1
FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 12 DE SETEMBRO DE 2011 Fortaleza PÁGINA 5 Defesa] Críticas de que denúncia foi antecipada Advogados e réus rebatem MPF ou evitam comentar estratégia na ação penal. Testemunhas de Fortaleza serão ouvidas a partir de outubro D ia 18 de outubro pró- ximo começa, em For- taleza, na 11ª Vara Fe- deral, a fase de depoimentos das testemunhas de acusação na ação penal que apura cor- rupção e desfalques no De- partamento Nacional de In- fraestrutura de Transportes (Dnit) no Ceará. As oitivas por cartas precatórias, para testemunhas que residem em outras cidades, até já foram iniciadas. Porém, o questio- namento feito pelos próprios condutores do processo – ad- vogados, o Ministério Público denunciante e o juiz titular - costuma ser mais incisivo e detalhista. E é nesse momen- to que o caso pode ganhar maior ênfase jurídica. Testemunhas de acusação e defesa – nessa ordem – serão ouvidas até o dia 11 de novembro, com programação ao longo de dez audiências. E nos dias 29 e 30, os cinco réus da ação penal passam a ser interrogados, depois de sabe- rem tudo o que lhes foi apon- tado ou defendido nos de- poimentos anteriores. O POVO ouviu s advogados e alguns dos réus das duas ações fede- rais. Vários deles não foram localizados ou não se chegou a números dos telefones para contato. Dos que atenderam aos repórteres, nenhum quis se estender muito sobre a es- tratégia de defesa. “O processo ainda tá cor- rendo. Não tem sentido falar ainda. Não foi concluído e ainda não fui intimado para depor”, respondeu ao O POVO, por telefone, o ex- chefe do setor de engenha- ria do Dnit-CE, José Wanks Meireles de Sales. “Prefiro não falar sobre isso ainda”, disse o ex-chefe da unidade do Dnit em Russas, Sigefre- do Peixoto Diógenes. Ambos são réus na ação de improbi- dade administrativa, que tra- mita na 1ª Vara Federal. De Recife, o advogado Fran- cisco Leitão falou em nome de Rafael Bezerra Araújo (enge- nheiro) e José Pereira Nunes (encarregado de compras), réus da ação penal. Ambos são funcionários da Construtora Delta – que detém mais de 90% dos contratos investiga- dos pela Controladoria Geral da União no Ceará. “Essa de- núncia foi açodada porque o Ministério Público Fede- ral não aguardou nem sequer o término do inquérito, que ainda está em andamento”. “Previsão contratual” Leitão diz que muitos dos dados questionados pela pro- curadora federal Maria Can- delária Di Ciero na denúncia já têm explicação no inqué- rito. “O aluguel de carros e o pagamento de combustível tinham previsão contratual. Eram fornecidos para o traba- lho de fiscalização”, afirmou. Francisco Leitão também ad- voga para a Construtora Delta e diz que as acusações “estão sendo respondidas e a ino- cência provada perante a Jus- tiça Federal”. De Brasília, o advogado Marcelo Leal disse ter certe- za que seu cliente será absol- vido. “Mas por hábito, não nos manifestamos na imprensa. Só nos autos do processo”. Ele defende Gentil Newton Eva- risto Linhares, sócio-proprie- tário da construtora G&F, réu nas ações cível e penal. O advogado Francisco Val- demízio Acioly Guedes tam- bém não quis se pronunciar sobre o caso. Ele faz a de- fesa de Josidan Góis Cunha, ex-chefe da unidade do Dnit em Fortaleza e, por enquan- to, o único servidor que é réu tanto na ação de improbidade como na ação penal. Pelo então superintenden- te do Dnit-CE à época em que o caso veio à tona, Joaquim Guedes Neto, falou o advoga- do Hélio Leitão: “O Guedes está à disposição da Justiça para todos os esclarecimen- tos necessários. Ele reafirma sua inocência. Sobre a ope- ração (Mão Dupla, realizada um ano atrás pela PF), ela é apenas o início de uma inves- tigação. Entendemos que foi um ato de