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TEMAS EM DESTAQUE Resposta ao exercício na hipertensão pulmonar e nas doenças restritivas RESUMINDO E RECORDANDO Intolerância ao exercício no paciente com DPOC EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

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Page 1: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

TEMAS EM DESTAQUE

Resposta ao exercício na hipertensãopulmonar e nas doenças restritivas

RESUMINDO E RECORDANDO

Intolerância ao exercício nopaciente com DPOC

EXERCÍCIO FÍSICO NAPRÁTICA PNEUMOLÓGICA

Page 2: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA
Page 3: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

DIRETORIA - BIÊNIO 2010 | 2011 SUMÁRIO

NOSSA CAPA

PNEUMOLOGIA PAULISTAÓrgão Informativo da Sociedade Paulista de

Pneumologia e TisiologiaEditor Responsável:

Oliver Augusto NascimentoEditoração Eletrônica:

Miriam MirandaImpressão: Gráfica Riopedrense • Tiragem: 1200 exemplares

Ilustração:Libero

4

6

43

33

Presidente: Mônica Corso PereiraVice-Presidente: Oliver Augusto NascimentoSecretária Geral: Maria Raquel Soares1ª Secretário: Igor Bastos Polonio2º Secretário: Carlos Vianna Poyares JardimDiretor de Finanças: Lara Maris NapolisDiretor de Assuntos Científicos: Elcio dos Santos OliveiraViannaDiretor de Divulgação: Hugo Bok YooDiretora Informática: Roberta Pulcheri Ramos

COMISSÕESAssuntos do Interior: Mauricio Sousa de Toledo LemeDefesa Profissional: Altair da Silva Costa JúniorEnsino: Federico Leon Arrabal FernandesPromoções: Valéria Cristina Vigar MartinsAssuntos da Grande São Paulo: Mônica Silveira Lapa

DEPARTAMENTOSCirurgia Torácica:Ricardo Mingarini TerraRoberto GonçalvesDaniele Cristina Cataneo

Endoscopia Respiratória:Viviane Rossi FigueiredoAscedio RodriguesPéricles Barbato

Pediatria:Marina Buarque de AlmeidaAdyleia Aparecida Dalbo Contrera ToroBeatriz Neuhaus Barbisan

Fisioterapia Respiratória:Adriana Claudia LunardiLuciana Dias ChiavegatoFelipe Augusto Rodrigues Mendes

Conselho FiscalEfetivos:Ana Luisa Godoy FernandesCarlos Alberto de Castro PereiraIrma de GodoySuplentes:Jaquelina Sonoe Ota ArakakiJosé Antônio Baddini MartinezRicardo Milinavicius

Conselho DeliberativoFrancisco Vargas SusoJorge NakataniJosé Eduardo Delfini CançadoManuel Lopes dos SantosMiguel BogossianNelson MorroneRafael StelmachRicardo BeyrutiRoberto StirvulovSônia Maria FaresinVirgílio Alexandre Nunes de Aguiar

PALAVRA DA PRESIDENTE

• Novidades para o biênio 2012 | 2013

PALAVRA DO EDITOR

TEMAS EM DESTAQUE

• Resposta ao exercício na hipertensão

pulmonar e nas doenças restritivas

• Broncoespasmo induzido

por exercício

• Dopping nos esportes – Importância das

medicações para doenças pulmonares

• Importância do pneumologista no laboratório

de exercício – Investigação da dispneia

• Utilização do teste de exercício

cardiopulmonar na avaliação

pré-operatória

• O teste de caminhada de 6 minutos

e sua aplicabilidade

RESUMINDO E RECORDANDO

• Papel do exercício físico no tratamento do

paciente asmático

• Intolerância ao exercício no paciente com

DPOC

RELATO DE CASO

• Limitação cardiocirculatória• Teste de exercício cardiopulmonar nas doenças neuromusculares

ESTATÍSTICAS

O que é diferença clinicamente significante? Asua importância na avaliação de testes deexercício

5

45

Page 4: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

4 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

PALAVRA DA PRESIDENTE

Prezados colegas e amigos pneumologistas,pneumopediatras, cirurgiões, residentes, fisioterapeutasrespiratórios.

É com imenso prazer e entusiasmo que eu, juntamente comtoda a diretoria, assumimos a gestão da nossa queridasociedade para o biênio 2012-2013. Pretendemos manter emelhorar (quando possível) as ações que vem sendodesenvolvidas na SPPT, como as jornadas científicas, o sitepara profissionais médicos e para leigos, a revista PneumologiaPaulista, o projeto Jovem Pneumologista, o envolvimento nasações de defesa profissional, junto à Associação Paulista deMedicina e às outras entidades e instituições representativasda nossa categoria profissional (AMB, CRM, CFM).

Mas temos novidades para este ano.Em relação à defesa profissional, tentaremos colocar o

associado em contato mais direto com o que acontece naárea, sobretudo no estado de São Paulo. São inúmeras asreuniões na APM das quais temos participado, com o objetivode ocupar o espaço e representar a Medicina do Tórax noâmbito da discussão conceitual das especialidades, bem comonas negociações junto aos planos de saúde. Esta luta, cabelembrar, teve início há mais de ano, e acumularam-se algunsmomentos marcantes, como a paralisação escalonada porespecialidades. Os resultados se fizeram sentir, poisconseguimos (nós, médicos) alcançar o reajuste dos honoráriospretendido no início do movimento em boa parte das“medicinas de grupo” e convênios. Logicamente aindaestamos longe do ideal, mas o ideal não existe, o que existe éum possível aperfeiçoamento das relações entre médicos eempresas que trabalham com saúde/doença, nas quaiseventualmente os interesses econômicos prevalecem.

Todas as novidades serão colocadas no nosso site(www.sppt.org.br), de modo que uma sugestão que faço écolocá-lo como um de seus “favoritos”.

As pizzas serão repaginadas: pretendemos fazer, no médioprazo, que ela aconteça simultaneamente em mais de um lugar.A proposta é democratizar o acesso e a participação,permitindo que centros mais distantes da capital possamparticipar do evento. O piloto será no próximo dia 12 de abril,

na pizza cirúrgica.O residente receberá uma atenção especial desta gestão:

além do projeto jovem pneumologista, que busca valorizar oresidente e melhorar sua chance de participação noscongressos internacionais, teremos outras atividades voltadaspara ele.

Estamos em fase de concepção e execução de um cursovoltado para os residentes, procurando suprir lacunas na suaformação, ao menos em alguns programas de residência. Seráum curso de Metodologia Científica, que incluirá quatromódulos, que provavelmente ocorrerão em quatro finais desemana distintos.

Atividades voltadas à graduação, com o intuito de motivaralunos ao estudo da nossa especialidade, também estão emfase de elaboração.

As jornadas científicas têm por objetivo permitir aoassociado uma constante atualização científica, e para tanto,temos o privilégio de contar com excelentes professores,profissionais clínicos e pesquisadores no nosso estado. Aprimeira jornada (de Doenças Intersticiais Pulmonares),ocorrida em 17 de março, foi um sucesso de público e crítica.Tivemos 140 participantes, a avaliação da maioria dosparticipantes foi bastante positiva.

Queremos muito saber sua opinião, prezado associado,para que consigamos trazer ainda mais novidades.

O site está passando por uma extensa reformulação, e alémde espaço para sua opinião, haverá também um espaço paradiscutir suas dúvidas a respeito de seus próprios casos (demédico para médico).

Ao longo do ano pretendemos fazer algumas pequenas epontuais enquetes, para melhor direcionar as ações da SPPT.Você as receberá por email (sob forma de newsletter).Responda, participe, a SPPT é para nós todos.

Obrigada pela confiança,Abraços,

Mônica CorsoPresidente da SPPT (biênio 2012-2013)[email protected]

Novidades para o biênio 2012 | 2013

Page 5: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 5

PALAVRA DO EDITOR

Neste ano ocorrerá, em Londres, a edição de número27 dos Jogos Olímpicos. Há registros de que asOlimpíadas iniciam no ano 776 a.C, porém os JogosOlímpicos da Era Moderna ressurgiram em 1896. O maiorevento esportivo do mundo conta com a participação deatletas brasileiros desde os Jogos da Antuérpia, em 1920.Evolutivamente, o Brasil vem aumentando o número deatletas participantes e se destacando no quadro demedalhas. O esporte brasileiro começou os JogosOlímpicos de Pequim, 2008, com dois recordes: o de númerode participantes (277, sendo 144 homens e 133 mulheres)e o de modalidades (32).

Em 2016, o Brasil estará em íntimo contato com asOlimpíadas. Porém, no meio do caminho, teremos a tãoesperada e discutida Copa do Mundo de Futebol, em 2014.Devido à exposição que todos nós profissionais da saúderespiratória receberemos nos próximos anos, às limitaçõesfísicas que nossos pacientes com doenças respiratóriasapresentam e devido à importância do exercício físico parao tratamento das doenças respiratórias, fomos inspiradosa realizar uma edição da nossa Revista PneumologiaPaulista voltada para o Exercício Físico. Mas o que oexercício físico tem a ver com a Medicina Respiratória?Simplesmente tudo! O processo de respiração é compostodesde a mobilização de ar pelas vias aéreas (ventilaçãopulmonar) até o momento de utilização do oxigênio pelasfibras musculares. Para o melhor entendimento do papeldo oxigênio no metabolismo das células musculares temosque nos remeter ao sistema bioenergético muscular.

Os exercícios físicos são realizados pelo sistemamúsculo esquelético. Porém, durante sua realização, trêssistemas são integrados fisiologicamente: sistemamusculoesquelético, sistema cardiovascular e sistemarespiratório. O sistema musculoesquelético,especificamente os músculos, é responsável pelamovimentação mecânica do corpo. Entretanto, ele precisade energia para a sua realização, ou seja, necessita deadenosina trifosfato (ATP). Para o início do exercício osmúsculos possuem fontes energéticas de rápida geraçãodo sistema adenosina trifosfato/fosfocreatina (ATP/PC).O sistema ATP/PC está presente dentro das mitocôndriasdas células musculares e é muito importante para a faseinicial do exercício, entretanto ele não consegue manter a

Fisiologia do exercício: importânciapara o pneumologista

atividade bioenergética muscular durante muito tempo. Apartir de alguns minutos, sistemas energéticos maiseficientes são recrutados passando pela glicóliseanaeróbia. Durante a glicólise anaeróbia a glicosesanguínea e/ou glicogênio muscular (que será quebradoem glicose por meio de enzimas específicas) entrará nasequência glicolítica para obtenção de ATP. Todavia, autilização deste sistema durante tempo prolongado geraácido pirúvico e ácido lático. Até este momento, aobtenção de ATP e geração de energia dentro do músculonão está ligada à utilização de oxigênio (fase anaeróbiado exercício). Contudo, a melhor eficiência do exercícioocorre quando o metabolismo oxidativo entra em ação.Neste momento, a geração aeróbia de ATP refere-se àressíntese de ATP por meio de reações químicas napresença do oxigênio. Portanto, a presença do oxigênionas fibras musculares é fundamental para ofuncionamento adequado das fibras musculares. Ometabolismo oxidativo é mais eficaz para a geração deenergia e ocorre nas mitocôndrias musculares. Portanto,para a excelente atividade das células musculares, elasnecessitam estar íntegras, apresentar boa reservaenergética pelo sistema ATP/PC, ter quantidade adequadade glicogênio e conseguir receber adequadamente osangue rico em oxigênio. Nesta última fase, a ofertainadequada de oxigênio para os músculos pode ser olimitante da atividade muscular adequada.

As razões para a redução da oferta de oxigênio aomúsculo podem ter origem em alteração nos sistemasventilatório, cardiocirculatório, muscular ou até mesmono transporte do oxigênio, como nas hemoglobinopatias.

As alterações mais importantes no sistema respiratório,incluem as doenças que cursam com alteraçõesventilatórias (doenças neuromusculares com fraquezamuscular respiratória e DPOC), as com redução da difusãopulmonar (doenças pulmonares intersticiais) e as comalterações na circulação pulmonar (doenças vascularespulmonares, hipertensão pulmonar e tromboembolismocrônico). São sempre imprescindíveis considerar asdoenças cardiocirculatórias como uma causa de limitaçãoao exercício, por estarem associadas à redução do fluxosanguíneo para os músculos, seja por doença cardíacaem si (insuficiência cardíaca, valvopatias) ou por limitação

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6 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

periférica, como na insuficiência arterial periférica. Em acréscimo,sedentarismo, alterações neuromusculares periféricas (comomiopatias e/ou neuropatias) e obesidade também levam àlimitação do exercício devido a um fator periférico.

Para melhor se definir qual o tipo de limitação que opaciente apresenta é imprescindível a realização de umteste de exercício. Os testes podem ser dos mais simples(teste da caminhada de seis minutos) até o mais complexocom o teste de esforço cardiopulmonar, realizado na esteiraou em um cicloergômetro, em que se avalia as variáveisventilatórias, cardiocirculatórias, respiratórias, periféricase sensoriais durante todo o teste. Dentre as variáveisventilatórias é possível se avaliar de forma não invasiva aquantidade de oxigênio utilizado pelo organismo, chamadoconsumo de oxigênio (VO2); a produção de dióxido decarbono (VCO2); a ventilação pulmonar (VE) e a saturaçãode pulso de oxigênio (SpO2). Também é possível realizaro monitoramento cardiocirculatório (frequência cardíacae pressão arterial), e o sensorial com a escala de dispneia.

Claro que o estudo da Fisiologia do Exercício é muitomais longo que um fascículo de nossa Revista. Existemdiversos livros nacionais e internacionais excelentes àrespeito do assunto. Porém, o intuito deste fascículo foio de demonstrar como o estudo da fisiologia do exercícionão é tão complexo como parecer ser e o quão útil elepode ser em nossa prática diária. Procuramos abordar ostemas mais ligados a nossa especialidade e contamos coma participação de alguns especialistas dos grupos queestão mais envolvidos com o estudo da Fisiologia doExercício. Devemos lembrar que no novo recente Programade Residência em Pneumologia enviado à ComissãoNacional de Residência Médica, um capítulo versa sobrea Fisiologia do Exercício e passa a fazer parte obrigatória

do ensino dos nossos residentes de Pneumologia.Doenças respiratória que levam à limitações

ventilatórias como DPOC e asma são prevalentes emnosso meio. Algumas enfermidades, como asma ebroncoespasmo induzido (BIE) por exercício sãofrequentes em atletas profissionais e praticantes deatividade física. Muitos deles estão em nossosconsultórios. Quando estes pacientes são bem cuidados,com a realização de um diagnóstico preciso e o tratamentoadequado, eles podem ter uma vida normal, e os exemplosde asmáticos que se tornaram campeões olímpicos existemem todos os países, inclusive no Brasil (vide o exemplodo nadador Fernando Scherer - Xuxa). Portanto, osprofissionais que atuam na Medicina Respiratória, comoPneumologistas e Fisioterapeutas, devem estarpreparados para a avaliação não só dos nossos pacientes,mas também dos atletas que nos representarão nos JogosOlímpicos. Nós também somos essenciais para a realizaçãoadequada e análise correta dos testes de exercício e temosnosso espaço nesta área da Fisiologia. Cabe a nósquerermos ocupar este espaço.

Boa leitura a todos!

Oliver A. NascimentoVice-presidente da SPPT e

Editor do Pneumologia [email protected]

Carlos JardimCo-editor do Pneumologia Paulista

[email protected]

Page 7: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 7

TEMAS EM DESTAQUE

Resposta ao exercício na hipertensãopulmonar e nas doenças restritivasAUTORES: Luciana Kato Morinaga, André Luís Pereira de Albuquerque

SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia – Instituto do Coração (InCor)

I. Resposta ao exercício na hipertensãopulmonar

A hipertensão arterial pulmonar é uma doença grave decaráter progressivo, na qual o remodelamento vascular geraaumento da resistência vascular e sobrecarga ventriculardireita1. Esta, por sua vez, contribuirá para um aumentoinadequado do débito cardíaco frente ao esforço, com dispneiaprecoce e acentuada, queixa esta frequente nestes pacientes.A intolerância ao exercício constitui, per si, marcador degravidade e piora de qualidade de vida1. Diversos mecanismosatuam na limitação funcional desses pacientes:

Disfunção ventricular direitaNa gênese da hipertensão arterial pulmonar ocorre um

aumento de proliferação celular e redução de apoptose,levando a remodelamento vascular pulmonar. A perda deárea de secção transversal vascular, associada adesbalanços entre vasodilatação e vasoconstrição, reduzo fluxo pulmonar, levando à sobrecarga ventricular direita.Durante o esforço, a incapacidade de aumento de débitocardíaco frente à demanda levam à baixa capacidadefuncional característica desses indivíduos. A insuficiênciacardíaca direita é o principal mecanismo de intolerância aesforços na hipertensão pulmonar, sendo o índice cardíacoum dos mais importantes fatores prognósticos2, 3.

Distúrbio de ventilação e perfusão pulmonarEstudos cintilográficos demonstraram a existência de

áreas de desacoplamento de ventilação em relação àperfusão pulmonar, em decorrência das alterações capilarescom perda de área de troca gasosa e distúrbios dosmecanismos de vasoconstrição4. Durante o esforço físico,esse desacoplamento limita a troca de oxigênio, e favorecea dessaturação ao esforço. A abertura de shunt direita-esquerda via forame oval patente é descrita durante oesforço, levando a alterações na troca gasosa5.

Disfunção muscular periféricaAssim como em outras doenças como na insuficiência

cardíaca congestiva (ICC) e doença pulmonar obstrutivacrônica (DPOC) há descrição de alteração na força ecomposição muscular periférica6. Tal alteração ocorre demaneira não relacionada à condição hemodinâmica,representando, dessa maneira, uma causa independentede intolerância a esforços e contribuindo com a baixacapacidade aeróbia6.

Disfunção autonômicaDados sobre um estado de hiperativação simpática e

desregulação autonômica, à semelhança do que ocorre empacientes com insuficiência cardíaca congestiva (ICC)começam a surgir nos pacientes com hipertensão arterialpulmonar. Não está claro, contudo, se tais alterações sãoapenas marcadores de progressão da doença ou se de fatotem participação em sua evolução. Dentre estas, descreve-se um aumento da atividade nervosa simpática muscularmedida pela neuromiografia7. Wensel e cols., estudandoum grupo de 48 pacientes com HAP, demostraram aindaque tais alterações se correlacionaram com pior capacidadede exercício avaliada pelo teste cardiopulmonar, se já hádados que sugerem associação entre mortalidade e aumentode atividade simpática periférica7-9. Outros sinais dedisautonomia descritos incluem alterações nocomportamento da frequência cardíaca ao repouso e aoesforço, com redução da reserva cronotrópica, e reduçãoda variabilidade de frequência cardíaca7.

Além do comprometimento à qualidade de vida dospacientes com hipertensão pulmonar, o comportamento aoesforço desses indivíduos tem papel significativo nodiagnóstico, seguimento e determinação de prognóstico.Diversas são as ferramentas de avaliação, sendo os maisfrequentes o teste de caminhada de seis minutos e o testede esforço cardiopulmonar. A seguir são apresentadas asprincipais características do comportamento dos pacientescom HAP nos testes citados.

Teste de caminhada de 6 minutos (TC6M)O TC6M tem sido utilizado como ferramenta na avaliação

Page 8: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

8 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

evolutiva dos pacientes com HAP. Baixas distânciaspercorridas estão associadas a pior classe funcional e piorprognóstico. Em estudo com 43 pacientes, Miyamoto e cols.demonstraram diferença significativa de sobrevida em 20meses nos indivíduos que caminharam ao menos 332m emrelação àqueles que não o fizeram(10). Da mesma maneira,distâncias maiores do que 380m após tratamento comepoprostonol identificaram pacientes com maior sobrevidaem 12 semanas11. Apesar de ser de fácil aplicação e simularas atividades de vida diária, o TC6M é pouco informativoquanto à elucidação dos fatores limitantes ao esforços.

Teste Cardiopulmonar (TCP)Embora não esteja tão facilmente disponível quanto o TC6M,

mais atenção tem sido dada ao uso do teste cardiopulmonarna avaliação e seguimento dos pacientes com HAP.

O TCP é um teste não invasivo que possibilita o estudodas respostas cardiovascular e ventilatória do indivíduodurante o esforço físico, por meio da análise das trocasgasosas combinada com medidas de pressão arterial,oximetria de pulso e traçado eletrocardiográfico. O aumentoda demanda energética desencadeado pelo esforço exigereadaptação desses sistemas com o objetivo de manteradequada a respiração celular. Consequentemente, podemoster uma avaliação da competência e do acoplamentocardiovascular, respiratório e metabólico.

