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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS 57ª Promotoria de Justiça de Goiânia Defesa do Patrimônio Público e Combate à Corrupção _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DA ____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA – GO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS , por seu Promotor de Justiça titular da 57ª Promotoria de Justiça de Goiânia, com suporte no art. 129, II e III, da Constituição Federal, no art. 17, caput, da Lei 8.429/92, no art. 5º, I, da Lei 7.347/85, art. 25, IV, da Lei 8.625/93, e art. 46, VI, da Lei Complementar Estadual 25/98, vem perante Vossa Excelência propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA com pedido de medida cautelar incidental em desfavor de: ____________________________________________________________________________________________________ 1/29 Rua 23, esq. com Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, sala 332, Jardim Goiás, Goiânia-GO CEP 74.805-100 (62) 3243-8000 e 127 GABINETE (62) 3243-8442 www.mp.go.gov.br e-mail: [email protected]

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DA VARA DA … · art. 129, II e III, da Constituição Federal, no art. 17, caput, da Lei 8.429/92, no art. 5º, I, da ... Goiás/GO, CEP 75920-000,

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS57ª Promotoria de Justiça de GoiâniaDefesa do Patrimônio Público e Combate à Corrupção

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DA ____ VARA DA FAZENDA

PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA – GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu

Promotor de Justiça titular da 57ª Promotoria de Justiça de Goiânia, com suporte no

art. 129, II e III, da Constituição Federal, no art. 17, caput, da Lei 8.429/92, no art. 5º,

I, da Lei 7.347/85, art. 25, IV, da Lei 8.625/93, e art. 46, VI, da Lei Complementar

Estadual 25/98, vem perante Vossa Excelência propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVAcom pedido de medida cautelar incidental

em desfavor de:

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Rua 23, esq. com Av. Fued José Sebba, Qd. 06, Lts. 15/25, sala 332, Jardim Goiás, Goiânia-GO CEP 74.805-100 (62) 3243-8000 e 127 GABINETE (62) 3243-8442 www.mp.go.gov.br e-mail: [email protected]

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ALCIDES RODRIGUES FILHO, brasileiro, casado, médico, ex-

Governador do Estado de Goiás, RG n.º 180.802-SPTC-GO, CPF/MF n.º 136.209.831-

00, domiciliado na Av. Nossa Senhora das Graças, n.º 10, Jardim Santa Helena, Santa

Helena de Goiás/GO, CEP 75920-000;

RAQUEL MENDES VIEIRA RODRIGUES, brasileira, casada, musicista,

Prefeita Municipal de Santa Helena de Goiás/GO, CPF/MF n.º 181.977.956-49,

domiciliada na Rua Eduvaldo Veloso do Carmo, n.º 510, Centro, Santa Helena de

Goiás/GO, CEP 75920-000, pelos motivos de fato e direito que passa a expor:

I- DOS FATOS:

O requerido ALCIDES RODRIGUES FILHO assumiu o cargo de

Governador do Estado de Goiás em abril de 2006, foi reeleito em outubro de 2006 e

permaneceu no cargo até o fim do mandato, em 31 de dezembro de 2010.

Durante este período que ocupou o Palácio das Esmeraldas o requerido se

aproveitou das regalias oferecidas pelo cargo de Governador e utilizou indevidamente

as aeronaves do Estado de Goiás para fazer diversas viagens particulares,

principalmente para as cidades onde possui fazendas.

O Ministério Público do Estado de Goiás teve acesso à agenda de

compromissos oficiais do requerido ALCIDES RODRIGUES FILHO enquanto

Governador do Estado (doc. anexo), bem como a relatórios detalhados das viagens por

ele realizadas durante o período em que permaneceu no cargo, os quais apresentam dia

e hora da viagem, bem como destino e modelo da aeronave (doc. anexo).

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Diante de tais documentos, apurou-se que além do ex-Governador, a esposa

deste, RAQUEL MENDES VIEIRA RODRIGUES, também foi assídua passageira

das aeronaves do Estado, nelas viajando sozinha por várias vezes.

Ocorre que entre 1º/04/2006 e 31/12/2010 os requeridos realizaram nada

menos do que 1.348 (mil, trezentos e quarenta e oito) voos nas aeronaves do Estado,

sendo que destes 750 (setecentos e cinquenta) voos tiveram finalidades

exclusivamente particulares, tendo em vista que não havia na agenda oficial do

Governador qualquer evento nos locais de destino.

Isso posto, constata-se que 55,64% (cinquenta e cinco por cento e

sessenta e quatro décimos) das viagens realizadas pelos requeridos entre abril de

2006 e dezembro de 2010 teve como escopo atender seus próprios interesses, tendo

viajado, inclusive, para serem “padrinhos de casamento”, o que demonstra um total

descaso com o patrimônio público e com os princípios constitucionais que regem a

Administração Pública.

Como mencionado, a esposa do requerido, RAQUEL MENDES VIEIRA

RODRIGUES, teve significativa participação nestas viagens que custaram tão caro ao

erário estadual, figurando como única passageira em 37% (trinta e sete por cento)

dos voos irregulares, o que corresponde a exatos 278 (duzentos e setenta e oito) voos.

Para melhor análise das viagens ilegais, é relevante observar o quadro que

segue, o qual apresenta as cidades para as quais os requeridos viajaram e a quantidade

de voos para cada uma delas, realizados durante o período em que ALCIDES

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RODRIGUES FILHO ocupava a cadeira de Governador do Estado de Goiás:

ORIGEM - DESTINO QUANTIDADE DE VOOS

Goiânia – Santa Helena 439Goiânia – Rio Verde 111Goiânia – Jataí 5Goiânia – Caldas Novas 2Goiânia – Paraúna 2Goiânia – Tuverlândia 2Goiânia – Cocalinho (MT) 1Goiânia – Uruana 1Goiânia – Porangatu 3Goiânia – Itumbiara 1Goiânia – Nova Crixás 2Goiânia – Araguacema 11Goiânia – Palmas 1Goiânia – Ivolândia 1Goiânia – Goiás 6Goiânia – Palmeiras 1Goiânia – São Miguel do Araguaia 2Goiânia – Alto Paraíso 1Goiânia – Jaraguá 2Goiânia – São Simão 2Goiânia – Aruanã 4Goiânia – Catalão 2Goiânia – Pires do Rio 2Goiânia – Uruaçu 3