truculência, além de ter sido precipitada. Não havia a necessidade das pri- sões”, afirmou. Os advogados Paulo Que- zado e João Marcelo Pedro- sa representam o empresá- CONTRATOS NO BRASIL Pagavam para tapar buracos e refazer a BR ao mesmo tempo “Prejuízo potencial”: R$ 682 mi No meio das falcatruas descobertas no Dnit-CE, os auditores da Controladoria Geral da União encontraram até sobreposição de três contratos para execução de serviços num mesmo trecho da BR-116. Eram para obras de restauração e de manutenção simultâneos, assinados entre agosto e outubro de 2009. Enquanto o governo pagava milhões para reparar a buraqueira na pista, ao mesmo tempo liberava outro tanto para refazer totalmente a mesma BR. Os três contratos estavam firmados com duas construtoras. Era um de manutenção para 218,9 km e dois de restauração que somavam 125 km. Segundo Na semana passada, a Controladoria-Geral da União divulgou relatório com o resultado de uma auditoria especial realizada em licitações e contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec, estatal do setor ferroviário, em todo o País. O documento identificou 66 irregularidades em 17 processos e apontou um “prejuízo potencial” de R$ 682 milhões. O valor representa 13,3% do total fiscalizado, de R$ 5,1 bilhões. Entre outros fatores, o relatório da CGU aponta que o encarecimento das obras é fruto da “precariedade” dos projetos de engenharia e da licitação de projetos que já se encontram defasados. A Controladoria informou também que já estão em curso FRAUDES NO DNIT EXCLUSIVO a CGU, deveriam ter sido barrados pelos fiscais do próprio Dnit-CE. Um deles já é réu na ação de improbidade e deverá ser denunciado também criminalmente. O prejuízo calculado, pelo que já havia sido repassado de recursos, chegou a R$ 2.999.277,36 – embora os contratos totalizassem R$ 154.830.038,03. “A superposição de serviços entre contratos de manutenção e restauração é uma prática recorrente e conhecida artimanha engendrada para o cometimento de pagamentos de serviços não realizados”, pontuou a CGU em um de seus relatórios. processos administrativos e sindicâncias envolvendo mais de 30 servidores e ex-dirigentes do Dnit, da Valec e do Ministério dos Transportes. O relatório da auditoria divulgada na semana passada está sendo encaminhado para o Ministério dos Transportes, Dnit e Valec, Casa Civil da Presidência, Ministério Público, TCU, Polícia Federal, AGU e Comissão de Ética Pública. As denúncias envolvendo o Dnit são um dos braços da crise que atingiu o Ministério dos Transportes e provocou a chamada “faxina” na pasta, com o afastamento de boa parte da cúpula do Dnit e da Valec. O ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM) pediu demissão do cargo em julho passado. Leia amanhã O caminho das propinas CGU lista presentes e “agrados” no caso Dnit-CE rio Hermano Zenaide Filho, o ex-procurador do Dnit An- tonio Silvino de Moraes e o ex-presidente da comissão de licitação do órgão, Sebas- tião Coriolano de Andrade. “Todos refutam as acusações. Estamos aguardando a fase de instrução (depoimentos). Já juntamos documentos de- monstrando os equívocos do Ministério Público. Provare- mos que é improcedente a acusação”, garantiu Pedrosa. O réu Raimundo Matos Be- zerra Lima, proprietário da empresa Metalvias, chegou a ser denunciado na ação penal, mas faleceu no início deste ano e teve extinta sua punibi- lidade. A empresa, no entanto, continua citada no processo de improbidade. A ação penal ainda deverá receber adita- mentos, já que o inquérito, como ressaltaram alguns dos advogados, segue em aberto. É muito provável a inclusão de nomes que já aparecem lis- tados na ação de improbida- de administrativa. (Cláudio Ri- beiro, Demitri Túlio e Felipe Araújo)