No caso da HAP, existem alterações característicasencontradas no TCP, secundárias às alterações fisiológicaspreviamente descritas:

• baixo consumo de oxigênio (VO2): iniciada a atividade

física, aumenta o consumo de oxigênio celular (QO2,

respiração celular). Os sistemas cardiovascular erespiratório acoplam-se e respondem de maneira a extrairmais oxigênio dos alvéolos e transportá-lo aos tecidos (VO

2,

respiração pulmonar): há aumento da ventilação alveolar,aumento do débito cardíaco e pressão arterial, vasodilataçãoem territórios de musculatura periférica, entre outros. Emsituações normais, o consumo celular de oxigênio é igual àoferta de oxigênio aos tecidos (VO

2 = QO

2). No caso da

HAP, como em outras cardiopatias, a incapacidade dosistema cardiovascular em aumentar o débito cardíaco fazcom que o VO

2 não aumente no mesmo ritmo do QO

2. Esse

desacoplamento leva à necessidade de uso precoce de viasanaeróbias para a geração de energia celular, levando a umlimiar anaeróbio precoce, ou seja ao início precoce de viasanaeróbias com geração de lactato. Ao final do esforço, aincapacidade de gerar aumento de débito cardíaco leva aum VO

2 final baixo com interrupção precoce da atividade

física12. Contribuem ainda para este achado: (i) a perda deárea de troca capilar pulmonar secundária ao remodelamentovascular encontrado e o desacoplamento ventilaçãoperfusão pulmonar que se segue e (ii) a disfunção muscularperiférica, que dificulta a extração de oxigênio pelos tecidos,aumentando o uso de mecanismos anaeróbios12.

• alterações do padrão ventilatório e troca gasosa: apesarde valores espirométricos em geral pouco alterados, ospacientes com HAP caracteristicamente apresentamresposta ventilatória anormalmente elevadas, com aumentoda ventilação e dos equivalentes ventilatórios de oxigênio(V

E/VO

2) e gás carbônico (V

E/VCO

2) durante todo o

esforço(13). Dentre os mecanismos responsáveis, encontra-se o desacoplamento entre ventilação e perfusão decorrentedas alterações vasculares pulmonares, gerando áreas deespaço morto e estimulando a ventilação na tentativa de

Fig. 1. Respostas metabólicas e ventilatórias em um paciente comHP (o) em relação a um indivíduo controle (•) durante um testemáximo em esteira. Notar: (A) Redução do consumo de oxigênio(VO

2), (B) Hiperventilação acentuada, (C) Baixo P

ETCO

2 durante

todo o teste.

Page 9: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 9

Principais alterações encontradas no TCP na HAP

Alterações metabólicas

- baixo VO2

- limiar anaeróbico precoce

Alterações ventilatórias e de troca gasosa

- aumento da ventilação minuto (VE) e equivalentes ventilatórios (VE/VO2 e VE/VCO2)

- redução do PETCO2

- hipoxemia

Alterações cardiovasculares

- redução do pulso de oxigênio (VO2/FC)

Tabela 1. Repostas dos principais sistemas ao esforço na hipertensão arterial pulmonar.

reduzir a PACO

2. Da mesma maneira, o aumento do estímulo

ventilatório leva à redução nos níveis de CO2 exalado

(PET

CO2) durante o exercício13. As desigualdades de

ventilação e perfusão, associada à perda de área de trocapelo remodelamento vascular levam a um aumento dogradiente A-a de oxigênio com dessaturação ao esforço12.

Acredita-se que a hipoxemia e o aumento da ativaçãosimpática também contribuam no aumento da ventilação.(Figura 1)

• alterações cardiovasculares: o aumento resistênciavascular pulmonar gera maior pós-carga para o ventrículodireito, e passa a limitar o aumento esperado de volumessistólico e débito cardíaco. No teste cardiopulmonar, ovolume sistólico pode ser estimado pelo pulso de oxigênio(PuO

2= VO

2/FC), a partir da fórmula de Fick, onde DC =

débito cardíaco e C(a-v)

O2 = diferença entre o conteúdo

arterial e venoso de oxigênio.

Equação de Fick (1) DC = VO2 / C

(a-v)O

2

(2) VS x FC = VO2 / C

(a-v)O

2

(3) PuO2 ou VO

2/FC= VS x C

(a-v)O

2

Apesar do PuO2 ter também uma relação direta com o

consumo muscular periférico de oxigênio C(a-v)

O2, o DC tem

um efeito mais decisivo no maior VO2(14)

. Dessa maneira, ocomportamento do PuO

2 na hipertensão pulmonar (reflexo

principalmente do VS) tende a ser baixo e com platô precoceem decorrência da insuficiência de ventrículo direito12.

Além da possibilidade de avaliação funcional, o TCPtem ainda conhecido papel prognóstico na HAP, havendoevidências de que pacientes com consumo máximo deoxigênio menor do que 10,4ml.kg-1.min-1 tenham piorprognóstico15.

Hemodinâmica no esforçoDurante o esforço, em indivíduos saudáveis, ocorre

aumento do DC com aumento discreto de pressõespulmonares. Embora por muito tempo tenha-se aplicado ovalor de corte de 30mmHg para limitar a resposta normal,

há dados que mostram que grande parte dos indivíduossaudáveis acima dos 50 anos de idade ultrapassam essamedida ao esforço, e cerca de 20% dos menores de 50 anostambém o farão16. Dessa maneira, desde o último consensoem hipertensão pulmonar de 2009, a definição dehipertensão pulmonar durante o esforço deixou de serutilizada, à espera de mais dados sobre o comportamentohemodinâmico durante o esforço em indivíduos normais ehipertensos pulmonares1.

II. Respostas ao exercício nas doençasrestritivas

As doenças restritivas respiratórias são compostas porum grupo heterogêneo de doenças com acometimento doparênquima pulmonar (intersticiais) e aquelas com restriçãosomente da caixa torácica. O presente material enfocará asdoenças com acometimento intersticial pulmonar, em funçãoda sua maior prevalência e importância clínica. A limitaçãoaos esforços é uma característica muito frequente nospacientes com doenças intersticiais (DI), sendo que estestêm um desempenho reduzido quando comparado aindivíduos saudáveis. A intolerância ao esforço édiretamente proporcional à gravidade da doença e um fatorextremamente limitante nas atividades diárias destesindivíduos.

Apesar do baixo desempenho ao esforço na DI sofrerinfluência de vários sistemas (cardiovascular, muscularperiférico), a sobrecarga e consequente limitaçãoventilatória é o componente predominante. As respostasventilatórias ao esforço nas DI se caracterizamprincipalmente por hiperventilação, mesmo paraintensidades submáximas. Apesar do paciente terminar oteste máximo com uma ventilação minuto (V

E, L.min-1), bem

abaixo do que uma pessoa saudável, sua percentagem emrelação à ventilação voluntária máxima (%VVM) é alta,indicando, assim, uma baixa reserva ventilatória ao final doteste. Estas respostas de hiperventilação e baixa reservacaracterizam uma ineficiência do sistema respiratório aoesforço.

O principal sintoma referido é dispnéia aos esforços,normalmente de caráter progressivo com o avanço da

Page 10: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

10 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

doença. Quando comparados a indivíduos saudáveis, ospacientes com DI têm uma maior grau de dispnéia, mesmopara condições de igual demanda metabólica eventilatória17,18. Na gênese deste desconforto respiratórioexacerbado, ganha destaque a sobrecarga na mecânicapulmonar. Nas DI há um aumento acentuado do recolhimentoelástico pulmonar, fazendo com que haja um deslocamentopara baixo e para a direita na curva pressão-volume do sistemarespiratório (Figura 2). Este deslocamento tem impacto nãosomente ao repouso, mas também no exercício, uma vez quea diminuição da capacidade pulmonar total e, sobretudo, dacapacidade inspiratória (CI) impedem um ganho maior devolume corrente em intensidades maiores de esforço. Destemodo, o incremento do volume corrente (V

C) é prejudicado,

com alta relação VC/CI. O incremento na ventilação ao esforço

nas DI, logo, se faz essencialmente em função do aumento nafrequência respiratória. Neste contexto, a sensação respiratóriamais referida pelos pacientes ao final de um teste máximo éjustamente a de uma inspiração ineficaz (secundária ao maiortrabalho elástico), com alguns indivíduos queixando-setambém de uma respiração muito rápida19. (Figura 2)

A ineficácia no aumento do VC ao esforço é reflexo

preponderante do elevado trabalho elástico destespacientes. Quando se avaliou a musculatura inspiratóriadurante o esforço, esta foi capaz de gerar força (pressãoesofágica) similar a de indivíduos normais19. Entretanto, épossível que pacientes com DI mais avançada, na associaçãode corticosteroides e uma inflamação sistêmica maisacentuada também possam ter um componente de fraquezamuscular ventilatória contribuindo para a não expansão dovolume corrente.

Além da retração elástica pulmonar aumentada, hátambém destruição de áreas alveolares e espessamentoda barreira alvéolo-capilar. Como consequência, duranteo exercício há aumento no espaço morto (V

D/V

T), em função

do aumento na ventilação de áreas que não realizam trocagasosa, e prejuízo na troca gasosa com queda naoxigenação. Estes dois componentes têm efeito direto namaior reposta ventilatória ao esforço. A queda na SpO

2

nas DI é mais intensa e precoce do que em outras doençasrespiratórias, como na DPOC. Muitos pacientes comacometimento intersticial interrompem o teste justamentepor hipoxemia acentuada (SpO

2 < 85%). Entretanto,

aqueles com menor acometimento da doença podem teruma queda menos acentuada da SpO

2. A hipoxemia ao

esforço nas DI tem como embasamento fisiopatológico (i)uma piora na relação ventilação-perfusão de várias áreaspulmonares, (ii) um aumento no gradiente alvéolo-arterialem decorrência de uma menor concentração venosa deoxigênio (PvO

2), (iii) e uma difusão prejudicada frente a

um menor tempo de trânsito capilar para troca gasosa.(Figura 3)

Muitos pacientes com DI apresentamcomprometimento também do sistema cardiovascular,sendo o mais frequente a hipertensão pulmonar. Um dosprincipais fatores responsáveis é o acometimento (fibrosee destruição) de capilares pulmonares, levando a umaumento na resistência vascular local21. Neste processo,também atuam a vasoconstrição hipóxica e um menorvolume pulmonar. Quando no exercício físico, oincremento na perfusão pulmonar pode ser insuficiente e,por conseguinte, há um prejuízo no enchimento ventricular

Fig. 2. Curva pressão-volume do sistema respiratório (Prs) e dos seus compartimentos: pulmonar (PL) e caixa torácica (Pw). À esquerda,

o comportamento em um indivíduo normal. À direita, em um paciente com DI: notar o deslocamento PL para baixo e para a direita,

refletindo a alta retração elástica e baixa complacência pulmonar20.

Page 11: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 11

esquerdo. No teste máximo em pacientes com DI, há umaredução do desempenho (VO

2máximo) com uma produção

muscular de lactato (Limiar de lactato) mais precoce, osquais podem ser secundários, justamente, a uma disfunçãocardiovascular ao esforço, associada a maior sobrecargaventilatória.

Alguns pacientes com DI podem apresentar limitaçãode fluxo expiratório22. Normalmente, esta pode sersecundária à associação com tabagismo ou da reduçãoacentuada dos volumes pulmonares, o que predispõe aocolapso de vias aéreas. Um outro mecanismo possível é oenvolvimento direto da via aérea, como na hipertrofia damusculatura lisa por células atípicas envolta da via aérea,presente na linfangioleiomiomatose. Os pacientes comlimitação de fluxo expiratório tiveram aprisionamento aéreoao esforço, com uma maior sobrecarga ventilatória edispneia em relação aqueles que não tinham limitação defluxo (Figura 4).

Em suma, as principais respostas, ao esforço, empacientes com DI podem ser resumidas em:

Fig. 3. Respostas ao esforço máximo, em esteira, entre um paciente com DI e um indivíduo saudável. Na DI, há um aumento no consumode oxigênio (A), com hiperventilação ao esforço levando ao esgotamento da VVM (B), com pouco incremento do volume corrente - V

T (C),

e queda acentuada da SpO2 (D).

Tabela 2. Respostas das doenças intersticiais ao esforço.

Baixo VO2máximo com limiar de lactato precoce

Hiperventilação (alto VE/VCO2 no Limiar I)

Baixa reserva ventilatória (VEmáx/VVM >80%)

FR > 50rpm, baixo incremento do VC

Alto VC/CI e VD/VT

Queda SpO2

Dispneia acentuada

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12 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

Fig.4. Limitação ao fluxo expiratório presente mesmo em um paciente com linfangioleiomiomatose (B), levando ao aprisionamento aéreodinâmico ao esforço confirmado pela queda na capacidade inspiratória (CI). CPT= capacidade pulmonar total, V

C= volume corrente.

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Page 14: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

14 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

Broncoespasmo induzidopor exercícioAUTORES: Erica Ferraz, Andrea Antunes Cetlin, Elcio Oliveira Vianna

SERVIÇO: Departamento de Clínica Médica - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade deSão Paulo

1. IntroduçãoBroncoespasmo induzido por exercício (BIE) é o

estreitamento transitório das vias aéreas após exercíciovigoroso1. O diagnóstico geralmente é baseado na respostabrônquica ao exercício. Alternativamente ao exercício físico,podemos empregar testes com hiperventilação ou cominalação de manitol, que simulam o efeito de desidrataçãodo exercício nas vias aéreas 2. Intervenções que reduzem aperda de água respiratória durante o exercício, como usarmáscaras ou inalação de ar úmido e quente, inibem o BIE.Agentes farmacêuticos que reduzem o número de célulasinflamatórias, ou previnem a liberação de seus mediadores,ou bloqueiam o efeito do mediador no músculo lisobrônquico, também inibem o BIE.

2. Descrição da Doença2.1. DefiniçãoBIE é o termo usado para definir a condição que

desencadeia reação ao esforço físico com obstruçãotransitória das vias aéreas em indivíduos que tenhamhiperreatividade brônquica.

O exercício é considerado um dos principais possíveisdesencadeadores de sintomas asmáticos 3;4. Na população geral,estudos mostram prevalência de BIE entre 6 e 13% 5. Entreasmáticos, a prevalência varia de 40% a 90% 6. Além disto, a

ocorrência do BIE é descrita em atletas profissionais, asmáticosou não e em 16% de crianças consideradas normais7.

2.2. FisiopatologiaO BIE é um fenômeno complexo que envolve

broncodilatação no início do exercício, seguida debroncoconstrição pós-exercício (Figura 1) e refratariedadepela repetição, ou seja, a repetição dos exercícios causadiminuição do broncoespasmo8. Os mecanismos foramapresentados em artigo prévio deste periódico em 2008 novolume 21, páginas 14 a 18 9. Em resumo, duas principaisteorias tentam explicar como ocorre o BIE. A teoria dahiperosmolaridade e a teoria do resfriamento, ambasculminando na liberação de mediadores inflamatórios.

3. DiagnósticoO diagnóstico não deve depender apenas dos sintomas

respiratórios, pois não são sensíveis nem específicos paraidentificar BIE10. O diagnóstico de BIE em atletas é feitopelas alterações no VEF

1 pós-exercício, ou por um teste

alternativo para o exercício como hiperventilação voluntáriaeucápnica (HVE) ou teste com manitol11. O exercício podeser realizado em um laboratório, mas o exercício (esporte)específico em campo, sob as condições ambientais habituaisdo atleta, é mais adequado12. O teste com HVE requer

Fig. 1. Paciente de 21 anos, masculino, asmático com VEF1 basal de 2,90 L, 78% do previsto.

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 15

hiperventilação voluntária de ar seco. A hiperventilação éum estímulo muito potente, pode acarretar riscos de reaçõesexageradas e, portanto, não é recomendada como um primeiroteste para aqueles com diagnóstico estabelecido de asma 13.

Para aqueles com diagnóstico de asma, um teste inicialcom manitol pode ser utilizado porque o protocolo de dose-resposta progressiva evita grandes quedas no VEF

1, que

pode ocorrer após o exercício ou hiperventilação14.Provocação com manitol é menos sensível que HVE15 (Figura2), mas é altamente específico para identificarhiperreatividade brônquica14. Se o resultado do teste commanitol for negativo e a pessoa tiver asma, provavelmenteserá asma leve e um teste de hiperventilação é indicado16.

4. Testes de broncoprovocação para o

diagnóstico4.1. Teste de broncoprovocação com exercício:O teste de broncoprovocação com exercício pode ser

usado: 1) Para fazer o diagnóstico de BIE em pacientesasmáticos com história de chiado durante ou após oexercício; 2) Para avaliar a habilidade de executar algunstipos de trabalhos (por exemplo, forças armadas, polícias,ou bombeiro) nas pessoas com história que sugerem asma;3) Para determinar a eficácia e otimização da dose dosmedicamentos prescritos para impedir o BIE; 4) Para avaliaros efeitos da terapia antiinflamatória17; 5) Para confirmar odiagnóstico em atletas e permitir o uso de medicamentosdurante competições 18.

Exercícios (esportes) específicos que produzem sintomas,realizados tanto no laboratório como em campo,

provavelmente são mais relevantes para testes com atletasde elite12. No entanto, as condições ambientais, como níveisde umidade, temperatura e nível de poluição, podem afetarsignificativamente a resposta em campo.

Um exemplo de teste é a caminhada ou corrida em esteiraelétrica por um período contínuo de 6 minutos. Durante oexercício, a temperatura e umidade relativa do ar devemcorresponder a um ambiente frio e seco, por exemplo, 20-22ºC e 50-55%, respectivamente, com o objetivo de aumentara sensibilidade do teste.

Após o primeiro minuto de exercício leve, aumenta-se avelocidade até que o paciente atinja 80% da frequênciacardíaca (FC) máxima prevista para sua idade. Essa FC alvoé calculada da seguinte maneira: FC alvo = (220 – idade) x0,8. Após estabilização da FC do paciente, este permaneceem exercício por um período de 6 minutos, fazendo-se osajustes necessários: aumentando ou diminuindo a velocidadeda esteira. No caso de se empregar bicicleta, o procedimentoé semelhante: ajusta-se a carga para manter a FC.

São realizadas medidas espirométricas antes,imediatamente após o término do exercício, 5, 10, 15, 20, 30 e45 minutos após o exercício. Aos 45 minutos, caso o valordo VEF

1 não tenha retornado a pelo menos 90% do basal,

deve ser administrado broncodilatador de ação curta. Duranteo procedimento, o paciente é monitorizado com oxímetro depulso e com frequencímetro para avaliação da FC.

O teste é considerado positivo se houver queda de 10 ou15% do VEF

1 e essa queda ocorre geralmente entre 5 a 10

minutos após o término do exercício de curta duração (6minutos). A resposta brônquica ao exercício é expressa pela

Fig. 2. Dose de manitol causadora de 15% de queda no VEF1 (PD

15) em relação à queda porcentual após 6 minutos de hiperventilação

voluntária eucápnica (HVE) de ar seco. Círculos abertos representam teste de manitol negativo (PD15

> 635 mg). Círculos fechadosrepresentam casos positivos para manitol. Observar que quatro indivíduos são negativos para o manitol e positivos para HVE e doisindivíduos são positivos para o manitol e negativos para HVE (queda abaixo de 10%). Os dados estão disponíveis no suplemento onlineda Referência 15. A figura foi adaptada da Referência 33.

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16 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

queda de VEF1 referente ao valor basal: BIE em porcentagem

= 100 x (VEF1 pré – menor VEF

1 pós) / pré 17.

4.2. Teste de broncoprovocação com hiperventilaçãovoluntária eucápnica:

HVE é um excelente substituto para o exercício, pois aventilação conseguida voluntariamente é maior do que aalcançada durante o exercício máximo. Assim, a taxa de testesfalso-negativos é muito baixa com hiperventilação19. Oprotocolo “HVE 6-min” foi desenvolvido e validado parauso em recrutas das forças armadas13. O protocolo requerque o indivíduo inspire um gás seco contendo 4,9-5% dedióxido de carbono e 21% de oxigênio e nitrogênio a umaventilação equivalente a 30 vezes o VEF

1 ou mais. Após o

teste, as medidas são feitas no mesmo intervalo de tempocomo no teste do exercício (ver acima) e uma queda do VEF

1

> 10% pós-HVE é consistente com BIE.

