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O poder executivo - Direito Constitucional e Administrativo EXERCÍCIOS COMENTADOS - CARGO 46 - TÉCNICO ADMINISTRATIVO - MPU Em setembro de 2004, a revista Veja publica uma matéria sobre os R$10 milhões que o PT teria negociado com o PTB. No mesmo mês, o Jornal do Brasil publica uma notícia na qual Miro Teixeira, exministro das Comunicações, denuncia um esquema de propina no Congresso Nacional. Era o princípio de um escândalo sobre o pagamento de propinas mensais a deputados que formavam a base aliada do governo petista. Em maio de 2005, Veja traz na capa o funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo propina. O caso do mensalão pode ser visto sob essa ótica sem muito esforço, se considerados os seguintes momentos: 1. Ação, acontecimento ou circunstância transgride uma norma ou código moral – o PT paga o mensalão; 2. Ocultação, a tentativa de deixar de fora os não- participantes – PT deixa de pagar o mensalão; 3. Desaprovação da transgressão moral por parte de alguns nãoparticipantes – Roberto Jefferson ameaça contar que o mensalão existe e deixou de ser pago; 4. Tornar a terceira característica pública – Roberto Jeferson depõe à Folha; 5. Publicização da transgressão deve, em tese, trazer prejuízos aos indivíduos responsáveis – Instauração de CPI. A capa de Veja em 25/05/2005 trata os petistas como Corruptos, mas a partir daí vai desmoronando o castelo de cartas (15/06/2005): surgem indivíduos como Delúbio Soares, Sílvio Pereira, caracterizados isoladamente por seus atos, sequência que culmina com a queda de José Dirceu. Comissões Parlamentares de Inquérito (Cpi) As comissões mais relevantes são as comissões parlamentares de inquérito (CPI) – art. 58, parágrafo 3º, fazer remissão com art. 49, X que diz o seguinte: Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta; É competência do CN fiscalizar a administração pública. As CPIs são o principal instrumento por meio do qual o CN exerce essa função.

EXERCÍCIOS COMENTADOS MPU CARGO 46 TÉCNICO ADMINISTRATIVO

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O poder executivo - Direito Constitucional e AdministrativoEXERCÍCIOS COMENTADOS - CARGO 46 - TÉCNICO ADMINISTRATIVO - MPUEm setembro de 2004, a revista Veja publica uma matéria sobre os R$10 milhões que o PT teria negociado com o PTB.

No mesmo mês, o Jornal do Brasil publica uma notícia na qual Miro Teixeira, exministro das Comunicações, denuncia um esquema de propina no Congresso Nacional.

Era o princípio de um escândalo sobre o pagamento de propinas mensais a deputados que formavam a base aliada do governo petista.

Em maio de 2005, Veja traz na capa o funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo propina.

O caso do mensalão pode ser visto sob essa ótica sem muito esforço, se considerados os seguintes momentos:

1. Ação, acontecimento ou circunstância transgride uma norma ou código moral – o PT paga o mensalão;

2. Ocultação, a tentativa de deixar de fora os não-participantes – PT deixa de pagar o mensalão;

3. Desaprovação da transgressão moral por parte de alguns nãoparticipantes – Roberto Jefferson ameaça contar que o mensalão existe e deixou de ser pago;

4. Tornar a terceira característica pública – Roberto Jeferson depõe à Folha;

5. Publicização da transgressão deve, em tese, trazer prejuízos aos indivíduos responsáveis – Instauração de CPI.

A capa de Veja em 25/05/2005 trata os petistas como Corruptos, mas a partir daí vai desmoronando o castelo de cartas (15/06/2005): surgem indivíduos como Delúbio Soares, Sílvio Pereira, caracterizados isoladamente por seus atos, sequência que culmina com a queda de José Dirceu.

Comissões Parlamentares de Inquérito (Cpi)As comissões mais relevantes são as comissões parlamentares de inquérito (CPI) – art. 58, parágrafo 3º, fazer remissão com art. 49, X que diz o seguinte: Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta; É competência do CN fiscalizar a administração pública. As CPIs são o principal instrumento por meio do qual o CN exerce essa função.

Requisitos para instalação das CPIs:1- Quorum – obtenção de 1/3 das assinaturas dos parlamentares da casa. Esse é um

quorum minoritário. O STF extraiu desse quorum minoritário uma importância muito grande: o direito de instalar uma CPI é um direito subjetivo público das minorias, dos opositores. As minorias fiscalizam as maiorias. Os opositores fiscalizam os governos.

Exemplo: CPI do apagão aéreo instalada com o quorum de 1/3 na CD e demais requisitos preenchidos. O líder do governo não queria a CPI do Apagão e interpôs um recurso contra uma decisão do presidente da casa que admitiu a CPI. O presidente da casa também admitiu esse recurso e o submeteu ao plenário para que este deliberasse sobre o provimento ou não do recurso.

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Parlamentares da oposição impetraram MS no STF contra o ato do presidente da casa que recebeu esse recurso. O STF entendeu que esse MS não é questão interna corporis do CN.

Entendeu por conceder a ordem. O STF entendeu que o direito de instalar a CPI é um direito subjetivo pb das minorias. Se esse recurso fosse cabível, quem ia julgar o recurso seria o plenário que delibera por maioria. Logo, a decisão da maioria iria substituir a decisão da minoria. Isso o STF não admite que a maioria dos membros da casa enterrem a decisão da minoria de instalar a CPI. A CPI é instrumento das minorias.

2- Fato determinado – não existe CPI para investigar irregularidades no governo federal. Esse e um requisito que não raro é descumprido. A exigência de fato determinado não exclui que se investigue fatos conexos que venham a surgir no decorrer da investigação.

