23
1-23 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA GOIÁS O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua representante que esta subscreve, no uso de suas atribuições, com endereço à Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, quadra A06, lotes 15/24, sala T-20, Setor Jardim Goiás, Goiânia, Estado de Goiás, com endereço eletrônico : [email protected]; com fundamento nos art. 40, 127 e 129 da Constituição da República; Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985; Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993; e Lei 13.146, de 06 de julho de 2015, vem com respeito à presença de Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de tutela de antecipada em face ao ESTADO DE GOIÁS, inscrito no CNPJ sob o n. 01.409.580/0001-38, com sede em Goiânia-Goiás, podendo ser citado na sede da Procuradoria-Geral do Estado, localizada na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, n.º 03, Centro, Goiânia-GO, CEP 74003-010.

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

1-23

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA ___ VARA DA

FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DA COMARCA DE GOIÂNIA – GOIÁS

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por

sua representante que esta subscreve, no uso de suas atribuições, com endereço

à Rua 23, esq. com a Av. Fued José Sebba, quadra A06, lotes 15/24, sala T-20,

Setor Jardim Goiás, Goiânia, Estado de Goiás, com endereço eletrônico :

[email protected]; com fundamento nos art. 40, 127 e 129 da

Constituição da República; Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985; Lei nº 8.625,

de 12 de fevereiro de 1993; e Lei 13.146, de 06 de julho de 2015, vem com

respeito à presença de Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de tutela de antecipada

em face ao ESTADO DE GOIÁS, inscrito no CNPJ sob o n.

01.409.580/0001-38, com sede em Goiânia-Goiás, podendo ser citado na sede

da Procuradoria-Geral do Estado, localizada na Praça Dr. Pedro Ludovico

Teixeira, n.º 03, Centro, Goiânia-GO, CEP 74003-010.

Page 2: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

2-23

1 . DOS FATOS

A Constituição da República, no art. 40, §4º, inciso I, dispõe

sobre o direito fundamental à aposentadoria especial das pessoas com

deficiência servidoras públicas:

Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas

autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de

caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do

respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos

pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio

financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. [omissis]

§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para

a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que

trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis

complementares, os casos de servidores:

I - portadores de deficiência;

II - que exerçam atividades de risco;

III - cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que

prejudiquem a saúde ou a integridade física.

O Congresso Nacional, até o momento, não editou as leis

complementares a que se refere o § 4º1. Inexiste, portanto, diploma legal que

garanta aos servidores públicos nas condições assinaladas nos respetivos

incisos o direito à aposentadoria especial.

1 Registre-se que há projeto de lei referente à matéria, de autoria do Senador Paulo Paim ( Projeto de Lei do

Senado PLS nº 250/2005). Tramitação disponível em : https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-

/materia/74546. Acesso em: 05.10.2017. Na petição inicial da ADO nº 32, a Procuradoria-Geral da República

já sinalizou vislumbrar vício de inconstitucionalidade formal desse PLS n 250/2005, por vício de iniciativa, pela inobservância do art. 61, §1º, II, “c”, da Constituição (Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4739282. Acesso em

25.09.2017).

Page 3: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

3-23

A propósito, em consulta ao site do Congresso Nacional,

especificamente analisando a tramitação do Projeto de Lei Complementar nº

454, de 2014, verifica-se que, o protocolo data de mais de 04(quatro) anos, e se

encontra devolvido, desde 31-10-2017, ao Relator, Deputado Benjamim

Maranhão, para reexame de seu parecer ( Doc. em anexo).

Diante disso, o Supremo Tribunal Federal editou em 24.04.2014

a Súmula Vinculante nº 332, que tem o seguinte teor:

“Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as

regras do regime geral da previdência social sobre

aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º,

inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei

complementar específica.”

A mencionada súmula abrange tão somente pessoas cujas

atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde

ou a integridade física (inciso III). O direito das pessoas com deficiência

(previsto no inciso I), nesse passo, permanece sendo desrespeitado, ante a

inércia dos Poderes Executivo e Legislativo.