4.3. Teste de broncoprovocação com manitol:A inalação de manitol aumenta a osmolaridade da

superfície das vias aéreas e causa liberação dos mesmosmediadores inflamatórios como no exercício e hiperventilação(20;21). O kit comercialmente disponível para importação(Pharmaxis Ltd, Frenchs Forest, NSW Australia) tem cápsulaspré-embaladas contendo 5, 10, 20 ou 40 mg de manitol e uminalador de pó seco16. O VEF

1 é medido 60 segundos após a

inalação de cada dose. Um teste é considerado positivo sehouver queda de 15% do VEF

1 com dose < 635 mg. A

recuperação do VEF1 é espontânea14;16.

4.4. Teste de broncoprovocação com solução salinahipertônica:

A solução salina hipertônica (SSH 4,5%) também éutilizada para identificar hiperreatividade brônquica epotencial BIE em asmáticos22. Um nebulizador ultrassônicoé necessário e o aerossol é inalado por meio de uma válvulade duas vias com durações crescentes (0,5; 1; 2; 4 e 8 min) 23.A quantidade de aerossol administrado é medida por umaalteração no peso do nebulizador. Uma queda de 15% doVEF

1 para < 23 g é uma resposta positiva24.

4.5. Teste de broncoprovocação com metacolina ehistamina:

Embora o teste de broncoprovocação com metacolina ehistamina seja usado para auxiliar no diagnóstico de asma, ainterpretação dos resultados com relação à identificação doBIE é discutível. Numerosos atletas que se mostram positivospara um teste com metacolina não são hiperreativos quandoexpostos a estímulos indiretos, como o exercício, HVE oumanitol10. A razão para esta dissociação não écompreendida25.

4.6. Teste de broncoprovocação negativo:Quando nenhuma evidência objetiva de obstrução

reversível das vias aéreas ou hiperreatividade brônquica é

obtida em um atleta sintomático, um diagnóstico alternativocomo a respiração disfuncional (síndrome da hiperventilação)ou disfunção de cordas vocais, deve ser considerado26;27.Além disso, uma vez que a variabilidade sazonal afeta aocorrência de hiperreatividade brônquica e BIE em váriosgrupos de atletas (por exemplo, nadadores e corredores), ohorário para o teste de broncoprovocação deve sercuidadosamente definido28;29. Finalmente, para os atletas queestão usando corticosteróides inalatórios (CI) diariamente,um resultado negativo pode indicar um controle satisfatórioda inflamação brônquica 30;31.

5. TratamentoMedidas não farmacológicas e farmacológicas são

utilizadas em conjunto para prevenir e tratar o BIE.Informações dadas aos pacientes e aos pais de crianças comBIE sobre a doença podem ajudar na aderência ao tratamentoe a não desencorajar o exercício físico, tão importante para asaúde de maneira geral.

5.1. Medidas não farmacológicas:Atividade física em ambientes com ar seco, frio e poluído

deve ser evitada. O exercício deve ser sempre estimulado,adequado a cada indivíduo e se possível, optar pelosexercícios que apresentem menor risco de BIE 32. A pesquisade rinite alérgica deve ser sempre realizada e quando presentetratada, pois a respiração adequada pelo nariz possibilita oaquecimento e umidificação do ar inspirado, podendodiminuir a gravidade do BIE 33;34.

Os pacientes devem ser orientados a realizar aquecimentoantes da atividade física principal, com alongamento eginástica que seja suficiente para atingir 50 a 60% da FCmáxima, com duração de 10 a 15 minutos, pois emaproximadamente 50% dos indivíduos com BIE, após esteperíodo de aquecimento, ocorre uma fase refratária, durantea qual BIE estará inibido. Em atletas de elite mesmo quandoessa manobra é bem sucedida, se consegue prevenirparcialmente a ocorrência de BIE 34.

A utilização de máscaras faciais se mostrou capaz deatenuar a gravidade de BIE em alguns estudos, pois estesdispositivos são capazes de capturar um pouco do calor eda água na expiração 35.

Dieta rica em ômega-3 não se mostrou eficaz de maneirageral no tratamento de pacientes com asma. No entanto, nosubgrupo de pacientes asmáticos com BIE, os resultadosforam mais promissores, com redução significativa (p < 0,05)da liberação de mediadores inflamatórios em amostras deescarro induzido e na queda do VEF

1 pós exercício quando

comparado a dieta placebo e dieta normal. Este estudo sugereque asmáticos com o BIE podem ter algum benefício comuma dieta enriquecida por ômega-3 36.

Em pacientes com diagnóstico de asma, o BIE pode seruma manifestação de não controle da doença e vale lembrarque o BIE é um dos últimos sintomas a ser controlado empacientes asmáticos depois de instituída a terapêutica34.

Page 17: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 17

Quando o indivíduo não pode evitar a exposição, comonos atletas de elite, ou apresenta manutenção dos sintomasmesmo após adoção das medidas não farmacológicas, aterapêutica farmacológica deve ser associada.

5.2. Medidas Farmacológicas:Na prevenção do BIE, os β2-agonistas são a primeira

escolha, administrado via inalatória. Eles promovem abroncodilatação e previnem a liberação de mediadores pelosmastócitos, modificando o efeito da contratilidade da camadamuscular e a permeabilidade das células da mucosa.Entretanto o uso regular desta medicação leva a tolerânciacom diminuição da eficácia33.

O tratamento com β2-agonistas é basicamente profilático,pois depois de desencadeado o broncoespasmo, este tende areverter espontaneamente e a medicação tem menorimportância do que quando administrada previamente aoesforço. Os β2-agonistas de ação curta devem ser utilizados10 a 15 minutos antes do início da atividade física e age por 3a 6 horas. Os β2-agonista de ação prolongada também podemser utilizados para prevenir BIE, respeitando-se o tempo deinício de ação de cada droga e possuem efeito broncodilatadorpor até 12 horas 18. Caso não haja melhora espontânea do BIE,os broncodilatadores de ação curta também são consideradosa melhor opção terapêutica pós-exercício 35.

A segunda opção na profilaxia do BIE é o cromoglicatode sódio, administrado via inalatória, 5 a 10 minutos antesdo exercício com pico de ação em 2 horas e efeito protetormenor que 4 horas. Sua ação ocorre na estabilização damembrana basal dos mastócitos, prevenindo a liberação demediadores inflamatórios e assim o BIE em aproximadamente60% dos casos. Não possui efeito broncodilatador e porisso não deve ser utilizado como medicação sintomática.Não há descrição de efeito de tolerância com o uso repetidodesta droga 33;35;37.

Os antagonistas de leucotrienos são medicaçõesadministradas via oral antes da atividade física como doseúnica ou diariamente. Promovem uma proteção de até 60%por até 24 horas. Possuem ação broncodilatadora, se mostramefetivos na recuperação do VEF

1 para os níveis pré-exercício

e atenuam a resposta inflamatória. Até o momento, não hárelato de tolerância ao seu uso diário, o que seria umavantagem em relação ao uso de β2-agonistas. Um estudoavaliou por 8 semanas o uso de montelucaste e salmeterol em191 asmáticos que apresentavam BIE. A prevenção de BIE foiefetiva com os dois medicamentos, entretanto o efeito protetordo montelucaste foi equilibrado durante todas as semanas doestudo, mas o salmeterol apresentou diminuição do efeitoprotetor entre as semanas 4 e 8, pela tolerância apresentadapor este último fármaco. Apesar do resultado promissor a favordos anti-leucotrienos, os estudos não mostram superioridadede qualquer fármaco em relação aos β2-agonistas notratamento de BIE até o momento (Figura 3) 33;35;38.

Os CI são o tratamento de escolha para asmáticos com ousem BIE, pois melhoram os sintomas de asma, pela redução

da inflamação e hiperreatividade brônquica, mas por nãopossuírem efeito broncodilatador imediato, não devem serusados como medicação profilática para o BIE. Entretanto, oseu uso contínuo mostrou redução na gravidade do BIE emelhora da função pulmonar basal39.

Xantinas e broncodilatadores por via oral podem sereficazes, entretanto seu uso é dificultado pela necessidade deadministração antecipada para que, no momento do esforço,os níveis séricos estejam adequados e por isso não sãorecomendados como medicação para profilaxia do BIE 35.

Estudos mostram benefício limitado dos antagonistas dahistamina no BIE, no entanto, um estudo demonstrou umainibição razoável quando o antagonista de histamina foiutilizado em combinação com anti-leucotrieno40.

Outras drogas foram testadas ao longo dos anos comopossíveis agentes profiláticos contra BIE. Medicamentosvia inalatória, incluindo a furosemida, a prostaglandina E2, aindometacina e a heparina de baixo peso molecular, podemapresentar algum efeito protetor contra o BIE. No entanto, ouso clínico destas drogas não foi comparado diretamentecom o uso profilático de β2-agonistas. Por esta razão, o seupapel na prática clínica não está justificado 41;42.

O sucesso do tratamento para BIE é avaliado pelaquantidade de sintomas que se seguem à atividade física,lembrando que os sintomas durante a atividade física podemcorresponder à falta de condicionamento físico do pacientee/ou à obstrução brônquica crônica, ou seja, o paciente jáinicia o esforço com o VEF

1 abaixo do esperado. Em alguns

casos, a profilaxia do BIE pode ser complicada. Quanto maisfrio e seco for o ar respirado e quanto mais intenso o esforço,maiores os riscos de BIE e menor o efeito do tratamento. Amesma dose capaz de controlar os sintomas pós-exercício

Fig. 3. Valor médio para a mudança de porcentagem na funçãopulmonar, geralmente mensurado na porcentagem de queda doVEF

1 ou Pico de Fluxo (PF) após exercício na presença de placebo

ou de medicação. A figura foi adaptada da Referência 38.

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18 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

Disfunção de Corda Vocal

Prolapso de laringe

Laringomalácia

Obstruções de via aérea alta

Doenças pulmonares intersticiais

Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)

Bronquiectasias

Exercício induzindo hiperventilação

Exercício induzindo anafilaxia

Edema pulmonar induzido pelo nado (SIPE)

Anemia

Doenças neuromusculares

Doença do refluxo gastro-esofágico (DRGE)

Falta de condicionamento Físico

Mixoma atrial e cardiomiopatia

Prolapso de válvula mitral

Isquemia cardíaca

Arritmias

Síndrome do pânico e/ou respiração disfuncional

Exercício induzindo hipoxemia arterial

Tabela 1. Diagnóstico diferencial de BIE 3, 5, 34, 39, 43.

no verão para um paciente praticando exercícios na praiapode ser insuficiente no inverno, para o mesmo paciente,subindo o alto de uma montanha. Nestes casos, a associaçãode medicamentos pode ser uma boa escolha terapêutica. Se,mesmo assim, não houver controle dos sintomas, a buscapor fatores de descompensação ou outros diagnósticos estáindicada (Tabela 1)3;5;34;39;43.

6. ConclusãoEm conclusão, para o melhor nível de cuidados médicos

aos atletas, é essencial que testes de função pulmonarapropriados sejam realizados. Juntamente com o exame clínicohabitual, o teste de broncoprovocação com exercício (ou umsubstituto) poderá ser realizado para se confirmar odiagnóstico e justificar o tratamento da doença.

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Elcio Oliveira [email protected]

Page 20: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

20 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

Breve históricoO termo doping provavelmente tem sua origem na

palavra holandesa dop, que na verdade é uma bebidaalcóolica feita das cascas de uvas e era usada porguerreiros Zulus para aumentar o “poder” nas batalhas.O uso de substâncias por atletas é conhecido desde aGrécia antiga, com relatos de dietas e ingesta deestimulantes. Portanto, a busca por uma melhordesempenho através do uso de substâncias existe desdeque a competição, em si, foi criada.

Nos jogos olímpicos de 1904 em Sant Louis, ThomasHicks foi o vencedor com o uso, durante a corrida, deovos cru, estricnina (estimulante do sistema nervoso), econhaque. Em 1920, portanto, já estava claro que regrasimpedindo o uso de substância no meio esportivodeveriam ser definidas. Apesar de em 1928 a AssociaçãoInternacional de Atletas de Atletismo (IAAF) banir odoping, esta iniciativa era pouco eficaz, uma vez que nãohavia testes comprovatórios até então. A morte do ciclistaKnud Enemark Jensen durante os jogos olímpicos de Romaem 1960, com a autopsia indicando a presença deanfetamina, pressionou o Comitê Olímpico Internacional(COI) a introduzir os testes diagnósticos. Vale enfatizarque outro ciclista (Tom Simpson) faleceu no Tour deFrance em 1967. Com isso, neste mesmo ano, o COIinstituiu um conselho médico e divulgou a primeira listade substância proibidas. Os testes diagnósticoscomeçaram a ser feitos nos jogos olímpicos do Méxicoem 1968.

O uso de esteroides anabolizantes disseminou-se noinício da década, principalmente por atletas delevantamento de peso, e os testes diagnósticos ainda nãoeram capazes de detectar tais substâncias. Em 1974,entretanto, se conseguiu ter um teste acurado para taldetecção e o COI, em 1976, adicionou os esteroidesanabolizantes na lista de substâncias proibidas. A partirdisto, aumentou significativamente o número de atletasque foram desqualificados, mais notadamente nasmodalidades de arremesso e levantamento de peso.Contudo, o uso de anabolizantes também foi encontrado

Dopping nos esportes – Importânciadas medicações para doençaspulmonaresAUTORES: André Luís Pereira de Albuquerque

SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia – Instituto do Coração (InCor)

no atletismo, com o notório caso do corredor de 100metros, Ben Johnson, nos jogos olímpicos de Seul 1988.Nos anos 90, os testes diagnósticos ganharam maioracurácia e notou-se uma queda nos melhores resultadosde determinadas modalidades.

Em 1998 o COI tomou a iniciativa de fazer a primeiraconferência internacional de doping no esporte e decidiucriar uma entidade independente como responsável pelasações de trabalho, normas e discussões sobre o uso desubstâncias no esporte. Com isto, surgiu a agênciainternacional anti-doping (WADA, Word Anti-DopingAgency) em 1999, a qual persiste como órgão regulatórioaté os dias atuais.

WADA (Word Anti-Doping Agency,

www.wada-ama.org) – Princípios e

ObjetivosO programa anti-doping busca manter o princípio do

esporte, que é a essência do olimpismo, e se caracterizapelos seguintes valores: 1. Ética e honestidade, 2. Saúde,3. Excelência em performance, 4. Caráter e educação, 5.Diversão, 6. Equipe, 7. Dedicação e comprometimento, 8.Respeito às regras e participantes, 9. Solidariedade. Odoping é contrário a estes valores e, com isso, contrárioao espírito do esporte ou ao espírito olímpico.

Os objetivos da WADA são:• Garantir ao atleta o direito de praticar o esporte sem

doping, promovendo, assim, saúde, honestidade eigualdade.

• Garantir programas anti-doping que sejamharmonizados, coordenados e efetivos a nível nacional einternacional na detecção e prevenção do doping.

Baseado justamente nos princípios do esporte, éimportante que atletas com doenças não controladas sejamdevidamente tratados para que estes compitam emcondições de igualdade. No nosso meio, destacam-se osatletas com problemas respiratórios, sendo que grandemaioria engloba a presença de asma não tratada e aocorrência de broncoespasmo induzido pelo exercício(BIE), o qual pode ocorrer mesmo no atleta não asmático.

Page 21: EXERCÍCIO FÍSICO NA PRÁTICA PNEUMOLÓGICA

Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 21

Nestes casos, a ausência do diagnóstico correto e dotratamento específico prejudicam a performance do atletacompetitivo profissional, sendo muitas vezes decisivosna conquista ou não da medalha olímpica.

Sintomas respiratórios no esporteOs problemas respiratórios vêm ganhando cada vez

mais destaque no meio esportivo de elite. Relatos do COIinformam uma prevalência de aplicações para o uso de ²2-agonistas de até 18% nos jogos de inverno e 15% nos deverão1, com destaque especial para modalidades de longaduração. No entanto, a real prevalência destas alteraçõesrespiratórias, neste meio, certamente é superior, comodemonstrado por trabalhos com testes específicos emdiversas modalidades esportivas2-5. Esta subnotificaçãodiagnóstica de asma e BIE em atletas tem grandesrepercussões, pois há casos de morte de atletas por criseasmática durante a atividade esportiva6. Mais impactanteainda, estes atletas no geral tinham asma leve ou atéintermitente, o que poderia ter muito provavelmenteevitado estas mortes com um tratamento específico.

Antes de se iniciar qualquer tratamento para asma ouBIE em um atleta de elite, o médico deve obrigatoriamentefazer a confirmação diagnóstica. Muitos destes sãoasmáticos não diagnosticados previamente e, com isso, aanamnese clínica e alguns testes adicionais(principalmente a função pulmonar) serão suficientes. Jápara a confirmação de BIE, no asmático ou não asmático,há critérios estipulados pelo COI a serem preenchidos.Em 2006, durante os jogos de inverno de Torino, definiu-se que o diagnóstico de BIE seria firmado com a suspeitaclínica e mais um teste positivo dentre os seguintes(Tabela 1):

O tratamento farmacológico dependerá primeiramentedo diagnóstico firmado. Para aqueles atletas com asma,as recomendações seguem as mesmas do que para umasmático não atleta. Contudo, no meio esportivo de elite,devemos buscar com o tratamento não somente o controledos sintomas e evitar sua progressão, mas também ter umcontrole mais rigoroso da doença, uma vez que esta poderáse manifestar em uma condição mais extrema, como uma

Teste diagnósticos

Resposta ao Bd inalatório

Teste de esforço ou de hiperventilação

voluntária isocápnica

Teste com metacolina

Teste com manitol ou solução

hiperosmolar

Critério de resposta

aumento no VEF1 de pelo menos 12%, após o uso de β2-agonista, em relação

ao valor basal;

Queda >10% do VEF1 do valor basal

PC20 < 4mg/ml ou PD20 < 2µmol em atletas sem uso prévio de corticoide

inalatório (CI); quando há uso de CI por pelo menos 1 mês, PC20 < 16mg/ml

ou PD20 < 8µmol

queda no VEF1 > 15% do valor basal

Tabela 1. Testes diagnósticos recomendados pelo COI para a comprovação de broncoespasmo induzido no exercício (BIE).

competição. Além disso, os possíveis efeitos colateraisdevem ser avaliados mais cuidadosamente.

A medicação de escolha para o atleta asmático consisteno uso regular de CI. Apesar de uma semana já sersuficiente para diminuir o BIE, o maior efeito terapêuticoserá alcançado somente com 3 a 4 semanas7. Os inibidoresde leucotrienos reduzem o BIE e têm uma vantagem sobreos β2-agonistas em relação à baixa incidência de tolerânciaao longo do tempo8. Já em comparação com os CI, osinibidores de leucotrienos têm uma taxa maior de ausênciade resposta. Com isto, apesar da boa resposta no geral,alguns atletas podem não conseguir um bom controle como uso isolado de inibidores de leucotrienos.

As medicações de alívio de sintomas asmáticos maisusadas, antes das provas, são os β2-agonistas. Os decurta duração têm início de ação rápido (quase imediato)e atingem o efeito máximo em 20 minutos, mas com duraçãototal de apenas 4 horas. Já os de longa duração persistempor até 6,5 horas, mas com início de ação mais tardio nocaso do Salmeterol. O uso regular de β2-agonistas por 4 a8 semanas foi relacionado a uma ausência de respostaapós este período, caracterizando assim o fenômeno detolerância8-10. Já o uso de até 3 vezes/semana não resultouem tolerância11. No entanto, o uso regular e isolado de β2de longa duração, sem a associação com CI, não érecomendado. O brometo de ipratrópio pode ser útil emdeterminados atletas, mas a maioria é não responsiva. Aassociação com β2-agonista aumenta a sua eficácia.

As recomendações gerais para o tratamento do BIE ematletas são as seguintes:

• Naqueles com BIE sem suspeita de asma, usar β2-agonista 10 a 15 minutos antes do esforço;

• BIE com sintomas asmáticos, iniciar CI com ou sem ouso de alívio com β2-agonista de curta duração. Naausência de controle, considerar a adição de (1) β2-agonista de curta antes do esforço, (2) β2-agonista delonga duração, (3) inibidores de leucotrienos; (Tabela 2)

A ausência de resposta ao tratamento pode ser um errodiagnóstico e este deve ser revisto. Outra causa possívelé a não aderência ao tratamento ou o uso inadequado damedicação.

