação desse edital.

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B.1.1 – Da ilegal diferença de qualificação acadêmica para o exercício das mesmas funções

11. De acordo com o item 2.2 do Edital 05/2012, as funções do Vigilante Penitenciário

Temporário (VPT) são as mesmas constantes na Lei nº 14.237, 08 de julho de 2002, instituidora do

Grupo Operacional de Serviços de Segurança da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal. Ou

seja, o VPT fará as vezes do Agente de Segurança Prisional (ASP), ante a ausência de concurso público

válido em vigor.

12. Ocorre que a Lei Estadual nº 14.237, de 08 de julho de 2002, que originalmente

exigia apenas a conclusão do ensino médio dos candidatos aprovados no concurso público para a

carreira de ASP, passou a exigir desses mesmos candidatos a conclusão de nível superior (artigo 5º, p.

único, inciso I, na redação dada pela Lei Estadual nº 16.448, de 31 de dezembro de 2008).

13. De lege ferenda, o contratado temporariamente deveria possuir uma qualificação

maior que a do substituído, precisamente em razão da exiguidade de tempo que ele ficará nessa

situação, porquanto inviável ---- além de antieconômica --- a realização de cursos de formação e

aperfeiçoamento, e, de lege lata, nunca uma inferior, como está a possibilitar o edital, em franca

contrariedade à lei instituidora da carreira de ASP.

14. Destarte, ilegal é a letra a do item 3.1. do Edital que exige dos candidatos possuírem

“no mínimo o Ensino Médio completo ou equivalente, devidamente reconhecido pelo Conselho

Estadual de Educação/MEC”, por estipular requisito admissional inferior ao previsto na Lei Estadual

14.237/02.

B.1.2 – Da ilegalidade da seleção meramente curricular

15. De acordo com o item 1.7 do Edital, o Processo Seletivo será realizado em duas

etapas, sendo que a primeira é a avaliação curricular, de caráter eliminatório e classificatório.

16. A Constituição Federal vigente (CF/88) prescreve a realização de concurso público de

provas ou de provas e títulos, para a investidura em cargo público não comissionado; isso porque a

prova possui critérios objetivos de aferição.

17. A CF/88 adotou o modelo de acesso à função pública sob as premissas do sistema de

mérito (merit system), em que a escolha do agente se baseia no resultado de uma competição

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instaurada pela Administração Pública, com a finalidade de selecionar aqueles que se revelarem,

objetivamente, mais preparados para o desempenho do cargo; a adoção do sistema de mérito

reflete diretriz constitucional no ideal de profissionalização da função pública, em claro rechaço ao

denominado spoil system (Ämterpatronage), malfadada criação do então Presidente norte-

americano Andrew Jackson (1829) que, demonstrando forte desapego pelo profissionalismo e

continuidade na Administração Pública e prestigiando a rotatividade nos cargos, resultou em grande

estímulo a prática de atos de corrupção e imoralidade naquele país2.

18. Conquanto o contratado temporariamente não ocupe cargo, ele exerce a função do

cargo público não provido para o qual ele foi contratado; essa situação de substituição demanda,

necessariamente, a realização de prova, pois, se não fosse assim, se estaria burlando a exigência de

aferição constante no inciso II do artigo 37 da CF/88; por isso, é rotineiro ver em outros Estados da

Federação, notadamente do Distrito Federal, e na União a realização de processo seletivo para a

contratação temporária, em que há prova objetiva, justamente para se prestigiar a objetividade, a

impessoalidade, a moralidade e a transparência na seleção pública.

19. De outra forma não pode ser, pois a Administração Pública é parametrizada pelos

princípios da eficiência e da impessoalidade, e não há como prestigiá-los se o critério seletivo é o

meramente da titulação.

20. A propósito, a aferição de conhecimentos se dá, conforme mandamento

constitucional e como corolário dos princípios da eficiência e da moralidade, por meio de provas ou

de provas e títulos, jamais somente por títulos.

21. Daí porque a ausência de prova em processo seletivo de contratação temporária fere

de morte o edital, pois retira dele a objetividade e a impessoalidade, atributos essenciais para sua

validade.

22. Ainda, a avaliação meramente curricular leva a outras antijuridicidades, como é a

2 No Brasil e especialmente no Estado de Goiás, essa experiência é muito válida, porquanto há aqui uma avalanche de cargos em comissão e contratos temporários, em absoluta desconformidade com os incisos V e IX, respectivamente, da CF/88, o que dá sorte a todo tipo de ocorrência em desconformidade com a CF/88 e com padrões de moralidade e eficiência exigidos pela sociedade, notadamente em ano eleitoral, como o de 2012.

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constante do item 4.11 do Edital, que prescreve a avaliação e aceitação do período de formação

escolar relativo aos últimos 10 (dez) anos, pois, estipulada a idade mínima de 18 (dezoito) anos e a

máxima de 65 (sessenta e cinco) anos3, a restrição contida no item 4.11 configura indevido critério

etário para admissão, já que dificilmente alguém, por exemplo, com 40 (quarenta) anos de idade terá

todos os seus cursos avaliados, em clara primazia à juventude, em detrimento da experiência.

B.1.3 – Da ilegal diferenciação remuneratória entre Vigilantes Penitenciários Temporários (VPT) e

Agentes de Segurança Prisional (ASP)

23. De acordo com o item 2.5 do Edital, que versa sobre a remuneração do VPT, esta

“poderá ser de R$ 1.390,46 (Hum mil trezentos e noventa reais e quarenta e seis centavos) ou

R$ 1.450,46 (Hum mil quatrocentos e cinquenta reais e quarenta e seis centavos), correspondente

a composição do vencimento de R$ 700,46 e da Gratificação de Risco de Vida, dependendo

da lotação e grau de exposição ao risco, conforme preceitua a Lei Estadual n.º 17.485, de

12/12/2011”.

24. No entanto, para o ASP em início de carreira, prevê o Anexo III da Lei Estadual nº

17.090, de 02 de julho de 2010, desde junho de 2010, o subsídio de R$ 2.300,00 (dois mil e trezentos

reais).