O STF admitiu investigação sobre fato conexo, ou seja, o fato conexo não é o fato que deu ensejo àquela investigação, mas é o fato que mantém com relação a ele uma conexão probatória. Fez isso na CPI do narcotráfico, em que não houve investigação só do tráfico ilícito de substância entorpecente, houve investigação, também, sobre tráfico ilícito de armas, de mulheres, sobre homicídios e sobre grupos de extermínio, que não eram fatos que deram ensejo àquela investigação, mas eram fatos conexos (conexão probatória entre eles).

Cabe CPI para investigar contratos privados? A investigação de uma CPI tem que ter um interesse público (ex. CPI Nike/CBF – caso prático de desconsideração desse limite – Nike é uma entidade multi-nacional e CBF é uma entidade nacional que não recebe um tostão público. Se havia um contrato privado entre duas entidades privadas, não há que se criar uma CPI para isso).

Cabe CPI para investigar teor de sentença judicial? Não. Essa investigação não pode incidir sobre matérias reservadas ao Judiciário – STF: princípio da reserva constitucional da jurisdição (ex. CPI do Judiciário – excesso da CPI estava nos meios investigatórios que foram utilizados – caso prático de desconsideração desse limite). O controle externo do Judiciário já existe (ex. Presidente do STF nomeado pelo Presidente da República é sabatinado pelo Senado Federal). O que está sendo previsto agora é um reforço dele.

O que a CPI não pode investigar é o mérito das decisões judiciais, porque o mérito é soberano. Em outras palavras, a CPI pode investigar atos judiciários, o que não pode é investigar atos jurisdicionais (ato praticado pelo Judiciário no exercício típico da sua função, que é jurisdicional). Então, quando o Judiciário pratica um ato administrativo (ato judiciário), este pode ser objeto de controle externo. Mas quando pratica um ato jurisdicional, só é cabível controle interno, através de recurso, ação revisional, ação rescisória, etc.

Quais os poderes que a CPI tem? As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. Significa dizer que as CPIs tem os mesmos poderes que o juiz tem para instruir o processo. Mas a CPI não tem os poderes decisórios do juiz.

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Segundo o STF, o que as CPIs podem fazer?A) Quebra de sigilo bancário, telefônico e fiscal, desde que motivado: A CPI tem poderes e deveres inerentes a autoridade judicial.

A Quebra de sigilo bancário e fiscal: O STF autorizava duas hipóteses em que era possível a quebra do sigilo bancário efiscal desde que motivada. Uma era com fundamento no art. 58, § 3o, e outro o art. 129, VI, ambos da CRFB. Através da CPI e de requisição Ministerial. Essas eram as hipóteses permitidas, desde que motivadas. Poderia haver requisição Ministerial para quebra de sigilo bancário e fiscal, desde que houvessem fundadas suspeitas de que o dinheiro público estava circulando em contas privadas.

Exemplo: caso Jader Barbalho. O STF reviu a posição quanto a possibilidade do MP quebrar sigilo bancário e fiscal. O poder do MP não alcança mais a quebra de sigilo. Ele, a partir de agora, deve solicitar em juízo. Porém, manteve a posição quanto a possibilidade de quebra de sigilo bancário e fiscal pela CPI, desde que motivado, porém numa decisão apertada de 6 a 5, o que pode indicar uma mudança de jurisprudência também quanto a CPI daqui para frente.

A quebra de sigilo telefônico São três conceitos diferentes:a) Interceptacão telefônica Autorizada em juízo. Não é do conhecimento dos interlocutores. É prova lícita porque foi autorizada em juízo.

b) Gravação clandestina de conversa telefônica É do conhecimento de um dos interlocutores. E prova ilícita. Com relação ao processo penal, uma coisa é prova ilícita e outra coisa é prova inadmissível. Por ponderação a prova ilícita pode ser aceita in dubio pro reo. Porém atenção: pela primeira vez o STF admitiu prova ilícita in dubio pro societates, desde que provado o ato ilícito contra o outro interlocutor ou a sociedade. Maior atenção ainda: o STF, em seu acordão diz: “Desde que haja prova do ilícito”.

Ele não fala ilícito penal, o que significa que abre o precedente para o ilícito civil. Exemplo: duas pessoas conversam, uma grava. O assunto é improbidade administrativa. O MP pode promover ACP com base nesta fita? Pode, segundo esta última decisão do STF. Admissão da prova ilícita pro-societate.

c) Quebra de sigilo telefônico É a quebra do sigilo junto a companhia telefônica, das chamadas efetuadas e recebidas. Atenção: a CPI pode quebrar o sigilo telefônico, porém quanto ao conteúdo da conversa, só com autorização judicial.

d) Oitiva de indiciado e testemunha (inclusive coercitiva): Deve motivar porque a testemunha e imprescindível para a investigação.

A diferença entre indiciado e testemunha gira em torno da possibilidade de não auto incriminar-se (indiciado tem esse direito) daí pode não responder à perguntas que o incriminem. Possui inclusive o direito de permanecer calado. Já a testemunha tem o dever de prestar informações.

No dia 6 de junho, Renata Lo Prete, a editora da coluna Painel, do jornal Folha de São Paulo, que traz os bastidores da política brasileira, entrevista Roberto Jefferson.

O petebista dá origem ao termo “mensalão” e aponta o dedo acusador para o PT.

Segundo ele, o partido do presidente da República dava mesada, cerca de R$30 mil, a deputados para que votassem favoráveis ao governo.

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No escândalo do mensalão, integrantes da executiva nacional do PT e alguns ministros do governo federal; José Dirceu, Silvio Pereira, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, Professor Luizinho, José Genoíno, Luis Gushiken, são os alvos e se tornam réus na ação penal aberta pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, em agosto de 2007.

