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7/18/2019 Exegese - At - II-IV http://slidepdf.com/reader/full/exegese-at-ii-iv 1/8 Exegese do Antigo Testamento 9 II. EXEGESE E EXPOSIÇÃO BÍBLICA Exposição bíblica é o comentário de uma perícope bíblica, seja verbal seja escrita. A essência da exposição é a explicação. Exclusivamente no contexto eclesiástico, a exposição se realiza no cenário da Teologia Prática por meio da pregação ou do ensino. Esses dois momentos indissociáveis da liturgia cristã propõem-se a expor, narrar, explicar e interpretar o texto litúrgico, utilizando-se de variegados métodos que cumpram os propósitos delineados. Geralmente esses métodos e as técnicas envolvidas na exposição bíblica dependem da perícia de quem as usam, e diferem-se entre as técnicas retóricas da pregação e as técnicas e métodos exegéticos.  Neste particular se insere a dicotomia entre o real e o ideal. A experiência tem ensinado que essas duas habilidades nem sempre estão associadas a um mesmo expositor,  podendo ser ele um excelente orador sem dominar uma única regra da exegese e ser um excelente exegeta sem a sensibilidade expositiva de um pregador. Estabelecido essa  premissa passemos a responder à indagação posterior: O ideal é a osmose entre essas duas habilidades e o completo domínio de ambas as técnicas pelo preletor. Por conseguinte, a exegese e a exposição bíblica, fundem-se nos meandros do exercício do ministério cristão, através da habilidade hermenêutica e exegética do mestre, da perícia homilética do pregador e da ação noutética (intelectual) do pastor (Cl 3,16). A finalidade do conluio entre a exposição bíblica e a exegese é guiar-nos a uma compreensão adequada de Deus através de Cristo, a Palavra Encarnada. As interpretações dos textos vétero e neotestamentários devem ser o efeito de uma preocupação evangelística e pastoral, mais do que técnica e documental. A exegese deve ser um instrumento que conduza o homem a Deus (Cf. BENTHO, p. 66). Nesta altura podemos tirar uma ilação das características essenciais da exposição bíblica, alicerçada numa exegese responsável e acadêmica. Para cumprir o propósito dessa assertiva fortaleceremos o argumento com os textos de Rm 15.14; Cl 1.28; 3.16; Ef 4.11-16, a saber: 1. A exposição bíbl i ca éaci ma de tu do, u ma expl i cação da per ícope bíbl i ca com o f i m de evangelizar, exortar, consolar e edif icar o corpo místico de Cristo, a Igreja. 2. A exposição bíbl i ca éexegeti cam ent e fiel ao con texto e a intenção autor al . 3. A exposição bíbl i ca de u m texto l i túr gi co é coesa com o r estan te das Escritu r as. 4.  A exposição bíblica baseia-se na exegese crí ti ca de um texto e rejeita as  justificativas inf undadas concernentes ao texto bíblico. Dois Níveis de Exposição Bíblica: Científica e Eclesiástica Para retomar, de outro modo, a generalidade do problema, somos desafiados pela urdidura do comentário anterior, a deslindar os limites e ênfases de duas características essenciais da Exegese Bíblica: a Científica ou Acadêmica e a  Eclesiástica ou Pastoral (Cf. SIMIAN-YOFRE, p. 13-17). Embora sejam categorias da mesma ciência, estão sempre em  busca do enlace ou do divórcio e, é na prática ministerial que este embate titânico se manifesta. 1. E xegese Ci entí fica.  Sabedores de que os termos “científico” e “eclesiástico” são  polimorfos e, portanto, sujeitos a reinterpretações, julgamos necessário limitar o sentido

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II. EXEGESE E EXPOSIÇÃO BÍBLICA

Exposição bíblica é o comentário de uma perícope bíblica, seja verbal seja escrita. Aessência da exposição é a explicação. Exclusivamente no contexto eclesiástico, a exposiçãose realiza no cenário da Teologia Prática por meio da pregação ou do ensino. Esses dois

momentos indissociáveis da liturgia cristã propõem-se a expor, narrar, explicar e interpretaro texto litúrgico, utilizando-se de variegados métodos que cumpram os propósitosdelineados. Geralmente esses métodos e as técnicas envolvidas na exposição bíblicadependem da perícia de quem as usam, e diferem-se entre as técnicas retóricas da pregação e as técnicas e métodos exegéticos.