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ORIGEM - DESTINO QUANTIDADE DE VOOS

Goiânia – Acreúna 18Goiânia – Mineiros 1Goiânia – Buriti Alegre 2Goiânia – Aragarças 1Goiânia – Mozarlândia 3Goiânia – Água Boa 1Goiânia – Goianésia 3Goiânia – Sancrerlândia 1Goiânia – Morrinhos 1Goiânia – Pirenópolis 1Goiânia – Cristalina 1Goiânia – Ipameri 6Goiânia – Goiatuba 1Goiânia – Luiz Alves 1Goiânia – Luziânia 1Goiânia – Bandeirante 2Goiânia – Edéia 1Goiânia – Cassilândia/MS 1Goiânia – Rio Quente 3Goiânia – Jussara 1Goiânia – Piranhas 1Rio Verde – Santa Helena 22Goiás – Rio Verde 1Santa Helena – Quirinópolis 1Caldas Novas – Luziânia 1Caldas Novas – Rio Verde 1

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ORIGEM - DESTINO QUANTIDADE DE VOOS

Luziânia – Santa Helena 2Uruana – Caldas Novas 1Goiás – Santa Helena 5Santa Helena – Pirenópolis 1Santa Helena - Castelândia 1Santa Helena – Jataí 1Santa Helena – Mineiros 1Palmas – Araguacema 5Santa Helena – Pires do Rio 4Palmeiras – Rio Verde 1Santa Helena – Caldas Novas 2Aruanã – Rio Verde 1Porangatu – Santa Helena 1Uruaçu – Araguacema 1Buriti Alegre – Santa Helena 1Catalão – Santa Helena 1Aragarças – Santa Helena 1Água Boa – Rio Verde 1Santa Helena – São Simão 2Rio Verde – Jataí 1Acreúna – Santa Helena 3Aruanã – Santa Helena 1Rio Verde – Caçu 1Aruanã – S. M. Do Araguaia 1Acreúna – Rio Verde 1Sancrerlândia – Rio Verde 1

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ORIGEM - DESTINO QUANTIDADE DE VOOS

Rio Verde – Morrinhos 1Morrinhos – Anápolis 1Araguacema – Santa Helena 1Santa Helena – Jussara 1Rio Verde – Piranhas 1Santa Helena – Novo Brasil 1Rio Verde – Itumbiara 1Santa Helena – Caçu 1Ipameri – Santa Helena 1Santa Helena – Uruaçu 1São Simão – Rio Verde 1Santa Helena – Iporá 1Mozarlândia – Santa Helena 1Santa Helena – Goianésia 2Goianésia – Ipameri 1Ipameri – Rio Verde 2Uruaçu - Niquelândia 1Bandeirante – Santa Helena 1Cassilândia/MS - Santa Helena 1Santa Helena – Uberlândia 1Rio Verde – Anápolis 1

Diante do exposto, cabe observar que o destino recorde foi a cidade de

Santa Helena de Goiás/GO, para onde foram realizados 439 (quatrocentos e trinta e

nove) voos, o que corresponde a 58,5% (cinquenta e oito por cento e cinco décimos)

do total de voos irregulares.

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Neste ponto, faz-se mister lembrar que RAQUEL RODRIGUES ocupa,

desde 1º/01/2005 o cargo de prefeita da cidade de Santa Helena de Goiás/GO, e, bem

por isso, não é surpresa que 51,48% (cinquenta e um por cento e quarenta e oito

décimos) das viagens para aquela cidade tiveram como única passageira a requerida, o

que corresponde a um total de 226 (duzentos e vinte e seis) voos.

Ainda, Santa Helena de Goiás/GO é a cidade natal de ALCIDES

RODIGUES FILHO, e, segundo sua declaração de bens apresentada ao Tribunal

Superior Eleitoral nas eleições de 2006 (doc. anexo), ele possui sete imóveis no

município, principalmente fazendas, o que justifica o grande número de viagens do

requerido com destino àquela cidade.

Outro município bastante visitado pelos requeridos foi Rio Verde/GO, para

onde foram realizados 111 (cento e onze) voos. Não por acaso, os requeridos são

proprietários da “Fazenda Paraíso”, situada na zona rural do referido município,

segundo as declarações por eles prestadas ao TSE.

O requerido ALCIDES RODRIGUES FILHO efetuou também várias

viagens à Araguacema/TO, que fica a apenas 22 km da cidade de Santa Maria das

Barreiras/PA, na qual os requeridos possuem, pelo menos, quatro fazendas.

Também merecem ser ressaltadas as viagens realizadas pelos requeridos à

cidade de Cocalinho/MT, que é notoriamente destino de pesca, e para diversas outras

cidades no interior de Goiás, sem que houvesse, todavia, qualquer previsão na agenda

oficial do ex-Governador, o que significa que tais viagens tiveram finalidade

exclusivamente particulares.

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Diante do exposto, verifica-se que as viagens irregulares perpetradas pelos

requeridos feriram princípios administrativos, notadamente o da moralidade e da

legalidade, bem como causaram uma vasta lesão ao erário, posto que utilizaram

aeronaves de propriedade do Estado de Goiás e estruturas de voo (tais como

combustível, manutenção da aeronave e diária dos pilotos) que deveriam ser

empregadas apenas em viagens oficiais.

Sabe-se que todas as mencionadas viagens foram realizadas nas aeronaves

PT-WTW (King Air B-300), PT-RFA (Sêneca II, modelo EMB 210C, Fabricante

Embraer, ano 1980), PP-EJG (King Air B-200), PT-VJH (Sêneca III, modelo EMB

810D, ano 1989), PT-GAR (King Air C-90 GT) e PR-EGO (Sêneca V, modelo PA34-

220T, ano 2006).

Isso posto, em razão da variedade de aeronaves utilizadas, escolheu-se

como parâmetro para aferir o dano os aviões Sêneca III e King Air B-100, cujo valor

por quilômetro voado é mediano, não correspondendo nem ao mais caro, nem ao mais

barato. Salienta-se que tais valores foram informados por empresas especializadas em

táxi-aéreo.