No decorrer do escândalo, as renúncias de deputados para escapar dos julgamentos políticos se sucederam, novas informações sobre o desvio do dinheiro público para abastecer partidos da base aliada inundaram a imprensa, todos os deputados julgados na Câmara foram absolvidos, exceto Roberto Jefferson e José Dirceu.

Em 11 de agosto de 2005, Duda Mendonça revelou na CPI dos Correios que recebeu dinheiro de caixa 2.

No dia 28 de setembro, o governo federal começa a reverter o jogo político e consegue eleger Aldo Rebelo, que antes ocupava o cargo de ministro da Articulação Política, como presidente da Câmara dos Deputados.

Depois de uma disputa intensa com José Thomas Nono do PFL , o candidato governista venceu por uma diferença de 15 votos no segundo turno e enterrou de vez a oportunidade de alguns membros da oposição abrir um processo de impeachment contra Lula.

Seção IIIDa Responsabilidade do Presidente da RepúblicaArt. 85 – São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:

I – a existência da União;

II – o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;

III – o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;

IV – a segurança interna do País;

V – a probidade na administração;

VI – a lei orçamentária;

VII – o cumprimento das leis e das decisões judiciais.

Parágrafo único – Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.

Art. 86 – Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

§ 1º – O Presidente ficará suspenso de suas funções:

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I – nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;

II – nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.

§ 2º – Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.

§ 3º – Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão.

§ 4º – O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Em 31 de outubro e 1º de novembro, o clima de embate político passou do discurso para a ameaça do uso da força física. O deputado federal ACM Neto (PFL-BA) e o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) ameaçaram bater no presidente Lula por causa dos supostos grampos ilegais.

Dezembro de 2005 foi marcado pela cassação da principal figura política do PT depois de Lula o José Dirceu. José Dirceu, que foi líder estudantil, exilado político, fundador do PT e um provável sucessor de Lula em uma eventual campanha presidencial em 2010, foi cassado na Câmara dos Deputados com 293 votos.

O relatório pediu o indiciamento de mais de cem pessoas e reconheceu a existência do pagamento de mensalão, além de diferenciar esse tipo de corrupção do caixa 2, argumento-base da defesa do PT.

O relatório foi contundente quanto à participação do ex-deputado José Dirceu (PT-SP) no esquema do mensalão. “José Dirceu desponta como o grande idealizador desse esquema de corrupção”, disse Serraglio, para completar: “O então ministro estava a par de todos os acontecimentos e coordenava as decisões com a diretoria do PT. Isso fica evidente no depoimento da sócia do empresário Marcos Valério, Renilda Santiago, que declarou à CPI, no dia 25 de julho de 2005, que Valério tinha lhe dito que Dirceu sabia dos empréstimos”. Serraglio lembrou que Dirceu teve fundamental participação na indicação de dirigentes de fundos de pensão.

Na edição 1937, de 28 de dezembro de 2005, Veja analisa minuciosamente como o vídeo que gerou o escândalo do mensalão reúne a lista das mazelas que mais contribuem para a corrupção. De acordo com a revista, “o vídeo passará à história como um clássico da corrupção nacional: ele contém confissões e relatos sobre como se conduz a roubalheira no mundo oficial brasileiro.”.

Os integrantes da “República de Ribeirão Preto” alugam uma mansão no Lago Sul de Brasília, para promover negócio$ e festas.

O caseiro Francenildo viu Antonio Palocci entrar na casa. O motorista Francisco das Chagas também viu.

A violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa na Caixa Econômica Federal foi discutida previamente pelo então ministro Antonio Palocci e

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o então presidente da estatal, indicam detalhes mantidos em sigilo do depoimento de Jorge Mattoso à Polícia Federal.

Jorge Mattoso pede 15 dias para esclarecer, em rigorosa sindicância, a violação da conta do caseiro, tempo demais para esclarecimentos, uma vez que os modernos recursos da informática permitiriam que a coisa fosse desvendada em poucos minutos.

Romperam ilegalmente o sigilo bancário da testemunha “o caseiro Francenildo dos Santos Costa”, com a finalidade de desmoralizá-la, seguido pela conversão da testemunha em investigado, a fim de coagi-la. Há fortes indícios de que Lula tenha acompanhado, desde o princípio, o complô criminoso. Isso tipifica, em estágio embrionário, um Estado policial, um crime de Estado.

O caseiro migrou da condição de testemunha para a posição de investigado.

A Polícia Federal quebra os sigilos bancário, fiscal e telefônico do caseiro.

Lula estava em Florianópolis, antes de serem publicados os extratos do caseiro, e a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) perguntou se era verdade que Francenildo seria desacreditado. Ele balançou a cabeça, confirmando.

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci teria conseguido enganar a todos. Ele falava e repetia que não tinha nada a ver com o caso de quebra do sigilo. Passou mais de uma semana recluso dentro do Palácio do Planalto. Reuniu-se com o grupo mais próximo de Lula e com o próprio presidente várias vezes.

Na platéia, palmas e emoção dos ministros que continuavam a sustentar que Lula havia sido traído pelas mentiras contadas por Palocci.

Até que, numa segunda-feira, tudo veio abaixo, pois o então presidente da Caixa Econômica Federal resolveu contar que o sigilo foi mesmo quebrado e que uma cópia do extrato foi entregue a Palocci

O presidente da República demite Palocci, acusado de cometer um crime e de tê-lo traído. Na saída, o presidente Lula faz uma cerimônia para homenagear o traidor. Todas as homenagens foram para Palocci. Lula o chamou de "companheiro" e de "irmão".

Guido Mantega é o novo ministro da Fazenda.

Segundo pesquisa do Datafolha, realizada em 23 e 24 de maio de 2006, cerca de 27% do eleitorado afirma que nunca votaria em Lula.