 Neste particular se insere a dicotomia entre o real e o ideal. A experiência temensinado que essas duas habilidades nem sempre estão associadas a um mesmo expositor,

 podendo ser ele um excelente orador sem dominar uma única regra da exegese e ser umexcelente exegeta sem a sensibilidade expositiva de um pregador. Estabelecido essa

 premissa passemos a responder à indagação posterior: O ideal é a osmose entre essas duas

habilidades e o completo domínio de ambas as técnicas pelo preletor. Por conseguinte, aexegese e a exposição bíblica, fundem-se nos meandros do exercício do ministério cristão,através da habilidade hermenêutica e exegética do mestre, da perícia homilética do pregadore da ação noutética (intelectual) do pastor (Cl 3,16).

A finalidade do conluio entre a exposição bíblica e a exegese é guiar-nos a umacompreensão adequada de Deus através de Cristo, a Palavra Encarnada. As interpretaçõesdos textos vétero e neotestamentários devem ser o efeito de uma preocupação evangelísticae pastoral, mais do que técnica e documental. A exegese deve ser um instrumento queconduza o homem a Deus (Cf. BENTHO, p. 66). Nesta altura podemos tirar uma ilação dascaracterísticas essenciais da exposição bíblica, alicerçada numa exegese responsável e

acadêmica. Para cumprir o propósito dessa assertiva fortaleceremos o argumento com ostextos de Rm 15.14; Cl 1.28; 3.16; Ef 4.11-16, a saber:

1. 

A exposição bíbl ica éacima de tudo, uma expl icação da perícope bíbl ica com o f imde evangelizar, exor tar , consolar e edif icar o corpo místico de Cr isto, a Igreja.

2. 

A exposição bíbl ica éexegeti camente fiel ao contexto e a intenção autoral .

3. A exposição bíbl ica de um texto l itúrgico écoesa com o restan te das Escritu ras.

4. 

A exposição bíbl ica baseia-se na exegese críti ca de um texto e rejeita as justi f icativas inf undadas concernentes ao texto bíbl ico.

Dois Níveis de Exposição Bíblica: Científica e EclesiásticaPara retomar, de outro modo, a generalidade do problema, somos desafiados pela

urdidura do comentário anterior, a deslindar os limites e ênfases de duas característicasessenciais da Exegese Bíblica: a Científica ou Acadêmica e a Eclesiástica ou Pastoral (Cf.SIMIAN-YOFRE, p. 13-17). Embora sejam categorias da mesma ciência, estão sempre em

 busca do enlace ou do divórcio e, é na prática ministerial que este embate titânico semanifesta.

1. Exegese Científica. Sabedores de que os termos “científico” e “eclesiástico” são polimorfos e, portanto, sujeitos a reinterpretações, julgamos necessário limitar o sentido

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destes vocábulos dentro do contexto empregado. Por  Exegese Acadêmica  entende-se aanálise que incidi sobre o texto todos os recursos teóricos, lingüísticos, gramaticais ehistóricos subsidiados quer pela Crítica Textual, quer pela Crítica literária, ou pela CríticaHistórica ou quaisquer meios disponíveis ao saber humano numa base racional que excluitodo e qualquer saber não-racional.

2. Exegese Pastoral.  No reverso da Exegese Científica temos a Exegese Pastoral.Registre-se, portanto, que, ao diferenciar essas duas formas metodológicas de exegese nãose quer dizer que a exegese pastoral seja a-científica, ao contrário, ela possui suas basesmetodológicas, mas sua ênfase está estritamente relacionada à vida da comunidade eclesial.

