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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA
VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL
ANDRÉ PEIXOTO FIGUEIREDO LIMA, deputado federal, casado,
RG nº 5.540.938-2/SSP-CE, CPF nº 259.055.033-20, portador do título de eleitor
de no 000.190.073.070-1 (Zona 003, Seção 0380/CE), endereço eletrônico (e-mail):
[email protected], podendo ser encontrado no seu endereço
profissional, no Anexo IV da Câmara dos Deputados, gabinete nº 940, Praça dos
Três Poderes, CEP 70.160-900, Brasília/DF, representado pelo advogado
qualificado no instrumento procuratório em anexo, vem, nos termos do inciso
LXXVIII do artigo 5º da Constituição, propor:
AÇÃO POPULAR
com pedido cautelar, inaudita altera parte, em face da UNIÃO FEDERAL,
pessoa jurídica de direito público interno, cujos procuradores podem ser
encontrados no Setor de Autarquias Sul (SAS), Quadra III, Lote 5/6, Edifício
Multi Brasil Corporate, CEP 70.070-030, Brasília/DF, e da AGÊNCIA
NACIONAL DE PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS
– ANP, pessoa jurídica de direito público interno, cujos representantes podem
ser encontrados no Setor de Grandes Áreas Norte (SGAN), Quadra 603, Módulo
I, 3° andar, CEP: 70.830-902, Brasília/DF, pelas razões a seguir.
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1. DO FORO COMPETENTE
1. A parte final do § 2º do artigo 109 da Constituição é clara em
estatuir que as ações intentadas contra a União poderão ser aforadas no Distrito
Federal, sendo que o parágrafo único do artigo 7º da Lei Federal nº 9.478/1997
diz que “a ANP terá sede e foro no Distrito Federal”, exsurgindo daí a competência
da Justiça Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal.
2. DA LEGITIMIDADE PASSIVA
2. Além disso, com a inovação do inciso IV do artigo 75 do Código
de Processo Civil – CPC (Lei Federal nº 13.105/2015), segundo o qual “serão
representados em juízo, ativa e passivamente, a autarquia e a fundação de direito
público, por quem a lei do ente federado designar”, sobrevém a capacidade
processual da ANP, razão pela qual foi arrolada como Ré.
3. DOS FATOS (OBJETO DA AÇÃO)
3. Trata-se de ação popular contra atos lesivos ao patrimônio da
União e da sociedade de economia mista Petróleo Brasileiro S/A – Petrobrás,
especificamente, os editais da 2ª e da 3ª rodada de licitações para outorga de
contratos de partilha para atividades de exploração e produção de petróleo e
gás natural, por desvio de finalidade e ilegalidade de seus objetos (Lei Federal
nº 4.717/1965, art. 2º, “c”), publicados em 23/08/2017 e retificados em 19/10/2017.
4. DO DIREITO
4.1. DA AMEAÇA DE LESIVIDADE AO PATRIMÔNIO DA UNIÃO E
ILEGALIDADE DO OBJETO
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4. No mérito, tem-se que, em regra, o exercício do monopólio da
União sobre a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros
hidrocarbonetos fluidos (CF, art. 170, I) se dá pelo regime de concessão (Lei
Federal nº 9.478/1997, art. 23), no qual é sempre devida à União participação
especial como “compensação financeira extraordinária devida pelos concessionários,
nos casos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade” (Decreto nº
2.705/1998, art. 21)
5. Por outro lado, em áreas do pré-sal e outras áreas estratégicas, o
regime legal aplicável é o de partilha de produção (Lei Federal nº 12.351/2010,
art. 1º). Neste, a União é compensada pela descentralização do monopólio
mediante excedente em óleo, que é a “parcela da produção a ser repartida entre a
União e o contratado, segundo critérios definidos em contrato” (Lei Federal nº
12.351/2010, art. 2º, III).