25. Como já dito retro, o VPT exercerá as mesmas funções do ASP (item 2.2 do Edital nº

05/2012), que constam na Lei Estadual nº 14.237/02.

26. Ao prescrever o Decreto Estadual nº 7.474, de 03 de novembro de 2011, no § 1º do

artigo 1º, que “A remuneração mensal dos contratados com fundamento neste artigo, não poderá ser

superior ao vencimento base, inicial, previsto para o cargo de Agente de Segurança Prisional,

pertencente ao grupo ocupacional de Assistente Prisional, do Anexo III da Lei nº 15.674, de 02 de

junho de 2006, excetuados desse limite o décimo terceiro salário e o adicional de férias”, foi

3 A restrição editalícia de idade máxima aos 65 anos por si só também é passível de questionamento, porquanto a vedação constitucional que se faz é para ocupação de cargo efetivo, em razão da possibilidade de aposentadoria pelo Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos, o que não é o caso do contratado temporariamente, porquanto no Regime Geral de Previdência Social não existe tal restrição (Lei nº 8.212/91, artigo 12).

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desconsiderada a existência da Lei nº 17.090, de 02 de julho de 2010, que instituiu o regime de

subsídios para o ASP.

27. Mesmo que ainda assim não o fosse, a Lei Estadual nº 15.674/2006, prevê uma

remuneração de R$ 1.500,00 (hum mil e quinhentos reais), ao qual é acrescida de uma gratificação

de risco de vida, que pode variar entre R$ 600,00 (seiscentos reais) e R$ 750,00 (setecentos e

cinquenta reais) (letras a a d do inciso I do artigo 1º da Lei Estadual nº 17.485, de 12 de dezembro de

2011.

28. Com a devida vênia dos que pensam em sentido diverso, a violação ao princípio da

isonomia remuneratória é flagrante. A CF/88 não permite que duas pessoas que exercem a mesma

função, no mesmo órgão, quiçá na mesma unidade, recebam remuneração distinta, tão somente em

razão da forma de ingresso no serviço público, ainda mais sem lei que faça essa previsão.

29. A contratação temporária é modalidade bem pensada pelo legislador constituinte

para não deixar que uma necessidade passageira de excepcional interesse público pudesse levar a

uma solução de continuidade da prestação do serviço público. É para isso que serve a contratação

temporária, e não como ardil para a burla à regra do concurso público e menos ainda para fazer

caixa, economizando recursos ao arrepio do princípio constitucional do tratamento remuneratório

igualitário devido aos servidores exercentes da mesma função, em um mesmo poder e em um

mesmo órgão.

30. Por isso, por evidente violação ao princípio da isonomia, é devida a anulação do item

2.5 do Edital, que versa sobre a remuneração do VPT.

B.1.4 – Da ilegalidade da permissão ao VPT de treinamento inferior ao do ASP

31. O Edital nº 05/2012, alterado, em seu item 4.1, permite a obtenção de pontuação

máxima ao candidato a VPT que possuir “Curso de Formação em Segurança Prisional” com 60

horas/aula.

32. Além de isso configurar um dirigismo do edital às pessoas que já atuaram no Sistema

Prisional do Estado, em clara e ilegítima restrição à competitividade, o contratado, na intelecção da

lei posta, deve possuir uma qualificação no mínimo igual à substituído, precisamente em razão da

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exiguidade de tempo que ele ficará nessa situação; no Edital nº 03/2009 previa-se um curso de

formação de 100 horas/aula, e não 60 h/a, logo, ilegal o item 4.1. do edital, por contar como

titulação curso de formação diverso do ASP.

B.1.5 – Da ilegalidade do critério de desempate dos candidatos

33. De acordo com o item 6.6 do Edital, o critério de idade encontra-se em segunda

posição para o desempate dos candidatos para a classificação final. Entretanto, de acordo com a Lei

10.741, de 1º de outubro de 2003, em seu artigo 27, parágrafo único, “O primeiro critério de

desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada”.

34. Não obstante não se trate aqui de concurso público, mas sim de processo seletivo,

ambos se assemelham, sendo que a diferença fundamental está em que aquele visa a selecionar

candidatos para o provimento de cargos efetivos, este, candidatos para o exercício temporário de

funções.

35. Assim, nessa parte, o Edital nº 005/2012 deve ser alterado, para adequação ao

parágrafo único do artigo 27 da Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2012.

B.2 – Da ilicitude do silêncio formal da Administração Pública, consistente na não-prorrogação do

concurso público veiculado pelo Edital nº 03/2009

B.2.1 - Contexto fático anterior ao Edital nº 05/2012

36. Em 2007, representei ao Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO) em

desfavor do então Secretário de Estado da Secretaria de Justiça, em virtude da contratação de 654

(seiscentos e cinquenta e quatro) funcionários temporários para o desempenho da função de

vigilantes temporários (Processo nº 200700047004557).

37. Na oportunidade, a Coordenação de Fiscalização Estadual sugeriu ao TCE-GO, dentre

outras medidas, que se determinasse à Secretaria de Estado da Segurança Pública e Justiça que se

abstivesse de celebrar contratos temporários em substituição aos servidores da atividade-fim ao

arrepio do inciso X do artigo 92 da Constituição do Estado de Goiás.

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38. Ainda nos autos do mencionado processo, manifestei-me, ao final, no sentido de que

fosse “celebrado Termo de Ajustamento de Gestão, com o Secretário de Segurança Pública, a fim de

se estabelecer cronograma de substituição de todos os contratados temporários para Agentes de

Segurança Prisional, devidamente aprovados em concurso público”, bem assim fosse prescrito “que

eventual substituição de mão-de-obra daquela pasta por contrato temporário, que não a finalística

em segurança pública” devesse ser precedida de processo seletivo contendo prova objetiva de

aferição de conhecimentos.