 Por Exegese Eclesiástica ou Pastoral entende-se a exegese que se ocupa da

exposição da perícope bíblica dentro da esfera litúrgica ou catequética, visando, por

exemplo, não o destrinchar dos conteúdos do quadrado semiótico (método usado pelosestruturalistas criado para estabelecer de modo preciso as isotopias –  lugares onde o sentidoassume sua coerência ou planos de significação –  semiológicas e a isotopia semiótica de umtexto) que compõem o texto, mas a sua exposição edificante, consoladora e noutética. 

A distinção entre essas duas visões nem sempre é clara, havendo mesmo aqueles quenegam a distinção entre uma e outra. Simiam-Yofre considera que a distinção entre essa

 bifurcação dentro da exegese seria equivalente à existente entre pesquisa pura e aplicada:

 A pesquisa pura se pergunta sobre o porquê de cada coisa no interior de

determinado sistema científico, dela podendo brotar ou não resultados concretos utilizáveis

 pela técnica. Já a pesquisa aplicada destina-se a resolver problemas concretos. A exegese

 pastoral se encontraria mais próxima da pesquisa aplicada que da pura, e o problema

concreto a resolver seria o do crescimento e maturação da vida cristã no indivíduo e na

 sociedade (p. 15 ). 

A exegese bíblica é apenas uma, e a distinção entre acadêmica e pastoral estáintrinsecamente relacionada apenas à aplicação e a ênfase, e não necessariamente ametodologia.

O exegeta além de nutrir-se de todos os progressos da investigação lingüística,literária e hermenêutica, bebe na fonte dos gêneros literários acrescentando os saberes daretórica, da narrativa, e do estruturalismo, como ciências auxiliares ao texto bíblico. Se não

 bastassem esses conhecimentos, vale-se ainda das ciências humanas em suas múltiplasabordagens. Portanto, a ciência exegética está em constante construção adotando o que cada

 período traz de contribuição à exegese bíblica. Nem sempre, o eclesiástico cuja atividade está limitada a ação poemênica é capaz deacompanhar os progressos metodológicos da ciência exegética, forçando ainda mais oaparecimento e fortalecimento de uma classe acadêmica cuja entonação é a sistematizaçãodesse conhecimento.

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III. QUALIDADES DO INTÉRPRETE

De acordo com TERRY, 1977, p. 9-12, são estas as qualidades de um intérpretecompetente (intelectual, educacional, espiritual), assim distribuídas:

* Intelectuais:Em primeiro lugar, o intérprete das Escrituras deve possuir uma mente sã e bem

equilibrada; esta condição é indispensável, pois a dificuldade de compreensão, o raciocíniodefeituoso e a imaginação extravagante são coisas que pervertem o raciocínio e conduzem aidéias vãs e néscias.

O exegeta deve ser capaz de perceber rapidamente o que uma passagem não ensina, bem como captar sua verdadeira tendência.

Deve possuir uma intuição da natureza e da vida humana que lhe permita colocar-seno lugar dos escritores bíblicos para ver e sentir como eles e  sentire cum  –  sentir com.

Antes de expor suas conclusões, precisa pesar todos os prós e contras de suainterpretação para ver se elas são sustentáveis e conseqüentes.

Ele precisa não apenas entender as Escrituras, mas também ser apto para ensinar (IITm 2,24: “Ora, é necessário que o servo do Senhor seja... apto a instruir...” ) aos outros deforma viva e clara do que ele entendeu. Para isto deve possuir linguagem correta, clara esimples.

Firme disposição para buscar e conhecer a verdade. Uma vez alcançada deve seraceita na própria vida.

Sua mente necessita ser disciplinada e controlada por verdadeira reverência, desdeque a Bíblia nos ensina em Pv 1,7, que o temor do Senhor é o principio da sabedoria.