Desta forma, apurou-se que as viagens irregulares e ilegais realizadas pelos

requeridos durante o mandato de ALCIDES RODRIGUES FILHO como

Governador do Estado de Goiás causaram ao erário um dano exorbitante no valor de

R$ 3.821.575,00 (três milhões, oitocentos e vinte e um mil, quinhentos e setenta e

cinco reais).

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II- DO DIREITO:

Diante do exposto, percebe-se que os requeridos agiram com claro

desrespeito ao patrimônio público, considerando que gastaram o desmedido valor de

R$ 3.821.575,00 (três milhões, oitocentos e vinte e um mil, quinhentos e setenta e

cinco reais) apenas para atender seus interesses particulares.

ALCIDES RODRIGUES FILHO, na época dos atos ímprobos, era

Governador do Estado de Goiás e, bem por isto, tinha a responsabilidade intrínseca ao

cargo de zelar pelo bem público e evitar gastos desnecessários, agindo com

imprescindível moralidade e legalidade.

Todavia, não foi o que ocorreu, posto que o então Governador, em atos

indiscutivelmente imorais e ilegais, não considerou o bem da sociedade ao utilizar as

aeronaves de propriedade do Estado de Goiás, perfazendo um número de viagens

particulares em muito superior aos números de viagens oficiais, viajando exatamente

750 (setecentos e cinquenta) vezes para se beneficiar, em detrimento a interesse

público, sendo que as viagens oficiais somam 598 (quinhentos e noventa e oito) voos.

É incontestável que o requerido merece ser punido, posto que é de

conhecimento de todos (tendo em vista que tal atitude foi amplamente divulgada pela

mídia) a falta de cuidado de ALCIDES RODRIGUES FILHO com o bem público,

sujeitando as aeronaves do Estado à uma degradação muito mais célere do que a que

ocorreria com seu uso natural decorrente apenas de eventos oficiais do Governo.

Em primeiro plano, faz-se mister apresentar que o uso daquelas aeronaves

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para atender aos seus próprios interesses trouxe enriquecimento ilícito para os

requeridos ALCIDES RODRIGUES FILHO e RAQUEL RODRIGUES, que

deixaram de utilizar seus próprios recursos para bancar suas viagens, utilizando

desmedidamente recursos do Estado.

Tal conduta configura a prática de ato de improbidade administrativa que

causa enriquecimento ilícito, previsto no art. 9º, IV e XII, da Lei 8.429/92, in verbis:

Art. 9º – Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º desta lei, e notadamente:[...]IV – utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.[...]XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei. (grifado)

Acerca dos incisos supratranscritos, SÉRGIO TURRA SOBRANE discorre:

“Os agentes públicos, para a consecução de suas atividades, possuem disposição sobre diversos bens e contam com a colaboração de outros servidores. A utilização de bens e mão de obra, contudo, deve estar atrelada à finalidade pública do ato a ser praticado pelo agente, sendo vedado o uso para satisfação de interesses particulares.O emprego de bens e mão de obra sem escopo público onera o erário e promove o enriquecimento ilícito do agente, que deixa de empenhar suas posses para a satisfação de interesses privatísticos, próprios ou de outrem. No caso, evidencia-se o locupletamento por

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prestação negativa, ante a poupança de recursos próprios.” (grifado)(SOBRANE, Sérgio Turra. Improbidade Administrativa: aspectos materiais, dimensão difusa e coisa julgada. São Paulo: Atlas, 2010, p. 43)

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás decidiu:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ART. 9º, IV DA LEI 8429/92. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. PROVAS COLHIDAS NO INQUÉRITO CIVIL SEM OBSERVÂNCIA DO CONTRADITÓRIO. PRELIMINARES AFASTADAS. DOLO CARACTERIZADO. PREJUÍZO AO ERÁRIO E ENRIQUECIMENTO ILÍCITO COMPROVADO. SANÇÕES APLICADAS EM ATENÇÃO AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. 1 - Há de ser afastada a alegação de nulidade da decisão por ausência de fundamentação para as penalidades impostas, tendo em vista que o critério utilizado para a condenação foi o previsto no art. 12, incio I, da Lei 8.429/92. 2 - Pela própria natureza jurídica do inquérito civil (procedimento administrativo, facultativo) inexiste nulidade nessa específica colheita de provas, que serve como subsídio à propositura da ação civil pública. 3 - A utilização de máquina/equipamento público, bem como da mão de obra de servidor público em proveito particular caracteriza-se ato de improbidade administrativa, consoante prescreve art. 9º, IV da Lei 8.429/92, por implicar em favorecimento pessoal indevido, resultando na quebra dos princípios de moralidade e da impessoalidade. 4 - Intencionalidade dos réu/apelante caracterizada, tendo em vista a conduta deliberada deste de determinar a utilização do trator pertencente ao Poder Público e a execução de atividades por servidor municipal em proveito próprio. 5 - In casu, o prejuízo ao erário é latente, haja vista que a utilização do bem o desgasta e deprecia. Além disso, não se pode olvidar o trabalho dos motoristas, servidores remunerados pelos cofres públicos e colocados a serviço particular. O enriquecimento ilícito é notório, já que o equipamento utilizado foi-lhe cedido, sem qualquer contraprestação, e os serviços executados pelos servidores públicos, da mesma forma. 6 - A sentença não merece ser corrigida quanto a aplicação das sanções impostas ao réu/ apelante, tendo em vista que reconheceu o ato ímprobo praticado por este e, em atenção aos princípios da

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proporcionalidade e razoabilidade, aplicou as sanções pertinentes, adequadas e SUFICIENTES AO CASO CONCRETO. APELAÇÃO CONHECIDA e desprovida.(TJGO, APELAÇÃO CÍVEL 309343-43.2008.8.09.0000, Rel. DES. GILBERTO MARQUES FILHO, 2ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 10/08/2010, DJe 655 de 03/09/2010)

Além do enriquecimento ilícito, a conduta dos requeridos causou prejuízo

ao erário, tendo em vista que o uso constante das aeronaves do Estado para atender

interesses particulares (ressalta-se, 750 voos em menos de cinco anos) deteriora os

aviões muito mais rapidamente do que se fossem realizados apenas os voos oficiais.