39. Não obstante estivesse já demonstrada, de plano, a insuficiência do concurso público

veiculado por meio do Edital 3/2009, para o preenchimento de todos os cargos vagos (“Note-se que o

desprezo à regra do concurso público por parte do gestor é tão flagrante que são 641 (seiscentos e

quarenta e uma) contratações temporárias demonstradas nos autos (fls. 029/2.818), acrescidas,

agora, de mais 410 (quatrocentos e dez), conforme publicação no Diário Oficial do Estado do dia 18

de novembro de 2009 (pp. 15/17), enquanto se alega em defesa que o Estado está a realizar concurso

público para provimento de tão somente 400 (quatrocentos) cargos de Agente de Segurança

Prisional, que tem suas funções inconstitucionalmente exercidas por mão-de-obra temporária”.

Processo nº 200700047004557), o Plenário do TCE-GO decidiu arquivar a representação, com a

seguinte fundamentação contida no voto da Conselheira-relatora:

“Conforme relatado, trata-se de representação oferecida pela Procuradoria-Geral de Contas em desfavor da Secretaria de Estado da Justiça, em virtude da contratação de funcionários temporários para o desempenho da função de vigilantes penitenciários sem o devido processo seletivo simplificado. Oportuno registrar que na Sessão Plenária Extraordinária realizada no dia 18 próximo passado, fui Relatora do processo nº 200900047000378 encaminhado a esta Corte pelo Ministério Público do Trabalho em face da Secretaria de Segurança Pública. Após ter esgotado toda a matéria aqui ventilada, foi determinado o seu arquivamento por perda do objeto através do Acórdão nº 4358/2010, haja vista que todas as fases e etapas do concurso público noticiado já foram realizadas, com resultado final divulgado e homologado através da Portaria nº 122/10-GABS de 20 de abril do corrente ano, publicado no Diário Oficial nº 20.844 de 22/04/2010. Assim, tendo em vista que o concurso já se encontra encerrado, já tendo sido publicado o seu resultado final, devidamente homologado e diante das razões expostas no voto, submeto à deliberação do Tribunal Pleno o projeto de Acórdão anexo, no sentido de determinar o arquivamento definitivo dos presentes autos por perda do seu objeto” (cópia anexa).

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40. Por sua vez, o Processo mencionado, 200900047000378, fora assim decidido:

“Conforme relatado, trata-se de fotocópia do inteiro teor da ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho em desfavor do Estado de Goiás, postulando a declaração de ilegalidade dos contratos temporários firmados para contratação de agentes prisionais, bem como das contratações para cargos comissionados sem observância dos requisitos legais, ambos em ofensa ao art. 37 da CF/88. Pede o MPT que seja determinado ao Estado que se abstenha de realizar tais contratações, desligando o pessoal irregularmente contratado, após o trânsito em julgado, tudo sob pena de multa diária de R$ 50.000,00. Depreende das cópias do processo que o mesmo foi ajuizado em 03 de março de 2008, perante o juízo da 10ª Vara do Trabalho desta Capital, que após quase um ano na busca de uma conciliação entre as partes, declarou a incompetência absoluta da Justiça do Trabalho para a apreciação da matéria e determinou a remessa dos autos a uma das Varas da Justiça Comum Estadual, fato este ocorrido em 15 de maio de 2009. Em consulta ao sítio do Gabinete Civil da Governadoria, verifica-se que todas as fases e etapas do concurso público em questão já foram realizadas, com resultado final divulgado e homologado através da Portaria nº 122/10-GABS de 20 de abril do corrente ano, publicado no Diário Oficial nº 20.844 de 22/04/2010. Assim, muito embora mereça reflexão as razões expendidas pela Auditoria junto a este Tribunal, que deixo de acatar por entender que a Representação, se torna desnecessária, haja vista que o concurso sob análise já se encontra encerrado, já tendo sido publicado o seu resultado final, devidamente homologado e diante das razões expostas no voto, submeto à deliberação do Tribunal Pleno o projeto de Acórdão anexo, no sentido de determinar o arquivamento definitivo dos presentes autos por perda do seu objeto; não cabendo a esta Corte de Contas emitir qualquer opinião a respeito daquela lide, diante da concomitância entre as esferas administrativa e judicial, como bem apontado pelo órgão Ministerial de Contas” (cópia anexa).

41. A mencionada manifestação da auditoria no Processo acima referido

(200900047000378) foi da lavra do então Auditor de Contas, hoje Conselheiro de Contas, Celmar

Rech, assim, ao final, se posiciona:

“30. Isto posto, pelas razões levantadas, esta Auditoria sugere à Conselheira Relatora que: i) receba a presente cópia da Ação Civil Pública como REPRESENTAÇÃO, atribuindo-se, por conseguinte, rito próprio, previsto no art. 91 da Lei Orgânica deste Tribunal; ii) intime o Senhor Secretário de Segurança Pública: a) a apresentar, em 15 dias, cronograma de realização do concurso público para substituir os contratos temporários, com previsão de prazos para a contratação da empresa promotora do concurso, para homologação, nomeação e posse dos novos servidores; b) a tomar ciência de que a não adoção de providências efetivas no sentido de substituir referidos servidores permitirá a este Tribunal considerar ilegal as contratações temporárias,

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uma vez que estará se dissociando do objetivo previsto na Lei Goiana nº 13.664/2000; iii) tão logo receba o citado cronograma, o submeta à deliberação do Tribunal Pleno desta Corte, dando ciência ao Secretário responsável de que o descumprimento do Acórdão implicará na aplicação das sanções legais previstas, podendo ocasionar ainda o apensamento da presente Representação às Contas da Pasta. iv) do que sobrevier dar ciência à Procuradoria-Geral do Trabalho. Ao Gabinete da Conselheira Relatora, Dra. Carla Cintia Santillo, para deliberação”.