Registre-se que, em agosto de 2015, foi ainda instaurado pela

Suprema Corte procedimento de revisão de Súmula Vinculante nº 33 (PSV nº

118), a fim de que as pessoas com deficiência servidoras públicas sejam

atendidas pelas regras do Regime Geral de Previdência Social3.

2 Informação disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menusumario.asp? sumula=1941. Acesso em 25.09.2017. 3 Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp? incidente=4826884.

Acesso em 25.09.2017.

Page 4: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

4-23

A Proposta de Súmula Vinculante nº 118 tem a seguinte

redação: "aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime

geral da previdência social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo

40, §4º, incisos I e III, da Constituição Federal, até a edição de lei

complementar específica".

Iniciado o julgamento em 17.03.2016, foram proferidos os votos

favoráveis dos Ministros Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, tendo o

Ministro Roberto Barroso pedido vista dos autos.

A revisão da Súmula nº 33 tem como precedentes os vários

mandados de injunção individuais impetrados no STF4.

Cumpre, também, mencionar que, em 24-03-2015, a

Procuradoria-Geral da República propôs ação direta de inconstitucionalidade

por omissão, com pedido cautelar, a ADO nº 32, distribuída à relatoria da

Ministra Rosa Weber5. A pretensão veiculada consiste em tornar, desde logo,

efetiva a norma contida no art. 40, §4º, I, da CR, mediante aplicação da LC nº

142/20136 e do art. 57 da Lei nº 8.213/19917, permitindo-se, enquanto perdurar

4 Citem-se, a título meramente exemplificativo – pois são dezenas de processos com igual decisão -, os

seguintes mandados de injunção: MI 1613 AgR, Relator: Min. LUIZ FUX, julgado em 26/11/2014, publicado

em PROCESSO ELETRÔNICO Dje-235 DIVULG 28/11/2014 PUBLIC 01/12/2014; MI 3322 AgR-segundo-

ED-ED-AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgamento em 1º.8.2014, DJe de 30.10.2014;

MI 1884 AgR, Relator Ministro Roberto Barroso, Primeira Turma, julgamento em 7.10.2015, DJe de

27.10.2015. 5 Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4739282.

Acesso em 25.09.2017. 6 Lei complementar 142, de 08 de maio de 2013. Regulamenta o § 1º do art. 201 da Constituição Federal, no

tocante à aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de Previdência Social - RGPS. 7 Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15

(quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de

1995).

Page 5: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

5-23

a omissão legislativa, a aposentadoria especial da pessoa com deficiência

servidora pública.

Conquanto requisitadas pela Ministra Relatora Rosa Weber, em

abril de 2015, informações à Presidência da República e ao Congresso Nacional

na forma do art. 12-F8 da Lei nº 9.868/1999, o pedido cautelar não foi

apreciado até o momento.

Outrossim, o Estado de Goiás não pode editar lei acerca da

matéria, tendo em vista que o Supremo Tribunal Federal assentou que a

competência concorrente para legislar sobre previdência social não afasta a

necessidade de tratamento uniforme das exceções às regras de aposentadoria

dos servidores públicos, determinando, portanto, que é obrigatória a atuação

normativa da União para a edição de lei regulamentadora nacional do art. 40, §

4°, da Constituição Federal, vejamos:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.

CONSTITUCIONAL. APOSENTADORIA ESPECIAL.

ATIVIDADE DE RISCO. AGENTE CARCERÁRIA.

COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE.

NECESSIDADE DE ATUAÇÃO NORMATIVA DA UNIÃO

PARA A EDIÇÃO DE NORMA REGULAMENTADORA

DE CARÁTER NACIONAL. PRECEDENTES DO

PLENÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE

8 Art. 12-F. Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art. 22, poderá conceder medida cautelar, após a audiência

dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional, que deverão pronunciar-se no prazo de

5 (cinco) dias.