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22 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

Lista de Medicações Proibidas – Código Anti-

Doping (Agosto 2011)Todos os β2-agonistas são proibidos, exceto Salbutamol

(máximo 1600µg em 24 horas), Formoterol (máximo 36µg em24 horas) e Salmeterol. Até recentemente, o Formoterol aindatinha uso proibido, mas nesta última atualização de 2011 elefoi liberado com dosagem máxima descrita acima. Entretanto,uma concentração na urina maior do que 1000ηg/ml deSalbutamol e 30ηg/ml para o Formoterol são consideradoscomo achado adverso e não terapêutico e, com isso, o atletadeverá justificar o uso em excesso. No caso de um atletaprecisar de doses de β2-agonista superiores ao limite referido,deverá ser enviado o termo médico específico TUE(Therapeutic Use Exception, www.wada-ama.org/en/Science-Medicine/TUE). O COI deixa bem claro que o usoem excesso de β2-agonista e administrado sistemicamenteserão considerados como inadequados e sujeitos à punição.

Todos os glucocorticosteroides são proibidos quandoadministrados por via oral, endovenosa, intramuscular ouretal. O uso inalatório é liberado. Esforços do COI e da WADAem relação a novos testes laboratoriais para detecção dedosagem corporal já estão sendo feitos

ConclusãoAntes de sabermos quais medicações podemos usar em

nossos atletas com asma e/ou BIE, devemos fazer a busca econfirmação diagnóstica seguindo os critérios adotados pelaWADA e COI. Em adição, é de extrema importância uma maiorconscientização dos atletas e profissionais envolvidos noesporte sobre a ocorrência de sintomas respiratórios nestapopulação, uma vez que certamente há uma subnotificaçãoem nosso país. Por fim, o tratamento deverá seguir asdiretrizes já aplicadas para pacientes asmáticos, tendoconsciência das dosagens e substâncias autorizadas pelosórgãos responsáveis (WADA e COI).

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Corticoides inalatórios

β2-agonista de curta duração

β2-agonista de longa duração

Inib de leucotrienos

Vantagens

Alta eficácia

Alta eficácia no alívio de crise e no pré

esforço como prevenção

Alta eficácia

Boa resposta em alguns atletas,

ausência de tolerância

Desvantagens

Efeitos colaterais sistêmicos quando em

altas doses

Tolerância após 4 a 8 semanas

Início tardio de ação (Salmaterol)Tolerância?

Menor eficácia do que CI

Tabela 2. Vantagens e desvantagens das principais medicações no tratamento da asma e do BIE em atletas.

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André Luís Pereira de [email protected]

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 23

Importância do pneumologista nolaboratório de exercício –Investigação da dispneiaAUTORES: Sílvia Carla Sousa Rodrigues1, Roberto Rodrigues Junior2

SERVIÇO: 1Hospital do Servidor Público Estadual2Disciplina de Pneumologia - Faculdade de Medicina do ABC

IntroduçãoA realização de testes de esforço é fundamental para

avaliação da capacidade de exercício. Alguns testes deesforço - denominados testes de campo - são tecnicamentesimples e necessitam de equipamentos facilmentedisponíveis, alguns podendo ser utilizados no consultóriodo próprio pneumologista: os principais compreendem o testede caminhada de seis minutos, o teste do degrau e o teste deshuttle. O teste de exercício cardiopulmonar ouergoespirometria envolve um arsenal tecnológico maissofisticado e dispendioso e um algoritmo de interpretaçãocomplexo.

A adição do estudo da ventilação e da troca gasosadurante o esforço às medidas do ECG e pressão arterialutilizadas pelos testes de exercício convencionais forneceuma avaliação mais precisa da capacidade aeróbia epossibilita uma análise ímpar não invasiva da performancedos sistemas cardiovascular, pulmonar e muscular-esquelético.

Os equipamentos atualmente disponíveis baseiam-se noprocessamento de quatro sinais básicos para a geração detodos os parâmetros fornecidos com o teste, que são: fluxode ar, oxigênio, dióxido de carbono e frequência cardíaca. Atroca gasosa expressa pelo consumo de oxigênio e produçãodo dióxido de carbono é avaliada através de analisadores degás altamente precisos respiração por respiração (“breath-by-breath”).

O teste comumente é feito em bicicleta estacionária ouesteira ergométrica. O cicloergômetro é geralmente preferívelà esteira por ser mais seguro, minimizar os artefatos do ECG,permitir a medida direta da carga e facilitar a coleta de amostrade sangue arterial durante o exercício, entrementes subestimaem 5-11% o consumo máximo de oxigênio e causa mais fadigamuscular localizada do que a esteira. No Brasil, dispomos devalores previstos para os parâmetros do exercício obtidosno cicloergômetro, mas não para a esteira.

Vários protocolos podem ser usados durante o exercícioem esteira ou bicicleta, sendo os dois principais: o protocoloincremental constituído por aumento progressivo da cargaa cada intervalo de tempo predeterminado e o protocolo decarga constante, onde a carga é mantida estável por um

intervalo de tempo ou é sustentada até o limite da tolerância.Os protocolos incrementais são os preferíveis para avaliar atolerância ao esforço e os seus fatores limitantes.

A associação entre as medidas do VO2, VCO

2, ventilação

minuto e frequência cardíaca resultará em outras variáveisque expressarão as respostas metabólica, cardiocirculatóriae muscular periférica ao esforço. A medida da capacidadeinspiratória (CI) durante o esforço é uma medida não invasivada mecânica do sistema respiratório permitindo a detecçãode limitação ao fluxo expiratório e da hiperinsuflaçãopulmonar dinâmica, portanto deve ser realizada de rotina empneumopatas crônicos ou indivíduos sob investigação dedispneia (figuras 1 e 2).

Os objetivos principais do TECP são: 1) determinar se háou não evidência de intolerância ao exercício, 2) identificarquais os fatores podem estar contribuindo para a limitaçãoao esforço, e 3) investigar a segurança ou riscos daprescrição de exercício para o indivíduo avaliado. Outrasindicações do teste incluem: quantificação da intolerânciaao esforço num indivíduo com diagnóstico de umaenfermidade cardiorrespiratória; avaliação da indicação e daresposta a intervenções terapêuticas (exemplo,oxigenioterapia e reabilitação pulmonar num pneumopatacrônico); estimativa prognóstica nas doençascardiorrespiratórias crônicas; avaliação pré-operatória e pós-operatória, o que envolve principalmente as grandesressecções pulmonares e a cirurgia redutora de volumepulmonar; indicação de transplante pulmonar e/ ou cardíaco;diagnóstico do broncoespasmo induzido pelo esforço;quantificação de incapacidade em indivíduo portador dedoença pulmonar ocupacional; prescrição e avaliação daresposta ao treinamento físico1.

Causas de dispneiaAs principais razões para interrupção precoce de um teste

são dispneia e fadiga de pernas. A dispneia ocorre quandohá um desequilíbrio entre o comando respiratório centraleferente e a resposta da bomba muscular respiratória. Nasdoenças pulmonares, o comando respiratório eferenteaumenta em resposta a vários estímulos: hipoxia, hipercapniae acidose, que ocorrem ou são exarcebados durante o

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24 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

exercício. Os corpos carotídeos são os quimiorreceptoresque controlam a ventilação em resposta à hipoxemia eacidose. A fadiga muscular respiratória ocorre em resposta àdeterioração da mecânica do sistema respiratório. A fadigamuscular periférica ocorre por falência do metabolismoaeróbico em atender as demandas celulares de O

2. Doenças

pulmonares, cardíacas ou vasculares prejudicam a oferta deO

2 para os tecidos e reduzem a capacidade aeróbia2.

Disfunção muscular pode também contribuir para odesconforto das pernas e explicar a intolerância ao exercícioobservada em pneumopatas e cardiopatas crônicos.

Os padrões de respostas cardiopulmonar e da trocagasosa podem separar limitações cardíaca e pulmonar eoutras causas de intolerância ao esforço. Somente emcondições específicas, como no caso do broncoespasmoinduzido pelo exercício, a ergoespirometria terá um papeldiagnóstico2 (figura 1). Na maioria dos casos, o teste deexercício demonstra alterações fisiopatológicas que guiarãoa propedêutica posterior.

Avaliação da dispneia de causa inaparenteDispneia inexplicada durante o exercício é um motivo

frequente para a indicação do teste de esforço, e aergoespirometria deve ser vista como um complementofundamental dentro de uma escala hierarquizada orientadapor um exame médico anterior. Idealmente o paciente seráencaminhado para a realização do teste com uma históriamédica, exame físico e, às vezes, com uma hipótesediagnóstica. Alguns exames complementares já poderão tersido realizados (por exemplo, hematócrito, ECG de repouso,radiografia do tórax, gasometria arterial, espirometria, testede broncoprovocação farmacológica, medida dos volumespulmonares estáticos, difusão pulmonar e/ouecocardiograma). Noutros casos, os resultados do teste deesforço poderão orientar exames auxiliares (não invasivosou invasivos) para a elucidação diagnóstica ou estabelecero diagnóstico do caso avaliado (figura 1).

As provas de função pulmonar são fundamentais para aavaliação da dispneia. A espirometria (incluindo-se aavaliação da resposta a broncodilatador) deve ser o primeiroteste solicitado, e o seu resultado orientará a investigaçãoposterior. Em indivíduos jovens, onde a prevalência de asmaé alta, o teste de broncoprovocação farmacológica é opróximo passo na lista propedêutica. Se a causa da dispneianão for esclarecida, o TECP será bem indicado. Em indivíduosmais velhos, a ergoespirometria de preferência deve vir apósa medida dos volumes pulmonares estáticos, resistência dasvias aéreas e análises da troca gasosa.

A dispneia é um sintoma que costuma ser exacerbadocom o exercício, e na sua fase inicial muitas vezes só éperceptível durante a realização de uma atividade física.

A abilidade pulmonar e cardiocirculatória no transportede oxigênio aos tecidos suporta todos os processosbioquímicos envolvidos na geração de energia e produçãode dióxido de carbono pelas células musculares. Avaliaçãodas respostas cardiovascular, respiratória e muscularperiférica ao exercício são, portanto, essenciais na dispneiade causa inexplicada. O defeito pode estar nos pulmões,coração, circulação periférica ou vascular pulmonar, no teorou qualidade da hemoglobina, ou pode ser devido a umdistúrbio metabólico, musculo-esquelético e psicogênico3.

A limitação ao fluxo expiratório é a principal causa deintolerância ao esforço na DPOC. A constante de tempo paraesvaziamento pulmonar (isto é, o produto entre acomplacência pulmonar e a resistência das vias aéreas)costuma ser insuficiente para que o volume pulmonar nofinal da expiração diminua abaixo do seu volume derelaxamento previsto, o que resulta frequentemente em

Fig.1 - Curvas fluxo-volume máximas em repouso (azul) e após 5minutos do término do exercício em esteira (vermelha). As curvasmenores internas representam o volume corrente em repouso(azul); durante o esforço (verde) e após o exercício (em vermelho).Caso clínico - paciente do sexo masculino, 31 anos, 173 cm, asmaintermitente leve na infância, última crise aos 12 anos; no momento,referia intolerância aos esforços (ao jogar futebol, três vezes porsemana). Solicitado TECP para avaliação da dispneia aos esforços.Valores espirométricos em repouso: CVF 5,91 L (115%); VEF

1

4,23 L (99%) e razão VEF1/CVF 0,72 (distúrbio ventilatório

obstrutivo de grau leve). O paciente exercitou-se por 12 minutos,sendo o teste interrompido por dispneia e fadiga de pernas (graus9 e 5, respectivamente pela escala de BORG). Capacidade aeróbica,limiar de lactato e pulso de oxigênio dentro da faixa prevista.Reserva ventilatória de 25 L/min, razão VE/VCO

2 24 e PETCO

2

no limiar de lactato 40 (normais); sem distúrbios da troca gasosa.Durante o esforço, foram realizadas manobras de capacidadeinspiratória, sendo observados aumento do volume pulmonar nofinal da inspiração (seta vermelha fechada) e diminuição da CI(seta vermelha aberta) em relação ao repouso (seta azul fechadae aberta, respectivamente), caracterizando hiperinsuflaçãopulmonar dinâmica. Após o exercício, houve diminuiçãosignificativa do VEF

1 (23% do valor inicial) compatível com

broncoespasmo induzido pelo exercício.

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 25

aumento do volume pulmonar no final da expiração (VPFE) eaprisionamento de ar3. Durante o esforço, o VPFE aumentaalém do seu valor de repouso, o que caracteriza ahiperinsuflação pulmonar dinâmica frequentementeobservada em pacientes portadores de DPOC. A reduçãoprogressiva da CI e do volume inspiratório de reserva,resultante do aumento do VPFE, então, aproxima o volumecorrente (VC) da capacidade pulmonar total (CPT) - porçãonão complacente da curva pressão-volume do sistemarespiratório, onde o limiar de carga elástica à inspiração(trabalho da respiração) é muito elevado (figura 2)3.

Deve-se suspeitar de doença pulmonar intersticial quandoobservamos os seguintes achados num TECP: diminuiçãoda ventilação de pico (VE) e da reserva ventilatória (VE -VVM), ineficiência ventilatória (aumento da razão VE/VCO

2

no limiar de lactato) e associação de frequência respiratóriaalta com volume corrente baixo para uma dada ventilação. AFR pode chegar a valores extremamente altos (50 respirações/minuto) no pico do exercício. Aumento na ventilaçãosubmáxima geralmente se deve à ineficiência ventilatória porconta da elevação do espaço morto fisiológico (aumento darazão entre o volume do espaço morto e o volume de arcorrente (VEM/VAC)), hipoxemia arterial e acidose metabólicaprecoce. Hiperinsuflação pulmonar dinâmica geralmente nãoé demonstrada nesses indivíduos, e a capacidade inspiratóriapermanece inalterada2. A disfunção circulatória(representada por limiar de lactato precoce, respostataquicárdica, redução do pulso de O

2 e da relação VO

2/carga)

e de troca gasosa (representada pela dessaturação noexercício e aumento da razão VEM/VAC) são também umimportante mecanismo de limitação ao exercício nas DPI.Esses pacientes podem demonstrar sobreposiçãosignificativa da alça de volume corrente em relação aoenvelope máximo de repouso, caracterizando limitação ao

Fig. 2 - Alça fluxo-volume em repouso e durante exercício em a) controle saudável > 40 anos e b) pacientes com DPOC; _____ limitesmáximos de fluxo e volume e volume corrente (VC); ———— VC durante o exercício; ——— manobra da capacidade inspiratória (CI) atéa capacidade pulmonar total (CPT) usada para ancorar as curvas fluxo-volume dentro dos respectivos envelopes máximos de repouso;...... curva fluxo-volume expiratória prevista. VR: volume residual. Indivíduos saudáveis são capazes de aumentar tanto o VC quanto osfluxo inspiratório e expiratório. Na DPOC, o fluxo expiratório já é máximo em repouso, então para aumentar ainda mais o fluxoexpiratório durante o esforço, esses pacientes devem hiperinsuflar, o que é caracterizado na curva fluxo-volume pelo aumento significativodo volume-pulmonar no final da expiração (VPFE) - setas. Adaptada da referência 3.

fluxo expiratório (figura 2). A combinação de limitaçãoventilatória e cardiocirculatória, na verdade, é um padrãoinespecífico, que pode ter outras causas, como doença dacirculação pulmonar ou até mesmo a combinação de fibrosee hipertensão pulmonar 4, 5. Na vigência de tais resultados,exames subsequentes, como medidas dos volumespulmonares estáticos e difusão pulmonar (se ainda nãorealizados), tomografia de alta resolução do tórax eecocardiograma, poderão compor o diagnóstico definitivoou orientar exames invasivos, como biopsia pulmonar oucateterismo cardíaco direito. PET CO

2 inferior a 30 mmHg e a

relação VE/VCO2 superior a 40 no TECP são sugestivos dedoença da circulação pulmonar, apresentando correlaçãocom a pressão arterial pulmonar e prognóstico6. Indivíduoscom a combinação de doença pulmonar intersticial ehipertensão pulmonar apresentam um maiorcomprometimento da capacidade aeróbia, da ineficiênciaventilatória e dispneia5.

Os padrões de respostas ao cicloergômetro podem sesobrepor e se assemelharem em indivíduos com doençaspulmonares obstrutivas, restritivas e hipertensão pulmonar.Todas podem exibir graus variados de limitação ventilatória,distúrbio de troca gasosa e limitação cardiocirculatória, aindapodendo ocorrer a associação de hipertensão pulmonar comfibrose pulmonar e DPOC. Os resultados dos testes de funçãopulmonar em repouso e a resposta mecânica da curva fluxo-volume durante o esforço (esta última mais observada nasdoenças restritivas e obstrutivas) podem ajudar no diagnósticodiferencial com as doenças vasculares pulmonares 3.

Na avaliação de um indivíduo que possui múltiplas causaspossíveis de dispneia, os testes de exercício podem revelardistúrbios ocultos e determinar os fatores mais impactantes daintolerância ao esforço, com possíveis repercussões na condutaterapêutica e no prognóstico. Em indivíduos portadores de

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Fig. 3 - Curva fluxo-volume máxima em repouso (azul) de umindivíduo com diagnóstico de pneumonia de hipersensibilidadecrônica. Durante o esforço observamos sobreposição significativada alça de volume corrente (curva vermelha) em relação aoenvelope máximo de repouso, caracterizando limitação ao fluxoexpiratório (seta preta).

DPOC, por exemplo, a presença de dispneia desproporcionalao grau de obstrução ao fluxo aéreo deve orientar o médicopara investigar outros fatores que possam estar contribuindopara a intolerância ao esforço (como cardiopatia, doença dacirculação pulmonar ou até mesmo anemia)7.

Fig. 4 - Algoritmo para avaliação da dispneia (cortesia Dr. José Alberto Neder).

Para conclusão utilizamos a figura 4, onde demonstramoso papel do TECP numa escala hierarquizada para a avaliaçãoda dispneia de causa inexplicada e a conduta seguinte deacordo com os resultados do teste de esforço.

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Sílvia Carla Sousa Rodrigues

[email protected]

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 27

Utilização do teste de exercíciocardiopulmonar na avaliaçãopré-operatóriaAUTORES: Fabiana Stanzani, Liana Pinheiro, Sonia Maria Faresin

SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

A avaliação pré-operatória nos procedimentos operatórioseletivos, em particular na ressecção do parênquima pulmonar,sempre caminhou de braços dados com os testes de funçãopulmonar uma vez que o risco operatório equilibra-se sobreo seguinte tripé: estado de saúde global do doente nomomento da intervenção, procedimento anestésico requeridoe extensão do procedimento proposto.

Os constantes avanços observados nas diversas áreastécnicas que envolvem o processo peri-operatório permitiramque doentes mais velhos e com maior número decomorbidades usufruíssem de um maior e mais complexoleque de tratamentos operatórios. Em contrapartida, exigiuque a avaliação da reserva funcional no pré-operatóriotambém se tornasse mais complexa. Ter reserva significa sercapaz de lidar com sobrecargas como o estresse operatórioe possíveis complicações pós-operatórias sem levar oorganismo a um colapso.

Desde a Segunda Grande Guerra, momento no qual aanestesia e a cirurgia deram saltos enormes, sem haverpraticamente nenhuma preocupação com a avaliação pré-operatória, passando pelo início da década de 1960, quandoocorreu publicação da primeira versão da escala da SociedadeAmericana de Anestesiologia (ASA), foram nos últimos 10anos deste século que se divisaram horizontes mais amplose fascinantes na categorização do risco operatório. Paraentender em que ponto nos encontramos na avaliação dosnossos doentes candidatos a procedimentos operatórios querequerem ressecção pulmonar e como exames tidos comocomplexos, como o teste de exercício cardiopulmonar (TECP)se aplicam aqui, faremos um breve histórico.

Em 1955, Gaensler e colaboradores, assistindo doentesportadores de tuberculose, observaram que aqueles comVEF

1 inferior a 70% do valor previsto e com VVM inferior a

50% do valor previsto, apresentavam, no pós-operatório deressecção pulmonar, mortalidade em torno de 50% 1.

Após o sucesso da terapia combinada para o tratamentoda tuberculose, os cirurgiões voltaram sua atenção aotratamento operatório do câncer de pulmão, o qual na épocaconsistia em grandes ressecções pulmonares. Uma vez queestas operações envolviam a retirada de porções de pulmão

saudável, esta nova situação trouxe a necessidade depredizer a função pulmonar residual ao procedimento. Assim,na década de 1970, os primeiros estudos foram publicadosmostrando os resultados obtidos com a utilização dacintilografia de perfusão pulmonar na previsão da funçãopulmonar após pneumonectomia2,3. Olsen e colaboradoresrelataram que quando o VEF

1 previsto para o pós-operatório

(VEF1ppo) fosse inferior a 800 mL, o risco de um desfecho

desfavorável era grande. A aplicação deste limite possibilitouuma considerável queda nas taxas de morbi-mortalidade, quedecresceram para 27%.