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BLOG de Josias de Souza, 30/03/2006A revista Veja (para assinantes) traz em sua última edição o resultado da reconstituição feita por sua equipe da quebra ilegal do sigilo bancário de Francenildo dos Santos Costa. Informa o seguinte:

Jorge Mattoso recebeu pessoalmente de Antonio Palocci a ordem para quebrar o sigilo do caseiro. Deu-se na tarde de 16 de março, numa sala do Planalto. Palocci assistia pela TV ao depoimento de Fracenildo na CPI dos Bingos;

Às 23h30 do mesmo dia, ao chegar à residência de Palocci para entregar um envelope contento o extrato do caseiro, Mattoso encontrou outros dois integrantes do governo: o assessor de imprensa do Ministério da Fazenda, Marcelo Netto, e o secretário de Direito Econômico, Daniel Goldberg, subordinado e braço direito do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça). Pouco antes, deixara a casa o chefe-de-gabinete de Bastos, Cláudio Alencar;

O que faziam os auxiliares de Thomaz Bastos na casa? Foram chamados por Palocci, que queria deflagrar uma operação da Polícia Federal para desbaratar o que se acreditava ser uma armação política contra ele. Os alvos eram o caseiro Francenildo e o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). Alencar, o chefe de gabinete do ministro da Justiça, chegou a mandar um pedido formal de diligência policial sobre o caso. Um policial federal veterano da cúpula da corporação recebeu o pedido, examinou-o e respondeu que aquilo levaria quinze dias para produzir algum efeito prático;

Na manhã seguinte, 17 de março, sem saber que o front policial estava parado, Palocci comentou com um ministro: "Vamos ter uma notícia boa hoje". No início da tarde, além de Palocci, outras autoridades do governo já tinham visto cópias do extrato de Francenildo Costa. Três dias antes, o senador Tião Viana (PT-AC) espalhava pelo Senado a informação de que um jardineiro ouvira Francenildo dizer que recebera um bom dinheiro e planeja comprar um terreno ou uma casa;

Na noite em que recebeu o extrato do caseiro em casa, das mãos do presidente da Caixa, Palocci ouviu de uma das testemunhas da cena um alerta: embora o documento pudesse incriminar o caseiro, sua obtenção fraudulenta abria um telhado de vidro sobre a operação. Como fazer para encobrir a quebra do sigilo? Surgiu e prosperou a idéia de produzir uma reclamação contra o caseiro no âmbito do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

A estratégia daria a impressão de que existia uma investigação legítima. Porém, impacientes, Palocci e seu assessor Marcelo Netto divulgaram o extrato logo no dia seguinte, antes mesmo de "esquentá-lo" com a farsa no Coaf.

O jornalista Matheus Leitão, repórter da revista Época e filho do assessor Marcelo Netto, circulava pela CPI dos Bingos tentando confirmar se o número do CPF que aparecia no extrato retirado na Caixa Econômica Federal era o mesmo do caseiro Francenildo Costa. A CPI mantém o registro do CPF e do RG dos depoentes;

Na noite daquele dia, Lula, que estava em viagem a Santa Catarina, foi informado por um assessor que a Época publicaria a matéria com base no extrato bancário de Francenildo Costa. Um pouco mais tarde, Márcio Thomaz Bastos, que vinha de uma viagem a Rondônia, fez um pouso na base aérea de Brasília, antes de decolar para São Paulo. Recebeu uma cópia da notícia, veiculada no blog da revista. Achou que se tratava de um fato alentador.

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Mudou de idéia no fim de semana, diante da comoção contra a violação.

Daquele momento em diante, a estratégia de desacreditar o caseiro foi substituída, dentro do governo, por uma faxina destinada a apagar as provas do crime e preservar o então ministro Antonio Palocci e seu assessor Marcelo Netto.

O governo tentou convencer Jorge Mattoso a assumir a responsabilidade pela violação. No dia 23 de março, uma quinta, Mattoso voltou à casa de Palocci. Encontrou o advogado Arnaldo Malheiros, amigo de Thomaz Bastos.

Circulou a idéia de oferecer dinheiro vivo (R$ 1 milhão) a algum funcionário da Caixa que se dispusesse a assumir a culpa pela quebra do sigilo. Ouvido por Veja, o advogado confirma o encontro mas nega as discussões em torno da oferta financeira.

Ferido éticamente, o Lula decide que agora a disputa eleitoral se dará num ambiente de comparação entre os feitos dos oito anos de governo FHC e o seu primeiro mandato.

Depois de perder quatro eleições, para chegar ao poder em 2002 o PT fez alianças com partidos cuja proposta ideológica pouco ou quase nada tinha a ver com a sua, como o PL do vice-presidente José Alencar.

O compartilhamento do poder conquistado faz parte da negociação política a qual se constitui em uma ampla gama de interações entre as forças políticas que inclui comportamentos como acordo, articulação, acerto, barganhas, alianças, retaliações, composições e compensações. É a partir dessa lógica que se explica a disposição do cenário político quando da eclosão do mensalão.

Após o resultado do primeiro turno entre Lula e Serra, foram se estabelecendo vínculos até então inimagináveis, a exemplo do PFL do senador Antônio Carlos Magalhães.

Quatro anos mais tarde, ACM disse que Lula era um "rato gordo e etílico, cujos furtos no Palácio do Planalto eu tenho denunciado no Congresso Nacional

As negociações envolvem riscos maiores e, é nesse sentido que o mensalão - enquanto escândalo, e não enquanto mesada, pode ser visto como o resultado de uma transação política mal-sucedida. No escândalo em questão, é possível visualizá-las nas trocas e promessas empreendidas pelo governo, detentor de maior capital político (cargos e recursos) e capaz de impor sanções em troca de apoio no Congresso. Foi de acordo com essa lógica que o governo Lula teria pago mesada a deputados para que eles votassem a favor de seus projetos.