Ademais, o Estado de Goiás arcou com vários outros gastos indevidos para

beneficiar exclusivamente o interesse particular de ALCIDES RODRIGUES FILHO

e sua esposa, tais como, combustível, manutenção de aeronaves, diárias de pilotos, etc.

Assim, verifica-se a prática do ato de improbidade previsto no art. 10,

caput, e XIII, da Lei 8.429/92, que segue:

Art. 10 - Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: […]XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades. (grifado)

Por fim, percebe-se também que os requeridos praticaram ato de

improbidade administrativa por violação aos princípios administrativos,

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principalmente aos princípios da moralidade e da legalidade, pelos quais deveriam ser

guiadas todas as condutas do ex-Governador. Diante disto, verifica-se afronta ao

artigo 11, caput, e inciso I, da Lei 8.429/92:

Art. 11 - Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência;

Sobre o referido dispositivo legal, ensina MARINO PAZZAGLINI

FILHO1:

Trata-se da modalidade mais grave e ignóbil de improbidade administrativa, pois contempla o comportamento torpe do agente público que desempenha funções públicas de sua atribuição de forma desonesta e imoral.

Para CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELO:2

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer . A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade , conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isso porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada.

Por fim, deve-se mencionar que a responsabilização da requerida RAQUEL 1 MARINO PAZZAGLINI FILHO. Lei de Improbidade Administrativa Comentada. São Paulo: Atlas, 2002, p. 54.2 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros, 5ª ed. 1994, p. 451.

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MENDES VIEIRA RODRIGUES na presente demanda é plenamente possível, tendo

em vista a disposição contida no artigo 3º da Lei 8.429/92:

Art. 3° - As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.

Diante do exposto, faz-se mister a condenação dos requeridos pelos atos de

improbidade administrativa praticados, ressarcindo aos cofres do Estado de Goiás o

valor de R$ 3.821.575,00 (três milhões, oitocentos e vinte e um mil, quinhentos e

setenta e cinco reais) em razão do prejuízo que causaram, além de serem submetidos

às sanções previstas no artigo 12 da Lei 8.429/92.

III- DA MEDIDA CAUTELAR INCIDENTAL:

Para concretização de parte da providência jurisdicional pedida –

ressarcimento ao erário do dano causado ao patrimônio do Estado de Goiás – afigura-se imperiosa a concessão de liminar/cautelar nos autos principais desta ação, medida

consistente no bloqueio de bens dos requeridos, forte no que dispõem os arts. 12 e 19 da

Lei 7.347/85, 7º da Lei 8.429/92 c/c art. 273, § 7º, do Código de Processo Civil.

O art. 12 da Lei 7.347/85 prevê expressamente que a liminar pode ser

concedida com ou sem justificação prévia para evitar dano irreparável ou de difícil

reparação, desde que presentes, claro, os requisitos autorizadores do fumus boni iuris

e do periculum in mora, pressupostos estes que se encontram presentes no caso em

tela.

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De início, ressalte-se a plena possibilidade de adoção de medidas cautelares

nos próprios autos da ação principal, eis que “uma vez definida a incidência da

técnica de tutela prevista na Lei da Ação Civil Pública também ao campo da

improbidade, tem-se como certa a possibilidade de deferimento de todas as medidas

cautelares previstas na Lei nº 8.429/92 nos autos do processo dito principal,

prescindindo-se de pedido e decisão apartados.”3

O fumus boni juris está contido em toda a fundamentação jurídica

desenvolvida nesta petição inicial, bem como nos documentos inclusos, que

demonstram que os requeridos utilizaram de forma irregular e desmedida as aeronaves

do Estado de Goiás para fins particulares, o que ocasionou simultaneamente

enriquecimento ilícito destes, prejuízo ao erário estadual e atentado aos princípios

administrativos, configurando a prática de atos de improbidade capitulados no art. 9º,

IV e XII, art. 10, caput, XIII, e art. 11, caput, I, da Lei 8.429/92.

Acerca do periculum in mora, observa-se que o não ressarcimento do valor

de R$ 3.821.575,00 (três milhões, oitocentos e vinte e um mil, quinhentos e setenta

e cinco reais) aos cofres do Estado de Goiás causará prejuízos à imagem da

Administração Pública, ferindo alguns de seus princípios mais fundamentais, como o

da legalidade e da moralidade, além de prejudicar o próprio Estado, que convive com o

exorbitante dano causado pelos requeridos ao seu erário, o qual, se for ressarcido,

poderá possibilitar um maior investimento no que é de interesse da sociedade.

Ademais, mister asseverar que a constrição de bens dos requeridos é

medida que se impõe inaudita altera pars, sob pena de se mostrar ineficaz e frustrar o

3 GARCIA, Emerson e ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 742.

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futuro sucesso da presente demanda, proposta em favor de toda a sociedade goiana.

Caso não seja deferida, os requeridos podem dilapidar seu patrimônio com o propósito

de impedir ou pelo menos dificultar sobremaneira o integral ressarcimento.

Ainda quanto ao segundo requisito, a mais abalizada doutrina especializada

sobre o tema entende que o periculum in mora é implícito, isto é, está subentendido no

art. 37, § 4º, da Constituição da República e no art. 7º da Lei 8.429/92, senão vejamos:

Em qualquer caso, cumpre ao requerente demonstrar o requisito da verossimilhança, indispensável a qualquer medida cautelar. O risco de dano é, nesse caso, presumido, e essa característica é própria da medida constritiva, assentada em fundamento constitucional expresso (art. 37, § 4.º). (ZAVASCKI, Teori Albino. Processo coletivo. 1ª ed., São Paulo: RT, 2006, p. 124)