Page 6: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

6-23

NEGA PROVIMENTO. (ARE 693136 AgR,

Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Segunda Turma,

julgado em 25/09/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-

208 DIVULG 22-10-2012 PUBLIC 23-10-2012)

Esta representante do Ministério Público do Estado de GOiás,

lotada na 39ª Promotoria de Justiça, instaurou e requisitou informações ao

requerido Estado de Goiás, conforme consta às fls. 59/60, do incluso IC,

obtendo como esclarecimentos, exatamente o seguinte (fl. 61) :

“(...) Todavia, em razão da tramitação no Congresso

Nacional do Projeto de lei Complementar nº 454/2014,

estabelecendo requisitos e critérios diferenciados para a

concessão de aposentadoria à pessoa com deficiência titular

de cargo público efetivo no âmbito da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, regulamentando o art. 40,

§ 4º, inciso I, da Constituição Federal, houve o sobrestamento

do anteprojeto estadual para aguardar o deslinde da matéria

no âmbito federal.(...)”

Tem-se, assim, o seguinte quadro:

O Executivo ainda não propôs projeto de lei e o Congresso

Nacional ainda não aprovou lei complementar para atender ao disposto no

artigo 40, § 4º, da Constituição da República;

O projeto de lei complementar que tramita no Congresso

Nacional aparentemente é inconstitucional por vício de iniciativa;

O processo de revisão da Súmula Vinculante n° 33 ainda

não foi concluído no STF;

Page 7: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

7-23

E, passados mais de dois anos, o pedido liminar da ADO n°

32, deduzido pelo PGR ao STF, ainda não foi analisado.

Em sendo assim, os servidores públicos do Estado de Goiás com

deficiência não dispõem, por conseguinte, de norma ou de decisão judicial de

caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial

administrativamente.

Diante desse cenário, a fim de assegurar, de pronto, a todas as

pessoas servidoras públicas do Estado de Goiás com deficiência a obtenção de

aposentadoria especial, independentemente de deliberação proferida processo

individual, o Ministério Público do Estado de Goiás vem propor ação civil

pública em face do Estado de Goiás.

A presente demanda é o único meio processual hábil, neste

momento, para a tutela de tal direito em favor dessa coletividade, como se

demonstrará.

2. DO CABIMENTO DA PRESENTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA

A Constituição da República dispõe no art. 127, caput, que “o

Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional

do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático

e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.

No exercício de suas funções institucionais, a promoção da ação

civil pública é notável instrumento do Ministério Público para a defesa de

interesses difusos e coletivos, nos termos do inciso III de seu art. 129 da

Page 8: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

8-23

Constituição de República e dos arts. 1º e 25, IV, “a”, ambos da Lei nº

8.625/1993.

Direito coletivo, em sentido estrito, é aquele cujo objeto é

indivisível e a titularidade é determinável (DIDIER Jr., Fredie. Curso de direito

processual civil: processo coletivo. 10ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2016, p.

69/70).

Trata-se de direito pertencente a um grupo, uma categoria de

pessoas, cuja titularidade pode ser determinada. O direito coletivo tem como

elemento, também, a existência de um vínculo jurídico entre os titulares do

direito, isto é, uma relação jurídica base anterior à própria lesão que os una e

dê causa ao direito em discussão.

O direito à aposentadoria das pessoas servidoras públicas

estaduais com deficiência submete-se à definição de direito coletivo. Cuida-se

do interesse comum (aposentação especial, na forma do art. 40, §4º, inciso I, da

CR) de um grupo determinado de pessoas, ligadas por uma relação jurídica base

(pertencimento aos quadros da Administração pública do Estado de Goiás).

Constata-se, assim, a omissão legislativa e, alternativa não resta

se não a imposição de obrigação de fazer, ordenando-se ao réu que processe

todos os pedidos de aposentadoria especial dos servidores com deficiência.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, em seu

art. 8 º, dispõe expressamente que:

“Art. 8º – É dever do Estado, da sociedade e da família

assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a

efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à

Page 9: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

9-23

sexualidade, à paternidade e à maternidade, à

alimentação, à habitação, à educação, à

profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à

habilitação e à reabilitação, ao transporte, à

acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao

lazer, à informação, à comunicação, aos avanços

científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à

liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre

outros decorrentes da Constituição Federal, da

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas

que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico.”