* Educacionais:Compreende os fatos acerca dos quais o intérprete deve estar inteirado, fatos que são

aprendidos com estudo e pesquisa.  A geografia  da Palestina e regiões vizinhas queinfluenciaram nos escritos bíblicos. As histórias gerais e bíblicas são também importantesno que tange a confirmação e complementação da revelação que nos é trazida na Escritura  –  complementação histórica. A cronologia, o discernimento de tempos e épocas é também deespecial valor na interpretação. Os  sistemas políticos  que envolveram a revelação bíblica

esclarecem também a compreensão do que foi revelado. O modo de produção, o sistemaescravista, o comércio, as guerras, tudo isto pode ser adquirido com pesquisa e estudo. Mais

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uma vez temos a exortação do apóstolo que diz a Timóteo: “Até a minha chegada aplica-te

à leitura, à exortação ao ensino. Não te faças negligentes para com o dom que há em ti...”  (I Tm 4,13-14).

* Espirituais:As qualificações espirituais são, também, fundamentais à interpretação bíblica.

Intelecto e estudo são importantes, mas sem contato com o Espírito Santo que é o autor daBíblia tudo é incompleto. Portanto como ensina o Dr. Lloyd Jones “é imprescindível que

haja uma aproximação espiritual no texto. O pecado pode vendar nossos olhos a ponto denão enxergarmos com clareza a vontade de Deus revelada em um texto estudado mesmocom empenho. O maior objetivo do intérprete deve ser o de alcançar a verdade, preceito oudoutrina do texto estudado. Não podemos permitir que o texto fale o que queremos ouvir,mas lutar para ouvir o que o texto tem a nos dizer. O apóstolo Paulo nos exorta dizendo:“Por isso o pendor da carne é inimizado contra Deus, pois não está sujeita à lei de Deus,

nem mesmo pode estar.”  (Rm 8,7).O objetivo de conhecer a verdade deve vir acompanhado pelo desejo de viver esta

verdade e só o Espírito Santo pode nos levar a isto. A reverência que temos por Deusdevemos ter também pela sua voz. Pedro diz: “Por isso, cingindo o vosso entendimento,sede sóbrios e esperai intei ramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de

 Jesus Cristo.”  (I Pd 1,13).Como qualidade final, é importante, portanto, que o intérprete da Sagrada Escritura

tenha comunhão com o Espírito Santo, pois o Deus que é luz nos chama para viver na suailuminada presença. Como o Espírito Santo deu-nos a Escritura, sendo seu principal autor,

 precisamos ter comunhão com o mesmo Espírito. Precisamos buscar a mente de Cristo eisto só acontecerá quando a Palavra d`Ele habitar ricamente em nós, pois “o pendor do

 Espírito Santo é para vida e paz”  (Rm 8,6). Nossa busca deve ser pela sabedoria de Deus,assim nos diz Paulo: “Mas Deus no-l o revelou pelo Espíri to; porque o Espírito a todas ascoisas perscruta atémesmo as profundezas de Deus... as coisas de Deus ni nguém asconhece senão o Espírito de Deus.”  (Ef 1,17-18).

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IV. APRENDENDO A FAZER EXEGESE

Como, pois, aprendemos a fazer uma boa exegese, e, ao mesmo tempo, a evitar asciladas ao longo do caminho? Darei aqui uma visão panorâmica daquilo que está envolvidona exegese de qualquer texto bíblico.

 No seu nível mais alto, naturalmente, a exegese requer o conhecimento de muitascoisas que não podemos esperar que todos os cristãos saibam. Como exemplos podem-secitar:

1) as línguas bíblicas;2) as situações históricas judaicas, semíticas e helenísticas;3) a forma de determinar o texto original quando os manuscritos têm textos variantes;4) o emprego de todos os tipos de fontes primárias e ferramentas.

 No entanto, todos podem fazer uma boa exegese mesmo se não tiver acesso a todasestas perícias e ferramentas. Para assim fazer, no entanto, deve primeiramente aprender oque pode fazer com suas próprias habilidades, e, em segundo lugar, deve aprender a utilizar

o trabalho de outras pessoas.A chave para uma boa exegese, e, portanto, a uma leitura mais inteligente da Bíblia, éaprender a ler cuidadosamente o texto e fazer as perguntas certas a este texto. Uma dasmaiores dificuldades das pessoas é que simplesmente, elas não sabem ler bem. Ler ouestudar a Bíblia de modo inteligente exige leitura especial, e isto inclui aprender a fazer

 perguntas certas ao texto. No geral há duas perguntas básicas que se deve fazer a cada passagem bíblica: a)

aquelas que dizem respeito ao contexto; b) aquelas que dizem respeito ao conteúdo.As que dizem respeito ao contexto são de dois tipos: históricas  e literárias. Notemos demodo breve cada uma destas.