... desnecessário o perigo de dano, pois o legislador contenta-se com o fumus boni iuris para autorizar essa modalidade de medida de urgência. Essa solução vem sendo adotada pela jurisprudência.Identificam-se, portanto, as características da indisponibilidade prevista no art. 7º: está limitada ao valor do prejuízo causado e não necessita da demonstração do perigo de dano. O legislador dispensou esse requisito, tendo em vista a gravidade do ato e a necessidade de garantir o ressarcimento do patrimônio público.(...)Na indisponibilidade enfatiza-se o fumus, dispensada a prova do periculum.Aqui, preocupou-se o legislador em tutelar a evidência do direito, independentemente do perigo de dano. (BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela jurisdicional cautelar e atos de improbidade. In: BUENO, Cássio Scarpinella; PORTO FILHO, Pedro Paulo Rezende (coord.) et al. Improbidade administrativa: questões polêmicas e atuais. 1ª ed., São Paulo: Malheiros, 2001, p. 260-262)

Com efeito, a lei presume esses requisitos ao autorizar a indisponibilidade, porquanto a medida acautelatória tende à garantia

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da execução da sentença, tendo como requisitos específicos evidências de enriquecimento ilícito ou lesão ao erário, sendo indiferente que haja fundado receio de fraude ou insolvência, porque o perigo é ínsito aos próprios efeitos do ato hostilizado. Exsurge, assim, a indisponibilidade como medida de segurança obrigatória nessas hipóteses. Precioso acórdão estampa que a indisponibilidade de bens exige os pressupostos gerais das medidas de cautela (fumus boni juris e periculum in mora), considerando que o periculum in mora é presumido por que o “§ 4º do artigo 37 da Constituição Federal, ao determinar de modo expresso que 'os atos de improbidade administrativa importarão ... a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário...' (sublinha-se), e sendo a primeira figura nitidamente acautelatória – diversamente da segunda -, evidentemente manda presumir, em relação a ela, o requisito do 'periculum in mora'. O dispositivo constitucional demonstra claramente a imprescindibilidade da providência quando o ato de improbidade administrativa causar lesão ao patrimônio público. Daí a razão do artigo 7º da Lei 8.429/92 não esclarecer quais os requisitos exigíveis para a sua concessão, diferentemente de outras medidas acautelatórias.” (MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Probidade administrativa. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 454-455)

Quanto ao periculum in mora, parte da doutrina se inclina no sentido de sua implicitude, de sua presunção pelo art. 7º da Lei de Improbidade, o que dispensaria o autor de demonstrar a intenção de o agente dilapidar ou desviar o seu patrimônio com vistas a afastar a reparação do dano. [...] De fato, exigir a prova, mesmo que indiciária, da intenção do agente de furtar-se à efetividade da condenação representaria, do ponto de vista prático, o irremediável esvaziamento da indisponibilidade perseguida em nível constitucional e legal. Como muito bem percebido por José Roberto dos Santos Bedaque, a indisponibilidade prevista na Lei de Improbidade é uma daquelas hipóteses nas quais o próprio legislador dispensa a demonstração do perigo de dano. Deste modo, em vista da redação imperativa adotada pela Constituição Federal (art. 37, § 4º) e pela própria Lei de Improbidade (art. 7º), cremos acertada tal orientação, que se vê confirmada pela melhor jurisprudência. (GARCIA, Emerson; ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade administrativa. 3ª ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 764)

... não se mostra crível aguardar que o agente público comece a

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dilapidar seu patrimônio para, só então, promover o ajuizamento de medida cautelar autônoma de seqüestro dos bens. Tal exigência traduziria concreta perspectiva de impunidade e de esvaziamento do sentido rigoroso da legislação. O periculum in mora emerge, via de regra, dos próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em tese, dos prejuízos causados ao erário.A indisponibilidade patrimonial é medida obrigatória, pois traduz conseqüência jurídica do processamento da ação, forte no art. 37, parágrafo 4º, da Constituição Federal.Esperar a dilapidação patrimonial, quando se trata de improbidade administrativa, com todo respeito às posições contrárias, é equivalente a autorizar tal ato, na medida em que o ajuizamento de ação de seqüestro assumiria dimensão de 'justiça tardia', o que poderia se equiparar a denegação de justiça.(...)Prepondera, aqui, a análise do requisito da fumaça do bom direito. Se a pretensão do autor da actio se mostra plausível, calcada em elementos sólidos, com perspectiva concreta de procedência e imposição das sanções do art. 37, parágrafo 4º, da Carta Constitucional, a conseqüência jurídica adequada, desde logo, é a indisponibilidade patrimonial e posterior seqüestro dos bens. (OSÓRIO, Fábio Medina. Improbidade administrativa, 2a. ed., Porto Alegre: Síntese, 1998, p. 239 e ss.)

Note-se que as duas Turmas de Direito Público do Superior Tribunal de

Justiça mantém entendimentos idênticos acerca do periculum in mora implícito

previsto na Lei 8.429/92 e no art. 37, § 4º, da CF/88:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992. TRIBUNAL DE ORIGEM QUE CONSIGNA PECULIARIDADES DO CASO PARA INDEFERIR O PEDIDO. REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7/STJ. INOVAÇÃO RECURSAL. DESCABIMENTO.1. Hipótese na qual se discute deferimento de indisponibilidade de bens em sede de ação civil pública por ato de improbidade administrativa.2. Sobre indisponibilidade de bens em ação de improbidade

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administrativa, o entendimento desta Corte é de que: a) é possível antes do recebimento da petição inicial; b) suficiente a demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou do enriquecimento ilícito do agente, caracterizador do fumus boni iuris; c) independe da comprovação de início de dilapidação patrimonial, tendo em vista que o periculum in mora está implícito no comando legal; e d) pode recair sobre bens adquiridos anteriormente à conduta reputada ímproba.3.Entretanto, pode o magistrado, indeferir o pedido se os autos apresentarem elementos que afastem esse juízo. Do excerto do acórdão recorrido, extrai-se que o Tribunal de origem, soberano em matéria de fatos e provas, com suporte em análise circunstancial do acervo fático-probatório, consignou que "a medida requerida pela agravante não se mostra imprescindível", pois, "além dos custos necessários à efetivação da medida poderem superar o próprio valor da eventual condenação, o risco de que a reparação não venha a se efetivar (.....) seria insignificante, até mesmo pela solidariedade da obrigação", bem como que "em nada afeta as sanções de ordem pessoal que o ilícito pode ensejar".4. Destarte, o indeferimento do pedido não se deu em ofensa aos critérios estabelecidos nesta Corte, acima narrados, mas, sim, com base em peculiaridades do caso em exame e para rever as premissas firmadas pela instância ordinária, é necessário o reexame do conjunto fático-probatório, o que, à luz do entendimento sedimentado na Súmula n. 7 desta Corte, não é possível em sede de Recurso Especial.5. O argumento de que a indisponibilidade de bens abrange tanto o dano ao erário como a multa civil não consta das razões do recurso especial nem foi prequestionado pelo acórdão recorrido, de modo que se caracteriza como inovação recursal.6. Agravo regimental não provido.(AgRg no Ag 1423420/BA, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 25/10/2011, DJe 28/10/2011)