Teme-se na oposição que o presidente, se muito atacado ou se sofrer um impeachment, pode liderar uma revolta que coloque em risco a saúde democrática do país.

A capa de 13 de julho de 2005 pergunta se “Ele sabia?” traz um Lula envolto em uma sombra de dúvida.

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"A pergunta inevitável é se Lula sabia das traficâncias do tesoureiro do PT.

Antes mesmo que se tenha uma resposta sem rodeios a essa pergunta, o simples fato de a dúvida existir já atinge o presidente."

A partir daí, a revista Veja se propõe a investigar as pistas deixadas pelo presidente.

Na edição imediatamente seguinte, a capa responde: “Mensalão – quando e como Lula foi alertado”. Sim, diz o narrador Veja. Depois de investigar, a revista conclui que ele não só sabia como também foi alertado e não tomou providências porque fez uma escolha. Uma escolha de omissão, mas ainda assim uma escolha que não o exime. O subtítulo da matéria correspondente diz que Veja descobriu que o presidente soube do mensalão bem mais do que admitiu oficialmente até então.

Será que os agentes políticos podem ser processados cumulativamente por ação de improbidade e por crime de responsabilidade? O Supremo decidiu que não, ele decidiu que os tipos são muito parecidos e significaria bis in idem o cabimento de ambas as responsabilizações. Então o Supremo entender que para os agentes públicos há um regime especial de responsabilização por infrações por agentes administrativos, que é exatamente o regime de crime de responsabilidade.

Só que essa decisão do Supremo foi por uma maioria muito estreita, 1 ou 2 votos, e agora com a mudança da composição da corte, há uma expectativa, principalmente do MP, de reverter isso.

Processo contra o Presidente da República por crime comum: Este processo está disciplinado no Art. 86 da CRFB e na Lei 8038/90.

Art. 86 - Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

§ 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções:I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo SupremoTribunal Federal;

II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.

§ 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento nao estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.

§ 3º - Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República nao estará sujeito a prisão.

§ 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Tem um juízo preliminar. O processo de competência do Supremo, mas o Supremo nao julga o mérito, há o juízo de admissibilidade feito pela Câmara dos Deputados a respeito da instalação ou não do processo, só será admitido o processo se a câmara autorizar por 2/3 dos membros.

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O Supremo está vinculado a decisão da câmara? Ou seja se a câmara decide pela instalação do processo o Supremo pode não acatar isto?

Pode, pois os juízos são diferentes. Uma coisa é o juízo político, da conveniência e oportunidade da instalação do processo. Outra coisa e o juízo técnico-jurídico da presença ou não dos requisitos para acatar a denúncia. Então o Supremo não está vinculado à decisão da câmara. A câmara pode autorizar a instalação do processo e o Supremo pode não receber a denúncia.

Agora, se o Supremo receber a denúncia, tem efeito prático irrelevante, porque o Presidente da República recebendo a denúncia pelo Supremo, fica suspenso de exercer suas funcões por 180 dias.

O que significa crime comum? Significa infrações criminais. Estão inclusos: crimes eleitorais, contratações penais, etc. Agora, esses crimes tem que ser praticados no exercício da função, pois se forem antes do exercício não tem imunidade. Aí que se aplica o Art. 86, §4º mostrado acima.

Condenado à pena privativa de liberdade, o Presidente da República será preso. E como efeito reflexo da condenação, ele perderá o cargo.

Crime de Responsabilidade:Não tem natureza criminal, mas sim político-administrativa.

Quais sao as sanções para o crime de responsabilidade? Perda do mandato e inabilitação para o exercício de função pública por 8 anos.

O que significa função pública? • Mandato eletivo. • Cargo em comissao.• Cargos efetivos. Ou seja, todas as hipóteses são funções públicas.

A quem cabe formular uma representação contra o Presidente da República por crime de responsabilidade? O processo está disciplinado na Lei 1.079/50, trata de presidente de outras autoridades federais. O Decreto 201/67 trata do crime de responsabilidade por prefeitos.

Voltando a Lei 1.079, quem pode formular contra o Presidente da República? Qualquer cidadão. Art. 14 da Lei 1.079. Qualquer cidadão pode representar o poder da república por crime de responsabilidade.

Art. 14. É permitido a qualquer cidadão denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado por crime de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.

Cabe a câmara, por 2/3 dos seus membros, autorizar ou não a instalação do processo.

Se aplica a mesma coisa que a crime comum.

Se a câmara autorizar, o Presidente da República fica suspenso do exercício de suas funções por 180 dias. Art.86, §1º, II.

Se a câmara decidir pela instauração do processo, o Senado, que é quem julga o Presidente por crime de responsabilidade, está vinculado a decisão da câmara? Sim, o Senado está vinculado à decisão da câmara.

O Senado tem competência para julgar o Presidente da República, outras autoridades são julgadas pelo Supremo por crime de responsabilidade. Por exemplo: Art. 102, I, “c” da CRFB:

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Art. 102 - Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:a) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de

Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no Art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;

Cabe controle judicial no processo de impeachment por crime de responsabilidade? Você pode propor uma ação judicial questionando um ato praticado pelo Senado? Nesse particular o Supremo se afastou da tese prevalecente na suprema corte norte americana, o STF admite o controle do processo de impeachment, porque é uma questão meramente política que não cabe controle judicial. O Supremo admite controle no processo de impeachment, mas um controle ligado apenas a legalidade do processo. Então o controle é só sob a legalidade do processo e que enfatiza na verdade ter a garantia do devido processo legal, ampla defesa e contraditório observados. O Supremo não pode substituir o mérito da decisão, pois essa é uma competência política do Senado que o Supremo não pode ocupar.

Então o Supremo pode até anular uma decisão do Senado, que por exemplo condenou o Presidente da República por impeachment, se ele entender que este não teve oportunidade de defesa.