42. Anteriormente à representação por mim intentada, mas ainda no ano de 2007, o

Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, órgão do Ministério da Justiça, anotou em

“Relatório da visita de inspeção ao Estado de Goiás” o que se segue:

“Atualmente o complexo tem uma população prisional de aproximadamente 3.328 detentos, havendo, dessa forma, só no complexo, um déficit de 1597 vagas. O Estado conta com 1139 agentes prisionais, sendo que apenas 416 foram submetidos a concurso público. Os demais são contratados temporariamente. Com o novo governo, fala-se na não prorrogação desses contratos, além de ainda não ter sido designado pela nova gestão estadual os ocupantes das funções no sistema prisional, encontrando-se nos cargos os que já ocupavam a mesma função”4 (cópia anexa).

43. Em relatório posterior --- elaborado, porém, antes da análise pelo TCE-GO dos

Processos nºs 200700047004557 e 200900047000378 ---, de 28 de abril de 2009, o mesmo Conselho

Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) assim descreveu a situação:

“Atualmente o complexo de Aparecida de Goiânia abriga aproximadamente 4.722 detentos, havendo, dessa forma, só no complexo, um déficit de 2.505 vagas. O Estado conta com cerca de 1.235 agentes prisionais, sendo que apenas 468 foram submetidos a concurso público. Os demais (767) são contratados temporariamente (vigilantes temporários), havendo a notícia da futura realização de concurso, ainda este ano, para a correção de tal distorção... 4 – Processo n. 08016007048/2007. – Assunto – Denúncia sobre contratação de funcionários comissionados e terceirizados em lugar da realização de concurso público. Fomos informados que o concurso já foi autorizado e que será realizado este ano para 400 vagas e mais 400 para cadastro reserva, normalizando-se a situação” (cópia anexa).

44. Em relação a esse tema --- pessoal do sistema penitenciário ---, cabe frisar que ele é 4 Todos os Relatórios do CNPCP revelam situações “indicativas” de graves violações à dignidade humana dos presos que estão, como sempre estiveram, a merecer a atuação fiscalizatória e de controle do TCE-GO, como está a revelar a seguinte passagem em relatório mais recente, de 5-6 de março de 2012: “A capacidade da unidade, determinada pelo juízo da execução, computa não apenas as camas (setenta e sete), mas também as chamadas ‘tumbas’ (locais embaixo das camas, no chão da cela) e a chamada ‘praia’ (espaço no chão da cela, entre as beliches). Tal medida, salvo melhor juízo, contribui enormemente para a violação dos direitos humanos dos presos” (p. 08).

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objeto de acurado acompanhamento por parte do Conselho Nacional de Política Criminal (CNPCP) e

do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), cujos trabalhos se encontram no endereço

eletrônico http://portal.mj.gov.br/cnpcp/data/Pages/MJC4D50EDBPTBRNN.htm.

45. Em relatório produzido em 2008, informa o DEPEN o que se segue:

“Atualmente 1.147 agentes penitenciários atuam no Sistema Penitenciário do Estado, destes 474 são efetivos e 673 são contratos temporários. Há previsão de nomeação de 155 agentes, dependendo da autorização do Governador para contratação, o que perfazerá um total de 1.302 agentes. Segundo informações da Superintendência de Administração e Finanças, foi enviada ao Governador do Estado uma solicitação para realização de concurso para preenchimento de 1.353 vagas, prevista a abertura do certame em maio de 2008. Os agentes penitenciários possuem porte de arma. De acordo com a proporção de 1 agente para cada 5 presos, o número de agentes é inadequado, atualmente existe 1 agente para cada 7 presos” (sic).

46. Em relação à situação do Estado de Goiás ainda de 2008, o DEPEN apresenta a

seguinte tabela:

Quadro Funcional

UF Nº de

cargos de agentes

Nº de cargos

providos

Nº de cargos vagos

Medidas para provimento de vagas.

GO

1777

474

1303

Foi enviada ao Governador do Estado uma solicitação para realização de concurso para

preenchimento de 1.353 vagas, prevista a abertura do certame em maio de 2008

47. No Plano Diretor consensuado entre o DEPEN e o Estado de Goiás, esse último

apresentou, para a questão de pessoal, as seguintes metas em 2010:

META 11 – AGENTES, TÉCNICOS E PESSOAL ADMINISTRATIVO AÇÕES PARA O ALCANCE DA META AÇÃO Nº 01 Ampliar o número de cargos previstos na Lei nº 15.674, de 02 de junho de 2006, que prevê os cargos e vencimentos do servidor penitenciário do Estado de Goiás.

META 12 – QUADRO FUNCIONAL

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AMPLIAÇÃO DO QUADRO FUNCIONAL, ATRAVÉS DE CONCURSOS PÚBLICOS E CONTRATAÇÕES, EM QUANTITATIVO ADEQUADO AO BOM FUNCIONAMENTO DOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS. SITUAÇÃO EM: 12/03/2008

ATINGIDA, EM FUNCIONAMENTO, MAS FORA DOS PADRÕES DESEJÁVEIS. Posteriormente, em monitoramento ao Plano Diretor consensuado, o DEPEN constatou a seguinte situação:

META 11 – AGENTES, TÉCNICOS E PESSOAL ADMINISTRATIVO CRIAÇÃO E INSTITUIÇÃO DE CARREIRAS PRÓPRIAS DE AGENTES PENITENCIÁRIOS, TÉCNICOS E PESSOAL ADMINISTRATIVO, BEM COMO A ELABORAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE UM PLANO DE CARREIRA.