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992.1. Cuidam os autos de Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público Federal no Estado do Maranhão contra a ora recorrida e outros, em virtude de suposta improbidade administrativa em operações envolvendo recursos do Fundef e do Pnae.2. A indisponibilidade dos bens é medida de cautela que visa a assegurar a indenização aos cofres públicos, sendo necessária, para

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respaldá-la, a existência de fortes indícios de responsabilidade na prática de ato de improbidade que cause dano ao Erário (fumus boni iuris).3. Tal medida não está condicionada à comprovação de que os réus estejam dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, tendo em vista que o periculum in mora está implícito no comando legal. Precedente do STJ.4. Recurso Especial provido.(REsp 1115452/MA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/04/2010, DJe 20/04/2010)

ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE RESPONSABILIZAÇÃO DO AGENTE, PELA PRÁTICA DOS ATOS DE IMPROBIDADE. INEXISTÊNCIA DE FUMUS BONI IURIS.1. "A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem-se alinhado no sentido da desnecessidade de prova de periculum in mora concreto, ou seja, de que o réu estaria dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade. Precedentes: REsp 1.203.133/MT, Rel. Min. Castro Meira, REsp 967.841/PA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJe 08.10.2010, REsp 1.135.548/PR, Rel. Ministra Eliana Calmon, DJe 22.06.2010; REsp 1.115.452/MA, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 20.04.2010." (REsp 1.190.846/PI, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 16.12.2010, DJe 10.2.2011).2. Na hipótese, o Tribunal a quo não apenas entendeu pela inexistência do periculum in mora, como também pela inexistência da fumaça do bom direito. Razão que, por si só, subsiste para justificar o desbloqueio dos bens.Agravo regimental improvido.(AgRg no REsp 1256287/MT, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/09/2011, DJe 21/09/2011)

O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás por algum tempo manteve-se

afastado do entendimento ora defendido, todavia, em 4 (quatro) Agravos de

Instrumento julgados em 12.07.2011 finalmente acolheu a tese de que o periculum in

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mora encontra-se ínsito no artigo 7º da Lei 8.429/1992, bastando, portanto, ao autor da

Ação de Improbidade Administrativa demonstrar o fumus boni iuris para obter a

indisponibilidade de bens dos requeridos. Confira-se um dos precedentes:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. PERIGO DA DEMORA. REQUISITO IMPLÍCITO. INTERRUPÇÃO DO PAGAMENTO DE VENCIMENTOS. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PROVA DA VEROSSIMILHANÇA DAS ALEGAÇÕES. DADOS COLETADOS UNILATERALMENTE. CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE. VERBA ALIMENTAR. 1. Na ação civil pública por ato de improbidade administrativa, a medida cautelar de indisponibilidade patrimonial (art. 7º, Lei 8.429/92) independe de prova do perigo da demora, que entende-se implícito no comando normativo. Não se dispensa, todavia, a prova da verossimilhança da alegação (Precedentes do STJ). 2. Os elementos coletados unilateralmente pelo Ministério Público podem revelar indícios de ato ímprobo. Não obstante, a interrupção do pagamento dos vencimentos dos réus, em sede antecipatória, reclama prova mais contundente, sob pena de se antecipar a condenação sem o devido processo legal. 3. Admite-se o controle de constitucionalidade em ação civil pública, desde que de forma incidental. Todavia, a via estreita do agravo de instrumento não comporta esta análise. 4. Os vencimentos do servidor público têm caráter alimentar, sendo certo que a decretação de indisponibilidade pode inviabilizar o sustento próprio. AGRAVO CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO CASSADA.(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 156649-84.2011.8.09.0000, Rel. DR(A). SANDRA REGINA TEODORO REIS, 6ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 12/07/2011, DJe 866 de 22/07/2011)4.

Além dos citados precedentes da 6ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de

Justiça do Estado de Goiás, vale mencionar, ainda, decisão monocrática de cunho 4 Os outros julgados citados são: AI 187808-45.2011.8.09.0000, Rel. DR(A). SANDRA REGINA TEODORO

REIS, 6ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 12/07/2011, DJe 866 de 22/07/2011; AI 187812-82.2011.8.09.0000, Rel. DR(A). SANDRA REGINA TEODORO REIS, 6ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 12/07/2011, DJe 866 de 22/07/2011; AI 187823-14.2011.8.09.0000, Rel. DR(A). SANDRA REGINA TEODORO REIS, 6ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 12/07/2011, DJe 866 de 22/07/2011.

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paradigmático proferida pelo Desembargador Kisleu Dias Maciel Filho, integrante da

4ª CÂMARA CÍVEL. Confira-se a lapidar lição:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS EM SEDE LIMINAR. CABIMENTO. INEXIGÊNCIA DA DEMONSTRAÇÃO DE DILAPIDAÇÃO PATRIMONIAL. PERIGO DA DEMORA ÍNSITO AO ART. 7º DA LEI Nº 8.429/92. DECISÃO REFORMADA. I – A concessão de liminar cautelar de indisponibilidade de bens, no bojo de ação civil pública pela prática de ato de improbidade administrativa, insere-se no poder geral de cautela atribuído ao juiz, com a finalidade de resguardar o futuro ressarcimento ao erário, se apurada e constatada a existência do ato ímprobo apontado, desde que presentes indícios suficientes de lesão ao patrimônio público ou enriquecimento ilícito dos acionados. II - Evidenciada a plausibilidade do direito invocado, consistente na idoneidade das provas colhidas, na gravidade dos atos e na consequente possibilidade de condenação, a decretação de indisponibilidade de bens dos demandados não está condicionada à comprovação de evasão efetiva ou iminente de patrimônio, porquanto visa, justamente, a evitar a dilapidação patrimonial, estando o requisito do perigo da demora ínsito no art. 7º da Lei nº 8.429/92, consoante interpretação dada pelo Superior Tribunal de Justiça. III - RECURSO PROVIDO, LIMINARMENTE, NA FORMA DO ART. 557, § 1º-A, DO CPC.(TJGO, AI 414807-51.2011.8.09.0000, Rel. Des. KISLEU DIAS MACIEL FILHO, 4ª Câmara Cível, julgado em 13/12/2011, DJ 982 de 13/01/2012)