1. O contexto histórico

Este contexto irá diferir de livro para livro, e tem a ver com várias coisas: a época e acultura do autor e dos seus leitores, ou seja, os fatores geográficos, topográficos e políticosque são relevantes ao âmbito do autor; e a ocasião da composição do livro, carta, salmo,oráculo profético, ou outro gênero. Todos os assuntos deste tipo são especialmenteimportantes para a compreensão.

Realmente faz uma grande diferença para a compreensão do texto, o conhecimentoda formação de Amós, Oséias, ou Isaías, o que Ageu profetizou depois do exílio, ou saber as

expectativas messiânicas de Israel quando João Batista e Jesus apareceram no cenário, oucompreender as diferenças entre as cidades de Corinto e Filipos e como estas diferençasafetavam as igrejas em cada uma destas cidades. Nossa leitura das parábolas de Jesus é

 bastante realçada por sabermos alguma coisa acerca dos costumes daquela época. Comcerteza faz diferença saber que o denário oferecido aos trabalhadores em Mt 20,1-16 era oequivalente do salário de um dia inteiro. Precisamos tomar cuidado para não pensar nos“montes que cercam Jerusalém” em termos das montanhas que existem na região em quevivemos.

Para responder a maioria destes tipos de perguntas, será necessário algum tipo deajuda externa. Um bom “dicionário” ou uma “enciclopédia” da Bíblia, geralmente suprirá a

necessidade neste ponto.Também existem outras questões importantes do contexto histórico, como a“ocasião” e o “propósito” de cada livro bíblico e/ou das suas várias partes. É preciso ter uma

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idéia do que estava acontecendo em Israel, ou na igreja, que ocasionou o surgimento desemelhante documento, ou qual era a situação que levou o autor a escrever. Isto varia delivro para livro, e é muito menos crucial para os Provérbios, por exemplo, do que para 1Coríntios.

A resposta a esta pergunta usualmente se acha –  quando puder ser achada –  dentro do próprio livro. Mas, para obtê-la precisamos aprender com os “olhos abertos”, procurandotais assuntos. Se quiser corroborar suas próprias conclusões sobre estas questões, poderáconsultar mais uma vez seu Dicionário da Bíblia, ou a introdução de um bom comentáriosobre o livro, ou um Manual Bíblico, ou uma Introdução à Bíblia. Tudo isso é de vitalimportância.

LEMBRE-SE: Primeiro você lê com cuidado e tira suas próprias conclusões, paradepois consultar as fontes de ajuda.

OBS.: Fazemos uma BOA EXEGESE quando colocamos nossas conclusões à luz dasfontes de ajuda, e não quando simplesmente seguimos estas fontes.

2. O contexto literário

É isto que a maioria das pessoas querem dizer quando falam acerca de ler algumacoisa no seu contexto. Realmente, é a tarefa mais crucial na exegese e, felizmente, é algoque a pessoa pode fazer bem sem ter de consultar necessariamente os “peritos”.Essencialmente, o contexto literário significa que as palavras somente fazem sentido dentrode frases, e, na sua maior parte, as frases na Bíblia somente têm significado em relação àsfrases anteriores e posteriores.

A pergunta contextual mais importante que você poderá fazer  —   e deve ser feitarepetidas vezes acerca de cada frase e de cada parágrafo  —   é: “

Qual e a razão di sto? ”. 

Devemos procurar descobrir a linha de pensamento do autor. O que o autor diz e por que odiz exatamente aqui? Tendo ensinado a lição, o que ele diz em seguida, e por quê?