6. No caso dos contratos das licitações da 2ª e da 3º rodadas do pré-
sal, relativos aos editais ora impugnados, a adjudicação tem como único critério
a maior oferta de excedente em óleo para a União (Lei Federal nº 12.351/2010,
art. 18)1. O problema é que os critérios usados pela ANP como base para o lance
mínimo a título de excedente são flagrantemente desvantajosos e, pior, a longo
prazo podem implicar em prejuízos severos às reservas em óleo devidas à
União que subsidiam políticas públicas (ver adiante).
7. Ambos os editais estabelecem que “O percentual do excedente em
óleo para a União, a ser ofertado pelas licitantes, devera referir-se ao preço de barril de
petróleo tipo Brent de US$ 50,00 (cinquenta dólares norte-americanos) e a produção
1 Cf. Cláusula 1.3 dos Editais da 2ª Rodada e também da 3ª Rodada: “As ofertas são classificadas
segundo a ordem decrescente do excedente em óleo para a União, sendo declarada vencedora da sessão
pública de apresentação de ofertas a licitante que ofertar o maior percentual para a União”.
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diária média de 12.000 (doze mil) barris de petróleo por poço produtor ativo” (Cláusula
8.3), embora o percentual seja estabelecido bloco por bloco.
8. Assim, para calcular o preço da menor proposta, provavelmente a
inicial, na 2ª rodada, os blocos de Norte de Carcará, Sul de Gato do Mato,
Entorno de Sapinhoá e Sudoeste de Tartaruga Verde terão as seguintes margens
(vide Cláusula 8.3 do edital respectivo):
9. Na 3ª rodada, em que são licitados os blocos de Pau Brasil, Peroba,
Alto de Cabo Frio Oeste e Alto de Cabo Frio Central, as alíquotas são (idem):
10. Como se adiantou, esses percentuais serão aplicados sobre a
referência de preço (Brent a U$D 50,00) e de produção (12.000bbl/d) para
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aferição da oferta mínima. À medida em que os lances aumentarem, o cálculo
da percentagem passa a reger-se pela seguinte Tabela 17 (Cláusula 8.3),
constante dos editais:
11. No leilão, considerando a atratividade dos blocos, é razoável
esperar competição, de maneira que o produto varie necessariamente a maior.
Acontece que essa tabela continuará a servir de índice para as atividades
futuras dos eventuais operadores, conforme dispõe a cláusula 9.5 (atualização
de preços) dos contratos anexos aos editais.
12. Com isso, se o preço Brent estiver entre US$ 60,01 e US$ 80 por
barril e a média de produtividade dos poços estiver entre 4,001 Mbbl/d e 6,000
Mbbl/d, o percentual do excedente em óleo da União será reduzido de 8,52%.
Admitindo-se que a oferta vencedora para o Entorno de Sapinhoá seja o
excedente mínimo – que é 10,34%, conforme mostrado na Tabela 16 – haverá
excedente em óleo para União de 1,82%.
13. A desvantagem é tão grande que, operando no regime de
concessão, a alíquota efetiva da participação especial da União para o campo
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de Sapinhoá foi de 28,67%, de acordo com o Relatório Trimestral de
Participação Especial da ANP, referente ao 2º Trimestre de 20172.
14. O déficit é mais evidente no caso da 3ª rodada. Com o Brent entre
US$ 80,01 e US$ 100 por barril e a produtividade entre 2,001 bbl/d e 4,000 bbl/d,
o percentual do excedente em óleo da União será reduzido de 15,10 pontos
percentuais. Se a oferta vencedora de Pau Brasil for o excedente mínimo -
14,40% pela Tabela 16, esse percentual será reduzido de 15,10%, resultando
num excedente negativo, hipótese em que será fictamente de 1%.