Ferguson e colaboradores, em 1988, publicaram umestudo, embora retrospectivo, com resultado bastanteinteressante, e que só seria valorizado décadas depois. Natentativa de encontrar novos preditores de risco pararessecção pulmonar, os autores observaram que a capacidadede difusão de monóxido de carbono (DCO) se comportavacomo um bom preditor de morbidade pulmonar e morte. Estafoi a primeira vez que um exame teve impacto superior ao daespirometria na avaliação funcional pré-operatória decandidatos a este tipo de procedimento. Este trabalho,também, contou com mérito adicional por ter utilizado aporcentagem dos valores previstos ao invés de valoresabsolutos, que sofrem interferência muitas vezes do sexo,idade e dados antropométricos dos doentes. A obtenção devalores de DCO inferiores a 60% do previsto no pré-operatório indicou um maior risco de ocorrência decomplicações pós-operatórias4.

No ano seguinte, foi a vez de Markos e colaboradorescontribuirem para o refinamento da estratificação de risco.Analisando 55 doentes que realizaram a cintilografia deperfusão pulmonar no período pré-operatório, demostraramque quando os valores de VEF

1ppo e de DCOppo estivessem

inferiores a 40% do valores previstos, o risco decomplicações aumentava bastante5.

Em 1994, Kearney confirmou este valor limítrofe de 40%previamente estabelecido e inovou ao utilizar uma simplesregra de três, considerando apenas os segmentosfuncionantes a serem ressecados, para calcular o VEF

1ppo

e o DCOppo após lobectomias. Esta medida deu praticidade

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e mais precisão para o cálculo da função residual após estetipo de ressecção, que é a mais frequentemente realizadaaté hoje. Uma vez que a cintilografia pulmonar é um examecaro e incapaz de discriminar a segmentação brônquica seupapel ficou restrito às avaliações para pneumonectomias6.

Em 1991, um artigo prospectivo que não envolviaqualquer ressecção pulmonar chamou a atenção do mundocientífico, pois demonstrou que em doente portador deinsuficiência cardíaca, com consumo de oxigênio no pico doexercício (VO

2pico) menor do que 14 mL/kg/min a sobrevida

era menor e que esta medida foi melhor preditora desobrevida do que a fração de ejeção. Este resultado ajudoua mudar os critérios para a indicação de transplante cardíaco7.Embora este não tenha sido o primeiro estudo no qual oTECP tenha se mostrado útil, ele foi capaz de impressionartoda a comunidade científica e inspirar novos trabalhos.

Então, na segunda metade da década de 1990, um grupode estudiosos sul-africanos liderados por Bolliger passoua desenvolver um algoritmo de avaliação dos candidatos àressecção pulmonar, a partir do momento que um estudopreliminar demonstrou que quando o VO

2pico era inferior a

60% do previsto, as complicações pós-operatórias tinhamsido mais frequentes8,9. A validação do algoritmo propostopor este núcleo de pesquisa levou a redução de 50% nascomplicações sem aumentar a taxa de doentes cujaoperação era limitada pela baixa função pulmonar, noserviço onde ele foi desenvolvido10,11. Esses estudostrouxeram consistência a este tipo de avaliação, pois oVO

2pico foi capaz de fazer a distinção entre os riscos

aceitável e alto para ocorrência de insuficiência respiratóriacrônica no pós-operatório.

O reconhecimento do trabalho de todos estespesquisadores veio com a publicação de diversos consensossequenciais, começando com o da Sociedade Britânica deTórax em 2001, passando pelos americanos, até o últimopublicado pela Sociedade Européia de Tórax, em 200912-15.Deles, dois algoritmos foram propostos. Ambos ressaltam aimportância do TECP mas, até o momento, não existemestudos que mostrem que um algoritmo seja superior aooutro, porém há trabalhos revelando que a maioria dosmédicos não usa nenhum dos dois, levando a erros dejulgamento, principalmente pelos médicos mais jovens16-17.

Entretanto, a grande diferença entre os algoritmosreferidos, está justamente no momento da indicação doTECP. O consenso americano recomenda que este examedeva ser feito quando o VEF

1ppo ou o DCOppo sejam

inferiores a 40% do previsto. O europeu discorda erecomenda a realização do TECP precocemente, antesmesmo de avaliar os cálculos da função residual aoprocedimento proposto. Assim, se a porcentagem doprevisto dos valores do VEF

1 ou da DCO pré-operatórias

forem inferiores a 80%, o exame está indicado.Atualmente está bem definido que valores baixos do

VO2pico estão mais fortemente relacionados à ocorrência

de complicações do que valores baixos do VEF1ppo e do

DCOppo.A consagração do teste na avaliação pré-operatória de

ressecção pulmonar trouxe um novo questionamento:haveria outro teste dinâmico tão acurado quanto o TECP,mas mais barato e disponível na maioria dos hospitais?Infelizmente não. Nenhum outro teste de exercício, até omomento, mostrou-se igual ou superior ao TECP.

Entretanto, alguns estudos evidenciaram que uma alturagalgada no teste da escada superior a 22 metros, oucaminhar mais de 25 voltas ou 400 metros no teste de shuttlerefletiam um risco aceitável de morbi-mortalidade. Valeressaltar que apesar destes resultados animadores, não sedeve valorizá-los isoladamente, principalmente em doentescom comprometimento funcional, situação na qual o TECPfará informações mais seguras 14-15.

No nosso meio ainda há outro cenário no qual o TECPobteve papel de destaque: a avaliação do candidato àcirurgia redutora de volume pulmonar. O portador deenfisema predominantemente nos lobos superiores combaixa tolerância ao exercício, definida pelo NETT como amáxima carga atingida de 25W para mulheres e de 40Wpara homens, é o candidato com potencial ganho desobrevida após a cirurgia redutora de volume pulmonar 18.

A grande utilidade do VO2pico nos procedimentos

torácicos despertou o interesse de outros médicos quetinham dificuldade em identificar o doente de alto riscopara complicações cardiopulmonares e o TECP passou aser realizado no pré-operatório de procedimentosabdominais e vasculares de grande porte como transplantehepático, reparo de aneurisma de aorta e esofagectomias19.

Porém, como já desconfiavam os estudiosos da fisiologiarespiratória, o TECP tinha muito mais a oferecer do que ovalor do VO

2pico. Assim, recentemente, novos parâmetros

têm sido analisados e parecem adicionar elementos paramelhor conhecimento dos riscos envolvidos, integrandoos sistemas respiratório e hemodinâmico, o queprovavelmente transformará a forma como avaliamos o riscoatualmente.

A relação VE/VCO2 elevada já tinha se mostrado um

preditor de menor sobrevida nos doentes com insuficiênciacardíaca e, estudos publicados nos últimos anos, destavez realizados com portadores de DPOC e hipertensãopulmonar, mostraram os mesmos resultados. Ao perder leitovascular em decorrência de uma ressecção pulmonar, osdoentes podem agravar uma hipertensão pulmonarincipiente o que contribuirá para o seu óbito20. Older ecolaboradores, estudando 548 doentes com mais de 60 anossubmetidos a diversos tipos de procedimentos, encontraramque o limiar de lactato menor que 11 mL/kg/min marcouaqueles que morreram de complicações cardiopulmonares22.

Mais estudos são necessários para esclarecerem comoe qual a melhor forma desses novos parâmetros participaremda avaliação pré-operatória. Além do mais, existem aindaoutras lacunas a serem preenchidas em relação ao próprioTECP, como a padronização das técnicas de realização dos

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 29

exames nos diversos tipos de avaliações (bicicleta ouesteira), a apresentação dos resultados (VO

2pico em mL/

Kg/min ou porcentagem do valor previsto), a categorizaçãodos riscos, o momento em que o exame deve ser feito, alémda clássica discussão sobre quais as complicações pós-operatórias efetivamente podem ser envolvidas no processode avaliação.

Por fim, os resultados obtidos até agora apontam para ofato de que o TECP será um divisor de águas dentro daavaliação pré-operatória dos procedimentos de grandeporte, pois permite identificar o doente de alto risco. Muitoprovavelmente, contribuirá também para contra-indicá-losquando o risco de morte no pós-operatório for maior que orisco do tratamento clínico disponível no momento.

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Fabiana Stanzani [email protected]

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30 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

O teste de caminhada de 6 minutose sua aplicabilidadeAUTORES: Maria Raquel Soares1, Carlos Alberto de Castro Pereira1,2

SERVIÇO: 1Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo2Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

O teste de caminhada de 6 minutos (TCAM6) éamplamente aceito e utilizado para avaliação clínica doestado funcional de pacientes com doençascardiopulmonares. O teste baseia-se no parâmetrofundamental da distância percorrida durante um tempoespecificado. É simples, bem tolerado, requer equipamentosde baixo custo e reflete um nível submáximo de esforço,que é mais compatível com o esforço requerido para asatividades físicas da vida diária. O TCAM6 fornece dadosconfiáveis e reprodutíveis que auxiliam em medidas decomparações pré e pós-tratamento1,2, na avaliação do estadofuncional3,4 e de previsão de morbidade e mortalidade paravárias doenças1,5-8.

Historicamente, testes de distância foram primeiramentedefendidos por Balke9 em 1963, como um meio de avaliar aaptidão física. Kenneth H. Cooper10 usou mais tarde umteste de corrida de 12 minutos em oficiais aviadoressaudáveis da força aérea americana, e demonstrou umaforte correlação da distância percorrida obtida por um testeem esteira com o consumo máximo de oxigênio. McGavin11

fez modificações adicionais para o teste em 1976, e usouum teste de caminhada de 12 minutos para avaliarincapacidade em pacientes com doença pulmonarobstrutiva crônica (DPOC). Os trabalhos posterioresdeterminaram a eficácia e a confiabilidade do teste decaminhada em intervalos menores de tempo e,eventualmente, o tempo de 6 minutos tornou-se o protocolomais amplamente aceito12.

Em 2002, a American Thoracic Society (ATS) publicouorientações específicas sobre a utilização do TCAM6 e dametodologia para sua realização13. Aspectos técnicos do testeforam bem definidos, incluindo principalmente um corredorem linha reta, plano, com uma superfície dura e medindo nomínimo 30 metros, além de descrição de equipamentosnecessários, preparação do paciente, e instruções detalhadaspara sua realização. A referência da ATS abordou tambéma necessidade de instruções padronizadas ao paciente,antes e durante o teste, para eliminar a possibilidade deefeitos de treinamento ou incentivo.

Para se estabelecer as indicações adequadas paraTCAM6, é importante ter sedimentado o que o teste sepropõe a medir. O objetivo primário do teste é determinar amaior distância que o paciente é capaz de percorrer andandoem um trajeto plano, na velocidade que ele escolher, num

período de 6 minutos. Não é um teste de performance, ouseja, não dá nenhuma informação acerca do desempenhoatlético do examinado. Não permite o estabelecimento dacausa subjacente à limitação ao exercício físico; para isso,é necessário o teste de exercício cardiopulmonar (TCPE)14.

O TCAM6 é, por definição, um teste de endurance, ouseja, um teste submáximo. Como demonstrado na figura.1,para a maioria dos pacientes com doença leve à moderada,a demanda metabólica é inferior à máxima obtida num testeincremental (como os outros testes de exercício: step, shuttlee o TCPE); portanto, os limites máximos não sãohabitualmente atingidos nestes casos – o que é chamadode “efeito teto” do teste. Entretanto, para um grupo depacientes mais graves, o TCAM6 pode ser consideradoum teste “quase-máximo”, já que o dispêndio metabólico-energético durante o teste aproxima-se do máximo limitadopor sintomas nestes pacientes15.

Apesar da limitação descrita acima, o TCAM6 quandorealizado seguindo um protocolo padrão, pode fornecerinformações dos indicadores da capacidade funcional pormeio da distância caminhada em 6 minutos (DCAM6): daintegridade da troca gasosa intrapulmonar (por meio dasaturação da oxi-hemoglobina), do estresse cardiovascular(pela frequência cardíaca) e do estresse sensorial (pelosescores de dispneia e fadiga, associados a um esforçosubmáximo)16.

Fig.1. Dispêndio metabólico (VO2

= consumo de oxigênio) emquatro modalidades distintas de testes de exercício em pacientescom DPOC moderada à grave [Modificado de: Turner et al. Chest2004; 126(3):668-70]

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Assim, o TCAM6 tem suas indicações bem estabelecidaspara comparações antes e depois de intervenções, paramedida da capacidade funcional e para predizer prognóstico,nas seguintes doenças: DPOC, doenças pulmonaresintersticiais (DPI), hipertensão pulmonar (HP) e nainsuficiência cardíaca (IC). O TCAM6 tem tambémimportante papel na avaliação pré-operatória de cirurgiacardíaca, de ressecção e redutora de volume pulmonar eem casos de transplante pulmonar 1.

Na DPOC, Celli e cols. conduziram um estudomulticêntrico8 e identificaram quatro principais preditoresde mortalidade: índice de massa corpórea (IMC), grau deobstrução das vias aéreas, grau de dispneia e capacidadede exercício (DCAM6). Com, isso, os autores criaram oíndice BODE (do inglês: Body mass index, degree of airflowObstruction, degree of Dyspnea, and Exercise capacity),que provou ser melhor que o volume expiratório forçadono primeiro segundo (VEF1) em predizer o risco de mortepor causas respiratórias em pacientes com DPOC.Posteriormente outros estudos também relataram que aDCAM6 é um preditor de sobrevida independente empacientes graves, melhor do que outros marcadorestradicionais de gravidade da doença, como idade, IMC e oVEF117. Um valor na DCAM6 <350 metros nesses pacientesestá associado ao aumento da mortalidade18. O TCAM6também tem seu papel bem definido na avaliação pré e pósreabilitação pulmonar em pacientes com DPOC 19.

Nas DPI, o valor da dessaturação durante o TCAM6 foiavaliado em 83 pacientes com fibrose pulmonar idiopática(FPI) e 22 com pneumonia intersticial inespecífica (PINE)(20). Pacientes que tiveram dessaturação durante o testede caminhada, definida por saturação periférica de oxigênio(SpO2) <88%, tiveram sobrevida em 4 anos de 34,5%comparado a 69,1% daqueles que não apresentaramdessaturação. Nos pacientes com PINE que dessaturaram,a sobrevida foi pior (65,6%) em comparação àqueles quenão dessaturaram (100%). Nas DPI, a DCAM6 secorrelaciona com o VO

2 máximo, medido por teste

incremental, qualidade de vida, dispnéia, volumespulmonares e difusão de monóxido de carbono (D

LCO)21-

23. O valor preditivo da DCAM6 inicial sobre a mortalidadena FPI é controverso. Em um grande estudo recente24, avariação na DCAM6, após seis meses de seguimento, foipreditora de mortalidade – pacientes com declínio naDCAM6 >50 m tiveram risco de mortalidade 4,27 vezesmaior. Em indivíduos submetidos a teste de exercício, umavelocidade de recuperação mais lenta da freqüência cardíaca(FC) após o término do teste se associa com maiormortalidade. Pacientes com FPI e com queda da FC <13batimentos por minuto após TCAM6, tiveram risco de morte5,2 vezes maior em comparação aos pacientes comrecuperação mais rápida da FC25. Este achado reflete apresença de hipertensão pulmonar26. Na esclerose sistêmicaprogressiva (ESP) o TCAM6 desperta interesse, tanto porsua possível aplicação na presença de DPI, quanto naavaliação de portadores de hipertensão pulmonar, situaçãona qual o teste é amplamente utilizado. Embora o TCAM6

seja sensível à presença de complicações cardiovascularese pulmonares da ESP, os pacientes são também limitadospor disfunção músculo-esquelética e dor27. Na ESP, tal comona FPI, a SpO2 em teste de exercício prediz a sobrevida 28. Orisco de morte durante tempo mediano de seguimento de7,1 anos foi 2,4 vezes maior nos pacientes com SpO2 noexercício abaixo de 89%.

Na HP, pacientes com doença idiopática e idade médiade 37 anos que seriam submetidos a tratamentoapresentaram uma DCAM6 média de 297 metros, quecomparada com 655 metros do grupo controle de idadecorrespondente, mostrou um grave declínio na capacidadefuncional para caminhar. Neste trabalho, menor DCAM6se correlacionou significantemente com a classe funcionalmais baixa e menor consumo de oxigênio de pico (VO2 pico),demonstrando que a DCAM6 é um marcador de gravidadedo estado funcional em um grupo de doentes relativamentejovens29. Outros estudos também demonstraram que aDCAM6 é um fator independente de mortalidade empacientes com HP idiopática em tratamento30-33. No entanto,esta relação entre a DCAM6 e mortalidade não é vista empacientes com HP idiopática sem tratamento, onde adessaturação durante o TCAM6 sugere ser um melhorpreditor – em um trabalho, para cada ponto diminuído napercentagem da SpO2 no TCAM6, houve um aumento de26% no risco de morte34. Recentemente, vem sendoquestionado o verdadeiro papel da DCAM6 para avaliaçãodos pacientes com HP leve, uma área que ainda necessitamais pesquisa35.

Na IC, a DCAM6 tem uma relação inversa com aclassificação da classe funcional segundo a New YorkHeart Association (NYHA) 5, e está fortementecorrelacionada com o VO

2 pico, que é um importante

marcador de prognóstico e tempo de transplante cardíaconesta população. Vários autores relataram que umaDCAM6 menor que 300 m é um forte indicador do aumentoda mortalidade4. No entanto, outros não confirmaram essarelação e sugerem que VO2 pico é um melhor preditor desobrevida, particularmente em longo prazo6. A DCAM6sugere fornecer informações úteis quanto ao prognósticopara pacientes com doença leve a moderada, enquanto oTCPE é mais informativo em pacientes com IC grave, queserão encaminhados para transplante cardíaco. A DCAM6não é um marcador sensível de mudança na sequência deterapia médica para a IC36. Efeitos mais claros de melhorasobre a capacidade de exercício funcional são vistos apósa reabilitação cardíaca37.

Uma vez realizado o teste, o aspecto mais crítico dainterpretação da DCAM6 envolve uma perspectiva tantointraindividual como interindividual. Na prática clínica, odesafio mais frequente é o de classificar adequadamente acapacidade funcional remanescente de um paciente quenão tem um teste prévio e que não apresenta uma DCAM6gravemente reduzida ou então, claramente normal. Como opaciente, nesse caso, não pode ser seu próprio controle aolongo do tempo, restam duas opções: comparar a DCAM6com intervalos de gravidade doença-específicos, que

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simplesmente inexistem atualmente para as pneumopatiascrônicas mais prevalentes; ou compará-la com valores dereferência. A questão se torna mais complexa em relação àinterpretação intradividual das variações da DCAM6, hajavista a ampla variabilidade dos valores sugeridos para oque é chamado de diferença mínima clinicamente importante(DMCI); ou seja, a menor diferença em um desfecho deinteresse que pacientes percebam como importante e quelevem o paciente, ou seu médico, a considerar uma mudançade conduta. Na DPOC, por exemplo, a DMCI para a DCAM6varia amplamente tanto em valores absolutos (desde 25 até80 metros) como relativos (de 10% a 40%) 16,19. Na FPI, emavaliações longitudinais, a DMCI pode variar de 24 a 45metros24,38. Considerações metodológicas à parte, muitodessa variabilidade resulta da relação entre a DCAM6 e acapacidade funcional. Na figura 2 é mostrada esta relação.

Torna-se claro que a relação é hiperbólica, com reduçãoprogressiva da inclinação com o aumento de ambas as variáveis.

Isso implica que um paciente na faixa A, com pequenaDCAM6 e baixa capacidade funcional, tenha um maiorespaço para ganho do que um paciente na faixa C, comelevada DCAM6 e capacidade funcional próxima ao seuteto. Por outro lado, um mesmo ganho absoluto (em metros)será uma fração muito maior do valor basal para o pacienteda faixa A do que para o paciente da faixa C. Adicionalmente,ainda falta uma clara noção se essa relação permanecehiperbólica e com a mesma curvatura quando há perdafuncional. Poderíamos assumir que uma dada reduçãoabsoluta e relativa da DCAM6 representa essencialmenteo mesmo declínio da capacidade funcional que seriaesperado caso ambos os valores tivessem aumentado?Futuros estudos devem abordar tais aspectos, e, nomomento, a melhor alternativa talvez seja reconhecer que aDMCI para a DCAM6 provavelmente dependa da DCAM6basal (ou de pré-intervenção): menor para os pacientes mais

graves, maior (ainda que mais difícil de ser atingida) paraos menos graves16.