Esse processo será presidido pelo Presidente do Supremo. E a decisão do Senado seráveiculada por uma resolução.

Lula cria um personagem emotivo, que se desaponta, chora, se deprime, “não consegue mais esconder no semblante sua contrariedade com a permanência e o paulatino aprofundamento da crise política”, se deixa abater e, por fim, após a constatação de sua vitória, “exibe um sorriso de orelha a orelha. Já fareja o cheiro de pizza.”. Até que isso acontecesse, muita coisa aconteceu.

"Cada nação tem o governo que merece". A proposição, quase tão velha quanto a política, é uma homenagem que o senso comum presta àqueles nos bastidores do poder.

O governo e a oposição encenaram um espetáculo destinado a preservar as coisas como sempre foram, enquanto a “maioria da população” continua sem entender nada ou fingem não entender.

Narrativa dos fatos. 14 de maio – matéria com Maurício Marinho

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25 de maio – é criada a CPI dos Correios

6 de junho – entrevista de Jefferson à Folha

14 de junho – depoimento de Jefferson no conselho de ética

16 de junho – renúncia de Dirceu à chefia da Casa Civil

4 de julho – documento que liga Valério ao PT

6 de julho – revela-se que Marcos Valério movimentou mais de R$ 800 milhões nas suas contas bancárias nos últimos três anos

20 de julho – é instalada a CPI do mensalão

21 de julho – Paulo Rocha deixa o cargo de líder do PT na Camara

1 de agosto – renúncia de Valdemar Costa Neto

2 de agosto – embate entre Roberto Jefferson e José Dirceu

11 de agosto – depoimento de Duda Mendonça

12 de agosto – Valdemar Costa Neto acusa Lula e José Alencar de participar da negociação de R$ 10 milhões ao PL. Lula faz um pronunciamento na televisão e diz que foi traído.

19 de agosto – Antonio Palocci é acusado de participar de um esquema de corrupção na época em que foi prefeito de Ribeirão Preto.

24 de agosto – O PT é acusado de ter recebido dinheiro das FARC

1º de setembro – as CPIs aprovam relatório conjunto acusando os parlamentares de ter recebido o mensalão

7 de setembro – Lula cobra punição dos culpados

14 de setembro – Roberto Jefferson é cassado

28 de setembro – Aldo Rebelo é eleito presidente da Camara

29 de outubro – Lula é acusado de receber dinheiro de Cuba para financiar a campanha presidencial de 2002

31 de outubro – Arthur Virgílio diz que é vítima de grampo e ameaça dar uma surra em Lula

1 de novembro – ACM Neto diz que é vítima de grampo e também ameaça bater em Lula

17 de novembro – A CPI do mensalão chega ao fim

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1 de dezembro – José Dirceu é cassado na Camara

1 de janeiro – Lula dá uma entrevista à Globo e diz que os erros foram punidos

14 de janeiro – Duda Mendonça é acusado de ter milhões de dólares em paraísos fiscais

4 de março – O PMDB é acusado de receber dinheiro de Marcos Valério

14 de março – O caseiro Francenildo acusa Antonio Palocci de participar de festas para distribuir dinheiro e se divertir com garotas de programa

17 de março – o sigilo bancário do caseiro é quebrado ilegalmente

24 de março – Ângela Guadanin dança na Camara

27 de março – Antonio Palocci renuncia

29 de março – O relatório final da CPI dos Correios confirma a existência do mensalão

11 de abril – O procurador-geral da República pede o indiciamento de 40 envolvidos no esquema do mensalão

13 de maio – Daniel Dantas acusa Lula, Dirceu e Márcio Thomaz Bastos de terem contas no exterior

QUESTÕES COBRADAS EM CONCURSOS1) As disposições da Lei nº 8.429/92 são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática de ato de improbidade, ou dele se beneficie sob qualquer forma, direta ou indireta.

2) Cassação direitos políticos poderá dar-se nos casos de improbidade administrativa, c/ forma e gradação previstas em lei.

3) O MP sempre atuará como fiscal da lei nas ações de improbidade.

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4) Na prática de distintos atos pelo mesmo agente ou quando a mesma conduta subsumir-se em mais de uma infração por improbidade, o agente responderá juntamente por crime de responsabilidade e pela ação civil de improbidade administrativa. No entanto, a sentença proferida na ação civil que reconheça a prática de improbidade administrativa não pode aplicar cumulativamente as sanções previstas na Lei n° 8.429/92.

5) O MP não poderá instaurar inquérito civil para apuração de atos de improbidade administrativa. A petição inicial dessa ação deve ser instruída com as provas e indícios colhidos no inquérito policial ou no procedimento administrativo.

6) A suspensão, a perda dos direitos políticos e a proibição de contratar com o poder público são sanções que apresentam delimitação temporal, tornando-se efetivas com o trânsito em julgado da sentença condenatória proferida na ação civil de indenização por ato de improbidade.

7) A sentença que julgar procedente ação civil de reparação de dano ou decretar a perda dos bens havidos ilicitamente determinará o pagamento ou a reversão dos bens, conforme o caso, em favor da Pessoa Jurídica prejudicada pelo ilícito.

8) A ação de improbidade administrativa deverá ser proposta no prazo de 5 anos, a contar da data do conhecimento do fato, quando se tratar de detentor de mandato eletivo ou de cargo em comissão.

9) Caso o dano seja reparado antes de apurado as demais penas, ou o Ministério Público tenha proposta transação penal, afastam-se a perda da função pública ou a suspensão dos direitos políticos, dependendo do caso.