Essa pergunta variará de gênero para gênero, mas é sempre a pergunta crucial. O alvoda exegese, você se lembrará, é descobrir o que o autor original pretendia. Para fazer bemessa tarefa, e necessário que empreguemos uma tradução que reconhece a poesia e os

 parágrafos. Uma das maiores causas da exegese inadequada por leitores de algumas versõesé que cada versículo foi impresso como um parágrafo. Semelhante disposição tende aobscurecer a lógica do próprio autor. Acima de tudo, portanto, a pessoa deve aprender areconhecer unidades de pensamento, quer sejam parágrafos (para prosa), quer sejam linhas e

seções (para poesia). Com a ajuda de uma tradução adequada, isso é algo que qualquer leitor pode fazer com prática.

3. As Perguntas de Conteúdo

A segunda maior categoria de perguntas que você precisa fazer a qualquer texto dizrespeito ao conteúdo real do autor. “Conteúdo” tem a ver com os significados das palavras,com as relações gramaticais estabelecidas nas frases, e com a escolha do texto original,cujos manuscritos (cópias escritas a mão) diferem um do outro. Isso também inclui certonúmero de itens mencionados anteriormente no tó pico “contexto histórico”, por exemplo: o 

significado de “denário”, ou “ jornada de um sá bado”, ou “lugares altos”, etc. Em sua maior parte, são essas as perguntas de significado que as pessoas comumentefazem ao texto bíblico. Quando Paulo escreve em 2 Coríntios 5,16: “Embora tenhamos

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conhecido a Cristo segundo a carne, agora já não O conhecemos deste modo” ( NASB - The

New American Standard Bible, 1960), queremos saber a quem se refere a expressão “segundo acarne”—  a Cristo ou a pessoa que o conhecia? Em termos de significado, há uma diferençaconsiderável em saber que “nós” conhecemos a Cristo  não mais “de um ponto de vistamundano” (TNIV - Today’s New International Version, 2002, NIV - Nova Versão Internacional, 2001),que é o que Paulo quer dizer, e não que não mais conhecemos a Cristo “em sua  vidaterrena”. 

Para respondermos a perguntas desse tipo, é comum precisarmos de ajuda externa.Também nesse caso a qualidade de nossas respostas a tais perguntas comumente dependerãoda qualidade das fontes informativas que usarmos. É a essa altura que você finalmentedesejará consultar um bom comentário exegético. Mas, de acordo com nosso ponto de vista,ressalte-se que consultar um comentário, por mais que isso às vezes seja essencial, é aúltima coisa a ser feita.

4. As Ferramentas

 Na maior parte das vezes, portanto, você pode fazer uma boa exegese com umaquantidade mínima de ajuda externa, posto que tal ajuda seja da mais alta qualidade. Jámencionamos três ferramentas desse tipo: uma boa tradução, um bom dicionário da Bíblia e

 bons comentários. E claro que há outros tipos de ferramentas, especialmente para tipos deestudo tópico ou temático. Mas para ler ou estudar a Bíblia livro a livro, essas são asessenciais.

Uma vez que uma boa tradução (ou melhor, várias boas traduções) é absolutamente aferramenta básica para aquele que não conhece as línguas originais. Aprender a escolher um

 bom comentário é também importante, mas pode ser a última coisa a ser feita.

5. Ferramenta básica: uma boa tradução

Os 66 livros que compõem a Bíblia protestante foram originalmente escritos em trêslínguas diferentes: Hebraico (a maior parte do Antigo Testamento), Aramaico (língua irmãdo hebraico, usada em: Gn 31,47; Esd 4,8-6,18; 7,12-26; Jr 10,11; Dn 2,4-7,28) e Grego(todos os escritos do Novo Testamento).

Podemos presumir que a maioria dos leitores deste livro não conhece tais línguas, oque significa que a ferramenta básica para leitura e estudos bíblicos é uma boa tradução daBíblia em língua materna ou, várias boas traduções (neste capítulo, o autor - FEE, Gordon

D.; STUART, Douglas - baseia-se na discussão de traduções inglesas, que foramrespectivamente traduzidas para o português, respeitando-se os comentários do autor. Norestante da obra, em casos em que o autor não discute a tradução, mas apenas faz citações,foram usadas traduções em português equivalentes [N. do T.]).