Quanto à interpretação do ponto de vista interindividual,valores de referência são de extrema importância paracaracterização da presença e classificação da gravidade dediversas doenças. No entanto, valores de referência para testesde função pulmonar variam muito em diferentes populações.Num estudo realizado em 10 centros de sete países, os valoresda DCAM6 para indivíduos com idade acima de 40 anos foramdeterminados e foi observado heterogeneidade geográfica dosvalores encontrados, mostrando a necessidade de equaçõesespecíficas para diversos países39.

Em 2011, publicamos valores de referência para a distânciacaminhada em adultos brasileiros saudáveis numa idadeampla, de 20 a 80 anos e investigamos a influência dos fatoresantropométricos e da atividade física habitual na DCAM640.Foram incluídos na análise final 132 indivíduos, sendo 66 dosexo feminino e 66 do sexo masculino. As variáveisantropométricas que se correlacionaram de maneirasignificativa com a DCAM6 por análise univariada foramidade (r = 0,66; p < 0,01), estatura (r = 0,42; p < 0,01) e IMC r= 0,37; p < 0,01). O peso isoladamente não se correlacionoude maneira significativa. A atividade física habitual secorrelacionou marginalmente com a DCAM6 na análiseunivariada (r = 0,23; p = 0,07), o que não persistiu na análisemultivariada. DCAM6 foi maior nos homens que nasmulheres, mas a diferença não alcançou significânciaestatística (p = 0,08). Diversos modelos de regressão foramtestados para verificar o melhor ajuste dos dadosantropométricos com a DCAM6. O modelo quadrático foi oque melhor se ajustou, demonstrando o maior coeficiente dedeterminação e os menores valores para o 5º percentil dosresíduos. O modelo encontrado explicou conjuntamente 55%da variação total na DCAM6 (r2 = 0,55). A equação para aDCAM6 prevista, envolvendo ambos os sexos, ficou assimestabelecida: DCAM6 = 511+ altura2 × 0,0066 – idade2 × 0,030“IMC2 × 0,068 (LI = previsto x 0,81), onde a altura é expressaem cm, a idade em anos e o IMC em kg/m2.

Em resumo, o TCAM6 é um teste simples, bem toleradoe reprodutível, requerendo equipamentos de baixo custo.É o teste de exercício mais amplamente utilizado. Naliteratura já foi muito bem descrita sua aplicabilidade.Valores previstos para a população brasileira adulta foramrecentemente derivados.

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Maria Raquel [email protected]

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RESUMINDO E RECORDANDO

AUTORES: Felipe A R Mendes1, Rafael Stelmach2, Alberto Cukier2, Milton A Martins3, Celso R F Carvalho1

SERVIÇOS: 1Departamento de Fisioterapia – Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)2Disciplina de Pneumologia – Instituto do Coração (InCor)3Departamento de Clínica Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (USP)

Papel do exercício físico notratamento do paciente asmático

IntroduçãoA asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas

que causa um aumento da responsividade brônquica frentea diversos estímulos1. A doença possui elevada prevalênciae morbidade1 e, muitas vezes, esta associada commanifestações sistêmicas como obesidade2, desbalanço dosistema nervoso autônomo3, alterações posturais4,inflamação sistêmica5, baixo condicionamento físico6,7,ansiedade, depressão8 e comprometimento das atividadesde vida diária e da qualidade de vida9.

Para os asmáticos, a realização de atividade física é umdesafio, seja pela dispnéia vivenciada durante o exercícioou pelo receio em senti-la, que faz com que o indivíduo evitea realização de esportes e a participação em diversasatividades em grupo o que traz conseqüências psicossociais9.Por essa razão os portadores de asma tendem a ser menosativos e menos condicionados fisicamente que seus paressaudáveis6,7, permanecendo afastados ou inativos dasatividades em grupo, o que contribui para aumentar osentimento de “distância da normalidade” vivenciado poresses indivíduos11,12. A inatividade física resulta em quadrosde dispnéia na presença de esforços cada vez menores,ocasionando aumento progressivo das limitações para arealização das atividades de vida diária (AVD) e deterioraçãoda capacidade funcional do paciente13.

Com todo este comprometimento sistêmico parece lógicoa necessidade de um enfoque que vai além do tratamentoclínico-medicamentoso, e envolva uma abordagemmultiprofissional. Esta idéia vem de acordo com o conceitomais amplo de um programa de reabilitação pulmonar quepode ser definido como um programa multiprofissional decuidados a pacientes com alteração respiratória crônica queengloba o estabelecimento de: 1) diagnóstico preciso dadoença primária e das suas co-morbidades; 2) tratamentofarmacológico; 3) orientação nutricional; 4) programaeducacional; 5) treinamento físico; e, 6) apoio psicossocial.

Nas últimas duas décadas, a introdução de intervençõesnão farmacológicas centradas principalmente na educaçãoe no treinamento físico têm mostrado benefícios quandoassociados ao tratamento clínico-medicamentoso14.

Condicionamento físico para pacientes

asmáticosO conhecimento e o manejo da asma evoluíram de tal

modo que o treinamento físico é hoje considerado um fatorimportante do programa de reabilitação pulmonar15. Otreinamento físico deve objetivar o aumento da capacidadefísica e na independência nas atividades da vida diária (AVD),melhorar a qualidade de vida e reduzir os sintomas dodesconforto respiratório, as internações e o impactopsicossocial ocasionado pela doença15. O paradigmareferente ao condicionamento físico no paciente asmáticocomeça a ser modificado devido aos achados que mostramos seus benefícios nas duas últimas décadas. Neste sentido,já foi demonstrado que mesmo em pacientes em tratamentoclínico-medicamentoso otimizado, o treinamento físicomelhora a capacidade aeróbia máxima (VO

2 máx)16, os fatores

de saúde relacionados à qualidade de vida (FSRQV)17 e ocontrole clínico18 bem como reduz os sintomas de asma17,19,o broncoespasmo induzido pelo exercício (BIE)20 e a respostainflamatória pulmonar21.

Benefícios em criançasOs primeiros estudos avaliando os efeitos do treinamento

físico em crianças asmáticas datam das décadas de 50 e 6022,23.Dentre esses estudos, Petersen e cols.23 aplicaram umprograma de treinamento constituídos de exercícioscalistênicos, jogos e atividades de auto-cuidado em criançasportadoras de asma persistente moderada ou grave emostraram melhora do condicionamento físico, da funçãopulmonar e do rendimento intelectual bem como diminuição

Este trabalho teve o financiamento Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (2009/53817-9 e2009/53904-9) e Conselho Nacional de Pesquisa (480869/04-9).

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 35

do absenteísmo escolar. Posteriormente, Varray e cols.,24

observaram melhora no condicionamento cardiorrespiratórioe redução da ventilação para a mesma carga de trabalho(isocarga), ou seja, um aumento no limiar ventilatório. Alémda melhora no condicionamento cardiorrespiratório, Nedere cols.11 encontraram uma redução do uso decorticosteroides.

Mais recentemente, Fanelli e cols.20 verificaram que otreinamento físico em crianças asmáticas promoveu melhorada capacidade física máxima e sub-máxima bem como dosFSRQV e redução da intensidade do BIE sendo que na maioriadas crianças, o BIE deixou de ocorrer. Interessante notarque estes efeitos ocorreram apesar das crianças do grupotreinado ter recebido menores doses de esteróidesinalatórios. Basaran e cols.19 também avaliaram o efeito dotreinamento físico nos FSRQV e observaram sua melhorabem como redução dos sintomas de asma apenas no grupoque realizou exercício físico.

Benefícios em adultosA asma não é uma doença exclusiva da infância e a sua

prevalência e morbidade em adultos também é elevada25.Segundo DATASUS26 na faixa de adultos jovens (20 a 29anos) a asma tornou-se, em alguns anos, a primeira causa deinternação. Deste modo, o interesse em programas detreinamento fisco nesta população tem crescido. Emtner ecols.27 submeteram 26 adultos portadores de asma leve emoderada a um programa de reabilitação e os seus resultadosmostram uma melhora da função pulmonar, da capacidadede trabalho e da tolerância ao exercício e uma diminuição nafrequência de aparecimento de BIE. Estes benefíciosalcançados após um programa de reabilitação se mantiveram,mesmo após 3 anos do término do programa, principalmentenos pacientes que continuaram a se exercitar por, pelo menos,uma ou duas vezes por semana12.

Cochrane & Clark 28 verificaram que o treinamento físicoaeróbio melhorou a capacidade de exercício que estavaassociado com uma queda dos níveis de lactato sanguíneo,da liberação de dióxido de carbono e da ventilação minutoem relação ao consumo de oxigênio. Essa adaptaçãometabólica ao treino de endurance deve ser particularmenterelevante em pacientes asmáticos por diminuir a ventilaçãodurante o exercício e reduzir a sensação de dispnéia.Somando-se a esses achados, Hallstrand e cols.29 verificaramque após 10 semanas de condicionamento físico aeróbiohouve uma melhora significativa na ventilação voluntáriamáxima e do volume minuto, porém não houve alteração dovolume expiratório forçado no 1º segundo (VEF

1). Esses

achados mostram que o treinamento aeróbio melhora ocondicionamento cardiorrespiratório e reduz a hiperpnéiadurante o exercício o que pode explicar a redução da falta dear durante o esforço.

Acredita-se ainda que a prática de atividades esportivascontribua para aumentar a auto-estima e a confiança dopaciente asmático, que passa a desenvolver uma imagem

positiva de si mesmo e que se contrapõe a sua auto-percepção de estar doente e dependente, fato que poderiaexplicar a redução dos níveis de depressão e ansiedade apósprogramas de treinamento físico nesses indivíduos31. Nestesentido, Mendes et al 17 mostraram que o treinamento físicomelhorou a capacidade aeróbia máxima e reduziu os níveisde depressão e ansiedade em pacientes com asma presidentemoderada ou grave e melhorou os FRQV. Além disto, ospesquisadores observam que os pacientes submetidos aoexercício aumentaram o número de dias livres de sintomasde asma tais como tosse, chiado no peito, falta de ar, entreoutros. Estes resultados foram posteriormente corroboradospelos estudos de Dogra e cols.18 que observaram uma melhorado controle clínico em adultos asmáticos e de Turner e col 30

que verificaram melhora os FSRQV e do controle clínico bemcomo redução da depressão em idosos asmáticos.Interessante notar que o estudo de Mendes e cols.17 mostrouque os pacientes que obtiveram os maiores benefícios foramaqueles que tinham maiores níveis de ansiedade e depressãosugerindo que estes seriam os que mais se beneficiariamcom este tratamento.

Atualmente, ainda são poucas as explicações sobre ospossíveis mecanismos que estão envolvidos com osbenefícios de um programa de reabilitação na asma. Porém,algumas hipóteses são discutidas: 1) aumento dos limiaranaeróbio com consequente redução da ventilação minutopara a mesma carga de trabalho32 ; 2) redução da inflamaçãopulmonar21 ; 3) aumento da auto-estima e da confiança dopaciente que passa a desenvolver uma imagem positiva desi mesmo e que se contrapõe a sua auto-percepção de estardoente e dependente; 4) melhora da capacidade ventilatóriadevido ao aumento da mobilidade da caixa torácica,fortalecimento do diafragma e/ou distensão da musculaturalisa brônquica25.

Prescrição de treinamento físico para

asmáticosO tipo de treinamento físico bem como a intensidade,

frequência e duração são bases fundamentais e através dasua organização dentro do protocolo de treinamentopromoverão as adaptações fisiológicas necessárias paraevolução do condicionamento físico desejado33.

Tipos de treinamento físico: Todas as evidências até opresente momento, avaliaram os benefícios do efeito dotreinamento físico aeróbia (isoladamente ou associado) parapacientes asmáticos, tais como: caminhada, corrida, ciclismo,ginástica, subida de degraus, a dança e a natação15,16,25.Importante notar que, apesar de há muito a natação estarsendo prescrita como a melhor atividade física paraasmáticos, não existem evidências científicas para talprescrição terapêutica. Uma das possíveis explicações parase sugerir a natação é devido ao fato desta atividade serrealizada em ambiente aquecido e úmido o que teoricamentereduziria a intensidade de BIE. Porém, alguns cuidadosdevem ser tomados principalmente no tocante aos níveis de

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cloro da piscina que pode ser um dos desencadeadores decrises asmáticas. É importante ressaltar também que aspiscinas atualmente consideradas mais seguras porque temo tratamento com sal não estão fora dos cuidados porqueelas possuem cloro em menor concentração. Baseado nasevidências da literatura, podemos sugerir que a únicarecomendação quanto à modalidade de exercício é que estaseja aeróbis e englobe grandes grupamentos musculares.

Entretanto, outros fatores também devem ser levados emconsideração para a recomendação da atividade física ouatividade esportiva tais como: a estrutura e a higiene dolocal, a habilidade dos pacientes, as condiçõessocioeconômicas e culturais e a atividade preferida pelopaciente. Consideramos que a melhor modalidade deexercício é aquela em que o paciente melhor se adapte, tenhaprazer em realizá-la, o local seja isento de fatoresdesencadeantes alérgicos e respeite as suas condiçõessócio-econômicas e culturais. Assim, os pacientes terãomaior aderência e rendimento na prática do exercício.

Duração da sessão: Os protocolos de treinamento físicovariam muito quanto à sua duração. No entanto, os trabalhosinclusos na última revisão sistemática16 assim como os estudosclínicos controlados mais recentes.17,18,20,21,30 são realizadosdentro entre 30 a 90 minutos, que é preconizado pelo consensodo Colégio Americano de Medicina do Esporte 33 . É importanteressaltar que, apesar disto, poucos estudos descrevemadequadamente a composição das sessões, ou seja, tempo deaquecimento, condicionamento e recuperação, fatosconsiderados importantes para evitar o desencadeamento deBIE 34. Pela nossa experiência, recomendamos que o tempo deaquecimento e desaquecimento seja entre 5 e 10 minutos e otempo de condicionamento superior a 20 minutos.

Intensidade: A intensidade do exercício é o principal fatorpara desencadear as adaptações crônicas e docondicionamento físico33. Para asmáticos, a intensidadeaplicada nos protocolos de treinamento físico varia demoderada a alta16, 17,18,20,21,30. O teste cardiopulmonar deesforço que determina a capacidade aeróbia máxima (VO

2max)

é considerado padrão ouro para prescrição da intensidadedo exercício33 e seu uso tem sido freqüente nos estudos compacientes asmáticos16, 17,18,20,21. Entretanto, o seu custo edificuldade de realização no dia-a-dia, tornam difícilprescrever a atividade baseado neste teste. Por causa disto,outras ferramentas têm sido utilizadas tais como: a escala depercepção de esforço (Borg), a frequência cardíaca máximapredita para a idade27 e a de reserva35 , o teste de caminhadade seis minutos30, o Shuttle Walk Test36 e o limiaranaeróbio37.

Baseado em nossa experiência, parece importante aassociação de, pelo menos, dois parâmetros para a prescriçãodo exercício devido à grande influência que o tratamentomedicamentoso tem na frequência cardíaca e também pelavariabilidade clínica do paciente e da sua função pulmonar(mensurada pelo pico expiratório de fluxo) ao longo do

programa do treinamento. Desta forma, é possível minimizaro desconforto e os riscos por um treinamento acima daintensidade tolerada assim como evitar que o treinamentoesteja aquém da capacidade dos pacientes.

Frequência: Para uma melhor adaptação fisiológica, oACSM33 recomenda uma freqüência do programa deatividade física entre 3 a 5 vezes por semana, entretantoessa variável depende muito da intensidade e duração dotreinamento. Porém, grande parte dos estudos avaliando oefeito da reabilitação de pacientes asmáticos apontam que afrequência de duas vezes é suficiente para trazer bombenefícios aos pacientes asmáticos. Apesar disto, éimportante ressaltar que talvez uma maior frequência detreinamento pode promover uma melhora da capacidadefísica mais rápida e de maior amplitude. Se considerarmos aaderência do paciente, os custos e as limitações de estruturafísica, a realização do treinamento de 2 a 3 sessões semanais,pode apresentar a melhor relação custo-benefício.

Duração do Programa: A duração ideal deve ser aquelaque produz os efeitos máximos em cada um, sem tornar-seonerosa38. Na literatura,os programas para pacientesasmáticos variam entre 4 e 24 semanas porém, a grandemaioria dos estudos utilizam programas de reabilitação comduração de 8 a 12 semanas.

Perspectivas futurasApesar das evidências sobre os benefícios do exercício

físico em pacientes asmáticos observado nas duas últimasdécadas, várias questões ainda permanecem em aberto taiscomo: i) os mecanismos que levam a melhora dos sintomas,FSRQV e a inflamação pulmonar nos pacientes asmáticos; ii)o efeito do exercício físico na hiperrresponsividade brônquicae na mecânica respiratória; iii) os efeitos do exercício físico alongo prazo e como aumentar a adesão do paciente asmático;e, iv) os benefícios de outras modalidades de exercício taiscomo exercícios resistidos e o treinamento intervalado.

ConclusãoAs repercussões clínicas da asma vão além das desordens

pulmonares, o que reforça a necessidade de uma abordagemmultidisciplinar do paciente. Evidências científicas recentesdemonstram que a melhora do condicionamento físico exerceum importante papel na melhora clínica e funcional dospacientes asmáticos que, associadas ao baixo custo e aausência de efeito colateral do exercício, sugerem a suaindicação na prática clínica desde que os pacientes estejamem tratamento clínico-medicamentoso.

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38 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

Intolerância ao exercício no pacientecom DPOCAUTORES: Rodrigo Russo, Vinicius Carlos Iamonti, José Roberto Jardim

SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia e Centro de Reabilitação Pulmonar da Universidade Federal deSão Paulo (Unifesp)/Associação de Assistência à Criança com Deficiência (AACD).

A limitação na realização da atividade física é umacaracterística na doença pulmonar obstrutiva crônica(DPOC) e contribui para a má qualidade de vida doindividuo. Deve-se entender a DPOC como uma doençamultifatorial e considerar os vários mecanismosfisiopatológicos que a determinam. Em acréscimo, há oconcomitante efeito do envelhecimento e de múltiplascomorbidades associadas, com mecanismos complexos emultifatoriais, que determinam fatores adicionais àintolerância ao exercício no paciente com DPOC1.

É improvável que todos os pacientes com DPOC tenham“uma mesma principal limitação” ao realizar exercícios ouatividades da vida diária. A performance e manutenção doexercício dependem, basicamente, da interação perfeita entreos sistemas que comandam e controlam a ventilação, a trocagasosa, o fluxo de sangue, a hemoglobina, o transporte deO

2/CO

2, a utilização de O

2 e produção de CO

22.

A DPOC é uma doença inflamatória que afeta as viasaéreas, os alvéolos e a circulação pulmonar. A redução datração radial das vias áreas e o aumento da complacênciapulmonar do enfisema, pode levar ao aumento nacompressão dinâmica das vias aéreas durante o exercício,ao passo que a bronquite crônica aumenta a resistênciadas vias aéreas pelo aumento do tônus broncomotor2.

Durante um teste de exercício cardiopulmonar, acapacidade do paciente com DPOC em aumentar seu volumecorrente e a ventilação pulmonar é limitada, o tempoexpiratório torna-se mais curto e o aparecimento do sintomade dispnea é evidente, ocasionando uma interrupçãoprecoce do teste. Esta intolerância para continuar arealização do teste ocorre bem antes dos sistemas cardíacoe muscular periférico terem sido estressados até os seuslimites funcionais. Por esta razão, convencionalmente é ditoque o paciente com DPOC interrompe o exercício por umalimitação ventilatória3.

A ideia de intolerância ao exercício na DPOC é deconstrução multifatorial e pode ser apreciada sob diferentespontos de vista. A interrupção do exercício na DPOCcausada pelo maior trabalho e consumo de O

2 pela

musculatura respiratória, pela disfunção da musculaturaesquelética de membros inferiores e o mecanismo dehiperinsuflação pulmonar dinâmica causado pela limitaçãodo fluxo expiratório, atuando isoladamente ou em conjunto,

são as evidências mais aceitas na literatura para determinara origem do mecanismo de intolerância.

A seguir veremos o papel determinante de cadamecanismo na limitação ao exercício.

O papel do fornecimento inadequado deenergia para os músculos respiratórios eperiféricos

Durante o teste de exercício cardiopulmonar empacientes com DPOC, uma hipótese sobre a incapacidadede manutenção do exercício por um longo período é a altademanda energética imposta ao paciente com fornecimentoinsuficiente de energia (oxigênio) para os músculosesquelético e respiratórios.