EXCLUSIVO FRAUDES NO DNIT · De Recife, o advogado Fran- ... voga para a Construtora Delta ... zerra Lima, proprietário da empresa Metalvias, chegou a

Embed Size (px)

Citation preview

FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 12 DE SETEMBRO DE 2011 Fortaleza PÁGINA 5

Defesa] Críticas de que denúncia foi antecipada Advogados e réus rebatem MPF ou evitam comentar estratégia na ação penal. Testemunhas de Fortaleza serão ouvidas a partir de outubro

Dia 18 de outubro pró-ximo começa, em For-taleza, na 11ª Vara Fe-

deral, a fase de depoimentos das testemunhas de acusação na ação penal que apura cor-rupção e desfalques no De-partamento Nacional de In-fraestrutura de Transportes (Dnit) no Ceará. As oitivas por cartas precatórias, para testemunhas que residem em outras cidades, até já foram iniciadas. Porém, o questio-namento feito pelos próprios condutores do processo – ad-vogados, o Ministério Público denunciante e o juiz titular - costuma ser mais incisivo e detalhista. E é nesse momen-to que o caso pode ganhar maior ênfase jurídica.

Testemunhas de acusação e defesa – nessa ordem – serão ouvidas até o dia 11 de novembro, com programação ao longo de dez audiências. E nos dias 29 e 30, os cinco réus da ação penal passam a ser interrogados, depois de sabe-rem tudo o que lhes foi apon-tado ou defendido nos de-poimentos anteriores. O POVO ouviu s advogados e alguns dos réus das duas ações fede-rais. Vários deles não foram localizados ou não se chegou a números dos telefones para contato. Dos que atenderam aos repórteres, nenhum quis se estender muito sobre a es-tratégia de defesa.

“O processo ainda tá cor-rendo. Não tem sentido falar

ainda. Não foi concluído e ainda não fui intimado para depor”, respondeu ao O POVO, por telefone, o ex-chefe do setor de engenha-ria do Dnit-CE, José Wanks Meireles de Sales. “Prefiro não falar sobre isso ainda”, disse o ex-chefe da unidade do Dnit em Russas, Sigefre-do Peixoto Diógenes. Ambos são réus na ação de improbi-dade administrativa, que tra-mita na 1ª Vara Federal.

De Recife, o advogado Fran-cisco Leitão falou em nome de Rafael Bezerra Araújo (enge-nheiro) e José Pereira Nunes (encarregado de compras), réus da ação penal. Ambos são funcionários da Construtora Delta – que detém mais de 90% dos contratos investiga-dos pela Controladoria Geral da União no Ceará. “Essa de-núncia foi açodada porque o Ministério Público Fede-ral não aguardou nem sequer o término do inquérito, que ainda está em andamento”. “Previsão contratual”

Leitão diz que muitos dos dados questionados pela pro-curadora federal Maria Can-delária Di Ciero na denúncia já têm explicação no inqué-rito. “O aluguel de carros e o pagamento de combustível tinham previsão contratual. Eram fornecidos para o traba-lho de fiscalização”, afirmou. Francisco Leitão também ad-voga para a Construtora Delta

e diz que as acusações “estão sendo respondidas e a ino-cência provada perante a Jus-tiça Federal”.

De Brasília, o advogado Marcelo Leal disse ter certe-za que seu cliente será absol-vido. “Mas por hábito, não nos manifestamos na imprensa. Só nos autos do processo”. Ele defende Gentil Newton Eva-risto Linhares, sócio-proprie-tário da construtora G&F, réu nas ações cível e penal.

O advogado Francisco Val-demízio Acioly Guedes tam-bém não quis se pronunciar sobre o caso. Ele faz a de-fesa de Josidan Góis Cunha, ex-chefe da unidade do Dnit em Fortaleza e, por enquan-to, o único servidor que é réu tanto na ação de improbidade como na ação penal.

Pelo então superintenden-te do Dnit-CE à época em que o caso veio à tona, Joaquim Guedes Neto, falou o advoga-do Hélio Leitão: “O Guedes está à disposição da Justiça para todos os esclarecimen-tos necessários. Ele reafirma sua inocência. Sobre a ope-ração (Mão Dupla, realizada um ano atrás pela PF), ela é apenas o início de uma inves-tigação. Entendemos que foi um ato de truculência, além de ter sido precipitada. Não havia a necessidade das pri-sões”, afirmou.