AÇÃO Nº 01 Ampliar o número de cargos previstos na Lei nº 15.674, de 02 de junho de 2006, que prevê os cargos e vencimentos do servidor penitenciário do Estado de Goiás. ETAPAS DA AÇÃO INÍCIO CONCLUSÃO 1ª ETAPA Ampliar os quantitativos de cargos contidos na Lei nº 15.674, de 02 de junho de 2006.i

Fevereiro/2009

Junho/2009

SITUAÇÃO AGOSTO/10: Em andamento O Concurso Público para provimento de cargos de Agente de Segurança Prisional foi realizado no primeiro semestre de 2010 e os aprovados estão sendo nomeados gradativamente ate setembro de

META 12 – QUADRO FUNCIONAL AMPLIAÇÃO DO QUADRO FUNCIONAL, ATRAVÉS DE CONCURSOS PÚBLICOS E CONTRATAÇÕES, EM QUANTITATIVO ADEQUADO AO BOM FUNCIONAMENTO DOS ESTABELECIMENTOS PRISIONAIS. AÇÃO Nº 01 Realização do concurso público para agente penitenciário de 2008, provimento de 2.746 novos cargos. ETAPAS DA AÇÃO INÍCIO CONCLUSÃO 1ª ETAPA Autorização do Governador do Estado para realização do Concurso público SITUAÇÃO JUNHO/08: Alcançada

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O concurso público já foi autorizado pelo Governador. 2ª ETAPA Publicação do Edital do Concurso Público SITUAÇÃO OUTUBRO/09: Alcançada Edital publicado em setembro/2009. 3ª ETAPA Realização das Provas SITUAÇÃO OUTUBRO/09: Alcançada Concurso a ser realizado pela Fundação Sousândrade, da Universidade Federal do Maranhão. Provas realizadas em 01/11. 4ª ETAPA Curso de Formação Março/2010 SITUAÇÃO AGOSTO/10: Em andamento Curso sendo realizado, previsão de término em 09/2010 5ª ETAPA Provimento dos Cargos Abril/2010 SITUAÇÃO AGOSTO/10: Em andamento Estão sendo nomeados 100 aprovados a cada mês até setembro de 2010. 48.

AÇÃO Nº 02 Realização do concurso público de 2011 para agente penitenciário e área administrativa. ETAPAS DA AÇÃO INÍCIO CONCLUSÃO 1ª ETAPA Autorização do Governador do Estado para realização do Concurso público

Janeiro/2011

Maio/2011

SITUAÇÃO ATUAL: 2ª ETAPA Publicação do Edital do Concurso Público

Maio/2011

Junho/2011

SITUAÇÃO ATUAL: 3ª ETAPA Realização das Provas

Julho/2011

Agosto/2011

SITUAÇÃO ATUAL:

49. Como se está a ver, a ação de nº 02, consistente na realização de concurso público

em 2011 para o preenchimento dos cargos públicos efetivos vagos no sistema prisional, não foi

realizada. Em vez disso, preferiu o Poder Executivo editar o Decreto 7.474/2011, para autorizar a

contratação temporária de mais 981 (novecentos e oitenta e um) Vigilantes Penitenciários

Temporários (VPT).

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50. A inobservância dessas normas pactuadas, contrariando o dever de lealdade

(Bundestreue) entre os entes federativos, pode vir a implicar em futuras novas dificuldades do Estado

de Goiás em obter atuações conjuntas com a União, notadamente no que tange à obtenção de

recursos por meio de convênios.

51. Decorrência disso é que o Estado de Goiás terá paulatinamente mais dificuldades em

reverter um quadro lamentável no sistema prisional, de desrespeito à dignidade humana.

B.2.2 – Da ilicitude da não-prorrogação do concurso público veiculado pelo Edital nº 03/2009

52. A validade do concurso público veiculado por meio do Edital 3/2009 para provimento

de 400 (quatrocentos) cargos vagos de Agente de Segurança Prisional e de mais 400 (quatrocentos)

para a formação de cadastro de reserva expirou, não obstante a previsão contida no item 11.1 desse

Edital, sem prorrogação, em abril de 2012, mesmo havendo carência de pessoal, como comprovam o

Decreto Estadual n 7.474/2011 --- autorizativo da manutenção de 981 (novecentos e oitenta e um)

contratos temporários de VPT --- e a abertura de processo seletivo simplificado para a contratação

de 666 (seiscentos e sessenta e seis) pessoas, para o desempenho das funções do cargo de Agente de

Segurança Prisional.

53. A existência de candidatos aprovados no cadastro de reserva do concurso público

veiculado no Edital nº 03/2009 e a comprovação da necessidade de manutenção de quase 1000 (mil)

cargos de Agente de Segurança Prisional retiram a legitimidade da conduta administrativa que não

prorroga concurso público válido e imediatamente publica edital de seleção para contratos

temporários, a fim de suprir a deficiência de pessoal efetivo.

54. De acordo com informação contida no sítio eletrônico oficial

(http://www.sgc.goias.gov.br/upload/links/arq_335_CopiaAdeARelacaoAdeAServidores_Abril2012.p

df ), existem 243 (duzentos e quarenta e três) vigilantes penitenciários temporários e se pretende,

por meio do Edital nº 05/2012, contratar mais 666 (seiscentos e sessenta e seis); frente ao total de

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909 (novecentos e nove) vigilantes penitenciários temporários5, há apenas 192 (cento e noventa e

dois) Agentes de Segurança Prisional efetivos6, um evidente malferimento à regra do concurso

público (inciso II do artigo 37 da Constituição Federal e inciso II do artigo 92 da Constituição do

Estado de Goiás), sem falar na quantidade desarrazoada e inconstitucionalmente indevida de cargos

em comissão, em flagrante violação ao inciso V do artigo 37 da CF/88 e inciso VI do artigo 92 da CE-

GO.

55. Todo ato administrativo deve atender ao interesse público primário, e o silêncio

administrativo é a recusa em atender a esse interesse.

56. A prorrogação do prazo de validade do concurso público é, certamente, discricionária

do Administrador Público, mas sempre uma discricionariedade orientada ao atendimento de um

interesse público primário, e nunca ao seu desrespeito.