Em seguida, o Tribunal de Justiça de Goiás tem promovido uma virada

jurisprudencial sobre o tema. Confiram-se os seguintes julgados:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO SECUNDUM EVENTUM LITIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. PEDIDO DE LIMINAR DEFERIDO. PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS. ARTIGO 7º DA LEI FEDERAL Nº 8.429/92. FUMUS BONI IURIS DEMONSTRADO. 1. O agravo de

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instrumento constitui recurso secundum eventum litis e deve ater-se ao acerto ou desacerto da decisão agravada. 2. A decisão liminar está adstrita ao livre convencimento motivado do julgador, devendo ser alterada pela instância recursal tão somente no caso de patente ilegalidade, abusividade ou teratologia. 3. A medida prevista no artigo 7º da Lei federal nº 8.429/92 encontra-se atrelada ao poder geral de cautela do juiz que, verificando o fumus boni iuris e o periculum in mora, pode deferi-la, de forma que tal decisão poderá ser reformada somente em caso de ilegalidade, abuso de poder ou de flagrante contradição com as provas dos autos, o que não ocorreu na espécie. 4. Consoante precedentes do STJ, o requisito do periculum in mora deriva diretamente do comando do artigo 7º da Lei de Improbidade, não sendo necessário, para a sua configuração, prova da tentativa de dilapidação de bens pelos acionados. 5. Satisfeitos os pressupostos legais autorizadores da tutela de urgência, é admissível e recomendável a manutenção da medida liminar de indisponibilidade de bens. 6. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 408593-44.2011.8.09.0000, Rel. DR(A). MAURICIO PORFIRIO ROSA, 4ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 15/03/2012, DJe 1054 de 03/05/2012)

AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO. RECURSO SECUNDUM EVENTUM LITIS. INDISPONIBILIDADE DE BENS EM SEDE LIMINAR. CABIMENTO. REQUISITOS QUE SE ENCONTRAM PRESENTES. DECISÃO MANTIDA. 1- Tratando-se de agravo de instrumento cabe ao Tribunal ater-se aos limites da análise do reexame da decisão proferida pelo juiz e objeto de recurso, vedando-se exame de questões ainda não apreciadas na decisão recorrida, caso contrário, sucederia a inevitável supressão de instância, pois estaria antecipando-se a prestação jurisdicional de 1º grau. 2- A concessão de liminar cautelar de indisponibilidade de bens insere-se no poder geral de cautela atribuído ao juiz, com a finalidade de resguardar o futuro ressarcimento ao erário, se apurada e constatada a existência do ato improbo apontado, desde que presentes indícios suficientes de lesão ao patrimônio público ou enriquecimento ilícito do indiciado (fumus boni iuris) e o fundado receio de ineficácia do provimento final (periculum in mora), nos termos do art. 7º da Lei n. 8.429/92. 3- Consoante precedentes do STJ, o requisito do periculum in mora deriva diretamente do comando do art. 7º da Lei de Improbidade, não sendo necessário, para a sua configuração, prova da tentativa

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de dilapidação de bens pelos acionados. 4- Satisfeitos os pressupostos legais autorizadores da tutela de urgência, é admissível e recomendável a manutenção da medida liminar de indisponibilidade de bens, prestigiando-se, ademais, o livre convencimento do magistrado a quo. 5- RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.(TJGO, AGRAVO DE INSTRUMENTO 381408-31.2011.8.09.0000, Rel. DES. KISLEU DIAS MACIEL FILHO, 4ª CÂMARA CÍVEL, julgado em 09/02/2012, DJe 1018 de 07/03/2012)

Por fim, frise-se que o STJ possui sólida jurisprudência no sentido da

possibilidade de ser deferida medida cautelar para bloqueio dos bens antes mesmo de

recebida a Ação Civil Pública por Ato de Improbidade Administrativa. Veja-se:

ADMINISTRATIVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – INDISPONIBILIDADE DE BENS – ART. 7º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 8.429/1992 – REQUISITOS PARA CONCESSÃO – LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS – POSSIBILIDADE.1. O provimento cautelar para indisponibilidade de bens, de que trata o art. 7º, parágrafo único da Lei 8.429/1992, exige fortes indícios de responsabilidade do agente na consecução do ato ímprobo, em especial nas condutas que causem dano material ao Erário.2. O requisito cautelar do periculum in mora está implícito no próprio comando legal, que prevê a medida de bloqueio de bens, uma vez que visa a 'assegurar o integral ressarcimento do dano'.3. A demonstração, em tese, do dano ao Erário e/ou do enriquecimento ilícito do agente, caracteriza o fumus boni iuris.4. É admissível a concessão de liminar inaudita altera pars para a decretação de indisponibilidade e sequestro de bens, visando assegurar o resultado útil da tutela jurisdicional, qual seja, o ressarcimento ao Erário. Precedentes do STJ.5. Recurso especial não provido.(REsp 1135548/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe 22/06/2010)

“(...) 1. É licita a concessão de liminar inaudita altera pars (art. 804 do CPC) em sede de medida cautelar preparatória ou incidental, antes do recebimento da Ação Civil Pública, para a decretação de indisponibilidade (art. 7º, da Lei 8429/92) e de seqüestro de bens,