Segundo Aliverty and Macklem, parte da alta demandaenergética durante o exercício nos pacientes com DPOCestá relacionada com o alto consumo de O

2 pelos músculos

respiratórios, principalmente o compartimento abdominal,o qual foi denominado de “VO

2 respiratório”. Em indivíduos

saudáveis, o VO2 respiratório varia de 1 - 3 ml/L respirado e

na DPOC, de 6,3 - 16,4 ml/L respirado. A ampla variação doVO

2 respiratório encontrado entre os pacientes com DPOC

pode refletir a maior variação no trabalho respiratório numdeterminado exercício entre os pacientes4,5.

Relato na literatura demonstrou que em um teste deexercício em pacientes com DPOC com a mesma cargametabólica (10 Watts) e ventilação pulmonar, o gruporecrutador da musculatura abdominal apresentou um VO

2

respiratório de 12 ml/L e o grupo não recrutador damusculatura abdominal de 6 ml/L (p < 0,05), ou seja, otrabalho respiratório foi duas vezes maior no gruporecrutador da musculatura abdominal, cursando com maiordispneia e menor tolerância ao exercício. A ativação dosmúsculos expiratórios (compartimento abdominal) é umaresposta normal ao exercício, no entanto os pacientes comDPOC não conseguem aumentar a ventilação pulmonardevido ao aumento progressivo da pressão pleural,limitando o fluxo expiratório6. Embora o recrutamento damusculatura abdominal seja benéfico durante o exercíciopara os indivíduos saudáveis, para o paciente com DPOCpode ser prejudicial6. Os autores comentam sobre os valoresencontrados para o VO

2 pico de 830 ml/min para os

recrutadores e 1327 ml/min para os não recrutadores.Subtraindo-se os valores do (VO

2 respiratório – VO

2 pico),

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os autores sugerem que se os músculos do compartimentoabdominal receberem a maior parte da oferta de oxigêniodurante o exercício, os músculos periféricos e outros tecidoscorporais irão receber um aporte insuficiente de O

2 e isto

explicaria o inicio precoce da acidose metabólica, devido ácompetição entre os músculos respiratórios e periféricos peloaporte de energia disponível para manter o exercício6. Talvezeste fenômeno de “roubo” de oxigênio pelos músculosrespiratórios explique porque 81% dos pacientesinterrompem o exercício por sintoma de cansaço na pernaisoladamente ou em conjunto com sintoma de dispneia.

Em resumo, o padrão respiratório dos pacientes comDPOC não-recrutadores é anormal, uma vez que osmúsculos abdominais não são recrutados uniformementedurante o exercício. Contudo, o desempenho durante oexercício dos não recrutadores é melhor do que osrecrutadores da musculatura abdominal. Isto sugere que,com a progressão da DPOC, os pacientes passam a nãorecrutar os músculos abdominais durante o exercício.Infelizmente, sem a contração da musculatura abdominalos pacientes hiperinsuflam. Os autores sugerem que oaparecimento da hiperinsuflação pulmonar dinâmica éresultado de um fornecimento de energia insuficiente paraatender a demanda de energia necessária na manutençãodo exercício na DPOC7.

O papel da disfunção da musculatura demembros inferiores

O prejuízo funcional no paciente com DPOC éevidenciado pela baixa capacidade de caminhar e pedalarem um cicloergometro. A piora no estado funcional,caracterizado pela diminuição na realização das tarefas davida diária, está associada com pior qualidade de vida, anecessidade de mais cuidados e aumento da mortalidadenesta população8.

O prejuízo na função pulmonar causado pela DPOC, porsi só, não é capaz de explicar a intolerância ao exercícionesta população. A baixa correlação entre o VEF

1 ou a CI

(capacidade inspiratória) e a tolerância ao exercíciodemonstra que outros fatores devem estar associados.Embora o sistema ventilatório esteja funcionando comsérios prejuízos no paciente com DPOC, a limitaçãoperiférica na DPOC é frequente9.

A Hipotrofia muscular dos membros inferiores é descritaem 21% a 45% dos pacientes com DPOC. Ela pode nãoestar associada com perda de peso corporal e relaciona-seà alta prevalência de fraqueza muscular e suscetibilidade àfadiga muscular que ocorre nesta população10,11.

Um estudo demonstrou que para uma determinada cargade trabalho, a percepção de fadiga na musculatura da pernaé mais evidente nos pacientes com fraqueza muscularcomparado com os pacientes com mais força muscular; acapacidade máxima de exercício é menor nos pacientes commaior fraqueza muscular. A força muscular do quadrícepstem um importante papel na capacidade de exercício,independente da doença pulmonar12.

À luz da análise em nível celular, modificações de ordem

morfológica e estrutural tem sido observadas no músculode pacientes com DPOC nos estádios mais avançados dadoença. Estas modificações comprometem a performancemetabólica e a capacidade de gerar força dos músculos. Demaneira especifica, as mudanças morfológicas incluemredução na proporção de fibras do tipo I, assim como naredução da área seccional das fibras tipo I e II. Estaobservação sugere que este déficit na proteína contrátil domúsculo é a responsável, tanto pela hipotrofia quanto paraa fraqueza muscular os quais contribuem para a menorcapacidade de tolerar o exercício na DPOC13.

As alterações energética e estrutural descritas nomúsculo do paciente com DPOC estão associadas à reduçãoda proporção da cadeia de miosina pesada e diminuição dacapacidade oxidativa das enzimas, dois importantescomponentes para maior resistência ao exercício. A reduçãona capacidade oxidativa se associa à baixa capacidade deexercício na DPOC, independente da função pulmonar12.

A ativação precoce do sistema glicolitico para a produçãode energia no início do exercício em pacientes com DPOC,resultam em alta concentração de fosfatos inorgânicos e umaprematura acidose muscular por conta do acúmulo na produçãode lactato, dois eventos bioquímicos que comprometem acapacidade de sustentar a contração muscular e a performancedurante o exercício. Estas adaptações do sistema bioquímicopara o fornecimento de energia para o tecido muscular indicamque tais adaptações são inapropriadas para sustentar asnecessidades metabólicas e mecânicas e fornecem fortesevidências da associação da disfunção muscular com aintolerância ao exercício8.

O importante papel da disfunção muscular dos membrosinferiores na intolerância ao exercício foi comprovada porum estudo que avaliou o impacto da fadiga muscularanalisando a ação broncodilatadora em resposta aoexercício. Neste estudo, a ocorrência da fadiga musculardo quadríceps, após o exercício realizado com umcicloergômetro com carga constante, não foi impedida pelaação broncodilatadora14. Os pacientes com DPOC comqueixa de fadiga em membros inferiores como o principalfator limitante ao exercício são menos responsivos ao usode broncodilatadores em comparação com aqueles que sãolimitados pela dispneia. Estes estudos ilustram como alimitação periférica exerce um papel fundamental noexercício, dificultando os benefícios de intervençõesdestinadas a melhorar a função pulmonar14.

A reabilitação pulmonar é uma boa ferramenta destinadaa melhorar a função muscular e tem um impacto positivo edireto na tolerância ao exercício. A melhora consistente natolerância ao exercício ocasionada com a reabilitação ouatividade física é basicamente atribuída aos efeitos sobre afunção dos músculos dos membros inferiores e superiores,caracterizada por ganho de força muscular, redução dafadiga e maior capacidade aeróbia15.

Ao final, estes benefícios fisiológicos periféricoscontribuem para a redução das necessidades ventilatórias,hiperinsuflação dinâmica e dispneia, benéficos que sãofrequentemente relatados após o treinamento físico8.

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40 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

Em resumo, os músculos dos membros inferiores empacientes com DPOC são fracos, ineficientes metabolicamentee fadigáveis. Estas características musculares favorecem alimitação do exercício, característico em pacientes com DPOC.Estudos apoiam a ideia de que a disfunção muscular demembros inferiores contribui muito para a limitação aoexercício9. É possível que estas afirmações sejam tambémválidas para os membros superiores.

O papel da hiperinsuflação pulmonardinâmica na intolerância ao exercício na DPOC

A limitação do fluxo aéreo está relacionada à combinaçãoda redução do recolhimento elástico pulmonar e ao aumentoda resistência das vias aéreas, levando ao aprisionamentoaéreo com consequente hiperinsuflação estática, que éagravada com a realização de atividades da vida diária edurante o exercício, ocasionando hiperinsuflação pulmonardinâmica. A limitação ao fluxo expiratório e a hiperinsuflaçãopulmonar são características da DPOC, mas pode serparcialmente reversíveis com o uso de broncodilatadores16.

De modo geral, ocorre aumento dos volumes pulmonaresna DPOC que, associado ao desenvolvimento insidioso dahiperinsuflação torácica, durante anos de doença, podeaumentar a capacidade diafragmática como um mecanismocompensatório. A presença de hiperinsuflação pulmonar emrepouso expressa que a capacidade do paciente em aumentara ventilação em situações como no exercício está bastantecomprometida16.

A redução acentuada ou ausência da reserva ventilatóriadiagnostica a presença de limitação ventilatória. A análise dacurva fluxo-volume durante o exercício pode revelar limitaçõesna geração de fluxo e expansão do volume, mesmo na presençade uma reserva ventilatória adequada, calculada pela relaçãoVE do esforço pela VVM estimada (VVM- ventilação voluntáriamáxima)17 18. A baixa capacidade inspiratória (IC), refletindoaumento do volume pulmonar expiratório final (EELV) empacientes com limitação ao fluxo expiratório, está associada àredução do pico de oxigênio, confirmando que fatoresmecânicos contribuem de modo importante para a limitaçãoao exercício19. Assim, mesmo com o recrutamento damusculatura envolvida na respiração a hiperinsuflaçãopulmonar dinâmica ocorre quando existe aumento temporárioe variável do volume pulmonar expiratório final acima dovalor de repouso em pacientes com DPOC18,20.

Um acréscimo adicional do volume pulmonar expiratóriofinal resulta do encurtamento do tempo expiratório. Comoconsequência, o individuo passa a ventilar em volumespulmonares mais altos, com menor complacênciatoracopulmonar, obrigando ao desenvolvimento de maiorespressões pleurais para promover uma determinada expansãopulmonar. A consequência é o aumento do trabalho elásticorespiratório, que leva à dispneia21.

A afirmação que a hiperinsuflação pulmonar contribuisignificativamente para aumento da dispneia e intolerânciaao exercício em paciente com DPOC está baseada em umaserie de estudos clínicos22-24. Estes mostram que o uso debroncodilatadores promove uma dilatação das vias aéreas,

diminuindo o tempo para esvaziamento alveolar durante aexpiração. Um aumento da capacidade inspiratória (refletindodesinflação pulmonar) de aproximadamente 300 ml,equivalente a 10-15% do previsto, tem se mostradoclinicamente significativo. A obtenção de maior capacidadeinspiratória é atingida com o uso da associação debroncodilatadores de longa duração.

Em pacientes com DPOC moderada a grave o aumento da CI emrepouso ou durante o exercício tem sido observada e correlaciona-se bem com um maior pico de consumo de O

2, aumento do

volume corrente e redução da intensidade da dispneia18,25.Com a hiperinsuflação progressiva, ocorre uma maior

dificuldade em aumentar o volume corrente e o aumento daventilação torna-se dependente do aumento da frequênciarespiratória. O aumento da frequência respiratória leva àredução do tempo expiratório, aumento dos volumespulmonares e da dispneia. A maneira prática de estimar ahiperinsuflação dinâmica no exercício é a medida dacapacidade inspiratória seriada, considerando-se que, como aumento do volume pulmonar expiratório final, acapacidade inspiratória será tanto menor quanto maior ahiperinsuflação pulmonar26. Considera-se que a diminuiçãode 150 ml ou 10% da capacidade inspiratória expressahiperinsuflação pulmonar.

A redução farmacológica do volume pulmonar estáassociada a uma pequena melhora cardiovascular durante oexercício. Em pacientes cuidadamente selecionados paracirurgia redutora de volume pulmonar observou-seresultados semelhantes aos obtidos com tratamentomedicamentoso (redução dos volumes pulmonares e melhorada dispneia e do desempenho ao exercício). Porém, a cirurgiaredutora de volume pulmonar não foi associada a umresultado positivo a curto e longo prazo em relação aosefeitos hemodinâmicos17,27.

Em pacientes com DPOC, durante o exercício a capacidadepulmonar total permanece constante. Assim, é possívelquantificar a capacidade inspiratória após a realização deuma manobra inspiratória máxima até a capacidade pulmonartotal18. Finalmente, o uso de oxigênio e treinamento físicoregular reduzem a taxa de hiperinsuflação dinâmica duranteo exercício, principalmente pela redução da frequênciarespiratória, o que contribui para a melhora da dispneia e daresistência ao exercício.

Em resumo, a DPOC caracteriza-se por limitação do fluxoaéreo e a dispneia é um de seus sintomas mais comuns.Medir a hiperinsuflação pulmonar é importante para aidentificação e acompanhamento dos pacientes com DPOC.Assim, a manobra de capacidade inspiratória (CI) deve serusada para monitorar a hiperinsuflação dinâmica induzidapelo exercício, considerando que a capacidade pulmonar totalnão se altera no exercício. Assim, as mudanças na CIrefletem mudanças na capacidade de exercício. Diversasintervenções que melhoram a capacidade ao exercícioestão diretamente ligadas à redução da hiperinsuflaçãopulmonar, como a terapia com broncodilatadores,suplementação de oxigênio durante atividade física eprograma de reabilitação pulmonar.

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 41

Considerações finaisA limitação para a realização da atividade física é uma

característica presente na doença pulmonar obstrutivacrônica, contribuindo para a percepção do estado de saúdedo individuo e para o diagnóstico precoce. Assim, entendera DPOC como uma doença sistêmica e considerar os váriosmecanismos fisiopatológicos que a determinam, além doconcomitante efeito do envelhecimento e de múltiplascomorbidades associadas, é de fundamental importância paraa compreensão dos mecanismos complexos e multifatoriaisque determinam a intolerância ao exercício na DPOC. Ofornecimento inadequado de energia para os músculosrespiratórios periféricos, a disfunção da musculatura dosmembros inferiores e a consequente hiperinsuflaçãopulmonar constituem importantes fatores que determinam alimitação ao exercício nos pacientes com DPOC.

O uso de broncodilatador, suplementação de oxigêniodurante atividade física, a reabilitação pulmonar e,principalmente, a educação em saúde (com o entendimentoda doença, das limitações e o alto manejo) constituemmedidas importantes para a melhora da limitação ao exercícioe consequentemente para uma melhora na qualidade de vida.

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Rodrigo [email protected]

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42 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

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RELATO DE CASO

Limitação cardiocirculatóriaAUTORES: Roberta Pulcheri Ramos, José Roberto Megda, Jaquelina Sonoe Ota Arakaki

SERVIÇO: Grupo de Circulação Pulmonar da Disciplina de Pneumologia da Universidade Federal deSão Paulo (Unifesp)

Paciente do sexo masculino de 55 anos, iniciou históriade dispneia progressiva e síncopes há 20 anos. Apósinvestigação, foi feito diagnóstico de hipertensão arterialpulmonar (HAP) associada a cardiopatia congênita (CIA nãooperada), confirmada por cateterismo direito (índice cardíaco= 2,4 L/min/m2, pressão de átrio direito = 9 mmHg). Foi iniciadotratamento com sildenafila 20mg 8/8h e houve melhora clínicae funcional significativa com o tratamento. Há um ano,entretanto, paciente apresentou piora dos sintomas,associada a episódios recorrentes de angina aos esforços.

Realizou-se teste de exercício cardiorrespiratório (TECR)que mostrou estabilidade das respostas metabólicas,ventilatórias e cardiovasculares durante o esforço,comparativamente a exame anterior. Curiosamente,entretanto, analisando-se o padrão de incremento do pulsode oxigênio, observou-se queda anormal no pico do esforço(Figura 1). Paciente apresentou, subsequentemente,desconforto torácico que aliviou após o repouso. Nãohouve alterações de segmento ST durante o exame.

O pulso de oxigênio (VO2/FC) é a expressão do consumo

de oxigênio realizado a cada batimento cardíaco.Relembrando a equação de Fick para o débito cardíaco,temos que:

DC = V’O2 x D(a-v)O

2

Substituindo o DC pelo seus componentes (volume

Fig. 1. Comportamento da frequência cardíaca e do pulso de oxigênio (V’O2/FC) durante o teste de exercício dinâmico incremental. Nota-

se, no primeiro quadro, a queda do pulso de oxigênio no pico do exercício (linha tracejada preta). O segundo quadro demonstra a mudançada inclinação da frequência cardíaca em relação ao consumo de oxgênio (seta). No último quadro, percebe-se a diferença entre ainclinação inicial (linha tracejada azul) e a sua mudança posterior (linha tracejada preta), cujo intercepto passa a ser zero – ou seja, todavariação de consumo a partir desse ponto pode ser matematicamente explicada apenas por variações da FC.

sistólico e frequência cardíaca), chegamos aosdeterminantes do pulso de oxigênio:

FC x VS = VO2 x D(a-v)O

2

V’O2 / FC = VS x D(a-v)O

2

O pulso de O2, desse modo, depende do volume de

sangue ofertado e da habilidade periférica de extrair oxigênio(refletida aqui pela diferença arterio-venosa de O

2). O

aumento da diferença arteriovenosa de oxigênio durante oesforço é decorrente essencialmente da redução doconteúdo venoso misto de oxigênio devido ao aumento daextração periférica. A D(a-v)O

2 aumenta durante o exercício

de maneira hiperbólica e varia pouco após atingir seusvalores máximos (cerca de 15-16mL.dL-1 no exercíciomáximo)1. A inabilidade de incremento adequado do volumesistólico durante o exercício, portanto, pode serresponsável pelo baixo aumento do pulso de O

2 com

formação precoce da assíntota (platô). É importantesalientar que o padrão anormal de incremento durante oesforço, e não apenas o seu valor de pico reduzido, podetrazer informações relevantes sobre a gravidade dodesempenho cardiovascular no exercício de pacientes comlimitação cardiocirculatória (Figura 2).

As alterações acima são presentes em pacientes comHAP mas também podem ser encontradas em pacientes com

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insuficiência cardíaca esquerda. Apesar de ambas entidadescompartilharem mecanismos fisiopatológicos, a inabilidadede incremente adequado do volume sistólico durante oesforço parece ser mais proeminente na HAP. Tal fato culminaem alterações mais significativas no pulso de oxigênio2.

Pacientes com HAP podem, portanto, apresentaralterações importantes como ascensão reduzida e presençade platô durante o teste ou até mesmo queda do pulso nopico do esforço, relacionada à gravidade da doença. Noexemplo D da figura 2, por exemplo, nota-se quedaimportante do pulso de O

2 em paciente de 25 anos com

HAP idiopática grave, em CF NYHA III, com índice cardíacode repouso de 1,8L/min/m2.

A queda do pulso de O2, entretanto, pode também

representar um sinal de isquemia miocárdica em pacientescom suspeita clínica, mesmo com função ventricular derepouso preservada3. Indica a presença de lesõesvasculares que se manifestam apenas com o aumento dademanda miocárdica. Isso é compensado, parcialmente,por uma resposta taquicárdica ao final do exercício. Demaneira interessante, a queda do pulso de O

2 pode preceder

alterações eletrocardiográficas e até mesmo os sintomasdo paciente, sendo uma ferramenta útil para detecção dealterações isquêmicas4.

No presente caso, como o paciente apresentava doençaestável e devido à faixa etária e aos sintomas relatados,considerou-se a alteração no pulso como secundária apossível lesão isquêmica. Foi realizado cateterismo cardíaco

Fig. 2. A) Comportamento fisiológico de incremento do pulso de oxigênio com seu valor máximo dentro dos valores previstos; B)Incremento linear do pulso de oxigênio mas com seu valor máximo abaixo do esperado; C) Incremento acentuadamente reduzido do pulsode oxigênio com presença de platô desde o início do esforço; D) Presença de platô precoce com posterior queda no pulso de oxigênio.

esquerdo que confirmou lesão obstrutiva em artériacoronária descendente anterior de 50% e presença de pontemiocárdica. Não havia sinais de piora da disfunçãoventricular direita nas medidas hemodinâmicas docateterismo direito (IC 2,8L/min/m2, PAD 10mmHg).

ConclusãoO TECR é uma ferramenta útil no acompanhamento de

pacientes com HAP. A análise qualitativa do comportamentodo pulso de oxigênio pode ajudar na avaliação da gravidadedestes doentes e também pode contribuir no diagnósticodiferencial com doenças isquêmicas, antes mesmo daocorrência de alterações no segmento ST.