A ação civil pública é meio adequado para tanto, nos termos do

seu art. 3º, veja-se :

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em

dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não

fazer.

Sobre o tema, assinala Hugo Nigro Mazzilli9:

“A ação civil pública ainda se presta para que o

Ministério Público possa questionar políticas públicas,

quando do zelo para que os Poderes Públicos e os serviços

de relevância pública observem os direitos assegurados na

9 MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 28ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 153.

Page 10: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

10-23

Constituição. Com certeza não poderá o Ministério

Público pedir ao Poder Judiciário administre no lugar do

administrador; contudo, poderá cobrar em juízo a

aplicação de princípios da Administração que possam

estar sendo descurados, e, com isso, restaurar a

legalidade.”

A adoção de uma solução que supera a atomização da

controvérsia é medida de economia celeridade e efetividade processual.

Eventual decisão de provimento proferida nesta ação coletiva

alcançaria todos os servidores públicos e membros dos Poderes e Órgãos

Autônomos do Estado de Goiás com deficiência, dispensando a propositura de

ações judiciais individuais que, além de apresentarem elevado custo,

abarrotariam o Poder Judiciário.

A medida ora pleiteada, por sua vez, poderá ser facilmente

implementada pelo réu, bastando a adoção dos critérios da Instrução Normativa

MPS/SPPS nº 2/201410 às solicitações que vierem a ser apresentados pelos

beneficiários da deliberação deste juízo.

3. A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL E DA COMARCA DE

GOIÂNIA

Importante registrar a competência da Vara da Fazenda Pública

Estadual, a qual incumbe, nos termos do art. 30, I, “a”, 1, da Lei 9.129/1981,

processar e julgar as causas em que o Estado de Goiás, suas autarquias,

10 Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/wp-content/uploads/2013/05/INSTRU%C3%87%C3%83O-

NORMATIVA-SPPS-n%C2%BA-02-de-13fev2014-publicada.pdf

Page 11: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

11-23

empresas públicas e fundações por ele mantidas, forem autores, réus,

assistentes, intervenientes ou oponentes, e as que lhes forem conexas ou

acessórias.

No tocante à competência territorial, a Lei nº 7.347/1985

estabeleceu como competente para o processo e julgamento da ação civil

pública o local da ocorrência do dano, nos termos do art. 2º, caput:

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas

no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá

competência funcional para processar e julgar a

causa.

O ato ora questionado, de negativa da concessão de

aposentadoria especial ao servidor estadual com deficiência, vem sendo

praticado pela Administração Pública em todo o território estadual.

Não há, contudo, dispositivo específico na Lei de Ação Civil

Pública que indique o foro competente na hipótese de se verificar dano de

proporção regional ou nacional.

A solução legal está no art. 93, inciso II, do Código de Defesa

do Consumidor11, plenamente aplicável à espécie, pelo princípio da

integratividade do microssistema processual coletivo, que estatui o foro da

Capital do Estado para os danos de âmbito regional.

11 Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local: I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;

II - no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional,

aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.

Page 12: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

12-23

Manifesta, assim, a competência da Vara da Fazenda Pública

Estadual da Comarca de Goiânia.

4 . DA OBRIGAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS DE PROCESSAR OS

PEDIDOS DE APOSENTADORIA ESPECIAL DOS SERVIDORES E

MEMBROS COM DEFICIÊNCIA (ART. 40, § 4°, I, DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL)

A aposentadoria especial prevista no art. 40, §4º, inciso I, da

Constituição, acrescida pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005, é norma

constitucional de eficácia limitada. É dizer, embora o dispositivo possibilite a

adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria

à pessoa com deficiência servidora pública, o próprio texto condiciona a

eficácia de tal regra à edição de lei que regulamente a matéria.

Caracterizando-se como direito fundamental (de segunda

dimensão), a aposentadoria também se submete à regra do art. 5º, §1º, da

Constituição, a qual estabelece que as normas definidoras dos direitos e

garantias fundamentais têm aplicação imediata.