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incluído o bloqueio de ativos do agente público ou de terceiro beneficiado pelo ato de improbidade (art. 16 da Lei 8.429/92), porquanto medidas assecuratórias do resultado útil da tutela jurisdicional, qual seja, reparação do dano ao erário ou de restituição de bens e valores havidos ilicitamente por ato de improbidade. Precedentes do STJ: REsp 821.720/DF, DJ 30.11.2007; REsp 206222/SP, DJ 13.02.2006 e REsp 293797/AC, DJ 11.06.2001. (...)”(REsp 929.483/BA, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 02/12/2008, DJe 17/12/2008)

Assim, com apoio na melhor doutrina e na jurisprudência, a determinação

de bloqueio de bens dos requeridos se impõe, vez que constatada a presença do fumus

boni juris e do periculum in mora. Os bens a serem indisponibilizados são:

✔ R$ 3.821.575,00 (três milhões, oitocentos e vinte e um mil,

quinhentos e setenta e cinco reais) em contas bancárias e/ou aplicações

financeiras dos requeridos, constrição a ser realizada por meio do sistema

BacenJud 2.0, eis que possível o uso da penhora on line de forma cautelar e não

somente na fase de execução, o que inegavelmente geraria efetividade ao

processo, evitando-se a dilapidação do patrimônio dos requeridos e garantindo-

se o ressarcimento ao erário;

✔ se o bloqueio de valores acima referido não alcançar a cifra de R$

3.821.575,00 (três milhões, oitocentos e vinte e um mil, quinhentos e setenta

e cinco reais), requer seja decretada a indisponibilidade de bens imóveis e

veículos dos requeridos, com expedição de ofícios aos cartórios de registro de

imóveis de Goiânia/GO, Santa Helena de Goiás/GO, Rio Verde/GO, Santana do

Araguaia/PA e Conceição do Araguaia/PA para averbação na matrícula dos

imóveis cuja propriedade lhes pertença, bem como o bloqueio de veículos

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registrados em nome dos requeridos por meio do sistema RENAJUD.

Frise-se que o art. 655, I, do CPC dispõe que a penhora recairá

preferencialmente sobre o dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em

instituição financeira, sendo desnecessário buscar outros bens antes de se efetuar o

bloqueio via Bacen-Jud, conforme restou definido pela Corte Especial do Superior

Tribunal de Justiça (Informativo STJ n.º 447, de 13 a 17 de setembro de 2010):

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO CIVIL. PENHORA. ART. 655-A DO CPC. SISTEMA BACEN-JUD. ADVENTO DA LEI N.º 11.382/2006. INCIDENTE DE PROCESSO REPETITIVO. I - JULGAMENTO DAS QUESTÕES IDÊNTICAS QUE CARACTERIZAM A MULTIPLICIDADE. ORIENTAÇÃO – PENHORA ON LINE. a) A penhora on line, antes da entrada em vigor da Lei n.º 11.382/2006, configura-se como medida excepcional, cuja efetivação está condicionada à comprovação de que o credor tenha tomado todas as diligências no sentido de localizar bens livres e desembaraçados de titularidade do devedor. b) Após o advento da Lei n.º 11.382/2006, o Juiz, ao decidir acerca da realização da penhora on line, não pode mais exigir a prova, por parte do credor, de exaurimento de vias extrajudiciais na busca de bens a serem penhorados. II - (...) Na espécie, a decisão interlocutória de primeira instância que indeferiu a medida constritiva pelo sistema Bacen-Jud, deu-se em 29.05.2007 (fl. 57), ou seja, depois do advento da Lei n.º 11.382/06, de 06 de dezembro de 2006, que alterou o CPC quando incluiu os depósitos e aplicações em instituições financeiras como bens preferenciais na ordem da penhora como se fossem dinheiro em espécie (art. 655, I) e admitiu que a constrição se realizasse preferencialmente por meio eletrônico (art. 655-A). RECURSO ESPECIAL PROVIDO (REsp 1112943/MA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 15/09/2010, DJe 23/11/2010)

É necessário frisar que o bloqueio de bens aqui pleiteado não se afigura

como antecipação de aplicação de sanções aos requeridos, mas tão-somente meio de

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assegurar o resultado útil do processo, instaurado em defesa do patrimônio e dos

princípios da Administração Pública.

Bem por isso, afigura-se imprescindível a concessão de medida liminar

inaudita altera pars decretando-se o bloqueio de bens dos requeridos visando ao

integral ressarcimento ao erário.

IV- DO PEDIDO:

a) a concessão da medida liminar, consistente no bloqueio dos bens dos

requeridos;

b) a notificação dos requeridos, na forma do art. 17, § 7º, da Lei 8.429/92,

c/c 221, inciso I, do CPC;

c) o recebimento da inicial e a posterior citação dos requeridos, de acordo

com o art. 17, § 9º, da Lei 8429/92;

d) a comunicação processual do Estado de Goiás, representado pelo

Procurador-Geral do Estado, domiciliado na Praça Pedro Ludovico Teixeira, n.º 03,

Centro, Goiânia/GO, CEP 74003-010, na forma preconizada pelo art. 17, § 3º da Lei

8.429/92;

e) a procedência do pedido para:

e.1) o ressarcimento do dano no valor de R$ 3.821.575,00 (três

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milhões, oitocentos e vinte e um mil, quinhentos e setenta e cinco

reais) provocado ao patrimônio público, corrigido monetariamente, e

acrescido de juros legais, com apoio no art. 37, § 5º, da Constituição

Federal e no art. 5º da Lei 8.429/92;

e.2) em razão da prática dos atos de improbidade administrativa

tipificados no art. 9º, caput, IV e XII, art. 10, caput, XIII, art. 11,

caput, I, da Lei 8.429/92, condenar os requeridos nas sanções do art.

12, I, II e III do mesmo diploma legal;

f) a condenação dos requeridos ao pagamento de custas e emolumentos

processuais e ônus de sucumbência;

g) a juntada do Processo Administrativo n.º 201100003748, bem como a

produção de todas as provas legalmente admitidas.

Valor da causa: R$ 3.821.575,00 (três milhões, oitocentos e vinte e um mil,

quinhentos e setenta e cinco reais).

Pede deferimento.

Goiânia, 09 de maio de 2012.

FERNANDO AURVALLE KREBSPromotor de Justiça

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