57. No caso em questão, a intenção de deixar escorrer o prazo de validade do concurso

público veiculado pelo Edital nº 03/2009, para criar uma situação de necessidade temporária de

excepcional interesse público (inciso X do artigo 92 da CE-GO), é cristalina, notadamente pela notícia

de 1º de fevereiro de 2012 --- quase 2 (dois) meses antes da expiração do prazo de validade do

concurso então vigente ---, constante da página eletrônica da AGSEP, a saber:

“AGSEP consegue concurso público para 610 agentes prisionais O Presidente da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal (AGSEP), Edemundo Dias de Oliveira Filho, informa aos servidores da instituição, nesta quarta-feira, 01/02, que a Comissão de Concursos da Secretaria de Gestão e Planejamento do Estado (Segplan) acatou a solicitação do órgão em abrir concurso público para 610 Agentes de Segurança Prisional e 15 técnicos agrícolas. O concurso da AGSEP deverá ser anunciado pelo Governo do Estado junto com os outros certames da Segurança Pública, que também estão em estudo. De acordo com Dias, a novidade é a contratação de quadro técnico para a área rural para trabalhar na implantação e execução do Projeto Fazenda Esperança, que prevê a existência de

5 De acordo com o Decreto do Poder Executivo Estadual nº 7.474, de 03 de novembro de 2011, “Fica a Agência Goiana do Sistema de Execução Penal autorizada a manter até 981 (novecentos e oitenta e um) contratos temporários para a função de Vigilante Penitenciário, mediante permanência do pessoal já contratado e/ou prorrogação dos ajustes cuja vigência tenha se expirado ou vier a expirar-se, e celebração de novos instrumentos, mediante processo seletivo, tudo nos termos da Lei nº 13.664, de 27 de julho de 2000 e observado, em qualquer caso, o limite de 01 (um) ano”. Ou seja, há 09 (nove) meses, o Poder Executivo já coabitava assumidamente com a inobservância constitucional. 6 192 cargos efetivos de ASP de um total de 1.827 cargos, conforme prevê o Anexo I da Lei Estadual nº 17.090, de 02 de julho de 2010.

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atividades agropastoris nas oito regionais da AGSEP em Goiás, atendendo as 76 unidades prisionais da instituição. A idéia é estabelecer a autossustentabilidade do sistema prisional e gerar mais postos de trabalho para detentos nessas localidades” (in http://www.agsep.go.gov.br/noticias/01/02/2012/agsep-consegue-concurso-publico-para-610-agentes-prisionais , acessado em 25 de junho de 2012).

58. As promessas governamentais, de realização de concurso público para resolução do

déficit de pessoal na área prisional, não mais encantam, pois o governo é um continuum, em que o

conjunto de ações nessa área sempre tem revelado a pretensão estatal de manutenção de um status

quo de inobservância ao mandamento constitucional do concurso público.

59. Conquanto tenha sido “ingênua”, quando do julgamento das duas representações já

mencionadas (Processos nºs 200700047004557 e 200900047000378), certamente a Corte de Contas

não mais o será na análise desta, até para não transmudar seu estado de “inocência” em estado de

conivência, ante uma situação que diz respeito à observância da regra do concurso público, à

profissionalização da Administração Pública (a alegada, mas sobejamente burlada, meritocracia), à

segurança dos profissionais que atuam no sistema prisional, do preso e dos cidadãos e à dignidade

do próprio preso.

60. A ausência de manifestação formal e específica da Administração Pública, nesse

contexto, permite inferir inequivocamente a real intenção estatal: prestigiar a contratação

temporária, mesmo com todos os efeitos adversos que daí advém, em detrimento dos aprovados no

concurso público; no caso, a infração é tríplice: a ausência de manifestação revela a frustração ao

dever de a Administração decidir, à violação da regra do concurso público e o dever de a

Administração motivar seus atos.

61. Em verdade, a ausência de manifestação resultou --- à semelhança da emergência

fabricada, quando há burla ao disposto no inciso IV do artigo 24 da Lei de Licitações --- na artificiosa

criação de uma necessidade temporária de excepcional interesse público.

62. Ante essa situação criada artificialmente, as mesmas medidas a serem adotadas em

caso de dispensa emergencial fabricada devem ser adotadas pela Corte de Contas7 (Advocacia-Geral

7 Ubi eadem ratio ibi idem ius.

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da União, Orientação Normativa nº 11, de 1º de abril de 2009: “A CONTRATAÇÃO DIRETA COM

FUNDAMENTO NO INC. IV DO ART. 24 DA LEI Nº 8.666, DE 1993, EXIGE QUE, CONCOMITANTEMENTE,

SEJA APURADO SE A SITUAÇÃO EMERGENCIAL FOI GERADA POR FALTA DE PLANEJAMENTO, DESÍDIA

OU MÁ GESTÃO, HIPÓTESE QUE, QUEM LHE DEU CAUSA SERÁ RESPONSABILIZADO NA FORMA DA

LEI”).

63. Além de por em risco a segurança dos próprios contratados, dos presos e da

sociedade em geral, ante a irrefletida manutenção de cargos vagos para posterior contratação

temporária, tal ausência de manifestação da Administração Pública põe em risco o erário, pois que,

segundo jurisprudência firmada, a expectativa de nomeação dos candidatos aprovados em concurso,

ainda que fora do número de vagas originalmente ofertadas, transformuta-se em direito adquirido,

“quando, dentro do prazo de validade do certame, há contratação de pessoal de forma precária para

o preenchimento de vagas existentes, com preterição daqueles que, aprovados, estariam aptos a

ocupar o mesmo cargo ou função” (Superior Tribunal de Justiça, RMS 34.319-MA), com todas as

consequências financeiras que daí advém (e.g., posse com efeitos retroativos dos candidatos

aprovados, mas preteridos).

64. Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre a situação

de candidatos aprovados em concurso público para provimento de cargos vagos de Auditor de

Contas do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás revela bem o prejuízo que o erário

poderá vir a sofrer, a saber:

“DIREITO ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. PRETERIÇÃO NA ORDEM CLASSIFICATÓRIA. ILEGALIDADE RECONHECIDA. EFEITOS FINANCEIROS E FUNCIONAIS DEVIDOS DESDE A DATA DA IMPETRAÇÃO. PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA. DESNECESSIDADE. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELO ESTADO DE GOIÁS E POR EDUARDO DE SOUSA LEMOS E OUTRO REJEITADOS. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS POR MAURÍCIO OSCAR BANDEIRA MAIA E OUTRO ACOLHIDOS. 1. Nos termos dos arts. 1º da Lei 5.021/66 e 14, § 4º, da Lei 12.016/09, o pagamento de vencimentos e vantagens concedidos a servidor público em mandado de segurança serão realizados relativamente às prestações que se vencerem a partir da data da impetração.