Nesse cenário, ainda que se considere que o art. 5º, §1º, da

Constituição, teria eficácia meramente negativa (ou seja, de obstar eventuais

efeitos incompatíveis de normas infraconstitucionais), evidente que a omissão

do legislador vem lesionando as pessoas com deficiência, pois estas estão há

doze anos privadas da possibilidade de pleno gozo do seu direito fundamental

à aposentadoria especial.

Page 13: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

13-23

Reiterados os julgados do Pleno do Supremo Tribunal Federal

reconhecendo ser forçosa a observância, por analogia, das normas do Regime

Geral de Previdência Social, para fins de análise dos pedidos de aposentadoria

especial da pessoa servidora pública com deficiência:

“APOSENTADORIA ESPECIAL – SERVIDOR PÚBLICO

PORTADOR DE DEFICIÊNCIA. Configurada a mora

legislativa, surge imperiosa a observância, por analogia,

das normas do Regime Geral de Previdência Social, como

critério no exame dos pedidos de aposentadoria especial

formulados por servidor público portador de deficiência.

Precedente: agravo regimental no mandado de injunção

nº 4.153, Pleno, relator o ministro Luiz Fux, acórdão

publicado no Diário da Justiça de 18 de novembro de

2013. (MI 4228, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO,

Primeira Turma, julgado em 12 /09/2017,

PROCESSO ELETRÔNICO DJe-216 DIVULG 22-09-

2017 PUBLIC 25-09-2017)”

“Agravo regimental em mandado de injunção.

Aposentadoria especial de servidores portadores de

deficiência (CF/88, art. 40, § 4º, I). Parcial procedência

para que o pedido de aposentadoria especial seja

analisado pela autoridade administrativa mediante a

aplicação, no que couber, da Lei Complementar nº 142/13.

Agravo regimental não provido. 1. O provimento

normativo-concretizador do direito de aposentação em

regime especial por servidor público alcançado na via

Page 14: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

14-23

injuncional na Suprema Corte firmou-se no sentido de se

viabilizar o gozo do direito em isonomia de condições com

trabalhadores da iniciativa privada. (Precedente: MI nº

721/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe de

30/11/07). 2. Impossibilidade de o STF, em sede de

mandado de injunção, substituir-se ao Parlamento na

conformação dos parâmetros de aferição das condições

especiais (Precedente: MI nº 844/DF, Rel. Min. Cármen

Lúcia, Rel. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, Tribunal

Pleno, DJe de 30/9/2015). 3. Ordem concedida para

viabilizar ao servidor que tenha seu pedido de

aposentadoria apreciado pela autoridade administrativa

competente, nos termos da Lei Complementar nº 142/13.

4. Agravo regimental não provido. (MI 6475 AgR,

Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno,

julgado em 17/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-

066 DIVULG 31-03-2017 PUBLIC 03-04-2017)”

“AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO EM MANDADO DE INJUNÇÃO.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA

ESPECIAL DOS SERVIDORES COM DEFICIÊNCIA.

LEI COMPLEMENTAR 142/2013. DIREITO À

PARIDADE E INTEGRALIDADE DOS PROVENTOS.