15. O mais grave é que, embora a tendência do preço do barril de
petróleo seja de recuperação, um exame retrospectivo dos últimos dois anos
mostra uma normalização em patamar abaixo dos U$D 50,00 (cinquenta
dólares), o que significa dizer, na prática, que a União está efetivamente doando
o controle da produção ao mercado, observe-se (fonte: IFC Markets):
16. A propósito, a minoração do excedente em óleo tem impacto
direto sobre as políticas públicas da União, não é mera fonte de arrecadação. É
que a receita advinda da comercialização desses excedentes –feita, aliás, pela
2 Disponível em: http://www.anp.gov.br/wwwanp/images/Royalties-e-outras-participacoes/Participacao_
Especial/ Relatorio_2Trimestre_2017.pdf
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Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A. – Pré-Sal
Petróleo S/A – PPSA (Lei Federal nº 12.304/2010, art. 4º, II) – é destinada ao
Fundo Social - FS (Lei Federal nº 12.351/2010, art. 45).
17. O FS é uma poupança soberana (Lei Federal nº 12.351/2010, art.
48, I) cuja missão mais nobre – repise-se, com o produto da venda dos
excedentes em óleo – é o “desenvolvimento social e regional, na forma de programas e
projetos nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento da educação, da cultura,
do esporte, da saúde pública, da ciência e tecnologia, do meio ambiente; e de mitigação e
adaptação às mudanças climáticas” (Lei Federal nº 12.351/2010, art. 47, I a VII).
18. Ademais, a redução da margem de excedentes – como se propõe
na 2ª e na 3º rodadas – tendo como efeito em cascata a minoração das receitas
do FS tem repercussão imediata sobre o consumidor final, no “preço na bomba de
combustível”, pois também tem como objetivo “mitigar as flutuações de renda e de
preços na economia nacional, decorrentes das variações na renda gerada pelas atividades
de produção e exploração de petróleo e de outros recursos não renováveis” (Lei Federal
nº 12.351/2010, art. 48, III).
19. Não suficiente, outro fator de lesividade à União consiste no
valor irrisório do bônus de assinatura, que é o “valor fixo devido à União pelo
contratado, a ser pago no ato da celebração e nos termos do respectivo contrato de
partilha de produção” (Lei Federal nº 12.351/2010, art. 2º, XII). Só para se ter uma
ideia, na licitação do campo de Libra, a 1ª rodada do pré-sal, a quantia foi
prestada foi de R$ 15 bilhões de reais e, agora, somados o montante total da 2ª e
da 3ª rodadas, chega-se a R$ 7,75 bilhões.
20. Com efeito, o anexo XIX do edital da 2ª rodada prevê um bônus de
R$ 3 bilhões para o bloco de Norte de Carcará; R$ 100 milhões para Sul de Gato
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do Mato; R$ 200 milhões para Entorno de Sapinhoá; e R$ 200 milhões para
Sudoeste de Tartaruga Verde. O mesmo anexo do edital da 3ª rodada consigna
R$ 1,5 bilhão para Pau Brasil; R$ 2 bilhões para Peroba; R$ 350 milhões para
Alto Cabo Frio Oeste; e R$ 500 milhões para Alto Cabo Frio Central.
21. Todos esses argumentos convergem para a inegável ameaça de
lesividade ao patrimônio da União, passível de apreciação pelo Poder
Judiciário (CF, art. 5º, XXXV) através de ação popular (CF, art. 5º, LXXIII). Do
ponto de vista jurídico, tem-se uma flagrante subversão constitucional,
principalmente aos imperativos de redução das desigualdades sociais (CF, art.
3º, III), de promoção da defesa do consumidor (CF, art. 5º, XXXII, e 170, V) e de
implementação da função social da propriedade (CF, art. 170, III).
22. Sem dúvida, os editais em questão traduzem-se como atos
próprios da política pública energética nacional, mas nem por isso ou porque o
padrão de controle invocado é de ordem programática que estão eles imunes à
controle. Como ensina Fábio Konder Comparato, “a juridicidade das normas que
simplesmente declaram tais fins (as Zielnormen dos alemães), ou que impõem a
realização de determinado programa de atividades – as normas propriamente
programáticas –, já não pode ser posta em dúvida, nesta altura da evolução jurídica”3.