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Roberta Pulcheri [email protected]

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46 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

Teste de exercício cardiopulmonarnas doenças neuromuscularesAUTORES: Ana Cristina Oliveira Gimenes, Luiz Eduardo Nery

SERVIÇO: Setor de Função Pulmonar e Fisiologia Clínica do Exercício (Sefice) – Disciplina de Pneumologiada Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

IntroduçãoSob a denominação genérica de doenças neuromusculares

(DNM), agrupam-se grupos heterogêneos de afecçõesdecorrentes do acometimento primário da unidade motora,composta pelo motoneurônio medular, raiz nervosa, nervoperiférico, junção mioneural e músculo. Nas crianças, a maiorparte destas afecções é geneticamente determinada, sendoas doenças neuromusculares adquiridas bem mais raras doque em adultos1.

A progressão das doenças varia consideravelmente. Osdéficits podem incluir diferentes graus de fraqueza muscular,perda de sensibilidade, dor, fadiga e disfunção autonômica,podendo haver a combinação entre esses sintomas clínicos.Independente dos sintomas ou da velocidade de progressãoda doença, os pacientes com doença neuromuscular, emgeral, apresentam comprometimento da funçãomusculoesquelética, evoluindo com limitação ventilatória eda capacidade de exercício, o que determina a piora naqualidade de vida1,2. Existem mais de 600 fenótipos descritospara as doenças neuromusculares, sendo o diagnóstico,determinado pelos sinais semiológicos, tais comofasciculações, hipotonia, fenômenos miotônicos (ausênciade relaxamento após a contração voluntária muscular), sinaisclínicos associados a alterações sistêmicas (hepáticas oucardíacas) ou metabólicas (acidose láctica), e aindamanifestações neurorradiológicas. Classicamente odiagnóstico é determinado ainda pela determinação dasenzimas musculares, principalmente creatinofosfoquinase(CPK), da eletromiografia (EMG) e da biópsia muscular, ouainda através de marcadores moleculares1,2,3. Fato é que agrande maioria dos pacientes não experencia a avaliação dacapacidade funcional pelo teste de exercício cardiopulmonar.

Quando se considera que o paciente comcomprometimento neuromuscular tem indicação para o testede exercício, (i.e. avaliação da dispneia, avaliação física empacientes com doença lentamente progressiva, avaliação pré-operatória), diversos estudos determinam que não hápadronização dos testes, com grande variabilidade nosprotocolos, sejam eles incrementais ou de carga constante,nível de carga a ser incrementada no teste máximo e dacorreta utilização de grupo controle ou valores previstospara a comparação. Apesar dessas diferenças de protocolosna população de pacientes com doença neuromuscular

estudada (distúrbios rapidamente ou lentamenteprogressivos), constata-se redução consistente no consumomáximo de oxigênio ( O

2max) ou no pico do exercício

(O2pico), na ventilação pulmonar, na carga de trabalho

atingida no teste. Alguns estudos também relatam maiorfrequência cardíaca em repouso, muitas vezes atribuídatambém ao descondicionamento físico. Na DistrofiaMuscular de Duchenne, por exemplo, estudos apontamredução de 32% no volume sistólico e de 53% no débitocardíaco durante o exercício máximo. Um estudo recente depacientes com polimiosite e dermatomiosite crônicademonstrou uma redução de quase 50% no O

2 de pico em

comparação a indivíduos controles sem deficiência2. As etiologias para a redução da capacidade de exercício

em pessoas com doenças neuromusculares são provavelmentedependentes do transtorno específico. Em algumas doençastais como a Distrofia Muscular de Duchenne, a presença decardiomiopatia ou de padrão ventilatório restritivo pelafraqueza dos músculos respiratórios pode ser fator primáriopara a redução da capacidade funcional, portanto, colaborandopara a queda do O

2 nesses pacientes. Em doenças sem o

envolvimento cardiopulmonar aparente, a degeneração da fibramuscular, associado à falta de condicionamento físico (pelamanutenção de estilo de vida sedentário adotado por essespacientes) corrobora para a intolerância ao exercício e maiorsintomatologia nas atividades de vida diária, piorando aqualidade de vida2,3,4,5.

Intolerância ao exercício físico na DNMComo descrito acima, a intolerância ao exercício aparece,

principalmente, como resultado da diminuição da capacidadeoxidativa muscular: atividades facilmente toleradas porindivíduos sadios provocam fadiga precoce em pacientescom DNM6.

Na literatura, uma das doenças mais avaliadas pelo testede exercício cardiopulmonar é a Miopatia Mitocondrial(MM), na forma Oftalmoplegia Externa Progressiva (OEP),caracterizando a forma mais leve da doença, normalmentesem limitação para as atividades de vida diária. Este fato nãominimiza uma queixa frequente de pacientes com DNM:incapacidade em realizar as atividades de vida diária semfadiga ou dispnéia. Especificamente nos pacientes com MM,diversos protocolos de avaliação física foram aplicados na

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 47

tentativa de avaliar o consumo máximo de oxigênio (O2máx),

débito cardíaco (QT), diferença do conteúdo artério-venosode oxigênio (C(a-v)O

2), lactato sanguíneo, medidas de

fosfocreatina (PCr) e fosfato inorgânico (Pi), relação lactato/piruvato, assim como o metabolismo muscular porressonância magnética espectroscópica6,7. As deficiênciasde enzimas mitocondriais causam uma limitação proporcionalda fosforilação oxidativa e, como consequência, inícioprecoce da glicólise anaeróbia no exercício.

Respostas cardiopulmonares e metabólicas

no TECP incremental de pacientes com MM.A análise das modificações cardiovasculares, respiratórias

e metabólicas que ocorrem durante o esforço é método deeleição no estudo da intolerância ao exercício, particularmenteem portadores de miopatias. A utilização de exercícios físicospara a avaliação de doenças musculares permite determinarevolutiva e quantitativamente o grau de incapacidadefuncional do paciente, além de possibilitar a reproduçãocontrolada dos sintomas e alterações laboratoriaisrelacionados ao esforço físico7.

Diversos estudos demonstraram respostas cardíacas erespiratórias anormais ao exercício em pacientes com MM naforma OEP. Entre os principais achados encontra-se a reduçãodo consumo máximo de oxigênio (O

2), maior valor do coeficiente

de troca respiratória (R) no exercício máximo, assim comoaumento dos níveis de lactato sanguíneo durante o exercícioe no período de recuperação, em relação a indivíduoscontroles8. Estes achados são associados ao menordesempenho ao exercício devido a falência energética celular.

Os testes de função pulmonar, em pacientes com MM,são, na maior parte das vezes normais, embora tenha sidorelatado valor da capacidade residual funcional discretamentemais elevado6,7. Entretanto, esses pacientes apresentamredução da ventilação voluntária máxima (VVM), interrupçãoprecoce do exercício ora primariamente por dispnéia, fatoesse associado a valores estatisticamente menores de PImáxe PEmáx, ora por fadiga nos membros inferiores, quandocomparados aos controles6,9.

Dados recentemente publicados por nosso grupo deestudo, mostraram que pacientes com Miopatia Mitocondrialapresentam redução da capacidade máxima de exercício,destacando-se, a redução significante da carga e do O

2 pico,

tanto em valores absolutos quanto em porcentagem doprevisto, além de maior desconforto dos membros inferioresrelacionado à carga de trabalho (Borg MMII/Carga)8.Demonstramos ainda a análise da inclinação “O

2/”Carga, um

índice de eficiência metabólica que foi reduzido nos pacientescom MM; sendo o valor desta inclinação positivamentecorrelacionado com o limiar anaeróbio (Figura 1) enegativamente relacionado à relação lactato/carga no picodo exercício8 (r=0,69 e -0,71 respectivamente) (Figura 2).

Com relação à resposta cardiovascular, tem sido descritonos pacientes com MM um quadro “hipercirculatório” ouainda de “resposta cardiovascular hipercinética” 10,11,112. Uma

Fig. 2. Regressão univariada simples entre a inclinação “ O2/

”Carga e da relação Lactato/ Carga no pico do exercício nospacientes com Miopatia Mitocondrial.

possível explicação para esta apresentação fisiopatológicaé o comprometimento da fosforilação oxidativa, umcomponente crítico da regulação circulatória durante oexercício. Neste caso, a deficiência mitocondrial, gerandoprejuízo na fosforilação oxidativa, diminui a possibilidadede consumo mitocondrial do oxigênio, o que determinariaum exagerado aumento no transporte e na oferta de oxigênioaos tecidos, relativo à taxa de metabolismo muscularperiférico observada no exercício8,11,13.

Vários estudos, ao avaliarem de forma não invasiva odébito cardíaco (DC) e a extração periférica de oxigênio depacientes com MM, submetidos a TECR incremental,obtiveram valores de O

2 máximo reduzidos associados a

menor extração de oxigênio tecidual14. Esses pacientesapresentam menor FC no pico do exercício assim como umaredução na relação O

2/FC, o que sugere uma reserva cronotrópica

no exercício máximo, mas por outro lado, os mesmos apresentam

Fig. 1. Regressão univariada simples entre a inclinação “ O2”

Carga e do O2 no Limiar anaeróbio nos pacientes com Miopatia

Mitocondrial.

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48 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

elevação da inclinação “FC/”O2 quando comparados com

controles o que também sugere uma respostacardiovascular “hipercinética”, ou seja, elevações maisacentuadas da frequência cardíaca para uma dada carga detrabalho8,12,13,14.

Considerando as respostas ventilatórias ao exercícioincremental, pacientes com MM apresentam menor stressventilatório em relação aos controles, observados pelosmenores valores do Volume corrente, frequência respiratória eda VE, nesta situação, sugerindo reserva ventilatóriapreservada, apesar da presença de redução da força muscularrespiratória. Por outro lado, esses pacientes possuemsignificante aumento da dispnéia relacionada à ventilação(Borg dispnéia/VE) no pico do exercício; e maior inclinação“VE/”VCO

2, o que indica resposta ventilatória anormalmente

elevada em relação à produção de CO2 em esforços

submáximos. Estes achados são descritos na literatura comoestado “hiperventilatório”, sendo o aumento exagerado daventilação, relacionado também ao prejuízo da fosforilaçãooxidativa. Um dos prováveis mecanismos explicativos deve-se ao excesso da produção de CO

2 decorrente da remoção do

lactato, produzido precocemente durante o exercício. Hipótesealternativa sugere que a hiperventilação pode estar associadaa um aumento do comando neural ventilatório, que respondea um “feedback” metabólico dos músculos esqueléticosperiféricos ativados pela limitada fosforilação oxidativa relativaà demanda de oxigênio do músculo em atividade81,1,13,15,16.

A seguir, demonstramos o TECP de um paciente com MM

Tabela 1. Variáveis ventilatórias, metabólicas e cardiovasculares em paciente com MM.

Abreviações: work: carga em watts; VE: ventilação; VO2: consumo de oxigênio, HR: frequência cardíaca.

para ilustrar os fatos acima mencionados:Paciente EPM, sexo feminino, 30 anos, 165cm, 58Kg,

queixando-se de limitação moderada aos esforços. Foirealizado o teste de exercício cardiopulmonar emcicloergômetro até o limite máximo da tolerância comincrementos de 10Watts.

Nesse caso é possível observar que o O2 de pico foi de

991ml/min (61% do previsto brasileiro), bastante reduzidoconsiderando-se o valor de 16,7 ml/Kg/min. Calculando arelação DO

2/DCarga, o valor está acentuadamente reduzido

(8,4 ml/min/W) e a detecção do Limiar de anaerobiose precoce,em 38% do O

2 máximo.

Nas respostas cardiovasculares, a paciente apresentoupadrão taquicárdico de incremento da FC (FC Max de 182bpm = 96%da prevista), com relação DFC/DVO

2 = 166 bat/

ml. Presença de pulso de oxigênio reduzido (5ml/bpm = 63%),com tendência a platô da curva (Figura 3A e B). A pacienteapresentou comportamento fisiológico de incremento dapressão arterial sistêmica durante o teste incremental.

Nas variáveis ventilatórias, paciente apresentou a relaçãoVE/VVM estimada de 0,61 no pico do exercício, com padrãofisiológico de incremento da frequência respiratória. Aresposta ventilatória encontrou-se no limite superior para ademanda metabólica ao exercício (no limiar = 34) e desvio dainclinação para a esquerda da relação DVE/DVCO

2 = 33, sem

dessaturação durante o exercício.As Figuras 4 e 5 demonstram graficamente as variáveis

obtidas no TECR da paciente com MM:

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 49

ConclusãoO teste de exercício cardiopulmonar na doença

neuromuscular pode ser uma ferramenta importante naavaliação da capacidade funcional, tolerância ao exercício edeterminação da gravidade da alteração oxidativa

Fig. 3. Em A: a tendência de achatamento do pulso de oxigênio e em A e B o comportamento hipercirculatório pela maior inclinação da FC.

musculoesquelética no exercício dinâmico. A avaliação dasvariáveis cardíacas e respiratórias é crítica para revelar aresposta hipercirculatória e hiperventilatória em pacientes comalterações musculares que cursam com piora da extraçãoperiférica de oxigênio. Essas medidas permitem a diferenciação

Fig. 4. Variáveis ventilatórias, metabólicas e cardiovasculares do TECP em paciente com MM.

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50 Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012

da redução do consumo de oxigênio devido ao destreinamentoou devido à piora do metabolismo oxidativo, categorizando alimitação ao exercício nesses pacientes.

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Fig. 5. Variáveis ventilatórias, metabólicas e cardiovasculares do TECP em paciente com MM.

Luiz Eduardo [email protected]

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Pneumologia Paulista Vol. 26, No.1/2012 51

ESTATÍSTICA

O que é diferença clinicamentesignificante? A sua importância naavaliação de testes de exercícioAUTORES: Liana Sousa Coelho, Carolina Bonfanti Mesquita, Suzana Erico Tanni

SERVIÇO: Disciplina de Pneumologia - Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP

Na literatura há ainda controvérsias sobre qual é omelhor método para interpretar mudanças de desfechosapós intervenções, tais como medicamentos, reabilitaçãopulmonar ou cirurgias, tanto no dia-a-dia como em ensaiosclínicos. A abordagem mais comum é usar a diferençamínima clinicamente significante (DMCS), definida comoa menor diferença percebida como importante, tanto paramelhor como para pior, que pode levar o clínico aconsiderar mudanças na terapêutica do paciente1.

A diversidade de métodos para determinar o valor de DMCSé extremamente grande, assim Crosby et al. propuseram que aanálise seja realizada por meio de dois métodos básicos, oAnchor based e a avaliação baseada na distribuição2.

O método Anchor based é caracterizado por utilizar umcritério externo (anchor) como referência para mensuraçãoe comparação da variação das respostas (desfechos)obtida no instrumento em estudo2,3. Este critério externodeve apresentar correlação significativa com o instrumentoem estudo. Como exemplo, podemos citar a avaliação dasrespostas obtidas em questionários de qualidade de vidaauto-aplicados pelos pacientes em análise e comparar asrespostas à outra medida subjetiva ou não (critério anchor)que já está estabelecida. Neste caso, poderíamos utilizara escala de avaliação global, que é aceita mundialmente,por ser sensível para detectar variações tanto para melhorcomo para pior e inclui as possíveis respostas referidas:melhor, inalterado e pior. A pontuação na escala deavaliação global corresponde um ponto para cadacategoria e a variação de um ponto é dada comosignificativa. Assim, quando comparamos as respostasdo novo instrumento em estudo (no caso, questionáriode qualidade de vida) com a escala de avaliação global,podemos avaliar a variação da pontuação da qualidadede vida que corresponde à variação significativa da escalade referência e, assim, determinar a DMCS no questionário

de qualidade de vida. Este método pode ser utilizado emestudos transversais com a comparação de grupos depacientes ou em longitudinais que comparam os mesmospacientes ao longo do tempo4,5.

A análise através das curvas Receiver OperatingCharacteristic (ROC) também pode ser utilizada paradeterminação da DMCS. O método avalia a discriminaçãodo melhor valor encontrado na sensibilidade e/ou naespecificidade para determinação da DMCS. No entanto,não há referência para o melhor valor de sensibilidade eespecificidade para se determinar os valores de DMCS.Alguns estudos utilizam este método para determinarvalores semelhantes de sensibilidade e especificidadepara discriminação de escores de respostas de “melhora”e “inalterado”. Neste caso a área sobre a curva ROCrepresenta a probabilidade que os escores discriminamcorretamente os pacientes com melhora e inalterado4,6,7.

O metodo de avaliação baseada na distribuição écaracterizado pela avaliação da variação dos desfechosem relação a alguma mensuração de variabilidade como oerro padrão de medição, desvio padrão ou efeito detamanho1,4. Ao utilizar o erro padrão de medição comovalor de comparação para determinação da DMCS, aidentificação de valores inferiores que o próprio valor doerro padrão pode ser considerada erro de mensuração enão uma verdadeira mudança observada. Assim, pode-seaceitar que o valor da DMCS é correspondente a 1 erropadrão de medição (para mais ou para menos), desde queo valor da DMCS seja avaliado também por outro método,preferencialmente, o Anchor based 8.

A interpretação dos valores de DMCS apresentalimitações, pois a obtenção de valores pode ser diferenteconforme o método estatístico utilizado; os desfechosanalisados são dependentes do estado clínico inicial dospacientes e os custos das intervenções realizadas não

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são avaliados, não predizendo, então, o custo vs benefíciode tal intervenção.

A determinação da DMCS é utilizada em pneumologia,principalmente na avaliação de respostas aos testes deexercícios, uma vez que a interpretação de testes detolerância ao exercício em pacientes portadores de doençapulmonar é difícil, pois diferenças encontradas apósintervenções muitas vezes podem ser estatisticamentesignificantes, mas serem desprovidas de significadoclínico9. A distância percorrida no teste de caminhada deseis minutos (DP6) é o desfecho mais utilizado nessesestudos, pois é de simples execução e representa umaatividade do dia-a-dia do paciente10. Além disso, a DP6tem mostrado associação com outros desfechos, comohospitalização e mortalidade11.

Du Bois et al. avaliaram 822 pacientes com diagnósticode fibrose pulmonar idiopática (FPI) e encontraram quepacientes que tiveram declínio maior que 50m na DP6 apósseis meses da avaliação inicial apresentaram risco 4 vezesmaior de óbito [HR 4,27; IC95% (2,57 – 7,10); p<0,001] erisco maior que 3 vezes [HR3,59; IC95% (1,95 – 6,63);p<0,001] para aqueles que tiveram declínio entre 26 – 50m,quando comparados a pacientes cujo declínio no períodofoi menor que 25m. Assim, determinou- se a DMCS atravésdo erro padrão de medição, que identificou valor de 45m(IC95% 42-47). Entretanto, quando os pacientes foramdivididos em grupos de acordo com a presença ou não dehospitalização ou morte, a DMCS apresentou valor menorde 24m. Portanto, os autores concluem que a DMCS parapacientes com FPI está entre 24-45m 1.

Para doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pormuitos anos utilizou-se o valor de 54m como DMCS, valoreste obtido em estudo transversal, no qual os pacientesforam comparados a pares9. Recentemente, estudoprospectivo que avaliou 75 pacientes antes e apósparticipação em programa de reabilitação pulmonar,atualizou a DMCS para 25m em pacientes com DPOC 11. Adiferença entre estes valores deve-se principalmente aosmétodos estatísticos utilizados em cada estudo.

Apenas um estudo avaliou a DMCS para pacientesportadores de hipertensão pulmonar. Neste estudo, ospacientes foram avaliados pré e pós-tratamento comsildenafil e o valor encontrado foi de 41m 12.

Em conclusão, compreender o significado de DMCS econhecer seus valores para as mais diversas doençaspulmonares permite ao clínico interpretar as alterações queseus pacientes apresentam após intervenções e, também,interpretar de forma adequada resultados de ensaios clínicos.

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3. de Vet HC, Ostelo RW, Terwee CB, van der Roer N,Knol DL, Beckerman H et al. Minimally importantchange determined by a visual method integrating ananchor-based and a distribution-based approach.Qual Life Res 2007; 16: 131–42.

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Liana Sousa Coelho

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SÃO PAULO CAPITALFMUSP - InCOr - Pneumologia do Hospital das Clínicas(*)Responsável: Prof. Dr. Rogério Souza e Dr. Carlos JardimEndereço: Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar 44Horário Atendimento: 4º e 6º feira a partir das 8hTel: 11 3069-5034e-mail: [email protected]

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Instituto Dante Pazzanese (*)Endereço: Avenida Dr. Dante Pazzanese, 500 - Vila MarianaTel: 11 5085-6413 ou 5085-6412

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