O simples fato de você ler uma tradução da Palavra de Deus já implica envolvimentocom uma interpretação —  quer você queira, quer não. É claro que o fato de ler uma traduçãonão é algo ruim; é simplesmente inevitável. Contudo, a pessoa que lê a Bíblia apenas em sualíngua fica, em certo sentido, a mercê de tradutores, pois tradutores com frequência fazemescolhas para expressar o que os “originais” realmente queriam dizer.

O problema de usar uma só tradução —  por melhor que seja  —  está no perigo de se

depositar total confiança nas escolhas exegéticas da tradução da Palavra de Deus.Certamente, embora a tradução que usamos possa estar em grande parte correta, nemsempre isso acontece.

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Verifiquemos, por exemplo, estas quatro traduções de l Coríntios 7,36:

 NKJV - The New King James Version, 1982: “Se qualquer homem julga que trata impropriamente asua virgem...”. 

 NASB/NASU - The New American Standard Bible, 1960 / The Updated New American Standard Bible, 1995 :“Se qualquer homem julga que trata de modo inconveniente a sua filha...?.

TNIV - Today’s New International Version, 2002: “Se alguém se preocupa com o fato de não estaragindo de forma honrosa com a virgem de quem está noivo...”. 

 NEB - The New English Bible, 1961: “Se um homem tem uma noiva em celibato e sente queassim não está agindo certo com a sua noiva...”. 

A NKJV e bem literal, mas não muito precisa, uma vez que torna ambíguos o termo“virgem” e a relação entre esse “homem” e “sua  virgem”. De uma coisa você pode tercerteza absoluta: Paulo não pretendia ser ambíguo em sua fala. Apenas uma das outras trêsopções correspondem a sua intenção, e os coríntios, que tinham levado o problema paraPaulo, entendiam bem o que o apostolo pretendia dizer; assim, sequer cogitavam aexistência de outra interpretação.

É preciso notar aqui que nenhuma das outras três versões é uma tradução ruim, umavez que qualquer uma delas é uma opção legitima em relação a intenção de Paulo. Noentanto, só uma delas pode ser a tradução correta. O problema e saber qual delas. Poralgumas razões, nesse caso especifico, a TNIV reflete a melhor opção exegética (de fato, ainterpretação da NEB é agora uma nota de rodapé da REB -  The Revised English Bible, 1989).

Entretanto, se você fizer apenas a leitura da NASB/NASU (que apresenta nesse texto umaopção menos provável), estará sujeito a uma interpretação do texto que pode não expressara real intenção de Paulo. E esse tipo de situação ocorre centenas de vezes. Então, o quefazer?

A princípio, talvez seja uma boa saída usar uma tradução como base, desde que sejauma boa tradução. Isso tanto irá ajudá-lo na memorização quanto lhe dará consistência.Além disso, se você estiver usando uma das melhores traduções, terá notas à margem dotexto em muitas das passagens em que há dificuldades. Mas, para estudar a Bíblia, vocêdeve usar várias traduções escolhidas a dedo. A melhor coisa a fazer e usar traduções entreas quais você consiga perceber os pontos de divergência. As diferenças entre elas

destacarão as passagens em que houver muitos problemas exegéticos difíceis de solucionar.Para resolvê-los, geralmente você sentirá a necessidade de consultar um comentário.Mas, afinal, qual tradução você deve usar, e quais das várias traduções devem ser

usadas para estudo? Ninguém pode responder a essas questões com absoluta certeza.Contudo, sua escolha não deve se reduzir a respostas como “porque eu gosto” ou “porqueesta tradução é fácil de entender”. De fato, é preciso gostar da tradução; se for realmenteuma boa tradução, ela será fácil de entender. No entanto, para fazer uma escolha inteligente,você precisa saber algumas coisas sobre a teoria da tradução e sobre algumas das váriastraduções.

Ver “A Teoria da Tradução” em texto fornecido à parte. O referido texto é

continuação do presente ponto.