23. Como demonstrado, o excedente em óleo (Lei Federal nº
12.351/2010, art. 2º, III) não consiste em mera expropriação da produção pela
União. Não, trata-se de um instrumento legal que viabiliza a implementação de
políticas públicas sociais e até mesmo da capacidade de intervenção estatal em
defesa do consumidor, mediante regulagem da oferta de petróleo e derivados,
tudo em consonância com a livre inciativa (CF, art. 170, I).
3 In: Ensaio sobre o Juízo de Constitucionalidade de Políticas Públicas. Revista de informação
legislativa, v. 35, n. 138, p. 39-48, abr./jun. 1998, p. 45.
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24. Então o órgão regulatório responsável, a ANP, não pode mitigar
discricionariamente, isto é, segundo a conveniência e a oportunidade das
pressões do mercado, os percentuais a serem licitados como excedente e, mutatis
mutandis, o valor devido como bônus. Na espécie, uma comparação preliminar
entre com o regime de concessão – com arrecadação por participação especial –
e com experiência anterior do modelo de partilha (Libra), mostrou que a escolha
pública não se deu em atenção aos impactos subsequentes sobre o Fundo Social.
25. Noutras palavras, sendo o FS o fim último da comercialização dos
excedentes para implementar políticas públicas de diversas matizes, os editais
deveriam ter primado pela maximização dos critérios em referência, o que
evidentemente não ocorreu, fazendo implicar, por conseguinte, a ilegalidade de
seus objetos, transformando-os em nulos de pleno direito, na forma da alínea
“c” do parágrafo único do artigo 2º da Lei da Ação Popular (Lei Federal nº
4.717/1965).
4.2. DA AMEAÇA DE LESIVIDADE AO PATRIMÔNIO DE SOCIEDADE
DE ECONOMIA MISTA E ILEGALIDADE DO OBJETO
26. Juridicamente, essa iniquidade não parece ser inerente ao modelo
de partilha, mas, com certeza, foi potencializado em virtude de a Lei Federal nº
13.365/2016 ter alterado a de nº 12.351/2010, permitindo que a Petrobrás não
fosse a exploradora única da pesquisa e da lavra das jazidas de petróleo e
derivados, seja diretamente ou em consórcio, como previa a redação original
daquela lei. Os editais, a seu turno, refletem esse permissivo legal,
contaminando-se da inconstitucionalidade formal e material da lex posteriori.
27. A Lei Federal nº 13.365/2016 originou-se do Projeto de Lei do
Senado (PLS) nº 131/2012, de autoria do Senador José Serra (PSDB/SD), foi
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aprovado no Senado – com emenda substitutiva do Senador Romero Jucá
(PMDB/RR) – em 24/02/2016, e, sucessivamente mas sem alterações, na Câmara
dos Deputados, em 09/11/2016, e sancionado em 30/11/2016.
28. Grosso modo, a Lei retirou a necessidade de participação da
Petrobrás, em operação direta ou em consórcio (nova redação do artigo 2º, VI e
VII da Lei Federal nº 12.351/2010), criando um direito de preferência (nova
redação do artigo 4º, § 1º, idem); e conferiu ao Conselho Nacional de Política
Energética (CNPE) a atribuição de, quando oportuno, oferecer à Petrobrás tal
opção (nova redação do artigo 4º, idem).
29. Sucede que essas modificações são de iniciativa normativa
privativa do Presidente da República, na medida em que dispõem sobre
“organização e funcionamento da administração federal”, especificamente, da
Petrobrás e do CNPE, devendo ter sido, rigorosamente, objeto de decreto
autônomo (CF, art. 84, VI, “a”). Sem prejuízo de sua disciplina por meio de lei
ordinária, todavia, persiste a reserva em favor do Presidente da República
para deflagrar o processo legislativo pertinente (CF, art. 84, III).
30. Quer dizer, por sua conta, os parlamentares poderiam intentar a
alteração de outras matérias constantes da Lei Federal nº 12.351/2010, como as
cláusulas essenciais do contrato de partilha de produção (art. 29) ou os objetivos
do FS (art. 48), mas não as prerrogativas inerentes ao funcionamento de ente da
Administração Federal – mesmo que indireta, a Petrobrás.