10) A Administração Pública só pode declarar a indisponibilidade dos bens do acusado após o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Definição de agente público por Celso Antônio Bandeira de MelloAgentes políticos- chefes do Executivo Federal, estadual e municipal

- membros do Legislativo, Magistratura, MP

- servidores públicos – estatutários (8.112/90) – cargo público

Funcionários públicos- empregados públicos – celetistas (CLT) - emprego público

- servidores temporários – tempo determinado (Lei n° 8.745/93)

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Particulares em colaboração com o Poder Públicoagentes delegados – empregados das concessionárias - e permissionárias, leiloeiros, tradutores, intérpretes, tabelião

agentes honoríficos – jurados, mesários, comissários menores, etc

Observância dos Princípios LIMPE também os da Lei nº 9.784/19902; (4)

MOTIVOLesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa do agente ou terceiro, dar-se-á:

INTEGRAL RESSARCIMENTO DO DANO - perceba que a lei procura dar a maior amplitude possível, visando ao patrimônio público;o integral ressarcimento deve ser visto c/ ressalvas, nem sempre se consegue status quo ante;

ENRIQUECIMENTO ILÍCITOCUIDADO: A perda pelo agente público ou terceiro beneficiário dos bens ou valores acrescidos ao patrimônio é sempre aplicada no caso de locupletamento sem causa (enriquecimento ilícito); apesar desta punição também ocorrer nos atos quando acarretam prejuízo ao erário esta não é obrigatória, pois não é parte do tipo penal, ou seja, pode ocorrer ou não tal circunstância;

O SUCESSOR que causar lesão ao patrimônio público ou se enriquecer ilicitamente sujeitar-se-á às cominações até o limite do VALOR DA HERANÇA;

1 - Pessoa Jurídica da Direito Privado que exerce atividade de Estado.

2 - Segue o disposto no Art. 2° da Lei n° 9.784/99 (Processo Administrativo Disciplinar):Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA– QUE IMPORTEM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO - vantagem patrimonial indevida em razão de cargo / mandato / função / emprego ou atividade

VERBOS IMPORTANTES: RECEBER, PERCEBER, INCORPORAR, ADQUIRIRObs.: Pode haver enriquecimento ilícito sem dano ao erário;

– QUE CAUSEM PREJUÍZO AO ERÁRIO - ação / omissão, dolosa / culposa com perda patrimonial / desvio / dilapidação dos bens;

1 - Pessoa Jurídica da Direito Privado que exerce atividade de Estado.

2 - Segue o disposto no Art. 2° da Lei n° 9.784/99 (Processo Administrativo Disciplinar):Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

PALAVRAS-CHAVE:1) frustrar licitude do processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;2) ordenar / permitir despesas não autorizadas em lei / regulamento;3) agir negligentemente na arrecadação de tributo e renda;4) liberar verba pública sem observância das normas ou aplicação irregular;5) permitir / facilitar / concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

QUE ATENTEM CONTRA PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (11)- ação / omissão, viole honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições;

CASOS DE VIOLAÇÃO:1) praticar ato com fim proibido em lei ou diverso do previsto;

2) retardar ou deixar de praticar ato de ofício; PREVARICAÇÃO

3) revelar fato / circunstância por atribuições que deva manter segredo;

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4) negar publicidade aos atos oficiais;

5) frustrar a licitude do concurso público;

6) deixar de prestar contas quando obrigado a fazê-lo;

7) revelar à terceiro medida que afete preço de mercadoria, bem ou serviço;

Obs.: Em tese não há perdas dos bens e valores;

DAS PENAS RID = Ressarcimento Integral do Dano;

PFP = Perda da Função Pública;

SDP = Suspensão dos Direitos Políticos;

PBV = perda dos bens e valores;

Perda dos Bens: tomar bens acrescidos ilegalmente ao patrimônio;

Obs.: A proibição de contratar com o Poder Público engloba o recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário.

DEMISSÃO Será demitido o agente que recusar-se a DECLARAR OS BENS no prazo, ou prestar falsa declaração.

Declaração de bensimóveis móveis dinheirotítulos ações e qualquer espécie bens e valores patrimoniais, no país ou exterior, de cônjuge ou companheiro; (13 § 1°)

A sentença na AÇÃO CIVIL pode determinar: a) pagamento (caso de reparação do dano);b) reversão dos bens (caso de perdimento de bens havidos ilicitamente)

DO PROCESSO JUDICIALQualquer pessoa pode representar à autoridade administrativa p/ investigação apurar ato de improbidade;

Forma da PI: o juiz faz a NOTIFICAÇÃO DO REQUERIDO para em 15 dias se manifestar por escrito; não é citação, ele ainda não é réu; após manifestação, o juiz poderá em 30 DIAS mediante decisão fundamentada rejeitar a ação por: (17, §§ 7° e 8°)

- inexistência do ato de improbidade; - improcedência da ação; - inadequação da via eleita.

Recebida PI => réu citado para CONTESTAÇÃO (17, § 9°)

CUIDADO! Da decisão que receber a PI caberá agravo de instrumento; (17, § 10)

A representação passará pelo crivo da autoridade administrativa competente, cuja rejeição EM DESPACHO FUNDAMENTADO não impede a representação ao MP;

A representação será escrita e assinada, devendo conter:a) qualificação do representante; b) informações sobre o fato; c) informações sobre autoria; d) indicação das provas de que conheça.