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2. As restrições sobre as despesas com pessoal, previstas na Lei de Responsabilidade Fiscal, não incidem quando decorrerem de decisões judiciais, nos termos do art. 19, § 1º, IV, da LC 101/00. 3. Reconhecida a ilegalidade do ato que impediu a nomeação dos embargantes no cargo de Auditor do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás, são devidos todos os direitos do cargo, financeiros e funcionais, a partir da data da impetração do mandamus. 4. Embargos de declaração opostos pelo ESTADO DE GOIÁS e por EDUARDO DE SOUSA LEMOS e OUTRO rejeitados. Embargos de declaração opostos por MAURÍCIO OSCAR BANDEIRA MAIA e OUTRO acolhidos para, sanando a omissão apontada, esclarecer que são devidos aos embargantes todos os direitos do cargo, inclusive os funcionais, a partir da data da impetração” (Edcl no RMS nº 26.593-GO, julgado em 23 de março de 2010, por unanimidade).

65. Isto posto, propugna-se pela imediata instauração de Tomada de Contas Especial,

nos termos do artigo 1º, inciso XVIIII, c/c inciso III do artigo 99, ambos da LOTCE-GO.

III – DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE GESTÃO

66. Como já transcrito antes, o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária,

anotou em “Relatório da visita de inspeção ao Estado de Goiás”, em relatório do início de 2007, que

“o complexo tem uma população prisional de aproximadamente 3.328 detentos, havendo, dessa forma, só no

complexo, um déficit de 1597 vagas. O Estado conta com 1139 agentes prisionais, sendo que apenas 416 foram

submetidos a concurso público. Os demais são contratados temporariamente”; “Com o novo governo, fala-se

na não prorrogação desses contratos, além de ainda não ter sido designado pela nova gestão estadual os

ocupantes das funções no sistema prisional, encontrando-se nos cargos os que já ocupavam a mesma função”8.

67. Tal quadro se repetiu em relatório de 28 de abril de 2009, do mesmo Conselho

Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), que assim descreveu a situação: 8 Todos os Relatórios do CNPCP revelam situações “indicativas” de graves violações à dignidade humana dos presos que estão, como sempre estiveram, a merecer a atuação fiscalizatória e de controle do TCE-GO, como está a revelar a seguinte passagem em relatório mais recente, de 5-6 de março de 2012: “A capacidade da unidade, determinada pelo juízo da execução, computa não apenas as camas (setenta e sete), mas também as chamadas ‘tumbas’ (locais embaixo das camas, no chão da cela) e a chamada ‘praia’ (espaço no chão da cela, entre as beliches). Tal medida, salvo melhor juízo, contribui enormemente para a violação dos direitos humanos dos presos” (p. 08).

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“Atualmente o complexo de Aparecida de Goiânia abriga aproximadamente 4.722 detentos, havendo, dessa forma, só no complexo, um déficit de 2.505 vagas. O Estado conta com cerca de 1.235 agentes prisionais, sendo que apenas 468 foram submetidos a concurso público. Os demais (767) são contratados temporariamente (vigilantes temporários), havendo a notícia da futura realização de concurso, ainda este ano, para a correção de tal distorção... 4 – Processo n. 08016007048/2007. – Assunto – Denúncia sobre contratação de funcionários comissionados e terceirizados em lugar da realização de concurso público. Fomos informados que o concurso já foi autorizado e que será realizado este ano para 400 vagas e mais 400 para cadastro reserva, normalizando-se a situação” (cópia anexa).

68. Tal situação não demonstrou melhora significativa alguma, pelo contrário, só piora,

pois de lá para cá de um total de 1827 constantes da Lei nº 17.090, de 02 de julho de 2010, em seu

Anexo I, apenas 192 cargos efetivos de ASP estão preenchidos e, portanto, 1635 vagos; apesar disso,

em vez de se planejar para a realização de um concurso público para provimento desses cargos

efetivos vagos, o Poder Executivo, por meio do Decreto nº 7.474, de 03 de novembro de 2011,

autorizou a contratação/manutenção de 981 VPTs, em clara afronta à regra do concurso público e

colocando em risco a segurança dos agentes, dos presos e da sociedade9.

69. Assim, tal quadro de descalabro na área de pessoal da Agência Goiana do Sistema de

Execução Penal está a demandar a pactuação de Termo de Ajustamento de Gestão (TAG), com

fundamento no artigo 110-A da Lei Estadual nº 16.168/07, para que se cumpra fielmente o

mandamento constitucional da realização de concurso público para provimento dos cargos efetivos

vagos e se passe a trabalhar dentro dos padrões de regularidade que se espera da Administração

Pública.

70. Cabe esclarecer que a pactuação do TAG não conflita com a assinatura de prazo para

esvurmar as irregularidades do Edital, pois essa assinatura se faz premente, já que tudo está a indicar

a real necessidade da continuidade da prestação da atividade estatal --- ainda que originada a

9 A manutenção de VPTs possui vários efeitos deletérios que extravasam do sistema prisional e atinge a segurança pública em sentido lado, pois, por exemplo, a concessão de porte de arma, prevista no inciso VII do artigo 6º da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003, deve ser dada com eficácia temporal (art. 23, II, do Decreto Federal nº 5.123, de 1º de julho de 2004, o que dificulta sobejamente o controle dessa autorização pelo Departamento da Polícia Federal, pois que a contratação se dá a título precaríssimo, apesar de a contratação ser temporária --- essa situação por si só demanda uma análise da regularidade das autorizações dos portes de armas para os VPTs e, na mesma toada, os ASPs.

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Representação em face do Edital nº 05/12, cujo objeto é o processo seletivo para a contratação de vigilantes penitenciários temporários.

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necessidade temporária de excepcional interesse público da inércia da Administração ---, enquanto

aquela, a pactuação do TAG, visa a corrigir um problema que precisa ser resolvido em um prazo mais

dilatado, porquanto existe um plexo de ações administrativas a serem ser adotadas, para a solução

da questão.