31. Até porque, é bom ressaltar, a revogada obrigatoriedade de sua
atuação direta ou em “consórcio por ela constituído com o vencedor da licitação”
(redação original do art. 2º, VII), diz respeito à dimensão de seu funcionamento
ligado à concretização de sua finalidade constitucional para a segurança
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nacional e o relevante interesse coletivo (CF, art. 173), sob pena de se esvaziar
sua raison d'etre por falta de amparo constitucional.
32. E mais, a sanção presidencial não é capaz de sanar o vício formal,
como há muito pontifica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF),
por exemplo: “Alteração da denominação e das atribuições do órgão da Administração
Pública. Lei oriunda de projeto da Assembleia Legislativa. Veto do Governador do
Estado, sua rejeição e a promulgação da lei. Subsistência do atentado à competência
reservada ao Chefe do Poder Executivo para dispor sobre a matéria. Vício formal
insanável, que não se convalida” (ADI 2417, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal
Pleno, julgado em 03/09/2003).
33. Não menos significativo, há um vício material na Lei Federal nº
13.365/2016 que, por derivação racioinal, igualmente corrompe os editais aqui
impugnados judicialmente. Cuida-se do desatendimento aos já aludidos
imperativos de segurança nacional e o relevante interesse coletivo (CF, art.
173) com a supressão da obrigatoriedade de participação da Petrobrás na
partilha da exploração, mas agora sob outro prisma.
34. Uma primeira violência decorre do fato notório – motivo pelo
qual não depende de prova (CPC, art. 374, I) – de que foram os investimentos
da Petrobrás na área de pesquisa, exploração e produção que levaram à
descoberta das grandes reservas do pré-sal. Essas aplicações que, obviamente,
foram decisivas para o aumento do endividamento e da alavancagem da
empresa, mas que, na verdade, são o seu grande ativo. Ceifá-lo da Petrobrás é
também uma ameaça de lesividade a seu patrimônio.
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35. Estudos4 apontam que, no regime de participação anterior, a longo
prazo, a Petrobrás poderia triplicar suas reservas, aumentando a produção sem
maiores aportes de capital, reduzindo a relação dívida líquida/Ebitda5. Basta
notar que, ao contrário de outras grandes companhias do setor – como
ExxonMobil, BP, Chevron e Shell – a Petrobrás é a única com crescimento real
da produção (fonte: Evaluate Energy):
36. Enquanto essa circunstância revela um descumprimento concreto
ao pressuposto de relevante interesse coletivo para a exploração direta da
atividade econômica pelo Estado, sobretudo, em se tratando de matéria objeto
de monopólio da União (CF, art. 177, I), a remoção da Petrobrás como
participante obrigatória dos contratos de partilha, concorde a Lei Federal nº
13.365/2016, também representa um ataque velado à segurança nacional,
especialmente sob a ótica da soberania (CF, art. 1º, I).
4 RIBEIRO LIMA, Paulo César. Análise do Projeto de Lei nº 4.567/2016 e Apensados. Consultoria
Legislativa. Brasília, Câmara dos Deputados, 2016, p. 32. 5 Referência em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization (em tradução
livre: lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
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37. Não é por outra razão que das 4 (quatro) maiores reservas
mundiais de petróleo, 3 (três) estão sob controle de estatais: Gazprom (Rússia),
PDVSA (Venezuela), NIOC (Irã), ADNOC (Abu Dhabi). É claro: a despeito do
crescente ímpeto ecológico, o petróleo ainda é o principal recurso natural da
humanidade, não à toa é pretexto de conflitos militares recorrentes, mostrando-
se estratégico para o desenvolvimento de qualquer economia nacional.
38. Desprezando esses elementos substantivos, a inobservância dos
imperativos de segurança nacional e o relevante interesse coletivo (CF, art.