Fundados indícios de responsabilidade: Comissão => MP => JUIZ => SEQUESTRO DE BENS do agente (Arts. 822 a 825 CPC)3; bens para garantir a execução; pode ocorrer constrição policial;

3 - Art. 822 - O juiz, a requerimento da parte, pode decretar o seqüestro:I - de bens móveis, semoventes ou imóveis, quando Ihes for disputada a propriedade ou a posse, havendo fundado receio de rixas ou danificações;

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Obs.: Em qualquer fase do processo, reconhecida inadequação da ação de improbidade, o juiz extinguirá o processo sem resolução de MÉRITO. Visa proteger o agente público de injustiças. (17, § 11)

A AÇÃO PRINCIPAL

Características:

1) RITO ORDINÁRIO;

2) Proposta pelo MP ou PJ interessada, dentro de 30 DIAS da efetivação da medida cautelar; Nas ações de improbidade, é VEDADA transação, acordo ou conciliação; (17, § 1°) a Fazenda Pública, poderá promover ações complementares ao ressarcimento do patrimônio público como parcelas indenizatórias no contra-cheque do servidor, indisponibilidade (1), sequestro (2) e perdimento dos bens (3); esses três últimos são MEDIDAS CAUTELARES; (17, § 2°)

1) medida cautelar; não pode dispor da coisa; permanece com a propriedade e a posse;2) medida cautelar; apreensão da coisa especificada; perde a posse, mas mantém propriedade;3) perde a posse e a propriedade

O MP, se parte não for, atuará obrigatoriamente custus legis; (17, § 4°)

3) IMPRESCRITÍVEL(no sentido do ressarcimento do dano – Art. 37, §§ 4° e 5° da CF/884

ESFERA CRIMINAL- PREVENÇÃO: a ação prevenirá o juízo para todas as ações posteriores cuja mesma causa de pedir ou mesmo objeto (evitar divergência de julgamento); (17, § 5°)

- constitui CRIME a representação por improbidade contra agente público ou terceiro beneficiário, quando autor da denúncia o sabe inocente: detenção de 6 a 10 meses e multa + danos morais e materiais.

Obs.1: A PERDA DA FUNÇAO PÚBLICA e a SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Obs.2: A indisponibilidade dos bens é declarada pelo juiz e não pela Administração (Art. 798 ss CPC);

ATENÇÃO: O afastamento preventivo (20 par. único) ocorre com remuneração do agente e visa impedir irregularidades na apuração; a lei não determina seu prazo máximo CUIDADO !

A aplicação das sanções nesta lei independe:1) do efetivo dano ao patrimônio público;

2) da aprovação ou rejeição de contas pelo órgão de controle interno ou Tribunal ou Conselho de Contas;

OU SEJA: pune-se a tentativa de improbidade e seu arrependimento eficaz; e mais: mesmo com dano reparado antes de apurado as demais penas ; a perda da função ou suspensão dos direitos políticos não ficam afastadas !!!

As ações para as sanções nesta lei podem ser propostas:I – ATÉ 5 ANOS após o exercício do mandato, cargo em comissão ou função de confiança;

II – no prazo prescricional em lei específica para faltas puníveis com DEMISSÃO a bem do serviço público, nos casos de cargo efetivo ou emprego;

II - dos frutos e rendimentos do imóvel reivindicando, se o réu, depois de condenado por sentença ainda sujeita a recurso, os dissipar;

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III - dos bens do casal, nas ações de separação judicial e de anulação de casamento, se o cônjuge os estiver dilapidando;

IV - nos demais casos expressos em lei.

Art. 823 - Aplica-se ao seqüestro, no que couber, o que este Código estatui acerca do arresto.

Art. 824 - Incumbe ao juiz nomear o depositário dos bens seqüestrados. A escolha poderá, todavia, recair:

I - em pessoa indicada, de comum acordo, pelas partes;

II - em uma das partes, desde que ofereça maiores garantias e preste caução idônea.

Art. 825 - A entrega dos bens ao depositário far-se-á logo depois que este assinar o compromisso.

Parágrafo único - Se houver resistência, o depositário solicitará ao juiz a requisição de força policial.

4 - Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

5 - Eis o dispositivo da Lei n° 8.112/90 referente ao tema.

Art. 142. A ação disciplinar prescreverá:I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e destituição de cargo em comissão;II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão;III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à advertência.

Art. 6º par. 3º da Lei nº 4717/656: Regula a AP, caso o MP proponha a ação, o réu pode nem contestar ou até integrar litisconsórcio ativo facultativo (autor da ação) sempre no interesse público;

Obs.: As sanções por ato de improbidade somente ocorrem em ação judicial e não na esfera administrativa.

6 - Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.

§ 3º A pessoas jurídica de direito público ou de direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, poderá abster-se de contestar o pedido, ou poderá atuar ao lado do autor, desde que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.

7 - Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: ...

JURISPRUDÊNCIA1.Improbidade administrativa. Crimes de responsabilidade. Os atos de improbidade administrativa são tipificados como crime de responsabilidade na Lei n° 1.079/1950, delito de caráter político-administrativo.

2.Distinção entre os regimes de responsabilização político-administrativa. O sistema constitucional brasileiro distingue o regime de responsabilidade dos agentes políticos dos demais agentes públicos.

A Constituição não admite a concorrência entre dois regimes de responsabilidade político-administrativa para os agentes políticos: - o previsto no art. 37, § 4º (regulado pela Lei n° 8.429/1992)

- o regime fixado no art. 102, I, "c", (disciplinado pela Lei n° 1.079/1950).

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Se a competência para processar e julgar a ação de improbidade (CF, art. 37, § 4º) pudesse abranger também atos praticados pelos agentes políticos, submetidos a regime de responsabilidade especial, ter-se-ia uma interpretação ab-rogante do disposto no art. 102, I, "c", da Constituição.

Para o STF, agente político não está sujeito à aplicação de tal lei e sim Lei nº 1079/1950; segundo o tribunal , os agentes políticos (Art. 85 CF/88)7 possuem foro por prerrogativa de função e não cometem ato de improbidade, pois estes são crimes de responsabilidade e os tais agentes não os cometem;

Na fixação da pena, o juiz vê a extensão do dano e o proveito patrimonial do agente;

PRESCRIÇÃO DAS SANÇÕESPrescrição: extinção de um direito por decurso de prazo que negligenciou ação de protegê-lo; perde o direito de agir.