IV - DA TUTELA LIMINAR

71. O artigo 119 da Lei Estadual nº 16.168/07 (Lei Orgânica do TCE-GO) prescreve que “O Tribunal, em caso de urgência, de fundado receio de grave lesão ao erário ou a direito alheio ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, poderá, de ofício ou mediante provocação, adotar medida cautelar, nos termos estabelecidos no Regimento Interno, determinando, entre outras providências, a suspensão do ato ou do procedimento questionado, até que o Tribunal decida sobre o mérito da questão suscitada”. Referida previsão é essencial para a adequada proteção do patrimônio público e da preservação da idoneidade dos atos administrativos.

72. Na visão instrumentalista do processo judicial, que se amolda com perfeição aos processos da Corte de Contas, “O processo, em outras palavras, é instrumental que apenas tem valor quando serve ao direito material e aos escopos da jurisdição” (Luiz Guilherme Marinoni, in Novas linhas do processo civil, Editora Malheiros, 3ª edição, 1999, p. 100).

73. No caso em questão, a concessão de medida liminar para suspender a realização do processo seletivo veiculado por meio do Edital nº 05/2012 se faz necessária, porquanto presentes os requisitos da fumaça do bom direito (fumus boni iuris) e do perigo da demora (periculum in mora).

74. Certo. A fumaça do bom direito decorre das várias ilegalidades constantes do edital e devidamente questionadas na presente representação, notadamente a exigência de qualificação acadêmica do candidato à função de VPT inferior à ASP, que é por ele substituído.

75. Por sua vez, o perigo da demora decorre do fato de que as inscrições findaram no dia 1º de julho de 2012 e em breve haverá contratação temporária de pessoas sem a devida qualificação e treinamento para o exercício temporário das funções de ASP, além do que, em face da limitação temporal desse tipo de contratação em 01 (um) ano, é certo que o transcurso do processo sem a concessão de liminar será inócuo para o combate a esses desmandos.

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V - DO PEDIDO

76. Destarte, ante o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS:

a) Seja deferida liminar inaudita altera parte, determinando-se ao Secretário da SEGPLAN e ao Presidente da AGSEP a imediata suspensão do Edital de Processo Seletivo nº 05/2012, até que o TCE-GO delibere sobre o mérito desta Representação;

b) Sejam citados, nos termos do inciso V do artigo 258 do Regimento Interno do TCE-GO10, o Secretário da Secretaria de Estado de Gestão e Planejamento (SEGPLAN), GIUSEPPE VECI, e o Presidente da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal (AGSEP-GO), EDEMUNDO DIAS DE OLIVEIRA FILHO, para, querendo, apresentarem razões de justificativas; o primeiro, para que se manifeste sobre as irregularidades apontadas constantes do Edital, o segundo, para que se manifeste sobre as irregularidades apontadas constantes do Edital e sobre o porquê da não-prorrogação do prazo de validade do concurso público veiculado por meio do Edital nº 03/2009, mesmo ante a existência de mais de 800 cargos vagos de Agente de Segurança Prisional;

c) Ao final, ouvidos ambos e realizada a regular instrução do feito nos termos do artigo 102 do RITCE-GO --- que, no caso presente, desde já, se pleiteia célere, para que possa ser útil ---, requer-se seja assinalado prazo ao Secretário da SEGPLAN e ao Presidente da AGSEP-GO, para a confecção de novo edital de seleção por capacidade e mérito, escoimado das irregularidades aqui apontadas;

d) Por fim, seja julgada procedente a representação, para, também, converter a presente representação em processo de Tomada de Contas Especial, nos termos do inciso III do artigo 99 da Lei Estadual nº 16.168, de 11 de dezembro de 2007;

e) E, ainda, diante de tal quadro de descalabro na área de pessoal da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal, seja pactuado Termo de Ajustamento de Gestão, com fundamento no artigo 110-A da Lei Estadual nº 16.168/07, para que se cumpra fielmente o mandamento constitucional da realização de concurso público

10 “Art. 258. Ao apreciar processo relativo à fiscalização de atos e contratos, o Relator ou o Tribunal de Contas do Estado:... V – determinará a citação do responsável para, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentar razões de justificativa, quando verificada a ocorrência de irregularidades decorrentes de ato ilegal, ilegítimo ou antieconômico, bem como infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária ou patrimonial”.

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para provimento dos cargos efetivos vagos e se passe a trabalhar dentro dos padrões de regularidade que se espera da Administração Pública;

f) No caso de a decisão da Corte --- que deve ser monitorada, nos termos do artigo 244 do RITCE-GO --- vir a ser descumprida, solicita-se a incontinenti aplicação das medidas do § 1º do artigo 25911 e do artigo 26012, ambos do RITCE-GO.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Goiânia, 02 de julho de 2012.

Fernando dos Santos Carneiro Procurador do MPC-TCE-GO

11 “Art. 259. Verificada a ilegalidade de ato ou contrato em execução, o Tribunal de Contas do Estado assinará prazo, de até 15 (quinze) dias, para que o responsável adote as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, com indicação expressa dos dispositivos a serem observados, sem prejuízo do disposto no inciso IV, do caput do art. 99, bem como de seus §§ 1º e 2º, da sua Lei Orgânica. § 1º No caso de ato administrativo, o Tribunal, se não atendido: I – sustará a execução do ato impugnado; II – comunicará a decisão à Assembléia Legislativa e ao Chefe do Poder Executivo; III – aplicará ao responsável, no próprio processo de fiscalização, ressalvado o disposto no art. 210, a multa prevista no inciso VII, do art. 313, ambos deste Regimento”. 12 “Art. 260. O responsável que injustificadamente deixar de adotar as providências determinadas pelo Tribunal de Contas do Estado, no prazo de 15 (quinze) dias contados da ciência da decisão, ficará sujeito à responsabilização e ao ressarcimento das quantias pagas e outros danos causados ao erário após essa data, sem prejuízo de outras sanções legais”.