173) a que se submete a Petrobrás, a Lei Federal nº 13.365/2016 é
manifestamente inconstitucional e, por arrastamento, os editais das 2ª e 3º
rodadas de licitações de contratos de partilha do pré-sal são nulos de pleno
direito, por ilegalidade de seus objetos (Lei Federal nº 4.717/1965, art. 2º, “c”).
39. Por fim, assinale-se que a arguição de inconstitucionalidade da Lei
Federal nº 13.365/2016, ora levantada como fundamento jurídico da nulidade
dos editais em tela, é plenamente admissível, pois “é possível a declaração
incidental de inconstitucionalidade em Ação Popular, ‘desde que a controvérsia
constitucional não figure como pedido, mas sim como causa de pedir, fundamento ou
simples questão prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal, em torno da
tutela do interesse público’” (REsp 1559292/ES, Rel. Ministro Herman Benjamin, 2ª
Turma, julgado em 02/02/2016).
5. DA TUTELA CAUTELAR
40. Importante que as alegações lançadas evidenciam o risco ao
resultado útil do processo (periculum in mora), justificando a prestação de
tutela de urgência (cautelar) capaz de resguardar o patrimônio da União e da
Petrobrás da ameaça de lesividade.
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41. É que a sessão pública destinada ao leilão dos blocos objeto dos
editais de licitação está marcada já para 27/10/2017 (sexta-feira), de jeito que
qualquer intervenção judicial a posteriori pode trazer mais danos do que
benefícios, haja vista a sensibilidade do mercado em relação ao tema, podendo
ser interpretado, inclusive, como sinal de quebra da confiança dos investidores.
42. De resto, mesmo em cognição sumária da matéria, a narrativa
jurídica delineada dá conta de os editais da 2ª e da 3ª rodadas padecem de
ilegalidade de objeto (Lei Federal nº 4.717/1965, art. 2º, “c”), configurando a
plausibilidade do direito invocado (fumus boni iuris).
43. O vício exsurge da ameaça de lesividade ao patrimônio da União,
por decorrência do valor comparativamente irrisório do bônus de assinatura
neles veiculado e, principalmente, da defasagem percentual para o cálculo do
excedente de óleo, prejudicando a arrecadação da União e, por conseguinte, da
implementação de políticas públicas a ela veiculadas via Fundo Social.
44. Acrescente-se, pela mesma imputação, a inconstitucionalidade da
Lei Federal nº 13.365/2016, cujo conteúdo configura transgressão aos
imperativos de segurança nacional e o relevante interesse coletivo (CF, art.
173), de maneira a se desdobrar na absoluta nulidade de pleno direito dos
contratos a serem adjudicados pelos editais ora inquinados.
45. Em tempo, não há risco de irreversibilidade da medida (CPC, art.
300, § 3o) ou de esgotamento do objeto da ação (Lei Federal no 8.437/1992, art. 1o,
§ 3°), sendo o pedido liminar puramente cautelar, objetivando preservação do
status quo ante, de sorte que permite a recomposição do espectro de
anormalidade ora atacado, por meios e para fins inconstitucionais: a
continuidade do certame licitatório.
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7. DO PEDIDO
Ante o exposto, o Autor requer/pede:
a) a concessão de medida liminar, inaudita altera parte,
determinando-se a suspensão da sessão pública de apresentação de ofertas da
2ª e da 3ª rodadas de licitações de contratos de partilha de produção, prevista
nos respectivos editais para 27/10/2016 (Cláusula 1.4, Tabela 1, Cronograma),
bem como a interdição do procedimento licitatório em questão até a sentença;
b) a citação das Rés, conforme qualificação inicial, e a intimação do
representante do Ministério Público;
c) ao final, seja julgado procedente o pedido, declarando-se nulos os
editais da 2ª e da 3ª rodada de licitações para outorga de contratos de partilha
para atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural;
e) a condenação das Rés em custas e honorários de advogado.
Dá-se à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais).
Brasília, 25 de outubro de 2017.
LUCAS DE CASTRO RIVAS OAB/DF nº 46.431