Os advogados Paulo Que-zado e João Marcelo Pedro-sa representam o empresá-

CONTRATOS

NO BRASIL

Pagavam para tapar buracos e refazer a BR ao mesmo tempo

“Prejuízo potencial”: R$ 682 mi

No meio das falcatruas descobertas no Dnit-CE, os auditores da Controladoria Geral da União encontraram até sobreposição de três contratos para execução de serviços num mesmo trecho da BR-116. Eram para obras de restauração e de manutenção simultâneos, assinados entre agosto e outubro de 2009. Enquanto o governo pagava milhões para reparar a buraqueira na pista, ao mesmo tempo liberava outro tanto para refazer totalmente a mesma BR.

Os três contratos estavam firmados com duas construtoras. Era um de manutenção para 218,9 km e dois de restauração que somavam 125 km. Segundo

Na semana passada, a Controladoria-Geral da União divulgou relatório com o resultado de uma auditoria especial realizada em licitações e contratos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Valec, estatal do setor ferroviário, em todo o País. O documento identificou 66 irregularidades em 17 processos e apontou um “prejuízo potencial” de R$ 682 milhões. O valor representa 13,3% do total fiscalizado, de R$ 5,1 bilhões.

Entre outros fatores, o relatório da CGU aponta que o encarecimento das obras é fruto da “precariedade” dos projetos de engenharia e da licitação de projetos que já se encontram defasados. A Controladoria informou também que já estão em curso

FRAUDES NO DNIT

EXCLUSIVO

a CGU, deveriam ter sido barrados pelos fiscais do próprio Dnit-CE. Um deles já é réu na ação de improbidade e deverá ser denunciado também criminalmente. O prejuízo calculado, pelo que já havia sido repassado de recursos, chegou a R$ 2.999.277,36 – embora os contratos totalizassem R$ 154.830.038,03.

“A superposição de serviços entre contratos de manutenção e restauração é uma prática recorrente e conhecida artimanha engendrada para o cometimento de pagamentos de serviços não realizados”, pontuou a CGU em um de seus relatórios.

processos administrativos e sindicâncias envolvendo mais de 30 servidores e ex-dirigentes do Dnit, da Valec e do Ministério dos Transportes.

O relatório da auditoria divulgada na semana passada está sendo encaminhado para o Ministério dos Transportes, Dnit e Valec, Casa Civil da Presidência, Ministério Público, TCU, Polícia Federal, AGU e Comissão de Ética Pública.

As denúncias envolvendo o Dnit são um dos braços da crise que atingiu o Ministério dos Transportes e provocou a chamada “faxina” na pasta, com o afastamento de boa parte da cúpula do Dnit e da Valec.

O ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM) pediu demissão do cargo em julho passado.

Leia amanhã O caminho das propinas CGU lista presentes e “agrados” no caso Dnit-CE

rio Hermano Zenaide Filho, o ex-procurador do Dnit An-tonio Silvino de Moraes e o ex-presidente da comissão de licitação do órgão, Sebas-tião Coriolano de Andrade. “Todos refutam as acusações. Estamos aguardando a fase de instrução (depoimentos). Já juntamos documentos de-monstrando os equívocos do Ministério Público. Provare-mos que é improcedente a acusação”, garantiu Pedrosa.

O réu Raimundo Matos Be-zerra Lima, proprietário da empresa Metalvias, chegou a ser denunciado na ação penal, mas faleceu no início deste ano e teve extinta sua punibi-lidade. A empresa, no entanto, continua citada no processo de improbidade. A ação penal ainda deverá receber adita-mentos, já que o inquérito, como ressaltaram alguns dos advogados, segue em aberto. É muito provável a inclusão de nomes que já aparecem lis-tados na ação de improbida-de administrativa. (Cláudio Ri-beiro, Demitri Túlio e Felipe Araújo)

BD O POVO
Cabeçalho
#Data: 20110912 #Clichê: Primeiro #Editoria: Fortaleza
BD O POVO
Conteúdo
#Autor: Cláudio Ribeiro #Autor: Demitri Túlio #Autor: Felipe Araújo #Observação: Exclusivo Fraudes no Dnit <FRAUDE> <OBRAS PÚBLICAS> <RODOVIA FEDERAL> <DNIT> <CEARÁ>