INEXISTÊNCIA DE OMISSÃO LEGISLATIVA QUANTO

AO PONTO. ATRIBUIÇÃO DA AUTORIDADE

ADMINISTRATIVA. PRECEDENTES. RECURSO NÃO

PROVIDO. 1. Conforme jurisprudência do Plenário do

Page 15: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

15-23

STF, compete à autoridade administrativa à qual serão

submetidos os pedidos de aposentadoria especial dos

servidores com deficiência realizar a análise do

preenchimento dos requisitos legais, bem como definir a

forma de cálculo da renda mensal inicial desses

benefícios, inclusive quanto aos pleitos de paridade e

integralidade, não se revelando a via injuncional o meio

adequado ao reconhecimento do alegado direito, por

inexistir, quanto ao ponto, omissão legislativa

infraconstitucional. 2. Agravo regimental a que se nega

provimento. (MI 6318 EDAgR, Relator(a): Min. EDSON

FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em 17/03/2016,

PROCESSO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 05-04-

2016 PUBLIC 06-04-2016).”

“AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE

INJUNÇÃO. APOSENTADORIA ESPECIAL DE

SERVIDORES COM DEFICIÊNCIA. PRETENSÃO DE

APLICAÇÃO DOS PARÂMETROS DA LC Nº 142/2013

AO TEMPO DE SERVIÇO ANTERIOR A SUA

VIGÊNCIA. 1. Mandado de injunção impetrado com base

no art. 40, § 4º, I, da Constituição, que assegura o direito

à aposentadoria especial aos servidores com deficiência.

2. Ordem concedida nos termos da integração realizada

pelo Plenário do STF: aplicação supletiva do art. 57 da

Lei nº 8.213/1991, com relação ao período anterior à

entrada em vigor da LC nº 142/2013, e do disposto na

referida Lei Complementar, no que se refere ao período

Page 16: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

16-23

posterior.

Precedentes. 3. Agravo regimental a que se nega

provimento. (MI 1884 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO

BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 07/10/2015,

ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-214 DIVULG 26-10-2015

PUBLIC 27-102015)

AGRAVO REGIMENTAL NO MANDADO DE

INJUNÇÃO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

APOSENTADORIA ESPECIAL DE SERVIDOR

PÚBLICO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA.

ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL CORRENTE

NESTA CORTE PELA APLICABILIDADE DA LEI

COMPLEMENTAR 142/2013 ATÉ QUE

SOBREVENHAM AS LEIS COMPLEMENTARES QUE

REGULAMENTEM O ART. 40, § 4º, DA

CONSTITUIÇÃO. PRECEDENTES DO STF.

PERMANÊNCIA DO DEVER DA AUTORIDADE

ADMINISTRATIVA COMPETENTE PARA A

CONCESSÃO DA APOSENTADORIA DE VERIFICAR O

PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS NO

CASO CONCRETO. LIMITES OBJETIVOS DA DECISÃO

EM MANDADO DE INJUNÇÃO. AGRAVO

REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. A

aposentadoria especial de servidor público portador de

deficiência é assegurada mediante a aplicação da Lei

Complementar 142/2013, até que editada a lei

complementar exigida pelo art. 40, § 4º, I, da Constituição

Federal. Precedentes do STF. 2. A decisão concessiva da

Page 17: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

17-23

ordem no mandado de injunção deve limitar-se à

determinação da norma regulamentadora de direito

constitucional aplicável ao caso sub judice, sem, no

entanto, abordar o efetivo preenchimento dos requisitos

legais no caso concreto para a concessão da

aposentadoria especial, a serem verificados pela

autoridade administrativa competente. 3. In casu, a

omissão legislativa diz respeito tão somente à adoção de

critérios diferenciados para a concessão da aposentadoria

especial. Nesse ponto, a decisão agravada colmatou

integralmente a lacuna, ao determinar a incidência da

sistemática prevista na Lei Complementar 142/2013. 4 .

Agravo regimental desprovido. (MI 6326 AgR, Relator(a):

Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 19/08/2015,

PROCESSO ELETRÔNICO DJe-184 DIVULG 1609-2015

PUBLIC 17-09-2015”

Por isso, inclusive, foi deflagrado na Corte Suprema processo

de revisão da Súmula Vinculante nº 33, formulando-se a proposta de Súmula

Vinculante nº 118 (PSV nº 118), a qual contempla a hipótese do 40, §4º, I, da

Constituição.

E, como destacado no primeiro tópico desta peça, já foram

proferidos dois votos favoráveis, dos Ministros Ricardo Lewandowski e Marco

Aurélio, interrompendo-se o julgamento em razão do pedido de vista do

Ministro Roberto Barroso12.

12 Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp? incidente=4826884.

Acesso em 25.09.2017.

Page 18: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

18-23

Ademais, a Procuradoria-Geral da República, em fevereiro de

2017, manifestou-se no procedimento de revisão PSV nº 118, destacando a

importância de que o julgamento seja concluído da forma mais célere possível

em razão da situação de vulnerabilidade do beneficiário com deficiência e

em idade avançada:

“A revisão do enunciado é fundamental para eliminar

óbices ao exercício de um direito constitucionalmente

assegurado aos servidores com deficiência.

O grupo se encontra em situação de vulnerabilidade e, por

isso, merece especial atenção do Judiciário. Não por outra

razão, o atendimento prioritário é determinado pelo art.

9º , VII, do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei

13.146/2015) em processos de interesse das pessoas com

deficiência.

Essa a razão pela qual pugna o ora proponente pela

conferência da maior celeridade possível na apreciação

do feito, com devolução dos autos ao Plenário para

conclusão de julgamento. Ante o exposto, pede

deferimento.”

A questão de fundo de direito da presente demanda é, como

visto, pacífica. Ao que tudo indica, o Supremo Tribunal Federal firmará, em

caráter vinculante, a orientação que já vem adotando, o que só vem a corroborar

a pertinência da pretensão ora veiculada.

Page 19: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

19-23

Sendo patente a vulnerabilidade das pessoas com deficiência,

cogente que o Judiciário imponha as medidas pertinentes para a proteção dessa

coletividade.

Deve-se, assim, impor ao Estado de Goiás a obrigação de

processar os pedidos de aposentadoria que se enquadram na hipótese em

comento, até que seja editada a lei complementar a que se refere o dispositivo.

A obrigação, a ser cumprida de imediato, deverá ser dirigida aos

Poderes e Órgãos Autônomos do Estado de Goiás.

Portanto, os pedidos de aposentadoria especial, apresentados

pelos servidores públicos e membros dos Poderes e Órgãos Autônomos do

Estado de Goiás, deverão ser processados mediante aplicação da LC nº

142/2013 e do art. 57 da Lei nº 8.213/1991 (para o período que antecedeu a

vigência da LC nº 142/2013), seguindo-se, por exemplo, os critérios da

Instrução Normativa MPS/SPPS nº 2/2014,13 salvo se eventualmente já houver

sido estabelecido procedimento próprio mais benéfico à pessoa com

deficiência14.

A providência ora pleiteada, reitere-se, é indispensável para que

se interrompa a violação ao direito fundamental de pessoa com deficiência,

fazendo-se cogente a sua imediata concessão, em caráter liminar.

13 Cf. documento eletrônico Anexo 02 – INSTRUÇÃO-NORMATIVA-SPPS-nº-02-de13 fev2014-publicada. 14 Nos termos do art. 121, parágrafo único, da Lei nº 13.146/2015, “prevalecerá a norma mais benéfica à

pessoa com deficiência”.

Page 20: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

20-23

5 . DOS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR

Demonstrada a ilegítima omissão legislativa sobre a

aposentadoria especial dos servidores públicos com deficiência, fica atendido

o requisito da probabilidade do direito.

O perigo de dano advém da continuidade de tal conduta

omissiva, infringindo-se, diuturnamente, direito fundamental de grupo

vulnerável, especialmente protegido pela Constituição da República e pelas leis

infraconstitucionais.

É inconcebível que, depois de anos, não só de contribuição

pecuniária, mas de verdadeira dedicação ao serviço público, seja obstado das

pessoas com deficiência o exercício de direito que lhes é constitucionalmente

assegurado, postergando a fruição das graças da passagem para inatividade.

Já se passaram mais de dois anos sem que o Supremo Tribunal

Federal deliberasse sobre a medida cautelar requerida na ADO nº 32, e mais de

um ano e meio em que interrompido o julgamento do procedimento de revisão

de súmula vinculante.

Esse período já é demasiado superior à média de tempo do

Tribunal para apreciação de pedidos liminares. Segundo estudo de 2014 da

Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas, “a média de

tempo que decorre entre o início do processo e a decisão liminar é de 44 dias.

A média no controle concentrado de constitucionalidade é mais alta do que nas

demais ações, ficando na faixa de 150 dias em ADI e ADPF”15.

15 III Relatório Supremo em Números: o Supremo e o tempo / Joaquim Falcão, Ivar A. Hartmann, Vitor P.

Chaves. - Rio de Janeiro: Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas, 2014. p. 12.

Page 21: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

21-23

Ora, ambos os períodos indicados pelo estudo – 44 e 150 dias,

já foram, em muito, ultrapassados, não havendo indicativo de que a matéria

será deliberada em breve pela Corte.

A imediata concessão da liminar nesta demanda mostra-se

imperativa para que seja efetivado o direito das pessoas com deficiência, que

estão, atualmente, de mãos atadas, lhes sendo possível apenas a impetração de

mandados de injunção individuais, de custo elevadíssimo.

É inadmissível que a coletividade dos servidores públicos com

deficiência aguarde, indefinidamente, a tomada de uma decisão que solucione,

em caráter erga omnes, a questão.

Presentes os requisitos do art. 300, caput do Código de Processo

Civil, e inexistindo óbice para a concessão de medidas de urgência em face da

Fazenda Pública em feitos que envolvem direito previdenciário (Súmula 729

do STF16), o Ministério Público do Estado de Goiás pugna pela antecipação de

tutela.

Deverá ser cominado aos Poderes e Órgãos Autônomos do

Estado de Goiás a obrigação de processar, de pronto, todos os pedidos de

aposentadoria especial de pessoas com deficiência, formulados com fulcro no

art. 40, §4º, inciso I, da Constituição Federal.

Disponível em:

http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/12055/III%20Relat%C3%B3rio%20Supremo%

20em%20N%C3%Bameros%20-%20O%20Supremo%20e%20o%20Tempo.pdf?sequence=5&isAllowed=y. Acesso em 04.10.2017. 16 A decisão na Ação Direta de Constitucionalidade não se aplica à antecipação de tutela em causa de natureza

previdenciária.

Page 22: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

22-23

Por derradeiro, deve ser estipulada multa diária em caso de

descumprimento da ordem judicial, no valor de R$3.000,00 (três mil reais),

limitada a R$500.000,00 (quinhentos mil reais), contra servidor público

responsável por omissão ou demora em seu cumprimento, a ser revertida ao

Fundo Estadual de Apoio ao Deficiente17 (art. 13 da Lei nº 7.347/198518).

6 . DOS PEDIDOS

Cum fulcro nas razões de fato e de direito acima apresentadas,

o Ministério Público do Estado de Goiás, por sua representante, requer a Vossa

Excelência:

a. O recebimento da presente petição inicial, acompanhada da

documentação anexa;

b. A citação do requerido, na forma da lei, para, querendo,

contestar a presente ação, com as advertências de praxe;

c. A antecipação dos efeitos da tutela, para determinar que o

Estado de Goiás (Poderes e Órgãos Autônomos) processe, imediatamente ao

conhecimento da decisão, todos os pedidos de aposentadoria especial de

servidores e membros com deficiência, formulados com base no art. 40, § 4°,

I, da Constituição Federal de 1988, aplicando-se as normas contidas na Lei

Complementar n. 142/2013 ou na Lei n. 8.213/1991 (esta para o período que

antecedeu a vigência da LC nº 142/2013).

17 Lei nº 12.695, de 11 de setembro de 1995. 18 Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por

um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e

representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados.

Page 23: EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(ÍZA) DE DIREITO DA … · caráter erga omnes que lhes permitam a obtenção de aposentadoria especial administrativamente. Diante desse cenário,

23-23

d. O julgamento antecipado do mérito (art. 355 do CPC),

porquanto matéria de direito, com a procedência do pedido apresentado nesta

ação civil pública, confirmando-se a medida de urgência.

Protesta-se pela condenação do réu nos ônus da sucumbência e,

subsidiariamente, pela ampla produção probatória, por todos os meios

admitidos.

Dá-se à causa, conforme disposto no art. 291 do CPC, o valor

de R$500.000,00 (quinhentos mil reais).

Goiânia-GO, 26 de julho de 2018.

MARILDA HELENA DOS SANTOS

39ª Promotoria de Justiça

Defesa da Pessoa com Deficiência